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TUTORIA 5, MÓDULO 2 “O QUE ME FALTA É SONO” 1. Descrever o mecanismo de sono e vigília. Caracterizar as fases do sono e apontar as mudanças que ocorrem no sono dos idosos. O ciclo sono-vigília é regulado pela quantidade de luz a qual os indivíduos são expostos ao longo do dia, por intermédio de um hormônio chamado melatonina. Durante a noite, a glândula pineal, localizada no cérebro, percebe a informação de que não há mais luz e assim inicia a liberação de melatonina, que é capaz de induzir o início do sono. A exposição luminosa de ambiente e telas interfere diretamente no ciclo biológico, bloqueando a secreção de melatonina, que impede a indução apropriada e reduzindo o tempo total de sono. O sono inicia a partir do momento em que, ao fechar os olhos, ocorre a lentificação no padrão da atividade elétrica cerebral. Este intervalo é denominado latência do sono. A latência do sono em indivíduo normal é de cerca de 10 a 30 minutos. O sono normal é um processo ativo, no qual é observado um padrão cíclico de atividade cerebral que se repete a cada 90 a 120 minutos e envolve 2 grandes fases que se alternam durante a noite: Rapid Eye Movement (REM) e não- REM. Após 8 horas de sono, por exemplo, um indivíduo experimenta cerca de 5 a 6 ciclos de sono. Fases do Sono - NREM A fase NREM é fisiologicamente controlada pelo sistema autônomo parassimpático e está dividida em 4 estágios em que ocorrem alterações graduais dos níveis de consciência. Após o início do sono, a atividade cerebral vai se lentificando. A transição entre a vigília e o sono ocorre no estágio 1 da fase não-REM, caracterizado por um sono mais leve. À medida que ocorre a lentificação das ondas cerebrais, o sono aprofunda progressivamente, até atingir o estágio 3 da fase não- REM. Este estágio é conhecido como sono profundo ou sono de ondas lentas, caracterizado por uma baixa atividade cerebral, redução do metabolismo corporal, da pressão arterial, relaxamento motor e liberação do hormônio do crescimento (GH). Fases do Sono - REM Após o sono de ondas lentas, costuma iniciar a fase REM, que envolve os movimentos rápidos dos olhos e corresponde de 20 a 25% do período total de sono. No estágio REM ocorre atividade no EEG de baixa amplitude e alta frequência, semelhante ao estado de vigília, com diminuição acentuada do tônus muscular, alcançando um estado de atonia, ocorrendo também surtos de movimentos oculares rápidos. Nesse estágio ocorrem sonhos, variações dos batimentos cardíacos, da pressão arterial e da frequência respiratória, bem como a consolidação da memória de curto prazo e aprendizado. A ingestão de bebida alcoólica e alguns medicamentos, como benzodiazepínicos e antidepressivos tricíclicos, podem inibir o sono REM, diminuindo a qualidade do sono. OBSERVAÇÃO: os registros eletroencefalográficos indicam que há maior atividade cerebral direita no sono REM e menor para o hemisfério cerebral esquerdo nos estágios NREM. Sono nos Idosos A duração das fases mais profundas do sono muda ao longo da vida e isso afeta o tempo total de sono ao comparar crianças, adultos e idosos. O ser humano apresenta ciclos do sono e do tempo total de sono, o indivíduo passa 30% sonhando, 20% em sono profundo e 50% em sono leve. O adulto saudável apresenta, em média, de 7 a 8 horas de sono, com despertares noturnos que representam até 5% do tempo total na cama. Sabe-se que no envelhecimento há insatisfação com a qualidade do sono. O idoso dorme em torno de 6 horas, o período de latência é maior, o sono é mais superficial, com ausência dos estágios mais profundos. A extensão da fragmentação do sono noturno, o número de despertares, prediz o grau de sonolência fisiológica diurna nos idosos. O sono noturno no idoso é frágil e superficial, caracterizado por inúmeros despertares momentâneos (3 a 15 segundos) e por uma perda dos níveis mais profundos do sono NREM (estágios 3 e 4). A fase REM chega a durar 50% do tempo total de sono de um recém-nascido e decresce para próximo de 20% ao redor dos 5 anos de idade, permanecendo relativamente estável com o passar do tempo. Além disso, o sono da pessoa idosa é redistribuído nas 24 horas do dia, conforme evidenciado pela fragmentação do sono noturno e pela ocorrência de cochilos diurnos. Os “tempos de sono” REM e NREM estão diretamente relacionados com os processos cerebrais da cognição, sendo que mudanças nos padrões de sono no idoso podem estar ligadas à estrutura basal das alterações na capacidade de aprender, de resolver problemas, da linguagem e das habilidades motoras complexas. Os problemas de sono no idoso em geral são consequências dos seguintes fatores: 1) diminuição da capacidade de dormir; 2) aumento dos problemas de respiração durante o sono; 3) aumento da atividade mioclônica noturna; 4) mudanças de fase do sono, com avanço de uma hora mais cedo do dia; 5) perturbações neuropsiquiátricas, como depressão e demências; 6) dor e limitação de mobilidade, com o tempo maior no leito, resultando em alterações do ritmo sono/vigília; 7) hábitos de sono insatisfatórios e errôneos; 8) refluxos gastresofágicos (hérnia de hiato etc.); 9) causas iatrogênicas; 10) causas ambientais adversas. OBSERVAÇÃO: Doença de Willis-Ekbom (Síndrome das pernas inquietas). 2. Descrever as intervenções não medicamentosas e medicamentosas no sono dos idosos. Os tratamentos devem considerar o diagnóstico. Porém, é imprescindível ter horários regulares para dormir e para acordar; reduzir ou retirar nicotina, álcool ou ingestão excessiva de líquidos ou alimentos à noite, incluindo cafeína; reduzir o tempo na cama; atividades físicas 6 horas antes de adormecer; evitar café e álcool após o almoço; ambiente bom para dormir; evitar estresse; tratamento não farmacológico adequado quando indicado, por exemplo, fototerapia ou terapia comportamental etc. INSÔNIAS No caso das insônias, ou seja, a dificuldade de iniciar e manter o sono, a primeira parte do tratamento deve ser uma anamnese bem feita. Tratamento farmacológico: deve-se verificar se existe alguma condição responsável por este distúrbio e que mereça ser tratada primariamente. Os medicamentos escolhidos, para os idosos, devem ser os de meia- vida curta, observando se não têm potencial para ação paradoxal, aumentando o risco de agitação. O medicamento deve ser ingerido sem alimentos e 30 minutos antes de se deitar, para melhor absorção. Podem ser utilizados psicofármacos: • Benzodiazepínicos (trazolam → meia-vida curta; temazepam → meia-vida média; flurazepam → meia-vida longa). • Antidepressivos: amitriptilina, nortriptilina, trazodona, doxepina e mirtazapina. • Zolpidem: hipnótico não benzodiazepínico, da classe das imidazopiridinas, e se liga a um subtipo do receptor GABAa com efeitos hipnóticos, mas sem atuar como relaxante muscular, ansiolítico ou anticonvulsivante. • Zopiclone: ciclopirrolona que altera a estrutura do sono, sem ocasionar sonolência diurna. • Melatonina: hormônio produzido na ausência de luz, tem sido indicada principalmente para idosos, mas a OMS ainda recomenda mais estudos porque doses fisiológicas destes hormônios podem levar à vasoconstrição. Atualmente não se recomenda o uso de anti- histamínicos devido a efeito paradoxal, agitação e os efeitos colaterais. Tratamento não farmacológico Cuidados gerais independente do tratamento medicamentoso, levando em consideração o tipo de cama, barulho, temperatura e luz do ambiente, além de condições culturais. Ainda, leva-se em consideração a realização de exercícios como forma de relaxamento, alimentação leve à noite, assim como a ingestão de líquidos que deve ser moderada. • Terapia cognitiva comportamental (TCC): foivalidada para tratamento de insônia primária e pode ser associada à terapêutica farmacológica. É uma terapia focal e diretiva por tempo limitado, de 4 a 8 sessões. Tem a vantagem de não determinar efeitos colaterais, porém o farmacológico traz resposta clínica mais rápida. • Higiene do sono: terapia de controle de estímulos, terapia de restrição de tempo na cama e de sono, técnicas de relaxamento, reestruturação cognitiva, intenção paradoxal, terapia cognitiva nos transtornos de má percepção do sono. Inclui técnicas educacionais, comportamentais e cognitivas. • Tratamento psicológico: têm indicação de acordo com o distúrbio emocional e as condições socioeconômicas do paciente. Técnicas específicas podem ser usadas, como comportamental e de relaxamento. Tratamento dos tipos de insônia • Insônia transitória: associada a situações estressantes agudas ou com mudança súbita no ritmo sono-vigília, por definição se resolve espontaneamente, sem medicação, em menos de 1 mês. Iniciar tratamento apenas se os eventos forem recorrentes. • Insônia persistente: depende da precisão do diagnóstico. Deve-se buscar terapia específica para a causa da insônia. APNEIA DO SONO O tratamento deve ser dividido em comportamentais e específicos. Como comportamentais o paciente deve tratar a obesidade; fazer exercícios físicos regulares; parar de fumar; reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas, principalmente antes de dormir; evitar o uso de sedativos e hipnóticos e controlar doenças clínicas como hipotireoidismo, acromegalia, patologias neuromusculares e rinite alérgica ou vasomotora. O tratamento específico da apneia do sono é individualizado e existem 3 formas terapêuticas: • Cirurgia: nasal, uvulopalatofaringoplastia e uvulopalatoplastia com (laser (LAUP). • Dispositivos intraorais: resultados satisfatórios para apneias leves e ronco primário. Como efeitos colaterais surgem dor na articulação temporomandibular e sialorreia. • Suporte ventilatório com CPAP ou BIPAP – o uso da CPAP (pressão aérea positiva contínua) é um suporte ventilatório que, através de uma máscara nasal, gera uma pressão positiva, que mantém o palato mole selado à língua, resultando em uma via respiratória superior pressurizada com valores suficientes para romper o aumento da resistência que ocorre na apneia e ronco. Este método é a escolha clínica inicial. 3. Descrever causas de quedas nos idosos e medidas preventivas. Definição: a queda é um evento em que a pessoa inadvertidamente vai ao solo ou outro local em nível mais baixo que o anteriormente ocupado, com ou sem perda de consciência ou lesão. Os diferentes tipos de quedas podem ser distinguidos pelos seguintes métodos: • Determinação da contribuição externa à queda, avaliando-se se a contribuição teria sido suficiente para derrubar alguém saudável e mais jovem; • Investigação somente daqueles indivíduos que sofreram duas ou mais quedas; • Classificação da intensidade de movimento no momento da queda. A divisão mais simples se faz entre os que caem e não caem (menos que duas vezes ao ano). As quedas são, em geral, divididas em tipos interno e externo, ou seja, se a perda do equilíbrio é devida a uma tendência interna ou a um evento externo, como um escorregão ou tropeço. Quedas do tipo interno devem estimular uma busca mais completa por problemas de saúde subjacentes. Fatores associados a quedas: • Aumento da idade e a maior risco em mulheres; • As chances de queda recorrente aumentaram entre mulheres, viúvos, solteiros ou desquitados, nos indivíduos com história prévia de fratura, com grau de comprometimento nas atividades de vida diária e entre os que não referiam a leitura como atividade de lazer; • Presença de patologias múltiplas; • Fatores psicológicos podem aumentar o risco individual, como comprometimento cognitivo, depressão e/ou ansiedade; • Baixo índice de massa corporal, comprometimento cognitivo, AVC e falta de controle urinário; • Medicamentos benzodiazepínicos e miorrelaxantes; • Uso moderado de álcool se correlacionou a diminuição de risco. A maior parte das quedas ocorre em períodos de atividade máxima no dia e somente 20% ocorrem à noite. Nos meses de inverno e dias frios há um aumento da incidência de quedas e fraturas em mulheres. Os fatores intrínsecos que aumentam o risco de quedas estão relacionados com doenças crônicas ou a mudanças associadas à idade. Pode-se citar a diminuição dos sinais sensoriais (visão, propriocepção ou sistema vestibular), do processamento do SNC (demência) ou da resposta motora (miastenia, osteoartrite). Outros fatores variam com o tempo ou são temporários, como doença aguda ou mudanças nas medicações. Os fatores extrínsecos incluem riscos ambientais, riscos nas atividades diárias e, em indivíduos mais frágeis, movimentos como se virar, inclinar ou esticar para alcançar um objeto. Os riscos ambientais incluem circunstâncias em que o estímulo sensorial está diminuído, como em ambientes de baixa iluminação ou brilho excessivo. Os fatores intrínsecos ou extrínsecos iniciam o evento da queda. Outros determinam se ocorrerá uma lesão posterior. As quedas com impacto direto no pulso ou na pelve causam fraturas mais fácil. Causas de quedas Fatores associados ao envelhecimento: • Tendência à lentidão dos mecanismos de integração central, importantes para os reflexos posturais; • Redução da capacidade de processamento e a habilidade de dividir a atenção. Se a concentração for distraída por outra tarefa cognitiva, há recuperação mais lenta de uma perturbação postural Doenças específicas: • Epilepsia: aumenta a prevalência com a idade e se associa à perda de consciência; • Doença de Parkinson: causa potencial de quedas: distúrbio de marcha/postura/equilíbrio; • Miopatias e neuropatias periféricas: principalmente os distúrbios motores que afetam principalmente os membros inferiores; • Neuropatias sensoriais: distúrbios na informação sensorial postural; • Síncope cardiogênica: trabalhos recentes sugerem que um número significativo de pacientes que sofre quedas pode ter arritmias precipitadas por hipersensibilidade do seio carotídeo; • Espondilose cervical: diminuição do estímulo proprioceptivo dos mecanorreceptores da medula espinal pode provocar sensações de tonturas leves e desequilíbrio em pacientes mais velhos. Também, a mielopatia cervical que pode decorrer da espondilose está associada à espasticidade dos membros inferiores; • Hidrocefalia de pressão normal ou normobárica: distúrbio da marcha com BdS larga e pequenos passos, incontinência urinária e demência; • Demências: distúrbios cognitivos que impedem o reconhecimento do ambiente e distúrbios da marcha. É possível que haja defeitos no controle postural; • Disfunção autonômica e hipotensão postural: a disfunção autonômica não é uma patologia frequente em pacientes mais velhos saudáveis. Já a hipotensão postural sem disfunção autonômica parece ser mais prevalente entre os mais velhos, podendo ser causada por medicamentos, desidratação ou imobilização; • Disfunção renal: deficiência na conversão de calcidiol em calcitriol (vitamina D3), importante para evitar quedas. Estudo indicou aumento do risco de quedas em mais velhos com clearance de creatinina menor que 65 ml/min. Síndromes de quedas: • Défices sensoriais múltiplos: tonturas, instabilidade e quedas em pacientes mais velhos estão relacionados com múltiplos distúrbios em vários sistemas sensoriais. Muitas vezes, tais perturbações podem ser discretas, porém, em conjunto, suficientes para aumentar o risco; • Doença cerebrovascular: comprometimento cognitivo, postural, da marcha e outras lesões; • Ataques de quedas (drop attacks): ataque súbito de queda semperda de consciência, que não pode ser explicado por fraqueza muscular, distúrbios neurológicos focais ou arritmias e não é induzida por movimentos rotatórios da cabeça ou vertigens ou outra sensação cefálica. As teorias fisiopatológicas mais aceitas associam o fenômeno a anormalidades na função postural ou a uma disfunção transitória na formação reticular que controla a musculatura antigravitacional. Normalmente apresenta bom prognóstico. Nos idosos, a meia-vida longa de medicamentos costuma ser maior, de forma que as do flurazepam e do diazepam podem chegar a mais de 10 horas. Tanto a sedação, no dia seguinte, quanto os efeitos paradoxais (agitação) podem favorecer quedas. Prevenção Primária • Uso de vitamina D em altas doses (700 a 100 UI por dia), forma inativa ou ativa (vitamina D3), sendo que a última diminui mais os riscos; • Prática de exercícios físicos regulares e de exercícios de equilíbrio. Prevenção Secundária Pode ser uma estratégia mais eficiente pós-queda. • Ajuste de medicações. • Exercícios de equilíbrio e gerais (4 meses). • Instruções comportamentais. • Correções de deficiências sensoriais. • Uso de protetores de quadris, instrumentos parecidos com esponjas, colocados nas regiões trocanterianas e desenhados anatomicamente para diminuir o impacto da queda; • O uso de superfícies de baixo impacto. • Medicações quando necessárias e na dose eficaz mais baixa possível.