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DIREITO PROBATÓRIO 1.3. ATA NOTARIAL 1.3.1 – PREVISÃO LEGAL: ➢ Arts. 6º, III, e 7º, III, da Lei n 8.935/1994: Art. 6º. Aos notários compete: III–autenticar fatos Art. 7º. Aos tabeliães de notas compete com exclusividade: III–lavrar atas notariais ➢ Art. 384, CPC: A existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião. Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial. 1.3.2 – CONCEITOS: "Ata notarial é a descrição, por tabelião, de fato por ele verificado, que passa a ter a presunção de verdadeiro para todos os efeitos, em juízo ou fora dele". Carlos Luiz Poisl (idealizador da ata notarial na Lei nº 8.935/1994 "Ata notarial é o instrumento pelo qual o notário, com sua fé pública, autêntica um fato, descrevendo-o em seus livros. Sua função primordial é tornar-se prova em processo judicial. Pode ainda servir como prevenção jurídica a conflitos". Ângelo Volpi Neto "Instrumento público autorizado por notário competente, a requerimento de uma pessoa com interesse legítimo e que, fundamentada nos princípios da função imparcial e independente, pública e responsável, tem por objeto constatar a realidade ou verdade de um fato que o notário vê, ouve ou percebe por seus sentidos, cuja finalidade precípua é a de ser um instrumento de prova em processo judicial, mas que pode ter outros fins na esfera privada, administrativa, registral, e, inclusive, integradores de uma atuação jurídica não negocial ou de um processo negocial complexo, para sua preparação, constatação ou execução." José Antônio Escartin Ipiens 1.3.3 – FINALIDADE: ➢ Atestar ou documentar a existência e o modo de existir de um fato ➢ Pode (ou não) ser usada como prova em um processo 1.3.4 – SITUAÇÕES DE USO E PRESCINDIBILIDADE: ➢ Corriqueiro o uso da ata notarial, por exemplo, para atestar mensagens ou gravações em celulares, publicações em sites e redes sociais, estado de determinado bem móvel ou imóvel, etc. Enunciado 636/FPPC: As conversas registradas por aplicativos de mensagens instantâneas e redes sociais podem ser admitidas no processo como prova, independentemente de ata notarial. “(...). PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ODONTOLOGIA E INADIMPLEMENTO. FATOS INCONTROVERSOS. O teor da ata notarial juntada aos autos pela própria apelante evidencia de forma clara a existência da dívida, as diversas solicitações por parte da autora/embargada de adimplemento dos valores devidos, bem como o reconhecimento por parte da ré de sua condição de devedora. (...).” (Apelação Cível Nº 70078171352, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Beatriz Iser, Julgado em 10/10/2018). “Apelação cível. Danos materiais e morais atinentes a apartamento edilício, decorrente de infiltração com origem no telhado. Os danos materiais estão provados em ata notarial e em laudo pericial, e se imputam a ambas as partes, conforme individualização do laudo. (...).” (Apelação Cível Nº 70077698678, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Cini Marchionatti, Julgado em 12/09/2018). “RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ALEGAÇÃO DE AGRESSÕES VERBAIS E AMEAÇAS. DISCUSSÃO ACIRRADA. GRAVAÇÃO. TRANSCRIÇÃO. ATA NOTARIAL. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. (...).” (Recurso Cível Nº 71007303746, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: José Ricardo de Bem Sanhudo, Julgado em 20/02/2018) 1.4. DEPOIMENTO PESSOAL 1.4.1 – FONTE E FINALIDADES: ➢ QUEM PODE PRESTAR DEPOIMENTO PESSOAL? • Autor, réu e terceiros que intervenham assumindo a condição de parte (assistente litisconsorcial, denunciado à lide, chamado ao processo). ➢ QUEM PODE TOMAR A INICIATIVA PARA O DEPOIMENTO PESSOAL? • Parte contrária à depoente – art. 385, caput, CPC. • Litisconsorte pode pedir depoimento pessoal de litisconsorte? • O Ministério Público fiscal pode pedir depoimentos das partes? • Juiz pode determinar de ofício – art. 385, caput, CPC. ➢ QUAIS AS FINALIDADES? • Obtenção de confissão • Esclarecimentos sobre fatos do processo Art. 385, CPC. Cabe à parte requerer o depoimento pessoal da outra parte, a fim de que esta seja interrogada na audiência de instrução e julgamento, sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo de ofício. § 1º Se a parte, pessoalmente intimada para prestar depoimento pessoal e advertida da pena de confesso, não comparecer ou, comparecendo, se recusar a depor, o juiz aplicar-lhe-á a pena. Enunciado 584/FPPC: É possível que um litisconsorte requeira o depoimento pessoal do outro. Art. 386, CPC. Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao que lhe for perguntado ou empregar evasivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias e os elementos de prova, declarará, na sentença, se houve recusa de depor. Enunciado 635/FPPC: Antes de decidir sobre a conduta da parte no depoimento pessoal, deverá o magistrado submeter o tema a contraditório para evitar decisão surpresa. “(...). É que no processo civil o depoimento pessoal é realizado a requerimento da parte contrária (art. 343 CPC/1973), e não pelo próprio depoente, que possui momentos processuais próprios para expor seus argumentos de defesa ou aqueles que fundamentam sua pretensão inicial quando autor da ação. (...).” (STJ. REsp 1716453/SE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/08/2018, DJe 20/11/2018) “(...). 1. Nos termos do art. 343 do CPC/1973 (atual artigo 385 do NCPC/2015), o depoimento pessoal é um direito conferido ao adversário, seja autor ou réu. 2. Não cabe à parte requerer seu próprio depoimento, bem assim dos seus litisconsortes, que desfrutam de idêntica situação na relação processual. (...).” (STJ. REsp 1291096/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/06/2016, DJe 07/06/2016) 1.4.2 – PROCEDIMENTO: ➢ PROPOSITURA • Em regra, mas não necessariamente, petição inicial e contestação ➢ ADMISSIBILIDADE • Decisão saneadora, da qual não cabe recurso de agravo de instrumento ➢ PREPARAÇÃO • Intimação pessoal do depoente pelo Correio ou por Oficial de Justiça. • Advertência do art. 385, § 1º, CPC – possibilidade de confissão ficta. • Depoimento pessoal como ônus da parte, e não dever desta. ➢ REALIZAÇÃO • Momento – em regra, mas não necessariamente, na audiência de instrução e julgamento. • Pessoalidade – art. 387, CPC – ato personalíssimo e indelegável. ✓ E se a parte depoente for pessoa jurídica? ✓ E se a parte depoente for pessoa natural incapaz? • Quem faz perguntas? Juiz, advogado da parte contrária ao depoente e Ministério Público (se atuar como fiscal da lei). • Ordem de coleta dos depoimentos – primeiro, autor; depois, réu. • Quem não prestou depoimento não pode assistir ao da outra parte – art. 386, § 2º, CPC. ✓ Pode ser objeto de negócio jurídico processual? ✓ E se o réu advogar em causa própria? ✓ E se ambas as partes advogarem em causa própria? Art. 387, CPC. A parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo servir-se de escritos anteriormente preparados, permitindo-lhe o juiz, todavia, a consulta a notas breves, desde que objetivem completar esclarecimentos. ➢ VIDEOCONFERÊNCIA – ART. 386, § 3º , CPC Art. 386 § 3º, CPC. O depoimento pessoal da parte que residir em comarca, seção ou subseção judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá ser colhido por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e julgamento. 1.4.3 – RECUSA JUSTIFICADA: Art. 388, CPC. A parte não é obrigada a depor sobre fatos: I - criminosos ou torpes que lhe forem imputados; II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo; III - acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível; IV - que coloquem em perigo a vida do depoenteou das pessoas referidas no inciso III. Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de estado e de família. • Desconhecimento do fato deve ser encarado como recusa injustificada? • Desconhecimento do fato pelo preposto indicado pela pessoa jurídica deve ser considerada recusa injustificada? • Importante lembrar que no depoimento pessoal da parte também pode haver confissão expressa. • A valoração do depoimento pessoal será feita pelo juiz junto com o arcabouço probatório, quando da sentença, de maneira fundamentada. 1.5. CONFISSÃO 1.5.1 – CONCEITOS: Art. 389, CPC. Há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a parte admite a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário. “Confissão é a declaração da parte que reconhece como verdadeiros fatos que são contrários ao seu próprio interesse e favoráveis aos do adversário.” Marcus Vinícius Rios Gonçalves “Confissão é a declaração de conhecimento de fatos contrários ao interesse de quem a emite e favorável ao do adversário.” Haroldo Lourenço “Há confissão quando alguém reconhece a existência de um fato contrário ao seu interesse e favorável ao do seu adversário (art. 389 do CPC). Trata-se de uma declaração voluntária de ciência de fato; não se trata de declaração de vontade para a produção de determinado efeito jurídico (não é, pois, um ato negocial).” Fredie Didier Júnior 1.5.2 – ESPÉCIES DE CONFISSÃO: Real ou Efetiva: atuação comissiva da parte Ficta ou Tácita: atuação omissiva da parte Judicial – Art. 390, CPC • Provocada – decorre do depoimento pessoal – pessoal e oral • Espontânea – fora do depoimento pessoal – pessoal ou por procurador com poderes para confessar – pode ser escrita (mais corriqueira) ou oral reduzida a termo (art. 390, § 2º, CPC). Art. 390. A confissão judicial pode ser espontânea ou provocada. § 1º A confissão espontânea pode ser feita pela própria parte ou por representante com poder especial. § 2º A confissão provocada constará do termo de depoimento pessoal. Extrajudicial • Escrita – mais usual • Oral – acusada pela parte contrária – só tem eficácia se a lei não exigir forma escrita (art. 394, CPC) Art. 394, CPC. A confissão extrajudicial, quando feita oralmente, só terá eficácia nos casos em que a lei não exija prova literal. 1.5.3 – EFICÁCIA DA CONFISSÃO: Eficácia subjetiva – confissão faz prova apenas contra o confitente – art. 391, CPC • Litisconsórcio simples – apenas contra confitente (vide art. 117, CPC) • Litisconsórcio unitário – nem mesmo contra o confitente (vide arts. 116 e 117, CPC) • Confissão de apenas um cônjuge/companheiro em ação real imobiliária – apenas contra o confitente, se regime de bens for separação absoluta. Art. 391, CPC. A confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando, todavia, os litisconsortes. Parágrafo único. Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos reais sobre imóveis alheios, a confissão de um cônjuge ou companheiro não valerá sem a do outro, salvo se o regime de casamento for o de separação absoluta de bens. Disponibilidade do direito relativo ao fato confessado - art. 392, caput, CPC. • Não se admite quando indisponível o direito – exemplos: vida; honra; liberdade e partes do corpo humano; de interesses da família, da sociedade e do Estado. Capacidade do confitente – art. 213, caput, CC • Confissão por incapaz – art. 392, § 1º, CPC – valoração como prova atípica • Confissão por representante legal – art. 392, § 2º, CPC Art. 392. Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos relativos a direitos indisponíveis. § 1º A confissão será ineficaz se feita por quem não for capaz de dispor do direito a que se referem os fatos confessados. § 2º A confissão feita por um representante somente é eficaz nos limites em que este pode vincular o representado. 1.5.4 – IRREVOGABILIDADE E ANULABILIDADE: Art. 393, CPC. A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coação. Parágrafo único. A legitimidade para a ação prevista no caput é exclusiva do confitente e pode ser transferida a seus herdeiros se ele falecer após a propositura. A confissão é irrevogável • Em havendo confissão, não se permite que o confitente se arrependa e negue os fatos por ele confessados Ação anulatória da confissão • Confissão anulável por erro ou por coação – não é anulável por dolo, simulação ou fraude. • Legitimidade ativa exclusiva do confitente para ajuizar a ação (art. 175, CC) - proposta pelo confitente, pode prosseguir com herdeiro/sucessor após falecimento do autor. 1.5.5 – INDIVISIBILIDADE E CISÃO: Art. 395, CPC. A confissão é, em regra, indivisível, não podendo a parte que a quiser invocar como prova aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável, porém cindir-se-á quando o confitente a ela aduzir fatos novos, capazes de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção. Confissão simples – apenas fatos desfavoráveis ao confitente. Confissão complexa - fatos desfavoráveis ao confitente e fatos favoráveis a este. O art. 395, CPC permite a cisão da confissão quando o confitente alegar conjuntamente fatos: • novos; • capazes de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção. 1.6. PROVA TESTEMUNHAL 1.6.1 – A PROVA TESTEMUNHAL: “Prova testemunhal é a prova que pode ser obtida através das declarações de um terceiro, estranho ao processo, a respeito das alegações de fato debatidas no processo. A prova testemunhal fornece ao juízo a versão de alguém de como se passaram determinados fatos importantes para resolução do mérito da causa.” Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero “Prova testemunhal é meio de prova consubstanciado na declaração em juízo de um terceiro que de alguma forma tenha presenciado os fatos discutidos na demanda. Tradicionalmente, a testemunha é aquele sujeito que viu o fato, mas não se devem desprezar outros sentidos humanos, como o olfato, a audição, o tato ou o paladar.” Daniel Amorim Assumpção Neves 1.6.2 – TESTEMUNHAR x DEPOR: - Testemunhar é ter contato com um determinado fato. - Depor é declarar perante o juiz o que foi presenciado. 1.6.3 – TIPOS DE TESTEMUNHAS: Quanto ao conteúdo • Direta/Presencial – presenciou o fato • Indireta/Referencial/ Indiciária – não presenciou o fato, mas dele tomou conhecimento por quem o presenciou Quanto à menção da testemunha no processo • Arrolada – indicada/listada em rol de testemunhas • Referida – não foi arrolada mas se sabe dela testemunha pelo depoimento de outra testemunha Quanto ao objeto do depoimento • Própria – depõe sobre fato que diz respeito diretamente ao objeto do processo, ao thema probandum. • Imprópria/Instrumental – depõe sobre ato do processo Quanto ao compromisso • Numerária – presta depoimento mediante compromisso. • Informante/Declarante – não presta depoimento mediante compromisso, por ser impedida, suspeita ou incapaz. 1.6.4 – ADMISSIBILIDADE DA PROVA TESTEMUNHAL: Art. 442, CPC. A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso. Inadmissibilidade – possível produção de prova com melhor idoneidade e potencial cognitivo • Vedação legal – Exemplos: prova causal em MS (Lei nº 12016/2009); inventário (art. 615, CPC), fiança (art. 819, CC); estado de casado (art. 1543, CC); distrato de contrato escrito (art. 472, CC); contrato de seguro (art. 758, CC), etc. • Desnecessidade – fato já provado por documento ou confissão – art. 443, I, CPC. • Inutilidade – fato só pode ser provado por documento ou perícia – art. 443, II, CPC. Admissibilidade • É a regra do art. 442, CPC. • Complementar da prova escrita – existência de documento escrito indiciário aliado à prova testemunhal – arts. 227, parágrafo único, CC, e 444, CPC. • Subsidiária da prova escrita da obrigação – impossibilidade moral ou material de documento – arts. 227, parágrafo único, CC, e 445, CPC. • Comprobatória de simulação contratual e de vícios de consentimento – art. 446,CPC. Art. 227, parágrafo único, CC. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. Art. 444, CPC. Nos casos em que a lei exigir prova escrita da obrigação, é admissível a prova testemunhal quando houver começo de prova por escrito, emanado da parte contra a qual se pretende produzir a prova. Art. 445, CPC. Também se admite a prova testemunhal quando o credor não pode ou não podia, moral ou materialmente, obter a prova escrita da obrigação, em casos como o de parentesco, de depósito necessário ou de hospedagem em hotel ou em razão das práticas comerciais do local onde contraída a obrigação. Art. 446, CPC. É lícito à parte provar com testemunhas: I.- nos contratos simulados, a divergência entre a vontade real e a vontade declarada; II.- nos contratos em geral, os vícios de consentimento. Conclui-se que: a) se o contrato só pode ser celebrado por escritura pública, que é da substância do negócio, nenhuma outra prova pode ser admitida (art. 406, CPC); b) se o contrato pode ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal, a prova testemunhal pode ser usada sem restrições, independentemente do valor do negócio (revogação do caput do art. 227, CC, pelo CPC); c) se o contrato exige forma escrita, a prova testemunhal pode ser utilizada, desde que haja começo de prova por escrito, emanado da parte contra a qual se pretende produzir a prova (art. 444, CPC) ou quando o credor não podia, moral ou materialmente, obter a prova escrita da obrigação (art. 445, CPC); d) Não há vedação à prova testemunhal da simulação e dos vícios de consentimento (art. 446, CPC). 1.6.5 – DEVER, PROIBIÇÃO E DISPENSA DE DEPOR: Em regra, toda pessoa tem o dever de depor como testemunha – art. 447, caput, CPC. Art. 447, caput, CPC. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. • Veda-se distinção por critérios de gênero,sexualidade, nacionalidade, condição sócio-econômica, fama, reputação etc. Proibição de depor como testemunha – art. 447, §§ 1º a 3º, CPC – incapacidade ou parcialidade da testemunha. • Incapacidade – art. 447, § 1º, CPC. • Impedimento – art. 447, § 2º, CPC. • Suspeição – art. 447, § 3º, CPC. Art. 447, § 1º, CPC. São incapazes: I.- o interdito por enfermidade ou deficiência mental; II. - o que, acometido por enfermidade ou retardamento mental, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve depor, não está habilitado a transmitir as percepções; III.- o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos; IV.- o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam. Art. 447, § 2º, CPC. São impedidos: V.- o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e o colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito; VI.- o que é parte na causa; VII.- o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido as partes. Art. 447, § 3º, CPC. São suspeitos: VIII.- o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo; IX.- o que tiver interesse no litígio. - Depoimento necessário do menor, do impedido ou do suspeito – art. 447, §§ 4º e 5º, CPC. Art. 447, § 4º, CPC. Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das testemunhas menores, impedidas ou suspeitas. Art. 447, § 5º, CPC. Os depoimentos referidos no § serão prestados independentemente de compromisso, e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer. - Dispensa de depor sobre alguns fatos – art. 448, CPC. • Fatos que acarretem grave dano • Fatos protegidos por sigilo profissional Art. 448. A testemunha não é obrigada a depor sobre fatos: I.- que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu cônjuge ou companheiro e aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau; II.- a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo. 1.6.6 – LOCAL DO DEPOIMENTO: - Em regra, na sede do juízo – art. 449, caput, CPC. Art. 449, caput, CPC. Salvo disposição especial em contrário, as testemunhas devem ser ouvidas na sede do juízo. - Exceção – depoimento fora da sede do juízo – art. 449, parágrafo único, CPC. • Enfermidade ou idade avançada da parte ou da testemunha • Prerrogativa de autoridade pública – art. 454, CPC. • Videoconferência – art. 453, § 1º, CPC. Art. 449, parágrafo único, CPC. Quando a parte ou a testemunha, por enfermidade ou por outro motivo relevante, estiver impossibilitada de comparecer, mas não de prestar depoimento, o juiz designará, conforme as circunstâncias, dia, hora e lugar para inquiri-la. 1.6.7 – ROL DE TESTEMUNHAS: Dados sobre a testemunha – art. 450, CPC. • A ausência de um dos dados pessoais não justifica, porém, por si só, a recusa do juiz em ouvir a testemunha. Art. 450, CPC. O rol de testemunhas conterá, sempre que possível, o nome, a profissão, o estado civil, a idade, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas, o número de registro de identidade e o endereço completo da residência e do local de trabalho. Enunciado 519/FPPC: Em caso de impossibilidade de obtenção ou de desconhecimento das informações relativas à qualificação da testemunha, a parte poderá requerer ao juiz providências necessárias para a sua obtenção, salvo em casos de inadmissibilidade da prova ou de abuso de direito. Prazo para arrolar – art. 357, §§ 4º e 5º, CPC. • Prazo judicial não superior a 15 dias. • Audiência de saneamento, caso esta seja designada. Art. 357, CPC: Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo § 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações. § 4º Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemunhas. § 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de testemunhas. Finalidade do rol de testemunhas: • Permitir que a parte contrária tome conhecimento das testemunhas e possa oferecer contradita apontando alguma suspeição, impedimento ou incapacidade. Substituição de testemunha já arrolada: • Falecimento; • Enfermidade que não permita depor; • Mudou de endereço e não pode ser intimada. Art. 451, CPC. Depois de apresentado o rol de que tratam os § 4° e 5º do art. 357, a parte só pode substituir a testemunha: I.- que falecer; II.- que, por enfermidade, não estiver em condições de depor; III.- que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não for encontrada. Juiz da causa arrolado como testemunha: • Se conhece os fatos, impedido para atuar como juiz da causa. • Se não conhece os fatos, atuará como juiz da causa. Art. 452, CPC. Quando for arrolado como testemunha, o juiz da causa: I.- declarar-se-á impedido, se tiver conhecimento de fatos que possam influir na decisão, caso em que será vedado à parte que o incluiu no rol desistir de seu depoimento; II.- se nada souber, mandará excluir o seu nome. 1.6.8 – ATO E PERANTE QUEM DEPÕE A TESTEMUNHA: Regra: em audiência de instrução e julgamento, perante juiz da causa – art. 453, caput, CPC. • Pode ser por videoconferência – art. 453, §§ 1º e 2º, CPC. - Situações excepcionais: • Produção antecipada da prova testemunhal – art. 453, I, CPC. • Testemunha inquirida por carta (precatória, de ordem ou rogatória) – art. 453, II, CPC. • Autoridades que podem ser inquiridas em suas residências ou em seus locais de trabalho –art. 454, CPC. Art. 453, CPC. As testemunhas depõem, na audiência de instrução e julgamento, perante o juiz da causa, exceto: I.- as que prestam depoimento antecipadamente; II.- as que são inquiridas por carta. Art. 454, CPC. São inquiridos em sua residência ou onde exercem sua função: I.- o presidente e o vice-presidente da República; II.- os ministros de Estado; III.- os ministros do Supremo Tribunal Federal, os conselheiros do Conselho Nacional de Justiça e os ministros do Superior Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior Eleitoral, do Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal de Contas da União; IV. - o procurador-geral da República e os conselheiros do Conselho Nacional do Ministério Público; V.- o advogado-geral da União, o procurador-geral do Estado, o procurador-geral do Município, o defensor público-geral federal e o defensor público-geral do Estado; VI.- os senadores e os deputados federais; VII.- os governadores dos Estados e do Distrito Federal; VIII.- o prefeito; IX.- os deputados estaduais e distritais; (...); Art. 454, CPC. (continuação) X.- os desembargadores dos Tribunais de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais Regionais Eleitorais e os conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal; XI.- o procurador-geral de justiça; XII.- o embaixador de país que, por lei ou tratado, concede idêntica prerrogativa a agente diplomático do Brasil. §1º O juiz solicitará à autoridade que indique dia, hora e local a fim de ser inquirida, remetendo-lhe cópia da petição inicial ou da defesa oferecida pela parte que a arrolou como testemunha. § 2º Passado 1 (um) mês sem manifestação da autoridade, o juiz designará dia, hora e local para o depoimento, preferencialmente na sede do juízo. § 3º O juiz também designará dia, hora e local para o depoimento, quando a autoridade não comparecer, injustificadamente, à sessão agendada para a colheita de seu testemunho no dia, hora e local por ela mesma indicados. 1.6.9 – INTIMAÇÃO DA TESTEMUNHA: Regra: pelo advogado da parte arrolante – art. 455, caput, CPC. • Envio de carta com A.R. e posterior juntada aos autos de cópias da correspondência e do recebimento – art. 455, § 1º, CPC. • A parte compromete-se a levar a testemunha – art. 455, § 2º, CPC. • Não cumprimento de tais regras = desistência da inquirição da testemunha – art. 455, § 3º, CPC. Intimação excepcional pelo juízo – art. 455, § 4º, CPC • Frustrada intimação pelo advogado • Necessidade demonstrada ao juiz • Testemunha servidora pública (civil ou militar) • Testemunha arrolada pelo MP ou pela DP • Testemunha é uma autoridade pública listada no art. 454, CPC. Art. 455, CPC. Cabe ao advogado da parte informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local da audiência designada, dispensando-se a intimação do juízo. § 1° A intimação deverá ser realizada por carta com aviso de recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos autos, com antecedência de pelo menos 3 (três) dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação e do comprovante de recebimento. § 2º A parte pode comprometer-se a levar a testemunha à audiência, independentemente da intimação de que trata o § 1º , presumindo-se, caso a testemunha não compareça, que a parte desistiu de sua inquirição. § 3º A inércia na realização da intimação a que se refere o § 1° importa desistência da inquirição da testemunha. (...) Art. 455, CPC. (continuação) § 4° A intimação será feita pela via judicial quando: I.- for frustrada a intimação prevista no § 1 o deste artigo; II.-sua necessidade for devidamente demonstrada pela parte ao juiz; III.- figurar no rol de testemunhas servidor público ou militar, hipótese em que o juiz o requisitará ao chefe da repartição ou ao comando do corpo em que servir; IV.- a testemunha houver sido arrolada pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública; V.- a testemunha for uma daquelas previstas no art. 454. § 5º A testemunha que, intimada na forma do § 1 o ou do § 4 o , deixar de comparecer sem motivo justificado será conduzida e responderá pelas despesas do adiamento. 1.6.10 – INQUIRIÇÕES DAS TESTEMUNHAS: Ordem de coleta dos depoimentos – art. 456, CPC. • Inquirições Separadas e sucessivas • Primeiro arroladas pelo autor; depois arroladas pelo réu • Possibilidade inversão da ordem com anuência das partes Art. 456, CPC. O juiz inquirirá as testemunhas separadas e sucessivamente, primeiro as do autor e depois as do réu, e providenciará para que uma não ouça o depoimento das outras. Parágrafo único. O juiz poderá alterar a ordem estabelecida no caput se as partes concordarem. Qualificação da testemunha – art. 457, caput, CPC. Contradita da testemunha – art. 457, §§ 1º e 2º, CPC. • Prova da contradita • Possibilidade de tomada de depoimento como informante. Art. 457, CPC. Antes de depor, a testemunha será qualificada, declarará ou confirmará seus dados e informará se tem relações de parentesco com a parte ou interesse no objeto do processo. § 1° É lícito à parte contraditar a testemunha, arguindo-lhe a incapacidade, o impedimento ou a suspeição, bem como, caso a testemunha negue os fatos que lhe são imputados, provar a contradita com documentos ou com testemunhas, até 3 (três), apresentadas no ato e inquiridas em separado. § 2° Sendo provados ou confessados os fatos a que se refere o § 1° , o juiz dispensará a testemunha ou lhe tomará o depoimento como informante. § 3° A testemunha pode requerer ao juiz que a escuse de depor, alegando os motivos previstos neste Código, decidindo o juiz de plano após ouvidas as partes. Compromisso da testemunha – art. 458, CPC. • Não é prestado por informante/declarante Art. 458, CPC. Ao início da inquirição, a testemunha prestará o compromisso de dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado. Parágrafo único. O juiz advertirá à testemunha que incorre em sanção penal quem faz afirmação falsa, cala ou oculta a verdade. Inquirição direta – art. 459, CPC. • Advogados perguntam diretamente à testemunha • As perguntas começam pelo advogado da parte arrolante. • Juiz pode inquirir antes ou depois dos advogados. Art. 459, CPC. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, começando pela que a arrolou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da atividade probatória ou importarem repetição de outra já respondida. § 1° O juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes quanto depois da inquirição feita pelas partes. § 2° As testemunhas devem ser tratadas com urbanidade, não se lhes fazendo perguntas ou considerações impertinentes, capciosas ou vexatórias. § 3° As perguntas que o juiz indeferir serão transcritas no termo, se a parte o requerer. Enunciado 159/FPPC: Não configura induzimento, constante do art. 459, caput, a utilização de técnica de arguição direta no exercício regular de direito. Documentação do depoimento – art. 460, CPC. • Gravação – arquivo de áudio e vídeo • Escrito – assinaturas do juiz, dos advogados e da testemunha • Necessidade de degravação/transcrição da gravação caso haja recurso no processo eletrônico? Art. 460, CPC. O depoimento poderá ser documentado por meio de gravação. § 1° Quando digitado ou registrado por taquigrafia, estenotipia ou outro método idôneo de documentação, o depoimento será assinado pelo juiz, pelo depoente e pelos procuradores. § 2° Se houver recurso em processo em autos não eletrônicos, o depoimento somente será digitado quando for impossível o envio de sua documentação eletrônica. § 3° Tratando-se de autos eletrônicos, observar-se-á o disposto neste Código e na legislação específica sobre a prática eletrônica de atos processuais. Inquirições de testemunhas referidas e acareações – art. 461, CPC. • Possibilidade de o juiz determinar de ofício • Testemunha referidas em depoimentos das partes ou de outras testemunhas • Acareação entretestemunhas ou entre testemunha e parte Art. 461, CPC. juiz pode ordenar, de ofício ou a requerimento da parte: I. - a inquirição de testemunhas referidas nas declarações da parte ou das testemunhas; II.- a acareação de 2 (duas) ou mais testemunhas ou de alguma delas com a parte, quando, sobre fato determinado que possa influir na decisão da causa, divergirem as suas declarações. §1° Os acareados serão reperguntados para que expliquem os pontos de divergência, reduzindo-se a termo o ato de acareação. § 2° A acareação pode ser realizada por videoconferência ou por outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real. Despesa para a testemunha depor – art. 462, CPC Art. 462, CPC. A testemunha pode requerer ao juiz o pagamento da despesa que efetuou para comparecimento à audiência, devendo a parte pagá-la logo que arbitrada ou depositá-la em cartório dentro de 3 (três) dias. Depoimento como serviço público – art. 463, CPC. • Reflexos na relação trabalhista • Possibilidade de condução coercitiva da testemunha intimada comparece para depor – art. 455, § 5º, CPC. Art. 463, CPC. O depoimento prestado em juízo é considerado serviço público. Parágrafo único. A testemunha, quando sujeita ao regime da legislação trabalhista, não sofre, por comparecer à audiência, perda de salário nem desconto no tempo de serviço. 1.9. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO (A.I.J.) 1.9.1 – FINALIDADES: ➢ Tentativa de conciliação ➢ Produção de provas orais ➢Manifestação das partes em alegações finais ➢ Prolação da sentença 1.9.2 – ABERTURA E PREGÃO: ➢ Abertura realizada pelo juiz ➢ Pregão por servidor • É obrigatória a presença das partes? • Ato público, exceto quando segredo de justiça – arts. 11 e 368, CPC Art. 358, CPC. No dia e na hora designados, o juiz declarará aberta a audiência de instrução e julgamento e mandará apregoar as partes e os respectivos advogados, bem como outras pessoas que dela devam participar. Art. 368, CPC. A audiência será pública, ressalvadas as exceções legais. 1.9.3 – TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO ➢ Litígio que verse direito disponível ➢ Independe de eventuais tentativas anteriores ➢ Em havendo transação, sentença homologatória Art. 359, CPC. Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente do emprego anterior de outros métodos de solução consensual de conflitos, como a mediação e a arbitragem. Enunciado 429/FPPC: A arbitragem a que se refere o art. 359 é aquela regida pela Lei 9.307/1996 1.9.4 – PRODUÇÃO DE PROVAS ORAIS: ➢ Finalidade maior da A.I.J. ➢ Pressupõe conciliação infrutífera ➢ Ordem preferencial – art. 361, CPC • Peritos e assistentes técnicos • Depoimentos pessoais • Testemunhas ➢ Litisconsórcio e ordem de produção de provas ➢ Inversão da ordem legal de coleta das provas orais • Por decisão judicial – arts. 139, IV e 456, parágrafo único, CPC • Por negócio jurídico processual atípico – art. 190, CPC Art. 361, CPC. As provas orais serão produzidas em audiência, ouvindo-se nesta ordem, preferencialmente: I - o perito e os assistentes técnicos, que responderão aos quesitos de esclarecimentos requeridos no prazo e na forma do art. 477, caso não respondidos anteriormente por escrito; II - o autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos pessoais; III - as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu, que serão inquiridas. Parágrafo único. Enquanto depuserem o perito, os assistentes técnicos, as partes e as testemunhas, não poderão os advogados e o Ministério Público intervir ou apartear, sem licença do juiz. Enunciado 430/FPPC: A necessidade de licença concedida pelo juiz, prevista no parágrafo único do art. 361, é aplicável também aos Defensores Públicos. “(...). INVERSÃO DA ORDEM DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHA. ART. 212 DO CPP. NULIDADE RELATIVA. PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. (...). 2. Consoante a jurisprudência deste Tribunal, a inversão na ordem prevista no art. 212 do CPP é passível de nulidade relativa, devendo ficar demonstrada a efetiva comprovação do prejuízo, o que não ocorreu no caso. 3. O reconhecimento de nulidades no curso do processo penal reclama uma efetiva demonstração do prejuízo à parte, sem a qual prevalecerá o princípio da instrumentalidade das formas positivado pelo art. 563 do CPP (pas de nullité sans grief). Precedentes. (...)”. (STJ. AgRg nos EDcl no REsp 1728794/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 19/03/2019, DJe 25/03/2019) “PROVA. INVERSÃO NA ORDEM PREVISTA NO ART. 452 DO CPC [ATUAL ART. 361 DO CPC/2015]. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. ALÉM DE NÃO SER PEREMPTÓRIA A ORDEM ESTABELECIDA NO ART. 452 DO CPC, HÁ A PARTE DE EVIDENCIAR O PREJUÍZO QUE LHE ADVIRIA COM A INVERSÃO OCORRIDA. (...)”. (STJ. REsp 35.786/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 14/11/1994, DJ 12/12/1994, p. 34350 1.9.5 – DEBATES OU ALEGAÇÕES FINAIS: ➢ Alegações finais orais na A.I.J: 20min + 10min • Litisconsórcio: 30min, divididos entre os litisconsortes ➢ Alegações finais em memoriais: prazos sucessivos de 15 dias • Assegurada vista dos autos Art. 364, CPC. Finda a instrução, o juiz dará a palavra ao advogado do autor e do réu, bem como ao membro do Ministério Público, se for o caso de sua intervenção, sucessivamente, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por 10 (dez) minutos, a critério do juiz. § 1º Havendo litisconsorte ou terceiro interveniente, o prazo, que formará com o da prorrogação um só todo, dividir-se-á entre os do mesmo grupo, se não convencionarem de modo diverso. § 2º Quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o debate oral poderá ser substituído por razões finais escritas, que serão apresentadas pelo autor e pelo réu, bem como pelo Ministério Público, se for o caso de sua intervenção, em prazos sucessivos de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos. 1.9.6 – SENTENÇA/JULGAMENTO: ➢ Pressupõe alegações finais orais na A.I.J. ➢ Pode o juiz fazer os autos conclusos para proferir sentença em até 30 dias. • Contados da A.I.J. • Contados do fim dos prazos para alegações finais em memoriais Art. 366, CPC. Encerrado o debate ou oferecidas as razões finais, o juiz proferirá sentença em audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias. 1.9.7 – TERMO DE AUDIÊNCIA: ➢ Documentação do ato processual ➢ Quem procederá à lavratura? ➢ Qual o conteúdo do termo de audiência? ➢ Quem assinará o termo de audiência? ➢ Pode a audiência ser gravada? Art. 367. O servidor lavrará, sob ditado do juiz, termo que conterá, em resumo, o ocorrido na audiência, bem como, por extenso, os despachos, as decisões e a sentença, se proferida no ato. § 1º Quando o termo não for registrado em meio eletrônico, o juiz rubricar-lhe-á as folhas, que serão encadernadas em volume próprio. § 2º Subscreverão o termo o juiz, os advogados, o membro do Ministério Público e o escrivão ou chefe de secretaria, dispensadas as partes, exceto quando houver ato de disposição para cuja prática os advogados não tenham poderes. § 3º O escrivão ou chefe de secretaria trasladará para os autos cópia autêntica do termo de audiência. § 4º Tratando-se de autos eletrônicos, observar-se-á o disposto neste Código, em legislação específica e nas normas internas dos tribunais. § 5º A audiência poderá ser integralmente gravada em imagem e em áudio, em meio digital ou analógico, desde que assegure o rápido acesso das partes e dos órgãos julgadores, observada a legislação específica. § 6º A gravação a que se refere o § 5º também pode ser realizada diretamente por qualquer das partes, independentemente de autorização judicial. 1.9.8 – ADIAMENTO DA AUDIÊNCIA: Art. 362, CPC. A audiência poderá ser adiada: I - por convenção das partes; II - se não puder comparecer, por motivo justificado, qualquer pessoa que dela deva necessariamente participar; III - por atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30 (trinta) minutos do horário marcado. § 1º O impedimento deverá ser comprovado até a abertura da audiência, e, nãoo sendo, o juiz procederá à instrução. § 2º O juiz poderá dispensar a produção das provas requeridas pela parte cujo advogado ou defensor público não tenha comparecido à audiência, aplicando-se a mesma regra ao Ministério Público. § 3º Quem der causa ao adiamento responderá pelas despesas acrescidas. Art. 363, CPC. Havendo antecipação ou adiamento da audiência, o juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinará a intimação dos advogados ou da sociedade de advogados para ciência da nova designação. ➢ Há limite de vezes para adiamento por convenção das partes? • Art. 453, I, CPC/1973 x Art. 362, I, CPC/2015 • Abuso do direito e anulação do negócio jurídico processual ➢ Impedimento, justificado até o início da A.I.J., de comparecimento de quem deva dela participar • Se a parte não comparecer, nem justificar a sua ausência, haverá alguma sanção? • Se o advogado, Defensor Público ou membro do Ministério Público não comparecerem, nem justificarem as ausências, haverá alguma sanção? • A ausência do perito e das testemunhas ensejará o adiamento? ➢ Atraso superior a 30min do horário marcado que precisa ser injustificado • Advogado ou parte requer certidão à secretaria do juízo ➢ Rol do art. 362 do CPC não é taxativo • Exemplo: mínimo de 20 dias entre entrega do laudo pericial e A.I.J. “Constitui cerceamento de defesa o indeferimento do pedido de adiamento de audiência, feito por advogado que prova, por certidão ter outra audiência no mesmo horário.” (RT 537/192). “Havendo prova de motivo justificado para a ausência da parte à audiência, o juiz deve adiá-la independentemente da demonstração de prejuízo; este é, no caso, sempre presumido” (RJTJERGS 189/273). 1.9.9 – ATO ÚNICO E CONTÍNUO: ➢ Princípio da concentração dos autos em audiência Art. 365, CPC. A audiência é una e contínua, podendo ser excepcional e justificadamente cindida na ausência de perito ou de testemunha, desde que haja concordância das partes. Parágrafo único. Diante da impossibilidade de realização da instrução, do debate e do julgamento no mesmo dia, o juiz marcará seu prosseguimento para a data mais próxima possível, em pauta preferencial. “Fora das hipóteses legais, não é lícito ao juiz fragmentar o procedimento de colheita da prova testemunhal, deixando de inquirir, no mesmo dia, segundo a ordem e as cautelas da lei, todas as testemunhas arroladas. Se ouve as do autor numa data e, em outra, as do réu, e há prejuízo para o autor, anula-se a instrução” (RT 688/77). 2. DECISÃO JUDICIAL 2.1 – PROVIMENTOS/DECISÕES JUDICIAIS: ➢ Sentença – art. 203, § 1º, CPC: conteúdo e aptidão ➢ Decisão interlocutória – art. 203, § 2º, CPC ➢ Acórdão – art. 204, CPC Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos § 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. § 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º. § 3º São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte. § 4º Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário. Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais. 2.2 – ESPÉCIES DE SENTENÇA: Sentenças que não resolvem o mérito – art. 485, CPC • Sentenças terminativas • Não fazem coisa julgada material • Repropositura da ação – art. 486, CPC Sentenças que resolvem o mérito – art. 487, CPC • Sentenças definitivas • Fazem coisa julgada material Primazia do julgamento do mérito – art. 488, CPC • Caso possível, o juiz resolverá o mérito quando for favorável à parte a quem aproveitaria eventual sentença terminativa Enunciado 47/FPPC: A competência do juízo estatal deverá ser analisada previamente à alegação de convenção de arbitragem. Enunciado 48/FPPC: A alegação de convenção de arbitragem deverá ser examinada à luz do princípio da competência-competência Enunciado 153/FPPC: A superveniente instauração de procedimento arbitral, se ainda não decidida a alegação de convenção de arbitragem, também implicará a suspensão do processo, à espera da decisão do juízo arbitral sobre a sua própria competência. Enunciado 434/FPPC: O reconhecimento da competência pelo juízo arbitral é causa para a extinção do processo judicial sem resolução de mérito. Enunciado 435/FPPC: Cabe agravo de instrumento contra a decisão do juiz que, diante do reconhecimento de competência pelo juízo arbitral, se recusar a extinguir o processo judicial sem resolução de mérito. Enunciado 293/FPPC: O juízo de retratação, quando permitido, somente poderá ser exercido se a apelação for tempestiva. Enunciado 160/FPPC: A sentença que reconhece a extinção da obrigação pela confusão é de mérito. Enunciado 161/FPPC: É de mérito a decisão que rejeita a alegação de prescrição ou de decadência. Enunciado 521/FPPC: Apenas a decadência fixada em lei pode ser conhecida de ofício pelo juiz. 2.3 – ELEMENTOS ESSENCIAIS DA DECISÃO JUDICIAL: Relatório – art. 489, I, CPC • Assegura que o juiz tem conhecimento do que está submetido ao julgamento e de quem se sujeita a ele • Dispensa – art. 38, caput, Lei 9099/1995 Fundamentação – art. 489, II, CPC • Exame das questões de fato (à luz das provas) e de direito (à luz do ordenamento jurídico) • Exigência constitucional – art. 93, IX, CF Dispositivo – art. 489, III, CPC • Conclusão do silogismo judicial • Elemento essencial que faz coisa julgada material Ementa – art. 943, § 1º, CPC • Exigível nos acórdãos, mas opcional nas demais decisões 2.4 – DECISÕES NÃO FUNDAMENTADAS: Art. 489, § 1º, CPC – dificuldade de indicar as exigências para que a decisão seja considerada fundamentada; opção por enumerar situações em que não há fundamentação. Art. 489, § 1°, CPC. Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I.- se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II.- empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III.- invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV.- não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V.- se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI.- deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. Enunciado 303/FPPC: As hipóteses descritas nos incisos do §1º do art. 489 são exemplificativas. Enunciado 309/FPPC: O disposto no § 1º do art. 489 do CPC é aplicável no âmbito dos Juizados Especiais. Enunciado 515/FPPC: Aplica-se o disposto no art. 489, §1°, também em relação às questões fáticas da demanda. Enunciado 516/FPPC: Para que se considere fundamentada a decisão sobre os fatos, o juiz deverá analisar todas as provas capazes, em tese, de infirmar a conclusão adotada. Enunciado 517/FPPC: A decisão judicial que empregar regras de experiência comum, sem indicar os motivos pelos quais a conclusão adotada decorre daquilo que ordinariamente acontece, considera-se não fundamentada. Enunciado 304/FPPC: As decisões judiciais trabalhistas, sejam elas interlocutórias, sentenças ou acórdãos, devem observar integralmente o disposto no art. 489, sobretudo o seu §1º, sob pena de se reputarem não fundamentadas e, por conseguinte, nulas. Enunciado 307/FPPC: Reconhecida a insuficiência da sua fundamentação, o tribunal decretaráa nulidade da sentença e, preenchidos os pressupostos do §3º do art. 1.013, decidirá desde logo o mérito da causa. Enunciado 128/FPPC: No processo em que há intervenção do amicus curiae, a decisão deve enfrentar as alegações por ele apresentadas, nos termos do inciso IV do § 1º do art. 489. Enunciado 306/FPPC: O precedente vinculante não será seguido quando o juiz ou tribunal distinguir o caso sob julgamento, demonstrando, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta, a impor solução jurídica diversa. Enunciado 523/FPPC: O juiz é obrigado a enfrentar todas as alegações deduzidas pelas partes capazes, em tese, de infirmar a decisão, não sendo suficiente apresentar apenas os fundamentos que a sustentam. Enunciado 524/FPPC: O art. 489, §1º, IV, não obriga o órgão julgador a enfrentar os fundamentos jurídicos deduzidos no processo e já enfrentados na formação da decisão paradigma, sendo necessário demonstrar a correlação fática e jurídica entre o caso concreto e aquele já apreciado. Enunciado 9/ENFAM: É ônus da parte, para os fins do disposto no art. 489, § 1º, V e VI, do CPC/2015, identificar os fundamentos determinantes ou demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento, sempre que invocar jurisprudência, precedente ou enunciado de súmula. Enunciado 10/ENFAM: A fundamentação sucinta não se confunde com a ausência de fundamentação e não acarreta a nulidade da decisão se forem enfrentadas todas as questões cuja resolução, em tese, influencie a decisão da causa Enunciado 11/ENFAM: Os precedentes a que se referem os incisos V e VI do § 1º do art. 489 do CPC/2015 são apenas os mencionados no art. 927 e no inciso IV do art. 332. Enunciado 12/ENFAM: Não ofende a norma extraível do inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC/2015 a decisão que deixar de apreciar questões cujo exame tenha ficado prejudicado em razão da análise anterior de questão subordinante. Enunciado 13/ENFAM: O art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015 não obriga o juiz a enfrentar os fundamentos jurídicos invocados pela parte, quando já tenham sido enfrentados na formação dos precedentes obrigatórios. 2.5 – DEFEITOS/VÍCIOS DA DECISÃO JUDICIAL: Ausência de relatório (quando exigido), fundamentação ou dispositivo = nulidade do ato decisório Vícios relacionados ao princípio da correlação/congruência • Decisão infra/citra petita - omissão • Decisão ultra petita - acréscimo indevido de elemento da ação • Decisão extra petita - acréscimo indevido de elemento diverso 2.6 – ALTERAÇÃO DA SENTENÇA PELO ÓRGÃO PROLATOR: Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: I.- para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II.- por meio de embargos de declaração. Quando o ato judicial é considerado publicado? Exemplos de inexatidões materiais: equívocos no nome das partes, inversão manifesta da condenação nas verbas de sucumbência, erro na indicação de um artigo de lei, erros de digitação etc. O recurso de embargos de declaração serve para correção de omissão, obscuridade, contradição ou inexatidão material, nos termos do art. 1022, CPC. PROCESSO CIVIL. SENTENÇA. PUBLICAÇÃO. NULIDADE. A sentença, seja qual for a data que dela conste, só vale como ato processual depois da entrega ao escrivão, sendo nula se isso acontece quando o juiz que a proferiu, já promovido, não estava no exercício do cargo. (...). (STJ. REsp 750.651/PA, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel. p/ Acórdão Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/04/2006, DJ 22/05/2006, p. 199). (...). SENTENÇA QUE SE CONSIDERA PUBLICADA COM A SUA LEITURA NA AUDIÊNCIA OU COM A SUA ENTREGA EM CARTÓRIO. (...). 1. Entende-se por dia do julgamento a data em que foi efetivamente publicada a sentença. 2. Proferida a sentença na própria audiência de instrução e julgamento, tem-se por publicada com a sua leitura, ainda que ausentes os representantes das partes, desde que os mesmos tenham sido previamente intimados para audiência. 3. Não tendo a sentença sido proferida em audiência, a publicação dar-se-á com a sua entrega em Cartório, pelo Juiz, para fins de registro em livro próprio. (...). (STJ. EDcl no REsp 1144079/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, CORTE ESPECIAL, julgado em 25/04/2013, DJe 20/05/2013). (...). PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA. ENTREGA AO CARTÓRIO PELO JUIZ. (...). A publicação da sentença ocorre com a formalidade da sua entrega ao cartório. Precedentes. (...). (STJ. AgRg na MC 5.164/MG, Rel. Ministro PAULO MEDINA, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/11/2002, DJ 16/12/2002, p. 283). 2.7 – EFEITOS PRINCIPAIS DA SENTENÇA: Capítulos de sentença – Cândido Rangel Dinamarco Sentença declaratória – art. 19, CPC • Não impõe obrigações, não cria nova relação jurídica e nem desconstitui relação jurídica já existente. • Eficácia ex tunc (retroativa). Sentença constitutiva • Criar nova relação jurídica (positiva) ou desconstituir a relação jurídica já existente (negativa). • Eficácia ex nunc (produção de efeitos a partir de então). Sentença condenatória • Impõe obrigação que precisa ser cumprida. • Eficácia ex tunc (retroativa), mas execução, em regra, após trânsito em julgado. • Pontes de Miranda e as sentenças mandamentais e executivas lato sensu. 3. COISA JULGADA 3.1 – CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA: Imutabilidade do que restou decidido em dispositivo de decisão judicial Pressupõe trânsito em julgado da decisão Mencionada no art. 5º, XXXVI, CF – não pode ser prejudicada pela eventual retroatividade da lei Relaciona-se com a segurança jurídica e a pacificação definitiva do conflito de interesses Não é efeito da sentença, mas qualidade atribuída aos efeitos dela: imutabilidade e indiscutibilidade Art. 502, CPC. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso. 3.2 – ESPÉCIES/TIPOS DE COISA JULGADA: Seriam espécies/tipos ou seriam formas de manifestação de um fenômeno único? Coisa julgada formal • Projeção interna da coisa julgada – endoprocessual • Imutabilidade de toda sentença ou acórdão, após trânsito em julgado, no processo em que proferido(a) – preclusão máxima • Não esclarece sobre possibilidade de repropositura da mesma ação Coisa julgada material (ou apenas “coisa julgada”) • Projeção externa da coisa julgada - extraprocessual • A matéria decidida, após trânsito em julgado de decisão de mérito da fase de conhecimento, torna-se imutável, indiscutível, definitiva. • Decisões terminativas, que encerrem execução ou que apreciem tutelas provisórias coisa julgada material? Enunciado 436/FPPC: Preenchidos os demais pressupostos, a decisão interlocutória e a decisão unipessoal (monocrática) são suscetíveis de fazer coisa julgada. 3.3 – FUNÇÃO NEGATIVA DA COISA JULGADA: A mesma ação não pode ser novamente enfrentada no Poder Judiciário - Tríplice identidade de elementos E se for enfrentada novamente a matéria em ação idêntica? • Inexistência de nova coisa julgada material – Nelson Nery Jr. – posicionamento já adotado na 3º Turma do STJ (REsp 1354225/RS; AgInt no AREsp 600.811/SP). • Prevalência da primeira coisa julgada material – posicionamento adotado na 3ª Seção do STJ (AgInt no AgInt no REsp 1479241/PR; AgRg nos EmbExeMS 3.901/DF; EDcl no AgRg no AREsp 531.918/DF). • Prevalência da segunda coisa material enquanto não rescindida – posicionamento já adotado pelas 2ª e 4ª Turmas do STJ (AgInt no REsp 1270008/MS; REsp 1524123/SC; REsp 598148/SP). Foi o posicionamento definido pela Corte Especial do STJ: EAREsp 600811, julgado em 04/12/2019, DJe 07/02/2020. (...). COISA JULGADA DÚPLICE. CONFLITO ENTRE DUAS SENTENÇAS TRANSITADAS EM JULGADO. CONTROVÉRSIA DOUTRINÁRIA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR NA SEGUNDA DEMANDA. INEXISTÊNCIA DA SEGUNDA SENTENÇA. (...). 3. Inexistência de interesse jurídico no ajuizamento da segunda demanda. Doutrina sobre o tema. 4. Inexistência de direito de ação e, por conseguinte, da sentençaassim proferida. Doutrina sobre o tema. 5. Analogia com precedente específico desta Corte, em que se reconheceu a inexistência de sentença por falta de interesse jurídico, mesmo após o transcurso do prazo da ação rescisória (REsp 710.599/SP). (...). (STJ. REsp 1354225/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/02/2015, DJe 05/03/2015). AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONFLITO ENTRE COISAS JULGADAS. PREVALÊNCIA DA PRIMEIRA SENTENÇA. PRECEDENTE DA TERCEIRA TURMA. 1. Controvérsia doutrinária acerca da existência da segunda sentença ou, caso existente, da natureza rescisória ou transrescisória do vício da coisa julgada. Sendo assim, demonstrase a inexistência de interesse jurídico no ajuizamento da segunda demanda. 2. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (STJ. AgInt no AREsp 600.811/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe 13/10/2016) (...). AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, IV, DO CPC/1973 [ART. 966, IV, DO CPC/2015]. DUAS DECISÕES TRANSITADAS EM JULGADO. TRÍPLICE IDENTIDADE. PREVALECE A PRIMEIRA DECISÃO. OFENSA À COISA JULGADA. 1. A ação rescisória ajuizada com base na ofensa à coisa julgada (art. 485, IV, do CPC/1973) pressupõe a existência de duas decisões sobre a mesma relação jurídica. 2. No caso, existindo identidade entre as partes e a causa de pedir, evidencia-se a violação à coisa julgada, motivo pelo qual a segunda decisão merece ser rescindida. (...). (STJ. AgInt no AgInt no REsp 1479241/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/02/2019, DJe 11/03/2019). (...). A coisa julgada decorre de opção política entre dois valores: segurança, representada pela imutabilidade do pronunciamento, e justiça, sempre passível de ser buscada enquanto se permita o reexame do ato judicial. Assim, nos casos em que há formação de duas coisas julgadas, oriundas de demandas idênticas, deve ser prestigiada, em execução ou cumprimento de sentença, a manutenção daquela que primeiro transitou em julgado. (...). (STJ. AgRg nos EmbExeMS 3.901/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/11/2018, DJe 21/11/2018) (...). CONFLITO DE COISA JULGADA - DUPLICIDADE. PREVALÊNCIA DA PRIMEIRA. (...). No conflito entre duas coisa julgadas deve prevalecer a que se formou em primeiro lugar. (...). (STJ. EDcl no AgRg no AREsp 531.918/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/12/2016, DJe 12/12/2016). (...). CONFLITO ENTRE COISAS JULGADAS. PREVALÊNCIA DAQUELA QUE POR ÚLTIMO SE FORMOU. (...). A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que no conflito entre coisas julgadas, prevalece aquela que por último se formou, enquanto não desconstituída mediante Ação Rescisória. (...) . (STJ. AgInt no REsp 1270008/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 21/08/2018, DJe 27/08/2018). (...). SENTENÇAS CONTRADITÓRIAS. DECISÃO NÃO DESCONSTITUÍDA POR AÇÃO RESCISÓRIA. PREVALÊNCIA DAQUELA QUE POR ÚLTIMO TRANSITOU EM JULGADO. (...). O STJ entende que, havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último, enquanto não desconstituída mediante Ação Rescisória. (...). (STJ. REsp 1524123/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/05/2015, DJe 30/06/2015). (...). CONFLITO ENTRE COISAS JULGADAS. CRITÉRIO TEMPORAL PARA SE DETERMINAR A PREVALÊNCIA DA PRIMEIRA OU DA SEGUNDA DECISÃO. DIVERGÊNCIA QUE SE RESOLVE, NO SENTIDO DE PREVALECER A DECISÃO QUE POR ÚLTIMO TRANSITOU EM JULGADO, DESDE QUE NÃO DESCONSTITUÍDA POR AÇÃO RESCISÓRIA (...). 2. Nesse particular, deve ser confirmado, no âmbito desta Corte Especial, o entendimento majoritário dos órgãos fracionários deste Superior Tribunal de Justiça, na seguinte forma: "No conflito entre sentenças, prevalece aquela que por último transitou em julgado, enquanto não desconstituída mediante Ação Rescisória" (REsp 598.148/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 25/8/2009, DJe 31/8/2009). 3. Entendimento jurisprudencial que alinha ao magistério de eminentes processualistas: "Em regra, após o trânsito em julgado (que, aqui, de modo algum se preexclui), a nulidade converte-se em simples rescindibilidade. O defeito, arguível em recurso como motivo de nulidade, caso subsista, não impede que a decisão, uma vez preclusas as vias recursais, surta efeito até que seja desconstituída, mediante rescisão (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil, 5ª ed, Forense: 1985, vol. V, p. 111, grifos do original). Na lição de Pontes de Miranda, após a rescindibilidade da sentença, "vale a segunda, e não a primeira, salvo se a primeira já se executou, ou começou de executar-se“. (Comentários ao Código de Processo Civil. 3. ed. , t. 6. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 214). (...). (STJ. EAREsp n. 600.811/SP, relator Ministro Og Fernandes, Corte Especial, julgado em 4/12/2019, DJe de 7/2/2020.) 3.4 – FUNÇÃO POSITIVA DA COISA JULGADA: O julgamento de um segundo processo (não idêntico), na esfera judicial ou na administrativa, vincula-se à coisa julgada material emanada do primeiro processo • Identidade da relação jurídica • Proteção ao capítulo declaratório 3.5 – LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA: Do conteúdo da decisão de mérito, o que está abrangido pela coisa julgada e se torna imutável e indiscutível? • Relatório? • Fundamentação? Vide art. 504, CPC • Dispositivo? Há coisa julgada sobre questão prejudicial? Art. 503, § 1º, CPC • Preliminares do art. 337, CPC x questões prejudiciais. • Prejudicial como ponto controvertido cujo deslinde repercute sobre o julgamento do mérito. • Prejudicial versa sobre existência, inexistência ou modo de ser de relação jurídica ou sobre autenticidade ou falsidade documental que subordina a decisão sobre a questão principal. • Requisitos do art. 503, § 1º, CPC: Art. 503, CPC. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. § 1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se: I.- dessa resolução depender o julgamento do mérito; II.- a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; III.- o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. Enunciado 437/FPPC: A coisa julgada sobre a questão prejudicial incidental se limita à existência, inexistência ou modo de ser de situação jurídica, e à autenticidade ou falsidade de documento. Enunciado 165/FPPC: A análise de questão prejudicial incidental, desde que preencha os pressupostos dos parágrafos do art. 503, está sujeita à coisa julgada, independentemente de provocação específica para o seu reconhecimento. Enunciado 438/FPPC: É desnecessário que a resolução expressa da questão prejudicial incidental esteja no dispositivo da decisão para ter aptidão de fazer coisa julgada. Enunciado 638/FPPC: A formação de coisa julgada sobre questão prejudicial incidental, cuja resolução como principal exigiria a formação de litisconsórcio necessário unitário, pressupõe contraditório efetivo por todos os legitimados, observada a parte final do art. 506. Enunciado 439/FPPC: Nas causas contra a Fazenda Pública, além do preenchimento dos pressupostos previstos no art. 503, §§ 1º e 2º, a coisa julgada sobre a questão prejudicial incidental depende de remessa necessária, quando for o caso. 3.6 – LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA: Para quem a decisão de mérito transitada em julgado torna-se imutável? Art. 506, CPC. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Adoção da coisa julgada in utilibus pelo CPC/2015 Art. 274, CC. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles. Enunciado 234/FPPC: A decisão de improcedência na ação propostapelo credor beneficia todos os devedores solidários, mesmo os que não foram partes no processo, exceto se fundada em defesa pessoal. Imagine que um empregado praticou um ilícito do qual resultaram danos para alguém. Houve processo criminal, e ele foi condenado. A vítima então propõe ação de reparação de danos, na esfera civil, não contra ele, mas contra o empregador, invocando a regra de que este responde pelos danos que aquele, no exercício de suas atividades, ocasionar. Poderia o empregador, na ação civil, rediscutir a questão da culpa do empregado, já condenado na esfera criminal? 3.7 – EFICÁCIA PRECLUSIVA DA COISA JULGADA: Art. 508, CPC. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido. Com a coisa julgada material, reputam-se apreciadas em definitivo não apenas as matérias deduzidas pelas partes, mas também as dedutíveis. Necessidade de manutenção da causa de pedir (em que se baseia a pretensão do autor) para que se aplique a norma do art. 508, CPC. Pressuponha trânsito em julgado das sentenças de mérito nas hipóteses abaixo: Se uma pessoa propuser ação reivindicatória, aduzindo que é titular do bem porque o usucapiu, o fundamento de fato em que se baseia o pedido é a propriedade decorrente da usucapião. Se o juiz julgar improcedente o pedido, poderá o autor, tempos depois, o formule a mesma pretensão reivindicatória, contra o mesmo invasor, aduzindo que agora adquiriu o bem onerosamente? Em ação de cobrança, o réu defende-se alegando que fez o pagamento. O juiz repele a alegação e julga procedente a pretensão do autor, condenando o réu. Poderá o réu, mais tarde, ajuizar ação declaratória de inexistência do débito, por força de compensação? 3.8 – MEIOS PARA AFASTAR A COISA JULGADA: - Ação rescisória - Impugnação ao cumprimento de sentença, quando o objeto for desconstituir ou declarar ineficaz o título - Ação declaratória de ineficácia (querela nulitatis insanabilis) 3.9 – RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA: “Coisa julgada transforma o certo no errado” julgada transforma o existente em inexistente” Lições de José Delgado, Theodoro Jr e Dinamarco Afastamento excepcional da coisa julgada após prazo decadencial para rescisória. Ação declaratória de ineficácia de decisão judicial (...). 1. Deve-se dar prevalência ao princípio da verdade real, nas ações de estado, como as de filiação, admitindo-se a relativização da coisa julgada, quando na demanda anterior não foi possível a realização do exame de DNA. 2. O Poder Judiciário não pode, sob a justificativa de impedir ofensa à coisa julgada, desconsiderar os avanços técnicocientíficos inerentes à sociedade moderna, os quais possibilitam, por meio de exame genético, o conhecimento da verdade real, delineando, praticamente sem margem de erro, o estado de filiação ou parentesco de uma pessoa. (...). (STJ. AgInt no REsp 1414222/SC, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA TURMA, julgado em 21/06/2018, DJe 29/06/2018). (...). 1. Nas ações de investigação de paternidade, a jurisprudência desta Casa admite a relativização da coisa julgada quando na demanda anterior não foi possível a realização do exame de DNA, em observância ao princípio da verdade real. (...). (STJ. AgInt no REsp 1417628/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/03/2017, DJe 06/04/2017). (...). 1. É dotada de repercussão geral a matéria atinente à possibilidade da repropositura de ação de investigação de paternidade, quando anterior demanda idêntica, entre as mesmas partes, foi julgada improcedente, por falta de provas, em razão da parte interessada não dispor de condições econômicas para realizar o exame de DNA e o Estado não ter custeado a produção dessa prova. 2. Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes, em decorrência da não realização do exame de DNA, meio de prova que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à existência de tal vínculo. 3. Não devem ser impostos óbices de natureza processual ao exercício do direito fundamental à busca da identidade genética, como natural emanação do direito de personalidade de um ser, de forma a tornar-se igualmente efetivo o direito à igualdade entre os filhos, inclusive de qualificações, bem assim o princípio da paternidade responsável. 4. Hipótese em que não há disputa de paternidade de cunho biológico, em confronto com outra, de cunho afetivo. Busca-se o reconhecimento de paternidade com relação a pessoa identificada. (...). (STF. RE 363889, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 02/06/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-238 DIVULG 15-12-2011 PUBLIC 16-12- 2011 RTJ VOL-00223-01 PP-00420)