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Introdução à microeconomia Prof.ª Mariana Stussi Neves Descrição Você vai compreender as escolhas de consumo e produção de indivíduos e firmas para a análise da determinação das curvas de oferta e demanda dos diferentes mercados, assim como o processo de formação de preços e as diferentes dinâmicas de variação na renda, no preço de bens e no custo de insumos. Propósito A escolha do consumidor e as decisões de produção da empresa são problemas básicos da ciência econômica. Portanto, entender essas decisões é fundamental para o estudo de mercados e situações mais complexas que são estudadas em tópicos de economia mais avançados. Objetivos Módulo 1 Escolha do consumidor Identificar a escolha ótima de um consumidor racional a partir de suas preferências e renda . Módulo 2 Curvas de indiferença Reconhecer as curvas de indiferença e suas propriedades . Módulo 3 Tipos de custo Distinguir os tipos de custo da firma e suas aplicações . Módulo 4 Lucro do produtor Demonstrar a quantidade de produto para a maximização do lucro do produtor . Introdução Todos os dias, pessoas se deparam com escolhas sobre como gastar sua renda em bens e serviços. Quando vão a uma pizzaria, por exemplo, elas devem decidir quantos pedaços querem comer e o quanto estão dispostas a pagar por uma fatia ou pela pizza toda. Mesmo em um rodízio, em que o preço é fixo e uma fatia extra não tem custo, os fregueses precisam escolher se vale a pena comer mais um pedaço ou se estão satisfeitos. Depois de certa quantidade ingerida, comer mais pode despertar náuseas ou enjoo, e a satisfação com a comida diminui em vez de aumentar. Podemos, então, afirmar que um cliente quer tirar o máximo de satisfação de sua refeição dada a sua disposição para pagar por ela. Mas como se mede o nível máximo de satisfação dos consumidores? Não é tudo uma questão pessoal de gosto? Sim, é uma questão de gosto — e talvez seja papel da psicologia (e não da economia) tentar compreender como ele surge. No entanto, os economistas podem dizer muito sobre como um indivíduo racional se comporta para satisfazer esses gostos pessoais e como os produtores ofertam bens e serviços para atender a consumidores e suas preferências. Nosso conteúdo gira em torno desses tópicos. Vamos lá! Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material javascript:CriaPDF() 1 - Escolha do consumidor Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a escolha ótima de um consumidor racional a partir de suas preferências e renda . Utilidade e consumo A microeconomia, ou teoria dos preços, é a parte da teoria econômica que estuda o comportamento das famílias e das empresas, além dos mercados nos quais elas operam. Diferentemente da macroeconomia, que analisa grandes agregados como o produto nacional e o nível geral de preços dentro de um enfoque global, a análise microeconômica é parcial e concentra-se em mercados específicos. A teoria do consumidor, também conhecida como teoria da escolha, busca descrever como os consumidores decidem suas ações de compra e como reagem às mudanças em seu ambiente. Os bens e serviços servem para satisfazer uma necessidade humana, ou seja, têm utilidade para o consumidor. O valor atribuído a um bem ou serviço deriva precisamente da sua capacidade de satisfazer uma necessidade e aumentar o bem-estar do consumidor. A necessidade tem um conteúdo muito subjetivo e individual, podendo ser explicada como uma sensação de falta, que pode representar certo mal-estar. Nesse sentido, como temos inúmeras necessidades, mas recursos limitados para satisfazê-las, precisamos escolher os produtos e serviços que tragam o máximo de satisfação. Dessa forma, cada pessoa busca maximizar sua própria medida de satisfação obtida por meio do consumo de bens e serviços. Essa medida é chamada de utilidade do consumidor. Trata-se de um conceito usado pelos economistas para compreender o comportamento de escolha, que, na prática, tem um valor que nem precisa ser medido. A utilidade do consumidor depende de tudo o que um indivíduo consome, e o conjunto de bens e serviços adquiridos por ele é chamado de cesta de consumo (ou cesta de mercadorias do consumidor). Uma cesta de consumo é, na verdade, uma combinação de certa quantidade de diversas mercadorias. Exemplo Uma pessoa que gosta de pizza e refrigerante, em um momento, pode ter sua cesta de consumo composta por duas fatias de pizza e um refrigerante. Em outro momento, ela pode optar por três fatias de pizza e nenhum refrigerante. Essas diferentes combinações refletem as escolhas e preferências do consumidor em diversas situações. Existe uma relação entre as cestas de consumo individuais possíveis e o montante total de utilidade gerado por elas, e ela é conhecida como função utilidade. Essa relação varia para cada indivíduo, pois se trata de uma questão pessoal e subjetiva. Evidentemente, as pessoas não possuem calculadoras em suas cabeças para medir exatamente o quanto de utilidade suas escolhas de consumo irão gerar. Porém, ainda que de forma grosseira, elas tomam decisões partindo do princípio de qual escolha irá lhes trazer mais satisfação. Por exemplo, o que te faz mais feliz: viajar no feriado ou comprar um celular novo? Consumidora utilizando notebook para avalia suas opções de compra. Para medir a utilidade, podemos supor, a fim de simplificar o processo, que ela possa ser mensurada com uma unidade hipotética e arbitrária denominada util. Assim, sob certas circunstâncias, alguém pode pensar em uma maçã, que contém quatro utils, e uma laranja, que tem dois. Essa é apenas uma maneira de dizer que uma maçã tem duas vezes mais utilidade que uma laranja. Vamos ilustrar uma função de utilidade. Imagine Júlia, que está em uma festa na qual ela pode comer salgadinhos à vontade, sem nenhum custo. O gráfico (a), a seguir, mostra a utilidade total que Júlia obtém ao consumir salgadinhos: Gráfico (a): Utilidade total de Júlia ao consumir salgadinhos. A função utilidade de Júlia indica uma inclinação positiva em sua maior parte, mas, à medida que o número de salgadinhos consumidos aumenta, a curva se torna mais achatada, aproximando-se da inclinação de uma reta horizontal. Isso significa que uma iguaria a mais não traz tanta utilidade como a anterior. Ou seja, quanto mais unidades são consumidas, mais o valor do salgadinho diminui. A partir do décimo salgadinho, por exemplo, adicionar mais um se torna ser algo ruim para Júlia, piorando a sua situação. Se for racional, ela perceberá isso e não consumirá o 11°. Desse modo, quando Júlia for decidir sobre o número de iguarias a serem consumidas, ela tomará essa decisão considerando a mudança na sua utilidade total, o que é proveniente do consumo de mais um salgadinho. A teoria da utilidade é usada para explicar como consumidores ou tomadores de decisão realizam suas escolhas da melhor forma possível e é utilizada pela microeconomia. Ela é ordinal, e não cardinal. Isso significa que a função utilidade serve para ordenar a preferência e identificar, entre dois bens – ou duas cestas de bens –, qual deles é preferível. Quando duas cestas são comparadas, é possível dizer apenas uma das seguintes afirmativas: A primeira cesta é preferível à segunda ou a segunda cesta é preferível à primeira. O consumidor é indiferente às duas cestas. Entende-se por cardinal situações em que são admitidas questões do tipo: em quantos por cento uma cesta é mais útil ou desejável que a outra? A moderna teoria da utilidade ― também denominada utilidade de Hicks, em homenagem a John Hicks ― se apoia no conceito de utilidade ordinal. Vale mencionar que o economista britânico John Hicks desempenhou importante papel na formulação da teoria ordinal da utilidade e é considerado um dos economistas mais influentes do século XX. Pela teoria ordinal, é necessário apenas organizar os produtos pela ordem de preferência.da firma, assinale a afirmativa falsa. Parabéns! A alternativa B está correta. No curto prazo, os produtores não conseguem modificar o montante de alguns insumos. Trata-se dos chamados insumos fixos. Eles só podem alterar a sua produção mudando a quantidade de insumos variáveis. No longo prazo, não existem insumos fixos: todos são variáveis. Questão 2 Sobre as curvas de custo do produtor, assinale a afirmativa falsa. A É a relação entre a quantidade de produto que uma empresa irá produzir e a de insumos. B Os insumos da função de produção de curto prazo são fixos. C A curva que mostra como a quantidade de produto depende do montante de insumo variável para uma dada quantia de insumo fixo é chamada de curva de produto total. D A inclinação da curva de produto total é igual ao produto marginal do insumo variável. E A hipótese de retornos decrescentes implica que a função de produção da firma terá inclinação decrescente. Parabéns! A alternativa A está correta. Tal definição corresponde ao custo marginal. 4 - Lucro do produtor Ao �nal deste módulo, você será capaz de demonstrar a quantidade de produto para a maximização do lucro do produtor. A O custo variável é a variação no custo total ao se acrescentar uma unidade de insumo variável. B O custo fixo médio é o custo fixo dividido pela quantidade total produzida. C A curva de custo marginal é crescente. D O custo total é a soma dos custos fixo e variável. E O custo médio é a soma do custo variável médio e o custo fixo médio. Oferta e competição perfeita Neste material, vamos entender como os conceitos de lucro e receita estão relacionados entre si e de que forma afetam as escolhas de produção e oferta das firmas. Isso depende do tipo de mercado em que uma empresa se encontra. Assim, analisaremos neste conteúdo a competição perfeita. Se você já foi a uma feira, deve ter notado que, em geral, existe mais de um feirante vendendo batatas ou tomates. Também já deve ter percebido que o preço desses produtos costuma ser muito parecido ou até igual entre as barracas. O barulho alto característico das feiras é um sintoma da competição que feirantes enfrentam entre si. Para vender produtos que não oferecem muitas diferenças entre uma barraca e outra, competir é inevitável. Para isso, recorre-se à voz. Mas por que eles não usam outros recursos, como alterar o preço e a quantidade ofertada, para tentar vender mais? Produtos expostos em uma feira. José e Sônia são dois feirantes que vendem batatas. Ambos comercializam seu produto na mesma feira aos domingos. Suponha que suas batatas sejam da mesma qualidade. Na prática, eles competem entre si ao disputarem potenciais compradores. Sônia ou José deveria impedir o outro de vender batatas? Ou eles deveriam fazer um acordo para aumentar o preço do item? É provável que a resposta seja não. Há centenas de outros feirantes vendendo batata, seja na mesma feira ou em outra, talvez não muito distante. Sônia e José definitivamente estão competindo com todos os vendedores de batata. Se ambos tentassem aumentar o preço da batata, provavelmente não conseguiriam vender muito, pois os consumidores encontrariam outra mais barata a apenas algumas barracas de distância. Desse modo, podemos dizer que José e Sônia são produtores tomadores de preço. Acompanhe, a seguir, as condições necessárias para a competição perfeita! Condição 1 Um produtor é chamado de tomador de preço quando suas ações não afetam o preço de mercado do bem vendido. O raciocínio análogo vale para os consumidores tomadores de preço, pois eles não podem influenciar o preço por meio de suas ações. Em um mercado perfeitamente competitivo, consumidores e produtores são tomadores de preço. Com isso, decisões individuais, de quem quer que elas partam, não afetam o preço de mercado de determinado bem. Condição 2 A indústria deve possuir um número relativamente grande de produtores, e nenhum deles pode ter grande participação no mercado. A participação de mercado de um produtor é a fração do produto total da indústria pela qual ele é responsável. Assim, se ele possuir uma parcela muito grande de mercado, ele passará a influenciar o preço de mercado do bem que produz. Por exemplo, na Crise do petróleo, na década de 1970, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tinha quase um terço de fatia da produção total de petróleo mundial. Ao diminuir a quantidade ofertada, ela i fl i di d b il E ã Oferta e competição perfeita Confira, neste vídeo, como interpretar a competição perfeita e sua utilidade na compreensão de quais são os fatores de desajustes nas alocações na economia. influenciou diretamente no preço do barril. Esse não é o caso de José ou Sônia. Condição 3 Os consumidores devem considerar os produtos de todos os produtores equivalentes (homogêneos). Isso não seria verdade se os compradores acreditassem que as batatas de Sônia são de melhor qualidade que as de José. Caso realmente fossem melhores, ainda que ela aumentasse um pouco o seu preço, os consumidores continuariam comprando em virtude da qualidade. No caso de commodities (ou produtos padronizados), os consumidores costumam considerar o item de um produtor como perfeitamente substituível pelo de outro. Temos como exemplo um produtor de batatas como José ou Sônia. Eles não podem aumentar o preço de suas batatas sem perder todas as suas vendas para outros vendedores. Assim, para que uma indústria seja perfeitamente competitiva, é necessário que seu produto seja padronizado. Livre entrada e saída Os mercados perfeitamente competitivos têm ainda outra característica: a livre entrada e saída de firmas e produtores. Dito de outra forma: não há barreiras para seu acesso ao mercado. Exemplo Acesso limitado a recursos, obstáculos legais e regulamentações governamentais. Não existem custos adicionais associados à saída do mercado, como tarifas relacionadas ao fechamento de uma firma. Contudo, a livre entrada e saída não é uma condição necessária para a competição perfeita, e sim, uma característica comum na maioria dos mercados competitivos. Como funcionam os mercados perfeitamente competitivos? Quando um produtor aumenta o seu montante em uma unidade, sua receita cresce, mas, infelizmente, acontece o mesmo com seu custo. Esse aumento no custo por unidade extra de produto é conhecido como custo marginal. Primeiro, vamos examinar de que modo um produtor maximiza o seu lucro de maneira individual em uma indústria perfeitamente competitiva. Em seguida, entenderemos o significado de lucro econômico a partir da análise dos lucros e prejuízos de um negócio hipotético. Imagine que João e Maria administrem um cultivo de café e que o preço de mercado da saca seja R$ 40. Eles são tomadores de preço, podendo, assim, vender o montante que quiserem com esse valor. Quantas sacas eles devem produzir para maximizar seu lucro? Maria e João trabalhando em sua plantação de café. O lucro é igual à receita total menos o custo total, assim como a receita total é o preço de mercado multiplicado pela quantidade de produto. Como fizemos no caso do consumidor, recorreremos agora à análise marginal para encontrar a quantidade ótima de produto (que maximiza o lucro) a ser vendida. Vamos analisar agora outro conceito relativo a esse tópico: receita marginal (RMg). Analogamente, ela é a receita adicional gerada com a venda quando o produto em uma unidade é aumentado. Formalmente, temos a seguinte equação: Você pode se perguntar como isso ajuda a descobrir a quantidade ótima de sacas de café que João e Maria devem produzir para maximizar os lucros de sua produção. A tabela a seguir aponta a receita total, o custo total e o lucro total por unidade de saca de café do cultivo de ambos, além dos cálculos de custo e receita marginais. A última coluna, por sua vez, exibe o ganho líquido por saca, isto é, a receita marginal menos o custo marginal. Quantidade de café Y(sacas) Custo variável CV Custo total CT 0 0 20.00 1 25.00 45.00 2 55.00 75.00 3 65.00 110.00 4 75.00 150.00 5 85.00 195.00 6 95.00 245.00 Tabela: Ganho líquido por unidade de saca de café. Mariana Stussi Neves. receita marginal = variąção na receita total variação no produto ou RMg = ΔRT/ΔY A tabela evidencia que o custo variável e o total crescem à medida que a produção aumenta. O custo marginal também sobe a cada unidade de café por conta dos retornos decrescentes dos insumos. A RMg, no entanto, permanece constante, uma vez que o preço do produto não muda (afinal, João e Maria são tomadores de preço). Examinemos agora a última coluna, a de ganho líquido por saca. Até a quarta saca de café produzida, o custo variável e o total registram um ganho líquido positivo. Produzir, portanto, gera mais receita do que custos. Na quarta saca, o ganho líquido já é zero, e a partir da quinta, ele passa a ser negativo, pois o custo marginal é maior que a receita marginal. Observe essas curvas graficamente para melhor entendimento do conceito: Gráfico: Ganho líquido por saca de café. A curva de custo marginal (CMg) apresenta uma inclinação positiva e permanece abaixo da de receita marginal (RMg) até o ponto E, onde ela intercepta a RMg. Até E (ou até a quarta saca), João e Maria contabilizam um ganho líquido positivo por saca. A partir de E, a CMg ultrapassa a curva de receita marginal, enquanto o ganho líquido se torna negativo, ou seja, eles passam a perder dinheiro com a produção de unidades adicionais de sacas de café. Desse modo, o ponto que maximiza o lucro de ambos é E, com uma produção de quatro sacas de café. Note que, nesse ponto, a receita marginal é exatamente igual ao custo marginal. Isso é chamado de regra de produto ótimo do produtor. Na quantidade ótima de produto, RMg = CMg. Atividade discursiva Sabemos que, no ponto indicado, João e Maria não encontram incentivos para produzirem nem mais nem menos, pois essa é a sua quantidade ótima de produto. Mas esse é o único ponto no qual a produção deles e sua manutenção no mercado fazem sentido? Digite sua resposta aqui Chave de resposta A resposta é não. A decisão de uma firma permanecer ou não em um mercado depende de seu lucro econômico, medida que considera o custo de oportunidade dos recursos de um negócio além de suas despesas explícitas. Se fôssemos pensar no lucro econômico de João e Maria, poderíamos incluir como custo de oportunidade de investir na produção de café o quanto esse dinheiro renderia no banco. Lembre-se de que custo de oportunidade é o que você deixa de obter (rendimento do banco) ao optar por outra atividade (produção de café). O que diferencia o lucro econômico do contábil é o custo implícito, isto é, os benefícios recusados na utilização dos recursos da firma. Vamos supor que todos os custos (implícitos e explícitos) estejam incluídos na tabela a seguir, mostrando, portanto, o lucro econômico. Para sabermos se Maria e João operam em lucro ou prejuízo, devemos olhar para: Custo total médio mínimo de sua produção. Preço de mercado do café. Esta tabela calcula o custo variável médio e o total médio para a produção de ambos. Se considerarmos o custo fixo como dado, os valores de curto prazo são: Quantidade de café Y (sacas) Custo variável CV Custo total CT 0 0 20.00 1 25.00 45.00 2 55.00 75.00 3 65.00 110.00 4 75.00 150.00 5 85.00 195.00 6 95.00 245.00 Tabela: Custo variável médio e o total médio da produção de café de Maria e João. Mariana Stussi Neves. Como se pode observar, o custo total médio é minimizado na quarta saca, no valor de R$ 36,67, que corresponde ao produto de custo mínimo. Mas o que isso nos diz a respeito de uma firma ser lucrativa ou não? O lucro π é igual à receita total (RT) menos o custo total (CT). Logo: Se RT > CT A firma é lucrativa. Se RT CTM A firma é lucrativa. Se Psão iguais e têm os mesmos custos, todos decidirão produzir o mesmo número de sacas de café: quatro (quantidade ótima de produto). Se houver 50 produtores de café, a quantidade de oferta da indústria será 50 vezes quatro sacas, ou seja, 200 sacas de café. Já o preço dela será R$ 40. O resultado disso é a curva de oferta da indústria de curto prazo ilustrada no gráfico (a): Gráfico (a) e (b): Curva de oferta da indústria. Na imagem, D representa a curva de demanda, e E, o ponto de equilíbrio de mercado de curto prazo, no qual a quantidade de oferta é igual à de demanda para um dado número de produtores. No curto prazo, não há entrada nem saída de participantes, pois estamos olhando um período pequeno de tempo. No longo prazo, no entanto, eles podem entrar e sair livremente do mercado, havendo, desse modo, uma variação no número de produtores que altera tanto o montante ofertado como o equilíbrio. Suponhamos agora que, além dos 50 produtores de café operando no mercado, haja muitos outros querendo entrar, que também são idênticos a João e Maria. Quantos participantes adicionais entrarão na indústria? Em que situação o farão? Enquanto a produção for lucrativa, haverá incentivos para novos produtores. Logo, quando o preço de mercado for superior ao custo de produção total médio mínimo (R$ 36,67), isto é, o valor que iguala custo e receita, mais pessoas estarão disputando uma fatia desse mercado. Pessoas trabalhando no setor de café. Porém, à medida que novos produtores ingressam na indústria, a quantidade ofertada cresce. Com esse aumento, existe uma pressão para o preço de mercado cair, e é isso o que acontece: a curva de oferta se desloca para a direita até atingir o ponto em que o preço se iguala ao custo total médio mínimo. Quando a curva de oferta atingir esse ponto, os produtores vão parar de querer entrar no mercado, pois não haverá mais lucro. O gráfico (b) demonstra essa dinâmica: a curva de oferta inicial S1 se desloca para a direita até S2, onde encontra a curva de demanda D no novo ponto de equilíbrio E2. Nesse ponto, o preço de mercado equivalerá ao custo total médio mínimo; com isso, cada produtor irá produzir um total de três sacas. A nova quantidade de equilíbrio do mercado de sacas de café será, portanto, a seguinte: 250 sacas ao preço de R$ 36,67. A oferta da indústria Neste vídeo, falaremos sobre como obter a curva de oferta da indústria a partir da curva de oferta da firma, detalhando o processo de agregação das ofertas individuais para formar a oferta total do mercado. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Assinale a alternativa que não corresponde a uma condição de mercados perfeitamente competitivos. Parabéns! A alternativa B está correta. Em mercados competitivos, os produtos são homogêneos e, por isso, os consumidores escolherão o mais barato. A Produtores são tomadores de preços. B Os consumidores observam diferenças relevantes entre os produtos vendidos. C Consumidores são tomadores de preços. D Produtos são padronizados. E A indústria deve possuir um número grande de produtores que não têm grande praticipação no mercado. Questão 2 Assinale a afirmativa verdadeira. Parabéns! A alternativa C está correta. O lucro da firma é igual à receita total menos o custo total. Dividindo os dois lados da equação pelo produto, vemos que o lucro médio é igual à receita média, que, por sua vez, equivale ao preço de mercado menos o custo total médio. Assim, a firma será lucrativa quando a receita média ou o preço exceder o custo total médio. Considerações �nais Introduzimos neste material alguns dos conceitos básicos de microeconomia. Você deve ter notado que as escolhas tanto do consumidor como da firma são determinadas por diversos fatores. Por isso, estabelecemos uma análise criteriosa de tais escolhas para A Se o preço de mercado é menor que o custo total médio, a firma é lucrativa. B Se o preço de mercado é igual ao custo total médio, a firma é lucrativa. C Se o preço de mercado é maior que o custo total médio, a firma é lucrativa. D Se o preço de mercado é menor que o custo marginal, a firma não é lucrativa. E A firma nunca é lucrativa no curto prazo. entendermos sua dinâmica, mantendo constantes os demais fatores e assumindo algumas hipóteses. A realidade, no entanto, é muito mais complicada que os modelos demonstrados aqui. Afinal, eles nada mais são que uma simplificação dela para facilitar a compreensão de seus principais mecanismos. Podcast Para encerrar, ouça e conheça mais sobre as escolhas individuais de agentes econômicos, ou seja, a microeconomia. Explore + KRUGMAN, P.; WELLS, R. Introdução à economia. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. LEVITT, S.; DUBNER, S. J. Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. VARIAN, H. Microeconomia: uma abordagem moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. Referências Para entender melhor fatos do cotidiano com um olhar econômico, leia Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta. Esse livro de Steven Levitt e Stephen J. Dubner, publicado pela Elsevier em 2007 mostra como a microeconometria pode ajudar no entendimento dos incentivos e da análise dos benefícios por trás de decisões corriqueiras. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema javascript:CriaPDF()As preferências dos consumidores são afetadas pelo tempo. Ou seja, as pessoas preferem satisfações atuais a satisfações futuras, o que se relaciona com o conceito de ceteris paribus. Podendo ser traduzido como “tudo o mais é constante”, trata-se de um termo usado na ciência econômica para explicar modelos e teorias que consideram inalterados outros fatores capazes de influenciar. Em geral, as pessoas substituem o consumo atual pelo futuro apenas se houver uma perspectiva realista de um aumento significativo no futuro. Para maximizar sua utilidade total, o consumidor precisa se concentrar na utilidade marginal, ou seja, na utilidade de consumir um pouco mais, como um salgadinho adicional. Utilidade e consumo Um conceito chave na teoria do consumidor é a questão da utilidade. Acompanhe, neste vídeo, as duas fases do estudo da utilidade no âmbito econômico: utilidade cardinal e utilidade ordinal, além do conceito de utilidade marginal decrescente. Utilidade marginal decrescente Vamos imaginar que o consumidor considere todas as mercadorias que deseja, pensando em quantidades diferentes de cada uma. Para cada item, prevalece a utilidade marginal decrescente. Quanto mais temos de algo, menos importante é para nós uma unidade adicional dessa mercadoria. Essa generalização é válida porque expressa uma experiência humana universal, frequentemente mencionada como a lei da utilidade marginal decrescente. Para que a lei da utilidade marginal decrescente se mantenha, é necessário que certas condições sejam atendidas. Isto é, as unidades da mercadoria precisam ser definidas de maneira relevante. Por exemplo, a lei é válida para um par de sapatos, mas não para um pé isolado. Se considerarmos um período de férias, as unidades podem ser definidas como dias. Nesse caso, o segundo dia de férias pode ter mais utilidade do que o primeiro, resultando em uma utilidade marginal crescente para o segundo (e talvez para o terceiro dia). No entanto, a partir do quarto dia (ou do 10°), os dias adicionais se tornam progressivamente menos satisfatórios. A lei da utilidade marginal decrescente se aplica à renda monetária e a bens e serviços, além de ser válida para mercadorias individuais destinadas a consumidores individuais com determinados gostos. Naturalmente, é melhor ter R$ 100.000 por ano do que R$ 10.000. Mas será que R$ 1 a mais é tão importante para quem tem R$ 100.000 como é para quem tem R$ 10.000? A utilidade marginal da moeda é a utilidade de R$ 1 adicional ― ou de R$ 100 a mais para facilitar a nossa interpretação. Assim, será que R$ 100 a mais para quem já tem R$ 100.000 é tão importante quanto R$ 100 a mais para quem já tem R$ 10.000? Provavelmente não, pois, em geral, quanto mais dinheiro o indivíduo possui, menos valor ele dá a esses R$ 100 extras. O gráfico (b), a seguir, mostra a utilidade marginal gerada por Júlia ao consumir uma unidade de salgadinho adicional. Ele indica a curva de utilidade marginal implícita construída a partir da variação de utilidade gerada por intervalos unitários. Gráfico (b): Utilidade marginal de Júlia ao consumir unidades adicionais de salgadinhos. A curva de utilidade marginal, por sua vez, tem inclinação negativa: cada salgadinho adicional acrescenta menos valor em utilidade (utils) que o anterior. O próprio gráfico demonstra isso: enquanto o primeiro salgadinho rende 15 utils, o 11° não oferece nenhuma utilidade adicional, e os seguintes causam indigestão em Júlia, reduzindo o total de utils. Assim, o consumo excessivo de salgadinhos marca o início da utilidade marginal negativa, pois eles diminuem a utilidade total. Atenção! Não é uma verdade imutável que, para todos os bens e serviços, o consumo excessivo resultará em uma utilidade marginal negativa no final da curva. Utilidade marginal decrescente Veja, neste vídeo, sobre a lei da utilidade marginal decrescente e a explicação de suas implicações nas decisões de consumo dos consumidores. Orçamento e restrição Trabalhamos com a ideia de que uma pessoa pararia de consumir um bem ao atingir certo nível de saciedade, pois uma unidade a mais não traria satisfação extra ou até mesmo diminuiria sua utilidade total. Um exemplo disso foi o caso dos salgadinhos. Temos, então, os seguintes pressupostos implícitos na análise que fizemos até aqui: Não há custo adicional para o consumo de uma unidade a mais do bem. Existe dinheiro infinito. Logo, o indivíduo não precisa se preocupar com isso. A realidade, no entanto, é diferente: consumir mais de um bem requer, em geral, recursos adicionais, e o consumidor precisa levar em conta esse fator ao fazer suas escolhas. O que são recursos adicionais? Para simplificar, eles serão chamados de custo. O que levamos em consideração é o denominado custo de oportunidade, isso é, o ganho potencial ao qual se renuncia quando se opta por uma alternativa. Em outras palavras, trata-se do benefício de que abrimos mão quando fazemos uma escolha. Exemplo O custo de oportunidade de jogar uma partida de futebol é o prazer que você teria ao dar um mergulho na praia no mesmo período. Um dos pressupostos básicos da economia é que os recursos são escassos. Assim, o custo de oportunidade faz a ponte entre a escassez de recursos e a escolha. O recurso escasso, nesse caso, é o dinheiro, pois o consumidor tem um orçamento limitado. Vejamos o exemplo a seguir. Gabriel está fazendo uma dieta especial para treinos, alimentando-se exclusivamente de frango e batata-doce. Ele recebe como salário, semanalmente, 30 reais. Dado o seu apetite, sua satisfação aumenta ao consumir mais de cada bem. Por conta disso, ele gasta toda sua renda nas duas iguarias. Uma das refeições de Gabriel: frango com purê de batata-doce. O quilo da batata custa R$ 3, e o do frango, R$ 6. Quais são as possibilidades de escolha para Gabriel? Qualquer que seja a cesta de consumo escolhida por ele, sabemos que seu custo não pode ser maior que o seu salário, ou seja, o montante total de dinheiro que ele possui para gastar. Assim, temos: Os consumidores têm uma renda finita que restringe suas possibilidades de consumo, exatamente como Gabriel. Demonstrando que o consumidor deve escolher uma cesta de consumo menor ou igual à sua renda total, a condição (1) é chamada de restrição orçamentária. Isso significa que ele não pode gastar mais do que o total de recursos (renda) de que dispõe. As cestas de consumo só são factíveis, ou seja, financeiramente viáveis, quando obedecem à restrição orçamentária. O conjunto de cestas de consumo factíveis de um consumidor recebe o nome de conjunto de possibilidades de consumo. As pertencentes a esse conjunto dependem tanto da renda do consumidor como dos preços de bens e serviços. A seguir, é possível ver as possibilidades de consumo de Gabriel. No gráfico, o montante de batatas na sua cesta está representado no eixo horizontal, e o de frango, no vertical. Gasto com batatas + gasto em frango ≤ renda total (1) Gráfico: Possibilidades de consumo de Gabriel. Conectando os pontos de A a F, a linha inclinada para baixo divide as cestas de consumo entre quais podem ser compradas e as que não podem. As cestas factíveis ficam abaixo dessa linha (e sua divisória também deve ser incluída na lista), enquanto as de cima pertencem ao grupo das que não são factíveis. No ponto D, há 6 kg de batatas e 2 kg de frango. Multiplicando-os pelos preços, temos 6 X R$3 + 2 x R$6 = R$30. Logo, a cesta satisfaz a restrição orçamentária, custando exatamente a renda de Gabriel. Verifique que os demais pontos sobre a linha negativamente inclinada são as cestas com as quais Gabriel gastaria toda a sua renda. Mostrando todas as cestas de consumo disponíveis quando ele gasta inteiramente sua renda, tal linha recebe o nome de reta orçamentária. Gabriel precisa escolher um número de batatas (o que vamos denominar ) e outro de frango ( ), multiplicando-os por seus respectivos preços. A soma dasduas multiplicações deve ser menor ou igual ao total de sua renda . Veja: Quando Gabriel consome uma cesta acima de sua reta orçamentária, ou seja, ele gasta todo o seu salário, seu gasto com batata-doce e frango é exatamente igual à sua renda. Observe na fórmula a seguir: Podemos utilizar as equações (2) e (3) para fazer manipulações algébricas e calcular de forma mais fácil as cestas possíveis para Gabriel. Supondo que ele queira gastar toda a sua renda, e substituindo R$30, podemos testar as diferentes combinações de cesta consumidas por ele. Vejamos agora um caso extremo: Gabriel consome apenas frango, ou seja, . Substituindo os valores na equação (3), temos q b q f (m) (2) q b × p b + q f × p f ≤ m (3) q b × p b + q f × p f = m m = q b = 0 . Assim, o máximo de frango que pode ser consumido é 5 kg , pois se ele gasta todo o orçamento de R$30 em frango: . Desse modo, o intercepto do eixo vertical da reta orçamentária fica no ponto quando toda a renda de Gabriel é consumida nesse alimento. Fazendo o exercício análogo para o ponto , no qual sua renda agora é dedicada inteiramente à batata-doce, ficamos com uma cesta de 10 kg. Podemos repetir esse exercício para todos os pontos da reta orçamentária. Os demais pontos sobre a linha orçamentária podem ser analisados à luz da relação de perdas e ganhos com a qual Gabriel se depara ao gastar todo o seu salário. Essa relação é tipicamente chamada pelo seu nome em inglês trade-off. Vejamos outro exemplo! Gabriel quer sair do ponto e consumir 2 kg de batata-doce ao mesmo tempo em que deseja comer a maior quantia possível de frango. Para ingerir a quantidade desejada de batatas, ele precisa renunciar ao equivalente a R$6 em frango, medida que corresponde exatamente ao valor do quilo da carne de frango. Ou seja, para consumir 2 kg de batata, Gabriel precisa renunciar a 1 kg de frango, o que o coloca na posição da cesta de sua reta orçamentária, ficando com 4 kg de frango e 2 kg de batata-doce. Gabriel preparando batata-doce assada. Se repetirmos o exercício para os pontos C, D, E e F do gráfico ― ou seja, se deslizarmos sobre a sua reta orçamentária ―, veremos que Gabriel está sempre trocando mais batata por menos frango e vice-versa. A mudança de cestas de consumo sobre essa reta, tanto para cima como para baixo, expressa o custo de oportunidade de um bem em 0 × 3 + q f × 6 = 30 q f 30 ÷ 6 = 5 A F relação a outro. A inclinação da reta orçamentária informa, para um indivíduo, o custo de oportunidade ao consumir uma unidade a mais de um bem, de acordo com a quantidade a ser renunciada de outro bem pertencente à sua cesta de consumo. A inclinação da reta orçamentária de Gabriel é . Trata-se da variação no eixo vertical (a mudança na quantidade de frango denotada por ) dividida pela variação horizontal (modificação na quantidade de batata denotada por ). Ou seja, a razão é igual a (meio), o que significa o seguinte: o consumo de 0,5 kg de frango tem de ser descartado para ele conseguir 1 kg a mais de batata. O número de quilos de frangos ao qual é preciso renunciar para obter 1 kg a mais de batata é chamado pelos economistas de preço relativo da batata em termos do frango. Dica É possível calcular o mesmo tipo de preço do frango em termos da batata. Basta fazer a conta inversa: para obter 1 kg a mais de frango, é preciso renunciar a 2 kg de batata. Assim, 2 é o preço relativo do frango em termos da batata. Desse modo, a inclinação da reta orçamentária não depende da renda do indivíduo, e sim dos preços de cada bem. Perceba que R$3/R$6 . No entanto, isso não é verdade para a posição da reta orçamentária, pois o quanto essa reta está afastada da origem depende da renda do consumidor. Veja no exemplo a seguir: Gráfico: Reta orçamentária de Gabriel. −1/2 Δq f Δq b (Δq f /Δq b ) 1/2 −1/2 = − = −p b /p f Se, por outro lado, seu salário diminuísse para R$18 por semana, a reta de Gabriel se deslocaria para a esquerda (ou para dentro). Nesse caso, o máximo que Gabriel poderia adquirir de cada alimento separadamente seria o seguinte: somente 3 kg de frango, ou somente 6kg de batata- doce, ou novamente uma cesta intermediária. Para a nova renda a inclinação da reta orçamentária de Gabriel é a mesma da sua situação inicial, pois os preços relativos dos bens não mudaram. Orçamento e restrição Ao introduzir os preços das mercadorias e o orçamento do consumidor, as compras podem ser determinadas, uma vez que seu orçamento e seus gostos sejam conhecidos. Acompanhe, neste vídeo, a reta orçamentária e como interpretar a sua inclinação. Escolha ótima de consumo Vamos supor agora que a renda de Gabriel não mude, mantendo o orçamento inicial de R$ 30 por semana. Sabemos que, para aumentar sua saciedade, ele prefere consumir maiores montantes de batata-doce e frango. Como podemos identificar qual cesta Gabriel vai escolher? Em outras palavras, qual escolha traz mais utilidade para ele? Relembrando Os consumidores querem escolher cestas de consumo que maximizem a sua utilidade total dada uma determinada restrição orçamentária. O tipo de escolha que estudaremos recebe o nome de cesta de consumo ótima. Para descobrirmos a cesta que satisfaz essa condição para Gabriel, precisamos analisar, entre as cestas de consumo factíveis, qual delas conta com a combinação de bens (isto é, frango e batata- doce) que lhe rende mais utilidade. A tabela a seguir aponta o grau de utilidade que os diferentes consumos de frango e batata-doce geram para ele. De acordo com ela, quanto mais Gabriel consumir de cada um dos bens, maior será a sua utilidade. Assim, para maximizar sua utilidade, ele deve escolher a combinação dos dois bens que lhe gera maior utilidade total, isto é, a soma das utilidades geradas pelo consumo de cada bem. Contudo, Gabriel tem uma restrição orçamentária e deve enfrentar um trade off entre frango e batata-doce: para obter mais de um, ele deve consumir menos de outro. Utilidade do consumo de frango Utilidade do con Quantidade de frango (kg) Utilidade do frango (util) Quantidade de batata (kg) 0 0 0 1 20 1 2 30 2 3 35 3 4 37 4 5 38 5 6 7 8 9 10 Tabela: Diferentes graus de utilidade do consumo de frango e batata-doce. Mariana Stussi Neves. A próxima tabela indica as cestas sobre a reta orçamentária de Gabriel conforme ele desliza para baixo nessa reta. Todas as cestas nessa tabela custam o mesmo que a renda total de Gabriel, ou seja, R$ 30. Suas colunas apontam as combinações de quantidade de cada bem em cada cesta e as respectivas utilidades, além da utilidade total de cada cesta na última coluna: Cesta de consumo Quantidade de frango (kg) Utilidade do fran (util) A 5 38 B 4 37 C 3 35 D 2 30 E 1 20 F 0 0 Tabela: Cestas de consumo sobre a reta orçamentária de Gabriel. Mariana Stussi Neves. A cesta de consumo ótima recai sobre a sua reta orçamentária. Ou seja, são cestas em que os valores são iguais ao total da renda de Gabriel. Essa cesta é a combinação dos dois bens que atingem o consumo com a utilidade máxima, gastando toda a renda de R$ 30. Conforme podemos observar na tabela, a cesta de consumo que maximiza a utilidade total de Gabriel é a D, com 2 kg de frango e 6 kg de batata-doce. Com ela, Gabriel obtém a utilidade total de 87 utils, índice maior que o de qualquer outra cesta. Perceba que, nas combinações das cestas à esquerda de D (A, B e C), ou seja, com menos batata-doce e mais frango, a utilidade cresce à medida que Gabriel dispensa frango por mais batata-doce. A partir da cesta D (E e F), cestas que contêm mais batata-doce e menos frango, a utilidade total começa a reduzir. Assim, podemos dizer que a cesta de consumo D atinge o consumo ótimo, pois é a que melhor resolve o trade off entre o consumo de frango e o de batata. A cesta D é, portanto, a que maximiza sua utilidade total, (indicada na última coluna da tabela). Acompanhe o gráfico que ilustra arelação entre as cestas da reta orçamentária de Gabriel e a sua utilidade total: Gráfico: Cestas da reta orçamentária e utilidade total de Gabriel. Escolha ótima do consumidor Confira, neste vídeo, como é definida a escolha ótima do consumidor, explicando como ele compra as quantidades das mercadorias que lhe proporcionam o máximo de satisfação e alcança o equilíbrio em suas decisões de consumo. Análise marginal No exemplo anterior, descobrimos o topo da curva de utilidade total de Gabriel usando a observação direta. No entanto, a construção dessa curva pode ser muito trabalhosa. Em geral, a análise marginal é uma ferramenta mais rápida e eficiente para resolver o problema da escolha ótima. Sabemos que Gabriel toma uma decisão sobre o montante de batata- doce a ser consumido levando em conta o seguinte: Quanto mais batata- doce ele consumir... ... menos frango ele poderá comprar. Aplicando a análise marginal, podemos verificar que sua decisão passa a ser em torno do gasto de um real marginal, ou seja, a maneira de alocar uma unidade adicional de moeda entre as duas iguarias. Para isso, primeiro, devemos nos perguntar: Quanto de utilidade adicional Gabriel irá ganhar ao gastar um real a mais em frango ou batata? Ou melhor, quanto de utilidade marginal por real a mais isso rende? Esta tabela indica o cálculo da utilidade marginal (Umg) por real gasto em frango ou batata: (a) Frango (pf = R$6 por kg) Qtd. de frango (kg) Utilidade do frango (util) Umg/kg de frang (util) 0 0 - 1 20 20 2 30 10 3 35 5 4 37 2 5 38 1 (a) Frango (pf = R$6 por kg) Tabela: Utilidade marginal (Umg) por real gasto em frango ou batata. Mariana Stussi Neves. A tabela está dividida em dois painéis, um para cada bem. Observe as características das colunas de cada painel: 1ª e 2ª colunas Apresentam a quantidade total do alimento consumido e a utilidade total referente a quantidade total consumida. 3ª coluna Mostra a utilidade marginal de cada bem, i. é., o aumento de utilidade que Gabriel tem ao consumir uma unidade a mais de um dos bens. 4ª coluna Exibe a utilidade marginal por real para cada bem. O valor da utilidade marginal por real (Umg por real) é obtido dividindo a utilidade marginal pelo preço em reais de cada unidade do bem: R$ 6 por quilo de frango e R$ 3 pelo de batata-doce. Como podemos observar, assim como a utilidade marginal de ambos diminui à medida que Gabriel aumenta o montante consumido de cada bem, a utilidade marginal por real também decresce. Isso significa que, em virtude da utilidade marginal decrescente de Gabriel, cada real a mais gasto lhe rende menos utilidade extra que o anterior. Denotando respectivamente por a utilidade marginal por quilo de batata-doce e de frango, a utilidade marginal por real de cada bem é igual a: Veja a seguir as curvas de utilidade marginal por real gasto em cada bem: U mg F e Um B Utilidade marginal por real gasto em um bem = utilidade marginal do bem preço de uma unidade do bem = Gráfico: Curvas de utilidade marginal por real gasto em cada bem. Já observamos em outra tabela que D (a cesta ótima de consumo de Gabriel) é composta por de frango e de batata, correspondendo aos pontos em cada painel. Repare que, nesse ponto, a utilidade marginal por real gasto para cada bem é igual: Isso não é apenas uma coincidência. Para provar, vamos analisar outra cesta de consumo factível para Gabriel. Na cesta C, a utilidade marginal de cada bem por real está representada na figura pelos pontos e . Além disso, a Umg de Gabriel por real gasto em frango é ; já em batata-doce, é . Esse dado revela que ele está consumindo muito frango e pouca batata. Por que isso acontece? Se a utilidade marginal por real gasto em batata-doce é maior que a de frango, isso indica que ele pode melhorar sua situação mantendo o próprio orçamento. Basta: Gastar 1 real a menos em frango e 1 real a mais em batata-doce, o que adiciona 2.7 utils em sua utilidade total com a batata-doce e reduz 0.8 utils com o frango. No total, Gabriel ganhará 1.9 utils fazendo essa troca. Continuar procedendo dessa maneira até que a utilidade marginal dos dois bens se iguale. Neste ponto, não será mais vantajoso trocar um real a mais de um bem pelo outro. Ao escolher seu pacote de consumo ótimo, a utilidade marginal por real gasto em frango e batata-doce será igual. Essa regra constitui um princípio básico da teoria da escolha do consumidor: a regra de consumo ótimo. Quando um consumidor maximiza a sua utilidade total de acordo com a sua restrição orçamentária, a utilidade marginal por unidade de moeda gasta em cada bem ou serviço, que compõe a sua cesta de consumo, é igual. 2kg 6kg D F eD B Umg f /P f = Umg b /p b = 1.7 C F C B 0.8 2.7 De forma matemática, para qualquer um dos bens b e f, a regra do consumo ótimo frisa que, na cesta ótima de consumo, ocorre o seguinte cálculo: É mais fácil compreender essa regra quando a cesta de consumo tem apenas dois bens, mas ela poderá ser aplicada a qualquer quantidade de bens e serviços que o consumidor comprar, afinal, na cesta ótima de consumo, as utilidades marginais por real gasto em cada um dos bens são iguais. Análise marginal Acompanhe, neste vídeo, como interpretar a análise marginal e sua relação com os preços dos bens no mercado, esclarecendo como essa abordagem impacta as decisões de consumo. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre a função utilidade, assinale a afirmativa falsa. Umg b p b = Umg f p f A A função utilidade mostra a relação entre a cesta de consumo e a utilidade total gerada por ela. Parabéns! A alternativa B está correta. O princípio da utilidade marginal decrescente aponta que a inclinação da função utilidade diminui à medida que a quantidade de bens aumenta, mas não que essa inclinação é negativa. A curva de utilidade marginal possui uma inclinação negativa, pois cada unidade a mais de bem rende uma utilidade menor que a anterior. A razão por trás dessa inclinação é o princípio da utilidade marginal decrescente. Questão 2 Sobre a cesta de consumo ótima, assinale a afirmativa verdadeira. B O princípio da utilidade marginal decrescente implica que a inclinação da função utilidade é negativa. C Para maximizar a utilidade, o consumidor considera a utilidade marginal de consumo de uma unidade a mais de um bem ou serviço. D Utilidade é uma medida de satisfação do indivíduo ao consumir, sendo expressa na unidade chamada de utils. E O princípio da utilidade marginal decrescente implica que a inclinação da função utilidade reduz à medida que a quantidade aumenta. A A cesta ótima do consumidor racional recai abaixo da sua reta orçamentária. B A cesta ótima do consumidor racional é a que maximiza sua utilidade marginal para cada bem. Parabéns! A alternativa D está correta. A alternativa A é falsa pelo fato de a cesta ótima recair sobre a sua reta orçamentária para que o consumidor gaste toda a sua renda disponível. A alternativa B é falsa, já que a cesta ótima maximiza a sua utilidade total, e não a marginal. A alternativa C não é verdadeira, pois a definição de cesta ótima de consumo diz que a cesta é ótima dada uma restrição orçamentária. Para os consumidores, consumir mais de um bem aumenta a sua utilidade; portanto, a alternativa E também está incorreta. 2 - Curvas de indiferença Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as curvas de indiferença e suas propriedades . C Na cesta ótima do consumidor racional, o consumidor maximiza a sua utilidade independentemente de sua restrição orçamentária. D Na cesta ótima do consumidor racional, as utilidades marginais por real gasto em cada um dos bens são iguais. E A cesta ótima do consumidor racional é formada apenas pelo bem que tem o consumo que gera mais utilidade. Função de utilidade total O conceito de função utilidade é responsávelpor determinar a utilidade total do consumidor dada a sua cesta de consumo. A utilidade total de alguém varia quando mudamos o número de itens consumido, ou seja, a quantidade consumida de um bem. Entretanto, estudando o problema de escolhas, podemos perceber que a decisão pela cesta de consumo ótimo envolve o dilema de como alocar o último real gasto entre dois bens. Vejamos agora o caso de Ana, que consome apenas cerveja e drinks (coquetéis) quando vai ao bar. Como seria a função utilidade dela para esses dois bens? Uma possibilidade (complicada!) é fazer um gráfico acrescido de um terceiro eixo para o segundo bem. Ana consumindo uma cerveja no bar. O gráfico 1 (a) ilustra um morro de utilidade tridimensional: Gráfico 1: Mapa da função utilidade. Observe as correspondências dos eixos: A quantidade de drinks consumidos. A quantidade de drinks consumidos. Vertical Número de latinhas de cerveja ingerida. No gráfico, podemos perceber que a altura do morro, indicada por uma linha de contorno constante por ponto, mede a quantidade de utilidade gerada por combinações de consumo ao longo de cada linha de contorno. Todos os pontos ao longo de uma linha do tipo geram o mesmo retorno em utilidade para Ana. Com quatro latinhas de cerveja e dois drinks, o ponto (a) gera 20 utils para Ana, enquanto (b), com uma latinha e seis drinks, consegue a mesma quantia. No entanto, não existe apenas uma forma de representar a relação entre utilidade total e consumo de dois bens. Assim como ocorre na geografia e seus mapas topográficos, é possível fazer a representação da superfície tridimensional em curvas de nível em apenas duas dimensões. Trata-se do gráfico 1 (b), que vimos juntamente com o gráfico 1 (a). Nele, as linhas de contorno que mapeiam as cestas de consumo do gráfico 1 (a) estão representadas como curvas achatadas em um plano cartesiano. Os economistas definem como curvas de indiferença as que geram a mesma quantidade de utilidade total para diferentes combinações de bens. Um indivíduo é indiferente em relação a duas cestas que estão sobre a mesma curva de indiferença, já que elas lhe rendem a mesma utilidade. Dadas as preferências de um consumidor, existe uma curva de indiferença para cada nível de utilidade total. A curva de indiferença I , destacada no gráfico (b), mostra as cestas que geram 20 utils. As outras duas curvas, e , respectivamente, geral 10 e 40 utils. Entretanto, existem ainda outras infinitas curvas de indiferenças de Ana que não estão representadas nos gráficos. Observe com atenção o gráfico (b) e verifique por que o consumidor é indiferente entre as cestas de consumo A e B. Elas estão na mesma curva de indiferença, gerando, portanto, o mesmo nível de utilidade! Veja agora as propriedades dessas curvas no gráfico a seguir. Embora diferentes indivíduos tenham preferências únicas e nunca apresentem o I 2 (I 1 I 3 ) mesmo conjunto de curvas de indiferença, os economistas acreditam que elas apresentem algumas propriedades gerais. Gráfico 2: Curvas de indiferença. Agora, vamos analisar cada uma das curvas de indiferença do gráfico 2: Se duas curvas de indiferença com diferentes níveis de utilidade se cruzassem, qual seria o nível de utilidade da cesta de consumo quando elas se cruzam? Seria diferente pelas curvas serem díspares? Ou ele seria igual por uma cesta de consumo ter um só nível de utilidade total? Essa inconsistência indica que curvas de indiferença diferentes não podem de cruzar. Partimos do princípio de que mais é melhor. Assim, quanto maior a quantidade dos dois bens, mais para “fora" a curva de indiferença está situada. Quanto mais um determinado bem é consumido, mais alta é a utilidade que o indivíduo recebe. Portanto, quanto mais um consumidor recebe de um bem, menos ele irá receber de outro para manter-se na mesma curva de indiferença. O diagrama no painel (c) ilustra o que aconteceria se uma curva de indiferença tivesse inclinação para cima (positivamente inclinada): se aumentássemos as quantidades dos dois bens, permaneceríamos na mesma curva. Isso é incompatível com nosso pressuposto de que mais é melhor, pois se um indivíduo (a) – Curvas de indiferença nunca se cruzam (b) – Quanto mais distante da origem, maior a utilidade total da curva (c) – Curvas de indiferença, em geral, são negativamente inclinadas recebe mais dos dois bens, a utilidade dessa cesta deve ser maior e nunca pertencer a mesma curva de indiferença. O diagrama (d) atesta que a inclinação da curva diminui à medida que deslizamos para baixo e para a direita. Quando o indivíduo consome muito do bem 2 e pouco do 1 (ponto A), ele aceita trocar uma quantidade maior do bem 2 para receber um pouco mais do 1. Quando o indivíduo consome muito do bem 1, mas pouco do 2 (ponto B), ele aceita trocar uma quantidade maior do 1 para receber um pouco mais do 2. Desse modo, a inclinação da curva de indiferença é maior no ponto A do que em B. O atributo da convexidade se deve ao princípio da utilidade marginal decrescente: na prática, indivíduos preferem médias (cestas com um pouco dos dois bens) a extremos (cestas com muito de um bem e pouco do outro). Geometricamente, a convexidade significa que um segmento de reta ligando dois pontos da curva de indiferença fica inteiramente em uma região de utilidade maior. O arco da curva vai em direção à origem. Além disso, a inclinação dela é maior em cima do que embaixo. Esse atributo se deve ao princípio da utilidade marginal decrescente: na prática, indivíduos preferem médias (cestas com um pouco dos dois bens) a extremos. Função de utilidade total Neste vídeo, assista ao conceito de função utilidade total e entenda como as diferentes combinações desses bens influenciam sua utilidade e como isso se representa em gráficos e curvas de indiferença. (d) – Curvas de indiferença são convexas Taxa marginal de substituição e a condição de tangência As curvas de indiferença são inclinadas para baixo (negativamente inclinada). Também observamos que sua inclinação diminui à medida que deslizamos para baixo delas. A inclinação da curva de indiferença em cada ponto está diretamente relacionada aos termos do trade-off enfrentado por um consumidor. O gráfico a seguir representa uma curva de indiferença de Ana: Gráfico 3: Curvas de indiferença de Ana. Na curva , se Ana se move da cesta A para a B, ela precisa renunciar a duas unidades de cerveja para ter um drink adicional para manter a utilidade total. Porém, estando mais à direita da curva (no ponto C), se ela renunciar a apenas uma cerveja, ela terá de tomar mais quatro drinks para manter a utilidade total. Isso ilustra que, quando se move para baixo e para a direita da curva de indiferença, ocorre o seguinte: Ana troca mais de um bem por menos de outro. Os termos desse trade-off, ou seja, a razão entre drinks adicionais consumidos e cervejas renunciadas, são escolhidos para manter a sua utilidade total constante. Reformulando os trade-off examinados em termos de inclinação, podemos calcular a inclinação em diferentes pontos da mesma curva de indiferença. A inclinação da curva de indiferença entre A e B da figura que acabamos de ver é (duas cervejas por um drink) e a inclinação dessa curva entre os pontos C e D é (uma cerveja por quatro drinks). A inclinação da curva de indiferença diminui à medida que deslizamos para a direita e a curva vai se tornando mais achatada. Por que os trade-offs mudam ao longo da curva de indiferença? Isso se deve ao ponto inicial de Ana e ao princípio da utilidade marginal decrescente. Analisando o caso intuitivamente, no ponto A ela tem muita cerveja e poucos drinks. Quanto à sua utilidade marginal, verifica-se que: A utilidade das últimas unidades de cerveja é relativamente pequena se comparada às primeiras unidades dela. A utilidade de uma unidade adicional de drinks é relativamente alta, já que Ana só consome uma unidade deles na cesta A, ou seja, aindaestá nas unidades iniciais de consumo de drinks. Ao deslizar para a direita da curva, Ana está perdendo em consumo de cerveja e ganhando no de drinks ― e esses dois efeitos precisam se anular entre si. Ao longo da curva de indiferença, a mudança na utilidade total por causa de menos consumo de cerveja Mudança na utilidade total por mais consumo de drinks = zero (nível de utilidade estável). À medida que Ana se move para a direita da curva de indiferença, assim como faz sua posição inicial, o trade-off dos dois bens muda, uma vez que a utilidade marginal do consumo de um bem adicional também é modificada. No exemplo da mudança do ponto C para o D, a situação inicial de Ana é inversa à da mudança de A para B: ela já consome alguns drinks e pouca cerveja. Desse modo, a utilidade marginal que ela perde renunciando uma unidade de cerveja é relativamente alta, enquanto a de consumir um drink a mais é relativamente baixa. Utilizando as notações e para denotar respectivamente as utilidades marginais de cerveja e drinks e representar as mudanças no consumo de ambos, podemos formalizar esse mecanismo com o emprego de equações. De forma geral, a mudança na utilidade total gerada pela variação no consumo de um bem é igual a utilidade marginal do consumo desse bem (Umg) multiplicada pela variação da quantidade consumida . Assim: Umg C Umg D (ΔQ) Mudança na utilidade total devido à variação no consumo de cervejas Mudança na utilidade total devido à variação no consumo de drinks Reescrevendo a equação nos novos termos, fica expresso o seguinte: Rearranjando a equação, obtemos: Perceba o sinal de negativo do lado esquerdo da última equação. Ele representa a perda de utilidade devido à redução do consumo de latinhas de cerveja, o qual, por sua vez, deve ser igual ao ganho de utilidade proveniente do aumento do número de drinks no lado direito da equação. Devemos entender a relação dessas mudanças com a inclinação da curva de indiferença. Dividindo os dois lados da equação 2 por \Delta Q_D e por \Delta Q_C, encontramos: Na equação, temos: Lado esquerdo Menos a inclinação da curva de indiferença é a taxa pela qual Ana está disposta a trocar uma quantidade de cerveja por outra de drinks. Lado direito Razão entre a utilidade marginal de drinks e a de cerveja — ou seja, a razão entre o que Ana ganha a mais de utilidade com aqueles e com essa. A razão entre as utilidades marginais do lado direito da equação anterior é conhecida como taxa marginal de substituição (TMS). Substituição, no caso específico, refere-se aos drinks no lugar das cervejas. Juntando tudo isso, vemos que a inclinação da curva de indiferença de Ana é = Umg c ×ΔQ C = Umg D ×ΔQ D Umg C ×ΔQ C + Umg D ×ΔQ D = 0 −Umg C ×ΔQ C = Umg D ×ΔQ D −ΔQ C /ΔQ D = Umg D /Umg C exatamente igual à razão entre a utilidade marginal de um drink e a de uma cerveja, ou à sua TMS. Relembrando A inclinação das curvas de indiferença diminui quando movemos para baixo e para a direita, o que as torna mais achatadas. Logo, se o lado esquerdo da equação está diminuindo, essa redução deve acontecer no direito para satisfazer a igualdade. Quando deslizamos para a direita, o que acontece na prática é o seguinte: a razão entre a U m g_D e a U m g_C diminui. Verificamos isso na análise intuitiva da utilidade marginal decrescente dos bens. A redução da inclinação das curvas de indiferença no gráfico reflete a lógica da utilidade marginal decrescente e é denominada taxa marginal de substituição decrescente. Em termos gerais, ela informa que um indivíduo que consome poucas unidades do bem C, mas muitas de D, está disposto a trocar uma quantidade grande do bem D por uma unidade a mais do C, e vice-versa. A condição de tangência De que forma os conceitos de curva de indiferença e TMS se relacionam com o que vimos de restrição orçamentária e cesta ótima? Atividade discursiva Ana só pode gastar R$ 40 quando sai. O preço da latinha de cerveja é R$ 5 e o de um drink, R$ 8. Qual é a cesta ótima de consumo de Ana? Digite sua resposta aqui Chave de resposta Gráfico 4: Indiferença de Ana e sua restrição orçamentária. Para responder a essa pergunta, devemos analisar as curvas de indiferença representadas por I1, I2 e I3 no diagrama. A representada por I3 é a utilidade máxima que Ana gostaria de ter. No entanto, não é possível alcançá-la, uma vez que todas as cestas de consumo dessa curva de indiferença estão acima de sua reta orçamentária. Portanto, Ana está limitada por sua renda. Ana tampouco deveria escolher as cestas da curva de indiferença I1, pois, embora as cestas entre os pontos B e C ao longo dessa curva sejam factíveis, há outras cestas de consumo que lhe geram mais utilidade e que cabem em sua renda. Veja o caso da cesta A: assim como B e C, ela está sobre a sua reta orçamentária, porém, gera mais utilidade que ambas por estar na curva de indiferença I2, ou seja, mais afastada da origem que a curva I1. De fato, a cesta de consumo A é a escolha ótima de Ana, com três latinhas de cerveja e três drinks. Ela está na curva de indiferença mais afastada que Ana pode alcançar dada a sua renda. Na cesta ótima, a reta orçamentária apenas toca a curva de indiferença mais afastada, sendo tangente em relação a ela. Essa é a chamada condição de tangência, que é aplicada quando as curvas de indiferença são convexas. Taxa marginal de substituição e a condição de tangência Acompanhe, neste vídeo, a taxa marginal de substituição (TMS) e os trade-offs entre dois bens, influenciados pela utilidade marginal decrescente, e como esses conceitos se relacionam com a restrição orçamentária e a cesta de consumo ótima. Preços e taxa marginal de substituição No ponto de tangência entre a curva de indiferença e a reta orçamentária, ou seja, a cesta ótima, a curva de indiferença tem a mesma inclinação da reta orçamentária. Retomando a equação representada anteriormente, temos que: Inclinação da curva de indiferança = -UmgD/UmgC Na cesta ótima, podemos substituir a inclinação dessa curva pela da reta orçamentária, pois já vimos que ambas são iguais nesse ponto. Assim: Inclinação da reta orçamentária = -UmgD/UmgC Relembrando Inclinação da reta orçamentária é exatamente a razão de preços — pd/pc Juntando as duas equações, chegamos à regra do preço relativo: A razão entre as utilidades marginais dos bens é chamada de TMS, e obtemos uma regra geral para a cesta ótima de consumo: a taxa marginal de substituição é igual à razão entre os preços dos dois bens. Preços e taxa marginal de substituição Confira, neste vídeo, como na cesta ótima de consumo a inclinação da curva de indiferença iguala-se à inclinação da reta orçamentária, além da relação entre a taxa marginal de substituição (TMS) e os preços dos dois bens. Efeitos de uma variação no preço e na renda O que vai acontecer se o preço de um dos bens mudar? Você ainda se lembra do estudo de caso envolvendo Ana, certo? Suponha que, por alguma razão, o bar que Ana frequenta resolva aumentar os preços dos drinks. Agora, em vez de R$ 8, eles custam R$ 20. Como essa mudança vai afetar a escolha de consumo dela? Umg D Umg C = p D p C , na cesta ótima de consumo. Com o aumento dos preços dos drinks, ela vai consumir menos unidades do que antes, mas, como o preço da cerveja se manteve, Ana ainda pode consumir a mesma quantidade máxima dessa bebida. O painel (a) da imagem a seguir destaca a nova reta orçamentária de Ana (RO2) e a inicial (RO1): Mariana Stussi Neves. A inclinação da reta orçamentária de Ana mudou. Isso ocorre porque o preço relativo dos drinks em termos de cervejas subiu, isto é, a razão pd/pc aumentou em seu valor absoluto. A RO de Ana agora intercepta o eixo horizontal em 2, que é o número máximo de drinks que ela pode consumir. Sua cesta ótima de consumo inicial consistia em três cervejas e três drinks, o que agora deixou de ser factível,já que essa quantidade está acima de sua reta orçamentária. Para lidar com a nova situação, Ana terá que escolher uma nova cesta de consumo ótima ao eleger um ponto na RO2 que toque a curva de indiferença mais afastada possível. É o que mostra o painel (b) da imagem: sua nova cesta ótima será de B, com quantro cervejas e um drink. Resta uma dúvida: se o preço dos drinks permanecer constante, mas a renda direta de Ana mudar, o que acontecerá? Suponha que ela recebeu um aumento salarial, podendo gastar agora R$ 80 no bar. Apesar disso, a inclinação de sua reta orçamentária não muda, pois os preços dos bens permaneceram iguais. No entanto, Ana agora terá mais dinheiro para gastar tanto em cerveja como em drinks. Acompanhe os gráficos a seguir! Mariana Stussi Neves. Os dois interceptos de sua reta orçamentária mudam, pois ela tem maior poder aquisitivo. Assim, sua reta orçamentária inteira se desloca para fora, afastando-se da origem. Ana pode escolher outra cesta de consumo, ou seja, uma que toque sua nova reta orçamentária RO2. Isso consequentemente aumentará o seu consumo. Ana consome mais os dois bens quando sua renda aumenta: o consumo de drinks sobe de três (cesta A) para seis (B); o de cerveja, de três para seis latinhas. Isso é possível porque, em sua função utilidade, ambos constituem bens normais, isto é, aqueles que tem uma demanda que varia positivamente de acordo com a variação da renda. Efeitos de uma variação no preço e na renda Veja, neste vídeo, como a mudança nos preços ou na renda afeta a escolha de consumo de um indivíduo e sua utilidade total. Substitutos e complementos perfeitos Algumas vezes, a preferência pela combinação de dois bens pode ter algum tipo de relação. Exemplo Se Pedro toma exclusivamente café com açúcar e, a cada xícara, ele coloca duas colheres de açúcar, existe uma relação complementar entre os dois bens. Por outro lado, se Pedro gosta tanto de mate como de guaraná, ele pode substituir um pelo outro. Isso resulta em diferentes formatos da curva de indiferença. No primeiro caso, quando um consumidor quer consumir dois bens na mesma proporção, eles são chamados de complementos perfeitos. Como dissemos, Pedro só gosta de tomar uma xícara de café acompanhada de duas colheres de açúcar. Uma xícara extra sem açúcar não lhe oferece utilidade adicional, tampouco uma colher extra sem café. O gráfico (a) da imagem a seguir indica as curvas de indiferença de Pedro para xícaras de café e colheres de açúcar: Mariana Stussi Neves. As curvas vistas no gráfico formam ângulos retos, pois uma unidade adicional de cada bem fora da proporção 1:2 não lhe dá mais utilidade, o que significa que ele permanece na mesma curva de indiferença. Somente um aumento dos dois bens na proporção de sua preferência faria Pedro dar “um salto” nas suas curvas de indiferença. O diagrama (a) ainda evidencia: Reta orçamentária de Pedro (em cinza). Cesta A tangenciando a reta (sua cesta de consumo ótimo). Note que a inclinação da reta orçamentária não afeta o consumo relativo de café e açúcar de Pedro. Ele consome ambos sempre na mesma proporção, independentemente de seu preço. Repare ainda que, no ponto A, as curvas de indiferença sofrem uma mudança abrupta de inclinação: da esquerda para a direita, a curva deixa de ser vertical, passando a ser horizontal. O que acontece com a taxa marginal de substituição? No caso de complementos perfeitos, essa taxa marginal é indefinida, pois o consumidor não está disposto a fazer qualquer substituição entre os dois bens. Já o diagrama (b) da figura anterior aponta as curvas de indiferença de Pedro para o segundo caso: gostar tanto de mate como de guaraná, ou seja, os dois bens lhe conferem a mesma utilidade. Como ele está sempre disposto a substituir a mesma quantidade de um item pela de outro, suas curvas de indiferença são linhas retas, e sua taxa marginal de substituição é constante (afinal, a TMS é a inclinação da CI, que é uma reta. Logo, trata-se de uma constante). O painel (b) também destaca a reta orçamentária de Pedro: quando ela tem inclinação diferente das curvas de indiferença, como é o caso, essa curva vai encostar na reta em um dos eixos. Desse modo, ele consumirá apenas o bem: Mais barato. A maior quantidade possível do que ele puder comprar, como o mate (indicado pela cesta b). Composta apenas por um dos bens, a cesta b é um tipo de cesta ótima e chamada pelos economistas de solução de canto. Porém, o que aconteceria se a inclinação da reta orçamentária de Pedro fosse igual à da própria reta? Uma de suas curvas de indiferença a tocaria em todos os seus pontos, de modo que qualquer cesta sobre a reta de Pedro seria uma cesta ótima. Bens substitutos e complementares Neste vídeo, assista às diferentes formas das curvas de indiferença para bens complementares e substitutos perfeitos, destacando como as proporções fixas de consumo e a capacidade de substituição influenciam as escolhas de consumo e a taxa marginal de substituição. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre as curvas de indiferença, assinale a alternativa falsa. Parabéns! A alternativa A está correta. Na verdade, as curvas de indiferença do consumidor racional são convexas. A inclinação de uma curva de indiferença diminui à A As curvas de indiferença de um consumidor racional são côncavas. B As curvas de indiferença geram a mesma quantidade de utilidade total para diferentes combinações de bens. C Existe uma curva de indiferença para cada nível de utilidade total. D As curvas de indiferença mais distantes da origem oferecem mais utilidade. E As curvas de indiferença nunca se cruzam no gráfico. medida que deslizamos para baixo e para a direita. Isso se deve ao princípio da utilidade marginal decrescente. Questão 2 Sobre a taxa marginal de substituição, assinale a alternativa falsa. Parabéns! A alternativa D está correta. A taxa marginal de substituição será decrescente se os dois bens tiverem uma utilidade marginal também decrescente. Isso se dá pelo fato de o trade-off entre ambos mudar ao longo da curva. Assim, um consumidor vai exigir cada vez mais do bem 2 para compensar cada unidade do 1, ao qual ele renuncia à medida que a quantidade daquele aumenta em relação à consumida do outro. A No ponto de tangência entre a curva de indiferença e a reta orçamentária, a taxa marginal de substituição é igual à inclinação dessa reta. B A taxa marginal de substituição é a razão entre as utilidades marginais de dois bens. C A inclinação da curva de indiferença é igual à taxa marginal de substituição. D Quando dois bens têm uma utilidade marginal decrescente, a taxa marginal de substituição é crescente. E Curvas de indiferença de bens perfeitamente complementares podem ser representadas com ângulos retos. 3 - Tipos de custo Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir os tipos de custo da �rma e suas aplicações. Custos e insumos A teoria da firma é outra importante subárea da microeconomia, porque fornece os instrumentos necessários para estudar as decisões produtivas de firmas individuais. Firmas são entidades juridicamente constituídas que adquirem fatores de produção e os transformam em produtos acabados para serem vendidos com objetivos lucrativos. Para estudar as firmas, são utilizados os instrumentos de análise da teoria da firma para responder questões do tipo: Por que algumas firmas se dedicam à tecnologia da informação e outras ao agronegócio? Que tamanho devem ter as firmas e quanto produzir de cada produto ou serviço? Questões de análise da teoria da firma adquirem importância ainda maior, pois são as teorias da produção e do custo de produção que se qualificam para melhor respondê-las. Uma distinção essencial que faremos na teoria da produção será entre decisões de curto e longo prazo. No curto prazo, a quantidade de, pelo menos, um dos fatores de produção não podeser alterada. Em geral, a quantidade de capital é fixa. Isso ocorre porque não é possível aumentar o tamanho de uma fábrica ou mesmo o número de máquinas de um dia para o outro. O fator trabalho, por sua vez, é variável, pois é possível contratar ou demitir trabalhadores praticamente a qualquer momento. Já no longo prazo, todos os fatores de produção são variáveis, inclusive o capital. Repare que o prazo (em meses ou anos) necessário para se alcançar o longo prazo varia de setor para setor. Teorias da produção e do custo de produção Tratam do processo de produção. A teoria da produção aborda apenas de relações físicas, enquanto a teoria dos custos de produção envolve também os preços dos insumos. Exemplo Na extração de petróleo, podem-se levar vários anos até atingir o longo prazo (talvez devido à demora para construção de uma nova plataforma de petróleo), enquanto no caso de uma sorveteria, tal prazo pode ser bastante curto. Já a função de produção da firma é a relação entre a quantidade de produto fabricada por ela e seu montante de insumos. Um exemplo de insumo é o número de trabalhadores da firma. O custo seria, então, o salário deles. Para uma melhor compreensão desses conceitos, tomaremos a fábrica de Luísa como exemplo. Por questão de simplicidade, vamos supor que ela: Produz apenas um produto: automóveis. Usa somente dois insumos: capital (máquinas) e trabalho. Possui apenas um tipo de máquina. Conta com trabalhadores da mesma qualidade, isso é, com as mesmas capacidades para executar o seu trabalho. Luísa paga o aluguel de 20 máquinas que operam em sua fábrica. No momento, ela não tem capacidade para alugar mais nem menos máquinas, pois já assinou contrato com o locatário delas. Isso é conhecido como insumo fixo, pois sua quantidade é a mesma e não pode variar ― ao menos, não no curto prazo. No entanto, Luísa pode escolher quantos trabalhadores irá contratar. Esse outro tipo de insumo é denominado variável, pois com ele, uma firma pode variar a sua quantidade a qualquer momento. A rigidez do montante dos insumos, se eles são fixos ou variáveis, depende, na verdade, do horizonte de tempo. Luísa monitorando a produção de automóveis em sua fábrica. No longo prazo, passado um tempo suficientemente grande, as firmas podem ajustar a quantidade de qualquer insumo. Lembre-se: não existem insumos fixos no longo prazo, mas apenas no curto. Exemplo Após alguns anos ou o tempo do contrato de aluguel de Luísa, ela poderia negociar outro contrato com o locatário de máquinas e ajustar sua quantidade de capital fixo. O número de carros produzido por ela depende de quantos trabalhadores foram contratados. Cada um — mesmo sem ser muito eficiente — pode operar as 20 máquinas adquiridas por Luísa. Veja mais detalhes! Quando um trabalhador adicional é contratado, as máquinas são divididas igualmente entre os funcionários. Quando há dois trabalhadores, cada um opera 10 máquinas. Se forem três, cada um opera seis máquinas e se reveza nas duas restantes. E assim por diante. Se Luísa empregar um número maior de trabalhadores, as máquinas serão operadas de forma mais intensiva, e dessa forma, mais carros serão produzidos. A função de produção da firma é a relação entre a quantidade de trabalho e a de produto (carros) para um dado montante de insumo fixo (máquinas). A imagem a seguir informa a função de produção da fábrica de Luísa em dois formatos (gráfico e tabela): Gráfico e tabela: Função de produção da fábrica de Luísa.Mariana Stussi Neves. Denominada curva de produto total da fábrica, a função de produção revela como uma quantidade de produto depende do montante de insumo variável para uma dada quantidade de insumo fixo. O eixo vertical exibe o número de carros produzidos (Y), o eixo horizontal, por sua vez, o montante de insumo variável, ou seja, o número de trabalhadores empregados (L). A curva de produto total está positivamente inclinada, mas sua inclinação não é constante: à medida que trabalhadores empregados são acrescentados, o número de carros produzido aumenta, mas esse acréscimo na produção é cada vez menor. Ou seja, ao deslizarmos para a direita da curva, ela se tornará mais achatada. Para entendermos essa mudança na inclinação, vamos observar a tabela da figura anterior. Ela mostra o produto marginal do trabalho (PMgL), isto é, a variação na quantidade de produto ao se acrescentar uma unidade de trabalho. Já possuímos as informações sobre a quantidade de trabalho para todas as unidades de trabalho para um, dois e três trabalhadores, e assim por diante. Dica Nem sempre é necessário haver uma informação individualizada dessa maneira. Muitas vezes a quantidade de produto para a variação do trabalho é conhecida em dezenas (para empresas com 10 ou 20 trabalhadores, por exemplo) ou outros intervalos possíveis. Para calcularmos o PMgL, podemos usar a seguinte equação: Ou, mais formalmente, esta: A inclinação na curva de produto total é igual ao produto marginal do trabalho. Podemos observar que ele diminui quando mais trabalhadores são empregados. Portanto, a curva se achata à medida que outros trabalhadores são contratados. A razão para isso é simples: em geral, retornos decrescentes de um insumo ocorrem quando se registra um aumento em sua quantidade. Porém, mantido constante o montante dos demais insumos, reduz-se o produto marginal dele. Exemplo Pense em uma sorveteria: se só houver uma máquina de sorvete e um trabalhador operando, a produção pode ser largamente aumentada se um empregado extra for contratado e eles se revezarem entre fazer sorvete e atender os clientes. Mas não se ganha muito em produção contratando 10 empregados com apenas uma máquina, pois não é possível que todos a operem ao mesmo tempo. O mesmo ocorre com a fábrica de Luísa. Cada trabalhador adicional passa a dividir com outros o insumo fixo de 20 máquinas. Isso faz com que ele não consiga produzir tanto quanto o anterior, portanto, o produto marginal por trabalhador diminui. Produto marginal do trabalho = variação na quantidade de produto variação na quantidade de trabalho PMgL = ΔY /ΔL Demonstração da diminuição do produto marginal por trabalhador. Atenção! A hipótese dos retornos decrescentes só é válida caso tudo mais seja mantido de maneira constante. Se os demais insumos também pudessem mudar, as curvas de produto total e marginal se deslocariam. Veja as curvas de produto total (PT) e marginal por trabalhador (PMgL) na fábrica de Luísa, tanto na situação inicial (20 máquinas) como na atual (10 máquinas): Gráfico (a): Produção com 10 e 20 máquinas. Gráfico (b): Produto marginal do trabalho com insumo fixo de 20 máquinas superior ao de 10. Acompanhe os detalhes sobre os dois gráficos: Grá�co (a) A menos que sejam empregados 0 trabalhadores, PT10, que representa a produção com 10 máquinas, está situada abaixo de PT20 (20 máquinas), pois, com menos unidades disponíveis, qualquer número de trabalhadores produz menos carros. Grá�co (b) Mostra o exposto no gráfico anterior em termos de produto marginal. Embora as duas curvas tenham inclinação para baixo, já que o número de máquinas em cada situação é fixo, PMgL20 fica acima de PMgL10 em todos os pontos, refletindo, assim, que o PMgL é mais alto quando há mais insumo fixo. Custos e insumos Acompanhe, neste vídeo, como as firmas tomam decisões de produção, analisando os custos e insumos e a utilização do capital fixo e do trabalho variável para otimizar sua produção. Curvas de custo Luísa pode conhecer sua função de produção verificando a relação entre insumos de trabalho e capital e produção de automóveis. Mas nada falamos sobre suas escolhas de produção. Em geral, os produtores vão escolher uma produção que maximize seus lucros. A definição formal de lucro é: Lucro = receita total - custo total . Ou, em notação, o lucro é expresso da seguinte forma: A receita total (RT) é o que um produtor obtém pela produção vendida,ou seja, o preço daquele bem multiplicado pelo montante vendido dele. Se estamos falando do número de automóveis (qA) e do seu preço (pA), a receita total é dada pela igualdade: E o custo total? Como vimos neste material, insumos são custosos e apresentam dois tipos: fixos e variáveis. Cada insumo vai ter seu custo ao ser empregado na produção. O do aluguel de máquinas — insumos fixos, ou seja, que não variam — recebe o nome de custo fixo (CF). O CF não depende do montante produzido, uma vez que o produtor já incorre nele quando toma a decisão de produzir, não podendo mudar sua quantidade — ao menos, não no curto prazo. Já o custo do insumo variável é denominado custo variável (CV). Exemplo π = RT − CT RT = p A × q A Os trabalhadores da fábrica da Luísa são um caso de custo variável. O CV consiste no número de trabalhadores multiplicado pelo seu salário (que é o custo por unidades de trabalho). Como a quantidade produzida depende desse número, o custo variável também depende desse mesmo número. A soma dos custos fixo e variável para um determinado montante de produto configura, portanto, o custo total (CT) da fabricação. Essa relação pode ser expressa pela equação: A tabela a seguir indica como é calculado o custo total da fábrica de Luísa. Perceba que o CT sobe conforme o número de unidades produzida aumenta. Isso ocorre por conta do CV: quanto maior for o montante produzido, maior será o custo total da fábrica. Quantidade de carros Y Quantidade de trabalho L Custo variável C 0 0 R$0 13 1 1 000 24 2 2 000 33 3 3 000 40 4 4 000 45 5 5 000 48 6 6 000 50 7 7 000 50 8 8 000 Tabela: Custo total da fábrica de Luísa. Mariana Stussi Neves. Custo total = custo fixo + custo variável Ou CT = CF + CV Curvas de custo Acompanhe, neste vídeo, como uma empresa consegue otimizar seus resultados minimizando o custo total para um dado nível de produção. Custo marginal e médio Imaginemos agora que Luísa queira fazer uma análise na margem sobre seus custos e compreender o custo de cada unidade a mais de carro em sua produção. Assim como acontece no caso do produto marginal, será mais fácil entender o custo adicional de uma unidade a mais de produto se tivermos as informações detalhadas para cada unidade. Infelizmente, esse não é o caso: ela só dispõe desses dados em intervalos de produção. Exemplo: Zero, 13 e 24 carros. Vamos analisar então a sorveteria de Mateus. A tabela a seguir detalha, na primeira coluna, a produção do estabelecimento e os seus custos. Mateus possui um custo fixo: diariamente, são gastos R$ 125 com aluguel, máquina etc. Mateus precisa pagar seus funcionários e os insumos para a feitura do produto, como açúcar, leite e outros ingredientes. Eles representam o custo variável (expresso na coluna 3) e dependem de quantos sorvete são produzidos. Já o custo total, ou seja, a soma dos custos fixo e variável, figura na coluna 4: Mateus trabalhando na sua sorveteria. Quantidade de sorvete Y Custo fixo CF Custo variável C 0 125 0 1 125 5.00 2 125 20.00 3 125 45.00 4 125 80.00 5 125 125.00 6 125 180.00 7 125 245.00 8 125 320.00 Tabela: Soma dos custos fixo e variável. Mariana Stussi Neves. Além dessas medidas de custo, existem ainda outras duas muito usadas pelos economistas: Custo marginal (CMg) Custo médio (CMe) Assim como observamos no produto marginal, o custo marginal é a variação no custo total ao se acrescentar uma unidade de trabalho (por exemplo, um trabalhador a mais ou um dia a mais de trabalho). Sua forma de cálculo também é parecida com a que vimos antes: O custo médio, por sua vez, possui um cálculo ainda mais simples: como o próprio nome diz, ele é uma média. Para calculá-lo, basta dividir o custo total pela quantidade de produto. Veja: Custo médio ou As colunas 5 e 6 da tabela referente à sorveteria de Mateus oferecem respectivamente os custos médio e marginal do estabelecimento. O marginal aumenta com o número produzido de sorvetes, enquanto o médio começa alto e diminui à medida que mais unidades são produzidas. No entanto, a partir da 5ª unidade de sorvete, ele volta a crescer. Para compreendermos o comportamento das duas curvas, devemos observar os gráficos a seguir: Gráfico: Custos totais da sorveteria do Mateus. Vamos, agora, analisar os gráficos. Custo marginal = variação no custo total variação na quantidade de produto ou CM g = ΔCT/ΔY = custo total quantidade de produto CMe = CT/Y . Mostra a curva de CT da sorveteria de Mateus, indicando o seu aumento com o número de unidades produzida. A inclinação da curva de CT também não é constante, pois ela se torna cada vez mais inclinada à medida que se desliza para a direita. Os retornos decrescentes do insumo variável são a razão para isso. Contém a curva de custo marginal (CMg) da sorveteria. Como pudemos ver no caso da curva de produto marginal, que corresponde à inclinação da curva de produto total, o custo marginal é igual à inclinação da curva de CT. Como ela é positivamente inclinada, a inclinação da própria curva de custo total aumenta. Novamente, os retornos decrescentes de insumos justificam a inclinação da CMg. Como o produto marginal do insumo declina, cada vez mais será necessário insumo variável para produzir qualquer unidade adicional de produto. Como cada unidade adicional de insumo variável tem de ser paga, o custo por unidade adicional de produto também aumenta. Indica o custo médio. Conforme apontamos, ele não tem inclinação constante: a curva de CM tem formato de “U”. Isso ocorre por dois efeitos acontecerem simultaneamente na curva de custo médio. Atenção! O produto marginal é decrescente. Lembre-se: o custo total é composto por dois tipos de custo: variável e fixo. Assim, o médio também pode ser decomposto em dois componentes: Custo fixo médio (CFM) Custo variável médio (CVM) Gráfico (a) Gráfico (b) Gráfico (c) O cálculo de ambos é direto: divide-se cada um pela quantidade de produto fabricada. Veja as fórmulas a seguir! No início da produção, quando há poucas unidades, o custo total médio (CME) é alto por conta do peso grande que o componente do custo fixo tem sobre ele. Conforme se produz mais, esse componente de custo fixo vai sendo “diluído”. Em outras palavras, assim que o denominador aumenta, o CFM encolhe, de modo que a inclinação da curva também diminui, tornando-a mais achatada. Isso ocorre até ela atingir um ponto mínimo e voltar a crescer. O crescimento do custo médio, depois do ponto de mínimo, ocorre por conta do outro efeito: o do custo variável. Se, por um lado, o CFM cai, o CVM sobe. Esse crescimento do custo variável se deve ao efeito dos retornos decrescentes dos insumos, fazendo com que, quanto maior for a quantidade de produto, mais insumo variável será necessário para produzir unidades adicionais, aumentando, por sua vez, o custo variável. Veja a seguir o gráfico com essa dinâmica dos custos, ilustrando, para tal, cada uma das curvas. Como se pode observar, o CME e o CMg se cruzam no ponto mínimo de custo total médio. A partir desse ponto (destacado pela letra M na imagem), o CVM ultrapassa o CFM. Dessa forma, o custo variável passa a ser maior que o fixo. O ponto em que a curva de custo marginal intercepta a de custo médio é o ponto custo total médio mínimo. A quantidade de produto desse ponto recebe o nome de produto de custo mínimo. Custofixomédio(CFM) = custo fixo quantidade de produto ou CFM = CF/Y Custo variável médio (CFM) = custo variável Quantidade de produto ou CVM = CV /Y Gráfico: Custo total mínimo da sorveteria do Mateus. Custo marginal e médio Neste vídeo, vamos explorar os conceitos de custo marginal e custo médio, detalhando como os custos variáveis e fixos influenciam a produção, e como os custos marginais e médios se relacionam com a produção. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre função de produção