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Universidade do Estado do Pará 
Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica 
Pró-Reitoria de Graduação 
Centro de Ciências Sociais e Educação 
Curso de Licenciatura Plena em Ciências Naturais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COLETÂNEA DE TEXTOS 
DA DISCIPLINA EPISTEMOLOGIA 
E HISTÓRIA DA CIÊNCIA II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Professor Organizador: Ruy Guilherme Castro de Almeida 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belém-Pará 
Julho-2011 
 
Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR 
 
 
Material organizado para desenvolvimento da disciplina Epistemologia e História da 
Ciência II no Curso de Licenciatura em Ciências Naturais, a ser ofertado por meio de 
convênio firmado entre o Ministério da Educação - Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – MEC/CAPES e a Universidade do 
Estado do Pará – UEPA. 
 
 
Universidade do Estado do Pará 
 
Reitora 
Marília Brasil Xavier 
 
Vice-Reitora 
Maria das Graças da Silva 
 
Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) 
Ruy Guilherme Castro de Almeida 
 
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP) 
Jofre Jacob da Silva Freitas 
 
Pró-Reitoria de Gestão (PROGESP) 
Manoel Maximiano Júnior 
 
Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) 
Mariane Alves Cordeiro Franco 
 
Diretora do Centro de Ciências Sociais e Educação 
Maria José de Souza Cravo 
 
Coordenador Geral do PARFOR-UEPA 
Neivaldo Oliveira da Silva 
 
Coordenadora Adjunta da Universidade Aberta do Brasil - UAB 
Léa Maria Gomes da Costa 
 
Coordenador do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Naturais. 
José de Ribamar de Castro Carvalho 
 
Assessoria Pedagógica 
Fátima Maria dos Santos 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................4 
PLANO DE ENSINO.....................................................................................................7 
TEXTO Nº 01: MARCOS PARA UMA HISTORIA DAS CIÊNCIAS NO BRASIL ...........11 
TEXTO Nº 02: UMA HISTÓRIA INSTITUCIONAL DAS CIÊNCIAS NO BRASIL .............15 
TEXTO Nº 03: CIÊNCIA PASTEURIANA E O PROJETO DOMINANTE DE HIGIENE E 
MODERNIZAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA..........................................................21 
TEXTO 04: AS CIÊNCIAS NA ACADEMIA E A EXPECTATIVAS DE PROGRESSO E 
MODERNIZAÇÃO: BRASIL 1916-1929......................................................................34 
TEXTO Nº 05: A CIÊNCIA SOB OLHARES EVOLUCIONISTAS. A CIÊNCIA NO 
MUSEU PARAENSE (1894-1914) .............................................................................49 
TEXTO Nº 06: O PAPEL DOS ENGENHEIROS PARAENSES: DO SANEAR AO 
NUCLEAR .................................................................................................................56 
APÊNDICE.................................................................................................................69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
O interesse pela História da Ciência no contexto do ensino das ciências é um fato 
significativo. Os Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs), sem dúvida, contribuíram para 
tal. Essa nova visão veio substituir a ênfase centrada na transmissão do conhecimento pelo 
conteúdo. Os PCNs incentivaram a busca pela contextualização e cotidianidade. Ou seja, 
as abordagens dos fenômenos científicos passaram a fazer parte de uma realidade mais 
próxima do aluno. E a História passou a ter um importante papel nesse novo cenário. 
 O ensino das ciências naturais no ensino médio, historicamente, é considerado um 
terror para os estudantes. Principalmente a Física e a Química, pois freqüentemente sua 
abordagem é feita de modo descontextualizado e com demasiada ênfase à ferramenta 
matemática. A Biologia, por tratar de temas mais próximo da vida e do ser humana tem 
melhor aceitação.O desafio que se impõe é, como seduzir os alunos para sentirem-se 
atraídos pelo ensino das ciências naturais, principalmente da Física e da Química? 
Por conta dessas constatações, algumas ações devem ser desenvolvidas para 
minimizar o problema. Estratégias metodológicas inovadoras devem ter prioridades, numa 
sociedade que se caracteriza pelas constantes transformações tecnológicas. A sala de aula, 
espaço preferencial para a prática do ensino aprendizagem não pode ficar alheia. O uso do 
computador, que pode proporcionar momentos de atividades lúdicas no ensino das ciências 
naturais, através de simulações dos fenômenos, é uma alternativa interessante. 
Nosso propósito nessa disciplina é incentivar o uso da história como estratégia 
metodológica para a motivação do ensino das ciências naturais. Desconstruir a idéia de que 
a produção do conhecimento é um ato isolado e alienado do contexto sócio-econômico. 
Os livros didático continuam sendo o aliado preferencial para a prática docente. 
Neles, muita das vezes, a ciência é apresentada como um acúmulo de conhecimento linear 
e neutro. O cientista é apresentado como uma figura diferente, genial, “aloprada”, e que não 
interage com o seu meio social, pois está tão somente interessado nas descobertas que 
podem “salvar” a humanidade. 
Alguns exemplos são significativos. Por exemplo, no caso do ensino da disciplina 
Física, quando o professor deseja, de alguma forma, inserir a história no ensino, vale-se 
muito mais do aspecto folclórico e/ou lendário. Os exemplos são abundantes. Numa aula 
sobre o Empuxo a figura de Arquimedes é logo lembrada pela contribuição efetiva na 
construção desse conhecimento, mas a ênfase maior em relação a esse personagem é a 
narração do caso inusitado de sair correndo completamente nu pelas ruas de Atenas 
gritando a famosa expressão Heureka. 
5 
 
 
Isso sugere que as descobertas científicas resultam de um “lance” de sorte, de 
inspiração transcendental. A nova metodologia da História da Ciência, com uma visão mais 
externalista, enfatiza o contexto social e econômico no qual Arquimedes estava inserido. 
Quais eram as demandas sociais para que o sábio grego elegesse os temas que estudou? 
 A figura de Galileu Galilei é praticamente unânime na citação de um cientista na 
abordagem da mudança paradigmática por ele empreendida. Faz-se, comumente, alusão a 
sua relação com a Igreja Católica e os embates que enfrentou com o Papa de sua época 
para sobreviver. Galileu é apresentado como um mártir. Não temos dúvida da importância 
do papel mestre italiano para a construção do conhecimento e principalmente por ter 
inaugurado com suas experimentações a Ciência Moderna, no século XVII, mas 
entendemos que ainda há um distanciamento do contexto social. 
 Isaac Newton constitui-se num dos mais preferidos pelos professores para a 
abordagem histórica. Sua contribuição para a consolidação da Mecânica e do Cálculo 
justificam. Porém mais uma vez o lado folclórico prevalece. Ou seja, a inserção da História 
no contexto newtoniano ocorre muito mais pela maçã que caiu(???!!) em sua cabeça. A 
valorização dessa cena passa a idéia de um cientista descuidado, com a cabeça nas nuvens 
e os pés....também. Há um rico contexto a ser explorado no caso newtoniano pois no século 
XVIII aflora o movimento filosófico denominado Iluminismo. É certo também que os assuntos 
tratados por Newton atenderam uma damanda econômica da época, como bem demonstrou 
o artigo de Boris Hess, em 1931, intitulado “As raízes sócio-econômica da Mecânica 
Newtoniana. 
 Para não ficar muito extensa a galeria termino com a figura emblemática de Albert 
Einstein. O notável físico que de fato revolucionou os conceitos de tempo e espaço com a 
sua Teoria da Relatividade também é apresentado como um deus, um mito, uma figura 
notável. Claro que o excelente Einstein foi notável, mas , mais importante do que isso é 
contextualizá-lo dentro do seu tempo. A idéia que é repassada para os estudantes sugere 
que o mesmo foi o único que efetivamente contribuiu para a consolidação do novoimprevisível. A flor sucede os frutos é 
uma frase de Henrique Morize, Diretor da Sociedade Brasileira de Ciências que reflete bem 
essa idéia. (26) 
Para os que se dedicavam às novas ciências e eram membros da Sociedade esta 
constituiu-se um pólo aglutinador de suas atividades. Favoreceu o debate intelectual, que 
era realizado em reuniões periódicas, através da correspondência com 0 exterior e de sua 
revista periódica, criada em 1917, para a publicação científica de seus membros. 
Isso não que dizer que tenham conseguido alcançar o destaque que tinham as 
ciência associadas às campanhas de higiene. Uma das principais reivindicações dos que 
criaram a Sociedade Brasileira de Ciências era a criação de uma faculdade para a formação 
de físicos, matemáticos, enfim, de profissionais específicos para a prática científica, portanto 
diferentemente do engenheiro, médico ou advogado. 
Essas faculdades só se estabelecerem em 1934, portanto quase duas décadas após 
a criação da Sociedade quando muitos dos que reivindicavam esta iniciativa já tinham 
morrido, enquanto que a especialização a nível de pós-graduação em medicina pública, que, 
além de medicina legal, incluía a higiene pública, foi criada a nível de pós-graduação em 
1917. 
 
8 A higiene e seu significado modernizador 
 
As idéias e práticas realizadas sob o signo da Higiene foram centrais no movimento 
pela modernização desencadeado no início do século. Para a grande mobilização em torno 
do combate as epidemias, que foram ponto central nesse movimento, um fator foi 
dominantes as epidemias maculavam a imagem civilizada do país. Assim, elas 
preocupavam porque assolavam os locais fundamentais para: a circulação de mercadorias, 
0 emprego de mão de obra e a expansão das ferrovias, ou seja, os pólos mais 
emblemáticos da modernização. Assim, tomou-se prioridade debelar as epidemias que 
assolavam os principais portos do pais, como os do Rio de Janeiro e 0 de Santos; os 
caminhos das ferrovias que se expandiam; e os centros mais urbanizados do país, tal como 
o Rio de Janeiro que era a capital e São Paulo que atingia índices de crescimento industrial 
e econômico sem precedentes. 
O governo apoiou as campanhas de higiene sobretudo porque elas representavam 
um símbolo de modernização. Havia a preocupação com 0 bem estar da população, tal 
como sua saúde, mas só enquanto as iniciativas tomadas para esse bem esta: não 
atrapalhassem 0 projeto que pretendia uma imagem civilizada para 0 pais, ou seja, 
enquanto não atrapalhassem 0 projeto modernizador. Por isso, o mesmo projeto que 
diminuía a mortalidade de população pelo combate as epidemias, desrespeitava sua 
33 
 
 
cidadania — inclusive com medidas de extrema violência que atingiram o clímax com a 
chacina durante a Revolta da Vacina. No momento em que a população recusava 0 projeto 
da vacina obrigatória, colocava obstáculo ao projeto modernizador. 
A intensidade das campanhas sanitárias exigia dos médicos grande dedicação. 
Muitos voltaram suas atividades profissionais exclusivamente para essas atividades, cuja 
intensidade favoreceu a formação de especialistas que implementaram a Medicina 
Pasteuriana no Brasil. Foram estes, os que se tornaram os mais reconhecidos homens de 
ciência da época, como, Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz, Emilio Ribas, Carlos Chagas, Vital 
Brasil entre outros. 
A prioridade desses homens era a instituição no país de novas correntes científicas 
universais e que já circulavam na Europa. Por isso mesmo, seu projeto de modernização 
não era exatamente idêntico ao do governo cujo apoio era centralizado nas campanhas de 
higiene, possibilitando 0 desenvolvimento somente das ciências que lhe estavam 
associadas, tal como as que eram realizadas no campo da Medicina Pasteuriana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
TEXTO 04: AS CIÊNCIAS NA ACADEMIA E A EXPECTATIVAS DE PROGRESSO E 
MODERNIZAÇÃO: BRASIL 1916-1929 
 
Extraído do Livro: Espaço da Ciência no Brasil (1800-1930) 
Autor: José Jerônimo de Alencar Alves 
 
 
 
Introdução 
 
Escolheu—se, aqui, a Academia Brasileira de Ciências como objeto de analise pelo 
papel que desempenhou nas transformações observadas na atividade científica, no Brasil, 
no inicio do século. Originada em 1916, com a criação da Sociedade Brasileira de Ciências, 
a partir de 1921 passou a ter a denominação atual. (Para maior simplicidade, o termo 
Academia será empregado para designar a instituição desde a origem). 
Em seu Esboço Histórico sabre a Academia Brasileira de Ciências, Paulinyi (1981) 
esclarece sobre a formação, a organização, o desenvolvimento e as funções da Academia, 
entre outros aspectos. Em consequência, estabelece uma periodização cuja primeira fase 
vai de 1916 a 1929. Considera que essa primeira fase da Academia é caracterizada "por 
acentuado dinamismo constituindo —se um fórum geral para discutir trabalhos realizados 
dentro de um novo padrão de metodologia científica " (Paulinyi, 1981:7). 
Não é seu objetivo, entretanto, discutir a ciência promovida pela Academia, que não 
foi ainda contemplada com estudos historiográficos. Mas não ha duvida de que esta 
constituiu-se em um fórum importante de debate e difusão da ciência na época. Pode-se 
constatar que seus integrantes, em grande parte, são os nomes registrados na 
historiografia, como os agentes principais do desenvolvimento das atividades científicas no 
Brasil, na época.‘ O 0bjetivo desse artigo é analisar algumas atividades científicas da 
Academia, levando em consideração outras características do contexto da época que 
demonstram estar mais firmemente associadas as condições de emergência dessas 
atividades. 
Para observar as atividades científicas que se instituíram por intermédio da 
Academia, será adotada a seguinte precaução evitar-se-á partir de um conceito de ciência 
preestabelecido, tomando-o como referência para resgatar o que tinha estatuto de ciência 
naquela época. Importa para a presente analise saber o que se apresentava com estatuto 
cientifico no seu próprio contexto. 
35 
 
 
Desse modo, a atividade científica pode ser observada deixando transparecer sua 
historicidade, tal como seus objetos e métodos de pesquisa, os fins a que se destinava, o 
modo de legitimação e o papel no contexto social em que se inscrevia. 
A instituição da ciência deve ser entendida como "o processo de implantação, 
desenvolvimento e consolidação das atividades científicas num determinado espaço—tempo 
histérico. Com esse significado, o termo instituição é mais abrangente do que quando é 
empregado para designar simplesmente uma instituição científica como órgão ou 
estabelecimento. 
Esse é apenas um aspecto ou uma fase do processo de instituição da ciência, 
segundo a definição acima. Estudar estabelecimentos como academia é importante porque 
neles o processo se tornaria mais visível, daí a escolha da Academia como objeto de 
analise. Nesse sentido, a instituição das ciências que tiveram como suporte a Academia 
deve ser entendida como um processo dinâmico e gradativo que se deu através da história 
e a medida que superou resistências e conseguiu legitimidade para se implantar no contexto 
em que teve lugar. 
 
O contexto modernizador. 
 
A Academia ficava no Rio de Janeiro, na época 0 pelo mais urbanizado e a capital do 
país, que se situava no proscêndio das mudanças observadas em nome da “regeneração”. 
Essa designação, amplamente utilizada na época, era bem significativa do desejo de 
modernização e progresso que presidia essas mudanças, cujo modelo originava-se em 
países europeus. 
Mas a “regeneração” que se pretendia não significava simplesmente introduzir 
inovações, acrescentando-as aos elementos da cultura local. Era um movimento em que a 
cultura tradicional era completamente negada em favor de uma nova mentalidade 
identificada com os padrões europeus, sobretudo com o modo de vida parisiense 
(Sevcenko,1985). 
Os profissionais de nível superior eram atingidos diretamente pelos apelos das 
transformações que se processavam como decorrência do progresso e da modernização. 
Sob o comando médico se processavam as campanhas sanitárias em nome da higiene, 
cujas implicações para a mudança de costumes resultaram num verdadeiro conflito armado 
motivado pelo confronto entre os imperativos da campanha e os hábitos da população. 
As atividades que se faziam sob o signo da higiene eram metas prioritárias por meio 
das quais as elites que governavam 0 país pretendiam lhe dar uma fisionomia mais 
moderna. Para isso, os engenheiros eram indispensáveis. De fato, eles presidiram uma 
radical transformação na arquitetura da capital do país. Os casarões coloniais e imperiais 
36 
 
 
eram demolidos e as ruelas estreitas desapareciam para dar lugar a amplas avenidas 
pontilhadas de prédios com novos padrões de arquitetura com a finalidade de dar ao país 
uma face mais européia. Os engenheiros eram empregados nos projetos de expansão e 
modernização das estradas de ferro que, expandindo-se dos centros mais urbanizados para 
o interior do país, representavam a própria chegada do progresso. 
Enfim, eram os formados em medicina e engenharia, que dirigiam os projetos mais 
representativos da modernização em matéria de ciência e suas aplicações utilitárias. 
Podemos citar Amoroso Costa, que foi empregado nas estradas de ferro e se dedicou 
também a explorações de acessos rodoviários, e Henrique Morize, diretor do Observatório 
Nacional, que tinha entre suas prioridades a instalação do telégrafo sem fio e as técnicas 
destinadas a estabelecer um sistema de serviço de hora certa no país. Esses profissionais 
foram todos membros da Academia. 
Esses profissionais não eram submetidos só as exigências de sua profissão, mas 
também aos apelos derivados da ’ordem científica internacional’. Já naquele momento a 
ciência era um apelo como fator necessário a corrida para 0 progresso que tinha como 
centro de referencia as transformações que se originavam na Europa, Essas transformações 
eram tais que certas correntes científicas e filosóficas que se constituíram paradigmas para 
as práticas científicas do século XIX estavam declinando. 
Diminuía a importância das ciências naturais associadas a sistemática ou método 
classificatório, integrantes da história natural, com o prestígio que conferiu aos museus do 
século XIX como centros de ciência. A física de Newton, embora continuasse um paradigma 
no campo científico, começava a ser alvo de contestação pelos que acreditavam na teoria 
da relatividade. E o positivismo já não tinha mais a importância que tivera antes, como 
suporte de idéias científicas. Em seu lugar, outras filosofias vinham emergindo, como a de 
Poincaré. O enfraquecimento das correntes tradicionais não significava necessariamente 
sua exclusão, mas seu enfraquecimento se associava ao surgimento de novas teorias, 
gerando um movimento bem característico de um momento de transeção ou de mudança de 
paradigmas. 
Em decorrência dessas transformações, a ciência se ramificava, aumentando as 
especializações dos profissionais, por isso mesmo uma das principais reivindicações da 
Academia, naquele momento, era a criação da escola para formar esses profissionais. 
No Brasil, os engenheiros e médicos eram os mais vulneráveis às influências desse 
apelo, porque não estava ainda consolidada a prática da ciência feita por um profissional 
específico, não havia ainda a escola para a formação desse profissional. Os fundadores e 
membros da Academia eram engenheiros e médicos. Entre eles estavam os que exerciam 
também as atividades mais reconhecidas como científicas no Brasil da época, Henrique 
Morize era professor de física experimental na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, 
37 
 
 
Amoroso Costa ocupou a cátedra de trigonometria esférica, astronomia teórica e pratica 
geodésica. Álvaro e Miguel Ozório foram respectivamente professores de fisiologia na 
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e na Faculdade de Medicina Veterinária do Rio de 
Janeiro. 
 
O discurso pela “ciência pura” 
 
Com a proposta de promover a ’ciência pura', fundou-se a Academia Brasileira de 
Ciências. E necessário observar como essa proposta era justificada pelos que se engajavam 
em sua promoção em um contexto que, segundo suas criticas, só valorizava a prática 
científica pelo viés estritamente “utilitário”. Poder-se-ia cometer engano em considerar a 
ênfase na promoção da ciência pura descabida ou até ingênua, se sua emergência no 
discurso acadêmico fosse avaliada com a ética limitada pelos valores pragmáticos que 
vigoram nos dias de hoje e julgam a ciência apenas pelo seu papel na produção material ou 
prestação de serviço. 
O objetivo de promover a 'ciência pura ou desinteressada' foi uma característica 
marcante em toda a primeira fase da Academia. Era expresso em seus estatutos a intenção 
de concorrer para o desenvolvimento das ciências e suas aplicações que não tivessem 
caráter industrial ou comercial. Esse objetivo não permaneceu esquecido no estatuto. 
A promoção da ’ciência pura e desinteressada’ foi tema dominante nos discursos dos 
acadêmicos. Isso pode ser observado já no primeiro discurso do presidente, publicado na 
revista da Academia: 
 
Numa capital rica e próspera como a cidade do Rio de Janeiro era 
indispensável que se fundasse um grêmio, onde aqueles que estudam 
as questões da ciência pura pudessem encontrar fraternal agasalho e 
no qual se promovesse a formação de um ambiente intelectual capaz 
de transformar a indiferença e mesmo em alguns casos a hostilidade, 
com que a maioria acolhe a publicação de tudo quanto não tem cunho 
de utilidade material. (Morize, 191 7:4) 
 
Os discursos dos acadêmicos visando a promover a ciência pura não se limitaram à 
revista da Academia, como pode se constatar em "Pela ciência pura”, artigo publicado por 
Amoroso Costa, em 1923, em O Jornal, órgão da grande imprensa (Costa, 1981), ou em “A 
ciência pela ciência", publicado por Miguel Ozório de Almeida, em 1925, como um dos 
capítulos do livro Homens e Coisas da Ciência (Almeida, 1925). Neste artigo, Almeida inicia 
enaltecendo a pertinência da defesa de Amoroso Costa pela ciência pura e prossegue 
dentro do mesmo espírito. 
38 
 
 
Amoroso Costa, em seu artigo “Pela ciência pura", proclamava a importância dos 
ideais superiores ao simples utilitarismo. Criticava o ”mundo moderno com seu fanatismo de 
progresso material". Para ele "nos países novos esse fanatismo é levado ao auge, e mesmo 
pessoas muito instruídas ignoram que exista um ideal cientifico superior ao do homem que 
fabrica mil automóveis por dia ou opera um apendicite em dez minutos" (Costa, 1981:151). 
Justificativas semelhantes podem ser observadas nos discursos de vários membros 
da Academia que, em síntese, enalteciam os valores éticos e estéticos como fundamentais 
para a promoção desse ideal superior que seria aprimorado pelo exercício da ciência pura. 
A busca desinteressada da verdade concorreria para elevar a conduta moral dos indivíduos 
e, portanto, da sociedade. Já a busca da harmonia na construção científica concorreria para 
0 progresso da estética (Alves, 1991). 
Ao mesmo tempo em que os acadêmicos alardeavam que a prática científica 
vinculava a um ideal superior o simples ’utilitarismo’, manifestavam a consciência de que os 
fins ’utilitários’ promovidos pela ciência mobilizavam a sociedade mais ampla a valorizar a 
atividade científica. Havia, portanto, uma forte razão para que os acadêmicos enfatizassem 
que as demandas 'utilitárias' também seriam satisfeitas como decorrência natural e 
espontânea das praticas científicas que queriam instituir, embora essas não fossem o seu 
fim primeiro. 
O presidente da Academia, Henrique Morize, em seus discursos, enfatizava a idéia 
de que, embora a ciência pura não se submetesse a imperativos determinadospela 
demanda material ou pelo prestígio de serviços, essa demanda seria também satisfeita. 
Grandes conquistas da humanidade só teriam sido possíveis com a sua concorrência, 
embora suas aplicáveis, em geral, não tivessem sido imediatas nem previsíveis: 
 
A telegrafia comum e a hertziana, a fotografia a cores, o radio, a 
produção de ar liquido, dos componentes azotados e uma infinidade 
de outras aplicações da física e da química, que constituem nossa 
civilização atual, da qual temos tanto orgulho, tiveram como base 
pesquisas totalmente desinteressadas e são, entretanto, o assunto de 
frutuosas aplicáveis industriais que enriquecem os países onde os 
governos clarividentes promovem com pertinência o desenvolvimento 
da ciência pura, da qual resultam as aplicações, tão espontaneamente 
como a flor sucede o fruto. (Morize, 191 7:8-9) 
 
Morize, portanto, associava a ciência pura com as invenções mais modernas da 
época e proclamava que seu cultivo seria uma prerrogativa do progresso econômico. 
A justificativa que mais legitimava a promoção da ciência pura era enfatizar que 
essas praticas estavam em pleno vigor nos países que serviam de referência principal para 
as idéias de progresso: "são ricos os países onde a ciência é cultivada com esmero, porque 
39 
 
 
o saber ali é respeitado e protegido, e não, porque sendo ricos, podem se ofertar o luxo de 
uma cultura científica " (Morize, 1917:9). 
A promoção da ciência pura não era uma exclusividade dos acadêmicos brasileiros. 
Na Franca, país de onde vinha a maior influência cultural, havia uma infinita confiança na 
ciência pura como uma escola de virtude e moral de esforço e desinteresse (Pestre, 1985). 
Convém lembrar que esse era apenas um dos movimentos em torno das praticas 
científicas em vigor na Europa. Era nesse momento que os laços entre a ciência e indústria 
vinham se estreitando, sobretudo na Alemanha. Mas 0 que importa é que o movimento que 
enfatizava a importância da ciência pura f0i priorizado pelos acadêmicos brasileiros. 
O movimento pela ciência pura desencadeado pelos acadêmicos brasileiros, 
portanto, já tinha precedente e um lugar de referência em um país de centro de produção 
científica. Aliás, a Franca foi 0 país que manteve relações mais estreitas com a Academia. 
Inglaterra, Alemanha e outros países trocavam correspondência com a Academia, 
cuja organização, desde quando foi criada como Sociedade Brasileira de Ciências, 
inspirou—se nos moldes da Academia Francesa. Entre as relações científicas que 
estabeleceu, provavelmente a mais importante foi a que se associou ao Instituto Franco 
Brasileiro de Alta-Cultura, criado em 1922. A Academia manteve estreita relação com esse 
Instituto que promoveu a vinda de vários professores visitantes ao Brasil (Petitjean, 
1988:42842). 
Hadamard esteve na Academia realizando a conferência Développement de la 
Notion de Fonction, e Emile Borel sobre a Teoria da Relatividade e a Curvatura do Universo. 
Ou seja, a presença desses visitantes promovia a associacéio entre a ciência pura que 
vinham difundir e o mundo moderno do qual eram representantes. 
Nesse sentido, a promoção mai0r deveu-se a visita de Einstein (que não veio através 
do Instituto), pela repercussão que extrapolou o meio cientifico, ocupou as manchetes da 
imprensa, foi presença exigida na agenda de recepção das elites políticas e culturais e 
mobilizou a curiosidade da população (Cafarelli, 1979). 
 
As ciências na Academia 
 
A Academia foi criada pelos que se dedicavam a atividades científicas no Brasil. As 
normas prescritas refletiam essas atividades, mas não de modo absoluto, pois ela não era 
só influenciada pela ordem científica preexistente no interior do país, mas também pela 
expectativa de progresso segundo as idéias internacionalistas. Assim, ela se inspirava no 
modelo da Academia Francesa, o que lhe permitia uma certa abertura as inovações 
científicas surgidas na Europa. 
40 
 
 
A proposta inicial dos fundadores da Academia era que ela devia se destinar 
exclusivamente as ciências naturais, mas logo foi superada pela que propunha abranger a 
matemática, química e a física, sendo que a soluço final foi destinar-se a todas as ciências. 
Esse movimento foi significativo, pois desse modo a Academia abrangia ciências que 
estavam passando por grandes inovações nos centros de produção e difusão científica, tal 
como as que culminaram com a introdução das geometrias não euclidianas e das teorias de 
Einstein, no cenário científico internacional. 
· Entretanto, se a organização da Academia, inspirada em um modelo europeu, 
favorecia a introdução de novas teorias científicas no Brasil, essa organização também 
criava algumas incongruências em relação à tradição científica local. Seguindo o modelo da 
Academia Francesa, ela se compunha de três seções: ciências matemáticas, físico-químicas 
e biológicas. 
É significativo observar que física e química faziam parte da mesma seção, embora, 
pelo menos aqui no Brasil, a física estivesse bem mais ligada a matemática do que a 
química. Não havia o especialista para cada uma dessas ciências. Os que se dedicavam à 
física eram os mesmos que se dedicavam a matemática. Estes, entretanto, não eram os 
mesmos que se dedicavam à química. 
Apesar de não haver ainda o profissional específico para a prática da física, cuja 
atividade de pesquisa ainda não se tinha enraizado no Brasil, esta ciência figurava no titulo 
de uma tradição bem mais sedimentada, no Brasil, que a física. 
Entretanto, a geologia também era aceita na Academia, pois cada seção abrangia 
um leque variado de disciplinas: a de ciências matemáticas abrangia a matemática e a física 
matemática; a de ciências físico-químicas, a física, a química a mineralogia e a geologia; e a 
de ciências biológicas, a biologia, zoologia, botânica, antropologia, entre outras (Paulinyi, 
l981). 
Os temas científicos que surgiam como resultado das recentes mudanças nos 
centros de produção e difusão científica tinham reflexos na Academia, pois muitos de seus 
membros os tinham adotado como objeto de suas atividades científicas. A teoria da 
relatividade, por exemplo, representava um aspecto tão polêmico e inovador, que sua 
validade científica ainda era posta em duvida. 
A filosofia de Poincaré também era uma inovação, pois era a contrapartida do 
recente enfraquecimento da filosofia de Comte. A crescente utilização da matemática no 
campo da fisiologia estava representada em artigos que tentavam estabelecer as leis 
matemáticas do trabalho muscular. O petróleo, que se constituía em novo combustível de 
interesse econômico, era, ao mesmo tempo, novo objeto de pesquisa. 
 
41 
 
 
Isso não significa que os traços de tecla uma tradições científica que já existia no 
Brasil estivessem excluídos dessas publicações. Ao lado dos temas mais atuais 
apresentavam-se também artigos fundados nos métodos da clinica e da sistemática. 
O resultado desse movimente foi a ampla variedade de temas publicadas em sua 
revista, como se pede constatar per meie de um número reduzido de exemples. O principio 
da relatividade (1920), A filosofia matemática de Peincaré (1920), Sobre um pente 
interessante da teoria matemática de trabalhe muscular (1920), Sismógrafo fundado em 
neve princípio (1920), Indícios da existência de petróleo (1922), Helmintos parasites do 
homem encontrados no Brasil (1919), Dermatologia clínica — formas clínicas de 
granulomatose (1919), Contribuição à sistemática dos Physalepterinae (1920). 
Os temas das publicações da Academia eram bastante variados, apesar de alguns 
fatores restritivos. O máximo de componente permitidos eram cem. Nem a metade deles 
alimentava a publicação da Academia. A grande maioria das publicações era dos próprios 
integrantes da Academia, sendo que a minoria vinda de fora era quase exclusivamente de 
professores dos países considerados centros de produção científica. As revistas publicadasde 1917 (primeiro número) a 1928 foram apenas dez. O total das publicações ai 
apresentadas era pouco mais de uma centena. 
Alguns fatores, entretanto, parecem ter contribuído para a diversidade temática. As 
novidades científicas chegavam ao conhecimento dos estudiosos brasileiros com um ritmo 
compatível com a rapidez e a apelo modernizador com que chegavam as demais novidades 
da cultura européia. 
Embora a atividade de pesquisa de alguns acadêmicos fosse decorrente de sua 
vinculação a um museu ou a um instituto, para outros essa atividade não derivava de seu 
vinculo profissional. Os que se dedicavam à ciência por diletantismo tinham mais liberdade 
para escolher entre os diversos temas científicos ditadas pela ordem científica internacional. 
A atividade individual e não coletiva, como refletem os artigos, sempre assinados por 
um único autor e os temas costumavam ser diferentes para cada individuo que, muitas 
vezes, costumava variar, dedicando-se a objetos de pesquisa diversificados no conjunto de 
sua obra. 
Pede-se ver nos artigos de Henrique Merize, presidente da Academia, assuntos 
ligados a levantamentos fotogramétricos e geográficos, clima e construção de aparelhos 
para sismologia, entre outros. Isso tudo contribuía para que os objetos de estudo fossem 
bem variados. 
A cláusula dos estatutos que restringia as atividades acadêmicas a ciência pura não 
foi um imperativo forte a ponto de excluir artigos como "Indícios da existência do petróleo" 
que se referiam a objetos econômicos bem explícitos, ou sobre dermatologia clinica, bem 
alusivo a uma prestígio de serviço. 
42 
 
 
As ciências sem lugar: fisiologia e relatividade 
 
Algumas teorias novas que tiveram dificuldades de se integrar dentro dos objetivos 
principais das instituições preexistentes, encontraram na Academia um veiculo apropriado 
para sua promoção, como pode ser observado através de dois exemplos, a fisiologia 
experimental e a teoria da relatividade. 
 
Fisiologia 
Em função dessas dificuldades, o laboratório de fisiologia dos irmãos Ozório era em 
sua própria residência. Os resultados destas atividades têm sido considerados marcos 
fundamentais para a instituição da medicina experimental no Brasil, O mais velho dos dois, 
Álvaro Ozório, recorda que, quando cursou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, teve 
um professor João Paulo de Carvalho, que lhe despertou o gosto pela fisiologia, mas que 
logo faleceu e a cadeira ficou "desamparada", pois "não havia então fisiologistas para 
ensinar fisiologia" (Almeida, 1950:9). 
Álvaro Ozório considera que, nem mesmo a partir de 1911, quando passou a ensinar 
na faculdade-tornou-se catedrático em 1925 – as dificuldades no campo da fisiologia 
experimental passaram a ser menores: 
 
chegado ao Rio de Janeiro (da Franca) dei inicio imediatamente aos 
passos necessários para encontrar local e situação de trabalho. Fui 
bater ao laboratório de Fisiologia da Faculdade de Medicina, em pouco 
tempo verifiquei que seria impossível e mesmo inútil tentar qualquer 
coisa nesse meio. Fui procurar Oswaldo Cruz a quem expus as 
vantagens de criar uma seção de Fisiologia no Instituto Manguinhos, 
lembrando lhe o que se fizera no Instituto Pasteur de Paris, onde ele 
próprio havia trabalhado. (...) recebeu com simpatia minha proposta, 
por vezes, pareceu-me prestes a executá-la, outras, ao contrário 
mostrava-se reticente e fatigado. Como quer que fosse, não sendo ele 
contrário, adiava o momento oportuno a Fisiologia parecia 
excessivamente fora do quadro de Manguinhos, como ciência que 
então nada tinha a ver com o estudo das doenças dc que se ocupava 
o Instituto, nem com os meios de combatê-las. A origem utilitária de 
Manguinhos restringia sua capacidade de expansão. (Almeida, 
1950:10) 
 
Assim, a solução foi criar um laboratório em sua residência, que só declinou depois 
de 1927, ano em que foi criado um laboratório de fisiologia no Instituto de Manguinhos, que 
passou a ser dirigido por Miguel Ozório. 
Este, o mais novo dos dois irmãos, foi professor de fisiologia da Escola Superior de 
Medicina e Veterinária de 1917 até 1934. Essa escola havia sido extinta e, em 1916, 
reativada. Embora fosse uma escola superior, na escala de valores da época não tinha o 
43 
 
 
destaque conferido a Escola de Medicina do Rio de Janeiro ou ao Instituto Manguinhos, na 
qual Miguel Ozório não pode realizar as práticas científicas que tanto pretendia. "E bem 
significativo que nenhuma das nossas pesquisas tenham sido realizadas nesses 
estabelecimentos" (Almeida & Almeida, 1939:45), recorda seu irmão, referindo-se as escolas 
superiores em que cada um ensinou. 
Miguel Ozório lamentava que a fisiologia fosse olhada ainda como um repositório de 
curiosidades próprias de quem quer exibir erudição e por outros como o refúgio de esnobes 
desocupados. 
As dificuldades das pesquisas dos irmãos Ozório refletiam o conflito que costuma 
ocorrer no momento de implantação de uma nova atividade científica. As criticas de Miguel 
Ozório as praticas científicas tradicionais, como as “ciências de sistematização” e a “história 
natural” referem-se ao conflito entre o novo e o velho. 
Como se pode observar, Miguel Ozório pretendia que sua atividade fosse portadora 
de maior racionalidade do que uma prática que lhe era anterior: a sistemática. 
As diferentes ciências, dizia ele, 
 
não exigem de seus cultores nem o mesmo esforço de inteligência, 
nem o exercício das mesmas faculdades. Algumas pouco pedem do 
raciocínio, e mais esperam da memória e da capacidade de boa 
observação. Entre estas, estão as ciências de sistematização dos 
seres (...). A História Natural dos seres vivos tem como primeiro objeto 
descrevê-los e classificá-los. 
E, ainda, 
 
a história natural, principalmente em sua parte sistemática exigindo tão 
pouco do raciocínio, é uma das ciências mais ao alcance dos que, sem 
ter, por falta de vocação ou de instrução geral, altas capacidades de 
acompanhar idéias abstratas, são dotados de um grande amor pela 
ciência ou um sincero desejo de serví-la. (Almeida, 1925:209) 
 
Como se pode observar, a promoção dos novos conhecimentos tinha como 
contrapartida julgamentos desfavoráveis a elementos da tradição, embora Miguel Ozório 
procurasse amenizar esses julgamentos: 
 
muitos naturalistas, entretanto, não se limitam a esse fastidioso 
trabalho de catalogação. Uma vez conhecida a espécie, eles se põem 
a campo para estudar os seus hábitos e seus costumes, para verificar 
como os indivíduos se nutrem e se reproduzem, como vivem, em uma 
palavra. Esse trabalho de observação mais complexo exige, não só, 
um esforço intelectual maior, como qualidades de forca de vontade e 
de tenacidade pouco comuns. 
 
44 
 
 
Referindo-se ainda aos juízos negativos que tinha feito anteriormente "do que acabo 
de dizer não se concluirá, espero, que a história natural propriamente dita, não forneça a 
quem for dotado de altas faculdades de espírito, objeto para exercê-las" (Almeida, 
1925:211). 
A idéia de afastamento das práticas tradicionais não se referia apenas história 
natural, “a medicina experimental não é um sistema novo de medicina, mas ao contrario a 
negação de todos os sistemas”. Estas eram citações do afamado fisiologista francês, Claude 
Bernard, que Miguel Ozório transcrevia para dar legitimidade a suas idéias, inclusive do 
método que valorizava: 
 
O sábio completo é aquele que abraça ao mesmo tempo a teoria e a 
pratica experimental — primeiro ele se certifica de um fato; segundo, a 
propósito desse fato nasce em seu espírito uma idéia; terceiro, ele 
raciocina, institui uma experiência, imagina e realiza as condições 
materiais; quarto, dessa nova experiência resultam novos fenômenos 
que são possíveis observar e assim por diante, (Almeida, 1925:144) 
 
E bem significativo dessa idéia de afastamento da medicina tradicional que Miguel 
Ozório tenha pertencido à seção de Ciências Físico-Químicas da Academiae não de 
Ciências Biológicas. 
Desde 1910, quando publicou seu primeiro artigo, ate 1929, fim do período em 
analise, Miguel Ozório de Almeida já havia publicado cerca de cem artigos, inclusive em 
revistas estrangeiras, o que da uma media de cinco por ano. Sua contribuição nas revistas 
da Academia foi marcante, cerca de 20% do total dos artigos sobre ciências biológicas, área 
contemplada com maior numero de publicações. 
Uma das características da atividade de Miguel Ozório era a tentativa de se manter 
alinhado com as mais recentes inovações surgidas no campo da fisiologia. Fundamentava 
suas pesquisas em uma profunda base física e matemática. 
Um dos seus desafios era entender os fenômenos produzidos pela excitação dos 
nervos e dos músculos, entender a relação entre o trabalho realizado pelos músculos e a 
energia consumida para produzi-lo e elaborar uma teoria matemática do trabalho muscular. 
Seu irmão mais velho, Álvaro Ozório, embora tenha publicado cerca de quatro dezenas de 
artigos em varias revistas científicas, não contribuiu significativamente para as publicações 
da Academia. 
As atividades científicas de Miguel Ozório se inspiravam nos estudos que estavam 
sendo realizados na Europa, embora não desconhecesse que no Brasil não era a primeira 
vez que se produziam atividades de fisiologia experimental, conforme relata em um artigo 
que publicou em 1925: D. Pedro II e a construção de um Instituto de Fisiologia no Brasil 
(Almeida, 1925). 
45 
 
 
Atividades de pesquisa visando ao desenvolvimento da Teoria Fisiológica foram 
efetivadas no Laboratório de Fisiologia do Museu Nacional, onde Lacerda e Couty atuaram, 
no século XIX. No Laboratório pesquisava-se a ação do curare nos organismos ou as 
funções do cérebro. Mas, apos a morte de Couty em 1884, transformou-se em laboratório de 
Biologia e as pesquisas lideradas por Lacerda passaram a priorizar outros campos como o 
da patologia e da microbiologia. Portanto, na virada do século, esse núcleo de Fisiologia já 
havia declinado, dando lugar a outras prioridades que emergiam naquele contexto social. 
 
Relatividade 
 
Outra corrente científica introduzida no Brasil, que não se integrava nos objetivos 
principais das instituições existentes, foi a teoria da relatividade, de Einstein. Naquele 
momento, ela ainda não constituía um paradigma. Não havia consenso quanto a sua 
validade científica. 
Na Franca, país que mais vinha influenciando o Brasil no campo da física e da 
matemática, a teoria da relatividade continuava a margem dos temas dominantes da ciência 
(mainstream). Ela suscitava calorosa polêmica entre a minoria que se dedicava a seus 
estudos. Havia os ardorosos defensores da nova teoria, os que a recusavam com 
veemência, os que tinham uma atitude mais ponderada e a maioria que preferia ignorá-la. 
O fato de não haver consenso quanto a sua validade científica dava margem para 
que mesmo em um país cientificamente periférico fosse plenamente legitimo, não só 
conhecê-la e utilizá-la como fundamento positivo para novas reflexões científicas, mas 
também argumentar contra ou a favor de seus fundamentos. 
O impacto na tradição, devido as concepções da teoria da relatividade, não passava 
despercebido no Brasil. O acadêmico Amoroso Costa expressava—se, em 1922, no O 
Jornal, órgão da grande imprensa, da seguinte maneira: 
 
essas concepções inquietaram profundamente os espíritos prudentes, 
os que consideram a ciência como um prolongamento do senso 
comum, capaz de se desenvolver indefinidamente dentro de moldes 
estabelecidos de uma vez por todas. Elas seduziram, ao contrario, 
aqueles que procuram na dissidência de hoje a harmonia de amanhã. 
(Costa, 1981) 
 
Amoroso Costa, Roberto Marinho, Licínio Cardoso, Luiz Freire, enfim, os que se 
dedicaram ao estudo da teoria da relatividade foram membros da Academia Brasileira de 
Ciências. Eles também eram engenheiros e professores da Escola Politécnica do Rio de 
Janeiro, sobretudo professores das disciplinas científicas. Esse exercício profissional fez 
46 
 
 
com que fossem os mais capacitados para entender a nova teoria, que exigia profundos 
conhecimentos de física, matemática e astronomia. 
Mas, o entusiasmo de alguns desses engenheiros por uma nova teoria não 
significava que a maioria dos professores, ou da direção, pretendesse incluir na orientação 
tradicional da Escola outros fins, que divergissem de sua prioridade que era formar 
engenheiros. Entretanto, na Academia, a teoria da relatividade, como ciência pura, se 
adequava bem a suas prioridades. De fato, a teoria da relatividade foi um dos temas 
principais da Academia. 
Considerando os temas relacionados nos índices das revistas da Academia, desde o 
inicio, em 1917, até 1929, pode-se constatar que meia dúzia se refere à teoria da 
relatividade. Esse número pode ser considerado pequeno em relação a outras teorias, como 
algumas da biologia. Entretanto, representa mais da metade, se considerarmos somente o 
campo próprio da teoria da relatividade, a física. 
Mas o destaque que a teoria da relatividade teve nas práticas da Academia não deve 
ser considerado apenas pelo aspecto quantitativo. Ela foi tema principal de eventos 
realizados na Academia, que se evidenciaram, sobretudo pela presença de renomados 
cientistas estrangeiros. 
Em 1922, durante a comemoração do centenário da Independência, o visitante Emile 
Borel, ministrou a conferencia "A teoria da relatividade e a curvatura do universo", precedida 
pelo discurso do presidente da Academia, Henrique Morize, sobre o mesmo tema. 
Mas o impacto maior observou-se durante a visita que Einstein fez ao Brasil, em 
1925. Repercutiu também no meio extracientifico, com ampla divulgação na grande 
imprensa, calorosa recepção pelas sociedades de classe, científicas, profissionais e outras, 
e ainda pelo meio político do país, tendo sido recebido pelo presidente. A conferência que 
foi proferida pelo cientista foi registrada na revista da Academia sob o titulo “Observações 
sobre a atual teoria da luz". 
Outro acontecimento que aqueceu os debates da Academia foi a polêmica que se 
estabeleceu sobre a teoria de Einstein, logo depois que ele partiu, originado pelas criticas 
publicadas por Licínio Cardoso. Registros sobre essa polêmica ficaram nas atas da 
Academia. 
 
Nova ordem científica 
 
Localizada em um país cientificamente periférico, não era novidade que as atividades 
científicas da Academia Brasileira de Ciências fossem em grande parte motivadas pela 
busca de identidade com a ordem científica em centros de produção e difusão da ciência. 
47 
 
 
Como se sabe, esse desejo não é prerrogativa dessa instituição nem do momento 
em que ela esta sendo analisada. Sua concretização, entretanto, esbarra em certas 
dificuldades, pois os elementos que se deseja introduzir de um contexto cultural em outro 
também podem encontrar resistências por parte deste, já que modificam a hierarquia dos 
Valores existentes, ou seja, modificam as relações de saber e poder. 
No contexto que estamos analisando, já havia uma certa tradição científica nos 
museus, nas escolas de medicina e de engenharia, nos serviços geológicos etc., quer dizer, 
havia uma pratica que representava a ciência no país, embora, é claro, essa pratica não 
fosse exatamente idêntica a que se observa nos dias de hoje. 
As inovações representavam um apelo ao ’progresso’, mas introduzi-las nesses 
estabelecimentos significava que eles teriam de reformular suas prioridades e com isso por 
em risco a estabilidade de suas praticas já tradicionais. Isso não ocorria no caso da 
Academia, não só porque era um novo estabelecimento cientifico, portanto suas praticas 
não estavam cristalizadas, mas também porque, sendo criada por estudiosos provenientes 
de varias instituições, ela era resultado de varias tendências científicas. 
Além disso, ela incluía entre seus integrantes mais destacados os descontentes comum aspecto que consideravam dominante no contexto local: o ’utilitarismo'. A atividade 
científica na Academia, portanto, contou com aqueles que estavam inclinados a afastar-se 
das exigências derivadas da tradições e alinhar-se mais rapidamente com os apelos da 
'nova ordem internacional', em outras palavras, com os imperativos do processo de 
“mundialização da ciência”. 
As reivindicações dos acadêmicos também eram feitas em nome da modernização e 
do progresso e nesse aspecto eram compatíveis com o movimento mais amplo que se 
observava no contexto da época, mas esta compatibilidade não era absoluta. Como vimos 
no discurso dos promotores da ciência pura, o progresso e a modernização não prescindiam 
dos ‘valores ideais’ e não deviam ser considerados em um referencial puramente material. 
Essa proposta pode parecer ambígua, pois esses discursos pela ciência pura 
costumavam enfatizar os benefícios 'utilitários’, que decorreriam espontaneamente de sua 
pratica, mesmo que esta não os priorizasse. 
Entretanto, essa ambiguidade desaparece se considerarmos que, com essa ênfase, 
os acadêmicos procuravam obter maior reconhecimento para sua proposta por parte de um 
contexto social que acreditavam estar exclusivamente voltado para a expectativa do 
consumo e do conforto material. 
A busca de opiniões favoráveis para a ciência pura, feita dessa maneira, que já se 
observava nos primeiros discursos da Academia, era indicio de que a restrição à ciência 
com fins utilitários teria limites pouco rígidos. As teorias, como as que refletiam sobre os 
indicadores geológicos para a prospecção do petróleo ou sobre materiais explosivos, são 
48 
 
 
bem indicativas de aplicações, pelo menos mais do que teorias como a relatividade. Em 
virtude desses precedentes torna-se compreensível que a restrição aos fins utilitários tenha 
sido retirada dos estatutos da Academia em 1929. 
Afastando-se das exigências estritamente 'utilitárias', que julgavam ser uma 
característica dominante no contexto local, os acadêmicos obtiveram um certo grau de 
autonomia em relação aos imperativos da sociedade extracientífica. Reunindo-se na 
Academia, encontravam apoio para realizar atividades que não se enquadravam 
completamente nas prioridades determinadas pela instituição científica local preexistente. 
Estas atividades ampliavam o alinhamento com as novas tendências da 'ordem científica 
internacional’. 
Esses acontecimentos contribuíram para a consolidação da comunidade científica no 
país, ou melhor, para formar uma comunidade que podia ser identificada pela autonomia de 
seus valores em relação a outros grupos, por isso mesmo sua expectativa em relação a 
ciência e sua idéia de progresso e modernização apresentava algumas diferenças em 
relação as expectativas do restante da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
 
TEXTO Nº 05: A CIÊNCIA SOB OLHARES EVOLUCIONISTAS. A CIÊNCIA NO MUSEU 
PARAENSE (1894-1914) 
 
Extraído do livro: Múltiplas Faces da História das Ciências na Amazônia. 
Autora: Regina Cândida Ellero Gualtieri 
 
 
Os museus de História Natural geralmente são apontados como um local adequado 
para se compreender a essência das ciências naturais no século XIX, pois são considerados 
os principais loci de atividades realcionadas a essas ciências. De fato, no Brasil, no Brasil, 
nessa época, esses museus foram o principal espaço institucional dos profissionais que, 
então, coletavam e classificavam objetos e seres da natureza, pesquisavam a história da 
vida, analisando fósseis e artefatos da cultura pré-histórica. O Museu Nacional do Rio de 
Janeiro iniciou uma tradição naturalista, ainda no Império, continuada pelos museus 
estaduais, criados no início do período republicano, entre os quais, destacam-se o Museu 
Paraense Emílio Goeldi e o Museu Paulista. 
 O Museu Paraense, nos anos iniciais de seu funcionamento, tinha entre suas 
finalidades, constituir-se como um museu dedicado a História Natural, Etnografia e 
Arqueologias locais. Desde sua idealização, em 1866, pela Sociedade Filomática Paraense, 
entidade particular, os propósitos do Museu eram os de estudar a fauna, a flora, a geologia 
e a geografia do Brasil, especialmente da Província do Pará, além do indígena amazônico. 
Seu idealizador, o autodidata interessa em Geografia, História e Ciências Naturais, 
Domingos Soares Ferreira Penna (1818-1888)), pretendia, ainda, que a instituição 
realizasse funções educativas, por meio de exposições, conferências e aulas de Ciências 
Naturais aos interessados e alunos dos colégios. 
 Instalado oficialmente em 1871, nesse período inicial, além de seu mentor, contou 
com colaboradores que ajudaram a organizá-lo, e mantê-lo durante o Império. Excetuando-
se algumas participações de estrangeiros como Edgard Layard, consul britânico no Pará e 
ornitólogo que cooperou com o Museu entre os anos 1872 e 1873, os calaboradores eram 
brasileiros e, na sua maioria, médicos que se interessavam por história natural ou 
antropologia e arqueologia, com participação política na sociedade araense. As atividades 
desse grupo abrangiam, além da realização de alguns estudos, o fornecimento de animais 
conservados e artefatos indígenas, muitas vezes , acompanhados de notas explicativas, que 
eles próprios preparavam, com a finalidade de serem expostos no Museu. 
 O levantamento realizado por Cunha(1989:20-68) revela que os trabalhos científicos 
produzidos, incluindo os de ferreira Penna, foram, em geral, publicados em jornais e revistas 
locais. Constam estudos sobre pássaros, plantas medicinais, geografia e arqueologia da 
50 
 
 
região Amazônica, o que confirma a vocação do Museu, reafirmada, posteriormente, por 
Emílio Goeldi, para ser uma entidade de caráter regional. Excetuando-se a obra de Ferreira 
Penna, tais trabalhos constituíram estudos esparsos, sem continuidade nas publicações 
subseqüentes dos autores. Parecem traduzir interesses circunstanciais e não o resultado de 
um programa deliberado de trabalho, elaborado pela instituição. 
 Essas duas décadas de funcionamento são referidas como tumultuadas devido entre 
outros fatores, aos escassos recursos disponíveis e às mudanças de direção. Mal começou 
a funcionar, ferreira Penna, em 1872, pediu demissão do cargo de diretor, motivado, 
segundo Cunha(1989), por intriga criada pelo poeta Júlio César Ribeiro de Souza, que 
tencionava dirigir a Biblioteca Pública, cargo que ferreira Penna também acumulava. Daí por 
diante, “as administrações provinciais limitaram-se apenas a manter precariamente o 
Museu como um simples mostruário de curiosidades amazônicas. Penna voltou a dirigi-lo 
em 1882, mas, dois anos depois solicitou licença para tratamento de saúde e não mais 
reassumiu o cargo. O Museu manteve-se em funcionamento até 1888, ano em que, por 
decisão do governo provincial, foi fechado(pag. 27 e 29). 
 No entanto, logo no início da República, foi reaberto e, em discurso pronunciado 
quando de sua reinauguração, em maio de 1891, o Diretor Geral da Instrução Pública do 
Pará, José Veríssimo, justificou a reabertura, salientando os vários e essenciais papéis de 
um museu. Ressaltou a função de produtor e divulgador de conhecimento que permitissem 
a exploração científica das riquezas da Amazônia. Deixou claro que manter um museu que 
recolhesse e tornasse disponível para estudos, elementos minerais, da fauna e flora da 
região, era “quase um dever da nossa civilização”. Destacou também a necessidade de a 
instituição se envolver com as questões relacionadas à origem do autóctone das Américas. 
E, atento para a relevância científica que o tema inegavelmente assumia, naquele momento, 
observou esperançoso, “quem sabe, senhores se, aqui não está a chave de um dos 
enigmas mais excitantes da curiosidade científica destes tempos: a origem do homem 
americano” (Boletim do Museu Paraense de História Natural e Etnografia, BMP,1894:6).Identificou, igualmente, outras duas funções da entidade, “a instrução popular”, 
associando-a à pesquisa científica. Um museu, observou, “é uma eloqüente, instrutiva e 
interessante, para falar a linguagem pedagógica, lição de coisas” e “para que realmente o 
seja, não se dispensa também o arranjo sistemático das coleções, classificação rigorosa dos 
objetos, dando aos visitantes ao mesmo tempo uma noção exata, clara e precisa de cada 
coisa exposta e da classe a que pertence, o seu nome, a sua utilidade, a sua origem ou 
qualquer outro elemento necessário ao seu conhecimento”(p.7). Valorizou, por fim, a 
dimensão simbólica da instituição, ao grifar a importância, para uma nação, das atividades 
do espírito a par das econômicas. 
51 
 
 
 No final do século XIX, nossas elites buscavam transformar em realidade o sonho de 
ser moderno e civilizado e as instituições científicas, como os museus, se tornaram um 
importante elemento para essa realização, não só porque produziam uma ciência que podia 
contribuir para atender a interesses e necessidades econômicas e sociais daquele 
momento, mas também porque produzir ciência já era um indicador de modernidade. 
 O discurso de Veríssimo revela, portanto, não apenas sua familiaridade com as 
concepções atuais, para a época, referentes ao papel de um Museu, como também, dá 
mostras da expressão local do ideário republicano, herdado do Império, de valorização da 
ciência e da educação. 
 Em fins de 1893, o então governador do Pará, Lauro Sodré, descontente com o 
desempenho do Museu, solicitou a José Veríssimo, que já havia deixada a Diretoria da 
Instrução Pública, para que convencesse Emílio Goeldi, também recém-saído do Museu 
Nacional do Rio de Janeiro, a reorganizar o Museu(Cunha,1986:9). 
 O naturalista não tardou a aceitar a tarefa e, no começo de 1894, assumiu como 
diretor, reiniciando as atividades da instituição. Em carta-circular dirigida aos 
correspondentes do Museu, datada de 22 de março desse mesmo ano, elogiou a iniciativa 
do governador, assinalando que tal gesto era conseqüência “da autonomia criada pela 
República para os diversos Estados do Brasil”, condição reconhecida como “em contraste 
com a situação lamentável que vigorava durante o Império, onde Sul e Norte tinham por 
assim dizer de pedir no Rio de Janeiro autorização para qualquer progresso”(BMP,1894:8). 
 Procurou, assim, vincular a proposta ao ideário republicano de descentralização 
administrativa, parecendo ignorar o fato de que o embrião do Museu já estava implantado, 
depois de ter sido concebido com vários dos mesmos princípios que ora propugnava. A idéia 
de uma certa ruptura com tudo quanto o Império era importante para os republicanos, e 
Goeldi parecia não desconhecê-la. Fez questão de reproduzir um trecho de carta em que 
Lauro Sodré frisou com letras maiúsculas que a missão do diretor não era a de reformar a 
instituição, mas sim criar um Museu, pois, nas palavras do governador, “o que temos nem 
de Museu merece o nome, tão pouco é, tão desalinhado e fora de regra e longe da ciência 
anda aquilo tudo que dói ver o contraste entre esta tamanha pobreza acumulada e a enorme 
riqueza que anda à mão no seio da natureza aqui”(p.9). 
 As finalidades da instituição, o novo diretor as apresentou, nessa mesma carta, 
esclarecendo que julgava poder interpretar bem nitidamente as intenções do governo 
Estadual, compreendendo que os trabalhos do Museu deveriam se voltar com igual atenção 
para a História Natural do Amazonas e para os estudos dos objetos de natureza indígena. 
Deixou ainda explícito que a Zoologia e a Botânica estariam no alto de seu programa de 
trabalho. Registrou também a possibilidade de a instituição realizar estudos aplicados, isto 
é, voltados para questões de interesse econômico. Citou, como exemplo, estudos sobre os 
52 
 
 
peixes do Amazonas e da costa que, segundo Goeldi, era um postulado que desde o 
princípio se impunha pela sua importância intrínseca (BMP,1894:8,9). Por fim, em outra 
oportunidade, ressaltou o papel do Museu como “bela e importante social e civilizadora, 
resumindo-o como um templo para os bens intelectuais” (BMP,1897:1 e 2). 
 Foi, portanto, com a perspectiva de torná-lo “lição de coisas” e “templo de 
intelectuais” que Goeldi iniciou as atividades em 1894. 
 
Em duas décadas, a ascensão e a crise 
 
“Não almejamos nem o elefante da Índia, nem a girafa do continente 
negro. Queremos o que é nosso, o amazônico, o paraense”(E. Goeldi). 
 
 A estrutura do Museu, nesse momento, contou com as principais divisões das 
instituições congêneres. Dispunha, conforme determinava o regulamento(BMP,1894:22-27), 
de quatro seções: 1ª de Zoologia e ciências anexas, 2ª Botânica e ramos anexos, 3ª 
Geologia, Paleontologia e Mineralogia, 4ª Etnologia, Arqueologia e Antropologia, todas 
mantidas após a reorganização de 1902. Para integrá-las, foram contratados alguns 
cientistas, todos europeus. 
 Associados às 1ª e 2ª seções, foram planejados dois anexos, o Jardim Zoológico e o 
Horto Botânico, destinados, ao mesmo tempo, à instrução pública e à realização de 
pesquisas experimentais. Goeldi valorizava o papel pedagógico desses espaços, chegando 
a afirmar que o visitante, ao examinar os exemplares vivos do Horto, por exemplo, lucraria 
muito mais do que lendo manuais de Botânica, caso existissem(BMP,1900:12). 
 Na montagem dos anexos, o diretor segui as mesmas orientações que imprimiam o 
caráter regional ao Museu, e foi enfático ao deixar claro que não imitaria os grandes jardins 
e hortos do “além-mar”. E, numa tentativa de rebater possível críticas, asseverou 
 
“não será possível que eu(que não nasci nesta terra e que hoje me 
vejo aqui por nenhum outro motivo senão o amor à ciência e a vontade 
de criar aqui na Amazônia um sólido reduto para ela) tenha de mostrar 
ao povo paraense, que a natureza que nos cerca , tem material de 
sobra , para encher condignamente tanto um jardim Zoológico como 
um Horto Botânico”(BMP,1895:221). 
 
 No entanto, nos registros de Goeldi, fica perceptível que, “do amazônico, do 
paraense”, no “sólido reduto da ciência” entrariam apenas os bicho e as plantas. Tudo o 
mais seria construído e concebido com base em referenciais europeus, a começar pelo 
modo de exposição dos animais no jardim Zoológico, que Goeldi confessou acompanhar as 
tendências dos estabelecimentos congêneres do Velho Mundo(BMP,1900:7). 
53 
 
 
 O Museu incluiu entre suas atividades, a realização de Conferências que, de acordo 
com o regulamento, constituíam “um dos melhores meios de pôr o Museu em contato com o 
público e patentear a sua vitalidade”. No entanto, ocorreram sessões públicas apenas no 
início do funcionamento do Museu; há registro de ocorrência de seis conferências durante 
os anos de 1896 e 1897, todas foram publicadas no Boletim, na íntegra ou resumidas. 
 Pelas anotações de Goeldi, fica perceptível que tais conferências, a princípio, não 
conseguiam chamar a atenção do público. Contudo, em 1887, comentou,”com 
desvanecimento”, que a freqüência dessas conferências tinha se tornado “superior” às 
expectativas do Museu e concluiu: 
 
“conseguimos despertar o interesse para a nossa causa e converter 
em calor o gelo do indiferentismo, que nos dificultou no princípio a 
obra civilizadora” (BMP,1900:44). 
 
 Mesmo assim, depois de 1897, essas atividades foram descontinuadas, por razões 
que não foram explicitadas. Várias devem ser as razões que explicariam essa dificuldade 
em conseguir com que o público em geral apreciasse as preleções científicas, mas a 
crescente especialização da ciência certamente concorreu para essa dificuldade. 
Hobsbawm (1988), analisando as profundas transformações na “paisagem intelectual” 
ocorrida entre 1875 e 1914, considera que é a partir desse momento que a ciência se tornou 
“não apenas algo que poucas pessoas podiam entender, mas também algo de que muitos 
discordavam, embora crescentementereconhecessem sua dependência em relação a 
ela”(p. 344) 
 Além das conferências, a publicação de uma revista científica completaria as 
atividades de divulgação dos trabalhos científicos realizados pelo Museu. Segundo Goeldi, 
tal publicação deveria conter trabalhos originais realizados pelos pesquisadores da 
instituição ou por cientistas que com ela mantivessem contato, afora os estudos pretéritos 
que fossem julgados pertinentes e merecessem divulgação (BMP,1894:II). 
 O primeiro volume da revista foi editado em 1894 sob a designação Boletim do 
Museu Paraense de História Natural e Etnografia. Em 1900, contudo, em decorrência da 
alteração do nome da própria instituição que passou a denominar-se Museu Goeldi de 
História Natural e Etnografia, o periódico foi identificado por Boletim do Museu Goeldi(Museu 
Paraense) de História Natural e Etnografia. Havia, ainda, a previsão de um outro tipo de 
publicação – Memórias do Museu Paraense – em formato maior, para apresentar estudos 
devidamente ilustrados, conforme determinava o Regulamento do Museu. 
 Analisando o conjunto dos textos do Boletim e os critérios de distribuição dos 
exemplares, não é impertinente admitir que Goeldi pretendia fazer dele um órgão de ampla 
divulgação científica em Ciências Naturais para brasileiros, não necessariamente 
54 
 
 
especialistas. Basta uma olhada no conteúdo de vários textos publicados para constatar que 
abundam textos informativos breves ou compilações de obras científicas de autores 
estrageiros. 
 O diretor evitou definir a periodicidade do Boletim, segundo ele, para não fazer 
“promessas, que finalmente talvez se mostrassem praticamente irrealizáveis”(BMP,1894:III). 
No entanto, apesar do não compromisso com a periodicidade, em uma década, a instituição 
publicou mais de uma centena de trabalhos. Nos anos subseqüentes à saída de Goeldi, 
contudo, o número de publicações caiu sensivelmente, um dos sinais de que o período de 
ouro desse Museu havia chagado ao fim. 
 O Museu esteve sob a administração de Goeldi até o início de 1907, ano em que 
deixou o Brasil para voltar para a Suíça. O fato é que Goeldi administrou o Museu do Pará 
durante a denominada belle époque amazônica, período compreendido entre 1880 e 1910, 
em que a comercialização da borracha extraída da região ampliou-se significativamente, 
com a expansão da economia industrial. Dauo (2000) lembra que “a descentralização 
administrativa promovida pela instauração da república deixava para os governos dos 
estados as receitas advindas da exportação, de modo que, no Pará e no Amazonas, a 
exportação da borracha gerava uma fase de grande prosperidade das finanças estaduais”. 
Belém modernizou0se, urbanizou-se, ampliando sua infra-estrutura com a criação de 
escolas, hospitais, asilos; e as “quase 10.000 pessoas” que aí viviam dispunham de 
“instituições culturais e recreativas, religiosas e laicas”. Dentre essas instituições, 
encontrava-se o Museu, cuja visitação era incluída entre as atividades dominicais que 
“distraiam e educavam os visitantes”, sugeridas pelos periódicos locais. Tais atividades 
juntamente com outras, constituíam “motivos de orgulho dos políticos envaidecidos de suas 
iniciativas”(p.15,29,48 e 49). De fato, a atenção dispensada pelas administrações estaduais 
ao Museu foi, várias vezes, acusadas por Goeldi em seus relatórios, que deixavam 
explícitos o fato de que vinha sendo atendido, pelas autoridades em suas solicitações. 
 Diferentemente, Jacques Huber, o sucessor de Goeldi, assumiu a direção, em 1907, 
quando as condições de comercialização da borracha amazônica começavam a mudar, o 
preço desse produto caía, em função da concorrência provocada pela produção asiática, e o 
fim da belle époque se avizinhava. 
 A crise financeira do Estado atingiu, evidentemente, o andamento da instituição, mas 
ela ainda era considerada importante e, nessa segunda administração, o significado 
pragmático de sua atuação parece ter superado o sentido simbólico, tal como referido por 
José Veríssimo. Os serviços do Museu passaram a ser acionados para colaborar na 
cruzada empreendida pela comunidade amazônica para enfrentar a progressiva perda do 
monopólio da venda da borracha. O enfrentamento era de duas ordens: a econômica, 
propriamente dita, e a científica. 
55 
 
 
 Houve várias tentativas para introduzir mecanismos que pudessem intervir no 
mercado da borracha. Daou (2000) menciona, por exemplo, a solicitação do governo do 
Pará ao governo federal para que instalasse agências do Banco do Brasil em Belém, com a 
finalidade de atuarem “como reguladoras do mercado da seringa”, e o acordo visando à 
estabolização dos preços “através da formação de estoques”, realizado por representantes 
do Amazonas e do Pará. O enfrentamento científico da questão envolveu o investimento em 
estações experimentais, com a contratação de cientistas estrangeiros(p. 65 e 66). 
 Dos cientistas, esperava-se que pudessem verificar, entre outros aspectos, as 
condições necessárias para aumentar o rendimento dos seringais. E aqui entrou a 
participação do Museu. Além de preparar mudas e sementes de seringueiras, o diretor da 
instituição era um estudioso e pesquisador dessas plantas. 
 No início de 1912, Huber foi para a Ásia, a pedido do governo do Estado, avaliar as 
“condições atuais da indústria gomeira nos países visitados” e, ao mesmo tempo, estudar “o 
lado botânico da questão, principalmente no que diz respeito à aclimatação da Hervea no 
seu novo meio” (Huber, 1912:1). 
 O investimento em atividades voltadas para estabilizar o mercado da borracha se 
intensificou ainda mais, e em 1912, informa Daou (2000), o governo federal aprovou o 
“projeto de Defesa Econômica da Borracha”. Entretanto, a iniciativa do governo brasileiro, 
“para as elites locais, veio com atraso” e, “como as demais ações empreendidas, não 
influiria no mercado internacional da borracha” e “em 1916, o governo liquidou com os 
empreendimentos no setor” (p. 66). 
 A administração de Huber se encerrou em plena crise, em 1914, com a súbita morte 
do diretor e, nos anos seguintes, a instabilidade institucional cresceu ainda mais, agravada 
pelas críticas condições financeiras do Estado. Esse período, no entanto, não será 
analisado no presente trabalho. 
(...) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
56 
 
 
TEXTO Nº 06: O PAPEL DOS ENGENHEIROS PARAENSES: DO SANEAR AO 
NUCLEAR. 
Extraído do livro: Múltiplas Faces da História das Ciências na Amazônia. 
Autor: Ruy Guilherme Castro de Almeida 
 
 
1. Introdução 
 
 Até 1903, o Museu Paraense Emílio Goeldi era o espaço de concentração de 
atividade científica no Pará. A trajetória histórica desse museu de História Natural foi 
influenciada pelo apogeu e a decadência do principal produto de exportação da Amazônia: a 
borracha. Contrastando com a situação econômica, nas duas primeiras décadas do século 
XX surgiram novos espaços onde as atividades científicas eram praticadas. Referimo-nos às 
instituições de ensino superior. Foram criadas, no Estado do Pará, nesse período a 
Faculdade de Direito(1903), Escola de Farmácia(1904), Faculdade de Odontologia(1914), 
Escola de Agronomia e Veterinária(1918), Faculdade de Medicina e Cirurgia(1919) e Escola 
de Química Industrial(1920)(Almeida,1997:13). No início dos anos 30 surgiu a Escola de 
Engenharia do Pará, que será abordada posteriormente. É a partir deste contexto que o 
presente estudo pretende analisar as expectativas de modernização de uma categoria 
profissional em particular: os engenheiros. O fio condutor da abordagem, portanto, será o 
papel dos engenheiros paraenses no sentido de perceber as mudanças paradigmáticas 
embutidas nos discursos desses profissionais, na primeira metade do século XX. 
 
2. Os discursos dos engenheiros na sociedade brasileira no período republicano. 
 
Os engenheiros tiveram um importante papel na modernização ocorrida no Brasil nasultimas décadas do século XIX, principalmente com a mudança do Império para a 
República. O novo regime suscitou um clima de euforia pelo progresso e modernização, 
segundo Krofp 
 
"No apagar das luzes do Império, a palavra de ordem era modernizar-
se, viabilizar o ingresso da nação brasileira no círculo da "civilização", 
adequando o país aos horizontes dos "novos tempos"( Kropf, 1994: 
202). 
 
Esses novos tempos citados por Kropf seriam alcançados principalmente pela ação 
do poder ilimitado da ciência, considerada elemento chave para a “promoção de um saber 
objetivo e eficaz sobre a realidade, um conhecimento tido como infalível no sentido de 
57 
 
 
apontar os caminhos seguros para o bem-estar moral e material da sociedade"( Kropf, 1994: 
204). Neste contexto o engenheiro se apresentava como a categoria profissional mais 
prestigiada, não sendo mero construtor de obras, mas desempenhava “o papel de 
articulador do conhecimento acumulado com a rapidez do desenvolvimento das ciências 
físicas e matemáticas”(Honorato,1996:16). 
Nesse momento os engenheiros se constituíam, assim, numa elite intelectual e 
científica e se articulavam com a classe dos industriais na “busca de soluções não só 
relativas aos problemas específicos de suas atividades, mas também relacionadas à 
modernização brasileira”(Honorato,1996:31). Ou seja, os engenheiros passaram a participar 
da propagação de um projeto de desenvolvimento nacional, ocupando cargos técnicos 
estratégicos no aparelho estatal. Segundo Honorato, essas ações tinham como alvos 
principais “as condições de higiene e saneamento das habitações urbanas, tendo por base 
os estudos de Climatologia, Topografia e Meteorologia”(Honorato,1996:46). 
Outros autores consideram que as atividades principais dos engenheiros incluíam 
além das citadas anteriormente, as ferrovias, siderurgia, portos e canais. Alguns desses 
profissionais dedicavam-se ao lado de suas práticas de engenharia, às pesquisas 
científicas, tais como os que fundaram a Academia Brasileira de Ciência, como Henrique 
Morize, Manoel Amoroso Costa e Lélio Gama. Interessa para o presente estudo saber de 
que maneira esses temas influenciaram os engenheiros paraenses. 
 
3. O papel dos engenheiros paraenses antes da criação da Escola de Engenharia do 
Pará. 
 
 Uma visão panorâmica sobre as atividades da engenharia no Pará foi feita pelo 
jornalista Oswaldo Coimbra. Nesse trabalho, Coimbra abordou a participação dos 
engenheiros militares, no período de 1799 a 1819, com foco centrado na figura de Antonio 
Baena. Nosso enfoque é mais recente. Destacaremos alguns engenheiros paraenses 
formados, principalmente, a partir da última metade do século XIX. A maioria era formada 
pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Ocupavam cargos importantes na administração 
estadual, notadamente nas secretarias de obras públicas e em comissões, como a de 
saneamento. 
O papel desempenhado pelo engenheiro paraense Manoel Odorico Nina Ribeiro é 
relevante. Nina Ribeiro elaborou, entre 1883-1886, “o plano urbanístico que orientou a 
expansão e modernização da cidade de Belém na virada do século XIX para o 
XX(Duarte,1997:1). O plano, segundo Duarte, era ideologicamente marcado pelo liberalismo 
político e pela consciência higienista e foi implantado na administração de Antonio José 
Lemos, que foi o “promotor de realizações urbanas, remodelando e ampliando 
58 
 
 
significativamente a cidade a partir das diretrizes contidas no projeto concebido por Nina 
Ribeiro”(Duarte,1997:1). 
Os temas de higiene e saneamento faziam parte da agenda de ações do executivo 
municipal se apresentado como uma condição indispensável para a modernização da 
cidade, na qual se inserem os serviços de engenharia como se pode observar nas palavras 
do intendente, em 1902 
 
“a abertura de novas avenidas, para fazer penetrar o ar e o sol em 
bairros e quarteirões insalubres; o calçamento em larga escala e a 
conservação das vias públicas, para impedir a infecção dos solos(...) 
tudo isto indica em suas grandes linhas as condições fundamentaes 
do saneamento em Belém e revela que na administração do município 
um dos meus maiores cuidados se tem prendido á salubridade publica 
e á hygiene geral da cidade”(Lemos apud Duarte,1997:69) 
 
As questões do saneamento estavam associadas tanto à saúde como em relação à 
estética da cidade, como se percebe durante a inauguração de uma usina de cremação para 
a incineração completa de lixo, em 1904 
 
“(...) foram attendidas de modo conveniente e na hora opportuna todas 
as necessidades d’esta capital, quanto aos trabalhos de seu 
embelezamento e aos serviços de saneamento imprescindíveis. A 
cidade torna-se cada dia não só mais bella, porém mais sadia”(Lemos 
apud Duarte,1997:69). 
 
A cidade de Belém, no começo do século XX, ainda não dispunha de uma escola de 
formação de engenheiro, porém, já dispunha de um Clube de Engenharia. Fundado em 
1919, sob a direção do engenheiro Henrique Américo de Santa Rosa, congregou 
“engenheiros civis e industriais, arquitetos, agrônomos e agrimensores radicados em Belém 
com a finalidade de estudar os problemas próprios da engenharia e da indústria 
empregando os meios a seu alcance em prol da prosperidade”(Barbosa,1979:03). 
 Esse relacionamento entre os engenheiros e os industriais nos remete ao papel 
social exercido por esses profissionais. Um dos caminhos, é observar suas relações com 
alguns temas que eram pertinentes até metade do século XX, tais como: higiene, 
saneamento, ferrovias e portos. A questão ferroviária estava fortemente presente como 
projeto para o desenvolvimento do Estado, como podemos verificar na Mensagem 
Governamental de Lauro Sodré 
 
“entre os melhoramentos que podem grandemente beneficiar o 
Estado, concorrendo valiosamente para desenvolver sua agricultura 
considero a construção do ramal da Estrada de Ferro para Salinas, o 
qual, pondo aquele ponto em comunicação com a Capital, dará além 
59 
 
 
disso à população uma excelente cidade balneária. Ser-nos-á presente 
no correr da atual sessão o relatório da comissão que executou 
aqueles estudos sob a direção do hábil engenheiro paraense Dr. 
Manoel Odorico Nina Ribeiro, Diretor da Estrada de Ferro de 
Bragança(Sodré,1892:25) 
 
Souza Castro, Governador do Pará, em Mensagem apresentada à Assembléia 
Legislativa, em 1921, destacava o papel da ciência para a promoção do saneamento e da 
higiene, nesses termos “(...) O primeiro dever que se nos impõe, em bem desta terra, é 
promover-lhe o saneamento. Sem a solução deste problema, tudo o mais é aleatorio” 
(Souza Castro, 1921:46). Na mesma Mensagem, lembrou que, em 1912, quando ainda era 
deputado, apresentou um projeto 
 
“creando um serviço sanitario especial, de combate `as epidemias do 
impaludismo e da lepra(...) Precisamos fazer hygiene: é o problema 
do Pará; é o problema da Amazonia. Mas precisamos fazer hygiene 
scientifica e com probidade profissional executada(...) A hygiene tem 
caminhado consideravelmente, não só pelo progresso das sciencias, 
de que é tributaria, mas também porque acompanha a evolução 
social” (Souza Castro, 1921:47). 
 
 Conforme salientamos anteriormente os engenheiros paraenses foram formados em 
outros centros, principalmente na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Somente a partir de 
1931 é que o Estado contaria com uma escola formadora desses profissionais: a Escola de 
Engenharia do Pará. 
 
4. O papel dos engenheiros paraenses após a criação da Escola de Engenharia do 
Pará. 
 
 As razões para a criação de uma Escola de Engenharia no Pará podem ser 
percebidas pelas declarações de alguns participantes contidas na Ata da sessão de 
fundação, no dia 10 de Abril de 1931. O engenheiro Paulo Eleutherio Álvares da Silva, 
evidenciou as circunstâncias em que a Escola se fundava, enaltecendo o apoio de 
instituições, classe profissional, poder público e as abrangências de sua atuação“sob os auspicios do Instituto Historico e Geografico, da classe dos 
engenheiros paraenses e do proprio governo de Intervenção Federal 
neste Estado e para servir na região(...) comprehendendo não 
somente o Pará, mas os Estados limitrophes, e mais proximos, assim 
como os paises (...) da Amazonia”(Ata,10.04.1931). 
 
60 
 
 
Mas a justificativa concreta para a criação da Escola estava relacionada com a 
presença de empresas no Estado e a necessidade de preparar mão de obra local que 
atendesse os interesses industriais, segundo Eleutherio 
 
“na phase actual, em que os horizontes da civilização no Extremo 
Norte estão condicionados aos esforços e recursos da iniciativa de 
Companhias extrangeiras, em especial a Empresa “Companhia Ford 
Industrial do Brasil” que precisará amanhã, de technicos brasileiros 
para as suas industrias, a idéa da creação da Escola não germinava 
de todo ingrato”(Ata,10.04.1931) 
 
 
A afirmação de Eleutherio foi compartilhada por Manoel Leônidas de Albuquerque, 
que justificou auspiciosamente a necessidade da fundação da Escola para favorecer as 
indústrias americanas que desejassem ou já estivessem operando na Amazônia, 
desenvolvendo as nossas possibilidades em vários ramos(Ata,10.04.1931). 
Segundo a mesma Ata, uma comissão foi formada para fazer a comunicação da 
fundação da Escola para o Interventor Federal no Estado, Joaquim de Magalhães Cardoso 
Barata, ao mesmo tempo em que a diretoria da nova Escola tomava as providências 
necessárias para o funcionamento de suas atividades acadêmicas. A relação entre a direção 
da Escola e o poder público seria uma constante na vida administrativa da instituição, pois 
mesmo sendo de iniciativa particular, nem por isso deixou de ser prestigiada pelo Governo 
Estadual. O Interventor Federal, Coronel Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, fez 
doações patrimoniais e reconheceu os títulos e diplomas expedidos pela nova Escola, além 
de nomear técnico para atuar na fiscalização estadual. A Escola, pela sua Congregação, em 
reconhecimento à doação governamental, aprovou o título de Fundador Honorário para o 
Interventor(Cavalcante,1985:324). 
A Escola de Engenharia do Pará foi encampada pelo Governo Estadual e continuaria 
obediente às disposições regulamentares da legislação federal, sendo seu modelo 
acadêmico regido pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro (Barata,1935). 
Depois de marchas e contramarchas, em 1941, o Governo Federal concedeu o 
reconhecimento do curso da Escola, equiparando-o aos das demais congêneres federais. 
Em 1957, foi incorporada pela Universidade do Pará. 
Pode-se destacar também o artigo do engenheiro paraense formado na Escola 
Politécnica do Rio de Janeiro Abílio Augusto do Amaral "Pelo saneamento de Belém", 
publicado na Revista do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1935. Nele, Amaral 
traçou as atuações de dois importantes engenheiros paraenses nascidos e formados no 
século XIX: Henrique Américo Santa Rosa e José Coelho da Gama e Abreu. Antes, Amaral 
61 
 
 
abordou alguns temas dominantes da engenharia dentro da realidade da cidade de Belém. 
Sobre os mesmos, assim se expressou Amaral 
 
"elaborei um plano de remodelação para a cidade de Belém, de modo 
a torná-la moderna, progressista e imune de todas as endemias que 
por lá proliferam, por causas varias, e estudar as direções mais 
convenientes a dar-lhe mais expansão , quer na sua parte comercial, 
quer na residencial, no sentido de oferecer aos seus habitantes maior 
conforto, ao par de uma indefectivel e indispensável hygiene(...).O 
plano que ora submetto(...) é funcção de um estudo acurado, onde 
grandes sumidades, patricias e estrangeiras foram consultadas, e, dos 
trabalhos executados, além mar, embora mais dispendiosos, nenhum 
sobrepuja os trabalhos entre nós executados, sob a direcção de 
engenheiros puramente nacionaes, verdadeiros mestres e grandes 
competências, em matéria de saneamaneto e hygiene"( Amaral, 1935: 
274). 
 
 
Observa-se nas palavras de Amaral, que os engenheiros chamam para si, a 
tarefa de modernizar o meio urbano, além de uma visão nacionalista sobre a 
competência da classe. Em outro trecho, ele a evidencia ao se referir à figura do 
engenheiro paraense Henrique Américo Santa Rosa, nesses termos: 
 
"A communicação de um ponto ao outro exigia a transposição desse 
igarapé, conforme referiu Henrique Santa Rosa, ilustre engenheiro 
paraense, na sua conferencia realizada a 15 de junho de 1924 na 
Universidade Livre do Pará, verificando-se a possibilidade e 
conveniência de aumentar a cidade para a banda do Norte, sobre a 
faixa de terra que acompanhava a margem do rio e que seria um 
subúrbio do primeiro povoamento"(...) Estudo dos grandes 
engenheiros, em cujo primeiro plano collocamos o mestre dos 
engenheiros paraenses, o saudoso Dr. Henrique Santa Rosa, que 
chefiou a Commissão de saneamento de Belém em 1900, durante o 
governo do dr. José Paes de Carvalho"( Amaral,1935: 276). 
 
 
Amaral ainda destaca a atuação de José Coelho da Gama e Abreu, engenheiro e 
também deputado, que ao abrir a 2ª sessão da Assembléia legislativa da Província do Pará 
de 1879, assim se expressava 
 
“Como vos disse, o ar puro é uma das condições essenciaes para uma 
saude vigorosa e um população sadia. Ponde de parte o mal cabido 
orgulho, devemos confessar que quasi totalidade da nossa população, 
que não póde, por falta de meios, dispôr das commodidades que só os 
abastados podem alcançar, sofre e apresenta um aspecto doentio. 
Sem querer que a minha opinião tenha o peso que tem a de um 
hygienista"(Gama e Abreu apud Amaral, 1935: 278). 
62 
 
 
Percebe-se, nesse discurso de Gama e Abreu que, do final do século XIX às 
primeiras décadas do século XX, a questão da higiene e do saneamento, era um tema 
significativo na ação dos engenheiros e que as condições climáticas estavam associadas à 
saúde. 
 As condições ambientais de Belém e a responsabilidade dos engenheiros higienistas 
para a solução dos problemas, foram evidenciadas, também, por Amaral no mesmo artigo 
 
"Conhecidas as condições de Belém e as opiniões das pessoas 
competentes que por lá tem viajado, scientistas ou não, nacionaes ou 
alienigenas, concluimos que a origem da falta de salubridade só tem 
uma explicação, e esta já foi dada pelos nossos antepassados e, da 
geração moderna, por alguns engenheiros hygienistas, os quaes 
explicaram scientificamente as causas e indicaram o remedio efficaz e 
inadiável para sanal-as"( Amaral, 1935: 278). 
 
 É oportuno também apresentar as visões dos engenheiros e dirigentes vinculados à 
Escola de Engenharia do Pará, pois os mesmos estabeleceram intercâmbios com a Escola 
Nacional de Engenharia do Rio de Janeiro. Um dos principais foi Josué Justiniano Freire, 
advogado, engenheiro militar, diretor da Escola de Engenharia do Pará, no período de 1957 
a 1967. Freire, em discurso proferido em 01.04.1940, na cerimônia oficial de abertura do ano 
letivo apresenta sua visão sobre o papel da engenharia 
 
“a visão do homem desarmado de recursos technicos e impotente 
para vencer os óbices de uma natureza hostil e não o desejo de ligar o 
seu nome a um instituto cultural meramente decorativo, o que moveu o 
dr. Paulo Eleutherio a convocar alguns espíritos pugnazes para, com 
elle fundarem esta Escola”(Freire,1940). 
 
 
A expectativa dos engenheiros pode ser percebida nas palavras de Freire, em parte 
influenciada pela visão naturalista que ainda prevalecia nos anos 40. No mesmo discurso, 
Freire chama para a engenharia a responsabilidade para a superação dos entraves que 
impediam o desenvolvimento do País 
 
“Sem a mobilização da engenharia não haverá combate possível ás 
sêccas periódicas do Nordeste brasileiro, nem abastecimento d´agua 
ou saneamento nas cidades(...)E os grandes emprehendimentos 
portuários e rodo ou ferroviários, as chaves por assim dizer, da 
prosperidade e do progresso em seus multifários aspectos, que sãoparadigma. Quando na verdade outros personagens também contribuíram. A foto com a 
língua para fora é um outro exemplo da folclorização da sua figura, acrescida com outras 
que o caracterizam como um descuidado com as aparência, ou seja um sujeito diferente dos 
normais. 
 Esses e outros estigmas precisam ser minimizados. O cientista precisa ser 
apresentado como uma pessoa normal, que habita dentro de um contexto social, político, 
econômica e cultural e que sua ação está relacionado a um rede de interesses, que conjuga 
poder e também ética. Recordo de um livro muito usado na década de 1970 nas instituições 
de ensino superior do Brasil que dizia que “ física é aquilo que os cientistas fazem tarde da 
noite”. Nada mais constrangedor. A atividade científica se desenvolve dentro de uma 
6 
 
 
normalidade mediada por instituições e institutos que têm interesses bem definidos. As 
indústrias cinematográficas se encarregaram de construir a figura do cientista: 
desengonçado, alienado, descuidado, aloprado, etc. Cabe aos novos recursos 
metodológicos, que inserem a História da Ciência como uma possibilidade concreta de 
análise das atividades científicas sem a folclorização inconsequente e as estórias 
espetaculares. 
 Uma visão da Ciência como uma construção humana pode ser inserida no 
contexto do ensino através do uso da História da Ciência como um meio para enriquecer o 
ensino das ciências naturais e tornar mais interessante seu aprendizado, aproximando os 
aspectos científicos dos acontecimentos históricos. Esse enfoque, por sinal, é uma das 
orientações preconizadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. 
 Essa abordagem está de acordo com o desenvolvimento geral de contextualização 
sociocultural, que permite compreender que a difusão do conhecimento científico não 
acontece num espaço cultural e social vazio, mas se estabelece dentro de uma realidade 
que congrega vários interesses. Ou seja a produção do conhecimento está associado a uma 
rede que entrelaça pessoas e instituições, dentre outros. 
 Outro fato importante reside na necessária análise que as novas tecnologia podem 
produzir no contexto da sociedade possibilitando melhoria da qualidade de ensino mas 
também dependência. Os meios de comunicação, por exemplo, a partir da compreensão 
das características das ondas eletromagnéticas , possibilitaram encurtar distância, sem 
dúvidas, mas por outro lado, propiciou uma relação mecanizada entre as pessoas. 
 Evidentemente esses avanços são importantes e como tais devem ser discutidos no 
âmbito do ensino de Ciências, como uma ferramenta que possibilite, por parte do aluno, 
uma visão crítica da sociedade, a fim de exercer coerentemente sua cidadania. 
 A história da Ciência não deve substituir o ensino comum das ciências, mas 
complementá-lo. O uso adequado de alguns episódios permite estabelecer uma relação 
entre ciência, tecnologia e sociedade, mostrando que as ciências não uma construção 
isolada de outras, como as artes, por exemplo, mas faz parte de um desenvolvimento 
histórico, de uma cultura, de um mundo humano, sofrendo influência e influenciando a 
sociedade. 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
PLANO DE ENSINO 
 
I – IDENTIFICAÇÃO 
 
CURSO: Licenciatura Plena em Ciências Naturais 
DISCIPLINA: Epistemologia e História da Ciência II 
PROFESSOR: Ruy Guilherme Castro de Almeida 
SEMESTRE: 3º 
PERÍODO: 14 a 18.07.2011 
TURMA: Biologia-2009 
 
II – EMENTA 
Antecedentes, Nascimento, transformação e internacionalização da Ciência Moderna: a 
Física, a Química e a História Natural; Naturalismo e os Museus de História Natural; 
Cientificismo do Século XIX; As revoluções científicas no início do Século XX; As Ciências 
na Amazônia. 
 
III – OBJETIVOS 
- Redefinir a concepção de ciência e da metodologia de pesquisa histórica que torne 
possível a realização de pesquisas que parta do princípio de que houve atividade científica 
no Brasil desde o período Colonial. 
- Analisar a história da ciência na Amazônia no contexto mais geral da historiografia 
nacional. 
 
IV – CONTEÚDOS (organizados em unidades) 
Unidade I – Um novo olhar metodológico para a História da Ciência 
Unidade II – O nascimento da Ciência Moderna 
Unidade III - O Naturalismo e os Museus de História Natural 
Unidade IV – A institucionalização do ensino superior no Brasil: o caso da Engenharia e da 
Medicina 
Unidade V – As revoluções científicas no início do Século XX 
Unidade VI – As Ciências na Amazônia: Instituições e disciplinas científicas. 
 
8 
 
 
 
VI – RECURSOS 
- Textos impressos 
- Data Show 
- Note Book 
- Ônibus 
 
VII – AVALIAÇÃO 
O processo avaliativo será diário. Cada aluno ao final do dia receberá um conceito. Esse 
conceito será em função de sua presença obrigatória em todos os momentos do curso e 
sua participação efetiva nas leituras, nos debates e nas sessões de cinema. Será cobrado, 
necessariamente e rigorosamente, a freqüência mínima de 75%, caso o aluno não atinja 
esse percentual o mesmo terá que recorrer aos órgãos colegiados da instituição. A 
avaliação não deve ser considerada como um momento de vingança e de mera cobrança 
formal, mas, considerando que o curso não é desenvolvido de forma regular, sendo que a 
carga horária total é compactada para facilitar a presença dos discentes em seu recesso 
profissional, é uma questão de probidade o irrestrito cumprimento das leis vigentes. 
 
VIII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
1. ALMEIDA, Ruy Guilherme Castro de. O papel dos engenheiros e matemáticos na 
história do ensino de Física no Pará (1931-1970). Tese de Doutorado. Faculdade de 
Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. 2006. 
2. ALVES, José Jerônimo de Alencar. AS Ciências na Academia e as expectativas de 
progresso e modernização: Brasil(1916-1929). In: DANTES, Maria Amélia 
Mascarenhas (org.). Espaços da ciência no Brasil (1800-1930). Rio de Janeiro: Fiocruz. 
2001. 
V – METODOLOGIA 
O desenvolvimento do curso dar-se-á em três estratégias. A primeira será através de aula 
expositiva dialogada na qual será dada especial atenção aos conceitos fundamentais dos 
temas expostos. A segunda, apresentar-se-á textos mais significativos sobre o tema em 
questão, seguido, posteriormente, de amplo debate e questionamento. Na medida da 
disponibilidade de recursos audiovisuais, promover-se-á sessões de cinema enfocando um 
tema proposto. Finalmente, a terceira, será oportunizar aos alunos a apresentação de 
temas através de Seminários Temáticos. Como culminância serão realizadas visitas às 
instituições de ensino e pesquisa de reconhecido valor histórico regional. 
9 
 
 
3. ALVES, José Jerônimo de Alencar. Ciência Pasteuriana e o projeto dominante de 
higiene e modernização na Primeira República. In: DIAS, André Luis Mattedi(orgs.). 
Perspectivas em Epistemologias e Histórias das Ciências. Feira de Santana: 
Universidade Estadual de Feira de Santana, 1997. 
4. ALVES, José Jerônimo de(Org.).Múltiplas faces da Ciência na Amazônia. Belém: 
EDUFPa, 2005. 
5. AZEVEDO, Fernando (org.). As Ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Da UFRJ, 1994, 
2 vols. 
6. DANTES, Maria Amélia Mascarenhas (org.). Espaços da ciência no Brasil (1800-1930). 
Rio de Janeiro: Fiocruz. 2001. 
7. DANTES, Maria Amélia Mascarenhas. Uma história institucional das ciências no Brasil. 
In: DANTES, Maria Amélia Mascarenhas (org.). Espaços da ciência no Brasil(1800-
1930). Rio de Janeiro: Fiocruz. 2001. 
8. DIAS, André Luis Mattedi(orgs.). Perspectivas em Epistemologias e Histórias das 
Ciências. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 1997. 
9. FAULHABER, Priscila; TOLEDO, Peter Mann de. (Coord.). Conhecimento e Fronteira: 
História da Ciência na Amazônia. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2001. 
10. FERRAZ, Marcia Helena Mendes. As Ciências em Portugal e no Brasil (1732- 1822): O 
texto conflituoso da Química. São Paulo, Educ, 1997. 
11.sendo problemas estrictamente de engenharia?(...)“E o 
aproveitamento do curso d´agua e a exploração do sub-solo, como 
emprehendel-os sem engenharia?”(Freire,1940). 
 
63 
 
 
 Pelo discurso de Freire, confirmam-se as abordagens de temas do início do século, 
que ainda prevalecem na década de 40 no Pará. Ou seja, as questões de higiene e 
saneamento associadas às obras de engenharia tais como: portos, rodovias e ferrovias. A 
esses enfoques será acrescida, na década seguinte, a questão nuclear. 
 
5. Os engenheiros paraenses e a questão nuclear nos anos 50 
 
Antes de fazer uma análise regionalizada do tema faz-se necessário uma visão 
panorâmica da repercussão do tema no contexto nacional. Durante toda a primeira 
metade do século XX o foco dos engenheiros era a questão do saneamento, higiene, 
ferrovias e portos, após a Segunda Guerra Mundial foi acrescido da questão nuclear. 
Antonio José da Costa Nunes, engenheiro e professor de Física da Escola Nacional de 
Engenharia, antiga Escola Politécnica do Rio de Janeiro, relacionou a importância da 
Física com o novo paradigma e um novo papel do engenheiro: 
 
“Em todo o mundo nota-se um corrida vertiginosa para o ingresso 
efetivo na era atômica(...)Um numeroso grupo de engenheiro aptos 
será necessário para operar as mencionadas máquinas e não nos 
será permissível deixar de operá-las(...) Desenvolvimento de um 
programa da energia nuclear significa, principalmente, a formação de 
engenheiros suficientes em números e treinamento para construir e 
operar a indústria atômica(...)Só uma base sólida de Física permitirá 
ao engenheiro uma apreensão conveniente e fácil dos problemas do 
aproveitamento da energia intra-atômica” (Nunes,1960:67-68). 
 
O final da Segunda Guerra Mundial desencadeou diversas mudanças no cenário 
político e econômico internacional. A atividade científica foi um dos setores mais afetados, 
pelas conseqüências da bomba atômica. A Física, particularmente, foi um ramo da ciência, 
que desempenhou um papel importante na nova ordem mundial. No Brasil, a dinâmica entre 
a Física e a sociedade, provocou debates e a criação de instituições importantes para a 
afirmação do desenvolvimento científico nacional, como a Sociedade Brasileira para o 
Progresso da Ciência(SBPC), em 1948; o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, em 1949 
e o Conselho Nacional de Pesquisa(CNPq), em 1951. Com essa nova estrutura institucional, 
o ensino e a pesquisa em Física foram muito valorizados, principalmente a Física Nuclear. 
 Apresentaremos a seguir de que modo, no Pará, os debates e a valorização da 
Física afetaram a comunidade dos engenheiros paraense agregados na Escola de 
Engenharia do Pará. Essa relação entre os engenheiros e a Energia Nuclear se acentuou no 
final da década de 50, em parte motivada pelo fato da Escola ter-se integrado, em 1957, à 
Universidade do Pará, participando, assim, da rede federal 
64 
 
 
 Em 1959, Josué Freire articulou-se com a reitoria, para a aplicação de recursos 
federais da ordem de sete milhões de cruzeiros, concedidos por convênio assinado com o 
Ministério da Educação e Cultura, para o aperfeiçoamento do curso de engenharia civil e de 
novos cursos que fossem criados, assim como para a 
 
“a possível organização do Instituto de Física e Matemática, tão 
necessário à cultura amazônica(...) convem dar-se imediatamente 
começo à preparação do ambiente científico que propiciará o 
provimento do quadro funcional do mesmo instituto de pesquisa, 
dentro dos objetivos estatuários da nóvel Universidade que V. 
Magnificiencia dignamente dirige"(Freire,15.04.1959). 
 
 
A sugestão para a aplicação da verba federal na própria Escola e para a criação do 
Instituto, poderia significar que a pesquisa científica era um tema que estava sendo discutido 
pelos engenheiros. Não apenas por estes, mas também pelos matemáticos formados pela 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belém, que iniciou seu funcionamento em 
1955. Foi nessa Faculdade que iniciou o curso de graduação de Matemática, ampliando 
significativamente a abrangência do ensino da Física, visto que o mesmo se restringia a 
duas cadeiras no curso de engenharia da Escola de Engenharia do Pará. O curso de 
graduação em Física iniciou em 1965. 
Em novo ofício, o diretor encaminha ao Reitor sugestões sobre a aplicação de verbas 
destinadas à Escola de Engenharia, além de 
 
"Pedir informações à presidência da Cosupi sôbre o instituto ou 
estabelecimento em que convém matricular os concessionários de 
bolsas de estudo para um curso de aplicação a engenheiros e 
engenheirandos desta Escola nas disciplinas necessárias aos estudos 
e pesquisas essenciais ao funcionamento do possível Instituto de 
Física e Matemática a criar-se nesta Escola"(Freire, 05.10.1959). 
 
A COSUPI, referida por Freire é a "Comissão Supervisora dos Planos dos Institutos", 
órgão do Governo Federal, cujas finalidades estão relacionadas com o aprimoramento de 
instituições de pesquisa. Percebe-se, pelas palavras do diretor, a valorização da Física para 
a formação do engenheiro e para a institucionalização da pesquisa em Física no Estado do 
Pará, através do Instituto de Física e Matemática. 
Há controvérsias, pelo que se depreende nas últimas declarações do diretor. Ora ele 
considera urgente a “preparação do ambiente científico”, ora considera o ensino de energia 
nuclear para os engenheiros “pouco enquadrável” e “dispersivo”. Ao mesmo tempo que 
valoriza a preparação do ambiente científico, Freire coloca dúvidas como mostra seu texto. 
65 
 
 
 O diretor, em novo ofício, comenta se vale a pena aplicar integralmente os recursos, 
pela exiguidade do tempo disponível para tal, pois 
 
"(...)não me parece possível, neste fim de ano, a contratação de 
técnicos para o ensino de energia nuclear a professores desta Escola 
e tão pouco enquadrável êste ensino, a meu ver dispersivo, na 
objetividade da meta governamental de aperfeiçoamento 
técnico"(Freire, 04.11.1959) 
 
Pode-se avaliar que o diretor desejaria canalizar os estudos nucleares para o tal 
Instituto a ser criado, enquanto que para a Escola o ensino da Física continuaria com a 
função básica de formação do engenheiro. No mesmo documento ele reconhece a 
importância do desenvolvimento da região e a política do Governo Federal com a criação da 
SPVEA, Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia, e sugere 
 
“envidar esforços em prol do máximo rendimento do esfôrço 
governamental de aperfeiçoamento técnico e cultural da Amazônia 
Brasileira, até superar o subdesenvolvimento e o desprezo a que vinha 
sendo relegada e sub-estimada, além de ser considerada, pela sua 
imensa extensão, fora do alcance dos recursos econômicos em 
nossos dias; contra o que têm reagido, não sòmente os amazônidas, 
mas os próprios poderes públicos, desde que instituíram a Valorização 
da Amazônia, com a destinação de 3 % da receita federal para o seu 
financiamento"(Freire, 04.11.1959) 
 
 A questão nuclear continua dominando o referido ofício, a ponto do diretor 
transcrever um longo editorial que foi publicado na Revista do Clube Militar do Rio de 
Janeiro, advertindo as autoridades no sentido de que o Brasil deveria tomar medidas 
urgentes em relação à Amazônia 
 
"A Capital do Pará constitui um núcleo brasileiro que, há muito, domina 
demográfica, jurídica e tradicionalmente o delta e que, há pouco, 
deixou de ser uma ilha, onde só se chegava de navio ou avião, para 
ficar ligada, por terra, a Brasília e consequentemente ao resto do país. 
Seria agora interessante uma intensificação do esfôrço federal no 
sentido de fortalecê-la culturalmente apoiando de modo substancial 
suas instituições de ensino para que possam se desdobrar e dentro de 
uma cultura brasileira, preparar pessoal, qualitativa e 
quantitativamente, para explorar os imensos recursos materiais da 
Hiléia”(Editorial citado por Freire, em 04.11.1959). 
 
 
Essa intensificaçãodo esforço federal, para o fortalecimento do ensino superior e a 
referência de Belém como principal polo cultural da Região, teve como resultado prático a 
criação da Universidade do Pará, em 1957, refletindo a política desenvolvimentista do 
Governo Juscelino K. de Oliveira(1956-1960), mas o Editorial sugere ainda que 
66 
 
 
“seria de interêsse ponderável, encorajar, criar, ou subvencionar, 
cursos de formação específicos que objetivem a preparação de jovens 
no sentido de explorar, já ou em futuro próximo, os recursos da 
região”(Editorial citado por Freire, em 04.11.1959). 
 
O Editorial continua analisando as condições materiais para o desenvolvimento 
econômico de Belém, mas para isso seria necessário 
 
“fornecer à cidade substancial volume de energia, sem a qual não há 
indústria. Como Belém não possui fôrça hidráulica apesar de ter água 
disponível em abundância, é talvez o local ideal para a montagem da 
primeira central atômica brasileira”(Editorial citado por Freire, em 
04.11.1959). 
 
A sugestão apresentada pelo Editorial sugere que a central atômica não é só uma 
questão de desenvolvimento científico e tecnológico, mas também, de segurança nacional 
 
"é possível que Belém seja, no momento, o ponto chave mais 
importante da integridade territorial brasileira. Nosso direito de posse 
sôbre os 5.000.000 km2 da bacia Amazônica, abrangidos por nossas 
fronteiras, é incontestável, convém no entanto que através de uma 
ação positiva de construção, tornemos êsse direito inconteste a quem 
quer que seja. Não temos dúvidas que a montagem de uma central 
atômica em Belém, contribuirá de maneira decisiva para a 
concretização dêsse objetivo”(Editorial citado por Freire, em 
04.11.1959). 
 
 
 Após a transcrição integral do Editorial, Josué Freire propõe algumas medidas 
objetivas, como a concessão de bolsas para engenheiros, indicando as instituições mais 
capacitadas para seu aperfeiçoamento. Ou seja, o Diretor corrobora com as propostas 
apresentadas pelo editorial e sugere ao Reitor da Universidade do Pará que, tendo em vista 
as manifestações apresentadas por um órgão de grande tradição patriótica, deveria a 
administração superior solicitar ao Governo Federal 
 
“a concessão de bolsas de estudos a jovens engenheiros e 
engenheirandos selecionados, em número, se possível, de 
dez(10), para fazerem primeiramente um curso de energia nuclear, no 
instituto ou estabelecimento que mais convier, a critério de V. 
Magnificência. Peço vênia para sugerir o "Centro Brasileiro de 
Pesquisas Físicas", no Rio ou, caso seja impossível, o Departamento 
de Pesquisas da Faculdade de Filosofia da Universidade de São 
Paulo”(Editorial citado por Freire, em 04.11.1959). 
 
 Essa concessão de bolsas de estudos para engenheiros e engenheirandos, a fim de 
se capacitarem para as questões mais específicas da Física Nuclear, ocorrerá nos anos 
67 
 
 
seguintes, com a ida de alguns para centros de pesquisas do sudeste, principalmente 
depois de ter sido criado o Núcleo de Física e Matemática da Universidade do Pará, em 
1961. 
 É significativo ainda perceber o interesse do Diretor da Escola de dotá-la, com 
equipamentos e com literaturas relativas ao ensino da Física Nuclear 
 
"Na parte de equipamento, parece-me ótimo o trabalho elaborado pela 
Comissão designada por esta Diretoria, sendo que, na parte relativa a 
livros para a biblioteca do futuro possível Instituto de Física e 
Matemática, V. Magnificência prestaria mais um relevante serviço a 
esta Escola, informando-se, em caso de dúvida, sôbre os tratados e 
obras mais utilizadas e necessárias ao começo de organização de 
uma biblioteca para uso de professores e alunos de um curso de 
Física Nuclear"(Editorial citado por Freire, em 04.11.1959). 
 
Como atitude prática, a Escola de Engenharia se mobilizou para a efetivação desse 
projeto, organizando uma comissão, composta pelos Professores engenheiros Djalma 
Montenegro Duarte, Miguel de Paulo Rodrigues Bitar e Lourival de Oliveira Bahia. 
 Mais tarde, em 1963, Josué Freire recebia correspondência do diretor do 
Departamento de Educação e Ensino do Ministério da Educação informando a realização do 
III Curso de Especialização em Energia Nuclear, a ser executado pela Escola Politécnica da 
Universidade de São Paulo e pelo Instituto de Energia Atômica, sob o patrocínio da 
Comissão Nacional de Energia Nuclear. Esse curso seria 
 
"aberto a engenheiros, físicos, e matemáticos, diplomados por 
Faculdades ou Escolas de nível superior(...) As matérias do Curso 
serão: Física Atômica, Física Nuclear, Eletrônica Nuclear, Física dos 
Reatores, Térmica dos Reatores, Química dos Materiais Nucleares, 
Engenharia de Reatores, Proteção Radiológica, Produção e Aplicação 
de Radioisótopos"(MEC,21.05.1963) 
 
 No mesmo ano, em outubro, Josué Freire informava à Congregação, que recebeu da 
diretoria de Estudos e Pesquisas do Ministério da Guerra um exemplar do fascículo 
“Instruções do candidato ao Curso de Engenharia Nuclear”, aos possíveis candidatos que 
desejem informações sobre o Exame de admissão, previsto para o referido curso. 
 Concluindo, pode-se observar ainda o interesse, nos anos 1950-1960, pelos temas 
ligados à Física Moderna contidos nos programas de ensino da segunda cadeira de Física 
da Escola de Engenharia do Pará. 
Assuntos como Física Nuclear, Radioatividade, Teoria da Relatividade e Mecânica 
Quântica, são inseridos num programa que até então só abordava Física Clássica. Os 
programas de ensino, provenientes da Escola Nacional de Engenharia, eram ministrados na 
68 
 
 
Escola do Pará com dificuldades, principalmente pelo maior envolvimento dos professores 
com os temas da Física Clássica. Os principais professores das duas cadeiras de Física, 
durante quase três décadas na Escola de Engenharia do Pará foram Djalma Montenegro 
Duarte e Miguel de Paulo Rodrigues Bitar, alunos da própria Escola, que exercendo o 
magistério superior, com condições desfavoráveis, conseguiram, de alguma forma, 
transmitir os principais tópicos da Física Clássica para toda uma geração de engenheiros. 
Para o período mais recente merece destaque um trabalho de divulgação científica sobre a 
questão nuclear publicado por Duarte. 
Na década de 60 o entusiasmo sobre a questão mudaria de personagem. Com o 
advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1961, instituindo o currículo mínimo 
para o curso de Engenharia(Parecer 280), o ensino da Física passou a valorizar ainda mais 
os conceitos fundamentais para a preparação básica do engenheiro. Os temas da Física 
Moderna seriam direcionados para os cursos de graduação em Física. No Pará, a criação 
do Núcleo de Física e Matemática constituiu um marco no ensino de Física. Esse órgão 
passou a partir de então a catalizar as expectativas relativas ao ensino da questão nuclear. 
É certo porém, que vários engenheiros migraram para a Física, e o exemplo mais 
significativo, é de José Maria Filardo Bassalo, concluinte da turma de 1958 da Escola de 
Engenharia do Pará. Fez seu mestrado e doutorado em Física na Universidade de São 
Paulo. 
Bassalo foi um dos grandes responsáveis pela ida de estudantes dos primeiros anos 
do curso de engenharia com o objetivo de se graduarem em Física em instituições do 
sudeste, notadamente a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio 
de Janeiro. Posteriormente, foram os matemáticos e os físicos que buscaram a pós-
graduação, em instituições como a Universidade de Brasília, Universidade de São Paulo, 
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e Universidade Estadual de Campinas. Além de 
Bassalo, outro personagem se destacou, Carlos Alberto Dias, ministrando cursos sobre a 
Física Moderna para alunos e professores do Núcleo de Física e Matemática, no início da 
década de 60 (Bassalo,entrevista,2003). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
69 
 
 
APÊNDICE 
 
ATIVIDADES NÃO PRESENCIAIS - EAD 
 
Para as atividadesa distância serão propostos textos complementares específicos 
para cada habilitação do curso (Biologia, Física e Química). Cada aluno apresentará uma 
resenha do texto proposto. Outra possibilidade é sugerir que o aluno assista um filme que 
aborde uma temática que foi discutida na forma presencial buscando, assim, maior 
aprofundamento da questão, como produto cada aluno apresentará um resumo do filme. 
Tanto no caso do texto resenhado como no resumo do filme cada aluno deverá discutir 
presencialmente com o professor.FERRI, M. G. ,MOTOYAMA, S. História das Ciências no Brasil. São Paulo: EDUSP; 
EPU,1979. 3 v. 
12. FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. As Ciências Geológicas no Brasil: Uma 
história social e institucional, 1875-1934. São Paulo: Editora Hucitec, 1997. 
13. GUALTIERI, Regina Cândida Ellero. A Amazônia sob olhares evolucionistas. A Ciência 
no Museu Paraense (1894-1914). In: ALVES, José Jerônimo de(Org.).Múltiplas faces 
da Ciência na Amazônia.Belém: EDUFPa, 2005. 
14. HAMBURGER, Amélia Império; et al, (org.). A Ciência nas relações Brasil- França 
(1850-1950).São Paulo : Edusp ; Fapesp. 1996. 
15. REGO, Clóvis Silva de Moraes. Subsídios para uma História do Colégio Estadual Paes 
de Carvalho. Belém: EDUFPA ; L&A, 2002. 
16. SALMERON, Roberto. A Universidade Interrompida: Brasília 1964-1965. Brasília : Ed. 
UnB,1998. 
17. SILVA, Cibelle Celestino(org.). Estudos de História e Filosofia das Ciências: subsídios 
para aplicação no ensino. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2006. 
18. TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da Engenharia no Brasil- Século XX. Rio de 
Janeiro : Clavero, 1993. 2v. 
10 
 
 
19. VANIN, J.A. - Alquimistas e Químicos - O Passado, o Presente e o Futuro, Moderna, 
São Paulo, 1994. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
TEXTO Nº 01: MARCOS PARA UMA HISTORIA DAS CIÊNCIAS NO BRASIL 
 
Extraído do livro: As Ciências Geológicas no Brasil: Uma História Social e 
Institucional (1875-1934) 
Autora: Silvia Fernanda de Mendonça Figueirôa. 
 
Este trabalho pretende resgatar uma parte ainda pouco investigada da atividade 
técnico-científica nacional, mediante analise do processo histórico de desenvolvimento das 
ciências geológicas no Brasil. Tal análise apresenta uma interpretação de como se teriam 
dado a introdução e o florescimento desse campo de conhecimento no país, de seus fatores 
condicionantes, propulsores e/ou limitantes, dos atores envolvidos no processo, da(s) 
tradição(ões) científica(s) presente(s). Visa também, secundariamente, fornecer subsídios 
ao processo de repensar as Geociências no Brasil e o papel dos profissionais a elas ligados 
(nos quais me incluo), procurando ampliar a compreensão que temos de nosso passado e e 
presente. 
O tema será abordado do ponto de vista da institucionalização das ciências 
geológicas no período abrangido de fins do século XVIII até 1934. Dessa tematização 
decorrem diversas questões teóricas e metodológicas que devem ser, se não 
definitivamente respondidas, ao menos discutidas e equacionadas para fins da presente 
investigação. A primeira delas está subjacente ao próprio título: em que medida é possível 
falar-se em ciência e ci~encia geológica no Brasil, nesse amplo período histórico? Qual o 
significado, a abrangência e os limites de tal questão? Respondê-la com base na revisão da 
bibliografia disponível sobre a histórica das ciências e, particularmente, das ciências 
geológicas no Brasil poderia tornar essa tarefa desencorajadora, pois a visão amplamente 
difundida por esses textos baseia-se na idéia do atraso científico brasileiro. 
Par Fernando Azevedo, por exemplo, um dos pioneiros e mais significativos 
expoentes da historiografia das ciências no Brasil, e que até hoje ainda influencia a 
fundamentação das investigações, “ no mundo inrtelectual brasileiro em que se praticavam 
as letras, sem o complemento e o contrapeso das ciências, o romantismo (...) tinha de 
forçosamente acentuar a velha tendência colonial à literatura e ao subjetivismo, arrebatando 
todos os valores e devastando tudo à sua passagem como uma corrente de montanha...”. 
Levando-se em conta especificamente a historiografia relativa às ciências geológicas no 
Brasil - composta essencialmente por cronistas ou histórias hagiográficas -, já em 1895 
Orville Derby afirmava que a ciência praticada no Brasil não se caracterizava por envolver 
pesquisas, e ressaltava mesmo que algumas reputações haviam sido construídas sem 
trabalho original e de mérito. 
12 
 
 
Todavia, trabalhos mais recentes têm procurado mostrar a existência, desde os 
tempos da Colônia, de uma atividade científica no Brasil. Isso tem sido possível graças a 
uma revisão crítica da historiografia das ciências produzidas até hoje no e sobre o país ( e a 
América Latina), identificando suas bases epistemológicas e metodológicas, bem como suas 
motivações ideológicas. Como aponta com clareza Saldanã “ no caso da Íbero-América, a 
historiografia tradicional ignorou de maneira marcante a atividade científica que teve lugar 
na região, a ponto de chegar-se a afirmar que aí não houvera ciência. Os historiadores (...) 
da América Latina asumiram a tarefa de encontrar um lugar para sua região dentro da 
História (européia) das ciências. (...) Pode-se afirmar que, em vez de historiar a prática 
científica da América Latina, buscou-se, isto sim, historiar a ciência européia na América 
Latina”. 
Boa parte da historiografia sobre as ciências na América Latina comparou as 
manifestações aqui havidas com uma imagem um tanto idealizada dos países tomados 
como modelos, e buscando o esperado, não encontraram o realizado.(...) Considerou-se 
que a ciência segue um modelo cíclico de fundação, dilúvio e restauração. (...) Os 
investigadores situados em universidades de primeira grandeza esquecem(...) que a história 
da ciência no Estados Unidos está semeada de cadáveres de colégios, observatórios, 
ateneus e academias de vários tipos, extintos. (...) Os homens modernos da América Latina 
estão, e estiveram, envergonhados de um passado imaginário carente de aprendizagem 
científica pura. (...) É chegada a hora de construir uma descrição, clara e completa, da 
ciência moderna na América Latina(...) os resultados de tal estudo revelariam milhares de 
indivíduos florescendo em centros de ensino e de investigação”. 
O problema central que gera e conforma o quadro desenhado acima é, a meu ver, de 
caráter metodológico, pois as metodologias habitualmente empregadas pela historiografia 
das ciências, elaboradas nos chamados “centro”, concentraram a atenção nas “grandes 
teorias” e “grandes personagens”, ou nos “sucessos institucionais”. Produziram assim 
categorias analíticas para uma “história dos vencedores”, deixando de lado a “história 
cotidiana” das ciências, que constitui, na verdade, a maior parte do processo. Penso que é 
possível um novo olhar para as atividades científicas desenvolvidas no Brasil, até hoje 
pouco valorizadas. Sem esquecer, contudo, que sempre estiveram balizadas pelo marco da 
condição colonial do país, tais atividades traduziram-se na criação de associações (como a 
Academia Científica, 1771), em viagem de estudo patrocinadas pela coroa portuguesa 
(como a de Alexandre Rodrigues Ferreira), de 1785 a 1792), na constituição de coleções de 
produtos naturais do Reino ( como os trabalhos realizados na Casa dos Pássaros), entre 
outras. Refletiram os esforços de Portugal na difusão da iedologia iluminista de crença no 
poder da razão e na função da ciência a serviço do progresso material). 
13 
 
 
Duas questões-chaves e interdependentes ficam ressaltadas pelas considerações 
acima, quais sejam: a necessidade de redefinição da concepção de ciência adotada assim 
como da opção metodológica de trabalho em História das ciências.(...) é somente a partir da 
assunção de novas premissas em relação a esses dois pontos que acredito seja possível 
responder afirmativamente à indagação sobre a viabilidade do presente trabalho, pois os 
maiores problemas para se analisar a complexidade da dinâmica da difusão-recepção das 
ciências nos países periféricos não são tanto de ordem material (os quais subsistem) mas 
sim conceituais e ideológicos. 
 
A questão da ciência 
 
 Até a década de 30 do corrente século, os estudos históricos sobre ciência 
enfocaram prioritariamente os aspectos internos ao conhecimentocientífico como motores 
de sua história. Assumia-se que a gênese e a validade desse tipo de conhecimento não 
eram afetadas por fatores outros que não a racionalidade e a lógica a ele internas e 
inerentes. A partir de 1931, porém, a comunidade de historiadores da ciência foi agitada por 
um intenso debate provocado pela apresentação do trabalho do soviético Boris Hessen 
intitulado As raízes Sócio-Econômicas da mecânica de Newton, no qual o autor apontava 
os fatores considerados externos à ciência – ou seja, o contexto sócio-econômico – como 
determinantes do desenvolvimento científico, inaugurando assim a linha de estudos 
chamada de externalista. 
 (...) Essa postura renovada em relação ao que se deve considerar ciência e como se 
desenvolve nos permite assumir que a ciência é uma instituição social que não difere nem 
possui um status epistemologicamente superior ao de outros corpos de conhecimentos e 
crenças, como a religião, a arte, etc. A ciência é parte da cultura como qualquer outra 
manifestação, dentro dos respectivos limites definidos pelos atores para um determinado 
conjunto de significados, crenças e atividades. Não opera, portanto, num vazio social, 
mantém, por conseguinte, relações estreitas de interdependência com as esferas do político, 
do social, do econômico e do cultural. 
 Quanto à metodologia, portanto, é essencial, em primeiro lugar despir-se das 
concepções apriorísticas de ciência que trazem embutidas a visão atual para tentar 
compreender o que significava ciência na época, quais suas práticas, seus valores e 
métodos, compartilhados por seus praticantes e socialmente reconhecidos. 
 (...) Em segundo lugar, esse enfoque, ao ressaltar que o processo de 
desenvolvimento das ciências insere-se no processo histórico geral, no qual atuam fatores 
econômicos, sociais políticos e culturais, traz outras decorrências no nível metodológico. 
Trata-se de compreender como se deu a contextualização de determinada subcultura 
14 
 
 
científica num espaço-tempo definido. Dessa forma, caberá investigar, entender e explicar a 
constante e inseparável mistura do contexto e do conteúdo, as ações concretas de 
negociação, convencimento e sustentação das atividades científicas que operam num 
contexto histórico determinado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
TEXTO Nº 02: UMA HISTÓRIA INSTITUCIONAL DAS CIÊNCIAS NO BRASIL 
 
Extraído do Livro: Espaços da Ciência no Brasil (1800-1930) 
Autora: Maria Amélia Mascarenhas Dantes 
 
A palavra atividade científica expressa (...) uma realidade concreta, 
aqui e agora, em que as idéias existem sempre ligadas seu estudo 
nos coloca frente ao problema do tempo e do espaço histórico e nos 
obriga a um diálogo concreto, preciso, profundo com as fontes 
manuscritas e documentais que estão guardadas em nossas 
bibliotecas e arquivos. 
 
 Antonio Lufuente 
 
 
A história da ciência e as instituições 
 
As instituições científicas vêm recebendo uma atenção secundária dos historiadores 
da ciência, que tem se dedicado prioritariamente ao estudo do desenvolvimento conceitual 
das ciências, visto que resultantes de um processo autônomo, regidos por normas internas e 
independentes dos demais processos sociais. 
As instituições científicas são aí consideradas como uma decorrência necessária do 
valor intrínseco do conhecimento verdadeiro, isto é, como espaços que são conquistados 
pelos cientistas e que passam a sediar suas atividades. 
Assim, tradicionalmente, a história institucional da ciência tem se voltado, sobretudo, 
para algumas das dementeis sociais das praticas científicas, deixando para a histéria 
epistemológica as questfies relacionadas à natureza do conhecimento cientifico. 
Este quadro dicotômico — questões do conhecimento e questões sociais — persistiu 
até os anos 70. É representativa desta permanência a obra do sociólogo da ciência Joseph 
Bem-David, que em seu livro de 1971, O Papel do Cientista na Sociedade, dedicado ao 
estudo das formas organizacionais e papéis atribuídos às ciências em diferentes períodos 
históricos, assim se expressa: 
 
Embora as sociedades possam acelerar ou retardar o crescimento 
cientifico ao dar ou negar apoio à ciência ou a alguns de seus 
aspectos, podem fazer relativamente pouco para dirigir o seu curso. 
Este é determinado pelo estado conceitual da ciência e pela 
criatividade individual - e estes aspectos seguem suas leis próprias, 
sem aceitar crdens ou subornos. (Ben-David, 1974:25) 
 
16 
 
 
No entanto, nos anos 70, já estavam ocorrendo transformações conceituais nos 
estudos históricos e sociológicos da ciência que apontavam, entre outras coisas, para um 
redimensionamento da história institucional. 
Estas mudanças eram indicadas pelo historiador norte americano Roger Hahn em 
sua obra pioneira sobre a academia pioneira de Paris, em que chama a atenção para a 
importância histórica das instituições científicas e as considera como espaços em que 
interesses sociais e científicos se encontram. No prefácio do livro, ele declara que “a 
instituição científica é a bigorna na qual são moldados, em uma forma viável, os valores 
muitas vezes conflitantes, da ciência e da sociedade" (Hahn, 1971:X). 
Ou seja, para Hahn, as instituições científicas desempenham um papel fundamental 
na implantação de práticas e conhecimentos científicos e seu estudo pode ser esclarecedor 
sobre os diferentes fatores presentes neste processo. 
Também nos anos 70, os debates instaurados por sociólogos, historiadores e 
filósofos sediados em instituições inglesas e escocesas traziam novas perspectivas para a 
historia institucional. Estes autores tinham por objetivo ultrapassar os limites vigentes na 
sociologia da ciência e declaravam que as varias dimensões das ciências, até mesmo seus 
conteúdos, são influenciados por fatores sociais. Mais ainda, defendiam a conceituação das 
ciências como práticas, e dos conhecimentos científicos como construtores que se 
estabelecem socialmente. 
Os estudos empíricos realizados pelos seguidores dos Estudos Sociais do 
Conhecimento — Social Studies of Knowledge (SSK) — voltaram-se, sobretudo para a 
análise da influência de fatores extracientíficos no processo de produção de conhecimentos. 
Uma avaliação das pesquisas realizadas nos últimos vinte anos revela que a dimensão 
institucional tem estado pouco presente nesta vertente historiográfica e sociológica. No 
entanto, estes estudos têm trazido implicações metodológicas muito frutíferas para a história 
das instituições científicas, pois, como bem enfatiza o historiador espanhol Antonio Lafuente, 
cujas palavras abrem esta introdução, a conceituação de ciência, como uma pratica 
concreta, remete o historiador aos cientistas – homens e mulheres, sujeitos de um 
determinado espaço – tempo social - e também aos espaços institucionais que sediam suas 
práticas. 
Assim, do ponto de vista da produção historiográfica, a história institucional da 
ciência é ainda iniciante. Mesmo em países com maior tradição científica, como os 
europeus, somente nas ultimas décadas algumas das mais importantes instituições 
científicas começaram a ser estudadas de forma sistemática. O caso francês é bem 
ilustrativo. Nesse país, somente nos últimos anos, por estímulo da atuação de historiadores 
ingleses e norte-americanos, tem sido produzida uma historiografia significativa sobre 
17 
 
 
instituições científicas renomadas como a Escola Politécnica de Paris, a Escola Normal 
Superior e o Museu de História Natural. 
O livro de Roger Hahn, citado anteriormente, é, assim, um dos pioneiros de uma 
vertente historiográfica, hoje, bastante florescente. 
 
A história da Ciência no Brasil no contexto da nova historiografia 
 
Em relação à Historia da Ciência no Brasil, há uma outra questão a ser considerada: 
foi somente a partir da década de 80 que se desenvolveram,de forma significativa estudos 
sobre o processo de implantação de atividades científicas em países que não ocuparam 
papéis de liderança no progresso de produção de conhecimento. 
Para o desenvolvimento desta área foi, sem duvida, fundamental a mudança que 
ocorria na historiografia da ciência e que apontava para uma valorização da história social. 
Também, na segunda metade do século XX, as ciências e tecnologias ganharam grande 
destaque nas políticas estatais, o que estimulou a formação de estudiosos — filósofos, 
historiadores, sociólogos — destas áreas do conhecimento. Foi justamente esta nova 
geração que passou a se dedicar ao estudo da história da ciência em seus países. 
O primeiro texto a trabalhar de forma mais abrangente o tema da difusão da ciência 
nos vários continentes foi o artigo do historiador norte-americano George Basalla, The 
Spread of Western Science, de 1967, que entendia a introdução da ciência nos vários 
países como um caminho inevitável, resultante da superioridade cognitiva da ciência 
moderna. 
O estudo de Bassalla, apesar de bastante questionado, estimulou estudos sobre os 
mecanismos de difusão científica e a implantação de atividades científicas nos diferentes 
contextos nacionais. Duas vertentes merecem destaque. Primeira, os estudos sobre o papel 
desempenhado pelas ciências nas políticas imperialistas de países como Inglaterra, França 
e Alemanha. Também, os estudos sobre os vários contextos nacionais, que tenderam a uma 
crítica a visão difusionista de Basalla, e enfatizaram as dinâmicas sociais locais e sua 
influência nas formas assumidas pelas práticas científicas. 
A historiografia latino-americana dos últimos vinte anos tem estado integrada a estas 
mudanças teóricas e temáticas. Um dos canais de integração foi a criação, em Sociedade 
Latino-Americana de História da Ciência e Tecnologia, que vem se constituindo em 
importante espaço de intercambio dos historiadores do continente. A revista da sociedade, 
Quipu, é testemunho dos estudos que vêm sendo realizados sobre as varias nações. 
Entre as antigas colônias, os Estados Unidos da América é o país com maior 
tradição em história da ciência nacional. Em outras regiões - em especial, no Japão e na 
18 
 
 
Índia, entre os países asiáticos e na Austrália e Nova Zelândia, na Oceania - existem hoje, 
também, comunidades de historiadores que vem se dedicando a estes estudos. 
A historiografia brasileira mais recente também tem caminhado neste sentido. 
Vejamos como. 
 
A história das ciências no Brasil e as instituições científicas 
 
O desenvolvimento de uma produção historiográfica sobre as atividades científicas 
no Brasil é relativamente recente. Podemos lembrar, para um período mais recuado, 
algumas obras memorialísticas, escritas, sobretudo, por cientistas que buscavam registrar 
trajetórias individuais ou de institutos, associações ou escolas existentes no país. 
O livro as ciências no Brasil, organizado nos anos 50, por Fernando de Azevedo, 
constituiu o primeiro estudo abrangente que, de um ponto de vista sociológico, procurava 
compreender o desenvolvimento das áreas científicas no país (Azevedu, s.d.). No entanto, 
esta obra ainda se situava na tradição de uma história da ciência voltada para a formulação 
de grandes teorias e que pensava as regiões periféricas como receptáculos passivos da 
ciência produzida nos grandes centros, em especial os europeus. 
Como um marco da história institucional das ciências no Brasil deve ser registrada a 
edição, em 1975, do livro da historiadora inglesa Nancy Stepan, Beginnings of Brazilian 
Science, no qual a autora, a partir do estudo do Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, 
analisa o papel desempenhado pelas instituições científicas, cientistas e Estado brasileiro, 
na formação de uma tradição em ciência experimental no país (Stepan, 1975). 
O final dos anos 70 viu surgirem algumas obras de autores brasileiros, como 
formação da Comunidade Científica no Brasil (1979), editada por Simon Schwartzmann, e 
História das Ciências no Brasil (1979-1981), em três volumes editados por Mario Guimarães 
Ferri e Shozo Motcyama, que se propunham a analisar a implantação das diferentes áreas 
científicas no país e a contribuição para os debates sobre as relações entre ciência, 
tecnologia e desenvolvimento nacional. 
Mesmo assim, ate meados da década de 80, poucas instituições científicas 
brasileiras haviam merecido um estudo mais aprofundado. 
Mais ainda, nesses anos, permanecia difundida, entre os historiadores, a convicção 
de que, antes da criação das primeiras universidades brasileiras, nos anos 30, os institutos 
de ciências biomédicas haviam sido os únicos centros de pesquisa realmente relevantes 
para a história das ciências no Brasil. No entanto, esta primeira produção historiográfica já 
registrava a existência no país, desde o período colonial, de uma variedade imensa de 
instituições científicas. 
19 
 
 
O livro de Schwartzmann (1979) ilustra bem este ponto. Nele e apresentada, em 
apêndice, uma cronologia da ciência brasileira, correspondente ao período de 1500 a 1945 
que, a partir das informações contidas no livro editado por Fernando de Azevedo, apresenta 
uma relação de eventos relativos a dois temas da historia das ciências no Brasil: 
institucionalização e produção científica. 
A listagem referente ao primeiro tema começa com o período colonial e registra um 
número significativo de espaços dedicados a atividades científicas. 
Para o século XIX esta registrada a criação, durante a permanência da Corte 
portuguesa no Rio de Janeiro, de diversas instituições, muitas das quais atuantes ainda 
hoje, tais como as escolas médicas-cirúrgicas da Bahia e do Rio de Janeiro, de 1808, que, 
em 1832, se transformaram em faculdades de medicina; a Academia Real Militar, de 1810, 
que deu origem a Escola Central em 1858 e a Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 
1874; um horto, em 1808, depois Jardim Botânico do Rio de Janeiro; em 1818, um museu 
de história natural, depois museu imperial e atual Museu Nacional da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro. 
Estão também aí registrados espaços privados de atuação na área cultural, científica 
e técnica, como a Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional, de 1825, e 0 Instituto 
Histérico e Geográfico Brasileiro, de 1838, com suas publicações, O Auxiliador, editado ate 
os anos 90 do século XIX e a Revista do IHGB, que existe até a atualidade. 
Ainda no Império, consta também da cronologia o conjunto de medidas 
governamentais que ampliaram significativamente os espaços científicos nos anos 70 do 
século XIX, quando foram reformados o Museu Imperial e as escolas profissionais, bem 
como ganhou autonomia o Observatório Astronômico. No período final do Império, aparece 
a criação de instituições variadas, como a Escola de Minas de Ouro Preto, de 1875; a 
Comissão Geológica do Império, que atuou de 1875 a 1877; a Comissão Geográfica e 
Geológica de São Paulo, de 1886, e a Imperial Estação Agronômica, de 1887, depois 
Instituto Agronômico de Campinas. 
Pode-se visualizar, assim, para o século XIX, o crescimento continuado dos espaços 
dedicados a ciência no Brasil imperial, Os registros relativos aos primeiros anos do período 
republicano mostram como a descentralização administrativa estimulou a criação, pelos 
governos estaduais, de uma variedade de escolas profissionais. Registram também a 
atuação dos primeiros institutos bacteriológicos, o de São Paulo, de 1892, e o do Rio de 
Janeiro, de 1900. 
Entrando pelo século XX, a cronologia registra uma série crescente, de escolas 
profissionais e de instituições de pesquisa. Cita também a criação, em 1916, da Sociedade 
Brasileira de Ciencias, atual Academia Brasileira de Ciencias, uma associação científica de 
caráter nacional. 
20 
 
 
Como vemos a presença de instituições científicas no Brasil já estava registrada na 
historiografia dos anos 70.No entanto, o reconhecimento do papel desempenhado por estes 
espaços na implantação das ciências só se deu a partir de uma mudança de perspectiva 
metodológica. 
Um primeiro sinal desta mudança já aparecia no livro de Stepan (1975) sobre O 
Instituto Oswaldo Cruz, quando a autora chamava a atenção para a necessidade de se 
valorizar mais o papel que esta instituição havia desempenhado no país do que no cenário 
internacional. Isso mostra a aproximação de Stepan com os estudos de história social da 
ciência dos anos 70, que se voltavam para o estudo das condições sociais de implantação 
das atividades científicas. 
Nesta linha, a partir da critica ao anacronismo até então presente na historiografia 
brasileira e procurando trabalhar com os critérios de cientificidade do período estudado, 
historiadores brasileiros dos anos 80 e 90 realizaram estudos detalhados sobre algumas das 
mais importantes instituições científicas brasileira do século XIX e inicio do século XX. 
Entre instituições públicas estudadas, podem ser lembradas: 0 Museu Nacional de 
História Natural, 0 Museu Paraense, 0 Museu Paulista, a Faculdade de Medicina do Rio de 
Janeiro, a Comissão Geológica de São Paulo, a Imperial Estação Agronômica de Campinas, 
o Instituto Bacteriológico de São Paulo e o Instituto Butantã. Entre os espaços privados, em 
geral criados por grupos de profissionais a Academia Imperial de Medicina, as revistas 
médicas, os institutos agrícolas e a Academia Brasileira de Ciências. 
Com as pesquisas, novos espaços científicos foram se revelando, como a Sociedade 
Vellosiana, uma associação criada por naturalistas brasileiros em 1850 e que subsistiu por 
alguns anos. 
Os estudos se acumularam, mas são ainda majoritariamente voltados para 
instituições do Rio de Janeiro, antiga Corte e capital federal, e São Paulo. Só nos últimos 
anos este quadro esta mudando e começam a aparecer textos sobre instituições de outras 
regiões do país. 
Estas pesquisas invalidam algumas das afirmativas presentes na historiografia 
brasileira ate 1980, como a de que o período que precedeu as universidades brasileiras 
havia sido uma “pré-história” da ciência no Brasil. Ou a de que, no século XIX, não 
existissem, no país, grupos sociais interessados e que apoiassem as atividades científicas. 
É justamente neste debate que este livro se insere, procurando contribuir para a 
divulgação dos estudos que vem sendo realizados em história institucional da ciência no 
Brasil e apresentando uma amostragem desta área de estudos tão promissora. 
 
 
21 
 
 
TEXTO Nº 03: CIÊNCIA PASTEURIANA E O PROJETO DOMINANTE DE HIGIENE E 
MODERNIZAÇÃO NA PRIMEIRA REPÚBLICA 
 
Extraído do Livro: Perspectivas em Epistemologia e Histórias das Ciências 
Autor: José Jerônimo de Alencar Alves 
 
O objetivo desse artigo é contribuir para elucidar as características da atividade 
científica no Brasil, com relação ao movimento dominante de modernização no início deste 
século. Isto implica dizer que, neste momento, houve um movimento de modernização e 
que, de alguma forma, a atividade científica fez parte desse Projeto. De fato, a Higiene 
Publica, com as campanhas de saneamento que desencadeou, dominou o cenário do 
movimento destinado a modernizar o Brasil, naquele momento, e possibilitou a emergência 
de um novo paradigma científico: a Medicina Pasteuriana, por isso será o objeto central 
dessa análise. Mas antes de continuarmos a refletir sobre essa questão é importante 
atentarmos para o conceito de modernidade 
 
1 O Discurso da Modernização 
 
O discurso da modernidade é um dos aspectos marcantes da atualidade. Em alguns 
setores sociais a expectativa pela modernização da sociedade é tão grande que chega a ser 
uma verdadeira euforia do novo pelo novo, o remédio para todos os males da sociedade. 
Associada aos ideais de progresso, a modernização apresenta-se como o ápice na trajetória 
ascendente da sociedade para patamares mais altos de sua evolução, imagem 
freqüentemente enfatizada de modo acrítico em uma retórica que muitas vezes assemelha-
se às que se observava nos velhos ideais de positivistas. 
Essa crítica inicial não significa condenar as práticas - inclusive discursivas - 
realizadas sob signo da modernização ao longo da história. Mas é necessário analisar mais 
cuidadosamente aquelas que vêm sendo realizadas sob o discurso dominante das idéias de 
modernização. Este, por ser monolítico, positivo e globalizante tende a encobrir que as 
práticas que desencadeiam nem sempre servem a todos os grupos sociais afetadas por 
elas. E ainda, que as idéias de modernização assumem nuanças diferentes nos diversos 
contextos em que se assentam. Entretanto, apesar das diferenças, as idéias de 
modernização mantém, também, um traço de continuidade. Expressam sempre uma ruptura 
temporal: 
A modernidade tem tantos sentidos quanto forem os pensadores ou 
jornalistas. Ainda assim, todas as definições apontam, de uma forma 
ou de outra para a passagem do tempo. Através do adjetivo moderno 
assinalamos um novo regime, uma aceleração, uma ruptura, uma 
22 
 
 
revolução do tempo. Quando as palavras ‘modernoí, ‘modemização e 
‘modemidadeí aparecem, definimos, por contraste, um passado 
arcaico e estável. Além disso, a palavra encontra-se sempre colocada 
em meio a uma polêmica, em uma briga onde há ganhadores e 
perdedores, os antigos e os Modernos. ‘Moderno é portanto duas 
vezes assimétrico: assinala uma ruptura na passagem regular do 
tempo; assinala um combate no qual há vencedores e vencidos 
 
Pode-se acrescentar que o discurso da modernização muitas vezes se apresenta 
com uma euforia tal que o novo passa a ser requerido simplesmente porque é novo. 
Entretanto, isso não exclui que a polêmica entre o novo e o velho seja periodicamente 
reacendida, sobretudo em contextos de acentuadas mudanças, tal como se observa quando 
novos paradigmas se introduzem na instituição científica. 
 
2 Em Busca da Imagem Civilizada 
 
Os historiadores que se tem reportado à Primeira Republica, que vai de 1889 a 1930, 
tais como: J. Murilo de CARVALHO (1989), Nikolau SEVECENKO (1989) e lnez TURAZZ1 
(1988), têm se referido a esse período como aquele em que as elites intelectuais e políticas 
brasileiras foram mobilizadas por uma euforia pela modernização, sem precedentes, 
promovendo acentuadas transformações, sobretudo na capital do país. O ideal de 
modernização pode ser observado em períodos anteriores. Como não é interesse desse 
artigo buscar as origens desse movimento, um exemplo serve para mostrar a existência 
desse antecedente. 
É bem conhecida a frase de Silvio Romero referindo-se à década de 70 do século 
passado, “um bando de idéias novas esvoaçavam entre nós em todos os pontos do 
horizonte” referindo-se às idéias componentes dos novos paradigmas literários, científicos e 
filosóficos representados por uma miríade de siglas como evolucionismo, darwinismo, 
positivismo, etc., idéias que eram adotadas, refletidas e reconstruídas, mas que, seus 
próprios conteúdos cognitivos defendiam uma marcha irreversível da humanidade para 
patamares mais racionais, mais positivos, ou mais elevados de civilização e eram 
incorporadas com a sensação de se estar ingressando em uma nova era. 
Este sentimento de se estar ingressando em uma nova era também fazia parte da 
consciência dos contemporâneos da Primeira República. Para estes, a herança da década 
de 70 era ultrapassada, tal como positivismo. Claro que muitos elementos da tradição 
estavam presentes na nova realidade, mas, ou já não tinham visibilidade para os modernos, 
ou então estes não eram considerados tão importantes como as inovações. 
23 
 
 
Sevcenko procurou sintetizar em quatro princípios fundamentais as transformações 
no espaço público, no modo de vida e na mentalidade das elites, observadas na capital do 
país, durante a Primeira República. 
 
(...) A condenação dos hábitos e costumes ligados pelamemória à 
sociedade tradicional, a negação de todo e qualquer elemento de 
cultura popular que pudesse macular a imagem civilizada da 
sociedade dominante; uma política rigorosa de expulsão de grupos 
populares da área central da cidade, que será praticamente isolada 
para o desfrute exclusivo das camadas aburguesadas; e um 
cosmopolitismo agressivo, profundamente identificado com a vida 
parisiense. 
 
 As elites políticas, econômicas e letradas pretendiam dar ao país uma imagem 
civilizada. Conforme a mentalidade da época considerava que havia um modelo ideal de 
civilização. A França, a Alemanha, a Inglaterra, a Bélgica e outros países europeus 
conseguiram se impor como o modelo superior desse ideal de civilização..Assim, aqueles 
que não quisessem ser considerados atrasados deviam identificar-se com eles, anseio que 
frequentemente era expresso de modo exacerbado. O que importava não era apenas 
assimilar as novas teorias científicas e os mais recentes produtos tecnológicos que 
servissem à economia ou ao conforto material. Esse ideal de civilização era louvado como 
um verdadeiro mito e por isso mesmo todo elemento que representasse um aspecto da 
européia era requerido e adotado frequentemente de modo acrítico. Consequentemente, o 
movimento dominante na mentalidade das elites da época era negação da cultura local. 
 
(...) os navios europeus, principalmente os franceses, não traziam 
apenas os figurinos, o mobiliário e as roupas, mas também as notícias 
sobre as peças e os livros mais em voga, as filosóficas predominantes, 
o comportamento, o lazer, as estéticas e até as doenças, tudo enfim 
que fosse consumível por uma sociedade altamente urbanizada e 
sedenta de modelos de prestígio. 
 
Na transformação do espaço público das áreas centrais da capital do país, os novos 
prédios não se erguiam simplesmente ocupando os terrenos vazios, ou expandindo-se pela 
periferia da cidade, compondo a paisagem em harmonia com a antiga arquitetura colonial. 
Eles se erguiam, sobretudo pela demolição desta, substituindo-a nas áreas centrais da 
cidade e, portanto pela sua demolição. 
Era a Regeneração da cidade, e por extensão do país, na linguagem dos cronistas 
da época. Nela são demolidos imensos casarões coloniais e imperiais do centro da cidade 
transformados que estavam em pardieiro em que se abarrotava grande parte da população 
pobre, a fim de que as ruelas acanhadas se transformassem em amplas avenidas praças e 
24 
 
 
jardins, decorados de palácios de mármore e cristal e pontilhados de estátuas importadas da 
Europa. 
 
3 Higiene e saneamento e suas prioridades 
 
Os projetos que procuravam dar ao país uma imagem civilizada podiam ser diversos, 
como expandir as ferrovias, contratar mão de obra emigrante, otimizar o transporte fluvial de 
importações, mas, sem duvida, higienizar e sanear eram considerados aspectos 
fundamentais para essas realizações. Eram palavras de ordem que regeram as 
transformações processadas na Primeira Republica e que tiveram como um alvo principal o 
combate às doenças transmissíveis, sobretudo as epidemias, pois elas comprometiam 
esses projetos modernizadores. 
O combate a essas doenças passou a ter importância no inicio do século, mas isso 
não era prerrogativa do país. O combate vinha sendo implementado pelos países 
imperialistas, pois essas doenças contrariavam seus interesses nas colônias criando 
dificuldade para o movimento tanto de civis como de militares, que eram enviados as 
colônias para defender seus objetivos. Tendo como uma de suas prioridades combater 
essas doenças, várias filiais do Instituto Pasteur, que foi inaugurado em 1988, na Franca, 
foram espalhadas por diversos países da África e do Oriente Médio, durante todo o período 
que coincide com o da Primeira Republica no Brasil. 
No Brasil, os surtos de epidemia não eram novidade quando se inaugurou a Primeira 
República, mas nesse momento passaram a ser vistos como a ameaça principal a 
modernização do país. Os discursos visando sua erradicação proliferavam. Por exemplo, em 
1889, pode-se ler na Gazeta Médica da Bahia, um dos principais periódicos médicos 
brasileiros. 
A higiene é a primeira necessidade de um povo, e não há país 
civilizado em que não esteja radicada a compreensão e a prática 
dessa verdade (...). 0 saneamento é a exigência da civilização, que o 
patriotismo e a humanidade estão impondo como uma necessidade 
inadiável. 
 
Com essa idéia, de que o saneamento era uma necessidade inadiável, é 
compreensível que as metas de higienizar fossem adotadas até em prioridades 
governamentais, prioridade que atingiu o auge durante o governo do presidente Rodrigues 
Alves. Durante sua campanha, no inicio do século, expressava a preocupação que se 
tornaria projeto central de seu governo 
 
Aos interesses da imigração, dos quais depende em máxima parte o 
nosso desenvolvimento econômico, prende-se a necessidade de 
25 
 
 
saneamento desta capital. É preciso que os poderes da República, a 
quem incumbe tão importante serviço, façam dele a sua mais séria e 
constante preocupação (...). A capital da Republica não pode continuar 
a ser apontada como sede de vida difícil, quando tem fartos elementos 
para constituir o mais notável centro de atração de braços, de 
atividades e de capitais nesta parte do mundo. 
 
Se a preocupação da Higiene Pública com o combate às doenças infecto 
contagiosas, não era novidade quando a Primeira Republica foi inaugurada, sua visibilidade 
foi acentuada naquele momento. Em 1899, espalhava-se a noticia que a peste bubônica 
havia atingido a cidade portuária de Santos. Os médicos Adolfo Lutz e Vital Brasil, do 
Instituto Bacteriológico de São Paulo, confirmaram que chegara ao Brasil essa doença que 
se tornava epidêmica em varias partes do mundo. Logo a peste bubônica estava no Rio de 
Janeiro demandando o esforço de Oswaldo Cruz e outros médicos e do Laboratório 
Soroterápico, criado em 1900, para combater essa doença. Durante a gestão do presidente 
Rodrigues Alves intensificou-se a campanha contra a peste bubônica, ao mesmo tempo que 
se combatia a febre amarela e a varíola, que ameaçavam a urbanização das zonas centrais 
da capital do país e seu porto. Em 1910, Oswaldo Cruz, com sua equipe de higienistas, 
tentava debelar a malaria que dizimava os operários da construção da Estrada de Ferro 
Madeira Marmoré de tal forma que era conhecida como ferrovia do diabo.Enfim, as 
epidemias pareciam espalhar-se por toda parte e os higienistas empenhados no seu 
combate centralizados no Rio de Janeiro e São Paulo. 
Algumas doenças, sobretudo em forma epidêmica, como: peste bubônica, febre 
amarela, varíola e malaria, tiveram prioridade nas campanhas de saúde pública, mas outras, 
mesmo que não fossem consideradas epidêmicas, afligiam a populário como, tuberculose 
febre tifóide, paludismo, sarampo, coqueluche, gripe, desinteria, lepra, tétano e sífilis. 
Sobretudo a longo prazo, muitas dessas doenças eram até mais violentas que as epidemias. 
A tuberculose é um caso exemplar. Entre 1899 e 1914 dizimaram quase 40.000 vidas 
enquanto que, no mesmo período a peste bubônica, a febre amarela e a varíola juntas não 
chegaram a dizimar 5.000. 
 
 
4 A medicina torna-se pública 
 
O médico era elemento chave no combate das epidemias. Era o médico sanitarista 
ou higienista que tinha os conhecimentos necessários para liderar esse projeto. 
Teoricamente as funções do Higienista e Sanitarista seriam diferentes: 
 
26 
 
 
(...) caberia aos médicos sanitaristas a implementação dos grandes 
planos de atuação nos espaços públicos e privados da nação, 
enquanto os higienistas seriam responsáveis pelas pesquisas e pela 
atuação quotidiana no combate as epidemias e as doenças que mais 
afligiam as populações. No entanto, essa divisão entre sanitaristas 
responsáveis pelos grandes projetos públicos e higienistas vinculado 
diretamente as pesquisas e a atuação médica mais individualizadafuncionou, muitas vezes, de maneira apenas teórica. Na prática as 
duas formas de atuação apareceram de modo indiscriminado. 
 
Na prática — pelo menos nas atividades realizadas no país — essas tarefas eram 
executadas pelo mesmo individuo, isto é, não havia nenhuma diferença entre o médico 
higienista e sanitarista. Seu lugar nato se reduzia ao hospital, ele ganhava as ruas. 
Higienizar não era simplesmente debelar as epidemias que assolavam o país, mas um 
conjunto de ações que implicavam em transformações no espaço público, o modo de vida e 
a própria mentalidade das pessoas, pois exigiam o isolamento dos doentes nos hospitais, a 
vacinação em massa da população, a desinfecção de ruas, a interdição dos prédios e sua 
reforma e o despejo dos seus moradores. 
Tal atividade evidentemente provocou rebuliço na cidade e perturbou a vida dc 
milhares de pessoas, em especial os proprietários das casas de cômodos e cortiço anti-
higiênicos, obrigados a reformá-los ou demoli—los, e os inquilinos forçados a receber os 
empregados de saúde pública e sair das casas para desinfecções, ou mesmo a abandonar 
a habitação quando condenada a demolição. (10) 
A resistência se estabeleceu pela forma ditatorial e truculenta com que o governo 
pretendeu impor essas medidas e, consequentemente, estabeIeceu-se o conflito. A lei de 
1904 reforçando essas medidas foi logo apelidada de Código de Torturas tal a antipatia que 
gerou na população.(11) Esses conflitos alcançaram ponto culminante com a Revolta da 
Vacina que resultou na chacina patrocinada pelo governo contra os opositores. (12) 
 
5 O higienista especializado 
 
Não foi apenas neste momento que, no Brasil, as atividades do higienista passaram 
a fazer parte do domínio médico. Mas agora essa função que mantinha profissionais 
dedicados exclusivamente as suas exigências, não só tornava-se prioridade, mas também 
especializada. Oswaldo Cruz e Rocha Lima, dois lideres do mais famoso centro irradiador 
das atividades de higiene, o Instituto Oswaldo Cruz, tiveram oportunidade de especializar-se 
em microbiologia no exterior: Oswaldo Cruz, em 1896, depois de formado, esteve no 
Instituto Pasteur, de Paris, especializando-se em microbiologia no auge das descobertas 
dos microorganismos patogênicos, quando as perspectivas da soroterapia pareciam 
ilimitadas: o soro antidiftérico e 0 antipestoso foram desenvolvidos em 1894.(13) Rocha 
27 
 
 
Lima na Alemanha. Outros, como Carlos Chagas e Arthur Neiva especializavam-se nas 
próprias frentes de combate das campanhas sanitárias. No Instituto Osvaldo Cruz, alunos 
concluintes e jovens médicos recém-formados aprendiam com os mais experientes para 
ingressarem nas práticas de higiene. 
Em 1917, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro vangloriava-se de iniciar em 
caráter oficial a criação do curso de especialização em Medicina Pública, que era composto 
de duas especialidades: uma delas era a Medicina Legal, mas a outra era exatamente a de 
Higiene. A especialização, nesse momento já era uma instituição considerada perfeitamente 
admissível e inclusive requisitada, pelo menos entre os homens dedicados as ciências. 
Nesse momento, a ciência era praticada pelos formados nas escolas de medicina e 
engenharia, mas estava em vigor a reivindicação de uma escola para formar profissionais 
específicos para a práticas da física, da matemática, etc. No caso da medicina, admitia-se 
perfeitamente a formação do médico especializado não apenas do médico generalista. O 
anúncio do curso de especialização nos Anais da Faculdade assinalavam essa 
transformação: 
 
A especialização da medicina que parecia a velhos médicos como 
Verneuil, ainda no meado do século XIX, um inicio de charlatanismo, 
é, ao contrário, dada a lei da divisão do trabalho, imposta pela 
complexidade da ciência e da civilização, uma consequência natural 
do progresso humano. 
 
E justificava procurando mostrar que essa iniciativa significava o ingresso da 
medicina em uma etapa em que já estavam situados além dos Estados Unidos, os países 
europeus: 
 
Chega a nossa vez. O que tentamos hoje provém desses exemplos 
ilustres: o ensino técnico de medicina forense, como na França; de 
medicina sanitária como nos Estados Unidos; menos rudimentares que 
o estudo e o exame do Kreisarzt na Alemanha, mas como neste, junta 
as duas especialidades, na medicina pública. (15) 
 
Em 1918, ao diplomar-se a primeira turma, tomava-se claro que o ensino médico 
entrava numa nova fase: a da especialização. "(...) pela vez primeira um curso oficial de 
especialização, marca, sem dúvida, o inicio de uma nova fase na evolução do ensino 
médico no Brasil." (16) 
 
 
 
 
28 
 
 
6 Conflito entre o velho e o novo paradigma 
 
Todos queriam dar uma imagem civilizada ao país, Concordavam que, para isso, o 
projeto de higienização da cidade era necessário. Entretanto, a forma de realizar o projeto 
suscitava discordância. Os homens de ciência achavam que o interesse do governo era 
apenas somente aplicar aqui as técnicas de combate as epidemias que vinham sendo 
utilizadas no exterior. Para eles, isso não bastava: consideravam prioridade desenvolver 
centros científicos no país com produção original de acordo com os novos "paradigmas 
universais da ciência". 
Naquele momento, já estava perfeitamente consolidada a idéia de que praticar 
medicina experimental era praticar medicina moderna. Os mais entusiasmados com as 
medicina experimental pretendiam que ela fosse a superação da medicina clinica e era 
também referida, muitas vezes, como medicina científica para reforçar a idéia de que a 
medicina ingressando na fase experimental passava a uma nova fase, a fase científica. Em 
1883, 0 Diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro se referia a esse questão da 
seguinte maneira: 
Nunca compreendi estudo médico sem laboratório em que 
objetividade dos fatos, que possam ser percebidos cu caiam debaixo 
dos nossos sentidos, tenha a sua confirmação na análise e verificação 
experimental bem estabelecida em todas as fases do fenômeno que 
se queira estudar ou conhecer. 
 
A Medicina Pasteuriana, que circunscrevia vários ramos da microbiologia e 
constituiu-se um suporte fundamental do projeto de higienização, tinha o significado de 
medicina experimental. Para os seus praticantes ela era não somente o suporte de 
campanhas sanitárias consideradas indispensáveis para a modernização do pais, mas ela 
em si era um elemento modernizador da medicina e da ciência. Não foi por acaso que o 
nome do mais notável centro irradiador das práticas de higiene, que posteriormente veio a 
denominar-se Instituto Oswaldo Cruz tivesse se chamado Instituto de Patologia 
Experimental. E, ainda, que se considerasse a prova experimental um dos aspectos mais 
relevantes para elucidar as causas da febre amarela, como foi realizada por Adolfo Lutz e 
Emilio Ribas, picando seres humanos com mosquitos infectados, em fins de 1902 e inicio de 
1903, com o intuito de saber se de fato a febre amarela era causada pelos mosquitos 
apontados pelo médico cubano Finlay e pelas experiências realizadas pelos 
norte·americanos em Cuba. 
O que importa para a presente análise não é determinar se essas novas práticas 
rompiam, ou ao contrario, davam continuidade a tradição médica no Brasil. O que importa é 
assinalar que ela era entendida por seus praticantes como o ingresso da medicina no Brasil 
29 
 
 
em uma nova era; a implementação da medicina como ciência. E bem significativo que 
Oswaldo Cruz costumasse fazer referência ao projeto de higiene que procurava implantar, 
como jardim da infância da ciência no Brasil. (19) 
As praticas dos adeptos da Medicina Pasteuriana, entretanto, não ficaram isentas de 
critica. Essas não eram feitas porque essa nova medicina se apresentava como 
experimental, pois no inicio do século a idéia de medicina experimental já tinha ultrapassado 
os conflitos da fase inicial de sua instituiçãoe era aceita sem restrições. As criticas 
acusavam os adeptos da nova medicina de cometerem excessos, privilegiando práticas 
ainda não comprovadas cientificamente, mesmo em situações onde as práticas tradicionais 
pareciam as mais eficazes. Era a polêmica entre o novo e o velho. 
Nessa polêmica, uma questão central era a causa desconhecida de algumas 
doenças. Havia concordância médica para a causa de algumas doenças, mas para outras 
não. Quando se desencadeou forte epidemia de febre amarela no inicio do século sua 
origem ainda era alvo de fone polêmica. Os engajados com a Medicina Pasteuriana 
defendiam a idéia de que a febre amarela era transmitida pela picada de um mosquito 
infectado por um microorganismo transmissor, dando pouca importância aos argumentos 
mais tradicionais da origem dessa doença. (20) 
A idéia de que havia um microorganismo que transmitia através de um inseto ou 
agente hospedeiro não era uma hipótese, que os especialistas na medicina a Pasteuriana, 
utilizavam exclusivamente para determinar as causas da febre amarela. Era a hipótese 
dominante para a investigação da origem desconhecida das epidemias. Para os críticos, 
havia certo exagero, naqueles que atribuíam aos micróbios as causas das doenças. Já em 
1883, 0 Diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Visconde de Sabéia. Para ele 
os partidários de Pasteur ansiavam ser o Colombo de um novo micróbio. 
(...) alguns médicos e patologistas, com o afã e ânsia quase vertiginosa, têm 
estudado nesses últimos anos o mundo dos infinitamente pequenos e procurado ali a origem 
e causas dos estados febris, a descoberta do micróbio do carbúnculo, o do chólera das 
galinhas por Pasteur — foi um grito de alarme para que todos quisessem ser o Colombo de 
um novo micróbio, de um modo que hoje não há estado febril grave ou moléstia de natureza 
zymótica ou epidêmica e mesmo com difícil ou impossível, que não se queira atribuir aos 
micróbios (...) 
Esse e outros novos conceitos colocavam em segundo plano os ensinamentos 
tradicionais da medicina, que valorizava mais outros fatores para tentar entender as 
epidemias, cujas causas ainda eram desconhecidas, tais como: as emanações podres, 
fétidas, nocivas provenientes do solo, em outras palavras mais ao gosto da medicina da 
época, as emanações miasmáticas ou teleféricas; os fatores topográficos e os 
meteorológicos como a atmosfera, o clima. Com relação a febre amarela, por exemplo, 
30 
 
 
alguns fatores que tradicionalmente se julgava importante observar para tentar descobrir 
suas causas eram que: 
 
 
geralmente coincidiam com a estação calmosa e o calor, a quantidade 
de ozônio na atmosfera, a umidade proveniente dos pântanos - um 
dos principais focos de exalação dos miasmas — e os morros que 
impediam de circular os ventos capazes de purificar o ar, o principal 
veículo dos eflúvios miasmáticos. Por outro lado, intervinham aspectos 
propriamente urbanísticos o ar confinado nas habitações coletivas, nas 
fábricas, nas ruas estreitas, a influência corruptora dos matadouros, 
cemitérios, valas de esgotos etc. 
 
No início do século, a polêmica entre os novos e velhos preceitos da higiene no 
combate as epidemias, continuava em vigor, Em 1904, no editorial da Revista Médica de 
São Paulo seus Diretores referem-se ao velho problema da transmissão da febre amarela. 
Para eles, apesar das experiências que apontaram o mosquito stegamyia fasciata, como 
hospede intermediário da transmissão dessa moléstia, a dúvida persistia: 
 
Apesar das nossas dúvidas, que representam já uma concessão ao 
radicalismo das opiniões opostas, estamos muito longe de querer 
sustentar uma opinião caprichosa, assim como não seremos nos 
também que havemos de criar embaraços a administração pública por 
ter adotado esta ou aquela orientação científica. Manda a nossa 
lealdade reconhecer que a guerra ao mosquito se justifica pelas 
experiências até agora feitas, sem que reconheçamos, contudo que os 
processos clássicos antigos devam ser postos à margem. 
 
As vozes de oposição a orientação científica adotada nas campanhas contra a febre 
amarela, tendo como o eixo central o combate aos mosquitos, logo emudeceram, 
substituídas pelo clamor em torno dos resultados obtidos, considerados pleno êxito. Os 
homens de ciência aproveitaram o apoio dado ao governo para essas campanhas e 
fortaleceram as pesquisas em microbiologia no campo da Medicina Pasteuriana, de tal 
modo que se compararmos as condições para a pratica desta ciência e algumas outras que 
eram realizadas na época o que se observa é um enorme contraste. 
 
 
7 Os parentes pobres das ciência da higiene 
 
Todos concordavam com a idéia de dar ao país uma imagem civilizada. E, para isso, 
enfatizavam os homens de ciência, era necessário que as atividades científicas do país 
partilhasse da ciência universal. Que devia haver condições mais favoráveis para ciências 
31 
 
 
como a Fisiologia Experimental, a Teoria da Relatividade e outras que consideravam 
inovadoras. Conforme a queixa dos que se dedicavam a essas ciências elas encontravam 
dificuldades para se desenvolver por falta de apoio do governo e reconhecimento da 
população. 
Enquanto o apoio governamental as campanhas sanitárias, lideradas por Oswaldo 
Cruz, era tal que permitiu que fosse construído um dos prédios mais imponentes da época, 
para centralizar essas atividades, os irmãos Osório realizavam as experiências de fisiologia 
no laboratório que montaram em sua própria residência, pois sequer encontravam um lugar 
adequado a essas atividades, apesar de ambos serem médicos e professores 
respectivamente da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e da Faculdade de Medicina 
Veterinária do Rio de Janeiro. Só a partir de 1818, depois da morte de Oswaldo Cruz, é que 
a Fisiologia Experimental pode se firmar no Instituto que recebeu o nome deste notório 
higieniza. 
Não era essa a primeira vez que se tentava desenvolver experiências sobre 
Fisiologia Experimental no Brasil. No século XIX Couty e Lacerda no séc. XIX 
empreenderam atividades no laboratório, que hoje se considera uma das experiência mais 
promissoras para o desenvolvimento da ciência experimental no Brasil. Estudavam o 
comportamento dos organismos vivos sob a ação: do curare, e do clima, como a 
temperatura do homem nos climas quentes; ação antagonista do permanganato de potássio 
em relação ao veneno de cobra; e as funções do cérebro. Esse laboratório de Fisiologia, 
entretanto, foi transformado, em 1890, em laboratório de Biologia, desviando suas atividades 
para pesquisas de epidemias como a dos agentes causadores da febre amarela. (24) 
Os estudiosos, que pretendiam melhorar as condições que consideravam pouco 
favoráveis para realizar suas atividades científicas, criaram, em 1916, a Sociedade Brasileira 
de Ciência, que depois passou a ser a Academia Brasileira de Ciências, que diferia das 
outras sociedades científicas da época pelo menos por dois motivos. Primeiro, reunia 
estudiosos das diversas correntes científicas e não de um ramo especifico. Segundo, 
pretendia promover as ciências puras, embora na prática não tenha se restringido a esse 
objetivos. 
A intenção de promover a "ciência pura", entretanto, não era a intenção de promover 
uma atividade científica alheia as questões sociais, ao contrario, seus objetivos eram bem 
definidos. Em primeiro lugar, era um modo de buscar condições mais favoráveis para o 
desenvolvimento no país dessas ciências que emergiam como novas correntes da ciência 
universal. A necessidade de desenvolvê-las no país era justificada por vários motivos. Eram 
requisitos para 0 ingresso no mundo civilizada. Pelo exercício da pratica desinteressada 
dessas ciências os valores estéticos do individuo seriam aprimorados e, com isso, os da 
sociedade. Mesmo que a pratica dessas ciências não priorizassem a produção "utilitária", 
32 
 
 
esta viria como consequência natural, mesmo que

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