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A busca por conhecimento: democracia ou aristocracia? Não restam dúvidas que o uso da internet faz parte da vida hodierna de muitos indivíduos, seja em uma conversa descontraída com amigos no WhatsApp, enviar um email no trabalho, ou, até mesmo, fazer um curso ou graduação online. Nesse sentido, vivemos no século da tecnologia, onde tudo – ou quase tudo – que fazemos ou precisamos, só acontece graças a existência da internet. Como professora de filosofia há 20 anos, julgo importante o debate de como a internet pode ser uma ferramenta para a democratização do conhecimento, tanto de maneira positiva como negativa, haja vista os longos anos que ensino com e sem o uso da internet na sala de aula. Inicialmente, leitores, havemos de concordar que possuímos mais praticidade ao estudar de maneira online. Nesse viés, podemos analisar e lembrar de como as aulas eram ministradas durante a pandemia de covid-a-19. Vocês acham que eu tive dificuldade ao entender e aprender como usar as plataformas de aulas? Certamente que sim, leitores, mas meus alunos não apresentaram nenhum problema ao usá-las e adaptaram-se rapidamente. Desse modo, isso é prova de como os jovens possuem mais facilidade aos estudos online, assim, jovens e adolescentes com acesso à internet beneficiam-se ao fazerem cursos e graduações a distância, de maneira que recebem ensino de qualidade estudando em qualquer lugar, sem precisarem se deslocarem para isso. Entretanto, há quem defenda que todos conseguem usar desse meio para obter conhecimento, mas podemos perceber, leitores, que esse pensamento é equivocado, visto que habitamos em um país extremamente desigual. Assim, é válido lembrar da fala de um querido amigo, o historiador Darcy Ribeiro, que em uma de suas análises críticas citou que a crise da educação no Brasil não é uma crise, mas é um projeto. Dessa maneira, pessoas que não detêm acesso, conhecimento ou apresentam dificuldade ao usarem a internet para estudo – como pessoas idosas ou de baixa renda – são marginalizadas de participação plena de tal democracia dita. Logo, quando o básico não é acessível a todos, ele passa a ser privilégio, instaurando-se, assim, um dos maiores paradoxos brasileiros: direito primordial é regalia destinada aos de maior poder aquisitivo. Diante do exposto, reitero que existem, ainda, diversos entraves para que ocorra a total democratização da internet como ferramenta de conhecimento. Somente assim, será possível pensar em uma situação, de fato, justa, em que compreenderá que todas as classes sociais merecem os mesmos direitos de acesso ao aprendizado de modo igualitário e democrático.