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MANUFATURA ASSISTIDA POR COMPUTADOR (CAM) E PROGRAMAÇÃO CNC Elaboração Kaciê Karoline de Araújo Trindade Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................................................ 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ................................................................................. 5 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................. 7 UNIDADE I USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) ......................................................................... 9 CAPÍTULO 1 MÁQUINAS-FERRAMENTA PARA USINAGEM EQUIPADAS COM CNC .......................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS CENTROS DE USINAGEM VERTICAIS E DOS TORNOS CNC ................................ 18 CAPÍTULO 3 INTRODUÇÃO À USINAGEM CINCO EIXOS E USINAGEM EM ALTAS VELOCIDADES ........................................................... 33 UNIDADE II PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC ....................................................................................................................................... 38 CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DO PROGRAMA CNC, COMANDOS DE MOVIMENTAÇÃO E INTERPOLAÇÃO ................................................ 38 CAPÍTULO 2 SISTEMAS DE REFERENCIAMENTO DE COORDENADAS DE TRABALHO ................................................................................. 56 CAPÍTULO 3 MÉTODOS PARA PROGRAMAÇÃO E COMUNICAÇÃO DE MÁQUINAS CNC .............................................................................. 63 UNIDADE III PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM........................................................................ 66 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ÀS OPERAÇÕES DE USINAGEM PROGRAMADAS POR SISTEMAS CAM ..................................................... 67 CAPÍTULO 2 PARÂMETROS DE ENTRADA NO SOFTWARE CAM ............................................................................................................................. 73 CAPÍTULO 3 CÁLCULO DE TRAJETÓRIAS, TRAJETÓRIAS DE FERRAMENTA POR POLINÔMIOS SPLINE E ETAPA DE PÓS-PROCESAMENTO .................................................................................................................................................................................... 82 UNIDADE IV PROGRAMAÇÃO CNC ...................................................................................................................................................................................................... 88 CAPÍTULO 1 PROGRAMAÇÃO DE TORNOS CNC ............................................................................................................................................................ 88 CAPÍTULO 2 PROGRAMAÇÃO DE CENTROS DE USINAGEM CNC ........................................................................................................................... 97 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................ 102 4 APRESENTAÇÃO Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/ conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 INTRODUÇÃO Esta apostila oferece ao estudante de pós-graduação em engenharia de usinagem um conhecimento geral sobre a programação por comando numérico computadorizado (CNC) e uso de software de Manufatura Assistida por Computador (CAM). Para facilitar a sua compressão, esta apostila foi dividida em quatro unidades. Na Unidade I, é abordada uma introdução sobre as máquinas-ferramentas controladas por CNC. Na Unidade II, são descritas as particularidades da programação CNC, desde a criação dos códigos até o uso deles nas máquinas CNC. Na Unidade III, é explicado o método de programação através de software CAM e, na Unidade IV, são tratadas algumas particularidades da programação de tornos CNC e de centros de usinagem. Além disso, são apresentados exemplos de programas CNC aplicados a essas máquinas. Objetivos » Caracterizar as máquinas-ferramentas CNC. » Introduzir os métodos de programação CNC manual e por software CAM. » Discutir as etapas de programação CNC desde a criação dos códigos até o uso deles nas máquinas controladas por comando numérico computadorizado. 9 UNIDADE I USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) A usinagem por máquinas de comando numérico computadorizado (CNC) proporcionou a possibilidade de fabricação de peças complexas com maior qualidade, confiabilidade e precisão, uma vez que removeu, em parte, a variabilidade da intervenção humana. Com o intuito de facilitar a compreensão do estudante sobre o tema, esta unidade será dividida em três capítulos. O primeiro capítulo irá abordar as máquinas-ferramenta para usinagem equipadas com CNC. Nele, o estudante conhecerámaneira, o interpolador dividirá também a trajetória em n intervalos de movimentação para cada eixo, individualmente (SOUZA; ULBRICH, 2013). Existem várias funções de interpolação que permitem que as máquinas-ferramentas movam os seus eixos ao longo do caminho descrito pela geometria a ser usinada. Um sistema CNC fornece funções de interpolação linear em avanço rápido 47 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II (G00), interpolação linear em avanço programado (G1), interpolação circular (G02 e G03) e interpolação spline (SUH et al., 2008). Interpolação Linear em avanço rápido ou Posicionamento rápido (G00) A função de posicionamento rápido (G00) é usada para comandar os eixos específicos para se moverem rapidamente para a posição programada. Ele consiste no movimento de velocidade mais rápida que a máquina pode produzir. É aplicado, por exemplo, para reposicionar a ferramenta para outro ponto de corte (numa região em segurança) ou para posicionar a ferramenta no ponto de troca. As velocidades comuns variam de lentas (na ordem 2,5 m/min) em máquinas de treinamento a rápidas (na ordem de 25 m/min ou mais) em equipamentos industriais (FITZPATRICK, 2014). No caso de um modo de programação absoluto (G90), esta função faz com que os eixos se movam para a posição comandada a partir da posição atual. No caso de um modo de programação incremental (G91), esta função faz com que os eixos se movam com o valor incremental comandado e cada eixo se mova com o avanço específico definido no sistema CNC. Portanto, não é necessário definir um avanço adicional em G00. Interpolação linear (Movimento em linha reta - G01) A função de interpolação linear (G01) é usada para comandar os eixos para mover a ferramenta ou mesa da máquina ao longo de uma linha reta com o avanço programado, conforme mostrado na figura 23. G01 é um código G modal e a velocidade de avanço comandada (F200, mostrada na figura 23) é efetiva até que uma nova velocidade de avanço seja comandada. Figura 23. Trajetória em interpolação linear descrita com (a) coordenadas absolutas e (b) coordenadas incrementais. (a) (b) Eixo X Eixo X G90 G01 X200 Y200 F200 Eixo Y Eixo Y Posição atual Posição atual Posição alcançada Posição alcançada G91 G01 X200 Y200 F200 Fonte: adaptado de Suh et al., 2008. 48 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC Quando a máquina CNC é comandada a se mover em interpolação linear, um, dois ou três eixos devem se mover em linha reta e em velocidades coordenadas para chegar ao destino na velocidade de avanço da ferramenta especificada no programa. Você pode ver que, quando mais de um motor está acionando a ferramenta ou a mesa da máquina, cada um deve estar girando em alguma velocidade abaixo daquela especificada. Seu efeito combinado produz o movimento da ferramenta na velocidade de avanço especificada. Isso é conhecido como interpolação (interpolação significa encontrar um valor entre dois outros). Por exemplo, para interpolar linearmente uma linha reta do ponto A até o ponto B, o eixo Y deve girar a uma porcentagem da velocidade de avanço do eixo X. Na figura 24, vemos um exemplo de trajetória linear programada para velocidade de avanço de 400 mm/min, uma possibilidade seria: o eixo X girar em 375,87 mm/min enquanto o eixo Y gira em 136,83 mm/min. De tal modo que, 2375,87 136,83² 400+ = mm/min. Figura 24. A ação combinada das velocidades de avanço (Vf) nos eixos X e Y cria o caminho linear com a velocidade de avanço programada. Movimento do eixo X à 𝑉𝑉𝑓𝑓 = 375,87 𝑚𝑚𝑚𝑚/𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 Movimento do eixo Y à 𝑉𝑉𝑓𝑓 = 136,83 𝑚𝑚𝑚𝑚/𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 Fonte: adaptado de Fitzpatrick, 2014. Interpolação circular (Movimento circular - G02 e G03) A função de interpolação circular é usada para comandar o movimento da ferramenta ao longo de um círculo. G02 e G03 podem ser usados para a função de interpolação circular. G02 é para comandar a interpolação circular no sentido horário e G03 é para comandar a interpolação circular no sentido anti-horário. Normalmente, a direção de rotação é definida com base no sistema de coordenadas pela Regra da Mão Direita. Ou seja, se o plano programado é o plano XY, então as direções horária ou anti-horária são definidas com base 49 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II em quando o plano XY é visto da direção positiva para negativa do eixo Z. A figura 25 mostra os sentidos de rotação individuais nos casos em que os planos programados são os planos XY (programado pela função G17), ZX (programado pela função G18) e YZ (programado pela função G19). Figura 25. Direção horária e anti-horária para o plano XY (G17), ZX (G18) e YZ (G19). Fonte: Suh et al., 2008. O ponto final de um arco é especificado pelas coordenadas X, Y e Z, e é expresso como um valor absoluto ou incremental de acordo com o modo de posicionamento G90 ou G91. O centro do arco é especificado pelas coordenadas I, J e K para os eixos X, Y e Z, respectivamente, conforme mostrado na figura 26. O valor numérico após I, J ou K, no entanto, é um componente vetorial no qual o centro do arco é visto do ponto inicial e é sempre especificado como um valor incremental independentemente de G90 e G91, conforme mostrado abaixo. I, J e K devem ser sinalizados de acordo com a direção do arco. Figura 26. Distância entre o ponto inicial e o centro do arco pela coordenadas I, J e K no plano XY (G17), ZX (G18) e YZ (G19). Centro Centro Centro Ponto inicial Ponto inicial Ponto inicial Ponto final Ponto final Ponto final Fonte: adaptado de Suh et al., 2008. O centro do arco também pode ser especificado usando o raio R em vez das coordenadas I, J e K. Nesse caso, há duas possibilidades: quando o arco é menor que 180º graus ou quando é maior que 180º graus. Quando um arco superior a 180º graus é comandado, o raio deve ser especificado com um valor negativo. A velocidade de avanço na interpolação circular é igual à velocidade de avanço 50 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC especificado no código F, e a velocidade de avanço ao longo do arco (avanço tangencial do arco) é controlada pela velocidade de avanço especificada. A figura 27 mostra um exemplo de programação real de interpolação circular no caso do modo G90 e modo G91, respectivamente. Figura 27. Interpolação circular absoluta e incremental. Utilizando coordenadas absolutas e coordenadas I, J e K➔ G92 X200 Y40 Z0; G90 G03 X140 Y100 I-60 F300; G02 X120 Y60 I-50; Utilizando coordenadas absolutas e o raio R ➔ G92 X200 Y40 Z0; G90 G03 X140 Y100 R60 F300; G02 X120 Y60 R50; Utilizando coordenadas incrementais e coordenadas I, J e K➔ G90 G03 X-60 Y60 I-60 F300; G02 X-20 Y-40 I-50; Utilizando coordenadas incrementais e o raio R ➔ G90 G03 X-60 Y60 R60 F300; G02 X-20 Y-40 R50; Fonte: adaptado de Suh et al., 2008. Interpolação spline A interpolação spline (G06.1 ou G6.2) é usada para usinar curvas ou superfícies de forma livre e permite que a ferramenta seja movida ao longo da curva interpolada que passa pelos pontos especificados, conforme mostrado na figura 28. A interpolação spline é cancelada comandando outro código G (por exemplo, G00, G01, G02, G03) que pertence ao mesmo grupo de código. 51 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Figura 28. Exemplo de interporlação spline. Eixo X Eixo Y N10 G17 G01 X10 Y0 F200; N20 X0 Y15; N30 G06.1 X5 Y30; N50 X20 Y15; N60 X45 Y30; N70 X60 Y15; N70 G01 X65 Y30; N80 M30. Interpolação spline é cancelada Fonte: adaptado de Suh et al., 2008. Devido à interpolação spline ser aplicada, geralmente, em sistema de Manufatura Auxiliada por Computador (CAM), ela será tratada com mais detalhes na Unidade III desta apostila. Principais comandos de programação CNC Os códigos G e M compõem a maior parte do conteúdo do programa CNC. A definição de cada classe de código e os significados específicos dos códigos mais importantes são abordados aseguir. É importante destacar que, embora a linguagem CNC seja padronizada (muitos comandos pela norma DIN 66025), cada fabricante de CNC pode alterar a nomenclatura das funções. Os códigos podem ser modais, o que significa que permanecem em vigor até serem cancelados ou alterados, ou não modais, o que significa que são eficazes apenas no bloco atual. Exemplo: N100 G01 X100 F1000 N110 Y30 N120 X40 N130 G00 Z15 O código G01 permanece ativo do bloco N100 até o bloco N120. No bloco N130 ele é cancelado pelo código G00, pois ambos pertencem ao Grupo 1. 52 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC Códigos G Os códigos que começam com G são chamados de funções preparatórias porque preparam a máquina para um determinado tipo de movimento. Na Tabela 2 são mostrados os principais comandos em códigos G utilizados na usinagem. A numeração dos códigos foi baseada no comando CNC da Fanuc série 0i. Muitos fabricantes de máquinas-ferramenta atribuem outros códigos para fins específicos relativos a seus equipamentos. Consulte sempre os manuais do fabricante específicos da máquina em uso para obter os códigos G e M pertinentes. Tabela 2. Código G. Código Grupo Descrição G00 01 Interpolação Linear em avanço rápido ou posicionamento rápido G01 Interpolação Linear em avanço programado G02 Interpolação Circular no sentido horário G03 Interpolação Circular no sentido anti-horário G04 00 Tempo de permanência (Dwell) G10 Deslocamento de zero peça no programa G11 Cancela deslocamento de zero peça G15* 17 Cancela sistema de coordenadas polares G16 Ativa sistema de coordenadas polares G17* 02 Seleciona o plano de trabalho XY G18 Seleciona o plano de trabalho XZ G19 Seleciona o plano de trabalho YZ G20 06 Entrada de dados em polegadas G21 Entrada de dados em milímetro G28 00 Deslocamento da ferramenta até o zero-máquina G40* 07 Cancela a compensação de raio de ferramenta G41 Ativa a compensação de raio da ferramenta (à esquerda do perfil) G42 Ativa a compensação de raio da ferramenta (à direita do perfil) G43 08 Ativa a compensação do comprimento da ferramenta (direção +) G44 Ativa a compensação de comprimento da ferramenta (direção -) G49* Cancela a compensação de comprimento da ferramenta G52 00 Sistema de coordenadas local (mudança de ponto zero) G53 Sistema de coordenadas de máquina 53 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Código Grupo Descrição G54 a G59 14 Deslocamento do zero-peça. Em uma máquina, mais de uma peça podem estar fixadas na mesa. Desta forma, pode-se registrar mais de um zero-peça. No início de cada programa CNC, o número do zero-peça correspondente deve ser acrescentado. G68 16 Ativa rotação do sistema de coordenadas G69* 16 Cancela rotação do sistema de coordenadas G73 09 Ciclo de furação com quebra-cavaco G74 Ciclo de rosqueamento com macho (rosca esquerda) G76 Ciclo de mandrilhamento fino com retorno deslocado do centro G80* Cancela ciclos fixos do grupo 09 G81 Ciclo de furação contínua G82 Ciclo de furação contínua com tempo de permanência descrito pelo G04 G83 Ciclo de furação com descarga de cavaco G84 Ciclo de rosqueamento com macho (rosca direita) G85 Ciclo de mandrilhamento com retração em avanço programado G86 Ciclo de mandrilhamento com retração em avanço rápido G87 Ciclo de mandrilhamento para rebaixo interno G88 09 Ciclo de mandrilhamento com retorno manual G89 Ciclo de mandrilhamento com Dwell e retração em avanço programado G90* 03 Sistema de coordenadas absolutas G91 Sistema de coordenadas incrementais G92 00 Estabelece nova origem G94* 05 Avanço em mm/min ou pol./min G95 Avanço em mm/volta ou pol./volta G98* 10 Retorno ao posicionamento inicial durante os ciclos fixos G99 Retorno ao “Plano R” durante os Ciclos Fixos NOTAS: 1 – Os códigos G marcados com * são ativados automaticamente ao se ligar a máquina. 2 – Os códigos G do grupo 00 não são modais. 3 – Mais que um código G podem ser especificados no mesmo bloco, porém no caso de pertencerem ao mesmo grupo, o código G especificado por último será o efetivado. 4 – Se qualquer código G do grupo 01 for especificado num ciclo fixo, este ciclo será automaticamente cancelado e a condição G80 assumida. Entretanto, um código G do grupo 01 não é afetado por qualquer código G de ciclo fixo. Fonte: Indústrias Romi S/A, 2006. Um bloco de segurança é comumente colocado na primeira linha do programa, onde códigos de cancelamento são usados para cancelar todos os códigos G que estavam em vigor em programas anteriores. Normalmente são: (G40) cancelamento da compensação de raio da ferramenta; (G49) cancelamento 54 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC da compensação do comprimento da ferramenta; (G80) cancelamento de ciclos fixos; e (G17) seleção do plano XY. Esses cancelamentos são importantes por causa dos comandos modais que permanecem em vigor até serem cancelados ou substituídos por um comando do mesmo grupo. Também é uma boa ideia inserir um bloco de segurança após os blocos de troca de ferramenta, caso você precise executar novamente uma única operação de dentro do programa. Ao inserir o Bloco de Segurança, não há chance de os comandos modais permanecerem ativos. Códigos M Os códigos que começam com M são chamados de funções miscelâneas. Eles controlam as funções auxiliares da máquina, como refrigeração e direção do eixo-árvore. Apenas um código M pode aparecer em cada bloco de código. Na Tabela 3 são descritas as principais funções miscelâneas. Tabela 3. Funções miscelâneas. Código Descrição M00 Parada de programa M01 Parada opcional do programa M02 Fim de programa M03 Sentido de rotação horário M04 Sentido de rotação anti-horário M05 Parada do eixo-árvore M06 Libera troca de ferramenta M07 Liga refrigeração pelo centro do eixo árvore (OPC) M08 Liga refrigerante de corte M09 Desliga refrigerante de corte M18 Desliga orientação do eixo-árvore M19 Orientação do eixo-árvore M29 Liga macho rígido M30 Fim de programa M36 Abre porta automática M37 Fecha porta automática M45 Liga limpeza de protetores M46 Desliga limpeza de protetores M47 Liga o transportador de cavacos M48 Desliga o transportador de cavacos M50 Desliga freio do eixo-árvore M51 Liga freio do eixo-árvore 55 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Código Descrição M52 Liga o apalpador (opcional para medição e inspeção de peças) M53 Desliga o apalpador (opcional para medição e inspeção de peças) M76 Contador de peças M78 Liga exaustor de névoa M79 Desliga exaustor de névoa M98 Chamada de subprograma M99 Fim de subrotina e retorno ao programa principal Fonte: Indústrias Romi S/A, 2006. 56 CAPÍTULO 2 Sistemas de referenciamento de coordenadas de trabalho Ao usar máquinas CNC, qualquer localização da ferramenta é controlada dentro do sistema de coordenadas. A precisão desta informação posicional é estabelecida por pontos zero específicos (pontos de referência). Esses pontos são conhecidos como zero-peça e o zero-máquina. O referenciamento das coordenadas de trabalho deve ser comum na etapa de projeto, no modelamento CAD, na programação CAM, na programação CNC manual, até a usinagem na máquina CNC. Isso porque todas as referências de movimentação de usinagem deverão partir de uma origem comum. (SOUZA; ULBRICH, 2013, p. 236). Ponto zero-máquina O zero-máquina, também chamado de ponto zero da máquina, é um ponto fixo estabelecido pelo fabricante da máquina-ferramenta. Ele é a base para todas as medições do sistema de coordenadas, pois identifica ao controlador da máquina onde está localizada a origem de cada eixo. O ponto zero-máquina é representado pelo símbolo . O manual do operador fornecido com a máquina deve ser consultado para identificar onde é a localização do ponto zero-máquina. Em geral, nos tornos, ele está localizado no centro da superfície de encosto do eixo- árvore. Nas fresadoras e nos centros de usinagem, ele pode ser encontrado no centroda mesa da máquina, na posição máxima em Z ou no ponto de troca da ferramenta. Para a maioria das máquinas, o ponto zero-máquina é definido como a posição final extrema de deslocamento dos componentes principais da máquina (mesa, eixo-árvore etc.) que são orientados em um determinado sistema de coordenadas. A partir do Zero-máquina, podemos determinar os valores das coordenadas que definem a posição dos pontos comandados em um programa CNC. O posicionamento dos componentes móveis em zero pode ser realizado manualmente, bem como com o uso do painel de controle, empregando uma função de Retorno ao Ponto de Referência. 57 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Este ponto é, comumente, chamado de Machine Home (traduzido como início da máquina), uma vez que na inicialização da máquina, todos os eixos precisam ser movidos para esta posição para estabelecer a origem do sistema de coordenadas (comumente chamado de homing the machine ou Zero Return). Algumas máquinas atuais são equipadas com codificadores absolutos para que o homing não seja mais necessário na inicialização da máquina. Além disso, o zero-máquina é, frequentemente, a posição em que ocorrem as trocas de ferramentas. Portanto, se você pretende trocar a ferramenta antes de uma dada operação, então a máquina deve ser posicionada no Zero-Máquina para o eixo Z nas máquinas verticais e para o eixo Y nas máquinas horizontais. Ponto zero-peça O ponto zero-peça, também chamado de ponto zero da peça, pode estar localizado em qualquer lugar dentro da região de trabalho da máquina. Ele é usado como base para os valores programados das coordenadas que descrevem a trajetória de ferramenta de corte durante a usinagem da peça. O ponto zero-máquina é representado pelo símbolo . Os comandos G54 até o G59 identificam o deslocamento do zero-peça, ou seja, onde a distância de coordenada exata dos eixos X, Y e Z do ponto zero-peça está em relação ao ponto zero-máquina. Todos os dados dimensionais da peça serão estabelecidos definindo com precisão o ponto zero-peça. Uma forma de enxergar o ponto zero-peça é entendê-lo como outro sistema de coordenadas dentro do sistema de coordenadas da máquina. Para todas as máquinas CNC, seguimos certos procedimentos para definir o ponto zero-peça dentro do programa CNC. No início do programa, inserimos o valor da distância entre o zero-máquina e o zero-peça selecionado, empregando a função G92 ou G54 a G59 para centros de usinagem e a função G50 ou G54 para centros de torneamento (tornos CNC). Esses valores medidos são inseridos diretamente no programa (quando utilizamos G92 para centros de usinagem e G50 para tornos) ou em registros de compensação pelo controlador (quando utilizados o G54 a G59). Ao programar centros de usinagem, colocamos a função G92 ou G54 a G59 apenas no início do programa, enquanto os valores atribuídos à função G50 para centros de torneamento precisarão ser adicionados ao programa com relação a cada posição da ferramenta. 58 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC A aplicação do ponto zero-peça é bastante vantajosa para o programador porque os valores de entrada de X, Y e Z no programa podem ser obtidos diretamente do desenho. Contudo, é importante ressaltar que se o programa for utilizado em outra ocasião, antes de executar o programa, deve-se fazer o “zeramento” da peça, de modo que os valores das coordenadas X e Y (atribuídas às funções G50 e G92 ou G54 a G59) sejam inseridos novamente. Na prática, algumas recomendações são sugeridas para posicionar o zero-peça, tais como: » Posicionar o sistema de coordenadas no centro ou aresta da face superior do bloco (para o caso de centros de usinagem) ou na superfície da peça (para o torno). » Posicionar o zero-peça na base da máquina (para o caso de centros de usinagem) ou na superfície de apoio na placa do torno (para o caso de centros de torneamento). Quando posicionamos o ponto zero-peça na base da máquina, fazemos com que a mínima posição do eixo Z seja zero. Assim, o programa CNC não poderia conter nenhum valor negativo em Z, pois representaria uma colisão. Desta forma, ficaria fácil identificar se ocorreram erros na programação CNC com relação à posição do eixo Z. Uma colisão devido ao erro de posicionamento do eixo Z poderia causar uma colisão que afetaria a estrutura da máquina e a ferramenta de corte. A figura 29 mostra diferentes localizações de ponto zero-peça para o caso de uma peça trabalhada em um centro de usinagem e de uma peça trabalhada em um torno. Para essa última, são mostradas duas opções possíveis de localização do zero-peça. Para a peça trabalhada em centro de usinagem (Figura 29.a), podemos ver que, caso o ponto zero-peça seja posicionado em uma aresta da superfície superior do bloco, a posição da ponta da ferramenta torna-se negativa quando está abaixo do eixo Z zero (Z=0). Essa estratégia também é muito utilizada, pois todos os valores de Z positivo indicarão uma certa segurança da operação, enquanto todos os valores de Z negativo indicarão que a ponta da ferramenta está em uma região onde há material sólido da peça (região de corte e, consequentemente, mais provável de colisão). 59 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Figura 29. Diferentes localizações de ponto zero-peça aplicado a (a) centros de usinagem e (b) tornos. Ponto zero-peça Posição absoluta X15 Y5 Z-5 Pontos zero-peça (a) (b) Fonte: (a) Fitzpatrick, 2014; (b) Button, 2009. Referência dimensional da ferramenta de corte Cada ferramenta de corte possui comprimentos e diâmetros específicos, e a possibilidade de fixá-las no porta-ferramenta adotando diferentes comprimentos de ressalto/balanço (ver figura 30) aumenta bastante a chance de ocorrerem erros durante a execução da usinagem caso não seja informado ao controlador essas dimensões. Portanto, a referência dimensional das ferramentas (deslocamentos do comprimento e diâmetro) também é considerada ponto zero e deve ser compensada, uma vez que a trajetória descrita pela ferramenta durante a usinagem representa o caminho descrito pelo ponto central da ponta dela. Figura 30. Visão geral sobre comprimento da ferramenta. A ferramenta de corte é representada pela ponta (amarelo) e a haste (verde) montada em um porta-ferramenta (vermelho) fixado no eixo-árvore da máquina (cinza). Eixo Comprimento do suporte Face de medição Ressalto ou comprimento de balanço Comprimento de corte Comprimento total Fonte: adaptado de Autodesk Inc, 2020. 60 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC Na figura 30, o comprimento de balanço ou ressalto representa o quanto a ferramenta se projeta para fora do suporte. Ele inclui o comprimento de corte, que é a região da ferramenta onde encontram-se as arestas de corte. O comprimento total é medido da ponta da ferramenta até a face de referência, que é a face base do eixo. Ele inclui o ressalto e o comprimento do suporte, que é o comprimento total de todas as partes da montagem do suporte que se projetam do eixo quando o suporte é montado na máquina (AUTODESK INC, 2020). Ao usinar em um centro de usinagem ou de torneamento, se a correção do comprimento da ferramenta não estiver correta, vários problemas, como colisão, danos à máquina e à ferramenta poderão ocorrer. A correção do comprimento da ferramenta é uma parte muito importante para a usinagem correta. A correção do comprimento da ferramenta, garante que o ponto zero-peça para o eixo Z estará na mesma posição para todas as ferramentas. Devido aos diferentes comprimentos da ferramenta, para transferir o ponto zero-peça ao longo do eixo Z do zero-máquina para a superfície da peça, deve-se aplicar a função G43 ou G44, funções que permitem a compensação do comprimento da ferramenta. A função G49 é utilizada quando se deseja cancelar essa compensação. Para que as funções de compensação do comprimento da ferramenta funcionem é necessário que elas sejam programadasjuntamente com o endereço H, o qual indica o número do corretor de cada ferramenta. O número do corretor H (H01, H02) é sempre atribuído na mesma linha com a função G43 ou G44. Caso o valor da correção do comprimento da ferramenta seja adicionado ao valor programado de Z usa-se a função G43, caso o valor seja subtraído do valor programado de Z, usa-se a função G44. Esta última não costuma ser usada hoje. Como regra, para simplificar a execução do programa, o número de correção H deve ser igual ao número da ferramenta (geralmente, igual ao número da posição da ferramenta no magazine) para cada ferramenta correspondente. O valor medido do deslocamento H é inserido nos registros de deslocamento 61 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II na memória do controlador (por exemplo, H01 = −11,1283). O valor da compensação do comprimento da ferramenta para uma determinada ferramenta corresponderá, então, à distância entre a ponta da ferramenta e a superfície da peça em usinagem, conforme mostrado na figura 31. Figura 31. Compensação do comprimento da ferramenta. Fonte: Evans, 2007. Para determinar o valor do corretor H para uma ferramenta específica, zere a máquina em relação ao eixo Z com a ferramenta a ser medida no eixo- árvore. Zere a leitura da posição para Z e, em seguida, mova manualmente a ferramenta ao longo do eixo Z até a superfície da peça a ser usinada de forma que a ponta da ferramenta toque a superfície da peça. O valor no registro de posição é a distância que determina o valor do corretor H para uma determinada ferramenta. Este valor é, então, registrado na memória do CNC. É importante destacar que a entrada no registro de correção é sempre negativa porque a correção representa a distância da ponta da ferramenta ao Z zero da peça a ser usinada. As funções G43 ou G44, com o número de correção atribuído H, devem ser inseridas no programa antes que a ferramenta execute qualquer trabalho. Se o número de correção H não for inserido, a ferramenta executará o trabalho com a correção do comprimento da ferramenta anterior. Se o valor do comprimento da ferramenta anterior for menor do que o valor do comprimento da ferramenta atual, a ferramenta não se aproximará 62 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC do material. Se, no entanto, o valor da compensação do comprimento da ferramenta anterior for maior do que o valor da ferramenta atual, a ferramenta atual avançará rapidamente em direção à peça e colidirá com ela, causando danos à ferramenta, à peça e ao equipamento de fixação. Esta condição pode ser evitada empregando-se a função G49 (Cancelamento da Compensação do Comprimento da Ferramenta) em um Bloco de Segurança no início da próxima operação. 63 CAPÍTULO 3 Métodos para programação e comunicação de máquinas CNC A geração de um programa CNC pode ser realizada de forma manual ou através de software de Manufatura Auxiliada por Computador (CAM). Independentemente da forma adotada, os dados necessários para a elaboração de um programa CNC não sofrerão alteração. Souza e Ulbrich (2013) afirmam que os dados necessários para elaboração do programa CNC podem ser classificados em: » Dados geométricos: são utilizados para descrever o percurso da ferramenta. Incluem, principalmente, dimensões (como comprimento, largura, altura, raio, chanfros etc.) e formas de segmentos (linear, circular ou parabólica). » Condições de corte : dependem da tolerância e rugosidade superficial requeridas e do material de peça e da ferramenta. Incluem, principalmente, velocidade de corte, avanço, velocidade de rotação do eixo-árvore, profundidades de corte e tipo de refrigeração. » Informações sobre comando e máquina a serem utilizados: incluem, principalmente, funções disponíveis, sintaxe específica, potência instalada e deslocamento máximos dos eixos controlados. Conhecendo esses dados, o programador pode produzir com precisão um programa CNC para a usinagem de uma peça. Na programação manual, o programador escreve cada linha de bloco do programa CNC, geralmente, a partir de um desenho 2D da peça a ser usinada. Enquanto na programação por softwares CAM, o programador alimenta os dados necessários para a elaboração da usinagem da peça (dados geométricos através do modelamento CAD, condições de corte e informações sobre o comando e máquina a ser utilizado) e o software faz o cálculo das trajetórias da ferramenta e fornece o programa CNC para usinagem da peça. A programação da usinagem CNC com uso de software CAM será abordada na próxima unidade. Os programas CNC manuais podem ser criados no próprio comando ou mesmo em um computador externo, empregando um editor de texto. No caso da programação direta no CNC, não há a necessidade de transmissão do programa e, em comandos mais modernos, a simulação do programa CNC 64 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC pode ser realizada no próprio painel de controle do comando, conforme mostrado na figura 32. Figura 32. Simulação da operação de usinagem no painel de controle CNC. Fonte: elaboração própria da autora. Quando os programas são gerados externamente, em um editor de texto ou mesmo por um sistema CAD/CAM, o programa CNC (texto em ASCII) deve ser transferido à máquina. Uma forma de realizar a comunicação entre o computador e a máquina-ferramenta é utilizar a interface elaborada pela Associação das Indústrias Eletrônicas (EIA) dos EUA, denominada RS232 (SOUZA; ULBRICH, 2013). Segundo Fitzpatrick (2014), o programa pode ser transferido para a memória CNC de três maneiras: carregamento manual, download direto e via controle numérico direto (DNC). Carregamento manual O programa é copiado de um dispositivo de armazenamento (como pen drive e cartão de memória) para o CNC ou escrito diretamente no painel de controle do CNC. 65 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Download direto O computador envia o programa ao CNC por meio de um cabo de comunicação de dados ou através de um software de comunicação. Controle Numérico Direto (DNC) É um dispositivo próprio para executar programas extensos, que não podem ser locados na memória do CNC. Esse método é usado quando os dados do programa excedem a capacidade de memória do CNC. O CNC pode armazenar os programas em dois locais: na memória rápida ou no armazenamento permanente para uso posterior. O armazenamento permanente é para onde o programa baixado vai inicialmente. A capacidade total de um CNC para manter programas em ambos os locais pode ser um problema. Os CNCs convencionais não possuem grande capacidade de memória, variando de 32 Kb a 128 Kb. Ao contrário de um computador, a ampliação de memória de um CNC tem um custo muito elevado (na ordem de US$4.500,00 para adicionar apenas 32 Kb). Programas CNC para realizar operações como torneamento, eletroerosão ou ainda simples operações de fresamento não exigem grandes recursos de memória, contudo, os programas gerados por CAM para usinar formas complexas, geralmente, são excepcionalmente grandes exigindo até 50 Mb de memória (SOUZA; ULBRICH, 2013). Para conseguir transferir esses programas, o DNC os envia em pacotes, bem a tempo de serem utilizados. Isso ocorre da seguinte maneira: o CNC é alimentado pelo DNC, que executa as linhas de comando, apaga da memória as já executadas e envia sinal para o recebimento de novas informações de acordo com a necessidade. Esse processo se repete durante toda a operação em frações de segundo e é conhecido como execução de programas on-line ou execução por bloco (SOUZA; ULBRICH, 2013). A velocidade de transferência de dados entre o DNC e a máquina CNC é um fator que limita a velocidade de avanço a ser utilizada na operação. Quando a velocidade de avanço supera a capacidade de transmissão, pode ocorrer solavanco na máquina, com descontinuidades durante a movimentação, degradando a qualidade superficial da peça. 66 UNIDADE III PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNCPOR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM Segundo a Siemens Industry Software Inc. (2020), Manufatura Auxiliada por Computador (CAM) comumente se refere ao uso de software de computador de controle numérico (NC) para criar instruções detalhadas (código G) que acionam máquinas-ferramentas CNC para a fabricação de peças. Uma definição mais ampla e simples para o CAM é o uso de software e maquinário controlado por computador para automatizar um processo de manufatura. A manufatura auxiliada por computador normalmente usa software para traduzir desenhos e dados em instruções detalhadas para conduzir algum tipo de ferramenta automatizada. Como exemplo, um desenho digital 2D ou 3D pode ser usado para guiar um laser ou uma ferramenta para cortar uma peça de acordo com o projeto. A linguagem de programação gerada a partir do desenho ou outro conjunto de dados que é usado para controlar a máquina-ferramenta é referida na indústria como o Código G. Este código G diz à ferramenta como fazer algo, dizendo aos motores para onde se mover, a que velocidade se mover e que caminho seguir. A decisão de usar o CAM ou não depende muito do tempo e da geometria do item a ser fabricado. Frequentemente, os usuários já têm um desenho CAD ou podem rapidamente produzir um para obter quaisquer dimensões necessárias para reproduzir o item. O uso do CAM permite que o usuário produza rapidamente um caminho de ferramenta resultante que pode ser usado no processo físico de manufatura, com base em determinados critérios de entrada fornecidos pelo usuário. As entradas necessárias do usuário incluirão, mas não estão limitadas a: ferramentas utilizadas para o corte, profundidade por passe, mergulho e retração segura do eixo Z para movimentos entre cortes, taxas de avanço para ambos os cortes e movimentos rápidos etc., todos dentro do sistema de coordenadas cartesianas. Mais detalhes sobre o uso de Sistemas CAM são abordados nesta unidade. 67 CAPÍTULO 1 Introdução às operações de usinagem programadas por sistemas CAM O CAM, mais do que o CAD, é considerado um software inteligente. Ele aceita um arquivo de entrada gráfico baseado em vetor para trabalhar. O usuário então fornece as informações necessárias, permitindo que o software produza um arquivo de saída com os comandos de movimento devidamente ordenados e formatados. Como já citado na introdução dessa unidade, o CAM é um acrônimo que significa manufatura auxiliada por computador e é uma ferramenta de software que estabelece os caminhos da ferramenta de corte, as taxas de avanço e as saídas que resultam em um formato de código G. A Siemens Industry Software Inc. (2020) destaca que os sistemas CAM podem maximizar a utilização de uma gama completa de equipamentos de produção, incluindo máquinas de alta velocidade, 5 eixos, máquinas multifuncionais e de torneamento, eletroerosão (EDM) e equipamentos de medição por coordenadas (Coordinate Measurement Machines - CMM). Além disso, os sistemas CAM podem ajudar na criação, verificação e otimização de programas NC para obter produtividade de usinagem ideal, bem como automatizar o processo de criação e projeto de produto de uma fábrica. Os sistemas CAM são amplamente empregados na indústria aeronáutica, automobilística, na indústria de moldes e matrizes etc. Um grande número de sistemas CAM está disponível no mercado. Alguns trabalham integrados em pacotes CAD/CAM, e muitas vezes, são sistemas de grande porte (SOUZA; ULBRICH, 2013). No geral, a decisão de usar uma ferramenta de software CAM ou não depende do tipo de indústria em que você está envolvido. Se você está produzindo arte 2D para a indústria de sinalização, por exemplo, o uso de CAM é quase garantido (ver figura 33). Para produzir um arquivo de saída de um perfil de letras de fonte TrueType em uma folha de material, um programador experiente em código G levaria horas (senão dias), enquanto um programa CAM levaria apenas alguns minutos. 68 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM Figura 33. Programação em software CAM para corte em máquina programada por CNC. Fonte: Zumaq, 2016. O usuário também pode produzir manualmente o código G – basicamente, ignorando o uso de uma ferramenta CAM. Nesse caso, é responsabilidade do programador denotar individualmente a ordem das operações que se assemelhariam às exigidas para usinar o mesmo item se produzido usando um software CAM. O processo parece simples, entretanto, para arquivos grandes, a tarefa pode ser bastante trabalhosa e demandar muito tempo. Por outro lado, se você estiver fazendo, principalmente, programação de arquivo 2D de uma única parte para produção em massa, pode ser vantajoso escrever manualmente os comandos de código G necessários para ajudar a otimizar a operação de corte. Acaba sendo responsabilidade dos usuários decidir se eles se beneficiariam com o uso do CAM em vez de uma abordagem manual e também decidir quando e onde uma combinação de ambos valeria o esforço. Existem vários pacotes de ferramentas de edição de código G disponíveis para ajudar o usuário na manipulação do próprio código (OVERBY, 2010). Existem ainda outras ocasiões em que pode ser vantajoso usar tanto o CAM quanto as técnicas de programação manual. Por exemplo, se o mesmo item a ser fabricado precisa de replicação em uma grande chapa de material, o programador pode muitas vezes salvar a saída do CAM em um arquivo separado, nomeando o arquivo como uma sub-rotina, denotando assim onde o repetir 69 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III na operação de usinagem. Isso permite reduzir muito o tamanho geral do arquivo de usinagem, fornecendo os parâmetros de corte apenas uma vez, em vez de várias vezes em vários locais. Independentemente do método (uso de software CAM ou programação manual), um arquivo de corte em código G é produzido. Tenha em mente que absolutamente qualquer coisa pode ser programada manualmente em código G, mas nem tudo o que você deseja produzir pode ser alcançado de modo rápido e fácil por formas geométricas padrão (ou seja, círculo, quadrado, retângulo, hexágono) que a programação manual pode levar em conta. Para ilustrar a comparação do nível de esforço necessário entre a programação manual e o CAM automatizado, Overby (2010) sugere um exemplo simples, como a criação de um perfil quadrado versus (por exemplo) a letra “P” em uma fonte Times New Roman TrueType (ver figura 34). Visualmente, o leitor pode perceber as diferenças de complexidade entre os dois. De uma perspectiva de alto nível, o quadrado terá quatro lados retos para trabalhar. A letra P, por outro lado, tem um caminho vetorial interno e externo para percorrer, junto com curvas de transição ou raios que unem cada uma das linhas de conexão horizontal e vertical. Claramente, é nessas horas que ter um programa CAM pode tornar sua vida muito mais fácil quando comparado a tentar inserir manualmente os comandos do código G necessários. Figura 34. Criação de perfil: simples versus complexo. Fonte: Overby, 2010. Para aqueles que ainda não estão familiarizados com o que este software faz por você, entraremos em alguns detalhes quanto à sua finalidade e exemplos de uso do CAM. No geral, o CAM fornece ao usuário a capacidade de: estabelecer caminhos de ferramentas de corte; reordenar os segmentos que descrevem 70 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM o caminho da ferramenta; verificar se há caminhos abertos; descrever o deslocamento rápido do eixo Z (para cima/para baixo); ligar, desligar e ajustar dispositivos e parâmetros durante o corte; e fornecer arquivo de saída de código G para a manufatura da peça (OVERBY, 2010). Quando desenhamos em um software CAD, a ordem dos segmentos de linha é algo que é salvo no formato de arquivo CAD. Por exemplo, se uma caixa é desejada e você inicialmente desenha apenas três dos quatrolados, e, em seguida, desenha ou edita em algum outro lugar dentro do desenho para, finalmente, voltar a desenhar o quarto lado da caixa – todas essas ordens de operações são registradas no software CAD. Ao transferir o arquivo do desenho para um software CAM, ele reordenará esses segmentos de linha (vetores) para torná-los contínuos ou vinculados. O CAM também verificará o desenho para ver se há algum caminho aberto e, normalmente, apontará quaisquer quebras com algum tipo de marcador para sinalizar a necessidade de uma intervenção do usuário. Isso permite que o usuário vincule quaisquer quebras não intencionais na arte. Observe que esses tipos de erros, geralmente, podem ser evitados durante a produção da arte em CAD. Além disso, o software CAM produzirá o que é conhecido como um caminho de ferramenta, assim que o usuário inserir os dados necessários. A localização dos caminhos resultantes depende diretamente do tipo de ferramenta que o usuário selecionou. Para uma aplicação, como o fresamento, os caminhos terão metade do diâmetro da ferramenta escolhida e, normalmente, serão localizados dentro ou fora do limite das linhas que descrevem a geometria a ser usinada. Ao produzir uma peça que tem um limite interno e externo ou para várias peças, o programa CAM estabelecerá movimentos de mergulho (para baixo) e retração (para cima) para o eixo Z, tanto para tipos de movimentos de corte como de não corte. Isso é necessário para evitar que a ferramenta corte o material em um local indesejado ao se mover de um local para outro e, consequentemente, para evitar acidentes, como quebra da ferramenta e empenamento do eixo-árvore. Finalmente, quase todos os programas CAM aceitam entradas do usuário que serão específicas para o aplicativo. Se estiver usando um eixo-árvore de alta rotação, por exemplo, o usuário poderá selecionar, dentro do software CAM, 71 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III o número da ferramenta e a rotação que se deseja operar. Assim, no código G, haverá instruções para habilitar o eixo-árvore na rotação adequada e emitir outro comando no final do arquivo para desligar o eixo-árvore. Em resumo, Souza e Ulbrich (2013) afirmam que um sistema CAM tem por função desenvolver três atividades principais: » Calcular as trajetórias para a movimentação de forma que a máquina possa realizar a usinagem. » Realizar a simulação da usinagem calculada com o objetivo de verificar a ocorrência de invasões indesejáveis na geometria, verificar a adequação das trajetórias calculadas pelo CAM e simular colisões do porta-ferramenta com a peça ou com a fixação da peça na mesa da máquina. » Gerar programas CNC para máquinas CNC específicas. O fluxograma mostrado na figura 35 apresenta uma metodologia geral de trabalho empregando sistemas CAM. Nela, é possível observar que, inicialmente, deve-se coletar todas as informações da geometria para, posteriormente, fazer o modelamento CAD dela. É importante, ainda, destacar que caso a geometria necessite de um ferramental (molde, matriz), será necessário realizar, também, o modelamento CAD dele e, ainda, se o processo de fabricação for eletroerosão, será preciso fazer a modelagem CAD do eletrodo. Após o modelamento CAD, deve-se importar a geometria no CAM e, em seguida, definir os processos de fabricação e parâmetros de entrada para cálculo das trajetórias (tais parâmetros serão discutidos no próximo capítulo). Definidos esses parâmetros, será realizado o cálculo das trajetórias de ferramenta e simulação da usinagem. Caso a simulação mostre que a trajetória está adequada, ocorrerá a etapa de pós-processamento e, por fim, o programa em código G será gerado. 72 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM Figura 35. Metodologia geral de trabalho empregando sistemas CAM. Informações da geometria Importar geometria no CAM Cálculo das trajetórias de ferramenta Simulação da usinagem Pós-processador Programa CNC Trajetória adequada? SIMNÂO Modelagem CAD 3D da geometria *Caso a ferramenta necessite de uma ferramenta (molde, matriz) é necessário modelar, também, o ferramental. ** Caso haja a necessidade de eletroerosão, é necessário modelar, também, o eletrodo Definir processos de fabricação Operações: desbaste, acabamento … Ferramentas de corte Parâmetros de usinagem Estratégias de usinagem Limitar regiões de usinagem Fonte: adaptado de Souza; Ulbrich, 2013. 73 CAPÍTULO 2 Parâmetros de entrada no software CAM Neste capítulo, serão detalhados os tipos comuns de parâmetros de entrada encontrados nas configurações do software CAM. Observe que os termos que descrevem os parâmetros listados aqui podem ou não coincidir com a mesma terminologia usada em seu pacote CAM específico, contudo eles serão próximos e funcionarão dando o mesmo resultado final. Além disso, serão apresentados os nomes de alguns parâmetros em inglês, uma vez que é uma língua universal e que estará disponível independentemente do pacote CAM utilizado. Parâmetros essenciais Geometria a ser usinada Com raras exceções, a geometria a ser usinada é desenhada, previamente, em um software CAD e, em seguida, deverá ser exportada para o software CAM, utilizando um padrão de comunicação entre sistemas CAx (IGES, STEP etc.). Com a geometria no CAM, a próxima etapa é a criação de um blank que deve respeitar as dimensões da peça bruta e as dimensões máximas da geometria a ser usinada. No sistema CAM, o usuário deve fornecer as informações de comprimento, largura, profundidade, raio (se necessário) e quaisquer outras características geométricas que permitam descrever o blank, visto que ele pode ser de formato cilíndrico, tubular, prismático de base hexagonal, quadrada ou retangular, como mostrado na figura 36. Geralmente, o blank é dimensionado para possuir 10 mm de sobremetal nas laterais e 3 mm de sobremetal na espessura. 74 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM Figura 36. Blank em formato de um bloco prismático de base retangular. Fonte: elaboração própria da autora. Definição da ferramenta de corte Esta etapa é de grande importância para geração do código G em sistemas CAM, pois a forma geométrica da ferramenta, assim como o seu diâmetro, serão utilizados nos cálculos das trajetórias As trajetórias para a usinagem de uma mesma geometria diferem conforme as características geométricas da ferramenta, pois a trajetória da ferramenta em uma máquina CNC é dada pela posição da ponta central da ferramenta. (SOUZA; ULBRICH, 2013, p. 263). Figura 37. Diferentes trajetórias de ferramentas sobre a mesma geometria. Trajetória da ferramenta Fonte: Souza; Ulbrich, 2013. 75 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III Parâmetros de corte Além dos parâmetros geométricos, é necessário fornecer ao programa CAM parâmetros de corte como: profundidade radial de corte (ae) – chamado muitas vezes de % stepover; profundidade axial de corte (ap) – chamado, geralmente, de cut increment; rotação da ferramenta (rpm) – Speed; e velocidade de avanço (mm/min) – Feedrate. No processo de fresamento deve-se, ainda, informar se o corte será concordante (conventional) ou discordante (climb), se haverá sobremetal (offset) após o processo de corte e se haverá compensação (compensation) do raio da ferramenta. Deve-se notar que as informações de rotação e velocidade de avanço não interferem no cálculo das trajetórias. Contudo, influenciam diretamente no processo de remoção de material. Movimentações da ferramenta Em um processo de usinagem eficiente, a ferramenta pode se movimentar em quatro situações diferentes: » Movimentações para realizar o corte: a ferramenta se movimenta em contato com o material, obedecendo à velocidade de avanço programada. » Movimentações em avanço rápido (G00): a ferramenta se desloca sem remover material. É utilizado durante reposicionamentoou troca de ferramenta. » Movimentos de aproximação: para que o corte se inicie com segurança (e evitar colisões), o usuário pode solicitar ao CAM que a ferramenta, após de deslocar em avanço rápido, se aproxime da peça em velocidade reduzida. Esse movimento é chamado de aproximação. Essa aproximação pode ser pode ser tangente à superfície (entrada em rampa), de forma circular (entrada em círculos) ou outras formas diferentes e disponíveis no software CAM. » Movimento de retração: a ferramenta é retraída após realizar a usinagem de uma área. Ele ocorre de forma suave para evitar marcações na superfície usinada, principalmente, se a retração da ferramenta precisa ser realizada no início do corte. 76 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM No caso do movimento para reposicionamento da ferramenta, o usuário deve definir as alturas seguras para retração da ferramenta. Essas alturas são determinadas pelos seguintes parâmetros de entrada: » Clearance: altura absoluta que a ferramenta pode se deslocar livremente no plano XY. » Level: altura absoluta que a usinagem irá começar. » Depth: profundidade total da usinagem em relação ao Level. Além dessas alturas e profundidades, é necessário, por vezes, especificar os parâmetros de entrada (Lead In) e saída (Lead Out) da ferramenta, são eles: » Angle: a entrada será em ângulo. » Radius: antes de tocar o material a ferramenta fará um raio. » Length: comprimento de entrada. » Percentage Feed: controla a velocidade de avanço na entrada e saída. Operações de manufatura e estratégias de corte Souza e Ulbrich (2013) definem as estratégias de corte como o formato geométrico e topológico que a ferramenta deve seguir para realizar a usinagem de uma superfície. Os sistemas CAM oferecem uma grande variedade de opções para estratégias de corte, que devem ser aplicadas conforme a geometria da peça e/ou regiões específicas, como áreas planas, inclinadas, verticais, regiões com raios, dentre outras. Abaixo são listadas algumas operações de manufatura e estratégias de corte que podem ser utilizadas nos sistemas CAM. Profiling – Inside and Outside Profiling (traduzido como perfilagem) é o tipo mais básico de fresamento ou operação de corte. Como o nome indica, o caminho de ferramenta resultante irá definir o perfil (isto é, lado interno ou externo) do limite da geometria. A figura 34 mostra um exemplo de letra maiúscula P em uma fonte Times New Roman. Imagine que precisamos que o perfil dessa letra seja cortado em um chapa de ¼’’ de espessura, utilizando uma fresa gravadora (com diâmetro de ¼’’ e raio de ⅛’’) para todas as operações de corte (OVERBY, 2010). 77 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III Primeiro, o leitor deve observar que haverá dois cortes de perfil necessários para concluir esta operação, o primeiro deles descreverá a região interna da letra P e o segundo, a região externa. Este é um aspecto muito importante para a abordagem das ordens de operações no fresamento CNC. Como a peça está sendo produzida a partir de uma chapa, a parte interna da geometria deve ser fresada antes da parte externa. Considere que se o perfil externo da geometria fosse cortado primeiro, seria muito mais difícil manter o material restante fixo em seu lugar adequado na chapa para a conclusão da operação do perfil interno. A maioria, senão todos, os programas CAM têm inteligência incorporada para identificar se a geometria tem ou não um limite interno localizado dentro do outro. Uma vez que a chapa a ser usinada é fixada na mesa da máquina-ferramenta e a fresa é zerada na parte superior do material, o usuário observaria a seguinte ordem genérica de operações para este exemplo: » a fresa se moverá para o ponto de início do PERFIL INTERNO da geometria; » a fresa se moverá para baixo no material e parará em uma profundidade de ¼’’; » a fresa percorrerá ao longo de seu caminho de corte até atingir o mesmo ponto de início; » a fresa irá retrair até sua altura “Z segura” predeterminada; » a fresa se moverá para o ponto de início do PERFIL EXTERNO da geometria; » a fresa se moverá para baixo no material e parará em uma profundidade de ¼’’; » a fresa percorrerá ao longo de seu caminho de corte até atingir o mesmo ponto de início; » a fresa irá retrair até sua altura “Z segura” predeterminada; » a retornará à sua localização de zero máquina. 78 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM Uma observação importante é que esta mesma ordem geral de operações será genericamente a mesma para quase todas as operações CNC, de tal modo que são muito repetíveis e previsíveis. O corte de perfil (Profile Cutting) também é muito utilizado para corte a laser de chapas finas, como mostrado na figura 38. Figura 38. Profiling inside and outside aplicado ao corte a laser de chapas finas. Fonte: ESL Engineering, 2020. Cut Along a Line Cut Along a Line (traduzido para corte ao longo de uma linha) é uma função frequentemente utilizada na produção de tipos de cortes decorativos e gravações. O centro da ferramenta de corte percorre as linhas da geometria desenhadas em CAD, conforme mostrado na figura 39. Figura 39. Aplicação do cut along a line na gravação de peças. Fonte: Cidade de Sorocaba, 2020. Area Clearance Area Clearance (traduzido como liberação de área) é uma operação que permite a remoção de material de uma área selecionada que é limitada por uma trajetória fechada. Essa função pode ser usada para realizar uma série de operações, como a usinagem de cavidades (pocketing) e usinagem de revelo. 79 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III Uma área de material da superfície da peça é removida até a espessura desejada. Se a remoção de material ocorrer no interior de uma geometria fechada, o processo se trata de uma usinagem de cavidades, se a remoção de material ocorrer no exterior de uma geometria fechada, se trata de um fresamento de relevo, conforme mostrado na figura 40.a. Um exemplo de aplicação do area clearance é quando se deseja que letras em relevo sejam produzidas em uma chapa de material. Nessa aplicação, a remoção de cavaco seria realizada na região externa do perfil da letra, de tal modo que a área do perfil da letra ficasse intacta e ressaltada, em comparação com as áreas ao redor dela. Z-Level O ciclo Z-Level é um ciclo de contorno de acabamento que remove material fazendo uma série de cortes horizontais e planos. Os cortes seguem o contorno da geometria em níveis Z decrescentes com base no acabamento de superfície especificado. O corte começa no local mais alto da peça e segue para baixo, conforme mostrado na figura 40.b. Flat Area O ciclo Flat Area usa um padrão de bolsão para remover material das superfícies da peça que são planas e paralelas ao plano de usinagem XY (ver figura 40.c). Os caminhos da ferramenta são gerados apenas em áreas totalmente planas. Se uma superfície inclinada, ainda que levemente, o caminho da ferramenta não será gerado. Este ciclo pode ser usado para acabamento onde o excesso de material já foi previamente removido no processo de desbaste. Ele suporta profundidades de corte únicas ou múltiplos passes. Pattern Project A operação de Pattern Project (traduzido para projeto de padrão) é um ciclo de acabamento de várias superfícies que remove o material com base no padrão selecionado: Slice, Flowline, Radial e Espiral. Esses padrões têm características únicas que os tornam adequados para semiacabamento e acabamento de áreas selecionadas ou em todo o modelo, como mostrado na figura 40.d. 80 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM Figura 40. Exemplo de aplicação do (a) Area Clearance, (b) Z-Level, (c) Flat Area e Pattern Project. (a) (b) (c) (d) Fonte: GoEngineer, 2020. O CAM também permite a utilização de ciclos de furação. Abaixo,são listadas estratégias aplicadas à furação: » Drill: furo simples, a broca fura até a profundidade final sem quebra de cavaco ou eliminação de cavaco. » Ream: alargador. » Bore: ao final da profundidade o eixo árvore é parado, ideal para operações de alargamento. » Tap Cycle: ciclo de rosca (rosca direita ou esquerda). Os parâmetros de entrada para o processo de furação incluem a determinação do: » Chipbreak: quebra de cavaco. » Dwell time: tempo de parada em segundos no fundo do furo (ideal para operações de rebaixamento ou alargamento) 81 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III » Optimise Path: otimização do caminho, isto é, como a ferramenta se deslocará entre um furo e outro; » Tap Type: tipo de macho escolhido no ciclo de rosca. 82 CAPÍTULO 3 Cálculo de trajetórias, trajetórias de ferramenta por polinômios spline e etapa de pós-procesamento Como já citado, para a geração de programas CNC utilizando um sistema CAM, o usuário deverá possuir, inicialmente, o modelo geométrico CAD. A geometria CAD é utilizada pelo CAM como base de cálculo das trajetórias da ferramenta. Após o cálculo, o percurso da ferramenta deverá ser simulado e, posteriormente, codificado em comandos, os quais possam ser interpretados e transformados pelo CNC da máquina em movimentações e acionamentos (SOUZA; ULBRICH, 2013). Sabendo disso, nesse capítulo abordaremos como o software CAM determina o percurso da ferramenta de corte. Esse processo é chamado de cálculo de trajetórias da ferramenta e será o primeiro tema a ser discutido no capítulo. O segundo tema discutido é o uso de interpolação linear e circular para descrever essas trajetórias. Já o terceiro tema trata das trajetórias de ferramenta por polinômio spline. Por fim, o quarto e último tema trata sobre as etapas de pós-processamento, que consiste na conversão do caminho da ferramenta para o idioma de uma máquina CNC específica. Cálculo de trajetórias da ferramenta A qualidade da trajetória calculada implica diretamente na qualidade da superfície usinada, erros dimensionais e tempos de cálculo e usinagem. Os algoritmos matemáticos e as metodologias para cálculo das trajetórias da ferramenta são criados em cada empresa desenvolvedora de sistemas CAM, e representam segredo industrial. O método tradicional para descrever uma trajetória de ferramenta para a usinagem de uma superfície complexa é a interpolação linear de segmentos de retas, interpolação circular com segmentos de arcos ou ainda utilização de polinômios spline. Quando a trajetória é descrita pela união de segmentos de retas ou arcos, o comprimento destes segmentos está relacionado com as tolerâncias de cálculo no CAM e grau de curvatura da superfície. 83 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III As tolerâncias para cálculo de trajetórias de ferramenta são definidas e ajustadas pelo usuário através do comando chord error. Quanto menor a banda de tolerância (chord error), mais próxima a trajetória da ferramenta estará da geometria CAD (ou da superfície a ser usinada). É importante destacar que, quando a geometria CAD é curva e descrita através de linhas retas (interpolação linear) pelo CAM, um valor pequeno de banda de tolerância implicará na necessidade de um maior número de segmentos de reta de pequeno comprimento para descrever essa geometria curva. Com isso, o programa CNC possuirá maior volume de dados, devido à elevada quantidade de linhas de código, e esta característica poderá limitar as velocidades de avanço durante a usinagem (SOUZA; ULBRICH, 2013). O cálculo de trajetória da ferramenta, muitas vezes, não é apenas um off-set da superfície a ser usinada, pois a trajetória calculada leva em conta a extremidade central da ferramenta, como mostrado na figura 41. Figura 41. Trajetória da ferramenta. CC CL CC=CL CL Trajetória Fonte: Souza; Ulbrich, 2013. Na figura 41 vemos alguns termos que ainda não foram apresentados, são eles: CC (Cutter Contact), que representa o ponto de contato da ferramenta com a superfície; e o CL (Cutter Location), que representa a extremidade central da ferramenta (que descreve propriamente a trajetória dela). Esses pontos são usados para desenvolver o cálculo da trajetória da ferramenta. De tal modo que as informações cartesianas de cada ponto CL são descritas nas linhas dos programas CNC. 84 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM Inicialmente, em geral, deve-se identificar o ponto de contato da ferramenta com a superfície em um determinado instante, e posteriormente deve-se calcular o ponto da extremidade central da ferramenta (CL), que são os pontos interpolados linearmente para a geração das trajetórias da ferramenta. (SOUZA; ULBRICH, 2013, p. 283). Trajetórias de ferramentas por polinômios spline Quando se deseja descrever trajetórias complexas de ferramenta, principalmente em três dimensões, os métodos de interpolação linear e circular são limitados. Para atender essa demanda, utiliza-se um método que faz uso dos modelos matemáticos utilizados por sistemas CAD para representação de curvas e superfícies complexas. Esse método é chamado de interpolação polinominal do tipo spline. Um tipo típico de interpolação spline é a interpolação NURBS (Non-Uniform Rational B-Splines). A interpolação NURBS utiliza de modelos matemáticos para descrever um contorno complexo utilizando apenas polinômios. Para entender isso, imagine como um arco circular pode ser definido usando apenas equações. Se você conhece as coordenadas do ponto inicial, do ponto final e do centro do arco, então você tem todas as informações de que precisa para reproduzir esse arco com precisão. A interpolação NURBS realiza algo semelhante, mas para curvas que também podem não ser circulares. Nos caminhos da ferramenta, os dados se relacionam com as coordenadas e “pesos” dos pontos de controle. Cada um desses pontos de controle exerce um “puxão” para dar à curva sua trajetória, conforme mostrado na figura 42. Zelinski (1999) destaca alguns pontos importantes sobre a interpolação NURBS: » Ela oferece uma alternativa à interpolação linear para usinagem de formas com contornos complexos, como as exigidas na usinagem de moldes e matrizes. Contudo, para a usinagem de peças geometricamente simples, a interpolação NURBS pode não ser vantajosa. » Ela pode permitir a usinagem de formas complexas utilizando uma velocidade de avanço média mais alta (comparada a alcançada usando interpolação linear no mesmo caso), sem comprometer a precisão da usinagem. Isso ocorre, principalmente, devido à redução de linhas de 85 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III código para descrever o movimento e a velocidade de processamento do CNC. » Por si só, a interpolação de NURBS não é mais precisa do que a interpolação linear. Mas quando a precisão é necessária, ela pode oferecer uma maneira mais eficiente de alcançá-la. Figura 42. (a) Curva B-Splines com 3 partes e (b) Superfície B-Spline, ambas com polígono de controle (linhas azuis). (a) (b) Fonte: Lockyer, 2006. Diferente dos programas convencionais, as linhas de programa spline para comando numérico não irão conter os comandos tradicionais (G1, G2 ou G3), mas uma nova sintaxe que representará a curva. Existem diferentes sintaxes para as entradas de dados splines e esta variação se dá conforme o comando 86 UNIDADE III | PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM numérico utilizado (a exemplo dos pertencentes aos fabricantes Fanuc e Siemens) (SOUZA; ULBRICH, 2013). Uma linha de programa spline para comando numérico Fanuc, por exemplo, segue o seguinte modelo: G6.2 P K X Y Z R Onde: G6.2 é a sintaxe para interpolação NURBS; P é o grau da equação polinominal; K é o vetor no ponto de controle (knot); X, Y e Z são as coordenadas do ponto de controle; R é opeso do ponto de controle (weight). Etapa de pós-processamento Uma das partes mais importantes da manufatura auxiliada por computador (CAM) é a obtenção do programa CNC através do pós-processador. A etapa de pós-processamento consiste na conversão do caminho da ferramenta para o idioma de uma máquina CNC específica. Essa saída geralmente está na forma de código G, um formato alfanumérico usado para acionar a máquina- ferramenta. Diferentes máquinas usarão variações deste formato de código G em seus controladores. Portanto, embora haja alguma padronização de códigos, nem todas as máquinas usam o mesmo formato de código G. Portanto, para se tornar comum a qualquer máquina CNC, as trajetórias da ferramenta devem ser transformadas em uma linguagem comum. Há alguns anos, o pós-processador era um software separado do CAM. Contudo, nos sistemas atuais, ele está integrado ao software CAM. Para cada equipamento (máquina CNC) deve ser desenvolvido um pós-processador específico e o seu objetivo é permitir que o CAM funcione para mais de um formato de código G. Os pós-processadores não convertem o código G de um formato/dialeto para o outro. Em vez disso, eles usam um formato intermediário que captura 87 PROGRAMAÇÃO DA USINAGEM CNC POR COMPUTADOR – USO DE SISTEMAS CAM | UNIDADE III os movimentos da máquina CNC. Esse formato intermediário é o CLF (Cutter Location File) ou CL Data. Existem muitos formatos para arquivos de CLF, mas um formato comum é APT (Automatically Programmed Tool). O pós-processamento ocorre da seguinte maneira: o software CAM analisa o modelo CAD da peça para determinar quais devem ser os caminhos da ferramenta, em seguida, ele produz os caminhos da ferramenta como um arquivo CLF, o pós-processador, então, converte os arquivos CLF em código G. 88 UNIDADE IVPROGRAMAÇÃO CNC Nesta unidade serão tratadas algumas particularidades da programação de tornos CNC e de centros de usinagem. Além disso, serão apresentados exemplos de programas CNC aplicados a essas máquinas. CAPÍTULO 1 Programação de Tornos CNC A programação de tornos CNC apresenta algumas diferenças com relação à programação de centros de usinagem. Algumas funções preparatórias (códigos G) e miscelâneas (códigos M), mostradas nas Tabelas 2 e 3 desta apostila, são comuns tanto para programação CNC de centros de usinagem quando para tornos. Contudo, algumas funções são específicas para centros de torneamento e tornos CNC e outras apresentam particularidades quando aplicadas nessas máquinas, essas funções serão discutidas nesse capítulo. Além delas, serão mostrados alguns exemplos de programas CNC aplicados a centros de torneamento. Abaixo são listadas algumas funções exclusivas dos centros de torneamento e torno CNC. A numeração dos códigos foi baseada no comando CNC da Fanuc série 0i. Muitos fabricantes de máquinas-ferramenta atribuem outros códigos para fins específicos relativos a seus equipamentos. Consulte sempre os manuais do fabricante específicos da máquina em uso para obter os códigos G e M pertinentes. Função de abrir e fechar mandril (M10 e M11) M10 fecha automaticamente as castanhas do mandril e M11 abre automaticamente as castanhas do mandril. Uma chave seletora no painel de controle determina 89 PROGRAMAÇÃO CNC | UNIDADE IV se a fixação é interna ou externa. M10 e M11 são usados em certos casos quando há um alimentador automático de peça. Esses dispositivos são usados em operações automatizadas onde a produção em massa é o foco principal. Função para avanço e recuo da contra ponta (M12 e M13) Durante o processo de torneamento de eixos longos, uma contra ponta é frequentemente usada para apoiar o eixo. Para utilizar a contra ponta, é necessário que se faça, previamente, um furo de centro na peça, portanto, uma operação de furação central deve ser programada antes de se utilizar as funções M12 e M13. A função M12 permite a aproximação da contra ponta e a função M13, o seu recuo. Rotação da torre de ferramenta no sentido horário e anti- horário (M17 e M18) A função M17 gira a torre de ferramenta no sentido horário, enquanto a função M18 gira a torre da ferramenta no sentido anti-horário. Essas funções podem ser usadas apenas para alguns tipos de máquinas. A função M17 é ativada na inicialização da máquina. Esses comandos podem ser úteis quando ferramentas especiais são montadas na torre de ferramenta. Acabamento de rosca (M23 e M24) A função M23 ordena a execução de um chanfro no final de uma rosca executada pelo código G76 (ciclo de roscamento automático). Já a função M24 desativa a M23, ou seja, ordena a não realização de chanfros no final do ciclo de rosqueamento (G76). M23 é ativada automaticamente quando a máquina é ligada e permanece em vigor até ser alterada por M24. A figura 43 mostra um comparativo entre as funções M23 e M24. 90 UNIDADE IV | PROGRAMAÇÃO CNC Figura 43. Acabamento de rosca com (a) função M23 ativa e (b) função M24 ativa. (a) (b) 45° 90° Fonte: Evans, 2007. Funções de velocidade de corte constante (G96), rotação constante (G97) e limitação da rotação (G50) Para centros de torneamento, duas funções são aplicáveis ao controle da velocidade de rotação do eixo-árvore, são elas: G96 (velocidade de corte constante) e G97 (cancelamento da velocidade de corte constante, às vezes, referida como rotação constante do eixo-árvore). Ambas as funções (G96 e G97) aparecem juntas com o endereço S, por exemplo: G97 S500 indica uma rotação constante de 500 rpm. G96 S400 indica uma velocidade de corte constante de 400 m/min. A velocidade de corte constante (G97) é aplicada no caso de ciclos de rosqueamento e na usinagem de uma peça, mantendo o diâmetro constante. Também é usada para todas as operações na linha de centro, como furação etc. Quando se executa alguma operação em que o diâmetro da peça varia (como no caso do faceamento), manter a rotação constante (G97) iria implicar em uma velocidade de corte diferente a cada modificação do diâmetro. Abaixo segue uma exemplificação do valor da velocidade de corte durante o torneamento cilíndrico de uma peça com 50 mm de diâmetro, em três passes, com profundidade de corte (ap) de 2 mm e rotação de 800 rpm (usando a função G97 S800). 1 50 800 125,66 / 1000 1000c D n mm rpmV m minπ π⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = = = 91 PROGRAMAÇÃO CNC | UNIDADE IV 2 46 800 115,61 / 1000 1000c D n mm rpmV m minπ π⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = = = 3 42 800 105,56 / 1000 1000c D n mm rpmV m minπ π⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = = = Onde: V c1, Vc2 e V c3 são as velocidades de corte em cada passe [m/min]; D é o diâmetro da peça em cada passe [mm]; n é a rotação do eixo-árvore [rpm]. As equações mostram que a velocidade de corte é modificada a cada alteração do diâmetro. Isso não é adequado no processo de usinagem, pois influencia negativamente na vida da ferramenta de corte. Cada ferramenta deve trabalhar numa faixa de velocidade de corte especificada pelo fabricante para a usinagem de cada tipo diferente de material. Portanto, em operação em que o diâmetro da peça é modificado, deve-se utilizar a função G96 (velocidade de corte constante). Entretanto, note que, se mantivermos a velocidade de corte constante e não especificamos um valor limite para rotação, a rotação crescerá ao infinito quando o diâmetro da peça tender a zero, porque (1000 ) / ( )cn V Dπ= ⋅ ⋅ . Isso, notoriamente, traria problemas à máquina-ferramenta. Portanto, é recomendado que a função G96 venha sempre acompanhada da função G50 (ajuste de velocidade máxima de rotação) para limitar a rotação do eixo-árvore, conforme exemplo abaixo. G50 S3000 ; (Limita a rotação a 3000 rpm). G96 S180 M03; (Mantém a velocidade de corte igual a 180 m/min). Funções auxiliares de avanço (G98 e G99) A função G98 é uma função modal que habilita o uso de velocidade de avanço em milímetros por minuto (mm/min). Enquanto a função G99 desativa a G98 e habilita o uso da velocidade de avanço em milímetros por volta (mm/volta). 92 UNIDADE IV | PROGRAMAÇÃO CNCInserção de chanfros e raios em programas de torneamento Os chanfros e raios podem ser inseridos somente entre duas movimentações G00/G01. A figura 44 mostra um trecho de um programa CNC que descreve o perfil do desenho da peça retratada. A movimentação, programada no segundo bloco, precisa iniciar no ponto “b” do desenho. No modo de bloco único, a ferramenta para no ponto “c” e, em seguida, passa ao ponto “d”. Se a movimentação em um dos blocos for muito curta, não haverá ponto de interseção ao ser inserido um chanfro ou raio e será apresentado um alarme. Figura 44. Inserção de chanfros e raios em programas de torneamento. N100 G01 X26 Z53 N110 G01 X26 Z27 R6 N120 G01 X86 Z27 C3 N130 C01 X86 Z0 Fonte: Cosa Intermáquinas, 2018. Utilização do ciclo de permanência (Dwell) no torneamento (G04) A função Dwell, tempo de permanência ou espera, é iniciada pelo uso da função G04, e o período de tempo para a espera é especificado por P, X ou U, (dependendo do tipo de controle) da seguinte forma: G04 P__ (em milissegundos) G04 X__ (em milissegundos) G04 P__ (em milissegundos) Exemplos: 93 PROGRAMAÇÃO CNC | UNIDADE IV G04 P2500 G04 X2.5 G04 U2.5 Nos exemplos acima, os valores de tempo de espera são equivalentes a 2 e 1/2 segundos. Observe também que, ao usar P para endereçar a quantidade de tempo para permanência, um ponto decimal não pode ser usado. O valor do tempo é medido em milissegundos (ms), 1000 ms = 1 segundo. A função G04 é um comando não modal, ou seja, ele ficará ativo apenas no bloco em que é chamado. O tempo de espera, às vezes, é indicado pelo número de rotações em vez da quantidade de tempo a depender do fabricante do CNC. Portanto, é sempre importante que o programador consulte o manual de programação do fabricante específico para o equipamento para ter certeza do método exato usado. Um uso comum para pausa é no processo de usinagem de canais internos ou externos, conforme mostrado na figura 45. Figura 45. Exemplo de aplicação da função G04. Dados no sistema de unidade de medida inglesa. G01 X2.0 F0.008 G04 U.25 (ou G04 X0.25 ou G04 P250) G00 X2.5 Fonte: Evans, 2007. Ciclo de torneamento (G90) O ciclo de torneamento (G90) é uma função de corte cilíndrico ou cônico externo e interno. O formato do bloco usado para G90 é o seguinte: G90 X(U) ____ Z(W)_____ R_____ F_____ 94 UNIDADE IV | PROGRAMAÇÃO CNC Onde X e Z são coordenadas absolutas, U e W são coordenadas incrementais, R indica a conicidade da geometria usinada (medida no raio) e F é a velocidade de avanço em mm/min. O comando G91 indica a utilização de coordenadas incrementais, caso ele não esteja ativado, movimento incremental dos eixos é alcançado através dos endereços U (para eixo X) e W (para eixo Z). Um exemplo de aplicação do ciclo de torneamento é mostrado na figura 46. Figura 46. Exemplos de aplicação do ciclo de torneamento (G90). N10 G28 U0 W0 (retorno ao ponto de referência) N20 G50 S2000 T0100 (limita a rotação) N30 G96 S200 M03 (velocidade corte constante) N40 G00 X61 Z2 T0101 M8 (movimento rápido) N30 G90 X55 W-42 F0.25 (início do ciclo de torneamento) N40 X50 N50 X45 N60 X40 N70 Z-12 R-1.75 N80 Z-26 R-3.5 N90 Z-40 R-5.25 N100 G28 U0 W0 (fim do ciclo de torneamento e retorno ao ponto de referência) N110 M30 (Fim de programa) N10 G28 U0 W0 N20 G50 S2000 T0100 N30 G96 S200 M03 N40 G00 X56 Z2 T0101 M8 N30 G90 X51 W-32 F0.25 N40 X46 N50 X41 N60 X36 N70 X31 N80 X30 N90 G28 U0 W0 N100 M30 Fonte: Cosa Intermáquinas, 2018. Usar a função G90 em um programa é conveniente. No entanto, o uso dela resultará em alguma perda de tempo porque, após a cada passe, a ferramenta retorna por um caminho seguro, porém longo, conforme mostrado na figura 47 pelas setas em amarelo. 95 PROGRAMAÇÃO CNC | UNIDADE IV Figura 47. Ciclo de torneamento (G90). Fonte: Cosa Intermáquinas, 2018. Ciclo de rosca simples (G90) Usando G92, um ciclo de quatro movimentos individuais da ferramenta pode ser obtido em um bloco de informações. Esses movimentos são: 1. Movimento rápido para um determinado diâmetro. 2. Corte de rosca com velocidade de avanço programada. 3. Retirada rápida. 4. Retorno transversal rápido ao ponto de partida. O formato de bloco usada para o G92 é o seguinte: Rosca reta (cilíndrica) G92 X(U)___ Z (W)____ F_____ Rosca cônica G92 X(U)___ Z (W)____R____ F_____ Onde X e Z são coordenadas absolutas, U e W são coordenadas incrementais, R indica a conicidade da geometria usinada (medida no raio) e F é a velocidade de avanço em mm/min. Um exemplo de aplicação do ciclo de torneamento é mostrado na figura 48. 96 UNIDADE IV | PROGRAMAÇÃO CNC Figura 48. Exemplo de aplicação do ciclo de rosca simples (G90). N10 G97 S3000 M03 N20 G00 X60 Z25 N30 G92 X49.5 Z-30 F1.5 N40 X49.2 N30 X48.9 N40 X48.7 N50 G28 U0 W0 N60 M30 Fonte: Cosa Intermáquinas, 2018. Mais exemplos de ciclos específicos para tornos CNC e centros de torneamento podem ser encontrados no link abaixo: http://200.19.248.10:8002/professores/vmartins/Usinagem%20III%20 2015-2/torno.pdf. 97 CAPÍTULO 2 Programação de Centros de Usinagem CNC As funções e códigos mostrados na Unidade II desta apostila são aplicáveis a centros de usinagem CNC. Por esse motivo, o foco deste capítulo será a exemplificação de programas CNC aplicados a centros de usinagem com objetivo desenvolver no estudante técnicas de programação manual. Um exemplo de aplicação das funções de interpolação linear rápida (G00) e linear com velocidade de avanço programável (G01) é mostrado na figura 49. É importante destacar que o código mostrado na figura tem o objetivo apenas de descrever o caminho da ferramenta de corte que margeia a geometria em ressalto. Para que esse código pudesse ser utilizado na usinagem de uma peça de material qualquer, seria necessário adicionar, pelo menos, um bloco de segurança, um bloco de seleção de ferramenta e um bloco de especificação das condições de corte. Figura 49. Programa CNC para a usinagem de um bloco utilizando G00 e G01. 7 70 40 10 50 20 30 80 100 10 G00 X0 Y0 Z0 G01 Z-7 F300 X10 Y10 X80 X100 Y40 X80 Y70 X60 X10 Y40 Y10 G00 X0 Y0 Fonte: Indústrias Romi S/A, 2006. O trecho do programa CNC mostrado na figura 49 poderia ser utilizado na etapa de acabamento da geometria em ressalto se nas linhas anteriores fosse 98 UNIDADE IV | PROGRAMAÇÃO CNC especificada uma compensação do raio da ferramenta. Na primeira linha, observa-se movimento linear rápido até o ponto zero-peça (de coordenadas X=0, Y=0 e Z=0). Em seguida, a ferramenta mergulha no plano da face superior da peça até a profundidade de 7 mm em interpolação linear com avanço de 300 mm/min. Podemos observar, também, que uma vez ativada a função G01, não é necessário escrevê-la em todas as linhas, pois ela vai permanecer ativada até que outra função do mesmo grupo seja ativada. No exemplo da figura 49, a função G01 foi desativada apenas na última linha do exemplo, quando a função G00 foi ativada. Quando necessitamos usinar geometrias com arcos, precisamos utilizar interpolações circulares (G02 e G03). A figura 50 mostra um exemplo de uso de interpolações lineares (G00 e G01) e circulares para descrever o contorno lateral da peça mostrada. Figura 50. Exemplo de Interpolação linear e circular. 0 R30 15 90 30 100 R20 60 5 G00 X-10 Y-10 Z0 G01 Z-15 F300 X0 Y0 X100 Y30 G02 X80 Y50 R20 (ou G02 X80 Y50 I0 J20 ) G01 Y60 G03 X20 Y60 R30 (ou G03 X20 Y60 I-30 J0 ) G1 Y50 G02 X0 Y30 R20 (ou G02 X0 Y30 I-20 J0 ) G01 Y0 X-10 Y-10 Fonte: Indústrias Romi S/A, 2006. Igualmente ao exemplo da figura 49, o programa mostrado na figura 50 descreve um trecho de uma programa completo, pois nele não há bloco de segurança, bloco de seleção de ferramenta e blocos de especificação das condições de corte. Além de utilizar as funções G01 e G02 e/ou G03, também é possível utilizar as funções de chanframento e arredondamentoo histórico, evolução e características das máquinas-ferramenta CNC aplicadas à usinagem. O segundo capítulo trata das principais características dos centros de usinagem CNC. Nele, serão discutidas a posição do eixo-árvore e sistema de fixação da ferramenta, o projeto estrutural dos centros de usinagem modernos, os eixos de movimentação e a unidade de processamento de dados e controle. O terceiro capítulo traz uma introdução ao fresamento cinco eixos e ao frasamento em altas velocidades. CAPÍTULO 1 Máquinas-ferramenta para usinagem equipadas com CNC Histórico e evolução das máquinas CNC aplicadas à usinagem As máquinas-ferramentas equipadas com comando numérico computadorizado (CNC) tiveram origem em vários dos principais países industrializados. Alguns dos primeiros trabalhos de pesquisa e desenvolvimento neste campo foram concluídos nos EUA, embora o Reino Unido tenha tido uma significante contribuição para o desenvolvimento do comando numérico. 10 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) O progresso em todas as áreas de desenvolvimento militar e comercial, ocorrido com a Segunda Guerra Mundial, foi tão rápido que os níveis de automação e precisão exigidos pelo mundo industrializado moderno não podiam ser alcançados com as máquinas-ferramentas convencionais. De tal modo que, em 1947, o governo do Estados Unidos publicou um estudo que afirmava que a indústria de usinagem de metal em todo o país não conseguia atender às demandas da Força Aérea Americana e da indústria local. Como resultado direto desse estudo, a Força Aérea Americana contratou a empresa Parsons Corporation para o desenvolvimento de um sistema de manufatura flexível e dinâmico que maximizasse a produtividade. O Massachusetts Institute of Technology (MIT) foi subcontratado para o desenvolvimento dessa pesquisa. E durante o período de 1949 e 1951, o MIT em conjunto com a Parsons Corporation, desenvolveu o primeiro sistema de controle que poderia ser adaptado a uma ampla gama de máquinas-ferramenta (SMITH, 1993). A considerada primeira máquina-ferramenta de trajetória contínua de três eixos foi a fresadora Hydrotel, da Cincinnati Machine Tool Company, mostrada na figura 1. Essa fresadora foi convertida em “automática” pela substituição dos controles e comandos convencionais por comando numérico (CN) dotado de leitora de fita de papel perfurado, unidade de processamento de dados e servomecanismo nos eixos. Após testes e ajustes, a demonstração prática da máquina ocorreu em março de 1952, e o relatório final do novo sistema somente foi publicado em maio de 1953 (CASSANIGA, 2005). Figura 1. O esforço conjunto desenvolvido pela Força Aérea, Parsons e o Laboratório de Servo-Mecanismos do MIT resultou na primeira máquina-ferramenta verdadeiramente programada. A Cincinnati Hydrotel® tinha gabinetes elétricos maiores do que a máquina. Fonte: Fitzpatrick, 2014. 11 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I Quase ao mesmo tempo em que esses avanços americanos no controle de máquinas-ferramenta estavam ocorrendo, no Reino Unido, Alfred Herbert Limited tinha sua primeira máquina-ferramenta de comando numérico operando. A Ferranti Limited produziu um sistema de controle de trajetória de ferramenta contínua mais confiável que se tornou disponível em 1956 (SMITH, 1993). Ao longo dos anos seguintes, tanto nos EUA quanto na Europa, ocorreu um grande investimento em pesquisa nessa área e, consequentemente, o desenvolvimento dessas máquinas foi aprimorado (em 1956 surgiu o trocador automático de ferramentas, por exemplo). Esses primeiros desenvolvimentos do comando numérico foram principalmente para a indústria aeroespacial, onde era necessário usinar formas geométricas complexas, como componentes de fuselagem e pás de turbina. Paralelamente a este desenvolvimento de sistemas de controle sofisticados para requisitos aeroespaciais, em 1958, um controlador ponto a ponto foi desenvolvido para aplicações de usinagem mais gerais (a exemplo do aplicado na Furadeira CNC ponto a ponto utilizada hoje em dia) quando apenas a precisão posicional era necessária (CASSANIGA, 2005; SMITH, 1993). Com a utilização do comando numérico pelas indústrias em geral, torna-se necessário um vocabulário de palavras de código padronizado para programar essas máquinas. Então, no início da década de 1960, é criado pela Electronic Industries Association (EIA), o vocabulário do código RS-267-B, no qual os programas são escritos por especialistas altamente qualificados com profundos conhecimentos de matemática. Em 1963, nasce a linguagem de programação automática (APT). Usando sub-rotinas em uma linguagem chamada APT, a programação pode ser feita escrevendo declarações de palavras como “goto PT 1 [ponto 1]” ou “goaround R2.5 [raio de 2,5]” e, em seguida, alimentando-os em grandes computadores mainframe para calcular as coordenadas (FITZPATRICK, 2014). As primeiras máquinas com comando numérico (CN) eram, em geral, baseadas em fresadoras modificadas, com esse conceito de controle sendo utilizado no torneamento, retificação e uma série de outras máquinas-ferramenta posteriormente. Com o surgimento do trocador automático de ferramentas, as ferramentas de corte podiam ser trocadas automaticamente pelo mecanismo 12 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) de transferência, ou seletor, do magazine para o fuso, ou vice-versa. Essa tecnologia permitiu o conceito de “centro de usinagem”, que nada mais é do que é uma máquina capaz de fabricar uma variedade de componentes usando uma ampla diversidade de processos de usinagem em uma única configuração, sem transferência de peças para outras máquinas-ferramenta. Desse modo, o recurso de troca automática de ferramenta permitiu ao centro de usinagem usinar de forma produtiva e eficiente uma variedade de componentes, substituindo ferramentas antigas por novas ou pré-selecionando a próxima ferramenta enquanto o processo de usinagem atual estava em ciclo. Em 1967, as primeiras máquinas controladas numericamente chegaram ao Brasil, vindas dos Estados Unidos. E no início da década de 1970, o controle numérico computadorizado (CNC) se tornou uma realidade, sendo um grande marco de avanço na área de desenvolvimento de controladores de máquinas- ferramenta. O CNC deu às empresas a capacidade de alterar as geometrias da peça, junto com os programas, facilmente com o mínimo de desenvolvimento e tempo de execução, permitindo que fosse economicamente viável usinar pequenos ou únicos lotes com sucesso (CASSANIGA, 2005; SMITH, 1993). Em torno de 1975, os computadores desktop tornam-se acessíveis às indústrias e a programação torna-se uma questão mais simples. Os programas podem ser escritos para muitas máquinas diferentes, usando uma única estação de trabalho. Desktop APT se torna uma realidade e a programação obtém um grande aumento de eficiência. Os desenhos CAD e a manufatura assistida por computador (CAM) iniciam. Os experimentos para a criação de um software que resolvesse a parte da matemática da programação para as coordenadas X-Y-Z também começam. Conforme o software de solução matemática se torna cada vez mais capaz, torna-se óbvio que o software pode escrever programas diretamente do modelo de imagem CAD da peça. No entanto, devido às despesas com software de computador, os desenhos CAD são raros. Os programas ainda são escritos por especialistas, mas muito menos matemática é necessária (FITZPATRICK, 2014). A flexibilidade e a facilidade de edição de programas em um ambiente de produção tornaram-se realidade com o desenvolvimento de circuitos integrados, que reduziram o tamanho dos circuitos eletrônicos, proporcionando melhor manutenção e permitindo maior padronização de projeto e com a redução em tamanho e custo dos computadores de uso geral (SMITH, 1993). 13 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC)de cantos para descrever uma “quina” em linha reta ou em arco (ver Unidade II). A figura 51 mostra um exemplo de aplicação dessas funções. 99 PROGRAMAÇÃO CNC | UNIDADE IV Figura 51. Exemplo de aplicação das funções de chanframento e arredondamento. O1000 N10 G17 G21 G90 G94 N20 G53 G0 Z0 G49 N30 T2 (FRESA TOPO D20) N40 M6 N50 G54 S2500 M3 N60 G0 X-20 Y-20 N70 G43 H2 D2 Z5 N80 G1 Z-15 F750 N90 G41 X0 Y0 N100 Y50 ,C10 N110 X75 ,R10 N120 Y23 ,R10 N130 X50 Y0 ,R7 N140 X35 ,R4 N150 G3 X15 R10 ,R4 N160 G1 X0 N170 G40 G1 X-20 Y-20 N180 G53 G0 Z0 G49 N190 M30 Fonte: Indústrias Romi S/A, 2006. Diferente dos exemplos das Figuras 49 e 50, o programa mostrado na figura 51 está completo e pode ser utilizado na manufatura de uma peça. Cada linha do programa é explicada abaixo: » O bloco N10 e B20 são os chamados blocos de segurança, o N10 contém a função G17 que seleciona o plano de trabalho XY, G21 que ativa a entrada de dados em milímetro, G90 que ativa o sistema de coordenadas absolutas e G94 que estabelece o avanço em mm/min. O bloco N20 contém a função G53 que ativa o sistema de coordenadas da máquina e posiciona o eixo-árvore na coordenada Z=0; e a função G49 que cancela compensação de comprimento de ferramenta. » Os blocos N30 e N40 chamam a ferramenta localizada na posição do magazine 2, descrito pelo código T02 e a função M6 ou M06 (código de troca de ferramenta). » O bloco N50 contém a função G54 que chama o primeiro sistema de coordenada de trabalho (que contém o zero-peça previamente estabelecido antes de executar o programa), S2500 que aciona o 100 UNIDADE IV | PROGRAMAÇÃO CNC eixo-árvore a 2500 rpm e M3 determina o sentido de eixo-árvore (sentido horário). » O bloco N60 posiciona, em movimento rápido (G00), o centro da ferramenta de corte em uma posição segura (X-20 e Y-20) afastada da peça e ainda na altura Z=0 do zero-máquina. » O bloco N70 contém o comando G43 que ativa a compensação do comprimento da ferramenta 2 (H2 indica a correção do comprimento e D2, do raio da ferramenta). Além disso, nesse bloco, é ordenado que a ponta da ferramenta de corte seja posicionada a uma altura segura Z=5 em movimento rápido (ativado no bloco N60). » O bloco N80 ativa a interpolação linear com avanço programado de 750 mm/min (pelas funções G01 e F750) e ordena que a ponta da ferramenta vá para a posição Z-15 (equivalente a altura do volume a ser usinado, mostrado no desenho). » O bloco N90 contém a função G41 que ativa a compensação de raio de ferramenta à esquerda do perfil. A função de compensação de raio de ferramenta facilita a programação de determinados contornos, visto que, através dela, pode-se fazer programas de acordo com as dimensões do desenho, sem se preocupar com o raio da ferramenta, pois cabe a função calcular os percursos do centro da ferramenta, a partir do raio dela, o qual deve estar inserido na etapa de referenciamento da ferramenta (Offset). Ainda, no bloco N90 é então comandado que a lateral esquerda da ferramenta se posicione na coordenada X=0 e Y=0 do zero-peça. É importante destacar que as funções de compensação (G40, G41 e G42) são válidas somente para as funções G00, G01, G02 e G03. O posicionamento inicial para compensação ou final para cancelamento só poderá ser feito através das funções G01 e G00, nunca pelas funções G02 ou G03. Para que a função de compensação de raio saiba qual é o valor do raio da ferramenta, deve-se programar o código “D” com o número do corretor de raio de ferramenta no cabeçalho do programa. » Os blocos N100 até N160 descrevem o movimento da lateral esquerda da ferramenta no contorno do perfil de volume descrito pelo desenho mostrado na figura 49. Nesses blocos são utilizadas as funções de interpolação linear (descrita previamente no bloco N90), 101 PROGRAMAÇÃO CNC | UNIDADE IV interpolação circular (apenas no bloco N150) e de chanframento “C”, e arredondamento, “R”. Todos os movimentos ocorrem com o mesmo avanço de 750 mm/min (programado no bloco N80). » O bloco N170 (N170 G40 G1 X-20 Y-20) contém a função G40 que cancela a compensação do raio da ferramenta e reposiciona a ferramenta nas coordenadas seguras X=-20 e Y=-20 utilizando movimento em interpolação linear com o mesmo avanço programado no bloco N80. » O bloco N180 (N200 G53 G0 Z0 G49) reposiciona a ferramenta no Z=0 do zero-máquina (pelo comando G53) através de movimento linear rápido (G00) e cancela a compensação de comprimento de ferramenta (G49). » Por fim, o bloco N190 indica o fim do programa pelo código M30. Ao finalizar o programa será obtido o bloco mostrado na figura 52. Figura 52. Bloco produzido pelo programa CNC explicado. Fonte: Indústrias Romi S/A, 2006. Mais exemplos de programação de centros de usinagem podem ser encontrados no link abaixo: http://siaibib01.univali.br/pdf/T22182C.pdf. 102 REFERÊNCIAS AUTODESK INC. Visão geral sobre comprimento da ferramenta. 2020. 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Softwares de desktop CAD estavam mais acessíveis e os sistemas de programação gráfica tornam-se comuns em controladores de máquina e algumas programações eram realizadas no chão de fábrica pelo operador. No início da década de 1990, os sistemas CAM movem a maior parte da programação dos operadores para o ambiente de escritório, além disso, desenhos de CAD sólidos se tornam mais comuns. Em 1995, os sistemas CAM operam em sólidos. Desenhos de wireframe ainda são usados, contudo, desenhos sólidos começam a ter ganhos na indústria. A partir dos anos 2000, o software CAM automatizado transforma desenhos sólidos em programas automaticamente. A programação ultrarrápida baseada em modelos sólidos torna a programação de chão de fábrica pelo operador uma possibilidade mais uma vez (FITZPATRICK, 2014). As máquinas-ferramentas CNC Embora as máquinas-ferramenta para usinagem sejam as mais conhecidas na aplicação CNC, outros equipamentos também podem ser controlados por comando numérico computadorizado, tais como equipamentos para soldagem, para corte a laser, para corte a jato d’água, máquinas de medir coordenadas, entre outras. Independentemente da aplicação, essas máquinas têm em comum, geralmente, alguns componentes, como: mesa de trabalho, eixo-árvore, motores de acionamento e respectivos controles (SOUZA; ULBRICH, 2013). Por conta da variedade de aplicações, as máquinas CNC podem ser produzidas para permitir apenas movimentações lineares, envolvendo somente um eixo da máquina, até operações mais complexas, envolvendo movimentações em cinco eixos simultâneos. Nesta apostila, apresentaremos a fresadora CNC, o torno CNC e o centro de usinagem CNC. » Fresadora CNC: é uma fresadora com componentes similares às fresadoras convencionais que possui um comando numérico computadorizado para realizar movimentações. Entretanto, esse equipamento não possui dispositivos para controle de posicionamento e monitoramento das ações da máquina e troca automática de ferramenta, conforme mostrado na figura 2. 14 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) Figura 2. Fresadoras CNC (a) aplicada, geralmente, para usinagem de metais e (b) aplicada, geralmente, para usinagem de madeiras, MDF, acrílico etc. Mesa de trabalho Eixo-árvore (a) (b) Fonte: (a) Falco, 2020; (b) Guia de Máquinas, 2017. » Torno CNC: é uma máquina ferramenta para, principalmente, produção de peça de revolução que possui um comando numérico computadorizado para realizar movimentos de avanço e profundidade da ferramenta. Ele permite a utilização de uma rotação maior do que as permitidas em tornos convencionais, sem perda de estabilidade e qualidade da peça. É aplicado para usinagem de materiais em geral, principalmente, quando são requeridas formas geométricas complexas. Os tornos CNC podem ser verticais ou horizontais. Os tornos verticais possuem estrutura mecânica robusta, conforme mostrado na figura 3, e são aplicados para a usinagem de peças de grande porte como as utilizadas pelos setores de petróleo, etanol, naval, eólico, siderúrgico e outros da indústria de base. Eles possuem elevada rigidez, estabilidade e flexibilidade e podem ser customizados de acordo com as necessidades de usinagem a que se destinam. Os tornos horizontais oferecem grande flexibilidade para usinagem de diferentes tipos de peças, com ótimos níveis de potência, rapidez de movimentos e precisão. Podem ser equipados com torre porta-ferramentas de indexação automática, que proporciona uma significativa redução no tempo de usinagem. Além disso, com opcionais, a máquina pode ser operada em modo manual, através das manivelas eletrônicas, e, também, em modo automático – joystick e cycle start (ROMI, 2020). 15 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I Figura 3. Tornos CNC (a) vertical e (b) horizontal. (a) (b) Fonte: Romi, 2020. » Centro de Usinagem CNC: é uma máquina-ferramenta de manufatura avançada que pode realizar uma variedade de operações de usinagem (furação, fresamento e torneamento) com alta precisão, alta qualidade e alto acabamento superficial (ver figura 4). A fabricação de peças prismáticas na indústria, como caixas de engrenagens, divisórias, quadros, tampas etc., requer diferentes tipos de operações, como fresamento, mandrilamento, furação, rosqueamento e muitas outras operações de usinagem relacionadas. No passado, esse processo de produção tinha que ser dividido em várias etapas de trabalho, e a operação era realizada em diferentes máquinas-ferramenta, o que resultava em uma grande quantidade de tempo de entrega e custo. Nesse contexto, o centro de usinagem CNC foi desenvolvido para permitir que as operações de fresamento, torneamento e furação fossem executadas em uma única máquina-ferramenta permitindo que uma máquina executasse uma variedade maior de geometrias em peças de diferentes formatos com redução do tempo de produção. Além disso, o centro de usinagem permite maior precisão de movimentação e posicionamento através de transdutores (linear e angular) utilizando uma malha fechada de controle e também possui um dispositivo, chamado de magazine, onde as ferramentas ficam armazenadas no interior da máquina. A presença do magazine permite que ocorra a troca automática de ferramenta, conforme comando especificado no programa CNC. Existem magazines com capacidade para locação de 20 a 200 ferramentas, por exemplo (SOUZA; ULBRICH, 2013). 16 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) Figura 4. Centro de Usinagem CNC (a) Vertical e (b) Horizontal, (c) magazine de ferramentas e (d) painel de controle. (a) (b) (c) (d) Fonte: Romi, 2020. Eficiência das máquinas CNC Desde meados da década de 1980, a evolução das máquinas foi impulsionada, principalmente, pela necessidade de melhorar a eficiência (fazer mais peças por hora). Para calcular os custos de manufatura, o tempo da máquina é dividido em duas categorias amplas: uptime (tempo no qual há remoção de cavaco), também chamado de WIP (work in progress – trabalho em andamento) ou tempo ativo, e downtime (tempo no qual não há remoção de cavacos), também chamado de tempo inativo. Devido ao seu grande custo e potencial de lucro, as máquinas CNC devem entregar produção de tempo ativo em torno de 90 a 95 por cento para se pagarem. De acordo com Fitzpatrick (2014), o tempo ativo é desafiado por cinco tipos de tempo não produtivo (downtime), são eles: » Retorno Part-to-part (PTP) ou tempo de ciclo: é o tempo necessário para remover a peça acabada e fixar uma nova peça. Os tempos de ciclo eficientes incluem a limpeza da mesa de trabalho, remoção dos 17 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I cavacos e a reinserção e fixação cuidadosa da próxima peça. Ações bem pensadas do operador são elementos-chave para redução desse tempo. Contudo, é importante destacar que a evolução das máquinas CNC criou todo um grupo de opcionais de carregamento, como: magazine de alimentação automática de barras para tornos, sistemas de troca de pallets para centros de usinagem e robôs articulados de carregamento de para ambos os tipos de máquinas. » Tempo de inatividade para manutenção em andamento: envolve a substituição de ferramentas desgastadas, manutenção dos níveis de lubrificante e refrigerante e outras tarefas de não produção de cavaco. Se seguras, muitas dessas tarefas são mais bem executadas enquanto a máquina está funcionando, mas não todas. Algumas podem ser executadas com segurança apenas com a máquina parada. Quando as máquinas têm um magazine que comporta muitas ferramentas, duas ferramentas com o mesmo formato e tamanho podem ser colocadas no magazine para facilitar a substituição delas. De modo que, depois de usar a primeira ferramenta, para um determinado número ou ciclos, a máquina muda automaticamentepara a segunda ferramenta, nesse momento, a primeira pode ser removida do magazine para ser afiada ou substituída. Isso é conhecido como scheduled tooling. » Tempo de nova parada de configuração: são tarefas necessárias para colocar uma nova configuração em funcionamento. É o tempo para escrever e/ou inserir um novo programa, realizar o preset de ferramentas, testar o programa etc. » Ciclo de troca de ferramenta Chip-to-Chip (CTC): é o período de tempo necessário para trocar as ferramentas de corte durante um programa. Inclui parar o fuso, deslocar rapidamente a máquina para uma posição de troca de ferramenta, trocar ferramentas, iniciar o fuso novamente e reposicioná-lo de volta ao trabalho com os cavacos sendo removidos novamente. » Programas ineficientes : essa categoria é complexa. Inclui deslocamento desnecessário da ferramenta sem tocar na peça ou troca muitas vezes de ferramentas ou peças móveis entre as operações. 18 CAPÍTULO 2 Principais características dos centros de usinagem verticais e dos tornos CNC Especificações técnicas para centros de usinagem verticais CNC O centro de usinagem vertical é capaz de realizar trabalho multioperacional, podendo fresar, furar, rosquear interna e externamente e, inclusive, fresar objetos redondos e peças de revolução, assim como os tornos. Quando adicionado um cabeçote e/ou uma mesa rotativa (4 e 5 eixos), os centros de usinagem vertical CNC podem usinar quase qualquer forma que possa ser desenhada na tela do computador (FITZPATRICK, 2014). A figura 5 mostra a visão interna de um centro de usinagem vertical CNC. Nela, é possível observar alguns componentes básicos que constituem essa máquina-ferramenta, são eles: » Base: é produzida, geralmente, por um único bloco fundido e sua função é conferir rigidez à máquina, absorvendo vibrações e proporcionando peças com excelente acabamento, maior durabilidade da máquina e das ferramentas de corte. » Coluna: é uma estrutura robusta e devidamente dimensionada para suportar o conjunto do cabeçote, trocador e magazine de ferramentas, oferecendo excelente estabilidade geométrica para todo o conjunto. » Mesa: é nela que ocorrerá a fixação da peça ou de outros conjuntos, como morsa. A mesa apresenta superfície provida de rasgos “T” para montagem e fixação de dispositivos e, geralmente, é apoiada em guias lineares. Além disso, é dimensionada para suportar altas cargas com excelente estabilidade. » Fusos de esferas recirculantes: é responsável pelo acionamento linear da máquina, de tal modo que parte móvel da máquina (por exemplo, a mesa) é fixada à parte externa do fuso. Segundo Solza e Ulbrich (2013, p. 215), “no interior do sistema, esferas circulam 19 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I entre o eixo do fuso, que é acoplado ao servomotor. Desta forma, o movimento rotacional do eixo do servomotor é transformado em movimento linear para translação da parte móvel da máquina”. Esse sistema oferece grande rigidez, alta precisão de posicionamento e repetibilidade dos eixos. » Guias lineares: podem ser de rolos ou de esferas e têm como função garantir alta velocidade, excelente precisão de movimentos e posicionamento dos eixos graças ao baixo coeficiente de atrito entre os trilhos e as sapatas. » Servomotor: é um acionamento composto por um motor elétrico e sistemas de controle e monitoramento que possibilitam comandá-lo, alterando variáveis, como rotação, posição e torque. Sua movimentação é controlada por sensores, denominados transdutores (que podem ser de velocidade, de posição, encoder angular ou enconder linear). Figura 5. Componentes básico de um centro de usinagem vertical CNC. Base Coluna Mesa Fusos de esfera recirculantes Guia lineares Servomotor Trocador automático de ferramentas Fonte: Romi, 2020. 20 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) Trocador automático de ferramentas (Automatic Tool Change – ATC) O trocador automático de ferramentas, geralmente conhecido como ATC, é usado para melhorar a produção e a capacidade de carga de ferramentas de um centro de usinagem CNC, pois permite que a máquina trabalhe com várias ferramentas diferentes. Uma máquina CNC simples é feita para funcionar com uma única ferramenta. Contudo, máquinas mais complexas, como os centros de usinagem, são capazes de trabalhar com um grande número de ferramentas. No entanto, para uma máquina usar mais ferramentas, um ATC deve ser adquirido. O conjunto de ferramentas é armazenado em um magazine, que permite o acesso da máquina a uma variedade maior de ferramentas sem a necessidade de um operador para realizar a troca delas, conforme mostrado na figura 4.c e na figura 5. Um trocador automático de ferramentas, geralmente, é composto de uma base, braços com uma garra, porta-ferramentas e um braço de suporte, bem como, o magazine de ferramentas. Um ATC é capaz de aumentar a velocidade, a precisão e a confiabilidade de uma máquina CNC, mas tem certos requisitos. Alguns deles incluem a necessidade de as ferramentas serem fáceis de centralizar, bem como simples de segurar e fáceis de desengatar automaticamente. Para fornecer isso, as ferramentas usadas em um ATC geralmente são seguradas por porta-ferramentas especialmente projetados. Segundo Fitzpatrick (2014), a maioria dos centros de usinagem pode armazenar, classificar e trocar automaticamente um mínimo de 12 ou 18 ferramentas de corte, até, aproximadamente, 36, dentro do equipamento padrão. Alguns apresentam extensões opcionais de magazine de ferramentas ou sistemas de transporte fazendo com que possam trabalhar com um número ilimitado de ferramentas de corte. A velocidade com que ocorre a troca de ferramenta, desde a perda de contato com a peça até o retorno do contato, é chamada de ciclo de troca de ferramenta cavaco a cavaco (CTC). Ciclos de 2,5 a 10 segundos são comuns em centros de usinagem. 21 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I O mecanismo de troca automática de ferramentas ocorre, geralmente, da seguinte maneira: primeiro, é dado o comando de troca automática de ferramenta; a ferramenta a ser trocada passa para a posição de troca de ferramenta; em seguida, o braço ATC se move para a posição de troca para que possa pegar a ferramenta; por fim, o braço da garra move a nova ferramenta para o eixo-árvore enquanto um segundo remove a ferramenta antiga para o magazine. Gerenciamento de ferramentas A maioria dos sistemas modernos de gerenciamento de ferramentas CNC realiza armazenamento aleatório de ferramentas. Armazenamento aleatório significa que qualquer ferramenta pode ser colocada na posição do magazine mais próxima. Na primeira inserção, o operador informa ao controle que um determinado número de ferramenta está em uma determinada posição do magazine. Em seguida, o controle mantém um registro de onde cada ferramenta está localizada no magazine após cada troca de ferramenta. A questão é que o magazine não precisa girar para colocar a ferramenta no mesmo orifício todas as vezes, porque, após o uso, ele posiciona a ferramenta na primeira posição livre disponível. Isso faz com que o tempo de troca de ferramenta seja reduzido, contudo, é importante destacar que esse é um recurso não disponível em centros de usinagem mais antigos (FITZPATRICK, 2014). Sistema de fixação da ferramenta ao eixo-árvore O porta-ferramenta é o elemento de ligação entre a árvore da máquina- ferramenta e a ferramenta de corte. Ele é responsável pela fixação e estabilidade da ferramenta. Para fixação do porta-ferramenta na árvore da máquina são utilizados pinos de retenção. Se o sistema de fixação da ferramenta está desbalanceado, erros dimensionais, má qualidade da peça e danos prematuros à ferramenta podem ocorrer. Em muitos casos, os porta-ferramentas são intercambiáveis entre as máquinas. Contudo, dependendo do porte, tamanho e potência da máquina,existem diferentes dimensões para o porta-ferramentas, padronizado pelas normas ISO, DIN, dentre outras (SOUZA; ULBRICH, 2013). Os portas-ferramenta ISO do tipo cônico são largamente usados para aplicações comuns, nas quais o processo de usinagem ocorre com rotação convencional (de 22 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) até 10000 a 15000 rpm). Para altas velocidades de rotação (em torno e/ou maiores do que 20000 rpm), o cone de haste vazada e com face de apoio denominado HSK (hohlschaftkegel) é recomendado (ver figura 6). Os métodos tradicionais para fixação de ferramentas são os porta-ferramentas com fixação por pinças e os adaptadores de haste Weldon, mostrados na figura 6. A fixação por porta-pinça demonstra alguns problemas quanto a precisão de fixação e baixa resistência às forças radiais. Os sistemas Weldon, embora apresentem excelente resistência à transmissão de torque, não permitem um balanceamento seguro, devido aos parafusos de fixação que estes requerem. (SOUZA; ULBRICH, 2013, p. 212). Figura 6. Sistemas de fixação de ferramentas de corte. Haste Weldon Porta-ferramenta tipo cônico Porta-ferramenta HSK Pino de retenção Parafuso de fixação Porta-ferramenta Pinça Ferramenta Porca de fixação Fixação por pinça Fonte: Souza; Ulbrich, 2013. Trocador de Pallets Os Trocadores de Pallet são equipamentos que permitem a automação de centros de usinagem verticais, aumentando a produtividade das máquinas, uma vez que a troca de peças é feita simultaneamente com a operação da máquina. Funcionam através de uma mesa pneumática fixa na máquina e uma estrutura composta de dois carros que se deslocam transversalmente junto à máquina. Dois pallets se revezam dentro e fora, possibilitando a troca de peças simultânea com a operação, oferecendo, assim, um melhor andamento e rapidez no serviço, aumentando a eficiência da produção. 23 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I Um trocador de pallets reduz muito o tempo de ciclo PTP (um dos tempos não produtivo -downtime), visto que os pallets são, geralmente, trocados em 15 segundos. Além disso, o seu uso melhora a segurança do operador, uma vez que o operador prepara a peça a ser usinada longe da região de corte. Ademais, para reduzir ainda mais o tempo de ciclo PTP, as indústrias podem possuir diversos pallets que podem ser preparados antes de serem necessários. A fixação da peça pode ser montada em um pallet fora da máquina e, em seguida, trocada rapidamente quando o novo programa for carregado, conforme mostrado na figura 7. Figura 7. Trocador de Pallets. Fonte: Fitzpatrick, 2014. Sistema de Lubri/Refrigeração A retirada de cavacos e a lubri/refrigeração da ferramenta tornam-se ainda mais importantes para usinagem com elevada rotação e alta taxa de remoção de cavaco, comuns nos centros de usinagem CNC. Para enfrentar esse desafio, os centros de usinagem incluem sistemas de refrigeração de alto volume. Alguns apresentam mais de uma saída programável, de modo que o refrigerante pode ser direcionado de dois ou mais lados de um corte, conforme mostrado na figura 8. 24 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) Figura 8. Sistemas de refrigeração (a) em abundância com duas saídas de fluido, (b) em névoa, (c) e (d) em alta pressão por canais que saem de dentro da ferramenta de corte. (a) (b) (c) (d) Fonte: Fitzpatrick, 2014. Refrigerantes programáveis Algumas máquinas CNC industriais apresentam bicos de refrigeração que podem girar em dois eixos. Usando um joystick ou botões no painel de controle, o operador os aponta durante a primeira execução do programa. As posições da refrigeração são anexadas à memória do número da ferramenta e, em seguida, recuperadas durante as execuções subsequentes do programa. Recursos de segurança automáticos Fechamento automático das portas Uma característica comumente encontrada em centros de usinagem e nos tornos CNC é o fechamento automático da porta de segurança. Eles são equipados com sensores para detectar e proteger qualquer coisa em seu caminho e evitar acidentes. Essas portas são mais comuns em máquinas com trocadores de pallets, mas também são encontradas em centros de usinagem verticais e centros de torneamento padrão. 25 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I Transportadores de cavacos Alto volume de cavacos, contenção do fluido refrigerante e maquinário de movimentação rápida tornam difícil remover cavacos manualmente. Portanto, transportadores automatizados de cavaco são adicionados aos centros de usinagem e de torneamento para atender a esse propósito. Um transportador de cavacos não apenas ajuda na manutenção contínua, mas melhora a segurança do operador, tornando desnecessário que ele se debruce sobre a máquina para limpar os cavacos. Conforme mostrado na figura 12, os cavacos são transportados por uma esteira e enviados para um carrinho (que pode ser levado para lixeiras quando for conveniente) ou, diretamente, para lixeiras, para então serem manuseados por empilhadeiras como parte do programa de reciclagem da fábrica. Monitoramento remoto Usando câmeras de vídeo, o operador pode exibir a operação de usinagem em sua tela de controle em vez de colocar seu rosto em perigo, conforme mostrado na figura 9. Isso é útil quando cavacos em vôo e fluidos refrigerantes mancham as proteções de segurança e dificultam a visibilidade do lado do operador da máquina. Figura 9. Tela dividida com dados do programa e monitoramento de vídeo da usinagem. Fonte: Fitzpatrick, 2014. 26 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) Sistema de compensação automática de ferramenta Este acessório popular tornou-se quase um padrão em centros de usinagem e tornos CNC. Quando as ferramentas são carregadas pela primeira vez na máquina, o diâmetro e o comprimento exatos delas devem ser inseridos na memória de controle de ferramentas. Embora um programa seja escrito com um determinado comprimento e diâmetro de ferramenta em mente, a ferramenta real não precisa ter uma correspondência exata com a do programa, apenas próxima daquela para a qual o programa foi escrito. Se o controlador for informado do tamanho e formato reais da ferramenta, ele pode compensar a diferença entre o tamanho programado e o tamanho real. Essas diferenças são chamadas de desvios de ferramenta e carregá-las no controle é de responsabilidade do operador. O uso de compensações economiza tempo e dinheiro, pois qualquer ferramenta boa e reafiada pode ser usada, sem que seja necessário reescrever todo o programa novamente. Os desvios devem ser determinados por medição manual e, em seguida, os dados inseridos manualmente, ou podem ser determinados automaticamente por sondas ou sensores ópticos. Figura 10. Dados sobre as ferramentas de corte no painel de controle. Fonte: elaboração própria da autora. Luzes de advertência do operador (amarelas) e de anúncio e aviso (vermelhas) Para auxiliar no monitoramento do operador, muitos controles CNC apresentam luzes de segurança colocadas em local alto para visibilidade. 27 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I Se habilitado, o amarelo sinaliza a necessidade de intervenção do operador, como o fim do programa. Este recurso permite que os operadores gerenciem mais de uma máquina em uma planta industrial. A luz vermelha indica que algo está seriamente errado, como pouco refrigerante, uma falha do programa que não pode ser processada ou um erro do servomotor. Especificações técnicas para torno CNC Uma vez que os tornos já haviam evoluído para versões automáticas muito sofisticadas de tornos revólver e tornos multifusos muito antes de máquinas-ferramentas programadas entrarem em cena, a versão CNC apresentou um grau menor de evolução comparada com os centros de usinagem. Ainda assim,a utilização dos tornos CNC trouxe importantes melhorias relacionadas a utilização de uma rotação maior do que as permitidas em tornos convencionais, sem perda de estabilidade e qualidade da peça, além da possibilidade de usinagem de peças com geometrias complexas em pouco tempo de produção. Muitas das melhorias de tempo de ciclo e segurança discutidas para centros de usinagem são padrão ou estão disponíveis em centros de torneamento também, tais como: esteiras transportadoras de cavaco, sistema de lubri/refrigeração para elevados volume e pressão com aviso de baixo nível, fechamento automático da porta de segurança com sensores de bloqueio, sistemas de monitoramento em vídeo, robôs articulados de carregamento de máquina e sistema de compensação automática de ferramenta (no qual uma sonda de detecção ou um sistema de visão a laser controla o tamanho e a posição da ferramenta de corte em relação à configuração inicial). Equipamentos básicos e adicionais Torre porta-ferramenta para múltiplas ferramentas Esse equipamento permite a montagem de várias ferramentas de corte diferentes dependendo do tamanho da torre e do tamanho das ferramentas, conforme mostrado na figura 11. Pode-se montar, na mesma torre, ferramentas com pastilha de desgaste e acabamento interno e externo, bedames, brocas etc. Essa torre permite, não somente, a troca rápida de ferramenta, bem como, a utilização bicos de refrigeração individuais (outro adicional) posicionados de acordo com o tamanho e localização de cada ferramenta. A torre é feita de forma que porta-ferramentas robustos possam ser montados rapidamente e qualquer porta-ferramentas substituto, dentro do mesmo sistema, será posicionado 28 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) exatamente na mesma posição em relação à peça e à torre. Além disso, as próprias ferramentas apresentam tolerância estreita e pastilhas substituíveis, com isso, é possível a troca rápida de porta-ferramentas e pastilhas de corte com pouca interrupção na produção. Uma vez que os tornos devem conter na torre todas as ferramentas necessárias para executar a usinagem total da peça, surgem dois problemas que afetam o planejamento e a avaliação do programa. O primeiro deles é colocar ferramentas longas, como brocas e alargadores, próximas umas das outras. Fazer isso pode criar uma situação em que, durante a furação, o alargador também toca a peça, principalmente, se o diâmetro dela for grande. É função do operador verificar e evitar essas situações durante o teste do programa. Além disso, é importante se certificar de que a torre esteja afastada o suficiente da peça para girar com segurança durante a seleção de nova ferramenta. O segundo problema surge quando o plano do programa requer mais ferramentas de corte do que podem ser carregadas na torre. Um elevado número de ferramentas de corte (16 a 24, dependendo do tamanho da torre) podem ser carregadas em grandes centros de torneamento CNC, uma vez que eles apresentam grandes torres. No entanto, em centros de torneamento menores, onde a capacidade é limitada, os programadores podem recorrer a ferramentas multiuso, embora elas não sejam recomendadas para cortes pesados em comparação com ferramentas padrão (FITZPATRICK, 2014). Figura 11. Torre porta-ferramenta. Fonte: Romi, 2020. Contra ponta programável Muitos tornos CNC, mas não todos, usam contra ponta programável. A adição dela depende dos tipos de produtos que se deseja produzir. Se as peças usinadas forem longas, uma contra ponta programável torna-se uma boa opção de adicional. 29 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I Dispositivo para afiação de ferramentas Quando especialmente equipados, alguns tornos CNC podem afiar fresas, brocas e alargadores a partir da torre da ferramenta. Isso é feito usando motores hidráulicos. Terceiro eixo de movimento Alguns tornos mais recentes apresentam um terceiro eixo de movimento (Y) para a torre. Isso permite a usinagem de peças fora de centro. Com isso, essas máquinas podem usinar uma grande variedade de formatos de peças. Mandril Hidráulico Os tornos CNC incluem pinças e mandris automáticos que reduzem tempo necessário para remover a peça acabada e fixar uma nova peça. O mandril hidráulico garante uma aderência rápida e consistente em comparação com mandris apertados manualmente. A quantidade de pressão de aperto é ajustável. Pedaleira de segurança Para segurança e conveniência, os mandris hidráulicos são geralmente ativados por um pedal, para que o operador possa usar as duas mãos para apoiar a peça. Para evitar que esse pedal seja acionado acidentalmente, dispositivos de seguranças também são integrados ao programa e controle para garantir que o mandril não abra durante a usinagem. Figura 12. Torno CNC com destaque para a torre porta-ferramenta, a pedaleira de segurança e a esteira transportadora de cavaco. Pedaleira de Segurança Torre porta-ferramenta Esteira transportadora de cavaco Fonte: Fitzpatrick, 2014. 30 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) Alimentadores automáticos A forma como acontece a alimentação de material bruto no torno interfere diretamente no tempo de fabricação de uma peça. Ao utilizar alimentadores automáticos, o fuso, muitas vezes, não precisa ser parado para substituição da peça. Através do programa CNC, sem parar o fuso, as pinças podem abrir e o alimentador avançar o material para realizar a usinagem de uma nova peça. Essa capacidade permite uma operação autônoma por muito tempo, liberando o operador para realizar outras tarefas, como escrever programas futuros ou rebarbar peças. Quando o material bruto se trata de uma barra, uma opção para aumentar a produtividade do torno CNC é a utilização dos magazines de alimentação automática de barras. Em geral, os trabalhos são realizados com barras de 3,0 m de comprimento e a fixação é feita através de pinças. As barras devem ter uma excelente retilineidade para minimizar vibrações, que podem prejudicar, tanto o acabamento superficial e as dimensões das peças, como o funcionamento e a vida da máquina. Outro ponto de fundamental importância é a qualidade superficial das barras, sendo que é altamente recomendável a utilização de barras trefiladas com tolerância h11 ou mais apertada, para que não haja desgaste da pinça de fixação e também evitar esforços excessivos nos elementos que realizam os movimentos para a fixação como, por exemplo, as garras de sujeição. (FERRARI, 2003, p. 8) Os magazines de alimentação automática de barras, ou apenas alimentador de barras são, geralmente, utilizados quando se deseja usinar muitas peças, de curto tempo de ciclo, a partir de uma única barra longa de material. Conforme mostrado na figura 13, o magazine permite o armazenamento com segurança de longas barras. A alimentação ocorre do seguinte modo: após a peça ter sido usinada e separada da barra (por sangramento), ela cai no coletor de peças (outro acessório automatizado) e o alimentador empurra a barra para frente na quantidade exata para fazer outra peça. 31 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I Figura 13. Magazine de alimentação automática de barras (lado esquerdo da máquina). Magazine de alimentação automática de barras Fonte: Fitzpatrick, 2014. Quando o material bruto se trata de uma peça pré-formada como tarugos de barras cortados, fundidas, forjadas e sinterizadas, a alimentação pode ocorrer, geralmente de duas formas, através de manipuladores de peças tipo pórtico ou através de robôs articulados (braços robóticos). O manipulador tipo pórtico, mostrado na figura 14, tem o seguinte funcionamento: um manipulador aéreo, montado em uma viga em cima da máquina e dotado de uma estação de agarre giratória, retira a peça usinada e a posiciona rapidamente o novo material bruto a ser usinado, de tal modo que a peça acabada étransportada até a posição exata para sua colocação na mesa armazenadora das peças (FERRARI, 2003). Figura 14. Torno CNC com manipulador tipo pórtico. Fonte: Direct Industry, 2020. 32 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) Os robôs articulados de carregamento de máquinas, mostrados na figura 15, são utilizados para carga e descarga de peças tanto em tornos CNC como em centros de usinagem. Eles podem ser compactos e equipados com no máximo seis eixos. Alguns fabricantes produzem pequenos modelos que entram diretamente na máquina-ferramenta. Além disso, podem ser equipados com proteção contra água e poeira. Ainda, podem ser instalados em suportes no chão, na parede e no teto para poupar espaço e expandir o seu campo de ação. Alguns modelos de robôs são adaptados para o carregamento de várias máquinas-ferramentas, aumentando o rendimento e maximizando o tempo de produção (FANUC, 2020). Figura 15. Robôs articulados de carregamento de máquinas. Fonte: Fanuc, 2020. 33 CAPÍTULO 3 Introdução à usinagem cinco eixos e usinagem em altas velocidades Usinagem cinco eixos Na usinagem cinco eixos, além dos eixos cartesianos (X, Y e Z), são atribuídas possíveis rotações sob os eixos cartesianos, conforme mostrado na figura 16. Os eixos A, B e C são ordenados alfabeticamente para corresponder aos eixos X, Y e Z. Em um centro de usinagem vertical, os eixos X e Y residem no plano horizontal enquanto o eixo Z reside no plano vertical. Em um centro de usinagem horizontal, os eixos Z e Y são invertidos. Figura 16. Sistemas de coordenadas para cinco eixos de um centro de usinagem vertical. X Z Y A C B Legenda Eixo A: Rotação em torno do eixo X Eixo B: Rotação em torno do eixo Y Eixo C: Rotação em torno do eixo Z Fonte: adaptado de Souza; Ulbrich, 2013. Em termos mais simples, a usinagem de 5 eixos envolve o uso de um CNC para mover uma peça ou ferramenta de corte ao longo de cinco eixos diferentes simultaneamente. Isso permite a usinagem de peças muito complexas, razão pela qual os 5 eixos são especialmente populares para aplicações aeroespaciais. Wright (2016) aponta que vários fatores contribuíram para a adoção mais ampla da usinagem de 5 eixos. Esses incluem: » Um impulso para a usinagem de configuração única (às vezes referida como Done in One) para reduzir o tempo não-produtivo e aumentar a eficiência. » A capacidade de evitar a colisão com o porta-ferramenta inclinando a ferramenta de corte ou a mesa, o que também permite melhor acesso à geometria da peça. » Maior vida útil da ferramenta como resultado da inclinação da ferramenta/mesa para manter a posição de corte ideal. 34 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) A configuração específica de uma máquina de 5 eixos determina quais dois dos três eixos de rotação ela utiliza. Por exemplo, uma máquina estilo trunnion opera com um eixo A (girando em torno do eixo X) e um eixo C (girando em torno do eixo Z), enquanto uma máquina estilo swivel-rotate opera com um eixo B (girando em torno do eixo Y) e um eixo C (girando em torno do eixo Z). Os eixos rotativos em máquinas do tipo trunnion são expressos por meio do movimento da mesa, enquanto as máquinas do estilo swivel-rotate expressam seus eixos rotativos girando o fuso. Ambos os estilos têm suas próprias vantagens exclusivas. Por exemplo, as máquinas tipo trunnion oferecem maiores volumes de trabalho, pois não há necessidade de compensar o espaço ocupado pelo fuso giratório. Por outro lado, as máquinas do tipo swivel-rotate podem suportar peças mais pesadas, já que a mesa é sempre horizontal. Figura 17. Centros de usinagem vertical 5 eixos estilo (a) trunnion e (b) swivel-rotate. (a) (b) Fonte: Wright, 2016. Basicamente, os processos de usinagem 5 eixos podem ser empregados em duas modalidades: usinagem 3+2 eixos e usinagem cinco eixos simultâneos. A usinagem 3+2 eixos envolve a execução de um programa de 3 eixos com a ferramenta de corte travada em um ângulo determinado pelos dois eixos de rotação. Enquanto a usinagem cinco eixos simultâneos envolve ajustes contínuos da ferramenta de corte ao longo de todos os cinco eixos para manter a ponta perfeitamente perpendicular à peça. 35 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I A principal vantagem da usinagem contínua de 5 eixos em relação à 3+2 eixos é a velocidade contínua, uma vez que a última necessita parar e iniciar entre cada reorientação da ferramenta, enquanto a primeira não. Também é importante notar que, com a vantagem de velocidade, vêm mais peças móveis, o que leva a um maior desgaste e a uma maior necessidade de detecção de colisões de peças. Esta é uma das razões pelas quais a usinagem contínua de 5 eixos é mais difícil do ponto de vista da programação (WRIGHT, 2016). Usinagem em altas velocidades A maioria dos centros de usinagem CNC de pequeno a médio porte apresenta fusos capazes de atingir rotações mais elevadas do que as fresadoras padrão. É comum encontrar centros de usinagem que trabalham com rotação de 10.000 a 15.000 rpm. Além disso, com o avanço da tecnologia já estão disponíveis no mercado centros de usinagem acionados por motores lineares com velocidade de avanço de 50.000 mm/min (programado), equipados com eixo-árvore com frequência de rotação em torno de 40.000 rpm. Essas máquinas atendem as demandas da usinagem em altas velocidades que discutiremos nessa seção. A usinagem com altas velocidades (High Speed Machining – HSM) é uma das tecnologias modernas que, em comparação com o corte convencional, permite aumentar a eficiência, precisão e qualidade das peças e, em algum momento, diminuir custos e tempo de usinagem. A primeira definição de HSM foi proposta por Carl Salomon em 1931. Ele presumiu que a uma certa velocidade de corte 5 a 10 vezes maior do que na usinagem convencional, a temperatura da interface da ferramenta do cavaco começará a diminuir. Segundo Pasko, Przybylski e Slodki (2002), não é possível verificar essa teoria em toda a sua extensão com base em resultados experimentais recentes, contudo, em certas velocidades de corte para diferentes materiais, percebe-se uma diminuição relativa da temperatura na aresta de corte. Na verdade, existem muitas maneiras diferentes de definir HSM, sobre elas é dito que HSM é: » usinagem de alta velocidade de corte (vc); » usinagem de alta velocidade rotacional (n); 36 UNIDADE I | USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) » usinagem de alto avanço (vf); » usinagem de alta velocidade de corte e avanço; » usinagem de alta produtividade. Na prática, pode-se notar que HSM não é simplesmente uma alta velocidade de corte. Deve ser considerado como um processo em que as operações são realizadas com métodos e equipamentos de produção muito específicos. Pasko, Przybylski e Slodki (2002) afirmam que o HSM não é apenas usinagem com alta velocidade do fuso, porque muitas aplicações são realizadas com velocidades do fuso convencionais. O uso de HSM nos permite encurtar o tempo de produção e aumentar a precisão das peças usinadas e sua aplicação envolve, principalmente, em três setores da indústria devido aos seus requisitos específicos. O primeiro setor é a indústria que lida com a usinagem de alumínio para produzir componentes automotivos, pequenas peças de computador ou dispositivos médicos. Esta indústria necessita de remoção rápida de metal, pois o processo tecnológico envolve muitas operações de usinagem. O segundo setor é a indústria aeronáutica, visto que envolve a usinagem de peças longas de alumínio, geralmente, com paredes finas. O terceiro setor é a indústria de moldes e matrizes, que exige a usinagem de materiais endurecidos com alta precisão. Nesse último setor, o HSM é usado para usinar peças como: » Matrizes de fundição sob pressão: esta é uma área onde o HSM pode ser utilizado de forma produtiva, pois a maioria dasmatrizes de fundição são feitas de aços-ferramenta e possuem um tamanho moderado ou pequeno. » Matrizes de forjamento: a maioria das matrizes de forjamento são adequadas para HSM devido à sua forma complexa. A superfície é muito dura e costuma apresentar fissuras. » Moldes de injeção e sopro: também são adequados para HSM por causa de seus tamanhos pequenos, o que torna mais econômico realizar todas as operações em uma única montagem. 37 USINAGEM POR MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) | UNIDADE I » Fresamento de eletrodos em grafite e cobre: é uma excelente área para HSM. O grafite pode ser usinado de forma produtiva com Ti (C, N) ou fresas de topo de metal duro com cobertura de diamante. » Modelagem e prototipagem de matrizes e moldes: são usados materiais fáceis de usinar, como não ferrosos, por exemplo, alumínio. As velocidades de corte costumam ser de 15.000 a 50.000 rpm e os avanços também são muito altos. 38 UNIDADE II PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC A maior parte de um programa CNC é composta de coordenadas de pontos que descrevem as movimentações dos eixos. Essas coordenadas, por vezes, cartesianas X, Y e Z, são usadas para movimento da ferramenta, posicionamento da mesa de trabalho, ou, ainda, para referenciamento. Nesta unidade, iremos descrever, no Capítulo 1, a estrutura do programa CNC, os comandos de movimentação das máquinas CNC e os métodos de interpolação de seguimentos que descrevem a trajetória da ferramenta de corte. No Capítulo 2, serão apresentados os sistemas de referenciamento das coordenadas de trabalho. Por fim, no Capítulo 3, serão apresentados os métodos para programação e comunicação de máquinas CNC. CAPÍTULO 1 Estrutura do programa CNC, comandos de movimentação e interpolação Estrutura do programa CNC Os programas CNC listam as instruções a serem executadas na ordem em que foram escritas. Eles leem como um livro, da esquerda para a direita e de cima para baixo. Cada frase em um programa CNC é escrita em uma linha separada, chamada de Bloco. Os blocos são organizados em uma sequência específica que promove segurança, previsibilidade e legibilidade, por isso é importante aderir a uma estrutura de programa padrão. Os blocos de um programa CNC apresentam códigos que descrevem os comandos de movimentação da ferramenta e/ou mesa de trabalho e os comandos de 39 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II acionamento e de preparação para usinagem. Alguns elementos encontrados nos programas CNC são mostrados na figura 18. Figura 18. Formato do programa CNC. O0014; Número do programa N10 G90; Número do bloco N20 G01 X50 Y20 F120 S100; N30 X15 ; End of Block (EOB – final do bloco) N50 M30 ; Funções miscelâneas Fonte: adaptado de Suh et al., 2008. Geralmente, em um programa CNC simples, os blocos são organizados na seguinte ordem: início do programa, carregamento da ferramenta, acionamento do eixo-árvore, acionamento do fluido refrigerante, deslocamento rápido até um ponto de segurança próximo à peça, operação de usinagem, desligamento do fluido refrigerante, desligamento do eixo-árvore, deslocamento até uma posição segura e fim do programa (pelo código M30). Os blocos controlam a máquina-ferramenta através do uso de uma linguagem em sintaxe padrão ASCII composta por letras e números (SOUZA; ULBRICH, 2013). Alguns são usados mais de uma vez, e seu significado muda com base no código G que aparece no mesmo bloco. Abaixo são listados os códigos de comandos associados às letras que os descrevem. Número do programa Cada programa recebe um número. A letra maiúscula “O” é reservada para a identificação do número do programa e geralmente é seguida por quatro dígitos, que especificam o número real do programa. Por exemplo, para criar um programa com o número 1234, o programador deve inserir o endereço da letra “O” e, em seguida, o número 1234 (01234). Todos os programas requerem este formato. Um erro comum cometido aqui é inserir zero (0) em vez da letra “O”, o que resulta em um alarme no sistema de controle. 40 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC Número do bloco A letra “N” é reservada para identificar os números de sequência da linha do programa (números de bloco) e precede quaisquer outros dados em uma linha de programa. Para cada linha em um programa, um número de bloco deve ser identificado pela letra “N” seguida de uma numeração. Em geral, é utilizada a numeração em intervalos de 10 e 10, por exemplo: N10, N20, N30, …, N90, N100… Isso permite uma possível alteração no programa, em que, após a elaboração de um longo programa, uma linha adicional, por exemplo N11, possa ser acrescentada sem grandes alterações na denominação das demais linhas. É importante ressaltar que a identificação das linhas do programa pela letra “N” seguida de uma numeração é apenas uma informação auxiliar empregada por questões culturais e pode ser excluída do programa, principalmente quando se deseja reduzir o volume de caracteres do programa CNC e reduzir, consequentemente, o tamanho do arquivo digital. Funções preparatórias A letra “G” é reservada para identificar as funções preparatórias. Os comandos “G” geralmente informam ao controle que tipo de movimento é desejado (por exemplo, posicionamento rápido, avanço linear, avanço circular, ciclo fixo) ou qual valor de deslocamento usar. Mais informações sobre as funções preparatórias são mostradas a seguir, ainda nesse capítulo. Definição das Coordenadas Para o sistema translacional são reservadas as letras “X”, “Y”, “Z” para identificar os eixos e as letras “U”, “V” e “W” quando necessita de posicionamentos auxiliares (sendo U, V e W, relativos, em mesma ordem, aos eixos X, Y e Z). As coordenadas são escritas pela utilização de uma dessas letras acompanhadas de um valor numérico com unidade em milímetro ou polegada. Para sistema rotacional são reservadas as letras “A”, “B” e “C” acompanhada de um valor numérico com unidade em graus. Para descrever a posição do centro de um círculo, são reservadas as letras “I”, “J” e “K” acompanhas por valor número com unidade em mm ou pol. A figura 19 mostra como se dá a orientação dos eixos “X”, “Y”, “Z”, “A” e “B” na fresadora e/ou centros de usinagem verticais e horizontais, tornos horizontais e centro de usinagem 5 eixos com eixo- árvore articulado. 41 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Figura 19. Orientação dos eixos nas fresadoras e/ou centros de usinagem verticais e horizontais, tornos horizontais e centro de usinagem 5 eixos com eixo-árvore articulado. Fresadora ou Centro de usinagem vertical Fresadora ou Centro de usinagem horizontal Torno Horizontal Centro de usinagem 5 eixos com eixo-árvore articulado para eixo A e B. Fonte: Fitzpatrick, 2014. Definição do avanço e velocidade de avanço A letra “F” é utilizada para determinar o avanço ou a velocidade de avanço utilizada no corte, como mostrado no exemplo na Tabela 1. Esta letra precede uma entrada numérica com unidades em polegadas por minuto (pol./min) ou polegadas por volta (pol./volta), se a função G20 (dados em polegada) estiver ativa; e em milímetros por minuto (mm/min) ou milímetros por volta (mm/volta), se a função G21 (dados em milímetro) estiver ativa. Além dos comandos G20 ou G21, o usuário também deve utilizar os comandos G94 ou G95 para identificar se os dados são referentes à velocidade de avanço (G94 – mm/min ou pol./min) ou referentes ao avanço (G95 – mm/volta ou pol./volta). Esse código, geralmente, é expresso em uma das primeiras linhas do programa CNC. É importante ressaltar que o valor definido pelo comando “F” permanece ativo até que seja alterado, inserindo um novo valor para a letra “F”. 42 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC Definição da velocidade de rotação do eixo-árvore Para especificar a velocidade de rotação do eixo-árvore, utiliza-se a letra “S” seguida por um valor numéricoem rotações por minuto (rpm), como mostrado no exemplo da Tabela 1. Um ou mais dígitos após a letra “S” são usados para determinar o valor da velocidade de rotação e são sempre acompanhados dos códigos M03 (rotação no sentido horário) ou M04 (rotação no sentido anti-horário). Se for inserido S0, este comando desativa a rotação do fuso e o deixa em uma posição neutra para que o fuso possa ser girado manualmente, dependendo da máquina-ferramenta. Isso é muito útil, especialmente para “marcar” o suporte da peça em usinagem para estabelecer a coordenada zero-peça, que será tratada no Capítulo 2 dessa unidade. Definição da ferramenta A seleção e aplicação adequada das ferramentas de corte e do porta-ferramenta garantem que os programas criados produzam os resultados desejados. A função da ferramenta é utilizada para preparar e selecionar as ferramentas apropriadas do magazine de ferramentas. Para descrever a ferramenta no programa, a letra “T” é seguida por um ou mais dígitos que se referem à posição/localização da ferramenta no magazine e também pelo código M06 (código de troca de ferramenta), como mostrado na Tabela 1. Tabela 1. Exemplo de linhas de um programa CNC. N10 G54 M6 T2 G21 G90 Identificação da linha Identificação do zero- peça Pega a ferramenta na posição 2 do magazine. Coordenadas em milímetro Coordenadas absolutas N20 G01 F1000 X10 Y5 Z2 M8 M3 S2000 Identificação da linha Interpolação linear e velocidade de avanço 1000 mm/min Coordenadas de posição Liga fluido de corte Velocidade de rotação de 2000 rpm em sentido horário Fonte: adaptado de Souza; Ulbrich, 2013. Funções miscelâneas ou funções auxiliares As funções miscelâneas, ou “Códigos M”, utilizam a letra “M” precedida de dois números. Elas controlam os componentes de trabalho que ativam e desativam o fluxo de refrigerante, rotação do fuso, a direção da rotação do fuso e atividades semelhantes. Mais informações sobre as funções miscelâneas são mostradas a seguir, ainda neste capítulo. 43 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Número de Offset Número precedido pelo letras “H” ou “D” para especificar um valor de correção da ferramenta. A letra “H” define a correção do comprimento da ferramenta. Este código chama um registro de compensação do comprimento da ferramenta (tool length offset - TLO) no controle. O controle combina os valores Z e o TLO para saber onde a ferramenta está em relação ao ponto de referência da peça. Ele sempre é acompanhado por um número inteiro (H1, H2 etc.), a função G43 e a coordenada Z. Definição do raio de círculo ou arco Usa-se a letra “R” precedida de um número que descreve o valor numérico do raio do círculo ou arco em milímetros (se a função G21 estiver ativa) ou polegadas (se a função G20 estiver ativa). A função “R” é utilizada também para arredondamento e a função “C” para chanframento. Um chanfro ou um arredondamento pode ser inserido entre os seguintes movimentos: entre uma interpolação linear e outra interpolação linear; entre uma interpolação linear e uma interpolação circular; e entre uma interpolação circular e uma interpolação linear. Os comandos de “C” e “R” são utilizados da seguinte maneira: X__ Y__ Z__, C__ Usado para chanframento X__ Y__ Z__, R__ Usado para arredondamento Para utilizar essas funções, deve-se programá-las no mesmo bloco da interpolação linear ou circular para que, em função do próximo movimento, seja criado um chanfro ou um arredondamento de canto. Número de repetição de ciclos ou sobprograma A letra “L” é reservada para determinar essa função. Ela define o número de repetições (“loops”) de um ciclo fixo em cada posição. Presume-se que seja 1, a menos que programado com outro número inteiro. Às vezes, a letra “K” é usada em vez de “L”. Essa função combinada com coordenadas incrementais (G91) permite que uma série de furos igualmente espaçados possam ser programados como um loop ao invés de como posições individuais. 44 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC Códigos de caracteres especiais % - início ou término do programa Alguns comandos CNC exigem o caractere % no início e/ou final de programa. Quando isso ocorre, os programas começam e terminam com % em um bloco por si só. Esse código é chamado de caractere de retrocesso de fita (um resquício da época em que os programas eram carregados com fitas de papel). ( ) - Comentários Os comentários para o operador devem ser escritos em letra maiúscula e entre colchetes. O comprimento máximo de um comentário é de 40 caracteres e todos os caracteres são maiúsculos. / - Excluir Bloco Os códigos, após este caractere, são ignorados se a chave Block Delete no controle estiver ligada. ; - Fim do Bloco (End Of Block) Assim como o código %, o caractere ponto-e-vírgula (;) pode ser requerido em alguns programas, mas não todos. Eles são particularidades de cada fabricante de CNC, e o usuário deve conhecer essas informações no manual do CNC que deseja programar. Este caractere não é visível quando o programa CNC é lido em um editor de texto, mas aparece no final de cada bloco de código quando o programa é exibido no controle da máquina. Programação de máquinas CNC em sistemas absolutos e incrementais As trajetórias de ferramenta são descritas por valores numéricos baseados em eixos de um sistema de coordenadas. Existem dois métodos para atribuição de coordenadas em sistemas CNC: coordenadas absolutas, determinadas pelo código G90; e coordenadas incrementais, determinadas pelo código G91 (SOUZA; ULBRICH, 2013). Coordenadas absolutas (G90) Com o sistema de coordenadas absolutas, a origem é o ponto zero do programa atualmente ativo. Todos os valores de coordenadas são relativos a uma origem fixa do sistema de coordenadas, como mostrado na figura 20. 45 PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC | UNIDADE II Em alguns programas CNC de tornos e centros de usinagem, a depender do fabricante, o código G90 é chamado de ciclo de torneamento. Figura 20. Coordenadas absolutas. Fonte: Button, 2009. Coordenadas incrementais (G91) Em sistemas incrementais, toda medição refere-se a uma posição previamente dimensionada (ponto a ponto). Ou seja, a origem da movimentação está sempre relacionada com a posição atual da ferramenta. As dimensões incrementais são as distâncias entre dois pontos adjacentes, como mostrado na figura 21. Figura 21. Coordenadas incrementais. Fonte: Button, 2009. Tanto o sistema de medição por coordenadas absolutas quanto o por coordenadas incrementais são usados para determinar os valores que são inseridos no código de programação para descrever a posição X, Y e/ou Z dos eixos e, também, dos eixos rotativos A, B e/ou C, se for o caso. A figura 22 mostra um exemplo de aplicação desses dois sistemas de coordenadas para descrever a trajetória de uma ferramenta. 46 UNIDADE II | PLANEJAMENTO DO PROCESSO DE USINAGEM CNC Figura 22. Exemplo de aplicação de coordenadas absolutas e incrementais para descrever a trajetória composta por segmentos de linhas retas descritas pelos pontos P1 a P7. Coordenadas absolutas (G90) Coordenas Incrementais (G91) P1 X0 Y0 P1 X0 Y0 P2 X0 Y4 P2 X0 Y4 P3 X2 Y4 P3 X2 Y0 P4 X2 Y5 P4 X0 Y1 P5 X4 Y6 P5 X2 Y1 P6 X4 Y7 P6 X0 Y1 P7 X6 Y6 P7 X2 Y-1 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 0 1 2 3 4 5 6 7 8 0 1 2 3 4 5 6 7 EI XO Y EIXO X Fonte: adaptado de Evans, 2007. O movimento do eixo na direção positiva não requer a inclusão do sinal; enquanto movimentos negativos requerem sinais. Funções de interpolação Interpolação, no contexto de Desenho Auxiliado por Computador (CAD), é o processo de construção de uma curva definida parametricamente de forma livre, ou superfície, que passa exatamente por um conjunto de pontos de dados (LOCKYER, 2006). O interpolador é o dispositivo do comando numérico responsável por calcular os valores intermediários de movimentação entre dois pontos da trajetória, A e B, dividindo a trajetória em n segmentos. Desta