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Indaial – 2021 Radiologia VeteRináRia Prof.ª Daiane Luise Mengarda 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.ª Daiane Luise Mengarda Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M544r Mengarda, Daiane Luise Radiologia veterinária. / Daiane Luise Mengarda. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 197 p.; il. ISBN 978-65-5663-580-4 ISBN Digital 978-65-5663-579-8 1. Veterinária - Diagnóstico. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 636.8907572 apResentação Olá, acadêmico, seja bem-vindo ao Livro Didático de Radiologia Veterinária, material de estudo em que conheceremos uma modalidade diferente da radiologia a que estamos habituados até hoje: a veterinária. Os cães e gatos são muito presentes na vida das pessoas, seja como companheiros, auxiliando com deficiências físicas e psicológicas, como cães de trabalho, seja na interação humano-animal em pacientes convalescentes em hospitais. Os cavalos também são importantes para práticas de esportes, para trabalho e são as estrelas da equoterapia, que auxiliam pessoas com deficiências mentais e físicas. Devido à grande importância dessa relação homem-animal, direcionaremos nosso estudo para os exames radiográficos que podem ser realizados em cães e gatos. Assim, este livro, dividido em três unidades e em tópicos especialmente organizados para otimizar seus estudos, facilita a sua aprendizagem e a fixação dos conteúdos, pois foi pensado em fornecer a você, acadêmico, a melhor condição de aprendizagem, permitindo um conhecimento diferencial para estruturação de um profissional completo. Na Unidade 1, iniciaremos explorando a área veterinária abordando assuntos básicos, como os planos anatômicos, uma vez que os pacientes são quadrúpedes, a anatomia básica e a fisiologia de cães e gatos. A partir desse conhecimento, poderemos entender como são esses pacientes e como realizar o manejo correto, no sentido de não os lesionar ou nos colocarmos em risco, a fim de obtermos exames de qualidade. Na Unidade 2, veremos os exames radiográficos de cães e gatos, o que abrange os diferentes posicionamentos para exames da cabeça, coluna e do membro torácico, como executar os exames e a avaliação da imagem obtida, visando à qualidade dos exames realizados. Na Unidade 3, trataremos dos exames radiográficos de cães e gatos, abordando os exames do membro torácico, do tórax e da traqueia e, ainda, do abdome. Mais uma vez, aprenderemos a executar e avaliar a qualidade da imagem obtida. Além disso, veremos o exame radiográfico locomotor dos equinos, relacionando com o conhecimento da anatomia básica e dos principais posicionamentos a serem realizados. Com isso, nosso objetivo é construir o conhecimento adequado para a realização de exames radiográficos de qualidade, preservando a qualidade da imagem, o cuidado com os pacientes e a nossa segurança profissional. Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Desejamos a você, acadêmico, um bom ingresso na Radiologia Veterinária e um excelente estudo! Prof.ª Daiane Luise Mengarda Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumáRio UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA ........................................... 1 TÓPICO 1 — PLANOS ANATÔMICOS NA VETERINÁRIA ...................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 PLANOS ANATÔMICOS .................................................................................................................. 4 RESUMO DO TÓPICO 1....................................................................................................................... 7 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 8 TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS ........................................................... 11 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 11 2 ANATOMIA BÁSICA MUSCULOESQUELÉTICA .................................................................... 12 2.1 ANATOMIA DA CABEÇA.......................................................................................................... 13 2.2 ANATOMIA DA COLUNA ........................................................................................................ 18 2.3 ANATOMIA DO MEMBRO TORÁCICO ................................................................................. 20 2.4 ANATOMIA DO MEMBRO PÉLVICO ...................................................................................... 25 3 ANATOMIA DO TÓRAX ................................................................................................................ 29 4 ANATOMIA DO ABDOME ............................................................................................................ 30 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 33 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 — FISIOLOGIA BÁSICA DE CÃES E GATOS .......................................................... 37 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 37 2 SISTEMA NERVOSO ....................................................................................................................... 37 2.1 SISTEMA NERVOSO CENTRAL ..............................................................................................37 2.2 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO .......................................................................................... 39 2.3 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO ........................................................................................ 39 3 SISTEMA GASTROINTESTINAL ................................................................................................ 39 4 SISTEMA CARDIOVASCULAR ................................................................................................... 41 4.1 CORAÇÃO .................................................................................................................................... 41 4.2 CONTRATATILIDADE CARDÍACA ........................................................................................ 41 4.3 CIRCULAÇÃO ............................................................................................................................. 42 4.3.1 Circulação porta-hepática .................................................................................................. 42 4.4 SISTEMA LINFÁTICO ................................................................................................................ 43 5 SISTEMA RESPIRATÓRIO ............................................................................................................ 43 5.1 RESPIRAÇÃO ............................................................................................................................... 44 5.2 TROCAS GASOSAS .................................................................................................................... 44 6 SISTEMA URINÁRIO ..................................................................................................................... 45 6.1 NÉFRON ....................................................................................................................................... 45 7 SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO ................................................................................... 45 8 SISTEMA REPRODUTOR FEMININO ....................................................................................... 46 8.1 CICLO ESTRAL ............................................................................................................................ 46 8.2 GESTAÇÃO .................................................................................................................................. 47 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 48 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 50 TÓPICO 4 — TÉCNICAS DE CONTENÇÃO DE CÃES E GATOS PARA EXAMES DE IMAGEM ................................................................................. 51 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 51 2 AMBIENTE DO EXAME ................................................................................................................. 52 3 CONTENÇÃO FÍSICA .................................................................................................................... 53 4 CONTENÇÃO QUÍMICA ................................................................................................................ 54 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 56 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 59 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 60 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 62 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS ......................................... 63 TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA ............................................................... 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65 2 ANATOMIA BÁSICA ...................................................................................................................... 65 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS ................................................................................ 67 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL ................................................................................................. 67 3.2 PROJEÇÃO DORSOVENTRAL .................................................................................................. 70 3.3 PROJEÇÃO DORSOVENTRAL INTRAORAL DA MAXILA ................................................ 72 3.4 PROJEÇÃO VENTROROSTRAL-DORSOCAUDAL 20° INTRAORAL ............................... 74 3.5 PROJEÇÃO ROSTROCAUDAL ................................................................................................. 76 3.6 PROJEÇÃO LATEROROSTRAL-LATEROCAUDAL 20° ....................................................... 77 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 80 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 81 TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA .............................................................. 85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 85 2 ANATOMIA BÁSICA ...................................................................................................................... 85 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS ................................................................................ 87 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL ................................................................................................. 89 3.2 PROJEÇÃO VENTRODORSAL .................................................................................................. 95 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 103 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 105 TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO ................................... 107 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 107 2 ANATOMIA BÁSICA .................................................................................................................... 107 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS .............................................................................. 109 3.1 PROJEÇÃO MEDIOLATERAL DO OMBRO .......................................................................... 110 3.2 PROJEÇÃO CAUDOCRANIAL DO OMBRO ........................................................................ 112 3.3 PROJEÇÃO MEDIOLATERAL DO COTOVELO .................................................................. 114 3.4 PROJEÇÃO CRANIOCAUDAL DO COTOVELO ................................................................ 117 3.5 PROJEÇÃO MEDIOLATERAL DO CARPO ........................................................................... 121 3.6 PROJEÇÃO DORSOPALMAR DO CARPO ........................................................................... 124 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 126 RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................128 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 130 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 132 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS ......................................................... 133 TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO ....................................... 135 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135 2 ANATOMIA BÁSICA .................................................................................................................... 135 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS .............................................................................. 136 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL DO QUADRIL ................................................................... 138 3.2 PROJEÇÃO VENTRODORSAL DO QUADRIL ..................................................................... 140 3.3 PROJEÇÃO MEDIOLATERAL DO JOELHO ........................................................................ 143 3.4 PROJEÇÃO CRANIOCAUDAL DO JOELHO ....................................................................... 146 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 150 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 151 TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA .................................... 153 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 153 2 ANATOMIA BÁSICA .................................................................................................................... 153 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS .............................................................................. 154 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL DO TÓRAX ........................................................................ 155 3.2 PROJEÇÃO VENTRODORSAL DO TÓRAX .......................................................................... 159 3.3 PROJEÇÕES LATEROLATERAIS DA TRAQUEIA .............................................................. 164 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 167 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 169 TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO ABDOME ........................................................... 171 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 171 2 ANATOMIA BÁSICA .................................................................................................................... 171 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS .............................................................................. 172 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL DO ABDOME ..................................................................... 173 3.2 PROJEÇÃO VENTRODORSAL DO ABDOME ...................................................................... 174 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 178 TÓPICO 4 — ANATOMIA E EXAME RADIOGRÁFICO DO SISTEMA LOCOMOTOR EQUINO ......................................................................................... 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 181 2 ANATOMIA BÁSICA .................................................................................................................... 181 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS .............................................................................. 187 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 190 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 193 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 195 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 197 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • assimilar os planos anatômicos; • aprender a anatomia básica de cães e gatos para realização de exames radiográficos; • conhecer a fisiologia básica de cães e gatos; • compreender as técnicas de contenção de pequenos animais para exames de imagem. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PLANOS ANATÔMICOS NA VETERINÁRIA TÓPICO 2 – ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS TÓPICO 3 – FISIOLOGIA BÁSICA DE CÃES E GATOS TÓPICO 4 – TÉCNICAS DE CONTENÇÃO DE CÃES E GATOS PARA EXAMES DE IMAGEM 2 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 PLANOS ANATÔMICOS NA VETERINÁRIA 1 INTRODUÇÃO Antes de falarmos propriamente de questões técnicas, é importante entendermos um pouquinho da história da medicina veterinária, que se mistura com a própria história da civilização, porque nossa relação com os animais começou quando o homem primitivo passou a domesticá-los. De acordo com alguns historiadores, os métodos de diagnóstico, tratamento e prognóstico de animais têm registros de 4000 a.C., segundo o Papiro de Kahoun, descoberto em 1890 no Egito. Aristóteles, que viveu de 384 a 322 a.C., recebeu o título de fundador da zoologia, sendo o primeiro a conceber a classificação de reino animal, o que contribuiu para o nascimento da veterinária. Diversos profissionais eram treinados para trabalhar com os animais, mas, somente em 1761, a Medicina Veterinária passou a ser uma profissão científica, com a criação da primeira Escola de Medicina Veterinária, na cidade de Lyon, na França, por Claude Bourgelat. Claude Bourgelat era um advogado, amante de cavalos, que usou sua influência com o Rei Luiz XV para criar a Escola de Veterinária, fornecendo um melhor tratamento aos seus animais. INTERESSANTE Já no Brasil, o desenvolvimento das áreas científica e cultural iniciam somente com a vinda da família real para o país, em meados do século XIX. Dom Pedro II tinha grande interesse pelas ciências agrárias, quando, em uma visita à Escola Veterinária de Alfort, na França, em 1875, impressionou-se com uma conferência feita pelo médico veterinário fisiologista Gabriel-Constant Colin. Dom Pedro II voltou ao Brasil com o intuito de criar uma instituição semelhante. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA 4 Gabriel-Constant Colin foi um professor bastante rigoroso e acabou forçando avanços nos trabalhos de Elmer Daniel Salmon, que, com seu assistente, descobriu a bactéria causadora da salmonelose, e de Edmond Nocard, que identificou o microrganismo causador da nocardiose, que pode infectar humanos, principalmente imunocomprometidos.A seguir, veremos o impacto do trabalho de Gabriel-Constant. INTERESSANTE Mesmo com os esforços de Dom Pedro II, somente no início do século XX, foram criadas as primeiras escolas de Medicina Veterinária no país: a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, em 1913, no Rio de Janeiro, e a Escola de Veterinária do Exército, em 1914. 2 PLANOS ANATÔMICOS Sabendo como a veterinária surgiu, agora podemos conhecer os planos anatômicos. Primeiramente, devemos lembrar que existe uma grande diferença em relação à anatomia humana, com que estamos acostumados até o momento, pois a posição anatômica quadrúpede dos pacientes na veterinária. Isso é de grande importância na hora de avaliarmos nossos planos. O modelo básico da anatomia é o cavalo (Figura 1), mas esses mesmos planos são utilizados para cães e gatos. FIGURA 1 – PLANOS ANATÔMICOS NA VETERINÁRIA FONTE: König; Liebich (2011, p. 26) TÓPICO 1 — PLANOS ANATÔMICOS NA VETERINÁRIA 5 Para entendermos esses planos, é necessário compreender que o corpo dos animais deve ser dividido da seguinte forma: cabeça, pescoço, tronco, cauda e membros, pois, como mostra a Figura 1, essas partes estão em diferentes sentidos – a cabeça e o pescoço em sentidos oblíquos opostos, o tronco em sentido horizontal e a cauda e os membros em sentido vertical. A importância disso é que os planos também terão orientações diferentes, de acordo com a parte do corpo a ser avaliada. Assim, trabalharemos com três planos: transversal, dorsal e sagital. O plano transversal será sempre o plano que atravessará o corpo no menor eixo possível ou que será perpendicular ao eixo longitudinal. O plano dorsal dividirá a estrutura avaliada perpendicularmente (em um ângulo de 90°) ao plano transversal. O plano sagital dividirá a estrutura pela metade: o que está mais para a direita ou o que está mais para a esquerda. Além dessas diferentes orientações dos planos para cada segmento, ainda teremos nomes diferentes para as partes formadas em cada plano. Para a cabeça, teremos um plano transversal orientado no sentido oblíquo inclinado em sentido cranial para caudal (ou seja, “\”), dividindo o que está voltado para o focinho em rostral e o que está no sentido da cauda em caudal. O plano dorsal será perpendicular ao plano transversal, dividindo o que está acima em dorsal e o que está abaixo em ventral. O plano sagital dividirá o crânio em sentido longitudinal, sendo lateral o que está voltado lateralmente ao crânio e medial o que está em sentido ao meio do crânio. Para o pescoço, o plano transversal será orientado também de forma oblíqua, mas no sentido caudal para cranial (isto é, “/”), dividindo o que está voltado em direção à cabeça em cranial e o que está voltado em direção à cauda em caudal. O plano dorsal será perpendicular ao plano transversal, dividindo o que está acima em dorsal e o que está abaixo em ventral. O plano sagital dividirá o pescoço em sentido longitudinal, sendo medial o que está voltado ao centro do pescoço e lateral o que está voltado para a lateral. No tronco, onde temos tórax e abdome, o plano transversal terá sentido vertical (logo, “|”), dividindo o que está voltado em direção ao crânio em cranial e o que está voltado em sentido à cauda em caudal. O plano dorsal será perpendicular, novamente ao transversal, dividindo o que está em sentido ao dorso (região da coluna) do animal em dorsal e o que está voltado em direção ao ventre (região do esterno ou parede abdominal) em ventral. O plano sagital, mais uma vez, divide o tronco longitudinalmente, sendo chamado de medial o que estiver em direção ao centro e lateral o que estiver voltado à lateral do tronco. Até aqui, o que mudou foi somente a orientação do plano transversal de acordo com a região, mas, basicamente, o sentido mais verticalizado do plano se manteve, o que também implicou nomenclaturas parecidas para cada segmento formado, pois cabeça, pescoço e tronco possuem uma orientação mais horizontal e, consequentemente, o plano também é influenciado pelo posicionamento. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA 6 A seguir, veremos nos membros uma mudança drástica, já que eles estão em sentido vertical. Então, acadêmico, é importante prestar atenção a essa mudança. DICAS Nos membros, o plano transversal terá orientação horizontal (ou seja, “–”), dividindo o que está mais próximo ao tronco de proximal e o que está mais distante ao corpo em distal. O plano dorsal, perpendicular ao transversal, agora terá orientação vertical (portanto, “|”) e dividirá o que está voltado para a frente, ou em direção ao crânio, em cranial e o que está voltado para trás, ou em direção à cauda, em caudal. Entretanto, usaremos essa nomenclatura para a porção proximal dos membros. Para estruturas a partir do carpo e do tarso (e incluindo- os), usaremos uma nomenclatura diferente. Para carpo, metacarpos e falanges, o que estiver voltado em direção ao crânio chamaremos de dorsal, enquanto o que estiver voltado em sentido à cauda de palmar. Para tarso, metatarsos e falanges, denominaremos de dorsal o que está voltado em sentido ao crânio e de plantar o que está voltado em sentido à cauda. O plano sagital, novamente, dividirá os membros em sentido longitudinal, com a porção que está voltada internamente chamada de medial e a porção voltada externamente, de lateral. O Quadro 1 esquematiza os planos e suas nomenclaturas. QUADRO 1 – ESQUEMATIZAÇÃO DOS PLANOS ANATÔMICOS NA VETERINÁRIA Transversal Dorsal Sagital Crânio Rostral ↔ Caudal Dorsal ↕ Ventral Lateral ↕ Medial Pescoço Cranial ↔ Caudal Dorsal ↕ Ventral Lateral ↕ Medial Tronco Cranial ↔ Caudal Dorsal ↕ Ventral Lateral ↕ Medial Membro torácico Proximal ↕ Distal Cranial ↔ Caudal Lateral ↕ Medial Carpo, metacarpos e falanges Proximal ↕ Distal Dorsal ↔ Palmar Lateral ↕ Medial Membro pélvico Proximal ↕ Distal Cranial ↔ Caudal Lateral ↕ Medial Tarso, metatarsos e falanges Proximal ↕ Distal Dorsal ↔ Plantar Lateral ↕ Medial FONTE: A autora TÓPICO 1 — PLANOS ANATÔMICOS NA VETERINÁRIA 7 Os planos anatômicos serão utilizados não apenas para descrever localizações e estruturas, mas também para descrever as projeções radiográficas, bem como para permitir a compreensão do posicionamento do paciente durante a realização do exame. IMPORTANTE 8 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • Os pacientes quadrúpedes implicam planos anatômicos em diferentes direções, de acordo com a estrutura avaliada. • O plano transversal sempre dividirá a estrutura avaliada no menor eixo possível, sendo oblíquo em cabeça e pescoço, vertical no tronco e horizontal nos membros. • O plano transversal divide a cabeça em rostral e caudal; o pescoço e o tronco em cranial e caudal; e os membros em proximal e distal. • O plano dorsal será perpendicular ao plano transversal, também mudando sua orientação conforme a estrutura avaliada. • O plano dorsal divide a cabeça, o pescoço e o tronco em dorsal e ventral. • Os membros serão divididos pelo plano dorsal em cranial e caudal, porém, a partir do carpo e tarso (e os incluindo), serão divididos em dorsal e palmar e dorsal e plantar, respectivamente. • O plano sagital sempre dividirá a estrutura avaliada em sentido longitudinal, tendo sempre a mesma orientação. • A divisão efetuada pelo plano sagital será sempre em medial e lateral. • O conhecimento dos planos anatômicos permitirá a compreensão das projeções radiográficas e dos posicionamentos dos pacientes. 9 1 Devido à posição quadrúpede de cães e gatos, diferentemente do ser humano que é bípede, a posição anatômica e seus planos também divergem. A respeito dos planos anatômicos dos gatos, observe a figura a seguir e analise as proposições realizadas: AUTOATIVIDADE FONTE: <https://bit.ly/3bKvdmm>. Acesso em: 26 abr. 2021. I - O plano transversal será sempre o que divide a estrutura em sua porção mais curta. II - O plano dorsal ou horizontal será sempre perpendicular ao plano transversal.III - O plano sagital divide o corpo do gato lateral e medialmente. IV - O plano transversal divide a região cervical em rostral e caudal. V - O plano dorsal divide os membros em proximal e distal. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas a proposição IV está incorreta. b) ( ) As proposições IV e V estão incorretas. c) ( ) Apenas a proposição III está correta. d) ( ) As proposições I e II estão corretas. e) ( ) As proposições II e III estão corretas. 2 Os planos anatômicos de cães e gatos modificam-se de acordo com a região a ser avaliada, seja no membro torácico ou no membro pélvico, sendo utilizadas diferentes nomenclaturas para cada área. A respeito dos planos anatômicos e do tarso, assinale a alternativa INCORRETA: 10 a) ( ) O plano sagital divide o tarso em medial e lateral. b) ( ) O tarso é dividido pelo plano transversal em proximal e distal. c) ( ) O plano dorsal divide o tarso em dorsal e plantar. d) ( ) O plano dorsal divide o tarso em cranial e caudal. 3 A utilização dos planos anatômicos é muito útil para descrição e localização das estruturas do corpo. Além disso, a utilização das secções pelo plano anatômico auxilia na descrição das projeções radiográficas em cada região. Sobre os planos anatômicos do crânio, analise as sentenças a seguir: FONTE: <https://bit.ly/2T0JdSA>. Acesso em: 26 abr. 2021. I- O plano sagital divide o crânio em direita e esquerda ou medial e lateral. II- O plano dorsal divide o crânio em dorsal e ventral. III- O plano transversal divide o crânio em rostral e caudal. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Todas as sentenças estão corretas. b) ( ) Apenas a sentença I está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Todas as sentenças estão incorretas. 11 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 1 INTRODUÇÃO Antes de falarmos propriamente das questões técnicas, é importante conhecermos um pouquinho de história da anatomia. O estudo da forma e estrutura teve início com Aristóteles, considerado seu fundador. Em seu livro Historia Animalum, encontram-se referências de uma obra publicada por ele e que acabou se perdendo, chamada de Partes de Animais, na qual falava-se sobre os sistemas gastrintestinal e reprodutor. Em outra obra sua, O Andar dos Animais, Aristóteles falou sobre o sistema locomotor dos animais. Quase 2.000 anos depois, na Europa, nos séculos XV e XVI, retomaram-se os estudos morfológicos comparativos (Figura 2). FIGURA 2 – ILUSTRAÇÃO OBTIDA DA OBRA DELL’ANATOMIA E DELL’INFIRMITÁ DEL CAVALLO, DE CARLO RUINI (1958) FONTE: König; Liebich (2011, p. 22) 12 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA Philippe Etienne Lafosse é considerado o pai da anatomia dos animais, com sua obra Cours d’Hippiatrique, de 1772, que apresentava os sistemas de órgãos – seus fundamentos são parecidos com os utilizados atualmente em livros de anatomia. A anatomia é um ramo da morfologia que estuda forma, estrutura, topografia e interação funcional dos órgãos e tecidos que formam o corpo dos animais. Com o avanço dos estudos, a histologia, através do estudo da anatomia microscópica e da embriologia, formou uma ramificação distinta da disciplina. Para avaliação dos sistemas, a anatomia sistêmica estuda os órgãos e as estruturas que desempenham uma função em comum. Ainda é possível realizar o estudo pela anatomia topográfica, que descreve a interação e a posição das estruturas, de acordo com uma região do corpo. O conhecimento da anatomia é importante para realização da prática médica envolvendo os pacientes. Neste tópico, exploraremos os principais pontos da anatomia de cães e gatos de forma a tornar possível a realização dos exames radiográficos, através do estudo do sistema musculoesquelético axial e apendicular, tórax e abdome. 2 ANATOMIA BÁSICA MUSCULOESQUELÉTICA Para iniciar nosso contato com a anatomia animal, precisamos lembrar do posicionamento quadrúpede dos nossos novos pacientes. Essa modificação implica uma posição dos membros, tórax e abdome dos pacientes. Para entendermos melhor, as Figuras 3 e 4 demostram, de forma esquemática, o esqueleto de cães e gatos. FIGURA 3 – ESQUELETO FELINO FONTE: König; Liebich (2011, p. 38) TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 13 FONTE: König; Liebich (2011, p. 38) FIGURA 4 – ESQUELETO CANINO A seguir, após conhecermos a anatomia geral do corpo de cães e gatos, veremos cada região do esqueleto isoladamente. 2.1 ANATOMIA DA CABEÇA A cabeça é formada pela união de diversos ossos que protegem estruturas como o encéfalo e os órgãos sensoriais, além da porção inicial dos sistemas respiratório e gastrointestinal. Os ossos que formam a cabeça incluem o incisivo, nasal, maxilar, lacrimal, zigomático, frontal, frontal, parietal, interparietal, temporal, occipital, mandíbula, palatino, esfenoide e pterigoide (Figuras 5 e 6). 14 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO LATERAL DOS OSSOS DA CABEÇA DO CÃO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO CAUDAL DOS OSSOS DA CABEÇA DO CÃO Dentro de toda essa estrutura óssea, encontramos importantes estruturas, como o encéfalo e a porção inicial dos sistemas respiratório e digestório (Figuras 7 e 8). a a e e i i m m n n o o j j k k l l f f g g h h b b c c d d a a b b b c c c e ee g gg d d f ff f TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 15 FIGURA 7 – CORTE SAGITAL DA CABEÇA CANINA FONTE: König; Liebich (2011, p. 343) FONTE: König; Liebich (2011, p. 342) FIGURA 8 – CORTE SAGITAL DA CABEÇA FELINA A cavidade nasal dos carnívoros é a abertura inicial do sistema respiratório e compreende desde a abertura nasal, na parte óssea, até a placa cribiforme, no osso etmoide. Divide-se ao meio em duas metades simétricas e, em cada um dos lados, podemos encontrar rostralmente as conchas nasais, seguidas caudalmente pelos etmoturbinados. O seio maxilar dos carnívoros é uma ampla abertura na altura das conchas nasais. O seio frontal situa-se no osso frontal e comunica-se com a cavidade nasal, através dos etmoturbinados. Ainda temos o seio esfenoidal no osso esfenoide (Figura 9). 16 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FIGURA 9 – CAVIDADE NASAL E SEIO FRONTAL NO FELINO FONTE: König; Liebich (2011, p. 99) As estruturas dentárias também estão presentes no crânio. Assim como ocorre com os humanos, os animais domésticos também possuem dentes decídu- os, que serão substituídos mais tarde por uma nova dentição, que será mais bem adaptada ao adulto. Os dentes são divididos em 3 partes, sendo elas: coroa, colo e raiz. A raiz será unida ao crânio pelo ligamento periodontal aderido ao alvéolo dentário. Cada dente é revestido por tecidos mineralizados, esmalte, dentina e cemento, e possuem em seu interior a polpa. Diferentes formatos de dentes esta- rão presentes, cada um adaptado a uma diferente função. Assim, teremos incisi- vos, caninos, pré-molares e molares. No cão adulto, estarão presentes, em cada lado, três dentes incisivos, um canino, quatro pré-molares e dois molares supe- riores ou maxilares e três incisivos, um canino, quatro pré-molares e três molares inferiores ou mandibulares (Figura 10). No gato adulto, teremos, em cada lado, três dentes incisivos, um canino, três pré-molares e um molar superior ou maxilar e três incisivos, um canino, dois pré-molares e um molar inferior ou mandibular. FIGURA 10 – ESTRUTURAS DENTÁRIAS CANINAS FONTE: König; Liebich (2011, p. 338) TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 17 Nos equinos, a idade pode ser estimada a partir da erupção e do desgaste dentário – é daí que se originou a expressão “cavalo dado não se olha os dentes”, ou seja, mesmo que quando recebemos um presente que não nos agrada, o que seria equivalente a um cavalo velho, devemos, ainda assim, ser gratos. INTERESSANTE A articulação temporomandibular estápresente na porção caudal da mandíbula, unindo-a ao osso temporal. É uma articulação sinovial entre a cabeça do processo condiloide da mandíbula e a área articular do osso temporal formado por tubérculo articular, fossa mandibular e processo retroarticular, promovendo a mobilidade necessária para a mastigação (Figura 11). FIGURA 11 – ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR CANINA FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) De importância radiográfica, temos a bula timpânica. A orelha externa dos mamíferos domésticos é formada por um pavilhão auricular com diferentes formatos e tamanhos. O meato acústico é formado pelo estreitamento da cartilagem da orelha e segue até a membrana timpânica. Medial a ela, inicia-se a orelha média, formada por cavidade timpânica, ossículos da audição, martelo, estribo e bigorna, e tuba auditiva. Através dos ossículos, temos a ligação para a orelha interna, formada por camadas e ductos preenchidos por endolinfa. Na cavidade timpânica, temos a bula, sendo ela uma expansão bulbosa no osso temporal (Figura 12). 18 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FIGURA 12 – ESTRUTURAS ÓSSEAS DA ORELHA MÉDIA DO CÃO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) A imagem radiográfica da cabeça obtida por projeções laterolateral e dorsoventral será formada pela sobreposição dos diversos ossos, compreendendo as estruturas citadas na Figura 12, porém, projeções específicas podem ser realizadas para avaliação direcionada diante da suspeita clínica de cada paciente (Figura 13). FIGURA 13 – IMAGENS RADIOGRÁFICAS DA CABEÇA: PROJEÇÃO MEDIOLATERAL (A); PROJEÇÃO DORSOVENTRAL (B) FONTE: Acervo da autora 2.2 ANATOMIA DA COLUNA A coluna vertebral é formada por uma série de ossos ímpares, com diferentes conformações, compondo diferentes segmentos: cervical, torácico, lombar, sacral e caudal. Cada segmento possui diferentes funções e diferentes formatos ósseos. Contudo, cada vértebra é formada por corpo, arco e processos, sendo eles, espinhoso, transverso e articulares. TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 19 As vértebras cervicais unem a cabeça ao tronco. São sete vértebras que compõem esse segmento, sendo as duas primeiras com formatos e características singulares, chamadas de atlas e áxis. O atlas é formado por duas asas laterais, unidas pelo arco dorsal e ventral, formando um anel. Já o áxis é formado por um corpo cilíndrico, com a presença de um dente em sua extremidade cranial que o une ao atlas. O arco do áxis possui um processo dorsal bem proeminente, chamado de processo espinhoso. A união entre a cabeça, o atlas e o áxis permite a movimentação livre da cabeça. As demais vértebras cervicais terão corpos com tamanhos cada vez menores em direção caudal. Os processos espinhosos são mais curtos e os processos transversos e articulares são bem desenvolvidos. O processo transverso da 6ª vértebra é mais proeminente (Figura 14). Os discos intervertebrais estão presentes a partir do espaço entre a 2ª e 3ª vértebras cervicais. FIGURA 14 – VÉRTEBRAS CERVICAIS DO CÃO FONTE: König; Liebich (2011, p. 110) As imagens radiográficas da coluna cervical devem evidenciar as estruturas ósseas descritas, permitindo uma avaliação adequada (Figura 15). 20 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FIGURA 15 – IMAGENS RADIOGRÁFICAS DA CABEÇA: (A) PROJEÇÃO LATEROLATERAL; (B) PROJEÇÃO VENTRODORSAL FONTE: Acervo da autora As vértebras torácicas possuem corpos vertebrais que se iniciam mais curtos e aumentam de comprimento em direção caudal. As vértebras torácicas unem-se às costelas, que existem em igual número, totalizando 13 vértebras e 13 pares de costelas. As costelas unem-se ventralmente, através das cartilagens costais, ao esterno. Os processos espinhosos são bem proeminentes diminuem de tamanho em direção caudal. Sua orientação é caudodorsal nas vértebras torácicas até a 10ª vértebra no cão, chamada de vértebra anticlinal, a partir de onde mudam sua orientação para cranial, seguindo, assim, nas vértebras lombares. As vértebras lombares possuem corpos mais longos e com tamanhos mais uniformes. Os processos espinhosos são mais curtos e os processos transversos são mais alongados e achatados. São sete vértebras lombares, embora, em alguns casos, apenas seis possam estar presentes. O sacro é formado pela fusão das três vértebras sacrais, sendo que a primeira vértebra sacral se une à pelve. As vértebras caudais existem em número variável, apresentando redução do seu tamanho em sentido caudal. 2.3 ANATOMIA DO MEMBRO TORÁCICO A anatomia óssea dos ossos que formam os membros é repleta de aciden- tes anatômicos que se localizam tendões e ligamentos. A seguir, abordaremos os principais acidentes de interesse para a radiologia veterinária. O membro torácico é unido ao tronco pela escápula e pelos músculos sem formar uma articulação verdadeira. A escápula é um osso plano que possui uma protuberância em linha, a espinha da escápula, onde se inserem músculos. A TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 21 extremidade distal dessa espinha possui uma protuberância ainda mais evidente, o acrômio. Na extremidade distal, encontra-se a cavidade glenoide, que fará contato com o úmero e o tubérculo supraglenoide. Na região medial e proximal do membro torácico, temos uma importante estrutura nervosa do membro: o plexo braquial, que conduz todos os impulsos nervosos para o membro. Devido à movimentação restrita pela união da escápula ao tórax, é necessário cuidado com movimentos de abdução do membro para não causar estiramento ou avulsão desses nervos, e, caso ocorra uma lesão permanente, isso impossibilitará a movimentação da pata. IMPORTANTE O ombro ou articulação escapuloumeral é formado pela cavidade glenoide e a cabeça do rádio. A presença dos ligamentos glenoumeral lateral e medial e do tendão bicipital é importante (Figura 16). FIGURA 16 – ARTICULAÇÃO DO OMBRO CANINO FONTE: König; Liebich (2011, p. 184) 22 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA O úmero é um osso modelado pela fixação de músculos e tendões, gerando muitas proeminências e sulcos. Na extremidade proximal, encontramos a cabeça umeral e o tubérculo maior. Na sua porção distal, poderemos ressaltar a presença dos côndilos e epicôndilos umerais. O cotovelo ou articulação umerorradioulnar é formada por três articulações: a umeroulnar, a umerorradial e a radioulnar proximal, unindo os côndilos umerais com a cabeça do rádio e a incisura tróclear da ulna. Os ligamentos colaterais lateral e medial são importantes pontos de suporte para a articulação (Figura 17). FIGURA 17 – ARTICULAÇÃO DO COTOVELO CANINO FONTE: König; Liebich (2011, p. 186) O antebraço é formado pelo rádio e ulna. A ulna está situada na direção caudal/caudolateral do rádio proximalmente e, distalmente, localizada na lateral. O rádio possui em sua porção cranial, a cabeça e, distalmente, a tróclea, que faz contato com o carpo e o processo estiloide, medialmente. A ulna forma a extremidade caudal do cotovelo através do olecrano, em que, em sua base, se localiza a incisura tróclear, a qual fará contato com o úmero. Na porção cranial da incisura, estará o processo ancôneo e, em seus lados, os processos coronoides medial e lateral. Na extremidade distal, teremos o processo estiloide lateral, fazendo contato com o carpo. A extremidade distal do membro será formada por carpo, metacarpos e falanges. Os ossos carpais estão divididos em duas fileiras, proximal e distal. É na fileira proximal, no aspecto palmar, que se localiza o carpo acessório ou pisiforme. A fileira proximal articula-se com o rádio e ulna, formando a articulação antebraquiocarpal e a fileira distal articula-se com os metacarpos, formando a articulação carpometacarpal. TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 23 O metacarpo é composto por cinco ossos longos. Em cães e gatos, o peso de todo o corpo é sustentado pelos dedos, fazendo com que os ossosIII e IV sejam mais longos e os metacarpais II e V mais curtos. Já o metacarpal I é formada apenas por um resquício. Os dígitos são formados por três falanges, proximal, média e distal. Estão unidos aos metacarpos e são numerados de 1 a 5, em sentido medial-lateral. O primeiro dígito dos carnívoros possui apenas duas falanges, diferentemente dos demais dedos, sendo elas a proximal e a distal. A falange distal de todos os dedos tem formato de gancho e é recoberta pela unha (Figura 18). FIGURA 18 – EXTREMIDADE DISTAL DO MEMBRO TORÁCICO CANINO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) Conhecendo as estruturas de importância radiográfica, as imagens radiográficas do membro torácico podem ser realizadas em diferentes projeções, focadas de forma a avaliar diferentes estruturas (Figura 19). 24 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FIGURA 19 – PROJEÇÕES RADIOGRÁFICAS DO MEMBRO TORÁCICO: CAUDOCRANIAL DO OMBRO (A); MEDIOLATERAL DO OMBRO (B); CRACIOCAUDAL DO COTOVELO (C); MEDIOLATERAL DO COTOVELO E DORSOPALMAR DA PORÇÃO DISTAL DO MEMBRO (E); MEDIOLATERAL DA PORÇÃO DISTAL DO MEMBRO (F) TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 25 FONTE: Acervo da autora 2.4 ANATOMIA DO MEMBRO PÉLVICO Conforme mostra a anatomia óssea do membro torácico, no membro pélvico, também teremos uma série de anatômicos, onde se localizam tendões e ligamentos, porém, falaremos sobre os principais acidentes de interesse para a radiologia veterinária. O membro pélvico está unido à coluna sacral através da pelve, que é formada pelos ossos ílio, ísquio e púbis. A porção cranial do ílio tem formato achatado e amplo, originando as asas ilíacas. O púbis está na porção média e tem formato de L. Sua margem cranial dá contorno ao forame obturador. O ísquio está situado mais caudalmente, formado o restante da margem do forame obturador. Sua porção caudal é mais ampla, a tábua do ísquio. Na extremidade caudolateral da tábua, temos a tuberosidade isquiática. O acetábulo é uma concavidade formada pela união dos três ossos e de um quarto osso, o osso do acetábulo (Figura 20). 26 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FIGURA 20 – PELVE CANINA FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) A articulação coxofemoral é formada pelo contato entre a cabeça femoral e a concavidade acetabular. Uma capsula articular e o ligamento redondo da cabeça do fêmur ainda formam a articulação. O fêmur possui, em sua extremidade proximal, a cabeça femoral, junto ao tubérculo maior e tubérculo menor. A extremidade femoral distal é composta pelos côndilos femorais e, entre eles, a tróclea. É na tróclea que haverá o contato entre o fêmur e a patela. O joelho, ou articulação femorotibiopatelar, é formado pelos côndilos femorais, patela, situada na tróclea femoral, e platô tibial. Os ligamentos colaterais e os ligamentos cruzados, entre outros, auxiliam na estabilidade da articulação, que ainda possui um menisco (Figura 21). FIGURA 21 – JOELHO CANINO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 27 A perna é formada pela tíbia e pela fíbula. A fíbula percorre a margem lateral da tíbia, sem fazer contato com a articulação do joelho. A extremidade proximal da tíbia é ampla, formando uma base para o joelho, sendo composta por dois côndilos separados pela eminência intercondilar. A tuberosidade da tíbia é uma proeminência cranial de sua porção proximal, sendo ponto de inserção do ligamento patelar. Distalmente, a tíbia é formada pela cóclea e, medialmente, pelo maléolo medial. Na cóclea, temos o contato com o tarso, através do tálus. Os ossos tarsais serão dispostos em três fileiras. A proximal articula-se com a tíbia, formando a articulação tarsocrural. Nessa fileira, encontram-se os ossos tálus e o calcâneo. A fileira distal articula-se com os metatarsos através da articulação tarsometatarsal. A fileira média une-se às demais por uma série de ligamentos, dando estabilidade ao tarso. Os metatarsos e os dígitos do membro pélvico são muito semelhantes aos do membro torácico, sendo os metatarsos III e IV mais longos do que os II e V. O osso metatarsal I é bastante reduzido e, geralmente, não possui falanges. Após conhecer a anatomia do membro pélvico, as estruturas ósseas e a congruência articular podem ser avaliadas por diferentes projeções radiográficas (Figura 22). FIGURA 22 – PROJEÇÕES RADIOGRÁFICAS DO MEMBRO PÉLVICO: VENTRODORSAL DA PELVE (A); LATEROLATERAL DA PELVE (B); MEDIOLATERAL DO JOELHO (C); CRANIOCAUDAL DO JOELHO (D); MEDIOLATERAL DA PORÇÃO DISTAL DO MEMBRO (E); DORSOPLANTAR DA PORÇÃO DISTAL DO MEMBRO (F) 28 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FONTE: Acervo da autora TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 29 3 ANATOMIA DO TÓRAX A cavidade torácica é limitada pela caixa torácica. Em seu limite cranial, temos a abertura do tórax, com o primeiro par de costelas. Caudalmente, é limitada pelo diafragma. As costelas fazem seus limites laterais direito e esquerdo. Ventralmente, temos o esterno e, dorsalmente, a coluna torácica. Importantes estruturas de diferentes sistemas estão localizadas na cavidade torácica. O mediastino é formado pelas pleuras, que revestem a cavidade e se estendem, de diferentes formas, ao longo de todo o tórax. Na porção do mediastino cranial, temos diversos vasos sanguíneos, nervos, ducto torácico e linfonodos mediastinais. O esôfago inicia na região cervical e segue pelo tórax até o hiato esofágico, chegando ao abdome, onde se encontra com o estômago. Seu trajeto passa pela região dorsal do tórax, dorsalmente a traqueia. Ventralmente ao trajeto do esôfago, está o trajeto da traqueia torácica, que se inicia na região cervical, adentrando ao tórax e seguindo até a bifurcação dos brônquios principais, para formar a carina. A carina pode ser visibilizada, dorsalmente, a base cardíaca. Os campos pulmonares estão dispostos ao longo de todo o tórax, desde a entrada até o diafragma e desde a coluna torácica até a região do esterno. Em cães e gatos, os campos pulmonares são divididos em lobos. No lado direito, estão os lobos cranial, médio, caudal e acessório. No lado esquerdo, o lobo cranial é dividido em parte cranial e caudal, e ainda o lobo caudal. Dentro dos pulmões, temos a passagem dos brônquios chegando até os alvéolos, responsáveis pelas trocas gasosas. Além do sistema respiratório, no tórax localizam-se o coração e os grandes vasos. O coração é encontrado no terço médio do tórax. Seu ápice faz contato com o esterno e sua base com a traqueia e a carina, e está levemente deslocado à esquerda. Está situado entre a 3ª e 6ª costela no cão e entre a 3ª e 7ª costela no gato. É composto por dois átrios, direito e esquerdo, e por dois ventrículos, direito e esquerdo. O átrio direito está localizado ventral ao trajeto pré-terminal da traqueia e o esquerdo, ventral à carina. O ventrículo direito está cranialmente em contato com o esterno e o ventrículo esquerdo, voltado ao diafragma. Projetando- se caudalmente em direção ao diafragma, temos, mais dorsal, a artéria aorta e, mais ventralmente, a veia cava caudal. Os vasos que se direcionam em sentido cranial passam pelo mediastino cranial (Figura 23). 30 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FIGURA 23 – ESTRUTURAS CARDIOVASCULARES DO TÓRAX CANINO FONTE: König; Liebich (2011, p. 474) Realizando radiografias da região torácica para a avaliação das estruturas presentes no tórax, poderemos avaliar os componentes descritos conforme mostra a Figura 24. FIGURA 24 – PROJEÇÕES RADIOGRÁFICAS DO TÓRAX: VENTRODORSAL (A); LATEROLATERAL (B) FONTE: Acervo da autora 4 ANATOMIA DO ABDOME A cavidade abdominal é limitada cranialmente pelo diafragma, caudalmente pela pelve e dorsalmente pela coluna lombar, e seus limites laterais e ventral são formados pelos músculos abdominais. TÓPICO 2 — ANATOMIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 31 O sistema gastrointestinal, localizado no abdome, é formadopelo estômago, caudalmente ao fígado. É formado pelas regiões cárdia, fundo, corpo e piloro, que podem ser diferenciadas radiograficamente. A partir dele, originam-se as alças intestinais delgadas, que permanecem na porção ventral do abdome, estendendo-se em toda a porção cranial-caudal. O intestino grosso, mais dorsal, é dividido em ascendente, na porção lateral direita, transverso, na região cranial do abdome, caudal ao estômago, e descendente, na lateral esquerda chegando até o reto que passa pela cavidade pélvica. O fígado tem localização cranioventralmente, fazendo contato com o diafragma. O baço é um órgão do sistema linfoide localizado no abdome, dentro do peritônio, localizado na região lateral esquerda do abdome, ventralmente. Tem formato alongado nos carnívoros. Dentro do abdome, temos o sistema urinário, composto por um par de rins, ureteres ligando-os a uma bexiga e sua saída para o meio externo através da uretra. Os rins estão localizados dorsalmente no retroperitônio, lateralmente à direita e à esquerda da coluna lombar. O rim direito é mais cranial do que o esquerdo e está localizado junto ao fígado, no processo caudado do lobo hepático direito. O ureter é um tubo que faz a ligação dos rins até a porção caudodorsal da bexiga, no trígono vesical. A bexiga está localizada na extremidade caudal do abdome, fazendo contato ventralmente com a musculatura abdominal. A uretra tem seu trajeto iniciando na porção caudal da bexiga e seguindo pela cavidade pélvica. Desembocando no vestíbulo na fêmea e, no macho, seu trajeto é mais longo, passando pela próstata e estendendo-se ao longo do pênis. O sistema reprodutor feminino tem os ovários localizados caudalmente aos rins, seguindo seu trajeto em sentido caudal com as tubas uterinas, seguidas dos cornos uterinos, que vão se unir na porção dorsal à bexiga, formando o corpo do útero. A vagina está na cavidade pélvica, e a abertura para o meio externo será através da vulva (Figura 25). O sistema reprodutor masculino está localizado externamente ao abdome, com os testículos na região perineal. O pênis no cão estará voltado cranialmente, na porção ventrocaudal do abdome, com um osso em seu interior. No gato, está voltado caudalmente, ventral aos testículos na região perineal. 32 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA FIGURA 25 – ABDOME DO CÃO FONTE: König; Liebich (2011, p. 709) Após realizadas as projeções ortogonais do abdome, seguiremos com a avaliação das estruturas descritas conforme mostra a Figura 26. FIGURA 26 – PROJEÇÕES RADIOGRÁFICAS DO ABDOME CANINO: VENTRODORSAL (A); LATEROLATERAL (B) FONTE: Acervo da autora a a e e i i b b f f j j c c g g k k d dh h 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A anatomia é um importante ramo da morfologia que estuda forma, estrutura, topografia e interação dos órgãos e tecidos, sendo de grande importância o seu conhecimento para a prática médica. • Os cães e gatos são quadrúpedes e se apoiam sobre os dígitos. • A cabeça é formada por diversos ossos unidos, entre eles: mandíbula, maxila, frontal, temporal e occipital. • A cavidade nasal inicia-se com a abertura no meio externo, seguindo com os etmoturbinados e os seios paranasais. • A articulação temporomandibular une a mandíbula ao osso temporal, através de uma articulação sinovial. • A orelha média do cão é formada por cavidade timpânica, ossículos e tuba auditiva, sendo a ligação entre a orelha externa, onde está o pavilhão auricular, e a orelha interna, onde ficam os ductos e a endolinfa. • A coluna dos cães e gatos é formada por diferentes vértebras, sendo elas cervicais, torácicas, lombares, sacrais e caudais; cada segmento tem suas características particulares. • O membro torácico é formado por escápula, úmero, radio, ulna, ossos do carpo, metacarpos e falanges, sendo ligado ao tronco por grupos musculares. • O membro pélvico é formado por pelve, fêmur, tíbia, fíbula, ossos do tarso, metatarsos e falanges, unindo-se à coluna através da pelve e do sacro. • O tórax contém importantes estruturas, como coração, grandes vasos, pulmões, traqueia e o esôfago torácico, tudo localizado dentro da caixa torácica. • O abdome inicia-se no diafragma e segue caudalmente até a cavidade pélvica, sendo limitado dorsalmente pela coluna lombar e lateral e ventralmente pela musculatura abdominal; em seu interior, temos diversos órgãos de diferentes sistemas. 34 1 A anatomia dos pacientes canino e felino é de importante conhecimento para realização dos exames radiográficos. A respeito da anatomia dos membros torácico e pélvico dos cães, analise as proposições a seguir: I- O membro torácico é unido ao tronco pela clavícula. II- A articulação do cotovelo é composta pelos côndilos umerais, a cabeça do rádio e a incisura troclear da ulna. III- A articulação coxofemoral é formada pela cabeça femoral e pelo acetábulo, sendo este formado pelos ossos de ílio, púbis, ísquio e pelo osso acetabular. IV- Os metatarsos III e IV são mais longos do que os demais e possuem três falanges: proximal, média e distal. V- Os cães e gatos apoiam seu peso sobre os dígitos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas a proposição I está incorreta. b) ( ) As proposições I e V estão incorretas. c) ( ) As proposições I, IV e V estão incorretas. d) ( ) Todas as proposições estão incorretas. e) ( ) Apenas a proposição I está correta. 2 Para a realização adequada dos exames radiográficos, o conhecimento das limitações e das particularidades da anatomia do crânio de cães e gatos é imprescindível. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os cães e gatos possuem dentes incisivos, caninos, pré-molares e molares, além da dentição decídua. b) ( ) A cabeça é formada pela união de diferentes ossos unidos, como a mandíbula, a maxila, o temporal, o occipital e o áxis. c) ( ) A cavidade timpânica da orelha média é composta por ossículos da audição e tuba auditiva. d) ( ) A cavidade nasal possui os ossos etmoturbinados e é simétrica entre os lados. e) ( ) A articulação temporomandibular é formada pela cabeça do processo condilar da mandíbula e a área articular do osso temporal. 3 O exame radiográfico do tórax é muito frequente na clínica veterinária de cães e gatos. Para um correto posicionamento e a adequada interpretação da imagem obtida, o conhecimento anatômico é imprescindível. A respeito da anatomia do tórax, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: AUTOATIVIDADE 35 ( ) O tórax é formado pela coluna torácica dorsalmente, pelo esterno ventralmente, pelas costelas lateralmente, pelo diafragma caudalmente e pelo primeiro par de costelas cranialmente. ( ) O coração é formado por dois átrios e um ventrículo. ( ) A caixa torácica possui 13 pares de costelas, bem como 13 vértebras torácicas. ( ) A traqueia inicia seu trajeto na região cervical, entrando no tórax e dividindo-se na carina para formar os brônquios principais. ( ) No mediastino, encontramos vasos sanguíneos, ducto torácico, linfonodos e nervos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V – V – F. b) ( ) V – F – F – V – V. c) ( ) F – F – V – V – V. d) ( ) V – F – V – F – F. e) ( ) V – F – V – V – V. 36 37 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 FISIOLOGIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 1 INTRODUÇÃO Após entendermos os planos anatômicos da veterinária, que são diferentes do que estávamos acostumados e servem para auxiliar na nossa localização, aprenderemos também um pouco da anatomia de cães e gatos, conhecendo o esqueleto axial e apendicular, bem como o tórax e abdome. Por isso, é fundamental retomarmos um pouco da fisiologia para conhecermos melhor nossos pacientes, a fim de sabermos os cuidados necessários, bem como as questões que são normais a sua fisiologia. A fisiologia pode ser descrita como o ramo da biologia que estuda a função e o funcionamentos do corpo de pacientes saudáveis.Neste tópico, conheceremos um pouco sobre como nossos novos pacientes funcionam. 2 SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso é formado por uma rede de comunicações que possibilita ao animal o ajuste de alterações ambientais, internas e externas. Isso é possível devido ao conjunto de componentes sensoriais que detectam informações do ambiente, componentes integrativos que processam as informações sensoriais e as informações armazenadas na memória, além de componentes motores, que permitem respostas às informações processadas. O organismo inteiro é servido pelo sistema nervoso. Conforme a sua localização, pode ser dividido em sistema nervoso central e sistema nervoso periférico. A porção central é composta por encéfalo e medula espinhal. A porção periférica é formada pelos nervos cranianos e espinhais. Ainda existe o sistema nervoso autônomo, que não se encaixa na divisão de central ou periférico por possuir componentes de ambas as partes, sendo dividido em simpático, parassimpático e entérico. 2.1 SISTEMA NERVOSO CENTRAL A divisão anatômica do encéfalo é: cérebro, cerebelo e tronco encefálico. O cérebro é divido em dois hemisférios e é composto pelas substâncias cinzenta (córtex) e branca (medular) e pelo núcleo basal. O córtex, área mais externa, 38 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA está relacionado com as reações nervosas que resultam em consciência. Cada hemisfério cerebral é responsável pela movimentação da região contralateral do corpo. Ele possui áreas motoras e sensoriais. A medular, mais interna, é composta pelas fibras nervosas mielinizadas. O núcleo basal localiza-se profundamente no cérebro e é responsável por movimentos semivoluntários complexos, como correr, caminhar e comer. O cerebelo é responsável pela regulação das funções motoras e controla a movimentação do mesmo lado do corpo. O tronco encefálico é o local de origem dos nervos cranianos, exceto dos nervos óptico, olfatório e acústico. No tronco encefálico, localiza-se o hipotálamo, responsável por funções neurossecretoras, sensorial e integração das funções do sistema nervoso autônomo. A medula espinhal é a continuação da medula oblonga do tronco encefálico, a qual possui fibras sensoriais aferentes (que chegam) e fibras sensoriais eferentes (que saem). A substância cinzenta fica localizada internamente, onde estão os corpos celulares e seus processos. A substância branca fica externamente, onde ficam os tratos e fascículos recobertos pela mielina. Externamente à medula, para a sua proteção, temos a coluna vertebral. Conforme a medula percorre o canal vertebral caudalmente, ela diminui o seu diâmetro devido à saída das fibras nervosas. A parte terminal da medula espinhal, de meninges e nervos é chamada de caudal equina. Assim, os últimos segmentos lombares (L5, L6 e L7) dos cães estão localizados até a 4ª vértebra lombar e os segmentos sacrais (S1, S2 e S3) estão localizados a partir da 5ª vértebra lombar. A medula é neurofuncionalmente dividida em segmentos. Dois pontos determinantes para essa divisão são as regiões de espessamento da medula, onde se originam os corpos celulares dos nervos que suprem o membro torácico (intumescência cervical) e o membro pélvico (intumescência lombar), além da própria cauda equina, que determina a porção final da medula espinhal. Essa divisão permite que, após um exame clínico do paciente, seja possível definir a região da medula espinhal afetada. Portanto, as quatro regiões neurofuncionais da medula são: C1-C5 (cervical), C6-T2 (cervicotorácica), T3-L3 (toracolombar) e L4-S3 (lombossacra). As meninges são as membranas de cobertura do encéfalo e da medula espinhal. Mais externamente, localiza-se a dura-máter, seguida pela aracnoide e pela pia-máter, mais internamente. No crânio, a dura-máter está unida ao osso. A aracnoide emite trabéculas para o interior da pia-máter. Entre a dura- máter e a aracnoide, situam-se os vasos sanguíneos. A pia-máter cobre todas as depressões e fissuras do encéfalo. Entre a aracnoide e a pia-máter, situa-se o espaço subaracnoideo, que contém o líquido cerebroespinhal. Seguindo pela medula espinhal, as meninges recobrem toda a sua porção, porém a dura- máter não está ligada ao osso do canal vertebral, promovendo a formação do espaço epidural. TÓPICO 3 — FISIOLOGIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 39 2.2 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Formado pelos nervos periféricos e intracranianos. Os nervos periféricos são somáticos, quando controlam movimentos musculares voluntários, ou autônomos, quando controlam funções involuntárias. Os nervos cranianos são formados por 12 pares: • I: olfatório; • II: óptico; • III: oculomotor; • IV: abducente; • V: trigêmeo; • VI: troclear; • VII: facial; • VIII: acústico; • IX: glossofaríngeo; • X: vago; • XI: espinhal acessório; • XII: hipoglosso. Os nervos cranianos inervam estruturas da cabeça e do pescoço, exceto o nervo vago que inerva faringe, laringe e vísceras de tórax e abdome. 2.3 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO É conhecido como involuntário, uma vez que é responsável pelo funcionamento orgânico normal, pela adaptação ambiental e pela resposta ao estresse, com pouca ou nenhuma percepção consciente. É dividido em simpático, responsável pelas respostas ao estresse, parassimpático, responsável pelas funções homeostáticas sem estresse, e entérico, que regula o sistema gastrointestinal. 3 SISTEMA GASTROINTESTINAL Para que haja a manutenção da vida, é necessário que os animais obtenham nutrientes essenciais para os processos corpóreos. O sistema gastrointestinal visa a dividir os alimentos em porções menores, por processos químicos e físicos (digestão), e a promover a entrada dos nutrientes pelo epitélio intestinal e pela passagem ao sangue (absorção). Os cães e os gatos são essencialmente carnívoros, gerando algumas implicações sobre a forma de digerir e absorver essa dieta. Uma dessas repercussões é um ceco bastante diminuído, uma vez que praticamente não há necessidade de fermentação microbiana e, quando necessária, ela é realizada pelo cólon. 40 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA As principais partes que formam o sistema são: boca, dentes, língua, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. Existem ainda órgãos acessórios, que são as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas. A boca é a porta de entrada do alimento no trato digestório. Nela, os dentes possuem um papel essencial para a fragmentação e também para o corte do alimento, permitindo a entrada na boca. Os dentes do cão e do gato são incisivos, caninos, pré-molares e molares. Os primeiros dentes são nomeados decíduos e são substituídos pelos dentes permanentes entre os 3 e 7 meses de idade. A língua auxilia na movimentação dos alimentos sobre a superfície dos dentes e também promove a entrada do alimento no esôfago. A faringe é uma passagem em comum entre o trato digestório e o respiratório. O esôfago é um tubo que liga a faringe ao estômago, sendo composto por pregas que se distendem, quando ocorre a passagem do alimento, e se fecham, após a passagem ter ocorrido. Seu trajeto pelo pescoço é pelo lado esquerdo da traqueia. O estômago é uma dilatação do trato digestório, cuja função é a estocagem e o início da digestão. Divide-se, anatomicamente, nas regiões de cárdia, fundo, corpo, antro pilórico e piloro. Distribuídas em algumas regiões, as glândulas são responsáveis pela secreção de muco, ácido clorídrico, pepsigonênio e hormônio gastrina. Após a adição de secreções do estômago ao alimento, a mistura passa a se chamar quimo e segue para o intestino. O intestino delgado divide-se em duodeno, jejuno e íleo. O duodeno recebe as secreções pancreáticas e a bile. A porção interna do intestino possui inúmeras pregas (vilosidades), que aumentam a superfície de contato do quimo com o intestino, para sua digestão a absorção. O conteúdo do íleo chega ao cólon através da junção ileocólica. O intestino grossocompreende ceco e cólon (ascendente, transverso e descendente). O reto é a porção pélvica do cólon descendente até o ânus, onde são acumuladas as fezes. As glândulas salivares são compostas por quatro pares: mandibulares, parótidas, sublinguais e zigomáticas. Sua função é a secreção serosa e mucosa, que irá se misturar ao conteúdo alimentar. O pâncreas situa-se ao longo do trajeto do duodeno. Sua função é secretar hormônios, como a insulina e o glucagon, e enzimas digestivas, que se misturam a bile e chegam ao duodeno pelo ducto comum. O fígado é um importante órgão com múltiplas funções, sendo uma delas a secreção de bile e ácidos biliares. Ainda possui funções de síntese, armazenamento, conversões metabólicas e defesa por macrófagos. Assim, além de liberar secreções que auxiliam na digestão dos alimentos, após a absorção dos nutrientes, são levados ao fígado para sua correta utilização. Os nutrientes básicos são classificados em carboidratos, proteínas, lipídeos, água, sais inorgânicos e vitaminas. TÓPICO 3 — FISIOLOGIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 41 4 SISTEMA CARDIOVASCULAR Com o intuito de permitir a nutrição e excreção de todas as células, mesmo as mais distantes, existe o sistema cardiovascular. Formado por uma rede de vasos sanguíneos, possibilita a circulação do sangue, o qual é impulsionado pelo coração. Para facilitar o retorno do líquido do interstício para a circulação sanguínea, existe o sistema linfático. 4.1 CORAÇÃO O coração é um órgão em formato de cone, com sua base voltada craniodorsalmente. Ele é envolto pelo saco pericárdico. É formado por quatro câmaras divididas em direitas e esquerdas, cada lado com um átrio e um ventrículo. O fluxo do sangue ocorre das veias para os átrios, seguindo aos ventrículos e saindo do coração pelas veias. Separando os átrios dos ventrículos, localizam- se as valvas atrioventriculares. A da direita, com três folhetos, é chamada de tricúspide; e a da esquerda, com dois folhetos, de mitral. As valvas que separam o sangue dos ventrículos das artérias são chamadas de semilunares, sendo a da direita, a valva pulmonar, e a da esquerda, a valva aórtica. 4.2 CONTRATATILIDADE CARDÍACA A contratilidade cardíaca ocorre através da passagem do impulso elétrico pelo coração, que é originado no nodo sinoatrial, espalhando-se pelos átrios através das vias intermodais. Após percorrer todo o átrio, o impulso chega ao nodo atrioventricular, que o repassará aos ventrículos, percorrendo as fibras de Purkinje. Dessa forma, a contração dos dois átrios ocorre ao mesmo tempo, empurrando o sangue a ambos ventrículos, que se contraem, ao mesmo tempo, mandando o sangue para as artérias. A passagem desse impulso pelo coração pode ser registrada por um traçado elétrico, chamado de eletrocardiograma, em que cada momento de contração e relaxamento é delimitado por diferentes amplitudes e formatos de onda. Da mesma maneira, o fechamento das valvas cardíacas é audível (ausculta cardíaca). O fechamento das valvas atrioventriculares é chamado de primeira bulha (“tum”), seguido do fechamento das valvas semilunares, chamado de segunda bulha (“dum”). O momento de contração cardíaca é denominado sístole e o período de relaxamento, diástole. Dentro do sistema fechado, o sangue é mantido sob pressão, e essa pressão muda em diferentes partes do sistema circulatório. O ponto de maior pressão do sistema é na aorta, no momento da contração do ventrículo esquerdo, por isso, é determinada pela pressão sanguínea sistólica. Já o ponto de menor pressão ocorre quando há o relaxamento do ventrículo esquerdo, sendo esse o determinante da pressão sanguínea diastólica. O termo pressão de pulso é a diferença matemática entre a pressão sistólica e a diastólica, uma vez que esse é o volume de sangue ejetado pelo ventrículo esquerdo, determinando o volume 42 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA de sangue que percorrerá os vasos sanguíneos. O termo “pressão arterial média” refere-se à taxa média do fluxo de sangue pelos vasos, assim, mais próxima da pressão diastólica do que da sistólica, uma vez que o tempo de diástole é maior do que o de sístole. A pressão arterial média dos cães é de 100 mm/Hg (120/70) e dos gatos de 110 mm/Hg (140/90). A frequência cardíaca é dada pelo número de batimentos por minutos (bpm) e se altera de acordo com diferentes fatores fisiológicos, como descanso, exercício, excitação, temperatura ambiental elevada, entre outros. A frequência cardíaca normal é determinada pelo número de batimentos por minuto em um paciente adulto em repouso, sendo de 70 a 120 bmp no cão e de 110 a 130 bpm no gato. 4.3 CIRCULAÇÃO O sangue venoso que chega ao coração a partir dos tecidos, através da veia cava cranial e da veia cava caudal, entrando no átrio direito no momento de relaxamento atrial. No momento da abertura da valva atrioventricular direita, o sangue passa ao ventrículo direito. Após repleto, o ventrículo se contrai e impulsiona o sangue pelas valvas semilunares para a artéria pulmonar até os pulmões. Tendo passado pelos pulmões, retorna ao coração pela veia pulmonar, já como sangue arterial, chegando ao átrio esquerdo. Com a abertura da valva atrioventricular esquerda, chega ao ventrículo esquerdo e, com a contração do ventrículo esquerdo, o sangue é bombeado pelas valvas seminulares para a artéria aorta. A circulação que liga o coração aos pulmões é chamada de circulação pulmonar, ou pequena circulação. A circulação que liga o corpo ao coração é denominada sistêmica, ou grande circulação. O sangue que chega ao coração para ser oxigenado é chamado de sangue venoso e o sangue oxigenado, ou seja, que sai do coração, é conhecido como sangue arterial. O sangue venoso deixou oxigênio nos tecidos e retorna ao coração carregado de dióxido de carbono. Dentro da circulação sistêmica, existe uma circulação diferente do pa- drão usual, chamada de sistema porta. A principal circulação portal é o sistema porta-hepático. 4.3.1 Circulação porta-hepática O sistema porta-hepático transporta o sangue de estômago, baço, pân- creas e intestinos através da veia porta até o fígado. No fígado, a remoção dos nutrientes do sangue ocorre para gerar a metabolização e a redistribuição dos componentes vindos da dieta, a fim de que o sangue, com os nutrientes absor- vidos, não necessite fazer todo o trajeto até o coração para retornar ao fígado, fazendo, assim, um desvio. TÓPICO 3 — FISIOLOGIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 43 4.4 SISTEMA LINFÁTICO Sua função é transportar o líquido do interstício para a circulação sanguínea novamente. Seu vaso inicia-se cegamente e, em geral, acompanha uma veia até um grande vaso sanguíneo. 5 SISTEMA RESPIRATÓRIO A respiração é o método pelo qual os animais obtêm e usam o oxigênio e eliminam o dióxido de carbono. No nível celular, o oxigênio é recebido pelas mitocôndrias, onde oxidará os cofatores reduzidos do metabolismo; no processo de transferência de elétrons, o hidrogênio se une ao oxigênio para formar a água. A passagem do ar inicia nas narinas, seguida pelas cavidades nasais, faringe, laringe, traqueia e brônquios, para chegar aos pulmões. As narinas são as aberturas externas para a passagem do ar. Nas cavidades nasais, encontram-se os ossos turbinados, separados pelo septo nasal e separados da boca pelo palato duro e pelo palato mole. A função das cavidades nasais é aquecer, umidificar e filtrar o ar inalado. O epitélio olfatório está localizado na porção caudal das cavidades nasais. A faringe é a passagem em comum ao ar e comida. O controle de entrada em cada via (respiratória e digestória) se dá pela glote. Já a laringe abrange os órgãos de fonação dos mamíferos. A traqueia estende-se da região cervical até a torácica, sendo formada por anéis cartilaginosos incompletos que não permitem seu colapso. Seus anéis são incompletos para permitirem diferentes variações de tamanho em questão de diâmetro. Na sequência, o ar segue pelosbrônquios e suas ramificações até chegar aos alvéolos. Os alvéolos possuem uma parede muito fina e que está intimamente ligada com o endotélio vascular. É ali que as trocas gasosas ocorrem, tornando o sangue venoso (azulado) em sangue arterial (vermelho brilhante). Devido à grande quantidade de ar contida nos pulmões, a radiografia é o exame de eleição para avaliação da região, uma vez que o contraste promovido pelo ar na radiografia permite uma avaliação detalhada da sua estrutura. Revestindo todo o tórax, existe a pleura, cuja função é diminuir, ao máximo, a fricção dos pulmões para uma melhor movimentação. A pleura forma uma prega na região da traqueia, esôfago, aorta, cavas e ducto linfático, formando o espaço mediastínico. 44 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA 5.1 RESPIRAÇÃO Um ciclo respiratório compreende uma fase de inspiração, seguida da expiração. A inspiração corresponde ao aumento de tamanho do tórax, culminando com a entrada de ar. O tórax aumenta de tamanho devido à contração do músculo diafragma e dos músculos intercostais. A expiração é auxiliada pela contração de músculos intercostais específicos. Os músculos abdominais podem auxiliar na inspiração e na expiração pelo deslocamento das vísceras abdominais em direção cranial ou caudal. Portanto, existe a respiração costal, caracterizada por movimentos pronunciados das costelas, e a respiração abdominal, caracterizada por movimentos visíveis do abdome. A frequência respiratória refere-se ao número de ciclos respiratórios por minuto (mpm). Ela é facilmente influenciada por uma série de fatores, desde a temperatura ambiental, o nível de movimentação do animal, o estado de saúde, a idade, entre outros. A frequência respiratória normal de um cão dormindo é de 18 a 25 mpm e do gato dormindo, de 16 a 25 mpm. Assim como no caso do coração, a ausculta pulmonar também é possível, podendo identificar uma série de diferentes sons da passagem de ar pela árvore traqueobrônquica, permitindo a avaliação de uma diferente gama de patologias respiratórias. 5.2 TROCAS GASOSAS A ventilação leva o O2 para os alvéolos e remove o CO2. O CO2 é cerca de 20 vezes mais facilmente difundido em água do que o O2, fazendo com que o dióxido de carbono seja transportado por difusão e diferença do gradiente de concentração, enquanto o oxigênio precisa ser transportado ligando a hemoglobina das hemácias. A maioria do dióxido de carbono é transportada como bicarbonato por uma reação química de hidratação. Desse modo, nos tecidos em que o CO2 é produzido, existe uma maior concentração, o que promove a sua difusão para o sangue arterial, tornando-o sangue venoso. Da mesma forma, a sua concentração no sangue venoso é maior do que no interior dos alvéolos, provocando sua saída. Como a produção de CO2 é maior do que sua possibilidade de difusão, uma menor parte é transportada ligada a proteínas plasmáticas e uma parte ainda menor é carregada pela hemoglobina. O oxigênio é captado nos alvéolos e se liga a hemoglobina. Por isso, é importante lembrar que anemias podem influenciar negativamente no fornecimento de oxigênio para os tecidos. TÓPICO 3 — FISIOLOGIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 45 6 SISTEMA URINÁRIO A função dos rins não se resume somente à excreção de dejetos metabólicos pela urina, mas também à manutenção do volume e da composição do ambiente corpóreo interno. O sistema urinário é composto por um par de rins, um par de ureteres, uma bexiga e uma uretra. Os rins estão separados da cavidade abdominal pelo peritônio, sendo considerados estruturas retroperitoneais. O sangue chega aos rins através da artéria renal, vinda da aorta; e sai pelas veias renais, desembocando na veia cava caudal. Em cães e gatos, possuem formato de feijão. A unidade funcional dos rins é o néfron, o qual é dividido em duas porções: cortical e medular. A cortical, mais externamente, é formada pelos glomérulos, enquanto a medular, mais internamente, é formada pelas alças de Henle e pelos ductos coletores. A pelve renal é o local em que a urina é coletada dos rins, sendo transportada pelos ureteres. O ureter é um tubo muscular que conduz a urina do rim à bexiga. A entrada na bexiga ocorre por um ângulo oblíquo, evitando refluxos de urina. A bexiga é oca e tem a função de acumular urina para ser eliminada em seguida. O colo da bexiga é a continuação caudal da bexiga para a uretra, que conduz a urina ao exterior. O esfíncter, que separa a bexiga da uretra, é o esfíncter externo. 6.1 NÉFRON É a unidade funcional do rim. Os glomérulos localizam-se na cortical e os ductos coletores e as alças de Henle, na medular. Os glomérulos, que estão mais próximos à medular, são chamados de justamedulares, já os que permanecem na cortical, de corticomedulares. Após a filtração pela cápsula de Bowman, o filtrado segue por túbulo proximal, alça de Henle, túbulo distal, túbulo coletar e ducto coletor – todos esses túbulos têm a finalidade de reabsorver e secretar componentes para a formação da urina e correta concentração e formulação do líquido corporal. Diversos fatores de concentração, transportes ativos, pressões e ações hormonais influenciam na formação da urina. 7 SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO A função do sistema reprodutor masculino é a formação de esperma e sua deposição na fêmea. A formação dos espermatozoides ocorre nos testículos e segue pelo epidídimo, onde são maturados e armazenados. Após a entrada do pênis no sistema reprodutor da fêmea, os espermatozoides são empurrados para a uretra, unindo-se à secreção das glândulas acessórias e, por fim, seguindo para a ejaculação. 46 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA Os testículos são órgãos pareados. Possuem importantes tipos celulares, como as células de Leydig (secretoras de testosterona) e células de Sertoli (responsáveis pela nutrição dos espermatozoides em crescimento). O epidídimo divide-se em cabeça, corpo e cauda, sendo que quanto mais próximos da cauda, mais maturados estão os espermatozoides. O ducto deferente é a continuação do epidídimo e sua ligação com a uretra. Os testículos permanecem fora do abdome através do canal inguinal, ainda dentro do escroto, que é uma bolsa cutânea que auxilia no controle da temperatura ideal, por meio da contração do músculo cremaster. A glândula acessória do sistema reprodutor do cão é a próstata, que se localiza caudalmente à bexiga, envolvendo a uretra. O pênis inicia na borda caudal do arco isquiático pélvico. O cão tem o bulbo da glande, uma região no pênis que aumenta de tamanho e auxilia na retenção prolongada do pênis durante o coito com a fêmea. Além disso, ele conta com o osso peniano que auxilia na distensão do pênis para a cópula. O pênis do gato permanece voltado caudalmente, com presença de espículas, que auxiliam na ovulação da fêmea. 8 SISTEMA REPRODUTOR FEMININO O intuito do sistema reprodutor da fêmea é produzir oócitos e fornecer o ambiente para o desenvolvimento do feto, após a fertilização do oócito maduro pelo espermatozoide. É importante lembrar ainda que a função de nutrição do feto segue após o nascimento no período da lactação. Esse sistema é composto por dois ovários, tubas uterinas, útero, vagina, vulva e glândulas mamárias. Os ovários são responsáveis pelo desenvolvimento dos oócitos e pela secreção de hormônios. Eles situam-se caudalmente aos rins. É dividido em córtex (produção dos oócitos) e medular (onde ficam vasos sanguíneos, linfáticos e nervos). As tubas uterinas conduzem o oócitos até o útero, que é o local de desenvolvimento do feto, dividido em cornos, corpo e cérvix. A vagina é o local de introdução do pênis do macho e é a porção do canal do parto, que fica dentro da pelve. A porção da genitália externa é formada pela vulva. 8.1 CICLO ESTRAL O início da puberdade nas fêmeas caninas ocorre entre o 6º e o 12º mês de vida. Já nas gatas, por volta do 6º ao 8º mês de vida, dependendodo fotoperíodo. O estrogênio é responsável pela proliferação dos tecidos reprodutores e pela receptividade sexual. A progesterona é produzida pelo corpo lúteo e é o principal hormônio para manutenção da gestação. No caso das fêmeas caninas, essa produção permanece elevada após o período de cio, independentemente de ocorrer ou não fecundação. TÓPICO 3 — FISIOLOGIA BÁSICA DE CÃES E GATOS 47 O ciclo estral refere-se ao ciclo regular, mas com limitação de receptividade sexual. As fases do ciclo são: • pró-estro: é o momento de desenvolvimento folicular e de preparação para receptividade do macho; • estro: é o período do ciclo em que ocorre a receptividade sexual; • metaestro: é o período inicial pós-ovulatório, quando inicia o desenvolvimento do corpo lúteo; • diestro: ocorre no tempo de permanência de atividade do corpo lúteo; • anestro é o período sem atividade do sistema reprodutor feminino. A duração do pró-estro e estro na cadela dura 7 a 10 dias cada um deles. É durante o pró-estro que a fêmea apresenta secreção vulvar sanguinolenta, atrai os machos, exibe a região do períneo, porém a receptividade sexual somente ocorrerá no período seguinte, o estro. Já o diestro dura cerca de 70 a 80 dias e, devido a esse diestro prolongado com atuação da progesterona, a fêmea é mais propícia a desenvolver infecções uterinas, conhecidas como piometra. Um fator importante para a gata é o fotoperíodo (duração dos períodos de luz e escuridão). Nos períodos de dias mais curtos (inverno), o fotoperíodo influencia negativamente a secreção de hormônios que estimulam a ovulação, portanto, a fêmea permanece em anestro. Além disso, a ovulação da gata ocorre somente se houver o coito. Se não houver cópula, a gata permanece na fase folicular por 8 dias, seguidos de 8 dias de inatividade ovariana. Isso ocorre diversas vezes até o ciclo seguinte. Se houver coito, mas não ocorrer fecundação, a fêmea entrará novamente em estro, no mínimo, 42 dias depois. Os sinais de estro na fêmea incluem vocalização, afeição por pessoas ou objetos, rolar no chão, tremer a cauda, entre outros. 8.2 GESTAÇÃO É o período em que o filhote não nascido permanece no interior do corpo da fêmea. O tempo médio de gestação das fêmeas caninas e felinas é de 63 dias. Imediatamente após o parto, inicia-se a lactação. As gatas e as cadelas possuem em média quatro pares de glândulas mamárias. 48 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O sistema nervoso integra os sistemas sensoriais e os sistemas motores, para que as informações sejam detectadas e as respostas, executadas, sendo formado pelo sistema nervoso central, o encéfalo e a medula, o periférico, os nervos cranianos e espinhais, e o autônomo, o qual tem componentes das duas partes e se divide em simpático, parassimpático e entérico. • O encéfalo é formado pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico, sendo o cérebro responsável por ações motoras e sensoriais, inclusive a consciência; o cerebelo regula as funções motoras; e o tronco dá origem aos nervos cranianos, possui funções neurossecretoras e integra as funções do sistema nervoso autônomo. • A medula é a continuação do tronco encefálico; dela, originam-se os nervos eferentes e chegam os nervos aferentes dos membros torácicos e pélvicos, sua finalização se dá na cauda equina. • A coluna pode ser dividida, na avaliação clínica de lesões neurológicas, conforme a disposição dos nervos, formando os segmentos cervical, cervicotorácico, toracolombar e lombossacro. • O sistema gastrointestinal é responsável pela digestão e pela absorção de nutrientes, sendo formado por boca, dentes, língua, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, glândulas salivares, fígado e pâncreas. • O sistema cardiovascular é responsável pela circulação sanguínea de todo o corpo, permitindo a nutrição e a excreção de cada uma das células que o compõe. • O coração é o responsável pela movimentação sanguínea através de sua contratilidade, comandada por impulsos elétricos que promovem contração e relaxamento da musculatura, auxiliado pelas válvulas cardíacas, que impedem o refluxo de sangue. • A circulação sanguínea ocorre através dos átrios e ventrículos, formando a circulação pulmonar e a sistêmica, como estamos acostumados a ver em humanos. • O sistema respiratório é formado por narinas, cavidades nasais, seios paranasais, faringe, laringe, traqueia, brônquios e pulmões, com o intuito de obter oxigênio e eliminar gás carbônico pela respiração. 49 • O sistema urinário promove a excreção e dejetos pela urina, auxilia na manutenção do volume e da composição do ambiente corpóreo interno, através dos seus órgãos funcionais, os rins, onde estão os néfrons. • O sistema reprodutor masculino tem a finalidade de produzir esperma e depositá-lo na fêmea, por meio da produção de espermatozoides pelos testículos, a secreção da próstata e a passagem pelo pênis. • A fêmea, em seu sistema reprodutor, produz oócitos, fornece ambiente para desenvolvimento do feto e ainda produz o leite para alimentá-lo depois do nascimento. • As fêmeas canina e felina possuem ciclo estral. 50 1 Paciente canina, fêmea, da raça Pastor Alemão, com 1 ano de idade, foi encaminhada ao setor de radiologia para radiografias seriadas contrastadas de trânsito intestinal, com suspeita de presença de corpo estranho. Sobre a anatomia e a fisiologia do sistema gastrointestinal, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os cães possuem quatro estômagos, para poder realizar a digestão da celulose presente nas forragens por eles ingeridas, uma vez que são animais herbívoros. b) ( ) O esôfago passa pela região cervical e torácica, e, por possuir a capacidade de dilatação, não existe a possibilidade de presença de corpos estranhos no esôfago dos cães. c) ( ) Após a ingestão do contraste e sua passagem pelo esôfago, o contraste seguirá por estômago, duodeno, jejuno e íleo e passará pelo cólon. d) ( ) Os cães possuem o ceco bastante desenvolvido para realizar digestão microbiana, o que afetará o trânsito do contraste e deverá ser levado em consideração para realização do exame. 2 Pacientes apresentando rápido cansaço e síncopes, geralmente, são encaminhados ao setor de radiologia para exame radiográfico do tórax para avaliação cardiovascular. Sobre o sistema cardiovascular de cães e gatos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Cães e gatos possuem quatro câmaras cardíacas, divididas em átrios e ventrículos, direitos e esquerdos. b) ( ) A circulação porta é assim chamada por ser separada das demais por portas ou válvulas. c) ( ) Os cães e gatos não possuem pressão sistólica e diastólica. d) ( ) A circulação sanguínea passa pelos pulmões, porém a oxigenação do sangue ocorre através da boca. 3 Para um funcionamento completo do organismo, o equilíbrio entre os diferentes sistemas é fundamental, sendo o sistema renal uma importante parte para a manutenção desse equilíbrio fisiológico. Sobre o sistema renal de cães e gatos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A formação de urina ocorre no fígado, por meio da circulação portal. b) ( ) Cães e gatos possuem dois rins, dois ureteres, uma bexiga e uma uretra. c) ( ) A unidade funcional do rim é chamada de nélsion. d) ( ) A urina fica armazenada na bexiga para, depois, sair pelo ureter. AUTOATIVIDADE 51 TÓPICO 4 — UNIDADE 1 TÉCNICAS DE CONTENÇÃO DE CÃES E GATOS PARA EXAMES DE IMAGEM 1 INTRODUÇÃO A relação do homem com os cães e gatos data de milhares de anos. Esse vínculo traz muitos benefícios para a saúde física e psicológica de ambas as partes. O Brasil, segundo levantamento da Abinpet (2019), possui uma população de 141,6 milhões de animais, sendo 55,1 milhões de cães e 24,7 milhões de gatos – isso demonstra como a presença de animais é importante para a população. Cães e gatos podem fazer companhia a famílias, idosos, crianças, pessoas que moram sozinhas, podem auxiliarpessoas com deficiências físicas ou psicológicas e ter funções práticas, quando treinados para tal, como busca e resgate, além de proporcionarem benefícios na interação humano-animal em pessoas convalescentes em hospitais. Muitas relações positivas podem ser descritas, mas esse vínculo tão próximo pode trazer malefícios quando cuidados básicos com a saúde e o comportamento dos animais não forem respeitados. Em 1978, a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 1978), expôs a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que, em seu Art. 2º, declara que todo animal tem direito a ser respeitado e, em seu Art. 3º, determina que nenhum animal deve ser submetido a maus-tratos ou atos cruéis. Diante dessas questões, devemos ter em mente a importância de preservar o bem-estar animal durante toda a realização do exame, visando a sua segurança e mantendo-o livre de estresse e medo. Considerando os direitos dos animais, muitas discussões acerca do tratamento que eles recebem como propriedade indicam que ele pode ser tornado inadequado. Adicionando mais um fator a essa causa, em 2012, um grupo de especialistas da neurociência avaliou experiências sobre a consciência e os comportamentos relacionados a ela, culminando com a divulgação da Declaração de Cambridge sobre a Consciência, em que se conclui que: Evidências convergentes indicam que animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos dos estados de consciência, juntamente com a capacidade de exibir com- portamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neu- rológicos que geram a consciência (DECLARAÇÃO..., 2012, p. 1). 52 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA A preocupação com os cuidados e bem-estar animal também chegou ao nosso país. Em 2018, um projeto de lei foi encaminhado ao Senado Federal com o objetivo de acrescentar à Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998), a disposição sobre a natureza jurídica dos animais não humanos, cujo teor manifesta que “os animais não humanos possuem natureza jurídica sui generis e são sujeitos de direitos despersonificados, dos quais devem gozar e obter tutela jurisdicional em caso de violação, vedado o seu tratamento como coisa”. Isso significa que os animais não serão mais vistos pela justiça como coisas que possuem proprietários, mas, sim, sujeitos que possuem direitos. Diante de todas essas evidências, nossa obrigação com o cuidado e o respeito ao paciente animal deve ser uma prioridade – lembrando que, em muitos casos, ele é tratado como um ente familiar ou como parceiro de trabalho de muitas pessoas. Neste tópico, abordaremos algumas informações que podem ajudar a tornar o exame minimamente estressante ao paciente e ao seu tutor. 2 AMBIENTE DO EXAME A dinâmica da realização dos exames radiográficos em cães e gatos é diferente dos exames realizados em pacientes humanos. Precisamos determinar dois pontos principais: os animais não são capazes de compreender que farão um exame não invasivo e a necessidade de contenção e posicionamento adequado implica a presença de uma ou, em geral, duas pessoas na sala de exame. Assim, a manutenção de um ambiente tranquilo deve ser priorizada. Barulhos altos, movimentos bruscos e interrupções dificultam a cooperação do paciente. O primeiro passo é organizar toda a sala de exame, colocando à disposição todo o material necessário. A mesa de exame deve estar limpa, reduzindo os odores de outros pacientes. O ajuste da técnica a ser utilizada deve ser feito em seguida. Músicas instrumentais ou de ritmo calmo podem ajudar na manutenção do ambiente ideal. Só depois de todos os fatores organizados é que devemos levar o paciente para a sala de exame. Todo o cuidado com o ambiente não será suficiente se nosso comporta- mento não for ajustado. Cães e gatos reagem a ambientes ofensivos através de sua defesa com mordidas ou arranhões. Dessa forma, manter-se tranquilo e agir com cautela auxilia muito na realização do exame. Quanto mais colaborativo for o paciente, melhor ficará o posicionamento e, consequentemente, a qualidade da imagem obtida será superior. Devemos dar preferência à presença do tutor na sala durante a realização do exame, pois isso é capaz de trazer algumas vantagens, como manter o paciente mais calmo em razão da segurança passada pelo tutor, ter mais uma pessoa TÓPICO 4 — TÉCNICAS DE CONTENÇÃO DE CÃES E GATOS PARA EXAMES DE IMAGEM 53 auxiliando no posicionamento, reduzindo a necessidade da equipe de trabalho e da exposição desta. Outro aspecto positivo é a confiança que recebemos do tutor ao acompanhar todo o exame respeitando, adequadamente, o paciente e seu conforto. 3 CONTENÇÃO FÍSICA A contenção física tem o objetivo de permitir a realização de procedimentos no paciente, mantendo a segurança do profissional e evitando estresse desnecessário ao paciente. Muitos exames podem ser realizados somente contendo o animal com uso de técnicas adequadas. A aproximação deve iniciar pelo contato com o tutor, buscando informações sobre o temperamento do paciente e sobre qual o motivo que o levou a fazer o exame. Todo o paciente que precisa fazer um exame radiográfico está com algum problema, por isso entender qual é esse problema e quais os desconfortos e dores estão causando ao paciente auxilia nos cuidados no momento de seu posicionamento. Por exemplo, um paciente que fará um exame no joelho e não está conseguindo usar a pata para caminhar tem grandes chances de apresentar dor à manipulação da articulação. Portanto, uma atenção especial a esse membro deve ser dispensada, desde a contenção até o posicionamento. Ainda é importante saber de lesões anteriores que podem prejudicar ou restringir a mobilidade do paciente. DICAS Uma aproximação lenta do paciente, falando seu nome e buscando contato através de carinho pode amenizar o animal. Após esse contato, o paciente pode ser colocado sobre a mesa de exame. Podemos pedir ao tutor que realize esse processo, ou caso o paciente seja de maior porte, o tutor pode elevar o paciente segurando a região da cabeça e membros torácicos, enquanto o profissional segura os membros pélvicos e o abdome. Com o paciente sobre a mesa, o tombamento pode ser realizado. Para isso, pedimos ao tutor que segure a cabeça do animal usando as duas mãos de um lado da mesa, enquanto, do lado oposto, o profissional deve segurar os membros torácicos e pélvicos, encostando o tronco do paciente contra o dele e deitando-o devagar sobre a mesa. A contenção da cabeça pelo tutor é importante para evitar mordidas e ainda evitar que o paciente bata a cabeça contra a mesa na manipulação. 54 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA A contenção sobre a mesa pode ser feita usando o antebraço sobre o pescoço e as mãos para segurar, com uma delas, os membros torácicos, e com a outra, os membros pélvicos. Depois disso, pode-se seguir com o posicionamento específico de cada exame. Em pacientes que não sejam tão colaborativos, o uso de contenção como focinheiras, mordaças ou toalhas pode ser necessário. As toalhas podem ser utilizadas enroladas ao redor do pescoço, para contenção da cabeça, evitando mordidas. É necessário atentar para o ponto de pressão, que deve ficar na cabeça, na mandíbula, e não na região dos tecidos moles cervicais, para evitar compressão e obstrução da traqueia, podendo levar a uma parada cardiorrespiratória. Mordaças podem ser feitas com uso de cordas ao redor do focinho. O material utilizado deve ser macio, evitando lacerações na pele. Focinheiras de diversos modelos e tamanhos estão disponíveis no mercado e podem ser utilizadas se necessário. Mordaças ou focinheiras devem ser utilizadas com cuidado, uma vez que podem levar à dificuldade respiratóriaem alguns pacientes, portanto, sempre que utilizadas, deve-se atentar à respiração, evitando complicações. Para gatos, existe um movimento internacional chamado “Cat Friendly”, que determina práticas minimamente estressantes para os felinos. Novamente, é objetivado o respeito ao paciente, compreendendo suas limitações e dores, seu comportamento territorialista natural e evitando técnicas que sejam dolorosas. Para entender melhor como funciona o movimento Cat Friendly e qual a sua importância, visite o site: https://catfriendlyclinic.org/. DICAS É fundamental lembrar que, em geral, quanto menos tensão e força forem usadas na contenção, mais colaborativo tende a ser o paciente, uma vez que o ambiente se torna menos hostil. 4 CONTENÇÃO QUÍMICA Caso todos os cuidados para manutenção de um ambiente tranquilo e com o manejo adequado respeitando o paciente não permita a realização do exame, podemos fazer uso da contenção química, que ainda pode ser indicada nos casos em que o posicionamento seja desconfortável ou doloroso. Exames muito longos, com diversas projeções, também tendem a não ser bem tolerados pelo paciente. TÓPICO 4 — TÉCNICAS DE CONTENÇÃO DE CÃES E GATOS PARA EXAMES DE IMAGEM 55 Para que a contenção química seja feita, um médico veterinário deve ser solicitado, preferencialmente, um especialista em anestesia. Esse profissional será capaz de determinar qual o melhor protocolo de medicações a ser utilizado, bem como quais as limitações de cada animal e as possíveis complicações da sedação ou anestesia. Um preparo anterior deve ser feito no paciente, com jejum e exames pré- anestésicos (como exames de sangue e eletrocardiograma) a serem determinados pelo médico veterinário, de acordo com cada caso clínico. O protocolo anestésico, em geral, inclui medicações analgésicas, relaxan- tes musculares e sedativos combinados para proporcionar o melhor relaxamento ao paciente. Durante todo o exame, com uso de contenção química, o médico veterinário deve acompanhar o paciente sedado para evitar complicações respi- ratórias ou cardiovasculares ou, até mesmo, o óbito do paciente. O acompanha- mento deve seguir até que o paciente esteja totalmente recuperado. 56 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA LEITURA COMPLEMENTAR DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Organização das Nações Unidas (ONU) Preâmbulo: Considerando que todo o animal possui direitos; Considerando que o desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza; Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo; Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros; Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante; Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais, Proclama-se o seguinte: Artigo 1: Todos os animais nascem iguais diante da vida, e têm o mesmo direito à existência. Artigo 2: a) Cada animal tem direito ao respeito. b) O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais, ou explorá-los, violando esse direito. Ele tem o dever de colocar a sua consciência a serviço dos outros animais. c) Cada animal tem direito à consideração, à cura e à proteção do homem. Artigo 3: a) Nenhum animal será submetido a maus-tratos e a atos cruéis. b) Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor ou angústia. Artigo 4: a) Cada animal que pertence a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu ambiente natural terrestre, aéreo e aquático, e tem o direito de reproduzir-se. TÓPICO 4 — TÉCNICAS DE CONTENÇÃO DE CÃES E GATOS PARA EXAMES DE IMAGEM 57 b) A privação da liberdade, ainda que para fins educativos, é contrária a este direito. Artigo 5: a) Cada animal pertencente a uma espécie, que vive habitualmente no ambiente do homem, tem o direito de viver e crescer segundo o ritmo e as condições de vida e de liberdade que são próprias de sua espécie. b) Toda a modificação imposta pelo homem para fins mercantis é contrária a esse direito. Artigo 6: a) Cada animal que o homem escolher para companheiro tem o direito a uma duração de vida conforme sua longevidade natural b) O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. Artigo 7: Cada animal que trabalha tem o direito a uma razoável limitação do tempo e intensidade do trabalho, e a uma alimentação adequada e ao repouso. Artigo 8: a) A experimentação animal, que implica em sofrimento físico, é incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra. b) As técnicas substutivas devem ser utilizadas e desenvolvidas Artigo 9: Nenhum animal deve ser criado para servir de alimentação, deve ser nutrido, alojado, transportado e abatido, sem que para ele tenha ansiedade ou dor. Artigo 10: Nenhum animal deve ser usado para divertimento do homem. A exibição dos animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal. Artigo 11: O ato que leva à morte de um animal sem necessidade é um biocídio, ou seja, um crime contra a vida. Artigo 12: a) Cada ato que leve à morte um grande número de animais selvagens é um genocídio, ou seja, um delito contra a espécie. b) O aniquilamento e a destruição do meio ambiente natural levam ao genocídio. Artigo 13: a) O animal morto deve ser tratado com respeito. b) As cenas de violência de que os animais são vítimas, devem ser proibidas no cinema e na televisão, a menos que tenham como fim mostrar um atentado aos direitos dos animais. 58 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À RADIOLOGIA VETERINÁRIA Artigo 14: a) As associações de proteção e de salvaguarda dos animais devem ser representadas a nível de governo. b) Os direitos dos animais devem ser defendidos por leis, como os direitos dos homens. FONTE: <https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2018/10/DeclaracaoUniversaldos DireitosdosAnimaisBruxelas1978.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2021. https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2018/10/DeclaracaoUniversaldosDireitosdosAnimaisBruxelas1978.pdf https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2018/10/DeclaracaoUniversaldosDireitosdosAnimaisBruxelas1978.pdf 59 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • Os animais possuem direitos incluindo direito ao respeito e a não serem submetidos a maus-tratos e atos cruéis. • O ambiente de realização dos exames deve ser tranquilo, bem como nosso comportamento. • A presença do tutor na sala auxilia na manutenção de um ambiente mais confortável ao paciente, bem como na contenção e no posicionamento, e o acompanhamento do exame traz mais transparência e credibilidade ao trabalho do profissional de radiologia. • A contenção física será utilizada para realização dos exames de imagem, priorizando a segurança do paciente e dos profissionais envolvidos, usando técnicas de manejo adequadas. • O uso de materiais auxiliares, como toalhas, focinheiras ou mordaças, pode ser necessário em casos de pacientes menos colaborativos. • A contenção química será uma opção em paciente não colaborativo, exames desconfortáveis ou dolorosos e ainda em exames com muitas projeções, devendo ser realizada por médico veterinário que acompanhará o paciente durante todo o exame. 60 1 Leia o texto a seguir: “Qualquer mudança no meio externo (ambientefísico ou psicossocial), ou interno (somáticos ou psicológicos), pode provocar no animal uma resposta fisiológica ou comportamental. Os estímulos podem ser agradáveis ou aversivos e as respostas do animal para estes estímulos determinam o seu estado de bem-estar”. FONTE: FERREIRA, S. A.; SAMPAIO, I. B. M. Relação homem-animal e bem-estar do cão domiciliado. Archives of Veterinary Science, v. 15, n. 1, p. 22-35, 2010. De acordo com o texto apresentado, o meio é determinante para as respostas de cães e gatos ao ambiente em que estão. A respeito do ambiente ideal para realização dos exames radiográficos nos pacientes veterinários, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Sempre, sem exceções, devem ser utilizadas focinheiras para realização dos exames radiográficos. ( ) A presença do tutor é benéfica durante a realização do exame, sendo solicitada a sua presença na sala. ( ) Caso a agenda de exames esteja atrasada, podemos fazer o exame rapidamente com agitação na sala sem que haja prejuízo para o paciente. ( ) É importante manter a calma durante a realização do exame, para facilitar a manipulação do paciente, que tende a se tornar mais colaborativo. ( ) Sempre que necessários, métodos de contenção, como a focinheira, cordas ou toalhas, podem ser utilizados para facilitar e tornar o exame mais seguro. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – F – V – V. b) ( ) F – F – F – V – V. c) ( ) V – V – F – V – V. d) ( ) F – V – F – V – F. e) ( ) V – V – F – V – F. 2 Nem todos os pacientes que irão realizar exames radiográficos são colaborativos. Um paciente canino, macho, raça Rottweiler, 2 anos de idade, agressivo e com dor em pelve, foi encaminhado para exame radiográfico. Assinale a alternativa CORRETA: AUTOATIVIDADE 61 a) ( ) Uma técnica de manejo, sem equipamentos de contenção, pode ser realizada sem risco de lesões aos profissionais envolvidos. b) ( ) Não é recomendado o uso de focinheiras para evitar mordidas, uma vez que o paciente irá asfixiar durante o exame. c) ( ) Uma das formas de contenção é pelo uso de medicações sedativas, a contenção química, permitindo posicionamento com maior conforto, segurança e qualidade. d) ( ) Como o paciente é agressivo, não existe possibilidade alguma de realização do exame, assim ele deve ser dispensado sem obtenção de imagem radiográfica e com a orientação de não realizar novas solicitações de exame. 3 Um paciente felino, após sofrer queda do 5º andar, foi encaminhado para o setor de imagem para realização de exame radiográfico da coluna, tendo sido medicado com uso de analgésicos e sedativos leves para controle da dor. Sobre o manejo realizado, em geral, para exames radiográficos, analise as proposições a seguir: I- Um manejo cuidadoso deve ser feito, evitando ao paciente mais dor durante a realização do exame. II- A administração de medicações sedativas e analgésicas deixam o paciente mais confortável e facilitam a realização do exame. III- O paciente não deve ser encaminhado para realização de radiografias, uma vez que ele pode causar injúria a algum profissional, já que não existe forma de contenção. IV- Um médico veterinário presente durante a realização do exame auxilia no acompanhamento, aumentando a segurança para o paciente. V- Técnicas de manejo Cat Friendly podem auxiliar no exame, tornando-o menos estressante para o paciente felino. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Todas as proposições estão corretas. b) ( ) Apenas as proposições I e V estão corretas. c) ( ) Apenas as proposições III e IV estão incorretas. d) ( ) As proposições I, II, IV e V estão corretas. e) ( ) Todas as proposições estão incorretas. 62 REFERÊNCIAS ABINPET. Mercado Pet Brasil 2019. Disponível em: http://abinpet.org.br/ mercado/. Acesso em: 26 abr. 2021. BRASIL. Projeto de lei nº 27 de 2018. Acrescenta dispositivo à Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/ materias/-/materia/133167. Acesso em: 26 abr. 2021. BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l9605.htm. Acesso em: 26 abr. 2021. DECLARAÇÃO DE CAMBRIDGE SOBRE A CONSCIÊNCIA. In: Conferência Sobre a Consciência em Animais Humanos e Não Humanos em Memória a Francis Crick, 1, 2012, Cambrigde. Cambrigde: Universidade de Cambrigde, 2012. Disponível em: http://www.direito.ufpr.br/portal/animaiscomdireitos/ wp-content/uploads/2019/06/declaracao-de-cambridge-portugues.pdf. Acesso em: 26 abr. 2021. DUKES. Fisiologia dos Animais Domésticos. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2006. KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. G. Anatomia dos animais domésticos. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. UNESCO – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. Declaração Universal dos Direitos dos Animais. Bruxelas: ONU, 1978. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/ files/2018/10/DeclaracaoUniversaldosDireitosdosAnimaisBruxelas1978.pdf. Acesso em: 26 abr. 2021. http://abinpet.org.br/mercado/ http://abinpet.org.br/mercado/ https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/133167 https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/133167 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm http://www.direito.ufpr.br/portal/animaiscomdireitos/wp-content/uploads/2019/06/declaracao-de-cambridge-portugues.pdf http://www.direito.ufpr.br/portal/animaiscomdireitos/wp-content/uploads/2019/06/declaracao-de-cambridge-portugues.pdf https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2018/10/DeclaracaoUniversaldosDireitosdosAnimaisBruxelas1978.pdf https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2018/10/DeclaracaoUniversaldosDireitosdosAnimaisBruxelas1978.pdf 63 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer o exame radiográfico da cabeça; • entender o exame radiográfico da coluna; • assimilar o exame radiográfico do membro torácico. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA TÓPICO 2 – EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA TÓPICO 3 – EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 64 65 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A avaliação radiográfica da cabeça é um exame desafiador. Há diferentes tipos de conformações craniais, com focinhos curtos, médios ou longos, diferentes comprimentos de maxila e mandíbula, sobreposições de diversas estruturas ósseas presentes na área, além do próprio desafio do posicionamento do paciente. Para a adequada avaliação da região, normalmente, faz-se necessária a complementação com diferentes projeções, focando em projeções específicas para avaliação de cada uma das estruturas presentes na região. Assim, uma indicação específica auxilia imensamente na realização de um exame apropriado, possibilitando um diagnóstico radiográfico. TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA 2 ANATOMIA BÁSICA Para entender melhor os nomes das projeções e o posicionamento radiográfico da parte e do paciente, é possível revisar os planos anatômicos no Tópico 1 da Unidade 1. DICAS Antes de entrarmos propriamente no posicionamento radiográfico da cabeça, relembraremos alguns dos principais ossos que utilizaremos como base para realização dos exames radiográficos (Figura 1). UNIDADE2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS 66 FIGURA 1 – ANATOMIA ÓSSEA DA CABEÇA FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) Os principais ossos que usaremos como guia para realização dos exames são a maxila, a mandíbula, o zigomático, o frontal e o occipital. Além dos ossos, extremamente importantes, existem diferentes confor- mações dos crânios caninos (Figura 2), que implicam diferentes disposições das estruturas ósseas e, portanto, diferentes necessidades de posicionamentos. FIGURA 2 – ANATOMIA ÓSSEA DA CABEÇA FONTE: <https://bit.ly/3fjoP7Q>. Acesso em: 26 abr. 2021. a a e e i i m m n n o o j j k k l l f f g g h h b b c c d d TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA 67 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS Conforme visto brevemente na anatomia do crânio, temos diferentes conformações, que implicam diferentes posicionamentos, de acordo com cada paciente. Muitas vezes, podemos realizar projeções laterolateral e dorsoventral para melhor localização anatômica, servindo como um guia radiográfico individualizado de cada paciente. Ainda é importante frisar a sobreposição óssea formada nessa área, o que dificulta ainda mais a individualização das estruturas. A fim de facilitar a compreensão, neste tópico, veremos os seguintes posicionamentos: • Projeções básicas: ○ laterolateral; ○ dorsoventral. • Para avaliação da cavidade nasal: ○ dorsoventral intraoral ou ventrorostral dorsocaudal 20° intraoral; ○ rostrocaudal. • Para avaliação das articulações temporomandibulares e bulas timpânicas: ○ laterorostral laterocaudal 20°. As principais indicações de exames radiográficos do crânio incluem as alterações em cavidades nasais e seios da face, bulas timpânicas, articulações temporomandibulares, além de indicações para avaliação de fraturas e luxações. Entretanto, existem diversos posicionamentos que podem ser realizados para avaliação das diferentes estruturas da cabeça. A seguir, veremos como realizar cada uma dessas projeções radiográficas. É necessário ressaltar que, para a realização de projeções radiográficas adequadas, precisamos de contenção química dos pacientes. No entanto, excepcionalmente, as projeções radiográficas básicas podem ser executadas sem contenção química em pacientes com redução da consciência ou quando a contenção química coloque em risco a vida do paciente. IMPORTANTE 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL Essa projeção é realizada para triagem do crânio e melhor identificação das estruturas anatômicas do crânio, possibilitando a identificação da conformação do crânio de cada paciente, bem como uma avaliação generalizada da região. UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS 68 O paciente deve ser posicionado em decúbito lateral direito, com os membros torácicos e pélvicos em posição de conforto, com suporte de almofada radiotransparente para a região cervical, auxiliando no posicionamento adequado da cabeça e evitando incidências oblíquas. A cabeça deve ficar paralela à mesa e ao filme, permitindo uma projeção com sobreposição total entre o lado direito e esquerdo do crânio. Dependendo da conformação cranial, podemos necessitar de almofadas radiotransparentes para apoio dos focinhos mais longos ou até cunhas radiotransparentes para suporte em casos de crânios mais arredondados ou focinhos curtos. Em cães de focinhos longos, cordas radiotransparentes podem ser utilizadas para assessorar o posicionamento. A colimação deve abranger todo o crânio. No sentido craniocaudal, deve abranger desde a extremidade rostral do focinho até a 2ª vértebra cervical e, no sentido dorsoventral, abrangendo a extremidade dorsal da calota craniana até a extremidade ventral da mandíbula. Devemos incluir as estruturas de tecidos moles adjacentes às estruturas ósseas do crânio, incluindo o aparelho hioide. Não é necessário incluir os pavilhões auriculares completos. O raio central deve incidir na região do osso zigomático, que pode ser palpado por formar a estrutura óssea de suporte da órbita ocular (Figura 3). Uma técnica radiográfica de alto contraste para análise das estruturas ósseas deve ser utilizada usando um baixa quilovoltagem associada a alta miliamperagem. Para um posicionamento ideal, a contenção química do paciente é indicada. Em pacientes com níveis de consciência reduzida ou com condições clínicas que impossibilitem o uso de sedativos ou anestésicos, pode-se executar o posicionamento, porém precisamos ter consciência de que um posicionamento ideal pode não ser atingido. Nesses casos, a presença do profissional ou do tutor na sala durante a realização do exame faz-se necessária, e os cuidados com a proteção das pessoas envolvidas devem ser obrigatórios, com o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e o respeito aos princípios ALARA (um acrômio para As Low As reasonable Achievable, que significa “tão baixo quanto possivelmente exequível”). Acadêmico, ao final do Tópico 3, na leitura complementar, veremos a importância dos cuidados com a radioproteção, frisando o princípio da segurança radiológica ALARA, que, em exames em que exista a emissão de radiação, visa a minimizar a exposição de todos os envolvidos durante a realização do exame, utilizando três bases: redução do tempo de exposição, distância da fonte de emissão e blindagem por meio do uso de EPIs. NOTA TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA 69 FIGURA 3 – POSICIONAMENTO LATEROLATERAL DA CABEÇA FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 18) Após a obtenção da imagem, precisamos avaliar a sua qualidade, por meio de critérios de avaliação. Toda a porção do crânio, desde a extremidade rostral do focinho até a extremidade caudal do occipital, desde a extremidade dorsal da calota craniana até a extremidade ventral da maxila, incluindo todos os tecidos moles adjacentes e o aparelho hioide, deve estar presente. A mandíbula e as bulas timpânicas devem estar sobrepostas, indicando que não houve obliquidade na aquisição da imagem. A trabeculação óssea deve ser visibilizada, indicando que a técnica de alto contraste foi utilizada na aquisição (Figura 4). FIGURA 4 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DA CABEÇA FONTE: Acervo da autora UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS 70 3.2 PROJEÇÃO DORSOVENTRAL Juntamente com a projeção laterolateral, a projeção dorsoventral é realizada para triagem do crânio com o intuito de uma avaliação generalizada da região e identificação das estruturas de cada paciente. É preferível em relação à projeção ventrodorsal pela maior facilidade de posicionamento, uma vez que o alinhamento da cabeça é mais facilmente atingido com o apoio da mandíbula sobre o filme quando comparado com o apoio da calota craniana, que tem formato arredondado ou projeção occipital mais exuberante de algumas raças. Para o posicionamento, o paciente deve estar em decúbito ventral, com os membros torácicos flexionados e voltados cranialmente, os membros pélvicos também flexionados e abdução coxofemoral – assim, a porção ventral do tórax e abdome ficará em contato com a mesa. A parte a ser examinada, a cabeça, deve ser posicionada paralelamente ao filme, com ambos os lados da mandíbula apoiadas sobre o filme. Em cães de focinhos longos, podem ser utilizadas cordas radiotransparentes e, em pacientes com a cabeça arredondada, cunhas radiotransparentes para auxiliar no alinhamento. Mais uma vez, a colimação deve abranger a cabeça por completo, desde a extremidade rostral do focinho até a 2ª vértebra cervical, palpável pelo seu processo espinhoso proeminente, e lateralmente, de uma extremidade lateral do arco zigomático até a extremidade oposta. Os tecidos moles adjacentes devem estar na área de colimação, embora não seja necessário incluir os pavilhões auriculares completos. O raio centraldeve incidir na porção central do osso frontal, dorsalmente entre os globos oculares (Figura 5). É muito importante a simetria entre os lados para avaliação adequada das estruturas. Para análise das estruturas ósseas, deve ser utilizada uma técnica radiográfica com baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem, criando uma imagem de alto contraste. A contenção química é indicada. Como visto na projeção anterior, em pacientes com níveis de consciência reduzida ou com condições clínicas que impossibilitem o uso de sedativos ou anestésicos, é possível executar o posicionamento, desde que se tenha a consciência de que um posicionamento ideal pode não ser atingido, principalmente devido à posição em que o paciente fica, em decúbito ventral, pois levantar-se fica mais fácil. Nesses casos, a presença na sala durante a realização do exame faz-se necessária e os cuidados com a proteção das pessoas envolvidas com uso de equipamentos de proteção e o cumprimento dos princípios ALARA devem ser respeitados. TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA 71 FIGURA 5 – POSICIONAMENTO DORSOVENTRAL DA CABEÇA FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 29) Com a imagem obtida, avaliaremos a sua qualidade utilizando os critérios de avaliação. A cabeça, desde a extremidade rostral do focinho até a 2ª vértebra cervical, sem sentido rostrocaudal e as extremidades laterais dos arcos zigomáticos direito e esquerdo devem estar presentes em sentido laterolateral. Os corpos mandibulares e os arcos zigomáticos devem estar simétricos, assim como as cavidades nasais direita e esquerda, visibilizando o osso vômer na porção central, dividindo-as. Devemos observar a trabeculação óssea, o que indica que a técnica de alto contraste foi utilizada na aquisição (Figura 6). FIGURA 6 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA DORSOVENTRAL DA CABEÇA FONTE: Acervo da autora UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS 72 3.3 PROJEÇÃO DORSOVENTRAL INTRAORAL DA MAXILA A projeção radiográfica dorsoventral intraoral da maxila pode ser utilizada para avaliação das cavidades nasais em suspeitas clínicas, como processos infecciosos, neoplásicos, corpos estranhos e fraturas. Contudo, essa projeção só pode ser utilizada em pacientes com focinho longo. Para casos de focinho curto, a projeção deve ser feita com o paciente posicionado em decúbito ventral, conforme relatamos na projeção dorsoventral da cabeça, com os membros torácicos e pélvicos flexionados e a porção ventral do tórax e o abdome em contato com a mesa de exames. O filme deve ser posicionado obliquamente dentro da boca do paciente, de forma que a quina do filme esteja direcionada em sentido à orofaringe. A maxila deve ficar paralela ao filme, que, por sua vez, deve estar paralelo à mesa de exame. Dessa forma, obteremos uma projeção isolada da maxila, sem a sobreposição da porção ventral da cabeça, incluindo a mandíbula, possibilitando uma avaliação mais precisa das cavidades nasais. A área abrangida pelo exame deve conter desde a extremidade rostral do focinho até a orofaringe, onde a quina do filme estará localizada. Lateralmente, devemos abranger de uma extremidade lateral da maxila a outra. É importante que os tecidos moles, que formam o plano nasal, estejam contidos no exame. O raio central deve incidir no terço médio da maxila, podendo usar, como pontos de referência, a extremidade rostral do focinho e as órbitas oculares (Figura 7). No- vamente, a simetria entre a cavidade nasal direita e esquerda deve estar presente. A técnica de baixa quilovoltagem e alta miliamperagem será utilizada, proporcionando o contraste necessário para a avaliação radiográfica adequada das estruturas ósseas. A contenção química é imprescindível para a realização desse exame, uma vez que o filme deverá ser posicionado dentro da boca do paciente, o que não será possível sem o uso de sedativos ou anestésicos. Devemos estar atentos à passagem de ar no posicionamento do filme, de forma que a quina do filme não pressione a nasofaringe, obstruindo-a. Caso seja necessária a presença de algum profissional durante o exame, devemos zelar pela proteção radiológica dos envolvidos com uso dos EPIs adequados e preservação dos princípios ALARA. TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA 73 FIGURA 7 – POSICIONAMENTO DORSOVENTRAL INTRAORAL DA MAXILA FONTE: Schebitz; Wilkens (2000) Uma vez realizada a radiografia, devemos avaliar a qualidade da imagem obtida usando os critérios de avaliação como referência. Assim, a maior parte possível da maxila deve estar presente, desde a extremidade rostral do focinho, incluindo os tecidos moles que formam o plano nasal, até a porção caudal da maxila, na região dos dentes pré-molares ou molares. As extremidades laterais direita e esquerda da maxila rostral devem estar contidas na imagem. A simetria entre as cavidades nasais deve ser objetivada, possibilitando a avaliação adequada. As conchas etmoidais devem estar visíveis, quando normais, determinando o uso adequado da técnica radiográfica (Figura 8). FIGURA 8 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA DORSOVENTRAL INTRAORAL DA MAXILA FONTE: Acervo pessoal do autor UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS 74 3.4 PROJEÇÃO VENTROROSTRAL-DORSOCAUDAL 20° INTRAORAL A projeção radiográfica vista anteriormente é utilizada para a avaliação das cavidades nasais em cães de focinhos longos. Nesse momento, conheceremos a projeção radiográfica utilizada na avaliação da cavidade nasal em cães de focinhos curtos ou em gatos. Para isso, como não será possível obter uma imagem de qualidade com o uso do filme intraoral, deve-se utilizar uma projeção oblíqua: a ventrorostral-dorsocaudal 20° intraoral. Assim, conseguiremos uma projeção da maior parte da maxila sem a sobreposição das estruturas ventrais, incluindo a mandíbula. Devemos iniciar o exame posicionando o paciente em decúbito dorsal, estendendo a região cervical e a cabeça, de forma a manter a coluna vertebral paralela à mesa de exame. Para um alinhamento ideal, pode ser necessário o uso de cunhas ou calhas para suporte ao corpo do paciente. Os membros torácicos devem ser mantidos em sentido caudal, estendidos ou flexionados. Os membros pélvicos podem permanecer flexionados com abdução das coxofemorais, contribuindo para o equilíbrio do corpo do paciente em decúbito dorsal. A cabeça deverá ser posicionada estendida, de forma que a maxila perma- neça paralela à mesa de exame. O filme será posicionado sobre a mesa, abaixo da maxila. A mandíbula, com o auxílio de um abre-bocas ou cordas radiotransparen- tes, deve ser aberta e tracionada em sentido caudal, removendo a sobreposição das estruturas ventrais da cabeça. Calhas e almofadas radiotransparentes podem ser utilizadas para auxiliar no posicionamento lateral da cabeça e no paralelismo da maxila. A ampola radiográfica deve ser inclinada a 20°. A colimação, como na projeção anterior, deve abranger desde a extremidade dos tecidos moles rostrais, que formam o plano nasal, até a porção caudal da maxila, onde ficam os dentes molares. As extremidades laterais da maxila devem estar presentes no exame. O raio central deve incidir no terço médio da maxila, região dos dentes pré-molares (Figura 9). Novamente, a simetria entre as cavidades nasais direita e esquerda deve ser almejada. A técnica de alto contraste radiográfico, com baixa quilovoltagem e alta miliamperagem deve ser utilizada mais uma vez, obtendo uma imagem ideal para análise das estruturas ósseas que compõem a porção rostral da cabeça. Para que o posicionamento adequado seja obtido, a contenção química do paciente torna-se imprescindível, uma vez que o paciente não permitirá o posicionamento descrito com a simetria necessária. De forma a manter todas as estruturas posicionadas no local desejado, pode haver a necessidade da presençade um profissional durante a realização do exame. Assim, a preservação dos princípios ALARA e o uso dos EPIs são indispensáveis. TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA 75 FIGURA 9 – POSICIONAMENTO VENTROROSTRAL-DORSOCAUDAL 20° INTRAORAL DA MAXILA FONTE: Thrall (2018, p. 143) Uma vez feito o posicionamento adequado e obtida a imagem, avaliaremos a qualidade da projeção utilizando os critérios de avaliação. A imagem deve abranger desde a extremidade rostral dos tecidos moles, que formam o plano nasal, até a porção caudal da maxila, abrangendo os dentes molares. Lateralmente, deve conter as extremidades laterais da maxila. O adequado é que haja simetria entre as cavidades nasais direita e esquerda na projeção. As conchas nasais devem ser visibilizadas, indicando que a técnica radiográfica para avaliação óssea foi utilizada adequadamente (Figura 10). FIGURA 10 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTROROSTRAL-DORSOVENTRAL 20° INTRAORAL DA MAXILA FONTE: Acervo da autora UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS 76 3.5 PROJEÇÃO ROSTROCAUDAL Com o intuito de avaliar os seios frontais, a projeção rostrocaudal pode ser utilizada, auxiliando radiograficamente, casos de suspeitas de processos infecciosos, neoplásicos ou presença de corpos estranhos. Contudo, essa projeção auxilia mais pacientes de focinho longo, devido a sua conformação craniana. O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal, podendo-se utilizar cunhas ou calhas radiotransparentes para auxiliar no posicionamento ideal. Os membros torácicos devem ser tracionados caudalmente, paralelos ao corpo do paciente. Já os membros pélvicos estarão flexionados com abdução coxofemoral. A cabeça será posicionada perpendicularmente à mesa, usando a porção ventral dos corpos mandibulares como referência para atingir a angulação ideal da cabeça. Uma almofada radiotransparente pode auxiliar oferecendo suporte para a porção dorsal do crânio. Uma corda radiotransparente ao redor do focinho pode oferecer sustentação, evitando rotações laterais. A colimação deve abranger, no sentido dorsoventralmente, desde a extre- midade dorsal do crânio até a borda dorsal da maxila e, laterolateralmente, deve abranger de uma extremidade a outra do crânio. O raio central deve incidir no ponto central, entre os olhos. O máximo de simetria deve ser objetivado (Figura 11). A técnica adequada para avaliação de estruturas ósseas, de baixa quilovoltagem e alta miliamperagem, deve ser utilizada proporcionando um contraste adequado para a avaliação da trabeculação óssea dos seios frontais. Para o posicionamento adequado, a contenção química do paciente geralmente é necessária. Durante a flexão da cabeça, de forma a atingir a angulação ideal de 90°, com o paciente sedado ou anestesiado, pode ocorrer obstrução das vias respiratórias, portanto, especial atenção deve ser dada a esse quesito durante a realização do exame. Atingir todos esses fatores pode tornar necessária a presença de um profissional na sala de exame durante sua execução, assim, o uso adequado dos EPIs e o respeito aos princípios ALARA devem ser considerados. FIGURA 11 – POSICIONAMENTO ROSTROCAUDAL PARA OS SEIOS FRONTAIS FONTE: Thrall (2018, p. 138) TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA 77 Após o exame realizado, devemos analisar a imagem obtida através dos critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir desde a extremidade dorsal do crânio até a margem dorsal da maxila, abrangendo de uma extremidade lateral a outra. O máximo de simetria deve ser objetivado para proporcionar uma imagem de qualidade para a interpretação radiográfica. A trabeculação óssea, internamente aos seios, deve ser visibilizada nas imagens, mostrando que a técnica para avaliação óssea foi adequadamente utilizada no exame (Figura 12). FIGURA 12 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA ROSTROCAUDAL DOS SEIOS FRONTAIS FONTE: Acervo da autora 3.6 PROJEÇÃO LATEROROSTRAL-LATEROCAUDAL 20° Para avaliação das bulas timpânicas e articulações temporomandibulares, precisamos de uma projeção oblíqua, removendo a sobreposição de um lado a outro. Com uma mesma projeção, podemos visibilizar ambas as estruturas, porém, devemos lembrar que existem diferentes conformações cranianas, implicando diferentes angulações. Cada lado será avaliado isoladamente, portanto, é importante estar atento ao lado que será examinado ou ainda realizar projeções que possibilitem a avaliação de ambos os lados, quando assim for solicitado. O decúbito do paciente será lateral com o lado de interesse dependente, ou seja, o lado a ser examinado deve estar em contato com a mesa de exame. Por exemplo: para avaliação da bula timpânica e da articulação temporomandibular esquerda, o decúbito deverá ser lateral esquerdo e vice-versa. Os membros torácicos e pélvicos podem ficar em posição de conforto ao paciente. Devemos tomar cuidado para que não haja rotações laterais do tórax e do pescoço. Para dar suporte à coluna cervical, é possível utilizar almofadas radiotransparentes, evitando desvio em sentido caudal da cabeça. UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS 78 Com o paciente alinhado, posicionamos a cabeça mantendo o paralelismo entre os corpos mandibulares e elevamos o focinho em um ângulo entre 10 e 30°. Dessa forma, a bula timpânica e a articulação temporomandibular, que estão em contato com a mesa, ou seja, dependentes, serão deslocadas em sentido rostral e as contralaterais, em sentido caudal. Assim, a sobreposição das estruturas será desfeita. A angulação do focinho poderá ser realizada com uso de cunhas ou cordas radiotransparentes, porém o ângulo indicado entre 10 e 30° pode não ser preciso, pois haverá variação de acordo com o formato da cabeça do paciente. A área de colimação deve abranger, rostralmente, desde o terço rostral do arco zigomático, até, caudalmente, o occipital. Dorsalmente, o arco zigomático pode ser usado como referência e, ventralmente, a mandíbula. O raio central deve incidir dorsalmente ao processo angular da mandíbula, que pode ser palpável na extremidade caudoventral do osso (Figura 13). Uma técnica radiográfica com aplicação de baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem, para análise das estruturas ósseas, criando uma imagem de alto contraste, deve ser utilizada. A contenção química é indicada. Contudo, por se tratar de um posicionamento laterolateral, que tende a ser mais confortável ao paciente e, com uma leve angulação da cabeça, que pode ser executada com almofadas ou cunhas, um paciente com temperamento mais tranquilo pode permitir o posicionamento sem uso de sedativos ou anestésicos. Se a presença na sala, durante a realização do exame, for necessária, os cuidados com uso de equipamentos de proteção das pessoas envolvidas e o comprimento dos princípios ALARA serão obrigatórios. FIGURA 13 – POSICIONAMENTO LATEROROSTRAL LATEROCAUDAL 20° FONTE: Thrall (2018, p. 141) TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DA CABEÇA 79 Uma vez realizado o posicionamento e obtida a imagem, devemos analisar a sua qualidade com o uso dos critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir o processo zigomático dorsal rostralmente, o osso occipital caudalmente e a porção caudal da mandíbula, ventralmente. Deve-se visibilizar a bula timpânica e a articulação temporomandibular de interesse, sem sobreposições das estruturas contralaterais. Uma boa definição das estruturas ósseas indica o uso adequado da técnica radiográfica (Figura 14). FIGURA 14 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROROSTRAL LATEROCAUDAL 20° DIREITA FONTE: Acervo da autora 80 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A projeção laterolateral do crânio pode ser utilizada para avaliação de triagem, abrangendo todo o crânio, tecidos moles adjacentes e aparelho hioide, com sobreposiçãodas mandíbulas e bulas timpânicas e boa definição óssea através da técnica de alto contraste. • Na projeção dorsoventral, ortogonal à projeção laterolateral, deve-se abranger toda a cabeça, incluindo os tecidos moles, mantendo as mandíbulas paralelamente ao filme, para obter uma projeção com simetria entre mandíbulas, arcos zigomáticos e cavidades nasais, usando uma técnica para avaliação óssea. • Para avaliação radiográfica das cavidades nasais de cães de focinho longo, a projeção dorsoventral intraoral da maxila pode ser utilizada, com uso do filme posicionado obliquamente na cavidade oral, mantendo-o paralelo à maxila, a qual deve estar paralela à mesa, preservando a simetria entre os lados e a visibilização das conchas etmoidais com o uso da técnica radiográfica adequada. • Em cães de focinho curto e gatos, para avaliação adequada das cavidades nasais, utilizaremos a projeção ventrorostral-dorsocaudal 20° intraoral da maxila, em que iremos posicionar o paciente em decúbito dorsal, com a cabeça estendida, e a mandíbula aberta, incidindo o raio central obliquamente a 20° no terço médio da maxila intraoral, obtendo uma imagem simétrica das cavidades nasais, des- de e focinho até os dentes molares, com técnica radiográfica de alto contraste. • A projeção rostrocaudal é utilizada para avaliação dos seios frontais, com o paciente em decúbito dorsal, e a cabeça flexionada perpendicularmente à mesa de exame, avaliando desde a porção dorsal do crânio até a margem caudal da maxila, centralizando a incidência do raio entre os olhos do paciente, gerando uma imagem com o máximo de simetria possível, com a visibilização da trabeculação óssea interior ao seio frontal, mostrando que a técnica radiográfica ideal foi utilizada. • A projeção radiográfica laterorostral laterocaudal 20° é utilizada para avaliação da bula timpânica e da articulação temporomandibular sem a sobreposição das estruturas contralaterais; para atingir esse objetivo, o paciente deve ser colocado em decúbito lateral com o lado de interesse em contato com a mesa, e a ponta do focinho será inclinada entre 10 a 30°, de acordo com a conformação da cabeça, abrangendo desde o arco zigomático até o occipital e a porção caudal da mandíbula, centralizando a incidência do raio dorsalmente ao processo angular da mandíbula e criando uma imagem das estruturas a serem avaliadas sem sobreposições e com boa definição óssea. 81 1 Paciente canino, com trauma craniano após um atropelamento, foi encaminhado ao setor de imagem para realização de exame radiográfico da cabeça. A respeito da radiografia do crânio, analise as proposições a seguir: I- As projeções radiográficas dorsoventral e laterolateral da cabeça auxi- liam na avaliação geral, uma vez que diferentes conformações da cabeça podem existir nas diferentes raças. II- A realização da projeção dorsoventral é preferível em relação à ventrodor- sal, pela facilidade em realizar o posicionamento preservando a simetria. III- Os exames radiográficos do crânio devem ser realizados, preferencial- mente, com contenção química, para facilitar o posicionamento ideal. IV- Na projeção laterolateral do crânio, as mandíbulas devem estar sobrepostas, bem como as bulas timpânicas, para que o posicionamento seja considerado ideal. V- A projeção dorsoventral deve ser realizada com o paciente em decúbito dorsal e o osso occipital deve estar paralelo ao filme. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a proposição I está correta. b) ( ) Somente a proposição V está errada. c) ( ) As proposições I e II estão corretas. d) ( ) As proposições I e III estão corretas. e) ( ) As proposições IV e V estão incorretas. 2 Um paciente canino, raça Bulldog Francês (que apresenta o focinho curto), de 5 anos de idade, foi encaminhado ao setor de radiologia para avaliação radiográfica da cavidade nasal. Uma das posições radiográficas realizadas foi a ventrorostral-dorsocaudal 20°, conforme mostra a figura a seguir: AUTOATIVIDADE FONTE: Thrall (2018, p. 143) 82 Considerando o exame radiográfico apresentado, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Para a realização da projeção ventrorostral dorsoventral 20°, o paciente deve estar em decúbito dorsal e a maxila deve estar paralela ao filme. ( ) Além da projeção mostrada, projeções laterolateral e dorsoventral da cabeça podem auxiliar na avaliação do paciente. ( ) Nesse paciente, é obrigatória a realização de uma projeção rostrocaudal para avaliação do seio frontal. ( ) A anestesia é necessária para a realização adequada dessa projeção radiográfica. ( ) No caso de pacientes com focinho curto, a projeção dorsoventral intraoral da maxila também pode ser utilizada. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – V – F. b) ( ) V – V – F – V – V. c) ( ) V – V – F – F – F. d) ( ) V – V – F – V – F. e) ( ) F – V – F – V – F. 3 Um paciente felino, sem raça definida (SRD), foi encaminhado para realização de radiografia de crânio, após sofrer um trauma por queda do 4º andar do prédio onde reside. Ele foi acompanhado do médico veterinário anestesista, para realização de sedação e correto posicionamento para o exame. A projeção radiográfica obtida pode ser vista na figura a seguir: FONTE: Acervo da autora Com relação ao exame radiográfico do crânio, assinale a alternativa CORRETA: 83 a) ( ) A imagem corresponde à projeção radiográfica para avaliação do seio frontal. b) ( ) A projeção para avaliação das estruturas ósseas deve utilizar uma técnica de baixo contraste, para podermos realizar uma avaliação adequada. c) ( ) A projeção tem o objetivo de avaliar lesões em tecidos moles do focinho. d) ( ) Trata-se de uma projeção rostrocaudal. e) ( ) É uma imagem radiográfica que tem o objetivo de avaliar a bula timpânica e a articulação temporomandibular. 84 85 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O exame radiográfico da coluna é utilizado frequentemente na medicina veterinária. Isso se deve ao fato de haver muitos casos de dor e alterações neurológicas no atendimento da rotina clínica. No entanto, o exame radiográfico tem uma série de limitações, tornando constante a indicação de tomografia computadorizada e ressonância magnética. Contudo, em muitos lugares, esses exames não são acessíveis, seja por ausência de equipamentos ou por seu alto custo. Nesses casos, os exames radiográficos são indicados na tentativa de se chegar a um diagnóstico e, para maximizar as chances, deve ser obtido o correto posicionamento e realizada a adequada técnica. TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 2 ANATOMIA BÁSICA Para entender melhor os nomes das projeções e o posicionamento radiográfico da parte e do paciente, é possível revisar os planos anatômicos do Tópico 1 da Unidade 1. DICAS Antes de entrarmos propriamente na realização dos exames da coluna, relembraremos a fórmula anatômica das vértebras da coluna de cães e gatos (Figura 15). 86 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 15 – ANATOMIA DA COLUNA VERTEBRAL FONTE: Adaptada de <https://www.ortocanis.com/pt/content/a-mielografia-no-cao>. Acesso em: 28 abr. 2021. Precisamos lembrar que temos dois tipos de divisão da coluna vertebral: • Com base na anatomia óssea, divide-se a coluna em sete vértebras cervicais, 13 torácicas, sete lombares, três sacrais fusionadas e um número variável de vértebras caudais. • Quando levamos em consideração o exame neurológico realizado no paciente, com base na divisão neurofuncional, tem-se: o segmento cervical (abrangendo as vértebras cervicais de C1 até C5), o segmento cervicotorácico (iniciando na vértebra cervical C6 atéa vértebra torácica T2), o segmento toracolombar (contemplando desde a vértebra torácica T3 até a vértebra lombar L3) e o segmento lombossacro (desde a vértebra lombar L4 até o sacro caudal em S3). Isso é importante porque poderemos ter solicitações de exames com base em ambas as divisões da coluna cervical. Não podemos esquecer que, no interior da proteção óssea da coluna vertebral, temos a passagem da medula espinhal, estrutura muito sensível e responsável pela manutenção de funções vitais e locomotoras ao organismo do paciente. IMPORTANTE TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 87 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS Os exames radiográficos da coluna serão realizados sempre em duas projeções ortogonais: uma em incidência ventrodorsal e outra em incidência laterolateral. Parece simples, mas precisamos entender um ponto importante de avaliação dos exames de coluna: são os espaços intervertebrais, nos quais ficam os discos intervertebrais. As mais discretas alterações neles podem indicar patologias na coluna vertebral (Figura 16). FIGURA 16 – CORTE ANATÔMICO SAGITAL DA COLUNA VERTEBRAL LOMBAR (A); PROJEÇÃO LATEROLATERAL DA COLUNA LOMBAR (B). AS SETAS DEMONSTRAM O ESPAÇO INTERVERTEBRAL, ONDE FICA O DISCO INTERVERTEBRAL FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011); acervo pessoal da autora Com base nisso, temos dois pontos de grande cuidado na realização dos exames de coluna: o posicionamento de toda a coluna deve ser alinhado e a centralização do feixe de raios X na região de maior interesse. O alinhamento da coluna, como um todo, facilita o posicionamento da parte a ser avaliada, reduzindo as chances de rotações ou desníveis no canal ver- tebral. Para isso, é necessário atentar ao fato de haver duas regiões de estreita- mento dos tecidos moles adjacentes à coluna, uma na região cervical e outra na região lombar. Para compensar essas diferenças, almofadas radiotransparentes podem ser utilizadas para auxiliar no alinhamento da coluna vertebral inteira (Figura 17). 88 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 17 – POSICIONAMENTO DA COLUNA PARA ALINHAMENTO ADEQUADO FONTE: Thrall (2018, p. 147) Outro fator importante a ser considerado é a centralização adequada do feixe de raios X, uma vez que, ao sair da ampola em sentido divergente, as estruturas localizadas lateralmente na imagem sofrerão distorções, devido à incidência oblíqua do raio sobre elas. Como visto anteriormente, precisamos de uma incidência perpendicular, a fim de obter a imagem adequada para a avaliação dos espaços intervertebrais (Figura 18). FIGURA 18 – INCIDÊNCIA DOS RAIOS X DIVERGENTES SOBRE A COLUNA FONTE: Thrall (2018, p. 148) Essa incidência oblíqua sobre as vértebras provoca uma imagem sobreposta ao espaço intervertebral, conforme direcionamos em sentido as extremidades da imagem obtida, impossibilitando a sua avaliação adequada (Figura 19). TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 89 FIGURA 19 – A IMAGEM RADIOGRÁFICA MOSTRA O EFEITO DA INCIDÊNCIA DIVERGENTE DOS RAIOS SOBRE OS ESPAÇOS INTERVERTEBRAIS (SETAS AMARELAS), CONFORME OBSERVAMOS A COLUNA EM SENTIDO CAUDAL FONTE: Acervo da autora Diante dessas informações, a identificação da região a ser avaliada radiograficamente, bem como a atenção durante a execução do exame, é imprescindível para obtermos uma imagem de qualidade. As principais indicações de exames radiográficos da coluna incluem as suspeitas de doenças de disco, incluindo as hérnias de disco, fraturas, luxações, processos infecciosos e neoplásicos e até malformações. Nos casos suspeitos de doença de disco intervertebral, a contenção química dos pacientes é fortemente indicada, permitindo um relaxamento da musculatura paravertebral e uma avaliação mais precisa dos espaços intervertebrais. IMPORTANTE 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL A projeção laterolateral deve ser realizada em qualquer segmento da coluna. A coluna cervical é um posicionamento mais específico. As demais regiões da coluna terão o mesmo posicionamento, mudando apenas a área de incidência do raio central. 90 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS Acadêmico, lembra que falamos que precisamos alinhar a coluna completa para um exame ideal? Por isso, é possível! INTERESSANTE O paciente será posicionado em decúbito lateral direito, com a coluna cervical, torácica e lombar na posição anatômica. Como já visto, o uso de almofadas radiotransparentes será importante para o alinhamento adequado das regiões cervicais e lombar. Podem ser necessárias, ainda, cunhas radiotransparentes para dar suporte à região do esterno, impedindo a rotação do tórax e, consequentemente, da coluna torácica. Na posição anatômica em estação do paciente, os membros torácico e pélvico também não se tocam, sendo, assim, para dar suporte aos membros não dependentes, almofadas podem ser necessárias, evitando mais uma vez a rotação do tronco do paciente, bem como o uso de apoios para o focinho, no caso de cães de focinhos longos, ou cunhas para os cães de cabeça mais arredondada. Esses cuidados com o posicionamento do paciente deverão ser tomados toda vez que uma projeção laterolateral da coluna for obtida. Independentemente da região da coluna a ser radiografada, o alinhamento vertebral ideal só será obtido se todo o corpo do paciente estiver alinhado – o que muda é o ponto de incidência do raio central e as poucas adaptações para a coluna cervical. ATENCAO Para o posicionamento da coluna cervical, esta deve ser centralizada com o corpo do paciente em sentido oblíquo sobre a mesa de exame. A cabeça pode ser flexionada em um ângulo perpendicular à coluna e tracionada em sentido cranial. Os membros torácicos devem ser tracionados levemente em sentido caudal. A área de colimação deve abranger desde o occipital até a vértebra torácica T3. O limite dorsal dos tecidos moles cervicais deve ser considerado, bem como o limite ventral deles. A sobreposição dos processos transversos da coluna deve ser objetivada. O raio central deve estar no terço médio da região cervical (Figura 20). TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 91 FIGURA 20 – POSICIONAMENTO LATEROLATERAL DA COLUNA CERVICAL FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 41) Para pacientes com suspeitas de malformações cervicais ou instabilidades na coluna cervical cranial, o mesmo posicionamento deve ser feito, porém, não deve ser realizada flexão cervical perpendicular à coluna. A cabeça deve ficar na posição anatômica do paciente, impedindo compressões ao feixe medular. ATENCAO Na projeção laterolateral dos demais segmentos da coluna, esta deve estar centralizada na mesa de exame e paralelamente a ela. Os membros torácicos devem ser levemente tracionados. Projeções radiográficas em expiração devem ser obtidas preferencialmente, uma vez que essa é a fase mais longa da respiração, evitando artefatos de movimento. A área de colimação deve respeitar o segmento a ser radiografado. No caso do segmento torácico, a colimação deve iniciar na extremidade cranial, usando a entrada do tórax como referência e a última costela como limite caudal. No segmento toracolombar, a colimação deve iniciar na vértebra torácica T2 e finalizar na vértebra lombar L4, usando os processos espinhosos e as costelas como pontos de referência para a contagem vertebral. Para o segmento lombar, a colimação inicia-se na última vértebra torácica, usando a costela como ponto de referência e estendendo-se até a 1ª vértebra sacral, usando a margem caudal da asa ilíaca como ponto de palpação. Já no segmento lombossacro, a colimação começa na vértebra lombar L3, usando o processo espinhoso como referência para a contagem e estendendo-se até a margem caudal das articulações coxofemorais. O raio central deve ser posicionado ao terçomédio da porção da coluna a ser radiografada em cada segmento (Figura 21). 92 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 21 – POSICIONAMENTO LATEROLATERAL DA COLUNA TORACOLOMBAR FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 48) Uma técnica radiográfica de alto contraste para análise das estruturas ósseas deve ser utilizada, usando baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem. Para um posicionamento ideal, a contenção química do paciente é indi- cada, pois se torna ainda mais importante para suspeitas clínicas de doenças ou hérnias de disco, uma vez que o relaxamento da musculatura paravertebral per- mite uma correta avaliação dos espaços intervertebrais. Em pacientes com níveis de consciência reduzida ou com condições clínicas que impossibilitem o uso de sedativos ou anestésicos, pode-se executar o posicionamento, porém, precisamos ter consciência de que um posicionamento ideal pode não ser atingido. Nesses casos, a presença na sala durante a realização do exame faz-se necessária e os cuidados com a proteção das pessoas envolvidas com uso de equipamentos de proteção individual e o respeito aos princípios ALARA devem ser obrigatórios. Depois de feita a obtenção da imagem, é de grande importância que se faça a avaliação da sua qualidade pelos critérios de avaliação. Para a coluna cervical, a área demonstrada deve incluir desde o osso occipital do crânio até a vértebra torácica T3, incluindo os tecidos moles adjacentes ventral e dorsalmente. O posicionamento ideal deve ter como alvo, o máximo de sobreposição entre os processos transversos, principalmente os processos transversos das vértebras cervicais C1 e C6, já que são mais proeminentes. A trabeculação óssea deve ser visibilizada, indicando que a técnica de alto contraste foi utilizada na aquisição (Figura 22). TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 93 FIGURA 22 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DA COLUNA CERVICAL FONTE: Acervo da autora FONTE: Acervo da autora Da mesma forma, depois de obtidas as imagens dos demais segmentos da coluna, deve-se analisar a qualidade da imagem por meio dos critérios de avaliação, no sentido de como devem ficar as imagens da coluna toracolombar, lombar e lombossacra. Para a coluna toracolombar, a área demonstrada deve incluir desde a vértebra torácica T2 até a vértebra lombar L4 (Figura 23). O posicionamento ideal deve ter como alvo o máximo de sobreposição entre os processos transversos, evitando-se a sobreposição dos arcos costais sobre o canal vertebral, embora, em algumas raças que possuem tórax em formato arredondado, a sobreposição seja inevitável (Figura 24). A trabeculação óssea deve ser visibilizada, indicando que a técnica de alto contraste foi utilizada na aquisição. FIGURA 23 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DA COLUNA TORACOLOMBAR 94 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 24 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DA COLUNA TORACOLOMBAR COM AMPLIAÇÃO DA SOBREPOSIÇÃO DAS COSTELAS (SETAS) E DO CANAL VERTEBRAL (PONTILHADOS), QUE DEVE SER EVITADA FONTE: Acervo da autora FONTE: Acervo da autora Na avaliação da imagem da coluna lombar, a área demonstrada deve incluir desde a última vértebra torácica T13, usando-se a última costela como ponto de referência, até a margem caudal da asa ilíaca. O posicionamento ideal deve ter como alvo o máximo de sobreposição entre os processos transversos, como nos demais segmentos da coluna. A trabeculação óssea deve ser visibilizada, indicando que a técnica de alto contraste foi utilizada na aquisição (Figura 25). FIGURA 25 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DA COLUNA LOMBAR TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 95 FONTE: Acervo da autora Para obtenção de uma imagem radiográfica de qualidade da coluna lombossacra, a área demonstrada deve incluir desde vértebra lombar L3 até as articulações coxofemorais. O posicionamento ideal deve ter como alvo o máximo de sobreposição entre os processos transversos e entre as asas ilíacas. A trabeculação óssea deve ser visibilizada indicando que a técnica de alto contraste foi utilizada na aquisição (Figura 26). FIGURA 26 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DA COLUNA LOMBOSSACRA 3.2 PROJEÇÃO VENTRODORSAL Com relação à projeção ventrodorsal da coluna, novamente, o alinhamento de todo o paciente será imprescindível para aquisição de uma imagem de qualidade, o que possibilitará a avaliação adequada da coluna, exatamente como vimos no posicionamento laterolateral. Pequenos ajustes para o posicionamento na coluna cervical serão necessários, mas a essência do exame será a mesma. O paciente deverá ser posicionado em decúbito dorsal, ou seja, com a porção ventral do abdome voltada para cima. O alinhamento da coluna deve ser feito em sentido longitudinal da mesa de exame, objetivando a sobreposição entre o esterno e a coluna. Pacientes que tenham o dorso mais achatado, aqueles com tórax arredondado ou, em alguns casos, que estejam acima do peso serão posicionados mais facilmente em decúbito ventral. Já os pacientes com o tórax mais alongado ou pacientes muito magros podem necessitar de suportes laterais para evitar a rotação lateral do tórax. Calhas radiotransparentes podem ser utilizadas para sustentação lateral, bem como cunhas radiotransparentes. É importante que toda a coluna esteja alinhada e, para avaliarmos esse alinhamento, podemos traçar uma linha imaginária desde a ponta do focinho até a cauda do paciente, e toda a coluna e o esterno devem estar sobre essa linha (Figura 27). 96 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 27 – ALINHAMENTO DO PACIENTE EM DECÚBITO VENTRAL, COM LINHA IMAGINÁRIA (TRACEJADO) DESDE O FOCINHO ATÉ A CAUDA FONTE: Adaptada de <https://silo.tips/downloadFile/diagnostico-dermatologico-ernesto-r- hutter-eduardo-freire>. Acesso em: 26 abr. 2021. Os membros pélvicos serão posicionados em abdução, com flexão dos joelhos, auxiliando na estabilidade lateral do paciente, ou também podem ser tracionados caudalmente, dependendo da melhor adaptação do paciente à posição. Como vimos no posicionamento laterolateral, independentemente da região da coluna a ser radiografada, o alinhamento vertebral ideal só será obtido se todo o corpo do paciente estiver alinhado – o que muda é o ponto de incidência do raio central e a pouca adaptação dos membros torácicos para a coluna cervical. ATENCAO A avaliação radiográfica da coluna cervical deve ser realizada com o paciente em decúbito ventral. A cabeça permanecerá em extensão com a porção dorsal em contato com a mesa de exame, alinhada com a coluna cervical. Os membros torácicos serão tracionados caudalmente, ou ainda, podem ser posicionados em abdução. A colimação deve abranger cranialmente desde as articulações temporomandibulares até caudalmente a articulação dos ombros. Os tecidos moles lateralmente devem ser inclusos. Um alinhamento entre a sínfise mandibular e a extremidade cranial do esterno deve ser obtido. O raio central deve incidir no terço médio da área colimada (Figura 28). TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 97 FIGURA 28 – POSICIONAMENTO VENTRODORSAL DA COLUNA CERVICAL FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 41) FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 48) Para o posicionamento ventrodorsal dos demais segmentos da coluna vertebral, o alinhamento descrito entre cabeça, coluna e cauda deve ser respeitado. Contudo, os membros torácicos serão tracionados cranialmente, paralelamente à coluna, mantendo-se o esterno sobreposto à coluna vertebral. Devido ao contato da coluna com a mesa de exame, a movimentação respiratória não causará interferência ao exame, sendo possível obter imagens em qualquer fase respiratória. A área de colimação será ajustada de acordo com o segmento da coluna a seravaliado. Para avaliação da coluna torácica, a colimação deve abranger desde a extremidade cranial do esterno até o último par de costelas. Para avaliação toracolombar, a colimação deve iniciar nos ombros e estender-se até o terço médio do abdome. Para a coluna lombar, a área deve incluir desde a última vértebra torácica T13, usando o último par de costelas como referência, até a margem caudal do abdome. Já no segmento lombossacro, a colimação cranial pode ter como referência o ponto mais caudal do último par de costelas e o púbis como referência caudal. O raio central deve ser posicionado ao terço médio da porção da coluna a ser radiografada em cada segmento (Figura 29). FIGURA 29 – POSICIONAMENTO VENTRODORSAL DA COLUNA LOMBAR 98 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS O ajuste de técnica de baixa quilovoltagem e alta miliamperagem para obtenção de imagens com alto contraste e melhor definição de estruturas ósseas deve ser feito. Para o relaxamento ideal do paciente durante o exame, principalmente em casos em que o relaxamento da musculatura paravertebral faz-se necessário para avaliação adequada dos espaços intervertebrais. Em casos de suspeita de doenças de disco ou hérnias de disco, a sedação ou a anestesia são fortemente indicadas. Ressaltando que o posicionamento ideal inclui um alinhamento de todo o paciente, o uso de contenção química torna-se ainda mais importante. Podem ocorrer situações em que o uso dos fármacos sedativos ou analgésicos não seja possível. Nesses casos, pode não ser possível atingir o posicionamento ideal, sendo necessária a contenção física durante o exame. Devemos lembrar da necessidade de serem respeitados os protocolos dos princípios ALARA e o uso correto dos EPIs nesses casos. Uma vez realizada a projeção do segmento da coluna a ser avaliada, deve-se analisar a qualidade da imagem obtida usando os critérios de avaliação descritos a seguir. Na coluna cervical, a área demonstrada deve iniciar nas bulas timpânicas até a vértebra torácica T3, incluindo os tecidos moles lateralmente. A simetria entre os processos transversos do atlas também pode ser usada para avaliação do posicionamento. A imagem deve apresentar boa definição óssea, indicando que a técnica adequada foi utilizada (Figura 30). FIGURA 30 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DA COLUNA CERVICAL FONTE: Acervo da autora TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 99 Ainda na análise da qualidade das imagens radiográficas obtidas, veremos os critérios de avaliação para os segmentos toracolombar, lombar e lombossacro. Para a coluna toracolombar, a imagem deve demonstrar desde a vértebra torácica T3 até a vértebra lombar L3 (Figura 31). Os processos espinhosos devem estar perpendiculares ao eixo da coluna vertebral, aparecendo apenas como uma marca linear. Processos espinhosos que aparecem oblíquos na imagem indicam que houve rotação do paciente e que o posicionamento não foi realizado de forma ideal (Figura 32). FIGURA 31 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DA COLUNA TORACOLOMBAR FONTE: Acervo da autora 100 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 32 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DA COLUNA COM AMPLIAÇÃO DOS PROCESSOS ESPINHOSOS (PONTILHADOS): PROCESSOS ESPINHOSOS PERPENDICULARES INDICANDO POSICIONAMENTO IDEAL (A); PROCESSOS ESPINHOSOS OBLÍQUOS INDICANDO ROTAÇÃO DO PACIENTE E POSICIONAMENTO INADEQUADO (B) FONTE: Acervo da autora FONTE: Acervo da autora Na coluna lombar, na avaliação da imagem quanto à área demonstrada, deve-se incluir desde a última vértebra torácica T13, tendo a última costela como ponto de referência até o osso do sacro. O posicionamento ideal deve ter como alvo o máximo de perpendicularidade dos processos espinhosos, como nos demais segmentos da coluna. A simetria das asas ilíacas também pode auxiliar na avaliação do posicionamento ideal. A trabeculação óssea deve ser visibilizada, indicando que a técnica de alto contraste foi utilizada na aquisição (Figura 33). FIGURA 33 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DA COLUNA LOMBAR TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DA COLUNA 101 FONTE: Acervo da autora A obtenção de uma imagem radiográfica de qualidade da coluna lombossacra pode ser avaliada quando a área abranger desde vértebra lombar L3 até o osso púbis. O posicionamento ideal novamente deve ter como alvo a perpendicularidade dos processos espinhosos e a simetria entre as asas ilíacas. A trabeculação óssea deve ser visibilizada, indicando que a técnica de alto contraste foi utilizada na aquisição (Figura 34). FIGURA 34 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DA COLUNA LOMBOSSACRA Pacientes que sofreram traumas (atropelamentos, quedas, interação negativa, alvejamento) podem ter lesões na coluna, como fraturas ou luxações. Nesses casos, é indicado o mínimo de movimentação possível; como o decúbito lateral é mais confortável para o paciente e as projeções ortogonais são de grande importância para a avaliação de desalinhamentos vertebrais, a projeção ventrodorsal pode ser obtida mantendo-o em decúbito lateral, levando o filme até à porção dorsal da coluna, perpendicularmente a ela, e inclinando a ampola do equipamento radiográfico a 90°, de forma que a incidência do raio seja a porção ventral do paciente (Figura 35). Contudo, nesse posicionamento, o alinhamento ideal da coluna pode não ser obtido, fato que é permitido para minimizar os riscos de lesão medular ao paciente. A contenção química pode ser dispensada, devido à urgência do exame, preservando-se a condição, muitas vezes instável, do paciente no momento do exame. 102 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 35 – POSICIONAMENTO VENTRODORSAL COM PACIENTE EM DECÚBITO LATERAL PARA PACIENTES TRAUMATIZADOS FONTE: Thrall (2018, p. 149) Diante das diferentes patologias que podem acometer a coluna vertebral, como doenças de disco, hérnias, malformações e traumas, antes da realização do exame radiográfico, é de grande importância identificar o paciente e estar atento às particularidades de cada indivíduo e de cada exame, obtendo imagens de qualidade e preservando a segurança do paciente. 103 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A coluna vertebral de cães e gatos possui sete vértebras cervicais, 13 vértebras torácicas, sete vértebras lombares, três vértebras sacrais e um número variável de vértebras caudais. • Além da divisão anatômica, a coluna possui uma divisão neurofuncional em cervical, cervicotorácica, toracolombar e lombossacra, regiões que também são importantes objetos de estudos radiográficos da coluna. • A avaliação radiográfica dos espaços intervertebrais é um importante ponto da interpretação das imagens obtidas, por isso o alinhamento perfeito da coluna é imprescindível, na maioria das vezes, necessitando de sedação ou anestesia do paciente. • Independentemente da projeção e da região da coluna a ser examinada, o alinhamento de toda a coluna é importante para obtenção de uma imagem de qualidade, seja com uso de almofadas ou cunhas radiotransparentes em decúbito lateral para as projeções laterolaterais ou com uso de calhas ou cunhas radiotransparentes em decúbito dorsal para as projeções ventrodorsais. • A projeção laterolateral da coluna cervical deve abranger desde o osso occipital do crânio até a vértebra torácica T3, flexionando e tracionando cranialmente a cabeça e tracionando caudalmente os membros torácicos, o que resulta em uma imagem com sobreposição dos processos transversos e com bom contraste para avaliação óssea. • A projeção laterolateral dos demais segmentos da coluna vertebral deve abranger a área indicada para sua avaliação, seja torácica, toracolombar, lombar ou lombossacra, sempre preservando o alinhamento vertebral e a sobreposição dos processos transversose a boa definição das estruturas ósseas. • Para avaliação radiográfica ventrodorsal da coluna cervical, com o paciente em decúbito dorsal, a coluna cervical deve ser mantida estendida e os membros torácicos tracionados caudalmente, obtendo uma imagem com simetria dos processos transversos do atlas e perpendicularidade dos processos espinhosos para avaliação óssea adequada. 104 • Nos demais segmentos da coluna, em projeção ventrodorsal, seja torácico, toracolombar, lombar ou lombossacro, o paciente deve ser mantido em decúbito dorsal, com alinhamento da coluna, permitindo uma imagem da região a ser avaliada com perpendicularidade dos processos espinhosos e contraste ideal para estruturas ósseas. • Devemos permanecer atentos às possíveis malformações ou traumas ocorridos na coluna, que podem indicar a necessidade de cuidados especiais na realização dos exames radiográficos. 105 1 Cães e gatos podem sofrer diferentes patologias da coluna vertebral. Para uma avaliação radiográfica de qualidade, é necessário permanecer atento à anatomia e ao posicionamento desses pacientes. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A coluna cervical dos cães possui sete vértebras cervicais e a coluna cervical dos gatos possui seis vértebras cervicais. b) ( ) A divisão neurofuncional da coluna tem o objetivo de criar mais confu- são na avaliação radiográfica da região e não possui aplicação prática. c) ( ) A realização de contenção química, anestesia, para exames radiográficos da coluna, tem o único objetivo de evitar que o paciente morda, já que o posicionamento é doloroso. d) ( ) O alinhamento da coluna é de grande importância para a obtenção de imagens radiográficas que preencham os critérios de avaliação do posicionamento ideal, em que a simetria é essencial. e) ( ) Um paciente traumatizado deve realizar o exame radiográfico da coluna, seguindo a descrição das projeções laterolateral e ventrodorsal da região sem nenhuma adaptação, para evitar o risco de agravamento de lesões. 2 Paciente canino, raça Dachshund, 12 anos de idade, foi encaminhado ao setor de radiologia para realização de exame radiográfico da coluna toracolombar. A respeito desse exame, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A coluna toracolombar compreende desde a 3ª vértebra torácica até a 7ª vértebra lombar, portanto, o exame deve compreender essa região. b) ( ) A anestesia para realização das radiografias é indicada somente em pacientes com intensa dor na região em que o exame será feito. c) ( ) As projeções que devem ser realizadas são: laterolateral e dorsoventral da coluna torácica. d) ( ) A preocupação com a instabilidade atlantoaxial deve ser considerada, devido à idade do paciente. e) ( ) O alinhamento da coluna é muito importante para manter a simetria das estruturas e adquirir imagens adequadas; para isso, podem ser utilizadas almofadas radiotransparentes ou calhas para o correto posicionamento. 3 Paciente canino, sem raça definida, 4 anos de idade, foi encaminhado ao setor de radiologia para realização de exame radiográfico da coluna. Após ter sido anestesiado, foram obtidas as devidas projeções da coluna, como mostra a figura a seguir: AUTOATIVIDADE 106 FONTE: Acervo da autora Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A imagem corresponde a uma projeção laterolateral da coluna cervical. ( ) A projeção laterolateral da coluna cervical deve compreender desde o occipital até a vértebra torácica T3. ( ) A cabeça do paciente deve ser flexionada em 90° caso haja a suspeita de malformação atlantoaxial. ( ) O posicionamento da imagem está adequado, uma vez que há perpendicularidade dos processos espinhosos na projeção obtida. ( ) O posicionamento não está adequado, já que não há sobreposição dos processos transversos das vértebras cervicais, indicando rotação do paciente. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – V – F. b) ( ) V – V – F – F – V. c) ( ) V – V – F – F – F. d) ( ) V – V – F – V – F. e) ( ) F – V – F – V – F. 107 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Exames radiográficos do membro torácico são mais comuns na medicina veterinária em ocorrências de traumatismos envolvendo casos de fraturas ou luxações. Outras patologias que afetam o membro possuem avaliação limitada pelo exame radiográfico, podendo necessitar de exames adicionais, como tomografia computadorizada, ressonância magnética, artroscopia e ultrassonografia articular. Alterações radiográficas muito sutis podem indicar patologias severas e, portanto, o posicionamento adequado sempre deve ser objetivado. TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 2 ANATOMIA BÁSICA Para entender melhor os nomes das projeções e o posicionamento radiográfico da parte e do paciente, é possível revisar os planos anatômicos no Tópico 1 da Unidade 1. DICAS O membro torácico é formato pelos ossos: escápula, úmero, rádio e ulna, ossos do carpo (carporradial intermediário, acessório, carpoulnar, 1º carpal, 2º carpal, 3º carpal e 4º carpal), metacarpos e falanges. Os principais acidentes ósseos para realização dos exames radiográficos são a cabeça e os côndilos umerais, o olecrano da ulna e o osso acessório do carpo (Figura 36). 108 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 36 – ANATOMIA DO MEMBRO TORÁCICO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) Para falarmos de posicionamento adequado, é extremamente importante lembrar que a escápula está unida ao tronco por músculos, sem formação de uma articulação convencional. Isso não deve ser esquecido, uma que vez que o movimento de abdução do membro é bastante reduzido, devido a essa união muscular, dificultando posicionamentos mediolaterais da região. Cães e gatos não possuem clavícula, porém, em alguns pacientes, podemos visualizar estruturas ósseas residuais claviculares (Figura 37). FIGURA 37 – IMAGEM RADIOGRÁFICA DA CLAVÍCULA VESTIGIAL (SETAS): CÃO (A); GATO (B) FONTE: Acervo da autora TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 109 Assim, as principais articulações de interesse radiográfico que formam o membro torácico são as articulações do ombro (escapuloumeral), do cotovelo (umerorradioulnar), do carpo, do metacarpo e das falanges. 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS A avaliação radiográfica deve ser realizada centralizando o ponto de avaliação do exame radiográfico e sempre utilizando projeções ortogonais. Em alguns casos, posições adicionais podem ser feitas de forma a complementar uma região avaliada. De maneira esquemática, o Quadro 1 apresenta uma lista das regiões a serem avaliadas no membro e os principais posicionamentos radiográficos para cada uma delas. QUADRO 1 – REGIÕES DO MEMBRO TORÁCICO E POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS Avaliação radiográfica da escápula Avaliação radiográfica do carpo Caudocranial Dorsopalmar Mediolateral Mediolateral Avaliação radiográfica do ombro Projeções adicionais do carpo Caudocranial Mediolateral com tração Mediolateral Mediolateral com rotação Avaliação radiográfica do úmero Mediolateral com pressão Craniocaudal Avaliação radiográfica dos metacarpos Mediolateral Dorsopalmar Avaliação radiográfica do cotovelo Mediolateral Craniocaudal Avaliação radiográfica das falanges Mediolateral Dorsopalmar Projeções adicionais do cotovelo Mediolateral Craniocaudal oblíqua Projeções adicionais das falanges Mediolateral flexionada Mediolateral com afastamento Avaliação radiográfica do rádio e da ulna Craniocaudal Mediolateral FONTE: A autora 110 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS As principais indicações de exames radiográficos do membro torácico incluem doenças articulares ou tendinopatias do ombro, displasia do cotovelo e doenças ligamentares ou articularesdo carpo, além fraturas e luxações em diversos pontos do membro. Neste tópico, será abordada a avaliação radiográfica de ombro, cotovelo e carpo. As demais projeções listadas podem ser adaptadas a partir do conhecimento dessas avaliações, a partir do ajuste da área de colimação e da incidência do raio central. Não podemos esquecer que, diferentemente dos seres humanos, cães e gatos apoiam-se sobre as falanges. ATENCAO 3.1 PROJEÇÃO MEDIOLATERAL DO OMBRO Essa projeção do ombro pode ser utilizada para avaliação da articulação do ombro em casos de suspeitas de doenças tendíneas ou articulares. O paciente deve ser posicionado em decúbito lateral com o membro a ser avaliado em contato com a mesa de exame, portanto, caso o ombro direito seja objeto do exame, o decúbito será lateral direito e, caso o ombro esquerdo seja avaliado, o decúbito será lateral esquerdo, a fim de possibilitar que a articulação esteja mais próxima do filme, evitando distorções. O membro torácico contralateral deve ser tracionado caudalmente, evitando-se a sobreposição dos membros. Ainda devemos rotacionar levemente o tórax em direção ao membro contralateral, cerca de 20 a 30°, evitando a sobreposição do esterno com a articulação a ser avaliada, uma vez que a abdução do membro é bastante limitada. Deve-se cuidar com a rotação excessiva do tórax, que pode fazer com que o ombro se afaste do filme. O membro avaliado deve ser mantido na posição anatômica ou tracionado levemente em sentido cranial, o que significa que haverá leve flexão do ombro. A colimação deve abranger desde o terço médio da escápula, sendo possível utilizar a primeira vértebra torácica como ponto de referência, estendendo-se em sentido distal, até o terço médio do úmero. Os tecidos moles adjacentes, em sentido cranial e caudal do membro, devem ser abrangidos pela área colimada. O raio central deve ser localizado sobre a área articular do ombro (Figura 38). TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 111 Uma técnica radiográfica de alto contraste para análise das estruturas ósseas deve ser utilizada usando baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem. A contenção química do paciente pode ser necessária em alguns pacientes, dependendo do temperamento e da suspeita clínica do exame. Na maioria dos casos, o uso de medicação analgésica, previamente ao exame, auxilia de modo satisfatório durante o posicionamento adequado. Sempre que a presença na sala de exame se fizer necessária, devemos usar corretamente os EPIs e respeitar os princípios ALARA. FIGURA 38 – POSICIONAMENTO MEDIOLATERAL DO OMBRO FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 60) Com o posicionamento adequado e a imagem obtida, deve-se proceder à análise da sua qualidade utilizando os critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir desde o terço médio da escápula ao terço médio do úmero, abrangendo os tecidos moles adjacentes em sentido craniocaudal. Para um posicionamento ideal, não deve haver sobreposição do esterno com a articulação do ombro. A trabeculação óssea, com boa definição da cortical e medular óssea, deve ser visibilizada, indicando que técnica de alto contraste foi corretamente utilizada (Figura 39). 112 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 39 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA MEDIOLATERAL DO OMBRO FONTE: Acervo da autora 3.2 PROJEÇÃO CAUDOCRANIAL DO OMBRO Ainda na avaliação radiográfica do ombro, a projeção ortogonal caudocranial deve ser realizada. A projeção craniocaudal da articulação não é possível por conta da união da escápula com o tórax por grupos musculares, impossibilitando a aproximação do ombro do filme radiográfico. O paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal, com a cabeça estendida. Calhas ou cunhas podem auxiliar na manutenção do decúbito, evitando rotações laterais do tronco, auxiliando no alinhamento para posição ideal. O membro torácico com a articulação avaliada deve ser tracionado cranialmente, paralelamente à coluna cervical. Todas as articulações do membro devem ser alinhadas e o úmero mantido paralelo ao filme. Deve-se ter cuidado para que não haja rotação lateral do membro. Uma boa forma de monitorar isso é observando o alinhamento do olecrano do cotovelo, uma vez que essa estrutura é bastante evidente nessa projeção, que deve estar alinhado ao ombro e à escápula, como se houvesse uma linha imaginária ligando todas as estruturas. O membro contralateral pode ser tracionado cranialmente, para evitar rotações do tronco. A área a ser colimada deve incluir desde o terço médio da escápula, palpável através da crista da escápula, até o terço médio do úmero. A colimação medial inicia-se na coluna cervical e estende-se lateralmente abrangendo os tecidos moles laterais. A centralização do raio deve estar localizada sobre a articulação do ombro (Figura 40). TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 113 Uma técnica radiográfica com baixa quilovoltagem associada à alta mi- liamperagem, criando uma imagem de alto contraste, para análise das estruturas ósseas, deve ser utilizada. A contenção química pode ser necessária na maioria dos pacientes, uma vez que o posicionamento pode ser desconfortável e o alinhamento das estruturas pode ser prejudicado. Se a presença na sala durante a realização do exame se fizer necessária, os cuidados das pessoas envolvidas com uso de equipamentos de proteção e o cumprimento dos princípios ALARA devem ser respeitados. FIGURA 40 – POSICIONAMENTO CAUDOCRANIAL DO OMBRO FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 60) Uma vez realizada a imagem, devemos avaliar a qualidade com que foi obtida por meio da aplicação dos critérios de qualidade. Deve estar representado desde o terço médio da escápula até o terço médio do úmero, abrangendo os tecidos moles adjacentes lateralmente e os tecidos moles até a extremidade lateral da coluna cervical medialmente. É importante que a escápula e o úmero estejam alinhados, formando uma linha reta entre eles. A definição entre as linhas corticais e a medular óssea deve estar visível, bem como a trabeculação óssea, evidenciando uma imagem com boa definição óssea e uso adequado da técnica radiográfica (Figura 41). 114 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 41 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA CAUDOCRANIAL DO OMBRO FONTE: Acervo da autora 3.3 PROJEÇÃO MEDIOLATERAL DO COTOVELO Essa projeção do cotovelo pode ser utilizada para avaliação da articulação do umerorradioulnar em casos de suspeitas de doenças articulares e incongruências, incluindo a displasia do cotovelo. O paciente deve ser posicionado em decúbito lateral com o membro de interesse em contato com a mesa de exame, portanto, caso o cotovelo direito seja objeto do exame, o decúbito será lateral direito e, caso o cotovelo esquerdo seja avaliado, o decúbito será lateral esquerdo, diminuindo ao máximo a distância entre a articulação e o filme, e evitando distorções na imagem radiográfica. TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 115 Com o paciente no decúbito ideal, o membro torácico contralateral deve ser tracionado caudalmente, desfazendo-se a sobreposição dos membros. O membro avaliado deve ser mantido na posição anatômica ou tracionado levemente em sentido cranial, o que significa que haverá leve flexão do cotovelo. Os côndilos umerais devem ficar sobrepostos na imagem radiográfica ideal e podemos monitorar sua localização através da palpação deles, uma vez que são estruturas proeminentes lateral e medialmente à porção distal do úmero. A área a ser radiografada deve abranger desde o terço médio do úmero até o terço médio do rádio e ulna. Os tecidos moles adjacentes em sentido cranial e caudal do membro devem ser abrangidos pela área colimada. O raio central deve ser localizado sobre a área articulardo cotovelo (Figura 42). Uma técnica radiográfica de alto contraste para análise das estruturas ósseas deve ser utilizada aplicando-se baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem. O posicionamento do paciente apenas com a contenção física, respeitando os cuidados de manejo, evitando a dor e com o mínimo de estresse, pode ser utilizado. Assim, a presença na sala será necessária com o uso dos EPIs e aplicando os princípios ALARA. FIGURA 42 – POSICIONAMENTO MEDIOLATERAL DO COTOVELO FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 61) A avaliação da qualidade da imagem obtida deve ser feita pelo uso dos critérios de avaliação. A anatomia demonstrada no exame deve abranger desde o terço médio do úmero ao terço médio do rádio e ulna, incluindo os tecidos moles adjacentes para avaliação. O posicionamento adequado deve ser avaliado com base na sobreposição dos côndilos umerais. A trabeculação óssea, com boa definição da cortical e medular óssea, deve ser visibilizada, indicando que técnica de alto contraste foi corretamente utilizada (Figura 43). 116 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS FIGURA 43 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA MEDIOLATERAL DO COTOVELO FONTE: Acervo da autora Em casos de suspeita de incongruência articular na displasia do cotovelo, além da projeção mediolateral, uma projeção adicional mediolateral com flexão completa do cotovelo pode ser solicitada. Para que seja obtida, o posicionamento do paciente deve ser feito conforme descrito anteriormente. Já o membro com o cotovelo a ser avaliado deve ser tracionado levemente em sentido cranial, com flexão total da articulação do cotovelo. A sobreposição dos côndilos deve ser novamente objetivada. A área de colimação e o local de incidência do raio central serão os mesmos descritos na projeção mediolateral do cotovelo. Uma imagem abrangendo desde o terço médio do úmero ao terço médio da ulna, incluindo os tecidos moles adjacentes, com sobreposição dos côndilos umerais e flexão completa do cotovelo, deve ser obtida. A evidenciação das corticais e medular óssea, bem como sua trabeculação, indica o uso adequado da técnica (Figura 44). TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 117 FONTE: Acervo da autora 3.4 PROJEÇÃO CRANIOCAUDAL DO COTOVELO Após a avaliação radiográfica do cotovelo, a projeção ortogonal craniocaudal deve ser realizada. O paciente deve ser posicionado em decúbito ventral. Os membros pélvicos deverão ser flexionados e abduzidos de forma que o abdome do paciente esteja com o máximo contato com a mesa, facilitando o posicionamento e proporcionando conforto ao paciente. A cabeça e a coluna cervical devem ser estendidas com o focinho do paciente apontando para o teto da sala de exame. Essa extensão da cabeça e coluna cervical tem como objetivo remover a sobreposição dessas estruturas sobre o membro torácico. Os membros torácicos devem ser tracionados cranialmente com o membro de interesse, preservando o alinhamento entre o úmero, o rádio e a ulna. Uma linha reta imaginária deve ser traçada sobre as estruturas ósseas, a fim de determinar o alinhamento ideal. Ao realizar a tração cranial do membro, devemos atentar para o contato entre o olecrano e o filme, que deve ser preservado, para evitar distorções na imagem. Novamente, os côndilos umerais devem ser palpados alinhados, de modo a permanecerem simétricos. FIGURA 44 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA MEDIOLATERAL FLEXIONADA DO COTOVELO 118 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS A área a ser abrangida no exame deve incluir desde o terço médio do úmero ao terço médio do radio e ulna, com os tecidos moles adjacentes incluídos no exame. O raio central deve ser posicionado sobre a articulação do cotovelo (Figura 45). Uma técnica radiográfica que aplica baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem, criando uma imagem de alto contraste, para análise das estruturas ósseas, deve ser utilizada. A contenção física do paciente atentando aos cuidados de manejo, evitando a dor e com o mínimo de estresse, pode ser aplicada. Assim, a presença na sala será necessária, com o uso de EPIs e aplicando-se os princípios ALARA adequadamente. FIGURA 45 – POSICIONAMENTO CRANIOCAUDAL DO COTOVELO FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 61) Com a imagem obtida, devemos analisar a sua qualidade com a aplicação dos critérios de avaliação. Deve estar visibilizado desde o terço médio do úmero até o terço médio do rádio e da ulna, abrangendo os tecidos moles adjacentes lateral e medialmente. É importante que o úmero, o rádio e a ulna estejam alinhados, formando uma linha reta entre eles. Os côndilos umerais devem estar simétricos na imagem. A definição entre as linhas corticais e a medular óssea devem estar visíveis, bem como a trabeculação óssea, evidenciando uma imagem com boa definição óssea e uso adequado da técnica radiográfica (Figura 46). TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 119 FIGURA 46 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA CRANIOCAUDAL DO COTOVELO FONTE: Acervo da autora Em casos suspeitos de displasia do cotovelo, uma avaliação da região da ulna proximal através do seu processo coronoide medial, pode ser necessária. Para obtermos a avaliação radiográfica dessa região, uma projeção oblíqua craniolateral-caudomedial do cotovelo pode ser solicitada, além das projeções craniocaudal, mediolateral e mediolateral flexionada do cotovelo. 120 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS Para obtenção dessa imagem, o posicionamento do paciente deve ser feito conforme descrito anteriormente, em decúbito ventral. Já o membro com o cotovelo a ser avaliado deve ser tracionado em sentido cranial, com rotação da articulação em sentido medial, ou seja, com pronação da articulação. Uma imagem com maior evidenciação da porção medial da articulação e deslocamento lateral do olecrano será obtida. A área de colimação e o local de incidência do raio central serão os mesmos descritos na projeção craniocaudal do cotovelo. Uma imagem abrangendo desde o terço médio do úmero ao terço médio da ulna, incluindo os tecidos moles adjacentes, com pronação da articulação e maior evidenciação da porção medial da articulação, deve ser obtida. A evidência das corticais e da medular óssea, bem como sua trabeculação, indica o uso adequado da técnica (Figura 47). FIGURA 47 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA OBLÍQUA CRANIOLATERAL-CAUDOMEDIAL DO COTOVELO FONTE: Acervo da autora TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 121 3.5 PROJEÇÃO MEDIOLATERAL DO CARPO A projeção mediolateral do carpo será útil em casos de incongruência articular, desalinhamentos e doenças articulares. Para realização dessa projeção, o paciente deverá ser posicionado em decúbito lateral, com o membro de interesse em contato com a mesa de exame, a fim de mantê-lo o mais próximo possível do filme. Assim, caso o carpo direito seja objeto do estudo, o decúbito do paciente será lateral direito e, caso o carpo esquerdo seja avaliado, o decúbito será lateral esquerdo. O membro torácico contralateral poderá permanecer na posição anatômica, uma vez que o membro a ser avaliado será tracionado em sentido cranial. Uma linha reta imaginária entre os metacarpos e o rádio deve ser traçada para o alinhamento ideal para realização do exame. A área deve ser colimada abrangendo desde o terço distal do rádio e da ulna até a porção distal dos metacarpos. Os tecidos moles adjacentes em sentido dorsal e palmar do membro devem ser abrangidos pela área colimada. O raio central deve ser localizado sobre a área articular do carpo (Figura 48). Usaremos baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem para uma técnica radiográfica de alto contraste e análise das estruturas ósseas. O posicionamento do paciente e da parte,normalmente, não traz desconforto, portanto, deve-se fazer uso da correta contenção física, evitando a dor e o estresse ao paciente. Nesses casos, a permanência dentro da sala de exame durante a exposição do paciente à radiação deve obedecer aos princípios ALARA e ao uso adequado dos EPIs. FIGURA 48 – POSICIONAMENTO MEDIOLATERAL DO CARPO FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 61) 122 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS Uma vez obtida a imagem radiográfica mediolateral do carpo, deve- se analisar a sua qualidade utilizando os critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir desde o terço distal do rádio até a porção distal dos metacarpos, abrangendo os tecidos moles adjacentes em sentido dorsopalmar. Para um posicionamento ideal, o osso acessório do carpo deve ser visibilizado em sentido dorsopalmar em toda a sua extensão, indicando que não houve rotação do membro. A identificação da trabeculação óssea, com boa definição da cortical e medular óssea, deve estar presente na imagem, indicando que técnica de alto contraste foi corretamente utilizada (Figura 49). FIGURA 49 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA MEDIOLATERAL DO CARPO FONTE: Acervo da autora Em caso de suspeita de instabilidade articular ou frouxidão dos ligamentos do carpo, projeções mediolaterais adicionais podem ser solicitadas, especialmente em casos suspeitos de doenças articulares imunomediadas. O posicionamento do paciente deve seguir as orientações descritas, com decúbito lateral com o membro de interesse dependente e o membro contralateral em posição anatômica. Com o carpo a ser avaliado tracionado cranialmente, diferentes forças deverão ser aplicadas a ele, como tração, rotação e cunha, no sentido de simular as forças exercidas na articulação naturalmente, evidenciando alguma frouxidão ligamentar já existente. A área de colimação e a incidência do raio central seguirão as orientações da projeção mediolateral do carpo (Figura 50). TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 123 FONTE: Acervo da autora FIGURA 50 – POSICIONAMENTOS MEDIOLATERAIS DO CARPO COM APLICAÇÃO DE DIFERENTES FORÇAS PARA AVALIAÇÃO DE FROUXIDÃO LIGAMENTAR: TRAÇÃO (A); ROTAÇÃO (B); CUNHA (C) FONTE: Thrall (2018, p. 421) Diferentes imagens serão obtidas, todas abrangendo desde o terço distal do rádio até a porção distal dos metacarpos, com diferentes forças aplicadas sobre a articulação. A evidência das corticais e medular óssea, bem como sua trabeculação, indica o uso adequado da técnica (Figura 51). FIGURA 51 – PROJEÇÕES RADIOGRÁFICAS MEDIOLATERAIS DO CARPO COM APLICAÇÃO DE DIFERENTES FORÇAS PARA AVALIAÇÃO DE FROUXIDÃO LIGAMENTAR: TRAÇÃO (A); ROTAÇÃO (B); CUNHA (C) Diferentes forças ainda podem ser aplicadas sobre o carpo, conforme a necessidade de cada paciente e a indicação do médico veterinário ortopedista. O correto posicionamento, somado à aplicação adequada das forças sobre a articulação, possivelmente, levará estímulos dolorosos ao paciente, portanto, uma contenção química pode ser necessária. 124 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS 3.6 PROJEÇÃO DORSOPALMAR DO CARPO Ainda na avaliação radiográfica do carpo, deve ser feita a projeção ortogonal dorsopalmar. O paciente deve ser posicionado em decúbito ventral. Os membros pélvicos poderão ser flexionados e abduzidos, permitindo contato da porção ventral do abdome com a mesa de exame, tornando o posicionamento mais confortável ao paciente. A cabeça e a coluna cervical devem ser estendidas com o paciente olhando para o teto da sala ou ainda podem ser direcionadas para o sentido contralateral ao membro a ser avaliado, porém, nesse caso, deve-se ter cuidado com o excesso de rotação lateral, que pode induzir a rotação concomitante do membro a ser avaliado. Os membros torácicos serão tracionados cranialmente e o membro de interesse deve manter o paralelismo dos metacarpos com o filme, garantindo que o osso acessório do carpo permaneça perpendicular ao filme. A área a ser abrangida no exame deve incluir desde o terço distal do rádio e da ulna até a porção distal dos metacarpos, com os tecidos moles adjacentes incluídos no exame. O raio central deve ser posicionado sobre a articulação do carpo (Figura 52). Uma técnica radiográfica com aplicação da baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem, criando uma imagem de alto contraste para análise das estruturas ósseas, deve ser utilizada. A contenção física do paciente, atentando aos cuidados de manejo, evitando a dor e com o mínimo de estresse, pode ser aplicada. Assim, a presença na sala será necessária utilizando os EPIs e respeitando os princípios ALARA adequadamente. FIGURA 52 – POSICIONAMENTO DORSOPALMAR DO CARPO FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 70) TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 125 Com a imagem obtida, deve-se analisar a sua qualidade com uso dos critérios de avaliação. Devem ser visibilizados desde o terço distal do rádio e da ulna até a porção distal dos metacarpos, abrangendo os tecidos moles adjacentes lateral e medialmente. É importante que o osso acessório do carpo esteja perpendicular ao filme, aparecendo na imagem como uma estrutura óssea arredondada sobreposta à região lateroproximal do carpo. A definição entre as linhas corticais e a medular óssea deve estar visível, bem como a trabeculação óssea, evidenciando uma imagem com boa definição óssea e uso adequado da técnica radiográfica (Figura 53). FIGURA 53 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA DORSOPALMAR DO CARPO FONTE: Acervo da autora 126 UNIDADE 2 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS LEITURA COMPLEMENTAR A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO SOBRE RADIOPROTEÇÃO PELOS PROFISSIONAIS DA RADIOLOGIA Marcelo Costa Seares Carlos Alexsandro Ferreira 1 Introdução Para os profissionais que atuam na área de radiologia médica, é de extrema importância o conhecimento sobre radioproteção. Pacientes, público em geral, meio ambiente e o próprio profissional de radiologia estão sujeitos aos riscos inerentes à radiação ionizante. Para tanto, buscou-se revisar a literatura específica e referenciar pontos essenciais para alcançar o objetivo do presente artigo. Historicamente, sabe-se que, logo após Wilhelm Conrad Röntgen descobrir os raios X, em 8 de novembro de 1895, os raios X foram utilizados também por fotógrafos até surgirem os seus primeiros efeitos danosos e verificar- se a necessidade de estudos mais profundos sobre os raios de Röntgen. A radiobiologia surgiu para estudar aqueles efeitos, desmistificando e trazendo à luz da ciência os efeitos determinísticos, estocásticos e o risco fetal. A partir desse conhecimento, fez-se necessário criar princípios de proteção radiológica. Já os princípios de radioproteção fornecem diretrizes básicas para as atividades operacionais que utilizam radiação ionizante. São eles: justificativa, otimização e limitação da dose, todos baseados no princípio fundamental conhecido como ALARA – acrômio para As Low As reasonable Achievable, que significa: tão baixo quanto possivelmente exequível. Em consonância com esses princípios, desenvolveram-se formas de radioproteção baseadas no tempo de exposição, distância da fonte de radiação e blindagem com a finalidade de reduzir ao máximo os efeitos deletérios da radiação. 4 Formas de radioproteção A proteção radiológica dos trabalhadores ocupacionalmente expostos à radiação ionizante (raios X diagnósticos, medicina nuclear, radioterapia e odontologia) é essencial para minimizar o surgimento de efeitos deletérios das radiações. As formas de se reduzir a possível exposição dos trabalhadores são: tempo, distância e blindagem. 4.1 Tempo de exposição A redução do tempo de exposiçãoao mínimo necessário, para uma determinada técnica de exames, é a maneira mais prática para se reduzir a exposição à radiação ionizante. No gerenciamento de um serviço de radiologia, o rodízio dos técnicos durante os procedimentos de radiografia em leito de UTI é uma forma de limitar-se a exposição dos técnicos aos raios X. TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO TORÁCICO 127 4.2 Distância da fonte Quanto mais distante da fonte de radiação, menor a intensidade do feixe. A intensidade de radiação é proporcional ao inverso do quadrado da distância entre o ponto e a fonte. 4.3 Blindagem 4.3.1 Blindagem individual Os equipamentos de proteção individual (EPI) são obrigatórios nos serviços de radiologia conforme as normas da Vigilância Sanitária. Dentre eles pode-se citar: óculos Pb, protetor de tireoide, dosímetro TLD, avental de Pb e saiote de Pb. São constituídos com lâminas de chumbo ou serem flexíveis, quando confeccionados em borracha enriquecida com chumbo. A espessura dos aventais de proteção pode variar de 0,25 a 0,5 mm de chumbo, em função de necessidade de proteção radiológica. O chumbo (Pb) é o elemento mais empregado como barreira de proteção em função da sua densidade (11,35 b/cm3) e elevado número atômico (Z = 82). Aventais de 0,5 mm equivalentes de Pb são altamente eficientes para baixas energias e permitem passar apenas 0,32% da radiação para uma fixa de 70 kVp e 3,2% para 100 kVp. Atualmente, a legislação preconiza que o dosímetro individual seja utilizado por cima do avental de chumbo. O peso desses aventais pode variar de 2,5 a 7 kg. Aos profissionais que os utilizam por longos períodos, sugere-se que os aventais sejam dotados de um cinto para redistribuir o peso. 4.3.2 Blindagem para pacientes A proteção dos pacientes através do uso de acessórios é obrigatória. O protetor de gônadas deve ser usado em pacientes em idade reprodutiva, se a linha das gônadas não estiver próxima do campo primário de irradiação, para que não ocorra interferência no exame. A utilização de saiotes plumbíferos em pacientes submetidos aos raios X é uma forma barata e eficaz de proteção. 4.3.4 Blindagem das áreas As barreiras de proteção radiológica devem ser calculadas inicialmente para a exposição primária do feixe de radiação, de radiação espalhada e da radiação de fuga. As salas de raios X devem ser blindadas com chumbo ou equivalente em barita. Pisos e tetos em concreto podem ser considerados como blindagens, dependendo da espessura da laje, tipo concreto (vazado ou não), distância da fonte, geometria do feixe e fator de ocupação das áreas acima e abaixo da sala de raios X. O chumbo possui densidade 11,35 g/cm3, o concreto de 2,2 g/cm3. A escolha do uso da massa baritada com relação ao lençol de chumbo está em geral relacionada à minimização de custo. FONTE: SEARES, M. C. FERREIRA, C. A. A importância do conhecimento sobre radioproteção pelos profissionais da radiologia. CEFET/SC Núcleo de Tecnologia. Clínica, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3yIxTef. Acesso em: 26 abr. 2021. 128 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O membro é formado por escápula, úmero, rádio e ulna, ossos do carpo, metacarpos e falanges. • A escápula é unida ao tronco por grupos musculares, limitando sua abdução; a clavícula não é presente em cães e gatos, porém estruturas residuais dela podem estar presentes. • Os exames radiográficos de ombros, cotovelos e carpos para avaliação das doenças articulares, abrangem, ainda, casos de fraturas e luxações decorrentes de traumatismos. • A projeção mediolateral do ombro deve abranger desde o terço médio da escápula até o terço médio do úmero, com tração cranial do membro a ser avaliado e rotação contralateral do tórax, resultando em uma imagem livre de sobreposição do esterno e com bom contraste para avaliação óssea. • A projeção caudocranial do ombro deve abranger a mesma área descrita na projeção mediolateral, com o paciente em decúbito dorsal e o membro de interesse tracionado cranialmente, paralelo à coluna cervical, com alinhamento entre a escápula e o úmero e boa definição das estruturas ósseas. • A projeção mediolateral do cotovelo deve ser obtida com o paciente em decúbito lateral, com o membro de interesse em contato com a mesa de exame, e tracionado levemente em sentido cranial e o membro contralateral tracionado caudalmente, obtendo uma imagem com sobreposição dos côndilos umerais e definição óssea adequada. • Para avaliação radiográfica craniocaudal do cotovelo, o decúbito ventral deve ser realizado, estendendo a cabeça de forma a apontar o focinho do paciente em direção ao teto da sala, com o membro torácico tracionado cranialmente, adquirindo uma imagem com simetria dos côndilos umerais e exposição de alto contraste. • No caso de suspeitas de displasia do cotovelo, além das projeções craniocaudal e mediolateral do cotovelo, projeções mediolateral com flexão total da articulação e projeção oblíqua craniolateral-caudomedial do cotovelo devem ser adicionadas ao exame. 129 Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • Para avaliação do carpo, a projeção mediolateral pode ser obtida com o paciente em decúbito lateral com o membro de interesse dependente e tracionado cranialmente, alinhando o rádio com os metacarpos, resultando em uma imagem com o osso acessório do carpo paralelo ao filme e técnica para exposição óssea. • Projeções mediolaterais do carpo com aplicação de diferentes forças externas, como a de tração, de rotação e de cunha, podem ser necessárias em caso de suspeita de frouxidão ligamentar ou doença articular autoimune. • A projeção dorsopalmar do carpo é obtida com posicionamento ventral do paciente e como o membro de interesse tracionado cranialmente com os metacarpos paralelos ao filme, criando uma imagem do carpo em que o osso acessório permanecerá perpendicular ao filme e a definição das corticais e da trabeculação óssea seja visibilizada. • Outras projeções dos membros torácicos podem ser obtidas, ajustando-se os posicionamentos descritos na área de interesse, principalmente em casos de traumatismos, resultando em fraturas ou luxações. 130 1 Paciente canino de grande porte, com dificuldade para apoiar o membro torácico direito após realizar exercício, apresentou dor na articulação do ombro ao exame físico, tendo sido encaminhado ao setor de radiologia para exame da articulação. A respeito da anatomia e do exame radiográfico do ombro, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) A articulação do ombro envolve a escápula e o úmero. b) ( ) Contenção química auxilia o posicionamento do paciente. c) ( ) Uma projeção craniocaudal deve ser realizada. d) ( ) Uma projeção mediolateral deve ser realizada. e) ( ) A escápula é unida ao tronco pela musculatura. 2 Paciente canino, raça Pastor Alemão, 1 ano de idade, foi encaminhado ao setor de radiologia para realização de exame radiográfico do cotovelo. Após ter sido anestesiado, foram obtidas as devidas projeções da articulação, conforme mostra a figura a seguir: AUTOATIVIDADE FONTE: Acervo da autora A respeito desse exame, analise as proposições a seguir: I- A imagem corresponde a uma projeção mediolateral com flexão total do cotovelo. II- Uma projeção craniocaudal do cotovelo deve ser obtida em conjunto para avaliação da articulação. III- A contenção química do paciente pode auxiliar no posicionamento ideal durante o exame. 131 IV- O posicionamento da imagem está adequado, uma vez que há sobreposição dos côndilos umerais. V- O cotovelo a ser avaliado deve estar livre, ou seja, sem contato com a mesade exame. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As proposições I, II e III estão corretas. b) ( ) Somente a proposição V está incorreta. c) ( ) As proposições III e V estão incorretas. d) ( ) As proposições I e II estão corretas. e) ( ) Somente a proposição I está correta. 3 Paciente canino, sem raça definida, 4 anos de idade, foi encaminhado ao setor de radiologia para realização de exame radiográfico do carpo, com a suspeita de frouxidão ligamentar. Após ter sido anestesiado, foram obtidas as devidas projeções radiográficas. A respeito desse exame, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Projeções mediolaterais, com a aplicação de forças externas, podem auxiliar no diagnóstico da suspeita referida. ( ) A área de colimação deve abranger desde o terço distal do rádio e da ulna até a porção distal dos metacarpos, incluindo os tecidos moles adjacentes. ( ) Uma projeção radiográfica craniocaudal do carpo deve ser obtida, correspondendo a ortogonal e mediolateral. ( ) O osso acessório do carpo pode ser utilizado como ponto de referência para avaliação do alinhamento adequado do carpo após a obtenção da imagem radiográfica. ( ) Na projeção craniocaudal do carpo, os metacarpos devem estar posicionados paralelamente ao filme. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – V – F. b) ( ) V – V – F – F – V. c) ( ) V – V – F – F – F. d) ( ) V – V – F – V – F. e) ( ) F – V – F – V – F. 132 REFERÊNCIAS KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. G. Anatomia dos animais domésticos. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2011. SCHEBITZ, H.; WILKENS, H. Atlas de Anatomia radiográficas do cão e do gato. 5. ed. São Paulo: Manole; 2000. 244p. SEARES, M. C. FERREIRA, C. A. A importância do conhecimento sobre radioproteção pelos profissionais da radiologia. CEFET/SC Núcleo de Tecnologia. Clínica, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3yIxTef. Acesso em: 26 abr. 2021. THRALL, D. E. Textbook of Veterinary Diagnostic Radiology. 7. ed. St. Louis: Elsevier; 2018. THRALL, D. E. Diagnóstico de Radiologia Veterinária. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2014. 133 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender o exame radiográfico do membro pélvico; • aprender o exame radiográfico do tórax e da traqueia; • assimilar o exame radiográfico do abdome; • conhecer a anatomia básica do sistema locomotor dos equinos, bem como suas projeções radiográficas. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO TÓPICO 2 – EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA TÓPICO 3 – EXAME RADIOGRÁFICO DO ABDOME TÓPICO 4 – ANATOMIA E EXAME RADIOGRÁFICO DO SISTEMA LOCOMOTOR EQUINO 134 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 135 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Diferentemente do que ocorre com o membro torácico, exames radiográficos do membro pélvico são frequentemente solicitados na rotina clínica da medicina veterinária. Doenças articulares envolvendo as articulações coxofemorais e o joelho são comuns, além dos traumatismos por atropelamento que, habitualmente, envolvem os membros pélvicos. Para avaliação dessas patologias, o exame radiográfico tem grande importância e, muitas vezes, é o exame mais indicado para o diagnóstico. TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO 2 ANATOMIA BÁSICA Para entender melhor os nomes das projeções e o posicionamento radiográfico da parte de interesse e do paciente, é possível revisar os planos anatômicos no Tópico 1 da Unidade 1. DICAS O membro pélvico é formado pelos ossos de pelve, ílio, ísquio e púbis, fêmur, patela, tíbia e fíbula, ossos do tarso (calcâneo, tálus, central do tarso, I tarsal, II tarsal, III tarsal e IV tarsal), metatarsos e falanges proximal, média e distal. Os principais acidentes ósseos para a realização dos exames radiográficos são a asa ilíaca, a tuberosidade isquiática, a cabeça e os côndilos femorais, a tuberosidade da tíbia e o tarso (Figura 1). UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 136 FIGURA 1 – ANATOMIA DO MEMBRO PÉLVICO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) As principais articulações de interesse radiográfico, que formam o membro torácico, são as articulações do quadril (coxofemoral), do joelho (femorotibiopatelar), do tarso, do metatarso e das falanges. 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS A avaliação radiográfica deve ser realizada centralizando o ponto de avaliação do exame radiográfico e sempre utilizando projeções ortogonais. Em alguns casos, posições adicionais podem ser realizadas de forma a complementar uma região avaliada, levando em consideração a suspeita clínica. De forma esquemática, o Quadro 1 apresenta uma lista das regiões a serem avaliadas no membro e os principais posicionamentos radiográficos para cada uma delas. TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO 137 QUADRO 1 – REGIÕES E PRINCIPAIS POSICIONAMENTOS Avaliação radiográfica da pelve Avaliação radiográfica da tíbia e fíbula Ventrodorsal Craniocaudal Laterolateral Mediolateral Avaliação radiográfica do quadril Avaliação radiográfica do tarso Ventrodorsal Dorsoplantar Laterolateral Mediolateral Avaliação radiográfica do fêmur Avaliação radiográfica dos metatarsos Craniocaudal Dorsoplantar Mediolateral Mediolateral Avaliação radiográfica do joelho Avaliação radiográfica das falanges Craniocaudal Dorsoplantar Mediolateral Mediolateral Projeção adicional do joelho Projeções adicionais das falanges Mediolateral flexionada 90° Mediolateral com afastamento FONTE: A autora As principais indicações de exames radiográficos do membro pélvico incluem doenças articulares, displasia coxofemoral e doenças ligamentares do joelho, além de fraturas e luxações em diversos pontos do membro. Processos neoplásicos ósseos possuem maior ocorrência no membro pélvico quando comparados a outras estruturas ósseas. Neste tópico, falaremos sobre a avaliação radiográfica do quadril e joelho. As demais projeções listadas podem ser adaptadas a partir do conhecimento das projeções que descritas, ajustando-se a área de colimação e a incidência do raio central. Novamente, vale lembrar que, diferentemente dos seres humanos, cães e gatos apoiam-se sobre as falanges. ATENCAO UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 138 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL DO QUADRIL A projeção laterolateral da pelve será útil em casos de incongruência articular, doenças articulares e traumatismos. Nos casos de traumas, essa projeção ainda auxilia na avaliação da coluna lombossacra e da porção caudal do abdome. Nessa projeção, o paciente deverá ser posicionado em decúbito lateral direito. Assim como visto nas projeções laterolaterais da coluna, precisamos alinhar também todo o paciente, evitando as rotações. Para isso, podemos usar calços e calhas radiotransparentes, oferecendo suporte ao tórax e à coluna lombar. Os membros pélvicos devem ser alinhados paralelamente, ou seja, um joelho não deve entrar em contato com o outro, mas eles devem estar sobrepostos. Como o membro pélvico direito estará em contato com a mesa, ele já estará alinhado. Para alinhar o membro esquerdo, podemos afastar os joelhos usando uma almofada radiotransparente. Com isso, evitaremos rotações da pelve. As asas ilíacassão palpáveis e podemos utilizá-las como guias para verificar o alinhamento. Os fêmures podem ficar sobrepostos ou, então, direcionados um em sentido cranial e outro caudalmente, frisando mais uma vez a necessidade de alinhamento da pelve. Não se deve esquecer de posicionar a cauda, a qual é direcionada em sentido caudal, evitando que fique sobreposta à pelve. A colimação da área a ser radiografada deve incluir as asas ilíacas até a extremidade caudal dos tecidos moles dos membros pélvicos. Devemos tentar incluir as articulações dos joelhos no exame, porém, em pacientes de grande porte, isso pode não ser obtido. Os tecidos moles dorsais da coluna lombossacra devem estar inclusos na área de colimação. O raio central deve ser posicionado na região das articulações coxofemorais (Figura 2). Usaremos baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem para uma técnica radiográfica de alto contraste para análise das estruturas ósseas. Essa projeção laterolateral não traz desconforto ao paciente, podendo ser realizada sem sedação ou anestesia. Contudo, na projeção radiográfica ventrodorsal, o uso de contenção química é imprescindível. De toda forma, a permanência dentro da sala de exame durante a exposição do paciente à radiação deve obedecer aos princípios ALARA e ao uso adequado dos equipamentos de proteção individuais (EPIs). TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO 139 FIGURA 2 – POSICIONAMENTO LATEROLATERAL DA PELVE FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 79) Após a exposição do paciente e com a imagem radiográfica obtida, devemos analisar a sua qualidade usando os critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir cranialmente as asas ilíacas, caudalmente os tecidos moles do membro pélvico, dorsalmente os tecidos moles dorsais à coluna lombossacra e, ventralmente, os membros pélvicos, se possível, incluindo as articulações dos joelhos. O posicionamento ideal deve demonstrar a maior sobreposição possível da pelve, usando as asas ilíacas e as tuberosidades isquiáticas como referência e com paralelismo dos fêmures, podendo estar sobrepostos completamente ou, então, um em sentido cranial e outro em sentido caudal. Frisa-se a necessidade de alinhamento da pelve. Identificação de corticais e medulares, bem como a trabeculação óssea, deve estar presente na imagem indicando uso correto da técnica de alto contraste (Figura 3). FIGURA 3 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DA PELVE FONTE: Acervo da autora UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 140 3.2 PROJEÇÃO VENTRODORSAL DO QUADRIL Na avaliação radiográfica da pelve, é importante entendermos a projeção ortogonal a ser realizada, a ventrodorsal, na qual se deve colocar o paciente em decúbito dorsal alinhando todo o corpo, assim como realizado nas projeções ventrodorsais da coluna. Novamente, as calhas e cunhas radiotransparentes podem auxiliar no posicionamento, evitando rotações laterais do paciente. Os membros torácicos devem ser tracionados cranialmente, mantendo-os paralelos a coluna cervical. Desse modo, além de auxiliar no posicionamento, facilitará a contenção do paciente ao posicionar os membros pélvicos. Os membros pélvicos serão tracionados em sentido caudal, com rotação interna dos joelhos, mantendo os fêmures paralelos entre si e com a coluna. Uma linha reta imaginária entre as articulações de quadril, joelho e tarso deve ser traçada objetivando o posicionamento ideal. Rotações da pelve e ausência de paralelismo dos fêmures não são toleráveis. A cauda deve ser posicionada em sentido caudal, continuamente a coluna lombossacra, não havendo sobreposição com os membros pélvicos. A projeção ventrodorsal da pelve, nos casos de avaliação das articulações coxofemorais, é utilizada para aferição do ângulo entre a cabeça femoral e o acetábulo da pelve, conhecido como ângulo de Norberg, que indica se existe ou não displasia coxofemoral, sendo, portanto, de extrema importância o posicionamento para a correta mensuração angular. IMPORTANTE A área a ser abrangida no exame deve incluir, cranialmente, as asas ilíacas e, caudalmente, as articulações coxofemorais. Lateralmente, os tecidos moles devem estar presentes na imagem. Diferentemente da projeção laterolateral, em que a presença dos joelhos era preferível, dessa vez ela é obrigatória. Portanto, caso o paciente seja de grande porte e haja necessidade de se excluir uma porção do exame, isso deve ocorrer nas asas ilíacas. O raio central deve incidir no osso púbis, palpável na porção ventral da pelve, entre as articulações coxofemorais (Figura 4). Uma técnica radiográfica usando baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem, criando uma imagem de alto contraste para análise das estruturas ósseas, deve ser utilizada. Como o posicionamento ventrodorsal não é confortável para o paciente, associado ainda à necessidade de alinhamento entre fêmures, pelve e coluna, a contenção química torna-se imprescindível para realização do exame. Devido ao desconforto do paciente, principalmente em articulações com graus mais TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO 141 severos de displasia, a ausência de sedação ou anestesia pode levar à luxação coxofemoral. Isso reforça, mais uma vez, a importância de contenção física, não só para qualidade do exame, mas também para evitar dor ao paciente e complicações articulares. Esse posicionamento precisa da nossa presença da sala para execução das forças sobre o membro pélvico; assim, a utilização dos EPIs e a aplicação dos princípios ALARA adequadamente serão necessários. FIGURA 4 – POSICIONAMENTO VENTRODORSAL DA PELVE FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 79) Com a imagem obtida, devemos analisar a sua qualidade através dos critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve abranger desde as asas ilíacas até os joelhos, incluindo os tecidos moles lateralmente. Caso o paciente seja de grande porte e não seja possível obter imagem de toda a região descrita, pode-se excluir as asas ilíacas, mas a presença dos joelhos é indispensável. A simetria entre os lados deve estar presente, podendo ser avaliada através de asas ilíacas, forames obturadores e incisuras isquiáticas. Os fêmures devem estar paralelos entre si e paralelos a coluna. Não pode haver sobreposição da cauda com os membros pélvicos. A definição entre as linhas corticais e a medular óssea deve estar visível, bem como a trabeculação óssea, evidenciando uma imagem com boa definição óssea e uso adequado da técnica radiográfica (Figura 5). FIGURA 5 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DA PELVE FONTE: Acervo da autora UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 142 Em alguns pacientes com doença articular degenerativa grave, a articulação pode ter sua mobilidade reduzida, impossibilitando o posicionamento adequado, mesmo com uso de medicações sedativas ou anestésicas. Nesses casos, a restrição do paciente deve ser respeitada, evitando a indução de lesões como luxações ou até fraturas. Na Figura 6, podemos verificar a diferença entre a articulação coxofemoral normal e a proliferação óssea marcante na articulação coxofemoral com doença articular degenerativa. FIGURA 6 – AMPLIAÇÃO DA PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DA PELVE COM ENFOQUE NA ARTICULAÇÃO COXOFEMORAL DIREITA. ARTICULAÇÃO NORMAL (A); ARTICULAÇÃO COM DEGENERAÇÃO E RESTRIÇÃO DE MOVIMENTAÇÃO (B) FONTE: Acervo da autora Pacientes com esse grau de restrição articular ou com suspeitas de traumatismos na pelve podem realizar um posicionamento ventrodorsal diferente, com flexão das articulações coxofemorais e dos joelhos. Essa projeção também pode ser utilizada para melhor avaliação das cabeças femorais.O paciente será posicionado em decúbito dorsal, conforme descrito anteriormente. A calha pode ajudar muito no conforto do paciente, principalmente os traumatizados. No lugar de tracionar os membros pélvicos caudalmente, podemos flexionar os joelhos e as articulações coxofemorais, fazendo abdução do membro, tentando manter o máximo de simetria entre os lados da pelve, mas respeitando as limitações do paciente. Os fêmures ficarão angulados em relação ao filme, sem prejuízo para a imagem. Assim, os membros pélvicos ficarão parecidos com “pernas de rã”, motivo pelo qual essa projeção também pode ser chamada de “frog leg”. A área de colimação deve incluir desde as asas ilíacas até as tuberosidades isquiáticas no sentido craniocaudal e, laterolateralmente, devemos tentar incluir os joelhos na imagem. O raio central seguirá incidindo no púbis (Figura 7). TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO 143 FONTE: Acervo da autora FIGURA 7 – POSICIONAMENTO VENTRODORSAL FLEXIONADA DA PELVE FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 90) A imagem obtida deve abranger toda a pelve, desde o ílio até o ísquio, incluindo os joelhos lateralmente. A simetria deve ser objetivada, mas não é imprescindível. O importante é respeitar o paciente. As estruturas ósseas devem estar bem definidas na imagem (Figura 8). FIGURA 8 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL FLEXIONADA DA PELVE 3.3 PROJEÇÃO MEDIOLATERAL DO JOELHO A projeção mediolateral do joelho é importante para avaliação da congruência articular, principalmente na avaliação de lesões do ligamento cruzado cranial, bem como na mensuração das estruturas para planejamentos cirúrgicos. UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 144 Para a realização dessa projeção, o paciente deverá ser posicionado em decúbito lateral, com o membro de interesse em contato com a mesa de exame. Portanto, se o joelho direito for avaliado, o decúbito será lateral direito e, caso seja o joelho esquerdo, o decúbito será lateral esquerdo. O membro contralateral ao ser avaliado deve ser tracionado cranial ou caudalmente, porém, cuidando para que não haja rotação da pelve. O membro com o joelho a ser avaliado deve ser levemente tracionado em sentido distal, mas uma leve flexão pode ser mantida. O fêmur deve permanecer paralelo ao filme. Para isso, como a espessura do membro na região do joelho é maior do que na extremidade distal, devemos cuidar para não apoiar o tarso sobre o filme. Um espaço deve ser mantido entre o tarso e o filme, assim, atingiremos o objetivo de alinhamento entre os côndilos femorais. A área a ser restringida na colimação deve abranger desde o terço médio do fêmur até o terço médio da tíbia e fíbula, incluindo os tecidos moles adjacentes. O raio central deve ser posicionado sobre a articulação do joelho (Figura 9). Usaremos baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem para uma técnica radiográfica de alto contraste para análise das estruturas ósseas. Essa projeção pode ser obtida com contenção física do paciente, respeitando os cuidados de manejo e conforto do paciente. Com a necessidade da nossa permanência dentro da sala de exame durante a exposição do paciente à radiação, devemos obedecer aos princípios ALARA e ao uso adequado dos EPIs. FIGURA 9 – POSICIONAMENTO MEDIOLATERAL DO JOELHO FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 90) A imagem obtida deve ser avaliada, usando os critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir desde o terço médio do fêmur ao terço médio da tíbia e fíbula, junto aos tecidos moles adjacentes. O posicionamento ideal deve demonstrar sobreposição dos côndilos femorais. Uma boa definição das estruturas ósseas deve ser visibilizada, indicando-se o uso adequado da técnica radiográfica (Figura 10). TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO 145 FIGURA 10 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA MEDIOLATERAL DO JOELHO FONTE: Acervo da autora FONTE: Acervo da autora Para avaliação específica em casos de suspeita de lesão em ligamento cru- zado, realizamos o mesmo posicionamento mediolateral, porém, deve haver fle- xão do joelho e do tarso com ambas as articulações formando ângulos de 90°. A sobreposição dos côndilos ainda deve ser objetivada, portanto, o tarso não deve entrar em contato com o filme novamente. A área de colimação será maior do que a descrita anteriormente, já que o fêmur e a articulação do tarso devem estar inclu- ídos na imagem. O raio central ainda deve ser posicionado no fêmur (Figura 11). FIGURA 11 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA MEDIOLATERAL DO JOELHO COM FLEXÃO DO JOELHO E TARSO UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 146 3.4 PROJEÇÃO CRANIOCAUDAL DO JOELHO A projeção ortogonal do joelho inclui, além da projeção mediolateral, uma projeção craniocaudal. Assim, deve-se colocar o paciente “sentado” sobre a mesa, ou seja, a porção caudal dos membros pélvicos deve estar em contato com a mesa de exame, com a coluna do paciente verticalizada, embora em uma angulação de cerca de 120° entre a coluna do paciente e o fêmur. Os membros torácicos devem ser flexionados, evitando a sobreposição com o membro pélvico. O membro pélvico de interesse deve ser tracionado, alinhando-se em uma linha reta imaginária as articulações coxofemoral, joelho e tarso. Uma leve rotação interna do joelho deve ser realizada para alinhamento dos côndilos femorais. O fêmur deve estar paralelo ao filme. A cauda deve ser tracionada em sentido ao membro contralateral, evitando sobreposições. A área a ser abrangida no exame deve incluir o fêmur, em seu terço médio, até o terço médio da tíbia, incluindo-se os tecidos moles adjacentes. Em alguns estudos, pode ser necessária a abrangência de todo o fêmur e toda a tíbia e fíbula para avaliação dos eixos ósseos. O raio central deve incidir, precisamente, sobre a articulação do joelho (Figura 12). Uma técnica radiográfica usando um baixa quilovoltagem associada à alta miliamperagem, criando uma imagem de alto contraste para análise das estruturas ósseas, deve ser utilizada. O posicionamento craniocaudal pode ser realizado usando as técnicas adequadas de contenção física do paciente, respeitando-se as limitações de cada paciente e também preservando a nossa segurança, com o uso adequado dos EPIs e respeito aos princípios ALARA. FIGURA 12 – POSICIONAMENTO CRANIOCAUDAL DO JOELHO FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 91) TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO 147 Com a imagem obtida, devemos analisar a sua qualidade utilizando os critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve abranger desde o terço médio do fêmur ao terço médio da tíbia e fíbula, incluindo os tecidos moles lateralmente, ou fêmur e a tíbia e a fíbula completos em alguns estudos para avalição dos eixos ósseos. Devemos obter simetria dos côndilos femorais na imagem. Não pode haver sobreposição da cauda com o membro avaliado. Uma boa definição óssea deve ser visibilizada, incluindo a identificação da trabeculação óssea, evidenciando uso adequado da técnica radiográfica (Figura 13). FIGURA 13 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA CRANIOCAUDAL DO JOELHO FONTE: Acervo da autora UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 148 Pacientes de grande porte podem dificultar a execução desse posicionamento radiográfico. Nesses casos, deve-se realizar um posicionamento caudocranial do joelho ou, ainda, uma projeção craniocaudal com o paciente em decúbito lateral e rotação da ampola radiográfica. Na projeção caudocranial, devemos posicionar o paciente em decúbito ventral, com abdução e flexão do membro contralateral e tração caudal do membro de interesse, com leve rotação medial do joelho, objetivando a simetria dos côndilos femorais (Figura 14). Na projeção craniocaudalcom rotação da ampola, o paciente deve ser posicionado em decúbito lateral, com o membro de interesse livre, assim, caso a avaliação seja feita no joelho esquerdo, utiliza-se o decúbito lateral direito, e vice-versa. O membro de interesse deve ser alinhado em uma linha reta com as articulações coxofemoral e o tarso deve permanecer paralelo a mesa de exame. O filme será posicionado caudalmente ao membro e a ampola será rotacionada em 90°, mantendo o alinhamento com o membro a distância de 1 metro (Figura 15). Assim como na projeção craniocaudal descrita anteriormente, a simetria dos côndilos deve ser objetivada, bem como a área de colimação e a incidência do raio central. Os critérios de avaliação das imagens obtidas serão os mesmos. FIGURA 14 – POSICIONAMENTO CAUDOCRANIAL DO JOELHO (A); PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA CAUDOCRANIAL DO JOELHO (B) FONTE: <https://bit.ly/3fRCyBY>. Acesso em: 3 maio 2021; acervo pessoal da autora. TÓPICO 1 — EXAME RADIOGRÁFICO DO MEMBRO PÉLVICO 149 FIGURA 15 – POSICIONAMENTO CRANIOCAUDAL COM DECÚBITO LATERAL DO JOELHO (A); PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA CRANIOCAUDAL COM DECÚBITO LATERAL DO JOELHO (B) FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 91); acervo da autora 150 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • O membro é formado por pelve, fêmur, tíbia e fíbula, ossos do tarso, metatarsos e falanges. • Os exames radiográficos da pelve e dos joelhos são indicados para avaliação das doenças articulares e incongruências articulares, contando, ainda, com os casos de fraturas e luxações causados por traumatismos. • A projeção mediolateral da pelve deve abranger desde as asas ilíacas até os joelhos, incluindo desde as vértebras lombares até os tecidos moles caudais do membro pélvico, sobreposição das asas ilíacas, resultando em uma imagem simétrica e com bom contraste para avaliação óssea. • A projeção ventrodorsal da pelve deve abranger desde a asa ilíaca até os joelhos, com o paciente em decúbito dorsal e os membros pélvicos tracionados caudalmente, com os fêmures paralelos e os lados da pelve simétricos, mantendo a boa definição das estruturas ósseas. • Uma projeção ventrodorsal com flexão e abdução dos membros pélvicos pode ser realizada em paciente com restrição da mobilidade do quadril ou que tenha sofrido traumatismo. • Para avaliação radiográfica mediolateral do joelho o decúbito lateral com o membro de interesse dependente, com o membro avaliado mantendo uma leve flexão do joelho, preservando a sobreposição dos côndilos femorais, adquirindo uma imagem com simetria dos côndilos umerais e exposição de alto contraste. • No caso de suspeitas de lesão no ligamento cruzado cranial, uma projeção mediolateral do fêmur pode ser obtida com flexão em 90° do joelho e tarso. • Para avaliação craniocaudal do joelho, o paciente deve ser posicionado “sentado” sobre a mesa com o membro de interesse alinhado com o quadril e o tarso, com simetria entre os côndilos femorais, resultando em uma imagem com técnica para exposição óssea. • Uma projeção craniocaudal com decúbito lateral do paciente e inclinação em 90° da ampola ou uma projeção caudocranial, com o paciente em decúbito ventral e o membro pélvico tracionado caudalmente, pode ser obtida em pacientes de grande porte. 151 1 Paciente canino, raça Rottweiller, 5 anos de idade, foi levado ao atendimento médico veterinário porque não estava apoiando o membro pélvico esquerdo. Após o exame físico, foi levantada a suspeita de lesão ligamentar na articulação do joelho e o paciente foi encaminhado ao setor de imagem para exame radiográfico da articulação. A respeito da anatomia e do exame radiográfico do joelho, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) O exame radiográfico deve conter uma projeção laterolateral. b) ( ) Uma das principais indicações é a avaliação de ruptura do ligamento cruzado. c) ( ) Uma projeção craniocaudal deve ser realizada. d) ( ) A simetria entre os côndilos é um critério de avaliação da imagem. 2 Paciente canino, sem raça definida, foi encaminhado para realização de radiografia de pelve por apresentar dificuldade para se sentar e levantar. Com base na projeção radiográfica a seguir, considere as proposições: AUTOATIVIDADE FONTE: Acervo da autora I- A projeção é chamada de ventrodorsal. II- O alinhamento correto, com os fêmures paralelos, foi obtido. III- Nessa projeção ventrodorsal, a simetria entre os lados da pelve deve ser atingida na projeção ideal. IV- Em paciente com dificuldade de movimentação ou suspeitas de fraturas ou luxações, pode-se realizar uma projeção ventrodorsal com flexão e abdução dos membros pélvicos. V- Uma projeção ortogonal laterolateral da pelve pode ser realizada. 152 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as proposições I, II e III estão corretas. b) ( ) Somente a proposição II está incorreta. c) ( ) As proposições III e V estão incorretas. d) ( ) As proposições I e II estão corretas. e) ( ) Somente a proposição I está correta. 3 Paciente canino, 3 anos de idade, após sofrer um atropelamento, apresentou suspeita de fratura e dor à manipulação da região, tendo sido encaminhado para realização de radiografia de pelve. Com base na projeção radiográfica obtida, considere as proposições a seguir: FONTE: Acervo da autora I- A variação da projeção ventrodorsal presente na imagem pode ser realizada quando o paciente sofreu algum traumatismo e apresenta dor ao posicionamento. II- O acetábulo canino é formado pelos ossos ílio, ísquio, púbis e o osso do acetábulo. III- Essa projeção, mesmo diante do traumatismo sofrido pelo paciente, não está dentro do posicionamento ideal, uma vez que os fêmures deveriam estar paralelos. IV- O joelho é formado pelos ossos fêmur, tíbia, patela e fíbula. V- Uma projeção ortogonal laterolateral da pelve pode ser realizada. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As proposições I, II e III estão corretas. b) ( ) Somente a proposição II está incorreta. c) ( ) As proposições III e IV estão incorretas. d) ( ) As proposições I e II estão corretas. e) ( ) Somente a proposição V está correta. 153 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO As radiografias do tórax e da traqueia compreendem grande parte dos exames solicitados na clínica veterinária. É o exame de escolha para avaliação dessa região, uma vez que a grande quantidade de ar presente fornece um excelente contraste e favorece uma avaliação da região com grande qualidade. Essas radiografias ainda são muito solicitadas para avaliação da região complementarmente a outras regiões em casos traumatizados. Em alguns casos, exames de ultrassonografia do tórax e tomografia computadorizada podem ser solicitados. TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA 2 ANATOMIA BÁSICA Para entender melhor os nomes das projeções e o posicionamento radiográfico da parte e do paciente, é possível revisar os planos anatômicos no Tópico 1 da Unidade 1. DICAS O tórax possui importantes estruturas em seu interior, como o coração e os grandes vasos, a traqueia e os campos pulmonares, além do esôfago em seu trajeto torácico. A própria caixa torácica, que limitada a cavidade torácica, é formada por importantes estruturas ósseas. Dorsalmente, temos a coluna torácica formada por 13 vértebras, ventralmente, o esterno com oito a nove esternébras e, lateralmente, os 13 arcos costais. No limite caudal do tórax, temos o diafragma, que, além de ter um papel fundamental na respiração, ainda divide a cavidade torácica da cavidade abdominal (Figura 16). 154 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS FIGURA 16 – ANATOMIA DA CAVIDADE TORÁCICA FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS O exame radiográfico do tórax implicará o manejo de um pacienteque, muitas vezes, não está respirando bem. Em primeiro lugar, para realizar o exame radiográfico do tórax, deve-se observar atentamente, por alguns minutos, o paciente antes de entrar na sala de exame, para que seja possível identificar qual a condição respiratória dele e organizar a melhor forma de proceder o exame com o mínimo de estresse e prejuízo ao paciente. É importante saber que nem todo animal com dificuldade respiratória estará arfando de boca aberta, agitado, com cianose e tosse. Em alguns casos, um paciente quieto, com a boca fechada e sem tosse, pode ter alterações severas respiratórias. Pescoço esticado e respiração abdominal podem estar presentes nessas situações. Para evitar uma parada cardiorrespiratória na mesa de exame, é importante olhar para nosso paciente! No mínimo, duas projeções devem ser realizadas: ventrodorsal e laterolateral direita. Contudo, muitos estudos demonstram a importância da realização de três projeções radiográficas do tórax, adicionando a laterolateral esquerda ao exame. Existem ainda indicações específicas de quatro projeções, adicionando a dorsoventral ou, ainda, para substituição em casos de dificuldade respiratória. TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA 155 Mais adiante, o exame radiográfico da traqueia também será abordado, uma vez que falaremos em sistema respiratório, sendo avaliada em todo o seu trajeto, incluindo a porção cervical e a porção torácica. Sua avaliação pode ser so- licitada em casos de reduções do seu lúmen, malformações e até corpos estranhos. As principais indicações de exames radiográficos do tórax incluem do- enças respiratórias como edema pulmonar, pneumonia e doenças brônquicas, avaliações do sistema cardiovascular (como as cardiomegalias, corpos estranhos esofágicos), doenças da cavidade torácica (como efusão pleural ou pneumotórax), processos neoplásicos diversos, pesquisas de metástases, além dos traumatismos, que podem levar a rupturas diafragmáticas, hemorragias, fraturas e luxações. Ain- da existem muitas possibilidades para avaliação radiográfica do tórax, o que faz desse exame o mais solicitado entre todos os exames radiográficos de cães e gatos. Lembre-se de avaliar o paciente antes de realizar o exame radiográfico para evitar complicações ao paciente. ATENCAO 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL DO TÓRAX A projeção laterolateral do tórax será útil para avaliação de silhueta cardíaca, campos pulmonares, esôfago e traqueia. Nessa projeção, o paciente deverá ser posicionado em decúbito lateral. O ideal é realizar as duas projeções laterolaterais do tórax (a laterolateral direita com o lado direito dependente e a laterolateral esquerda com o lado esquerdo dependente). Caso apenas uma projeção laterolateral seja feita, deve-se dar preferência à laterolateral direita. É importante que não haja rotação no tórax. Os membros torácicos devem ser tracionados cranialmente, mantendo-os paralelos entre si e também com a mesa de exame. A tração cranial é importante para que não haja sobreposição com a porção cranial do tórax, permitindo a avaliação adequada dos lobos pulmonares craniais e do mediastino. Os membros pélvicos podem ficar na posição de conforto, porém, devem ser mantidos paralelos entre si e entre a mesa, como nos membros torácicos. O pescoço e a cabeça devem permanecer na posição anatômica, tomando muito cuidado para que não haja ventroflexão da cabeça, pois, caso isso ocorra, haverá um deslocamento na traqueia torácica, o que pode dar a falsa impressão de uma massa no tórax. 156 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS Na projeção laterolateral, devemos agir com cuidado para não haver sobreposição dos membros torácicos com o tórax e sem ventroflexão da cabeça. IMPORTANTE O tórax deve permanecer alinhado, mantendo o máximo de simetria possível entre um lado e outro. Calços podem ajudar, por isso, em pacientes com o tórax alongado, pode ser necessário colocar um calço radiotransparente na região esternal. Em pacientes com o tórax arredondado, é necessário cuidado para que não haja rotação, monitorando visualmente. A região cervical é mais estreita do que a região do tórax, podendo precisar de um apoio para manter o alinhamento, como no caso da projeção laterolateral da coluna; o mesmo pode ser feito com a região lombar, caso seja necessário. A área a ser colimada deve compreender cranialmente o ombro e caudalmente à última costela. A região dorsal deve incluir a coluna torácica e, ventralmente, o esterno. Caso haja necessidade de manter alguma área de fora da colimação, devemos fazer isso com a coluna torácica; caso a cavidade torácica não seja totalmente comtemplada no filme em sentido craniocaudal, podemos dividir o tórax, fazendo duas diferentes imagens, uma da porção cranial, iniciando na articulação do ombro e abrangendo até onde for possível caudalmente, e outra projeção da porção caudal, colocando como limite caudal a última costela e abrangendo até onde for possível em sentido cranial. O raio central deve ser posicionado na região do coração, portanto, no terço médio do tórax, no sentido dorsoventral e no craniocaudal, podemos usar o cotovelo para localizar o ponto adequado. Se fizermos uma flexão do cotovelo sobre o tórax, o ponto em que o olécrano estiver sobreposto ao tórax, será o ponto em que encontraremos o coração (Figura 17). É de extrema importância que a projeção seja obtida no pico máximo da inspiração, assim teremos a maior quantidade de ar possível no tórax e será possível realizar uma melhor avaliação de suas estruturas. Como não existe a possibilidade de solicitarmos ao paciente para inspirar e segurar, como fazemos com humanos, podemos seguir a movimentação respiratória durante cerca de três movimentos – assim, assimilaremos o ritmo respiratório do paciente e teremos mais chances de conseguir o momento ideal para adquirir a imagem. Em pacientes com dificuldade respiratória, apresentando uma frequência muito alta, a projeção em inspiração pode não ser possível, porém, ainda deve ser objetivada, buscando-se uma imagem o mais próximo dela possível. TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA 157 O ajuste da técnica radiográfica a ser utilizada necessitará de um tempo de exposição bastante baixo, evitando o borramento da imagem pela movimen- tação do tórax. Para isso, deveremos ajustar a quilovoltagem, já que o tempo foi modificado. Para que o exame seja feito com o maior pico de inspiração possível, sedativos ou anestésicos não devem ser utilizados. Essas medicações promovem depressão respiratória, impossibilitando o paciente de um movimento inspiratório amplo. Além disso, a estase sanguínea promovida pelo decúbito durante a sedação ou anestesia também afeta a imagem radiográfica dos pulmões, afetando a avaliação radiográfica deles. Para conseguir o posicionamento ideal e o momento respiratório correto, a presença do profissional na sala faz-se necessária. Nesse caso, devemos obedecer aos princípios ALARA e o uso adequado dos EPIs. FIGURA 17 – POSICIONAMENTO LATEROLATERAL DO TÓRAX FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 233) Após a exposição do paciente e com a imagem radiográfica obtida, devemos analisar a sua qualidade usando os critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir, cranialmente, a articulação do ombro, caudalmente a última costela, dorsalmente a coluna torácica e, ventralmente, o esterno. O posicionamento ideal deve demonstrar a maior sobreposição possível das costelas, com alinhamento das junções costocondrais (Figura 18), sem sobreposição dos membros torácicos com os campos pulmonares craniais (Figura 19). Uma projeção em inspiração completa deve serobtida. Quando a imagem obtida não é em inspiração completa, há sobreposição do diafragma e da silhueta cardíaca. Uma imagem ideal deve ter distanciamento entre a silhueta cardíaca e o diafragma (Figura 20). Uma imagem sem borramento por movimentação do tórax deve ser adquirida (Figura 21). 158 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS FIGURA 18 – AMPLIAÇÃO DAS JUNÇÕES COSTOCONDRAIS: POSICIONAMENTO IDEAL COM ALINHAMENTO (A); POSICIONAMENTO INADEQUADO SEM ALINHAMENTO (B) FONTE: Acervo da autora FIGURA 19 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DO TÓRAX FONTE: Acervo da autora FONTE: Acervo da autora FIGURA 20 – AMPLIAÇÃO DA REGIÃO CAUDOVENTRAL DO TÓRAX, REGIÃO DO ÁPICE CARDÍACA E SILHUETA DIAFRAGMÁTICA: IMAGEM IDEAL SEM SOBREPOSIÇÃO (A); IMAGEM INADEQUADA COM SOBREPOSIÇÃO (B) TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA 159 FIGURA 21 – AMPLIAÇÃO DOS CAMPOS PULMONARES CAUDAIS: IMAGEM IDEAL SEM BORRAMENTO (A); IMAGEM INADEQUADA COM BORRAMENTO (B) FONTE: Acervo da autora 3.2 PROJEÇÃO VENTRODORSAL DO TÓRAX Ainda na avaliação radiográfica do tórax, é importante compreendermos a projeção ortogonal a ser realizada, a ventrodorsal, em que devemos colocar o paciente em decúbito dorsal, alinhando todo o corpo, assim como realizado nas projeções ventrodorsais da coluna. Novamente, as calhas e cunhas radiotransparentes podem auxiliar no posicionamento, evitando rotações laterais do paciente. O alinhamento é muito importante, já que ele fornecerá a simetria perfeita entre os lados do tórax, sendo ela necessária para a avaliação cardíaca adequada. Pacientes muito magros podem sentir dor na região dos processos espinhosos da coluna na posição dorsal, a calha acolchoada ajuda a dar mais comodidade ao paciente. Os membros torácicos devem ser tracionados cranialmente, mantendo-os paralelos à coluna cervical. Assim, removeremos a sobreposição dos membros da região cranial do tórax, além de auxiliar no alinhamento do tórax no posicionamento. Os membros pélvicos podem ser mantidos flexionados e em abdução, dando mais conforto ao paciente e ajudando a evitar a rotação do tórax. Essa posição tende a ser mais difícil para o paciente, principalmente naqueles que estão acima do peso ou com dificuldade para respirar, uma vez que as vísceras abdominais fazem pressão no diafragma e o coração se desloca dorsalmente, ambos dificultando a expansão pulmonar na inspiração. Dessa forma, podemos deixar essa posição para ser realizada no final do exame, evitando estresse ao paciente e permitindo uma melhor realização das projeções laterolaterais. 160 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS A área a ser abrangida no exame deve incluir, cranialmente, as articulações dos ombros, caudalmente o último par de costelas. Lateralmente, os tecidos moles e os arcos costais completos devem estar presentes na imagem. O raio central deve incidir, novamente, na região cardíaca, centralizado no esterno, no terço médio do tórax, em sentido craniocaudal. Mais uma vez, aquela flexão realizada com o cotovelo, na projeção laterolateral, pode ajudar também na localização da região cardíaca. Caso o tórax do paciente seja maior do que o filme, podemos dividir o tórax, como falamos na projeção laterolateral. Uma imagem da porção cranial do tórax será obtida com o filme no limite cranial dos ombros, abrangendo, caudalmente, até onde for possível; em seguida, deve-se realizar mais uma imagem, com o filme no limite caudal, do último par de costelas, abrangendo cranialmente até onde for possível (Figura 22). Mais uma vez, é de extrema importância obter a imagem no pico da inspiração, permitindo contraste ideal das estruturas presentes na cavidade torácica. Com a impossibilidade de pedir ao paciente que inspire e mantenha o ar nos pulmões, podemos novamente acompanhar os movimentos respiratórios feitos por ele, até ser assimilado o seu ritmo respiratório, aumentando a chance de conseguirmos uma projeção na inspiração. O aumento da frequência respiratória é mais comum nessa projeção. Para tentar regularizar o ritmo respiratório, podemos passar levemente o dedo ou, então, soprar no nariz do paciente; isso fará com que ele mude a respiração por alguns segundos, dando uma oportunidade para conseguir a imagem sem borramento pela movimentação. Caso ele esteja com a boca aberta para respirar, podemos fechar a boca para reduzir o ritmo respiratório, porém, pacientes com dispneia grave podem ficar mais agitados por terem sua respiração dificultada com esse movimento e, por isso, é fundamental ter cuidado para não ser mordido durante essas manobras – é importante lembrar que um ambiente tranquilo ajuda a manter o paciente calmo e evitar a taquipneia. Taquipneia é o termo utilizado quando o paciente está com a frequência respiratória aumentada. Dispneia é o termo utilizado para pacientes com dificuldade respiratória. NOTA A técnica a ser usada deve visar a um baixo tempo de exposição, para evitar o borramento da imagem, ajustando o valor da quilovoltagem para uma imagem de qualidade. TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA 161 Novamente, uso de sedativos ou anestésicos é totalmente contraindicado para realização do exame radiográfico do tórax. As técnicas adequadas de manejo devem ser utilizadas para possibilitar um exame de qualidade. Para atingir o posicionamento ideal e o movimento respiratório na inspiração máxima, a presença do profissional na sala faz-se necessária. Nesse caso, devemos obedecer aos princípios ALARA e o uso adequado dos EPIs. FIGURA 22 – POSICIONAMENTO VENTRODORSAL DO TÓRAX FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 233) Após obtida a imagem, devemos analisar a sua qualidade usando os critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir desde a entrada do tórax, no primeiro par de costelas, até o último par de costelas, caudalmente. Nas laterais, os arcos costais completos devem estar presentes. O alinhamento com a coluna em uma linha reta deve estar presente, além dos processos espinhosos perpendiculares ao filme, indicando que não há rotação. Um pequeno grau de rotação é tolerável, mas, caso o processo espinhoso ultrapasse os limites dos corpos vertebrais, a projeção deverá ser desconsiderada (Figura 23). Uma imagem sem borramento dos campos pulmonares, assim como na projeção laterolateral, deve ser obtida (Figura 24). FIGURA 23 – AMPLIAÇÃO DOS PROCESSOS ESPINHOSOS NA PROJEÇÃO VENTRODORSAL DO TÓRAX: POSIÇÃO IDEAL (A); POSIÇÃO TOLERADA (B); POSIÇÃO INADEQUADA (C). OS PONTILHADOS AZUIS CORRESPONDEM AO CORPO VERTEBRAL E OS AMARELOS, AO PROCESSO ESPINHOSO FONTE: Acervo da autora 162 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS FIGURA 24 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DO TÓRAX FONTE: Acervo da autora Como visto anteriormente, a projeção ventrodorsal é desconfortável para os pacientes, principalmente para aqueles que tenham dispneia. Assim, em alguns casos, não é possível realizá-la. Nesses casos, podemos usar uma projeção dorsoventral, que também pode ser usada como projeção única em pacientes com dispneia grave. Para executar essa projeção, o paciente será mantido no decúbito ventral com os membros torácicos levemente tracionados cranialmente e os membros pélvicos flexionados, apoiados sobre a mesa. A cabeça pode ser mantida encostada na mesa, se o paciente permitir. Esse posicionamento tem o intuito de manter o paciente mais confortável para a realização do exame, evitando uma piora do quadro respiratório (Figura 25). A área de colimação e a incidência do raio central serão as mesmas, bem como o objetivo de obter a projeção em inspiração completa.TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA 163 FIGURA 25 – POSICIONAMENTO DORSOVENTRAL DO TÓRAX FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 143) A imagem obtida deve incluir todo o tórax, sem borramento da imagem pulmonar. O alinhamento da coluna deve ser objetivado, porém, caso o paciente não permita o posicionamento ideal, uma imagem rotacionada pode ser aceita (Figura 26). FIGURA 26 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DO TÓRAX FONTE: Acervo da autora 164 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 3.3 PROJEÇÕES LATEROLATERAIS DA TRAQUEIA O estudo radiográfico da traqueia é solicitado em casos de suspeita de colapso da traqueia. Os anéis traqueais dos cães não são inteiros e, em sua porção dorsal, uma musculatura faz o fechamento (Figura 27). Essa conformação faz com que a traqueia seja mais flexível. Algumas raças de pequeno porte possuem predisposição ao colapso, por fatores ainda não totalmente esclarecidos, sendo o processo degenerativo o fator mais provável. FIGURA 27 – ANEL TRAQUEAL CANINO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) O colapso tem caráter dinâmico, ou seja, pode mudar de acordo com as forças que atuam sobre a traqueia e de acordo com o grau de colapso. Por isso, a mesma imagem, em momentos distintos, deve ser obtida. O paciente deve ser posicionado em decúbito lateral direito. A cabeça será direcionada cranialmente, levemente flexionada. Os membros torácicos devem ser mantidos na posição anatômica, tracionados distalmente, sobrepostos. A colimação deve abranger desde as cartilagens laríngeas, cranialmente, até a região cardíaca, caudalmente. Para isso, podemos usar a flexão do cotovelo sobre o tórax para definir a área cardíaca. Dorsalmente, as primeiras vértebras cervicais devem estar na área de colimação e o ombro pode determinar o limite ventral da imagem. O raio central deve incidir na região final da traqueia cervical. Devemos fazer três imagens com esse mesmo posicionamento: uma no pico da inspiração, outra no pico da expiração e outra com um objeto realizando compressão na região da traqueia, na entrada do tórax. TÓPICO 2 — EXAME RADIOGRÁFICO DO TÓRAX E TRAQUEIA 165 Não devemos utilizar medicações sedativas ou anestésicas para executar essas projeções radiográficas, facilitando as projeções em diferentes momentos res- piratórios. Assim, como nas imagens do tórax, a presença do profissional na sala será necessária, respeitando os princípios ALARA e o uso dos EPIs é necessário. As imagens obtidas devem demonstrar todo o trajeto traqueal, desde as cartilagens laríngeas até a carina, na região da base cardíaca (Figura 28). FIGURA 28 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DA TRAQUEIA, EM INSPIRAÇÃO, EXPIRAÇÃO E SOB COMPRESSÃO EXTERNA 166 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS FONTE: Acervo da autora 167 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O tórax é a região mais avaliada radiograficamente na rotina veterinária, uma vez que diversas indicações para o estudo dessa região se aplicam. • Os exames radiográficos do tórax são indicados para avaliação cardiovascular, respiratória, do esôfago, espaço pleural e mediastinal e da caixa torácica, para casos de suspeita de pneumonias, edema, doenças brônquicas, cardiomegalias, corpos estranhos, neoformações, efusão pleural, pneumotórax, além de traumatismos. • A projeção laterolateral do tórax deve ser realizada nos decúbitos lateral direito e esquerdo, sem rotação do tórax, com tração cranial dos membros torácicos, evitando sobreposições, abrangendo desde o primeiro par de arcos costais até os últimos, incluindo a coluna torácica e o esterno, obtendo uma imagem sem borramento pulmonar e em inspiração completa. • A projeção ventrodorsal do tórax é realizada com o paciente em decúbito dorsal, com os membros torácicos tracionados cranialmente, paralelos à coluna cervical, mantendo um alinhamento da coluna torácica no exame, demonstrando desde o primeiro até o último par de arcos costais, incluindo-os completamente lateralmente, obtendo uma imagem em inspiração completa e sem borramento. • Uma projeção dorsoventral pode ser realizada em pacientes com dificuldade respiratória grave, substituindo a projeção ventrodorsal ou como projeção única, mantendo o paciente em decúbito ventral, com leve tração cranial dos membros torácicos, incluindo a mesma área descrita na projeção ventrodorsal, tentando um alinhamento da coluna e uma imagem em inspiração completa, se for possível. • Para avaliação radiográfica do tórax, o alinhamento da coluna é de grande importância para o exame, uma vez que o posicionamento ideal permitirá uma avaliação adequada das estruturas cardiovasculares, assim como é fundamental a aquisição de imagens em inspiração completa, fornecendo uma imagem com preenchimento completo dos campos pulmonares e fornecendo um excelente contraste, possibilitando uma avaliação de qualidade das estruturas da cavidade torácica. 168 • Cães e gatos possuem anéis traqueais incompletos, o que promove mais flexibilidade da traqueia, embora o seu colapso também seja mais frequente. • Para realização do estudo radiográfico do colapso, que é dinâmico, projeções em diferentes momentos respiratórios com o mesmo posicionamento serão obtidas, o paciente deverá ser posicionado em decúbito lateral direito, com os membros torácicos tracionados distalmente, abrangendo desde as cartilagens laríngeas até a carina, obtendo imagens em inspiração, expiração e sob compressão externa. • O uso de medicações anestésicas ou sedativas é totalmente contraindicado em estudos radiográficos do tórax, uma vez que prejudicam a amplitude respiratória, impossibilitando projeções em inspiração completa e, ainda, promovendo estase sanguínea, alterando a interpretação das imagens. 169 1 Paciente felina, fêmea, 12 anos de idade, apresentando câncer de mama, foi encaminhada ao setor de radiologia para exame radiográfico do tórax em busca de metástases pulmonares. A respeito da anatomia, da fisiologia e da radiografia do tórax, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Como não é possível solicitar ao paciente que permaneça com o tórax repleto ar, em inspiração, não é necessário se preocupar com a fase respiratória em que a imagem radiográfica é obtida. b) ( ) Sempre devem ser realizadas três projeções radiográficas do tórax em cães e gatos, independentemente da condição respiratória do paciente. c) ( ) Uma projeção dorsoventral pode ser realizada em pacientes com dificuldade respiratória, uma vez que esse posicionamento é mais anatômico para o paciente. d) ( ) Todo paciente com dificuldade respiratória estará respirando de boca aberta e com respiração ruidosa. e) ( ) As projeções laterolaterais do tórax devem ser realizadas sempre com o paciente em decúbito lateral direito. 2 Paciente canino, macho, 9 anos de idade, apresentando tosse seca intensa, foi encaminhado ao setor de radiologia para exame radiográfico do tórax e da traqueia. A respeito do exame radiográfico dessas regiões, analise as proposições a seguir: I- O exame radiográfico do tórax pode ser realizado com três projeções, ventrodorsal e laterolaterais direita e esquerda. II- Para avaliação adequada do tórax, a inspiração completa deve ser objetivada na aquisição das imagens radiográficas. III- O alinhamento da coluna vertebral e dos arcos costais é de grande importância, pois o posicionamento adequado possibilita a avaliação das estruturas cardiovasculares. IV- A traqueia será avaliada através do estudo com três projeções, abrangendo desde as cartilagens laríngeas até a carina. V- No estudo da traqueia, imagens em inspiração, expiração e sob compressão externa devem ser obtidas.Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Todas as proposições estão incorretas. b) ( ) As proposições I e III estão corretas c) ( ) Apenas a proposição IV está incorreta. d) ( ) Apenas a proposição II está incorreta. e) ( ) Todas as proposições estão corretas. AUTOATIVIDADE 170 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS 3 A obtenção de imagens radiográficas de qualidade do tórax é imprescindível para interpretação e diagnóstico corretos do paciente. Para isso, devemos estar atentos à anatomia demonstrada no exame, ao seu posicionamento e à exposição radiográfica adequada. A respeito do posicionamento ideal das imagens radiográficas do tórax, analise as proposições a seguir: I- Projeções em inspiração completa devem ser obtidas, permitindo a máxima presença de ar e o melhor contraste. II- Na projeção laterolateral, a inspiração pode ser avaliada pela distância entre o diafragma e a silhueta cardíaca, havendo sobreposição dessas estruturas, o memento respiratório não está adequado. III- Na projeção ventrodorsal, os processos espinhosos das vértebras torácicas devem estar sobrepostos aos corpos vertebrais; caso eles ultrapassem esse limite, o posicionamento está inadequado. IV- Complementando a projeção em inspiração completa, projeções em expiração e sob compressão podem ser adquiridas. V- O borramento dos campos pulmonares, secundário ao artefato de movimento, é inevitável, uma vez que não podemos solicitar ao paciente que inspire e mantenha o ar nos pulmões. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Todas as proposições estão incorretas. b) ( ) Apenas as proposições I e III estão corretas. c) ( ) Apenas a proposição IV está correta. d) ( ) As proposições IV e V estão incorretas. e) ( ) Apenas a proposição V está incorreta. 171 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Exames radiográficos do abdome podem ser realizados para avaliação das estruturas presentes no abdome, ou, ainda, para avaliação da integridade dos seus limites. Muitas vezes, a avaliação parcial do abdome também pode ser feita nos casos de traumatismos na região do diafragma e da pelve, avaliando a inte- gridade dessas estruturas e também das silhuetas das vísceras adjacentes a eles. Em geral, o estudo radiográfico do abdome será associado a exames ultrassonográficos abominais, de forma a complementarmos a análise da região. TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO ABDOME 2 ANATOMIA BÁSICA Para entender melhor os nomes das projeções e o posicionamento radiográfico da parte e do paciente, é possível revisar os planos anatômicos no Tópico 1 da Unidade 1. DICAS A cavidade abdominal é limitada, cranialmente, pelo diafragma, caudalmente pela pelve, dorsalmente pela coluna lombar e seus limites lateral e ventral são formados pelos músculos abdominais. Em seu interior, encontramos uma série de órgãos e sistemas. O sistema gastrointestinal está presente com estômago, intestino delgado, intestino grosso, assim como fígado, vesícula biliar e pâncreas. O baço estará localizado na porção lateral esquerda do abdome. Os dois rins, com seus ureteres, a bexiga e uma porção da uretra também estarão presentes, assim como a próstata do macho. Os testículos e o pênis estão localizados fora da região abdominal. Já na fêmea, ovários, cornos e corpo uterino até a cérvix e o canal vaginal estarão presentes. Ainda temos importantes estruturas vasculares, 172 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS como a veia porta, a aorta e cava abdominais. Linfonodos e glândulas adrenais estão presentes. Nem todas essas estruturas serão visíveis radiograficamente de forma direta, porém alterações na topografia delas podem ser visibilizadas nas imagens (Figura 29). FIGURA 29 – ANATOMIA DA CAVIDADE ABDOMINAL FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS O exame radiográfico do abdome será composto por duas ou três ima- gens radiográficas. A projeção ventrodorsal sempre será realizada e associada à projeção laterolateral direita, podendo ainda estar associada à projeção latero- lateral esquerda. Pacientes que são encaminhados para exame dessa região, geralmente, apresentam dor à palpação abdominal, podendo apresentar aumento de volume na região ou até estruturas severamente distendidas. Com isso, a manipulação será desconfortável ao paciente e alguns cuidados devem ser tomados, como, an- tes do início do exame, ao colocar o paciente sobre a mesa, evitar colocar as mãos ou fazer pressão abdominal, uma vez que essas atitudes podem levar o paciente a desferir mordidas e, ainda, dificultar a sua colaboração ao exame radiográfico. As principais indicações do exame radiográfico do abdome incluem a avaliação de corpos estranhos, rupturas, processos obstrutivos gastrointestinais, dilatação gástrica, diagnóstico gestacional ou contagem de fetos com mais de 45 dias, litíases em sistema urinário, avaliação dos limites abdominais, patologias que cursem com acúmulo de gases em grande quantidade, além de formações de grandes dimensões e traumatismos. a a e e i i b b f f j j c c g g k k d dh h TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO ABDOME 173 3.1 PROJEÇÃO LATEROLATERAL DO ABDOME Nessa projeção, o paciente deverá ser posicionado em decúbito lateral. A projeção laterolateral direita é a projeção de escolha, podendo ser acrescida a projeção laterolateral esquerda em casos de suspeita de corpos estranhos ou litíases ureterais. Com o paciente em decúbito lateral, os membros torácicos podem ser mantidos na posição de conforto e os membros pélvicos levemente tracionados caudalmente. Não devemos tracionar os membros pélvicos totalmente em sentido caudal, já que isso forma pregas de pele que vão se sobrepor ao abdome prejudicando sua avaliação radiográfica. A rotação do abdome deve ser evitada, mantendo o alinhamento do tórax e o afastamento dos membros pélvicos, assim como realizado na projeção laterolateral da pelve. A área de colimação deve iniciar abrangendo a silhueta diafragmática cranialmente. Para isso, podemos usar a localização da silhueta cardíaca como referência, usando o método da flexão do cotovelo. Assim, a colimação cranial deve iniciar caudalmente a silhueta cardíaca, abrangendo até as articulações coxofemorais caudalmente, incluindo a coluna lombar dorsalmente e a parede abdominal ventralmente. O raio central deve incidir no terço médio do abdome. Para evitar artefatos de movimento na imagem da região cranial do abdome pela movimentação respiratória, a aquisição da imagem pode ser feita no pico da expiração, que, uma vez sendo mais longo, facilita a exposição sem movimentação (Figura 30). A técnica a ser utilizada deve permitir uma boa definição das silhuetas abdominais, com menor contraste. O exame pode ser realizado com contenção física somente, ou, ainda, com o uso de medicações sedativas ou anestésicas sendo, ambas as formas, sem prejuízo ao paciente. Se a presença do profissional na sala for necessária, devemos obedecer aos princípios ALARA e ao uso adequado dos EPIs. FIGURA 30 – POSICIONAMENTO LATEROLATERAL DO ABDOME FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 105) 174 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS Após a exposição do paciente e com a imagem radiográfica obtida, devemos analisar a sua qualidade usando os critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir cranialmente a linha diafragmática, caudalmente a pelve com a articulação coxofemoral, dorsalmente a coluna lombar e ventralmente a parede abdominal. O posicionamento ideal deve demonstrar alinhamento vertebral com sobreposição das asas ilíacas, porém pequenas rotações são toleráveis. Uma imagem com boa definição das víscerasabdominais deve ser visibilizada (Figura 31). FIGURA 31 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA LATEROLATERAL DO ABDOME FONTE: Acervo da autora 3.2 PROJEÇÃO VENTRODORSAL DO ABDOME Nessa projeção, o paciente deverá ser posicionado em decúbito dorsal, de forma a se obter a projeção ortogonal do estudo. Com o paciente em decúbito dorsal, calha ou calços radiotransparentes podem ser utilizados. Os membros torácicos devem ser levemente tracionados cranialmente, podendo-se manter flexão dos cotovelos e ombros se for mais confortável para o paciente. Os membros pélvicos podem ser abduzidos ou tracionados levemente em sentido caudal. Não devemos tracionar os membros pélvicos totalmente em sentido caudal, já que isso forma pregas de pele que vão se sobrepor ao abdome, prejudicando sua avaliação radiográfica. A rotação do abdome deve ser evitada, mantendo o alinhamento do tórax e o uso dos suportes radiotransparentes auxiliam esse processo. TÓPICO 3 — EXAME RADIOGRÁFICO DO ABDOME 175 A área de colimação deve iniciar abrangendo a silhueta diafragmática cranialmente. Para isso, podemos usar a localização da última esternébra como referência, incluindo-a na área de exame. Caudalmente, abrange até as articulações coxofemorais ou o sacro, incluindo a parede abdominal nos limites laterais direito e esquerdo. O raio central deve incidir no terço médio do abdome. Para evitar artefatos de movimento na imagem da região cranial do abdome pela movimentação respiratória, a aquisição da imagem pode ser feita no pico da expiração, que, uma vez sendo mais longo, facilita a exposição sem movimentação (Figura 32). A técnica a ser utilizada deve permitir uma boa definição das silhuetas abdominais. Assim como na projeção laterolateral, podemos realizar a projeção ventrodorsal com contenção física somente, ou, ainda, com o uso de medicações sedativas ou anestésicas sendo, ambas as formas, sem prejuízo ao paciente. Com a presença do profissional na sala, caso seja necessária, deve obedecer aos princípios ALARA e ao uso adequado dos EPIs. FIGURA 32 – POSICIONAMENTO VENTRODORSAL DO ABDOME FONTE: Schebitz; Wilkens (2000, p. 106) Com a exposição realizada e a imagem radiográfica obtida, deve-se analisar a sua qualidade, por meio dos critérios de avaliação. A anatomia demonstrada deve incluir, cranialmente, a linha diafragmática, caudalmente a pelve com a articulação coxofemoral ou o osso sacro, e lateralmente as paredes abdominais direita e esquerda. O posicionamento ideal deve demonstrar alinhamento vertebral com perpendicularidade dos processos espinhosos da coluna lombar e simetria dos arcos costais e das asas ilíacas, embora pequenas rotações sejam toleráveis. Uma imagem com boa definição das vísceras abdominais deve ser visibilizada (Figura 33). 176 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS FIGURA 33 – PROJEÇÃO RADIOGRÁFICA VENTRODORSAL DO ABDOME FONTE: Acervo da autora 177 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Os exames radiográficos do abdome são indicados para avaliação de corpos estranhos, rupturas, processos obstrutivos gastrointestinais, dilatação gástrica, diagnóstico gestacional ou contagem de fetos com mais de 45 dias, litíases em sistema urinário, avaliação dos limites abdominais, patologias que cursem com acúmulo de gases em grande quantidade, além de formações de grandes dimensões e traumatismos. • A projeção laterolateral do abdome deve ser realizada no decúbito lateral direito com leve tração cranial dos membros torácicos e leve tração dos membros pélvicos, evitando rotações abdominais, abrangendo desde o diafragma até a pelve, incluindo a coluna lombar e a parede abdominal, obtendo uma imagem no pico da expiração e com boa definição das vísceras abdominais. • Uma projeção laterolateral esquerda do abdome pode ser indicada em casos de suspeita de corpos estranhos ou litíases ureterais, mantendo-se as orientações da projeção laterolateral direita. • A projeção ventrodorsal do abdome é realizada com o paciente em decúbito dorsal, com os membros torácicos tracionados levemente em sentido cranial e os membros pélvicos levemente tracionados caudalmente, mantendo um alinhamento da coluna lombar no exame, bem como a simetria dos arcos costais e das asas ilíacas demonstrando desde a linha diafragmática até a pelve, incluindo a parede abdominal lateralmente e obtendo uma imagem com boa visibilização das silhuetas abdominais. 178 1 Paciente canino, sem raça definida, 4 anos de idade, foi encaminhado ao setor de imagem para realização de exame radiográfico do abdome, apresentando dor à palpação abdominal. A respeito do exame radiográfico de abdome, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) O exame radiográfico deve ser realizado sempre com o paciente em jejum. b) ( ) Uma projeção ventrodorsal deve ser realizada. c) ( ) Uma projeção laterolateral direita deve ser realizada. d) ( ) Os membros pélvicos não devem ser tracionados totalmente em sentido caudal. e) ( ) Uma projeção laterolateral esquerda pode ser realizada dependendo da suspeita clínica. 2 Paciente canino, macho, 3 anos de idade, apresentando suspeita de corpo estranho em estômago, foi encaminhado ao setor de radiologia para exame radiográfico do abdome. A respeito da anatomia e do exame radiográfico dessa região, analise as proposições a seguir: I- O exame radiográfico do abdome pode ser realizado com três projeções: ventrodorsal e laterolaterais direita e esquerda. II- O exame deve abranger desde o diafragma até a região da pelve, incluindo a coluna lombar e as paredes abdominais ventral e laterais. III- O alinhamento da coluna vertebral, dos arcos costais e das asas ilíacas é objetivado na projeção ventrodorsal. IV- Os membros pélvicos devem ser tracionados levemente em sentido caudal, porém, se tracionados em excesso, uma prega de pele pode se formar, atrapalhando a avaliação da imagem. V- O plano anatômico dorsal do abdome divide-o em dorsal e ventral, e o plano sagital, em cranial e caudal. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Todas as proposições estão incorretas. b) ( ) Todas as proposições estão corretas. c) ( ) Apenas a proposição V está incorreta. d) ( ) As proposições I e III estão incorretas. e) ( ) Apenas a proposição IV está incorreta. AUTOATIVIDADE 179 3 Paciente felina, fêmea, castrada, 7 anos de idade, com suspeita de litíases renais, foi encaminhada ao setor de imagem para realização de exame ultrassonográfico e radiográfico do abdome. A respeito do exame radiográfico de abdome, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os felinos possuem dois rins, dois ureteres, uma bexiga e uma uretra. ( ) Projeções ventrodorsal e laterolateral direita devem ser realizadas. ( ) Uma projeção adicional laterolateral esquerda pode ser realizada caso haja suspeita de litíase em ureteres. ( ) A bexiga está localizada na porção caudal do abdome, cranial à pelve. ( ) O cuidado com a manipulação do paciente é muito importante, uma vez que ele pode apresentar dor abdominal e, ao manipular essa região, ele pode reagir a dor com mordidas ou arranhões. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V – V. b) ( ) V – V – F – V – V. c) ( ) V – V – V – V – V. d) ( ) F – V – F – F – V. e) ( ) F – V – V – V – F. 180 181 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Os equinos são animais de grande porte, com comportamento cauteloso e curioso. Seu sistema locomotor é bem desenvolvido, sendo de suma importância para sua locomoção e sustentação. Diferentemente dos humanos e dos cães e gatos, o equino locomove-se apoiado apenas sobre a sua falange distal, porisso são chamados de ungulígrados. Esse fato torna ainda mais importante o cuidado adequado com seu sistema locomotor. Neste tópico, abordaremos, brevemente, a anatomia do sistema locomotor equino e listaremos as projeções radiográficas a serem realizadas. TÓPICO 4 — ANATOMIA E EXAME RADIOGRÁFICO DO SISTEMA LOCOMOTOR EQUINO 2 ANATOMIA BÁSICA Para entender melhor os nomes das projeções e o posicionamento radiográfico da parte e do paciente, é possível revisar os planos anatômicos no Tópico 1 da Unidade 1. DICAS A anatomia dos ossos que formam os membros é repleta de acidentes anatômicos, nos quais se localizam tendões e ligamentos. Por isso, é necessário apresentarmos os principais acidentes de interesse para a radiologia veterinária equina. O membro torácico é unido ao tronco pela escápula e músculos, sem formar uma articulação verdadeira. A clavícula é totalmente ausente, não passando de uma interseção fibrosa no músculo braquiocefálico (Figura 34). 182 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS FIGURA 34 – MEMBRO TORÁCICO EQUINO FONTE: König; Liebich (2011, p. 167) A escápula é um osso plano que possui uma protuberância em linha, a espinha da escápula, no qual se inserem músculos. A extremidade distal dessa espinha possui duas protuberâncias evidentes, o tubérculo supraglenoide e o processo coracoide. Na extremidade distal, encontra-se a cavidade glenoide, que fará contato com o úmero e o tubérculo supraglenoide. O úmero é um osso modelado pela fixação de músculos e tendões, gerando muitas proeminências e sulcos. Na extremidade proximal, encontramos a cabeça umeral, os tubérculos maior, intermediário e menor. Na diáfise umeral, a tuberosidade deltoide é bastante proeminente. Na sua porção distal, temos a presença do côndilo, dos epicôndilos umerais e a fossa do olécrano. O cotovelo ou articulação umerorradioulnar é formada pelos côndilos umerais em contato com a cabeça do rádio e a incisura troclear da ulna. O antebraço é formado pelo rádio e ulna, sendo que, no equino, esses dois ossos são fundidos. A ulna está situada na caudal, estendendo-se até o terço distal da diáfise. O rádio possui, em sua porção cranial, a cabeça, em que se localiza a TÓPICO 4 — ANATOMIA E EXAME RADIOGRÁFICO DO SISTEMA LOCOMOTOR EQUINO 183 fóvea articular. Distalmente, a tróclea fará contato com o carpo. A ulna forma a extremidade caudal do cotovelo através do olecrano, que, em sua base, está localizada a incisura tróclear que fará contato com o úmero. Na porção cranial da incisura, estará o processo ancôneo e, em seus lados, os processos coronoides medial e lateral. Seu corpo será unido ao corpo do rádio. A extremidade distal do membro será formada por carpo, metacarpos e falanges. Os ossos carpais estão divididos em duas fileiras, proximal e distal. A fileira proximal articula-se com o rádio e ulna, formando a articulação antebraquiocarpal, e a fileira distal, com os metacarpos, formando a articulação carpometacarpal (Figura 35). A imagem radiográfica do carpo pode ser visualizada na Figura 36. FIGURA 35 – EXTREMIDADE DISTAL DO MEMBRO TORÁCICO EQUINO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) a a e e i i b f f j j c c g k k k k k l l m d d h h 184 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS FIGURA 36 – IMAGEM RADIOGRÁFICA DO CARPO EQUINO FONTE: König; Liebich (2011, p. 179) O metacarpo equino é formado por três ossos, sendo que apenas o terceiro é funcional. Medial e lateralmente a ele, localizam-se o II e o IV metacarpais, sendo duas estruturas ósseas curtas que não sustentam peso. Os metacarpais I e V são ausentes. Na porção distal do III metacarpal, localiza-se a tróclea, que fará contato com o dígito. Os ossos digitais do equino reduzem-se ao 3º dedo somente, composto por suas três falanges, proximal, média e distal, e por dois ossos sesamoides, os proximais e o distal ou navicular (Figura 37). Externamente à falange distal, temos o casco. A imagem radiográfica do carpo pode ser visualizada na Figura 38. TÓPICO 4 — ANATOMIA E EXAME RADIOGRÁFICO DO SISTEMA LOCOMOTOR EQUINO 185 FIGURA 37 – DÍGITO EQUINO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) FIGURA 38 – IMAGEM RADIOGRÁFICA DO DÍGITO EQUINO FONTE: König; Liebich (2011, p. 181) O membro pélvico é unido à coluna sacral pela pelve, a qual é formada pelos ossos ílio, ísquio e púbis. O acetábulo é uma concavidade formada pela união dos três ossos (Figura 39). 186 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS FIGURA 39 – MEMBRO PÉLVICO EQUINO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011, p. 237) A articulação coxofemoral é formada pelo contato entre a cabeça femoral e a concavidade acetabular. O fêmur possui, em sua extremidade proximal, a cabeça femoral, junto ao trocanter maior, trocanter menor e terceiro trocanter. A extremidade femoral distal é composta pelos côndilos femorais e, entre eles, a tróclea femoral e a fossa intercondilar. Na tróclea, haverá o contato entre o fêmur e a patela. O joelho, ou articulação femorotibiopatelar, é formado pelos côndilos femorais, patela situada na tróclea femoral e nos côndilos tibiais. Os ligamentos colaterais e os ligamentos cruzados, entre outros, auxiliam na estabilidade da articulação, que ainda possui um menisco. A perna é formada pela tíbia e pela fíbula. A fíbula percorre a margem lateral da tíbia e, no equino, somente a sua parte proximal é isolada. A extremidade proximal da tíbia é ampla, formando uma base para o joelho, sendo composta por dois côndilos separados pela eminência intercondilar. Distalmente, a tíbia é formada pela cóclea e, medialmente, temos o maléolo medial. O maléolo lateral é formado pela fusão da tíbia com a fíbula. Na cóclea, temos o contato com o tarso, por meio do tálus. TÓPICO 4 — ANATOMIA E EXAME RADIOGRÁFICO DO SISTEMA LOCOMOTOR EQUINO 187 FIGURA 40 – TARSO EQUINO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) Os ossos tarsais serão dispostos em três fileiras (Figura 40). A proximal articula-se com a tíbia, formando a articulação tarsocrural. Nessa fileira, encontram- se os ossos tálus e o calcâneo. A fileira distal articula-se com os metatarsos, pela articulação tarsometatarsal. A fileira média une-se com as demais por meio de uma série de ligamentos, dando estabilidade ao tarso. A imagem radiográfica do tarso pode ser vista na Figura 41. FIGURA 41 – IMAGEM RADIOGRÁFICA DO TARSO EQUINO FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011, p. 255) aa ee i i b b f f j j cc g g dd h h 188 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS Os metatarsos e o dígito do membro pélvico são muito semelhantes aos metacarpos e ao dígito do membro torácico. 3 POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS O exame radiográfico do equino será realizado com o paciente em pé, acordado e, muitas vezes, a campo. Com isso, um equipamento portátil de radiografia será necessário. A observação do comportamento corporal do paciente é muito importante antes da aproximação para realização do exame. A contenção do paciente deverá ser tão mínima quanto possível, respeitando a segurança de todos os profissionais envolvidos. Pacientes com dor tendem a maior agitação, porém uma aproximação calma e progressiva auxilia na tolerância à manipulação e na realização do exame. De acordo com a sua conformação corporal e sua musculatura bem desenvolvida, quanto mais proximal for a área de estudo, mais difícil será o exame. A avaliação radiográfica deve ser feita centralizando-se o ponto de avaliação do exame radiográfico, sempre utilizando projeções ortogonais. Em alguns casos, posições adicionais oblíquas podem ser realizadas de forma a complementar uma região avaliada, levando em consideraçãoa suspeita clínica. De forma esquemática, uma lista com algumas regiões a serem avaliadas nos membros e alguns posicionamentos radiográficos para cada uma delas pode ser vista no Quadro 2. As principais indicações de exames radiográficos dos membros torácico e pélvico incluem doenças articulares, laminite, casqueamento e traumatismos, que podem levar a fraturas e luxações. Avaliação radiográfica do ombro Avaliação radiográfica do dígito anterior Mediolateral Lateromedial Avaliação radiográfica do cotovelo Dorsopalmar Mediolateral Oblíqua proximal-palmarodistal Craniocaudal Oblíqua dorsoproximal-palmarodistomedial Avaliação radiográfica do carpo Oblíqua palmaroproximal-palmarodistal Dorsopalmar Avaliação radiográfica da pelve Lateromedial Oblíqua ventromedial-dorsolateral QUADRO 2 – REGIÕES AVALIADAS NOS MEMBROS E SEUS POSICIONAMENTOS RADIOGRÁFICOS TÓPICO 4 — ANATOMIA E EXAME RADIOGRÁFICO DO SISTEMA LOCOMOTOR EQUINO 189 FONTE: A autora Lateral com flexão Avaliação radiográfica do joelho Oblíqua dorsolateral-palmaromedial Lateromedial Oblíqua dorsomedial-palmarolateral Caudocranial Avaliação radiográfica da fileira proximal do carpo Oblíqua caudolateral-craniomedial Oblíqua dorsoproximal-dorsodistal Avaliação radiográfica do tarso Avalição radiográfica da fileira distal do carpo Dorsoplantar Oblíqua dorsoproximal-dorsodistal Lateromedial Avaliação radiográfica da articulação metacarpofalangiana Oblíqua dorsolateral-plantaromedial Lateromedial Oblíqua dorsomedial-plantarolateral Lateromedial sem apoio do membro contralateral Lateromedial flexionada Oblíqua dorsoproximal-palmarodistal Oblíqua dorsolateral-palmaromedial Conhecer os pacientes é de grande importância para alcançarmos a qualidade dos exames, preservando a segurança e o bem-estar do paciente e dos profissionais envolvidos. Para conhecermos um pouco mais sobre os pacientes equinos, leia o texto apresentado na leitura complementar, que relata o comportamento e como realizar o manejo dessa espécie. DICAS 190 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS LEITURA COMPLEMENTAR MANUAL DE BOAS PRÁTICAS DE MANEJO EM EQUIDEOCULTURA Brasil Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento COMPORTAMENTO NATURAL DOS CAVALOS Antes de qualquer análise sobre bem-estar, um estudo dos comportamentos normais de uma espécie é essencial para a identificação de qualquer tipo de problema. As características físicas e os comportamentos naturais dos cavalos devem servir de base para as escolhas com relação às instalações e práticas de manejo a serem desenvolvidas. Nos primórdios, o homem apenas caçava o cavalo com intuito de consumir sua carne. Porém, mesmo antes da sua domesticação, que ocorreu há cerca de seis mil anos, a aparência do cavalo é a mesma (ENDENBURG, 1999; CASEY, 2002; LAROUSSE, 2006; GOODWIN; 2007, CINTRA, 2010). Por isso, entende-se que suas necessidades físicas e mentais também não mudaram desde então (CASEY, 2002; GOODWIN, 1999). O cavalo é por natureza uma presa. Para sobreviver, seu ancestral sofreu alterações adaptativas, principalmente dos sistemas musculoesquelético e digestório, potencializando em seus descendentes a capacidade de fuga de predadores. Houve um aumento gradativo no tamanho corporal e redução do número de dedos, além de alterações nos dentes, que possibilitou o consumo de forragem. O sistema musculoesquelético ficou mais eficiente para permitir a fuga em grande velocidade, e esta capacidade foi complementada com um sistema digestório composto por um estômago pequeno, que comporta pouca quantidade de alimento e permite ao cavalo realizar fugas imediatas (GOODWIN, 2007). Esse pequeno estômago obrigou-o a ingerir pouca quantidade de alimento várias vezes ao dia. A sobrevivência dos ancestrais do cavalo também foi influenciada pela convivência em grupo (GOODWIN, 2007). Animais em grupo obtinham mais sucesso do que animais isolados. Isso porque havia um número maior de animais atentos à presença de predadores (GOODWIN, 1999). Certa rotatividade de funções dentro do grupo permitia que alguns cavalos pudessem descansar e se alimentar enquanto outros se mantinham alertas. Esse grupo migrava constantemente em busca de um local seguro e com disponibilidade de alimento. Em vida livre, o cavalo prioriza a segurança, seguida por conforto e interações sociais com os demais membros do grupo e, por fim, a alimentação, que é vista como uma consequência de um local seguro, onde o grupo optou por permanecer. Em um primeiro momento, isso pode parecer estranho, mas fica evidente se pensarmos que o cavalo só poderá se alimentar se permanecer vivo, ou seja, se estiver TÓPICO 4 — ANATOMIA E EXAME RADIOGRÁFICO DO SISTEMA LOCOMOTOR EQUINO 191 seguro de predadores (BIRD, 2004; CINTRA, 2010). Naturalmente, os cavalos fazem parte de um grupo. Em sua evolução, a comunicação foi desenvolvida para expressão do indivíduo que precisa de outros integrantes do grupo para viver bem e sobreviver aos desafios do ambiente. Os cavalos se comunicam muito bem por meio da linguagem corporal, e assim, também recebem as informações de outros indivíduos da sua convivência (como predadores e seres humanos). Cavalos mostram-se grandes, ativos e alertas, por meio de uma postura avançada, pescoço e cabeça erguidos, movimentos das orelhas e dos lábios como forma de reação a diferentes estímulos do ambiente. Cavalos são curiosos ao mesmo tempo em que são cautelosos e estão prontos para o galope em situações de perigo. Se precisarem, enfrentam o perigo avançando com o pescoço e a cabeça em direção ao alvo, com as orelhas para trás e os dentes a mostra. Podem empinar ou virar-se para escoicear e afastar o perigo. Ao contrário, cavalos debilitados ou deprimidos mostram-se acuados, com o pescoço e a cabeça baixos, orelhas e lábios caídos. Interagem pouco com o ambiente. Porém, como sinal de desequilíbrio, podem reagir exageradamente a pequenos e inofensivos estímulos. Cavalos estressados ou deprimidos aumentam os riscos de acidentes entre cavalos e humanos. O estado emocional dos cavalos pode ser interpretado por meio das suas expressões corporais e faciais. Tanto sentimentos positivos como negativos podem ser evidenciados pela expressão corporal e facial dos cavalos, e, dessa forma, os cavalos se expressam para outros indivíduos presentes no seu ambiente. MANEJO O cavalo gosta de seguir uma rotina diária, sem surpresas com situações novas e repentinas. Todos os animais devem ser supervisionados pelo menos uma vez ao dia, embora seja recomendado que os animais confinados sejam supervisionados pelo menos duas vezes ao dia. A alimentação, o manuseio e trabalho devem ser realizados seguindo seus horários programados e alterações devem influenciar o mínimo possível as demais atividades (BIRD, 2004). Mudanças na dieta devem ser planejadas e feitas de forma gradual para não provocar problemas gastrointestinais, como cólicas e diarreias nos cavalos. Por mais esse motivo, devemos manter constante o grupo de indivíduos e seu ambiente (LAROUSSE, 2006). O cavalo, por ser uma espécie predada por outras, sente medo quando está exposto a predadores em potencial (GRANDIN; JOHNSON, 2010). Huma- nos e cães estranhos podem ser considerados predadores pelos cavalos. Animais que são manejados diariamente por um tratador habituam-se à presença de pes- soas. Entretanto, em grandes propriedades, há menos oportunidades de contato entre o tratador e os animais devido à automatização dos sistemas de manejo. Contudo, alguns procedimentos exigem a mão de obra humana, como a captura e contenção dos animais para vacinação, cuidados com os cascos, administração de medicamentos e transporte.Esses manejos geralmente são considerados aver- sivos pelos cavalos, resultando em uma possível associação negativa ao contato 192 UNIDADE 3 — EXAMES RADIOGRÁFICOS DE CÃES E GATOS E DO SISTEMA LOCOMOTOR DE EQUINOS com o ser humano, já que as interações positivas, oriundas do manejo diário, são cada vez mais raras (RUSHEN; TAYLOR; PASSILLÉ, 1999). Situações ruins du- radouras e frequentes são piores para o grau de bem-estar do cavalo. Algumas situações são previstas na vida de um cavalo mantido pelo ser humano, como o confinamento, o desmame, a doma, a castração; porém, as boas práticas minimi- zam seus efeitos negativos para o cavalo e suas consequências na rotina diária. Em casos de contenção prolongada, algumas técnicas (cachimbo ou pito, torção da orelha e da pele da palheta) são extremamente dolorosas e diminuem o bem-estar dos cavalos. Essas técnicas, sempre que possível, devem ser evita- das para serem substituídas por sedativos indicados por médicos veterinários ou treinamentos de condicionamento operante. Nunca se deve usar instrumen- tos ou equipamentos que possam causar feridas, traumas, escoriações ou dores musculares nos cavalos. Métodos de treinamento devem ser baseados na recom- pensa aos comportamentos adequados, evitando métodos punitivos, baseados no medo ou na dor. É importante que um cavalo utilizado para sela seja habitu- ado a diferentes estímulos, para evitar que se assuste e cause acidentes a quem o monta. O uso do reforço positivo pode levar ao condicionamento na realização de tarefas com a máxima colaboração do cavalo. Esse tipo de condicionamento já é bastante utilizado e aprovado em recintos de animais selvagens, para exames clínicos e coleta de materiais biológicos, como o sangue. Nos tratamentos veteri- nários, em casos de procedimentos que sabidamente causam dor, deve-se reali- zar a sedação enquanto o cavalo ainda estiver calmo, para que não haja traumas e rejeições a futuros procedimentos semelhantes. É importante observar os sinais comportamentais do cavalo ao submetê- lo a um novo procedimento, comportamentos que nos indiquem como o cavalo se sente. Atenção aos sinais de medo, como: o balançar da cola (cauda), que se torna mais intenso quando o medo aumenta, cabeça levantada para observação do que lhe causa medo, suor sem realização de exercícios físicos, tremor da pele e olhos muito abertos, expondo a terceira pálpebra (pálpebra branca do canto dos olhos) (GRANDIN; JOHNSON, 2010). Cavalos com medo apresentam recuo, balançar vigoroso da cola (cauda), olhos arregalados, respiração ofegante, narinas dilatadas. Cavalos agressivos reagem com coices, manotadas, cabeçadas, mordidas, murchando as orelhas para trás. FONTE: BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Manual de boas práticas de manejo em equideocultura. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 2017. Disponível em: https://bit.ly/3fu2wfV. Acesso em: 3 maio 2021. 193 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • O equino apoia-se sobre sua falange distal apenas, sendo chamado de ungulídrado. • O membro torácico é unido ao tronco por musculatura aderida à escápula, não possuindo clavícula nem estrutura óssea vestigial dela. • O ombro é formado pela união entre a escápula e o úmero pela cavidade glenoide da escápula e da cabeça umeral. • O cotovelo é formado pelo contato entre os côndilos umerais, a cabeça do rádio e incisura da ulna, sendo que, no equino, a ulna e o rádio são fundidos. • A extremidade distal do membro é formada por carpo, metacarpos e falanges. • O carpo possuiu duas fileiras, responsáveis pela sua articulação, proximalmente, com o rádio e, distalmente, com os metacarpos. • Apenas o III metacarpo é bem desenvolvido e suporta todo o peso, os metacarpos II e IV são bem menores e não auxiliam na sustentação. • As três falanges do III dígito formam a extremidade distal do membro, somadas a dois sesamoides proximais junto à falange proximal e a um sesamoide distal entre a falange média e distal. • A falange distal é revestida pelo casco. • O membro pélvico é unido a coluna pela pelve, que é formada pela fusão dos ossos ílio, ísquio e púbis, sendo que a união desses ossos também forma o acetábulo. • O fêmur une-se ao acetábulo pela sua cabeça, formando a articulação coxofemoral ou quadril. • O joelho é formado por côndilos femorais, patela e côndilos femorais. • A tíbia e fíbula unem-se em suas extremidades distais, através da cóclea com o tarso. 194 Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • O tarso possui três fileiras de ossos, sendo que a fileira distal se une aos metatarsos. • Os metatarsos e falanges do membro pélvico são muito similares com os do membro torácico. • A aproximação do equino para realização do exame radiográfico deve ser calma e progressiva, exigindo o mínimo de contenção possível para realização do exame. • Muitas projeções podem ser realizadas das estruturas ósseas e articulares do sistema locomotor equino. 195 1 Para realização dos exames radiográficos nos equinos, deve-se realizar uma aproximação cautelosa do paciente, estando atento ao seu comportamento durante a abordagem, a fim de permitir a realização do exame com segurança e qualidade, uma vez que a radiografia é parte importante para a avaliação dos membros nessa espécie. A respeito dos exames radiográficos dos equinos, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Projeções ortogonais das regiões avaliadas podem ser realizadas. b) ( ) Uma das indicações do exame é a laminite. c) ( ) O exame radiográfico deve ser feito com o paciente sedado sempre, sendo a única forma de garantir a segurança do paciente e dos profissionais. d) ( ) Projeções oblíquas podem ser realizadas pra avaliações adicionais. 2 Paciente equino, 8 anos, macho, não castrado, foi avaliado e a suspeita clínica de fratura na região distal do membro pélvico foi levantada. Para melhor avaliação, um exame radiográfico foi solicitado. A respeito dos exames radiográficos em equinos, analise as proposições a seguir: I- O mínimo de contenção possível deve ser objetivado, preservando a segurança do paciente e de todos os profissionais envolvidos. II- A observação do comportamento do paciente antes de iniciar o exame auxilia nas decisões sobre como abordar o equino. III- Os ossos do tarso são dispostos em três fileiras. IV- O equino apoia-se sobre a falange distal, sendo esta revestida pelo casco. V- O III metatarso é mais desenvolvido, sendo os II e IV metatarsos com tamanho reduzido e não auxiliando na sustentação do peso. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As proposições I, II e III estão corretas. b) ( ) Somente a proposição II está incorreta. c) ( ) As proposições III e V estão incorretas. d) ( ) Todas as proposições estão corretas. e) ( ) Somente a proposição I está correta. 3 Paciente equino, fêmea, 2 anos de idade, utilizada para trabalho por forças de segurança, apresentando claudicação do membro torácico, foi examinada e solicitou-se exame radiográfico da porção distal do membro. A projeção lateromedial é apresentada na figura a seguir: AUTOATIVIDADE 196 Com base nas estruturas ósseas apresentadas na imagem, associe os itens, utilizando o código a seguir: ( ) Sesamoide distal ou navicular. ( ) Falange proximal. ( ) III metacarpal. ( ) Falange distal. ( ) Sesamoides proximais. ( ) Falange média. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – II – III – IV – V – VI. b) ( ) V – III – I – VI – II – IV. c) ( ) II – III – I – VI – V – IV. d) ( ) V – I – III – VI – II – IV. e) () V – IV – I – III – II – IV. FONTE: Adaptada de König; Liebich (2011) 197 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Manual de boas práticas de manejo em equideocultura. Brasília: Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento; 2017. Disponível em: https://bit.ly/3fu2wfV. Acesso em: 3 maio 2021. KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. G. Anatomia dos animais domésticos. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2011. SCHEBITZ, H.; WILKENS, H. Atlas de Anatomia radiográficas do cão e do gato. 5. ed. São Paulo: Manole; 2000. 244p. THRALL, D. E. Diagnóstico de Radiologia Veterinária. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2014.