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Resenha e perguntas. Paulo Ricardo Prates Boitrago Resenha: BARROS, J. R. M.; GOLDENSTEIN, L. Avaliação do processo de reestruturação industrial brasileiro, Revista de Economia Política, vol. 17, n., abr/jun. 1997. Introdução: A economia brasileira estaria passando na década de 1990 por quatro diferentes processos: globalização, abertura da economia, estabilização e privatização. Os autores consideram como marco a globalização, que impõe de certa forma a abertura financeira. Esta, por um lado, obriga as empresas a reduzir custos, aumentar produtividade e investir em novas técnicas, e, por outro lado, provoca uma brutal transferência de renda para o consumidor. Essa turbinada no mercado consumidor atrai investimentos externos. A abertura é uma condição sine qua non para a estabilização. Esta contribui também significativamente para a ampliação do mercado, uma vez que (i) a inflação baixa promove ganhos as faixas mais baixas da população; (ii) cria-se condições para a expansão do mercado de crédito; e (iii) melhora das expectativas de longo prazo das empresas. “Assim, a abertura da economia associada à estabilidade resultou em uma guinada radical na direção que as decisões de investimento vinham tomando.” Os aumentos dos investimentos estrangeiros ocorrem por (i) compra de empresas familiares tradicionais e (ii) novas plantas e setores. A opção por (i) deve-se ao interesse de conquistar mais rapidamente um mercado em expansão. Seguem-se daí novos investimentos. A opção por (ii) se dá em duas etapas: primeiro as empresas estrangeiras testam o mercado e a aceitação de seus produtos criando uma rede de distribuição e de assistência técnica (elevado coeficiente de importações em bens finais); segundo as empresas iniciam seus investimentos (elevado coeficiente de importações em bens de produção); terceiro as empresas reduzem o nível de importações e, estrategicamente, definem a necessidade de se tornar exportadoras. Os autores afirmam que passados dois anos do Plano Real, a fase segunda estaria sendo executada. Apontam-se duas confusões sobre a avaliação dos investimentos das indústrias nacionais: (i) além de falta de dados, os críticos não separam os impactos, por um lado, deletérios dos elevados juros no curto prazo, mas, por outro lado, de ajustar para se ajustar uma economia, de modo a ter uma inflação baixa sustentável; (ii) não perceberem os novos investimentos estão se dirigindo para outros estados que não São Paulo. Os autores descrevem o processo de ajustamento da tradicional empresa familiar brasileira como inevitável. Afirma que há uma falsa discussão sobre o atraso [defasagem] cambial; ao invés disso, o custo tem sido atacado com o processo de reestruturação industrial e redução do “custo Brasil”. Crítica ao argumento do atraso cambial: negligencia o fator tempo. Isto é, não capta a “[...] profunda transformação que torna pouco útil uma mera comparação de taxas em diferentes pontos do tempo.” (p. 15). Avaliação do processo de reestruturação industrial nessa seção os autores descrevem a evolução das mudanças ocorridas nas estruturas de diversos setores: automobilístico, eletrônica de consumo, têxtil, alimentos, farmacêuticos, papel e celulose, siderúrgico, máquinas e implementos agrícolas, informática e construção civil. Concluem que a economia brasileira está passando por um impressionante processo de reestruturação onde há um “círculo virtuoso” que, caso não seja interrompido por alguma dificuldade advinda da estabilização, deve garantir o dinamismo e o retorno a elevadas taxas de crescimento. 3. Conclusão Apesar do otimismo que os autores concluem sobre as perspectivas dos setores analisados, apontam quatro grandes incógnitas: (i) setor de bens de capital; (ii) setor de tecnologia de ponta; (iii) implicações geográficas das transformações que estão ocorrendo e seus impactos sobre o emprego. 4. Post-scriptum: da reestruturação industrial a uma política de investimento e competitividade os autores estão convencidos que “[...] o país vem passando por um profundo processo de reestruturação industrial. [...] um processo doloroso por implicar uma certa concentração e desnacionalização, mas que, entretanto, é um processo positivo. Positivo porque está permitindo não só a consolidação da estabilização, mas também a construção das bases para a retomada de um crescimento sustentado.” (p. 27). Afirmam que as privatizações “[...] contribuem para o processo de aumento geral da eficiência da economia, sinalizam novas possibilidades de investimento e atraem capitais, tanto estrangeiros como diferentes capitais nacionais, que até há pouco tempo limitavam-se a girar na órbita especulativa.” (p. 28). A abertura pressionou por reestruturação, produtividade e competitividade, tanto para as empresas nacionais como para as estrangeiras. Os autores acreditam que a generalizada retomada dos investimentos das empresas deixa claro que não há risco do chamado “voo da galinha”. Argumentam que a preocupação passa a ser com a balança comercial, no curto e médio prazo, uma vez que o encolhimento das cadeias produtivas que impactam na geração de valor agregado. Contudo, no longo prazo, esse raciocínio não é necessariamente verdadeiro, pois após a fase inicial de penetração no mercado interno, as empresas estrangeiras começam agora “[...] um processo de reintegração produtiva que, se persistente e auxiliado por alguma política de investimentos, permitirá o adensamento das cadeias produtivas com a internalização da produção.” (p. 29). A internalização da produção das empresas estrangeiras seria justificada por: (i) custos de depender totalmente do fornecimento externo; (ii) distância do Brasil; (iii) tamanho do mercado interno brasileiro; (iv) elevadas taxas de juro aumenta o custo de carregamento (estoque). As modernas sistemáticas de produção enxuta e on line implica a existência de um fornecedor local. O moderno processo produtivo baseado no just in time obriga a presença dos fornecedores em locais próximos das montadoras. “O resultado, do ponto de vista macroeconômico, é o adensamento da cadeia produtiva embora, não se pode negar, com profunda transformação das características dos produtores no nível micro.” (p. 30). Para expandir e intensificar esse processo, os autores recomendam uma Política de Investimentos e Competitividade, com os seguintes objetivos: (i) restruturação dos setores mais afetados; (ii) adensamento das cadeias produtivas; (iii) aumento do valor adicionado e modernização tecnológica das exportações. Sugerem uma condução intermediária da política industrial (entre o controle absoluto da matriz industrial e o laissez faire). Resenha: LAPLANE, M.; SARTI, F. Investimento direto estrangeiro e a retomada do crescimento sustentado nos anos 90. Economia e Sociedade, vol. 8, jun. 1997. Introdução: Desafios ao crescimento sustentável da economia brasileira a partir de meados dos anos 1970 (esgotamento do modelo de substituição de importações): (i) montar mecanismos capazes de captar a poupança doméstica para financiamento de longo prazo; (ii) modernizar a estrutura empresarial, sobretudo a de capital nacional; (iii) criação de uma núcleo de geração e de difusão de inovações (COUTINHO, BELLUZO, 1996, p. 139). Autores como Barros e Goldenstein (1997, p. 27-29) argumentam que as bases do crescimento sustentado foram retomadas com a interação dos processos de globalização, abertura, estabilização e privatização. Objetivo dos autores: analisar a contribuição do IDE na indústria brasileira para a retomada do crescimento econômico sustentado. 1. Evolução do Investimento Direto Estrangeiro no Brasil nos anos 90 A estabilização verificada após 1994 encontra dois fatores explicativos: (i) abertura comercial (redução de tarifas e barreiras não tarifárias); (ii) valorização cambial (pressão sobre o market share e mark-up domésticos) (MESQUITA MOREIRA, CORREIA, 1996). Observou-se entre 1990-96 déficit comercial: crescimento exponencial das importações de 158% contra crescimento de 52% das exportações (emboraestas últimas estejam dentro da média mundial). O desempenho das importações é explicado pelos pontos (i) e (ii) anteriormente descritos, além do crescimento de 15% do PIB durante 1993-96. Soma-se ao que foi dito, déficits nas contas de serviços e rendas primárias. Os déficits das transações correntes de 2,5% e 3,3% do PIB em 1995 e 1996, respectivamente, foram totalmente financiados pela entrada de recursos externos: (a) aumento dos investimentos estrangeiros, (b) reinvestimentos, e (c) financiamentos e empréstimos de médio e longo prazos; o resíduo foi financiado pelo investimentos em portfólio e demais capitais de curto prazo. As reservas alcançaram em 1996 o patamar de US$ 60 bilhões. Apesar disso, devido o uso de (c), a dívida externa e o serviço da dívida têm aumentado. Assim, permanecendo os déficits comerciais, a manutenção desse padrão de financiamento dependerá da entrada crescente de (i) fluxos de empréstimos e financiamentos e (ii) de investimento estrangeiro, sobretudo de investimento direto (IDE). Contudo, (ii) tem limitações: (ii.a) não tem natureza estável; (ii.b) tende apresentar impactos negativos ao longo do tempo (como aumento das remessas de lucros e dividendos). “O fluxo de IDE do início dos anos 90 esteve fortemente associado a um processo de racionalização e modernização da estrutura produtiva.” (p. 148). Verifica-se que o IDE direcionada à indústria de transformação em 1995 representava 53,2%, em 1989 essa parcela era de 71,1%. Em contrapartida, os serviços praticamente dobraram sua participação, alcançando 42,5% em 1995. 2. Reestruturação produtiva, balança comercial e atuação das empresas estrangeiras O desempenho da indústria brasileira após o Plano Real é marcado por fortes diferenças setoriais: crescimento expressivo das indústrias de bens de consumo duráveis e não duráveis; fraco crescimento dos bens de capital. “O desigual desempenho entre esses dois grupos de setores resulta do processo de especialização e de complementaridade produtiva e comercial das grandes empresas, com importação crescente de peças e componentes [aumentando o IDE], iniciado por fabricantes de bens finais, a partir da abertura da economia em 1990 e acentuado, nos últimos tempos, em função do câmbio e da disponibilidade de financiamento externo para importações.” (p. 151, grifo nosso). Os autores reconhecem que o processo de especialização das empresas teve como contrapartida aumentos de rentabilidade e dos níveis de competitividade, expressos em maior produtividade. “Entretanto, em termos sistêmicos, esta reestruturação resulta em fragilização dos encadeamentos produtivos e tecnológicos, perda do poder multiplicador e indutor da indústria, cuja taxa de crescimento tem sido inferior à dos demais setores de atividade (Tabela 4) e, sobretudo, em impactos negativos na balança comercial.” (p. 151, grifo nosso). Quanto à balança comercial, os déficits devem ser atribuídos basicamente à evolução das importações. “É importante destacar que a evolução do consumo e do investimento tem tido como contrapartida a geração de expressivos déficits comerciais em termos globais, ainda que concentrados em alguns setores: combustíveis, bens de capital, insumos e componentes elétricos e eletrônicos, automóveis e autopeças, produtos químicos e cereais.” (p. 152). Segundo os autores as evidências “[...] permitem questionar a possibilidade de que o crescimento das importações deva ser atribuído a um maior comércio intrafirma (matriz e filial) ou mesmo entre as filiais das empresas aqui instaladas e os fornecedores mundiais da corporação, tendência crescente nas relações internacionais. [...] Ainda assim é possível, por intermédio de outros indicadores apontar outras evidências que confirmariam a hipótese de que as empresas estrangeiras têm contribuído de forma significativa para o aumento das importações. (p. 154, grifo nosso). Os autores sugerem (tabela 6 em contraste com a tabela 7) que a estratégia de atuação das empresas estrangeiras esteja voltada fundamentalmente para o mercado doméstico (e MERCOSUL). Resenha: FRANCO, G. H. B. A inserção externa e o desenvolvimento. Revista de Economia Política, vol. 18, nº 3, JulSet, 1998. 1. Estabilização e desenvolvimento O autor descreve os planos de estabilização fracassados da década 1980 como “anestesias sem cirurgia”. Considera que à medida que os fundamentos fiscais e monetários vão se consolidando é natural que a agenda da estabilização se confunda com a agenda do desenvolvimento. Franco (1998) alega que a crítica à estabilização se baseou na acusação de que a austeridade era o anti-desenvolvimento. “Constitui óbvia tolice imaginar o desenvolvimento econômico, ainda mais quando pensado como processo amplo que incorpore necessariamente o progresso na dimensão social, deva ter como pré-requisito um imposto sobre o pobre.” (p. 2). Outro ponto de ataque, segundo o autor, baseia-se na crítica da abertura: “A abertura, na mente dos críticos, leva necessariamente à crise cambial, ou nos condena ao crescimento medíocre, o único compatível com o equilíbrio cambial na presença da abertura e taxas de câmbio consistentes com inflação baixa.” (p. 2). A hipótese do autor no ensaio se baseia no argumento “[...] que será justamente o processo de abertura, através de seus efeitos sobre o dinamismo tecnológico do país, que definirá os contornos básicos do novo ciclo de crescimento.” (p. 2). 2. A globalização: efeitos sobre o Brasil O que é tal coisa ? “É um crescimento da "propensão a exportar (e a importar)", ou do grau de abertura, para o conjunto das principais economias do planeta, processo do qual resulta uma mudança qualitativa no caráter da produção manufatureira.” (p. 3). Como se dá tal coisa? Em três eixos fundamentais: (i) o fenomenal crescimento das redes de filiais de Empresas Transnacionais (ETNs) [agentes principais]; (ii) A proliferação de estratégias de ajustamento e racionalização compreendendo desintegração vertical, outsourcing e relocalização no exterior; (iii) “novas formas” de investimento internacional (miríade de vínculos financeiros e, principalmente, tecnológico). Quais são seus efeitos precisos sobre o Brasil? O autor reconhece o papel primordial das empresas estrangeiras no desenvolvimento dos setores mais dinâmicos da economia brasileira. Entende que a globalização chega ao Brasil através das filiais estrangeiras, e se desenvolve a margem de qualquer incentivo ou política específica do governo apontando nessa direção. Contudo, essa inserção se dá apenas pelo canal das exportações. “As [1] restrições às importações são a causa desse constrangimento [baixa propensão a importar], que certamente é crucial para explicar, juntamente com a [2] instabilidade macroeconômica, a extraordinária perda de importância do Brasil como receptor de investimento direto estrangeiro em um momento particularmente rico neste domínio.” (p. 7). Portanto, os fatores internos foram à causa da perda de “valiosas oportunidades” [fluxos de investimento direto internacional] nos anos 1980. Do que foi dito, o autor chega às conclusões sobre o investimento direto estrangeiro: (i) há razões exógenas determinantes do crescimento das exportações brasileiras; (ii) o crescimento fenomenal do investimento direto estrangeiro depende da consolidação da estabilidade macroeconômica; (iii) além da forma greenfield padrão, “novas formas” de associação financeira e tecnológica serão feitas; (iv) um parte dos investimentos será feita por aquisição de ativos existentes – strategic asset seeking FDI. 3. A produtividade e os novos caminhos do desenvolvimento O autor argumenta que a “década perdida” representa “[...] o marco de um processo mais amplo de exaustão do modelo de crescimento por substituição de importações (SI).” (p. 11). Considera como uma das principais razões: “[...] o fenômeno da estagnação da taxa de crescimento de produtividade.” (p. 11). A desigualdade social seria própria à mecânica do modelo de crescimento através da SI. 3.1 Os números Reconhecem-se as dificuldades conceituaise computacionais de medida da produtividade, sobretudo quanto ao cálculo de valores absolutos. Destaca-se a produtividade total dos fatores (PTF). Contudo, o autor vê o uso de abstrações subjacentes naturais à atividade científica, tal como na atividade cartográfica. As estimativas sobre o crescimento da PTF após 1945 sugerem, segundo o autor: (i) tendências declinante da taxa de crescimento da produtividade, favorecimento de estruturas de mercado cada vez menos contestáveis e consequente redução progressiva dos incentivos do dinamismo tecnológico; (ii) presença da lei de Verdoorn ; (iii) características ligadas à estrutura industrial teriam pouca relevância (ou negativa) sobre a produtividade; (iv) variáveis (i.e., propensão a exportar, penetração das importações) relativas ao setor externo, “documentado na literatura relevante”, teriam influência positiva e significativa sobre a produtividade, isto é, explicaria a progressiva estagnação da década de 1980; (v) significativa diferença do crescimento da produtividade entre as empresas nacionais e estrangeiras (mais eficientes) de características semelhantes. A redução drástica da produtividade nos anos 1980 aguça as contradições básicas da SI: “[...] a crescente concentração da renda e sua paradoxal tendência ao desequilíbrio externo.” (p. 14). Na tabela 6, o autor busca mostrar a queda da produtividade do trabalho como expressão do atraso brasileiro na década de 1980. Na tabela 7, faz-se um comparativo dos níveis de produtividade antes e depois de 1989: o baixo crescimento precedente a 1989 e contrastado com o crescimento de 6,6% entre 1989-1994. O autor ressalta que as diferenças metodológicas expressas em diferentes taxas calculadas para os períodos não falsifica as claras mudanças na tendência após 1989. Esse argumento está na direção de mostrar uma estreita ligação entre crescimento e produtividade. Segundo o autor, a abertura seria suportada, inclusive, pela teoria da estrutura-conduta-desempenho. 3.2 Algumas implicações Franco (1998) argumenta que a política industrial em direção a abertura patenteou-se na aplicação de políticas horizontais, “[...] cujo objetivo básico é modificar as estruturas de mercado e os padrões sistêmicos de competitividade, geralmente agrupados sob a rubrica „custo Brasil‟”. (p. 16). Para a política seguir na direção correta, o autor argumenta que se deve superar a “teoria do bolo” [baseada no trade-off entre crescer, distribuir renda e manter competitividade ao longo do tempo], a qual seria válida apenas em uma economia fechada. “A resposta a partir do Real e da abertura é a única que faz sentido [...] A experiência do Real é emblemática: verificaram-se, simultaneamente uma inequívoca melhoria nos salários e na distribuição de renda, crescimento (que só não foi maior por influência da política monetária restritiva e do desequilíbrio fiscal residual) e manutenção do crescimento das exportações ao tempo que a inflação manteve-se em queda.” (p. 17). Franco (1998) entende que o crescimento recente naquele período da produtividade iria se manter. As diferenças em relação ao modelo SI se expressam: (i) indução do crescimento pelo lado da oferta, ao invés do investimento público e na crença de escassez de capital; (ii) a indução implica em apropriação de parte da produtividade pelos salários, ao invés da “poupança forçada”; (iii) a indução tem viés deflacionista. 4. O balanço de pagamentos e a taxa de câmbio Franco (1998) critica as alegações sobre uma crise do BP oriunda da política cambial (“defasagem cambial”) e abertura econômica. O autor considera o termo “defasagem” (“atraso” ou “sobrevalorização”) como “fora do equilíbrio” [relaciona-se ao nível]; “apreciação” como real mais caro que o dólar [relaciona-se a variação]. Este último seria como “[...] o corte de cabelo se apreciou relativamente ao preço da banana ou do cimento”. Feito isso, busca desqualificar o argumento da “defasagem”, uma vez que considera os efeitos pós Real relativos à “apreciação”. Acrescenta que “[...] os “fundamentos” do setor externo podem ter se alterado de tal forma que as taxas de câmbio que eram “corretas” ou “de equilíbrio” numa determinada configuração macroeconômica deixam de sê-lo diante de novas condições presentes numa outra configuração, num momento posterior.” (p. 20). Esse último argumento é discutido a seguir. Padrões monetários e taxas de câmbio: lições da História Consolidou-se ao longo do século XIX, vigorando até 1914, o chamado padrão-ouro. “[...] sistema onde a oferta mundial de moeda está amarrada a uma dádiva da natureza (ou, no máximo, ao progresso tecnológico na mineração) ia terminar mais dia menos dia e só durou esse tempo todo porque o espantoso crescimento da moeda fiduciária (bancária) eliminou, em grande parte, o forte viés deflacionista implícito ao sistema.” (p. 21). A partir de 1914-1944: abandono do padrão-ouro e indeterminação (incertezas). Após o Acordo de Breton Woods (1944), optou-se pelo retorno do padrão ouro. Contudo, o retorno ao padrão-ouro envolveu debates em torno do nível de taxa de câmbio no qual seria declarada a conversibilidade. Alternativas disponíveis: paridade de mercado (paridade do poder de compra – “padrão cesta”). Crítica do autor à PPP: não representar a taxa de mercado, uma vez que mudanças de curto prazo e, principalmente, de “fundamentos macroeconômicos” podem alterar em termos de nível (e em termos relativos) a PPP. O autor acrescenta que os “fundamentos” refletem mudanças na competitividade da economia; mudanças nas produtividades relativas expressam mudanças proporcionais na PPP. Assim, o forte crescimento recente da produtividade do Brasil [primeira metade da década de 1990] em relação ao dos EUA suporta a redução da taxa de câmbio real brasileira. Câmbio e competitividade: uma visão estrutural “[...] a continuidade do processo de crescimento através da SI levaria o país a progressivamente basear sua competitividade cada vez mais em baixos salários e taxas de câmbio sub-valorizadas, e cada vez menores níveis de produtividade. [... ] com a abertura e as transformações dela decorrentes, o país caminha para níveis maiores de produtividade [expressando a maior competitividade e implicando inevitável apreciação cambial]” (p. 26). Aspectos macroeconômicos O autor argumenta que a apreciação cambial é natural em experiências pós-estabilização monetária; assim, geram-se realocações de recursos e alterações significativas nos preços relativos. Isso se expressa na queda da razão dos preços tradeables por non-tradeables, a qual é a melhor medida para a taxa de câmbio real. Na presença de inflação elevada, o autor argumenta que é típica a existência de subvalorização cambial: a inflação elevada reduz a demanda por moeda sob currency substitution (“dolarização”) aumenta fuga de capitais (déficits na conta capital) depreciação real da taxa de cambial. A linha de seu raciocínio é descrever que há um mergulho à subvalorização cambial após inflação continuada em qualquer economia. Assim, após o plano de estabilização, a apreciação que se segue apenas corrige as defasagens do período inflacionário. No gráfico 3, o autor busca mostrar que a taxa de câmbio real pode ter diferentes valores em função de diferentes níveis de inflação; sendo a primeira positivamente relacionada à segunda. 5. O paradoxo da vulnerabilidade externa sob autossuficiência Franco (1998) inicia desqualificando o argumento do modelo SI de autossuficiência (implicando economia fechada) de modo a reduzir a vulnerabilidade externa. Descreve que esse projeto levou a resultados opostos. Como ilustração, compara as estatísticas do setor externo de Brasil e Coreia. Verifica que diante da ruptura do mercado interacional de capital, tornou-se muito mais custoso macroeconomicamente e socialmente para o Brasil fazer o ajuste, pois seu baixo grau de abertura exigia que o governo fizesse elevadas maxidesvalorizações reais. 6. Poupança externa e crescimento Franco (1998) argumenta que a redução da poupança (T – G) e investimento do governo(Ig) ao longo do tempo é de caráter permanente. A Constituição de 1988 obriga o Estado arcar com diversos gastos sociais; assim, a responsabilidade pelo crescimento nos anos a seguir deverá recair predominantemente sobre o setor privado. onde o déficit em conta não pode superar 3% do PIB para manter a sustentabilidade. 7. O “projeto” e a retórica do desenvolvimento “Modelos” e “projetos” como pertencentes aos historiadores: identificação de traços fundamentais de um fenômeno que se busca explicar. “Deve-se, evidentemente, evitar a armadilha de elevar um expediente retórico à categoria de roteiro preciso do processo de desenvolvimento, retirando deste qualquer aspecto de processo histórico.” (p. 38). Em seguida, o autor sugere que os dois mais importantes pilares da retórica do modelo SI são: (i) relação desenvolvimento-gasto público; relação autodeterminação (e soberania) - autossuficiência (autarquia). Perguntas: 1- Barros e Goldenstein (199 salienta uma espécie de “regra de bolso” do processo dos investimentos estrangeiros pós-abertura. De modo que em uma situação de aumento das importações de bens finais e bens de capital para outra de redução do coeficiente das exportações. Assim, pergunta-se: quando o mercado interno brasileiro se encontrava em expansão e câmbio apreciado, isso poderia significar que as empresas estrangeiras teriam estímulos de reduzir suas importações de bens de capital e deslocar sua produção para outros mercados? 2- Franco (1998), associa variações na taxa de real de câmbio (oscilações na PPP) às mudanças na competividade (expressas em variações da produtividade), sendo assim, quando analisado o período (1990-2018) estaria a taxa de câmbio real expressando os níveis de competitividade do Brasil?