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DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL APLICADO AO 
SERVIÇO POLICIAL MILITAR 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
2 
Curso de Formação de Praças 
 
 
 
 
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL APLICADO 
AO SERVIÇO POLICIAL MILITAR 
 
 
 
 
 
MAJ QOPM MARCOS DOS SANTOS LOUZEIRO 
2º TEN QOPM MURILLO BASTOS GUERRA 
SGT QPPM GILSON DA SILVA FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
Belém/PA 
2021 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
3 
Sumário 
Sumário 
UNIDADE I – CONCEITOS E DEFINIÇÕES DO DIREITO PENAL ..................................................... 8 
1. CONCEITO E FUNDAMENTO DO DIREITO PENAL ................................................................... 8 
2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS .................................................................................. 8 
2.1. Princípios da Legalidade ...................................................................................................... 8 
2.2. Princípio da Irretroatividade ............................................................................................... 8 
2.3. Presunção de Inocência ....................................................................................................... 9 
2.4. Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa .................................................................. 9 
2.5. Responsabilidade Pessoal .................................................................................................... 9 
2.6. Individualização da Pena ................................................................................................... 10 
3. NORMAS PENAIS ................................................................................................................... 10 
3.1. Normas Penais Incriminadoras .......................................................................................... 10 
3.2. Normas Penais Não Incriminadoras .................................................................................. 11 
3.3. Normas Penais Explicativas ............................................................................................... 11 
3.4. Normas Penais Em Branco ................................................................................................. 12 
4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL ............................................................................................ 12 
4.1. Interpretação quanto ao Sujeito: ...................................................................................... 13 
4.1.1. Interpretação autêntica (ou legislativa): ........................................................................ 13 
4.1.1.Interpretação doutrinária ou científica: .......................................................................... 13 
4.1.2.Interpretação jurisprudencial: ......................................................................................... 13 
4.1.3.Interpretação quanto ao Modo:...................................................................................... 13 
4.1.4.Interpretação quanto ao Resultado: ............................................................................... 14 
5.TEMPO E LUGAR DO CRIME .................................................................................................. 15 
5.1. Tempo do crime: ................................................................................................................ 15 
5.1.Lugar do crime: ................................................................................................................... 15 
6.TEORIA DO CRIME ................................................................................................................. 16 
6.1.Conceitos de crime ............................................................................................................. 16 
6.2.Elementos do crime ............................................................................................................ 17 
6.2.1.Fato típico ........................................................................................................................ 17 
6.2.2.Ilicitude ou Antijuridicidade ............................................................................................ 19 
6.2.3.Culpabilidade ................................................................................................................... 19 
6.3.Ação e Omissão .................................................................................................................. 20 
6.3.1.Teoria causalista ou clássica ............................................................................................ 20 
6.3.2.Teoria neokantista ou neoclássica .................................................................................. 21 
6.3.3.Teoria finalista ................................................................................................................. 22 
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6.4.Causalidade......................................................................................................................... 22 
6.4.1.Equivalência das condições ou equivalência dos antecedentes ou conditio sine que 
non. ...23 
6.4.2.Causalidade adequada .................................................................................................... 23 
6.4.3.Imputação objetiva .......................................................................................................... 23 
6.5.Tentativa e Consumação .................................................................................................... 25 
6.5.1.Consumação .................................................................................................................... 25 
a.Cogitação: .............................................................................................................................. 25 
b.Atos preparatórios: ............................................................................................................... 26 
c.Execução: ............................................................................................................................... 26 
d.Consumação: ......................................................................................................................... 26 
6.5.2.Tentativa .......................................................................................................................... 26 
6.6.Desistência voluntária, arrependimento eficaz e arrependimento posterior ................... 27 
6.6.1.Desistência voluntária ..................................................................................................... 27 
6.6.2.Arrependimento eficaz .................................................................................................... 27 
6.6.3.Arrependimento posterior .............................................................................................. 28 
UNIDADE II – TIPOS DE CRIME .................................................................................................. 29 
1. TIPO E TIPICIDADE ................................................................................................................ 29 
1.1. Dolo e Culpa ....................................................................................................................... 29 
1.1.1.Dolo ................................................................................................................................. 30 
1.1.2.Culpa ................................................................................................................................ 31 
1.2. Erro de tipo e erro de proibição ........................................................................................ 32 
1.2.1. Erro de tipo .....................................................................................................................elementos que constituem o crime (surge o “Matar animal”). 
O agente agiu com dolo, pois queria matar, mas não “alguém” e sim um “animal”. 
Dessa feita, deve ser analisado se o erro cometido pelo autor era evitável ou 
inevitável, circunstâncias estas que definirão a punição ou não do infrator. 
Assim, o erro essencial pode ser classificado em inevitável, invencível e escusável. 
• Inevitável/Invencível/Escusável: significa que o erro não poderia ser evitado. De 
uma ou de outra maneira, o crime seria cometido. Nessa situação, exclui-se o dolo 
e culpa. 
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• Evitável/Vencível/Inescusável: o erro aconteceu, mas poderia ser evitado pelo 
agente. Aqui, exclui o dolo, mas incide a forma culposa, se prevista em lei. 
b. Erro de tipo acidental 
O erro de tipo pode ser definido como acidental, que difere do essencial, pois neste 
caso não exclui o dolo, uma vez que o agente atua com vontade e consciência. 
Exemplo típico é o agente que furta uma televisão de 32 polegadas, quando visava 
subtrair outra de 42 polegadas. É evidente que ele atuou dolosamente, mas 
incorreu em erro sobre o objeto (error in objeto). Nesta esteira, o erro acidental 
pode ser classificado em erro sobre o objeto, erro sobre a pessoa, aberratio ictus, 
aberratio criminis ou delicti, e aberratio causae (denominados crimes aberrantes). 
• Erro sobre o objeto: já foi citado acima, quando o agente acha que está furtando 
um objeto e na verdade está levando outro. 
• O erro sobre a pessoa: acontece quando o agente, ao ver uma pessoa parada na 
esquina, supõe ser seu desafeto e dispara contra ele, ceifando lhe a vida. Nessa 
situação, o agente incorreu em erro sobre a pessoa, pois supôs que aquela pessoa 
era quem imaginava (vítima visada ou virtual). Responderá como tivesse atingido 
seu alvo real, e não quem efetivamente matou. Nessa hipótese, trata-se do 
exemplo clássico dos gêmeos, que confundem a percepção do atirador. 
• Aberratio ictus: o erro ocorre em relação aos meios de execução, ou seja, a 
pessoa sabe exatamente que ali na esquina está parada o seu desafeto, mas por 
“defeito de pontaria”, erra o alvo visado pelo agente e atinge terceira pessoa. Aqui, 
as consequências são as mesmas do erro sobre a pessoa, isto é, responde como 
crime consumado contra a vítima virtual (desejada) e não a que faleceu. 
• Aberratio criminis: significa erro na execução, igualmente, mas em relação a bens 
jurídicos distintos. Em outras palavras: “A” quer matar “B” e dispara contra ela. Os 
disparos atingem tão somente um veículo atrás de “B”. Nessa situação, o agente 
responde pelo crime subsidiário se for expresso na forma culposa, além da tentativa 
de homicídio. Perceba que a diferença aqui se baseia em bens jurídicos tutelados 
distintos: homicídio (a vida) e dano (patrimônio). No caso relatado, como dano não 
admite a forma culposa, não será púnico pela prática deste crime. 
• Aberratio causae: dividido em sentido estrito (1 ato) e dolo geral (2 atos), há erro 
sobre o nexo causal utilizado pelo autor para atingir determinada finalidade. Assim, 
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exemplificando, se “A” joga “B” da ponte, objetivando uma morte por afogamento, 
mas este morre por colisão em um pilar da ponte, falecendo por traumatismo 
craniano (exemplo em sentido estrito). A causa da morte não foi afogamento, mas o 
choque que a vítima teve com a parte física da ponte. Aqui, conforme doutrina 
majoritária, o agente responde por crime único doloso consumado. É o nítido caso 
de resultado não cogitado pelo agente por erro sobre o nexo de causalidade. 
1.2.2. Erro de proibição 
O erro de proibição em nada possui semelhança com o erro de tipo, pois a 
proibição atinge a culpabilidade, ou seja, o caráter ilícito da conduta. 
Não se confunde com desconhecimento da lei, pois esta significa não ter 
conhecimento dos artigos, leis, entre outros. 
Exemplo: todos sabem que fraudar impostos é contra a lei, mas nem todos sabem 
qual lei trata do assunto. 
O erro de proibição divide-se, igualmente, em dois aspectos: inevitável e evitável. 
• Inevitável: exclui a culpabilidade do agente, isentando-o de pena 
• Evitável: o agente responde dolosamente e tem o condão de atenuar a pena, em 
virtude da possibilidade do agente conhecer a proibição. 
Em outras palavras, no erro de proibição, o agente sabe perfeitamente o que faz e 
qual a sua conduta, mas acredita agir licitamente. O erro de proibição pode se 
dividir ainda em direto ou indireto (de permissão) 
• Erro de proibição direto: o agente atua com desconhecimento da situação 
proibitiva. Exemplo: corta um pedaço de árvore para fazer chá e é penalizado por 
crime ambiental. 
• Erro de proibição indireto (de permissão): a situação fática direciona o agente 
a acreditar que age legalmente. A regra é proibição, porém o agente crê que atua 
nas hipóteses permissivas. Exemplo: da janela do apartamento visualiza um ladrão 
furtando o som de seu veículo. Acreditando agir em legítima defesa, desfere um tiro 
pelas costas do criminoso. 
 
Na primeira situação, o desconhecimento é direto, enquanto na segunda a 
situação levou o agente a crer na sua conduta lícita. 
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1.3. Excludentes de criminalidade ou de ilicitude 
Ilicitude e antijuridicidade são palavras sinônimas, que expressam uma relação de 
contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico. 
Predomina a concepção de que a tipicidade serve como indício da antijuridicidade. 
Sendo típico o fato, em regra será também ilícito. As exceções seriam os fatos 
acobertados por alguma excludente de antijuridicidade, conforme previsão do art. 
23 do CP, quais sejam: Estado de necessidade; legítima defesa; estrito 
cumprimento do dever legal e exercício regular de direito. 
1.3.1. Estado de Necessidade 
Para o Código, em seu art. 24, age em Estado de Necessidade 
art. 24 - Quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou 
por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou 
alheiro, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
O estado de necessidade possui os seguintes requisitos: 
• Perigo atual não provocado pela vontade do agente. 
• Bem jurídico do agente ou de terceiro ameaçado. 
• Inexigibilidade de sacrifício do bem jurídico ameaçado (o bem jurídico 
ameaçado é de valor igual ou superior ao bem jurídico a ser sacrificado). 
• Inexistência de dever legal de enfrentar o perigo. 
• Conhecimento da situação de perigo (elemento subjetivo da excludente). 
Uma dúvida surge quanto à provocação do resultado. Boa parte dos autores 
entende que o comportamento culposo, por ser tecnicamente voluntário, caso 
provoque o perigo, não isentaria o agente da ilicitude do seu ato. 
O requisito da inexigibilidade do sacrifício do bem jurídico ameaçado refere-se à 
ponderação entre os bens jurídicos em jogo. Não se permite o sacrifício de um bem 
mais valioso em favor de outro, embora se tolere, de acordo com as circunstâncias, 
um certo desnível. Difícil, entretanto, seria permitir o sacrifício de uma vida em 
benefício de um bem patrimonial. 
São exemplos de estado de necessidade as lesões corporais causadas por uma 
pessoa em outra fugindo de um incêndio; o atropelamento de um pedestre quando 
o motorista está sendo perseguido por assaltantes; e o clássico exemplo dos dois 
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náufragos que lutam para ficar sobre a tábua boiando. 
No caso último, vemos que ambas as condutas são lícitas. O ordenamento jurídico, 
sendo idêntico ou similar o valor atribuído a cada bem jurídico, não toma partido, e 
espera o fim da contenda, sem que considere criminoso o comportamento de quem 
salva o seu direito. 
1.3.2. Legítima Defesa 
Diz o art. 25 do CP: “Encontra-se em legítima defesa quem, usando 
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, 
a direito seu ou de outrem”. 
São,portanto, seus requisitos: 
• Agressão injusta, que esteja em curso ou na iminência de ocorrer; 
• A repulsa, utilizando-se os meios necessários; 
• A moderação no uso dos meios de defesa; 
• O conhecimento da agressão e a consciência de sua atualidade ou iminência 
e de seu caráter injusto (elemento subjetivo). 
A agressão não precisa ser criminosa. O termo “injusta” indica contrariedade com o 
ordenamento jurídico. Mas terá de ser atual ou iminente. Se passada, ou remota, a 
atitude será considerada criminosa. 
Ao contrário do estado de necessidade, não se comparam os bens jurídicos 
confrontados, mas não pode haver grande desproporcionalidade. Atenta-se para os 
meios empregados na defesa: devem ser os estritamente necessários, e usados 
com moderação. O parágrafo único do art. 23 diz que o agente responderá pelo 
excesso, doloso ou culposo. 
A legítima defesa classifica-se em: 
• Própria: quando a pessoa que se defende é o titular do bem jurídico 
ameaçado. 
• De terceiro: quando o bem jurídico pertence a outrem. 
• Real: quando não há erro sobre a situação de fato. 
• Putativa: quando o agente pensa estar em legítima defesa, por erro de tipo 
(art. 20, §1º, ou erro de proibição, art. 21, todos do CP). 
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• Sucessiva: quando o agente, inicialmente agredido, exagera na repulsa; 
neste caso, o primeiro agressor estará em legítima defesa, se reagir contra o 
excesso. 
• Subjetiva: quando o agente inicia a defesa mas, mesmo cessada a agressão, 
ainda a considera presente, persistindo no uso dos meios de repulsa. Haverá 
excesso, mas este será culposo, ou mesmo não haverá culpa, se o agente não 
tinha como saber que a conduta agressiva havia terminado. 
A provocação por parte do agredido não lhe tira o direito de defender-se, salvo 
quando a provocação, em si, é considerada uma agressão, ou quando ele planejou 
a situação de modo a forjar uma situação de legítima defesa para mascarar sua 
ação criminosa. 
1.3.3. Estrito cumprimento do dever legal 
O Código não conceitua o estrito cumprimento do dever legal, mas a doutrina o 
entende como a obediência à norma legal escrita, que impõe ao indivíduo uma 
obrigação de praticar uma conduta típica. Embora se enquadre nos elementos do 
tipo penal, a conduta não se confrontaria com o ordenamento jurídico, já que dele 
partiria a obrigação. 
Encontra-se em estrito cumprimento do dever legal, por exemplo, o policial que 
prende em flagrante o autor de um crime, ou o inferior hierárquico que obedece a 
uma ordem legal de seu superior. 
O exercício do dever há de ser estrito, ou seja, extrapolando das obrigações que 
lhe são cometidas, o agente responderá pelo excesso. 
1.3.4. Exercício regular de direito 
O exercício regular de direito pressupõe uma faculdade de agir atribuída pelo 
ordenamento jurídico (lato sensu) a alguma pessoa, pelo que a prática de uma ação 
típica não configuraria um ilícito. 
Como exemplos de exercício regular de direito temos a correção dos filhos por seus 
pais; a prisão em flagrante por particular; o penhor forçado (art. 779 do CP); no 
expulsar, na defesa em esbulho possessório recente. 
Em qualquer caso, não se pode ultrapassar os limites que a ordem jurídica impõe 
ao exercício do direito. Caso os pais, a pretexto de corrigir os filhos, incorram em 
maus-tratos, responderão pelo crime. 
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Importante registrar que os ofendículos, que nada mais são do que os aparatos 
defensivos da propriedade (cacos de vidro no muro, cercas de arame farpado, 
maçanetas eletrificadas etc.) também são enquadrados como um exemplo de 
exercício regular de um direito. 
Também se consideram exercício regular de direito as lesões ocorridas na prática 
de esportes violentos, desde que toleráveis e dentro das regras do esporte. As 
intervenções médicas e cirúrgicas, havendo consentimento do paciente, seriam 
outro exemplo; inexistindo, poderia haver estado de necessidade. 
 
1.4. Culpabilidade 
A culpabilidade é o juízo que será feito sobre a reprovabilidade da conduta do 
agente, considerando suas circunstâncias pessoais (ex. capacidade). 
Ainda, é importante notar que ao contrário do fato típico (previsão legal) e da 
ilicitude (fato contrário ao ordenamento jurídico), que focam no fato, na 
culpabilidade o objeto está no agente. 
O princípio da culpabilidade é o aspecto basilar da responsabilidade do ser humano 
por um fato típico e ilícito. E assim é porque o Direito Penal não pode punir, de igual 
forma, quem pratica fatos reprováveis, mas legítimos. 
A culpabilidade, para ser aferida, deve preencher alguns requisitos. O agente, para 
ser culpável, deve ser imputável, ter potencial consciência da ilicitude e ser-lhe 
possível agir, no caso concreto, de forma diversa. Vejamos: 
a) Imputabilidade: numa interpretação a contrariu sensu do artigo 26 do 
Código Penal seria o atributo do sujeito mentalmente são e desenvolvido, 
capaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com 
esse entendimento. 
b) Potencial consciência da ilicitude: consiste no exame casuístico de que, 
no momento da ação ou omissão, teria ou não o agente a possibilidade de 
saber que fazia algo errado ou injusto, conforme o meio social, sua cultura, 
intelecto, resistência emocional e psíquica, dentre outros fatores. 
c) Exigibilidade de conduta diversa: é a expectativa social de um 
comportamento diverso do que foi adotado pelo agente. Só existe se a 
sociedade podia esperar do sujeito que pudesse atuar de outro modo. 
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Portanto, sendo o fato típico e ilícito, bem como sendo o agente imputável, tendo 
potencial consciência da ilicitude e lhe sendo exigível agir de forma diversa, há 
configuração de um delito em todos os seus termos. 
Logo, a responsabilidade penal só incide caso não esteja excluída, de algum modo, 
a culpabilidade, já que esta é intrinsecamente ligada a ideia de reprovação social, 
pois culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita 
do agente. 
Deste modo, não há falar em culpabilidade caso o agente sofra de incapacidade 
absoluta, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto/retardado; seja 
menor de 18 anos; esteja embriagado por caso fortuito/força maior; seja 
dependente químico, eis que nesses casos será considerado inimputável. 
Nesse passo, não incide a culpabilidade no caso de impossibilidade de 
conhecimento do caráter ilícito da sua conduta. 
Não distinta é a ausência da culpabilidade, e consequentemente, da 
responsabilidade penal, quando não for possível exigir do agente conduta diversa 
da praticada, como no caso de coação moral irresistível e obediência hierárquica 
(de ordem aparentemente legal). 
 
2. CONCURSO DE PESSOAS 
O concurso de pessoas é o cometimento da infração penal por mais de uma 
pessoa. Tal cooperação da prática da conduta delitiva pode se dar por meio da 
coautoria, participação, concurso de delinquentes ou de agentes, entre outras 
formas. Existem ainda três teorias sobre o concurso de pessoas, vejamos: 
a. Teoria unitária/objetiva: quando mais de um agente concorre para a prática da 
infração penal, mas cada um praticando conduta diversa do outro, obtendo, porém, 
um só resultado. Neste caso, haverá somente um delito. Assim, todos os agentes 
incorrem no mesmo tipo penal. Tal teoria é adotada pelo Código Penal. 
b. Teoria pluralista: quando houver mais de um agente, praticando cada um, 
conduta diversa dos demais, ainda que obtendo apenas um resultado, cada qual 
responderá por um delito. Esta teoria foi adotada pelo Código Penal ao tratar do 
aborto, pois quando praticado pela gestante, esta incorrerá na pena do art. 124, se 
praticado por outrem, aplicar-se-á a pena do art. 126. O mesmo procedimento 
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ocorre na corrupção ativa e passiva. 
c. Teoria dualista: segundo tal teoria, quando houver maisde um agente, com 
diversidades de conduta, provocando-se um resultado, deve-se separar os 
coautores e partícipes, sendo que cada “grupo” responderá por um delito. 
 
2.1. Coautoria e participação 
Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora ambos dentro da teoria objetiva: 
a. Teoria formal: de acordo com a teoria formal, autor é o agente que pratica a 
figura típica descrita no tipo penal, e partícipe é aquele que comete ações não 
contidas no tipo, respondendo apenas pelo auxílio que prestou (entendimento 
majoritário). 
Exemplo: o agente que furta os bens de uma pessoa, incorre nas penas do art. 155 do 
CP, enquanto aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo a fugir, responderá 
apenas pela colaboração. 
b. Teoria normativa: aqui o autor é o agente que, além de praticar a figura típica, 
comanda a ação dos demais (“autor executor” e “autor intelectual”). Já o partícipe é 
aquele que colabora para a prática da conduta delitiva, mas sem realizar a figura 
típica descrita, e sem ter controle das ações dos demais. Assim, aquele que planeja 
o delito e aquele que o executa são coautores. 
 
Sendo assim, de acordo com entendimento majoritária (teoria formal), o 
executor de reserva é apenas partícipe, ou seja, se João atira em Pedro e o mata, e 
logo após Mario também desfere tiros em Pedro, Mario (executor de reserva) 
responderá apenas pela participação, pois não praticou a conduta matar, já que 
atirou em um cadáver. Ressalta-se, porém, que o juiz poderá aplicar penas iguais 
para autor e partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este último, quando, por 
exemplo, for o mentor do crime. 
Sobre o assunto, preceitua o art. 29 do CP que, “quem, de qualquer modo, 
concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua 
culpabilidade”, dessa forma deve-se analisar cada caso concreto de modo a 
verificar a proporção da colaboração. 
Além disso, se a participação for de menor importância, a pena pode ser 
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diminuída de um sexto a um terço, segundo disposição do § 1º do artigo 
supramencionado, e se algum dos concorrentes quis participar de crime menos 
grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na 
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (art. 29, § 2º, do CP). 
Ademais, quando o autor praticar fato atípico ou se não houver 
antijuridicidade, não há o que se falar em punição ao partícipe – teoria da 
acessoriedade limitada. 
 
2.2. Crime plurissubjetivo 
O crime plurissubjetivo é aquele que exige a presença de mais de uma pessoa, 
como acontece no crime de associação criminosa, rixa, entre outros. Assim, nestes 
crimes não há o que se falar em participação, já que a pluralidade de agentes 
garantem o tipo penal, sendo todos autores. 
Em contrapartida, nos crimes unissubjetivos, quando houver mais de um agente, 
aplicar-se-á a regra do art. 29 do CP, já citado, devendo-se analisar a conduta de 
cada qual para aplicação da pena. 
O crime plurissubjetivo não se confunde com o delito de participação necessária, 
pois neste último o autor pratica vários crimes, porém o tipo penal exige a 
colaboração do sujeito passivo, que não será punido. Exemplo: corrupção de 
menores, favorecimento à prostituição etc. 
 
2.3. Requisitos do concurso de pessoas 
• Presença de dois ou mais agentes; 
• Nexo de causalidade material entre as condutas realizadas e o resultado obtido; 
• Reconhecimento da prática do mesmo delito para todos os agentes; 
 
Não há necessidade de ajuste prévio entre os agentes, mas deve haver vontade de 
obtenção do resultado (vínculo de natureza psicológica). Ou seja, mesmo que os 
agentes não se conheçam pode haver o concurso de pessoas se existente a 
vontade de obtenção do mesmo resultado. Tal hipótese admite ainda a autoria 
sucessiva. 
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Por exemplo, se a empregada deixa a porta da casa aberta, permitindo que o 
ladrão subtraia os bens do imóvel. Enquanto isso, uma outra pessoa, ao ver os 
fatos, resolve dele aderir retirando também as coisas da casa; 
 
2.4. Autoria mediata e colateral 
A autoria mediata ocorre quando o agente usa de pessoa não culpável, ou que atua 
sem dolo ou culpa para realizar o delito. São situações que ensejam a autoria 
mediata: valer-se de inimputável, coação moral irresistível, obediência hierárquica, 
erro de tipo escusável ou de proibição, provocados por terceiro. Porém, há 
inúmeros casos em que o inimputável (menor, por exemplo) não é usado como 
instrumento da obtenção do resultado. 
Quando o inimputável também quiser atingir o resultado, será coautor e tal 
modalidade de concurso denominar-se-á concurso impropriamente dito, concurso 
aparente ou pseudoconcurso, já que um agente é penalmente responsável e o 
outro não. 
Já a autoria colateral ocorre quando dois agentes têm a intenção de obter o mesmo 
resultado, porém um desconhece a vontade do outro, sendo que o objetivo poderá 
ser atingido pela ação de somente um deles ou pela ação de ambos. 
Por exemplo: Jorge e Antônio pretendem matar Carlos, e para tanto se escondem 
próximo à sua residência, sem que um saiba da presença do outro, e atiram na 
vítima. Assim, Jorge e Antônio responderão por homicídio em autoria colateral já 
que um não tinha conhecimento da ação do outro (não há vínculo psicológico). 
Salienta-se que, se apenas o tiro desferido por Jorge atingir Carlos, ele responderá 
por homicídio consumado, ao passo que Antônio responderá por homicídio tentado. 
Se não for possível verificar qual tiro matou Carlos, Jorge e Antônio responderão 
por tentativa de homicídio. 
Porém, se Jorge desfere tiro em Carlos e o mata, e só depois é que Antônio atira na 
vítima, haverá crime impossível para ele. Neste caso, se não for possível identificar 
qual tiro matou Carlos, ambos os agentes serão absolvidos por crime impossível 
(autoria incerta). 
 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
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2.5. Participação por omissão e conveniência, e coautoria em crime omissivo 
A participação por omissão ocorre quando a pessoa tinha o dever de evitar o 
resultado e não o fez. Exemplo: responde por crime de incêndio o bombeiro que 
não cumpriu seu dever se agir para combater o fogo; outro exemplo seria o policial 
militar que em rondas, se depara com um crime em andamento, faz “vista grossa” e 
não age no sentido de impedir o delito. 
Já a participação por conivência ocorre quando a pessoa não tinha o dever de 
evitar o resultado, nem tinha vontade de obtenção do mesmo. Neste caso, não 
haverá punição – concurso absolutamente negativo. 
Exemplo: o vendedor de uma loja sabe que seu colega está furtando dinheiro do 
caixa, porém, não tem obrigação de denunciá-lo já que não exerce a função de 
segurança, nem trabalha na mesma seção. 
A autoria em crime omissivo ocorre, por exemplo, quando duas pessoas se 
deparam com alguém ferido e ambas não procuram ajuda. Nesta hipótese, 
responderão por coautoria em omissão de socorro. Porém, há também 
entendimento que não há possibilidade de coautoria nestes crimes, e sim autoria 
colateral, pois existem condutas individuais, sendo impossível a segmentação de 
suas responsabilidades. 
 
2.6. Participação e cumplicidade 
Há três visões sobre o assunto: 
1. Cúmplice é aquele que auxilia no cometimento de crime sem ter tal 
conhecimento. Exemplo: dar carona a bandido sem saber que este está fugindo; 
2. Cúmplice é aquele que colabora materialmente com a prática de infração penal; 
3. Cúmplice é aquele que colabora dolosamente para prática de conduta delituosa, 
mesmo que o autor não tenha consciência deste favorecimento. 
Como não há entendimento majoritário, decidiu-se que quem auxilia na prática de 
um crime é cúmplice, seja coautor ou partícipe. 
 
2.7. Incomunicabilidade de circunstâncias 
Não se comunicam entre coautores e partícipes as circunstâncias consideradas 
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43 
individualmenteno concurso de agentes. Prevê o art. 30 do CP que, “não se 
comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando 
elementares do crime”. 
Considera-se circunstância de caráter pessoal aquela situação particular que 
envolve o agente, mas não é inerente à sua pessoa. 
Exemplo: confissão espontânea, que atenua a pena e não se transfere aos demais 
coautores. 
A condição de caráter pessoal consiste em qualidade da pessoa, tais como 
menoridade e reincidência, condições estas que também não se transferem aos 
demais agentes do delito. 
As circunstâncias elementares do crime são componentes do tipo penal, que se 
transmite aos demais agentes da infração penal. Assim, se uma funcionária pública 
furta bens da repartição com sua colega que não exerce cargo público, ambas 
responderão por peculato-furto (art. 312, § 1º do CP). 
Em relação ao crime de infanticídio há discussão sobre a transferência da 
circunstância elementar, já que a pena para tal crime não é tão gravosa tendo em 
vista o estado em que se encontra a mãe. Sendo assim, muitos não concordam 
com a transmissão da circunstância elementar, pois não seria justo que coautor 
fosse favorecido. 
Em contrapartida, há entendimento que, mesmo no infanticídio há transferência da 
circunstância elementar pois a lei não fez nenhuma ressalva sobre o assunto, e 
esta é a opinião majoritário. 
Assim, embora o estado puerperal seja circunstância personalíssima, também é 
elementar do tipo, dessa maneira, quem auxilia a genitora a matar recém-nascido 
ou o faz sozinho a pedido da mesma, responderá por infanticídio. 
 
2.8. Casos de impunibilidade 
Determina o art. 31 do CP que, “o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, 
salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, 
pelo menos, a ser tentado”. Entretanto, tais condutas – ajuste (acordo), instigação 
(estímulo), auxílio (assistência) e determinação (decisão) - serão puníveis quando 
houver disposição expressa neste sentido, como é o caso do art. 288 do CP - 
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44 
“associarem-se 03 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes 
(...)”. 
Assim, serão puníveis tais atos quando houver início da execução do delito, pois do 
contrário serão consideradas condutas atípicas, já que não houve perigo a nenhum 
bem protegido pelo ordenamento jurídico (o mesmo ocorre no crime impossível). 
 
3. CONCURSO DE CRIMES 
Concurso de crimes ocorre quando o agente, por meio de uma ou mais de uma 
conduta (ação ou omissão), pratica dois ou mais crimes, estes podendo ser 
idênticos ou não. 
O concurso de crimes é subdividido em concurso material, concurso formal e crime 
continuado, previstos, respectivamente, nos artigos 69, 70 e 71 do Código Penal. 
3.1. Concurso Material (Art. 69 do CP) 
Ocorre quando o agente, através de mais de uma conduta (ação ou omissão), 
pratica dois ou mais crimes, ainda que idênticos ou não. 
Exemplo: Agente A, armado com um revólver, mata B e depois rouba C. 
Neste exemplo, há duas condutas e dois crimes diferentes (homicídio e roubo). A 
este resultado com crimes diferentes atribui-se o termo Concurso Material 
Heterogêneo. Já para crimes idênticos, o termo é Concurso Material Homogêneo. 
No Concurso Material, o agente deve ser punido pela soma das penas privativas de 
liberdade. É imprescindível que o juiz, ao somar as penas, individualize cada pena 
antes da soma. 
Exemplo: Três tentativas de homicídio em Concurso Material. Neste caso, o 
magistrado deve, primeiramente, aplicar a pena para cada uma das tentativas e, no 
final, efetuar a adição. Somar as penas antes da individualização viola, claramente, 
o princípio da individualização da pena, fato que pode anular a sentença. 
Na hipótese da sentença cumular pena de reclusão e detenção, a de reclusão 
deverá ser cumprida primeira. 
3.2. Concurso Formal (Art. 70 do CP) 
Ocorre quando o agente mediante uma conduta (ação ou omissão) pratica dois ou 
mais crimes, ainda que idênticos ou não. Exemplo: Agente A, com a intenção de 
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45 
tirar a vida da Agente B, grávida de 8 meses, desfere várias facadas em sua nuca, 
B e o bebê morrem. 
Aplica-se a pena mais grave, aumentada de 1/6 até 1/2, e somente uma das penas, 
se iguais, aumentada de 1/6 até 1/2. Aplicam-se as penas, cumulativamente, se a 
ação ou omissão for dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios 
autônomos. 
O concurso formal possui uma subdivisão a seguir exposta: 
1. Concurso formal homogêneo, quando há dois ou mais crimes idênticos (exemplo: 
Avançar o sinal vermelho e matar duas pessoas. Dois Homicídios Culposos); 
2. Concurso formal heterogêneo, quando dois ou mais crimes diversos (exemplo: 
Avançar o sinal vermelho e matar uma pessoa e ferir outra. Homicídio e Lesão 
Corporal); 
3. Concurso formal perfeito, quando o agente não possuía o intuito de praticar os 
crimes de forma autônoma, agindo com culpa (exemplo 1: Agente A atira em B para 
matá-lo, a bala atravessa e atinge C. Dolo + Culpa; exemplo 2: Motorista que dirige 
de forma imprudente a acaba matando três pessoas. Culpa + Culpa). 
4. Concurso formal imperfeito, que ocorre quando o agente possuía o intuito de 
praticar os crimes de forma autônoma, agindo com dolo (exemplo 1: Agente A que 
atira em C e D, seus desafetos. Dolo + Dolo – a pena sempre será somada). 
 
3.3. Crime continuado (Art. 71 do CP) 
O artigo 71 do Código Penal prevê que 
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou 
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições do tempo, lugar, 
maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser 
havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos 
crimes, se idênticos, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em 
qualquer caso, de um sexto a dois terços. 
 
Ainda, em seu parágrafo único diz que 
“Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou 
grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os 
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os 
motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se 
idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras 
do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código”. 
Entende-se que são delitos da mesma espécie os que estiverem previstos no 
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46 
mesmo tipo penal, tanto faz que sejam figuras simples ou qualificadas, dolosas ou 
culposas, tentadas ou consumadas. 
A figura do crime continuado do caput do artigo 71 do Código penal constitui um 
favor legal ao agente que comete vários delitos. Cumpridas as condições do 
mencionado dispositivo, os fatos serão considerados como crime único por razões 
de política criminal, sendo apenas agravada a pena de um deles, se idênticos, ou 
do mais grave, se diversos, à fração de 1/6 a 2/3. 
O reconhecimento de tal modalidade exige uma pluralidade de condutas sucessivas 
no tempo, que ocorrem de forma periódica e se constituem em delitos da mesma 
espécie (ofende o mesmo bem jurídico tutelado pela norma – não se exigindo a 
prática de crimes idênticos). 
É o caso do indivíduo que é preso após cometer vários furtos, o qual agia sempre 
da mesma forma. A pena do furto é de 1 a 4 anos, na hipótese da prática de 50 
furtos e aplicação da pena máxima em cada um, não seria interessante para o 
Estado o cumprimento de 4x50=200 anos de pena aplicada ao condenado, o que 
feriria também o princípio da ressocialização do apenado. 
 
4. SANÇÃO PENAL 
Sanção penal é um instrumento utilizado pelo Estado, sob a forma de ação penal, 
com o objetivo de aplicar uma retribuição ao acusado, que irá se ver privado de um 
bem jurídico. 
Essa retribuição não pode ser considerada, entretanto, um mero castigo, mas que 
através dela o agente do delito consiga se reabilitar para, além de deixar dedelinquir, seja reintegrado à sociedade. 
4.1. Espécies de pena 
A pena no Direito Penal é a imposição da perda ou diminuição de um bem jurídico, 
tendo previsão legal e sua aplicação determinada pelo Poder Judiciário. 
Segundo as inúmeras doutrinas existentes, a sanção penal tem finalidade: 
retributiva (imposição de privação da liberdade), preventiva (visa evitar a prática de 
crime) e ressocializadora (objetiva a readaptação social). 
Dessa forma, pelo conceito de pena delineado, deve se concluir que a lei, sem 
punição, se tornaria ineficaz, sendo imprescindível que se estabeleçam punições 
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47 
para os atos ilícitos praticados. 
As penas são específicas à tipificação penal, ou seja, a lei determina a cada tipo 
penal a sanção a ser aplicada. 
As penas em espécies se encontram regradas no art. 32 do Código Penal e assim 
são consideradas 
Artigo 32 - As penas são: 
I - privativas de liberdade; 
II - restritivas de direitos; 
III - de multa. 
 
4.1.1. Penas Privativas de Liberdade 
A pena privativa de liberdade deve ser considerada como limitadora da liberdade de 
ir e vir daquele que comete um ilícito penal. A referida pena deve ser cumprida em 
tese nos estabelecimentos prisionais (cadeias, penitenciárias de uma formar geral). 
As penas privativas de liberdade estão previstas para os crimes ou delitos e são as 
de reclusão e detenção. Cumpre salientar que a lei das contravenções penais 
também prevê pena privativa de liberdade que é a de prisão simples. 
Artigo 33 – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, 
semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, 
salvo necessidade de transferência a regime fechado. 
A Lei de Contravenção Penal (Decreto-Lei 3.688 de 03 de outubro de 1941), por 
sua vez, prevê as seguintes penas: 
Artigo 5º- As penas principais são: 
I – prisão simples. 
II – multa 
 
4.1.2. Penas restritivas de direito 
As penas restritivas de direitos são as sanções penais impostas em substituição à 
pena privativa de liberdade e consistente na supressão ou diminuição de um ou 
mais direitos do condenado. 
Trata-se de espécie de pena alternativa e irá ser aplicada aos crimes com menores 
grau de responsabilidade, com penas mais brandas. Vejamos o que diz o art. 43 do 
CP: 
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48 
Artigo 43. As penas restritivas de direitos são: 
I - prestação pecuniária; 
II - perda de bens e valores; 
III - limitação de fim de semana. 
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; 
V - interdição temporária de direitos; 
VI - limitação de fim de semana. 
 
4.1.3. Pena de multa 
A pena de multa ou pecuniária é a terceira das três espécies de sanções previstas 
no Código Penal, e consiste na imposição ao condenado da obrigação de pagar ao 
fundo penitenciário determinada quantia em dinheiro, calculada na forma de dias-
multa. 
Ela atinge, o patrimônio de condenado. 
Artigo 49 – A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário 
da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, 
de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. 
§ 1º – O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a 
um trigésimo do maior salário-mínimo mensal vigente ao tempo do fato, 
nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. 
§ 2º – O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices 
de correção monetária. 
 
Não podemos esquecer das espécies de pena que foram taxativamente proibidas 
por nossa carta magna em ser art. 5º, XLVII: 
“XLVII – Não haverá penas: 
a) De morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, 
XIX; 
b) De caráter perpétuo; 
c) De trabalhos forçados; 
d) De banimento; 
e) Cruéis;” 
 
4.2. Regimes de cumprimento. 
O regime inicial de cumprimento da pena é a principal característica diferenciadora 
entre as três espécies de pena privativa de liberdade, que são a Reclusão (ex. art. 
121), a Detenção (ex. art. 37) e a Prisão simples (para as contravenções penais). 
Os regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade (PPL) podem ser: 
1º) Fechado – cumpre a pena em estabelecimento penal de segurança máxima ou 
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49 
média 
2º) Semiaberto – cumpre a pena em colônia penal agrícola, industrial ou em 
estabelecimento similar. 
3º) Aberto – trabalha ou frequenta cursos em liberdade, durante o dia, e recolhe-se 
na Casa do Albergado ou estabelecimento similar à noite e nos dias de folga. 
O regime inicial de cumprimento de pena deverá ser estipulado na sentença 
condenatória, conforme o Artigo 110, da Lei de Execução Penal (LEP). O juiz 
deverá se atentar, também, às determinações contidas no artigo 33 do Código 
Penal, o qual estabelece a distinção entre a pena de reclusão e a pena de 
detenção. 
4.2.1. Regime inicial da PPL de reclusão 
Para estabelecer o regime inicial o Juiz deverá observar os seguintes critérios: 
1º) Se a pena imposta for superior a 8 anos – o regime inicial de cumprimento é o 
FECHADO. 
2º) Se a pena imposta for superior a 4 anos, mas não exceder a 8 anos – o regime 
inicial de cumprimento será o SEMIABERTO. 
3º) Se a pena imposta for igual ou inferior a 4 anos – o regime inicial de 
cumprimento da pena será o ABERTO. 
 
Deve-se observar que, se o condenado for REINCIDENTE, SEMPRE INICIA NO 
FECHADO, exceto quando a condenação anterior foi por pena de multa, quando 
poderá, segundo o STF, iniciar o cumprimento no regime aberto, desde que a pena 
seja igual ou inferior a 4 anos, ou se o réu tem a seu favor a análise das 
circunstâncias judiciais e pena inferior a quatro anos de prisão, mesmo tratando-se 
de reincidência, é possível a determinação do regime semiaberto desde o início do 
cumprimento, segundo súmula 269 do STJ. 
A análise das circunstâncias é fundamental para adequação da pena-base, a 
exemplo da súmula 718 do STF, a opinião do julgador sobre a gravidade do crime 
não constitui motivação idônea para imposição de regime mais severo. 
Quando as circunstâncias do art. 59 do CP forem DESFAVORÁVEIS, INICIA NO 
REGIME FECHADO, em se tratando de pena superior a 8 anos, a imposição de 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
50 
regime inicial fechado depende de fundamentação adequada em face do que 
dispõe os artigos 33 e 59 do CP. 
4.2.2. Regime inicial da PPL de detenção 
Há somente dois critérios essenciais: 
1º) Se a pena for superior a 4 anos – inicia no SEMIABERTO 
2º) Se a pena for igual ou inferior a 4 anos – inicia no ABERTO 
 
Algumas situações devem ser observadas nos dois casos: se for REINCIDENTE, 
INICIA NO SEMIABERTO; Se as circunstancias do ARTIGO 59, CP, forem 
DESFAVORÁVEIS, INICIA NO SEMIABERTO; 
Não existe regime inicial fechado em caso de detenção. Somente em caso de 
regressão o regime fechado poderá ser implementado. 
4.2.3. Regime inicial da pena de prisão simples 
Nos termos do artigo 6º, da Lei de Contravenções Penais, em se tratando de prisão 
simples, a pena deverá ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, sem rigor 
penitenciário. 
É preciso distinguir a prisão simples em relação à detenção, a primeira não admite 
o regime fechado sequer em caso de regressão, que ocorre, somente, do aberto 
para o semiaberto. 
4.2.4. Gravidade do delito e regime penitenciário 
Para a imposição do regime inicial fechado é necessário a observância dos critérios 
previstos no Artigo 59, do CP, pois a gravidade do delito por si só, não é condição 
suficiente. Supondo que um réu primário foi condenado a uma pena de 6 anos de 
reclusão e as circunstâncias judiciais foram favoráveis, o juiz não pode fixar o 
regime inicial fechado, somente se a circunstancias forem desfavoráveis, vide 
súmula 440 do STF. 
A lei n. 8.072/90 que trata de forma especial sobre Crimes Hediondos, prevê em 
seu art. 2º, §1º que a pena por crime hediondo ou equiparado deve ser cumprida 
inicialmente em regime fechado, porémo STF julgou essa previsão inconstitucional 
(HC 111840/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 27.6.2012). 
Portanto o regime não tem que ser necessariamente o fechado, podendo ser 
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51 
também o semiaberto ou até mesmo o aberto, desde que presentes os requisitos 
do art. 33, § 2º, alíneas b e c, do Código Penal. 
4.2.5. Progressão de regime 
A legislação prevê a possibilidade de progressão de regime, ou seja, aquele que 
iniciou o cumprimento da pena em um regime mais gravoso, fechado ou 
semiaberto, pode obter o direito de passar para um regime mais brando. 
A progressão de regime, prevista no artigo 112 da LEP, é determinada pelo Juiz, 
após a oitiva do Ministério Público (sob pena de nulidade absoluta) e é concedida, 
desde que preenchidos os seguintes requisitos: Objetivos – cumprimento de 1/6 da 
pena no regime anterior; Subjetivos – o mérito do executado. São requisitos de 
ordem pessoal, tais como, a autodisciplina, o senso de responsabilidade do 
sentenciado, conduta carcerária. 
A lei veda a chamada progressão por salto, isto é, a passagem de um regime mais 
severo para o mais brando sem a submissão ao regime intermediário. A regra é 
clara na exposição de motivos da Lei de Execução Penal. 
Em regra, a jurisprudência afasta a possibilidade de progressão por salto. Mesmo 
assim, a jurisprudência (STF) admite única hipótese de progressão por salto que 
ocorre quando o sentenciado já cumpriu 1/6 da pena em regime fechado e, por falta 
de vaga no regime semiaberto, cumpre mais 1/6 no fechado. Nesses casos, há a 
possibilidade de transferi-lo para o regime aberto. 
4.2.6. Regras do regime fechado 
Exame criminológico: Nos termos do artigo 34, do CP e do artigo 8º da LEP, temos 
que, no início do cumprimento da pena, o condenado será submetido a exame 
criminológico para fins de individualização da execução. 
Trabalho interno: O preso ficará sujeito a trabalho interno durante o dia, de acordo 
com suas aptidões ou ocupações anteriores à pena. O trabalho é direito social 
previsto no artigo 6º da CF. 
São algumas características do trabalho do preso: 
1ª) finalidade educativa e produtiva – fundamento: art. 28 da LEP 
2ª) remuneração não inferior a ¾ do salário-mínimo – fundamento art. 39, CP e art. 
29, da LEP. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
52 
3ª) tem direito aos benefícios da Previdência Social – fundamento: art. 39, CP e art. 
41, III, da LEP. 
4ª) não sujeita o trabalho do preso ao regime da CLT e à legislação trabalhista, uma 
vez que não decorre de contrato livremente firmado com empregador, sujeitando-se 
a regime de direito público – fundamento: artigo 28, parágrafo 2º da LEP. 
5ª) é dever do preso – fundamento: arts. 31 e 39, da LEP – sua recusa constitui 
falta grave – fundamento: art. 50, VI, da LEP 
6ª) na atribuição do trabalho deverão ser levadas em consideração a habilitação, a 
condição pessoal e as necessidades futuras do preso – fundamento: art. 32, da 
LEP. 
7ª) a jornada normal de trabalho não será inferior a 6, nem superior a 8 horas, com 
descanso nos domingos e feriados – fundamento: artigo 33, da LEP. 
8ª) os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal podem ter 
horário especial – fundamento: artigo 33, parágrafo único, da LEP. 
9ª) a cada 3 dias de trabalho, o preso tem direito de descontar um dia de pena 
(instituto da remição – artigo 126, da LEP), se já vinha trabalhando e sofre acidente 
e fica impossibilitado de prosseguir, continuará o preso a se beneficiar da remição – 
fundamento: artigo 126, Parágrafo 2º, da LEP. Em caso de aplicação de falta grave, 
o preso perderá direito a todo o tempo remido – fundamento: art. 127, da LEP. 
 
Trabalho externo: É admissível o trabalho fora do estabelecimento carcerário, em 
serviços ou obras públicas, desde que tomadas as cautelas contra fuga e em favor 
da disciplina – fundamento: artigo 34, Parágrafo 3º, do CP e art. 36 da LEP. O limite 
máximo de presos trabalhadores em obras públicas é de 10% - fundamento: art. 36, 
da LEP. O trabalho externo confere os mesmos direitos que o trabalho interno, 
devendo ser sempre observados os seguintes requisitos: - Aptidão, 
responsabilidade e disciplina; - Cumprimento de 1/6 da pena; - Exame 
criminológico, que é indispensável antes de autorizar o trabalho externo; - 
Autorização administrativa do diretor do estabelecimento. 
4.2.7. Regras do regime semiaberto 
Exame criminológico: A Lei de Execução Penal (LEP) em seu artigo 8º, parágrafo 
único dispõe que o exame criminológico é facultativo ao ingresso no regime 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
53 
semiaberto. 
Trabalho: Segue as mesmas características do regime fechado, dando direito à 
remição, com diferença de que é desenvolvido no interior da colônia penal, em 
maior liberdade em relação ao estabelecimento carcerário. 
Autorização de saída: São benefícios aplicáveis aos condenados em regime 
fechado ou semiaberto e subdividem-se em permissão de saída e saída temporária. 
I) Permissão de Saída – Com fundamento do no artigo 120 da LEP, temos que os 
condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos 
provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante 
escolta, quando ocorrer os seguintes fatos: i) falecimento ou doença grave do 
cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão; ii) necessidade de 
tratamento médico. 
A concessão da permissão de saída é atribuição do diretor do estabelecimento 
onde se encontra o preso, sendo medida de caráter administrativo. A sua duração 
está condicionada à finalidade para qual a saída foi designada. 
 
II) Saída Temporária – O artigo 122 da LEP prevê a possibilidade de concessão de 
saída temporária aos condenados que cumprem a pena no regime semiaberto, (não 
se aplica ao regime fechado ou ao preso temporário) sem vigilância direta, nos 
seguintes casos: i) visita à família; ii) frequência a curso supletivo profissionalizante, 
bem como de instrução do segundo grau (atual ensino médio) ou superior, na 
comarca do juízo da execução. iii) participação em atividades que concorram para o 
retorno ao convívio social. 
Ao contrário da permissão de saída, a saída temporária será concedida mediante 
autorização judicial, por ato motivado do juízo da execução (o ato de concessão 
não é administrativo, mas sim, jurisdicional), ouvidos o Ministério Público e a 
administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos: i) 
comportamento adequado; ii) cumprimento de, no mínimo, 1/6 da pena, se o 
condenado for primário e ¼ se for reincidente, iii) compatibilidade do benefício com 
os objetivos da pena. (art.123, LEP). 
Nos termos da Súmula 40, do STJ, temos que para obtenção dos benefícios da 
saída temporária e trabalho externo, considera-se o tempo de cumprimento da pena 
em regime fechado. Isto é, se houve condenação por 12 anos, considerando que o 
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54 
condenado cumpriu 2 anos em regime fechado, sendo-lhe concedida a progressão 
ao semiaberto. Temos que, para concessão do benefício da saída temporária, terá 
que cumprir 1/6 de 10 anos (ou seja, não se calcula sobre o total). 
A Lei de Execução Penal, ainda, estabelece que o prazo máximo de duração da 
autorização não poderá ser superior a 7 dias, podendo ser concedida por mais 4 
vezes durante o ano (artigo 124, LEP). Contudo, verifica-se que o parágrafo 2º do 
mesmo artigo dispõe que em se tratando de frequência a curso profissionalizante, 
de instrução, ensino médio ou superior o tempo de concessão será o necessário 
para o cumprimento das respectivas atividades discentes. 
Mesmo assim, o benefício será automaticamente, revogado, de oficio, pelo Juiz, 
sem mesmo a oitiva do Ministério Público, em caso de: i) prática de crime doloso; ii) 
de punição por falta grave; iii) desatender as condições impostas na autorização ou 
revelar baixo grau de aproveitamento do curso. 
Ainda temosque a recuperação do direito à saída temporária dependerá de 
absolvição no processo penal, do cancelamento da punição disciplinar ou da 
demonstração do merecimento do condenado. 
4.2.8. Remição 
É o direito que o condenado, em cumprimento da pena em regime fechado ou 
semiaberto, possui de obter o desconto de um dia de pena a cada três dias de 
trabalho. É concedida pelo juiz da execução, após oitiva do Ministério Público. 
Há somente único caso previsto na LEP em que o preso terá direito a remir o tempo 
de pena sem trabalhar, ou seja, quando sofre um acidente de trabalho e fica 
impossibilitado de prosseguir. Para fins de remição é necessário o cumprimento da 
jornada completa de trabalho, ou seja, não inferior a 6 horas e, se superior a 8 
horas, o tempo excedente não aumentará o percentual de desconto na pena. 
A punição por falta grave retira o direito ao tempo remido pelo condenado, 
iniciando-se novo período a partir da data da infração disciplinar. 
Ainda, conforme veremos adiante, o tempo remido, nos termos do artigo 128, da 
LEP, será computado para fins de livramento condicional. 
4.2.9. Regras do regime aberto 
Requisitos do regime aberto: Para ingressar no regime aberto exige-se 
autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado (art. 36, do CP), somente 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
55 
podendo ingressar nesse regime se estiver trabalhando ou comprovar a 
impossibilidade de fazê-lo, apresentar mérito e, principalmente, aceitar seu 
programa as condições impostas pelo Juiz. O referido programa está estabelecido 
em lei federal ou local para a prisão-albergue ou outra espécie de regime aberto. 
Condições: Sem atender aos requisitos acima, não poderá ingressar no regime 
aberto. As condições gerais e obrigatórias estão previstas no art. 115, I a IV da 
LEP, as quais devem ser obrigatoriamente, impostas pelo juiz, quais sejam: i) 
Permanecer no local que for designado, durante o repouso nos dias de folga; ii) Sair 
para o trabalho e retornar nos horários fixados; iii) Não se ausentar da cidade onde 
reside, sem autorização judicial; iv) comparecer a Juízo, para informar e justificar as 
suas atividades, quando for determinado. 
Além destas o juiz da execução, se quiser, poderá impor outras a seu critério, de 
caráter discricionário do Juízo da execução ou a requerimento do Ministério 
Público, são as chamadas condições especiais, levando em consideração a 
natureza do delito, tais como, proibição de frequentar determinados lugares (casas 
de bebida, reuniões, espetáculos, diversões). 
4.2.10. Prisão domiciliar 
A Lei de Execução Penal apresenta esta modalidade de prisão, em que o 
condenado em cumprimento de pena em regime aberto pode recolher-se em sua 
própria residência ao invés da Casa do Albergado. 
A prisão domiciliar pode ocorrer nos seguintes casos: i) condenado maior de 70 
anos; ii) condenado acometido de doença grave; iii) condenada gestante; iv) 
condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental. 
São somente essas hipóteses legais que a lei autoriza a prisão domiciliar. Ou seja, 
a falta de vaga na Casa do Albergado ou a sua inexistência, em tese, não autoriza 
a prisão domiciliar. Por essa razão, nesses casos, o condenado deve se recolher 
em cadeia pública, não permanecendo em inteira liberdade (posição manifestada 
pelo STF). 
O STJ, porém, vem se posicionando em sentido contrário sob argumento de que a 
LEP fixou o prazo de 6 meses, a contar de sua publicação, para que tivesse sido 
providenciada a aquisição ou desapropriação de prédios para instalação de casas 
do albergado em número suficiente (fundamento – parágrafo 2º, do art. 203, da 
LEP). Como passados os anos, praticamente, nada foi providenciado, conclui-se 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
56 
que o condenado não está obrigado a arcar com a inércia do poder público. 
4.2.11. Regressão de regime 
Trata-se da volta do condenado ao regime mais rigoroso, por ter descumprido as 
condições impostas para ingresso e permanência no regime mais brando. 
Embora a lei não admita a progressão por salto, a regressão por salto, ou seja, do 
aberto para o fechado, é cabível, do mesmo modo, a despeito da pena de detenção 
não comportar regime inicial fechado, este é perfeitamente cabível em caso de 
regressão. 
A lei prevê as seguintes hipóteses de regressão: i) prática de crime definido como 
crime doloso – em se tratando de delito culposo ou de contravenção, a regressão 
ficará a cargo do juiz da execução; ii) prática de falta grave – nos termos do artigo 
50, da LEP, a fuga é considerada falta grave, embora não tipifique crime, há 
violação de deveres disciplinares do preso, ensejando punição administrativa e 
autoriza a regressão de regime, já que o comportamento do condenado não se 
adéqua ao regime aberto ou semiaberto; iii) sofrer condenação, por crime anterior, 
cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime; iv) 
frustrar os fins de execução, no caso de estar em regime aberto – qualquer conduta 
que demonstre incompatibilidade com o regime aberto, como por exemplo, o 
abandono de emprego; 
A lei, ainda, menciona o não pagamento de multa cumulativa, no caso de regime 
aberto, porém, esta hipótese foi revogada pela Lei nº 9.268/96, que considerou 
multa como dívida de valor para fins de cobrança, sem qualquer possibilidade de 
repercutir negativamente no direito de liberdade do condenado. 
4.2.12. Superveniência de doença mental 
Nesses casos, o condenado deverá ser transferido para hospital de custódia e 
tratamento psiquiátrico e a pena poderá ser substituída por medida de segurança. 
Atenção! É caracterizado constrangimento ilegal a manutenção do condenado em 
cadeia pública quando for caso de medida de segurança 
4.2.13. Detração penal 
Trata-se do computo, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança do 
tempo cumprido de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão 
administrativa e o de internação em hospital de custódia e tratamento ou 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
57 
estabelecimento similar. 
A detração é matéria de competência exclusiva do juízo da execução, nos termos 
do artigo 66, III, c, da LEP. Não cabe, portanto, ao juiz da execução aplicá-la, desde 
logo, para poder fixar um regime inicial de cumprimento de pena mais brando. A 
decisão que concede a detração penal deve ser fundamentada, sob pena de 
nulidade, por força constitucional (artigo 93, IX, CF). 
O computo da prisão provisória, ou seja, do tempo em que o réu esteve preso em 
flagrante, por força da prisão preventiva ou temporária ou mesmo de sentença 
condenatória recorrível ou de pronuncia é possível para fins de detração. 
Hoje, diante da impossibilidade de conversão da pena de multa em detenção, não é 
possível a detração em pena de multa. Também, não é possível a detração em 
caso de sursis (suspensão condicional), pois o instituto resguarda a finalidade de 
impedir o cumprimento integral da pena privativa de liberdade. Assim, é impossível 
diminuir uma pena que nem sequer está sendo cumprida. 
Em relação à detração às penas restritivas de direito, há sólidos entendimentos que 
a admitem, na medida em que quando se mantém alguém preso para ser aplicada 
a pena não privativa de liberdade com mais razão ainda não deve se 
menosprezado o tempo de encarceramento do condenado. 
Por fim, admite-se a detração do tempo de prisão provisória em relação ao prazo 
mínimo de internação, de sorte que, o exame de cessação da periculosidade, será 
feito após o decurso do prazo mínimo fixado, menos o tempo da prisão provisória. 
4.3. Critérios de aplicação da pena 
O Código Penal adotou o critério trifásico para a fixação da pena, ou seja, o juiz, ao 
apreciar o caso concreto, quando for decidir a pena a ser imposta ao réu, deverá 
passar por 03 (três) fases: 
1º) A primeira, em que se incumbirá de fixar a pena-base; 
2º) A segunda, em que fará a apuração dascircunstâncias atenuantes e 
agravantes; 
3º) Terceira e última fase, que se encarregará da aplicação das causas de aumento 
e diminuição da pena para que, ao final, chegue ao total de pena que deverá ser 
cumprida pelo réu. 
A fixação do quantum da pena servirá para o juiz fixar o regime inicial de seu 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
58 
cumprimento obedecendo as regras do artigo 33 do CP (regimes fechado, 
semiaberto e aberto) bem como para decidir sobre a concessão do sursis e sobre a 
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ou multa. 
A pena será calculada obedecendo ao critério trifásico, onde primeiramente 
caberá ao magistrado efetuar a fixação da pena base, de acordo com os critérios do 
artigo 59, do CP (circunstâncias judiciais), em seguida aplicar as circunstâncias 
atenuantes e agravantes e, finalmente, as causas de diminuição e de aumento. 
 
4.4. Medida de segurança 
A medida de segurança é uma providência do Estado, fundamentada no jus 
puniendi, imposta ao agente inimputável ou semi-imputável que pratica um fato 
típico e ilícito, com base no grau de periculosidade do mesmo. 
Medida de segurança é toda a reação criminal, detentiva ou não detentiva, que se 
liga à prática, pelo agente, de um fato ilícito típico, tem como pressuposto e 
princípio de medida a sua periculosidade e visa finalidades de defesa social ligadas 
à prevenção especial, seja sob a forma de segurança, seja sob a forma de 
ressocialização. 
A finalidade da medida de segurança seria a adequada reintegração social de um 
indivíduo considerado perigoso para a própria sociedade. 
Nosso Código Penal adotou o sistema vicariante com respeito à aplicação da 
medida de segurança, proibindo-se a cumulação das sanções detentivas (pena + 
medida de segurança). 
Se, na análise do caso concreto, restasse comprovada a imputabilidade do agente, 
aplicar-se-ia a pena, como sanção. Caso o mesmo fosse considerado 
absolutamente inimputável, seria aplicada a medida de segurança. Configurado 
semi-imputável, o juiz optaria entre a aplicação da pena ou da medida de 
segurança, de acordo com o caso. 
Portanto, enquanto o fundamento para a aplicação da pena é a culpabilidade, a 
medida de segurança encontra embasamento na periculosidade aliada à 
inimputabilidade (ou semi-imputabilidade) do indivíduo. 
4.4.1. Aplicação e espécies de medidas de segurança 
No Direito Penal, para que determinado delito possa ser imputado a alguém e este 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
59 
seja responsável penalmente, são necessários três critérios: que haja um nexo 
causal entre o agente e o crime praticado; que, no momento da ação, ele tenha 
entendimento da ilicitude do fato; e que, à época do fato, ele pudesse escolher 
praticá-lo ou não. 
A imputabilidade baseia-se, portanto, em dois pressupostos: o entendimento da 
ilicitude do fato praticado e a capacidade do indivíduo de possuir o completo livre-
arbítrio, ou seja, a capacidade de autocontrole do agente, de poder escolher 
praticar ou não o fato ilícito. 
Atualmente, a lei penal brasileira estabelece no art. 26, caput, do Código Penal a 
definição de inimputabilidade: 
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era ao tempo da ação 
ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se conforme esse entendimento. 
 
No seu parágrafo único, o art. 26 do Código Penal define a semi-imputabilidade: 
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços), 
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente 
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo 
com esse entendimento. 
 
Atualmente, quando se constata a inimputabilidade de um agente na prática de um 
delito, o mesmo não recebe pena e sim medida de segurança, consistente em 
internação em hospital de custódia e tratamento (medida de segurança detentiva) 
ou tratamento ambulatorial psiquiátrico (medida de segurança restritiva), como 
consta do art. 97 do Código Penal: 
Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 
26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, 
poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. 
 
O prazo mínimo da medida de segurança, quer detentiva, quer restritiva, é de um a 
três anos, sendo, porém, por tempo indeterminado, enquanto não for constatada, 
por perícia médica, a cessação da periculosidade (art. 97, § 1° CP): 
Art. 97, § 1°. A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo 
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia 
médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
60 
(um) a 3 (três) anos. 
 
Nos casos de semi-imputabilidade, necessitando o condenado de tratamento 
especial, a pena poderá ser substituída por medida de segurança, consistindo em 
internação em hospital de custódia e tratamento ou tratamento ambulatorial, 
conforme o art. 98 do Código Penal: 
Art. 98. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e 
necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena 
privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento 
ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do 
artigo anterior e respectivos §§ 1° a 4°. 
 
De acordo com o Código Penal atual, a medida de segurança é aplicada apenas 
aos inimputáveis e semi-imputáveis. Duas são as espécies de medidas de 
segurança: internação em hospital de custódia e tratamento ambulatorial. 
Importante frisar que o critério determinante para a escolha da espécie de medida 
de segurança a ser aplicada no caso concreto não é especificamente a 
inimputabilidade ou a semi-imputabilidade, mas a natureza da pena privativa de 
liberdade a ser aplicada. 
O inimputável, a princípio, tem a sua pena substituída pela aplicação da medida de 
segurança detentiva, qual seja, internação em hospital de custódia e tratamento 
(art. 97, caput, 1ª parte, do CP). Porém existe a possibilidade de o inimputável ter a 
sua internação convertida em tratamento ambulatorial, se o fato previsto como 
crime for punível com detenção (art. 97, caput, 2ª parte, do CP), examinadas as 
condições pessoais do agente. 
De acordo ainda com o art. 97, §4°, o tratamento ambulatorial poderá ser 
substituído por internação hospitalar, em qualquer tempo, caso exista a 
necessidade para o indivíduo. 
Já com respeito ao semi-imputável, o juiz possui duas alternativas, de acordo com o 
art. 26, § único, c/c o art. 98 do CP: redução obrigatória da pena aplicada ou 
substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança (internação 
hospitalar ou tratamento ambulatorial, conforme o caso). 
Imperioso ressaltar, no caso do semi-imputável, que os pressupostos necessários 
para a substituição da pena por medida de segurança são: que tenha sido aplicada 
uma pena ao indivíduo (para que a mesma possa ser substituída) e que a pena 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
61 
aplicada ao caso seja pena privativa de liberdade. 
4.4.2. Periculosidade (verificação do risco) e medida de segurança 
superveniente 
Periculosidade é o conjunto ou as circunstâncias que indicam a possibilidade de 
alguém praticar ou tornar a praticar um crime. É, portanto, um conjunto de 
características pessoais e sociais do indivíduo, avaliado através de vários 
parâmetros, não podendo ser vinculado apenas à gravidade da doença mental. 
Portanto, a periculosidade não pode ser vista como um traço constante, mas deve 
ser avaliada por meio de elementos pessoais, ambientais e sociais. Isso porque o 
quadro mórbido do doente mental pode evoluir e se agravar e a periculosidade 
diminuir. Por exemplo, nos casos graves de demência ou de esquizofrenia, com 
péssimoprognóstico médico, o indivíduo pode não apresentar periculosidade 
social, por não mais reagir ao ambiente e ao meio onde está inserido. 
Com respeito à periculosidade como pressuposto para a aplicação ou suspensão 
da medida de segurança, critica-se o fato de se priorizar o risco do indivíduo para a 
sociedade e não o tratamento específico da doença mental do indivíduo. 
Um exemplo claro dessa distorção encontra-se no ordenamento jurídico-penal que 
disciplina a doença mental superveniente no curso da execução penal. De acordo 
com o art. 183 da Lei de Execuções Penais, quando ocorre superveniência de 
doença mental ou perturbação da saúde mental no apenado, o critério para a 
escolha do tipo de medida de segurança a ser aplicado não é a gravidade da 
doença mental e o tratamento necessário ao caso, mas o regime prisional. 
Caso o agente esteja apenado com reclusão, sofrerá internação em hospital de 
custódia e tratamento psiquiátrico. Sendo o delito previsto com pena de detenção, 
será submetido ao tratamento ambulatorial. Sendo assim, um apenado que 
desenvolva uma neurose ou transtorno obsessivo-compulsivo no curso da pena 
privativa de liberdade, pode ser internado em hospital de custódia e tratamento 
psiquiátrico, se o crime por ele praticado for punido com reclusão, e no outro 
extremo, um indivíduo que apresente esquizofrenia ou depressão grave no decorrer 
do cumprimento da pena de detenção, submeter-se-á a tratamento ambulatorial. 
Vê-se que o diagnóstico específico e o tratamento necessário ao caso não são 
fatores determinantes para a escolha do tipo de medida de segurança a ser 
aplicada, levando-se à valorização do interesse social em detrimento do regime 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
62 
terapêutico necessário para o indivíduo. 
 
5. PRINCIPAIS TIPOS PENAIS PREVISTOS NA PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO 
PENAL. 
Vejamos alguns tipos penais constantes no Código Penal e que estão muito 
presentes na atividade policial militar 
TÍTULO I 
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
CAPÍTULO I 
DOS CRIMES CONTRA A VIDA 
Homicídio simples 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
Caso de diminuição de pena 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor 
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta 
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
Homicídio qualificado 
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II - por motivo fútil; 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso 
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de 
outro crime: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
Feminicídio 
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63 
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: 
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da 
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de 
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu 
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa 
condição: 
VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
§ 2o - A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o 
crime envolve: 
I - violência doméstica e familiar; 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
Homicídio culposo 
§ 3º Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
Aumento de pena 
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o 
crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o 
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o 
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra 
pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a 
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão 
grave que a sanção penal se torne desnecessária. 
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for 
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, 
ou por grupo de extermínio. 
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o 
crime for praticado: 
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
64 
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, 
com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição 
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; 
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da 
vítima; 
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos 
incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. 
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação 
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação 
ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. 
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal 
de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste 
Código: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
§ 3º A pena é duplicada: 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade 
de resistência. 
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da 
rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. 
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de 
grupo ou de rede virtual. 
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de 
natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra 
quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento 
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer 
resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
65 
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 
14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a 
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, 
responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. 
 
Infanticídio 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante 
o parto ou logo após: 
Pena - detenção, de dois a seis anos. 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho 
provoque: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
Aborto provocado por terceiro 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é 
maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é 
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência 
Forma qualificada 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas 
de um terço, se, emconsequência do aborto ou dos meios empregados para 
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, 
por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
Aborto necessário 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
66 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento 
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
CAPÍTULO II 
DAS LESÕES CORPORAIS 
Lesão corporal 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
Lesão corporal de natureza grave 
§ 1º Se resulta: 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
II - perigo de vida; 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV - aceleração de parto: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
§ 2° Se resulta: 
I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
II - enfermidade incurável; 
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
IV - deformidade permanente; 
V - aborto: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
Lesão corporal seguida de morte 
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis 
o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
Diminuição de pena 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
67 
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor 
social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta 
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
 
Substituição da pena 
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de 
detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: 
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
II - se as lesões são recíprocas. 
Lesão corporal culposa 
§ 6° Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
Aumento de pena 
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses 
dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. 
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. 
Violência Doméstica 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, 
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, 
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de 
hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias 
são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço 
se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. 
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força 
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
68 
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em 
razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. 
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do 
sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). 
(...) 
CAPÍTULO IV 
DA RIXA 
Rixa 
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: 
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. 
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, 
aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a 
dois anos. 
CAPÍTULO V 
DOS CRIMES CONTRA A HONRA 
Calúnia 
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como 
crime: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala 
ou divulga. 
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. 
Exceção da verdade 
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: 
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi 
condenado por sentença irrecorrível; 
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 
141; 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
69 
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido 
por sentença irrecorrível. 
Difamação 
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
Exceção da verdade 
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é 
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. 
Injúria 
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: 
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; 
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. 
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua 
natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena 
correspondente à violência. 
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, 
etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: 
Pena - reclusão de um a três anos e multa. 
Disposições comuns 
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se 
qualquer dos crimes é cometido: 
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; 
II - contra funcionário público, em razão de suas funções; 
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da 
calúnia, da difamação ou da injúria. 
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70 
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, 
exceto no caso de injúria. 
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, 
aplica-se a pena em dobro. 
§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das 
redes sociais da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena. 
Exclusão do crime 
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível: 
I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu 
procurador; 
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo 
quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; 
III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação 
ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. 
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela 
difamação quem lhe dá publicidade. 
Retratação 
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da 
calúnia ou da difamação, fica isento de pena. 
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia 
ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se 
assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. 
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação 
ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se 
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa. 
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante 
queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. 
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no 
caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do 
ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3o32 
a.Erro de tipo essencial ............................................................................................................ 32 
b.Erro de tipo acidental ............................................................................................................ 33 
1.2.2. Erro de proibição ............................................................................................................ 34 
1.3. Excludentes de criminalidade ou de ilicitude .................................................................... 35 
1.3.1. Estado de Necessidade ................................................................................................... 35 
1.3.2. Legítima Defesa .............................................................................................................. 36 
1.3.3. Estrito cumprimento do dever legal ............................................................................... 37 
1.3.4. Exercício regular de direito ............................................................................................. 38 
1.4. Culpabilidade ..................................................................................................................... 38 
2. CONCURSO DE PESSOAS ....................................................................................................... 40 
2.1. Coautoria e participação ................................................................................................... 40 
2.2. Crime plurissubjetivo ......................................................................................................... 41 
2.3. Requisitos do concurso de pessoas ................................................................................... 42 
2.4. Autoria mediata e colateral ............................................................................................... 42 
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5 
2.5. Participação por omissão e conveniência, e coautoria em crime omissivo ...................... 43 
2.6. Participação e cumplicidade .............................................................................................. 44 
2.7. Incomunicabilidade de circunstâncias ............................................................................... 44 
2.8. Casos de impunibilidade .................................................................................................... 45 
3. CONCURSO DE CRIMES ......................................................................................................... 46 
3.1.Concurso Material (Art. 69 do CP) ...................................................................................... 46 
3.2.Concurso Formal (Art. 70 do CP) ........................................................................................ 46 
3.3.Crime continuado (Art. 71 do CP) ...................................................................................... 47 
4. SANÇÃO PENAL ..................................................................................................................... 48 
4.1. Espécies de pena ............................................................................................................... 48 
4.1.1.Penas Privativas de Liberdade ......................................................................................... 49 
4.1.2.Penas restritivas de direito .............................................................................................. 49 
4.1.3.Pena de multa .................................................................................................................. 50 
4.2. Regimes de cumprimento. ................................................................................................ 50 
4.2.1.Regime inicial da PPL de reclusão ................................................................................... 51 
4.2.2.Regime inicial da PPL de detenção .................................................................................. 52 
4.2.3.Regime inicial da pena de prisão simples ........................................................................ 52 
4.2.4.Gravidade do delito e regime penitenciário ................................................................... 52 
4.2.5.Progressão de regime ...................................................................................................... 53 
4.2.6.Regras do regime fechado ............................................................................................... 53 
4.2.7.Regras do regime semiaberto ......................................................................................... 55 
4.2.8.Remição ........................................................................................................................... 56 
4.2.9.Regras do regime aberto ................................................................................................. 57 
4.2.10.Prisão domiciliar ............................................................................................................ 57 
4.2.11.Regressão de regime ..................................................................................................... 58 
4.2.12.Superveniência de doença mental ................................................................................ 59 
4.2.13.Detração penal .............................................................................................................. 59 
4.3. Critérios de aplicação da pena .......................................................................................... 60 
4.4. Medida de segurança ........................................................................................................ 60 
4.4.1.Aplicação e espécies de medidas de segurança .............................................................. 61 
4.4.2.Periculosidade (verificação do risco) e medida de segurança superveniente ................ 63 
5. PRINCIPAIS TIPOS PENAIS PREVISTOS NA PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO PENAL. ................ 64 
TÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ................................................................................ 64 
CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A VIDA ................................................................................ 64 
CAPÍTULO II DAS LESÕES CORPORAIS ....................................................................................... 68 
UNIDADE III – CONCEITOS E DEFINIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL ........................... 85 
1. CONCEITO E FUNDAMENTO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL. .......................................... 85 
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6 
1.1.AUTONOMIA. ...................................................................................................................... 85 
1.2. FINALIDADE E PRINCÍPIOS. ................................................................................................ 85 
1.2.1. Princípio de inocência (ou da não culpabilidade): ......................................................... 86 
1.2.2. Princípio do “in dubio pro reo”: ...................................................................................... 86 
1.2.3. Princípio do contraditório: ............................................................................................. 86 
1.2.4. Princípio da ampla defesa: ............................................................................................. 87 
1.2.5. Princípio da Publicidade: ................................................................................................ 87 
1.2.6. Princípio do “nemo tenetur se detegere”: ...................................................................... 87 
2. FONTES ................................................................................................................................. 88 
3. NORMA PROCESSUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO. ................................................................ 89 
4. INQUÉRITO POLICIAL. ...........................................................................................................do art. 
140 deste Código. 
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71 
(...) 
CAPÍTULO II 
DO ROUBO E DA EXTORSÃO 
Roubo 
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante 
grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, 
reduzido à impossibilidade de resistência: 
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, 
emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a 
impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. 
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: 
I – (revogado); 
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; 
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece 
tal circunstância. 
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado 
para outro Estado ou para o exterior; 
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. 
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, 
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. 
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma 
branca; 
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): 
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; 
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de 
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. 
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de 
fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste 
artigo. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
72 
§ 3º Se da violência resulta: 
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) 
anos, e multa; 
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. 
Extorsão 
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com 
o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, 
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: 
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de 
arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. 
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º 
do artigo anterior. 
§ 3oSe o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e 
essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de 
reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal 
grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, 
respectivamente. 
Extorsão mediante sequestro 
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, 
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: 
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. 
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado 
é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido 
por bando ou quadrilha. 
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. 
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: 
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. 
§ 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
73 
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à 
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a 
dois terços. 
Extorsão indireta 
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação 
de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima 
ou contra terceiro: 
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 
CAPÍTULO V 
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA 
Apropriação indébita 
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a 
detenção: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
Aumento de pena 
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: 
I - em depósito necessário; 
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, 
testamenteiro ou depositário judicial; 
III - em razão de ofício, emprego ou profissão. 
(...) 
 
TÍTULO XI 
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
CAPÍTULO I 
DOS CRIMES PRATICADOS 
POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO 
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL 
Peculato 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
74 
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer 
outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou 
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a 
posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em 
proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade 
de funcionário. 
Peculato culposo 
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à 
sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a 
pena imposta. 
Peculato mediante erro de outrem 
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do 
cargo, recebeu por erro de outrem: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
Inserção de dados falsos em sistema de informações 
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados 
falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados 
ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem 
indevida para si ou para outrem ou para causar dano: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações 
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou 
programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
75 
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da 
modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o 
administrado. 
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento 
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda 
em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais 
grave. 
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas 
Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da 
estabelecida em lei: 
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 
Concussão 
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que 
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
Excesso de exação 
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou 
deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou 
gravoso, que a lei não autoriza: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. 
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que 
recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
Corrupção passiva 
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou 
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, 
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
76 
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem 
ou promessa,o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o 
pratica infringindo dever funcional. 
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com 
infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
Facilitação de contrabando ou descaminho 
Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando 
ou descaminho (art. 334): 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. 
Prevaricação 
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou 
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento 
pessoal: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir 
seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que 
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: 
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 
Condescendência criminosa 
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar 
subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte 
competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: 
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 
Advocacia administrativa 
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a 
administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: 
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
77 
Violência arbitrária 
Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-
la: 
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à 
violência. 
Abandono de função 
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei: 
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: 
Pena - detenção, de um a três anos, e multa. 
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado 
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as 
exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber 
oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso: 
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 
Violação de sigilo funcional 
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva 
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não 
constitui crime mais grave. 
§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: 
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de 
senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de 
informações ou banco de dados da Administração Pública; 
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. 
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a 
outrem: 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
78 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. 
Violação do sigilo de proposta de concorrência 
Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou 
proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: 
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. 
Funcionário público 
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, 
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função 
pública. 
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou 
função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de 
serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da 
Administração Pública. 
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes 
previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de 
direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de 
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. 
CAPÍTULO II 
DOS CRIMES PRATICADOS POR 
PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL 
Usurpação de função pública 
Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. 
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: 
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. 
Resistência 
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a 
funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: 
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. 
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
79 
Pena - reclusão, de um a três anos. 
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das 
correspondentes à violência. 
Desobediência 
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: 
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. 
Desacato 
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão 
dela: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 
Tráfico de Influência 
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem 
ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário 
público no exercício da função: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou 
insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. 
Corrupção ativa 
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, 
para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da 
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica 
infringindo dever funcional. 
CAPÍTULO III 
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA 
(...) 
Denunciação caluniosa 
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento 
investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
80 
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-
lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de 
anonimato ou de nome suposto. 
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de 
contravenção. 
Comunicação falsa de crime ou de contravenção 
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de 
crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Auto-acusação falsa 
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado 
por outrem: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. 
Falso testemunho ou falsa perícia 
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como 
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou 
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado 
mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir 
efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da 
administração pública direta ou indireta. 
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que 
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declaraa verdade. 
Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a 
testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, 
negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou 
interpretação: 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
81 
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. 
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime 
é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal 
ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou 
indireta. 
Coação no curso do processo 
Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer 
interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que 
funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou 
em juízo arbitral: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena 
correspondente à violência. 
Exercício arbitrário das próprias razões 
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, 
embora legítima, salvo quando a lei o permite: 
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena 
correspondente à violência. 
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede 
mediante queixa. 
Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em 
poder de terceiro por determinação judicial ou convenção: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
Fraude processual 
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou 
administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro 
o juiz ou o perito: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. 
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo 
penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
82 
UNIDADE III – CONCEITOS E DEFINIÇÕES DO DIREITO 
PROCESSUAL PENAL 
1. CONCEITO E FUNDAMENTO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL. 
O Direito Processual Penal apresenta alguns conceitos básicos que são 
fundamentais para a compreensão da matéria. Quando o Poder legislativo, por 
exemplo, cria tipos penais incriminadores, surge então um comando legal voltado 
para as pessoas no sentido de que devem se abster de praticar tal conduta. 
Ocorre que por vezes, as pessoas praticam a conduta incriminadora, nesse 
caso, a norma desce do plano abstrato, impessoal e genérico para o plano prático, 
surge então o ius puniendi in concreto, que consiste no direito do Estado em punir e 
exigindo que o acusado se submeta as consequências do crime cometido, no 
entanto, o Estado não pode punir sem a existência de um processo. 
Sobre o assunto, Campos (2018) Conceitua o Direito processo Penal como: 
“(...) um complexo de princípios e normas que constituem o instrumento 
técnico necessário à aplicação do Direito Penal, regulamentando o exercício 
da jurisdição pelo Estado-juiz, por meio do processo, os institutos da ação e 
da defesa, além da investigação criminal pela polícia judiciária, através de 
inquérito policial, ou por outro órgão público, também legitimado em lei, a 
investigar através de procedimentos investigatórios diversos.” 
 
1.1. AUTONOMIA. 
O direito Processual penal é autônomo, pois possui princípios, regras e 
institutos que lhe são singulares, não se subordinando ao Direito Penal material. 
1.2. FINALIDADE E PRINCÍPIOS. 
O Direito Processual Penal consiste no conjunto de princípios e regras e tem 
como finalidade a imposição de sanção penal por parte do Estado ao possível autor 
de ter cometido o fato delituoso. 
Segundo LIMA (2020), os Princípios são os mandamentos nucleares de um 
sistema, e que, portanto, tem uma carga valorativa muito grande e atuam como 
vetores (valores) que orientam a ação de um dado sistema normativa. Esse corpo 
principiológico representa o modelo constitucional de processo. Nesse contexto, 
abordaremos os principais princípios inerentes ao Processo penal. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
83 
1.2.1. Princípio de inocência (ou da não culpabilidade): 
Antes da Constituição Federal de 1988, tal princípio não era expressamente 
previsto, contudo com a Constituição Federal de 1988, o princípio da presunção de 
não culpabilidade passou a constar expressamente no inciso LVII do art. 5º: 
“Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória”. 
Sobre o Tema, LIMA (2020) entende que: 
Em síntese, pode ser definido como o direito de não ser declarado culpado 
senão após o término do devido processo legal, durante o qual o acusado 
tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para a sua defesa 
(ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas 
apresentadas pela acusação. 
1.2.2. Princípio do “in dubio pro reo”: 
Esse princípio assegura que na dúvida acerca do fato delitivo e de sua 
autoria o acusado será considerado inocente, logo, a parte que acusa sempre se 
encontra em desvantagem, uma vez que cabe a ela, provar a tese de acusação 
apresentada, como explica Lima (2020): 
Nesta acepção, presunção de inocência confunde-se com o in dubio pro 
reo. Não havendo certeza, mas dúvida sobre os fatos em discussão em 
juízo, inegavelmente é preferível a absolvição de um culpado à condenação 
de um inocente, pois, em um juízo de ponderação, o primeiro erro acaba 
sendo menos grave que o segundo. 
 
1.2.3. Princípio do contraditório: 
Encontra-se previsto no art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal de 1988: 
“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em 
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e 
recursos a ela inerentes”. 
Este princípio possibilita a participação no processo de forma efetiva e 
eficaz, uma vez que confere o direito bilateral de ser cientificado acerca dos atos 
processuais (citação, intimação e notificação); argumentações e diligências 
requeridas e poder oferecer reação, manifestação ou contrariedade à pretensão da 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
84 
parte contrária, sobre esse assunto, a súmula 707 do Supremo Tribunal Federal 
entende que: 
“constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer 
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo 
a nomeação de defensor dativo”. 
1.2.4. Princípio da ampla defesa: 
O princípio da ampla encontra-se previsto no art. 5º, inciso LV, da 
Constituição Federal e pode ser visto sob dois enfoques: defesa técnica e 
autodefesa. A defesa técnica é aquela realizada por um defensor público ou 
advogado, os quais possuem conhecimento técnico profissional, por outro lado, a 
autodefesa é a possibilidade de o acusado defender-se por si só durante o seu 
interrogatório ou até mesmo de permanecer calado. 
1.2.5. Princípio da Publicidade: 
Esse princípio é característico de estados democráticos de direito, tal 
princípio possibilita um maior controle, lisura e transparência acerca dos atos 
processuais, uma vez que todo e qualquer cidadão pode ter tem acesso à 
informação dos atos praticados no curso do processo, segundo Badaró (2021): 
O princípio da publicidade dos atos processuais tem direta relação com a 
legitimidade do exercício do poder de punir pelo Estado. Os processos 
secretos são típicos dos estados autoritários. O desconhecimento da 
existência do processo, ou mesmo de alguns de seus atos, é uma forma de 
esconder as arbitrariedades. 
 
1.2.6. Princípio do “nemo tenetur se detegere”: 
 O direito ao silêncio, está previsto na Carta Magna previsto no art. 5º, inciso 
LXIII, senão vejamos: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de 
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. 
Esse princípio possibilita o direito de permanecer calado, apresenta-se 
apenas como uma das várias matizesdecorrentes desse princípio, segundo o qual 
ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Segundo LIMA (2020): 
 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
85 
Consiste, grosso modo, na proibição de uso de qualquer medida de coerção 
ou intimidação ao investigado (ou acusado) em processo de caráter 
sancionatório para obtenção de uma confissão ou para que colabore em 
atos que possam ocasionar sua condenação. 
 
2. FONTES 
As fontes do Direito Processual penal são divididas em fontes materiais e 
fontes formais. Segundo Ferraz Júnior (2018), tal classificação leva em consideração 
os centros produtores do direito, de modo a sistematizá-los coerentemente. 
As fontes matérias, também classificadas como fontes de produção, são os 
entes federativos responsáveis por elaboração da norma, em se tratando de 
Processo Penal, a União tem competência privativa para legislar sobre a matéria, 
nos termos do art. 22, inciso I da Constituição Federal, in verbis: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, 
aeronáutico, espacial e do trabalho; 
 
Por outro lado, as fontes formais, também conhecidas como fonte de 
cognição, são os meios pelos quais uma norma é inserida no ordenamento jurídico e 
se subdivide em fontes primárias (imediatas ou diretas) e secundárias (também 
chamadas de mediatas, indiretas ou supletivas). 
As fontes formais primárias são as leis em sentido amplo, o que inclui a 
própria constituição Federal; os Tratados, Convenções e regras e o Direito 
Internacional. 
Já as fontes formais secundárias são aplicadas ante a ausência de 
previsibilidade legal, uma vez que o centro produtor, ou seja, as fontes formais 
primárias não cobrem o universo dos comportamentos possíveis. As fontes 
secundárias estão previstas no art. 4º da Lei de Introdução as Normas do Direito 
Brasileiro – LINDB (costumes, Princípios Gerais do Direito e Analogia). 
 
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86 
3. NORMA PROCESSUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO. 
Como se sabe, o problema acerca da sucessão de leis no tempo é resolvido, 
com base na garantia constitucional que garante a irretroatividade da lei penal, salve 
se, para beneficiar o réu, nos termos do art. 5º, caput, XL, senão vejamos: 
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
(...) 
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 
 
Entretanto, tal regra, não se aplica no campo processual penal, posto que, a 
regra geral que disciplina o direito intertemporal encontra-se previsto no art. 2º do 
Código de Processo Penal, nos seguintes termos: “A lei processual penal aplicar-se-
á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei 
anterior”. 
Portanto, se hipoteticamente uma nova lei passe a exigir que o acusado seja 
o último a ser ouvido na fase processual, reputar-se-á como válido a sua oitiva já 
realizada na época em que a lei antiga não exigia tal regramento, sendo assim, em 
síntese, tem se que: A lei processual nova só pode ser aplicada aos futuros atos do 
processo, ainda que o delito tenha ocorrido antes do início da vigência da novel lei. 
Sobre a aplicação da Lei processual no espaço, vigora a regra da 
territorialidade, ou seja, as autoridades jurisdicionais brasileiras deverão aplicar as 
regras de Direito Processual Penal Brasileira, regra essa obtida por inteligência do 
art. 1 do Código de Processo Penal: “O processo penal reger-se-á, em todo o 
território brasileiro, por este Código.” 
Sendo assim, em regra, aplica-se a lei processual penal brasileira para os 
crimes cometidos no território brasileiro, excluindo, assim, a aplicação da lei 
processual estrangeira. 
Por outro lado, devemos observar as situações nas quais vigora o princípio 
da extraterritorialidade no direito penal, tal delito, ainda que cometido no exterior, 
seguirá a prestação da tutela jurisdicional no Brasil, segundo Badaró (2021): 
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87 
“o juiz brasileiro conduzirá um processo penal no Brasil, aplicando o CPP 
brasileiro, por um crime cometido no exterior, mas que está sujeito à lei 
penal brasileira, com base na extraterritorialidade da lei penal” 
 
A título exemplificativo, se um policial militar em missão de paz no exterior 
verificar que a conduta praticada por um estrangeiro, que no exterior pratique crime 
contra o presidente da República do Brasil, deverá fazer a detenção e o processo 
penal com todas as suas fases correrá no Brasil. 
É lugar-comum o entendimento segundo o qual toda a regra comporta 
exceção, nesse passo, os tratados, as convenções e regras de direito internacional 
são exceções à regra da territorialidade da lei processual penal, por razões de 
interesse internacionais do País. Isto posto, ainda que um ato venha a ser praticado 
em território nacional, por força da exceção, será utilizada lei diferente do CPP. 
Sobre a temática, Badaró (2021) entende que 
“Atualmente, o Brasil é signatário de vários tratados bilaterais e multilaterais 
de cooperação judiciária em matéria penal, que preveem formas de 
cooperação judiciária que, embora sigam, em regra, a lei brasileira – no 
caso o CPP- admitem a realização do ato com a observância de outras 
regras, previstas nos próprios tratados. (grifo nosso). 
 
4. INQUÉRITO POLICIAL. 
4.1. CONCEITO. 
Nos dizeres de Greco (2020) O inquérito policial é o instrumento 
segundo o qual o Estado, busca a apuração das infrações penais e de seu(s) 
prováveis autor(es), é o instrumento hábil que tem como finalidade conseguir as 
primeiras provas ou mínimo lastro probatório para que o titular da ação penal, ou 
seja, o Ministério Público, possa dar início a persecução penal, através do 
oferecimento da denúncia em juízo. 
Sobre o Inquérito Policial, RANGEL (2017) assim preleciona “é um 
procedimento de índole meramente administrativa, de caráter informativo, 
preparatório da ação penal.” 
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88 
4.2. FINALIDADE. 
O Inquérito Policial tem a finalidade de apurar possível pratica de uma 
infração penal, bem como indícios de sua materialidade e autoria, se revela como 
um instrumento de relevo importante para a futura ação penal. Nesse diapasão, a 
elucidação dos fatos delitivos será tão bem-sucedida, quanto mais bem instruído for 
o epigrafado procedimento. 
O inquérito policial busca a verdade, e sua importância reside justamente 
porque as provas ou elementos de informação são extraídos em data próxima a 
ocorrência do crime, isso significa dizer que os fatos ainda estão latentes na 
memória das vítimas, a realização de eventuais provas periciais, assim como a oitiva 
da vítima que terá como descrever com mais vagar o que ocorreu. 
Nesse passo, o Manual de Formação em Direitos Humanos para as forças 
policiais aduz que o procedimento investigativo (Inquérito Policial) se apresenta 
como uma etapa fundamental, uma vez que se trata de meio idôneo para aqueles 
acusados de terem cometido um crime que possam comparecer perante a justiça a 
fim de verificar a sua culpabilidade ou inocência. 
O Manual de Formação em Direitos Humanos para as forças policiais, trás 
consigo, uma série de princípios que devem nortear a investigação policial, in verbis: 
“Durante as investigações, audição de testemunhas, vítimas e suspeitos, 
revistas pessoais, buscas de veículos e instalações, bem como 
interceptação de correspondências e escutas telefônicas: 
• todo indivíduo tem direito à segurança pessoal; 
• todo indivíduo tem direito a um julgamento justo; 
• todo indivíduo tem direito à presunção de inocência até que a sua culpa fique 
provada no decurso de um processo equitativo; 
• ninguém sofrerá intromissões arbitráriasna sua vida privada, família, 
domicílio ou correspondência; 
• ninguém sofrerá ataques à sua honra ou reputação; 
• não será exercida qualquer pressão, física ou mental, sobre os suspeitos, 
testemunhas ou vítimas, a fim de obter informação; 
• a tortura e outros tratamentos desumanos ou degradantes são absolutamente 
proibidos; 
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89 
• as vítimas e testemunhas deverão ser tratadas com compaixão e 
consideração; 
• a informação sensível deverá ser sempre tratada com cuidado e o seu caráter 
confidencial respeitado em todas as ocasiões; 
• ninguém será obrigado a confessar—se culpado nem a testemunhar contra si 
próprio; 
• as atividades de investigação deverão ser conduzidas em conformidade com 
a lei e apenas quando devidamente justificadas; 
• não serão permitidas atividades de investigação arbitrárias ou indevidamente 
intrusivas. 
 
Esses procedimentos trazem a baila, o modo como deve ser conduzido, não 
só a investigação, assim como a prisão dos acusados, devendo a todo o momento 
observar os princípios que devem nortear a atividade policial, em especial, o 
princípio da dignidade da pessoa humana, portanto, conduzir investigações, 
extraindo confissões para ratificar uma suspeita de um acusado pode caracterizar 
tortura. 
4.3. ÓRGÃO ELABORADOR. 
A competência do órgão encarregado para instaurar o inquérito Policial deve 
levar em consideração a natureza da infração penal, quando estivermos diante de 
uma infração penal de natureza militar, deve ser instaurado o Inquérito Policial Militar 
– IPM, em se tratando de crime que não possui essa a natureza, deve em regra, ser 
instaurado o Inquérito Policial pela autoridade policial civil competente. 
Como dito anteriormente, o inquérito policial tem como escopo dar subsídios 
para o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, no entanto, ele pode ser 
dispensado, caso o Ministério Público possua outras provas materiais. Ademais, o 
Código de Processo Penal possui vários trechos que dispensam o Inquérito Policial, 
vide art.12, 27, 39 e 46. 
 
4.4. NATUREZA E PROCEDIMENTO. 
Nos dizeres de Badaró (2021) o inquérito policial é um procedimento 
administrativo, de natureza inquisitória, escrito e sigiloso. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
90 
Quanto à primeira característica, é um procedimento administrativo, pois é 
previsto uma sequência ordenada de atos a serem observados pela autoridade 
policial, com os meios de início da investigação, quais diligências devem ser 
providenciadas, dentre outros. 
Quanto ao segundo quesito, o Inquérito Policial tem natureza inquisitiva, pois 
não se trata de um procedimento desenvolvido com contraditório, e é a partir dessa 
premissa que os elementos de informação nele obtido não poderão ser usados na 
fase processual, salvo se conjugado com provas colhidas sob o crivo da ampla 
defesa e do contraditório. 
Em relação a forma escrita, tal característica é extraída do art. 9º do Código 
de Processo Penal, senão vejamos: “art. 9o Todas as peças do inquérito policial 
serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, 
rubricadas pela autoridade”. 
Ao mais, o Inquérito Policial é um procedimento administrativo sigiloso, nos 
termos do art. 20 do Código de Processo Penal, in verbis: Art. 20. A autoridade 
assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo 
interesse da sociedade. 
Todavia, o estatuto da advocacia e da Ordem dos advogados do Brasil, a lei 
nº 8.906/1994, prevê em seu art. 7º, inciso XIV que o advogado tem o direito de 
examinar em qualquer repartição ou instituição responsável por conduzir 
investigação, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou 
em andamentos, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar 
apontamentos, em meio físico ou digital. 
Seguindo o mesmo raciocínio, o Supremo Tribunal Federal sumulou o tema, 
ao aprovar em sessão plenária, de 02 de fevereiro de 2009, a súmula nº 14, senão 
vejamos: 
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos 
elementos de prova que, já documentado em procedimento investigatório 
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito 
ao exercício do direito de defesa. 
Com tal súmula, a Suprema Corte assegura as vistas aos autos do 
procedimento para salvaguardar interesses do representado. Em suma, o caráter 
sigiloso é oponível a terceiras pessoas, mas jamais a advogados, com os contornos 
acima delineados. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
91 
Como já explicado anteriormente, o inquérito policial tem como escopo 
aparar suposta prática de uma infração penal e sua autoria e pode ser instaurado, 
de acordo com o art. 5º do Código de Processo Penal: 
a) de ofício, pela autoridade policial; 
b) mediante requisição do Ministério Público; 
c) mediante requisição do da autoridade judiciária; 
d) em virtude de requerimento do ofendido ou de quem tenha 
qualidade para representá-lo 
 
A prisão em flagrante, ainda que não prevista no artigo citado, é um fato que 
enseja a instauração do referido procedimento, após a lavratura do respectivo auto 
de prisão, sendo esse o marco temporal do qual terão início as investigações. 
Por ter natureza inquisitiva, o inquérito policial é assim descrito por Tourinho 
Filho (2009): 
Pois nele não existe a figura do contraditório, e a autoridade dirige as 
investigações como bem quiser, isto é, sem um procedimento prévio a ser 
obedecido. Basta frisar, que a Autoridade Policial pode ouvir vinte 
testemunhas ou apenas duas, tudo depende do caso concreto. O indiciado 
– pretenso autor do fato típico – não é um sujeito de direitos perante a 
autoridade policial, mas sim, objeto de investigação, apenas devendo ser 
respeitada sua integridade física e moral, e tanto isso é exato que pode 
sugerir a realização desta ou daquela diligência, que fica ao prudente 
arbítrio da Autoridade Policial. 
 
As medidas preliminares de inquérito consistem na preservação do local de 
crime, assim como a apreensão de objetos e instrumentos de crime são de 
fundamental importância para a colheita de informações que auxiliarão para se 
descobrir a forma como o delito foi cometido e sua autoria, malgrado, se sabe que 
muitas vezes o policial militar, normalmente a primeira autoridade a chegar no local 
do crime, não preserva o local de crime adequadamente até a chegada da perícia 
criminal. 
Uma das diligências no curso do inquérito policial que podem ocorrer é a 
interceptações de comunicações telefônicas; representação sobre a prisão 
temporária; representação sobre a prisão preventiva; exame de corpo de delito; 
reconhecimento de pessoas e coisas, acareação, dentre outras. 
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92 
Depois de instaurado, o inquérito policial não pode ser arquivado pela 
autoridade que o preside, ainda que o encarregado entenda que o fato não constitui 
infração penal ou que, ainda que se configure, mas esteja abarcado por uma das 
causas excludentes de ilicitude (exercício regular do direito, estado de necessidade, 
legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal) deve fazer constar em relatório 
final e encaminhar os autos do Inquérito Policial ao Ministério Público. 
A lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, deu nova redação ao art.28 e 
alterou significativamente o procedimento acerca do arquivamento do inquérito 
policial, senão vejamos: 
Art. 28 – Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer 
elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público 
comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará 
os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação na 
forma da lei. 
§ 1º Se a vítima ou seu representante legal, não concordar com o 
arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo máximo de 30 (trinta) 
dias do recebimento da comunicação,submeter a matéria à revisão da 
instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva 
lei orgânica. 
 
Portanto, com a nova redação dada ao artigo 28, não cabe mais ao juiz 
exercer controle na fase pré-processual, ficando a cargo do Ministério Público 
exercer tal controle, em regra, através de seu órgão colegiado. 
Caso o órgão colegiado ratifique a solicitação do representante do Ministério 
Público, no sentido de arquivar o inquérito, a denúncia não é feita e 
consequentemente a ação penal não é iniciada. 
 
5. AÇÃO PENAL 
5.1 CONCEITO. 
A ação penal, segundo Badaró (2021) pode ser entendida como o direito que 
assegura a todos o ato de demandar (ingresso em juízo), estando umbilicalmente 
ligado ao exercício de direitos, poderes e faculdades ao longo de todo o 
desenvolvimento do processo. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
93 
5.2. FUNDAMENTO. 
A ação penal busca a prestação da tutela jurisdicional pelo Estado, e tem 
como objetivo a resolução de um conflito decorrente de uma dada situação fática. 
5.3. CONDIÇÕES. 
A lei exige que algumas condições sejam atendidas que a ação penal seja 
iniciada e elas são: Possibilidade jurídica do pedido; interesse de agir, legitimidade 
das partes e justa causa para a ação penal. 
A possibilidade jurídica do pedido se revela a partir de uma análise valorativa 
que verifica, prima facie, se a conduta imputada ao acusado é típica, isso por que o 
processo penal apenas vai se debruçar sobre condutas penalmente relevantes, as 
quais, irão se projetar no campo processual. 
Assim, não haverá possibilidade jurídico do pedido, no direito processual 
penal, de alguém acusado de furto de uso ou incesto, devendo a denúncia ser 
rejeitada de ofício. 
Para se falar sobre interesse de agir, o binômio: necessidade e adequação 
devem estar presentes. A necessidade se apresenta quando não é possível o 
provimento do direito pleiteado sem o socorro ao Poder Judiciário. Por outro lado, 
prestação jurisdicional adequada ocorre quando o provimento pedido for apto a 
afastar a lesão ou mal invocado pelo autor. 
Um exemplo de falta de adequação ocorre quando se ingressa com um 
habeas corpus para anular processo por crime onde a previsão de pena é apenas de 
multa, adequado seria o mandado de segurança. 
Quanto à legitimidade das partes, a terceira condição da ação, ela pode ser 
entendida como a afirmação por parte do autor de que possui um direito subjetivo 
violado (legitimidade ativa) e pede a tutela em face do titular da obrigação 
correspondente àquele direito (legitimidade passiva). 
A justa causa é a exigência de que existam elementos de convicção que 
identifiquem a viabilidade da ação penal, ou seja, deve haver um suporte fático 
indicando a existência material de um crime e sua autoria delitiva. Sua ausência 
causa a rejeição da denúncia. 
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94 
5.4. CLASSIFICAÇÃO: 
5.4.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA. 
A ação penal pública pode ser pública incondicionada e pública 
condicionada. A ação penal, em regra, é pública incondicionada e deve ser 
promovida por um órgão do Estado, ou seja, o Ministério Público que é o titular da 
ação penal e ao receber o Inquérito Policial ou quaisquer outros elementos de 
informação e se convencer da existência de um crime e de sua materialidade estará 
nesse caso, obrigado a oferecer a Ação Penal, não tendo espaço para a 
discricionariedade. 
A ação penal pública condicionada a representação do ofendido, sendo 
representação a exteriorização de vontade do ofendido ou de seu representante 
legal que intenta ver instaurada a persecução penal contra o suposto agressor. 
5.4.2. AÇÃO PENAL PRIVADA. 
A ação penal de iniciativa privada deve observar os princípios da 
oportunidade, disponibilidade e da indivisibilidade. 
5.4.2.1. O princípio da oportunidade 
Implica dizer que a ação penal privada poderá ou não ser promovida, tudo 
vai depender da vontade da vítima ou de seu representante legal, ainda que se 
esteja diante de um delito, a vítima poderá exercer ou não o direito de dar o impulso 
para a persecução penal. 
5.4.2.2. O princípio da disponibilidade 
Pode ser entendido como a possibilidade da vítima, na ação penal privada 
desistir da ação penal, no decorrer do processo. 
5.4.2.3. Princípio da indivisibilidade 
Pode ser caracterizado como a obrigatoriedade de incluir todos os 
responsáveis pelo crime na ação penal, não podendo escolher “A” ou “B”, se os dois 
participaram para o crime. 
 
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95 
UNIDADE IV – TIPOS DE PRISÕES 
1. PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA: CONSIDERAÇÕES 
Sabe-se que a liberdade é um dos bens jurídicos mais relevantes, a 
liberdade do indivíduo é a regra, e as medidas cautelatórias (entendida como 
aquelas medidas que ocorrem anteriormente ao trânsito em julgado da sentença 
penal condenatória) em especial, a prisão, é uma exceção. É nesse panorama que 
nossa Constituição cidadã de 1988 estabelece em seu inciso LXI do art. 5: 
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e 
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de 
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. 
 
Sendo assim, em regra, apenas o Estado pode privar a liberdade de alguém, 
contudo, há uma exceção que veremos logo mais. Badaró (2021) traz importantes 
lições acerca da liberdade provisória, senão vejamos: 
“tal liberdade é chamada de provisória, posto que é diversa da situação do 
acusado que responde ao processo preso cautelarmente, mas também não 
se confunde com o acusado que responde ao processo em liberdade plena, 
seja por que não foi preso em flagrante delito ou teve tal prisão relaxada, 
seja porque não teve decretada contra si a prisão preventiva, ou esta foi 
revogada. O acusado que está em liberdade provisória, possui vínculos com 
o processo que, se descumpridos, poderão acarretar, em último caso, 
prisão cautelar. 
 
Então, concluímos que o principal objetivo da liberdade provisória é impedir 
uma medida cautelar (prisão) desnecessária, bem como manter o acusado vinculado 
ao processo. 
2. PRISÃO EM FLAGRANTE. 
Como foi dito no tópico anterior, em regra, o cidadão não pode privar a 
liberdade de alguém, entretanto, no art. 301 do Código de Processo Penal há uma 
exceção: 
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes 
deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. 
Logo se vê que há uma faculdade para que qualquer do povo prenda alguém 
que se encontra em estado de flagrância, contudo para os policiais militares, o 
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96 
tratamento é diferenciado, pois estes têm o poder-dever de agir, ou seja, existe uma 
obrigação legal de intervir, sob pena de responderem por crime de omissão. 
Obviamente que a lei não exige atos de heroísmos, logo, a sua atuação 
deve observar se há efetivamente possibilidades fáticas para atuar. Imaginemos que 
um policial militar ao sair de serviço, passe em uma agência bancaria do Banpará 
para resolver uma pendência em sua conta, ao chegar ao local, se depara com um 
roubo em que 10 (dez) elementos fortemente armados renderam os seguranças e 
estão com a gerente fazendo abertura de cofres, nesse caso não se pode exigir que 
o militar atue. 
O art. 302 do Código de Processo penal estabelece as circunstancias que 
caracterizam o flagrante delito. A Doutrina divide-os em flagrante próprio; flagrante 
improprio e flagrante presumido. 
O flagrante próprio é considerado o flagrante delito por excelência, e ocorre 
quando o agente está cometendo a infração penal ou quando acabou de cometer 
(art.302, I e II, do CPP) como exemplo, podemos citar uma situação hipotética em 
que a guarnição esteja passando por uma rua, no exato momento em que um 
indivíduo com arma de fogo estava subtraindo a bolsa de uma pessoa que esperava 
o transporte público na parada de ônibus. 
O flagranteimproprio ocorre quando o agente é perseguido, logo após, 
quer seja pela autoridade, pelo ofendido ou qualquer pessoa em situação que se 
faça presumir ser o autor do delito (art.302, I e II, do CPP). 
 O flagrante impróprio não é tão evidente, o que gera muitas dúvidas, 
inclusive no imaginário popular, pois se entende que se o indivíduo não for preso 
dentro do prazo de 24 horas, estaria assim esgotada a situação de flagrância, não 
podendo assim ser preso em flagrante delito. 
Contudo, não há nenhum dispositivo legal que embase esse entendimento 
acima exposto, de sorte que, enquanto durar a perseguição, subsiste a situação de 
flagrância. 
Fazendo uma interpretação conjugada do art. 302 do CPP com as alíneas 
“a” e “b” do art. 290 do Código de Processo Penal entende-se que, por exemplo, se 
uma guarnição policial durante uma perseguição a um indivíduo visto cometendo um 
crime de homicídio, perde-os de vista, devido ao engarrafamento, mas após alguns 
minutos conseguem retomar o contato visual, nesse caso, estariam atendidos os 
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97 
requisitos constante no Código de Processo Penal e se for capturado, tratar-se-á de 
estado de flagrante delito. 
A última hipótese diz respeito ao flagrante presumido, este ocorre quando 
o agente é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis 
que façam presumir ser ele o autor da infração (art. 302, IV, CPP). Aproveitando o 
exemplo anterior, seria a situação em que a guarnição chega ao local e se depara 
com o corpo da vítima já em óbito no local e o acusado segurando uma arma de 
fogo. 
Em todas as hipóteses de prisão em flagrante delito, caso seja capturado, o 
acusado, deverá o policial militar apresentar ao Delegado de Polícia, sendo tal 
procedimento trazido por inteligência do art. 304 do nosso Diploma processual 
penal, in verbis: 
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o 
condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este, cópia do 
termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das 
testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a 
imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas 
assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. 
 
Nesse sentido, o auto de prisão em flagrante delito é uma peça que deve ser 
confeccionada pela autoridade policial e deve conter: a) oitiva das testemunhas; b) 
oitiva da vítima, se houver e c) interrogatório do acusado. 
 
3. PRISÃO TEMPORÁRIA. 
A prisão temporária pode ser decretada se as infrações penais forem 
àquelas previstas na lei nº 7.960/89, por um período de 05 (cinco) dias, prorrogáveis 
por mais 05 dias, desde que atenda o art. 1º do mencionado diploma legal: 
I- quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; 
II- quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer 
elementos necessários aos esclarecimentos de sua identidade; 
III- quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova 
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos 
seguintes crimes (...) 
 
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98 
Em se tratando de autoridade policial, antes de prolatar a decisão, o 
magistrado ouvirá a manifestação do MP, devendo o juiz decidir em até 24 (vinte e 
quatro) horas após a comunicação oficial levada pela autoridade policial. 
A autoridade policial que representou solicitando a prisão temporária deverá 
colocar em liberdade o acusado após o decurso de 05 dias, no entanto, deve 
permanecer preso se houver sido renovado o prazo da prisão temporária ou tiver 
sido decretada a prisão preventiva. 
 
4. PRISÃO PREVENTIVA: REQUISITOS 
A prisão preventiva, diferentemente da temporária, pode ser decretada tanto 
na fase pré-processual como na fase processual, seus regramentos estão 
delineados entre os artigos 311 a 316 do nosso Diploma Processual Penal. A 
autoridade policial poderá representar à autoridade judiciária competente a 
decretação da prisão preventiva, desde que presente um dos requisitos constantes 
nos art. 311 c/c art. 312: 
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, 
caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério 
Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade 
policial (NR) 
Art. 312 – A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da 
ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal 
ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da 
existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo 
estado de liberdade do imputado. 
 
Oportuno ressaltar que tal medida não pode ser aplicada, caso o juiz 
constate que o crime cometido se encontra abarcado por uma causa de justificação 
prevista no artigo 23, Inciso I, II e III do Código Penal. Seja denegando ou 
decretando a prisão preventiva, o juiz deve fundamentar o seu convencimento. Pode 
o juiz também revogar a prisão preventiva, se verificar no curso do processo que o 
motivo que ensejou em sua decretação não mais subsiste. 
 
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99 
5. PRISÃO DOMICILIAR. 
A prisão domiciliar prevista no art. 318 é uma modalidade de medida 
cautelar, e normalmente é utilizada para substituir a prisão preventiva, e suas 
hipóteses estão previstas no art. 318 do Código de Processo Penal, senão vejamos: 
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando 
o agente for: 
I - maior de 80 (oitenta) anos 
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; 
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) 
anos de idade ou com deficiência; 
IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto 
risco. 
IV - gestante; 
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; 
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 
12 (doze) anos de idade incompletos. 
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos 
requisitos estabelecidos neste artigo. 
 
6. DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES. 
As medidas cautelares, segundo Badaró (2021) não tem o condão de 
solucionar a situação de direito material carecedora de proteção jurisdicional, sendo 
assim, elas não são um fim em si mesmo, mas sua finalidade é prevenir ocorrência 
de um dano irreparável e de reparação difícil, e tem um caráter provisório, ou seja, é 
temporário. 
Nesse panorama, o art. 319 Código de Processo Penal elenca um rol de 
medidas cautelares diversas da prisão, in verbis: 
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão. 
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas 
pelo juiz, para informar e justificar atividades; 
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por 
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado 
permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; 
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por 
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela 
permanecer distante; 
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja 
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; 
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o 
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; 
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100 
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza 
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para 
a prática de infrações penais; 
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados 
com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser 
inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco 
de reiteração; 
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para asseguraro 
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento 
ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; 
IX - monitoração eletrônica. 
§ 4oA fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI 
deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. 
 
7. LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA E COM FIANÇA. 
 A liberdade provisória tem previsão constitucional (art. 5º, LXVI) “ninguém 
será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir liberdade provisória, com 
ou sem fiança”. 
O indivíduo ao cometer o crime pode ser preso cautelarmente e responde o 
processo criminal nessa condição, por outro lado, o acusado pode responder ao 
processo em liberdade, liberdade essa denominada liberdade provisória. 
A finalidade genuína da liberdade provisória é impedir a manutenção de uma 
prisão cautelar que se apresente como desnecessária. É um meio-termo entre 
liberdade plena e a prisão cautelar, ainda que esteja vinculado ao processo, não os 
efeitos deletérios da prisão cautelar. 
A liberdade provisória sem fiança, é a medida que se impõe para substituir a 
prisão em flagrante delito, com previsão no art. 310, inciso III 
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de 
até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá 
promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado 
constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério 
Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: 
(...) 
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. 
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente 
praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III 
do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 
(Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado 
liberdade provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos 
os atos processuais, sob pena de revogação 
A liberdade provisória sem fiança ocorre também nos casos de incidência de 
uma das excludentes de antijuridicidade a favor do acusado, nessas hipóteses, é 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art26
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art23i
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art23i
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art23i
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art23i
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art23i
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101 
quase certa a absolvição do réu, e, portanto, se torna injustificável a manutenção do 
cárcere nesses casos. 
A Fiança que pode ser paga em dinheiro ou em bens que tenham valor de 
mercado tem como objetivo precípuo o cumprimento das obrigações processuais, 
uma vez que, em tese, o acusado, tem interesse em comparecer aos atos 
processuais, para que ao fim do processo, possa obter a devolução da fiança. 
A liberdade provisória com fiança, via de regra, é aplicada pelo juiz, mas pode 
excepcionalmente ser concedida pelo delegado de polícia, mas seu campo de 
atuação é limitado aos crimes cuja pena máxima abstrata não seja superior a 4 
(quatro), nos termos do art. 322 do Código de Processo Penal. 
Como se sabe, a liberdade provisória pode ser concedida com ou sem fiança, 
entretanto, alguns crimes são inafiançáveis, ou seja, há uma vedação expressa de 
concessão de liberdade provisória com fiança nos seguintes casos: a) Ação de 
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e contra o estado 
democrático) crimes hediondos e equiparados a hediondos. 
 
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102 
1. ATIVIDADE PRÉ – PROCESSUAL – O ADVOGADO NA DELEGACIA 
POLICIAL: ATOS DE DEFESA NA FASE DO INQUÉRITO POLICIAL 
Preliminarmente, cumpre destacar que o Inquérito Policial, refere-se a um 
procedimento de natureza administrativa que busca angariar elementos de 
informação, ou seja, indícios suficientes de autoria e prova de materialidade, 
doutrinariamente conhecido como Justa Causa. 
Nesse viés, apesar de se constituir em um meio de investigação, o indivíduo 
que figura como indiciado, modernamente caso entenda necessário, poderá 
apresentar no bojo do aludido inquérito, meios que demonstrem a não participação 
em uma atividade delitiva. 
Diante disso o direito de defesa deve ser assegurado ao acusado desde a 
fase pré - processual. É preciso, pois, garantir a defesa efetiva do acusado quando 
esta realmente importa, estendendo-se o exercício do direito de defesa ao inquérito 
policial. 
Não só a autodefesa, insuficiente em face do próprio comprometimento 
emocional e do desconhecimento técnico do acusado. Este deve poder contar, pois, 
com assistência de advogado legalmente habilitado, zeloso e competente na real 
defesa dos interesses de sua liberdade jurídica. 
No inquérito policial, esteja o acusado preso em flagrante delito ou não, a 
atuação do advogado é relevante para solicitar a produção de provas, em favor do 
suspeito ou indiciado, de modo a garantir, posteriormente, juízo de acusação justo e 
equilibrado. 
Se o indivíduo é preso em flagrante, a imediata intervenção do advogado 
guarda especial importância no sentido de informá-lo sobre a natureza da infração 
que lhe é imputada, o direito ao silêncio ou para assegurar o direito à assistência de 
intérprete. 
Além disso, ainda na hipótese de ser o indivíduo preso em flagrante, a 
intervenção do advogado é de suma importância a fim de pleitear o relaxamento da 
prisão ilegal ou a liberdade provisória, com ou sem fiança, garantindo, por meio de 
instrumentos legais, tais como petição endereçada à autoridade judiciária 
competente ou habeas corpus, o necessário insurgimento contra a infundada 
supressão de liberdade. 
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103 
Tudo isso, por certo, diz em favor da proteção efetiva da liberdade. Mas não 
é só. Do ponto de vista da sociedade, cujo fim último é a paz social e como tal 
interessada apenas na condenação do sujeito efetivamente culpado, deve-se notar 
que o exercício do direito de defesa por parte do indiciado e a própria atuação do 
defensor, no inquérito policial, podem contribuir para que não sejam aforadas 
acusações infundadas, apressadas, temerárias e até caluniosas, ou, ainda, 
acusações genéricas fadadas ao fracasso. 
Importante destacar que no sentido de assegurar uma melhor condição de 
defesa ao indiciado, o Supremo Tribunal Federal emitiu a Súmula Vinculante nº 14, 
nos seguintes termos: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter 
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento 
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam 
respeito ao exercício do direito de defesa”. 
2. HABEAS CORPUS: CABIMENTO, IMPETRAÇÃO E TRÂMITE 
 O que é habeas corpus? 
 O habeas corpus é um remédio constitucional utilizado para garantir a 
liberdade de um indivíduo, quando ele for preso ilegalmente ou sofrer ameaça de 
prisão, por conta de ato ilegal ou realizado com abuso de poder. 
Diante da sua importância, pois visa proteger a liberdade das pessoas, o 
habeas corpus está previsto na Constituição Federal, no art. 5º, inciso LXVIII, o qual 
menciona expressamente: “LXVIII – conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que 
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua 
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. 
 Ademais, as etapas processuais deste instrumento estão elencadas nos arts. 
647 a 667 do Código de Processo Penal. De acordo com suas especificações legais, 
majoritariamente o habeas corpus pode ser dividido em duas modalidades: a 
preventiva e a liberatória. 
 Hipóteses de Cabimento, previstas no art. 648 do Código de Processo 
Penal: 
 Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: 
 I – quando não houver justa causa; 
 II –quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei; 
 III – quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; 
 IV – quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; 
V – quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a 
autoriza; 
 VI – quando o processo for manifestamente nulo; 
https://www.projuris.com.br/codigo-do-processo-penal/
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
104 
 VII – quando extinta a punibilidade. 
 
Habeas Corpus Preventivo ou Salvo Conduto 
 O HC preventivo é utilizado nos casos em que ainda não houve privação de 
liberdade, mas ela está sob ameaça concreta e iminente por conta de algum ato 
anterior. O habeas corpus preventivo também é chamado de “salvo conduto” e 
impede que um ato ilegal se concretize. 
É o caso, por exemplo, quando houve a expedição de um mandado de prisão, 
mas existe alguma ilegalidade circundando a ordem, como a incompetência do juiz 
ou no caso de haver alguma nulidade processual. 
 Habeas Corpus Repressivo ou Liberatório 
 
 O HC repressivo ou Liberatório, com o próprio nome indica, busca reprimir 
uma prisão ilegal, ou seja, é utilizado quando o ato contra a liberdade de um 
indivíduo já se concretizou. O habeas corpus repressivo também é chamado de 
liberatório, pois almeja-se a liberdade de outrem que tenha sido cassada por alguma 
ilegalidade ou abuso de poder. 
 
2.1 - PESSOAS IDENTIFICADAS NO PROCESSO DE HABEAS CORPUS 
 A petição de habeas corpus deve ser direcionada sempre ao órgão superior 
àquele apontado como coator, além de identificar alguns sujeitos em seu escopo, 
quais sejam: o impetrante, o paciente, o coator e o detentor. 
 Impetrante 
 Impetrante é a pessoa que ajuíza o habeas corpus em nome de um paciente, 
ou seja, em nome de quem está sofrendo uma ordem ilegal. O impetrante pode ou 
não ser um advogado. 
 Paciente 
 É chamado de paciente aquele que sofreu o ato coator ou está na iminência 
de sofrê-lo. É, de fato, a pessoa que foi presa de forma ilegal ou está tendo sua 
liberdade ameaçada por conta de algum ato revestido de ilegalidade. O paciente 
pode impetrar, por si só, o habeas corpus, caso em que ele também será o 
impetrante. 
 Coator 
 Coator é a autoridade que determinou a prática do ato ilegal. Pode ser um juiz 
ou outra autoridade estatal que tenha poder para emanar decisões que interfiram no 
campo da liberdade de locomoção dos indivíduos. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
105 
 Detentor 
É chamado de detentor a pessoa que detém ou guarda o paciente, quando 
for diferente da pessoa enquadrada como autoridade coatora. É, por exemplo, o 
diretor do presídio ou do estabelecimento prisional no qual o paciente está preso, 
após cumprida a ordem ilegal 
3. RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE E REVOGAÇÃO DA PRISÃO 
PREVENTIVA. 
O relaxamento da prisão em flagrante é a peça cabível na hipótese de prisão 
em flagrante ilegal. A ilegalidade do flagrante pode ocorrer em dois momentos: 
quando a pessoa é efetivamente presa (“voz de prisão”) ou durante o procedimento 
de lavratura do auto de prisão em flagrante. A revogação de prisão preventiva é a 
medida aplicada para os casos de prisão decretada pela Autoridade Judiciária, seja 
uma prisão preventiva ou temporária. Não havendo mais motivos para a 
manutenção da prisão, a medida cautelar deverá ser revogada. 
 
3.1 - RELAXAMENTO DE PRISÃO: Legislação 
O art. 5º, LXV, da CF, dispõe que “a prisão ilegal será imediatamente 
relaxada pela autoridade judiciária”. Constitui-se uma via de controle da legalidade 
da prisão, independentemente da modalidade. 
Fundamentação Legal: Art. 5º, LXV, da Constituição Federal. Art. 310, inciso 
I do Código de Processo Penal. Arts. 224 e 247, § 2º, do Código de Processo Penal 
Militar 
3.2 – REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA 
Incide sobre a prisão decretada pelo juiz: preventiva e temporária. A 
revogação é cabível quando não mais subsistem os pressupostos que ensejaram a 
medida restritiva. 
 Fundamentação Legal: Art. 5º, LXI, da Constituição Federal. Arts. 282, § 5º e 
316, do Código de Processo Penal. Art. 259, do Código de Processo Penal Militar. 
 4. DO INQUÉRITO POLICIAL ATÉ A JUSTIÇA 
O inquérito policial é um procedimento administrativo informativo, destinado 
a apurar a existência de infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação 
penal disponha de elementos suficientes para promovê-la. 
 Trata-se de uma instrução provisória, preparatória e informativa, em que se 
colhem elementos por vezes difíceis de obter na instrução judiciária, como auto de 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
106 
flagrante, exames periciais, entre outros. Seu destinatário imediato é o Ministério 
Público (nos crimes de ação penal pública) ou o ofendido (nos crimes de ação penal 
privada), que com ele formam a sua opinio delicti para a propositura da denúncia ou 
queixa. Por outro lado, o inquérito tem como destinatário mediato o Juiz, que nele 
também pode encontrar fundamentos para julgar. 
 O artigo 12 do Código de Processo Penal é expresso em prever o seguinte: “o 
inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a 
uma ou outra”. Deste dispositivo deduz-se que o inquérito não é indispensável para 
o oferecimento da denúncia ou da queixa. 
Além disso, o artigo 39, § 5º e 46, § 1º, do mesmo código, acentuam que o 
órgão do MP pode dispensar o inquérito. Por isso, tem-se decidido que, tendo o 
titular da ação penal os elementos necessários para o oferecimento da denúncia ou 
queixa, o inquérito é perfeitamente dispensável. 
 Ademais, o artigo 27 do CPP determina que qualquer um do povo pode 
provocar a iniciativa do MP fornecendo-lhe informações sobre o fato e a autoria e 
indicando o tempo, o lugar e os meios de convicção. 
 O inquérito policial não se confunde com a instrução criminal. Por essa razão, 
não se aplicam ao inquérito os princípios do processo penal, nem mesmo o 
contraditório, pois o inquérito não tem finalidade punitiva, mas apenas investigativa. 
O que se assegura, unicamente, é a possibilidade da vítima e do indiciado fazerem 
requerimentos ao delegado, as quais poderão ou não ser atendidos. 
 Em suma, o Inquérito Policial poderá constituir em um verdadeiro elemento, 
que poderá subsidiar o Ministério Público ou o Querelante a dar início a uma Ação 
Penal e assim provocar a manifestação da autoridade judiciária. 
 
 5 – TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA: DEFINIÇÃO 
 O Termo Circunstanciado é uma espécie de boletim de ocorrência policial 
mais detalhado, porém sem as formalidades exigidas no inquérito policial, contendo 
a notícia de uma infração penal de menor potencial ofensivo (notitia criminis). Ou 
seja, trata-se da narração sucinta do fato delituoso, com local e hora verificados, 
acrescida de breves relatos de autor, vítima e testemunha(s), bem como, citando-se 
objeto(s) apreendido(s), relacionado(s) à infração, se houve, podendo conter, ainda, 
dependendo do delito, a indicação das perícias requeridas pela autoridade policial 
que o lavrou. 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
107 
 O Termo Circunstanciado requer menos formalidade que o Inquérito Policial, 
além de ser utilizado para apuração de Infrações de Menor Potencial Ofensivo. 
Nesse viés, torna-se imperioso destacar o art. 69 da Lei nº 9.099/95 (Juizados 
Especiais Criminais – JECRIM): 
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da 
ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará 
imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, 
providenciando-se as requisições dos exames periciais 
necessários. 
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do 
termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o 
compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em 
flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência 
doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, 
seu afastamento dolar, domicílio ou local de convivência com a 
vítima. 
 
 
 6 – JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL (Lei 9.099/95) 
 Os Juizados Criminais são órgãos da Justiça que julgam infrações penais de 
menor potencial ofensivo, buscando-se, com rapidez e informalidade, a reparação 
do dano sofrido pela vítima; a transação penal; a suspensão condicional do processo 
e, em último caso, uma possível condenação. 
 
 6.1 – FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 Art. 98, inciso I da Constituição Federal de 19898: A União, no Distrito Federal 
e nos Territórios, e os Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes 
togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a 
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor 
potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas 
hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de 
juízes de primeiro grau. 
 
 6.2 – CONCEITO DE I.M.P.O E PRINCÍPIOS 
 Art. 61 da Lei nº 9099/95 (JECRIM): Consideram-se infrações penais de 
menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os 
crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou 
não com multa. 
 Art. 62 da Lei nº 9099/95 (JECRIM): O processo perante o Juizado Especial 
orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia 
CURSO DE FORMAÇÃO DE PRAÇAS 
 
108 
processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos 
sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade. 
 Princípio da Oralidade: Esse é um princípio que além de estar expresso na 
Lei n. 9.099/1995, também está previsto na Constituição Federal (art. 98, I, CF/88). 
Os procedimentos do juizado especial deverão ser preferencialmente praticados, 
oralmente, sendo os essenciais reduzidos a termo ou transcritos por algum outro 
meio. Os atos processuais poderão ser gravados, caso seja necessário. Alguns 
exemplos desses atos processuais trazidos pela lei são a peça acusatória (art. 77), a 
defesa preliminar (art. 81), dentre outros. Nesse sentido, destaca-se o Art. 65, § 3º 
“Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os 
atos realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em 
fita magnética ou equivalente”. 
 Princípio da Simplicidade: A ideia desse princípio é a diminuição dos 
materiais juntados ao processo. Por exemplo, a lei prevê a lavratura de um Termo 
Circunstanciado em substituição ao Inquérito Policial, exatamente por ser um 
procedimento mais simplificado. Outro ponto trazido pelo legislador, garantindo a 
aplicação deste princípio, é a previsão de que os atos processuais realizados em 
outras comarcas poderão ser solicitados por qualquer meio de comunicação hábil 
para isso, não necessitando da utilização das cartas precatórias. Dessa forma, 
destaca-se o Art. 65, § 2º “A prática de atos processuais em outras comarcas poderá 
ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação”. 
 Princípio da Informalidade: Os atos processuais costumam ser marcados 
pelo excesso de formalismo, e nos juizados especiais deve prevalecer a busca pela 
verdade. Não existe a necessidade de se observar um processo formal e rigoroso, o 
importante é atingir a finalidade do ato processual, essa previsão é trazida pelo 
legislador em seu artigo 65, nos seguintes termos: “Os atos processuais serão 
válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados, 
atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei”. 
 Princípio da Economia Processual: O objetivo desse princípio é buscar o 
máximo de resultado na aplicação do direito objetivo por meio de um processo com 
o mínimo possível de atos processuais. 
 Princípio da celeridade processual: Como o próprio nome diz, a ideia é 
atingir a prestação jurisdicional no menor tempo possível. Mas não podemos 
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109 
confundir essa celeridade processual com a negligência ao devido processo legal, 
ou qualquer outro princípio constitucional. O artigo 64 da Lei dos Juizados Especiais 
Criminais, afirma que os atos processuais poderão ocorrer em horário noturno e em 
qualquer dia da semana. Esse artigo reafirma a ideia da celeridade processual 
trazida pelo legislador, conforme é possível observar: “Os atos processuais serão 
públicos e poderão realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, 
conforme dispuserem as normas de organização judiciária”. 
 7 - PROCEDIMENTO POLICIAL NAS INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR 
POTENCIAL OFENSIVO 
 A Lei 9099/1995 não prevê a instauração do devido Inquérito Policial (IPL), e 
muito menos de qualquer outro procedimento apuratório que não tenha 
regulamentação legal, para arrostar a demanda de apuração em face da prática de 
infrações de menor potencial ofensivo. 
O procedimento a ser levado a efeito pela Polícia Judiciária (PJ) nos casos de 
perpetração de infrações de menor potencial ofensivo é a lavratura de um Termo 
Circunstanciado de Ocorrência (TCO) ou simplesmente Termo Circunstanciado (TC). 
E isso somente para os casos em flagrante delito, ou seja, somente existe, vale 
ressaltar, só há previsão legal, para o engendramento de TCO flagrancial. Isso, pois 
nestes casos há apresentação imediata ao Delegado de Polícia dos elementos 
probatórios adstritos à infração penal a ser objeto de repressão criminal de baixa 
monta. 
 Assim, se a notícia de uma infração penal de menor potencial ofensivo chega 
ao Delegado de Polícia fora de um contexto flagrancial a Autoridade Policial há de 
instaurar o devido IPL para apurar esta infração penal e não um TC. 
 Há de se ressaltar ainda que em sede de TCO, o Delegado de Polícia não 
promove indiciamento do autor do fato, nem esforços investigativos mais complexos. 
Neste procedimento há uma mera lavratura do evento comunicado, compreendendo: 
1- Descrição sucinta (circunstanciada) dos fatos; 
2 - Qualificação do autor do fato e do ofendido; 
3 - Qualificação das eventuais testemunhas; 
4 - Juntada aos autos do TCO de eventuais provas apresentadas ao Delegado de 
Polícia, como documentos e atestados médicos. Há de se ressaltar que não há 
previsão legal para a realização de diligências investigativas em sede de TCO; 
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110 
5 - Encaminhamento ao JECRIM do processado em sede de TC. 
 8 – COMPETÊNCIA E RITO PARA JULGAMENTO 
 Conforme mencionado anteriormente, a competência para a apuração de 
Infrações de Menor Potencial Ofensivo – IMPO. No bojo deste rito há a realização de 
Audiência Preliminar. Ela constitui um momento pré-processual onde se busca a 
conciliação entre os envolvidos na ação delituosa, notadamente autor do fato (ainda 
não há réu, pois ainda não há ação penal) e ofendido. 
E esse esforço de conciliação acontece sem a intervenção do MP. Cabe ao 
Juiz – ou ao Conciliador – prestar os envolvidos no fato presentes os 
esclarecimentos necessários para buscar a reparação dos danos e também sobre as 
vantagens de eventual transação, dependendo da proposta do MP. 
 Neste sentido, em havendo composição (acordo civil) dos danos causados 
pela infração penal, entre os envolvidos nos fatos (autor do fato e vítima), este 
acordo é encaminhado ao Juiz para controle judicial. Estando a composição de 
acordo com a lei, o Juiz promove a sua homologação em sede de decisão judicial 
irrecorrível, constituindo título hábil a ser executado no juízo civil competente. 
De outro lado, em sede de infrações penais de menor potencial ofensivo que 
são de ação penal pública condicionada ou privada, a composição de danos 
judicialmente homologada implica em renúncia ao direito de se aduzir em juízo ação 
penal privada e de representar em prol de ação penal pública. 
 Caso não haja acordo em prol do estabelecimento de uma composição de 
danos entre o autor do fato e a vítima, a vítima90 
4.1. CONCEITO. ......................................................................................................................... 90 
4.2. FINALIDADE. ....................................................................................................................... 91 
4.3. ÓRGÃO ELABORADOR. ...................................................................................................... 92 
4.4. NATUREZA E PROCEDIMENTO. .......................................................................................... 92 
5. AÇÃO PENAL ......................................................................................................................... 95 
5.1 CONCEITO. .......................................................................................................................... 95 
5.2. FUNDAMENTO. .................................................................................................................. 96 
5.3. CONDIÇÕES. ....................................................................................................................... 96 
5.4. CLASSIFICAÇÃO: ................................................................................................................. 97 
5.4.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA. ................................................................................................... 97 
5.4.2. AÇÃO PENAL PRIVADA. ................................................................................................... 97 
5.4.2.1. O princípio da oportunidade ....................................................................................... 97 
5.4.2.2. O princípio da disponibilidade ..................................................................................... 97 
5.4.2.3. Princípio da indivisibilidade ......................................................................................... 97 
UNIDADE IV – TIPOS DE PRISÕES .............................................................................................. 98 
1. PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA: CONSIDERAÇÕES.......................................................... 98 
2. PRISÃO EM FLAGRANTE. ....................................................................................................... 98 
3. PRISÃO TEMPORÁRIA. ........................................................................................................ 100 
4. PRISÃO PREVENTIVA: REQUISITOS ..................................................................................... 101 
5. PRISÃO DOMICILIAR. .......................................................................................................... 102 
6. DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES. ................................................................................ 102 
7. LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA E COM FIANÇA. ...................................................... 103 
UNIDADE V – ATIVIDADE PRÉ – PROCESSUAL ........................................................................ 105 
1. O ADVOGADO NA DELEGACIA POLICIAL: ATOS DE DEFESA NA FASE DO INQUERITO 
POLICIAL .................................................................................................................................. 105 
2. HABEAS CORPUS: CABIMENTO, IMPETRAÇÃO E TRÂMITE ................................................ 106 
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7 
2.1 - PESSOAS IDENTIFICADAS NO PROCESSO DE HABEAS CORPUS ...................................... 107 
3. RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE E REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. ..... 108 
3.1 - RELAXAMENTO DE PRISÃO: Legislação .......................................................................... 108 
3.2 – REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA .............................................................. 108 
UNIDADE VI – PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS ..................................................................... 109 
1. DO INQUÉRITO POLICIAL ATÉ A JUSTIÇA ............................................................................ 109 
2 – TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA: DEFINIÇÃO ............................ 110 
3. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL (Lei 9.099/95) ..................................................................... 110 
4. CONCEITO DE I.M.P.O E PRINCÍPIOS .................................................................................. 111 
5. PROCEDIMENTO POLICIAL NAS INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO .. 112 
6. COMPETÊNCIA E RITO PARA JULGAMENTO ....................................................................... 113 
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 115 
 
 
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8 
UNIDADE I – CONCEITOS E DEFINIÇÕES DO DIREITO PENAL 
1. CONCEITO E FUNDAMENTO DO DIREITO PENAL 
O Direito Penal é o ramo do Direito Público que regula o poder punitivo do Estado. 
A partir de uma seleção das condutas humanas consideradas indesejadas, 
possuidoras de certa gravidade e reprovação social, capazes de colocar em risco a 
convivência em sociedade, o Estado legisla no sentido de evitar o cometimento 
destas ações e, caso sejam cometidas, recebam a punição devida de modo a surtir 
efeito punitivo ao transgressor e pedagógico à sociedade a fim que outros sejam 
desestimulados a incorrer na mesma ação não desejada pelo coletivo. 
 
2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS 
Não se pretende aqui esgotar a base principiológica constante na Constituição 
Federal de 1988 ao Direto Penal, porém traremos alguns princípios que reputamos 
serem mais relevantes e atrelados ao dia a dia do policial militar. Senão vejamos: 
2.1. Princípios da Legalidade 
A norma basilar do Direito Penal é a inexistência de crime sem lei anterior que o 
defina nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX). Isto é, para que uma 
conduta seja considerada delitiva, é preciso que seu dispositivo e sua hipótese de 
incidência estejam previstos em lei (stricto sensu) que superou todas as etapas do 
processo legislativo e esteja vigente. 
Além disso, a partir do princípio da legalidade, dois outros princípios igualmente 
importantes dele derivam, a saber: o da reserva legal e o da anterioridade da lei 
penal. 
2.2. Princípio da Irretroatividade 
Enquanto as leis em geral gozam de retroatividade mínima — alcançam obrigações 
vencidas não pagas e por vencer —, a lei definidora de crime não retroage senão 
para beneficiar o réu. Isso significa que: I – se a lei nova extingue o delito, 
acusados, réus e condenados são atingidos (abolitio criminis); II – se a lei nova 
reduz a pena ou traz regime de aplicação mais benéfico, acusados, réus e 
condenados são atingidos (novatio legis in mellius); III - se a lei nova cria crime ou 
piora a situação, não há aplicação senão para as condutas posteriores à data de 
início da sua vigência (novatio legis in pejus). 
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9 
2.3. Presunção de Inocência 
A também chamada “presunção de não culpabilidade” prevê que ninguém será 
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória (art. 
5º, LVII) 
Isso significa dizer que somente após um processo concluído (aquele de cuja 
decisão condenatória não caiba mais recurso) em que se configure a culpabilidade 
do réu é que o Estado poderá aplicar uma pena ou sanção ao indivíduo condenado. 
Em termos jurídicos, esse princípio se desdobra em duas vertentes: como regra de 
tratamento (no sentido de que o acusado deve ser tratado como inocente durante 
todo o decorrer do processo, do início ao trânsito em julgado da decisão final) e 
como regra probatória (no sentido de que o encargo de provar as acusações que 
pesarem sobre o acusado é inteiramente do acusador, não se admitindo que recaia 
sobre o indivíduo acusado o ônus de “provar a sua inocência”, pois essa é a regra). 
2.4. Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa 
O contraditório corresponde à oportunidade de resposta às acusações,terá a oportunidade de exercer o seu 
direito de representação, nos casos de crimes de ação penal pública condicionada, 
que será feita de forma imediata e verbal, ao titular da ação penal (MP). 
Caso a vítima não ofereça incontinenti a representação, ainda em sede de 
audiência preliminar, ela poderá fazê-lo no prazo legal de 06 (seis) meses, nos 
termos do art. 38, CPP. 
 Sendo o crime de ação penal pública incondicionada, ou sendo oferecida a 
representação nos casos de crimes de ação penal pública condicionada, o MP, 
antes de oferecer a exordial acusatória, há de promover (havendo a incidência dos 
requisitos legais) uma tentativa de Transação penal com o autor do fato. Isso, com o 
escopo de evitar o desenvolvimento da ação penal e de impor, prima facie, pena 
pecuniária ou restritiva de direitos. 
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111 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
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Brasil, 9ª ed. Ver, atual. e ampliada, 2021. 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm, 
acesso em 15 de outubro de 2021. 
 
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em 
15 de outubro de 2021. 
 
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Disponível em 
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outubro de 2021. 
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CAMPOS, Walfredo Cunha. Curso Completo de Processo Penal. 1ª edição. Ed. 
JusPodivm, 2018. 
 
FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, 
decisão, dominação/tercio Sampaio Ferraz Júnior – 10ª ed. rev., atua e ampl. – 
São Paulo: atlas, 2018. 
 
Greco, Rogério. Atividade policial: aspectos penais, processuais penais, 
administrativos e constitucionais – 10ª edição /Rogério Greco. Niterói, RJ: 
impetus, 2020. 
 
HTTP://www.fmsoares.pt/aeb/biblioteca/indices_resumos/indices/014951.htm.Alto 
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos 
Direitos Humanos e Aplicação da Lei: manual de formação em direitos humanos 
para as forças policiais. Acesso em 15 de outubro de 2021, as 10h00. 
 
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1230. Súmula 
vinculante nº 14 do Supremo Tribunal Federal. Acesso em 15 de outubro de 2021, 
as 11h00. 
 
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: Volume único / Renato 
Brasileiro de Lima – 8ª. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. JusPodivm, 2020. 
1.952 p. 
 
 
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal – 21.ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 
2017. 
 
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de Processo Penal, 30 Ed. São 
Paulo: Saraiva, 2009. 
 
 
 
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1230verificada 
pelo respeito a três direitos subjetivos: I – direito à informação: ter ciência do que 
ocorre no processo e acesso aos documentos; II – direito à reação: poder 
responder às acusações; III – direito à influência: ter as alegações consideradas 
pelo magistrado da causa, que, em caso de rejeição, deve fazê-lo de forma 
fundamentada. 
Já a ampla defesa consiste em ter meios à disposição para oferecer uma resposta 
juridicamente fundamentada às acusações. Por exemplo, há cerceamento de 
defesa quando o acusado não tem advogado e a defensoria pública não atua. 
2.5. Responsabilidade Pessoal 
Qualquer que seja a pena aplicada, ela estará restrita à liberdade, ao patrimônio e à 
pessoa do condenado. A exceção é o uso do patrimônio transferido em herança 
para quitar obrigação de decretação de perda de bens e de reparação de dano. 
A redação do art. 5º, inciso XLV, da CRFB é clara nesse sentido: 
XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a 
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, 
nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, 
até o limite do valor do patrimônio transferido. 
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10 
 
2.6. Individualização da Pena 
As penas devem guardar proporcionalidade com a conduta do agente, logo, se os 
crimes são diferentes entre si, não pode haver aplicação de penas genéricas, mas 
apenas as devidamente individualizadas, conforme exigência da norma do art. 5º, 
inciso XLVI, da CRFB. 
Assim, ao definir um crime, mudar a aplicação ou o regime de cumprimento de 
pena, o legislador deve criar critérios para ajustar a punição conforme 
comportamentos anteriores, posteriores e durante o processo, além de considerar 
aspectos sociais e, principalmente, a intencionalidade. 
 
3. NORMAS PENAIS 
3.1. Normas Penais Incriminadoras 
As normas penais incriminadoras são aquelas que definem as condutas 
consideradas criminosas e fixam a respectiva pena. Nelas, a definição da conduta 
deve ser razoavelmente clara e precisa, sob pena de violar o princípio da legalidade. 
É formada por preceito e por sanção. 
Preceito ou norma primária é a regra de comportamento proibido que se 
extrai da definição de crime pela norma incriminadora, já a sanção ou norma 
secundária, é a pena, a punição prescrita a determinado comportamento criminoso e 
deve ser especificada, não sendo possível a previsão de pena sem limites máximo e 
mínimo. Como exemplo temos o artigo 121 do Código Penal. 
Artigo 121. Matar alguém (norma primária, preceito) 
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 20 (vinte) anos (norma secundária, 
sanção) 
3.2. Normas Penais Não Incriminadoras 
As normas penais não incriminadoras são aquelas que estabelecem regras 
de impunibilidade ou licitude de situações relevantes ao Direito Penal. Vejamos os 
exemplos: 
Estado de necessidade 
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para 
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de 
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas 
circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
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11 
§1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de 
enfrentar o perigo. 
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a 
pena poderá ser reduzida de um a dois terços. 
Legítima defesa 
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos 
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu 
ou de outrem. 
Inimputáveis 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou 
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento. 
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o 
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento 
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o 
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 
entendimento. 
Art. 27- Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, 
ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. 
 
3.3. Normas Penais Explicativas 
Normas Penais Explicativas são aquelas que esclarecem o conteúdo de 
outras normas penais. Vejamos: 
Art. 150………………………………………………………………………………. 
§4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou 
atividade. 
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, 
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou 
função pública. 
 
 
3.4. Normas Penais Em Branco 
Normas penais em branco são aquelas que definem uma conduta criminosa, 
mas que necessitam de uma complementação dada por outra norma jurídica, para 
ser aplicável aos casos concretos. 
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato 
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que 
está contaminado: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
Lei 11.343/2006, Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, 
transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem 
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será 
submetido às seguintes penas: 
Lei 11.343/2006, Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, 
fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, 
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a 
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou 
em desacordo com determinação legal ou regulamentar. 
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12 
 
4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL 
A interpretação nada mais é do que a atividade mental que busca estabelecer o 
conteúdo e significado contido na lei. O ato de interpretar é necessariamente feito 
por um sujeito que, empregando determinada metodologia, alcança determinado 
resultado. Contudo é importante destacar que, na análise da norma penal, o 
intérprete nunca deve afastar-se de outros postulados como, por exemplo e 
principalmente, da Constituição Federal. 
Nesse ponto, cumpre mencionar a diferença entre interpretação da lei penal, 
hermenêutica e exegese. 
A interpretação é a tarefa mental de estabelecer a vontade da lei, ou seja, o seu 
conteúdo e significado, a qual é disciplinada pela hermenêutica jurídica, que é sua 
forma de estudo e a ciência que analisa àquela em suas variadas possibilidades. A 
atividade prática de interpretação da lei é chamada de exegese. 
Vejamos alguns tipos de interpretação possíveis: 
4.1. Interpretação quanto ao Sujeito: 
4.1.1. Interpretação autêntica (ou legislativa): 
É aquela fornecida pela própria Lei sem dar grande margem discricionária à 
interpretação ao leitor. Por exemplo, o artigo 327 do Código Penal dá o conceito de 
Funcionário Público: 
Art. 327 – Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, 
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou 
função pública. 
§ 1º – Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou 
função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora 
de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da 
Administração Pública. 
4.1.1. Interpretação doutrinária ou científica: 
É aquela feita pelos estudiosos por meio de livros, artigos e palestras 
doutrinarias, não tendo caráter vinculante, mas apenas orientando o operador e 
influenciando o legislador. 
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13 
4.1.2. Interpretação jurisprudencial: 
É o significado dado às leis pelos Tribunais, podendo ter caráter vinculante 
ou não. Por exemplo, uma decisão monocrática provavelmente não terá o condãode 
obrigar outras decisões a seguirem o mesmo entendimento. Já as decisões 
colegiadas, principalmente as de tribunais superiores, já servem de orientação mais 
direcionada para novas decisões. Ainda, as súmulas vinculantes do STF possuem 
sim poder gerenciador das decisões sobre os temas por elas já analisados. 
4.1.3. Interpretação quanto ao Modo: 
a. Gramatical (filológica/literal): O intérprete considera o sentido literal das 
palavras. 
b. Teleológico: O intérprete procura a intenção objetivada na Lei. Por exemplo, 
os artigos 319-A e 349-A do Código Penal dizem: 
Art. 319 – A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de 
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de 
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o 
ambiente externo. 
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano 
Art. 349 – A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada 
de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem 
autorização legal, em estabelecimento prisional. 
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 
 
Os artigos nada falam de chips, carregadores, baterias de celular, porém o 
Supremo Tribunal Federal, fazendo uma interpretação teleológica, decidiu que o 
espírito da lei é coibir qualquer comunicação de dentro do presídio com o ambiente 
exterior e tais acessórios servem para isso, portanto estariam abrangidos pelos 
artigos citados. 
c. Sistemática: É a interpretação em conjunto da legislação em vigor com os 
princípios gerais do direito. Por exemplo, no artigo 44 do Código Penal não há 
permissão para penas alternativas quando o crime é doloso cometido com violência. 
Porém no caso de crime doloso com violência considerada de menor potencial 
ofensivo (lesão corporal leve), a pena alternativa é incentivada tendo em vista a 
interpretação sistemática do Código Penal e da Lei 9.099/95. 
d. Progressiva (ou evolutiva): Busca o significado legal de acordo com o 
progresso da ciência. Por exemplo, muitos entendem que a Lei Maria da Penha 
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14 
deve amparar o transsexual (homem que passou pelo procedimento clínico de 
mudança de sexo). 
 
4.1.4. Interpretação quanto ao Resultado: 
a. Declarativa (ou declaratória): Ocorre quando o intérprete se atém à literalidade 
da lei, correspondendo exatamente àquilo que o legislador quis disse, nada 
suprimindo, nada adicionando, a crítica feita essa forma de interpretação é que ela 
limita a atuação do intérprete. 
b. Extensiva: Amplia-se o alcance das palavras para que corresponda à vontade do 
texto permitindo a atuação mais efetiva do intérprete para contextualizar a lei com a 
Constituição, princípios e Doutrina. 
 
5. TEMPO E LUGAR DO CRIME 
O tempo do crime é utilizado no Direito para identificar qual lei estava em 
vigor, assim como se o agente que cometeu a infração era imputável à época dos 
fatos. Por outro giro, o lugar do crime é necessário para determinar a competência 
para proceder o julgamento da infração. 
5.1. Tempo do crime: 
Para o tempo do crime existem 03 (três) principais teorias. Vejamos: 
5.1.1. Teoria da Atividade: Considera-se praticado o crime no momento da ação 
ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Essa é a teoria 
adotada pelo nosso Código Penal em seu artigo 4º. 
Para exemplificar, imagine que um indivíduo com a intenção de matar seu 
desafeto, desfere um golpe de faca no dia 12 de julho de 2021, porém o sujeito 
passivo(vítima) não morre no ato, mas por complicações em decorrência da ação, e 
evolui a óbito 5 dias depois, nesse caso, o crime será considerado como praticado 
no dia 12 de julho de 2021, quando houve a ação e não na data do óbito. 
5.1.2. Teoria do Resultado: Considera-se como praticado o crime no 
momento do resultado. Apesar de não ser, a rigor, a teoria adotada pela nossa 
legislação, existe uma exceção para aplicação da mesma nos casos de 
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15 
determinação do termo inicial da prescrição, com hipótese prevista no artigo 111, 
inciso I do Código Penal. 
No nosso exemplo, para a teoria do resultado, o tempo do crime seria no dia 
do óbito que ocorreu 5 dias após o ato, ou seja, dia 17 de julho de 2021. 
5.1.3. Teoria da Ubiquidade ou mista: Considera-se como tempo do crime 
tanto o momento da ação ou omissão, como o momento do resultado. Se aplicarmos 
essa teoria para o nosso exemplo, o tempo do crime seria tanto no dia 12 de julho 
de 2021 como no dia 17 de julho de 2021. 
 
5.1. Lugar do crime: 
Por outro lado, quanto ao lugar do crime, há 03(três) principais teorias. 
Vejamos: 
5.1.1. Teoria da Atividade: Para essa teoria, o lugar do crime será 
aquele onde ocorreu a ação ou omissão. Por exemplo, João com a intenção de 
matar Roberto, dispara sua arma contra ele na cidade A. Ato contínuo, é socorrido e 
conduzido ainda com vida até um hospital, localizado na cidade B, no entanto, 
Roberto morre horas depois em decorrência dos disparos, seguindo a teoria da 
atividade, o lugar do crime seria a cidade A. 
5.1.2. Teoria do Resultado: Para essa teoria, considera-se o lugar do 
crime aquele onde ocorreu a consumação. Utilizando o exemplo anterior, caso a 
teoria adotada fosse a do resultado o lugar do crime seria a cidade onde Roberto 
veio a óbito, ou seja, a cidade B. 
5.1.3. Teoria da Ubiquidade ou mista: Essa é a teoria que foi 
adotada pelo Código Penal Brasileiro e está prevista no artigo 6º do mesmo. Para 
essa teoria será considerado o lugar do crime o lugar em que ocorreu a ação ou 
omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o 
resultado. 
Utilizando nosso exemplo, seria considerado como lugar do crime tanto a 
cidade A, como a cidade B. 
6. TEORIA DO CRIME 
A Teoria do Crime abrange vários conceitos, como crime, fato típico, ilicitude 
e culpabilidade. Tem como condão verificar se um fato é enquadrado como um 
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16 
crime previsto na lei penal, envolvendo aspectos relacionados ao conceito de crime 
e à atribuição ou não de uma pena para a atitude. 
6.1. Conceitos de crime 
O conceito de crime pode ser estudado sob a ótica formal, material ou 
analítico. 
O critério formal considera crime qualquer conduta que colida contra a 
norma penal, considerando todo ato humano proibido pela lei penal. Ou seja, de 
acordo com o legislador, qualquer fato que comine em pena de reclusão ou 
detenção é considerado crime. 
Considerando o critério material teremos que toda ação ou omissão que ofenda 
bem jurídico penalmente tutelado é considerado crime. Esse critério leva em 
consideração todo mal causado às vítimas, titulares de direitos e garantias 
constitucionais tuteladas pelo direito penal. Essa forma é voltada para as políticas 
criminais que auxiliam o legislador a tipificar determinadas condutas que exponham 
a perigo qualquer bem jurídico tutelado, desde que observado o princípio da 
intervenção mínima do Estado, em que o direito penal é a última ratio, só se 
preocupando com condutas que demais ramos do direito não foram capazes de 
oferecer resposta satisfatória. 
O critério analítico, como o próprio nome já diz, analisa os elementos principais 
constitutivos do crime, sem lhes causar rupturas, estudando-o como unitário. Seus 
elementos são o fato típico, a ilicitude, a culpabilidade e a punibilidade. Vale 
ressaltar que a punibilidade, de acordo com grande parte da doutrina, não deve ser 
considerada característica do crime, mas sim o resultado do delito, uma vez que 
pela ação danosa se tem a punição. 
O conceito analítico de crime é dividido em duas vertentes: o bipartido e o tripartido. 
A teoria tripartida entende que o conceito analítico de crime é o fato típico, ilícito e 
culpável, sendo a culpabilidade um elemento constitutivo de crime, visto que sem a 
culpabilidade não há crime. Em suma, o crime constituído por fato típico, ilícito 
(antijurídico)e culpável, tendo dentro de si o dolo e a culpa. 
Já a teoria bipartida é composta por fato típico e ilícito. Sendo considerados os 
seguintes subelementos: conduta, resultado, nexo de causalidade entre o resultado 
e a conduta e a tipicidade, além de necessitar que seja um fato ilícito, não estando 
empossada das causas de excludente de ilicitude, a culpabilidade seria apenas um 
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17 
pressuposto para que a pena fosse aplicada. 
6.2. Elementos do crime 
Agora que entendemos o conceito de crime e analisamos as duas principais 
correntes sobre os elementos constitutivos do crime (bipartida e tripartida), 
passamos a analisar cada um deles de forma separada. 
6.2.1. Fato típico 
O fato típico é a adequação da ação humana ao elemento descrito na lei 
penal. O fato típico é fundamental para a criação de um crime, devendo ele ser 
observado primeiramente para só depois ser analisado outros elementos do crime, 
pois sem ele não há uma conduta que necessite da tutela do direito penal. 
Para que haja fato típico, são necessários quatro elementos: a conduta, o 
resultado, a relação de causalidade ou nexo causal e a tipicidade. 
A conduta é o primeiro elemento do fato típico, e nada mais é do que o 
comportamento humano, é a ação ou omissão do sujeito que propicia a ocorrência 
do fato típico. 
As condutas podem ser comissivas ou omissivas. As comissivas, também 
chamada de ação é o movimento humano que gera alguma mudança no mundo 
externo, a omissão em contrapartida é toda falta de ação necessária que 
desencadeia uma mudança no mundo externo. 
Além disso, as condutas podem ser classificadas em dolosas ou culposas. 
O dolo é toda vontade humana geradora de um resultado, enquanto a culpa é a 
falta de uma vontade que gerou o resultado por imprudência, negligência ou 
imperícia. 
Existem, ainda, hipóteses da exclusão da conduta, sendo elas o caso 
fortuito e a forca maior, atos ou movimentos reflexos ou coação física irresistível. O 
caso fortuito e a força maior são os casos em que não há previsibilidade além de 
ser inevitável, não estando no alcance da vontade humana. Os atos ou movimentos 
reflexos são as reações motoras causadas pela excitação dos sentidos, em que 
determinada ação é realizada sem a vontade do agente, como o sonambulismo ou 
hipnose. A coação física irresistível é quando o indivíduo não tem liberdade em 
suas ações sendo forçado fisicamente a realizar uma ação. 
O segundo elemento do fato típico é o resultado. O resultado nada mais é 
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do que a modificação no mundo exterior, causada pela conduta de um indivíduo. 
Embora a própria conduta já faça tal mudança, o resultado é a transformação criada 
pela conduta com seus efeitos. 
O resultado pode ser dividido em duas espécies: jurídico ou normativo. O 
resultado jurídico é toda a lesão ou perigo de lesão de um bem juridicamente 
tutelado pela lei, ou seja, é a mera desobediência a lei penal que vai gerar o 
resultado. O resultado naturalístico, também chamado de material, é a mudança no 
mundo exterior causada pela conduta do agente. Toda infração penal tem resultado 
jurídico, pois sempre há um bem jurídico que está sendo violado, mas nem sempre 
tem o resultado naturalístico que é derivado de um crime material. 
O terceiro elemento do fato típico é o nexo causal, que é o liame entre a 
conduta realizada pelo sujeito e o resultado que foi gerado pela ação, ou seja, só se 
pode imputar sanção a uma pessoa se ela tiver gerado o resultado. O ordenamento 
jurídico brasileiro aderiu à teoria da equivalência dos antecedentes, em que a ação 
comissiva ou omissiva será considerada, sendo que sem ela o resultado não 
aconteceria. 
Ainda há que se destacar que nos crimes classificados como de mera 
conduta ou os formais, em que não necessita da existência do resultado, não há o 
nexo de causalidade, pois este só ocorre como ligação entre a causas e o 
resultado. Se tais delitos não encontram resultado, por efeito, haverá relação 
causal. 
O derradeiro elemento do fato típico é a tipicidade, entendida como a 
adequação de uma conduta humana em relação à norma, também chamado de 
subsunção. O método pelo qual se conecta a conduta do agente com o modelo 
descrito em lei é chamado de adequação típica e pode ser feita de forma direta ou 
indireta. 
6.2.2. Ilicitude ou Antijuridicidade 
A ilicitude ou antijuridicidade é a contrariedade de uma ação ou omissão 
praticada por alguém em relação ao ordenamento jurídico, colocando em risco os 
bens jurídicos penalmente tutelados. A ilicitude pode ser formal, quando o fato 
praticado contraria o ordenamento jurídico, como material ou substancial, quando o 
conteúdo da ação delitiva analisa o comportamento sob o aspecto social. 
Em face da recepção da teoria da tipicidade como indício de ilicitude, 
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quando exercido o fato típico se prevê a característica ilícita. Mas essa presunção é 
relativa, pois um fato típico pode ser considerado lícito, desde que esteja amparado 
pelas causas de excludente de ilicitude, que são a legitima defesa, o estado de 
necessidade, o estrito cumprimento do dever legal, e o exercício regular de um 
direito. 
6.2.3. Culpabilidade 
A culpabilidade é o elemento mais polêmico nas discussões a respeito das teorias 
bipartida e tripartida, visto que alguns doutrinadores entendem como sendo este 
elemento apenas pressuposto de pena enquanto outros acham ser um dos 
elementos construtivos do crime. A culpabilidade determina se o agente que 
comete o fato típico e ilícito, deve receber a devida punição. 
Ainda, há que se falar nas excludentes de culpabilidade que são: a imputabilidade 
por doença mental, o desenvolvimento mental retardado, o desenvolvimento mental 
incompleto, a embriaguez acidental completa e ainda a potencial consciência da 
ilicitude através do erro de proibição. 
Além dessas, a exigibilidade de conduta diversa personificada através da coação 
moral irresistível ou obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal. 
 
6.3. Ação e Omissão 
As modalidades de conduta humana são a ação e a omissão, sendo considerado 
sinônimo para ambos a “conduta”. A necessidade da existência de uma atitude 
humana para a constituição do conceito de crime, fato que hoje parece óbvio, foi 
uma conquista, pois em tempos remotos até coisas e animais poderiam ser punidos 
por um fato típico “cometido”. 
As teorias a seguir analisadas buscam definir a conduta penalmente relevante 
tendo como base a teoria tripartida. Porém, antes de entender qual é a conduta que 
repercute no âmbito criminal, é necessário definir o que é conduta em seu sentido 
amplo. 
Conduta nada mais é do que comportamento. Sabe-se que o homem pode se 
comportar de diferentes maneiras e que alguns comportamentos – ou condutas – 
são admitidos pela lei e pela sociedade, enquanto outros são ilícitos e socialmente 
inadequados. 
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20 
Obviamente, a conduta penalmente relevante encontra-se dentre aqueles 
comportamentos ilícitos, porém nem todo comportamento ilícito repercute no âmbito 
criminal. 
Então, quando se estuda a conduta criminosa, não se busca definir o que é uma 
conduta ilícita, mas, sim, qual conduta ilícita é capaz de produzir efeitos na esfera 
criminal. 
6.3.1. Teoria causalista ou clássica 
Tendo surgido no início do século XIX, a teoria causalista foi elaborada por 
Franz von Liszt, Ernst von Beling e Gustav Radbruch, fazendo parte de um 
panorama científico marcado pelos ideais positivistas que, no âmbito científico, 
representavam a valorização do método empregado pelas ciências naturais, 
prevalecendo as leis da causalidade (relação de causa-efeito). 
O crime, para o pensamento causalista, não seria algo que qualquer 
pessoa indistintamente considera mal e pernicioso. Crime é aquilo que o legislador 
diz sê-lo. Percebe-se, então, que o crime,sob a ótica causalista, independe de 
elementos externos à lei, concedendo-se, com isso, poderes extremos ao 
legislador. Não importa se o agente quis ou se teve culpa na causação do crime. A 
configuração da conduta típica depende apenas de o agente causar fisicamente 
(naturalisticamente) um resultado previsto em lei como crime. 
A concepção clássica recebeu inúmeras críticas no que diz respeito ao 
conceito de ação por ela proposto, puramente natural, uma vez que, embora 
conseguisse explicar a ação em sentido estrito, não conseguia solucionar o 
problema da omissão, vigorando nas ciências penais até meados do século XX, 
quando, então, começou a perder cada vez mais espaço. 
6.3.2. Teoria neokantista ou neoclássica 
Posteriormente, nas primeiras décadas do século XX, ainda vigorante a concepção 
causalista, surge agora, uma outra visão, conhecida como neoclássica, o conceito 
de conduta sofreu importantes mudanças. 
A teoria neokantista, que teve como maior expoente o advogado criminalista e 
teórico penal alemão Edmund Mezger, é caracterizada pela superação do 
positivismo e adoção da introdução da racionalização no método. 
A ação deixa de ser absolutamente natural para estar inspirada de um certo sentido 
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normativo que permita a compreensão tanto da ação em sentido estrito (positiva) 
como a omissão. Esse novo conceito de ação que passa a explicar tanto a ação 
propriamente dita quanto a omissão, foi uma das grandes inovações dessa teoria, 
solucionando uma das principais críticas sofridas pela teoria clássica. 
Em que pese todas essas alterações, a teoria neokantista falhou em diversos 
pontos, fazendo com que a sua concepção fosse superada pela finalista. 
6.3.3. Teoria finalista 
Abandonando de vez a concepção causalista, foi desenvolvida a teoria finalista, que 
promoveu uma grande evolução na análise da conduta e dos demais elementos do 
crime. 
Criada por Hans Welzel em meados do século XX (1930-1960), a teoria finalista 
concebe a conduta como comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido 
a um fim. A finalidade, portanto, é a nota distintiva entre esta teoria e as que lhe 
antecedem. É ela que transformará a ação em um ato de vontade com conteúdo, a 
partir da premissa de que toda conduta é orientada por um querer. 
De acordo com a concepção finalista, o dolo e a culpa deslocam a culpabilidade e 
passam a integrar a própria conduta. Dessa forma, os elementos subjetivos são 
analisados já no fato típico. Isso significa que, caso não haja dolo ou culpa, o fato 
será atípico por ausência de conduta. Nesse sentido, concluiu-se que não existe 
conduta típica sem vontade e finalidade, e que não é possível separar o dolo e a 
culpa da conduta típica, como se fossem fenômenos distintos. 
Assim, tem-se que, sob a ótica finalista, a conduta típica deve, necessariamente, 
estar revestida de uma finalidade, diferentemente do que sustentava a concepção 
causal, que analisava, na conduta, a mera relação de causa-efeito. 
Diante disso, conclui-se que para a teoria finalista, conduta é a ação ou omissão, 
voluntária e consciente, culminando em ação ou omissão humana, voltada a uma 
finalidade. 
Por fim, deve-se ressaltar que o Código Penal vigente adotou a teoria finalista, 
fazendo uma fusão entre a vontade e a finalidade na conduta, conforme art. 18, I e 
II do CP, que expressamente reconheceu que o crime ou é doloso ou é culposo, 
desconhecendo nossa legislação a existência de crime em que não haja dolo ou 
culpa. 
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22 
6.4. Causalidade 
Nexo causal ou causalidade é o vínculo existente entre a conduta do agente e o 
resultado por ela produzido; examinar o nexo de causalidade é descobrir quais 
condutas, positivas ou negativas, deram causa ao resultado previsto em lei. 
Assim, para se dizer que alguém causou um determinado fato, faz-se necessário 
estabelecer a ligação entre a sua conduta e o resultado gerado, isto é, verificar se 
da sua ação ou omissão adveio o resultado. Trata-se de pressuposto conforme 
previsão do art. 13 CP. 
A doutrina aponta, essencialmente, três teorias a respeito da relação de 
causalidade, a saber: 
6.4.1. Equivalência das condições ou equivalência dos antecedentes ou 
conditio sine que non. 
Segundo essa teoria quaisquer das condutas que compõem a totalidade dos 
antecedentes é causa do resultado, como, por exemplo, a venda lícita da arma pelo 
comerciante que não tinha ideia do propósito homicida do criminoso do comprador. 
Recebe críticas por permitir o regresso ao infinito já que, em última análise, até 
mesmo o inventor da arma seria causador do evento, visto que, se arma não 
existisse, disparos de arma de fogo não seriam efetuados. 
6.4.2. Causalidade adequada 
Esta teoria considera causa do evento apenas a ação ou omissão do agente apta e 
idônea a gerar o resultado. Segundo o que dispõe essa corrente, a venda lícita da 
arma pelo comerciante não é considerada causa do resultado morte que o 
comprador produzir, pois vender licitamente a arma, por si só, não é conduta 
suficiente a gerar a morte. Ainda é preciso de alguém que efetue os disparos que 
causarão a morte. 
É censurada por confundir causalidade com culpabilidade. 
6.4.3. Imputação objetiva 
Para esta teoria, uma conduta será considerada causa do resultado quando: 1) o 
agente tenha, com sua ação ou omissão, criado, realmente, um risco não tolerado 
nem permitido ao bem jurídico; ou 2) que o resultado não fosse ocorrer de qualquer 
forma, ou; 3) que a vítima não tenha contribuído com sua atitude irresponsável ou 
dado seu consentimento para a ocorrência do resultado. 
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23 
Note-se que são alternativas – e não cumulativas – as 3 hipóteses citadas, de modo 
que a presença de qualquer uma delas faz com que a conduta do agente fique fora 
da relação de causalidade, isto é, não será reputada causa do resultado. 
Assim, mesmo que o agente não tenha criado um risco não tolerado nem permitido 
ao bem jurídico e a vítima não tenha se comportado de forma irresponsável de 
modo a contribuir para o resultado, se este resultado fosse ocorrer de qualquer 
forma, a conduta do agente não será considerada causa. 
Essa teoria, que veio com a missão de sanar as falhas das outras duas, sendo 
assim denominada porque pretende promover um juízo de tipicidade desvinculado 
do elemento subjetivo, isto é, afasta a responsabilidade penal antes de se ingressar 
na análise do dolo ou culpa; não porque visa a responsabilizar alguém 
objetivamente, como se poderia pensar, visto que não se admite responsabilização 
objetiva em nosso direito penal (exceto das pessoas jurídicas nos crimes 
ambientais CF 225, § 3 º). 
É criticada porque, embora se intitule autônoma, vale-se da teoria da equivalência 
das condições (conditio sine qua non), bem como porque reduz em demasia a 
cadeia do nexo causal. Portanto, no mesmo exemplo da arma, como a simples 
venda não criou um risco não tolerado nem permitido ao bem jurídico vida tutelado 
no art. 121 do CP, a conduta do vendedor não pode ser considerada causa do 
homicídio praticado pelo comprador. 
Pegue-se outro exemplo, apenas para melhor elucidar o alcance dessa teoria: Caio 
vai apostar corrida de carro desautorizada em via pública com Tício. Mévio, 
sabedor do risco da disputa, aceita ser carona de Caio durante a disputa. Caio bate 
o carro e sobrevive, mas Mévio vem a falecer. De acordo com a teoria da 
imputação objetiva, a conduta de Caio não será considerada causa da morte de 
Mévio porque este, com sua atitude irresponsável – aceitar ser carona de Caio –, 
consentiu e contribuiu para sua morte. E, se a conduta de Caio não está na cadeia 
do nexo causal, por óbvio, não incidirá qualquer responsabilidade penal sobre ele. 
Uma vez verificadas as teorias, passa-se à análise da forma como o CP trata a 
relação de causalidade, em seu art. 13, in verbis: “O resultado,de que depende a 
existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se 
causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.” 
Ao dispor que causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, 
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24 
o Código adotou a teoria da equivalência das condições ou conditio sine qua non. 
Nossa jurisprudência é pacífica nesse sentido. 
Importante frisar que o art. 13 caput aplica-se, exclusivamente, aos crimes materiais 
porque, ao dizer “o resultado, de que depende a existência do crime”, refere-se ao 
resultado naturalístico da infração penal (aquele que é perceptível aos sentidos do 
homem e não apenas ao mundo jurídico), e a única modalidade de crime que 
depende da ocorrência do resultado naturalístico para se consumar (existir) é o 
material, como, v.g., o homicídio (121 CP), em que a morte da vítima é o resultado 
naturalístico. 
Aos crimes formais (ex. concussão – 316 CP) e os de mera conduta (ex. violação 
de domicílio – 150 CP), o art. 13 caput não tem incidência, pois prescindem da 
ocorrência do resultado naturalístico para existirem. 
Assim, é inviável, ou até mesmo impossível em alguns casos, a formação de uma 
cadeia de nexo causal a fim de se estabelecer a relação de causalidade. Nesses 
delitos, cabe apenas a análise da conduta do agente, que, aliada à presença do 
elemento subjetivo, é suficiente para que se atinjam a consumação, ou melhor, 
existam. 
Por exemplo: na concussão, basta o exigir, sendo irrelevante a obtenção ou não da 
vantagem indevida por parte do funcionário público; na violação de domicílio, o 
entrar na casa alheia. 
 
6.5. Tentativa e Consumação 
6.5.1. Consumação 
Consumação se caracteriza quando o ato praticado pelo agente se enquadra 
perfeitamente no tipo penal. No texto do art.14, I, do Código Penal, ocorre quando 
se reúnem todos os elementos de sua definição legal. 
Para que se concretize, o agente deverá percorrer o chamado iter criminis, que é o 
caminho do crime que se inicia quando nasce o pensamento criminoso na mente do 
agente até sua consumação, subdividindo-se em 1. Cogitação; 2. Atos 
preparatórios; 3. Execução; 4. Consumação. 
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a. Cogitação: 
É o momento em que nasce o pensamento criminoso na mente do agente, é 
a mera cogitação do agente em praticar um crime, não sendo punível. 
b. Atos preparatórios: 
É a continuação do ato anterior, quando o agente começa a preparar o ato 
criminoso principal. Em regra, os atos preparatórios também não são puníveis 
exceto quanto constituir crime autônomo como, por exemplo, a associação para o 
tráfico que é uma modalidade especial de quadrilha ou bando (art. 288 do CP), 
porém, com algumas diferenças, a saber, exigem-se duas pessoas para que seja 
configurada a associação para o tráfico e quatro para o delito de quadrilha ou bando. 
c. Execução: 
São atos praticados já com a finalidade de atingir o objetivo da atividade 
delituosa. Por exemplo, o agente compra o revólver para cometer um homicídio 
(ainda é ato preparatório). Caso ele atire mesmo que seja apenas um disparo contra 
a vítima, aqui passa-se a execução do crime. 
d. Consumação: 
Trata-se do objetivo final da atividade delituosa, quando o agente atinge seu 
objetivo e a conduta se enquadra perfeitamente no tipo penal. No mesmo exemplo 
utilizado acima, o agente compra o revólver para cometer um homicídio (ato 
preparatório). Caso ele atire mesmo que seja apenas um disparo contra a vítima 
aqui passa-se a execução do crime e, se a vítima vem a óbito, finalizado está o 
delito. O agente queria matar e a vítima morreu logo a conduta do agente se 
enquadra perfeitamente no tipo penal descrito no art. 121, caput, CP, (matar 
alguém). Aqui temos a consumação. 
 
6.5.2. Tentativa 
Tentativa é a execução mal sucedida em decorrência de fatores alheios a vontade 
do agente. 
Na tentativa temos dois elementos obrigatórios que é o início da execução e a não 
consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
Por exemplo, o agente saca a arma da cintura e efetua um primeiro disparo quando 
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vai efetuar o segundo visualiza uma viatura da polícia e evade, sendo a vítima 
socorrida e sobrevive. Vejam houve o início da execução que não se consumou 
pela chegada de uma viatura polícia, situação alheia a vontade do agente. Nesse 
caso o agente responderá por tentativa de homicídio. 
A tentativa, seja ela em qualquer crime, não constitui crime autônomo, nos termos 
do parágrafo único do art.14 do CP. Pune-se a tentativa com a pena 
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Tratando-se, 
então, a tentativa como causa de diminuição da pena. 
 
6.6. Desistência voluntária, arrependimento eficaz e arrependimento 
posterior 
6.6.1. Desistência voluntária 
A desistência voluntária está descrita na primeira parte do art. 15, CP. Trata-
se da cessação da atividade criminosa quando o agente inicia uma ação delituosa e, 
mesmo podendo concluir essa atividade, por vontade própria, ele cessa. Aqui ele 
tem a possibilidade de finalizar a empreitada criminosa, mas não o faz. 
Por exemplo, podendo um criminoso matar seu desafeto estado ele com o 
revólver carregado ele efetua somente um disparo de arma de fogo, mas por 
qualquer motivo decorrente da sua vontade ele desiste de efetuar outros disparos, 
se evade do local e o desafeto sobrevive. 
6.6.2. Arrependimento eficaz 
O arrependimento eficaz também está descrito no art.15, CP, mas na sua 
segunda parte. 
Nessa modalidade, diferente da desistência voluntária, o agente esgota sua 
capacidade lesiva, ou seja, utilizando o mesmo exemplo anterior, por qualquer 
motivo decorrente da sua vontade, ele resolve pedir socorro e chama uma 
ambulância que socorre a vítima e, em decorrência dessa decisão e uma 
intervenção cirurgia exitosa, a vítima sobrevive. 
Aqui houve finalização da empreitada criminosa, porém o arrependimento 
impediu a morte. 
Para ambas situações as consequências serão as mesmas: por força da 
parte final do art.15, CP na desistência voluntária e no arrependimento eficaz o 
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agente responde pelos atos já praticados, ou seja, no nosso exemplo responderá 
por lesão corporal, (leve, grave ou gravíssima), jamais por tentativa. 
Importante ressaltar a diferença: nos institutos da desistência voluntária e 
arrependimento eficaz, o agente desiste da empreitada ou se arrepende e socorre a 
vítima de forma eficaz, por vontade própria, ou seja, de forma voluntária. Já na 
tentativa, a consumação do crime não ocorre por circunstância alheia a vontade do 
agente, portanto são institutos incompatíveis. 
6.6.3. Arrependimento posterior 
O arrependimento posterior, previsto no art. 16 do CP, ocorre basicamente, 
quando o agente repara o dano causado ou restitui a coisa, em crimes cometidos 
sem violência ou grave ameaça a pessoa, até o recebimento da denúncia ou queixa. 
Assim terá sua pena reduzida de um a dois terços. 
Importante salientar que a reparação ou restituição da coisa só vale para 
crimes praticados sem violência ou grave ameaça a pessoa. Entretanto a lei se 
refere a violência na sua forma dolosa, nada falando quando a modalidade for 
culposa, pelo que se presume cabível. 
Quanto à reparação do dano ou restituição da coisa importante saber que o 
ato de reparar ou restituir deve ser voluntário, ou seja, mesmo que alguém 
aconselhe o agente ao ato, o agente precisa querer e o fazer de forma voluntária. 
Pode ocorrer o arrependimento posterior até que o juiz receba a denúncia ou 
queixa. Findo o inquérito policial, os autos são encaminhados ao MP, que oferece a 
denúncia ou, em caso de crimes de ação penal privada, os advogados fazem a 
queixa-crime. O mero encaminhamento ao juiz não concretiza o recebimento, que é 
ato formal. 
Contudo, caso seja ultrapassado esse limitetemporal e o arrependimento for 
posterior ao oferecimento da denúncia ou queixa, incidirá a atenuante genérica do 
Art. 65, III, b, do CP e não mais o Art. 16 do CP. 
 
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UNIDADE II – TIPOS DE CRIME 
1. TIPO E TIPICIDADE 
A função precípua do tipo é descrever objetivamente um comportamento proibido 
pelo Direito Penal, limitando e individualizando as condutas relevantes. Todos os 
elementos que compõem a descrição de um comportamento abstrato proibido pelo 
Direito Penal formam o tipo. 
Já a tipicidade resulta da análise de uma conduta realizada no plano concreto e de 
seu posterior enquadramento na previsão abstrata de um comportamento descrito 
no tipo. A tipicidade nada mais é do que a subsunção da conduta concreta na 
conduta abstratamente prevista no tipo. 
Toda conduta realizada no plano concreto que seja considerada típica pelo fato de 
estar prevista no tipo penal, sofrerá a incidência de uma presunção relativa de 
antijuridicidade. Assim, uma das funções exercidas pelo tipo penal denomina-se 
função indiciária pois, uma conduta típica faz surgir indícios de antijuridicidade. 
Os elementos que compõem o tipo penal podem ser objetivos, normativos e 
subjetivos. Os elementos objetivos são facilmente constatados pelo sistema 
sensorial de cada indivíduo. Já os elementos normativos, para serem constatados, 
exigem a aplicação de uma atividade valorativa, ou seja, um juízo de valor. Por fim, 
os elementos subjetivos têm origem na psique e no espírito do autor e manifestam-
se como a vontade que rege a ação do autor. 
1.1. Dolo e Culpa 
O entendimento de dolo e culpa começa pela compreensão de que ambos são 
frutos de atitudes voluntárias do agente, que acaba ocasionando um ato ilícito, 
sendo a grande diferença ser de forma intencional (dolo) ou descuidada (culpa). 
O próprio artigo 18 do Código Penal traz a separação desses dois gêneros no 
crime, denominando de crime doloso (inciso I) “quando o agente quis o resultado ou 
assumiu o risco de produzi-lo” e crime culposo (inciso II) “quando o agente deu 
causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”. 
Para o Direito Penal, a importância de se definir se houve dolo ou culpa ocorre para 
a determinação de uma atenuante ou agravante da pena. 
 
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1.1.1. Dolo 
Inicialmente, vamos tratar do dolo, onde podemos definir tecnicamente como uma 
conduta voluntária e intencional do agente que, praticando ou deixando de praticar 
uma ação, tem o objetivo de causar danos ou simplesmente cometer o ato ilícito. 
Ou seja, nesta hipótese, o agente simplesmente comete o ato ilícito por vontade 
própria, exemplo clássico seria alguém que objetiva a morte de outrem e 
simplesmente comete o crime. 
Ponto de interesse se dá pela caracterização tanto da prática do ato, como a 
ausência de ação, onde podemos caracterizar o dolo em um agente que deixou de 
prestar socorro quando deveria. 
De acordo com a teoria finalista, o dolo é a vontade consciente de praticar a 
conduta típica, ou seja, é o dolo natural. É necessário que essa conduta dolosa se 
encaixe em um injusto penal para que se possa existir um crime. Basta que o 
sujeito queira, tenha a vontade de realizar aquela conduta e saiba o que faz e que 
aquilo é lesivo, para a caracterização do dolo. 
O dolo se divide em algumas espécies, podendo ser direto – quando o evento 
corresponde à vontade do sujeito ativo, quando o agente quer o resultado – ou 
indireto – quando, apesar de querer o resultado, a vontade não se manifesta de 
modo único e seguro em direção a ele. 
O dolo indireto subdivide-se em: 
• Dolo alternativo: quando o agente quer um dos eventos que sua ação pode 
causar. Exemplo: atirar para matar ou ferir 
• Dolo eventual: o sujeito ativo prevê o resultado e, embora não seja este a 
razão de sua conduta, aceita-o. 
 
No caso em que uma pessoa desfere em outra um soco, com intenção de 
machucá-la, se ela cair e, batendo com a cabeça na calçada, fratura a base do 
crânio, vindo a falecer, estaremos diante do crime preterdoloso, no qual há dolo no 
antecedente e culpa no consequente. Há dolo porque há intenção do agente. Há 
culpa porque há previsibilidade do efeito mais grave. 
 
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1.1.2. Culpa 
Já a culpa é caracterizada quando a pessoa comete o mesmo ato ilícito, após ter 
uma conduta voluntária, porém descuidada, que veio causar dano a terceiro ou 
simplesmente ensejou o ato ilegal. 
É o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objeto, lícito 
ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejável, mas previsível e que 
poderia ter sido evitado. Ou seja, a culpa pode se dar através da imprudência (agir 
sem cautela ou com precipitação ou insensatez), da negligência (descuido ou 
desatenção nos casos em que exige o contrário) ou da imperícia (falta de 
conhecimento necessário ou incapacidade para o exercício de determinado ofício 
ou profissão). 
a) Negligência 
Inicialmente, a negligência, é utilizada para definir a falta de cuidado ou de 
aplicação numa determinada situação, pode ser definida como sinônimo de 
descuido, incúria, desleixo, desmazelo ou preguiça. 
Por exemplo, podemos citar alguém que tem conhecimento do dever da troca da 
pastilha de freios de um veículo, entretanto ela esquece de realizar o procedimento 
dentro do prazo e em razão deste esquecimento, ao conduzir seu veículo, nota que 
o freio deixa de funcionar e acaba atropelando alguém. Temos aqui caracterizada a 
responsabilidade que inicialmente se deu de forma subjetiva, por presença de culpa 
na atitude em razão da negligência com a troca da pastilha de freios do veículo. 
b) Imprudência 
Já a imprudência pode ser definida, quando o agente tem conhecimento do risco da 
atividade e mesmo assim acredita que é possível a realização sem prejuízo para 
ninguém. 
Aproveitando o último cenário para exemplificar, podemos imaginar uma pessoa 
que é conhecedora que sua pastilha de freio está ruim, tem conhecimento que tão 
logo ela falhará, seja através de algum barulho ou informação contida em manual, e 
mesmo assim ela acredita que a falha não acontecerá, e diferentemente do agente 
negligente, o imprudente aceita o risco acreditando que ele não acontecerá, nesta 
hipótese extrapolamos o mero descuido para caracterizar a falta de bom senso do 
agente. 
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C) Imperícia 
A última hipótese de caracterização da culpa, se dará pela imperícia, onde 
podemos definir como a ausência de experiência e prática que são necessárias 
para o desenvolvimento de determinadas atividades. 
 Nesta situação, falamos de pessoas técnicas, profissionais e, a título 
exemplificativo, podemos citar como imperícia um mecânico que, mesmo sabendo 
do prazo de validade das pastilhas de freio, optou por não fazer a troca acreditando 
que ainda suportariam por mais algum tempo sem causar prejuízo ou acidente. 
Outro exemplo, voltado à atividade policial, seria o policial militar que mesmo sem 
ter capacitação para utilização de IMPO (instrumento de menor potencial ofensivo), 
a exemplo de spray de pimenta, faz uso desse recurso em uma situação real. 
 
1.2. Erro de tipo e erro de proibição 
O erro de tipo, que pode ser classificado em essencial ou acidental, incide sobre o 
fato típico, excluindo o dolo, em algumas circunstâncias. Por outro lado, o erro de 
proibição, que pode ser direto ou indireto, não exclui o dolo, pois incide na 
culpabilidade, terceiro requisito para a existência do crime. 
1.2.1. Erro de tipo 
a. Erro de tipo essencial 
O erro de tipo essencial atua nos elementos constitutivos do tipo, ou seja, o art. 121 
do Código Penal afirma que homicídio é “Matar alguém”. Portanto, se alguém mata 
uma pessoa durante uma caçada achando que era um animal, pode-se dizer que 
substituiu “alguém” do tipo penal por “animal”, causando um erro sobre os

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