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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 
GEOGRAFIA BACHARELADO 
 
 
 
 
 
 
LILIAN SHEILA DOS SANTOS GOMES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA DAS BARRAGENS: UM ESTUDO DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS 
OCASIONADOS PELO RESERVATÓRIO TABATINGA, MACAÍBA\RN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL RN 
2022 
LILIAN SHEILA DOS SANTOS GOMES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA DAS BARRAGENS: UM ESTUDO DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS 
OCASIONADOS PELO RESERVATÓRIO TABATINGA. 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada para a obtenção do 
grau de bacharel em geografia na Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte na área de 
estudos socioambientais. 
Orientadora: Profa. Dra. Juliana Felipe Farias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LILIAN SHEILA DOS SANTOS GOMES 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA DAS BARRAGENS: UM ESTUDO DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS 
OCASIONADOS PELO RESERVATÓRIO TABATINGA. 
 
 
 
 
Monografia apresentada para a obtenção do 
grau de bacharel em geografia na Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte na área de 
estudos socioambientais. 
Orientador: Profa. Dra. Juliana Felipe Farias 
 
 
 
 
Data de aprovação: / / . 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
Profa. Dra. Juliana Felipe Farias 
Orientadora 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
Prof. Dr. Orgival Bezerra da Nóbrega Júnior 
Membro Interno 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
Msc. Gabriella Cristina Araújo de Lima 
Membro Externo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Camila, você é a minha motivação diária e 
minha força. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A todos os professores que contribuíram para minha formação desde a educação 
infantil até o ensino superior, esse trabalho também é resultado de vocês pois são a base para 
o conhecimento que desenvolvo hoje. 
Um agradecimento especial a professora Juliana por acreditar no meu trabalho e 
embarcar nele junto comigo, seu apoio foi crucial para essa pesquisa. 
Para os moradores das comunidades de Betúlia e Cajarana sem a sua contribuição 
esse trabalho não teria os dados necessários para sua finalização. 
A meu pai que sempre trabalhou incansavelmente para que não nos faltasse nada e 
inclusive foi companheiro em todos os campos e a minha mãe que sempre acreditou na 
educação e por sempre a tratar como máxima prioridade em nossas vidas. 
A Juliana minha irmã e cumplice de todos os momentos e a Isabel por todo o 
incentivo e exemplo de dedicação a educação e ao trabalho. 
A Marcia minha psicóloga, obrigada por me ajudar nos anos sombrios em que nos 
encontramos. 
A Luis, companheiro dos últimos 12 anos, pelo apoio e suporte em todas fases da 
minha vida. 
A minha tia Lucia por articular os formulários online com os moradores das 
comunidades de Cajarana e Betúlia. 
A Thiago, amigo de longa data, que foi essencial durante o processo de entrevista 
em Cajarana. 
A Eduardo, motorista que me levou em todas as jornadas de campo e por ajudar 
nas entrevistas em Betúlia. 
A Stephannie pela ajuda nas correções finais da pesquisa. 
A Camila, menina doce e carinhosa, essa etapa começou junto de seu 
desenvolvimento esse trabalho também é parte de você. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Água é fonte de riqueza e de conflitos”. 
(Wagner Costa Ribeiro) 
 
RESUMO 
 
 
Os barramentos de água são elementos transformadores da paisagem causando impactos na 
vida dos moradores que residem no seu entorno como é o caso das comunidades de Betúlia e 
Cajarana localizadas na cidade de Macaíba\RN. O objetivo desta pesquisa foi compreender a 
percepção dos moradores sobre as transformações socioambientais da paisagem gerados pelo 
Reservatório Tabatinga, para poder pensar em medidas que possam ser usadas para a 
minimizar os efeitos negativos. A metodologia utilizada foi a entrevista que permitiu conhecer 
os impactos causados pela relação entre o reservatório e os moradores. Os resultados obtidos 
mostram que o reservatório tem uma relevância fundamental para as duas comunidades, mas 
também é gerador de conflitos e que sua utilização para pesca e agricultura só deveria ser 
permitida após um estudo mais aprofundado sobre a qualidade da água. 
 
Palavras-chaves: Percepção; Impactos; conflitos; reservatório. 
 
ABSTRACT 
 
 
Water dams are transforming elements of the landscape causing impacts on the lives of 
residents who live in their surroundings, as is the case of the communities of Betúlia and 
Cajarana located in the city of Macaíba\RN. The objective of this research was to understand 
the residents' perception of the socio-environmental transformations of the landscape 
generated by the Tabatinga Reservoir, in order to think of measures that can be used to 
minimize the negative effects. The methodology used was the interview that allowed to know 
the impacts caused by the relationship between the reservoir and the residents. The results 
obtained show that the reservoir is of fundamental importance for the two communities, but it 
also generates conflicts and that its use for fishing and agriculture should only be allowed 
after a more in-depth study of water quality. 
 
Keywords: Perception; Impacts; conflicts, reservoir. 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
Figura 01- Localização do reservatório Tabatinga ................................................................... 15 
Figura 02- Etapas da pesquisa .................................................................................................. 24 
Figura 03- Localização das paradas no campo de reconhecimento .......................................... 25 
Figura 04- Roteiro de entrevista ............................................................................................... 27 
Figura 05- Vista da estrutura do reservatório ........................................................................... 30 
Figura 06- Descarte e queima de lixo doméstico nas margens do reservatório ........................ 31 
Figura 07- Localização das comunidades de Betúlia e Cajarana.............................................. 32 
Figura 08- Criação de bovinos nas proximidades de Betúlia ................................................... 32 
Figura 09- Plantação de feijão em Cajarana ............................................................................. 33 
Figura 10- Comunidade de Betúlia ........................................................................................... 34 
Figura 11- Mudança do acesso a Betúlia, em azul o antigo caminho e em vermelho o novo . 35 
Figura 12- Foto do novo acesso a comunidade de Betúlia ....................................................... 35 
Figura 13- Foto da igreja, centro social e posto de saúde da comunidade ............................... 36 
Figura 14- Cajarana em junho de 2008 .................................................................................... 37 
Figura 15- Cajarana em julho de 2021 ..................................................................................... 37 
Figura 16- Comunidade de Cajarana ........................................................................................ 38 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 01- Total de entrevistados por comunidade ................................................................. 39 
Gráfico 02- Divisão dos entrevistados por gênero ................................................................... 39 
Gráfico 03- Uso do reservatório ............................................................................................... 40 
Gráfico04- Divisão da amostra por idade ................................................................................ 40 
Gráfico 05- Divisão por gênero em Betúlia .............................................................................. 41 
Gráfico 06- Se residiam em Betúlia durante a construção da barragem ................................... 42 
Gráfico 07- Tipos de uso do reservatório ................................................................................. 42 
Gráfico 08- Escolaridade dos residentes em Betúlia ................................................................ 43 
Gráfico 09- Total de entrevistados por gênero em Cajarana .................................................... 43 
Gráfico 10- Se residiam em Cajarana durante a construção do reservatório ............................ 44 
Gráfico 11- Tipos de uso reservatório ...................................................................................... 45 
Gráfico 12- Escolaridade dos moradores de Cajarana .............................................................. 45 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
a.C – Antes de Cristo 
Al-Alumínio 
Art- Artigo 
Cd- Cádmio 
FUNCERN- Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do Rio 
Grande do Norte 
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IDEMA- Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte 
Ni- Níquel 
Pb- Chumbo 
RN- Rio Grande do Norte 
SEMARH- Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14 
2 DISCUSSÕES TEORICAS ................................................................................................ 16 
2.1 Estudos Socioambientais em Geografia .......................................................................... 16 
2.2 Paisagem Cultural e Percepção: breve ensaio teórico................................................... 19 
2.3 Barragens sob a ótica da Geografia ................................................................................ 21 
3 PERCURSO METODOLÓGICO...................................................................................... 23 
4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ........................................................... 27 
4.1 Município de Macaíba ...................................................................................................... 28 
4.2 Reservatório Tabatinga .................................................................................................... 29 
4.3 Comunidades ..................................................................................................................... 31 
4.3.1 Betúlia ............................................................................................................................. 33 
4.3.2 Cajarana ......................................................................................................................... 36 
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 38 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 48 
REFERENCIAS...................................................................................................................... 49 
14 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A água é um dos recursos mais importantes para a humanidade, não é à toa que desde 
o surgimento das primeiras grandes cidades, lá na antiguidade, elas foram assentadas nas 
margens dos rios sendo fonte de subsistência para as populações em seu entorno. Em 1500, na 
colonização do Brasil, não foi diferente. Muitas cidades foram construídas as margens de rios, 
os quais garantiam as pessoas o acesso a água e a transporte de mercadorias; porém, elas não 
tinham nenhum conhecimento sobre a dinâmica do rio e sobre os períodos de enchentes 
desses canais o que recorrentemente ocasionava inundações ou alagamentos. 
Outra causa do avanço sobre as margens dos rios está relacionada a falta de acesso 
ao solo urbano para a população mais carente que, sem alternativas de moradias, acabam 
ocupando tais locais mesmo onde o poder público atualmente já não permite a construção de 
edificações. Já em outros casos a falta de legislação e ou da fiscalização das leis dos estados e 
municípios são fatores agravantes desse desequilíbrio socioambiental. 
Farias (2015, p.34) faz um breve apontamento em seu estudo da geoecologia das 
paisagens sobre a relação conflituosa entre as a sociedade e a natureza decorrentes do 
crescimento urbano sobre os corpos de água. 
 
“Porém, esses núcleos cresceram e se tornaram cidades cada vez maiores e com um 
elevado contingente populacional, e esse crescimento não veio acompanhado de 
planejamentos adequados que preservassem a qualidade do ambiente. Nesse quadro, 
a relação sociedade e natureza foi se tornando cada vez mais conflituosa, causando a 
degradação ambiental dos recursos naturais.” 
 
Esses problemas foram se agravando ao logo dos anos com o crescimento desordenado 
e acelerado, como é o caso da cidade de Macaíba, fundada em 1889, as margens do rio 
Jundiaí, essa pequena cidade começou a se desenvolver e seu crescimento sobre as margens 
do rio se deu sem um planejamento o que ocasionou enchentes recorrentes, principalmente no 
centro comercial da cidade causando muitos prejuízos a economia local. 
Muitos anos de reivindicação coletiva foram necessários para a construção do 
Reservatório de Tabatinga, com a finalidade principal de represar as águas do rio e assim 
conter as enchentes, porém a construção dele trouxe conflitos, pois em algumas áreas que 
foram alagadas existiam pequenos povoados que foram afetados pela construção. 
Por esse motivo, teremos o município de Macaíba e mais especificamente as 
comunidades de Betúlia e Cajarana como recorte para a pesquisa presente nesse trabalho, a 
figura 1 apresenta a localização do reservatório. 
15 
 
 
 
 
Figura 01- Localização do reservatório Tabatinga 
 
Fonte: IBGE; Google maps. Organizado por Gomes, 2022. 
 
O pequeno povoado de Sucavão e algumas propriedades rurais foram inundados pelas 
águas da barragem, os moradores que viviam nesses locais receberam indenização para 
reconstruir suas vidas em outro local o que, por si só, já causou uma alteração significativa 
sobre a paisagem; porém, vários outros problemas estão por traz desse empreendimento, 
16 
 
 
 
 
desde alteração do deslocamento das pessoas, indenizações que não foram pagas e até mesmo 
alterações na qualidade da água. 
O presente trabalho busca compreender a percepção dos moradores sobre as 
transformações socioambientais da paisagem gerados pelo Reservatório Tabatinga, bem como 
o impacto no cotidiano dessas pessoas para assim poder pensar, a partir dessa experiência, em 
medidas que possam serem usadas para a minimizar os impactos negativos. Para tanto será 
necessário identificar os impactos a população do entorno do reservatório; verificar, a partir 
da percepção dos moradores, quais as transformações na paisagem e buscar medidas para 
minimizar os efeitos negativos nos residentes do entorno. 
O trabalho está organizado em cinco capítulos, no primeiro será apresentado o 
arcabouço teórico, no segundo a metodologia e estratégias utilizadas para a construção da 
pesquisa, o terceiro terá uma caracterização do recorte estudado, no quarto será exposto os 
resultados alcançados e no quinto trará as considerações finais. 
 
 
2 DISCUSSÕES TEÓRICAS 
 
 
Nesse capítulo, serão apresentados os conceitos que permearam o desenvolvimento da 
pesquisa como as bases para a compreensão da Geografia Socioambiental e da Percepção das 
Paisagens dentro do contexto do reservatório Tabatinga e suas influências na vida da 
população rural próxima. 
 
 
2.1 Estudos Socioambientaisem Geografia 
 
 
O conhecimento geográfico surgiu junto ao desenvolvimento da espécie humana, 
sendo acumulado durante muitos séculos e foi justamente essa acumulação que levou a sua 
institucionalização no final do século XIX. Com uma visão eurocêntrica do mundo, uma vez 
que foi no continente europeu que se institui-o como ciência o que hoje conhecemos como a 
geografia tradicional. 
As bases para essa geografia foram propostas por Alexandre Von Humboldt e Karl 
Ritter dois naturalistas, da região conhecida hoje como a Alemanha, que criaram uma 
continuidade no pensamento geográfico sendo importantes também para a formação das 
cátedras dessa disciplina como aponta Morais 2007. 
17 
 
 
 
 
Nos desdobramentos teremos a escola da Geografia Alemã tendo como seu principal 
expoente Friedrick Rstzel que traz à tona a legitimação do expansionismo com forte teor 
político e a determinação do meio sobre o desenvolvimento das sociedades. Em resposta a 
essas formulações Paul Vidal De La Blache, principal formulador da Geografia Francesa, faz 
uma série de crítica ao expansionismo e colocando que a natureza traz possibilidades para a 
ação humana, contudo não a determina. 
Nas primeiras décadas do século XX, a geografia tradicional já não responde as novas 
demandas da evolução da sociedade, levando assim ao movimento de renovação com o 
surgimento de duas principais vertentes: a crítica e a pragmática. A primeira busca estudar 
sobre as desigualdades sociais geradas pelo sistema capitalista e a segunda introduz o fator 
técnico nos estudos ao mesmo tempo que empobrece a sua análise da realidade. 
Com o surgimento da problemática ambiental no final da década de 1960 e a crescente 
evidência da interferência da ação humana no meio ambiente, a temática foi incorporada na 
geografia como aponta Mendonça (1993, p.62) de forma gradual nas décadas de 70 e 80 tendo 
como foco a relação entre a sociedades e a natureza. 
Já Canali (2014, p.166) coloca que “A geografia desde sua origem sempre esteve no 
centro das relações entre sociedade e meio ambiente, tanto no âmbito dos lugares como nas 
escalas planetárias.” 
A abordagem socioambiental surge a partir da relação entre as características físicas e 
sociais de um objeto. Com a complexidade das relações entre a sociedade e a natureza, não é 
possível falar do meio ambiente a partir do ponto de vista puramente natural, pois a 
intervenção do homem alcançou de forma significativa quase todo o planeta como expos 
Mendonça (2001, p.117). 
Por conseguinte, essa vertente tem como objeto justamente a relação dialética entre os 
dois componentes que não devem ser vistos como coloca Mendonça (2001, p.228) de forma 
estanque e independentes. 
No presente trabalho que é voltado para o estudo de um fenômeno que altera 
visivelmente o espaço físico, como uma barragem, poderíamos levar a pensar que o estudo 
geográfico desse tema é de natureza física, por outro lado o foco neste trabalho é mais sobre 
os aspectos sociais sem deixar de lado as alterações da paisagem. 
Esse estudo poderia ser duramente criticado se não levássemos em conta os estudos de 
Mendonça (2001) que nos apresenta a abordagem socioambiental, apontando que: 
18 
 
 
 
 
(...) a abordagem geográfica do ambiente transcende à desgastada discussão da 
dicotomia geografia física versus geografia humana, pois concebe a unidade do 
conhecimento geográfico como resultante da interação entre os diferentes elementos 
e fatores que compõem seu objeto de estudo (MENDONÇA, 2001, p.115). 
 
Casseti também aponta a abordagem socioambiental como uma alternativa a superação 
da dicotomia: 
 
Considerando portanto o conceito ontológico de natureza, no qual a matéria sintetiza 
os fenômenos naturais e sociais, busca-se a compreensão da “unidade local” como 
possível objeto de superação da relação dicotômica que legitima e reproduz o 
processo de alienação. (CASSETI, 2014, p.145) 
 
Sendo necessário ainda ressaltar a importância de não se trabalhar temas da natureza 
com métodos das ciências sociais e desta com métodos de análise da natureza, o que torna a 
proposta Socioambiental na geografia um local de encontro para trabalhos que mesclam esses 
dois pontos os quais podem ser vistos como separados, para a maioria dos estudiosos, mas 
aqui é visto como um conjunto indissociável. Morais e Melo (2013, p.28) afirmam que: 
 
“O arcabouço teórico metodológico da Geografia Socioambiental vislumbra a 
análise da interrelação da sociedade com a natureza e tem como proposta para 
equacionamento das questões resultante desta inter-relação, a convivência 
harmônica entre ambas.” 
 
Pinto em seu estudo sobre a abordagem ambiental na geografia coloca que: 
 
[...] os problemas socioambientais são aqueles que partem do social e que tem sua 
base constituída no ambiente, ou seja, partem do princípio que não existem 
problemas para a natureza/ambiente, pois este tem a capacidade de regeneração 
(variando em escala de tempo), todos os problemas de degradação dos ambientes 
são problemas para as sociedades que fazem uso destes, sendo assim, são problemas 
socioambientais. (PINTO, 2015, p.73) 
 
Para Mendonça (2001, p. 224) devemos partir de uma problemática onde existam 
conflitos entre a sociedade e a natureza, onde uma ou ambas sofrem degradação. No caso 
aqui estudado fica evidente que a degradação parte dos dois fatores tanto o social quanto o 
natural apresentam problemas advindos da construção do reservatório. 
Assim buscaremos fazer uma leitura socioambiental a partir do fenômeno que é a 
barragem e para prosseguir será necessária uma breve discussão sobre a percepção da 
paisagem pelos moradores do entorno. Para tanto, no próximo tópico, serão apresentados 
esses dois conceitos. Inicialmente apresentamos o conceito de paisagem, trazendo sua 
definição e em seguida fazer uma breve interrelação com a percepção. 
19 
 
 
 
 
2.2 Paisagem Cultural e Percepção: breve ensaio teórico 
 
 
As primeiras representações humanas da paisagem são as pinturas rupestres datadas de 
45 mil anos, demostrando necessidade dos primeiros hominídeos de representar o meio em 
que viviam. Após esse período, a paisagem foi utilizada nas primeiras grandes civilizações 
como sinônimo de embelezamento das cidades e dos palácios trazendo elementos da natureza 
para dentro desses ambientes. 
Dentro da ciência geográfica, o conceito de paisagem tem diversas definições desde o 
seu surgimento no século XIX, com os primeiros pensadores da geografia tradicional, até a 
atualidade. Tendo um consenso entre os geógrafos, mesmo abordando de formas diferentes, 
que ela seria o resultado da relação entre os elementos físicos, biológicos e antrópicos. 
Mendonça 2001, nos lembra que o conceito de paisagem era de natureza fisionômica 
sendo interligado ao método de observações em viagens científicas influência dos grandes 
naturalistas como os estudos de Humboldt na sua obra Kosmos e da escola naturalista alemã 
durante o que ficou conhecido com geografia tradicional. 
A abordagem tradicional da geografia perdura até mais ou menos a década de 1940, 
sendo que após esse período a ênfase na paisagem foi colocado de lado para dar destaque a 
outros conceitos e só a partir da década de 1970 que ele seria retomado sobre novos olhares 
dentro dos estudos ambientais e da percepção. 
Como aponta Schier (2003, p. 80) “Hoje, a idéia da paisagem merece mais atenção 
pela avaliação ambiental e estética. Neste sentido, depende muito da cultura das pessoas que a 
percebem e a constroem. Ela é, assim, um produto cultural resultado do meio ambiente sob 
ação da atividade humana.” 
Maximiano ao definir paisagem traz em seu conceito um elemento muito relevante que 
é a relação espaço-tempo quando enuncia “[...] a paisagem pode ser entendida como o produto 
das interações entre elementos de origem natural e humana, em um determinado espaço. Estes 
elementos de paisagemorganizam-se de maneira dinâmica, ao longo do tempo e do espaço.” 
(MAXIMIANO, 2004, p.90). 
Já para Santos, em seu livro a Natureza do Espaço, é nos apresentado a necessidade de 
diferenciar o espaço da paisagem, colocando-a como algo estático. "A paisagem é um 
conjunto de formas que, num dado momento, exprime as heranças que representam as 
sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são as formas mais a vida 
que as anima." (SANTOS, 2002, p.103). 
20 
 
 
 
 
Demostrando assim, como afirma Risso (2008, p.72), que na geografia crítica o 
conceito de paisagem não foi utilizado para dar destaque aos conceitos de lugar e de espaço. 
Sendo resgatado nos estudos geográficos com o advento da geografia humanística com mais 
força na década de 1980. 
Dentro deste trabalho utilizaremos a definição de paisagem apontado por Sauer 
fazendo a interrelação entre ela e os estudos socioambientais. Para ele a paisagem é dividida 
em paisagem natural e cultural, onde a primeira seria a combinação dos elementos naturais 
como a vegetação, o clima, o relevo, os rios, os lagos e toda a combinação do quadro natural. 
Já a paisagem cultural incluiria todas as transformações feitas pelo homem sobre a natureza 
desde a construção de cidades e a transformação do campo. Sauer (1998) nos apresenta esses 
dois conceitos quando enuncia 
 
A área anterior à introdução de atividade humana é representada por um conjunto de 
fatos morfológicos. As formas que o homem introduziu são outro conjunto. 
Podemos chamar as primeiras, com referência ao homem, de paisagem natural, 
original. Em seu todo, ela não existe mais em muitas partes do mundo, mas sua 
reconstrução e compreensão são a primeira parte da morfologia formal. (1998, p. 
199). 
 
Na área de estudo deste trabalho, podemos ver bem aplicação dos dois conceitos de 
uma paisagem. A natural convertida em paisagem cultural com a instalação dos pequenos 
povoados e, posteriormente, a modificação dessa paisagem com a construção do reservatório. 
o que nos mostra que a paisagem cultural não é acabada, ela pode se transformar ao longo dos 
anos, seja pelas forças da natureza ou pela intervenção do homem sobre o meio ambiente. 
Como destaca Sauer (1998, p. 199) "A paisagem cultural, então, é sujeita à mudança 
pelo desenvolvimento da cultura ou pela substituição de culturas; a linha de dados a partir da 
qual a mudança é medida, tornando-se a condição natural da paisagem." 
Outra característica da paisagem cultural é que não existe igualdade entre as diversas 
paisagens elas são individuais, podendo ter algumas formas em comum, mas no todo elas 
diferem. Sendo assim a paisagem que vemos na área de estudo é única mesmo que existam 
alguns pontos em comum com outras áreas de barragens. 
A paisagem cultural, aqui no trabalho, tem uma relação com os estudos 
socioambientais e a percepção, reafirmando a interação entre a natureza e a sociedade como 
um conjunto indissociável que se relacionam, não sendo vistos como separado, mas como um 
conjunto do todo. Mas para a geografia o que seria percepção? 
A percepção nos estudos da geografia é recente, sendo o seu mais forte defensor Tuan 
em seus livros Topofilia e Espaço e Lugar onde ele nos apresenta o conceito de percepção 
21 
 
 
 
 
com: “...percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade 
proposital, na qual, certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem 
para a sombra ou são bloqueados” (1980, p. 12). 
Assim a percepção tem um papel fundamental na visão de mundo das populações só 
que dentro da sua realidade e da sua cultura, pois como Tuan apresenta em Topofilia onde nos 
mostra várias populações e como é sua percepção do meio em que vive, ou seja, a visão 
socioambiental é inerente a todo indivíduo que se relaciona com o meio. 
Na construção de grandes empreendimentos, os moradores do entorno têm uma 
percepção com mais propriedade sobre as transformações da paisagem e suas perdas e ganhos 
associados, tonando eles um ponto de apoio fundamental para as pesquisas sobre o 
empreendimento e das ações que podem ser tomadas para mitigar os aspectos negativos sobre 
a vida da população que passa por situações parecidas. 
Então a percepção tem um papel forte como subsídio para políticas públicas. Segundo 
Maia e Guedes (2011, p.95): 
 
[...] para pensar políticas públicas verdadeiramente eficazes no abastecimento de 
água de famílias de comunidades rurais do semiárido, deve-se levar em conta a 
percepção das comunidades, de modo que a elaboração de projetos seja ajustada às 
perspectivas e às necessidades/especificidades locais. 
 
Os autores falam do abastecimento de água, todavia é facilmente transponível para os 
barramentos onde é necessário envolver as populações nas tomadas de decisões que tratam do 
impacto nas vidas dessas, conseguindo suas opiniões e sugestões que são imprescindíveis para 
que novas informações sejam obtidas, reflexões realizadas e posteriormente sejam tomadas 
decisões eficazes. 
Somado a percepção a seguir apresentaremos uma breve síntese sobre as barragens no 
contexto brasileiro para assim fechar o conjunto de conceitos que estruturam a pesquisa. 
 
 
2.3 Barragens sob a ótica da Geografia 
 
 
As barragens são interferências humanos nos cursos de rios, que transformam a 
paisagem, a barragem mais antiga conhecida hoje é Sadd el-Kafara, localizada ao Sul do 
Cairo, no Egito, a qual foi construída a aproximadamente de 4800 a.C com a finalidade de 
represar as cheias do rio Nilo para impedir enchentes nos templos da região. 
22 
 
 
 
 
Para a legislação brasileira as barragens são definidas pelo Art. 2º da lei Nº 12.334, de 
20 de setembro de 2010 barragem é: 
 
(...) qualquer estrutura construída dentro ou fora de um curso permanente ou 
temporário de água, em talvegue ou em cava exaurida com dique, para fins de 
contenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e 
sólidos, compreendendo o barramento e as estruturas associadas; (Redação dada 
pela Lei nº 14.066, de 2020) 
 
Essas barragens têm um reservatório que, segundo a mesma lei, é a acumulação 
artificial de água, substâncias líquidas ou de uma mistura de substâncias líquidas e sólidas e é 
geralmente esse acúmulo que impacta mais a paisagem e a vida das populações como no caso 
aqui estudado. 
No Brasil, as barragens construídas têm como finalidades o acúmulo de água para usos 
múltiplos, geração de energia elétrica, contenção de cheias, depósito final ou temporários de 
rejeitos de mineração e de resíduos industriais. Os lagos formados por essas estruturas trazem 
impactos ao seu entorno como expõe Tucci, Hespanhol e Netto (2001) 
 
Adicionalmente, as barragens sofrem uma pressão muito grande da área ambiental 
devido a problemas, tais como: inundação de áreas produtivas, deslocando um 
grande número de pessoas; modificação da flora e fauna a montante e a jusante do 
reservatório e deterioração da qualidade da água (2001, p. 67). 
 
Guedes (2015, p.13-14) também apresenta os impactos ocasionados pelas barragens 
quando pontuando que elas são causadoras de impactos positivos e negativos a jusante e a 
montante de sua construção, sendo que a montante são relacionados a formação da bacia 
hidráulica e a jusante no escoamento do canal fluvial. 
Para minimizar esses impactos são feitos estudos prévios antes da implantação com o 
objetivo de escolher locais propícios e são feitos planos com a finalidade de mitigar as 
consequências, fazendo também todo um processo de conscientização e esclarecimento da 
população, porém é fácil encontrar muitas queixas das populações sobre o processo. 
Com o crescimento populacional, cada vez mais barramentos são necessários para 
suprimir demanda por energia, por recursos e ou por planejamentos inadequados das cidades e 
comunidades que se instalam, ao longo dos anos, nas margens dos rios, queestão sujeitas a 
inundações periódicas pela invasão do leito do rio e/ou pela impermeabilização dos solos. 
Sendo assim, as soluções das constantes enchentes são cobradas ao poder público, só 
que a resolução para tais problemas são custosas as os cofres públicos como explicitam Tucci, 
Hespanhol e Netto (2001, p. 73) “Depois que o espaço urbano fica densamente ocupado, as 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.334-2010?OpenDocument
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2012.334-2010?OpenDocument
23 
 
 
 
 
soluções disponíveis de controle de enchente são extremamente caras, tais como canalizações, 
diques com bombeamento, reversões, barragens, entre outros.” 
Outro problema grave das barragens no Brasil é a falta de um programa preventivo de 
alerta e defesa civil, o que pode ocasionar impactos ainda maiores a paisagem-populações 
quando condições extremas ocorrem, como foi o caso de Marina-MG em 2015 e em 
Brumadinho-MG em 2019, mostrando assim uma urgência na regulamentação e fiscalização 
dos órgãos competentes em muitas das barragens do país. 
Vale ressaltar que as barragens são geradoras de conflitos e impactos ambientais, 
porém são extremamente necessárias as demandas da sociedade respondendo bem a finalidade 
para a qual foram construídas e os apontamentos presentes nesse trabalho são feitos no 
sentido de trazer tais problemas a tona para que sejam discutidos e que futuras soluções 
possam surgir por parte dos órgãos competentes, das instituições e/ou da sociedade civil 
organizada respondendo parte desse impactos socioambientais gerados pelos reservatórios. 
No capítulo a seguir será apresentada a metodologia de pesquisa utilizada na 
identificação dos impactos no reservatório Tabatinga, detalhando todo o processo em fases de 
desenvolvimento. 
 
 
3 PERCURSO METODOLÓGICO 
 
 
Nesse capítulo serão apresentados os métodos e procedimentos realizados no decorrer 
dessa pesquisa cientifica que iniciou com a sistematização de um projeto de pesquisa, o 
levantamento de dados e de referencial, em seguida por trabalhos de campo de 
reconhecimento e de aplicação de questionários até a sistematização dos resultados e 
discussões. 
O fluxograma a seguir traz um detalhamento de como se deu o processo de pesquisa 
dividindo o processo em quatro fases. 
24 
 
 
 
 
Figura 02- Etapas da pesquisa 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
A pesquisa começou no que o fluxograma coloca como fase inicial onde foi definido o 
tema, objetivos do trabalho e um levantamento inicial de material bibliográfico para 
embasamento teórico metodológico, que no decorrer da pesquisa foi aprofundado. Os 
materiais foram buscados em sua maioria em revistas científicas, sites, e livros. 
Depois teve início a fase de dados onde foi feito um levantamento de dados 
secundários junto a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do 
Rio Grande do Norte (SEMARH), bem como, com a prefeitura municipal de Macaíba nas 
secretárias de educação, infraestrutura, meio ambiente e assistência social para assim construir 
o referencial do trabalho. 
Nesse levantamento junto as secretárias do município, foram encontrados alguns 
obstáculos, pois a prefeitura não dispunha de alguns dados sobre as populações das 
comunidades que eram importantes a essa pesquisa como número de habitantes, renda e 
atividades desenvolvidas fazendo com que fossem buscados junto à comunidade. 
O passo seguinte foi a fase de campo que começou com uma visita as comunidades. 
Realizada no dia 7 de agosto de 2021 com o intuito de fazer um primeiro reconhecimento da 
25 
 
 
 
 
área de estudo e registro fotográfico, durante esse campo foram feitas 7 paradas para uma 
melhor observação. As quatro primeiras paradas foram feitas na comunidade de Betúlia e o 
seu entorno já as quatro últimas foram feitas na comunidade de Cajarana como mostra a 
figura abaixo. 
 
Figura 03- Localização das paradas no campo de reconhecimento 
 
Fonte: Google Earth 
 
A primeira parada foi feita para um reconhecimento da comunidade de Betúlia onde 
foram observadas sua infraestrutura e serviços oferecidos a população. O que mostrou uma 
comunidade pequena com algumas casas fechadas e sem moradores e um pequeno 
aglomerado de casas de taipa nas margens onde reside uma população em condição de vida 
mais precária localizadas no local de cheia do lago. A segunda parada, foi no final da rua que 
agora permite acesso ao lago, mas onde antigamente era o acesso das pessoas a comunidade. 
Aqui foi percorrido também um trecho da margem direita para observar as características e 
condições do lago bem como atividade de pesca do local. Na terceira parada foi observado 
áreas de cultivo e de pastagem e na quarta e última em Betúlia as condições do acesso a 
comunidade. 
Já em Cajarana, a quinta parada foi feita no final da área da comunidade, ponto onde 
terminava o calçamento da comunidade e se inicia o acesso de barro ao reservatório. Nesse 
ponto ficou inacessível a chegada na água, pois o automóvel não conseguiu chegar devido 
más condições da estrada, todavia aqui foi possível ver alguns pescadores indo e vindo em 
suas motocicletas. A sexta parada teve início alguns metros mais acima da anterior e nesta foi 
26 
 
 
 
 
feito um trajeto andando até a sétima e última para da comunidade onde foi observado as 
características das moradias, a infraestrutura da comunidade e os serviços presentes. 
Com essas observações foi definida que o estudo abordaria uma análise qualitativa 
com a finalidade de conhecer a percepção de moradores de duas comunidades rurais do 
município de Macaíba-RN. E para chegar a esse fim foi escolhida a metodologia de 
entrevistas por oferecer vantagem no levantamento de dados de percepção dos moradores. 
Devido a pandemia da Covid-19 foram feitos formulários online ainda no mês de 
agosto de 2021, sua estrutura era bem simples com dez perguntas apenas e foram enviados 
para os residentes das comunidades por e-mail e aplicativos de mensagens. Porém não foram 
obtidas respostas satisfatórias e o alcance foi mínimo, outro problema desses formulários foi 
que a amostra era proveniente de um grupo familiar sendo assim foi considerada insuficiente 
e tendenciosa 
Depois dessa tentativa foi esperado um período para que as pessoas das comunidades e 
o entrevistador tivessem tempo de tomar as duas doses da vacina para então fazer um novo 
esquema que seria aplicado nas comunidades presencialmente, o novo roteiro foi feito um 
questionário estruturado em três partes: divididas em identificação dos entrevistados; a 
percepção deles frente a barragem e a paisagem; seus usos do reservatório e demandas paras 
as comunidades, como mostra a figura 04. 
27 
 
 
 
 
Figura 04- Roteiro de entrevista 
Fonte: Gomes, 2021. 
Ainda dentro da fase de campo do fluxograma, no dia 29 de dezembro de 2021 foram 
feitas as entrevistas nas comunidades. Para participarem da pesquisa os entrevistados 
deveriam ser maiores de 18, terem residência fixa na comunidade e demostrarem interesse em 
participarem da pesquisa após serem informados desses critérios 
A aplicação das entrevistas teve uma duração total de 7 horas com início na 
comunidade de Betúlia as 8h tendo como resultado 12 entrevistas e na comunidade de 
Cajarana foram aplicados mais 23 terminando as 15h. Realizando assim 35 entrevistas, de 
residentes nas comunidades, escolhidas aleatoriamente e que se disponibilizassem a participar 
resultando em uma amostra significativa e suficiente para a análise. 
Na comunidade de Betúlia não foi possível entrevistar todos os moradores, área de 
moradias mais precárias não foram contempladas, pois na região e na comunidade o local é 
conhecido por não apresentava segurança para a realização do trabalho de pesquisa colocando 
assim o entrevistador em risco. 
Para finalizar a fase de campo,a metodologia foi incorporada ao trabalho e com seu 
término iniciou a fase final apresentada no fluxograma de trabalhar os dados obtidos nas 
entrevistas, fazendo o tratamento dos dados para depois organizar e computar em uma 
planilha para sistematizar os resultados. Por fim, foram redigidos os resultados e apresentados 
para a orientadora a fim de fazem correções pertinentes. 
 
 
4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 
 
 
 
A área de estudo deste trabalho é um recorte do município de Macaíba, fazendo-se 
necessária uma breve elucidação das características desse município para uma melhor 
compreensão do contexto no qual estão inseridas as duas comunidades nas quais foram 
realizadas a pesquisa. 
28 
 
 
 
 
4.1 Município de Macaíba 
 
 
O município de Macaíba foi criado pela Lei n° 801 em 27 de novembro de 1977, sua 
trajetória de evolução foi marcada desde o ciclo da cana-de-açúcar e em seu auge apresentava 
um desenvolvimento mais significativo do que a própria capital do estado com destaque na 
produção pecuária e nos engenhos. 
A cidade está localizada a 14 km da capital do estado, limitando-se ao Norte com São 
Gonçalo do Amarante e Ielmo Marinho, ao Sul com Vera Cruz, Boa Saúde e São José de 
Mipibu, ao Leste com Natal e ao Oeste com São Pedro e Bom Jesus tendo um papel de 
influência sobre os municípios menos sendo local de busca de serviços. 
O núcleo urbano do município se desenvolveu as margens do Rio Jundiaí devido a sua 
importância para escoar mercadorias, porém sem planejamento e conhecimento sobre as áreas 
de inundações o que levaria nos anos futuros a muitos transtornos com inundações nos 
períodos chuvosos. 
Localizado numa área de transição entre o litoral e o interior do estado do Rio Grande 
do Norte, apresenta um clima tropical chuvoso, com verão seco e estação chuvosa, sendo que 
os períodos chuvosos abrangem os meses de março a agosto e as temperaturas variam entre a 
máxima de 32,0 °C e mínima de 21,0 °C, segundo dados apresentados pelo Instituído de 
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA) em 2013. 
Quanto a vegetação, foram identificadas Florestas Subperenifólia, Manguezal, 
Tabuleiros Litorâneos e campos de Várzea. Sendo que o bioma de Mata Atlântica se encontra 
bastante degradado, apresentado em grande parte vegetação secundária e campos de cultivo. 
Mas devido a sua posição geográfica voltada em parte para o interior, apresenta também 
machas de espécies do bioma da caatinga. 
Já o relevo do município apresenta uma altitude de menos de 100m sendo composto 
por: Planícies Fluviais (terrenos baixos e planos localizados nas margens dos rios); Tabuleiro 
Costeiros (relevos planos e de baixa altitude localizados nas proximidades ao litoral) e pela 
Depressão Sub-litorânea (terrenos rebaixados localizados entre os Tabuleiros Costeiros e o 
Planalto da Borborema) (IDEMA 2013). 
A geologia local é constituída por rochas do embasamento cristalino de Idade Pré- 
Cambriana Média (1.100 - 2.500 milhões de anos) formado por rochas resistentes como 
anfibolitos, granitos, quartzitos, gnaisses e micaxistos e rochas sedimentares do grupo 
Barreiras de Idade Terciária (7 milhões de anos) composta por areias, arenitos, 
conglomerados, siltitos (IDEMA, 2013). 
29 
 
 
 
 
Dos recursos hídricos do município temos os superficiais com três bacias 
hidrográficas: rios Pirangi, Potengi (onde está inserido o rio Jundiai) e Trairi (conta somente o 
divisor das águas e desnível) e os subterrâneos composto por três aquíferos Barreiras, Aluvião 
e Cristalino (FUNCERN, 2019). 
O município possui 69.467 habitantes, segundo a último censo do Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística (2010), sendo que mais de 36.000 residem na área urbana do 
município e 18.842 na área rural a estimativa para o ano de 2020 é de 81.821 habitantes. O 
município conta com uma área total de 490 km2 (0,92% da superfície estadual), o que 
determina uma densidade demográfica em 2020 de 136,00 hab/km². 
É dentro desse contexto ambiental e social que está inserido o reservatório Tabatinga, 
que será apresentado no tópico a seguir, para assim podermos entender melhor área de 
pesquisa e a transformação da paisagem. 
 
 
4.2 Reservatório Tabatinga 
 
 
O reservatório tabatinga é uma barragem construída no rio Jundiaí (pertencente a 
Bacia do Rio Potengi), na cidade de Macaíba, com a finalidade de conter as cheias cíclicas 
que ocorriam no centro comercial da cidade, essas inundações causavam grandes prejuízos 
financeiros aos comerciantes e aos moradores que viviam nas margens do rio. 
A obra foi demandada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos 
(SEMARH) do governo de Rio Grande do Norte (RN) com início no ano de 2006 e finalizada 
no ano de 2011. A técnica utilizada para construção foi a de terra homogênea quando é 
utilizado solo compactado como visto na figura 05. 
30 
 
 
 
 
Figura 05- Vista da estrutura do reservatório 
 
Fonte: site da Marquise Engenharia 
 
Sua bacia hidráulica tem uma área de 1.090,00 ha e capacidade máxima para 
89.835.677,53 m³, nos últimos anos devido à seca seu volume encontra-se bem reduzido. 
Durante a sua construção a barragem inundou áreas de cultivo, fazendas e uma 
pequena comunidade chamada Sucavão, fazendo necessária a desapropriação das terras. A 
compensação pelas perdas, feita pelo governo do estado, foi a indenização dos moradores que 
precisaram recomeçar suas vidas em outras locais. 
Compensação essa, que muitos moradores dizem que não foram de acordo com o valor 
de mercado e algumas propriedades parcialmente inundadas em que os proprietários seguem 
receberam indenização como relatado por um dos residentes da área que teve 5 ha cobertos 
pela água. 
Um problema identificado no reservatório foi a presença de lixo doméstico e detritos 
de pescados, principalmente na margen direita onde estão as duas comunidades, como é visto 
na figura 06. 
31 
 
 
 
 
Figura 06- Descarte e queima de lixo doméstico nas margens do reservatório 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
Outro problema é apontado por Guedes (2015, p.86) em sua pesquisa sobre a 
qualidade da água do reservatório apresenta a conclusão que: o reservatório encontrasse 
imprópria para o consumo humano, pois apresenta metais toxicológicos como Al, Cd, Ni e Pb 
que são cancerígenos ao homem e tem efeito cumulativo ao longo dos anos. Ou seja, não só 
abastecimento de água, mas também o consumo de pescados e a irrigação de plantas pode 
trazer ricos a saúde das pessoas a longo prazo. 
Além dessas questões, que modificou a paisagem e a qualidade da água, em duas 
comunidades na margem direita da barragem ainda são sentidos efeitos dessa obra sobre as 
pessoas e seu cotidiano a seguir trarei uma breve apresentação das comunidades e os efeitos 
sobre as mesmas. 
 
4.3 Comunidades 
 
 
As comunidades Betúlia e Cajarana estão localizadas na margem direita do 
reservatório, a montante, e se caracterizam por serem pequenos povoados rurais compostas 
em grande parte por pessoas que lá vivem há muitos anos e que criaram uma identidade com a 
terra, pois nasceram e cresceram na localidade. 
Na figura 07 temos a comunidade Betúlia na parte superior esquerda e Cajarana no 
centro. 
32 
 
 
 
 
Figura 07- Localização das comunidades de Betúlia e Cajarana 
Fonte: Google Earth 
 
As principais atividade desenvolvidas nas comunidades são a pecuária, agricultura e 
pesca. A pecuária é desenvolvida principalmente em médias propriedades onde os animais são 
criados em regime extensivo, consumido pastagem natural e em alguns casos água da 
barragem e a finalidade do rebanho é o abate para o consumo de carne. A figura 08 apresenta 
um exemplo de criação de gado nas imediações de Betúlia. 
 
Figura 08- Criação de bovinos nas proximidades de Betúlia 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
33 
 
 
 
 
Já a agricultura é feita principalmente de forma extensiva com pouca ou quase 
nenhuma aplicaçãode tecnologia e geralmente a plantação é feita no período chuvoso para 
aproveitar as chuvas, pois poucas são as propriedades que usam irrigação. Os cultivos são 
predominantemente de macaxeira, milho e feijão para venda no mercado local ou alimentação 
dos moradores, como é vista na foto tirada na comunidade de Cajarana (figura 09). 
 
Figura 09- Plantação de feijão em Cajarana 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
 
Por fim, a pesca é feita pelos moradores para consumo e ou venda do pescado dentro 
das próprias comunidades, o que tem se intensificado com situação econômica do Brasil a 
partir do ano de 2019 e além dos moradores algumas pessoas têm vindo pescar no lago da 
barragem de outros municípios e até ou estados próximos como da Paraíba. 
Outra fonte de renda das comunidades vem das aposentadorias. A maioria dos 
residentes em Betúlia são idosos já Cajarana tem uma população relativamente mais jovem 
com mais adultos, porém a presença de aposentados ainda é bem significativa. A seguir serão 
descritas as duas comunidades. 
 
 
4.3.1 Betúlia 
 
 
Betúlia é uma pequena comunidade rural as margens do Reservatório Tabatinga com 
aproximadamente 30 residências dispostas em uma rua sem calcamento, a maioria delas no 
lado esquerdo. Seu acesso é feito por uma estrada de barro aberta durante a construção do 
34 
 
 
 
 
barramento, pois o trajeto anterior foi coberto pelo lago. Como é vista nessa imagem de 
satélite (figura 10). 
 
Figura 10- Comunidade de Betúlia 
 
Fonte: Google Earth, 2021. 
 
 
O percurso anterior tinha 4,1 km da entrada até a comunidade, já novo percurso tem 
11,8km o que significa um aumento de 7,7 km no percurso dos moradores, como apresentado 
na figura 11. 
35 
 
 
 
 
Figura 11- Mudança do acesso a Betúlia 
 
Fonte: Google Earth, 2021. 
 
E além do aumento de percurso, como a estrada é de barro, durante o período de 
chuvas a área fica com muitos atoleiros dificultando o trânsito dos residentes. Outro ponto é 
que a comunidade não tem iluminação na via de acesso, a foto abaixo mostra um trecho do 
acesso (figura 12). 
 
Figura 12- Foto do novo acesso a comunidade de Betúlia 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
A comunidade conta com uma pequena capela, um centro social de reunião e um posto 
de saúde mostrado na figura 13. Além disso, conta com serviço de coleta de lixo e de 
36 
 
 
 
 
transporte escolar para levar as crianças e adolescentes para as escolas na comunidade de 
Canabrava, Lagoa Seca e Traíras. 
 
Figura 13- Foto da igreja, centro social e posto de saúde da comunidade 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
 
4.3.2 Cajarana 
 
 
A comunidade de Cajarana tem uma rua principal, com sete ruas secundárias 
interligadas sendo caracterizada por ser uma área de expansão. Seu crescimento foi 
significativo após a construção da barragem, pois muitos dos moradores que foram 
desapropriados, devido a inundação das propriedades, foram construir suas novas residências 
neste local. Como mostram as figuras 14 e 15. 
37 
 
 
 
 
Figura 14- Cajarana em junho de 2008 
 
Fonte: Google Earth, 2021. 
 
Figura 15- Cajarana em julho de 2021 
 
Fonte: Google Earth, 2021. 
 
A comunidade conta com iluminação pública, pequenos comércios, uma igreja 
católica, duas protestantes, ruas e o acesso com pavimentação o que, junto com a estrutura das 
casas, mostra que nela os moradores têm uma renda superior a outra comunidade e bem como 
acesso a mais serviços e infraestrutura, como mostra a figura 16 mostra. 
38 
 
 
 
 
Figura 16- Comunidade de Cajarana 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
A comunidade não tem escola e prefeitura fornece o transporte para as crianças e 
adolescentes irem para as escolas em Canabrava e Traíras. O serviço de coleta de lixo ocorre 
três vezes por semana que, segundo alguns moradores, passa na rua principal, mas não nas 
ruas secundaria. 
 
 
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 
 
 
A percepção é uma ferramenta importante para se avaliar impactos sobre a vida das 
populações, pois quem melhor para relatar a interferência sofridas no meio ambiente que os 
residentes da região? E somado a isso também se mostra um dos melhores recursos para o 
reconhecimento e mitigação desses impactos. 
As entrevistas aplicadas nas comunidades de Betúlia e Cajarana, totalizaram um 
número de 35 residentes adultos entrevistados, sendo 12 desses na comunidade de Betúlia 
totalizando 34% da amostra total e Cajarana com 23 representado um percentual de 66% 
como mostra o gráfico 01. Essa diferença no percentual ocorre, pois, as comunidades 
apresentam uma diferença na quantidade de moradores sendo Betúlia com menor residentes e 
Cajarana em crescimento. 
39 
 
 
 
 
Gráfico 01- Total de entrevistados por comunidade 
 
Fonte: Fonte: Gomes, 2021. 
 
Já a característica por gênero mostrou uma maioria de pessoas que se denominam do 
sexo feminino sendo 21 das entrevistas ou um percentual de 60% e o de pessoas do gênero 
masculino foram 14 representando um percentual de 40% como demostrado a seguir no 
gráfico 2. 
 
Gráfico 02- Divisão dos entrevistados por gênero 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
Quanto aos tipos de uso da barragem na representação total da amostra foi percebido 
um equilíbrio com 19 entrevistados, ou 54%, dizendo que não utiliza e inclusive muitos 
falaram que nunca foram até a barragem desde a sua construção. Já os outros 16 dos 
40 
 
 
 
 
moradores falaram que usam, como mostra o gráfico 3, para atividades com destaque para a 
pesca. 
 
Gráfico 03- Uso do reservatório 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
Quanto a idade dos entrevistados na amostra total, temos um percentual grande de 
idoso sendo 15 dos entrevistados o que representa 43%, seguindo pelo percentual maior de 
adultos representando 51% dos entrevistados e poucos jovens entrevistado no total, só 2 ou 
percentual de 6%. Com mostra no gráfico 2. Porém vale ressaltar que as comunidades têm 
uma variação que será apresentada melhor separadamente. 
 
Gráfico 04- Divisão da amostra por idade 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
41 
 
 
 
 
Outra característica observada foi a escolaridade, muitos dos entrevistados acima de 
40 anos tinham somente o ensino fundamental incompleto e alguns nunca chegaram a ir para 
a escola o que evidencia a falta de permanecia de uma parte considerável da população rural 
nas escolas durantes as décadas passadas, sendo relatado por eles a necessidade de trabalhar 
para ajudar a sustentar a família bem como a distância das escolas de seu local de moradia. 
Uma análise importante que precisar ser feita é expor cada comunidade, pois dentre as 
informações apresentados na amostra total existem peculiaridades para cada uma das duas 
localidades que são relevantes para os resultados da pesquisa. 
No caso de Betúlia, 5 dos entrevistados se identificaram do gênero masculino e 7 do 
gênero feminino como mostra o gráfico 5. Já quanto a se residiam ou não no lugar durante a 
construção da barragem 8 dos mesmos disseram que moraram lá desde o seu nascimento, e 4 
falaram que não, com mostra o gráfico 6, sendo necessário falar que três apresentaram a 
ressalva de que saíram da comunidade por um período e posteriormente retornaram. 
 
Gráfico 05- Divisão por gênero em Betúlia 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
42 
 
 
 
 
Gráfico 06- Se residiam em Betúlia durante a construção da barragem 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
Sobre os tipos de uso que os moradores faziam do reservatório, 8 dos moradores 
disseram que não fazem uso do reservatório e que tem pouco um nenhum contato no dia a dia. 
Outros 3, disseram que fazem pesca ocasional para consumo família e só um dos 
entrevistados disse que usa o reservatório para lazer, como apresenta o gráfico 7. 
 
Gráfico 07- Tipos de uso do reservatório 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
Quanto a escolaridade, gráfico 8, os moradores de Betúlia tem uma escolaridade baixa 
com 6 dos entrevistados com ensino fundamental incompleto representado 50% da amostra 
feita na comunidade, 2com ensino fundamental completo e 2 com ensino médio completo 
cada um representado 17%, por fim 1 graduado e 1 pós-graduado com percentual de 8% cada. 
43 
 
 
 
 
 
Gráfico 08- Escolaridade dos residentes em Betúlia 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
A comunidade de Cajarana apresenta uma dinâmica um pouco diferente da de Betúlia 
em alguns aspectos. Na divisão dos entrevistados por gênero, gráfico 9, a amostra tem, assim 
como em Betúlia, um percentual maior de pessoas que se denominam do sexo feminino sendo 
61% ou 14 moradoras e do sexo masculino 39% num total de 9 moradores. Essa disparidade 
maior ocorreu, pois, em algumas das residências os moradores não se sentiram seguros em 
falar e chamavam suas esposas para responder a entrevista. 
 
Gráfico 09- Total de entrevistados por gênero em Cajarana 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
44 
 
 
 
 
Quando indagados se residiam no local durante a construção do reservatório, gráfico 
10, 9 entrevistados ou 39% responderam que sim e que viviam desde que nasceram ou foram 
muito pequenos, outros 39% disseram que não residiam e que se mudaram após a construção 
e 5 moradores ou 22% dos entrevistados falaram que foram residentes das áreas 
desapropriadas e com a indenização foram construir suas novas residências na Comunidade 
de Cajarana o que pode explicar em parte o crescimento da comunidade após a construção do 
reservatório. 
 
Gráfico 10- Se residiam em Cajarana durante a construção do reservatório 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
Quanto aos tipos de uso, representado no gráfico 11, dos entrevistados 11 ou 48% dos 
residentes de Cajarana disseram que não usam o reservatório, 22% falaram que o utilizam 
para pesca, 17% falaram que consomem o peixe do reservatório por meio de compra, 9% 
usam para o lazer e 4% usam para a dessedentação do seu pequeno rebanho de gado. 
45 
 
 
 
 
Gráfico 11- Tipos de uso reservatório 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
A escolaridade dos residentes da comunidade, gráfico 12, é baixa com 57% dos 
entrevistados que não concluíram o ensino fundamental, 22% tem o ensino médio completo, 
13% nunca chegaram a ir para a escola, 4% tem o ensino fundamental completo e o mesmo 
percentual de 4% com ensino médio completo. 
 
Gráfico 12- Escolaridade dos moradores de Cajarana 
 
Fonte: Gomes, 2021. 
 
Quando perguntados sobre as transformações da paisagem muitos dos moradores de 
Cajarana não souberam responder ou disseram que não mudou nada o que pode ser justificado 
46 
 
 
 
 
pelo distanciamento da comunidade de reservatório e pelo percentual alto de residentes que 
dizem não usar. 
Mais alguns moradores explicitaram que a mudança da está ligada a presença de água 
na paisagem: 
 
“Ficou mais bonito e virou ponto de referência” (Cajarana, feminino, 30 anos); 
“Mudou e ficou mais bonita por causa da água” (Cajarana, feminino, 68 anos); 
“Ficou mais bonito pela água” (Cajarana, feminino, 23 anos); 
“Mudou pouco, pois era mais bonito no início” (Cajarana, feminino, 70 anos); 
 
Já em Betúlia mais moradores relataram que a paisagem mudou mais também ligada a 
presença da água do reservatório 
 
“Mudou muito, pois hoje tem bastante água” (Betúlia, feminino, 68 anos); 
“Mudou a presença de água na seca” (Betúlia, feminino, 62 anos); 
“Sim mudou, pois a paisagem ficou bonita” (Betúlia, masculino, 46 anos); 
 
Quando perguntados se as comunidades tiveram ganhos com a barragem foram 
apresentados muitos pontos de vista diversos. Uma parte relatou que o benefício foi para os 
pescadores e as pessoas de fora que vem pescar o que mostra que a maioria dos morados não 
se consideram como beneficiários do reservatório: 
 
“Não teve melhora para a comunidade, só para os ribeirinhos.” (Cajarana, 
masculino, 54 anos); 
“Boa para a alimentação das pessoas de fora” (Betúlia, masculino, 46 anos); 
“Teve benefício para as pessoas de fora que vendem o peixe.” “(Betúlia, feminino, 
46 anos); 
“Para a pesca para a comunidade e de outros lugares” (Cajarana, masculino, 55 
anos); 
 
Outra parte dos entrevistados disseram que é muito importante no sustento das 
famílias carentes que moram na região e que com a inflação dos últimos anos cada vez mais 
pessoas tem utilizado pesca no reservatório como forte de alimentação de venda para suprir as 
necessidades da família. 
Quando perguntados sobre os efeitos negativos a comunidade os entrevistados de 
Betúlia apontaram o novo acesso a comunidade como um problema, pois aumentou a 
distância e que durante os períodos de chuva, por ser uma estrada de barro cria muitos pontos 
de atoleiros dificultando o acesso dos mesmos. 
 
“Acesso a ficou muito ruim” (Betúlia, feminino, 60 anos); 
“Ficou muito longe para ir a cidade” (Betúlia, feminino, 66 anos); 
“A estrada ficou ruim e longe e a comunidade ficou sem transporte.” (Betúlia, 
masculino, 46 anos); 
47 
 
 
 
 
Outro ponto visto como negativo foi a saída de muitos moradores das regiões 
próximas a comunidade que, somado a novo acesso mais distante, inviabilizou uma linha de 
transportes que os levavam para o centro da cidade fazendo com que os moradores que não 
tenham veículos tenham dificuldade de conseguir um transporte e tendo que pagar muito caro 
para se locomover. 
Já em Cajarana alguns entrevistados, o que inclui os realocados, percebem a 
realocação dos moradores como algo positivo, pois segundo eles muitas das casas nas 
propriedades antigas eram ruins e com as indenizações eles puderam construir moradias com 
melhor estrutura dando mais segurança e conforto para esses moradores. 
Em Cajarana a maioria dos entrevistados disseram não ter impactos negativos para a 
comunidade, mas alguns relataram estranhamento pela presença de pessoas de fora 
principalmente na segurança das comunidades como um ponto negativo do reservatório 
demostrando preocupação com as pessoas que passam pela comunidade para pescar todos os 
dias. 
 
“Atrai muitas pessoas que os moradores não conhecem.” (Cajarana, feminino, 30 
anos); 
“Vem muitas pessoas de fora que assusta os moradores.” (Cajarana, feminino, 23 
anos); 
 
Em Cajarana alguns relatos de que os moradores tinham interesse em utilizar o 
reservatório para a agricultura e descendentação de animais, porém são impedidos por grandes 
proprietários da região com alguns relatando que os maiores beneficiados foram os grandes 
fazendeiros e não as suas comunidades. 
Quando perguntados nas duas comunidades se eles percebem alguma alteração no dia 
a dia a maioria disse que não perceberam efeitos somente um dos moradores de Betúlia que 
falou sobre a sua dificuldade em chegar no centro da cidade. 
Já a percepção nas duas comunidades sobre a qualidade da água, alguns disseram não 
saber informar, outros falaram que não serve para o consumo humano por ser salobra, salgada 
ou poluída, mas para a agricultura e para a criação de bovinos eles consideram adequada. 
 
“A água é suja, pois os pescadores jogão os restos de peixes e usam para suas 
necessidades.” (Betúlia, feminino, 83 anos); 
“A água é imprópria pois é usada como banheiro pelos pescadores.” (Betúlia, 
masculino, 57 anos) 
“Boa só para plantio e animais” (Cajarana, feminino, 49 anos) 
 
Nesse ponto, alguns dos moradores comentaram que a poluição da água seria 
decorrente das antigas fossas negras cobertas pelo lago e outros atribuíram a culpa da 
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poluição aos pescadores que utilizam o reservatório e não estariam descartando os resíduos de 
forma adequada, demostrando um certo estranhamento entre os moradores e os pescadores. 
Por fim os moradores foram indagados sobre o que precisaria ser melhorado nas 
comunidades, em Betúlia falaram da necessidade de melhorar a qualidade do acesso a 
comunidade seja fazer o calçamento ou que o maquinário compactasse o solo, outra 
reinvindicação seria a volta da atividade no posto de saúde que está sem médico segundo os 
moradores desde o início da pandemia o que faz eles se terem de se deslocar para acomunidade de Canabrava para ter atendimento. 
Na comunidade de Cajarana, as necessidades da comunidade foram um posto de saúde 
para que eles não precisem se deslocar para receber atendimento, escola para as crianças que 
são atendidas em outras comunidades, espaço de lazer para a recreação da população, melhora 
no abastecimento de água, centro social para as mulheres e os pescadores e policiamento. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Com mais de uma década de construção do Reservatório Tabatinga, podemos afirmar 
que ele cumpre bem o objetivo pelo qual foi feito: represar as enchentes provocadas pelas 
cheias cíclicas do Rio Jundiai, porém o centro da cidade, em momentos de precipitação 
intenção, tem apresentados pontos de alagamento o que demandara outras soluções de 
drenagem. 
Na área do entorno do reservatório, os conflitos da população com este continuam a 
causar problemas para os moradores e a degradação do Rio Jundiaí é evidente não só no local 
estudado, mas em vários pontos onde a presença de aglomerações como no centro da cidade. 
A degradação ambiental é visível no recorte aqui estudado, com a presença do lixo, 
um fator bem marcante na paisagem, sendo necessário a conscientização dos moradores e 
usuários sobre a destinação correta dos resíduos, bem como, faz-se necessário uma limpeza da 
área para a retirada desses materiais que já se encontram no local. 
Outro ponto importante, seria o aprofundamento dos estudos iniciados por Guedes 
(2015) para fazer uma nova análise sobre a presença dos metais pesados e se eles têm algum 
impacto a saúde dos moradores que utilizam do reservatório para consumo, até mesmo para 
garantir que será possível a utilização do reservatório futuramente para irrigação e lazer como 
a prefeitura da cidade tem cogitado ao longo do último ano. 
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Já nas comunidades, é perceptível que a maioria dos moradores não utilizam o 
reservatório, embora poderiam se beneficiar da sua proximidade para a agricultura e a pesca 
como alguns já fazem. Esse tipo de uso poderia melhorar a renda das populações da região e 
para abastecimento do mercado local. 
Na comunidade de Betúlia, em decorrência da construção do reservatório os 
moradores têm sofrido com as condições do novo acesso e a falta de transporte para a 
realização de suas atividades fora da área em que vivem como saúde, comércio e educação. 
Fazendo necessário uma análise por parte da prefeitura do município para mitigar essa 
dificuldade. 
Em Cajarana, os moradores colocaram como o principal ponto negativo a presença de 
pessoas de outros locais que passam dentro da comunidade para pescar no reservatório. 
Causando estranhamento e sensação de insegurança que somado aos arrombamentos das 
residências fez com que a maioria deles colocassem grades em janelas e portas de suas casas o 
que mudou de forma marcante a paisagem do que seria a tranquilidade de uma área rural. Para 
os próprios moradores a solução para esse problema seria a presença de policiamento no local 
mesmo que em dias alternados. 
Na percepção dos residentes as comunidades têm muitas demandas a serem sanadas e 
muitos outros estudos podem ser feitos na área para entender melhor a relação entre a 
paisagem cultural, materializada a partir do reservatório, e a vida das populações no entorno 
do Barragem de Tabatinga. 
 
 
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