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ATUAÇÃO DO
FISIOTERAPEUTA
EM VENTILAÇÃO
MECÂNICA
e-book
índice
Fundamentos da ventilação mecânica .............................. 3 
Modos de ventilação mecânica ............................................ 6 
Intervenções fisioterapêuticas 
na ventilação mecânica ........................................................ 9
Teste de respiração espontânea ....................................... 11
Ventilação com pressão de suporte (PSV) .............. 11 
Ventilação mandatória intermitente .............................. 12
Reabilitação pulmonar 
e orientações para alta hospitalar .................................... 13
Considerações finais ....................................................... 15
A Artmed ......................................................................... 16
Referências ..................................................................... 17
3
O suporte ventilatório artificial, nomenclatura mais atual adotada para a ventilação mecânica 
(VM), permite o tratamento de pessoas com insuficiência respiratória aguda ou crônica agudi-
zada. Esse recurso mantém o complexo equilíbrio necessário para fornecer suporte respiratório 
eficaz e, ao mesmo tempo, minimizar o risco de lesão pulmonar induzida pela ventilação. 
A VM é uma intervenção que salva vidas e é comumente usada em unidades de terapia intensiva. 
No entanto, a ventilação inadequada pode levar a complicações, incluindo danos pulmonares. 
Geralmente, a VM deve ser considerada quando existem sinais (clínicos ou laboratoriais) de que 
o paciente não consegue manter as vias respiratórias desimpedidas ou a oxigenação e ventila-
ção adequadas. 
A estratégia consiste em: 
• manter a hematose com a correção da hipoxemia e da acidose respiratória associada à hi-
percapnia; 
• reduzir a demanda da musculatura ventilatória, bem como reverter ou evitar a fadiga da mus-
culatura em condições em que a demanda metabólica se encontra elevada; 
• reduzir o desconforto, contribuindo para a realização de estratégias adjuvantes. 
O suporte ventilatório é dividido em invasivo e não invasivo. Em ambas as situações, há a apli-
cação de pressão positiva nas vias aéreas. A diferença está na interface utilizada: enquanto 
na não invasiva há uma máscara que é colocada no rosto do paciente para a aplicação da 
pressão, na ventilação mecânica invasiva utiliza-se um dispositivo na via aérea do paciente 
(oro ou nasotraqueal, ou uma cânula de traqueostomia). DBIs pode levar à considerável morbidade 
e mortalidade. 
FUNDAMENTOS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA 
4
A entrada e saída de ar dos pulmões ocorre através das alterações de três elementos (volume, 
fluxo e pressão) no sistema respiratório. Os equipamentos de VM movem os gases através das 
vias aéreas, enchendo os pulmões com uma quantidade de volume de ar. Esse volume se deslo-
ca em função da diferença de pressão entre a via aérea superior e os alvéolos, e a sua magnitude 
e duração são determinadas pelo profissional. 
O gradiente de pressão necessário para ventilar é aquele capaz de vencer a soma das pressões 
resistivas (movimento do gás) e das pressões elásticas (pressões para enchimento e distensão 
dos alvéolos). Neste ar, a fração inspirada de oxigênio (FiO2) é a tensão de O2 que pode variar 
de 0,21 a 1,0 e tem como objetivo obter uma taxa arterial de O2 (pressão parcial de oxigênio no 
sangue arterial – PaO2). 
O processo inspiratório fisiológico desencadeia uma pressão intrapleural negativa que cria um 
gradiente de pressão entre a atmosfera e os alvéolos, resultando em fluxo inspiratório. Na VM, 
o gradiente de pressão resulta da pressão aumentada (positiva) da fonte de ar. A pressão expi-
ratória final representa a pressão total necessária para empurrar um volume de gás para dentro 
do pulmão e é composta por pressões resultantes da resistência ao fluxo inspiratório (pressão 
resistiva), do rechaço elástico do pulmão e da parede torácica (pressão elástica), e da pressão 
alveolar presente no início da respiração (PEEP). 
Portanto, a pressão resistiva é o produto da resistência do circuito e do fluxo de ar. No paciente 
mecanicamente ventilado, a resistência ao fluxo de ar ocorre no circuito do respirador, no tubo 
endotraqueal e, mais importante, nas vias respiratórias do paciente. 
Ainda, é necessário ajustar a velocidade com que o ar é enviado ao sistema respiratório do pa-
ciente (fluxo inspiratório), o tipo de onda de fluxo (quadrada, sinusoidal) e a frequência (ciclos 
5
Além disso, a diferença entre a pressão de platô e a PEEP não deve exceder 15cm H2O para evi-
tar o colapso pulmonar e garantir a troca gasosa adequada. A força de elasticidade resulta da 
resistência elástica dos pulmões e da parede torácica (elasticidade) combinada com o volume 
de gás fornecido. 
Quando há maior rigidez dos pulmões (como na fibrose pulmonar) ou restrição da parede torá-
cica ou do diafragma (como na ascite tensa ou obesidade maciça), a força de elasticidade para 
um determinado volume aumenta. Devido à relação inversa entre elasticidade e complacência, 
uma elasticidade elevada equivale a uma baixa complacência. 
Normalmente, a pressão final expiratória nos alvéolos é igual à pressão atmosférica. Entretanto, 
se os alvéolos não se esvaziam completamente devido à obstrução das vias respiratórias, à limi-
tação do fluxo de ar ou ao tempo expiratório reduzido, a pressão final expiratória pode ser posi-
tiva em relação à atmosférica. Esse fenômeno é conhecido como PEEP intrínseca ou autoPEEP, 
para distingui-lo da PEEP terapêutica aplicada externamente, ajustada no respirador ou através 
de uma máscara que aplica pressão positiva ao longo do ciclo respiratório. 
Qualquer aumento na pressão expiratória final (por exemplo, >25cm H2O) indica a necessidade 
de medir a pressão inspiratória final (pressão de platô) através de uma manobra de retenção no 
final da inspiração, para determinar as contribuições relativas das pressões resistiva e elástica. 
Durante essa manobra, a válvula de expiração é mantida fechada por 0,3 a 0,5 segundos adicio-
nais após a inspiração, retardando a expiração. Durante esse período, a pressão nas vias res-
piratórias diminui o seu valor máximo à medida que o fluxo de ar cessa. A pressão inspiratória 
final resultante representa a pressão elástica quando a PEEP é subtraída (assumindo-se que o 
paciente não está realizando contrações musculares inspiratórias ou expiratórias ativas no mo-
mento da medição). 
A diferença entre a pressão máxima e a pressão de platô é a pressão resistiva. Uma pressão re-
sistiva elevada (por exemplo, >10cm H2O) sugere dobra do tubo endotraqueal ou obstrução por 
secreções. Pode sugerir também a presença de massa intraluminal ou broncoespasmo, e pode 
estar relacionada com menor complacência pulmonar em função de edema, fibrose ou atelecta-
sia, extensos derrames pleurais, pneumotórax, limitação no movimento da caixa torácica como 
deformidades, lesões por queimadura, ascite, gravidez ou obesidade e volume corrente muito 
grande para a quantidade de pulmão sendo ventilado. 
6
Existem vários modos de ventilação mecânica invasiva, cada um com características espe-
cíficas que se adaptam às necessidades clínicas do paciente. Aqui estão alguns dos modos 
mais comuns:
• Ventilação Controlada a Volume (VCV): neste modo, o ventilador fornece um volume cor-
rente predeterminado a cada ciclo respiratório, independentemente do esforço inspiratório do 
paciente. 
• Ventilação Controlada a Pressão (PCV): neste modo, o ventilador mantém uma pressão ins-
piratória predeterminada durante a fase inspiratória. O volume corrente pode variar dependen-
do da complacência pulmonar e da resistência das vias aéreas. 
• Ventilação Mandatória Intermitente Sincronizada (SIMV): este modo combina ciclos contro-
lados pelo ventilador com ciclos respiratórios espontâneos do paciente. O ventilador fornece 
um número predeterminado de respirações por minuto (frequência mandatória). Entre essas 
respirações, o paciente pode respirar espontaneamente.• Ventilação com pressão de Suporte (PSV): neste modo, o ventilador fornece suporte inspira-
tório ao paciente durante a respiração espontânea. O paciente inicia a respiração e o ventilador 
fornece um suporte de pressão inspiratória ajustável. 
• Ventilação Assistida Controlada a Pressão (PACV): similar à PCV, mas com a capacidade de 
o paciente iniciar uma respiração assistida, onde o ventilador sincroniza para fornecer suporte 
de pressão. 
• Pressão de Suporte Proporcional (PSV): neste modo, o ventilador fornece suporte inspirató-
rio proporcional ao esforço respiratório do paciente. Quanto maior for o esforço, maior será o 
suporte de pressão fornecido. 
• Ventilação de Suporte Adaptativo (VSA): este modo estabelece uma forma de ventilação 
minuto baseada em um sistema fechado de controle paciente-ventilador. O volume minuto 
estabelecido pelo ventilador é atingido por meio da frequência respiratória ideal e da menor 
PI possível, fornecendo o VC calculado pelo equipamento e otimizando o padrão ventilatório. 
• Biphasic Positive Airway Pressure (BiPAP): este modo utiliza duas pressões diferentes, uma 
para a inspiração e outra para a expiração, oferecendo suporte respiratório ao paciente. 
MODOS DE VENTILAÇÃO MECÂNICA 
7
Já a VM não invasiva (VMNI) envolve o uso prático e de baixo custo da pressão positiva (VMNI-
PP) nas vias aéreas. Trata-se de um tipo de ventilação mais utilizado nos centros hospitalares, 
sendo necessário apenas um ventilador de pressão positiva e uma interface para acoplar o pa-
ciente. 
É o tipo de suporte ventilatório mais usado em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crô-
nica (DPOC), com acidose respiratória e no desmame da ventilação mecânica invasiva em pa-
cientes hipoxêmicos. Alguns estudos apontam a VMNI como alternativa à ventilação mecânica 
invasiva (VMI) para pacientes em insuficiência respiratória aguda (IRpA) e DPOC, na tentativa de 
reduzir o tempo de intubação. Também é uma opção para o paciente com doenças pulmonares 
restritivas e DPOC no uso domiciliar. 
As indicações da VMNI incluem pacientes com:
• doenças neuromusculares; 
• deformidades na caixa torácica; 
• asma grave; 
• falência diafragmática; 
• edema agudo de pulmão cardiogênico; 
• alterações respiratórias com hipoxemia; 
• lesão pulmonar aguda; 
• desmame precoce e retirada da VM, apneia 
obstrutiva do sono e situações em que o pa-
ciente opta por não intubar.
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O III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica considera outros requisitos para o uso da VMNI: 
Outra indicação é o uso da VMNI em cuidados paliativos, uma vez que o seu uso reduz a neces-
sidade de morfina para aliviar a dispneia, com boa aceitação entre os pacientes. Como critérios 
para a interrupção da VMNI, destacam-se: 
Em uma publicação recente, recomenda-se a aplicação da VMNIPP em pacientes com DPOC 
para prevenir a acidose respiratória aguda, evitar a intubação e como medida preventiva contra a 
necessidade de suporte invasivo em casos de acidose respiratória grave, destacando-se o modo 
bilevel como o mais indicado. 
Da mesma forma, a modalidade com dois níveis pressóricos se adapta bem a pacientes com 
edema pulmonar cardiogênico com redução de pós-carga ventricular esquerda. Nos pacientes 
imunodeprimidos com insuficiência respiratória aguda, há a indicação para melhora do esforço 
respiratório em casos leves a moderados. 
A prevenção de atelectasias e a melhora da ventilação pulmonar podem ser atingidas com o uso 
de CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) em pacientes com insuficiência respiratória 
aguda após procedimento cirúrgico e em pacientes com trauma no tórax. O uso é indicado quan-
do sugestivo de melhora do desconforto respiratório e dor torácica. 
• a cooperação do paciente perante a técnica empregada; 
• o paciente ser capaz de manter a permeabilidade da via aérea superior; 
• a integridade dos mecanismos de deglutição; 
• a capacidade de mobilizar secreções em pós-operatório imediato, no desmame precoce 
e na insuficiência respiratória aguda hipoxêmica. 
• necrose facial; 
• sangramento nasal; 
• hematomas no topo do nariz; 
• maceramento da pele; 
• distensão abdominal; 
• aspiração de conteúdo gástrico; 
• hipoxemia transitória; 
• ressecamento nasal/oral; 
• lesão de conjuntiva; 
• conjuntivite; 
• barotrauma; 
• confusão mental; 
• hipercapnia; 
• arritmia cardíaca; 
• parada cardiorrespiratória.
9
INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS 
NA VENTILAÇÃO MECÂNICA 
As contraindicações relativas incluem pós-operatório de cirurgias abdominais altas, gestação, 
obesidade mórbida e hipersecretividade. As contraindicações absolutas abrangem a necessida-
de de intubação de emergência, parada cardíaca ou respiratória, incapacidade de cooperar, pro-
teger as vias aéreas ou presença de secreções abundantes, rebaixamento do nível de consciên-
cia (exceto em casos de acidose hipercápnica na DPOC), falências orgânicas não respiratórias, 
cirurgia facial ou neurológica, trauma ou deformidade facial, alto risco de aspiração, obstrução 
das vias aéreas superiores e anastomose de esôfago recente (evitar pressurização acima de 
20cm H2O). 
O fisioterapeuta desempenha um papel crucial no manejo da ventilação mecânica. Suas funções 
incluem a avaliação da função pulmonar, mecânica respiratória e oxigenação, assim como das 
necessidades de ventilação no paciente. Com base na avaliação do paciente, o fisioterapeuta 
pode ajudar na seleção do modo de ventilação mais apropriado para atender às necessidades 
do paciente. 
O monitoramento da resposta do paciente à ventilação mecânica deve ser contínuo, ajustando 
parâmetros como pressão, volume corrente e frequência respiratória conforme necessário para 
otimizar a ventilação e minimizar complicações. A identificação dos pacientes com indicação 
para o desmame da VM ajuda a determinar o momento apropriado para iniciar o desmame e im-
plementar estratégias de desmame gradual para melhorar a capacidade respiratória do paciente.
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Ainda, em caso de complicações relacionadas à ventilação mecânica, como pneumonia associa-
da à ventilação, atelectasia ou hipoxemia refratária, o fisioterapeuta trabalha em conjunto com a 
equipe médica para implementar intervenções adequadas, como técnicas de fisioterapia respi-
ratória, posicionamento adequado do paciente e ajustes na ventilação mecânica. O profissional 
também é protagonista na implementação de protocolos de mobilização precoce, quando apro-
priado, para prevenir complicações relacionadas à imobilidade, melhorar a função respiratória e 
acelerar a recuperação da funcionalidade. 
Diversas complicações estão no radar da equipe que assessora pacientes em VM. É o caso da-
quelas decorrentes do processo de intubação, como sangramento, enfisema subcutâneo, pneu-
motórax e até mesmo óbito. Também são descritas como complicações a possibilidade de ba-
rotrauma, redução do débito cardíaco, infecção, fístula broncopleural e lesões traqueais, de pele 
e lábios. Para a realização do desmame ventilatório, é necessário tratar a condição crítica do 
paciente ou a disfunção de base. 
O objetivo do desmame é diminuir o nível de assistência dado pelo ventilador, o que faz com que 
o paciente assuma uma maior proporção do trabalho ventilatório. Isso ocorre através da redução 
progressiva dos parâmetros do ventilador mecânico, programada com a equipe. 
O objetivo do processo de desmame é favorecer sua autonomia e diminuir os riscos da assistên-
cia ventilatória invasiva prolongada. Na primeira tentativa, até 30% dos pacientes não respondem 
bem ao desmame. Fatores como a condição clínica do paciente, manejo da doença de base, 
comorbidades associadas, desenvolvimento de polineuropatia do paciente crítico e uso prolon-
gado de drogas sedativas e bloqueadores neuromusculares podem atrasar o desmame das VM.
A causa fundamental do insucesso do desmame geralmente é o desequilíbrio entre a capaci-
dade ventilatória diminuída e a demanda ventilatória aumentada presente nesses indivíduos.A 
saída da VM ocorre através de três métodos conhecidos e estabelecidos na literatura: 
• o teste de respiração espontânea; 
• a ventilação com pressão de suporte (PSV); 
• a ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV).
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O teste de respiração espontânea (teste do tubo T) é o método mais antigo, simples e reprodutí-
vel de desmame. Nele, o paciente é removido do ventilador mecânico e conectado ao tubo T, que, 
por sua vez, é enriquecido de oxigênio por um sistema umidificado. 
Por se tratar de um sistema desprovido de válvula, o tubo T faz com que o trabalho respiratório 
seja aquele imposto pela resistência do tubo orotraqueal, da ventilação minuto e do fluxo ventila-
tório. Normalmente, o teste tem duração de 120 minutos – tempo suficiente para a seleção dos 
pacientes prontos para a extubação. 
No entanto, o paciente pode apresentar sinais de fadiga mais precocemente. É um teste utiliza-
do em muitos pacientes, exceto aqueles com grave acometimento pulmonar ou sistêmico e que 
tenham, portanto, maior predisposição a apresentar sinais de intolerância ao trabalho imposto 
pelo sistema. 
O desmame por PSV é uma modalidade de ajuda à ventilação espontânea, iniciada pelo paciente 
por meio de uma pressão positiva inspiratória predeterminada e constante. Com uma pressão 
empregada de 5 a 7cm H2O, o paciente deve ser capaz de vencer a resistência imposta pelo ven-
tilador mecânico, pela válvula de demanda e pelo tubo orotraqueal. 
TESTE DE RESPIRAÇÃO ESPONTÂNEA 
VENTILAÇÃO COM PRESSÃO DE SUPORTE (PSV) 
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Na modalidade SIMV, períodos de ventilação espontânea são intercalados com a ventilação as-
sisto-controlada do ventilador mecânico. O desmame consiste apenas na diminuição gradual da 
frequência respiratória mandatória do ventilador mecânico, o que favorece o início do trabalho da 
musculatura respiratória. Assim, o trabalho do equipamento é transferido para o paciente. 
A eleição do método de desmame varia conforme as características dos pacientes e as rotinas 
de cada unidade de terapia intensiva. Já a avaliação contínua por profissionais habilitados e a 
disponibilidade de recursos técnicos são determinantes na escolha do melhor método para cada 
paciente. Em caso de falha, recomenda-se respeitar um período de descanso muscular de 24 
horas, planejar estratégias nos casos de desmame difícil, evitar reações de pânico nas situações 
de reintubação e manter a família do paciente informada. 
O julgamento da retirada total da ventilação mecânica é clínico e deve ser baseado no tempo 
prévio de ventilação assistida e na reserva cardiorrespiratória do paciente. Para o desmame, o 
paciente deve apresentar um estado mental adequado, capacidade de responder a comandos 
verbais, controle motor cervical, temperatura corporal adequada, diurese adequada, frequência 
cardíaca (FC 90mmHg com aumento menor que 20%), ajuste das drogas vasoativas e manu-
tenção da estabilidade hemodinâmica, gasometria arterial e monitoramento de possíveis distúr-
bios ácido-básicos, além da possibilidade de ajustes no ventilador a fim de corrigir as alterações. 
Ajustes na volemia ou na reposição de bicarbonato podem ser necessários. É importante manter 
a saturação de oxigênio acima de 92%. Exames de imagem devem ser realizados para descartar 
alterações cardiogênicas, broncopulmonares, infecciosas ou iatrogênicas que possam contrain-
dicar o procedimento. Além disso, é crucial analisar a mecânica ventilatória para detectar possí-
veis riscos para o desmame, avaliar a resistência das vias aéreas, a presença de PEEP intrínseca 
e a força muscular inspiratória. 
Ainda, em pacientes com pós-operatório de cirurgia cardíaca/torácica, deve-se avaliar a presença 
de drenos e, por consequência, a quantidade de líquido drenado. Outros fatores, como aumento 
da demanda ventilatória relacionada ao medo, ansiedade, infecção, edema pulmonar, obesidade 
e ascite, broncoespasmo, edema de mucosa e presença do tubo orotraqueal, podem interferir no 
desmame. 
VENTILAÇÃO MANDATÓRIA INTERMITENTE 
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REABILITAÇÃO PULMONAR E 
ORIENTAÇÕES PARA ALTA HOSPITALAR 
O fato de o paciente crítico receber o suporte necessário para o seu restabelecimento também 
implica prejuízos para a sua evolução clínica, principalmente para a musculatura ventilatória e 
periférica durante o período da internação, em razão do desenvolvimento da fraqueza muscular 
adquirida na UTI. 
Alterações no fenótipo da musculatura ventilatória diafragmática ocorrem como adaptação à 
demanda imposta pelo uso da ventilação mecânica (VM). Essas alterações incluem variações 
na espessura e na capacidade contrátil, especialmente em situações de sepse, desnutrição, uso 
de bloqueadores neuromusculares e em pacientes idosos. 
Para avaliar o sucesso no desmame da VM e melhorar o prognóstico do paciente crítico, é es-
sencial estabelecer medidas como a pressão inspiratória máxima (PImáx). Embora controversa, 
essa medida deve ser considerada em pacientes ventilados mecanicamente para prescrição de 
treinamento muscular inspiratório. 
Outra técnica que pode ser utilizada na avaliação do paciente crítico é a eletromiografia de super-
fície do músculo diafragma. Trata-se de um método diagnóstico não invasivo em que sinais dos 
picos gráficos da atividade muscular voluntária são captados através de eletrodos conectados 
na superfície da pele, posicionados a 5cm do processo xifoide, enquanto outros dois eletrodos 
são posicionados na região da margem costal bilateral. 
14
Já a ultrassonografia diafragmática permite a visualização direta da espessura, contratilidade 
e excursão do músculo diafragma. Ao se prescrever o treinamento da musculatura inspiratória, 
deve-se considerar os princípios do treinamento, como a sobrecarga e a especificidade. 
A ideia de treinar a musculatura inspiratória não é recente. A utilização de dispositivos conecta-
dos à prótese ventilatória – como o tubo orotraqueal – e à traqueostomia ficou por longos pe-
ríodos restrita a equipamentos portáteis simples, com características distintas, principalmente 
relacionadas com o tipo de carga imposta. 
Ao longo do tempo, foram testadas diferentes formas de treinamento, como a utilização da sen-
sibilidade do ventilador mecânico com base na PImáx aferida pelo manovacuômetro. Entretanto, 
essa técnica não obteve resultados tão favoráveis porque a resistência promovida pelo disparo 
do ventilador apenas se dava no momento inicial da inspiração, e não durante toda a inspiração. 
Os dispositivos de carga pressórica linear surgiram como alternativa tanto para pacientes porta-
dores de doenças crônicas quanto para críticos. O Threshold® foi o equipamento mais utilizado 
devido à contração sustentada da musculatura inspiratória se tornar maior durante o esforço 
ventilatório, destacando-se como o mais efetivo. 
Além dos dispositivos de carga linear, há os dispositivos fluxo-dependentes com resultados po-
sitivos na PImáx e auxílio ao desmame ventilatório. O PowerBreathe® (HaB Ltd, UK) é um equi-
pamento portátil desenvolvido especificamente para o treinamento muscular inspiratório. Seu 
objetivo é aumentar a função muscular inspiratória de atletas, pneumopatas ou pacientes sub-
metidos a cirurgia abdominal e cardíaca. Este dispositivo conta com um sistema de feedback 
visual durante a sessão de treinamento. 
Outro recurso comumente utilizado para a reabilitação é a eletroestimulação neuromuscular 
(EENM). Quando aplicada sobre o diafragma, recebe o nome de eletroestimulação diafragmática 
transcutânea. Para ser efetiva, a eletroestimulação deve ser aplicada em pacientes colaborativos 
e capazes de realizar esforços inspiratórios sincronizados ao disparo da eletroestimulação. 
Da mesma forma que as UTIs se aprimoraram para oferecer melhores recursos humanos, organi-
zacionais e tecnológicos, visando reduzir a mortalidade e aumentar as altas hospitalares, há uma 
discussão sobre as consequênciasda estadia na UTI. O fato de receber alta da UTI/hospital não 
significa necessariamente uma melhora na qualidade de vida do paciente. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Atualmente, a Síndrome Pós-Cuidados Intensivos (Post-intensive Care Syndrome – PICS) carac-
teriza-se por alterações físicas, cognitivas e psiquiátricas, com potencial de levar à redução da 
qualidade de vida dos pacientes e, muitas vezes, de seus familiares. Declínio funcional e cogniti-
vo, ansiedade e depressão ou até transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) são consequên-
cias de diversos fatores que consideram o status prévio do paciente, condição clínica, doença de 
base, necessidade de tratamentos de suporte de vida e aspectos organizacionais dos cuidados 
intensivos. 
A transição para a alta hospitalar exige orientações e acompanhamento especializado, pois o pa-
ciente pode enfrentar alterações na imagem corporal, sensação de fraqueza e declínio funcional, 
dificuldades no retorno ao trabalho e necessidade de uma rede de suporte social. Devido à rotina 
dos serviços e à precariedade de um sistema de monitoramento a longo prazo, os domínios físi-
co, cognitivo e mental dos diferentes perfis de pacientes que sobrevivem a internações em UTI 
muitas vezes são negligenciados. 
Alguns instrumentos podem ser utilizados no acompanhamento dessa população. O Índice de 
Barthel permite verificar o grau de dependência funcional nos domínios de cuidado pessoal e 
mobilidade. A pontuação varia de zero a 100. Pontuações mais elevadas indicam menor depen-
dência funcional. O Montreal Cognitive Assessment (tMoCA), validado para uso telefônico, avalia 
a disfunção cognitiva. O escore do tMoCA varia de zero a 22. Pontuações mais elevadas indicam 
melhor status cognitivo. 
Os sintomas de ansiedade e depressão podem ser avaliados pelo Hospital Anxiety and Depres-
sion Scale. Dentro de cada domínio (ansiedade/depressão), o escore da escala varia de zero a 
21, sendo os maiores valores representativos de uma maior carga de sintomas de ansiedade ou 
depressão. O Impact of Event Scale-6 pode ser usado para avaliar sintomas de TEPT tardios. Seu 
escore total varia entre zero e 24, e valores maiores indicam maior carga de sintomas de TEPT. 
16
Ainda, o monitoramento sobre as taxas de re-hospitalizações é fundamental para o seguimento. 
A qualidade de vida pode ser avaliada pela versão brasileira do instrumento Short-Form Health 
Survey Version 2 (SF12v2), que considera dois grandes domínios (físico e mental). Sua pontua-
ção varia de zero a 100, em que valores maiores indicam uma melhor qualidade de vida relacio-
nada à saúde. 
Outros desfechos também podem ser inseridos no acompanhamento, como as Atividades Ins-
trumentais da Vida Diária (Índice Lawton e Brody); a avaliação por meio da Escala Funcional de 
Ingestão por Via Oral (Functional Oral Intake Scale – FOIS); o risco de disfagia verificado pelo Ea-
ting Assessment Tool-10; o nível de atividade física verificado pelo International Physical Activity 
Questionnaire; retorno ao trabalho, custos relacionados à saúde, alterações da renda familiar e 
necessidade de previdência social. 
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REFERÊNCIAS
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