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Fonologia e variação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Relacionar os processos variáveis na aquisição de língua materna e a 
construção do conhecimento fonológico.
  Explicar os processos de aquisição da língua e suas variações.
  Analisar o processo de aquisição de segunda língua e seus aspectos 
fonético-fonológicos.
Introdução
A aquisição da língua materna ocorre ao longo do crescimento da criança 
e por meio de diferentes processos fonológicos. Todavia, esses processos 
são sempre iguais? Sofrem influências das variações linguísticas dos adul-
tos que fazem parte da comunidade linguística da criança? A fonologia 
revela aspectos cruciais sobre o processo de aquisição da linguagem, 
seja na língua materna, seja em língua estrangeira.
Neste capítulo, você estudará sobre os processos variáveis na aquisição 
de língua materna e a construção do conhecimento fonológico. Além 
disso, compreenderá os processos de aquisição da língua e suas variações, 
bem como conhecerá o processo de aquisição de segunda língua e seus 
aspectos fonético-fonológicos.
Processos variáveis na aquisição de língua 
materna e a construção do conhecimento 
fonológico
Historicamente, estudiosos de diversas áreas tentaram entender como um 
indivíduo passa de não falante a falante de sua língua materna, isto é, como 
esse indivíduo adquire sua linguagem. Surgiram, então, várias teorias 
que ancoraram pesquisas sobre a aquisição de subsistemas gramaticais 
da língua, tais como o fonológico, o morfológico, o sintático, o lexical e o 
semântico.
O subsistema fonológico, campo de interesse deste capítulo, envolve o 
domínio de um intrincado sistema de especificidades fonológicas, pois, se-
gundo Matzenauer e Costa (2017, p. 50), “[...] os traços distintivos apresentam 
diferentes estádios de aquisição, [...] padrões combinatórios entre os sons e as 
unidades suprassegmentais, tais como a sílaba e a palavra [...]”.
A aquisição do componente segmental de uma língua envolve um processo 
de desenvolvimento fonológico gradual. Jakobson (1968), estudioso que defen-
dia a ideia de que há um ordenamento na aquisição das oposições fonológicas, 
pressupôs que as pesquisas se voltassem às leis de solidariedade irreversível, 
visto que, para ele, existem leis linguísticas que estabelecem que a presença 
de um traço, segmento ou classe implica a presença de outro.
Essa proposta evidencia a desconsideração às variações, no entanto, 
estudos atuais revelam que, de fato, há tendências universais no desenvol-
vimento fonológico. Esses padrões gerais demonstram que as unidades não 
marcadas são primeiro adquiridas, e, na aquisição fonológica de segmentos, 
há uma tendência de que a vogal baixa /a/ e as vogais altas sejam adquiridas 
antes das vogais médias. Quanto às consoantes, as oclusivas e nasais são 
adquiridas antes das fricativas e líquidas, e as labiais e coronais, antes 
das dorsais. Além disso, as obstruintes não vozeadas são adquiridas antes 
das vozeadas.
No português brasileiro, a ordem geral de aquisição é semelhante à 
ordem da tendência mundial. O sistema vocálico se integraliza antes do 
consonântico, e a estabilização do acento silábico ocorre primeiro com as 
posições tônica e postônica e, depois, com a pretônica. A ordem de aquisição 
do sistema vocálico tônico e pretônico pode ser representada, respectiva-
mente, da seguinte forma:
/a, i, u/ >> /e, o/ >> /ɛ, ɔ/
/a, i, u/ >> /e, o/
Fonologia e variação2
É evidente que cada criança pode adquirir o sistema vocálico de forma 
diferente, porém, de acordo com o padrão geral, primeiro surgem as vogais 
/a, i, u/, de oposição máxima quanto à altura. Essas diferenças na ordem de 
aquisição são mais comuns no processo de aquisição consonântica, mas este 
também obedece a um padrão.
Observe, a seguir, a ordem de aquisição das consoantes em posição silábica 
de ataque absoluto, de ataque medial e em coda, respectivamente: 
/p, b, t, d, f, v, m, n/ >> /k, ɡ, s, z/ >> /l, R/ >> /ʃ, ʒ/
/p, b, t, d, f, v, m, n/ >> /k, ɡ, ɲ/ >> /ʃ, ʒ/ >> /l, R/ >> /ʎ/ >> /ʃ, ʒ, ɾ/
/N/ >> /l/ >> /s/ >> /ɾ/
Quanto ao modo de articulação, primeiro são adquiridas as oclusivas e 
nasais, depois, as fricativas e, por último, as líquidas. Quanto ao ponto de 
articulação, a tendência segue a seguinte ordem:
labial >> coronal [+anterior], dorsal >> coronal [−anterior]
É importante salientar que essa ordem é um padrão que pode ser rompido. 
De acordo com Matzenauer e Costa (2017, p. 65),
[…] outros padrões de aquisição têm também sido verificados com frequência 
no PB, particularmente aquele em que as crianças adquirem em primeiro 
lugar as obstruintes não vozeadas (/p t k f s ʃ/) e depois as vozeadas (/b 
d ɡ v z ʒ/), ou seja, um percurso de desenvolvimento segmental em que a 
especificação do traço de vozeamento ([±vozeado]) parece sobrepor-se à 
especificação do traço [contínuo].
Durante a formação do inventário fonológico, as crianças costumam subs-
tituir segmentos ainda não adquiridos por outros que pertencem à mesma 
classe em que se localiza o segmento-alvo. Esse processo é muito comum na 
aquisição do modo de articulação.
O Quadro 1, a seguir, apresenta os padrões de substituição mais frequentes 
(MATZENAUER; COSTA, 2017).
3Fonologia e variação
Fonte: Adaptado de Matzenauer e Costa (2017).
Substituições mais frequentes Exemplos
Traço/contraste 
não adquirido
fricativas→ oclusivas faca [̍ pakɐ] [±contínuo]/[−soante]
obstruinte vozeada→ obstruinte 
desvozeada
bola [̍ pɔlɐ] [±voz]/[−soante]
oclusiva dorsal→ oclusiva coronal quero [̍ tɛlu] [+voz]/[−soante]
nasal cor. [−ant]→ nasal cor. [+ant] dinheiro [dʒi̍ nelu] [±anterior]/[+lateral]
fricativas cor. [−ant]→ fricativas cor. 
[+ant]
chapéu [sa̍ pɛw] [±anterior]/[cor +cont]
fricativas cor. [+ant]→ fricativas cor. 
[−ant]
sapo [̍ ʃapu] [±anterior]/[cor +cont]
líquida→ glide barata [ba̍ jatɐ] [±conson]/[+aproximante]
líquida lat. [−ant]→ líquida lat. 
[+ ant]
palhaço [pa̍ lasu] [±anterior]/[+lateral]
líquida [−lat]→ líquida [+lat] nariz [na̍ lis] [±lateral]/[+aproximante]
Quadro 1. Padrões de substituição mais frequentes
Outro aspecto fundamental na aquisição da língua materna quanto à fonolo-
gia é a aquisição da estrutura silábica. De forma geral, as primeiras produções 
das crianças são monossilábicas ou dissilábicas e são em formato CV. Esse é, 
portanto, o estágio inicial da produção de itens lexicais de uma língua-alvo.
A importância de se estudar os segmentos também se deve ao fato de que 
as crianças não os adquirem de forma independente do seu estatuto prosódico. 
No caso da sílaba, um mesmo segmento pode já ser produzido em uma dada 
posição silábica, mas não em outra, por exemplo.
Outro constituinte fundamental no desenvolvimento fonológico infantil é 
o ataque. No português, os ataques simples e vazios estão disponíveis desde 
os estágios iniciais da aquisição da linguagem. Freitas (2017) representa os 
ataques não ramificados no português da seguinte forma:
Estádio I Ataques simples associados 
à oclusiva e à consoante nasal 
 Ataque vazio 
Fonologia e variação4
Estádio II outros tipos de ataque simples 
 (fricativa>>líquida ou líquida>>fricativa)
A rima é mais um aspecto importante no processo de aquisição. O formato 
silábico universal CV apresenta uma rima não ramificada, isto é, apenas com 
núcleo, sem coda. Contudo, ao longo da aquisição linguística, as estruturas 
silábicas passam de não ramificadas a ramificadas. No caso da rima, cada 
língua apresentará diferentes sistemas linguísticos. Isso se deve à estrutura 
da rima, que difere substancialmente de língua para língua. Essas diferenças 
podem ser vistas inclusive entre o português europeu e o brasileiro. Observe 
a análise de Freitas (2017, p. 80):
As aquisições precoces de /l/ e /n/ no português do Brasil, podendo ser inicial-
mente apresentadas como divergentes do percurso descrito para o português 
europeu, podem ser interpretadas de outra forma: nos dois casos, em portuguêsdo Brasil, o que está em causa é a produção da forma fonética [w] para a coda 
/l/ e a produção de vogais nasais para coda /n/. Ora, em português europeu 
como em português do Brasil, a produção de [w] e de vogais nasais emerge 
precocemente. A questão que se coloca, para observação futura, é a de saber se 
português europeu e português do Brasil são assim tão diferentes nesta matéria 
ou se é a adoção de diferentes análises fonológicas para os dois sistemas que 
está a condicionar a descrição dos dados e a formulação de generalizações 
sobre os mesmos.
De modo geral, pode-se representar o processo de aquisição dos consti-
tuintes silábicos do português brasileiro da seguinte forma (FREITAS, 2017):
Estádio 1 Ataque não ramificado + rima não ramificada: CV / V 
Estádio 2 Núcleo ramificado: (C)VG 
Estádio 3 Rima ramificada: (C)VCnasal 
Estádio 4 Rima ramificada: (C)VCfricativa e (C)VClateral 
Estádio 5 Rima ramificada: (C)VClíquida não lateral 
Estádio 6 Ataque ramificado
No desenvolvimento da fonologia da língua, a criança precisa adquirir 
também o acento das palavras. No Brasil, há duas tendências para as primeiras 
palavras no português: acento na penúltima sílaba e acento final. Contudo, 
existem poucas pesquisas a respeito desse assunto. Junto com o acento, a 
palavra prosódica caracteriza-se como um constituinte essencial na aquisição 
5Fonologia e variação
fonológica infantil. Nesse processo, há um período em que as palavras são 
minimamente dissilábicas.
Em suma, de modo geral, há regularidades no processo de aquisição da 
linguagem. Contudo, a integralização do domínio fonológico revela o papel 
das variações. Na seção seguir, serão analisadas essas variações e suas inter-
ferências na aquisição fonológica da linguagem.
Os processos de aquisição da língua e suas 
variações
Historicamente, as línguas apresentam regras que perpassam suas diferentes 
fases. Na aquisição de uma língua, as crianças internalizam essas regras e pas-
sam a comunicar-se com sua comunidade linguística utilizando esses moldes.
No entanto, os fatos linguísticos costumam refletir a correlação entre o 
linguístico e o social de uma comunidade linguística. Assim, esse contexto 
contribui para o desenvolvimento de variações, ou seja, na aquisição da fo-
nologia da língua materna, também pode haver processos variáveis. Segundo 
Wiethan, Nóro e Mota (2014, p. 261):
A aquisição lexical exige o estabelecimento de uma correspondência entre a 
forma fonológica de uma palavra e sua representação semântica. Essa cor-
respondência é fortalecida a partir da experiência com a nova palavra, que 
é caracterizada pelo acréscimo de informações perceptuais, contextuais, 
sintáticas e pragmáticas ao conceito inicialmente estabelecido. Dois fatores 
contribuem para o desenvolvimento lexical: o input linguístico dos pais e as 
habilidades cognitivas da criança.
Acesse o link a seguir para conhecer o blog de ciência da UNICAMP e confira o significado 
de input linguístico.
https://qrgo.page.link/hUPsC
Fonologia e variação6
Todavia, a variação da linguagem da criança é um estudo pouco difun-
dido na história da linguística, pois as atenções relacionadas à aquisição da 
linguagem sempre priorizaram as regularidades e os sistemas tradicionais 
já concebidos pelas crianças. Dessa forma, as variações sempre foram 
deixadas de lado, inclusive porque é muito complexa a tarefa de coleta de 
dados. A seguir, serão dados alguns exemplos de variação fonológica do 
português brasileiro.
As palavras proparoxítonas, embora em menor número que as demais, 
representam uma parte que identifica a língua portuguesa. No latim, as 
palavras de três ou mais sílabas tinham a acentuação determinada pela 
quantidade da penúltima. Dessa forma, se fosse longa, o acento recaía 
sobre ela; se fosse breve, o acento recaía na sílaba anterior. Daí surgem 
as proparoxítonas.
Entre os séculos XII e XVI, no português arcaico, existiam poucas pro-
paroxítonas. No português coloquial, houve uma intensificação do acento, 
o que levou à ausência de pronúncia da penúltima vogal dessas palavras. 
Com o tempo, a sílaba postônica átona não final desses vocábulos passou a 
ser suprimida. Dessa forma, palavras proparoxítonas transformavam-se em 
paroxítonas. Essa demonstra ser uma tendência da língua portuguesa desde 
suas origens. Atualmente, nota-se uma persistência desse processo. 
Os estudos de linguagem regional revelam que as variedades populares 
seguem essa tendência. Esse fato demonstra um exemplo de ocorrência do fenô-
meno chamado síncope, em que um fonema no interior da palavra desaparece. 
O contexto linguístico reforça essa tendência, e a história do português revela 
que ela persiste. De acordo com Dubois et al. (2006, p. 551), “[...] a síncope é 
um fenômeno muito frequente de desaparecimento de um ou mais fonemas 
no interior de uma palavra. As vogais e sílabas átonas estão particularmente 
sujeitas a isso [...]”. 
Amaral (2002) afirma que o grupo consonantal que se forma com a sín-
cope deve apresentar um ataque ou uma coda bem formada. Como o ataque 
permite, no máximo, dois elementos (sendo o primeiro um fonema oclusivo 
ou fricativo bilabial e o segundo um soante não nasal), forma-se a sequência 
obstruinte + líquida. Esse é o caso da vibrante simples ou lateral. Exemplos: 
br, gl, cl, tl. A coda pode ter as soantes s ou z.
O Quadro 2, a seguir, apresenta contextos favoráveis para a ocorrência de 
síncope (AMARAL, 2002). 
7Fonologia e variação
Fonte: Adaptado de Amaral (2002).
Diante de uma líquida Chácara/chacra
Pílula/piula
Diante de uma fricativa Príncipe/prinspe
Diante de uma oclusiva ou nasal Relâmpago/relampo
Perda compensatória Número/numbro
Túmulo/tumblu
Estômago/istombo
Formação da sequência vogal líquida Câmara/camra
Quadro 2. Contextos favoráveis para a ocorrência de síncope
Esse é apenas um exemplo de que a variação linguística está presente 
em todos os aspectos da linguagem e, inclusive, na história das línguas, e, 
portanto, está presente também no processo de aquisição da linguagem. No 
caso da síncope, sabe-se que este é um fenômeno que ocorre também no 
desenvolvimento fonológico das crianças. Quando estão tentando falar e se 
comunicar com eficiência, elas suprimem fonemas mais complicados e apagam 
alguns sons. Assim, pronunciam a palavra chácara como chacra, por exemplo. 
Entretanto, percebe-se que esse não é um fenômeno apenas do período de 
aquisição da linguagem. Adultos, em determinados contextos linguísticos, 
também realizam a mesma produção e são referência de pronúncia para quem 
está desenvolvendo a linguagem. Essa situação favorece as variações na 
aquisição da língua materna.
No fim do século XX, surgiram pesquisas sobre aquisição da linguagem 
que consideravam a variabilidade individual no ritmo e nas estratégias de 
crescimento linguístico da criança. Nessa perspectiva, (dos interacionistas, 
i.e., teóricos que defendem que a linguagem é biológica e social), enfatiza-se 
a influência da interação com falantes da língua de aquisição.
Nesse sentido, embora a aquisição da linguagem se mostre como um pro-
cesso simples, por ser espontâneo e natural, é também complexo, uma vez que 
engloba um conjunto de informações prosódicas e melódicas que precisam se 
articular, pois apenas assim a comunicação linguística da criança se realiza.
Miranda e Veloso (2002, p. 441) afirmam que “[...] o património fonológico 
da criança pode ser observado ainda em revelações das suas habilidades 
epilinguísticas, as quais derivam do conhecimento implícito já construído e 
denotam algum controle cognitivo sobre ele [...]”. Nesse sentido, evidencia-se 
Fonologia e variação8
uma sensibilidade fonêmica. Contudo, esta é construída a partir da escuta. Ou 
seja, há uma grande importância do papel da comunidade linguística a que 
a criança pertence. Afinal, a criança interioriza o conhecimento linguístico 
sobre o funcionamento da gramática sonora (no tocante a sílabas e fonemas) 
por meio do que aprende com os adultos falantes.Nesse sentido, o desenvolvimento fonológico envolve-se com algumas variá-
veis, como: a própria aquisição da linguagem (a fonologia é apenas uma parte); o 
desenvolvimento das capacidades metafonológicas explícitas; e a aprendizagem 
da leitura e da escrita. Assim, quando a criança está em processo de aquisição 
da linguagem, também está contribuindo para a manutenção e para a mudança 
da língua, por isso é importante analisar as variações também na aquisição.
Para Smith, Durham e Fortune (2007 apud LORANDI, 2013, documento 
on-line), questões que norteiam os estudos sobre aquisição da variação são: 
• O input do cuidador da criança difere das normas da comunidade em geral 
em todas as variáveis linguísticas?
• As formas variáveis estão evidentes desde o início do processo de aquisi-
ção, ou seja, são aprendidas ao mesmo tempo em que formas categóricas 
são aprendidas?
• Que efeitos o input do cuidador tem sobre as formas produzidas durante 
seu processo de aquisição, não somente em termos de frequência de uso, 
mas também em termos de restrições internas e externas na variabilidade?
• A competência sociolinguística é adquirida ao mesmo tempo em que a 
competência gramatical?
• Todas as variáveis linguísticas são adquiridas ao mesmo tempo e do mes-
mo jeito?
Essas questões podem ajudar na análise das entradas linguísticas das 
crianças, pois elas representam a fala da comunidade da qual a criança faz 
parte. Assim, pode-se avaliar se o adquirente da língua adquire e aplica regras 
por si ou as imita.
Como se observa, uma das bases do conhecimento linguístico da criança é 
seu ambiente linguístico, ou seja, o input (entrada), que é repleto de variação. 
De acordo com Lorandi (2013, documento on-line),
[...] as crianças recebem input de diferentes pessoas e ouvem sons e palavras de 
diferentes vozes. Dessa forma, nenhuma criança experimentaria precisamente 
o mesmo input. A variabilidade fonética no input, entretanto, conforme con-
sideram esses autores, não é puramente idiossincrática; alguma variabilidade 
provê informação específica de língua, que deve ser adquirida como parte do 
conhecimento gramatical, o que incluiria alternâncias morfológicas e alofones 
contextuais, por exemplo.
9Fonologia e variação
Ou seja, as variantes locais e as normas de uso da língua são adquiridas 
no processo de aquisição da língua materna. Assim, as crianças aprendem 
que as formas variam e que o contexto permite utilizá-las de acordo com a 
finalidade e a situação.
Em resumo, o vocabulário e a memória fonológica são aspectos fundamen-
tais desde o início do desenvolvimento da linguagem, ao passo que a memória 
fonológica se revela como um componente crucial para a aprendizagem de 
novas palavras, pois está envolvida com a formação de novas formas fonoló-
gicas em longo prazo.
O processo de aquisição de segunda língua 
e seus aspectos fonético-fonológicos
Os estudos sobre a aquisição da língua materna ocorrem há muito tempo, 
visto que foram preocupações de diversas correntes teóricas e são resultado 
de pesquisas em todo o mundo. Entretanto, quais são suas semelhanças e 
diferenças com o processo de aquisição de uma segunda língua (L2) ou de 
uma língua estrangeira (LE)?
Para analisar esses processos, é preciso primeiro definir didaticamente 
segunda língua e língua estrangeira. Segunda língua não é a materna, mas 
tem uma importância reconhecida no território em que o falante vive. Dessa 
forma, esse falante convive com pessoas que também usam essa língua e tem 
a oportunidade de praticar a fala em momentos de interação com a comuni-
dade linguística. A língua estrangeira, por sua vez, seria aquela desconectada 
de qualquer relação com o território do falante, isto é, sem relações com o 
estatuto social e geográfico. Assim, o aprendiz de LE costuma não conviver 
com outros falantes da língua que ele está adquirindo, de modo que a utiliza 
em situações de aprendizagem formal. Portanto, a diferença entre as duas 
línguas está, sobretudo, no contexto das situações de aprendizagem, ou seja, 
a quantidade e a qualidade de estímulos linguísticos e de oportunidades de 
variação serão fatores determinantes para classificar uma língua como segunda 
língua ou como língua estrangeira. Entretanto, há estudos que mostram a 
pouca influência do contexto no processo de aquisição da língua, por isso se 
utiliza o termo L2 para referência à língua não materna.
Os problemas enfrentados pelo adquirente da língua materna são semelhantes 
aos enfrentados pelo adquirente da L2: ambos têm de encontrar sentido nas 
informações linguísticas e produzir um sistema que explique essas informações 
e que lhe permita compreender e produzir estruturas na língua. Além disso, as 
Fonologia e variação10
ferramentas de que esse aprendiz dispõe são as mesmas oriundas da gramática 
universal, de acordo com os teóricos da gramática gerativa. Aliás, o próprio 
comportamento criativo dos não nativos revela essa semelhança: assim como os 
falantes nativos, os aprendizes de segunda língua têm a capacidade de produzir 
e compreender formas e estruturas que nunca ouviram antes. Além disso, como 
a performance do falante depende também de faixa etária e do contexto, os 
problemas encontrados nas produções dos falantes não nativos são muito pare-
cidos com as produções dos falantes nativos que são consideradas inadequadas. 
No entanto, há diferenças entre a aquisição da língua materna (L1) e da L2. 
Para começar, o aprendiz da L1 é exposto a ela desde os primeiros meses de vida, 
ao passo que o aprendiz de L2 começa seu processo de aquisição mais tarde, 
seja na infância, na adolescência ou na fase adulta. Por começar mais tarde, a 
aquisição da L2 sofre influência de fatores pessoais, como a forma pela qual o 
adquirente aprende, as estratégias utilizadas para essa aprendizagem e a própria 
motivação para a aquisição. Além disso, a língua materna produz efeitos diretos 
no processo de aquisição da língua não materna. Outra diferença interessante é 
que alguns aprendizes de L2 nunca alcançam o mesmo nível de proficiência de 
um falante nativo da língua. Mesmo assim, muitos estudiosos sobre o assunto 
defendem o ensino formal de L2, ao contrário do que ocorre com a L1.
Blev-Vroman (1989, p. 43 apud MATTOS, 2000, p. 59) expõe oito diferenças 
fundamentais: 
Falta de sucesso (Crianças normais sempre atingem um perfeito comando 
do sistema linguístico da sua língua materna. O mesmo não se pode dizer 
de aprendizes adultos de segunda língua […]); Falência geral ([…] o sucesso 
completo é extremamente raro entre aprendizes adultos de L2 […]); Variação 
no sucesso, curso e estratégia (Entre crianças, o grau de sucesso na apren-
dizagem, o curso da aprendizagem e as estratégias utilizadas são uniformes 
[…]); Variação nos objetivos (Alguns desenvolvem muita fluência na segunda 
língua, mas atingem um baixo nível de competência; outros preocupam-se com 
a correção gramatical, embora não sejam muito fluentes; outros, ainda, podem 
preocupar-se mais com uma boa pronúncia ou com o desenvolvimento lexical 
[…]); Fossilização ([…]aprendizes adultos atingem um determinado grau de 
desenvolvimento na L2 - bem inferior ao nível atingido pelo nativo - e depois 
permanecem estáveis neste nível […]);7. Importância da instrução (Crianças 
em fase de desenvolvimento da linguagem não necessitam de instrução formal 
para aprender sua língua. No entanto, há consenso quanto à influência positiva 
da instrução formal na aprendizagem de L2 entre adultos); Papel dos fatores 
afetivos (O sucesso da aprendizagem da língua materna entre crianças parece 
não ser afetado por fatores como personalidade, socialização, motivação e 
atitude. A aprendizagem de uma língua estrangeira por adultos, pelo contrário, 
parece ser altamente influenciada por tais fatores, ditos afetivos).
11Fonologia e variação
Portanto, o aspecto idade é significativo no processo de aquisição de L2. 
É evidente que, para cada aspecto da competência linguística, pode haver 
limites etáriosdistintos. Todavia, sabe-se que o domínio da fonologia é maior 
em idades menores (alguns autores se referem aos 6 anos de idade).
Outro aspecto que se destaca na aquisição da L2 é a influência da L1. A 
fonologia, juntamente com o léxico, é a área mais suscetível à influência da 
língua materna. O sotaque estrangeiro costuma identificar quem se comunica 
com a L2. Além disso, as características de pronúncia revelam qual é a língua 
materna do falante. Como revela Madeira (2017, p. 13):
[…] diversos estudos demonstram que existe uma correlação entre a regula-
ridade e o grau de exposição à língua e o desenvolvimento da competência 
fonológica: num estudo realizado com falantes não nativos de inglês, Bongaerts 
et al (1995) verificaram que, aplicando métodos de ensino adequados e asse-
gurando uma exposição prolongada e intensa à língua, é possível desenvolver 
um nível muito avançado de competência fonológica na L2, ultrapassando 
os efeitos de fossilização que seriam esperados em falantes que iniciam a 
sua exposição à língua na adolescência ou já em idade adulta. Assim, o que 
muitos dos trabalhos de investigação no domínio da aquisição da fonologia 
na L2 mostram é que, apesar do papel incontestável da influência da L1 neste 
domínio, é necessário considerar também outros fatores – tais como o tipo e a 
quantidade de dados linguísticos a que o aprendente tem acesso – se queremos 
compreender plenamente o modo como os falantes não nativos desenvolvem 
competência fonológica.
O sotaque nativo permanece presente na comunicação em língua estran-
geira, visto que ocorre uma transferência indevida dos padrões da L1 para a 
L2. Ou seja, são ativados padrões acústico-articulatórios idênticos ou seme-
lhantes aos da L1 no lugar dos padrões da L2. Nesse sentido, o aprendiz da 
nova língua pronuncia os novos itens lexicais como se estivesse falando sua 
língua materna, isto é, como se fossem compostos de sequências de unidades 
acústico-articulatórias da L1.
Os princípios dos sistemas alfabéticos da L1 e da L2 também contribuem 
para a transferência de pronúncia, de modo que línguas com o mesmo sistema 
alfabético, como o português, o espanhol e o inglês, por exemplo, não têm a 
mesma relação entre a representação gráfica e a produção de sons. Assim, a 
transferência grafo-fônico-fonológica revela a tendência, durante a fala ou a 
leitura oral em L2, de atribuir aos grafemas que compõem as palavras da L2 
a mesma ativação fonético-fonológica que estes reforçariam durante a fala 
ou a leitura oral na L1.
Fonologia e variação12
Evidencia-se, portanto, que a pronúncia adequada aos padrões da norma 
culta é altamente dependente da frequência de uso. Essa premissa serve tanto 
para a aquisição da língua materna quanto para a aquisição da língua estran-
geira. Dessa forma, os aspectos fonológicos são cruciais para o desenvolvimento 
adequado da linguagem que comunica com eficiência.
AMARAL, M. P. A síncope em proparoxítonas: uma regra variável. In: BISOL, L.; BRES-
CANCINE, C. Fonologia e variação: recortes do português brasileiro. Porto Alegre: 
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DUBOIS, J. et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 2006.
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13Fonologia e variação

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