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LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL ESPECIAL ESTATUTO DO DESARMAMENTO Profa: Aleteia Queiroz Alves de Souza PREVISÃO LEGAL – LEI 10.826/2003 ➢Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei. ➢ § 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005. ➢ § 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral. ESTATUTO DO DESARMAMENTO ➢Em referendo realizado em outubro de 2005, 63% dos brasileiros votaram favoravelmente à comercialização de armas de fogo, acessórios e munições. ➢Conquanto mantida a comercialização, a Lei n. 10.826/03 impôs rígido controle de armamento, adotando uma política de desarmamento da população civil, restringindo ao máximo a possibilidade de as pessoas possuírem e portarem armas de fogo e munições. CONFLITOS REALCIONADOS AO USO DE ARMA ➢ Lei n. 10.826/03 (art. 16), passou a se sujeitar a uma pena de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. ➢ OBS: Assim, a pena máxima cominada a um crime de mera conduta e de perigo abstrato que tem como bem jurídico tutelado a segurança e a paz públicas é idêntica à pena mínima cominada para o crime de homicídio simples (CP, art. 121, caput) ➢ POSICIONAMENTO 1: Há quem sustente que toda e qualquer pessoa tem direito a possuir armas de fogo, seja para fins de autodefesa, seja para defesa do patrimônio próprio ou alheio. Essa maior flexibilização do acesso às armas pela população civil teria efeitos imediatos na redução dos índices criminais. Isso porque os criminosos teriam receio de serem vítimas de um disparo de arma de fogo por ocasião da prática de um crime qualquer. Enfim, mais armas, menos crimes. (LIMA, 2021, p. 417-418) CONFLITOS RELACIONADOS AO USO DE ARMA ➢ POSICIONAMENTO 2: o aumento do número de armas em mãos da sociedade civil contribui, inegavelmente, não apenas para o incremento de confrontos letais em discussões banais do nosso cotidiano, seja numa briga de trânsito, seja numa discussão entre torcedores de times rivais, não muito frequentemente sob efeito de álcool, como também facilita sobremaneira o acesso dos criminosos às armas que estariam de posse da população civil. É ilusório, ademais, acreditar que o fato de um civil estar armado poderá contribuir para a redução das estatísticas criminais. (LIMA, 2021, p. 417-418) ➢ O Estado deve, portanto, desenvolver uma política eficaz de combate à comercialização e circulação de armas de fogo, até mesmo para tentar pôr freio à escalada de crimes cometidos por armas de fogo. REQUISITOS PARA AQUISIÇÃO DE ARMA DE FOGO ➢ São requisitos cumulativos, que devem ser comprovados, periodicamente, em período não inferior a 3 (três) anos: a) comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; b) apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; c) comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento da Lei 10.826/03. (LIMA, 2021, p. 420) OBS: Preenchendo esses requisitos, o SINARM expedirá autorização de compra de arma de fogo em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização. REGISTRO DE ARMA DE FOGO ➢ Registro de Arma de Fogo é a autorização para o proprietário manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa, valendo lembrar que, para os residentes em área rural, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do respectivo imóvel rural (Lei n. 10.926/03, art. 5°, §5°, incluído pela Lei n. 13.870/19). ➢ Com o advento do Estatuto do Desarmamento, as armas de fogo devem ser registradas na Polícia Federal (SINARM – Sistema Nacional de Armas) ou no Comando do Exército (SIGMA – Sistema de Gerenciamento de Armas). CRIME DE PERIGO ABSTRATO Crime de perigo: é aquele em que há uma probabilidade de dano, que, no entanto, não precisa ocorrer para a consumação do delito. Objetivo é levar a efeito a punição do agente antes que sua conduta venha, efetivamente, a causar lesão ao bem juridicamente protegido . Crimes de perigo abstrato: nesse caso, o legislador penal não toma como pressuposto da criminalização a lesão ou o perigo concreto de lesão a determinado bem jurídico. Na verdade, baseado em dados empíricos, o legislador seleciona grupos ou classes de ações que geralmente levam consigo o indesejado perigo ao bem jurídico. Há, pois, uma presunção absoluta, logo, que não admite prova em sentido contrário, de que a prática de determinada conduta representa um risco ao bem jurídico, sendo desnecessária, portanto, a comprovação no caso concreto de que a conduta do agente tenha efetivamente produzido a situação de perigo que o tipo penal visa evitar. CRIME DE PERIGO ABSTRATO Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. COMPETÊNCIA PARA JULGAR A princípio, poderia se pensar que todos os delitos previstos no Estatuto do Desarmamento passariam a ser de competência da Justiça Federal, uma vez que afetariam interesses de órgãos pertencentes à estrutura da União. Bens tutelados: segurança e a paz públicas, ou seja, a garantia e preservação do estado de segurança, integridade corporal, vida, saúde e patrimônio dos cidadãos indefinidamente considerados contra possíveis atos que os exponham a perigo. Logo, o simples fato de se tratar de porte de arma de fogo não evidencia, por si só, a competência da Justiça Federal. INCOLUMIDADE DA SOCIEDADE – Competência da Justiça Estadual COMPETÊNCIA PARA JULGAR COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM FEDERAL: presente uma das hipóteses constantes do art. 109 da Constituição Federal, a competência para o processo e julgamento dos crimes previstos no Estatuto do Desarmamento será da Justiça Federal. Exemplos: a) crime de disparo de arma de fogo (Lei n. 10.826/03, art. 15) cometido por funcionário público federal em razão das funções (súmula n. 147 do STJ), conforme disposto no art. 109, IV, da CF;229 b) crime de tráfico internacional de arma de fogo (Lei nº 10.826/03, art. 18), hipótese em que a competência será da Justiça Federal, nos exatos termos do art. 109, V, da Constituição Federal, haja vista tratar-se de crime previsto em tratado ou convenção internacional, caracterizado pela internacionalidade territorial do resultado relativamente à conduta delituosa; JUSTIÇA FEDERAL Súmula n. 122 do STJ: "compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal". Ex: havendo prova de que o autor do delito de porte ilegal de arma de origem estrangeira também foi o responsável por sua importação ilegal – à Justiça Federal caberá o julgamento de ambos os delitos; JUSTIÇA MILITAR A competência da Justiça Militar estava restrita ao processo e julgamento dos crimes militares (para os crimes previstosexclusivamente no Código Penal Militar, caberá à Justiça Comum - Estadual, no caso de militares estaduais, e caberá à Justiça Federal, no caso de militares das Forças Armadas - caberia o processo e julgamento de tais feitos). De acordo com o 9°, II, do Código Penal Militar, com redação dada pela Lei n. 13.491/17, a Justiça Militar da União e dos Estados passou a ter competência para julgar não apenas os crimes previstos no Código Penal Militar, mas também aqueles previstos na legislação penal , quando praticados por militar da ativa em um dos contextos ali elencados. JUSTIÇA MILITAR CONCLUSÃO: pelo menos enquanto não declarada a inconstitucionalidade da Lei n. 13.491/17, a Justiça Militar da União (ou dos Estados) passa a ter competência para o processo e julgamento dos crimes previstos no Estatuto do Desarmamento. Por conseguinte, na eventualidade de um Policial Militar do Estado de São Paulo, no exercício da função, ser flagrado portando arma de fogo de uso restrito sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar, caberá à Justiça Militar do Estado de São Paulo o processo e julgamento do crime militar previsto no art. 16, caput , da Lei n. 10.826/03, c/c art. 9°, II, alínea "c", do Código Penal Militar, com redação dada pela Lei n. 13.491/17. (LIMA, 2021, p. 428) POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. CRIME DE PERIGO ABSTRATO BEM JURÍDICO TUTELADO – PAZ E SEGURANÇA PÚBLICA CRIME VAGO – SUJEITO PASSIVO É A COLETIVIDADE NORMA PENAL EM BRANCO OBS: Para a tipificação do crime do art. 12 da Lei n. 10.826/03, é indispensável que a conduta do agente seja cometida em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Para que alguém possa manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa, é indispensável que o agente tenha o respectivo registro. (LIMA, 2021, p. 430) Art. 5o (LEI 10.826/03) O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO – CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES 1) PARA O Art. 12. – RESIDÊNCIA = CASA – DO AGENTE 2) Se em outra residência que não a sua (de um terceiro) – porte ilegal de arma de fogo. 3) RESIDENTES EM ÁREA RURAL – Será residência toda a extensão do respectivo imóvel rural. 4) LOCAL DE TRABALHO – Doutrina entende que será local fixo – Logo, a regra não alcança vendedores ambulante, caminhoneiros, motoristas profissionais. 5) OBS: Garçom não poderá ter arma no restaurante – não é o titular da pessoa jurídica nem o responsável pelo estabelecimento. QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA DESMUNICIADA 1ª CORRENTE (Luiz Flávio Gomes) - não comete o crime de posse (ou porte) ilegal de arma de fogo o agente que tiver em mãos uma arma de fogo desmuniciada, pois não há, in casu, potencialidade lesiva. 2ª CORRENTE (DOMINANTE) - não há necessidade de a arma de fogo estar municiada e que o crime estará caracterizado ainda que a munição não esteja ao alcance das mãos do agente. OBS: O dispositivo revela a preocupação do legislador com a potencialidade lesiva de tal artefato, independentemente de estar em condição de pronto uso. Não se trata de meio ineficaz. Pode ser municiada a qualquer momento. QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA DEFEITUOSA Se a arma de fogo é absolutamente incapaz de realizar disparos, estamos diante de hipótese de crime impossível por força da ineficácia absoluta do meio (CP, art. 17). Se a arma é incapaz de disparar, esta não pode ser considerada arma nos termos da definição do Decreto n. 10.030/19. Portanto, desde que demonstrada por laudo pericial a inaptidão da arma de fogo para o disparo, é atípica a conduta de portar ou de possuir arma de fogo, diante da ausência de afetação do bem jurídico segurança e paz públicas, tratando-se de crime impossível pela ineficácia absoluta do meio. (LIMA, 2021, P. 434) QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA DE FOGO OBSOLETA São aquelas armas de fogo que não se prestam ao uso efetivo em caráter permanente (Ex: Munição não é mais produzida ou modelo da arma está fora de uso – considerada relíquia ou peça inerte) Se tal artefato não mais se presta ao uso normal, não tem qualquer potencialidade lesiva, revelando-se inapta, portanto, a trazer perigo ao bem jurídico tutelado (segurança e paz públicas) (LIMA, 2021, P. 434) QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA DESMONTADA 1ª CORRENTE: "se a arma está desmontada, no porta-malas de um veículo, devidamente acondicionada em caixa lacrada, não nos parece crime, uma vez que o proprietário pode estar levando-a para a casa de campo, por exemplo". (Guilherme de Souza Nucci) CORRENTE DOMINANTE: o simples fato de se tratar de arma de fogo desmontada não tem o condão de afastar a tipicidade da conduta. Nesse sentido :" ( ... ) Consoante entendimento firmado no julgamento do AgRg nos EAREsp n. 260.556/SC, o crime previsto no art. 14 da Lei n. 10.826/2003 é de perigo abstrato, sendo irrelevante o fato de a arma estar desmuniciada ou, até mesmo, desmontada ou estragada. Bem jurídico protegido é a segurança pública, que é colocada em risco com transporte de arma não autorizado. (LIMA, 2021, P. 435) QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA DE BRINQUEDO LEI 9.437/97 (REVOGADA) - art. 10, §1 °, II, da revogada Lei de Armas: "utilizar arma de brinquedo, simulacro de arma capaz de atemorizar outrem, para o fim de cometer crimes". O Estatuto do Desarmamento não reproduziu essa figura delituosa. Art. 26. LEI 10.826/03 - São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército. QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA DE BRINQUEDO Os princípios da tipicidade e da ofensividade (ou lesividade) impedem, portanto, o reconhecimento de crime previsto no Estatuto do Desarmamento quando se tratar de arma de brinquedo. De fato, tal objeto nada mais é do que um brinquedo, e não arma no sentido jurídico do termo (princípio da tipicidade). E uma arma de fantasia (ou finta) não tem potencialidade lesiva, revelando -se instrumento absolutamente ineficaz para expor a perigo os bens jurídicos tutelados pela Lei n. 10.826/03 (princípio da ofensividade ou lesividade). De todo modo, a depender do caso concreto , a utilização de arma de brinquedo poderá configurar outro s crimes, como, por exemplo , o delito de roubo simples, jamais o circunstanciado pelo emprego de arma de fogo. (LIMA, 2021, p. 435) QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA DE PRESSÃO, GÁS COMPRIMIDO OU POR AÇÃO DE MOLA ART. 26, LEI 10.826/03 – IMPEDE O COMÉRCIO DE ARMA DE BRINQUEDO QUE POSSA SER CONFUNDIDA. DEPENDENDO DO CASO PODE CONFIGURAR CONTRABANDO (art. 334-A, §1°, incisos II ou IV, do Código Penal). Art. 50, inciso IV, do Decreto n. 5.123/04, foi editada pelo Comando do Exército a Portaria n. 02-COLOG/2010 – Regulamenta a fabricação, venda, importação e comercialização de simulacros de arma de fogo. OBS: Mercadoria cuja venda é relativamenteproibida, daí por que se entende possível a tipificação do crime de contrabando. QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA DE PRESSÃO, GÁS COMPRIMIDO OU POR AÇÃO DE MOLA Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: "( ... ) a importação não autorizada de arma de pressão, ainda que de calibre inferior a 6 (seis) mm, configura crime de contrabando, cuja prática impede a aplicação do princípio da insignificância. No crime de contrabando, é imperioso afastar o princípio da insignificância, na medida em que o bem jurídico tutelado não tem caráter exclusivamente patrimonial, pois envolve a vontade estatal de controlar a entrada de determinado produto em prol da segurança e da saúde pública. Também é firme o entendimento de que, para a caracterização do delito de contrabando, basta a importação de arma de pressão sem a regular documentação, sendo desnecessária a perícia". (STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 1 .479.836/ RS, Rei. Min . Ribeiro Dantas, j . 18/ 08/ 2016, DJe 24/ 08/ 2016) QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA BRANCA É o instrumento ou objeto dotado de gume e idôneo para matar ou ferir. Arma PRÓPRIA – se para fins de ataque ou defesa – Ex: espada, punhal. IMPRÓPRIA – se a finalidade é diversa. – Ex: faca de cozinha, machado. Art. 19. (DECRETO-LEI N. 3688/41 – LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS) Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade: Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente. QUESTÕES CONTROVERSAS ARMA BRANCA ARTS. 14 E 16 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO – Fazem referência ao porte de arma de fogo. Infração. STJ: POSSIBILIDADE DE TIPIFICAÇÃO DA CONDUTA DE PORTE DE ARMA BRANCA COMO CONTRAVENÇÃO PREVISTA NO ART. 19, DEC-LEI N. 3.688/41, NÃO HAVENDO QUE SE FALAR EM PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA OU DA LEGALIDADE. PARA CRIMES COMETIDOS APÓS O PACOTE ANTICRIME (LEI 13.964/19): Art. 157 (CÓDIGO PENAL) § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; ART. 12 – CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA 1) CRIME COMUM – Poderia ser realizado por qualquer pessoa; 2) MERA CONDUTA - é aquele em que o tipo penal se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, razão pela qual ele jamais poderá ser verificado; 3) DE FORMA LIVRE - aquele que admite qualquer meio de execução; 4) COMISSIVO (AÇÃO) - é praticado mediante uma conduta positiva, um fazer; 5) PERMANENTE – Consumação se projeta no tempo; 6) DE PERIGO ABSTRATO - a probabilidade de dano é presumida pelo tipo penal; 7) UNISSUBJETIVO (OU DE CONCURSO EVENTUAL) - é aquele que pode ser praticado por um único agente, admitindo, entretanto, o concurso de pessoas (CP, art. 29); 8) PLURISSUBSISTENTE - é aquele cuja conduta se exterioriza por meio de dois ou mais atos, os quais devem se somar para produzir a consumação. OMISSÃO DE CAUTELA Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato. OMISSÃO DE CAUTELA - CLASSIFICAÇÃO 1) PRÓPRIO – Somente pode ser praticado pelo possuidor ou proprietário da arma de fogo; 2) DE PERIGO ABSTRATO 3) MATERIAL – Existe um resultado, que é o apoderamento de arma de fogo por menor de 18 anos ou pessoa com deficiência mental, cuja produção é indispensável para a consumação do resultado; 4) CULPOSO 5) DE FORMA LIVRE 6) COMISSIVO 7) INSTANTÂNEO (OU DE ESTADO) – É AQUELE CUJA CONSUMAÇÃO SE VERIFICA EM UM MOMENTO DETERMINADO, SEM CONTINUIDADE NO TEMPO; 8) UNISSUBJETIVO 9) PLURISSUBSISTENTE PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO Para a tipificação do crime do art. 14 da Lei n. 10.826/03, é indispensável que a conduta do agente seja cometida sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. NÃO TEM PORTE DE ARMA. Se tiver o porte, mas estiver em desacordo com determinação legal (usar ostensivamente, adentrar locais públicos com a arma) – infração administrativa, da qual resulta cassação do porte e apreensão da arma. Praticante de tiro esportivo - Portaria n. 28 - COLOG, de 14 de março de 2017 - têm o direito de portar uma única arma de fogo municiada nos deslocamentos do local de guarda do acervo até os locais de prática e/ou treinamento. Somente portar para praticar. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO – NORMA PENAL EM BRANCO O mero registro não autoriza o porte em locais diversos. Somente poderá ter a arma em residência ou local de trabalho. Necessário ter o porte de arma. O art. 14 da Lei n. 10.826/03 funciona, portanto, como verdadeira espécie de norma penal em branco, que exige complementação por meio de ato regulador, com vistas a fornecer parâmetros e critérios legais para a penalização das condutas ali descritas. Por autorização entende-se deter o respectivo certificado de registro federal de arma de fogo emitido pelo Sistema Nacional de Armas (SINARM) do Departamento de Polícia Federal (art. 10 da Lei n. 10.826/2003). PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO – NORMA PENAL EM BRANCO OBS: Consoante disposto no art. 17 do Decreto n. 9.847/19, o porte de arma só é válido quando apresentado com o documento de identidade do portador. Discute-se na doutrina, então, o correto enquadramento da conduta do agente que tem o porte, mas não traz consigo o documento. Prevalece o entendimento que não há crime, pois havia autorização legal de porte de arma de fogo, subsistindo tão somente uma infração administrativa. ATENÇÃO: Uso de arma por agentes de trânsito – somente no exercício das atribuições do cargo. É vedada a condução ostensiva do artefato onde haja aglomerações de pessoas. DISPARO DE ARMA DE FOGO Disparo de arma de fogo Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável. DISPARO DE ARMA DE FOGO É firme o entendimento jurisprudencial no sentido de que o delito de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei n. 10.826/03) é crime de perigo abstrato, que presume a ocorrência de dano à segurança pública e prescinde, para sua caracterização, de comprovação de lesividade ao bem jurídico tutelado. Portanto, desde que o disparo tenha sido feito em lugar habitado ou em via pública, pouco importa que tenha sido efetuado para o alto ou para o chão. (LIMA, 2021, p. 450-452) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE ➢A lei primária ou principal é aquela que para caracterizar um tipo engloba outros. ➢A lei primária ou principal prevalece sobre a lei subsidiária, por ser um fatomais abrangente e mais grave. ➢Ex: O crime de roubo contém outros tipos que são subsidiários dele, como o furto e a ameaça. E somente se não se enquadrar no roubo é que são utilizados os outros tipos, subsidiariamente. DISPARO DE ARMA DE FOGO ATENÇÃO: Na eventualidade de o disparo de arma de fogo ou o acionamento da munição ser cometido com a finalidade de praticar outro crime, o agente responderá apenas por este, e não por aquele. É o que ocorre, por exemplo, se alguém efetuar um disparo de arma de fogo para matar alguém. Ao invés de responder pelo crime de homicídio em concurso formal impróprio com o delito de disparo de arma de fogo, responderá apenas pela figura delituosa do art. 121 do Código Penal, haja vista a adoção do princípio da subsidiariedade expressa. (LIMA, 2021, p. 456) DISPARO DE ARMA DE FOGO - CLASSIFICAÇÃO 1) Comum; 2) Material; 3) De forma livre; 4) Comissivo; 5) Instantâneo; 6) Unissubjetivo ; 7) Unissubsistente ou plurissubsistente , a depender do mecanismo usado pelo agente POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. § 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO – MAIOR PODER DE LESIVIDADE O Decreto n. 9.847/19 define arma de fogo de uso restrito em seu art. 2°, inciso II, nos seguintes termos: "II - arma de fogo de uso restrito - as armas de fogo automáticas e as semiautomáticas ou de repetição que sejam: a) não portáteis; b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; ou c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules". O Decreto n. 9.847/19 conceitua munição de uso restrito como as munições que: "a) atinjam, na saída do cano de prova de armas de porte ou portáteis de alma raiada, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; b) sejam traçantes, perfurantes ou fumígenas; c) sejam granadas de obuseiro, de canhão, de morteiro, de mão ou de bocal; ou d) sejam rojões, foguetes, mísseis ou bombas de qualquer natureza" (art. 2°, IV). POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO - CLASSIFICAÇÃO 1) Crime comum; 2) Crime de execução livre; 3) Comissivo; 4) Instantâneo nas condutas adquirir, fornecer, receber, ceder, emprestar, remeter e empregar, porém permanente nas condutas possuir, portar, deter, ter em depósito, transportar, manter sob sua guarda e ocultar; 5) Crime de perigo abstrato; 6) Crime doloso; 7) Crime de mera conduta; 8) Crime unissubjetivo; 9) Crime plurissubsistente.