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W BA 09 13 _V 1. 0 ÉTICA E DEONTOLOGIA 2 Andressa Keiko Matsumoto São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 ÉTICA E DEONTOLOGIA 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveria Higa Revisor Veronica Cristina Gomes Soares Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Matsumoto, Andressa Keiko M434e Ética e deontologia / Andressa Keiko Matsumoto. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 45 p. ISBN 978-65-5356-046-8 1.Farmácia. 2. Ética. 3. Deontologia. I. Título. CDD 615 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB-8 010289 © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Conselhos Federal e Regional de Farmácia ___________________ 05 O código de ética da profissão farmacêutica _________________ 17 Requisitos legais para empresas farmacêuticas ______________ 30 A responsabilidade técnica do profissional farmacêutico ____ 44 ÉTICA E DEONTOLOGIA 5 Conselhos Federal e Regional de Farmácia Autoria: Andressa Keiko Matsumoto Leitura crítica: Veronica Cristina Gomes Soares Objetivos • Conceituar os Conselhos Federal e Regional de Farmácia. • Conhecer o impacto da farmácia na sociedade. • Compreender as ações dos Conselhos de Farmácia. 6 1. Conselhos Federal e Regional de Farmácia No Brasil, a organização das profissões é regulamentada por leis federais específicas às profissões que delegam o direito de autorregular o exercício profissional a associações profissionais. No caso da farmácia, o Conselho Federal de Farmácia, ou CFF, regulamenta e estabelece as normas da prática farmacêutica a nível federal. Já a nível municipal, o Conselho Regional de Farmácia (CRF) é responsável por fiscalizar o exercício da profissão no território onde ele se encontra cadastrado. Além dos conselhos, existem sociedades farmacêuticas que são profissionais, científicas, associações humanitárias e culturais sem fins lucrativos que buscam qualificar profissionais, realizar pesquisas e ensinar, além de realizar acreditação para serviços e educação. No entanto, elas não têm autoridade para regulamentar a profissão (MELO et al., 2017). Com a ampla atuação do farmacêutico, é de suma importância uma organização nas ações e fiscalizações dos profissionais. Assim, existem os sindicatos que, para os associados, desempenham importantes atividades (Quadro 1). O pagamento de anuidades em associações e sindicatos não são de ordem obrigatória, apenas para os associados. 7 Quadro 1 – Atribuições dos conselhos, associações e sindicatos Atribuições Conselho Profissional Associações Sindicatos Inscrição profissional Sim Fiscalização Sim Regulamentação profissional Sim Questões trabalhistas Sim Piso salarial Sim Convenção coletiva de trabalho Sim Assessoria jurídica Sim Capacitação Sim Sim Sim Pagamento de taxa anual obrigatória Sim X X Fonte: adaptado de https://crfrs.org.br/noticias/quais-sao-as-principais-diferencas-entre- conselhos-profissionais—sindicatos-e-associacoes-. Acesso em: 2 jan. 2021. Uma das mais importantes atribuições do CRF, segundo Art. 10 da Lei nº 3.820 (BRASIL,1960, [s.p.]), é: “Fiscalizar o exercício da profissão, impedindo e punindo as infrações à lei, bem como enviando às autoridades competentes relatórios documentados sobre os fatos que apurarem e cuja solução não seja de sua alçada”. Todos os profissionais de saúde no Brasil são considerados capazes de atuar em sua área depois de se formarem, no entanto, eles devem ser registrados em um conselho regional do estado em que vão trabalhar. Esse conselho faz parte de um sistema nacional, para o qual o CFF é o órgão dirigente (BRASIL,1960). De acordo com o Art. 1 da Lei Federal 3.820/1960: Ficam criados os Conselhos Federal e Regionais de Farmácia, dotados de personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, destinados a zelar pela fiel observância dos princípios da ética e da disciplina da classe dos que exercem atividades profissionais farmacêuticas no País. (BRASIL,1960, [s.p.]) 8 Depois de iniciar o registro, os farmacêuticos não são obrigados a se registrar anualmente ou repetir o processo de certificação para manter as qualificações profissionais. Em vez disso, eles devem estar disponíveis para inspeção pelo CFF e a autoridade sanitária, segundo à Resolução CNE/CES 2/2002 (MELO et al., 2017). Segundo a Lei Federal 3.820 (BRASIL, 1960), o CFF e o CRF devem ser constituídos pelo mesmo número de membros, e a eleição dos conselheiros e suplentes deve ocorrer no seu estado de origem. Cabe aos conselheiros do CFF, na primeira reunião ordinária executada a cada biênio, elegerem a diretoria (Figura 1). Figura 1 – Estrutura da diretoria do CFF Fonte: elaborada pela autora. É importante compreendermos que cabe ao presidente do CFF e do CRF prestarem contas, todos os anos, no Tribunal de Contas da União. E isso deve ser feito de forma direta ao tribunal, após aprovação do conselho (BRASIL, 1960). Do século XX até os dias atuais, a profissão farmacêutica passou por vários períodos difíceis, incluindo a perda de identidade. Dessa forma, a atuação desse profissional tem sofrido inúmeras transformações e cabe 9 um papel fundamental aos conselhos na transformação da educação farmacêutica brasileira. O ideal é que, com o tempo, os profissionais de saúde ganhem experiência em uma ou mais áreas, mas não precisem demonstrar manutenção contínua da competência. Educadores e o CFF são sensíveis à necessidade de mudar essa percepção, mas muitos impedimentos devem ser resolvidos antes da implementação de avaliações de desempenho e níveis, antes do novo registro, da mudança ou da expansão de uma função, do credenciamento ou de outros testes que são usados para avaliar a competência. Em relação à atuação do profissional farmacêuticos, o Ministério do Trabalho e Emprego estabeleceu um sistema de classificação de ocupações, conhecido como Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), que determina as possibilidades de trabalho. Até janeiro de 2013, a profissão de farmacêutico estava limitada a duas ocupações: farmacêutico e farmacêutico bioquímico. Após negociações com o CFF, essa classificação foi atualizada para atender às mudanças estruturais no mercado de trabalho (MELO et al., 2017). A atuação do farmacêutico é muito ampla e consiste em várias áreas, como: farmacêutico analista clínico, farmacêutico da indústria alimentar, farmacêutico de prática complementar e integrativa, farmacêutico de saúde pública, farmacêutico da indústria farmacêutica, farmacêutico de toxicologia e farmacêutico hospitalar e clínico. Desse modo, é plausível a existência de órgãos competentes que garantem os direitos da classe e fiscalizem os serviços de saúde prestados por essesno conselho de farmácia da região. Essa trilha de auditoria é particularmente importante no caso de qualquer incidente ou erro, pois mostra quem foi o responsável (CFF, 2021). 51 O registro da farmácia pode ser feito por escrito, eletronicamente ou em ambas as formas. Uma entrada no registro da farmácia pode ser feita remotamente, desde que o registro esteja em conformidade com todos os requisitos profissionais e legais relevantes. Dessa forma, o RT deve garantir que: • O registro da farmácia é preciso e reflete quem o farmacêutico responsável é, e era, em qualquer data e hora (incluindo se o farmacêutico responsável é ou não ausente da farmácia registrada). • Efetue-se pessoalmente os lançamentos no cadastro da farmácia. • Sejam identificadas quaisquer alterações, quando e por quem a alteração foi feita, se o registro da farmácia for mantido em papel. • As medidas adequadas estejam em vigor para garantir que seja feito backup do registro, e que ele esteja disponível na farmácia registrada para inspeção. Além disso, quaisquer alterações ao registro devem identificar quando e por quem a alteração foi feita, se o registro da farmácia for mantido eletronicamente. • Qualquer funcionário se torne farmacêutico responsável ou faça uma entrada no registro da farmácia até que se tenha a garantia do funcionamento seguro e eficaz dos negócios da farmácia devidamente registrada. • O registro da farmácia esteja disponível na farmácia registrada. • O registro da farmácia esteja disponível para inspeção pelo proprietário do negócio de farmácia, o farmacêutico superintendente (no caso de uma pessoa jurídica), o farmacêutico responsável, o pessoal da farmácia e futuras inspeções. Os procedimentos da farmácia fazem parte do quadro de qualidade para o funcionamento seguro e eficaz da farmácia registada. Os 52 procedimentos de farmácia podem ser mantidos por escrito, eletronicamente ou em ambos os formulários (CFF, 2021). Em relação aos procedimentos, o RT deve manter backups adequados do conteúdo dos procedimentos de farmácia, garantir que os procedimentos da farmácia estejam disponíveis para inspeção e certificar-se de que o pessoal da farmácia compreenda os procedimentos que são utilizados. Segundo a RDC nº 577/13, o farmacêutico de responsabilidade do estabelecimento deve, ainda, garantir que os procedimentos sejam revisados pelo menos uma vez a cada dois anos ou após qualquer incidente ou evento que ocorra, o que indica que a farmácia não está funcionando de forma segura e eficaz. Ele também deve identificar o farmacêutico responsável que revisou os procedimentos, identificar quais procedimentos estão atualmente em vigor, identificar quais procedimentos estavam em vigor anteriormente (CFF, 2021). Em casos especiais, como situações em que as circunstâncias na farmácia mudarem e, na opinião profissional do RT, seja necessário alterar como a farmácia normalmente opera, cabe ao farmacêutico de responsabilidade fazer as alterações temporárias aos procedimentos de farmácia. O RT deve estar sempre atualizado com as legislações vigentes, pois deve garantir que haja uma trilha de auditoria para identificar quais procedimentos estão atualmente em vigor, quais procedimentos estavam em vigor anteriormente, o farmacêutico responsável que alterou o procedimento, e a data em que a alteração foi feita, caso uma alteração temporária aos procedimentos de farmácia tenha sido realizada. Outro documento importante para atuação do RT na farmácia é a expedição da Certidão de Regularidade, pelo conselho regional, de forma que respeite os princípios éticos, legais e sanitários pelo estabelecimento e profissionais (CFF, 2021). 53 1.1 Perfil do farmacêutico responsável técnico A base da prática farmacêutica agora inclui uma certa centralização voltada ao paciente, ao cuidado com todas as funções cognitivas do aconselhamento, fornecendo informações a respeito de medicamentos e monitorando a terapia feita com medicamentos. Além disso, a base da prática farmacêutica também inclui aspectos vinculados à técnica da assistência em farmácia e a gestão do estoque de medicamentos. É no papel adicional de gerenciar a terapia com medicamentos que os farmacêuticos podem, agora, dar uma contribuição vital voltada ao atendimento. A contribuição dos farmacêuticos para a saúde se baseia, na maioria dos países, em grande compreensão dos princípios e técnicas científicas farmacêuticas e no empenho em acompanhar ao longo de suas carreiras os avanços da medicina e da farmácia (KIM; LEE; SOHN, 2020). Seu conhecimento e experiência se estendem a todos os aspectos da preparação, distribuição, ação e uso de medicamentos. A responsabilidade que recai sobre o farmacêutico mudou substancialmente para a utilização do conhecimento farmacêutico no uso adequado de medicamentos feito pelo paciente. Para serem membros eficazes da equipe de saúde, os farmacêuticos precisam de habilidades e atitudes que os capacitem a assumir muitas funções diferentes. Segundo a World Health Organization (WHO, 1946), o conceito de “farmacêutico 7 estrelas” foi introduzido pela OMS em março de 2014 e cobriu as seguintes funções: cuidador, tomador de decisões, comunicador, gerente, aluno ao longo da vida, professor e líder (Figura 2). 54 Figura 2 – Farmacêutico 7 estrelas. Fonte: elaborada pela autora. Os farmacêuticos devem fornecer serviços na área de atendimento do mais alto nível de qualidade, e devem ver sua prática como integrada e contínua com as do sistema e com os profissionais da área de saúde. Em farmácia comercial, os serviços farmacêuticos vão além do cuidado com o medicamento, incluindo medidas de parâmetros bioquímicos e fisiológicos do paciente. É de atribuição farmacêutica atividades como: aferição de pressão arterial, medição de glicose capilar e temperatura corpórea, perfuração do lóbulo auricular, aplicação de injetáveis, aplicação de vacinas e prescrição farmacêutica, sendo essa última atividade atribuída pela RDC nº 586/13. Com essa resolução ampliou-se a atuação clínica do profissional farmacêutico, abrindo campo para que consultórios sob Farmacêutico 7 estrelas 55 responsabilidade farmacêutica surgissem, pois, para exercer essa prática, é exigido ao menos um espaço que permite uma avaliação confidencial e particular com o paciente. Esse consultório pode também estar localizado dentro do estabelecimento farmacêutico. Com a resolução, a atuação do profissional farmacêutico foi ampliada e abriu campo para o surgimento dos consultórios farmacêuticos, já que para exercer a prescrição é necessário, no mínimo, um espaço reservado, permitindo assim a confidencialidade da avaliação. A base do trabalho do farmacêutico deve girar em torno de decisões precisas, que são feitas ou tomadas em relação ao uso apropriado, eficaz, seguro e econômico de recursos (por exemplo, pessoais, de medicamentos, de produtos químicos, de equipamentos, de procedimentos e de recursos práticos). O farmacêutico deve, assim, possuir a capacidade de avaliar, sintetizar dados e informações e decidir sobre o mais adequado curso de ação. O farmacêutico deve ser um link entre os médicos e pacientes, e para outros profissionais de saúde, tendo conhecimento completo sobre todos os produtos farmacêuticos com atualizações recentes e ser confiante, enquanto se comunica com outros profissionais que atuam na saúde e são membros da comunidade (WHO, 1946). A comunicação centrada no paciente, no entanto, é um processo bidirecional que inclui “definição de problema compartilhado” e “tomada de decisão compartilhada”. Pacientes preferem farmacêuticos usando comunicação centrada no paciente do que a transmissão simples de informações. Contudo, esse profissional deve ter habilidades eficazes de comunicação com o paciente e pode ajudá-lo a fornecer melhor AF para a comunidade, identificando o problema do paciente e requisitos, garantindo a sua qualidade de vida. Fortes habilidadesde comunicação permitirão ao farmacêutico estabelecer o relacionamento necessário para construir uma relação de confiança; e para garantir uma troca 56 eficaz de informações necessárias para o farmacêutico avaliar as necessidades do paciente, e para o paciente entender e aceitar recomendações do farmacêutico (KIM; LEE; SOHN, 2020). Os farmacêuticos devem ter a capacidade de gerenciar recursos comerciais, que incluem mão de obra, física e recursos financeiros, assumindo maior responsabilidade por gerenciar as informações do rótulo do medicamento, garantir que os produtos de origem farmacêutica apresentem determinadas qualidades e manter competência clínica e função nas atividades de assistência ao paciente (WHO, 1946). Desenvolver e manter as políticas do departamento e procedimentos, metas, objetivos, programas de garantia de qualidade, segurança e padrões ambientais e de controle de infecção são componentes-chave que ajudam o farmacêutico a evoluir, conforme um RT eficiente também. É impossível adquirir produtos farmacêuticos completos/educação farmacêutica em um instituto e experiência profissional necessária para seguir uma carreira ao longo da vida como um farmacêutico (KIM; LEE; SOHN, 2020). Os conceitos de aprendizagem ao longo da vida devem começar enquanto se frequenta a escola de farmácia e devem ser apoiados ao longo da carreira do farmacêutico. Farmacêuticos regularmente atualizam as suas técnicas e conhecimentos, a fim de se atualizarem com as tendências atuais em questões relacionadas à terapia com medicamentos. O sistema vinculado à educação continuada do farmacêutico deve apresentar uma educação estruturada para apoiar a continuidade do desenvolvimento para manter e aprimorar a sua competência. Uma das responsabilidades do farmacêutico é ajudar com a educação e com o treinamento das futuras gerações de farmacêuticos e o público em geral. A moda dinâmica do ensino de farmácia não é apenas importar a habilidade e conhecimento para outros, mas também oferecer uma oportunidade para profissionais adquirirem 57 novos conhecimentos e afinarem habilidades existentes. As sessões de ensino são mais bem conduzidas na prática, em ambientes onde os farmacêuticos emergentes podem mergulhar em uma experiência de prática farmacêutica do mundo real (KIM; LEE; SOHN, 2020). O farmacêutico RT também desempenha um papel de liderança no sistema que rege a saúde para tomar decisões, comunicar e gerenciar de forma eficaz. Um líder é aquele que pode criar uma ideia/visão e motivar outros membros da equipe para alcançar a visão. Um líder é uma pessoa que incentiva continuamente diferenças construtivas e é voltado para a missão sem ser egocêntrico. Líderes de farmácia eficazes são especialistas em demonstrar e criar alto desempenho nas práticas de farmácia caracterizadas pela alta qualidade no atendimento ao paciente, melhoria da segurança da medicação e máxima produtividade (WHO, 1946). A farmácia está no centro do sistema de saúde, desempenhando um papel muito importante no atendimento do papel essencial na saúde, educação, aconselhamento e descoberta de medicamentos. Referências CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Lei nº 5.991 de 17 de Dezembro de 1973. Disponível em: https://www.cff.org.br/pagina.php?id=410&titulo=Lei+5.991+-+1973. Acesso em: 8 set. 2021. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Resolução nº 577 de 25 de julho de 2013. Disponível em: https://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/577.pdf. Acesso em: 8 set. 2021. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Resolução nº 700, de 29 Janeiro de 2021. Disponível em:https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-700-de-29-janeiro- de-2021-304446969. Acesso em: 8 set. 2021. KIM, M.G.; LEE, N. E.; SOHN, H. S. Gap between patient expectation and perception during pharmacist–patient communication at community pharmacy. Int J Clin Pharm, [s.l.], v. 42, p. 677-684, 2020. https://www.cff.org.br/pagina.php?id=410&titulo=Lei+5.991+-+1973 https://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/577.pdf https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-700-de-29-janeiro-de-2021-304446969 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-700-de-29-janeiro-de-2021-304446969 58 MELO, A. C. et al. Community pharmacies and pharmacists in Brazil: A missed opportunity. Pharmacy Practic., [s.l.], v. 19, n. 2, p. 2467, 2021. MURO, M. D. et al. Assistência farmacêutica no serviço público: cartilha para gestores municipais. Cartilha para Gestores Municipais. Edição 1, Curitiba: [s.n.], p. 23-29, 2013. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Seven-star pharmacist concept by World Health Organization. 1946. Disponível em: https://www.jyoungpharm.org/ sites/default/files/10.5530_jyp.2014.2.1.pdf>. Acesso em: 8 set 2021. https://www.jyoungpharm.org/sites/default/files/10.5530_jyp.2014.2.1.pdf https://www.jyoungpharm.org/sites/default/files/10.5530_jyp.2014.2.1.pdf 59 BONS ESTUDOS! Sumário Conselhos Federal e Regional de Farmácia Objetivos 1. Conselhos Federal e Regional de Farmácia Referências O código de ética da profissão farmacêutica Objetivos 1. Código de ética profissional Referências Requisitos legais para empresas farmacêuticas Objetivos 1. Documentos necessários para legalizar os estabelecimentos Referências A responsabilidade técnica do profissional farmacêutico Objetivos 1. O farmacêutico responsável técnico em farmácia pública e privada Referênciasprofissionais. 1.1 Farmácia e o uso racional de medicamento: motivos da fiscalização No Brasil, o setor de varejo farmacêutico é a principal fonte de medicamentos de venda livre e somente prescritos para os 10 consumidores. Os medicamentos controlados são vendidos apenas em farmácias licenciadas e sob prescrição médica. Sabe-se que a disponibilidade e o uso racional de medicamentos são fatores fundamentais para a saúde da população em geral. O acesso aos medicamentos considerados essenciais é importante para a efetividade das ações de promoção da saúde, e seu uso racional deve seguir prescrições baseadas em padrões éticos, fornecimento tempestivo, orientações sobre dispensação e uso informado. Entretanto, o uso irracional de medicamentos pode assumir diferentes formas, como abuso ou uso desnecessário, polifarmácia (uso de vários medicamentos ao mesmo tempo), uso excessivo de antibióticos e injeções, uso de medicamentos isentos de prescrição em violação das diretrizes clínicas e prescrições inadequadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera as farmácias como estabelecimentos comerciais para a venda e fornecimento de medicamentos e produtos para a saúde, bem como um local relevante para a promoção do uso racional de medicamentos e de educação para a saúde comunitária. Além disso, a OMS considera as farmácias como serviços de atenção primária, constituindo um meio valioso de acesso ao sistema de saúde para a população em geral (WHO, 2006). De acordo com estudos de Bastos e Caetano (2010), no Brasil, as farmácias e drogarias são responsáveis por 76% dos medicamentos diretos não reembolsáveis fornecidos à população em geral, indicando sua considerável importância na saúde pública nacional. Além disso, esses estabelecimentos representam um ambiente ideal para ações que promovam o uso seguro e racional de medicamentos. As farmácias comunitárias são estabelecimentos capazes de fornecer e vender medicamentos e suprimentos com receita médica ambulatorial. Essas farmácias atendem diretamente os pacientes e a comunidade. No Brasil, essa nomenclatura abrange farmácias ambulatoriais em 11 estabelecimentos de saúde, drogarias e farmácias de manipulação (NAVES et al., 2008). Na maioria dos países, a distribuição de medicamentos ocorre em farmácias. No Brasil, a ANVISA, pela Lei nº 13.021/14, define drogaria como estabelecimento que realiza a comercialização e dispensação de medicamentos e correlatos. A mesma lei define farmácias como local onde se realiza a comercialização, dispensação e a manipulação de medicamentos e correlatos (NAVES et al., 2015). Assim como descrito por Bastos e Caetano (2010), uma das grandes preocupações na farmácia é o monitoramento de medicamentos controlados, exigindo uma atenção maior pelos diversos órgãos responsáveis (Quadro 2). Quadro 2 – Órgãos responsáveis pela fiscalização de medicamentos controlados nos estabelecimentos Responsáveis Vigilância Sanitária (VISA) Municipal: ações e rotinas municipais com o objetivo de proteger e garantir a saúde da população. Conselho Regional de Farmácia: por meio da ética profissional, fiscaliza o exercício da profissão. Delegacia de Crimes contra a Saúde Pública: avaliar atividades contra a saúde pública e a saúde do trabalhador. Fonte: elaborado pela autora. No âmbito doméstico, a fiscalização da distribuição de medicamentos é realizada em três instâncias: administração federal, secretarias estaduais e prefeituras. Na esfera federal, os setores de saúde e farmacêutico são regulamentados e fiscalizados pelo Ministério da Saúde, por meio de sua agência subsidiária – a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O órgão é responsável pela proteção da saúde da população por meio do controle sanitário da produção e do consumo de produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária. Enquanto o regulador federal promulga 12 leis e regulamentos gerais, são o governo estadual e os municípios que complementam e executam as ações (ANVISA, 2008). Além dos documentos padrão de funcionamento de uma empresa, as farmácias são obrigadas a possuir uma autorização adicional e distinta emitida pela ANVISA, o Certificado de AFE – Autorização de Funcionamento. O conselho tem o poder de conceder ou cancelar as licenças de fabricantes, distribuidores, transportadores, importadores e varejistas de medicamentos. Além da autorização, a farmácia deve possuir Certificado de Regularidade Técnica (CTR), expedido pelo CRF, e o Alvará Sanitário, expedido pela vigilância sanitária local (NAVES et al., 2008). O CTR deve ser anualmente revisado, garantindo que a farmácia ou drogaria esteja devidamente cadastrada no CRF e que apresente um profissional farmacêutico como responsável (BRASIL, 1960). Nesse sentido, todas as atividades profissionais exercidas pelo farmacêutico no país são reguladas por lei. O CFF é o órgão representativo, regulador e fiscalizador da indústria farmacêutica e tem seccionais em todos os estados. Juntos, o CFF e seu CRF cumprem a missão de zelar pela ética profissional e proteger os clientes, garantindo o acesso a medicamentos e atenção farmacêutica com qualidade. Enquanto o conselho federal tem uma função regulatória e punitiva mais geral, os conselhos regionais atuam basicamente na esfera administrativa, cuidando da documentação e fiscalizando instalações (ANVISA, 2008). No cenário brasileiro, drogarias e farmácias podem ser próprias por leigos, e não há critérios demográficos ou geográficos para a abertura desses estabelecimentos. Também não há limite ao número de farmácias que podem pertencer a um indivíduo. O único requisito obrigatório é que o farmacêutico credenciado do estabelecimento esteja presente (NAVES et al., 2008). 13 Faz-se necessário ressaltar que nos casos em que o farmacêutico não pode estar presente para supervisionar os procedimentos, outro deve ser nomeado como substituto. Violações das regras podem levar a penalidades extremamente rigorosas, incluindo a rescisão da licença. Em associação com a gestão, os farmacêuticos também podem auxiliar as empresas a cumprir todos os requisitos do Governo Brasileiro e outros relacionados a instituições para evitar sanções disciplinares (ANVISA, 2008). Sobre as penalidades disciplinares aplicadas pelo CRF, podemos citar (BRASIL,1960): • Advertência ou censura: aplicada sem publicidade, oralmente ou por meio de carta do presidente do CRF. No primeiro caso, lembrar gentilmente o culpado dos fatos, no segundo caso, usar ativamente a palavra censura. • Multa de valor igual a um salário-mínimo a três salários- mínimos regionais: será duplicado em caso de reincidência, aplicável na terceira falta e subsequentes ausências, a critério da comissão do conselho a que o infrator pertence. • Suspensão de três meses a um ano: em caso de falta grave, de pronúncia criminal ou em caso de prisão em virtude de sentença. Aplicável pelo CRF que o faltoso estiver inscrito. • Eliminação: aplicada aos que foram persuadidos no CFF ou nos tribunais de incontinência pública e difamatória ou embriaguez habitual; e àqueles que foram explicitamente condenados a três suspensões por falta grave, mesmo em diferentes Conselhos Regionais. Para tanto, as deliberações da comissão prosseguirão sempre com a audiência do arguido, e se ela não for encontrada ou se o processo for arquivado, será entregue ao defensor. Desse modo, não poderá haver suspensão dos efeitos no prazo de 30 dias contados da notificação ao Conselho Federal (BRASIL,1960). 14 O Brasil possui o maior número de farmácias do mundo, com uma proporção de 32 farmácias para cada 100.000 habitantes (Figura 2). A Bahia é o quarto maior estado, com uma população registrada de 15 milhões de residentes. Em 2017, existiam cerca de 3,3 farmácias por 100 mil habitantes. Embora não haja recomendações oficiais sobre a localização geográfica ou o número de estabelecimentos per capita, os especialistas sugerem que o paíssupere o valor recomendado, e o ideal seria um estabelecimento para cada oito mil pessoas (NAVES et al., 2015). Figura 2 – Número de farmácias por habitante no Brasil Fonte: elaborada pela autora. Nas últimas décadas, os perfis demográficos e epidemiológicos do Brasil mudaram. Atualmente, o país perfil é semelhante ao de outros países desenvolvidos. Em 1991, a esperança média de vida ao nascer era de 66,9 anos; em 2013, esse valor aumentou para 78,5 anos para mulheres e 71,2 anos para homens, resultando em maior demanda de pessoas que frequentam os estabelecimentos de saúde e fazem uso de medicamentos, especialmente de uso crônico (MELO et al., 2017). Hoje, 15 a população brasileira vive uma dupla carga de doença, relacionada a doenças não transmissíveis e doenças transmissíveis. No que diz respeito ao marketing, a venda e a publicidade de medicamentos está sujeita a restrições específicas. A principal base legal para os dispositivos provém das leis e decretos contidos na Constituição brasileira. A ANVISA também impõe instrumentos legais que regem a comercialização e a promoção de medicamentos. A agência coopera com a Câmara de Regulamentação do Mercado de Medicamentos (CMED), para promover e monitorar a justiça da concorrência, eliminar o marketing enganoso e vendas abusivas e fornecer regulamentação de preços de produtos (NAVES et al., 2015). Para avanços mais rápidos e sustentáveis em atuação do farmacêutico no Brasil, é necessária uma comunicação melhor entre os vários setores da sociedade responsáveis por formação farmacêutica, pela regulamentação dos cuidados de saúde, pela prática profissional, pelo financiamento de serviços clínicos prestados à sociedade, tanto publicamente como em privado (MELO et al., 2017). Apesar de todos esses obstáculos, os profissionais de farmácia têm demonstrado grande assistência, reconhecendo e respondendo às necessidades de cuidados de saúde da população, o que melhorou a percepção dos farmacêuticos para a sociedade. Referências ANVISA. Ministério da Saúde. Resolução-RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008. Brasília, DF: Presidência da República, 2008. BASTOS, C.R.G.; CAETANO, R. Percepções dos farmacêuticos sobre seu trabalho nas farmácias comunitárias em uma região do estado do Rio de Janeiro. Ciênc Saúde Colet., [s.l.], v. 15, p. 3541-50, 2010. 16 BRASIL. Lei nº3.820 de 11 de novembro de 1960. Conselho Federal de Farmácia. Cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Farmácia. Disponível em: https://www.cff.org.br/pagina.php?id=143. Acesso em: 2 jan. 2022. BRASIL. Lei nº 13.021, de 8 de agosto de 2014. Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas. Brasília, DF: Presidência da República, 2014. Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13021.htm. Acesso em: 2 jan. 2022. MELO, A. C. et al. Pharmacy in Brazil: Progress and Challenges on the Road to Expanding Clinical Practice. Int J Pharm Pract, [s.l.], v. 70, p. 5, 2017. NAVES, S. J. et al. Práticas de atendimento a DST nas farmácias do Distrito Federal, Brasil: um estudo de intervenção. Cad. Saúde Pública, [s.l.], v. 24, n. 3, p. 577-586, 2008. NAVES, S. J. et al. The Retail Pharmacy Market in the Brazilian Federal District. Pharmaceutical Regulatory Affairs, [s.l.], v. 4, n. 4, p. 2-6, 2015. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Using indicators to measure country pharmaceutical situations. Geneva: Department for International Development (DFID), 2006. 17 O código de ética da profissão farmacêutica Autoria: Andressa Keiko Matsumoto Leitura crítica: Veronica Cristina Gomes Soares Objetivos • Conceituar código de ética profissional. • Conhecer o código de ética da profissão farmacêutica. • Compreender a relação entre os conselhos e o código de ética profissional. 18 1. Código de ética profissional Ética significa caráter, decência ou costumes. Como disciplina, a ética estará relacionada aos conceitos possuídos por indivíduos ou grupos para avaliar se as ações que foram realizadas são erradas ou corretas, ruins ou boas. Desse modo, ética significa um conjunto de princípios ou valores relativos à moral, procedimentos (costumes, cortesia), valores relativos ao certo e ao errado sobre os direitos e obrigações de um grupo ou sociedade (KUSUMANINGRUM; SUMARSONO; GUNAWAN, 2019). A ética é a base para consideração na tomada de decisões sobre a moral humana em interação com o meio ambiente, podendo ser interpretada como uma disciplina filosófica muito necessária na interação de outros seres humanos na escolha e decisão dos melhores padrões de comportamento com base nas escalas de moral aplicáveis. O ser humano, na presença da ética, pode escolher e decidir o melhor comportamento de acordo com as normas morais aplicáveis. Assim, um padrão de relacionamentos bons e harmoniosos será criado, como respeito mútuo e ajuda. Como referência para as escolhas comportamentais, a ética baseia-se nas normas morais aplicáveis (SULTONI et al., 2018). A fonte mais básica de ética é a religião como a fonte mais básica de crença, da filosofia de vida (Pancasila), da cultura comunitária, da disciplina científica e da profissão. A ética pode ser interpretada como um conjunto de valores, princípios ou morais que orientam uma pessoa e/ou grupo de pessoas em seu comportamento (KUSUMANINGRUM; SUMARSONO; GUNAWAN, 2019). A ética no âmbito profissional é muito necessária como base para o comportamento de trabalho, assim, com a ética profissional, o ambiente e a qualidade do trabalho podem ser alcançados, resultando em 19 qualidade e desempenho pessoal eficaz, eficiente e produtivo. Portanto, o código de ética tem sido o meio tradicional pelo qual uma profissão garante o público e seus clientes de suas responsabilidades e, portanto, a manutenção de sua integridade e reputação. Ele é usado como o principal suporte para a reivindicação de trabalho de uma profissão no interesse público. A ética profissional é demonstrada por: (1) a existência de consciência individual das regras e valores que foram aplicados e acordados; (2) a disposição dos indivíduos em dialogar com entidades organizacionais; e (3) pelo seu uso como orientação para a interação entre todos os membros da organização (SULTONI et al., 2018). Contudo, a ética nas profissões é um conjunto de princípios que regem o comportamento de uma pessoa ou grupo em um ambiente de negócios. Assim como os valores, a ética profissional fornece regras sobre como uma pessoa deve agir em relação a outras pessoas e instituições em determinado ambiente. O Código de Ética está alicerçado em princípios éticos fundamentais (Figura 1). A responsabilidade de um especialista em educação em saúde é aspirar aos mais elevados padrões de conduta possíveis e encorajar o comportamento ético de todos aqueles com quem trabalha (CNHEO, 2020). Figura 1 – Princípios éticos Fonte: elaborada pela autora. Uma profissão na área da saúde é definida, no sentido mais restrito da ética profissional, como uma organização reguladora que controla o ingresso em funções ocupacionais, certificando, formalmente, que os 20 candidatos adquiriram o conhecimento e a expertise necessários para serem usados moralmente em benefício dos pacientes. Três interesses profissionais definem conceitualmente uma profissão: o domínio de certos conhecimentos, o monopólio do mercado e a formalização de normas de conduta. O primeiro desses interesses se refere às características do saber profissional, sistematizado, adquirido e sancionado cientificamente nas instituições de ensino. Pretende ser complexo, inatingível e incompreensível para leigos, podendo estender- se aos códigos regulamentares. O monopólio do mercado, diz respeito à delimitação e exclusividade do mercado de trabalho, no qual os profissionais se organizam em instituições representativas de interesses para pressionar o Estado. O terceiro elemento, a autorregulação, é considerado essencial para uniformizara conduta dos profissionais com seus pares, com os concorrentes e com os clientes, conferindo identidade, comprometimento pessoal, interesses específicos e lealdades gerais (SOARES; SHIMIZU; GARRAFA, 2017). As profissões de saúde regulamentadas especificam e impõem obrigações que garantem competência e confiabilidade profissional, correlacionadas com os direitos dos outros. Os profissionais da saúde dedicam-se à excelência na prática de promoção da saúde de cada indivíduo, em âmbito familiar, grupal, organizacional, escolar, comunitário, público e populacional. Guiados por objetivos comuns de melhorar a condição humana, os profissionais da saúde são responsáveis por defender a integridade e a ética da profissão enquanto realizam seu trabalho e enfrentam os desafios diários de tomar decisões éticas. Os profissionais da saúde valorizam a equidade na sociedade e adotam uma multiplicidade de abordagens em seu trabalho para apoiar o valor, a dignidade, o potencial, a qualidade de vida e a singularidade de todas as pessoas (CNHEO, 2020). 21 1.1 Código de ética da profissão farmacêutica O Código de Ética para a profissão farmacêutica define publicamente os princípios que são obrigatórios para farmacêuticos registrados, pessoas qualificadas e técnicos de farmácia em sua conduta profissional e pessoal (CFF, 2004). Uma das funções do Conselho de Farmácia é manter as normas éticas para farmacêuticos e técnicos de farmácia e pessoas qualificadas. Os princípios expressam as responsabilidades e valores profissionais que são fundamentais e inerentes à profissão farmacêutica. Eles refletem e apoiam os desenvolvimentos na profissão, a prática centrada no paciente e levam em consideração os direitos e responsabilidades dos pacientes (FRANCER et al., 2014). “A apuração das infrações de nível ético fica a cargo doo Conselho Regional no qual o profissional está inscrito, através de sua Comissão de Ética” (CFF, 2004, p. 139). Esses princípios se destinam a orientar farmacêuticos, pessoas qualificadas e técnicos de farmácia em suas relações com pacientes, colegas, autoridades regulatórias e administrativas e a sociedade. Eles formam a base para um serviço profissional consistente de alta qualidade que salvaguarda e promove o bem-estar dos pacientes e da sociedade e mantém a confiança do público na profissão, além de informar os pacientes e a sociedade sobre o padrão de comportamento que se espera dos farmacêuticos (FRANCER et al., 2014). Farmacêuticos, pessoas qualificadas e técnicos de farmácia devem fazer desses princípios uma parte integrante de sua vida profissional e aspirar ao mais alto padrão de conduta possível (CFF, 2004). Esses profissionais devem evitar qualquer ação ou omissão, dentro de sua esfera de responsabilidade (Figura 2). 22 Figura 2 – Ações que os farmacêuticos devem evitar em busca da ética profissional Fonte: elaborada pela autora. O Código de Ética deve ser lido em conjunto com a legislação em vigor aplicável direta ou indiretamente à profissão de farmácia e com as orientações emanadas do Conselho de Farmácia. Os princípios expressos no Código são obrigatórios, pois todos os farmacêuticos registrados, pessoas qualificadas e técnicos que trabalham em farmácia, independentemente de sua área de prática, devem cumprir esse Código. Sua conduta profissional e pessoal será julgada de acordo com esse Código e o não cumprimento desses princípios ou a realização de qualquer ato infame pode levar a sanções disciplinares e pode colocar em risco o registro e licença para exercer a profissão (CFF, 2004). Os farmacêuticos e pessoas qualificadas têm responsabilidades gerais pelos serviços farmacêuticos que prestam, na sua área de prática, e são responsáveis por seus atos de forma legal e ética. Os técnicos de 23 farmácia são responsáveis pelo trabalho que prestam para apoiar, desenvolver e/ou prestar esses serviços farmacêuticos (FRANCER et al., 2014). Na prática da profissão, espera-se que farmacêuticos e técnicos de farmácia apliquem os princípios do Código ao decidir sobre o curso de ação. Eles também devem ser capazes de justificar as suas ações e as decisões que tomam (se solicitado). Em situações em que existem princípios conflitantes, eles devem avaliar os riscos e benefícios associados a cada curso de ação e decidir o que é mais apropriado no interesse dos pacientes e da sociedade (FRANCER et al., 2014). Os integrantes da profissão farmacêutica devem agir com honestidade, integridade e com convicção de consciência em suas relações profissionais. Eles devem honrar os compromissos, acordos e arranjos para a prestação de seus serviços. Eles não devem abusar de sua posição profissional ou abusar da vulnerabilidade de outros. Todo profissional da saúde deve respeitar os desejos dos pacientes de não receberem informações. No entanto, as possíveis consequências dessa recusa devem ser delineadas. De acordo com o Código de Ética Farmacêutica (CFF, 2004, [s.p.]): Art. 9º – O farmacêutico tem o dever de manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional e exigir o mesmo comportamento do pessoal sob sua direção. Os farmacêuticos não têm nenhuma obrigação de oferecer ou fornecer um serviço profissional se isso entrar em conflito com o seu lado pessoal, das crenças morais ou religiosas. Em tais situações, o paciente/ cliente deve ser informado de que ele não pode prestar tal serviço. 24 Segundo o Código de Ética Farmacêutica (CFF, 2004, [s.p.]): A fim de garantir o acatamento e a execução deste Código, remete-se ao farmacêutico informar os órgãos sanitários e profissionais, fatos que refletem infringência ao presente Código e as normas que regulamentam o exercício da prática em Farmácia. A relação entre farmacêutico e paciente não é apenas por ordem profissional, mas também ética. Ou seja, não deve haver qualquer discriminação com base na religião, na raça, no gênero, na nacionalidade, na cor, na escolha sexual, na idade, nas condições sociais, no viés político ou quaisquer outras questões (FRANCER et al., 2014). Cabe aos profissionais unirem-se em ações para defender a dignidade profissional, eles devem esforçar-se para melhorar as condições de saúde e os padrões dos serviços farmacêuticos, além de assumirem as suas responsabilidades na atenção farmacêutica e na educação sanitária (CFF, 2004). Os membros da profissão farmacêutica, ao prestar serviços profissionais, são responsáveis de forma ética e legal pelas suas decisões, comportamentos e quaisquer serviços/trabalhos realizados sob a sua supervisão. Os membros da profissão farmacêutica devem garantir que (CFF, 2004): • Toda a legislação aplicável à sua área de atuação seja sempre cumprida. • Eles têm as habilidades e conhecimentos necessários para empreender, executar ou fornecer serviços em sua área de prática. • Quando é necessário conhecimento ou experiência adicional, o farmacêutico deve consultar outros que possuam a competência necessária. 25 • Eles e outros funcionários em seu emprego ou sob sua supervisão têm competência linguística suficiente para comunicarem-se de forma eficaz. • Seus procedimentos de prática são realizados com cuidado e atenção e em linha com os códigos e padrões de prática aplicáveis à sua área de prática. • Eles têm acesso às instalações, equipamentos e materiais necessários para prestar serviços destinados à saúde. • Antes de aceitar e durante o emprego, eles devem divulgar qualquer objeção de consciência ou conflito de interesses e outros fatores que possam afetar a sua capacidade de prestar determinados serviços profissionais. • Os farmacêuticos cumprem as Diretrizes em sua área de prática que são emitidas pelo Conselho de Farmácia e pelas Autoridades Reguladoras. • Eles devem atuar na área apenas se forem competentes para fazê- lo e devem declarar ao Conselho de Farmácia, ao empregador ou à autoridade relevante quaisquer circunstânciasque questionem sua aptidão para exercer ou que tragam descrédito à profissão, incluindo problemas de saúde que prejudiquem a capacidade de praticar a sua profissão e quaisquer condenações criminais. • Os profissionais farmacêuticos conduzem pesquisas de acordo com as Diretrizes de Ética em Pesquisa relevantes e com a autorização do responsável comitê de ética em pesquisa. • Se alguma tarefa deve ser delegada por eles, ela é delegada a pessoas que, pelo que sabem, têm as qualificações necessárias, competência e habilidades para realizar essas tarefas de forma eficaz e eficiente. Essas pessoas devem cumprir as instruções de 26 trabalho e ser autorizadas a realizar essas tarefas. Deve haver supervisão apropriada. É expressamente proibido a um profissional farmacêutico usar o seu estatuto profissional para promover ou endossar, ou de outra maneira, apoiar publicamente qualquer produto ou medicamento (FRANCER et al., 2014). Membros da profissão farmacêutica não devem participar de métodos promocionais que incentivam os pacientes e a sociedade a equiparar os medicamentos aos itens comuns do comércio (CFF, 2004). Os serviços farmacêuticos não devem ser promovidos ou anunciados de forma a estabelecer comparação direta ou indireta com outros prestadores de serviços ou desacreditar terceiros. Os membros da profissão farmacêutica não devem usar incentivos financeiros para encorajar os pacientes a usar os seus serviços ou comprar os seus medicamentos, de preferência aos oferecidos por outros membros da profissão (CFF, 2004). Esses incentivos proibidos são descritos na Figura 3, mas não estão limitados a apenas isso. Contudo, os farmacêuticos não devem promover ou conduzir quaisquer atividades que limitem ou impeçam, de alguma forma, os pacientes e o público de escolher livremente qual farmacêutico fará seu atendimento. Figura 3 – Permissões ao incentivo nos serviços farmacêuticos Fonte: elaborada pela autora. 27 Visto que a atuação na área da saúde promove uma aproximação do profissional com a pessoa assistida, o farmacêutico respeita a relação de compromisso entre o paciente e o farmacêutico, considerando esse vínculo paciente-farmacêutico como uma aliança. Isso significa que o farmacêutico tem obrigações morais em resposta ao dom de confiança recebido da sociedade. Em troca desse presente, o farmacêutico promete ajudar os indivíduos a obter o benefício máximo de seus medicamentos, a se comprometer com seu bem-estar e a manter sua confiança (PHARMD, 1994). O farmacêutico promove o bem de cada paciente de maneira atenciosa, compassiva e confidencial, buscando colocar a preocupação com o bem-estar do paciente no centro da prática profissional. Ao fazer isso, o farmacêutico considera as necessidades declaradas pelo paciente, bem como aquelas definidas pelas ciências da saúde. Contudo, é de extrema importância que a autonomia e dignidade de cada paciente seja respeitada. O farmacêutico estimula o direito à autodeterminação e reconhece a autoestima individual ao incentivar os pacientes a participarem das decisões sobre sua saúde. O profissional farmacêutico tem o dever de dizer a verdade e agir com convicção de consciência, evitando práticas discriminatórias, comportamento ou condições no âmbito de trabalho que prejudiquem o julgamento profissional e ações que comprometam a dedicação aos melhores interesses desses pacientes (PHARMD, 1994). O farmacêutico deve manter a competência profissional e tem o dever de manter o conhecimento e as habilidades à medida que novos medicamentos, dispositivos e tecnologias tornam-se disponíveis e à medida que as informações em saúde avançam. Dessa forma, cabe ao farmacêutico agir com empatia em relação ao paciente tendo como dever: 28 • Fornecer ao paciente todas as informações necessárias sobre medicamentos e dispositivos médicos. • Prestar assistência farmacêutica adequada para prevenção e tratamento de doenças. • Dar ao paciente o direito de escolher os medicamentos e dispositivos médicos pretendidos. • Respeitar a confidencialidade das informações sobre a doença do paciente (sem ameaçar as pessoas). • Recusar-se a abandonar o medicamento por falta de receita ou em caso de registro incorreto. No processo de comunicação entre o paciente e o farmacêutico, é importante perceber as informações por meio da audição e da visão. O farmacêutico deve ser capaz de ouvir o paciente, fornecendo a assistência farmacêutica adequada e convencê-lo da eficácia do tratamento, auxiliando na adesão à farmacoterapia e uso racional de medicamento. A conversa é mais bem conduzida na forma de um diálogo curto. A lógica das opiniões se dá pela fórmula: composição, aplicação, efeito. Há expressões inaceitáveis, como: • “Não tenho tempo! São tantos visitantes e eu estou sozinho!”. • “Já lhe falei: não importa quando você vai tomar o medicamento – tanto faz antes ou depois de uma refeição!”. Quando se trabalha com saúde, é imprescindível ter atenção ao falar com o paciente e colocar-se em seu lugar, buscando ouvir ativamente e fazer algumas perguntas esclarecedoras. Uma boa memória é importante para o farmacêutico. 29 Para fornecer informações qualificadas ao paciente, é preciso saber muitos nomes de medicamentos, seus sinônimos, regras para tomá-los, as peculiaridades de seus efeitos, preços etc. A atenção ao paciente requer a capacidade de encontrar uma abordagem: é necessário mostrar compaixão e atenção às pessoas tímidas, irritadas (com calma, com camaradagem, com tato), às pessoas rudes (contendo-se, mantendo a dignidade). Referências COALITION FOR NATIONAL HEALTH EDUCATION ORGANIZATIONS (CNHEO). Code of Ethics for the Health Education Profession Preamble. 2020. Disponível em: https://www.sophe.org/careerhub/ethics/. Acesso em: 2 jan. 2022. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Código de ética farmacêutica. ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 3, p. 139-145, 2004. FRANCER, J. et al. Ethical pharmaceutical promotion and communications worldwide: codes and regulations. Philos. Ethics, Humanit. Med., [s.l.], v. 9, p. 7, 2014. KUSUMANINGRUM, D. E.; SUMARSONO, R. B.; GUNAWAN, I. Professional Ethics and Teacher Teaching Performance: Measurement of Teacher Empowerment with a Soft System Methodology Approach. Int. J. Innov. Learn., [s.l.], v. 5, n. 4, 2019. PHARMD. Code of Ethics for Pharmacists. Am Pharm Assoc, [s.l.], v. 27, p. 2010, 1994. SOARES, F. J. P.; SHIMIZU, H. E.; GARRAFA, V. The Brazilian Code of Medical Ethics: Ethical and bioethical limits. Rev. Bioét., [s.l.], v. 25, n. 2, 2017. SULTONI, G. I.; SARI, D. N. Pengaruh Etika Profesional terhadap Pembentukan Karakter Mahasiswa. JAMP: Jurnal Adminitrasi dan Manajemen Pendidikan, [s.l.], v. 1, n. 3, p. 279-283, 2018. 30 Requisitos legais para empresas farmacêuticas Autoria: Andressa Keiko Matsumoto Leitura crítica: Veronica Cristina Gomes Soares Objetivos • Aprender sobre os documentos obrigatórios para legalizar o estabelecimento farmacêutico. • Conhecer os órgãos fiscalizadores responsáveis. • Compreender as adequações necessárias para que o farmacêutico desenvolva as suas atividades na área de atuação. 31 1. Documentos necessários para legalizar os estabelecimentos farmacêuticos Farmácias privadas e drogarias constituem um grande número de estabelecimentos em atendimento ao público, que devem operar em conformidade com a legislação, de acordo com os requisitos definidos pelos órgãos fiscalizadores e o Código de Ética profissional. Qualquer estabelecimento farmacêutico deve apresentar licenciamento e autorização das autoridades competentes locais, como conselhos e vigilância sanitária. Os documentos considerados obrigatórios (Figura 1) devem ser mantidos no estabelecimento mediante renovação para a permissão da continuidade das atividades, mantendo em dia os requisitos exigidos pela fiscalização. Portanto, é importante saber quais são esses documentos e os órgãos responsáveis pela emissão. Figura 1 – Documentosobrigatórios para o funcionamento adequado de farmácias e drogarias. Fonte: elaborada pela autora. O primeiro documento é a Certidão de Regularidade (CR), que comprova nome, inscrição no conselho regional e horário de permanência dos farmacêuticos no estabelecimento (técnico responsável e assistente). Esse documento deve estar sempre anexado em local visível e de fácil acesso. Essa CR é sempre aviada pelo conselho de farmácia da região, ela apresenta validade de um ano, sendo obrigatório a renovação anual com os mesmos dados apresentados, ou atualizando esses dados em caso de substituição ou desligamento do profissional. Um dos objetivos 32 desse documento é a facilidade em contatar o farmacêutico mediante necessidade, em questões relacionadas ao cotidiano vinculadas às atividades de responsabilidade do profissional (BIDOIA, 2015). Outro documento exigido é o Laudo de Vistoria, emitido pelo corpo de bombeiros apenas depois dos riscos no local terem sido avaliados. Nessa justificativa deve ser inserido os tipos eminentes de incêndios do estabelecimento e os tipos de extintores que são indicados para solucionar tais problemas. As saídas indicativas de emergência, onde se localizam os extintores e o isolamento que deve ser demarcado, treinamentos e informações de segurança aos funcionários devem constar nesse Laudo de Vistoria. Ele deve ser submetido à revisão em casos de mudanças na parte física estrutural do estabelecimento, e no caso inserções que envolvam novas atividades e equipamentos, visto que esse laudo não apresenta validade específica. Além disso, é obrigatório farmácias e drogarias apresentarem o alvará relacionado à localização, a fim de que o funcionamento do estabelecimento seja liberado. O alvará relacionado à localização é um documento legal que é destinado aos farmacêuticos gestores depois de realizada a entrega da documentação exigida, que comprove o endereço e as atividades que serão realizadas de forma específica no local. Dessa forma, o farmacêutico responsável deve protocolar o documento que comprove o endereço e colocar os detalhes em formulários, as atividades que serão exercidas no estabelecimento (como dispensação, manipulação, aplicação de injetáveis etc.). De modo geral, o Laudo de Vistoria e o alvará relacionado à localização são dois documentos que se completam, mas são distintos, podendo mudar os critérios para obtê- los, dependendo da unidade federativa. 33 A Autorização Especial (AE) é exigida para as farmácias e drogarias que ofertam específicas atividades vinculadas à medicamentos que se enquadram na portaria 344/98. Ou seja, o farmacêutico responsável deve fazer uma declaração de quais atividades são realizadas, como a manipulação, a aquisição, a venda, entre outras (BIDOIA, 2015). Cada atividade exige atuações específicas. A atualização no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) de dispensação de medicamentos psicotrópicos, por exemplo, é um auxílio informatizado no controle da entrada e da saída de medicamentos controlados. Ela permite uma maior rastreabilidade e segurança, evitando divergências no estoque (BIDOIA, 2015). Compreender a obrigatoriedade desses documentos e quais são necessários para o funcionamento adequado dos estabelecimentos farmacêuticos é de responsabilidade do profissional farmacêutico gestor, evitando problemas com órgãos fiscalizadores. Dessa forma, é importante que o farmacêutico acompanhe as atividades e a validação de toda documentação exigida. Para garantir o cumprimento das obrigações exigidas para o funcionamento adequado e atividades de saúde que não oferecem risco ao paciente, é preciso uma fiscalização rigorosa e constante, cabendo ao conselho regional (CRF) tais atividades desde que foi criado, conforme a Lei nº 3.820, de 11 de novembro de 1960. O CRF deve identificar as infrações cometidas pelo profissional e aplicar processos dentro da ética disciplinar, além de desenvolver ações em conjunto com a ANVISA e outros órgãos competentes (BIDOIA, 2015). Outro órgão fiscalizador é a vigilância sanitária (VISA) municipal que avalia a documentação, as instalações do local e as práticas exercidas. Além da licença e o alvará sanitário exigido pela VISA, é preciso conter impressões de cópia de documentação que descrevem as atividades realizadas, as responsabilidades, os serviços ofertados, treinamentos e 34 descarte de resíduos (são manuais que se enquadram nas boas práticas farmacêuticas) (ANVISA, 2009). 1.1 Fiscalização das atividades farmacêuticas A profissão farmacêutica passa a ter novos rumos com as atividades sendo regulamentadas e possivelmente exercidas pelos farmacêuticos, como é o caso da RDC nº 44/2009, correspondente às boas práticas na atuação em farmácia, a qual também trata da demanda de serviços pelo profissional farmacêutico, apresentados na Figura 2 (FLEXA et al., 2021). Essa atenção do farmacêutico acentua as farmácias como um estabelecimento da área de saúde, auxiliando a sociedade a considerar como um estabelecimento de saúde, visto que o farmacêutico é o elo, a ponte, entre o prescritor e o paciente, auxiliando no tratamento farmacoterapêutico e realizando o atendimento de maneira mais humanizada. É importante lembrar que a aferição de parâmetros bioquímicos e fisiológicos nas farmácias não caracterizam diagnóstico e não substituem os exames laboratoriais, sendo necessário o paciente realizar consulta médica para tal finalidade. Figura 2 – Serviços farmacêuticos ofertados. Fonte: elaborada pela autora. 35 Sobre os serviços ofertados na farmácia é permitido que se cobre, porém, é preciso buscar sempre os benefícios aos pacientes advindos desses serviços, essa possibilidade de cobrança ocorre desde que permita o regime da fiscalização do estabelecimento, não sendo o farmacêutico que recebe pelo serviço, mas o local. Cabe ao estabelecimento decidir cobrar ou não pelos serviços farmacêuticos, mas caso ele cobre, estará sujeito ao Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), sendo aplicado pelos Municípios e pelo Distrito Federal, sobre a prestação dos serviços elencados na Lei Complementar 116/2003. Isso inclui os serviços de saúde, assistência médica, cuidados pessoais, educação, ensino, lazer e entretenimento, biotecnologia, entre outros. As tarifas variam de acordo com os municípios, mas o Governo Federal fixou o valor mínimo em 2% e o máximo em 5%. Na aplicação de preços deve-se levar em consideração que o valor do medicamento dispensado incidirá o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, e no serviço prestado (como aplicação do medicamento injetável) incidirá o ISSQN. A rotina em estabelecimentos farmacêuticos deve ser explicada com detalhes, seguindo as boas práticas em farmácia. É preciso elaborar os procedimentos operacionais padrão (POPs), um conjunto de instruções passo a passo compiladas por uma organização para ajudar os trabalhadores realizarem operações de rotina (ANVISA, 2009). Os POPs visam alcançar eficiência, qualidade de produção e uniformidade de desempenho. Os POPs também podem fornecer aos funcionários uma referência a práticas, atividades ou tarefas comerciais comuns, além disso, novos funcionários usam esses procedimentos para responder a perguntas sem ter que interromper os supervisores para perguntar como uma operação é realizada. 36 De modo geral, os POPs precisam refletir como a farmácia ou drogaria opera, dessa forma, não precisam ser complicados, mas devem ser escritos em um formato conciso, passo a passo e fácil de ler. Cada atividade deve conter um procedimento descrito, revisado e assinado pelo farmacêutico. A RDC nº 44/2009 apresenta que, para o profissional farmacêutico atuar em drogarias e farmácias, oferecendo seus serviços, é preciso da liberação de órgãos sanitários da região. Portanto, é necessário consultar primeiro a agência de supervisão de saúde da região, a fim de avaliar se os serviços ofertadosapresentam as exigências mínimas (ANVISA, 2009). Durante a rotina de fiscalização do conselho de farmácia, é exigida a verificação de alguns documentos do estabelecimento, como a regularidade no CRF, o licenciamento que comprove as regularidades frente à VISA municipal e ANVISA, todos os POPs devidamente atualizados, o manual que explica todas as boas práticas da profissão farmacêutica e um plano que rege o gerenciamento de resíduos (PGRSS), conforme a RDC 306/04. Lembrando que o RT tem a responsabilidade de elaborar e revisar toda essa documentação (BIDOIA, 2015). O fiscal do CRF ainda pode pedir para verificar o CR e registro que comprove a regularidade técnica, o qual é emitido pelo CRF, sendo um documento obrigatório para todas as farmácias e drogarias, garantindo a presença de um farmacêutico RT no estabelecimento. A vigilância no ato da inspeção pode exigir os POPs relacionados a cada atividade; os registros que constam o treinamento dos funcionários; os serviços farmacêuticos ofertados; o conteúdo dos POPs informado a todos os funcionários; os programas voltados ao combate de pragas (roedores e insetos); a manutenção e a calibragem de todos os equipamentos e o manual de boas práticas. A vigilância avalia, 37 também, o credenciamento no SNGPC (quando necessário), entre outros requisitos que podem ser exigidos pelo fiscal para avaliação. Sobre a aquisição de produtos em farmácias e drogarias, é permitido apenas os que forem regularizados pela ANVISA, precisando apresentar tal regularidade no registro, no cadastro ou na notificação. Cabe aos estabelecimentos esclarecerem e documentarem os critérios elaborados para garantir que o produto de aquisição tenha qualidade e origem de distribuidores autorizados legalmente. A licença sanitária pode ser consultada através de um sistema de informação (SIVISA), coordenado pelo Centro de VISA, que fornece bases de informações para que os indicadores sejam avaliados, garantindo a qualidade de serviços e produtos. Além da licença sanitária, durante o processo de qualificação dos fornecedores, é exigido o CR e AFE para empresas que fornecem a distribuição, o transporte e o armazenamento de medicamentos controlados. No ato da fiscalização, todos os documentos devem ser entregues pelo farmacêutico RT, pois é vedado ao fiscal abrir armários ou se apossar de qualquer documento que não seja entregue pelo farmacêutico responsável. Por isso, é indicado que haja um local de fácil acesso com esses documentos e sempre organizados e atualizados, isso facilita a inspeção, caso seja solicitado, e demonstra maior responsabilidade do profissional. Além dos cuidados que os fiscais devem ter no estabelecimento, como áreas restritivas ao seu e ações de cunho invasivo, a resolução nº 648 de 2017 aponta que é vedado aos fiscais do CRF recolher produtos para análises, exercer atividade de cunho político e social, lavrar multas ou notificações, realizar outras atividades concomitantes à fiscalização, sendo esse cargo considerado exclusivamente de sua dedicação. 38 O relatório que consta a inspeção deve ser emitido no momento da fiscalização e qualquer tipo de infração identificada ou irregularidade frente legislações vigentes deve estar devidamente documentada e formalmente e detalhada, como solicitação do fiscal, redigida de forma breve e que se possa compreender facilmente. Lembre-se que para essa documentação não é permitida retificação, tornando-a nula, caso ocorra. Assim como o estabelecimento precisa ser fiscalizado, todos os equipamentos e materiais utilizados devem ser cadastrados, notificados, registrados ou legalmente isentos de tais exigências na Anvisa. Os equipamentos devem ser calibrados periodicamente e efetuadas as devidas manutenções corretivas e preventivas, isso inclui o termômetro, a balança disponível no estabelecimento, esfigmomanômetro, refrigerador (caso seja usado para armazenar medicamentos termolábeis), entre outros. Os registros vinculados à manutenção e calibragem correspondentes devem ser mantidos na empresa. Segundo o Artigo 61, Parágrafo 4º da RDC Anvisa Nº 44/2009: A oferta de serviços da área farmacêutica em drogarias e farmácias devem ser previamente verificadas pelas autoridades sanitárias para verificar se atendem aos requisitos básicos estabelecidos nesta resolução, desde que não prejudiquem o disposto na regulamentação sanitária complementar da região. (ANVISA, 2009, [s.p.]) Portanto, é necessário consultar primeiro a agência de supervisão de saúde onde se deve averiguar os requisitos básicos para a oferta de tais serviços. Após a monitorização do órgão fiscalizador e a sua homologação, para formalização, o serviço de farmácia deve ser indicado no alvará da agência. É vedado o uso do ambiente da farmácia e outros, como a drogaria, para qualquer fim que não o disposta na licença. Seguindo as orientações da RDC nº 44/2009, Anvisa, os serviços de farmácia devem ser prestados por profissionais devidamente treinados e devem obedecer às decisões 39 da Comissão Federal e CRF (ANVISA, 2009). Outras resoluções embasam a legalidade das atividades farmacêuticas, como a RDC 499/2008, RDC 585 e 586 de 2013 (Figura 3). Figura 3 – Considerações das resoluções 499/08, 585/13 e 586/13 Fonte: elaborada pela autora. Em 2014, a Lei nº 13.021 foi aprovada. Ela prevê o exercício e supervisão de produtos farmacêuticos, garantindo que as farmácias são estabelecimentos de saúde e deixando claro que há necessidade e é exigida a presença de um farmacêutico profissional para o funcionamento legal do estabelecimento (FLEXA et al., 2021). No Brasil, avanços têm sido notados com as atividades proporcionadas pelo profissional farmacêutico no âmbito do atendimento clínico, especialmente em hospitais, nos quais ele tem se mostrado cada vez mais eficaz devido às intervenções propostas para obter resultados não 40 só para os pacientes, ao melhorar os parâmetros, mas também para os serviços de saúde, contribuindo para a redução de custos com as ações farmacoeconômicas (TIGUMAN; JUNIOR, 2020). As farmácias comunitárias no Brasil não são obrigadas por lei a serem propriedade de farmacêuticos. No entanto, os farmacêuticos são obrigados a estar presentes nas farmácias durante o período funcional e todos devem estar registrados no Conselho de Farmácia da região onde reside (HALILA et al., 2015). No ambiente de farmácia, não há exigência de espaço para atender os pacientes sentados, embora isso seja importante para mais qualidade no processo de dispensação. A existência de computadores com acesso à internet, embora não seja obrigatória, é importante para efetuar pesquisas e consultas sobre medicamentos. Os medicamentos sem prescrição são aprovados pelas autoridades de saúde para tratar doenças e sintomas menores, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Conhecidos de forma internacional como over-the-counter (OTC), estão disponíveis sem receita devido à sua segurança e eficácia, se usados conforme as orientações disponíveis nas bulas e nos rótulos. No entanto, esses medicamentos não são isentos de riscos. Portanto, é importante o aconselhamento do farmacêutico na hora da compra para promover o uso seguro desses medicamentos (HALILA et al., 2015). No Brasil, a maioria das farmácias armazena medicamentos OTC no balcão, embora a ANVISA permita que eles estejam nas prateleiras ao alcance dos clientes. Assim, para ser comprado é necessário ter a orientação do farmacêutico. Portanto, para que cada farmacêutico forneça da melhor forma o aconselhamento adequado ao paciente, no momento da dispensação do medicamento e da OTC, ele precisa ter acesso a informações atualizadas 41 e confiáveis sobre os medicamentos (HALILA et al., 2015). O acesso às informações a respeito dos medicamentos e a participação em educação permanente são essenciais nesse contexto. Assim, o principal objetivo do desenvolvimento profissional contínuo é melhorar a qualidadedos trabalhos disponibilizado pelos farmacêuticos comunitários. Atualmente, no Brasil assim como em outros países, o farmacêutico comunitário tem assumido novas funções, como a prescrição medicamentosa, a prática vista como forma de reduzir os custos da saúde, a melhoria no acesso disponível aos pacientes, a diminuição do número de consultas não urgentes aos serviços de emergência e, ainda, a de enfatizar os benefícios da atuação farmacêutica no cuidado à saúde com a comunidade regional. No entanto, entre os países, existem diferenças nos modelos utilizados em prescrição feitos pelos farmacêuticos, bem como na interpretação do termo. O modelo adotado no Brasil é de prescrição dependente. Ele foi divulgado na RDC 586/13 do Conselho farmacêutico federal, estabelecendo que os farmacêuticos poderiam prescrever medicamentos embasando-se nos pacientes e suas necessidades, com foco nas evidências mais significativas de cunho científico (CFF, 2021). A resolução considera isso como uma atribuição feliz à atuação do farmacêutico clínico; a prescrição de medicamentos cuja dispensação não exija receita médica (OTC). Ainda assim, o farmacêutico tem a capacidade de prescrever medicamentos que exijam prescrição médica, sob a condição prévia de diagnóstico e somente quando previstos em protocolos (CFF, 2021). Nesse cenário, o farmacêutico precisa se qualificar por meio de cursos de pós-graduação. Ao longo do tempo a profissão vem ganhando espaço na saúde, conquistando atribuições que competem exclusivamente ao farmacêutico, como o cuidado com o medicamento unido ao atendimento ao público. Desse modo, é importante buscar a melhoria 42 no entendimento e fazer, de forma adequada, a prescrição realizada pelo profissional farmacêutico, a qual encontra-se na legislação em vigência, seja de âmbito sanitário e/ou profissional. A RDC 586/13 traz inovações por considerar como complemento, no âmbito clínico, o ato de realizar prescrição pelo farmacêutico. Ela estabelece, também, limites e a exigência em documentar e aplicar avaliações das prescrições (CFF, 2021). A prescrição farmacológica não é uma tarefa simples; requer experiência significativa para aplicar habilidades relacionadas à terapia medicamentosa, embora esse tipo de conhecimento os farmacêuticos possam desenvolver. É importante o profissional ter a ciência que seu trabalho é caracterizado como um serviço prestado dentro da área de saúde, buscando sempre agir conforme a ética profissional e de maneira humanizada, visando a promoção do uso racional de medicamento, segurança e eficácia da terapia medicamentosa avaliada. Referências ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da diretoria colegiada- RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009. Disponível em: https://website.cfo.org.br/wp- content/uploads/2010/02/180809_rdc_44.pdf Acesso em: 2 set. 2021. BIDOIA, F. O. Orientação aos farmacêuticos sobre a fiscalização do CRF. 2015. Disponível em: https://www.farmaceuticas.com.br/orientacao-aos-farmaceuticos- sobre-a-fiscalizacao-do-crf/. Acesso em: 16 set. 2021. BRASIL. Lei complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. Dispõe sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp116.htm. Acesso em: 2 jan. 2022. BRASIL. Lei nº3.820 de 11 de novembro de 1960. Conselho Federal de Farmácia. Cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Farmácia. Brasília, DF: Presidência da República, 1960. Disponível em: https://www.cff.org.br/pagina. php?id=143. Acesso em: 2 jan. 2022. BRASIL. Lei nº 13.021, de 8 de agosto de 2014. Dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas. Brasília, DF: Presidência da República, https://www.farmaceuticas.com.br/orientacao-aos-farmaceuticos-sobre-a-fiscalizacao-do-crf/ https://www.farmaceuticas.com.br/orientacao-aos-farmaceuticos-sobre-a-fiscalizacao-do-crf/ 43 2014. Disponível em: planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13021.htm. Acesso em: 2 jan. 2022. BRASIL. Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998. Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Brasília, DF: Presidência da República, 1998. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ saudelegis/svs/1998/prt0344_12_05_1998_rep.html. Acesso em: 2 jan. 2022. BRASIL. Resolução RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília, DF: Presidência da República, 2004. Disponível em: https://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2004/res0306_07_12_2004.html. Acesso em: 2 jan. 2022. BRASIL. Resolução nº 648, de 30 de agosto de 2017. Regulamenta o procedimento de fiscalizaçãodos Conselhos Regionais de Farmácia e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2017. Disponível em: https://www.in.gov.br/ materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/19349381/do1-2017-10-11- resolucao-n-648-de-30-de-agosto-de-2017-19349282. Acesso em: 2 jan. 2022. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Resolução nº 499, de 17 de dezembro de 2008. Disponível em: http://www.crf-rj.org.br/arquivos/fiscalizacao/resolucoes/ ResolucaoCFF499.pdf. Acesso em: 2 jan. 2022. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA (CFF). Resolução nº 586 de 29 de agosto de 2013. Disponível em: https://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/586.pdf. Acesso em: 2 jan. 2022. FLEXA, G. S. et al. Clinical pharmacy in Brazil: a bibliometric analysis. International Journal of Development Research, [s.l.], v. 11, n. 4, p. 46020-46023, 2021. HALILA, G. C. et al. The practice of OTC counseling by community pharmacists in Paraná, Brazil. Pharmacy Practice, [s.l.], v. 13, n. 4, p. 597, 2015. TIGUMAN, G. B.; JUNIOR, R. M. Economic impact of pharmaceutical interventions on healthcare services from Brazil: a systematic review. Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde, [s.l.], v. 11, n. 4, p. 0512, 2020. https://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/586.pdf 44 A responsabilidade técnica do profissional farmacêutico Autoria: Andressa Keiko Matsumoto Leitura crítica: Veronica Cristina Gomes Soares Objetivos • Conceituar o farmacêutico responsável técnico e suas atribuições. • Discutir as leis e resoluções que embasam a responsabilidade técnica do profissional farmacêutico. • Conhecer o perfil do farmacêutico responsável técnico. 45 1. O farmacêutico responsável técnico em farmácia pública e privada O sistema que rege a saúde é dividido em público e privado, mas os prestadores privados fornecem serviços ao setor público com remuneração através do governo e sem custo para os usuários. O setor privado é autorizado, regulamentado e fiscalizado com regras semelhantes às do setor público. Farmácias comunitárias públicas existem tanto em local isolado quanto em parte de um centro de saúde multiprofissional. Quando em locais isolados, as farmácias comunitárias públicas são mais propensas a ter um farmacêutico (por 8 horas nos dias úteis) (MELO et al., 2021). Porém, na maioria dos casos, esses farmacêuticos não são considerados formalmente parte de uma equipe constituída por vários profissionais, eles têm acesso apenas às prescrições dos pacientes, não podendo consultar ou escrever no prontuário dos pacientes. As farmácias comunitárias públicas localizadas em centros de saúde, muitas vezes, estão sob a supervisão de um profissional de saúde que não é farmacêutico (geralmente um enfermeiro) e frequentemente não têm farmacêutico responsável. No entanto, os farmacêuticos, quando fazem parte do quadro dessa farmácia, são geralmente considerados parte de uma equipe constituída por vários profissionais com acesso para consultar e anotar o médico dos pacientes (MELO et al., 2021). No Sistema Único de Saúde (SUS) o farmacêutico torna-se responsável pela gestão da farmácia, envolvendotodo o ciclo de assistência farmacêutica (AF), da seleção à dispensação, elaborando estratégias para manter o estoque de medicamentos com qualidade e melhor custo-benefício, buscando evitar sobras e faltas. O farmacêutico no setor público também pode atuar de forma direta no atendimento aos pacientes fornecendo todas as orientações pertinentes da 46 farmacoterapia, auxiliando na melhor adesão ao tratamento. A atuação farmacêutica na saúde pública é vista de forma positiva pelo Ministério da Saúde, sendo esse um profissional indispensável. Para realizar a AF no setor público é necessário, no mínimo, um farmacêutico com a carga horário de 8 horas/dia para cada 7 mil habitantes, mas podem ser feitas adequações de acordo com a realidade do território, como a quantidade de prescrições recebidas por dia, quantas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) a unidade básica possui, entre outras condições. Contudo, a nomeação do cargo ocorre através de concurso público ou nomeação por cargo comissionado (MURO et al., 2013). Enquanto as farmácias comunitárias privadas podem vender qualquer medicamento, as farmácias públicas dispensam gratuitamente somente medicamentos custeados pelo SUS, sendo que na parte ambulatorial, são dispensados para tratamento de agravos e doenças aqueles medicamentos que se encontram padronizados na Relação Nacional de Medicamentos (RENAME), podendo cada estado e município elaborarem suas próprias listas embasando-se na RENAME. Em contrapartida, as farmácias comunitárias privadas são o ambiente de saúde mais acessível do país, porém, as informações sobre suas atividades, prestadas aos governos municipal, estadual e federal, limitam-se aos dados dos medicamentos controlados que são dispensados, sendo necessário a figura do farmacêutico Responsável Técnico (RT). A fim de permitir que cada farmacêutico cumpra as atividades estabelecidas em leis e resoluções vigentes, consideradas fundamentais sobre a direção futura do crescimento dos serviços ofertados pelo profissional, mudanças na legislação e nas funções dos farmacêuticos foram necessárias. Inerente a eles estava a necessidade de os farmacêuticos trabalharem com mais flexibilidade na oferta de serviços, 47 delineando uma nova função, a de farmacêutico RT. O RT, no setor privado, seria o farmacêutico responsável por garantir o funcionamento seguro e eficaz da farmácia e demais estabelecimentos (drogarias, laboratórios etc.). O farmacêutico responsável pelo estabelecimento, de acordo com a legislação em vigor (RDC nº 577/13), assume a orientação técnica ou responsabilidade técnica da empresa ou instituição perante o respectivo comitê regional de farmácia (CRF) e o órgão fiscalizador de saúde. Ele fica responsável pela implementação, pela supervisão e pela coordenação dos mais variados serviços técnicos e científicos da empresa ou instituição. Ele também deve respeitar as recomendações da legislação trabalhista ou acordos trabalhistas (CFF, 2013). O farmacêutico RT é nomeado pelo proprietário da farmácia como responsável pela venda e fornecimento de uma variedade de medicamentos nas instalações registradas. Uma farmácia não pode funcionar sem esse profissional, que é o responsável pelo funcionamento seguro e eficaz do estabelecimento. É obrigatório realizar o Ingresso de Responsabilidade Técnica (IRT), procedimento feito pelo representante que responde de forma legal pelo estabelecimento que já esteja registrado no CRF. Para efetuar o IRT é preciso preencher dois documentos de cunho obrigatório: • Requerimento, termo e um quadro que contenha os horários do estabelecimento. • Termo que contenha o compromisso residencial e a declaração das atividades, sendo elas a do diretor técnico, do assistente e do substituto. Só pode haver um responsável por vez, e um RT não pode ser responsável por mais de um estabelecimento no mesmo horário. De acordo com a Lei 5991/73, o farmacêutico pode assumir as 48 responsabilidades de duas farmácias, sendo uma comunitária (comercial) e a outra hospitalar, em períodos distintos. Quanto às atribuições em ambos os estabelecimentos, se você for o farmacêutico responsável, você precisará (CFF, 2013): • Garantir o funcionamento seguro e eficaz da farmácia. • Exibir um aviso (Certificado de Regularidade Técnica – CRT) com seu nome, número de registro e o fato de que você é o responsável, no momento, pela farmácia. • Preencher o registro da farmácia para identificar que você é o farmacêutico responsável pela farmácia no momento. • Estabelecer (se ainda não estiver estabelecido) e manter sob revisão os procedimentos de farmácia para um trabalho seguro. • Desenvolver todos os procedimentos de farmácia (também conhecidos como procedimentos operacionais padrão) exigidos. O CRT é emitido pelo CRF, sendo importante porque permite ao paciente e ao público identificar o farmacêutico responsável pelo funcionamento seguro e eficaz da farmácia credenciada. Caso o farmacêutico RT precise faltar, ele deverá preencher o registro da farmácia, no mínimo deve registrar a data da ausência; a hora em que a ausência começou (ou seja, a hora na qual o farmacêutico responsável saiu da farmácia); e o momento no qual o farmacêutico responsável retornou às instalações da farmácia registrada. O empregador/ proprietário da farmácia pode querer que o RT registre outras informações, como o motivo da ausência. Para se ausentar, o farmacêutico RT deve certificar-se de algumas situações (Figura 1), além de garantir que a equipe da sua farmácia 49 tenha informações suficientes enquanto o farmacêutico responsável estiver ausente. Figura 1 – Condições certificadas antes do farmacêutico responsável se ausentar Fonte: elaborada pela autora. A Lei nº 5.991/73 (CFF, 1973) reconhece que pode haver circunstâncias em que um farmacêutico responsável não possa permanecer em contato. Se for esse o caso, o RT deve providenciar para que outro farmacêutico seja contatável e esteja disponível para fornecer aconselhamento (não precisa ser outro farmacêutico responsável). É de responsabilidade da empresa ou organização, se o farmacêutico chefe não estiver presente no momento da inspeção, a apresentação do certificado de especificação técnica do farmacêutico substituto designado (CFF, 2013). Em um prazo no máximo de 30 dias, diante da ausência do farmacêutico RT, diretor técnico ou assistente técnico a farmácia, bem como do farmacêutico substituto, sendo vetado nesse período: 50 I. Dispensar fórmulas de cunho magistral e/ou oficiais. II. Dispensar medicamentos com retenção de receita ou sujeitos à regime III. especial de controle. IV. Fracionar medicamentos. V. Realizar a intercambialidade. VI. Executar serviços farmacêuticos. VII. Realizar quaisquer atividades privativas do farmacêutico. Lembrando que o RT não deve devagar sua função a outro profissional, devendo exercer as atividades atribuídas ao seu cargo. Também cabe ao responsável assegurar que o livro no qual se registra os medicamentos controlados esteja devidamente assinado e em ordem, segundo as leis vigentes e o regulamentado, pela ANVISA, além de todo o sistema informatizado (CFF, 2013). Para exercer a atividade de RT, o profissional deve estabelecer o escopo da função e as responsabilidades que terá como farmacêutico responsável e tomar todas as medidas razoáveis para esclarecer quaisquer ambiguidades ou incertezas com o proprietário do local, farmacêutico superintendente ou outra pessoa delegada. É de suma importância que se tenha em mente só assumir o papel de farmacêutico responsável se estiver dentro do potencial profissional do indivíduo. Contudo, deve-se garantir o funcionamento seguro e eficaz da farmácia e garantir que todos os registros estejam de acordo, antes de poder realizar atividades operacionais. O registro da farmácia é um documento legal importante que mostra quem é o farmacêutico responsável em qualquer data e hora, ele deve ser elaborado