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1 LGPD (LEI DE PROTEÇÃO DE DADOS) 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre- sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere- cendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici- pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra- vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário LGPD (LEI DE PROTEÇÃO DE DADOS) .................................................................... 1 NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 2 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 2. A IDENTIDADE NA ERA DA INFORMAÇÃO ....................................................... 6 3. UMA ANÁLISE DO IMPACTO DA LEI N. 13.709/2018 – LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – NAS RELAÇÕES ECONÔMICAS E JURÍDICAS ........ 15 3.1. A Fórmula de Aplicação da LGPD no Cotidiano .................................................... 16 3.2. Os Dados da LGPD sob o Prisma Constitucional ................................................... 17 3.3. Conceitos Técnicos da LGPD e sua Consequência Prática ..................................... 20 3.4. O Uso de Cookies na Atualidade e a sua Relação com a LGPD ............................. 21 3.5. As Peculiaridades dos Dados Pessoais Sensíveis na LGPD .................................... 22 4. A PERSPECTIVA DA PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS EM FACE DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO SISTEMA NORMATIVO BRASILEIRO ................................................................................................................. 23 5. A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NA LGPD E O SIGILO ESTABELECIDO NOS TERMOS DE USO E POLÍTICA DE PRIVACIDADE ...................................... 30 5.1. A LGPD Cria um Novo Profissional: o Data Protection Officer (DPO) ................ 32 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 34 file:///V:/CURSOS%20DE%20EXTENSÃO/SEGURANÇA%20DA%20INFORMAÇÃO/LGPD%20(%20LEI%20DE%20PROTEÇÃO%20DE%20DADOS)/APOSTILA%20-%20LGPD%20(%20LEI%20DE%20PROTEÇÃO%20DE%20DADOS).docx%23_Toc137028469 4 1. INTRODUÇÃO Na atualidade, a tecnologia, influencia cada vez mais a vida dos indivíduos de forma que com a criação de novos meios e reinvenção dos antigos, fez surgir uma nova problemática em relação ao modo de como são utilizadas estas tec- nologias. Um dos maiores avanços recentes na comunicação humana é a popula- rização da Internet e a revolução tecnológica de massas trazida por ela. O que em seus primórdios era de acesso restrito e para fins específicos, veio a se tornar um meio de comunicação massificado englobando em si inúmeros aspectos da vida cotidiana como trabalho, estudo, comunicação, lazer e comercio, de modo que é impossível para as gerações mais novas conceberem um mundo sem o uso de ferramentas de comodidade como sites de buscas, enciclopédias eletrô- nicas, sites de entretenimento, serviços de streaming e redes sociais. Certamente, com o maior uso de atividades dependentes do meio virtual, uma série de atividades próprias do funcionamento da rede tomaram forma. Sur- gidas das próprias peculiaridades técnicas da Internet, estas novas fronteiras permaneceram sem uma real atenção pelo Direito, este sempre tão tradicional e conservadora, pareceu demorar a versar sobre estas novidades trazidas pela Era da Informação em um primeiro momento, entretanto, a crescente necessi- dade fez com que uma maior atenção fosse dada a este novo ramo do Direito. Com o crescente uso do meio virtual, mais e mais informações circulam na Grande Rede de Computadores, informações estas que podem ser de suma importância para o usuário, resguardada sua defesa pelo dispositivo da privaci- dade, que apesar de ser antigo, nunca havia sido posto a tanta prova se levar em consideração que a circulação de informação num mundo pré-Revolução Di- gital era mais difícil e reservada e em menor volume. Há de se falar que existe uma certa ingenuidade dos usuários quanto a capacidade de captação e circulação de informações no meio virtual, abrindo um maior espaço para que suas informações acabem em posse de terceiros. 5 Atribui-se isso ao fato de que ainda se acredita em uma cessão entre o “mundo real” e o “mundo virtual” e na incomunicabilidade destes, mas é evidente que na medida que avançamos, cada vez mais dependente de tecnologia, a in- tegração entre estes dois mundos não é só inevitável, como também ocorre em uma velocidade bem maior do que o ser humano pode compreender. Mesmo relegado ao campo da ficção, a ideia de um mundo totalmente conectado é cada vez mais palpável. Nas vias práticas, por própria particularidade do funcionamento dos com- putadores, informações são arquivadas e catalogadas por tempo indeterminada, sendo possíveis que, mesmo involuntariamente, informações e dados das pes- soas que utilizam as máquinas sejam sabidos por terceiros como administrado- res de redes e sites. Com certo tempo de uso, baseado nas atividades que a pessoa desen- volve na rede é possível traçar perfis completos das pessoas, como seus pa- drões de compras, assuntos que se interessa, locais que costuma frequentar, renda aproximada, posicionamento político e diversas outras informações das mais variadas espécies. Estes dados por si só não representam muito se desconexos, entretanto, a compilação destes pode configurar um verdadeiro atentado ao direito à priva- cidade individual, pois é direito do indivíduo que, mesmo que não seja de rele- vância, suas informações sejam vistas como sigilosas, não sendo de importância de terceiros, independentemente de qualquer propósito que se possa ter. Este aspecto torna-se ainda mais complicado com o fato de que a infor- mação das atividades dos usuários se tornou uma espécie de commoditie para anunciantes e políticos que, através de um perfil traçado pela coleta das infor- mações, pode direcionar propagandas campanhas, de produtos e de serviços específicos para o usuário, independentemente do seu consentimento. Não raramente vemos anúncios e propagandas que estranhamente pare- cem encaixar-se perfeitamente aos nossos gostos e preferências resultantes desta troca de informações que ocorre de maneira descontrolada, regida por al- goritmos. 6 Com esta hiper vigilância o indivíduo sofre um processo de despersonali- zação, onde perde o direito exclusivo sobre sua personalidade, sendo ele exis- tente além de sua esfera pessoal, com a criação de um doppelgänger virtual e público recriado a partir da reconstrução e cruzamento dos dados captados por terceiros. Além da infração sobre o direito da personalidade, há ainda a preocupa- ção sobre a capacidade de controle das escolhas visto que, com empresas que conhecem o indivíduo melhor que ele próprio, há de se falar na possibilidade queessas informações sejam usadas para um controle social direcionado. Diante desta problemática, a análise da atual conjuntura de privacidade bem como analise da legislação se faz necessária para que possamos ter uma nova perspectiva acerca do paradigma da privacidade, bem como entender como a legislação aborda as soluções para este problema. 2. A IDENTIDADE NA ERA DA INFORMAÇÃO A construção da identidade humana pode ser considerada uma das mai- ores incógnitas na qual a humanidade se deparou, seu processo evolutivo e de- senvolvimento são temas de debates e especulação não só pela comunidade médica que investiga o tema de um ponto de vista científico, como também é tema de discussão para as mais diversas áreas que passam pela filosofia e so- ciologia com o intuito de decifrar a essência da consciência humana. Sendo o humano dotado de sapiência sobre sua própria sapiência é na- tural o aflorar de tal curiosidade como tentativa da humanidade de decifrar suas próprias inseguranças ao explorar os mecanismos da própria construção identi- tária. A contemplação da própria identidade serve como um espelho para a per- sonalidade humana, um ser que vê em si próprio a dúvida da existência e da consciência. 7 Pode-se falar que a construção de uma identidade pessoal é um conjunto de fatores, onde tanto os elementos internos e externos se equivalem no pro- cesso de evolutivo da consciência humana sobre si mesmo. Assim como os elementos inatos e características herdadas por filiação, a inserção do indivíduo na sociedade o molda aos costumes e ideias pré-exis- tentes do ambiente em que ele é criado, demonstrando uma dualidade na for- mação de cada ser humano, daí derivando a sua personalidade, ajudando-o a criar uma imagem de si próprio e do mundo que o cerca que, neste tópico, afirma Manuel Castells “A construção da identidade vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, por instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso.” (CASTELLS, 2018). Sendo assim, é possível fazer algumas ponderações acerca dos elemen- tos exógenos, visto que, sendo todos nós humanos capazes de experimentar o mundo, todos temos a possibilidade de julgar e metrificar os elementos que per- cebemos em nosso exterior. De certa forma, parte da identidade do indivíduo vem do meio em que se encontra e, se pararmos para fazer uma análise temporal, este ambiente histori- camente sempre carregou um caráter de limitação, pois, por boa parte da história humana o indivíduo não tinha muitas oportunidades de sair do sua terra natal por razões práticas: contato com outras comunidades era algo que demandava um gasto de tempo e recursos que muitas vezes não era justificado e, em alguns casos, hostil. Não contribuía o fato de que o indivíduo, inserido em sua própria comuni- dade desde seu nascimento, não via real vantagem em contato com outra co- munidade visto que aquela que ele participava já lhe proporcionava tudo que ele necessitava, ironicamente, por que a própria comunidade já havia lhe incutido no subconsciente que todas as suas necessidades estariam supridas pela pró- pria comunidade. Com o lento avanço da comunicação entre comunidades cada vez mais a empreitada de comunicação entre sociedades tornou-se uma empreitada menos 8 custosa e, com este fato, os indivíduos estavam lentamente sendo expostos a novas culturas e ideias, rompendo com o domínio da sua comunidade de nas- cença sobre a segunda parte da formação de sua identidade. Com um salto temporal para hoje, a tecnologia da comunicação chegou a tal ponto onde a conectividade proporcionada pela globalização revolucionou o modo como indivíduos interagem com comunidades que não aquelas que nas- ceram, o elemento exógeno que compõe a sua personalidade está cada vez mais ligada a elementos cosmopolitas e diversos, ainda mais se levarmos em consideração o quão cada vez mais jovem as pessoas são introduzidas a estas tecnologias de conexão. Podemos citar a Internet como a maior revolução da comunicação e co- nectividade da história humana que, devido a sua relativa recente popularidade e disseminação, ainda há de ter seus efeitos sobre o indivíduo totalmente com- preendido, entretanto, já é notável. Se antes o indivíduo era moldado por uma comunidade fechada em si mesmo, como será a construção de um indivíduo criado em uma sociedade onde as barreiras físicas tornaram-se obsoletas com a criação de um ciberespaço de um virtual trânsito livre de ideias e personalidades? Mesmo sendo ainda muito cedo para fazer qualquer tipo de afirmação concreta, é possível supor que a introdução da Internet venha a transformar não só a construção da identidade como também mude até mesmo o próprio conceito de identidade e consciência a medida que o global substitui o local e o virtual substitui o físico. O avanço tecnológico segue a passos largos, aparelhos como telefones celulares e computadores pessoais tornaram-se cada vez mais baratos, podero- sos e populares, tornando-se comuns e totalmente integrados a vida das pes- soas. Seguindo nessa onda de popularização da tecnologia, a Internet se pro- pagou a ponto de se tornar de um serviço de luxo para uma parte integral da nossas vidas tal como eletricidade e água encanada um dia foram e, se levarmos em conta que nosso aprendizado, lazer, comercio e até serviços e cadastros de órgãos públicos se fazem cada vez mais por meios digitais, não seria nenhum 9 disparate argumentar que o direito ao acesso à Internet se tornou essencial para o exercício da cidadania, conceito que é corroborado pela legislação brasileira na forma do caput do artigo 7º da Lei 12.965/2014, o Marco Civil da Internet. Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e inde- nização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazena- das, salvo por ordem judicial; IV - não suspensão da conexão à internet, salvo por débito diretamente decorrente de sua utilização; (...) Naturalmente, com o crescente número de internautas e com o surgi- mento das redes sociais, a construção das identidades veio a sentir os efeitos de um mundo cada vez mais interconectado, ganhando também uma nova di- mensão de existência, a existência virtual. Atualmente afirmar-se que o ser humano vive em dois planos de existên- cia simultaneamente: o físico e o virtual. O primeiro é o clássico, limitado pela presença corpórea do indivíduo e temporal, onde ele carrega consigo sua iden- tidade da qual ele é indissociável, o segundo é meio digital que, em contraste com o físico, não se limita pela presença física de seu indivíduo, bem como pos- sui um caráter atemporal, sua identidade pode ser acessada a qualquer mo- mento em qualquer lugar do globo, teoricamente, qualquer pessoa. Sendo a identidade o conjunto de percepções que o indivíduo tem sobre si mesmo, gerados a partir de suas características biológicas e sociais, podemos argumentar que as informações sobre o indivíduos, seus dados pessoais, são o 10 componente chave para a identificação do indivíduo perante ele mesmo e pe- rante a terceiros e, num mundo onde a identidade existe física e virtualmente, também é o caso dos dados pessoais. O cerne da questão repousa no modo de como o indivíduo retém a pro- priedade sobre seus dados que, anteriormente se condensavam exclusivamente na figura da pessoa, uma vez que agora essas informações privadas também se encontram no doppelgänger virtual por meiode suas postagens em redes soci- ais, informações gravadas e armazenadas em bancos de dados de empresas, histórico de compras catalogados por bancos e localização monitorada por GPS embutido nos aparelhos celulares, todos esses fatores contribuindo para a cria- ção de um dossiê digital, um simulacro da identidade real que não mais se en- contra na propriedade do seu titular, ocorre uma efeito de despersonalização, onde o indivíduo perde a propriedade exclusiva sobre seus dados por conse- quente a sua identidade sendo eles utilizados por terceiros com interesses mui- tas vezes monetários, utilizando deste persona virtual como um alvo para o dire- cionamento de propagandas, serviços e, em alguns casos, influencia no com- portamento pessoal como no caso de corridas eleitorais ou votações por meio de propaganda política direcionada (BUMP, 2018) para convencer o alvo destas ações a tomar decisões. Revela-se que os dados pessoais se tornaram um novo tipo de ouro digi- tal, a possibilidade da coleta e do processamento de dados pessoais proporciona à empresas e governos a capacidade não só de entender o comportamento dos indivíduos, como também podem os influenciar tomando ações sutis para criar uma ilusão de escolha para a pessoa, uma vez que todos os seus dados torna- ram-se acessíveis por meio de seu “gêmeo digital”, essas entidades usam seu poder de processamento para seus próprios interesses. Esse novo mercado trilha uma linha perigosa entre o legal e a vigilância, fato que não deixou de ser notado, principalmente na atual Era da Informação: The increasing thirst for personnal information spawned the creation of a new industry: the database industry, na Information Age bazar where personal data collections are bartered and sold. Marketers “rente” lists 11 of names and personnal information from database companies, which charge a few cents to a dólar for each name. (SOLOVE, 2004).1 Diante deste fato, conclui-se que há um real perigo para a privacidade dos dados pessoais, ainda lavando-se em conta que o avanço tecnológico acelerado faz com que cada vez mais a capacidade de obtenção, armazenamento e pro- cessamento destes dados se dê de forma em que não só as pessoas não saibam lidar com este novo paradigma, como também a própria legislação, por seu pro- cesso moroso, não esteja preparada para prevenir abusos, visto que, a proteção de dados, por sua vez componente essencial para a formação da imagem e identidade do indivíduo, é algo que se deve salvaguardar para que seja propor- cionada a plena experiência humana para o indivíduo. Com a atual configuração tecnológica, a demanda pelo fluxo de informa- ções aumentou exponencialmente não por design, mas por necessidade deri- vada da própria arquitetura dos sistemas e da configuração de armazenamentos na qual os bancos de dados se constituem. Desde muito tempo empresas e governos coletam dados e informações sobre as pessoas em forma de cadastros, sensos, lista de e-mail, históricos mé- dicos, históricos de transações bancária e qualquer outro tipo de cadastro que fosse necessário para a identificação de um usuário de um serviço. O que ocorre é que com a capacidade computacional atual, o cruzamento e o processamento de dados se tornou algo quase impossível de ser controlado, dificultando que o indivíduo possua alguma forma de decisão na forma que seus dados são compartilhados e usado por entidades que, muitas vezes, não pedem autorização para tal. 1 A crescente sede por informações pessoais gerou a criação de uma nova indústria: a indústria de banco de dados, um bazar da Era da Informação onde coleções de dados pessoais são trocadas e vendidas. Os profissionais de marketing “alugam” listas de nomes e informações pessoais de empresas de banco de dados, que cobram de alguns centavos a um dólar por cada nome. (SOLOVE, 2004) (Tradução nossa). 12 O que se pode afirmar a partir disto é que o indivíduo passa por um pro- cesso de despersonalização ao lhe ser retirada a propriedade e o controle ex- clusivo de seus dados para que seja criada uma aproximação virtual do seu real ser. Há um certo sentimento de ansiedade constante nessa despersonaliza- ção, uma suspeita constante de falta de controle da própria personalidade e de constante vigília por meio dos dados, “dataveillance”: “Dataveillance is thus a new form of surveillance, a method of watching not through eyes or the câmera, but by collecting facts and data.2” (SOLOVE, 2004) Mesmo em um primeiro momento, a despersonalização pode parecer apenas um efeito inofensivo justamente por se tratar de um conceito abstrato como também suas reais consequências ainda são obscuras pela falta de docu- mentação e pro se tratar de um problema recente, entretanto, é possível ver que há um certo perigo à espreita, algo que vá vilipendiar os mais básicos dos direitos e, por isso, o Direito não pode se furtar de versar sobre. Revela-se então que seja necessária uma análise dos atuais paradigmas da privacidade e como a legislação aborda este tema para que se possa fazer uma análise completa de se a norma jurídica está apta a média os conflitos vin- douros e se o atual paradigma da privacidade tal como conhecemos ainda é suficiente para que seja usado de forma que proteja os indivíduos de abusos e permita-os viver de forma plena. Em um cenário onde o atual panorama da identidade no mundo moderno e suas novas nuancem em relação à matéria do Direito, é importante levantar o questionamento acerca de como a personalidade jurídica se desdobra em rela- ção às atuais transformações tecnológicas e seus impactos no Direito. Em seu conceito, a personalidade jurídica é algo inerente ao ser humano, sendo ele ao mesmo tempo fonte e receptáculo onde essa personalidade se manifesta, visto que, por boa parte da história, a personalidade humana e o seu 2 Dataveillance: “Dataveillance é, portanto, uma nova forma de vigilância, um método de observar não pelos olhos ou pela câmera, mas pela coleta de fatos e dados.” (SO-AMOR, 2004) (Tradução nossa) 13 agente eram indissociáveis, fato que vem se transformando a medida que as inovações tecnológicas transformam a experiência humana. A personalidade jurídica opera de forma onde o indivíduo é tanto alvo e agente; por possuir personalidade jurídica ela é protegida pelo ordenamento, por ter personalidade jurídica ele pode exigir seus direitos, fatos que ingressam to- talmente o ser humano sob a tutela do Direito. Se hoje se vê uma gradual separação entre indivíduo e personalidade, não seria de todo estranho afirmar que este fato também pode afastar o indivíduo de sua personalidade jurídica, já que a personalidade jurídica advém da sua per- sonalidade individual e, mesmo que versem sobre dois aspectos distintos – o indivíduo inserido no direito e o indivíduo com imagem de si próprio tem uma correlação que, mesmo que simbiótica, ainda sim apartada. Apesar de ambos os conceitos de personalidade (personalidade jurí- dica e personalidade propriamente dita, sinônimo de personalidade hu- mana) relacionarem-se intensamente como corretamente aponta Ca- pelo de Sousa, pois, para que o ser humano possa ser sujeito de di- reito, torna-se fundamental a tutela de alguns bens fundamentais da sua personalidade como identidade, a liberdade, a vida, a igualdade e tantos outros, os dois conceitos de personalidades vistos acima regu- lamentam bens e situações substancialmente diversas. (ROBL FILHO, 2010). O distanciamento da personalidade acaba por infringir a própria autono- mia da vontade do indivíduo, elemento fundamental para que haja o negócio jurídico, afastando de uma teoria da vontade, sendo substituído por uma teoria meramente declaratória. Duas correntes se formaram, especialmente na Alemanha. Enquanto os componentes da teoria da vontade (Willenstheorie) entendem que se deve prequirira vontade interna do agente, vontade real (Savigny, Windsheid, Dernburg, Unger, Oertmann, Ennecerus) de outro lado, os partidários da teoria da declaração (Zittelmann). Para estes, qualquer declaração obriga, ainda que por mero gracejo; para os primeiros cum- pre pesquisar a realidade, seriedade etc., da verdadeira vontade. (PE- REIRA, 2010). 14 A substituição de uma teoria da vontade por uma declaratória se encaixa facilmente em um panorama em que, por meio da utilização de nossos dados, agentes terceiros podem criar estratégias para influenciar a decisão dos indiví- duos e induzi-los a tomar decisões que não necessariamente representem com fidedignidade suas reais intenções, mas um simulacro, uma representação ilu- sória de uma decisão tida exclusivamente pela vontade. A tecnologia acaba por proporcionar uma quebra com a autonomia da vontade, conceito este que é algo essencialmente derivado do espírito humano e que dele deveria ser indissociável, pois é a vontade a expressão da alma hu- mana e separa-los tira do homem não só sua autonomia, como o relega a torna- lo um ser que não mais é protagonista em sua consciência, sendo passível e de liberdade limitada por outros. Por isso, a vontade humana pode ser designada como a faculdade es- piritual, que o homem possui de afirmar os valores intelectualmente conhecidos ou de tender para eles. Seu objeto característico é o da vontade em geral; o ser como valor, mas apresentado segundo o modo peculiar do conhecimento e do entendimento humano. Enquanto o apetite sensitivo (tendência) se restringe ao estreito domínio de bens sensivelmente aceitáveis, a vontade tem um domínio objetivo ilimitado. Com efeito, pode dirigir-se somente àquilo que de algum modo aparece como bom, mas também a tudo quanto possua esta qualidade; ora isto é o que constitui o domínio ilimitado do ente em geral, porque todo ser é, de algum modo, valioso. (PERIN JR., 2000). Esse afastamento entre a vontade e o indivíduo acaba por cimentar que a personalidade individual é a que dá caminho à jurídica, já que é da individual que emana aquilo que a personalidade jurídica vem em um segundo momento tutelar. Visto isso, há de se concluir que, uma vez que os elementos que dão origem a personalidade jurídica não estejam mais em controle total do indivíduo, há um real risco a sua personalidade jurídica e a sua autonomia da vontade, fato que se levado a um extremismo lógico, representa um perigo à própria segu- rança de seus direitos individuais e negócios jurídicos. 15 Há limitações para conjecturar quais seriam os efeitos práticos de uma personalidade jurídica baseada em uma personalidade e identidade que não mais se concentram em um indivíduo e agora se manifesta por meios que estão além da propriedade do indivíduo, mas é certo afirmar que despersonalização proveniente dos meios tecnológicos pode ter consequências diretas sobre os aspectos jurídicos em alguma forma já que a base para a titularidade de direitos tem como base a personalidade do ser humano, que lhe proporciona personali- dade jurídica. Assim, uma análise da legislação à luz dos novos paradigmas da perso- nalidade e identidade se torna cada vez mais necessária, uma vez que estes dois aspectos humanos são a base para a ciência jurídica. 3. UMA ANÁLISE DO IMPACTO DA LEI N. 13.709/2018 – LEI GE- RAL DE PROTEÇÃO DE DADOS – NAS RELAÇÕES ECONÔMI- CAS E JURÍDICAS Com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados que entrou em vigor no dia 18 de setembro de 2020, representa um verdadeiro marco nas relações econômicas e jurídicas e atinge a esfera pública e privada no que diz respeito a proteção de dados pessoais dos seus titulares desde a coleta realizada por pes- soas físicas ou jurídicas que visem a finalidade econômica até o descarte dos referidos dados. Como toda norma, a LGPD visa tutelar um bem jurídico e para tanto pos- sui princípios basilares que devem nortear a sua aplicabilidade e a sua interpre- tação no caso em concreto, tais como a transparência, exatidão, lealdade, res- ponsabilidade, livre acesso e segurança. Com efeito, os referidos princípios são os alicerces das duas primeiras regras que devem ser observadas agente que realiza que tratamento de dados: o consentimento do titular e a determinação da finalidade exata para que se des- tina, dentre outras diversas diretrizes que a norma regula e que serão expostas a seguir. 16 A Lei 13.709/2018 é extensa e o objetivo é apenas explorar algumas questões que possuem pertinência prática na seara jurídica e merecem uma es- pecial atenção até mesmo daqueles que ainda não se dedicaram ao estudo dessa inovadora norma que representa uma mudança de comportamento por parte de empresas e pessoas físicas que tratam dados pessoais. Portanto, primeira leitura da referida lei, percebe-se que ela é eivada de alta tecnicidade e deixa muitas lacunas a respeito de quais medidas cada ramo de atividade adotará visando a proteção de dados, tendo em vista que, cada tipo de negócio merece um trato diferenciado na condução da implementação de tal lei. Todavia, sob o princípio da boa-fé, toda medida que visa a proteção de dados e é adotada durante o ciclo de tratamento de dados é capaz de gerar a segurança jurídica necessária para se obter os efeitos positivos pretendidos pelo titular e pelo controlador/operador de dados. Para se obter a proteção de dados imposta pela LGPD, pode-se adotar medidas jurídicas com viés contratual ou até mesmo medidas tecnológicas, como por exemplo, uma criptografia moderna e segura dentre outras formas que devem ser adotadas de acordo com o ramo de cada atividade econômica, o im- portante é entender o ramo e a estrutura da atividade econômica para que se implemente a adequação nos ditames da norma jurídica. 3.1. A Fórmula de Aplicação da LGPD no Cotidiano Pois bem, não há fórmula correta de aplicar a LGPD, pois, tudo que é relacionado ao Direito não é exato e cabe interpretação, entretanto, o operador de direito especializado ou conhecedor da LGPD poderá criar uma aplicação adequada de tal lei em cada empresa que faça uso de dados, ou mesmo, fazer o planejamento necessário para o devido tratamento desses dados. Como mencionado, a interpretação da aplicabilidade da Lei Geral de Pro- teção de Dados - LGPD gera grandes discussões no mundo jurídico e fora dele, isto, graças a diversidade das situações fáticas e de como cada pessoa física ou jurídica que utiliza dados com finalidade econômica realizará a implementação 17 da conformidade jurídica, a fim de evitar sanções administrativas e judiciais, pois cada controlador/operador de dados tem suas peculiaridades que precisam ser observadas, de maneira que não há uma fórmula padronizada para tais contro- ladores/operadores utilizarem os dados de terceiros. Dessa forma, é elementar que o advogado conheça profundamente o ne- gócio do seu cliente, para que assim adeque a empresa à norma LGPD, bem como, as outras pertinentes à atividade econômica. De modo que, é importante que o profissional do direito realize um relatório inicial de como a empresa realiza a segurança de dados e, posteriormente, um relatório de quais medidas foram adotadas e seus fundamentos jurídicos que embasaram o entendimento. 3.2. Os Dados da LGPD sob o Prisma Constitucional Cediço que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XIV, nos traz a acessibilidade de informações como regra e o seu sigilo como exce- ção, temos os referidos dados como termo sinônimo de informações ou, em uma visão mais maliciosa, os dados seriam um termo utilizado para a não aplicabili- dade constitucional da acessibilidade geral da informação sobre a LGPD. Isto, é algo que será melhor demonstrado mais adiante. [...] XIV - e assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário aoexercício profissional; [...] No preâmbulo da referida lei, vê-se que na primeira vez que foi publicada, ela visava reformar a Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Inter- net), entretanto, ao se analisar o conteúdo reformado, percebeu-se que a LGPD é bem mais abrangente ao adentrar no que trata outras leis, como a Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação) em uma pers- pectiva mais tecnológica. Visto que, a Lei de Acesso à Informação especifica em seu Capítulo IV sobre o “Informações Pessoais”, enquanto, a LGPD coloca em seu Capítulo IV sobre “Tratamento de Dados Pessoais pelo Poder Público”. Caso haja dúvida 18 sobre a similaridade apontada acima, basta ler o início do Capítulo IV da LGPD que escreve: “Art. 23. O tratamento de dados pessoais pelas pessoas jurídicas de di- reito público referidas no parágrafo único do art. 1º da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação) (...)”. Aqui, na comparação des- tes dois Capítulos, tem-se a cristalina similaridade entre as duas leis menciona- das, tendo-se que notar que informações é um termo físico/existente/palpável, enquanto, dados é um termo mais virtual/tecnológico. Destarte, as informações mencionadas na Lei de Acesso à Informação são um conjunto de dados relacionados que estão sob tratamento do operador de dados. O que faz com que seja notável como a LGPD regula tais informações em tratamento fazendo uso do termo dados, algo que vai de encontro com o final do art. 5º, inc. XIV, da CF, que diz “(...) resguardado o sigilo da fonte (...)”. Pois, a fonte é o titular dos dados e ele deve ter seu sigilo resguardado exatamente como propõe a LGPD por obediência ao artigo transcrito acima da Constituição Federal Brasileira. O que deixa evidente como a LGPD tem um viés constitucional presente em sua idealização norteadora. Assim, em meio a inúmeras questões que vem sendo suscitadas a res- peito da legislação, é preciso salientar outros aspectos constitucionais, tendo em vista, os fundamentos previstos no art. 2º, da LGPD, preveem a tutela da liber- dade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião, dos direitos humanos, da livre iniciativa e livre concorrência, dentre outros princípios já con- sagrados pela Constituição Federal. Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como funda- mentos: I - o respeito à privacidade; II - a autodeterminação informativa; https://jus.com.br/tudo/livre-iniciativa 19 III - a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; IV - a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; V - o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação; VI - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais. Dessa maneira, a lei infraconstitucional busca dar efetividade na tutela desses direitos fundamentais, de maneira fornecer ao titular a qualquer momento o acesso direto ao controladores para obtenção da informação acerca da exis- tência de tratamento e quais dados estão sendo tratados e ainda a possibilidade da requisição para que esses sejam atualizados, anonimizados ou removidos conforme o disposto no art. 18, da LGPD, verbis: Art. 18. O titular dos dados pessoais tem direito a obter do controlador, em relação aos dados do titular por ele tratados, a qualquer momento e mediante requisição: I - confirmação da existência de tratamento; II - acesso aos dados; III - correção de dados incompletos, inexatos ou desatualizados; (...) É válido mencionar que em caso de impossibilidade da remoção dos da- dos pessoais, o titular deve receber uma resposta escrita e fundamentada acerca da impossibilidade do descarte de dados - por motivos que podem ser contratu- ais ou legais - mas o direito de pleitear do titular deve ser preservado bem como o seu direito a resposta em prazo adequado, daí a importância da implementa- ção da conformidade jurídica pelas empresas e demais pessoas que tratam da- dos pessoais com finalidade econômica é necessário a criação deste canal de atendimento. 20 Isto posto, se a Lei Geral de Proteção de Dados visa tutelar direitos fun- damentais já previstos na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso X, e na Emenda Constitucional n. 45/2004 que consagrou o caráter supralegal dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ratificados pelo Brasil, porque estamos nos preocupando tanto com a LGPD? 3.3. Conceitos Técnicos da LGPD e sua Consequência Prática É mister voltar a destacar que legalmente para a LGPD o termo “informa- ção” é dado que está em fase de tratamento. Importante também aqui mencionar que muitas vezes com um dado isoladamente não é possível identificar o seu titular, mas durante a realização do seu tratamento o que era apenas um dado vira uma informação e ao final do tratamento dos dados surge o conhecimento. Com isso, é evidente que o dado passa por um verdadeiro ciclo que vai da sua coleta até o seu descarte. Por isso que hoje o dado é comumente conhe- cido como o novo petróleo, pois é uma grande ferramenta de negócio e não é à toa que a profissão de cientista de dados vem ganhando ênfase nos últimos anos. Outro termo que pode causar estranhamento aos positivistas é a pessoa natural. Desde seu art. 1º, a LGPD faz uso do termo pessoa natural ao invés de utilizar o termo pessoa física. Pessoa natural não é um termo usual nas legisla- ções pátrias para se referir a pessoa física, entretanto, a necessidade de querer inovar na LGPD é tão transparente que até nisso foi feita uma modificação. Há menção reiterada dos termos titular, controlador e operador de dados, na LGPD. Para facilitar a leitura de tais termos, é pertinente em breve conceituação, deter- minarmos quem é cada um dos agentes mencionados: O Titular dos dados é aquele que tem seus dados fornecidos, como determina o art. 5º, inc. V, da Lei 13.709/18, é “pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de tratamento”. O Controlador dos dados é aquele que decide a respeito do tratamento de dados, ou seja, aquele que manda, conforme determina o art. 5, inc. VI, da LGPD: “controlador: pessoa natural ou jurídica, de direito público 21 ou privado, a quem competem as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais;”. E o operador de dados é aquele que executa efetivamente o tratamento de dados a mando do controlador, conforme disposto no art. 5, inc. VII, da LGPD: “operador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, que realiza o tratamento de dados pessoais em nome do con- trolador;”. 3.4. O Uso de Cookies na Atualidade e a sua Relação com a LGPD Partindo de um raciocínio com aspecto filosófico e com aspecto socioló- gico, nos dias de hoje, em meio ao avanço tecnológico, dificilmente o indivíduo tem sua privacidade absolutamente preservada. O termo inglês cookie traz essa ideia de coleta indiscriminada de dados sem um uso pré-definido pelo controlador de dados, algo vedado pela LGPD. O gerador de cookie pode ser um site, um aplicativo outra empresa qual- quer interessada em alienar dados para terceiros ou fazer uso de tais dados do titular para interesse próprio. Contudo, é imprescindível impor limites as invasões de privacidade, colo- cando o titular dos dados em primeiro lugar, como bem prevê a Constituição Federal. Assim, efetiva-se o direito ao sigilo, direito este que já pertencia ao titular desde 1988, ou seja, a partir da LGPD os dados a serem tratados pelo controla- dor/operador deverão ser consentidos pelo titular e deve-se estabelecer para qual finalidade o tratamento é destinado. Dessa forma, estabelecer, em uma empresa, as justificativas para o uso dos cookies é umaforma de respeitar o sigilo do titular dos dados, algo que já deveria ter ocorrido desde 1988, em conformidade com a constitucionalidade pátria. 22 3.5. As Peculiaridades dos Dados Pessoais Sensíveis na LGPD No que tange a tutela dos direitos do titular, a legislação buscou colocar os dados pessoais sensíveis em um patamar mais elevado na segurança do seu tratamento, previstos no art. 5, inc. II, da LGPD, vejamos: [...] Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se: I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável; II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organiza- ção de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural; [...] Logo, os dados pessoais sensíveis, assim determinados pela lei visam estabelecer que as pessoas físicas ou jurídicas controladores e operadores tra- tem desses dados desde a coleta até o descarte com o maior rigor de segurança possível. Desta maneira, é inegável o impacto da lei na seara trabalhista, cível, ad- ministrativista, pois havendo a presença do dado pessoal e sendo sensível há a necessidade do cuidado especial em sua coleta até o seu descarte. Por exemplo: em uma relação trabalhista, o empregador dispondo de vários dados pessoais (sensíveis ou não) do seu empregado, é necessário a adoção de medidas inter- nas e externas que visem proteger os seus dados contra o acesso não autori- zado, tratamento inadequado, perda, alteração, conforme o disposto no art. 46 da LGPD. Art. 46. Os agentes de tratamento devem adotar medidas de segu- rança, técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou qualquer forma de trata- mento inadequado ou ilícito. 23 A taxatividade do rol dos dados pessoais sensíveis tem uma razão de existir: a não discriminação. O seu tratamento irregular pode acarretar sanções administrativas previstas no art. 42, da LGPD. Art. 42. O controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade de tratamento de dados pessoais, causar a outrem dano pa- trimonial, moral, individual ou coletivo, em violação à legislação de pro- teção de dados pessoais, é obrigado a repará-lo. § 1º A fim de assegurar a efetiva indenização ao titular dos dados: I - o operador responde solidariamente pelos danos causados pelo tra- tamento quando descumprir as obrigações da legislação de proteção de dados ou quando não tiver seguido as instruções lícitas do contro- lador, hipótese em que o operador equipara-se ao controlador, salvo nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta Lei; II - os controladores que estiverem diretamente envolvidos no trata- mento do qual decorreram danos ao titular dos dados respondem soli- dariamente, salvo nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta Lei. (...) Dessa forma, se o controlador dos dados pessoais não necessitar dos dados sensíveis é melhor que não realize a coleta justamente para evitar o risco de vazamento e caso seja necessário a coleta de algum dado sensível que fique demonstrado ao titular a finalidade a que se destina, o local do armazenamento e forma de segurança adotada pelo controlador e operador. 4. A PERSPECTIVA DA PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS EM FACE DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO SISTEMA NORMATIVO BRASILEIRO Segundo os relatórios do IPEA e do IBGE o Brasil se particulariza pelo fato de ser uma sociedade hiper conectada, por ser uma das maiores consumi- doras de tecnologia, possuir um dos piores sinais de internet, principalmente em razão de um abismo composto pelas lacunas ainda muito consideráveis no or- denamento jurídico, por um déficit educacional que afeta a formação de recursos 24 humanos para atuar nessa área, por um alto índice de corrupção e de conivência dos agentes públicos com relação aos abusos cometidos pelas empresas de tecnologia e em função de uma realidade marcadamente assimétrica que se tor- nou um campo fecundo para os efeitos da divisão digital que grassa nos dias atuais. Há, todavia, em face do que ainda carece o sistema protetivo de dados pessoais sempre um alento ao se contemplar a efeméride dos trinta anos do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto da Criança e do adolescente, sobretudo da maneira em que esses instrumentos conferiram novos parâmetros para a interpretação e para a aplicação constitucional e, assim, passaram a ex- pressar e a suportar uma atual rede social e jurídica que permite contemplar segurança aos hipossuficientes e, nesse sentido, incrementaram o teor e a den- sidade do corolário de direitos e de garantias constitucionalmente assegurados, inclusive os advindos com o Marco Civil da Internet, comumente chamado de Constituição da Internet no Brasil. A segurança e a proteção da pessoa humana no âmbito digital, no que afeta aos inúmeros usos dos dados pessoais e, de modo especial, no contexto da internet, ainda carecem de maior atenção no Brasil, muito embora já se tenha desde 2014 um marco civil que, dentre outros pilares, expressamente previu como princípio estruturante a privacidade, delegando, no entanto, a proteção de dados pessoais a uma legislação específica que se concretizou por meio da pro- mulgação da Lei Geral de Proteção de Dados - Lei 13.709/2018 (doravante LGPD) que recentemente entrou em vigor em setembro de 2020. Interessante apontar que o movimento que ensejou a promulgação da- quela ferramenta legislativa contagiou grupos diversos e incluiu a questão da ciber segurança na pauta nacional na medida em que o Brasil passava a aderir ao padrão de exigência por transparência, por equidade, por liberdade, notada- mente em face do crescente vigilantíssimo que, à época, se projetava e continua se mostrando como um grande obstáculo para a consolidação do regime demo- crático. 25 A guisa de ilustração, o debate sobre a produção legislativa voltada para a proteção de dados pessoais é um legado evidente daquele momento em que o país parecia tomar algumas rédeas em função do caso Snowden. O Brasil, deve ser notabilizado nessa altura, passou a ser visto e ouvido no panteão inter- nacional como um lugar de resistência em que havia a esperança de que a so- ciedade civil tivesse uma participação mais ativa na discussão e na produção de metodologias de uso das TICs amigáveis aos direitos humanos e fundamentais. E isso resultou no início do processo discursivo de elaboração de uma Lei geral de proteção de dados pessoais que, em síntese, fosse voltada para a proteção da pessoa natural no âmbito digital, mas, não exclusivamente a ele, vez que já não se pode mais delinear com facilidade as fronteiras do real em face do virtual. A finalidade, a adequação, a necessidade, o livre acesso, a qualidade dos dados, a transparência, a segurança, a prevenção e a não discriminação, per- meadas pelo princípio da boa-fé, perfazem a constelação principiológica da LGPD que, por óbvio, é emoldurada pelos princípios constitucionalmente previs- tos pela Carta de 1988 e se ampara em instrumentos jurídicos previstos em ou- tras searas, para além do direito digital, como a civil, a penal, a que expressa direitos de crianças e de adolescentes e a consumerista. Deve-se apontar ainda a sintonia com o que proclama o artigo 5°, X da CF/88. Assim, em uma análise mais pormenorizada dos dispositivos desse ins- trumento legal, podem ser apontados como desdobramentos do direito à prote- ção de dados, dentre outros, os direitos: ao livre acesso, à qualidade dos dados, à transparência, à segurança, à prevenção e à não discriminação. A promulgação dessa lei colocou o Brasil no rol de mais deuma centena de países que hoje podem, em certa medida, ser considerados adequados para proteger a privacidade e o uso de dados pessoais, uma vez que possuem insti- tutos voltados para essa área, sendo que, em regra, estão integrados aos de- mais países que atuam em rede, inclusive no que afeta às cautelas em relação à transferência de dados no contexto mundial. A LGPD, deve-se reafirmar, criou uma regulamentação específica para o uso, para a proteção e, notadamente, para a transferência de dados pessoais no 26 Brasil, nos âmbitos privado e público, e estabelece de modo claro quais e quem são as figuras diretamente envolvidas nos fluxos de dados e quais são as suas atribuições, as responsabilidades e as penalidades no âmbito civil que podem chegar à multa de 50 milhões de reais em decorrência de algum incidente ocor- rido. Devendo-se nessa altura alertar para o fato de que essa soma se refere a cada uma das infrações e não à condenação de modo geral. Em linhas amplas, a LGPD visa, em suma, assegurar a integralidade da proteção à pessoa humana na medida em que consagra a obrigatoriedade do gerenciamento seguro do início ao fim das diversas modalidades de operações que envolvem os dados pessoais. Importa salientar que o resguardo dos dados pessoais, particularmente os dados sensíveis, embora inicialmente tomado como personalíssimos, nunca tem apenas uma dimensão individual, uma vez que estão intrinsecamente atrelados ou podem se atrelados aos dados de outrem. Nesse sentido, interessa um olhar mais adensado na busca pela proteção dos interesses difusos, dos interesses coletivos e, de modo geral, dos interesses das crianças e dos adolescentes que apontam para as futuras gerações na busca por uma sintonia fina com os prin- cípios da responsabilidade e da solidariedade, dentre outros. De acordo com o art. 5°, I e II, da LGPD, os dados pessoais são, então, em princípio, todas as informações de caráter personalíssimo caracterizadas pela identificação e pela determinação do seu titular, enquanto os dados sensí- veis são aqueles que, à guisa de exemplo, tratam sobre a origem racial e étnica, as convicções políticas, ideológicas, religiosas, as preferências sexuais, os da- dos sobre a saúde, os dados genéticos e os biométricos. Os dados sensíveis são, em vista disto, nucleares para a prefiguração e para a personificação do sujeito de direito no contexto atual". O conjunto dessas informações compõe os perfis ou as identidades digi- tais, possuindo valor político e, sobretudo, econômico, vez que podem ser a ma- téria-prima" para as novas formas de controle e, assim, de poder social, especi- almente mediante o uso de algoritmos, de inteligência artificial e de Big Data. Oportuno clarificar que a tendência da granulagem no que toca ao perfilamento, 27 em razão do avanço e do incremento da tecnologia, vai desnudando cada vez mais a pessoa humana no ambiente digital e, por sua vez, gerando mais graves as condições de vulnerabilidade. Os perfis são composições, ou melhor dizendo, são mosaicos compostos pelas informações fornecidas pelos usuários em uma formatação igualmente constituída e circunstanciada pelo que é consciente e livremente disponibilizado e pelo que advém em forma de dados públicos e das pegadas digitais, dos cru- zamentos e dos vazamentos de dados. Importa relembrar que o que caracteriza o dado como sensível é a possibilidade de ser utilizado de modo discriminatório e, dessa forma, há de se reconhecer que o manejo/tratamento desses dados pode expressar uma afetação direta ou indireta à pessoa humana, sendo sempre detectada a posteriori. Aduz-se uma urgência em pensar além da mera noção de usuário, incluindo a perspectiva da cidadania de forma mais ampla e condi- zente com o presente e, assim, em consonância com a indefinição de fronteiras entre o mundo real e o mundo virtual. Nessa altura, portanto, conveniente é reafirmar que a natureza dos dados é a fluidez em um ambiente marcadamente incerto, inseguro e volátil configurado a partir da ação de monopólios e, por outra banda, destituídos de qualquer regu- lamentação efetiva, no caso da considerável parcela manifestada pela deep web, por exemplo. De fato, interessa a produção de sistemas de garantia da cidadania plena que, além de afeitos à privacidade, oportunizem e estimulem, em geral, o protagonismo do usuário em um ecossistema seguro e confiável de modo a con- figurar, na medida do possível, a soberania de seus dados como parte da prote- ção da sua própria personalidade. Há, a despeito da atual complexidade, um apelo significativo pela siste- matização de regras e de modos de regulamentação que, transcendentes as limitações impostas pela ideia de soberania possam, de fato, propiciar a segu- rança, a transparência e resgatem a confiança como eixos centrais para o trá- fego de dados no ecossistema virtual. 28 A emergência da nova identidade do humano-usuário implica em novos padrões normativos que abranjam os diversos fluxos de dados, sejam eles, pri- mários ou secundários. Mas, em particular ofereçam anteparos eficazes, no caso das crianças e dos adolescentes, para o exercício dos direitos e das garantias outrora consagradas e voltadas, em um primeiro sentido, para o mundo real. De toda forma, os dados pessoais, comuns ou sensíveis, advém minimamente desde um fluxo pautado no consentimento, passando inclusive pela produção e pela disponibilização de dados públicos quanto das chamadas pegadas digitais, bem como dos inúmeros vazamentos que tem sido detectado. Não resta dúvida, de qualquer sorte, que a anuência livre, consciente, responsável e solidária ainda deve ser entendida como um anteparo a ser fortalecido pelas legislações. Contudo, as pegadas ou os rastros digitais configuram todo o conjunto de dados que são tomados de assalto em razão da vida em sociedade a despeito do conhecimento da pessoa envolvida, sobretudo pela prática do vigilantíssimo que tem sido muito mais usual no presente momento. E, na medida em que se agudizaram as atenções para a questão da segurança pública, passaram a fazer parte indelével da vida urbana, sendo praticamente impossível imaginar um sis- tema em que o indivíduo possa gozar de um espaço de liberdade real. Não se pode olvidar, em síntese, que esses rastros são expressões que forçosamente tragam os indivíduos para um mundo virtual em que os perigos estão muito além da questão do consentimento e da disponibilização consciente, perfazendo um sólido patrimônio para alguns e uma teia de agravos para os demais, especialmente quando se tem em vista o contingente de crianças e de adolescentes, sobretudo aqueles e aquelas que estão institucionalizados. O paradoxo que se verifica vai, nesses termos, além da mera disponibili- zação consciente de dados pessoais, tampouco da atuação diligente de pais e de responsáveis na medida em que devem ser exigidas respostas do poder pú- blico forjadas a partir da educação digital e, concretizadas mediante políticas que alinhavem a inclusão e a regulamentação, inclusive a partir da conjugação de esforços com parceiros internacionais. 29 Nessa conjuntura impende mencionar que a Lei de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei n. 13.709/2018, considera em seu art. 2. VII, como funda- mento os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a digni- dade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais. Esse fundamento, par- ticularmente, está associado diretamente ao consentimento das pessoas natu- rais expresso como elemento transversal na Lei ao longo de seus 65 artigos, tanto no que concerne a sua exigência como a sua dispensa. É exigência da Lei n. 13.709/2018, à guisa de exemplificação, o consen- timento informado para o tratamento de dados pessoais, normatizado no Capí- tulo II, arts. 7, I, conjugado com o art. 8° e seus parágrafos, que estabelecema forma de consentimento, responsabilidades do controlador, as vedações e os critérios de nulidade. Por sua vez, o art. 9° determina, com base no princípio do livre acesso, que os direitos do titular dos dados pessoais podem ser emprega- dos para obter informações sobre a finalidade, a forma, a identificação e infor- mações do controlador, o compartilhamento realizado pelo controlador e suas respectivas responsabilidades, entre outras características, previstas do inciso I ao inciso VII, além dos direitos estabelecidos no art. 18. Não custa sublinhar que a LGPD, ao contrário da legislação europeia que serviu de inspiração, acabou sendo promulgada com um texto em que não se depreende a mesma ênfase na importância do consentimento. As exceções previstas ao consentimento informado elencadas nos § 4º do art. 7° da LGPD - isto é, a dispensa do consentimento para os dados tornados manifestamente públicos pelo titular, resguardados os direitos do titular e os prin- cípios legais, em especial a finalidade, a boa-fé e o interesse público, não escla- recem o que é tornar manifestamente públicos dados e informações. Cabe, a propósito, ainda uma atuação mais incisiva da ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) nesse aspecto e em outros. De mais a mais, o Capítulo III da Lei de Proteção de Dados deve ser sub- linhado, pois nele são previstos os direitos dos titulares, estabelecidos nos arts. 17 a 22. O artigo introdutório do Capítulo, art. 17, determina as bases inerentes ao pleno desenvolvimento da personalidade isto é, considerando os direitos fun- damentais de liberdade, de intimidade e de privacidade, direitos estes que serão 30 desdobrados e especificados intra legis ao longo da Lei, especificamente nos artigos seguintes, arts. 18 a 22. Entretanto, esses direitos devem ser, também, sistematicamente interpretados extra legis, particularmente considerando a Constituição Federal e os Códigos Civil e do Consumidor bem como o ECA (Es- tatuto da criança e do adolescente). Um aspecto notável foi o fortalecimento da proteção e a decorrente veda- ção de uso de dados sensível, particularmente os dados referentes à saúde, para fins discriminatórios independentemente do consentimento do usuário, sobre- tudo em face dos riscos de destruição, de divulgação e de acesso indevido em razão da estrutura aberta da internet, previstos na Seção II, arts. 11, 12 e 13 da Lei 13.709/2018. De qualquer forma, extrai-se desse texto legislativo além de relevantes conceituações como as que diferenciam os dados pessoais dos chamados da- dos sensíveis, o âmbito de proteção do direito fundamental à proteção de dados pessoais, alcançado em sede de controle de constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) mediante julgamento histórico em maio de 2020 em que suspendeu a eficácia da Medida Provisória (MP) 954/2020. Importa salientar que naquela sessão emblemática foi engendrada uma mutação constitucional base- ada na lógica de que não há dados irrelevantes, neutros ou insignificantes e, assim, restou reafirmada a proteção constitucional ao dado pessoal e, nessa medida, à pessoa humana no ecossistema digital/virtual. 5. A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NA LGPD E O SIGILO ES- TABELECIDO NOS TERMOS DE USO E POLÍTICA DE PRIVACI- DADE Como é de costume, a concessão da inversão do ônus da prova costuma ocorrer nas relações consumeristas, por isso, a LGPD faz questão de escrever sobre essa inversão em seu art. 8º, § 2º, vejamos abaixo: 31 Art. 8º O consentimento previsto no inciso I do art. 7º desta Lei deverá ser fornecido por escrito ou por outro meio que demonstre a manifes- tação de vontade do titular. § 2º Cabe ao controlador o ônus da prova de que o consentimento foi obtido em conformidade com o disposto nesta Lei. Desta maneira, segundo o disposto no art 42, parágrafo § 2º, da referida LGPD, em uma ação judicial o magistrado poderá inverter o ônus da prova em favor do titular quando a alegação for verossímil, houver hipossuficiência na pro- dução da prova ou quando a produção de prova for excessivamente one- rosa, evidenciando mais uma vez que a norma visa tutelar os direitos da perso- nalidade do indivíduo aqui titular e relações com finalidades econômicas. Isto é, se o titular vier a se sentir prejudicado pela falta de sigilo do con- trolador, ele poderá ingressar com um processo em busca de uma indenização monetária a fim de que este controlador repare os danos que lhe causou. Tendo, este controlador que comprovar que tinha permissão do titular para romper o sigilo dos daquele titular. Caso o controlador sinta que os danos cometidos contra o titular foram responsabilidade direta de ações ou omissões do operador, caberá ao controla- dor ingressar com uma ação regressiva contra o operador para reaver deste os valores pagos ao titular. O que traz como dever ao controlador e ao operador zelar com esmero os dados do titular, conforme foi estabelecido nos Termos de Uso e Política de Pri- vacidade, sem extrapolar o que lá foi determinado, sempre se garantindo de que tais dados não sofrerão um vazamento para outras pessoas físicas ou jurídicas e com uma edição dos Termos feita por um operador do Direito capacitado sobre a LGPD. 32 5.1. A LGPD Cria um Novo Profissional: o Data Protection Offi- cer (DPO) Ademais, algo de substancial relevância criado pelo art. 41, da LGPD, foi a profissão do Data Protection Officer (DPO), este que é encarregado pelo trata- mento de dados pessoais. Este profissional é um profissional contratado pelo controlador de dados, tem sua identidade e seu contato expostos publicamente pelo controlador e tem como principal função profissional a de organizar a forma como o controlador trata dos dados pessoais sem ir contra o que é estabelecido pela LGPD, podendo ser contratado diretamente como empregado da empresa ou por meio de terceirização. A figura do DPO é objeto de muita discussão, pois, o perfil profissional é abrangente: requer o elevado conhecimento de Tecnologia da Informação e de Direito, sem dúvida, um grande desafio para as empresas na busca de profissi- onais nesse perfil. Inegavelmente, o advento da Lei Geral de Proteção de Dados significa um verdadeiro marco nas relações com finalidades econômicas, e que atingem di- retamente toda a sociedade civil, pois os regulamentos atingem a esfera pública e privada, nas pessoas físicas e jurídicas, conforme o dito, só basta que exista uma relação econômica para sua incidência. Dessa maneira, sempre que haver uma coleta de dados pessoais, sensí- veis ou não, há a necessidade do consentimento do titular e que seja esclarecido inequivocamente qual a finalidade que se destina o seu tratamento, quaisquer utilizações não previstas nas cláusulas do contrato serão consideradas violações no seu tratamentos e sujeitas as sanções administrativas e judiciais previstas na norma da LGPD, no Código Civil, na legislação consumerista, dentre as outras legislações cabíveis no caso concreto. Por isso, é imprescindível a mudança no comportamento não só das em- presas, mas também, das pessoas físicas que coletam dados pessoais para que se adequem às normas previstas na Lei Geral de Proteção de Dados. 33 Essas mudanças devem contar com a devida orientação de um advogado para que todo o procedimento seja respaldado na LGPD e todas as outras legis- lações pertinentes, como por exemplo, a trabalhista. Sempre opte pela assesso- ria de um advogado, pois sempre ele é o profissional capacitado para dar o me- lhor aconselhamento jurídico para você e para o seu negócio. É inegável que ter criado uma agência reguladora ANPD, uma profissão encarregada pelo tratamento de dados, ter ido contra o sentido geral de acesso de informações da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Acesso à Informa- ções ao penalizar aqueles que tratam os dados inadequadamenteé de fato algo inovador. Sem dúvidas a Lei 13.709/2018 requer uma grande atenção e uma movi- mentação principalmente das pequenas e médias empresas que precisam im- plementar a conformidade jurídica a fim de evitar sanções na seara administra- tiva e judicial, mas a medida pode caracterizar algo bem benéfico ao negócio da empresa, algo relacionado a própria ferramenta de venda, pois a tendência é que os clientes e parceiros queiram realizar negócios com aqueles que sinalizam que adotaram medidas de segurança na conformidade da LGPD. Por isso, reitera-se que a adequação e a assessoria do advogado são imprescindíveis neste momento e que todo investimento no aparato de segu- rança é válido. Importante que a empresa sempre haja na boa fé e evidencie isso na sua política de privacidade e de uso e demais relações contratuais perti- nentes ao negócio. A Lei de Proteção de Dados Pessoais, o Marco Civil da Internet são pro- dutos diretos da necessidade de uma área do Direito que ainda tem muito a crescer e se transformar. Resultantes de uma preocupação fundamentada, estes dois diplomas, apesar de recentes, são essenciais para a construção de respeito a identidade e privacidade dos indivíduos e já estão preparadas para transformar a ciência jurídica de modo a aperfeiçoa-la para que produza resultados reais e pertinentes com um mundo cada vez mais conectado e complexo. 34 REFERÊNCIAS AGÊNCIA ESTADO. (13 de maio de 2010). Barreto defende criação de 'Cons- tituição' da Internet. Acesso em 11 de janeiro de 2019, disponível em G1: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/05/barreto-defende-criacao-de-constitui- caoda-internet.html AGÊNCIAS reguladoras e o papel no brasil. Âmbito Jurídico. 01/07/2017. Dis- ponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-administrativo/agen- cias-reguladoras-e-o-seu-papel-no-brasil/>. Acesso em 23/09/2020. BELLOFF, Mary. Modelo de la Proteción Integral de los derechos del niño y de la situación irregular: un modelo para armar y outro para desarmar. Jus- ticia y Derechos Del Niño. Santiago de Chile: UNICEF, 1999, (9-21). BRASIL. (abr de 2014). Lei n. 12.965 de 23 de abr. de 2014. Marco civil da Internet. BRASIL. (nov de 2012). Lei n. 12.737, de 30 de nov. de 2012. Tipificação crimi- nal de delitos informáticos. BRASIL. Decreto Federal n. 10.474, de 26 de agosto de 2020. 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