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AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVOLUÇÃO E 
COMPORTAMENTO HUMANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
Em A Origem das Espécies, Darwin (2003, p. 458) escreveu: “Vejo abrirem-
se, em um futuro distante, campos para pesquisas mais importantes [...]. A 
psicologia ganhará uma nova fundação: a aquisição necessária e gradativa de 
cada um dos poderes e das capacidades mentais. Uma luz sobre o homem e sua 
história será lançada”. 
Embora com titubeios, o futuro almejado por Darwin vem sendo construído 
desde então. A psicologia evolucionista e áreas afins permitem que 
compreendamos diversas dimensões do comportamento e da experiência 
humana sob uma perspectiva fundada na genética e na seleção natural. Nesta 
aula, veremos mais algumas dessas dimensões: medos, ansiedade e impulsos 
sexuais. 
TEMA 1 – AS BASES DA SEXUALIDADE 
Nos mais diversos contextos culturais, temos a noção de que a sexualidade 
é algo animalesco, primitivo, “terreno” e, sob algumas perspectivas, condenável 
exatamente por isso. No outro polo, temos o amor, culturalmente valorizado como 
o mais sublime dos sentimentos, como algo mágico e sagrado. As perspectivas 
apresentadas aqui oferecem outra forma de compreensão, as quais não precisam 
anular as anteriores. Perspectivas evolucionistas sobre sexualidade e amor se 
diferem de outras “apenas” por se fundamentarem no aspecto biológico (em vez 
de fazê-lo em um enfoque filosófico, cultural, subjetivo ou místico-religioso, o que 
geraria perspectivas alternativas e até potencialmente complementares). Vamos 
a elas (ou seja, abordaremos nesta seção o amor romântico e sentimentos afins, 
e não o amor fraternal, paternal, maternal etc.). Tal qual ocorre com outras 
expressões de comportamento alicerçadas na evolução, a sexualidade, o amor e 
as demais emoções e sentimentos que veremos aqui são disparados por 
processos inconscientes, de modo que o indivíduo somente possui consciência 
de alguns dos efeitos e comportamentos (por isso você não escolhe a quem ama 
ou por quem sente desejo sexual). 
Em 1872, Darwin publicou outro livro, The descent of man, and selection in 
relation to sex (A descendência do homem e a seleção em relação ao sexo, em 
tradução livre), no qual defende o caráter central da seleção sexual no processo 
de evolução. A seleção sexual ocorre quando indivíduos competem entre si por 
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parceiros do sexo oposto (seleção intrassexual) ou quando escolhem parceiros do 
sexo oposto para acasalar (seleção intersexual). Na espécie humana (e também 
em outras), homens e mulheres desempenham papel ativo na seleção sexual de 
ambos os tipos (Hattori; Castro, 2017). 
Crédito: Lucky Business/Shutterstock. 
Ao falarmos de seleção sexual, temos de incluir o conceito de investimento 
parental, isto é, “qualquer esforço dos pais direcionado aos filhotes atuais de forma 
a aumentar suas chances de sobrevivência (e assim seu sucesso reprodutivo), 
em detrimento do investimento em novos filhotes” (Hattori; Castro, 2017). O ponto 
é que o nível de investimento parental de cada membro do casal afeta a 
intensidade da seleção sexual. “Indivíduos do sexo que investe menos em seus 
filhotes competem pelo acesso aos indivíduos que investem mais, enquanto os 
indivíduos que investem mais são mais seletivos” (Hattori; Castro, 2017). Na 
maioria das espécies, os machos desempenham esse papel de competir entre si, 
enquanto as fêmeas são seletivas. “Assim, quanto maior a diferença de 
investimento parental entre os sexos, mais intensa será a seleção sexual. 
Portanto, machos e fêmeas tendem a se comportar de forma a extrair do parceiro 
o maior investimento parental possível e de modo a diminuir seu nível de 
investimento, reduzindo, assim, os custos para si” (Hattori; Castro, 2017). Na 
espécie humana, em que o investimento é biparental (de ambos os sexos), o 
comportamento sexual acaba por apresentar grande variabilidade, o que também 
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acaba por ser enormemente mediado pela cultura e pela subjetividade individual, 
embora as mulheres tendam a ser mais seletivas nos parceiros exatamente por 
seu investimento parental ser maior (até por razões fisiológicas como os 
imperativos do parto e da amamentação). 
TEMA 2 – A SELEÇÃO DE PARCEIROS: ENTRE O BIOLÓGICO E O CULTURAL 
Diante dessa variabilidade de formas humanas de competição e seleção 
de parceiros, temos de buscar mais fundo. A antropóloga norte-americana Hellen 
Fisher (2006) estabelece que o amor não é uma emoção, mas um arranjo 
complexo e multifacetado de emoções. Haveria três dimensões cerebrais daquilo 
que experimentamos cotidianamente como amor romântico: (a) o desejo sexual, 
normalmente direcionado a muitos parceiros potenciais; (b) o amor romântico, 
entendido como uma série de comportamentos e motivações direcionados a um 
parceiro específico; e (c) o apego ao parceiro, que é a ligação emocional de longo 
prazo com esse parceiro (Hattori; Castro, 2017). 
Essas três instâncias envolvem habilidades de observação e avaliação dos 
parceiros em relação à confiabilidade, ao comprometimento, às habilidades que 
evoluíram como parte do “cérebro social” do ser humano. Além disso, o início do 
desejo sexual tende a ocorrer de modo parelho à maturação sexual dos 
indivíduos. “É nossa mente respondendo às mudanças hormonais” (Hattori; 
Castro, 2017, p. 230). 
Apesar das semelhanças, as evidências também apontam para algumas 
diferenças importantes entre homens e mulheres que entram na equação. As 
diferenças corporais são bastante conhecidas, como em relação à estatura 
mediana, à massa muscular, ao formato do corpo (de pera para as mulheres e de 
triângulo invertido para os homens) (Hattori; Castro, 2017). As diferenças 
psicológicas nos interessam mais aqui. Existem evidências a favor da noção já 
popularizada de que homens tendem a preferir mulheres com quadris mais largos 
que a cintura numa proporção estável (ao redor de 0,7 cintura-quadril), o que 
parece mesmo relacionado com tais mulheres tenderem a ter mais recursos 
biológicos para a maternidade (Hughes; Dispensa; Gallup Jr., 2004; Singh, 1993). 
Por sua vez, mulheres tendem a preferir homens com quadris muito levemente 
mais largos que a cintura, além de ombros e costas largas, o que indicaria 
parceiros mais fortes e capazes de proteger as crias (Rozmus-Wrzesinska; 
Pawlowski, 2005; Sugiyama, 2004). Embora estudos dessa natureza em 
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contextos culturais variados já existam — como com os aborígenes Jivaro, do 
Equador (Sugiyama, 2004) — os estudos precisam ainda diversificar as culturas 
investigadas para consolidar seus resultados. 
Precisamos contornar possíveis mal-entendidos em relação ao último 
ponto. Quando se observa tais tendências em relação a preferências sexuais, isso 
não pode ser tomado de modo determinista. A cultura e a subjetividade individual 
podem imprimir inúmeras variações nas preferências sexuais, de modo a haver 
quem prefira parceiros com cada perfil possível, desde proporções corporais 
diversas até tendências de vínculo e outras de ordem psicológica variadas. Os 
genes não determinam o comportamento de modo restrito, mas permitem amplo 
leque de possibilidades em cima de um alicerce comum. O que esses estudos 
sugerem é que, em média, existiriam tais tendências características dos sexos. O 
mesmo vale para outras características abordadas ao longo deste curso. 
Crédito: Goodstudio/Shutterstock. 
Outras especificidades entre os sexos incluem a maior tendência masculina 
para avaliação visual da atratividadesexual, enquanto mulheres tendem mais a 
se valer de avaliações que combinam diferentes elementos, como aspectos 
visuais e de olfato, especialmente quando estão em período fértil (Hattori; Castro, 
2017; Herz; Inzlicht, 2002; Rikowski; Grammer, 1999). 
Em relação a semelhanças, homens e mulheres tendem a preferir parceiros 
com a pele limpa, olhos e cabelos brilhantes, simetria bilateral do corpo (ou seja, 
um lado do corpo bastante parecido com o outro), odor corporal e outras 
características sugestivas de boa saúde, o que, em termos evolutivos, tem relação 
óbvia com a função reprodutiva e de sobrevivência da prole (Hattori; Castro, 
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2017). O reconhecimento (normalmente inconsciente) de odores, inclusive, 
parece ter sido um dos mecanismos evolutivos para se evitar o incesto (Weisfeld 
et al., 2003), algo que, quando não é evitado, aumenta a probabilidade de 
anomalias não adaptativas na prole. A aversão ao incesto, embora também tenha 
componentes culturais, é outro elemento comum entre culturas humanas e entre 
os sexos (Hattori; Castro, 2017), sendo conhecido o associado Efeito 
Westermarck, que é a aversão sexual por pessoas com quem convivemos muito 
proximamente na infância (que acabam por ter probabilidade maior de serem 
parentes, o que era ainda mais verdadeiro no passado distante) (Rantala; 
Marcinkowska, 2011). 
As semelhanças entre os sexos também incluem preferências por 
indivíduos que apresentam comportamentos mais favoráveis ao convívio social; 
ou seja, indicadores da tendência a serem bons parceiros e bons cuidadores 
também em termos comportamentais. Assim, acabamos por desenvolver – 
novamente o “cérebro social” – tendência a buscar parceiros com características 
como afetividade, confiabilidade, maturidade, amabilidade, fidelidade e 
estabilidade emocional (Hattori; Castro, 2017). Embora essas tendências sejam 
parecidas em ambos os sexos, as razões evolutivas seriam diferentes. Para as 
mulheres, parceiros estáveis e confiáveis significam bom investimento de tempo 
e recursos, pois os relacionamentos e o cuidado com a prole tendem a ser mais 
duradouros; para os homens, a confiabilidade da parceira teria relação mais 
próxima com a “garantia” da paternidade (isto é, a probabilidade maior de que os 
filhos que sua parceira tem sejam mesmo dele), de modo a diminuir a chance de 
desperdício de recursos com uma prole que não transmitirá seus genes (Buss et 
al., 1999). 
TEMA 3 – O PROBLEMÁTICO CASO DO CIÚME 
O ciúme, inclusive, evidencia-se selecionado pela evolução como reação 
de proteção em situações de potencial ameaça ao relacionamento. Um achado 
de diversas pesquisas a respeito que se tornou popular relata uma maior 
sensibilidade masculina à infidelidade sexual, enquanto as mulheres reagem mais 
à infidelidade emocional (Buss; Haselton, 2005; Hattori; Castro, 2017). O ponto é 
que tanto homens quanto mulheres sentem ciúmes nos dois casos; as diferenças 
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ocorrem na forma de uma tendência um pouco maior para um lado ou para o 
outro. 
Crédito: Wavebreakmedia/Shutterstock. 
Como outro aspecto interessante, o ciúme parece ser um ótimo exemplo 
para nos ajudar a compreender a diferença entre uma dada característica ser uma 
adaptação e ser adaptativa. Como vimos, a combinação entre mutações genéticas 
e pressões ambientais conferem vantagens diferenciais aos indivíduos, o que 
afeta a probabilidade da transmissão de seus genes. Em outras palavras, certas 
características individuais são mais adaptativas que outras, o que acaba se 
refletindo, após tempo suficiente e causalidades favoráveis, em características da 
espécie. Tais traços se tornam, então, adaptações, isto é, resultados de processos 
adaptativos. Contudo, com as mudanças no ambiente ao longo do tempo, 
determinada característica (isto é, determinada adaptação) pode deixar de ser 
adaptativa, causando mais problemas que soluções. Um exemplo famoso é a 
preferência por alimentos doces e gordurosos entre humanos, algo fundamental 
nos tempos ancestrais em que a aquisição de energia era tanto fundamental 
quanto difícil (se comparado a hoje), mas que atualmente está associada a 
problemas como hipertensão arterial e obesidade. O ciúme pode constituir outro 
exemplo. Enquanto seu caráter adaptativo era claro nos primórdios do convívio 
humano, hoje incontáveis problemas estão associados a esse complexo de 
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emoções, de violência doméstica e feminicídio à progressiva rejeição social a 
demonstrações não parcimoniosas de ciúme. 
As relações entre comportamento afetivo-sexual e evolução são bastante 
vastas, de modo que sua apresentação completa se torna inviável. Os pontos aqui 
tratados permitem um vislumbre rápido do tema e o combate a algumas 
concepções usualmente equivocadas. Para maior aprofundamento e o 
conhecimento de outros aspectos e temas importantes, recomenda-se a leitura 
das referências ao final do texto. Enquanto isso, tratemos da relação entre 
evolução e outras dimensões emocionais humanas a partir daqui. 
TEMA 4 – EMOÇÕES BÁSICAS E UNIVERSAIS? 
Os seres humanos possuem incontáveis respostas emocionais às 
situações. Muitas dessas respostas estão relacionadas à dimensão da 
sexualidade e do envolvimento com parceiros reprodutivos ou sexuais. Mas outros 
tantos não possuem relação direta com esse ponto, ou às vezes participam dele 
indiretamente, como no caso da relação entre ansiedade, medo e ciúme, por 
exemplo. 
Nesta seção, trataremos de emoções básicas como medo e ansiedade 
enquanto respostas adaptativas. Emoções são um tema extremamente complexo, 
repleto de indefinições e de desafios em seu estudo. Elas envolvem aspectos 
culturais e individuais em sua expressão, como não poderia deixar de ser. 
Contudo, também nesse caso, alguns aspectos basais se sobressaem enquanto 
alicerces. 
Um dos exemplos mais famosos de estudos sobre aspectos universais (e 
evolutivos) da emoção humana vem do psicólogo norte-americano Paul Ekman, 
que realizou estudos diversos sobre as expressões humanas básicas para medo, 
raiva, alegria, surpresa etc. em diversas culturas, chegando à conclusão de que 
haveria emoções humanas básicas e reconhecíveis entre as culturas (Ekman; 
Friesen, 2003). O trabalho de Ekman se tornou bastante famoso, a ponto de ser 
a inspiração central para a famosa animação de cinema Divertidamente (2015). A 
base do trabalho de Ekman é de que haveria não somente emoções básicas, mas 
expressões faciais básicas que expressariam tais emoções e que seriam 
reconhecíveis de modo independente da cultura. Após estudar tais expressões 
nas mais distintas culturas, Ekman desenvolveu o Facial Action Coding System 
(Sistema de Codificação de Ação Facial, em tradução livre), uma extensa e 
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exaustiva classificação das expressões faciais humanas conforme as emoções 
básicas às quais estariam associadas. Tal classificação leva em consideração 
cada músculo facial e seu grau de ativação. 
Crédito: Sergii Iarmoliuk/Shutterstock. 
Um ponto importante, contudo, é que estudos mais recentes buscaram 
identificar o porquê de o reconhecimento das emoções universais apontadas por 
Ekman não ser efetivamente universal. Ou seja, se as emoções humanas e 
expressões faciais correspondentes são universais, por que um número não 
desprezível de voluntários dos estudos de Ekman e seus sucessores apontavam 
emoções diferentes? Enquanto a teoria de Ekman foca nos “acertos” 
transculturais na identificação das emoções, outros pesquisadores, como Lisa 
Berret (2017), estão mais interessados nos “erros”. A conclusãoque vem sendo 
consolidada a partir daí, embora ainda seja controversa, indica que a expressão 
concreta das emoções por expressões faciais e seu pronto reconhecimento não 
são exatamente universais, mas dependem da cultura. Entre os exemplos 
particularmente elucidativos, os indonésios tendem a ser bastante sorridentes, 
embora não sejam distintamente felizes ou alegres em relação a outros povos. 
Sua tendência a sorrir é culturalmente ditada e aprendida, podendo se manifestar 
sob uma variedade de emoções. O que seria universal e moldado pela evolução 
seria a capacidade humana (e de outros tantos animais) de sentir emoções 
(independentemente do modo como elas são expressadas), de se expressar 
emocionalmente (de variados modos) e de aprender a reconhecer expressões 
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emocionais (uma revisão em linguagem simples, embora cientificamente rigorosa, 
dessa controvérsia pode ser encontrada em Fujioka; Souza, 2019). 
Tais capacidades de sentir e expressar emoções parecem ter 
desempenhado diversos papeis evolutivamente relevantes, como ao mobilizar o 
organismo a condutas úteis à sua sobrevivência e reprodução. As emoções 
mobilizam os indivíduos a evitar perigos, a se reproduzir, a buscar proximidade 
com outros indivíduos e com o grupo etc. Entre os tantos exemplos, a influente 
obra Evolution and Healing (Nesse; Williams, 1995, p. 209) pontua que “assim 
como a capacidade de sentir fadiga evoluiu para nos proteger do esforço 
excessivo, a capacidade de tristeza pode ter evoluído para evitar perdas 
adicionais”. A ansiedade e o medo possuem características bastante úteis, como 
ao nos predispor mais vividamente a evitar perigos e a outras ações vitais em 
momentos importantes (por isso tendemos a ficar nervosos antes de exames). 
Mesmo reações emocionais bastante específicas podem ter persistido por terem 
desempenhado papel importante na sobrevivência, como a cessação de 
movimentos em situações de grande medo verificada em diversas espécies 
animais, que ajuda a não chamar mais a atenção de um predador e serve de 
dissimulação. Em outros tantos casos, as reações automáticas e emocionalmente 
fundamentadas de luta ou fuga fundamentam as melhores chances de 
sobrevivência. O medo do escuro se torna bastante compreensível quando 
consideramos seu caráter adaptativo na espécie humana, que enxerga muito mal 
nessas condições (em relação a outros animais) e que está, portanto, bastante 
vulnerável quando nelas se insere. Podemos compreender de modo semelhante 
medo de cobras e insetos (potencialmente nocivos), medo de altura, angústia em 
locais fechados e apertados etc. (Cartwright, 2002). Assim, a existência de 
emoções básicas e de modos amplos e variados para a sua expressão, 
comunicação e adaptação às demandas de cada contexto faz bastante sentido 
evolutivo. 
TEMA 5 –SAÚDE MENTAL 
Se sexualidade e emoções básicas são temas vastos e que envolvem 
muitas disciplinas, a saúde mental também se encaixa na categoria. Em termos 
bastante breves, quaisquer comportamentos, pensamentos e emoções humanas 
podem configurar tanto transtornos mentais quanto manifestações saudáveis da 
experiência humana. O que difere as possibilidades saudáveis e patológicas, ao 
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contrário das noções populares, não são exatamente o grau de estranheza ou de 
adequação cultural do que ocorre. A diferença fundamental entre aspectos 
saudáveis e não saudáveis está em o quanto as manifestações da pessoa geram 
problemas para ela e/ou para as demais pessoas, no quanto ela consegue lidar 
com tais manifestações, manter-se ajustada no dia a dia e exercer suas 
potencialidades, e no quanto o contexto cultural confere suporte a tais 
manifestações, tal como ouvir vozes dentro da cabeça faz sentido e é até 
reforçado em uma cultura espírita, por exemplo (para uma discussão nesse 
sentido, confira Menezes-Júnior; Moreira-Almeida, 2009). 
Manifestações emocionais (que são o tema que nos interessa neste texto) 
podem ser tanto saudáveis quanto patológicas. Vimos, por exemplo, que o ciúme 
pode tanto ser comedido e ter uma função adaptativa quanto ser exagerado, 
prejudicial e – agora podemos dizer – patológico. Emoções cotidianas como 
tristeza e ansiedade podem, por sua vez, caracterizar transtornos psicológicos 
como depressão, fobias e síndrome do pânico, entre outros tantos, quando então 
deixam de ser adaptativos (Cartwright, 2002). Daí a pertinência de discutirmos 
aspectos evolutivos da saúde mental. 
Uma mente capaz de ser saudável e de lidar apropriadamente com as 
emoções pode ser entendida, em termos evolutivos, como uma adaptação 
bastante óbvia (Cartwright, 2002). Da mesma forma que um “cérebro social” 
permitiu que lidássemos bem com os outros indivíduos e construíssemos o 
cultural, uma “mente saudável” nos permitiu organizar internamente essas 
possibilidades e tornar todo o resto possível. O cérebro bem adaptado para lidar 
razoavelmente com as emoções possui capacidades como regular a expressão 
emocional, reconhecer os diferentes estados emocionais próprios e de outros e 
expressar tais emoções (mesmo que em alta medida) de vez em quando sem 
grandes comprometimentos pessoais e sociais, o que inclui manifestações 
emocionais potencialmente exacerbadas em casos de necessidade, como em 
situações de luta e fuga. 
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Crédito: Esb Professional/Shutterstock. 
Como sugerido aqui, isso não significa uma definição universal do que seja 
saudável – como no exemplo, ouvir vozes pode ou não ser saudável, a depender 
de diversos fatores. O ponto é que um nível elementar de organização psicológica, 
flexível o suficiente para acomodar as variações individuais e culturais 
conhecidas, desenvolveu-se ao longo do tempo. 
O tema das emoções sob a perspectiva evolucionista é bastante vasto, o 
que guarda relação com a complexidade de ambos os domínios: emoções e 
evolução. Estudos novos têm surgido a lapidar conclusões antes aparentemente 
sólidas (como, por exemplo, as expressões universais emocionais de Ekman), 
enquanto confirmam crescentemente outras tantas. Apesar de serem 
desadaptativas em diversos momentos, as emoções fazem parte do repertório 
humano por tenderem, ao longo da existência da espécie, a favorecer nosso 
sucesso reprodutivo. 
 
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