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DIREITO, NATUREZA E CULTURA Cultura é conjunto de tudo aquilo que, nos planos material e espiritual, homem constrói sobre a base da natureza, quer para modifica-la, quer para modificar-se a si mesmo. Conjunto de utensílios e instrumentos, das obras e serviços, assim como das atitudes espirituais e formas de comportamento que o homem veio formando e aperfeiçoando, através de história, como patrimônio da espécie humana.DIREITO, NATUREZA E CULTURA Viver é optar diariamente por dois ou mais valores. A existência é uma constante tomada de posição segundo valores. Sem a ideia de valor, perde-se a substância da própria existência humana.DIREITO, NATUREZA E CULTURA A natureza está sempre na base de toda criação cultural. Exemplo: pedra bruta utilizada para produzir uma arma ou utensílio.DIREITO, NATUREZA E CULTURA A ciência física é uma ciência descritiva do real, visando a atingir leis que sejam síntese do fato natural. A física é, de certa maneira, como que retrato do fato, na plenitude de seus aspectos. Mudam com fatos ou descobertas novas.DIREITO, NATUREZA E CULTURA As relações que unem, entre si, os elementos de um fenômeno natural desenvolvem-se segundo princípio da causalidade, cego para valores. As relações entre homens envolvem juízos da valor, implicando uma adequação de meios a fins. Leis culturais possuem natureza axiológica ou teleológica.DIREITO, NATUREZA E CULTURA Ciências culturais são aquelas que, além de serem elementos da cultura, têm por objeto um bem cultural. A sociedade humana não é só um fato natural, mas algo que já sofreu no tempo a interferência das gerações sucessivas. O homem herda, através de linguagem, um acervo de espiritualidade que se integrou na convivência humana.DIREITO, NATUREZA E CULTURA Aristóteles disse que homem é um animal político, ou seja, um animal destinado a viver em sociedade. A sociedade em que vivemos é também realidade cultural e não mero fato natural. A convivência humana é algo que se modifica através do tempo, sofrendo múltiplas influências no tempo e espaço.DIREITO, NATUREZA E CULTURA Graças às ciências culturais é possível reconhecer que, em virtude do multifacetário processo histórico, gênero humano veio adquirindo consciência da irrenunciabilidade de determinados valores considerados universais, como a dignidade humana.DIREITO, NATUREZA E CULTURA Uma das finalidades do direito é preservar e garantir tais valores e os que deles defluem - sem os quais não caberia falar em liberdade, igualdade e fraternidade que demonstra que a experiência jurídica é uma experiência ética.DIREITO, ÉTICA E MORAL REALE, 2002, p. 33-56. ciência normativa dos comportamentos humanos. Normas éticas não apenas envolvem juízos da valor sobre comportamentos humanos, mas também culminam na escolha de uma diretriz considerada obrigatória numa coletividade.DIREITO, ÉTICA E MORAL Toda norma enuncia algo que deve ser, em virtude de ter sido reconhecido um valor como razão determinante de um comportamento declarado obrigatório. Portanto, note-se que há em toda norma um juízo de valor.DIREITO, ÉTICA E MORAL Juízo de realidade: "S" é "P" Juízo de valor: "S" deve ser "P"DIREITO, ÉTICA E MORAL Toda norma ética expressa um juízo de valor, ao qual se liga uma sanção, isto é, uma forma de garantir-se a conduta que, em função daquele juízo, é declarada permitida, determinada ou proibida. Toda norma é formulada no pressuposto essencial da liberdade que tem o seu destinatário de obedecer ou não aos seu ditames.DIREITO, ÉTICA E MORAL Uma norma ética se caracteriza pela possibilidade de sua violação. A norma tem por objeto atos e decisões humanas, sendo inerente a estes a dialética do sim e do não, o adimplemento da regra ou sua transgressão.DIREITO, ÉTICA E MORAL A regra, embora transgredida e porque transgredida, continua válida, fixando a responsabilidade do transgressor. A imperatividade (dever ser) de uma norma ética pressupõe a liberdade daqueles a que ela se destina.DIREITO, ÉTICA E MORAL Há uma correlação essencial entre o deve ser e a liberdade que caracteriza mundo ético. A norma ética estabelece a exata medida da conduta considerada lícita ou ilícita.DIREITO, ÉTICA E MORAL Norma: lembra que é normal, traduz a previsão de um comportamento que, à luz da escala de valores dominantes numa sociedade, deve ser normalmente esperado ou querido como comportamento normal de seus membros. Princípio.DIREITO, ÉTICA E MORAL Regra: diretriz no plano cultural, no plano espiritual. Representa um módulo ou medida da conduta. A regra nos diz até que ponto podemos ir, dentro de que limites podemos situar a nossa pessoa e a nossa atividade. Delimitação do agir. Medida daquilo que podemos ou não praticar.DIREITO, ÉTICA E MORAL A Ética, enquanto ordenação dos comportamentos em geral, na medida em que se destina a realização de um bem, pode ser vista sob dois prismas fundamentais: A) do valor da subjetividade do autor da ação; B) do valor da coletividade em que indivíduo atua.DIREITO, ÉTICA E MORAL No primeiro caso, ato é apreciado em função da intencionalidade do agente, qual visa, antes de mais nada, à plenitude de sua subjetividade, para que esta se realize como individualidade autônoma, isto é, como pessoa. A Ética, vista sob esse ângulo, que se verticaliza na consciência individual, toma o nome de Moral.DIREITO, ÉTICA E MORAL Quando, ao contrário, a ação ou conduta é analisada em função de suas relações intersubjetivas, implicando a existência de um bem social, que supera valor do bem de cada um, numa trama de valorações objetivas, a Ética assume duas expressões distintas: a da Moral Social (Costumes e Convenções sociais); e a do Direito.DIREITO, ÉTICA E MORAL A Justiça é, sempre, um laço entre um homem e outros homens, como bem do indivíduo, enquanto membro da sociedade, e, concomitantemente, como bem do todo coletivo. Por conseguinte, bem social situa-se em outro campo da ação humana, que chamamos de Direito.DIREITO, ÉTICA E MORAL Quando os indivíduos se respeitam mutuamente, uns perante os outros como pessoas, só se realizando plenamente a subjetividade de cada um em uma relação necessária de intersubjetividade. É por essa razão que a Moral, visando ao bem da pessoa, visa, implicitamente, ao bem social.DIREITO, ÉTICA E MORAL Direito e Moral A teoria do "mínimo ético" consiste em dizer que o Direito representa apenas o mínimo de Moral declarado obrigatório para que a sociedade possa sobreviver.DIREITO, ÉTICA E MORAL Como nem todos podem ou querem realizar de maneira espontânea as obrigações morais, é indispensável armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não socobre. A Moral, em regra, dizem os adeptos dessa doutrina, é cumprida de maneira espontânea, mas como as violações são inevitáveis, é indispensável que se impeça, com mais vigor e rigor, a transgressão dos dispositivos que a comunidade considerar indispensável à paz social.DIREITO, ÉTICA E MORAL A teoria do "mínimo ético" pode ser reproduzida através da imagem de dois círculos concêntricos, sendo círculo maior da Moral, e círculo menor o do Direito. Haveria, portanto, um campo de ação comum a ambos, sendo Direito envolvido pela Moral. Poderíamos dizer, de acordo com essa imagem, que "tudo o que é jurídico é moral, mas nem tudo o que é moral é jurídico".DIREITO, ÉTICA E MORAL Comecemos por observar que fora da Moral existe "imoral", mas existe também que é apenas "amoral", ou indiferente à Moral. Uma regra de trânsito, como, por exemplo, aquela que exige que os veículos obedeçam à mão direita, é uma norma jurídica. Se amanhã, legislador, obedecendo a imperativos técnicos, optar pela mão esquerda, poderá essa decisão influir no campo moral? Evidentemente que não.DIREITO, ÉTICA E MORAL Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data. NCPC Não é exato, portanto, dizer que tudo o que se passa no mundo jurídico seja ditado por motivos de ordem moral.DIREITO, ÉTICA E MORAL Há, pois, que distinguir um campo de Direito que, se não é imoral, é pelo menos amoral, o que induz a representar o Direito e a Moral como dois círculos secantes. Podemos dizer que dessas duas representações - de dois círculos concêntricos e de dois círculos secantes, - a primeira corresponde à concepção ideal, e a segunda, à concepção real, ou pragmática, das relações entre o Direito e a Moral.DIREITO, ÉTICA E MORAL CONCÊNTRICOS SECANTES MORAL Moral Direito DIREITO VISÃO KELSIANA DIREITO MORALDIREITO, ÉTICA E MORAL Podemos dizer que a Moral é o mundo da conduta espontânea, do comportamento que encontra em si próprio a sua razão de existir. O ato moral implica a adesão do espírito ao conteúdo da regra. Só temos, na verdade, Moral autêntica quando indivíduo, por um movimento espiritual espontâneo realiza o ato enunciado pela norma. Não é possível conceber-se o ato moral forçado, fruto da força ou da coação.DIREITO, ÉTICA E MORAL Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. CC/2002DIREITO, ÉTICA E MORAL Nesse sentido, os descendentes não podem faltar à assistência devida aos pais e avós, toda a vez que estes se encontrem em dificuldades econômicas, por motivos que não possam ser superados. É, evidentemente, um preceito de ordem jurídica e, ao mesmo tempo, de ordem moral. É o princípio de solidariedade humana, ou melhor, de solidariedade familiar que dita a regra jurídica consagrada nos códigos.DIREITO, ÉTICA E MORAL Cumprimento voluntário de alimentos: ato moral e jurídico ao mesmo tempo. Cumprimento involuntário: ato exclusivamente jurídico. A moral é incoercível e direito é coercível.DIREITO, ÉTICA E MORAL Direito e coação Concepção do Direito para Kelsen: ordenação coercitiva da conduta humana. Porém não se pode definir a realidade jurídica em função do que excepcionalmente acontece.DIREITO, ÉTICA E MORAL Direito e coação Exemplo: a maior parte dos contratos se cumpre espontaneamente. Portanto, Direito é a ordenação coercível da conduta humana. A coação não é efetiva, mas potencial.DIREITO, ÉTICA E MORAL Significa dependência, submissão, obediência. Direito e heteronomia Aquilo que juridicamente somos obrigados a cumprir é posto por um terceiro, Estado. A moral é autônoma, e o Direito heterônomo. Ou seja, as normas jurídicas são válidas objetivamente e de maneira transpessoal. Não precisamos gostar de pagar tributos, mas pagamos assim mesmo.DIREITO, ÉTICA E MORAL O Direito é heterônomo, visto ser posto por terceiros aquilo que juridicamente somos obrigados a cumprir. Portanto, o Direito é a ordenação heterônoma e coercível da conduta humana.DIREITO, ÉTICA E MORAL Bilateralidade atributiva Há bilateralidade atributiva quando duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma proporção objetiva que as autoriza a pretender ou a fazer garantidamente algo.DIREITO, ÉTICA E MORAL Bilateralidade atributiva Onde não existe proporção no pretender, no exigir ou no fazer não há Direito, como inexiste este se não houver garantia específica para tais atos.DIREITO, ÉTICA E MORAL Bilateralidade atributiva Bilateralidade atributiva é, pois, uma proporção intersubjetiva, em função da qual os sujeitos de uma relação ficam autorizados a pretender, exigir, ou a fazer, garantidamente, algo.DIREITO, ÉTICA E MORAL a) sem relação que una duas ou mais pessoas não há Direito (bilateralidade em sentido social, como intersubjetividade); b) para que haja Direito é indispensável que a relação entre os sujeitos seja objetiva, isto é, insuscetível de ser reduzida, unilateralmente, a qualquer dos sujeitos da relação (bilateralidade em sentido axiológico); c) da proporção estabelecida deve resultar a atribuição garantida de uma pretensão ou ação, que podem se limitar aos sujeitos da relação ou estender-se a terceiros (atributividade).ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO Direito é a ordenação bilateral atributiva das relações sociais, na medida do bem comum.ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO É próprio do Direito ordenar a conduta de maneira bilateral e atributiva, ou seja, estabelecendo relações de exigibilidade segundo uma proporção objetiva.ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO O Direito, porém, não visa a ordenar as relações dos indivíduos entre si para satisfação apenas dos indivíduos, mas, ao contrário, para realizar uma convivência ordenada, que se traduz na expressão: "bem comum".ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO O bem comum não é a soma dos bens individuais, nem a média do bem de todos; o bem comum, a rigor, é a ordenação daquilo que cada homem pode realizar sem prejuízo do bem alheio, uma composição harmônica do bem de cada um com bem de todos.ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO "O Direito é uma proporção real e pessoal, de homem para homem, que, conservada, conserva a sociedade; corrompida, corrompe-a". Dante AlighieriESTRUTURA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO Acepções da palavra "Direito" Em primeiro lugar, lembremos que esta é uma Faculdade de Direito, que quer dizer de Ciência Jurídica. Estudar Direito é estudar um ramo do conhecimento humano, que ocupa um lugar distinto nos domínios das ciências sociais, ao lado da História, da Sociologia, da Economia, da Antropologia, etc.ACEPÇÕES DA PALAVRA "DIREITO" Direito = referência à Ciência do Direito Ex: Fulano é aluno de Direito. (aqui, Direito não significa normas de conduta social, mas sim a ciência que estuda Direito). Ciência do Direito = setor do conhecimento humano que investiga e sistematiza os conhecimentos jurídicos.Direito Natural e Direito Positivo São duas realidades distintas. Direito Natural: revela ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao homem que forçosamente deverão ser consagrados pela legislação a fim de que se obtenha um ordenamento jurídico justo. Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade e nem é formulado pelo Estado. É um Direito espontâneo que se origina na natureza social do homem e que é revelado pela experiência e razão. Princípios de caráter universal e imutáveis. Ex: direito à vida, direito à liberdade.