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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LICENCIATURA PLENA EM LETRAS PORTUGUÊS FUESPI 2012 MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA Norma Suely Campos Ramos Raimundo Francisco Gomes Ramos, Norma Suely Campos. Morfologia da Língua Portuguesa / Norma Suely Campos Ramos; Raimundo Francisco Gomes – Teresina: UAB/UESPI, 2011. 113 p. ISBN: 978-85-61946-24-1 1. Linguística. 2. Estruturalismo. 3 Morfologia. I. Norma Suely Campos Ramos. II. Raimundo Francisco Gomes. III. Título. CDD: 469.5 R175m Presidente da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Aloizio Mercadante Oliva Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Celso José da Costa Governador do Piauí Wilson Nunes Martins Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí Átila de Freitas Lira Reitor da UESPI – Universidade Estadual do Piauí Carlos Alberto Pereira da Silva Vice-reitor da UESPI Nouga Cardoso Batista Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG Marcelo de Sousa Neto Coordenadora da UAB-UESPI Márcia Percília Moura Parente Coordenador Adjunto da UAB-UESPI Raimundo Isídio de Sousa Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP Isânio Vasconcelos de Mesquita Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Francisca Lúcia de Lima Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Acelino Vieira de Oliveira Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Raimundo da Paz Sobrinho Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Português – EAD Ailma do Nascimento Silva Edição UAB - FNDE - CAPES UESPI/NEAD Diretora do NEAD Márcia Percília Moura Parente Diretor Adjunto Raimundo Isídio de Sousa Coordenadora do Curso de Licenciatura Plena em Letras Português Ailma do Nascimento Silva Coordenadora de Tutoria Maria do Socorro Rios Magalhães Coordenadora de Produção de Material Didático Cândida Helena de Alencar Andrade Autores do Livro Norma Suely Campos Ramos Raimundo Francisco Gomes Revisão Teresinha de Jesus Ferreira Diagramação Luiz Paulo de Araújo Freitas Capa Luiz Paulo de Araújo Freitas MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI UAB/UESPI/NEAD Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá), NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail:eaduespi@hotmail.com SUMARIO UNIDADE 1 PARTE I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................. 11 1 Introdução ............................................................................................. 11 1.1 Concepções de gramática ................................................................. 11 1.2 Mas... O que é mesmo Morfologia? .................................................... 13 UNIDADE 2 2 Princípios básicos do Estruturalismo .............................................. 19 2.1 Língua e fala ....................................................................................... 21 2.2 Eixo sintagmático e eixo paradigmático ............................................. 22 2.3 Sincronia e Diacronia......................................................................... 24 2.4 A dupla articulação ............................................................................. 27 UNIDADE 3 3 Princípios da Análise Mórfica ............................................................ 33 3.1 O vocábulo formal .............................................................................. 33 3.2 Princípio básico da análise mórfica .................................................... 36 3.3 Alomorfia ............................................................................................ 38 3.4 Neutralização ..................................................................................... 39 3.5 Tipos de morfemas ............................................................................ 42 3.5.1 Morfemas lexicais ........................................................................... 42 3.5.2 Morfemas gramaticais..................................................................... 42 3.5.2.1 Morfemas classificatórios ............................................................. 43 3.5.2.2 Morfemas flexionais ..................................................................... 44 3.5.3 Morfemas derivacionais .................................................................. 48 3.5.4 Morfemas relacionais ...................................................................... 52 UNIDADE 4 4 Estrutura e formação dos vocábulos ............................................... 57 4.1 Estrutura ............................................................................................ 57 4.2 Formação .......................................................................................... 59 UNIDADE 5 PARTE II - ANÁLISE MÓRFICA DO NOME E DO VERBO .................... 69 5 A flexão do nome ................................................................................ 69 5.1 A flexão de gênero ............................................................................. 69 5.2 A flexão de número ............................................................................. 76 UNIDADE 6 6 A flexão do verbo ................................................................................ 87 6.1 O padrão geral ................................................................................... 89 6.1.1 Alterações no radical ....................................................................... 90 6.1.2 A vogal temática .............................................................................. 92 6.1.3 Desinências modo-temporais (DMT) ............................................... 92 6.1.4 Desinências modo-pessoais (DNP) ................................................ 94 6.2 Verbos irregulares .............................................................................. 95 6.3 Verbos irregulares ............................................................................ 101 6.3.1 Particípio duplo ............................................................................. 105 6.3.2 Verbos anômalos .......................................................................... 106 6.4 Sistematizando as Irregularidades ................................................... 107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 113 OBJETIVOS • Diferenciar as concepções de gramática nos estudos linguísticos, identificando a gramática descritiva como a mais adequada para a investigação da morfologia. • Definir Morfologia como uma dos ramos de estudo da Linguística. UNIDADE 1 PRINCÍPIOS TEÓRICOS 11 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português PARTE I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1 Introdução Para iniciar nossa discussão sobre morfologia da língua portuguesa, de início, retomaremos a discussão acerca das concepções de gramática. Você já estudou, na disciplina Linguística I, essas concepções. E, sentindo necessidade de maiores esclarecimentos, deve revisar a Unidade III do fascículo Linguística I, organizado pelas professoras Bárbara Melo e Shirlei Alves. Saiba m 1.1 Concepções de gramática Conforme Luis Carlos Travaglia (1998), temos três concepções de gramática que permeiam nossas leituras na área da Linguística: 1) Gramática Normativa: entendida como um manual com regras organizadas para serem seguidas por aqueles que querem falar e escrever corretamente. Essa gramática tem por base os dialetos de prestígio de uma dada comunidade linguística e, nela é considerada língua unicamente “(...) a linguagemcativou o homem enquanto objeto de deslumbramento e de descrição, na poesia e na ciência. A ciência foi levada a ver na linguagem sequência de sons e de movimentos expressivos, suscetíveis de uma descrição exata, física e fisiológica, e cuja disposição forma signos que traduzem os fatos da consciência”. (Hjelmslev, 1975, p.1) Saiba mais... Louis Trolle Hjelmslev (1899 - 1965) Linguista dinamarquês, fundador de uma escola radical de linguística estruturalista, a Escola de Copenhage. Foi precursor das modernas tendências da linguística e propositor do termo glossemática - para designar o estudo e a classificação dos glossemas, a menor unidade linguística que pode servir de suporte a uma significação. Em seu texto ‘Prolegômenos a uma Teoria da Linguagem’, Hjelmslev trabalha com definições básicas como funções, signos e figuras, expressão e conteúdo, sincretismo e catálise, elaborando uma teoria da linguagem organizada de tal forma que é levado a reconhecer o sistema linguístico em sua totalidade. Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/ biografias/LouTrolH.html 12 Morfologia da Língua Portuguesa a variedade dita culta. Todas as outras formas de uso linguístico, que não seja esse padrão culto, são consideradas desviantes e erradas. E, do ponto de vista dessa concepção, a pessoa que sabe gramática é aquela que conhece, domina e usa as regras apresentadas pelos manuais. 2) Gramática Internalizada: diz respeito a um conjunto de conhecimentos que possibilita o uso da língua por todos os seus usuários. São as regras que os falantes, de fato, aprendem nas suas experiências e utilizam nas mais diversas situações de interação linguística. A língua é concebida como um conjunto de variedades linguísticas utilizadas por uma sociedade nas diversas interações comunicativas, de acordo com o que nos diz Travaglia (1998). A gramática internalizada é o que chamamos de competência linguística do usuário da língua. E, nessa concepção, sabe gramática quem sabe falar uma língua, independente de sua formação escolar, pois as regras gramaticais são aprendidas nas experiências linguísticas concretas. 3) Gramática Descritiva: é o conjunto de regras que o linguista descreve a partir de determinado modelo teórico. Interessa ao estudioso a descrição das unidades, das categorias e das relações estabelecidas entre elas, em todas as variedades da língua. O objetivo do linguista é conhecer os elementos que compõem a estrutura das frases, dos morfemas, dos fonemas, assim também como as regras de combinação dessas diferentes unidades no sistema. Nessa concepção, não há espaço para preconceito, todos os usos que atendam às regras de funcionamento da língua são válidos e servem como dados para descrição linguística. Aqui nos interessam, mais diretamente, os estudos da gramática descritiva. Apresentaremos a seguir os princípios de descrição utilizados na morfologia para melhor compreendermos a língua portuguesa. 13 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 1.2 Mas... O que é mesmo Morfologia? Como você deve ter verificado nas leituras sugeridas, em disciplinas anteriores, a língua é um sistema complexo e passível de investigação sob vários olhares. Sua estrutura interna possibilita várias segmentações, e cada uma delas pode ser organizada em uma disciplina diferente. A partir de determinada organização teórica, com um método de análise e um objeto definido, essas disciplinas chegam a requerer certa autonomia dentro dos estudos da área. É o que, de certa forma, acontece com a Morfologia. A morfologia é a disciplinas que trata das formas. E, etimologicamente o termo significa ‘o estudo da forma’. Morfologia morfe = forma logia = estudo Esse é o ramo da Linguística que estuda as unidades mínimas com significado na língua, ela trata da estruturação dessas partes significantes, de suas variantes e de como são classificadas, além dos processos de formação e suas classes. Vejamos: Menin - o Menin - a Menin - o - s Menin - a - s Menin - inho Menin - ada Menin – ice 14 Morfologia da Língua Portuguesa Podemos inferir que ‘menin-’ é uma parte mínima significativa na nossa língua e que traz em si o significado de indivíduo, pertencente à raça humana, criança ou adolescente. Essa unidade mínima significativa se chama morfema. E especificamente, o morfema ‘menin-’ é um morfema lexical, porque traz um significado relacionado ao mundo extralinguístico. Observamos ainda que outras partes mínimas da língua trazem outros significados como, por exemplo, ‘–a’: significando feminino e ‘–s’: significando plural; assim como também: ‘-inho’: significando diminutivo de caráter afetivo e ‘–ice’: indicando estado ou modo de ser. Portanto, são também unidades mínimas significativas, ou seja, morfemas. E, especificamente, os morfemas ‘–a’, ‘–s’, ‘-inho’ e ‘-ice’ são morfemas gramaticais, porque trazem em si um significado ligado ao mundo da gramática: feminino, plural, diminutivo, etc. PARA VOCÊ NÃO ESQUECER 1) Trabalhamos com três concepções de Gramática: Gramática Normativa – é o conjunto de regras organizadas para serem seguidas por aqueles que querem falar e escrever corretamente. Gramática Internalizada – é o conjunto de conhecimentos que possibilita o uso da língua por todos os seus usuários, aprendido nas experiências das mais diversas situações de interação linguística. Gramática Descritiva – é o conjunto de regras formulado a partir da descrição das unidades, das categorias e das relações estabelecidas entre elas, em todas as variedades da língua. Saiba mais... Segundo Petter (2003), o termo ‘morfologia’ primeiro foi empregado nas ciências da natureza: na botânica e na geologia. Na linguística, esse termo só começou a ser utilizado no século XIX. A morfologia tem como sua unidade básica de análise o morfema. E, podemos dizer que a noção de ‘morfema’ está relacionada com o estruturalismo, que tinha como problema central a identificação dos morfemas nas diferentes línguas do mundo. 15 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 2) A gramática descritiva é a concepção que nos interessa aqui no estudo da Morfologia da Língua Portuguesa. 3) Morfologia é o ramo da Linguística que trata das formas e que estuda as unidades mínimas significativas da língua. 4) Chamamos as unidades mínimas significativas da língua de morfemas. Os morfemas lexicais trazem significação externa à gramática e os morfemas gramaticais trazem significação ligada às noções gramaticais. OBJETIVO • Compreender os princípios básicos do Estruturalismo para os estudos morfológicos. UNIDADE 2 PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ESTRUTURALISMO 19 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 2 Princípios básicos do Estruturalismo Os estudos da linguagem tomavam por base a gramática grego-latina, que partia dos princípios lógicos e procurava deduzir os fatos da linguagem estabelecendo normas de comportamento linguístico. Naquela época, por volta do século XVIII, os estudiosos acreditavam na fixidez das línguas, portanto, as descrições gramaticais eram de caráter normativo e filosófico. E, todos os compêndios gramaticais produzidos naquele período, inclusive as gramáticas do português, seguiam a mesma tendência: apresentavam normas para se falar e escrever corretamente. Mas, ainda no século XVIII, os linguistas começaram a desenvolver outro tipo de estudo – a concepção estática da língua já não tinha amplo consenso e muitos estudiosos passaram a investigar a mudança linguística. Paulatinamente, passou a predominar a concepção de “mudança incessante da língua, através de um processo dinâmico e coerente” (SILVA; KOCH, 1987, p.7). Foi daí que surgiu a Linguística histórico-comparativa. Nessa concepção, elementos de línguas diferentes eram comparadosentre si, com o objetivo de depreender as origens comuns e de reconstruir a protolíngua, da qual essas diferentes línguas teriam se originado. A linguística histórico- comparativa procurava explicar a Para melhor relembrar esse período, releia a unidade 1, do fascículo ‘Linguística: Do Estruturalismo ao Gerativismo’, organizado pelos professores R. Isídio de Sousa e Shirlei Alves. Saiba mais... ...uma protolíngua é a hipótese de uma língua ancestral comum de diversas outras línguas, ou seja, de uma família de línguas. Na maioria dos casos, a protolíngua ancestral não é conhecida diretamente, e tem de ser reconstruída através da comparação de diferentes línguas da mesma família por uma técnica chamada de método comparativo. Através desse processo, apenas uma parte da estrutura e do vocabulário da protolíngua pode ser reconstruído, e sabe-se que quanto mais antiga for a protolíngua em questão, mais fragmentária será a sua reconstrução. Alguns exemplos de protolínguas parcialmente reconstruídas (por isso, hipotéticas) incluem o proto-indoeuropeu, o proto-urálico, o protobantu e o protopamã. Fonte: http://aartedoslivrespensadores.blogspot.com/2011/02/ sanscritoprotolinguaphilip-glass.html?zx=dd711646a2efd0fb 20 Morfologia da Língua Portuguesa formação e a evolução das línguas, a partir da pressuposição de que as mudanças linguísticas eram fenômenos naturais. Dessa forma, fazia oposição à concepção de fixidez da língua, defendida pela gramática grego-latina. Posteriormente, já no final do século XVIII e início do século XIX, com a evolução das reflexões sobre os estudos linguísticos, alguns estudiosos começaram a romper com a visão historicista dos fatos língua. Aí, surgem as ideias de Ferdinand de Saussure, que contribuem definitivamente para que os estudos linguísticos investigassem o mecanismo pelo qual a língua funciona, como meio de comunicação, e a descrição da estrutura que caracteriza a língua. Saussure conceituou a língua como sistema e estabeleceu o estudo descritivo desse sistema. Também definiu o objeto da linguística stricto sensu - a língua - e considerou a linguagem como um fenômeno unitário em que vários elementos se interrelacionam. Estabeleceu ainda, do ponto de vista metodológico, as dicotomias básicas: língua X fala; sincronia x diacronia; eixo sintagmático x eixo paradigmático. Surgia assim o Estruturalismo como método linguístico (SILVA; KOCH, 1987). Saiba mais... O método estruturalista de Saussure O método estruturalista foi usado nos estudos linguísticos pela primeira vez pelo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) em sua obra póstuma, editada por alunos, ‘Curso de Linguística Geral’. Nesta obra, Saussure fornece as bases teóricas para duas importantes ciências do século XX: a Linguística Estrutural e a Semiologia, ou ciência dos signos. As teorias de Saussure podem ser explicadas por meio de quatro dicotomias. A primeira diz respeito a duas formas de se abordar a linguagem: Língua: o aspecto social da linguagem. X Fala: o aspecto individual da linguagem. A segunda refere-se a tipos de estudos da linguagem: Linguística sincrônica (estática ou descritiva): estuda a constituição da língua (fonemas, palavras, gramática, etc.) num dado momento. X Linguística diacrônica (evolutiva ou histórica): estuda as mudanças da língua através dos tempos. A originalidade de Saussure foi propor um estudo da língua enquanto sistema social de um ponto de vista sincrônico, não histórico, como vinha sendo feito antes. Ele também propôs o nome de semiologia, ou estudo do signo linguístico, que contém: Significante: a expressão material do signo, como o som da palavra "árvore" ou a imagem da palavra escrita no papel. X Significado: o conceito que o significante 21 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português representa ou o conteúdo do signo, uma idéia, como a árvore que eu imagino ao ouvir ou ler a palavra escrita. A palavra estrutura não aparece na obra do linguista suíço, mas se faz presente no conceito de sistema, que quer dizer uma análise estrutural que inclui o estudo da língua em suas relações internas, conforme a terceira dicotomia: Eixo sintagmático: um termo só é compreendido em oposição (relação) a outro termo. Ex.: "O semáforo está verde". X Eixo paradigmático: o termo é associado a outros, presentes na memória. Ex: Na frase anterior, ao invés de semáforo, uso "sinal" e ao invés de "está verde", "abriu" ? "O sinal abriu". Saussure inaugurou o método estruturalista de análise ao entender a língua como estrutura subjacente e como sistema cujos elementos são solidários entre si (e que, somente assim, adquirem valor e sentido), vista de uma perspectiva não histórica. Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/estruturalismo-quais-as-origens-desse- metodo-de-analise.jhtm Certamente, você está percebendo que, quase todos os conceitos que estão sendo apresentados aqui, já foram estudados em disciplinas anteriores. Portanto, caso sinta necessidade de maiores esclarecimentos, retome os textos das disciplinas de Linguística I e II e faça uma leitura atenta e cuidadosa. Você deve estar lembrado das concepções fundamentais da corrente estruturalista, já estudadas nas disciplinas de Linguística. Vamos, então, apenas relembrá-las: 2.1 Língua e fala Na perspectiva estruturalista, a língua é um conjunto de convenções que uma comunidade estabelece para se comunicar. Pressupõe-se que ela está depositada na mente de cada um dos falantes dessa comunidade linguística, sendo, por isso, um produto social que tem natureza homogênea. O usuário da língua obedece às regras linguísticas, que foram aprendidas na comunidade e que são comuns a todos os falantes. A língua é, também, ao mesmo tempo, um sistema organizado de elementos que respeitam as regras internas estabelecidas. É, na verdade, um sistema de valores em que seus elementos assumem identidade quando se opõem uns aos outros no interior desse sistema. Ou seja, a identidade dos 22 Morfologia da Língua Portuguesa elementos do sistema é estabelecida a partir das relações desses componentes com outros elementos ali presentes. Saussure explica essa ideia de definição da língua através de uma comparação com o jogo de xadrez. Com certeza, você está lembrando a discussão sobre esse exemplo que lhe foi apresentado na disciplina Linguística II, não é mesmo? O linguista suíço definia a língua como um sistema de signos e de leis combinatórias e a fala como a realização concreta desse sistema. E, ao mesmo tempo, que ele reconhecia a interdependência entre língua e fala, considerava a língua como o objeto strictu senso da Linguística, procurando entender e descrever sua estrutura interna. Saussure nos explica que, como no jogo de xadrez, o valor dos elementos da língua depende da posição ocupada no sistema (no tabuleiro do jogo). Cada termo tem seu valor por oposição a todos os outros termos (SAUSSURE; 1996). 2.2 Eixo sintagmático e eixo paradigmático Quando falamos estamos usando a língua e, para isso, precisamos relacionar as unidades linguísticas de acordo com as regras do sistema. Você já sabe que essas relações podem ser de dois tipos, conforme nos explica F. de Saussure (1996): são as relações paradigmáticas e as relações sintagmáticas. As relações paradigmáticas são aquelas que acontecem no eixo da seleção. Referem-se às escolhas que fazemos de um elemento em exclusão a outro(s) que poderia(m) ocupar o mesmo ponto do continuum da fala. Exemplo: A menina fala muito. - criança - - - garota - - 23 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português No eixo paradigmático ocorrem relações in absentia, ou seja, são relações estabelecidas entre unidades que não estão presentes no discurso. Conforme Silva e Koch (1987), os paradigmas consistem em inventários de elementos linguísticos agrupadosconforme critérios pré-estabelecidos: fonológicos (fonemas), morfológicos (classes de palavras), sintáticos (funções gramaticais), semânticos (sinonímias, antonímias), etc. A outra forma de relacionar as unidades linguísticas, são as relações sintagmáticas. As relações sintagmáticas são as que acontecem no eixo da combinação nos arranjos que fazemos de um elemento com outro(s). Essas relações são in presentia, ou seja, a presença de uma unidade linguística pressupõe a presença de outra(s) e, portanto, podemos observá-las diretamente no encadeamento do enunciado. No exemplo acima, são sintagmáticas as relações entre ‘a’ ‘menina’ ‘fala’ ‘muito’. Porém, nesse mesmo enunciado existem, em cada ponto, possibilidades de substituição: ‘aquela’, ‘essa’, por exemplo, podem compor o mesmo contexto de ‘a’. E, o mesmo acontece com ‘menina’, ‘criança’ e ‘garota’. Ex: A menina fala muito. Ex: A menina fala muito. Aquela criança Essa garota Exemplo: /f/ ala Exemplo: acord-a /k/ ala -ou /b/ ala -va Exemplo: A menina fala muito. (A + menina + fala + muito.) 24 Morfologia da Língua Portuguesa Sintetizando: Quando falamos, estamos usando o sistema linguístico de acordo com dois eixos: o sintagmático e o paradigmático. Isso porque sempre fazemos escolhas (que potencialmente poderiam ser outras, ou seja, poderiam então ser substituídas) e fazemos combinações (possibilidades de arranjos de acordo com as regras do sistema linguístico). Veja o exemplo abaixo: o desenvolvimento do processo de criação de um slogan publicitário, obviamente usando nosso sistema linguístico, também exige o movimento nos dois eixos: sintagmático e paradigmático. Fonte: http://carocodejaca.files.wordpress.com/2010/ 03/grafico_slogan-band.jpg?w=500 2.3 Sincronia e Diacronia A partir de exemplos com eixos, Saussure também estabeleceu uma outra importante distinção. Agora entre os métodos de investigação linguística. O linguista usou, nesse caso, os eixos da sucessividade e da simultaneidade para explicar a diacronia e a sincronia. Vejamos: Tomando o eixo da sucessividade, temos a possibilidade de representar os fenômenos que se modificam com o passar do tempo. 25 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português Na sequência de quadrinho de uma tirinha, podemos perceber a evolução de cenas de uma mesma história. Fonte: http://clubedamafalda.blogspot.com/2006_01_01_archive.html Observe que a sucessividade dos quadrinhos nos mostra que eles não estão isolados, eles fazem parte de uma sequência. Os quadrinhos se alteram pouco a pouco, nos apresentando uma sequência lógica e organizada das cenas de uma história. Assim também ocorre com os fenômenos linguísticos, que se modificam paulatinamente, alterando o contexto, e, portanto, também o sistema. 26 Morfologia da Língua Portuguesa Observando um contexto mais amplo e geral, percebemos que os fenômenos linguísticos, assim como as cenas da tirinha, também se modificam e determinam a passagem de um estado a outro da língua. Exemplo: A evolução dos pronomes: vossa mercê ? ‘vossemecê’ ? ‘vossânce’ ? você Já no eixo da simultaneidade, tratamos da representação das relações entre elementos existentes no contexto em um dado momento. O interesse não é mais na sucessão de cenas dos quadrinhos, pois o que importa é o quadro em um dado momento: a simultaneidade dos elementos e suas relações em um único quadrinho. O que importa é: o entendimento e a descrição dos elementos e da forma como eles se organizam em uma cena – personagens, posições, objetos, relações entre eles, etc. Assim também ocorre com os fenômenos linguísticos. A língua é considerada um conjunto de fatos estáveis, estudados como elementos de um sistema que funciona em um determinado momento do tempo. Fonte: http://clubedamafalda.blogspot.com/2006_01_01_archive.html 27 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português Portanto, enquanto nos estudos diacrônicos há uma preocupação de entender e descrever a evolução dos fenômenos da língua, comparando estados diferentes em diferentes momentos. Nos estudos sincrônicos, a preocupação é no entendimento e na descrição de um determinado estado da língua em um dado momento. O estudo se dá acerca dos elementos e das relações estabelecidas em um determinado tempo. 2.4 A dupla articulação Segundo os estudos do linguista A. Martinet, todo enunciado linguístico se articula em dois planos. No primeiro plano, o enunciado é dividido em unidades significativas: É o que chamamos de primeira articulação da linguagem. Por exemplo, nós sabemos que podemos dividir um enunciado em frases, vocábulos e morfemas. Vejamos: Exemplo: O enunciado ‘Nós falávamos bem’ divide-se em três vocábulos: nós – falávamos – bem. ‘nós’ e ‘bem’ são indivisíveis em unidades menores, ‘falávamos’ decompõe-se em quatro morfemas ‘fal – á – va – mos’. Morfemas = unidades mínimas significativas. Exemplo retirado de: SILVA, Maria Cecília P. de Sousa e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao Português: Morfologia. 4 ed. São Paulo: Cortez, 1987. Exemplo: A variação no português falado do Brasil: ‘você’, ‘ocê’ e ‘cê’. 28 Morfologia da Língua Portuguesa As unidades mínimas significativas, os morfemas, são aquelas que não são divisíveis, sob pena de perderem o significado na estrutura linguística. E, cada uma dessas unidades significativas pode ser substituída no eixo paradigmático e pode ser recombinada no eixo sintagmático: Exemplo: ‘Nós falávamos bem’ [fal – á – va – mos] ‘Nós falaremos bem’ [fal – a – re – mos] Exemplo: ‘Nós falávamos bem’ [fal – á – va – mos] ‘Nós jogávamos bem’ [jog – á – va – mos] Na segunda articulação, cada, morfema, ou seja, unidade mínima significativa se articula em unidades ainda menores, agora desprovidas de significado: são os fonemas. E, cada um desses fonemas também pode ser substituído, no eixo paradigmático, e recombinado no eixo sintagmático: Exemplo: ‘Nós’ /n/ /ó/ /s/ ‘não’ /n/ /ã/ /o/ ‘ano’ /a/ /n/ /o/ No seu capítulo sobre a Dupla Articulação, Martelotta (2009), pontua que a linguagem humana é considerada articulada porque seus enunciados se apresentam passíveis de divisão. Por exemplo, os radicais, as vogais temáticas, os prefixos, os sufixos e as desinências constituem as menores unidades dotadas de significado em uma língua e são denominados de ‘morfemas’. Entretanto, existem as unidades ainda menores que os morfemas: 29 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português os fonemas. E, esses têm a função de distinguir significados entre as palavras, mesmo não possuindo significado próprio. Assim, o termo “dupla articulação” atribuído à linguagem faz sentido uma vez que a linguagem humana manifesta-se através de sentenças constituídas de dois tipos diferentes de unidades mínimas: os morfemas e os fonemas. Visto de um outro prisma, a dupla articulação da linguagem possibilita uma economia de esforços do usuário da língua na comunicação verbal. Sem ela teríamos que lançar mão de diferentes e incontáveis unidades linguísticas - morfemas e fonemas - para expressar novos conteúdos. No entanto, com esse artifício linguístico, precisamos de um conjunto limitado e não muito extenso de fonemas e morfemas para expressarmos qualquer ideia, bastando para isso usarmos as incontáveis possibilidades de combinações.PARA VOCÊ NÃO ESQUECER 1) A língua é um sistema de signos e de leis combinatórias e a fala é a realização concreta desse sistema. 2) Usamos o sistema linguístico de acordo com dois eixos: o eixo paradigmático, no qual fazemos seleção, escolhas e o eixo sintagmático, em que fazemos combinações, arranjos. 3) Os estudos diacrônicos objetivam entender e descrever a evolução dos fenômenos da língua, comparando diferentes estados em diferentes períodos. E, os estudos sincrônicos objetivam entender e descrever os elementos linguísticos e as relações estabelecidas por eles em um determinado momento do tempo. Saiba mais... A terminologia usada para designar as unidades de primeira articulação varia muito. André Martinet designa- as de ‘monemas’, e as diferencia dos lexemas – que, para ele, são monemas que se situam no léxico, e morfemas são os que se situam na gramática. Já a Linguística norte-americana, de um modo geral, chama os ‘monemas’ de ‘morfemas’, distinguindo os morfemas lexicais (que se situam no léxico): /cant-/ dos morfemas gramaticais (que se situam na gramática): /-a- / /-va/. (SILVA; KOCH, 1987, p.12). 4) A linguagem humana é considerada articulada porque seus enunciados se apresentam passíveis de divisão. A dupla articulação da linguagem manifesta-se através de sentenças constituídas de dois tipos diferentes de unidades mínimas: os morfemas e os fonemas. A dupla articulação da linguagem é o que possibilita uma economia de esforços do usuário da língua na comunicação verbal. OBJETIVOS • Diferenciar a estrutura da frase da estrutura dos vocábulos, definindo formas livres, presas e dependentes e morfemas. • Reconhecer a comutação como uma operação contrastiva entre elementos. • Entender os processos de alomorfia e neutralização. • Diferenciar os morfemas lexicais e dos tipos de morfemas gramaticais, compreendendo suas especificidades na língua. UNIDADE 3 PRINCÍPIOS DA ANÁLISE MÓRFICA 33 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 3 Princípios da Análise Mórfica Podemos fazer a análise de um enunciado a partir de dois níveis diferentes de funcionamento: • o nível da frase, em que temos as unidades linguísticas do enunciado: formas livres, presas e dependentes, e • o nível do vocábulo, em que encontramos as unidades mínimas significativas: morfemas. 3.1 O vocábulo formal Leonard Bloomfield definiu o vocábulo formal ou morfológico no nível de frase. E, baseado nele, Mattoso Câmara Jr. nos trouxe esse conceito com ampliação. Segundo Bloomfield, as unidades formais de uma língua são de natureza ‘livres’ e ‘presas’. As formas livres são aquelas formas que podem funcionar isoladamente garantindo comunicação suficiente e as formas presas são as que funcionam apenas quando ligadas umas às outras. o suficiente. Exemplo: As formas livres constituem uma sequência que pode funcionar isoladamente, como comunicação suficiente no enunciado: “- O que você vai revender? - Livros.” Saiba mais... Leonard Bloomfield - (1887 – 1949) Filólogo estadunidense nascido em Chicago, considerado o fundador da linguística estrutural e cujas teorias formaram uma das bases sobre o assunto. Fundou a Sociedade Linguística da América (1924) e iniciou-se como pesquisador de línguas indo- européias e depois em ameríndias, especializando-se na fala como um fenômeno e na linguística diacrônica. Seus principais livros foram An Introduction to the Study of Language (1914) e Language (1933), um livro em que sintetizou a teoria e prática de análise linguística e é considerado seu trabalho principal, para muitos. É um texto clássico de linguística estrutural. Em muitos estudos é considerado, junto com o linguista Edward Sapir (1884-1939), um precursor do Estruturalismo Americano, seguido por seu discípulo, o linguista de religião judaica, Zellig Sabbetai Harris (1909-1992). Fonte: http://www.netsaber.com.br/ biografias/ver_biografia_c_2589.html 34 Morfologia da Língua Portuguesa Atente para a forma ‘livros’. É uma forma livre porque funciona isoladamente no enunciado e traz em si comunicação suficiente. E, veja que ‘re’ é uma forma presa, porque funciona ligada a outra forma ‘vender’. Assim também é uma forma presa a marca de plural ‘s’, em ‘livros’. (SILVA; KOCH, 1987, p.18). Percebendo que algumas partículas proclíticas e enclíticas, em português, como artigos, preposições, pronomes átonos e outras ficavam de fora da conceituação, Joaquim Mattoso. Câmara Júnior introduziu um terceiro conceito: o de formas dependentes. As formas dependentes são aquelas que funcionam ligadas às formas livres, mas que se distinguem delas porque não podem funcionar isoladamente como comunicação suficiente. E, se diferenciam das formas presas porque têm a possibilidade de intercalação de novas formas e também de variação de posição na frase. Exemplo: “As notícias da falsificação do jornal espalharam-se rapidamente” “As notícias verdadeiras e chocantes da falsificação do jornal se espalharam rapidamente” Podemos verificar que foram intercalados dois vocábulos entre ‘notícias’ e ‘da’ e que o pronome ‘se’ passou para a posição proclítica. Ou seja: as formas ‘as’, ‘da’, ‘do’ e ‘se’ são formas dependentes, pois não trazem comunicação suficiente – como as formas livres – e não funcionam somente ligadas a outras formas – como as presas (por exemplo, como: ‘- s’ e ‘-mente’). Elas admitem intercalação de novas formas (‘verdadeiras e 35 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português chocantes’), assim como variação de posição (como o ‘se’), portanto são consideradas formas dependentes. (SILVA; KOCH, 1987, p.18-19). A partir daí, M. Câmara ampliou o conceito de vocábulo formal ou morfológico elaborado por Bloomfield. Enquanto o linguista norte americano entendia o vocábulo formal como a unidade a que chegamos quando não é mais possível uma nova divisão em formas livres e presas. Para M. Câmara, chegamos a um vocábulo formal quando não é possível a divisão da frase em duas ou mais formas livres ou dependentes. Aqui é preciso entender que não devemos confundir o conceito de formas livres, presas e dependentes com o conceito de morfemas. As formas se definem no nível da frase, ou seja, no funcionamento das unidades linguísticas do enunciado. E, os morfemas se definem no nível de vocábulos, ou seja, na possibilidade ou não de sua divisão em unidades mínimas significativas ou unidades de primeira articulação. Sintetizando: Ao analisar um enunciado podemos partir de duas estruturas: • da frase, em que encontramos as unidades formais da língua: formas livres, formas presas e formas dependentes; • do vocábulo, em que encontramos as unidades mínimas significativas da língua: morfemas. Saiba mais... Joaquim Mattoso Câmara Jr (1904 - 1970) Joaquim Mattoso Câmara Junior foi o grande pioneiro da linguística descriti- va no Brasil. Ministrou o primeiro curso de linguística do Brasil, na Universida- de do Distrito Federal (1938 e 1939) e depois na Universidade do Brasil, a par- tir de 1948. Sua contribuição é muito importante na divulgação das teorias linguísticas no Brasil. E, como resulta- do de seus cursos surgiu o primeiro manual de linguística do Brasil: Princí- pios de Linguística Geral, (1942). Suas primeiras pesquisas sobre a fonologia do português, influenciadas pela Esco- la de Praga, deram origem ao livro: Para o estudo da fonêmica português (1953). Fonte: http://www.comciencia.br/repor- tagens/linguagem/ling15.htm 36 Morfologia da Língua Portuguesa Os morfemas são as unidades da primeira articulação da linguagem. São as unidades mínimas significativas e essa significação pode ser lexical ou gramatical. A análise que aqui estudaremos consiste na depreensão e no funcionamento dos morfemas lexicais e gramaticais que constituem o vocábulo formal em português.3.2 Princípio básico da análise mórfica A análise mórfica é a descrição da estrutura do vocábulo mórfico. E consiste na depreensão das suas formas mínimas – ou seja, dos morfemas – de acordo com a significação e a função que cada um deles assume na significação e função total do vocábulo. Vejamos: Exemplo: Em ‘cantaremos’, temos uma significação global do vocábulo indicando que: - pessoas, incluindo entre elas o falante (=> nós), - em um momento posterior ao da enunciação (=> futuro), - estarão empenhados na emissão vocal peculiar que se entende em língua portuguesa pelo morfema lexical (ou, pelo radical) /cant-/ (=> cantar). (SILVA; KOCH, 1987, p.20). Você deve estar se perguntando como depreendemos os morfemas... Para depreendermos um morfema de um dado vocábulo, utilizamos o princípio básico da análise mórfica: a comutação. Comutação é uma operação contrastiva de elementos, que fazemos por meio de permuta, e para isso procedemos: 37 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português a) Segmentando o vocábulo em subconjuntos e b) Compondo a pertinência paradigmática entre os subconjuntos que podem ser permutados. Vejamos como operamos o princípio da comutação: Exemplos: 38 Morfologia da Língua Portuguesa 3.3 Alomorfia Todo morfemas na língua está ligado a uma forma e a um significado. Porém, é importante termos conhecimento de que essa forma nem sempre é imutável. Observamos que, às vezes, em determinados ambientes, ocorrem variações sem que o morfe deixe de ser o mesmo Vejamos: Exemplos Bola-s Cantor-es Garoto-s Atriz-es O segmento /-s/ representa, de um modo geral, o plural nos nomes em português, mas sabemos que outros segmentos, como por exemplo, /-es/ também têm essa mesma função. A essa possibilidade de variação dos morfemas chamamos de alomorfia: /-es/ é um alomorfe de /-s/. 39 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português Exemplos: Pedr -a Pedr -eiro Pedr -aria Pedr -ada ....Petr -ificar No paradigma acima, depreendemos o morfema lexical ‘pedr-‘. No entanto, percebemos uma variação que conserva o mesmo significado: ‘petr-‘ é uma variação mórfica, é um alomorfe. O alomorfe se diferencia da norma, ou seja, trata-se de uma possibilidade de variação que ocorre em bem menor frequência e é chamado de alomorfe. Segundo Monteiro (1991), o critério de identificação do alomorfe equivale ao da produtividade do morfema. No exemplo acima, verificamos que ‘pedr-’ é uma forma mais produtiva, portanto é a norma, sendo ‘petr-’ um alomorfe. 3.4 Neutralização Um outro fenômeno que se apresenta para nós, na análise mórfica, é o fenômeno da neutralização. A neutralização que consiste na perda da oposição entre unidades significativas diferentes. Saiba mais... Segundo Silva e KOCH (1987), alguns linguistas restringem a terminologia ‘morfema’ no nível de língua, conside- rando-o como valor abstrato da estruturação linguística. Já em nível da fala, para eles, estariam os ‘morfes’, a realização dos ‘morfemas’. Conforme esses linguistas, existe um morfema correspondente à significação gramatical de plural /-s/ que se atuali- za através dos morfes /-s/ /-es/, etc. E cada um desses morfes é um alomorfe. Por exemplo: Canta-ria-Ø Canta-ria-s Canta-ria-Ø Cantaría-mos Canta-ríe-is Canta-ría-m Do mesmo modo, há um morfema gra- matical correspondente à significação gramatical de futuro do pretérito do indicativo, que se atualiza através dos morfes /-ria/ e /-rie/. /-rie/ é um alomorfe de /-ria/. Para as autoras, do ponto de vista pe- dagógico, parece mais adequado con- siderar morfema o significante mais usual e sistemático na língua (forma básica) e os demais como variantes ou alomorfes. 40 Morfologia da Língua Portuguesa Exemplo: Existe neutralização entre a 1ª e a 3ª pessoas gramaticais em vários tempos verbais: cantava – cantava Eu cantava-Ø Ele cantava-Ø cantaria – cantaria Eu cantaria-Ø Ele cantaria-Ø cantara – cantara Eu cantara-Ø Ele cantara-Ø Exemplo: Em alguns verbos, a neutralização entre a 2ª e a 3ª conjugação se dá em decorrência da perda de tonicidade da vogal temática, ou seja, a oposição entre essas conjugações desaparece quando a vogal temática é átona final: TemEr PartIr Tu temes Tu partes Ele teme Ele parte Eles temem Eles partem. PARA VOCÊ NÃO ESQUECER 1) Podemos analisar um enunciado a partir de duas estruturas: • a estrutura da frase, em que encontramos as unidades formais da língua: formas livres, presas e dependentes; • a estrutura do vocábulo, em que encontramos as unidades mínimas significativas da língua: os morfemas. 41 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 2) Os morfemas são as unidades mínimas significativas da língua e podem ser morfemas lexicais ou morfemas gramaticais. 3) A comutação é uma operação contrastiva de elementos, que fazemos por meio de permuta, e para isso procedemos: • segmentando o vocábulo em subconjuntos e • compondo a pertinência paradigmática entre os subconjuntos que podem ser permutados. 4) Todo morfema está ligado a uma forma e a um significado. Porém, em determinados ambientes, ocorrem variações a forma se altera sem que haja mudança de significado. A essa possibilidade de variação dos morfemas chamamos de alomorfia. 5) A neutralização consiste na perda de oposição entre unidades significativas diferentes. Como, entre a 1ª e a 3ª pessoa gramatical em vários tempos verbais, por exemplo: Eu cantava-Ø – Ele cantava-Ø. Exercícios 1) Se você concordar com cada uma das afirmações abaixo, coloque um exemplo que a comprove. Caso contrário, reescreva-a de modo a transformá- la em uma afirmação correta. a) As partículas enclíticas e proclíticas em português não são vocábulos mórficos. .............................................................................................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................................................................................. b) Tem-se alomorfia quando a forma é a mesma, apenas o significado varia. .............................................................................................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................................................................................. c) Para dividir o vocábulo em cada um dos segmentos que o constituem, baseamo-nos no princípio da comutação. 42 Morfologia da Língua Portuguesa .............................................................................................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................................................................................. d) Morfema lexical funciona como base de significado, servindo para formar outras palavras na língua. ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ e) Morfema gramatical tem a função de enquadrar o morfema lexical dentro de categorias da língua. .............................................................................................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................................................................................. (SILVA; KOCH, 1987) 3.5 Tipos de morfemas 3.5.1 Morfemas lexicais Os morfemas lexicais são aqueles que trazem em si uma significação externa ao mundo gramatical, ou seja, trazem uma significação que se refere ao mundo extralinguístico: 3.5.2 Morfemas gramaticais Os morfemas gramaticais trazem em si uma significação interna, uma significação gramatical. 43 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português E, podem ser classificados em quatro tipos: classificatórios, flexionais, derivacionais e relacionais. 3.5.2.1 Morfemas classificatórios São aqueles constituídos pelas vogais temáticas. Eles têm a função de enquadrar os vocábulos em classes de nomes (substantivos e adjetivos) e de verbo. Daí a sua subdivisão em: • morfemas classificatórios nominais /-a, -e, -o/ • morfemas classificatórios verbais /–a, -e, .i./. Exemplos: Morfemas classificatórios nominais: vida, terra, menina pedestre, decente, triste feio, gato; cachorro Morfemas classificatórios verbais: cantar; gritar; viajar correr; vender; fazer sair; cair; partir As vogais temáticas têm também a função de formar a base para a anexação dos morfemas flexionais; Exemplos: Lindo à lindo+a à linda Cantar à cant+a+vá + mos à cantavámos 44 Morfologia da Língua Portuguesa Atentemos que a ausência de vogal temática em alguns nomes cria as formas atemáticas nas palavras terminadas com consoantes e vogais tônicas, que são incorporadas aos morfemas lexicais. Exemplos: mal; flor; lei; atriz; mulher; fé; cipó; ímã 3.5.2.2 Morfemas flexionais Os morfemas gramaticais flexionais alteram os morfemas lexicais, garantindo a adaptação necessária à expressão das categorias gramaticais que sua classe admite: • nos nomes: a flexão de gênero e de número • nos verbos: a flexão de modo e tempo e de número e pessoa São cinco os morfemas flexionais em português: • aditivos, • subtrativos, • alternativos, • morfema zero e • morfema latente. a) Morfema aditivo São aqueles que representam o acréscimo de um ou mais fonemas ao morfema lexical. 45 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português Exemplos: rapaz – rapazes professor – professora Vejamos que os segmentos adicionados /-es/ e /-a/, indicam respectivamente as noções gramaticais de gênero e número. Segundo Silva e Koch (1987), nessa classe, existe ainda um tipo específico de morfemas: os morfemas aditivos cumulativos, que resultam da acumulação de mais uma noção gramatical em uma forma linguística indivisível e que são constantes nos verbos portugueses. Exemplos: amáramos, bebêramos e partíramos nos segmentos aditivos cumulativos: /-ra/ ? temos a indicação de modo que se acumula com a indicação de tempo; /-mos/ ? temos a indicação de número que se acumula com a indicação de pessoa. b) Morfema subtrativo Trazem a significação gramatical por meio de uma supressão de um segmento fônico do morfema lexical. Exemplo: órfão à órfã comumente, a noção de feminino aparece indicada através da adição de um morfema à forma masculina, processo básico na formação de gênero em português, como em: gato à gato+a à gata Porém, nesse caso, a noção de feminino, decorre da subtração de elemento dessa forma: órfão à órfão – o à órfã c) Morfema alternativo Os morfemas alternativos resultam da alternância de um fonema no interior do vocábulo. Entre os nomes, a vogal tônica /-ô/ do masculino singular pode alternar-se com o /-ó/ no feminino e no plural: Observe que a alternância dos nomes é um traço morfológico secundário. Ela apenas complementa a flexão de gênero e número. Pois, além das marcas /-s/ e /-a/, a formação do número e do gênero carrega, respectivamente, a alternância vocálica /-ô/ - /-ó/ como traço redundante. Trata- se de uma função unicamente subsidiária. A única exceção em português está no par: Exemplo: avô – avó e seus derivados A marca sufixal de feminino está ausente e a indicação de gênero é representada unicamente pela alternância que passa a ser traço primário distintivo. Exemplos: povo – povos ovo - ovos formoso – formosa generoso – generosa bondoso - bondosa d) Morfema zero Nesse tipo de morfema, temos a ausência de marca para expressar determinada categoria gramatical. Ele ocorre apenas quando há oposição, ou seja, quando o morfema lexical isolado assume uma significação gramatical consequência da ausência do morfema que expressa a significação oposta. Exemplo: gato-Ø gat-a Em ‘gato’, temos: morfema lexical: gat- morfema classificatório: -o morfema zero: Ø (indicativo de masculino). Já em ‘gata’, temos, em oposição ao morfema zero, indicativo de masculino, o morfema aditivo ‘-a’, indicando gênero feminino. mar mares mar – Ø mar - es a ausência da marca de plural /-es/, indica a noção de singular. professor professora professor – Ø professor - a a ausência de marca de feminino /-a/, expressa a noção de masculino. Sabemos que, em português, o mecanismo gramatical de gênero e número baseia-se essencialmente em morfemas aditivos que ficam em oposição a morfemas ø (zero): -Ø X -a -Ø X -s 48 Morfologia da Língua Portuguesa e) Morfema latente ou alomorfe ø O morfema latente tem em comum com o morfema zero a ausência de marca. No entanto, o morfema latente ou o alomorfe zero se diferencia porque não apresenta morfema gramatical próprio para indicar qualquer categoria. Ele não traz em si o contraste entre as categorias gramaticais. Exemplos: Lápis Pires Funcionam isolados e inalterados para indicar a significação gramatical de singular e plural: O lápis os lápis O pires os pires Da mesma forma, podemos registrar: Artista Dentista Funcionam isolados e inalterados para indicar a significação gramatical de masculino e feminino: O artista a artista O dentista a dentista As significações gramaticais, que estão latentes nos vocábulos, são reveladas no contexto. 3.5.3 Morfemas derivacionais Esses morfemas criam novas palavras na língua. Exemplo: /-eiro/; /-aria/; /-inho/ livr-o livr-aria livr-eiro livr-inho. 49 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português Os morfemas derivacionais não obedecem a uma sistematização obrigatória. Assim, a derivação pode aparecer para um dado vocábulo e não aparecer para outro, ao contrário dos morfemas flexionais. Exemplo: Cantar cantar-olar Falar falar ---- Gritar gritar ---- Enquanto, os morfemas flexionais estão conectados em um paradigma coeso, com pequeníssima margem de variação, os morfemas derivacionais encontram-se, comumente, formando um quadro irregular, com imprecisões. Como visto acima, nem todos os verbos no português apresentam nomes deles derivados e, para os derivados existentes, os processos sãodesconexos e variados: Exemplos: falar ? fala consolar ? consolo; consolação julgar ? julgamento vender ? venda Verificamos que: Os morfemas derivacionais não obedecem a uma regularidade. Por isso, temos morfemas como -ção, -mento, entre outros, não têm a mesma função. São morfemas derivacionais porque formam palavras que enriquecem o léxico, servindo como base para derivações posteriores e possibilitando ao falante a escolha de uma forma vocabular. gato → gata garota → garotas cantar → cantava vender → vendíamos 50 Morfologia da Língua Portuguesa Verificamos que: Os morfemas como: /-s/, /-a/ ou /-va/, /-mos/ são caracterizadores de número e gênero nos nomes e de modo e tempo, número e pessoa nos verbos. São morfemas flexionais, ou seja, são elementos de caracterização exclusiva e sistemática e não servem de base para as formações derivacionais posteriores. Da derivação resulta um novo vocábulo e entre os vocábulos derivados similares existem relações abertas, que caracteriza o léxico de uma língua. Já no que se refere à significação gramatical de flexão, são estabelecidas relações fechadas, caracterizadas por alto teor de regularidade de seus padrões, mesmo que possuam muitas complexidades. Exemplos: Nos nomes, fazemos o feminino: /-Ø/ ? /-a/ gato-Ø gat-a boneco-Ø bonec-a E, fazemos o plural: /-Ø/ ? /-s/ gato-Ø gato-s boneco-Ø boneco-s Nos verbo, temos o paradigma do presente do indicativo, de 1ª conjugação: -o cant-o -as cant-as -a cant-a -amos canta-mos -ais canta-is -am canta-am O que ocorre em ‘cantar’ no presente do indicativo, ocorre para todos os demais verbos regulares de 1ª conjugação. 51 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português Percebemos que as relações são fechadas porque temos paradigmas delimitados para as flexões: Por exemplo: número - /-Ø/ ? /-s/; gênero - /-Ø/ ? /-a/; presente do indicativo /–o; -as; -a; -mos; -ais; -am/. Assim, concluímos que a flexão caracteriza-se, pela regularidade de seus padrões, ainda que nesses possam ocorrer grande complexidade, como nos verbos irregulares, por exemplo. Já na derivação, por se tratar de relações abertas, as idiossincrasias constituem a regra e a não previsibilidade é uma constante. Exemplos: Não existe paradigma delimitado na derivação porque temos relações abertas: Comprar ? comprador Matar ? matador Ganhar ? ganhador Ler ? leitor Estudar ? (*estudador) Ensinar ? (*ensinador) Dirigir ? (*dirigidor) Roubar ? (*roubador) Verifique que não conseguimos garantir uma regularidade pertinente como nos verbos. Temos vários exemplos de verbos no português que não aceitam, por exemplo, o sufixo agentivo ‘-or’ e seus alomorfes ‘-dor’ ou ‘-tor’ (*estudador; *ensinador; * dirigidor; *roubador)... Reflita: Uma das incoerências de nossas gramáticas é a inclusão dos morfemas que caracterizam o grau, aumentativo e diminutivo, como flexionais. Na realidade, trata-se de um processo derivacional. Portanto, temos flexão de gênero e número. Grau não é flexão em português 52 Morfologia da Língua Portuguesa 3.5.4 Morfemas relacionais Os morfemas relacionais ordenam os elementos da frase e possibilitam a concatenação dos morfemas lexicais entre si. No entanto, a manipulação desses morfemas pertence à sintaxe, por isso não ser trabalhada na Morfologia. Exemplos: As preposições, conjunções e pronomes relativos. PARA VOCÊ NÃO ESQUECER 53 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português Exercícios 1) Classifique os dados da língua A: Ikalveve – casa grande Petatsosol – capacho velho Ikalsosol – casa velha Petatcin – capacho pequeno Ikalcin – casa pequena Ikalmeh – casa Petatveve – capacho grande Petatmeh - capacho a) Segmente os vocábulos; b) Identifique quais os elementos que significam: grande, velho, pequeno c) Identifique quais os elementos que significam casa, capacho (Exemplos retirados de SILVA; KOCH, 1987) 2) Classifique os morfemas flexionais apresentados nos vocábulos abaixo: a) CantavaØ - cantávamos b) Ovo – ovos c) Mão – mãos d) Rigoroso – rogorosa e) Filha – filhas f) O lápis – os lápis g) Artesão – artesã OBJETIVOS • Diferenciar os vocábulos da língua portuguesa por sua estrutura. • Compreender e explicar as diferenças entre os processos de formação de vocábulos, a partir de uma visão sincrônica da língua. UNIDADE 4 ESTRUTURA E FORMAÇÃO DOS VOCÁBULOS 57 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 4 Estrutura e formação dos vocábulos 4.1 Estrutura Partindo das definições já discutidas nos capítulos anteriores, sabemos que: • a análise mórfica restringe-se à decomposição dos morfemas lexicais e gramaticais (classificatório, flexionais e derivacionais); • pela análise mórfica temos condições de determinar a estrutura dos vocábulos em português. Tomando por base a classificação da estrutura dos vocábulos em português de Silva e Koch (1987), temos vocábulos que apresentam: 1. Apenas um morfema lexical: Exemplos: Azul – azul Mar – mar Feliz – feliz 2. Morfema lexical (± vogal temática) + morfemas flexionais: Exemplo: Alunas – alun+a+s Garotos – garot+o+s Cantávamos – cant+a+va+mos 3. Morfema lexical + morfemas derivacionais (± morfemas flexionais): 3.1 prefixo(s) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais): Exemplos: infeliz – in+feliz 58 Morfologia da Língua Portuguesa destampar – des+tamp+a+r inaptos – in+apt+o+s 3.2 morfema lexical + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas flexionais): Exemplos: Muralha – mur+alh+a Canteiros – cant+ei_r+o+s Levantamento – levanta+ment+o Meninazinhas – menina+zinh+a+s Observe que nas estruturas acima, o sufixo marca a classe gramatical e as flexões do vocábulo a que se junta. Como temos em ‘levantamento’ e ‘meninazinhas’ ? a vogal temática existente no vocábulo primitivo (levant-a-r) e (menin-a) – perde seu valor de morfema ao sofrer o acréscimo do sufixo. 3.3 prefixo(s) + morfema lexical (± elemento de ligação) + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas flexionais): Exemplos: Infelizmente – in + feliz + mente Descontentamentos – des + contenta + ment + o + s 4. Morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais): Exemplos: couve-flor guarda-chuva terç-a-s – feir-a-s pé-s – de – molequ-e. 59 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 4.2 Formação Tomando por base esses vários tipos de estrutura dos vocábulos no português, podemos determinar, seguindo o que nos apresenta Silva e Koch (1987), os seguintes processos de formação dos vocábulos. Temos vocábulos que são formas simples e primitivas: Apenas um morfema lexical: Exemplos: Azul – azul; Mar – mar; Feliz – feliz Morfema lexical (± vogal temática) + morfemas flexionais: Exemplo: Alunas – alun+a+s; Garotos – garot+o+s; Cantávamos – cant+a+va+mos Temos vocábulos simples, mas derivados. São os de estrutura: morfema lexical + morfemas derivacionais (± morfemas flexionais): Prefixo(s) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais): Exemplos: infeliz – in+feliz; destampar – des+tamp+a+r; inaptos – in+apt+o+s Morfema lexical + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas flexionais): Exemplos: Muralha – mur+alh+a; Canteiros – cant+ei_r+o+s; Meninazinhas – menina+zinh+a+s Prefixo(s) + morfema lexical (± elemento de ligação) + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas flexionais): Exemplos: Infelizmente – in + feliz + mente; Descontentamentos – des + contenta + ment + o + s60 Morfologia da Língua Portuguesa E, temos aqueles que apresentam mais de um morfema lexical. São os vocábulos compostos: Morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais): Exemplos: couve-flor; guarda-chuva; terç-a-s – feir-a-s; pé-s – de – molequ-e. Portanto, para uma análise sincrônica dos mecanismos utilizados na formação de palavras, consideramos a existência, no português, de palavras simples e compostas, conforme contenham um ou mais morfemas lexicais. Assim, as palavras simples podem ser primitivas e derivadas, sendo as primitivas aquelas que não se originam de outras e servem de base para a formação das derivadas. Temos dois grandes processos de formação de novas palavras: a derivação e a composição. a) Derivação A derivação trata da formação de palavras por agregação de afixos a um morfema lexical. E duas condições são exigidas para que haja derivação: 1ª condição – existe a possibilidade de depreensão sincrônica dos morfemas componentes. Isso evita que venhamos a considerar derivadas, palavras como: Submisso Perceber Conduzir Admitir Todas as palavras que seriam derivadas de uma pseudoforma livre – misso-, -ceber-, -duzir-, -mitir-, acrescidas dos prefixos sub-, per-, com-, ad-. 61 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português O que facilmente verificamos se tratar da validade de um critério diacrônico. No atual estágio da nossa língua, esses morfemas lexicais não existem. Portanto, esses vocábulos devem ser considerados primitivos. 2ª condição – trata da possibilidade do afixo (prefixo ou sufixo) estar à disposição dos falantes como forma mínima no sistema, para formação de novos derivados. Vale alertar que uma maior a produtividade do afixo na língua, facilita para o usuário da língua tanto formar como aceitar determinadas palavras. Exemplos: Os sufixos –mente, -ção, -inho, são de grande produtividade: Cãozinho calmamente meditação Menininho tranquilamente interpretação Bonequinho estranhamente movimentação Já, ‘-eo’, ‘-ura’ entre outros, apresentam rendimento muito mais baixo. Férreo feiúra Róseo branduta Cumpridas as duas condições da derivação, podemos identificar os processos de derivação: a) Prefixal: acréscimo de prefixos ao morfema lexical. Exemplo: re-ter i-legal sub-tenente com-por Saiba mais... Rolim de Freitas (1979) apresenta um extenso levantamento dos verdadeiros prefixos existentes na língua portugue- sa, a partir de uma visão sincrônica. O linguista procura reformular os critérios tradicionais das gramáticas que inclu- em formas que se prefixaram no latim. 62 Morfologia da Língua Portuguesa b) Sufixal: acréscimo de sufixos ao morfema lexical. Exemplos: sabor-oso grand-alhão barc-aça toqu-inho c) Prefixal e sufixal: acréscimo tanto de prefixos como de sufixos ao morfema lexical. Exemplos: Des-leal-dade In-feliz-mente d) Parassintética: acréscimo simultâneo de um prefixo e um sufixo ao morfema lexical. Exemplos: en-tarde-cer es-fare-lar Observe que a derivação parassintética distingue-se da derivação prefixal e sufixal, porque o prefixo e o sufixo são acrescentados ao mesmo tempo ao morfema lexical. E, constituem um único morfema gramatical de natureza descontínua, eles não se manifestam em um mesmo significado gramatical quando desmembrados, separados. Exemplos: feliz tarde In-feliz *entarde In-feliz-mente entardecer felizmente *tardecer 63 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português A derivação parassintética consiste em um processo de formação de verbos, em especial daqueles que exprimem mudança de estado: Exemplos: Engrossar Amadurecer Rejuvenescer Existem também alguns adjetivos formados por parassíntese desalmado (des+alma+ado) b) Composição Criamos novas palavras pela combinação de outros vocábulos já existentes na língua, dando origem a um novo significado. Através do processo de composição, combinamos dois morfemas lexicais, fazendo uma fusão semântica, que pode ser mais ou menos completa. Exemplos: Em ‘guarda-chuva’, o significado de cada elemento persiste com certa nitidez. Em ‘pé-de-moleque’, esse significado praticamente desaparece para dar lugar a outro. A composição pode dar-se por: justaposição ou por aglutinação. Na Justaposição, os vocábulos são colocados lado a lado, mantendo a sua autonomia fonética (o acento e todos os fonemas que os constituem). Exemplos: Passatempo Girassol Nossa Senhora. 64 Morfologia da Língua Portuguesa Na aglutinação, os vocábulos se unem em um todo fonético, com um único acento, ocorrendo também a perda ou alteração de alguns de seus elementos fonéticos (acento tônico, vogais ou consoantes). Exemplos: Planalto Pontiagudo aguardente Deve ficar claro que, do ponto de vista sincrônico, só consideramos a aglutinação quando for possível a depreensão de dois morfemas lexicais, portanto, o falante deve ter consciência da existência desses dois morfemas, caso contrário, não se pode falar em composição. PARA VOCÊ NÃO ESQUECER 1) A classificação da estrutura dos vocábulos em português é: I) Apenas um morfema lexical: azul II) Morfema lexical (± vogal temática) + morfemas flexionais: alun-a-s III) Morfema lexical + morfemas derivacionais (± morfemas flexionais): a. prefixo(s) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais): in-feli b. morfema lexical + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas flexionais): mur-alh-a c. prefixo(s) + morfema lexical (± elemento de ligação) + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas flexionais):in-feliz-mente 65 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português IV) Morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais): couve-flor 2) Os vocábulos podem ter forma: a) Simples e primitiva b) Simples e derivada c) Composta 3) São dois os grandes processos de formação de novas palavras: a) derivação b) composição OBJETIVOS • Mostrar o processo de flexão de gênero masculino para o feminino. • Apresentar a mudança de singular para o plural, com os possíveis alomorfes do morfema {-s}. UNIDADE 5 A FLEXÃO DO NOME 69 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português PARTE II - ANÁLISE MÓRFICA DO NOME E DO VERBO 5 A flexão do nome Esta segunda parte do presente trabalho tem por objetivo proceder a análise mórfica do nome e do verbo, ou seja, mostrar como se processa na estrutura morfológica a flexão de gênero e de número nos nomes, e de modo- tempo-aspecto e de número-pessoa nos verbos. Como vimos, na parte onde tratamos da fundamentação teórica, o nome se compõe de uma estrutura formada por: RADICAL + VOGAL TEMÁTICA + DESINÊNCIA NOMINAL DE GÊNERO + DESINÊNCIA NOMINAL DE NÚMERO. De acordo com ZANOTTO (1991:55), o nome se caracteriza, exatamente, por possuir essas duas flexões: GÊNERO (masculino/ feminino) e NÚMERO (singular / plural). 5.1 A flexão de gênero Flexionar um nome em gênero, em sua estrutura mórfica, significa marcá-lo com o morfema {-a}. Daí dizermos que as palavras no feminino são marcadas quanto ao gênero. Para Silva e Koch (1994:41): Tal flexão opera através do acréscimo do morfema lexical -a átono final à forma masculina. Quando a formamasculina é atemática, há simplesmente o acréscimo mencionado: Exemplo: peru – perua autor - autora 70 Morfologia da Língua Portuguesa mas quando tal forma termina em vogal temática como pombo, parente, essa vogal é suprimida, através de uma mudança morfofonêmica, decorrente do acréscimo do morfema - a: pombo – o + a = pomba parente – e + a = parenta. Visualizemos, em uma tabela, os exemplos acima, temos: Tabela 01: Fluxo de Gênero Da tabela acima, depreendemos que a flexão de gênero, na estrutura mórfica do nome, realiza-se, em nomes atemáticos (sem vogal temática), pelo acréscimo de um morfema {-a}, que marca o gênero feminino ver Exemplo: peru / perua ou pela retirada da vogal temática e acréscimo do mesmo morfema {-a} Exemplo: parente / parenta Vale salientar que este processo flexional dá-se em um número relativamente pequeno de vocábulos. 71 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português Para CÂMARA JR (1996:91): “É preciso não esquecer, entretanto, que a flexão de gênero é, em princípio, um traço redundante nos nomes substantivos portugueses. E muitos não a têm sequer’’. Com base no que diz CÂMARA JR, podemos afirmar que o gênero se faz muito mais na estrutura do sintagma nominal do que na estrutura morfológica, isto é, o processo não é exclusivamente morfológico, mas morfossintático, uma vez que para SILVA & KOCH (1994:42): Na realidade, os substantivos mulher e cabra são sempre femininos, porque podem ser precedidos pelo artigo a; e homem e bode, a eles semanticamente relacionados, são do gênero masculino, porque podem ser precedidos pelo artigo o. Feitas essas considerações, queremos chamar a atenção para dois pontos que consideramos importantes: I) as gramáticas escolares fazem uma confusão entre gênero e sexo, mas precisamos compreender que gênero é uma construção linguística e diz respeito a palavras, Exemplos: ‘homem’, ‘pente’, ‘balcão’, ‘cavalo’, ‘menino’ são palavras masculinas porque podem ser precedidas por um artigo masculino (o, um) e seguidas por um adjetivo também masculino Exemplos: ‘um homem rico’, ’um pente vermelho’, ‘o balcão novo’, ‘o cavalo bonito’, ‘o menino estudioso’ e sexo diz respeito a uma característica fisiológica dos seres sexuados. Gênero é masculino ou feminino; já o sexo é macho ou fêmea. O substantivo ‘homem’ é do gênero masculino, por sua vez o animal ‘homem’ é macho, o substantivo ‘pente’ é do gênero masculino, mas não é macho. Portanto, gênero e sexo não significam a mesma realidade; 72 Morfologia da Língua Portuguesa II) também, há uma confusão entre processo flexional e processo lexical. O primeiro diz respeito às alterações na estrutura mórfica do vocábulo para flexionar o gênero (como vimos na tabela 01); o segundo relaciona-se ao radical das palavras; por exemplo, a palavra ‘bode’ está para ‘cabra’, assim como ‘pente’ está para ‘mesa’, ou seja, lexicalmente ‘bode’ e ‘cabra’ nada têm em comum no tocante ao gênero porque são formados de lexemas diferentes (‘bod-‘ e ‘cabr-‘), assim sendo, ‘bode’ não é o masculino de ‘cabra’ mas o macho de ‘cabra’. (Cf. CÂMARA JR, 1996:88-89 e SILVA & KOCH, 1996:41-42). Outro desdobramento dessa confusão entre processo flexional e processo lexical é o que vemos em gramáticas escolares que dizem que o feminino de ‘ator’ é ‘atriz’, de ‘poeta’ é ‘poetisa’, de ‘duque’ é ‘duquesa’, por exemplo. Tanto ‘ator’ como ‘atriz’ são palavras atemáticas, em sua estrutura, nenhuma delas possui uma marca de gênero, o morfema {-a}, mas a palavra ‘ator’ é masculina porque pode ser determinada e modificada por termos masculinos (‘o ator famoso’) e ‘atriz’ é uma palavra feminina pelas mesmas razões (‘a atriz famosa’); sobre o par ‘poeta/poetisa’, podemos dizer que em ambos o morfema {-a} é vogal temática e que ‘poetisa’ é um vocábulo derivado de ‘poeta’. Também, encontramos nas gramáticas escolares, ao tratarem do gênero, as seguintes designações: comum-de-dois-gêneros, sobrecomuns, epicenos e heterônimos (ANDRÉ, 1997:112-113; SACCONI, 1999:141-144), o que, de alguma forma, induz o aluno a pensar que são outros tipos de gêneros, assim, em nossa língua, as palavras, quanto ao gênero, seriam masculinas, femininas, comuns- de- dois gêneros, sobrecomuns, epicenos e heterônimos. Na realidade, qualquer palavra em português ou é masculina ou é feminina (e somente isso!). Sobre esse ponto, CÂMARA JR (1996:92) diz que a flexão de gênero deve ser assim tratada: 73 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 1) Nomes substantivos de gênero único Exemplos: (a) rosa, (a) flor, (a) tribo, (a) juriti (o) planeta, (o) amor, (o) livro, (o) colibri 2) Nomes de 2 gêneros sem flexão Exemplos: (o, a) artista, (o, a) intérprete, (o, a) mártir 3) Nomes substantivos de 2 gêneros, com uma flexão aparente Exemplos: (o) lobo, (a) loba (o) mestre, (a) mestra (o) autor, (a) autora Do exposto acima, podemos depreender: i) os nomes ditos sobrecomuns Exemplos: (o) cadáver, (o) cônjuge, (a) criança, (a) criatura os epicenos Exemplos: (a) barata macho / (a) barata fêmea, (o) jacaré macho / (o) jacaré fêmea e os heterônimos Exemplo: (o) bode, (a) cabra, (o) homem, (a) mulher 74 Morfologia da Língua Portuguesa são nomes de gênero único; ii) os ditos comum-de-dois-gêneros Exemplo: (o,a) artista, (o,a) pianista, (o,a) atleta de fato,são, também, de gênero único mas usados ora no masculino, ora no feminino, por essa razão, CÂMARA JR diz que são “nomes de 2 gêneros sem flexão”. Sem dúvida alguma, podemos dizer que o vocábulo ‘o pianista’ é do gênero masculino, e que ‘a pianista está no gênero feminino (não esqueça a diferença entre ‘ser’ e ‘estar’); iii) todos os outros nomes são de dois gêneros Exemplos: (o) parente/(a) parenta (o) menino/(a) menina PARA VOCÊ NÃO ESQUECER 1) Nome é toda e qualquer palavra que se flexiona em gênero e /ou número. 2) A estrutura mórfica de um nome é formada por: RADICAL (RAD) + VOGAL TEMÁTICA (VT) + DESINÊNCIA NOMINAL DE GÊNERO (DNG) + DESINÊNCIA NOMINAL DE NÚMERO. 3) Dos morfemas da estrutura mórfica, apenas o radical terá que, obrigatoriamente, realizar-se, os outros morfemas poderão ou não estar presentes no vocábulo. 4) A flexão de gênero poderá operar-se de duas maneiras: i) pelo acréscimo do morfema {-a}; ii) pela substituição da vogal temática e, posterior, acréscimo do mesmo morfema {-a}. 75 UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português 5) Em nosso idioma, a flexão de gênero é, de certa forma, redundante e se dá por meio do já dito morfema {-a}, como, também, dos determinantes e/ou modificadores. 6) Gênero gramatical e sexo são realidades diferentes; enquanto o gênero é tratado pela Lingüística, o sexo é estudado pelas Ciências Biológicas. 7) Processo flexional e processo lexical são construções lingüísticas diferentes: o primeiro trata da flexão de nomes e verbos; o segundo, da formação de palavras. 8) Quanto à flexão de gênero, podemos dizer que temos palavras de gênero único e palavras com dois gêneros. EXERCÍCIOS Partindo da estrutura morfológica do nome, faça um quadro (como o da tabela 01) e distribua, nesse quadro, os morfemas que compõem as palavras abaixo: a) Bisavô b) Menino c) Juiz d) Gerente e) Reitor f) Cliente g) Sofá h) Réu i) Judeu j) Mulher k) Dentista l) Professora m) Garoto 76 Morfologia da Língua Portuguesa n) Raposa o) Duquesa p) Cônjuge q) Escrivão r) Juíza s) Mesa t) Moça. 5.2 A flexão de número Como vimos na seção anterior, a flexão de gênero é uma oposição entre masculino e feminino. Já a flexão de número, segundo CÂMARA JR (1996:92), “trata-se da oposição entre um único indivíduo e mais de um indivíduo”. Como é uma relação numérica e quantitativa, essa flexão é bem mais simples e coerente que a de gênero. No entanto, queremos chamar a atenção para os seguintes pontos:
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