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Livro - Morfologia_da_Lingua_Portuguesa

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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ
NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS PORTUGUÊS
FUESPI
2012
MORFOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Norma Suely Campos Ramos
Raimundo Francisco Gomes
Ramos, Norma Suely Campos.
Morfologia da Língua Portuguesa / Norma Suely Campos Ramos;
Raimundo Francisco Gomes – Teresina: UAB/UESPI, 2011.
113 p.
ISBN: 978-85-61946-24-1
1. Linguística. 2. Estruturalismo. 3 Morfologia. I. Norma Suely Campos
Ramos. II. Raimundo Francisco Gomes. III. Título.
CDD: 469.5
R175m
Presidente da República
Dilma Vana Rousseff
Vice-presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Aloizio Mercadante Oliva
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC
Celso José da Costa
Governador do Piauí
Wilson Nunes Martins
Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí
Átila de Freitas Lira
Reitor da UESPI – Universidade Estadual do Piauí
Carlos Alberto Pereira da Silva
Vice-reitor da UESPI
Nouga Cardoso Batista
Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG
Marcelo de Sousa Neto
Coordenadora da UAB-UESPI
Márcia Percília Moura Parente
Coordenador Adjunto da UAB-UESPI
Raimundo Isídio de Sousa
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP
Isânio Vasconcelos de Mesquita
Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX
Francisca Lúcia de Lima
Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD
Acelino Vieira de Oliveira
Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN
Raimundo da Paz Sobrinho
Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Português – EAD
Ailma do Nascimento Silva
Edição
UAB - FNDE - CAPES
UESPI/NEAD
Diretora do NEAD
Márcia Percília Moura Parente
Diretor Adjunto
Raimundo Isídio de Sousa
Coordenadora do Curso de Licenciatura
Plena em Letras Português
Ailma do Nascimento Silva
Coordenadora de Tutoria
Maria do Socorro Rios Magalhães
Coordenadora de Produção de Material
Didático
Cândida Helena de Alencar Andrade
Autores do Livro
Norma Suely Campos Ramos
Raimundo Francisco Gomes
Revisão
Teresinha de Jesus Ferreira
Diagramação
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Capa
Luiz Paulo de Araújo Freitas
MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI
UAB/UESPI/NEAD
Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá),
NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro
Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150,
Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182
Web: ead.uespi.br
E-mail:eaduespi@hotmail.com
SUMARIO
UNIDADE 1
PARTE I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................. 11
1 Introdução ............................................................................................. 11
1.1 Concepções de gramática ................................................................. 11
1.2 Mas... O que é mesmo Morfologia? .................................................... 13
UNIDADE 2
2 Princípios básicos do Estruturalismo .............................................. 19
2.1 Língua e fala ....................................................................................... 21
2.2 Eixo sintagmático e eixo paradigmático ............................................. 22
2.3 Sincronia e Diacronia......................................................................... 24
2.4 A dupla articulação ............................................................................. 27
UNIDADE 3
3 Princípios da Análise Mórfica ............................................................ 33
3.1 O vocábulo formal .............................................................................. 33
3.2 Princípio básico da análise mórfica .................................................... 36
3.3 Alomorfia ............................................................................................ 38
3.4 Neutralização ..................................................................................... 39
3.5 Tipos de morfemas ............................................................................ 42
3.5.1 Morfemas lexicais ........................................................................... 42
3.5.2 Morfemas gramaticais..................................................................... 42
3.5.2.1 Morfemas classificatórios ............................................................. 43
3.5.2.2 Morfemas flexionais ..................................................................... 44
3.5.3 Morfemas derivacionais .................................................................. 48
3.5.4 Morfemas relacionais ...................................................................... 52
UNIDADE 4
4 Estrutura e formação dos vocábulos ............................................... 57
4.1 Estrutura ............................................................................................ 57
4.2 Formação .......................................................................................... 59
UNIDADE 5
PARTE II - ANÁLISE MÓRFICA DO NOME E DO VERBO .................... 69
5 A flexão do nome ................................................................................ 69
5.1 A flexão de gênero ............................................................................. 69
5.2 A flexão de número ............................................................................. 76
UNIDADE 6
6 A flexão do verbo ................................................................................ 87
6.1 O padrão geral ................................................................................... 89
6.1.1 Alterações no radical ....................................................................... 90
6.1.2 A vogal temática .............................................................................. 92
6.1.3 Desinências modo-temporais (DMT) ............................................... 92
6.1.4 Desinências modo-pessoais (DNP) ................................................ 94
6.2 Verbos irregulares .............................................................................. 95
6.3 Verbos irregulares ............................................................................ 101
6.3.1 Particípio duplo ............................................................................. 105
6.3.2 Verbos anômalos .......................................................................... 106
6.4 Sistematizando as Irregularidades ................................................... 107
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 113
OBJETIVOS
• Diferenciar as concepções de gramática nos estudos linguísticos,
identificando a gramática descritiva como a mais adequada para a
investigação da morfologia.
• Definir Morfologia como uma dos ramos de estudo da Linguística.
UNIDADE 1
PRINCÍPIOS TEÓRICOS
11
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
PARTE I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1 Introdução
Para iniciar nossa discussão sobre
morfologia da língua portuguesa, de início,
retomaremos a discussão acerca das concepções de
gramática.
Você já estudou, na disciplina Linguística I,
essas concepções. E, sentindo necessidade de
maiores esclarecimentos, deve revisar a Unidade III
do fascículo Linguística I, organizado pelas professoras
Bárbara Melo e Shirlei Alves.
 Saiba m
1.1 Concepções de gramática
Conforme Luis Carlos Travaglia (1998),
temos três concepções de gramática que permeiam
nossas leituras na área da Linguística:
1) Gramática Normativa: entendida como
um manual com regras organizadas para serem
seguidas por aqueles que querem falar e escrever
corretamente. Essa gramática tem por base os
dialetos de prestígio de uma dada comunidade
linguística e, nela é considerada língua unicamente
“(...) a linguagemcativou o homem enquanto objeto de
deslumbramento e de descrição, na poesia e na ciência. A ciência
foi levada a ver na linguagem sequência de sons e de movimentos
expressivos, suscetíveis de uma descrição exata, física e
fisiológica, e cuja disposição forma signos que traduzem os fatos
da consciência”. (Hjelmslev, 1975, p.1)
Saiba mais...
Louis Trolle Hjelmslev (1899 - 1965)
Linguista dinamarquês, fundador de
uma escola radical de linguística
estruturalista, a Escola de Copenhage.
Foi precursor das modernas
tendências da linguística e propositor
do termo glossemática - para designar
o estudo e a classificação dos
glossemas, a menor unidade
linguística que pode servir de suporte
a uma significação. Em seu texto
‘Prolegômenos a uma Teoria da
Linguagem’, Hjelmslev trabalha com
definições básicas como funções,
signos e figuras, expressão e
conteúdo, sincretismo e catálise,
elaborando uma teoria da linguagem
organizada de tal forma que é levado a
reconhecer o sistema linguístico em
sua totalidade.
Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/
biografias/LouTrolH.html
12
Morfologia da Língua Portuguesa
a variedade dita culta. Todas as outras formas de uso linguístico, que não seja
esse padrão culto, são consideradas desviantes e erradas. E, do ponto de
vista dessa concepção, a pessoa que sabe gramática é aquela que conhece,
domina e usa as regras apresentadas pelos manuais.
2) Gramática Internalizada: diz respeito a um conjunto de
conhecimentos que possibilita o uso da língua por todos os seus usuários.
São as regras que os falantes, de fato, aprendem nas suas experiências e
utilizam nas mais diversas situações de interação linguística. A língua é
concebida como um conjunto de variedades linguísticas utilizadas por uma
sociedade nas diversas interações comunicativas, de acordo com o que nos
diz Travaglia (1998). A gramática internalizada é o que chamamos de
competência linguística do usuário da língua. E, nessa concepção, sabe
gramática quem sabe falar uma língua, independente de sua formação escolar,
pois as regras gramaticais são aprendidas nas experiências linguísticas
concretas.
3) Gramática Descritiva: é o conjunto de regras que o linguista
descreve a partir de determinado modelo teórico. Interessa ao estudioso a
descrição das unidades, das categorias e das relações estabelecidas entre
elas, em todas as variedades da língua. O objetivo do linguista é conhecer os
elementos que compõem a estrutura das frases, dos morfemas, dos fonemas,
assim também como as regras de combinação dessas diferentes unidades
no sistema.
Nessa concepção, não há espaço para preconceito, todos os usos
que atendam às regras de funcionamento da língua são válidos e servem como
dados para descrição linguística.
Aqui nos interessam, mais diretamente, os estudos da gramática
descritiva.
Apresentaremos a seguir os princípios de descrição utilizados na
morfologia para melhor compreendermos a língua portuguesa.
13
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
1.2 Mas... O que é mesmo Morfologia?
Como você deve ter verificado nas leituras sugeridas, em disciplinas
anteriores, a língua é um sistema complexo e passível de investigação sob
vários olhares. Sua estrutura interna possibilita várias segmentações, e cada
uma delas pode ser organizada em uma disciplina diferente.
A partir de determinada organização teórica, com um método de
análise e um objeto definido, essas disciplinas chegam a requerer certa
autonomia dentro dos estudos da área.
É o que, de certa forma, acontece com a Morfologia.
A morfologia é a disciplinas que trata das formas. E, etimologicamente
o termo significa ‘o estudo da forma’.
Morfologia
 morfe = forma
 logia = estudo
Esse é o ramo da Linguística que estuda as unidades mínimas com
significado na língua, ela trata da estruturação dessas partes significantes, de
suas variantes e de como são classificadas, além dos processos de formação
e suas classes.
Vejamos:
Menin - o
Menin - a
 Menin - o - s
 Menin - a - s
 Menin - inho
 Menin - ada
 Menin – ice
14
Morfologia da Língua Portuguesa
Podemos inferir que ‘menin-’ é uma
parte mínima significativa na nossa língua e que
traz em si o significado de indivíduo, pertencente
à raça humana, criança ou adolescente. Essa
unidade mínima significativa se chama
morfema. E especificamente, o morfema
‘menin-’ é um morfema lexical, porque traz um
significado relacionado ao mundo
extralinguístico.
Observamos ainda que outras partes
mínimas da língua trazem outros significados
como, por exemplo, ‘–a’: significando feminino
e ‘–s’: significando plural; assim como também: ‘-inho’: significando diminutivo
de caráter afetivo e ‘–ice’: indicando estado ou modo de ser. Portanto, são
também unidades mínimas significativas, ou seja, morfemas. E,
especificamente, os morfemas ‘–a’, ‘–s’, ‘-inho’ e ‘-ice’ são morfemas
gramaticais, porque trazem em si um significado ligado ao mundo da
gramática: feminino, plural, diminutivo, etc.
PARA VOCÊ NÃO ESQUECER
1) Trabalhamos com três concepções de Gramática:
Gramática Normativa – é o conjunto de regras organizadas para
serem seguidas por aqueles que querem falar e escrever corretamente.
Gramática Internalizada – é o conjunto de conhecimentos que
possibilita o uso da língua por todos os seus usuários, aprendido nas
experiências das mais diversas situações de interação linguística.
Gramática Descritiva – é o conjunto de regras formulado a partir da
descrição das unidades, das categorias e das relações estabelecidas entre
elas, em todas as variedades da língua.
Saiba mais...
Segundo Petter (2003), o termo
‘morfologia’ primeiro foi empregado
nas ciências da natureza: na botânica
e na geologia. Na linguística, esse
termo só começou a ser utilizado no
século XIX.
A morfologia tem como sua unidade
básica de análise o morfema. E,
podemos dizer que a noção de
‘morfema’ está relacionada com o
estruturalismo, que tinha como
problema central a identificação dos
morfemas nas diferentes línguas do
mundo.
15
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
2) A gramática descritiva é a concepção que nos interessa aqui no
estudo da Morfologia da Língua Portuguesa.
3) Morfologia é o ramo da Linguística que trata das formas e que
estuda as unidades mínimas significativas da língua.
4) Chamamos as unidades mínimas significativas da língua de
morfemas. Os morfemas lexicais trazem significação externa à gramática e
os morfemas gramaticais trazem significação ligada às noções gramaticais.
OBJETIVO
• Compreender os princípios básicos do Estruturalismo para os estudos
morfológicos.
UNIDADE 2
PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ESTRUTURALISMO
19
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
2 Princípios básicos do Estruturalismo
Os estudos da linguagem tomavam por base
a gramática grego-latina, que partia dos princípios
lógicos e procurava deduzir os fatos da linguagem
estabelecendo normas de comportamento
linguístico.
Naquela época, por volta do século XVIII, os estudiosos acreditavam na
fixidez das línguas, portanto, as descrições gramaticais eram de caráter normativo
e filosófico. E, todos os compêndios gramaticais produzidos naquele período,
inclusive as gramáticas do português, seguiam a mesma tendência: apresentavam
normas para se falar e escrever corretamente.
Mas, ainda no século XVIII, os linguistas começaram a desenvolver
outro tipo de estudo – a concepção estática da língua já não tinha amplo
consenso e muitos estudiosos passaram a investigar a mudança linguística.
Paulatinamente, passou a predominar a concepção de “mudança
incessante da língua, através de um processo dinâmico e coerente” (SILVA;
KOCH, 1987, p.7).
Foi daí que surgiu a
Linguística histórico-comparativa.
Nessa concepção,
elementos de línguas diferentes
eram comparadosentre si, com
o objetivo de depreender as
origens comuns e de reconstruir
a protolíngua, da qual essas
diferentes línguas teriam se
originado.
A linguística histórico-
comparativa procurava explicar a
Para melhor relembrar esse período,
releia a unidade 1, do fascículo
‘Linguística: Do Estruturalismo ao
Gerativismo’, organizado pelos
professores R. Isídio de Sousa e
Shirlei Alves.
Saiba mais...
...uma protolíngua é a hipótese de uma língua ancestral
comum de diversas outras línguas, ou seja, de uma família
de línguas. Na maioria dos casos, a protolíngua ancestral
não é conhecida diretamente, e tem de ser reconstruída
através da comparação de diferentes línguas da mesma família
por uma técnica chamada de método comparativo.
Através desse processo, apenas uma parte da estrutura e do
vocabulário da protolíngua pode ser reconstruído, e sabe-se
que quanto mais antiga for a protolíngua em questão, mais
fragmentária será a sua reconstrução. Alguns exemplos de
protolínguas parcialmente reconstruídas (por isso, hipotéticas)
incluem o proto-indoeuropeu, o proto-urálico, o protobantu e
o protopamã.
Fonte: http://aartedoslivrespensadores.blogspot.com/2011/02/
sanscritoprotolinguaphilip-glass.html?zx=dd711646a2efd0fb
20
Morfologia da Língua Portuguesa
formação e a evolução das línguas, a partir da pressuposição de que as
mudanças linguísticas eram fenômenos naturais. Dessa forma, fazia oposição
à concepção de fixidez da língua, defendida pela gramática grego-latina.
Posteriormente, já no final do século XVIII e início do século XIX, com a
evolução das reflexões sobre os estudos linguísticos, alguns estudiosos
começaram a romper com a visão historicista dos fatos língua. Aí, surgem as
ideias de Ferdinand de Saussure, que contribuem definitivamente para que os
estudos linguísticos investigassem o mecanismo pelo qual a língua funciona, como
meio de comunicação, e a descrição da estrutura que caracteriza a língua.
Saussure conceituou a língua como sistema e estabeleceu o estudo
descritivo desse sistema. Também definiu o objeto da linguística stricto sensu
- a língua - e considerou a linguagem como um fenômeno unitário em que
vários elementos se interrelacionam. Estabeleceu ainda, do ponto de vista
metodológico, as dicotomias básicas: língua X fala; sincronia x diacronia; eixo
sintagmático x eixo paradigmático.
Surgia assim o Estruturalismo como método linguístico (SILVA; KOCH,
1987).
Saiba mais...
O método estruturalista de Saussure
O método estruturalista foi usado nos estudos linguísticos pela primeira vez pelo
suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) em sua obra póstuma, editada por alunos,
‘Curso de Linguística Geral’.
Nesta obra, Saussure fornece as bases teóricas para duas importantes ciências do
século XX: a Linguística Estrutural e a Semiologia, ou ciência dos signos.
As teorias de Saussure podem ser explicadas por meio de quatro dicotomias. A primeira
diz respeito a duas formas de se abordar a linguagem: Língua: o aspecto social da
linguagem. X Fala: o aspecto individual da linguagem.
A segunda refere-se a tipos de estudos da linguagem: Linguística sincrônica (estática
ou descritiva): estuda a constituição da língua (fonemas, palavras, gramática, etc.)
num dado momento. X Linguística diacrônica (evolutiva ou histórica): estuda as
mudanças da língua através dos tempos.
A originalidade de Saussure foi propor um estudo da língua enquanto sistema social
de um ponto de vista sincrônico, não histórico, como vinha sendo feito antes. Ele
também propôs o nome de semiologia, ou estudo do signo linguístico, que contém:
Significante: a expressão material do signo, como o som da palavra "árvore" ou a
imagem da palavra escrita no papel. X Significado: o conceito que o significante
21
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
representa ou o conteúdo do signo, uma idéia, como a árvore que eu imagino ao ouvir
ou ler a palavra escrita.
A palavra estrutura não aparece na obra do linguista suíço, mas se faz presente no
conceito de sistema, que quer dizer uma análise estrutural que inclui o estudo da
língua em suas relações internas, conforme a terceira dicotomia: Eixo sintagmático:
um termo só é compreendido em oposição (relação) a outro termo. Ex.: "O semáforo
está verde". X Eixo paradigmático: o termo é associado a outros, presentes na memória.
Ex: Na frase anterior, ao invés de semáforo, uso "sinal" e ao invés de "está verde",
"abriu" ? "O sinal abriu".
Saussure inaugurou o método estruturalista de análise ao entender a língua como
estrutura subjacente e como sistema cujos elementos são solidários entre si (e que,
somente assim, adquirem valor e sentido), vista de uma perspectiva não histórica.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/estruturalismo-quais-as-origens-desse-
metodo-de-analise.jhtm
Certamente, você está percebendo que, quase todos os conceitos que
estão sendo apresentados aqui, já foram estudados em disciplinas anteriores.
Portanto, caso sinta necessidade de maiores esclarecimentos, retome os textos
das disciplinas de Linguística I e II e faça uma leitura atenta e cuidadosa.
Você deve estar lembrado das concepções fundamentais da corrente
estruturalista, já estudadas nas disciplinas de Linguística.
Vamos, então, apenas relembrá-las:
2.1 Língua e fala
Na perspectiva estruturalista, a língua é um conjunto de convenções
que uma comunidade estabelece para se comunicar. Pressupõe-se que ela
está depositada na mente de cada um dos falantes dessa comunidade
linguística, sendo, por isso, um produto social que tem natureza homogênea.
O usuário da língua obedece às regras linguísticas, que foram aprendidas na
comunidade e que são comuns a todos os falantes.
A língua é, também, ao mesmo tempo, um sistema organizado de
elementos que respeitam as regras internas estabelecidas. É, na verdade,
um sistema de valores em que seus elementos assumem identidade quando
se opõem uns aos outros no interior desse sistema. Ou seja, a identidade dos
22
Morfologia da Língua Portuguesa
elementos do sistema é estabelecida a partir das relações desses
componentes com outros elementos ali presentes.
Saussure explica essa ideia de definição da língua através de uma
comparação com o jogo de xadrez. Com certeza, você está lembrando a
discussão sobre esse exemplo que lhe foi apresentado na disciplina Linguística
II, não é mesmo?
O linguista suíço definia a língua como um sistema de signos e de leis
combinatórias e a fala como a realização concreta desse sistema. E, ao
mesmo tempo, que ele reconhecia a interdependência entre língua e fala,
considerava a língua como o objeto strictu senso da Linguística, procurando
entender e descrever sua estrutura interna.
Saussure nos explica que, como no jogo de xadrez, o valor dos
elementos da língua depende da posição ocupada no sistema (no tabuleiro
do jogo). Cada termo tem seu valor por oposição a todos os outros termos
(SAUSSURE; 1996).
2.2 Eixo sintagmático e eixo paradigmático
Quando falamos estamos usando a língua e, para isso, precisamos
relacionar as unidades linguísticas de acordo com as regras do sistema.
Você já sabe que essas relações podem ser de dois tipos, conforme
nos explica F. de Saussure (1996): são as relações paradigmáticas e as
relações sintagmáticas.
As relações paradigmáticas são aquelas que acontecem no eixo da
seleção. Referem-se às escolhas que fazemos de um elemento em exclusão
a outro(s) que poderia(m) ocupar o mesmo ponto do continuum da fala.
Exemplo: A menina fala muito.
 - criança - - - garota - -
23
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
No eixo paradigmático ocorrem relações in absentia, ou seja, são
relações estabelecidas entre unidades que não estão presentes no discurso.
Conforme Silva e Koch (1987), os paradigmas consistem em inventários de
elementos linguísticos agrupadosconforme critérios pré-estabelecidos:
fonológicos (fonemas), morfológicos (classes de palavras), sintáticos (funções
gramaticais), semânticos (sinonímias, antonímias), etc.
A outra forma de relacionar as unidades linguísticas, são as relações
sintagmáticas.
As relações sintagmáticas são as que acontecem no eixo da
combinação nos arranjos que fazemos de um elemento com outro(s). Essas
relações são in presentia, ou seja, a presença de uma unidade linguística
pressupõe a presença de outra(s) e, portanto, podemos observá-las
diretamente no encadeamento do enunciado.
No exemplo acima, são sintagmáticas as relações entre ‘a’ ‘menina’
‘fala’ ‘muito’. Porém, nesse mesmo enunciado existem, em cada ponto,
possibilidades de substituição: ‘aquela’, ‘essa’, por exemplo, podem compor
o mesmo contexto de ‘a’. E, o mesmo acontece com ‘menina’, ‘criança’ e
‘garota’.
Ex: A menina fala muito. Ex: A menina fala muito.
 Aquela criança
 Essa garota
Exemplo: /f/ ala Exemplo: acord-a
 /k/ ala -ou
 /b/ ala -va
Exemplo: A menina fala muito.
 (A + menina + fala + muito.)
24
Morfologia da Língua Portuguesa
Sintetizando:
Quando falamos, estamos usando o sistema linguístico de acordo com
dois eixos: o sintagmático e o paradigmático. Isso porque sempre fazemos
escolhas (que potencialmente poderiam ser outras, ou seja, poderiam então
ser substituídas) e fazemos combinações (possibilidades de arranjos de
acordo com as regras do sistema linguístico).
Veja o exemplo abaixo: o desenvolvimento do processo de criação
de um slogan publicitário, obviamente usando nosso sistema linguístico,
também exige o movimento nos dois eixos: sintagmático e paradigmático.
Fonte: http://carocodejaca.files.wordpress.com/2010/
03/grafico_slogan-band.jpg?w=500
2.3 Sincronia e Diacronia
A partir de exemplos com eixos, Saussure também estabeleceu uma
outra importante distinção. Agora entre os métodos de investigação linguística.
O linguista usou, nesse caso, os eixos da sucessividade e da simultaneidade
para explicar a diacronia e a sincronia.
Vejamos:
Tomando o eixo da sucessividade, temos a possibilidade de
representar os fenômenos que se modificam com o passar do tempo.
25
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
Na sequência de quadrinho de uma tirinha, podemos perceber a
evolução de cenas de uma mesma história.
Fonte: http://clubedamafalda.blogspot.com/2006_01_01_archive.html
Observe que a sucessividade dos quadrinhos nos mostra que eles
não estão isolados, eles fazem parte de uma sequência. Os quadrinhos se
alteram pouco a pouco, nos apresentando uma sequência lógica e organizada
das cenas de uma história.
Assim também ocorre com os fenômenos linguísticos, que se
modificam paulatinamente, alterando o contexto, e, portanto, também o
sistema.
26
Morfologia da Língua Portuguesa
Observando um contexto mais amplo e geral, percebemos que os
fenômenos linguísticos, assim como as cenas da tirinha, também se modificam
e determinam a passagem de um estado a outro da língua.
Exemplo:
A evolução dos pronomes:
vossa mercê ? ‘vossemecê’ ? ‘vossânce’ ? você
Já no eixo da simultaneidade, tratamos da representação das relações
entre elementos existentes no contexto em um dado momento. O interesse
não é mais na sucessão de cenas dos quadrinhos, pois o que importa é o
quadro em um dado momento: a simultaneidade dos elementos e suas
relações em um único quadrinho.
O que importa é: o entendimento e a descrição dos elementos e da
forma como eles se organizam em uma cena – personagens, posições, objetos,
relações entre eles, etc.
Assim também ocorre com os fenômenos linguísticos.
A língua é considerada um conjunto de fatos estáveis, estudados como
elementos de um sistema que funciona em um determinado momento do
tempo.
Fonte: http://clubedamafalda.blogspot.com/2006_01_01_archive.html
27
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
Portanto, enquanto nos estudos diacrônicos há uma preocupação de
entender e descrever a evolução dos fenômenos da língua, comparando
estados diferentes em diferentes momentos. Nos estudos sincrônicos, a
preocupação é no entendimento e na descrição de um determinado estado
da língua em um dado momento. O estudo se dá acerca dos elementos e das
relações estabelecidas em um determinado tempo.
2.4 A dupla articulação
Segundo os estudos do linguista A. Martinet, todo enunciado linguístico
se articula em dois planos.
No primeiro plano, o enunciado é dividido em unidades significativas:
É o que chamamos de primeira articulação da linguagem.
Por exemplo, nós sabemos que podemos dividir um enunciado em
frases, vocábulos e morfemas.
Vejamos:
Exemplo:
O enunciado ‘Nós falávamos bem’ divide-se em três vocábulos:
nós – falávamos – bem.
‘nós’ e ‘bem’ são indivisíveis em unidades menores,
‘falávamos’ decompõe-se em quatro morfemas
‘fal – á – va – mos’.
Morfemas = unidades mínimas significativas.
Exemplo retirado de:
SILVA, Maria Cecília P. de Sousa e; KOCH, Ingedore Villaça.
Linguística Aplicada ao Português: Morfologia. 4 ed. São Paulo: Cortez, 1987.
Exemplo:
A variação no português falado do Brasil:
‘você’, ‘ocê’ e ‘cê’.
28
Morfologia da Língua Portuguesa
As unidades mínimas significativas, os morfemas, são aquelas que
não são divisíveis, sob pena de perderem o significado na estrutura linguística.
E, cada uma dessas unidades significativas pode ser substituída no eixo
paradigmático e pode ser recombinada no eixo sintagmático:
Exemplo:
‘Nós falávamos bem’ [fal – á – va – mos]
‘Nós falaremos bem’ [fal – a – re – mos]
Exemplo:
‘Nós falávamos bem’ [fal – á – va – mos]
‘Nós jogávamos bem’ [jog – á – va – mos]
Na segunda articulação, cada, morfema, ou seja, unidade mínima
significativa se articula em unidades ainda menores, agora desprovidas de
significado: são os fonemas. E, cada um desses fonemas também pode ser
substituído, no eixo paradigmático, e recombinado no eixo sintagmático:
Exemplo:
‘Nós’ /n/ /ó/ /s/
‘não’ /n/ /ã/ /o/
‘ano’ /a/ /n/ /o/
No seu capítulo sobre a Dupla Articulação, Martelotta (2009), pontua
que a linguagem humana é considerada articulada porque seus enunciados
se apresentam passíveis de divisão. Por exemplo, os radicais, as vogais
temáticas, os prefixos, os sufixos e as desinências constituem as menores
unidades dotadas de significado em uma língua e são denominados de
‘morfemas’. Entretanto, existem as unidades ainda menores que os morfemas:
29
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
os fonemas. E, esses têm a função de distinguir significados entre as palavras,
mesmo não possuindo significado próprio.
Assim, o termo “dupla articulação” atribuído à linguagem faz sentido uma
vez que a linguagem humana manifesta-se através de sentenças constituídas de
dois tipos diferentes de unidades mínimas: os morfemas e os fonemas.
Visto de um outro prisma, a dupla articulação da linguagem possibilita
uma economia de esforços do usuário da língua na comunicação verbal. Sem ela
teríamos que lançar mão de diferentes e incontáveis unidades linguísticas -
morfemas e fonemas - para expressar
novos conteúdos. No entanto, com
esse artifício linguístico, precisamos
de um conjunto limitado e não muito
extenso de fonemas e morfemas para
expressarmos qualquer ideia,
bastando para isso usarmos as
incontáveis possibilidades de
combinações.PARA VOCÊ NÃO ESQUECER
1) A língua é um sistema de signos e de leis combinatórias e a fala é
a realização concreta desse sistema.
2) Usamos o sistema linguístico de acordo com dois eixos: o eixo
paradigmático, no qual fazemos seleção, escolhas e o eixo sintagmático, em
que fazemos combinações, arranjos.
3) Os estudos diacrônicos objetivam entender e descrever a evolução
dos fenômenos da língua, comparando diferentes estados em diferentes
períodos. E, os estudos sincrônicos objetivam entender e descrever os
elementos linguísticos e as relações estabelecidas por eles em um
determinado momento do tempo.
Saiba mais...
A terminologia usada para designar as unidades de
primeira articulação varia muito. André Martinet designa-
as de ‘monemas’, e as diferencia dos lexemas – que,
para ele, são monemas que se situam no léxico, e
morfemas são os que se situam na gramática.
Já a Linguística norte-americana, de um modo geral,
chama os ‘monemas’ de ‘morfemas’, distinguindo os
morfemas lexicais (que se situam no léxico): /cant-/ dos
morfemas gramaticais (que se situam na gramática): /-a-
/ /-va/. (SILVA; KOCH, 1987, p.12).
4) A linguagem humana é considerada articulada porque seus
enunciados se apresentam passíveis de divisão. A dupla articulação da
linguagem manifesta-se através de sentenças constituídas de dois tipos
diferentes de unidades mínimas: os morfemas e os fonemas. A dupla
articulação da linguagem é o que possibilita uma economia de esforços do
usuário da língua na comunicação verbal.
OBJETIVOS
• Diferenciar a estrutura da frase da estrutura dos vocábulos, definindo formas
livres, presas e dependentes e morfemas.
• Reconhecer a comutação como uma operação contrastiva entre elementos.
• Entender os processos de alomorfia e neutralização.
• Diferenciar os morfemas lexicais e dos tipos de morfemas gramaticais,
compreendendo suas especificidades na língua.
UNIDADE 3
PRINCÍPIOS DA ANÁLISE MÓRFICA
33
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
3 Princípios da Análise Mórfica
Podemos fazer a análise de um enunciado a
partir de dois níveis diferentes de funcionamento:
• o nível da frase, em que temos as unidades
linguísticas do enunciado: formas livres, presas e
dependentes, e
• o nível do vocábulo, em que encontramos
as unidades mínimas significativas: morfemas.
3.1 O vocábulo formal
Leonard Bloomfield definiu o vocábulo formal
ou morfológico no nível de frase. E, baseado nele,
Mattoso Câmara Jr. nos trouxe esse conceito com
ampliação.
Segundo Bloomfield, as unidades formais de
uma língua são de natureza ‘livres’ e ‘presas’. As
formas livres são aquelas formas que podem
funcionar isoladamente garantindo comunicação
suficiente e as formas presas são as que funcionam
apenas quando ligadas umas às outras.
o suficiente.
Exemplo:
As formas livres constituem uma sequência
que pode funcionar isoladamente, como
comunicação suficiente no enunciado:
“- O que você vai revender?
- Livros.”
Saiba mais...
Leonard Bloomfield - (1887 – 1949)
Filólogo estadunidense nascido em
Chicago, considerado o fundador da
linguística estrutural e cujas teorias
formaram uma das bases sobre o
assunto.
Fundou a Sociedade Linguística da
América (1924) e iniciou-se como
pesquisador de línguas indo-
européias e depois em ameríndias,
especializando-se na fala como um
fenômeno e na linguística diacrônica.
Seus principais livros foram An
Introduction to the Study of Language
(1914) e Language (1933), um livro
em que sintetizou a teoria e prática
de análise linguística e é considerado
seu trabalho principal, para muitos.
É um texto clássico de linguística
estrutural.
Em muitos estudos é considerado,
junto com o linguista Edward Sapir
(1884-1939), um precursor do
Estruturalismo Americano, seguido
por seu discípulo, o linguista de
religião judaica, Zellig Sabbetai Harris
(1909-1992).
Fonte: http://www.netsaber.com.br/
biografias/ver_biografia_c_2589.html
34
Morfologia da Língua Portuguesa
Atente para a forma ‘livros’. É uma forma livre porque funciona
isoladamente no enunciado e traz em si comunicação suficiente.
E, veja que ‘re’ é uma forma presa, porque funciona ligada a outra
forma ‘vender’.
Assim também é uma forma presa a marca de plural ‘s’, em ‘livros’.
(SILVA; KOCH, 1987, p.18).
Percebendo que algumas partículas proclíticas e enclíticas, em
português, como artigos, preposições, pronomes átonos e outras ficavam de
fora da conceituação, Joaquim Mattoso. Câmara Júnior introduziu um terceiro
conceito: o de formas dependentes.
As formas dependentes são aquelas que funcionam ligadas às formas
livres, mas que se distinguem delas porque não podem funcionar isoladamente
como comunicação suficiente. E, se diferenciam das formas presas porque
têm a possibilidade de intercalação de novas formas e também de variação
de posição na frase.
Exemplo:
“As notícias da falsificação do jornal espalharam-se rapidamente”
“As notícias verdadeiras e chocantes da falsificação do jornal se
espalharam rapidamente”
Podemos verificar que foram intercalados dois vocábulos entre
‘notícias’ e ‘da’ e que o pronome ‘se’ passou para a posição proclítica. Ou
seja: as formas ‘as’, ‘da’, ‘do’ e ‘se’ são formas dependentes, pois não
trazem comunicação suficiente – como as formas livres – e não funcionam
somente ligadas a outras formas – como as presas (por exemplo, como: ‘-
s’ e ‘-mente’). Elas admitem intercalação de novas formas (‘verdadeiras e
35
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chocantes’), assim como variação de posição (como o ‘se’), portanto são
consideradas formas dependentes.
(SILVA; KOCH, 1987, p.18-19).
A partir daí, M. Câmara ampliou o conceito
de vocábulo formal ou morfológico elaborado por
Bloomfield. Enquanto o linguista norte americano
entendia o vocábulo formal como a unidade a que
chegamos quando não é mais possível uma nova
divisão em formas livres e presas. Para M. Câmara,
chegamos a um vocábulo formal quando não é
possível a divisão da frase em duas ou mais formas
livres ou dependentes.
 Aqui é preciso entender que não devemos
confundir o conceito de formas livres, presas e
dependentes com o conceito de morfemas.
As formas se definem no nível da frase, ou
seja, no funcionamento das unidades linguísticas do
enunciado. E, os morfemas se definem no nível de
vocábulos, ou seja, na possibilidade ou não de sua
divisão em unidades mínimas significativas ou
unidades de primeira articulação.
Sintetizando:
Ao analisar um enunciado podemos partir de
duas estruturas:
• da frase, em que encontramos as unidades
formais da língua: formas livres, formas presas e
formas dependentes;
• do vocábulo, em que encontramos as unidades mínimas significativas
da língua: morfemas.
Saiba mais...
Joaquim Mattoso Câmara Jr (1904 -
1970)
Joaquim Mattoso Câmara Junior foi o
grande pioneiro da linguística descriti-
va no Brasil. Ministrou o primeiro curso
de linguística do Brasil, na Universida-
de do Distrito Federal (1938 e 1939) e
depois na Universidade do Brasil, a par-
tir de 1948. Sua contribuição é muito
importante na divulgação das teorias
linguísticas no Brasil. E, como resulta-
do de seus cursos surgiu o primeiro
manual de linguística do Brasil: Princí-
pios de Linguística Geral, (1942). Suas
primeiras pesquisas sobre a fonologia
do português, influenciadas pela Esco-
la de Praga, deram origem ao livro: Para
o estudo da fonêmica português (1953).
Fonte: http://www.comciencia.br/repor-
tagens/linguagem/ling15.htm
36
Morfologia da Língua Portuguesa
Os morfemas são as unidades da primeira articulação da linguagem.
São as unidades mínimas significativas e essa significação pode ser lexical
ou gramatical.
A análise que aqui estudaremos consiste na depreensão e no
funcionamento dos morfemas lexicais e gramaticais que constituem o vocábulo
formal em português.3.2 Princípio básico da análise mórfica
A análise mórfica é a descrição da estrutura do vocábulo mórfico. E
consiste na depreensão das suas formas mínimas – ou seja, dos morfemas –
de acordo com a significação e a função que cada um deles assume na
significação e função total do vocábulo.
Vejamos:
Exemplo:
Em ‘cantaremos’, temos uma significação global do vocábulo
indicando que:
- pessoas, incluindo entre elas o falante (=> nós),
- em um momento posterior ao da enunciação (=> futuro),
- estarão empenhados na emissão vocal peculiar que se entende
em língua portuguesa pelo morfema lexical (ou, pelo radical) /cant-/ (=>
cantar).
(SILVA; KOCH, 1987, p.20).
Você deve estar se perguntando como depreendemos os morfemas...
Para depreendermos um morfema de um dado vocábulo, utilizamos
o princípio básico da análise mórfica: a comutação.
Comutação é uma operação contrastiva de elementos, que fazemos
por meio de permuta, e para isso procedemos:
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a) Segmentando o vocábulo em subconjuntos e
b) Compondo a pertinência paradigmática entre os subconjuntos que
podem ser permutados.
Vejamos como operamos o princípio da comutação:
Exemplos:
38
Morfologia da Língua Portuguesa
3.3 Alomorfia
Todo morfemas na língua está ligado a uma forma e a um significado.
Porém, é importante termos conhecimento de que essa forma nem sempre é
imutável. Observamos que, às vezes, em determinados ambientes, ocorrem
variações sem que o morfe deixe de ser o mesmo
Vejamos:
Exemplos
Bola-s Cantor-es
Garoto-s Atriz-es
O segmento /-s/ representa, de um modo geral, o plural nos nomes
em português, mas sabemos que outros segmentos, como por exemplo, /-es/
também têm essa mesma função.
A essa possibilidade de variação dos morfemas chamamos de
alomorfia: /-es/ é um alomorfe de /-s/.
39
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Exemplos:
 Pedr -a
 Pedr -eiro
 Pedr -aria
 Pedr -ada
....Petr -ificar
No paradigma acima, depreendemos o
morfema lexical ‘pedr-‘. No entanto, percebemos
uma variação que conserva o mesmo significado:
‘petr-‘ é uma variação mórfica, é um alomorfe.
O alomorfe se diferencia da norma, ou seja,
trata-se de uma possibilidade de variação que
ocorre em bem menor frequência e é chamado de
alomorfe.
Segundo Monteiro (1991), o critério de
identificação do alomorfe equivale ao da
produtividade do morfema. No exemplo acima,
verificamos que ‘pedr-’ é uma forma mais produtiva,
portanto é a norma, sendo ‘petr-’ um alomorfe.
3.4 Neutralização
Um outro fenômeno que se apresenta para
nós, na análise mórfica, é o fenômeno da
neutralização.
A neutralização que consiste na perda da
oposição entre unidades significativas diferentes.
Saiba mais...
Segundo Silva e KOCH (1987), alguns
linguistas restringem a terminologia
‘morfema’ no nível de língua, conside-
rando-o como valor abstrato da
estruturação linguística. Já em nível da
fala, para eles, estariam os ‘morfes’, a
realização dos ‘morfemas’.
Conforme esses linguistas, existe um
morfema correspondente à significação
gramatical de plural /-s/ que se atuali-
za através dos morfes /-s/ /-es/, etc. E
cada um desses morfes é um alomorfe.
Por exemplo:
Canta-ria-Ø
Canta-ria-s
Canta-ria-Ø
Cantaría-mos
Canta-ríe-is
Canta-ría-m
Do mesmo modo, há um morfema gra-
matical correspondente à significação
gramatical de futuro do pretérito do
indicativo, que se atualiza através dos
morfes /-ria/ e /-rie/.
/-rie/ é um alomorfe de /-ria/.
Para as autoras, do ponto de vista pe-
dagógico, parece mais adequado con-
siderar morfema o significante mais
usual e sistemático na língua (forma
básica) e os demais como variantes ou
alomorfes.
40
Morfologia da Língua Portuguesa
Exemplo:
Existe neutralização entre a 1ª e a 3ª pessoas gramaticais em vários
tempos verbais:
cantava – cantava
Eu cantava-Ø Ele cantava-Ø
cantaria – cantaria
Eu cantaria-Ø Ele cantaria-Ø
cantara – cantara
Eu cantara-Ø Ele cantara-Ø
Exemplo:
Em alguns verbos, a neutralização entre a 2ª e a 3ª conjugação se
dá em decorrência da perda de tonicidade da vogal temática, ou seja, a
oposição entre essas conjugações desaparece quando a vogal temática
é átona final:
TemEr PartIr
Tu temes Tu partes
Ele teme Ele parte
Eles temem Eles partem.
PARA VOCÊ NÃO ESQUECER
1) Podemos analisar um enunciado a partir de duas estruturas: • a
estrutura da frase, em que encontramos as unidades formais da língua: formas
livres, presas e dependentes; • a estrutura do vocábulo, em que encontramos
as unidades mínimas significativas da língua: os morfemas.
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2) Os morfemas são as unidades mínimas significativas da língua e
podem ser morfemas lexicais ou morfemas gramaticais.
3) A comutação é uma operação contrastiva de elementos, que
fazemos por meio de permuta, e para isso procedemos: • segmentando o
vocábulo em subconjuntos e • compondo a pertinência paradigmática entre
os subconjuntos que podem ser permutados.
4) Todo morfema está ligado a uma forma e a um significado. Porém,
em determinados ambientes, ocorrem variações a forma se altera sem que
haja mudança de significado. A essa possibilidade de variação dos morfemas
chamamos de alomorfia.
5) A neutralização consiste na perda de oposição entre unidades
significativas diferentes. Como, entre a 1ª e a 3ª pessoa gramatical em vários
tempos verbais, por exemplo: Eu cantava-Ø – Ele cantava-Ø.
Exercícios
1) Se você concordar com cada uma das afirmações abaixo, coloque um
exemplo que a comprove. Caso contrário, reescreva-a de modo a transformá-
la em uma afirmação correta.
a) As partículas enclíticas e proclíticas em português não são vocábulos
mórficos.
..............................................................................................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................................................................................
b) Tem-se alomorfia quando a forma é a mesma, apenas o significado varia.
..............................................................................................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................................................................................
c) Para dividir o vocábulo em cada um dos segmentos que o constituem,
baseamo-nos no princípio da comutação.
42
Morfologia da Língua Portuguesa
..............................................................................................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................................................................................
d) Morfema lexical funciona como base de significado, servindo para formar
outras palavras na língua.
............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
e) Morfema gramatical tem a função de enquadrar o morfema lexical dentro
de categorias da língua.
..............................................................................................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................................................................................
(SILVA; KOCH, 1987)
3.5 Tipos de morfemas
3.5.1 Morfemas lexicais
Os morfemas lexicais são aqueles que trazem em si uma significação
externa ao mundo gramatical, ou seja, trazem uma significação que se refere
ao mundo extralinguístico:
3.5.2 Morfemas gramaticais
Os morfemas gramaticais trazem em si uma significação interna, uma
significação gramatical.
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E, podem ser classificados em quatro tipos: classificatórios, flexionais,
derivacionais e relacionais.
3.5.2.1 Morfemas classificatórios
São aqueles constituídos pelas vogais temáticas. Eles têm a função
de enquadrar os vocábulos em classes de nomes (substantivos e adjetivos) e
de verbo.
Daí a sua subdivisão em:
• morfemas classificatórios nominais /-a, -e, -o/
• morfemas classificatórios verbais /–a, -e, .i./.
Exemplos:
Morfemas classificatórios nominais:
vida, terra, menina
pedestre, decente, triste
feio, gato; cachorro
Morfemas classificatórios verbais:
cantar; gritar; viajar
correr; vender; fazer
sair; cair; partir
As vogais temáticas têm também a função de formar a base para a
anexação dos morfemas flexionais;
Exemplos:
Lindo à lindo+a à linda
Cantar à cant+a+vá + mos à cantavámos
44
Morfologia da Língua Portuguesa
Atentemos que a ausência de vogal temática em alguns nomes cria
as formas atemáticas nas palavras terminadas com consoantes e vogais
tônicas, que são incorporadas aos morfemas lexicais.
Exemplos:
mal; flor; lei; atriz; mulher; fé; cipó; ímã
3.5.2.2 Morfemas flexionais
Os morfemas gramaticais flexionais alteram os morfemas lexicais,
garantindo a adaptação necessária à expressão das categorias gramaticais
que sua classe admite:
• nos nomes: a flexão de gênero e de número
• nos verbos: a flexão de modo e tempo e de número e pessoa
São cinco os morfemas flexionais em português:
• aditivos,
• subtrativos,
• alternativos,
• morfema zero e
• morfema latente.
a) Morfema aditivo
São aqueles que representam o acréscimo de um ou mais fonemas
ao morfema lexical.
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Exemplos:
rapaz – rapazes
professor – professora
Vejamos que os segmentos adicionados /-es/ e /-a/, indicam
respectivamente as noções gramaticais de gênero e número.
Segundo Silva e Koch (1987), nessa classe, existe ainda um tipo
específico de morfemas: os morfemas aditivos cumulativos, que resultam
da acumulação de mais uma noção gramatical em uma forma linguística
indivisível e que são constantes nos verbos portugueses.
Exemplos:
amáramos, bebêramos e partíramos
nos segmentos aditivos cumulativos:
/-ra/ ? temos a indicação de modo que se acumula com a indicação de tempo;
/-mos/ ? temos a indicação de número que se acumula com a indicação de
pessoa.
b) Morfema subtrativo
Trazem a significação gramatical por meio de uma supressão de um
segmento fônico do morfema lexical.
Exemplo:
órfão à órfã
comumente, a noção de feminino aparece indicada através da adição de
um morfema à forma masculina, processo básico na formação de gênero
em português, como em:
gato à gato+a à gata
Porém, nesse caso, a noção de feminino, decorre da subtração de
elemento dessa forma:
órfão à órfão – o à órfã
c) Morfema alternativo
Os morfemas alternativos resultam da alternância de um fonema no
interior do vocábulo. Entre os nomes, a vogal tônica /-ô/ do masculino singular
pode alternar-se com o /-ó/ no feminino e no plural:
Observe que a alternância dos nomes é um traço morfológico
secundário. Ela apenas complementa a flexão de gênero e número. Pois, além
das marcas /-s/ e /-a/, a formação do número e do gênero carrega,
respectivamente, a alternância vocálica /-ô/ - /-ó/ como traço redundante. Trata-
se de uma função unicamente subsidiária.
A única exceção em português está no par:
Exemplo:
avô – avó e seus derivados
A marca sufixal de feminino está ausente e a indicação de gênero é
representada unicamente pela alternância que passa a ser traço primário
distintivo.
Exemplos:
povo – povos
ovo - ovos
formoso – formosa
generoso – generosa
bondoso - bondosa
d) Morfema zero
Nesse tipo de morfema, temos a ausência de marca para expressar
determinada categoria gramatical. Ele ocorre apenas quando há oposição,
ou seja, quando o morfema lexical isolado assume uma significação gramatical
consequência da ausência do morfema que expressa a significação oposta.
Exemplo:
gato-Ø gat-a
Em ‘gato’, temos: morfema lexical: gat-
 morfema classificatório: -o
 morfema zero: Ø (indicativo de masculino).
Já em ‘gata’, temos, em oposição ao morfema zero, indicativo de
masculino, o morfema aditivo ‘-a’, indicando gênero feminino.
mar mares
mar – Ø mar - es
a ausência da marca de plural /-es/, indica a noção de singular.
professor professora
professor – Ø professor - a
a ausência de marca de feminino /-a/, expressa a noção de masculino.
Sabemos que, em português, o mecanismo gramatical de gênero e
número baseia-se essencialmente em morfemas aditivos que ficam em
oposição a morfemas ø (zero):
-Ø X -a
-Ø X -s
48
Morfologia da Língua Portuguesa
e) Morfema latente ou alomorfe ø
O morfema latente tem em comum com o morfema zero a ausência
de marca. No entanto, o morfema latente ou o alomorfe zero se diferencia
porque não apresenta morfema gramatical próprio para indicar qualquer
categoria. Ele não traz em si o contraste entre as categorias gramaticais.
Exemplos:
Lápis
Pires
Funcionam isolados e inalterados para indicar a significação gramatical
de singular e plural:
O lápis os lápis
O pires os pires
Da mesma forma, podemos registrar:
Artista
Dentista
Funcionam isolados e inalterados para indicar a significação gramatical
de masculino e feminino:
O artista a artista
O dentista a dentista
As significações gramaticais, que estão latentes nos vocábulos, são
reveladas no contexto.
3.5.3 Morfemas derivacionais
Esses morfemas criam novas palavras na língua.
Exemplo: /-eiro/; /-aria/; /-inho/
livr-o livr-aria
livr-eiro livr-inho.
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Os morfemas derivacionais não obedecem a uma sistematização
obrigatória. Assim, a derivação pode aparecer para um dado vocábulo e não
aparecer para outro, ao contrário dos morfemas flexionais.
Exemplo:
Cantar cantar-olar
Falar falar ----
Gritar gritar ----
Enquanto, os morfemas flexionais estão conectados em um paradigma
coeso, com pequeníssima margem de variação, os morfemas derivacionais
encontram-se, comumente, formando um quadro irregular, com imprecisões.
Como visto acima, nem todos os verbos no português apresentam
nomes deles derivados e, para os derivados existentes, os processos sãodesconexos e variados:
Exemplos:
falar ? fala
consolar ? consolo; consolação
julgar ? julgamento
vender ? venda
Verificamos que:
Os morfemas derivacionais não obedecem a uma regularidade.
Por isso, temos morfemas como -ção, -mento, entre outros, não têm a
mesma função.
São morfemas derivacionais porque formam palavras que
enriquecem o léxico, servindo como base para derivações posteriores e
possibilitando ao falante a escolha de uma forma vocabular.
gato → gata
garota → garotas
cantar → cantava
vender → vendíamos
50
Morfologia da Língua Portuguesa
Verificamos que:
Os morfemas como: /-s/, /-a/ ou /-va/, /-mos/ são caracterizadores
de número e gênero nos nomes e de modo e tempo, número e pessoa nos
verbos. São morfemas flexionais, ou seja, são elementos de caracterização
exclusiva e sistemática e não servem de base para as formações
derivacionais posteriores.
Da derivação resulta um novo vocábulo e entre os vocábulos derivados
similares existem relações abertas, que caracteriza o léxico de uma língua.
Já no que se refere à significação gramatical de flexão, são
estabelecidas relações fechadas, caracterizadas por alto teor de regularidade
de seus padrões, mesmo que possuam muitas complexidades.
Exemplos:
Nos nomes, fazemos o feminino: /-Ø/ ? /-a/
gato-Ø gat-a
boneco-Ø bonec-a
E, fazemos o plural: /-Ø/ ? /-s/
gato-Ø gato-s
boneco-Ø boneco-s
Nos verbo, temos o paradigma do presente do indicativo, de 1ª
conjugação:
-o cant-o
-as cant-as
-a cant-a
-amos canta-mos
-ais canta-is
-am canta-am
O que ocorre em ‘cantar’ no presente do indicativo, ocorre para
todos os demais verbos regulares de 1ª conjugação.
51
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Percebemos que as relações são fechadas porque temos paradigmas
delimitados para as flexões: Por exemplo: número - /-Ø/ ? /-s/; gênero - /-Ø/ ?
/-a/; presente do indicativo /–o; -as; -a; -mos; -ais; -am/. Assim, concluímos
que a flexão caracteriza-se, pela regularidade de seus padrões, ainda que
nesses possam ocorrer grande complexidade, como nos verbos irregulares,
por exemplo.
Já na derivação, por se tratar de relações abertas, as idiossincrasias
constituem a regra e a não previsibilidade é uma constante.
Exemplos:
Não existe paradigma delimitado na derivação porque temos
relações abertas:
Comprar ? comprador
Matar ? matador
Ganhar ? ganhador
Ler ? leitor
Estudar ? (*estudador)
Ensinar ? (*ensinador)
Dirigir ? (*dirigidor)
Roubar ? (*roubador)
Verifique que não conseguimos garantir uma regularidade
pertinente como nos verbos. Temos vários exemplos de verbos no
português que não aceitam, por exemplo, o sufixo agentivo ‘-or’ e seus
alomorfes ‘-dor’ ou ‘-tor’ (*estudador; *ensinador; * dirigidor; *roubador)...
Reflita: Uma das incoerências de nossas gramáticas é a inclusão dos
morfemas que caracterizam o grau, aumentativo e diminutivo, como flexionais.
Na realidade, trata-se de um processo derivacional. Portanto, temos flexão
de gênero e número. Grau não é flexão em português
52
Morfologia da Língua Portuguesa
3.5.4 Morfemas relacionais
Os morfemas relacionais ordenam os elementos da frase e
possibilitam a concatenação dos morfemas lexicais entre si.
No entanto, a manipulação desses morfemas pertence à sintaxe, por
isso não ser trabalhada na Morfologia.
Exemplos:
As preposições, conjunções e pronomes relativos.
PARA VOCÊ NÃO ESQUECER
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UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
Exercícios
1) Classifique os dados da língua A:
Ikalveve – casa grande Petatsosol – capacho velho
Ikalsosol – casa velha Petatcin – capacho pequeno
Ikalcin – casa pequena Ikalmeh – casa
Petatveve – capacho grande Petatmeh - capacho
a) Segmente os vocábulos;
b) Identifique quais os elementos que significam: grande, velho,
pequeno
c) Identifique quais os elementos que significam casa, capacho
(Exemplos retirados de SILVA; KOCH, 1987)
2) Classifique os morfemas flexionais apresentados nos vocábulos
abaixo:
a) CantavaØ - cantávamos
b) Ovo – ovos
c) Mão – mãos
d) Rigoroso – rogorosa
e) Filha – filhas
f) O lápis – os lápis
g) Artesão – artesã
OBJETIVOS
• Diferenciar os vocábulos da língua portuguesa por sua estrutura.
• Compreender e explicar as diferenças entre os processos de formação de
vocábulos, a partir de uma visão sincrônica da língua.
UNIDADE 4
ESTRUTURA E FORMAÇÃO DOS VOCÁBULOS
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4 Estrutura e formação dos vocábulos
4.1 Estrutura
Partindo das definições já discutidas nos capítulos anteriores,
sabemos que:
• a análise mórfica restringe-se à decomposição dos morfemas
lexicais e gramaticais (classificatório, flexionais e derivacionais);
• pela análise mórfica temos condições de determinar a estrutura dos
vocábulos em português.
Tomando por base a classificação da estrutura dos vocábulos em
português de Silva e Koch (1987), temos vocábulos que apresentam:
1. Apenas um morfema lexical:
Exemplos:
Azul – azul
Mar – mar
Feliz – feliz
2. Morfema lexical (± vogal temática) + morfemas flexionais:
Exemplo:
Alunas – alun+a+s
Garotos – garot+o+s
Cantávamos – cant+a+va+mos
3. Morfema lexical + morfemas derivacionais (± morfemas flexionais):
3.1 prefixo(s) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais):
Exemplos:
infeliz – in+feliz
58
Morfologia da Língua Portuguesa
destampar – des+tamp+a+r
inaptos – in+apt+o+s
3.2 morfema lexical + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas flexionais):
Exemplos:
Muralha – mur+alh+a
Canteiros – cant+ei_r+o+s
Levantamento – levanta+ment+o
Meninazinhas – menina+zinh+a+s
Observe que nas estruturas acima, o sufixo marca a classe gramatical
e as flexões do vocábulo a que se junta. Como temos em ‘levantamento’ e
‘meninazinhas’ ? a vogal temática existente no vocábulo primitivo (levant-a-r)
e (menin-a) – perde seu valor de morfema ao sofrer o acréscimo do sufixo.
3.3 prefixo(s) + morfema lexical (± elemento de ligação) + sufixo(s) (± vogal
temática) (± morfemas flexionais):
Exemplos:
Infelizmente – in + feliz + mente
Descontentamentos – des + contenta + ment + o + s
4. Morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais) + morfema
lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais):
Exemplos:
couve-flor
guarda-chuva
terç-a-s – feir-a-s
pé-s – de – molequ-e.
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4.2 Formação
Tomando por base esses vários tipos de estrutura dos vocábulos no
português, podemos determinar, seguindo o que nos apresenta Silva e Koch
(1987), os seguintes processos de formação dos vocábulos.
Temos vocábulos que são formas simples e primitivas:
Apenas um morfema lexical:
Exemplos: Azul – azul; Mar – mar; Feliz – feliz
Morfema lexical (± vogal temática) + morfemas flexionais:
Exemplo: Alunas – alun+a+s; Garotos – garot+o+s; Cantávamos –
cant+a+va+mos
Temos vocábulos simples, mas derivados. São os de estrutura:
morfema lexical + morfemas derivacionais (± morfemas flexionais):
Prefixo(s) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais):
Exemplos: infeliz – in+feliz; destampar – des+tamp+a+r; inaptos –
in+apt+o+s
Morfema lexical + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas flexionais):
Exemplos: Muralha – mur+alh+a; Canteiros – cant+ei_r+o+s;
Meninazinhas – menina+zinh+a+s
Prefixo(s) + morfema lexical (± elemento de ligação) + sufixo(s) (± vogal
temática) (± morfemas flexionais):
Exemplos: Infelizmente – in + feliz + mente; Descontentamentos – des +
contenta + ment + o + s60
Morfologia da Língua Portuguesa
E, temos aqueles que apresentam mais de um morfema lexical. São
os vocábulos compostos:
Morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais) + morfema
lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais):
Exemplos: couve-flor; guarda-chuva; terç-a-s – feir-a-s; pé-s – de –
molequ-e.
Portanto, para uma análise sincrônica dos mecanismos utilizados na
formação de palavras, consideramos a existência, no português, de palavras
simples e compostas, conforme contenham um ou mais morfemas lexicais.
Assim, as palavras simples podem ser primitivas e derivadas, sendo
as primitivas aquelas que não se originam de outras e servem de base para a
formação das derivadas.
Temos dois grandes processos de formação de novas palavras: a
derivação e a composição.
a) Derivação
A derivação trata da formação de palavras por agregação de afixos a
um morfema lexical. E duas condições são exigidas para que haja derivação:
1ª condição – existe a possibilidade de depreensão sincrônica dos
morfemas componentes. Isso evita que venhamos a considerar derivadas,
palavras como:
Submisso
Perceber
Conduzir
Admitir
Todas as palavras que seriam derivadas de uma pseudoforma livre –
misso-, -ceber-, -duzir-, -mitir-, acrescidas dos prefixos sub-, per-, com-, ad-.
61
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
O que facilmente verificamos se tratar da validade
de um critério diacrônico. No atual estágio da nossa
língua, esses morfemas lexicais não existem.
Portanto, esses vocábulos devem ser considerados
primitivos.
2ª condição – trata da possibilidade do afixo
(prefixo ou sufixo) estar à disposição dos falantes
como forma mínima no sistema, para formação de novos derivados.
Vale alertar que uma maior a produtividade do afixo na língua, facilita
para o usuário da língua tanto formar como aceitar determinadas palavras.
Exemplos:
Os sufixos –mente, -ção, -inho, são de grande produtividade:
Cãozinho calmamente meditação
Menininho tranquilamente interpretação
Bonequinho estranhamente movimentação
Já, ‘-eo’, ‘-ura’ entre outros, apresentam rendimento muito mais baixo.
Férreo feiúra
Róseo branduta
Cumpridas as duas condições da derivação, podemos identificar os
processos de derivação:
a) Prefixal: acréscimo de prefixos ao morfema lexical.
Exemplo:
re-ter
i-legal
sub-tenente
com-por
Saiba mais...
Rolim de Freitas (1979) apresenta um
extenso levantamento dos verdadeiros
prefixos existentes na língua portugue-
sa, a partir de uma visão sincrônica. O
linguista procura reformular os critérios
tradicionais das gramáticas que inclu-
em formas que se prefixaram no latim.
62
Morfologia da Língua Portuguesa
b) Sufixal: acréscimo de sufixos ao morfema lexical.
Exemplos:
sabor-oso
grand-alhão
barc-aça
toqu-inho
c) Prefixal e sufixal: acréscimo tanto de prefixos como de sufixos ao
morfema lexical.
Exemplos:
Des-leal-dade
In-feliz-mente
d) Parassintética: acréscimo simultâneo de um prefixo e um sufixo ao
morfema lexical.
Exemplos:
en-tarde-cer
es-fare-lar
Observe que a derivação parassintética distingue-se da derivação
prefixal e sufixal, porque o prefixo e o sufixo são acrescentados ao mesmo
tempo ao morfema lexical. E, constituem um único morfema gramatical de
natureza descontínua, eles não se manifestam em um mesmo significado
gramatical quando desmembrados, separados.
Exemplos:
 feliz tarde
 In-feliz *entarde
 In-feliz-mente entardecer
 felizmente *tardecer
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A derivação parassintética consiste em um processo de formação de
verbos, em especial daqueles que exprimem mudança de estado:
Exemplos:
Engrossar
Amadurecer
Rejuvenescer
Existem também alguns adjetivos formados por parassíntese
desalmado (des+alma+ado)
b) Composição
Criamos novas palavras pela combinação de outros vocábulos já
existentes na língua, dando origem a um novo significado.
Através do processo de composição, combinamos dois morfemas
lexicais, fazendo uma fusão semântica, que pode ser mais ou menos completa.
Exemplos:
Em ‘guarda-chuva’, o significado de cada elemento persiste com certa
nitidez.
Em ‘pé-de-moleque’, esse significado praticamente desaparece para
dar lugar a outro.
A composição pode dar-se por: justaposição ou por aglutinação.
Na Justaposição, os vocábulos são colocados lado a lado, mantendo
a sua autonomia fonética (o acento e todos os fonemas que os constituem).
Exemplos:
Passatempo
Girassol
Nossa Senhora.
64
Morfologia da Língua Portuguesa
Na aglutinação, os vocábulos se unem em um todo fonético, com um
único acento, ocorrendo também a perda ou alteração de alguns de seus
elementos fonéticos (acento tônico, vogais ou consoantes).
Exemplos:
Planalto
Pontiagudo
aguardente
Deve ficar claro que, do ponto de vista sincrônico, só consideramos a
aglutinação quando for possível a depreensão de dois morfemas lexicais,
portanto, o falante deve ter consciência da existência desses dois morfemas,
caso contrário, não se pode falar em composição.
PARA VOCÊ NÃO ESQUECER
1) A classificação da estrutura dos vocábulos em português é:
I) Apenas um morfema lexical: azul
II) Morfema lexical (± vogal temática) + morfemas flexionais: alun-a-s
III) Morfema lexical + morfemas derivacionais (± morfemas flexionais):
a. prefixo(s) + morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas
flexionais): in-feli
b. morfema lexical + sufixo(s) (± vogal temática) (± morfemas
flexionais): mur-alh-a
c. prefixo(s) + morfema lexical (± elemento de ligação) + sufixo(s) (±
vogal temática) (± morfemas flexionais):in-feliz-mente
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IV) Morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais) +
morfema lexical (± vogal temática) (± morfemas flexionais): couve-flor
2) Os vocábulos podem ter forma:
a) Simples e primitiva
b) Simples e derivada
c) Composta
3) São dois os grandes processos de formação de novas palavras:
a) derivação
b) composição
OBJETIVOS
• Mostrar o processo de flexão de gênero masculino para o feminino.
• Apresentar a mudança de singular para o plural, com os possíveis alomorfes
do morfema {-s}.
UNIDADE 5
A FLEXÃO DO NOME
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PARTE II - ANÁLISE MÓRFICA DO NOME E DO VERBO
5 A flexão do nome
Esta segunda parte do presente trabalho tem por objetivo proceder a
análise mórfica do nome e do verbo, ou seja, mostrar como se processa na
estrutura morfológica a flexão de gênero e de número nos nomes, e de modo-
tempo-aspecto e de número-pessoa nos verbos.
Como vimos, na parte onde tratamos da fundamentação teórica, o
nome se compõe de uma estrutura formada por:
RADICAL + VOGAL TEMÁTICA + DESINÊNCIA NOMINAL DE
GÊNERO + DESINÊNCIA NOMINAL DE NÚMERO.
De acordo com ZANOTTO (1991:55), o nome se caracteriza,
exatamente, por possuir essas duas flexões: GÊNERO (masculino/ feminino)
e NÚMERO (singular / plural).
5.1 A flexão de gênero
Flexionar um nome em gênero, em sua estrutura mórfica, significa
marcá-lo com o morfema {-a}. Daí dizermos que as palavras no feminino são
marcadas quanto ao gênero. Para Silva e Koch (1994:41):
Tal flexão opera através do acréscimo do morfema lexical -a átono
final à forma masculina.
Quando a formamasculina é atemática, há simplesmente o acréscimo
mencionado:
Exemplo:
peru – perua
autor - autora
70
Morfologia da Língua Portuguesa
mas quando tal forma termina em vogal temática como pombo,
parente, essa vogal é suprimida, através de uma mudança morfofonêmica,
decorrente do acréscimo do morfema - a:
pombo – o + a = pomba
parente – e + a = parenta.
Visualizemos, em uma tabela, os exemplos acima, temos:
Tabela 01: Fluxo de Gênero
Da tabela acima, depreendemos que a flexão de gênero, na estrutura
mórfica do nome, realiza-se, em nomes atemáticos (sem vogal temática), pelo
acréscimo de um morfema {-a}, que marca o gênero feminino ver
Exemplo:
peru / perua
ou pela retirada da vogal temática e acréscimo do mesmo morfema {-a}
Exemplo:
parente / parenta
Vale salientar que este processo flexional dá-se em um número
relativamente pequeno de vocábulos.
71
UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
Para CÂMARA JR (1996:91): “É preciso não esquecer, entretanto,
que a flexão de gênero é, em princípio, um traço redundante nos nomes
substantivos portugueses. E muitos não a têm sequer’’.
Com base no que diz CÂMARA JR, podemos afirmar que o gênero
se faz muito mais na estrutura do sintagma nominal do que na estrutura
morfológica, isto é, o processo não é exclusivamente morfológico, mas
morfossintático, uma vez que para SILVA & KOCH (1994:42):
Na realidade, os substantivos mulher e cabra são sempre femininos,
porque podem ser precedidos pelo artigo a; e homem e bode, a eles
semanticamente relacionados, são do gênero masculino, porque podem ser
precedidos pelo artigo o.
Feitas essas considerações, queremos chamar a atenção para dois
pontos que consideramos importantes:
I) as gramáticas escolares fazem uma confusão entre gênero e sexo,
mas precisamos compreender que gênero é uma construção linguística e
diz respeito a palavras,
Exemplos:
‘homem’, ‘pente’, ‘balcão’, ‘cavalo’, ‘menino’
são palavras masculinas porque podem ser precedidas por um artigo
masculino (o, um) e seguidas por um adjetivo também masculino
Exemplos:
‘um homem rico’, ’um pente vermelho’,
‘o balcão novo’, ‘o cavalo bonito’, ‘o menino estudioso’
e sexo diz respeito a uma característica fisiológica dos seres
sexuados.
Gênero é masculino ou feminino; já o sexo é macho ou fêmea.
O substantivo ‘homem’ é do gênero masculino, por sua vez o animal
‘homem’ é macho, o substantivo ‘pente’ é do gênero masculino, mas não é
macho. Portanto, gênero e sexo não significam a mesma realidade;
72
Morfologia da Língua Portuguesa
II) também, há uma confusão entre processo flexional e processo
lexical. O primeiro diz respeito às alterações na estrutura mórfica do
vocábulo para flexionar o gênero (como vimos na tabela 01); o segundo
relaciona-se ao radical das palavras; por exemplo, a palavra ‘bode’ está
para ‘cabra’, assim como ‘pente’ está para ‘mesa’, ou seja, lexicalmente ‘bode’
e ‘cabra’ nada têm em comum no tocante ao gênero porque são formados de
lexemas diferentes (‘bod-‘ e ‘cabr-‘), assim sendo, ‘bode’ não é o masculino
de ‘cabra’ mas o macho de ‘cabra’. (Cf. CÂMARA JR, 1996:88-89 e SILVA &
KOCH, 1996:41-42).
Outro desdobramento dessa confusão entre processo flexional e
processo lexical é o que vemos em gramáticas escolares que dizem que o
feminino de ‘ator’ é ‘atriz’, de ‘poeta’ é ‘poetisa’, de ‘duque’ é ‘duquesa’, por
exemplo. Tanto ‘ator’ como ‘atriz’ são palavras atemáticas, em sua estrutura,
nenhuma delas possui uma marca de gênero, o morfema {-a}, mas a palavra
‘ator’ é masculina porque pode ser determinada e modificada por termos
masculinos (‘o ator famoso’) e ‘atriz’ é uma palavra feminina pelas mesmas
razões (‘a atriz famosa’); sobre o par ‘poeta/poetisa’, podemos dizer que em
ambos o morfema {-a} é vogal temática e que ‘poetisa’ é um vocábulo derivado
de ‘poeta’.
Também, encontramos nas gramáticas escolares, ao tratarem do
gênero, as seguintes designações: comum-de-dois-gêneros, sobrecomuns,
epicenos e heterônimos (ANDRÉ, 1997:112-113; SACCONI, 1999:141-144),
o que, de alguma forma, induz o aluno a pensar que são outros tipos de gêneros,
assim, em nossa língua, as palavras, quanto ao gênero, seriam masculinas,
femininas, comuns- de- dois gêneros, sobrecomuns, epicenos e heterônimos.
Na realidade, qualquer palavra em português ou é masculina ou é feminina (e
somente isso!).
Sobre esse ponto, CÂMARA JR (1996:92) diz que a flexão de gênero
deve ser assim tratada:
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1) Nomes substantivos de gênero único
Exemplos:
(a) rosa, (a) flor, (a) tribo, (a) juriti
(o) planeta, (o) amor, (o) livro, (o) colibri
2) Nomes de 2 gêneros sem flexão
Exemplos:
(o, a) artista, (o, a) intérprete, (o, a) mártir
3) Nomes substantivos de 2 gêneros, com uma flexão aparente
Exemplos:
(o) lobo, (a) loba
(o) mestre, (a) mestra
(o) autor, (a) autora
Do exposto acima, podemos depreender:
i) os nomes ditos sobrecomuns
Exemplos:
(o) cadáver, (o) cônjuge, (a) criança, (a) criatura
os epicenos
Exemplos:
(a) barata macho / (a) barata fêmea,
(o) jacaré macho / (o) jacaré fêmea
e os heterônimos
Exemplo:
(o) bode, (a) cabra, (o) homem, (a) mulher
74
Morfologia da Língua Portuguesa
são nomes de gênero único;
ii) os ditos comum-de-dois-gêneros
Exemplo:
(o,a) artista, (o,a) pianista, (o,a) atleta
de fato,são, também, de gênero único mas usados ora no masculino,
ora no feminino, por essa razão, CÂMARA JR diz que são “nomes de 2
gêneros sem flexão”. Sem dúvida alguma, podemos dizer que o vocábulo ‘o
pianista’ é do gênero masculino, e que ‘a pianista está no gênero feminino
(não esqueça a diferença entre ‘ser’ e ‘estar’);
iii) todos os outros nomes são de dois gêneros
Exemplos:
(o) parente/(a) parenta
(o) menino/(a) menina
PARA VOCÊ NÃO ESQUECER
1) Nome é toda e qualquer palavra que se flexiona em gênero e /ou
número.
2) A estrutura mórfica de um nome é formada por: RADICAL (RAD) +
VOGAL TEMÁTICA (VT) + DESINÊNCIA NOMINAL DE GÊNERO (DNG) +
DESINÊNCIA NOMINAL DE NÚMERO.
3) Dos morfemas da estrutura mórfica, apenas o radical terá que,
obrigatoriamente, realizar-se, os outros morfemas poderão ou não estar
presentes no vocábulo.
4) A flexão de gênero poderá operar-se de duas maneiras: i) pelo
acréscimo do morfema {-a}; ii) pela substituição da vogal temática e, posterior,
acréscimo do mesmo morfema {-a}.
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UESPI/NEAD Licenciatura Plena em Letras Português
5) Em nosso idioma, a flexão de gênero é, de certa forma, redundante
e se dá por meio do já dito morfema {-a}, como, também, dos determinantes
e/ou modificadores.
6) Gênero gramatical e sexo são realidades diferentes; enquanto o
gênero é tratado pela Lingüística, o sexo é estudado pelas Ciências Biológicas.
7) Processo flexional e processo lexical são construções lingüísticas
diferentes: o primeiro trata da flexão de nomes e verbos; o segundo, da
formação de palavras.
8) Quanto à flexão de gênero, podemos dizer que temos palavras de
gênero único e palavras com dois gêneros.
EXERCÍCIOS
Partindo da estrutura morfológica do nome, faça um quadro (como o
da tabela 01) e distribua, nesse quadro, os morfemas que compõem as
palavras abaixo:
a) Bisavô
b) Menino
c) Juiz
d) Gerente
e) Reitor
f) Cliente
g) Sofá
h) Réu
i) Judeu
j) Mulher
k) Dentista
l) Professora
m) Garoto
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Morfologia da Língua Portuguesa
n) Raposa
o) Duquesa
p) Cônjuge
q) Escrivão
r) Juíza
s) Mesa
t) Moça.
5.2 A flexão de número
Como vimos na seção anterior, a flexão de gênero é uma oposição
entre masculino e feminino. Já a flexão de número, segundo CÂMARA JR
(1996:92), “trata-se da oposição entre um único indivíduo e mais de um
indivíduo”. Como é uma relação numérica e quantitativa, essa flexão é bem
mais simples e coerente que a de gênero. No entanto, queremos chamar a
atenção para os seguintes pontos:

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