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Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Aspectos jurídicos da aposentadoria por idade Legal aspects of retirement by age DOI: 10.46814/lajdv6n1-019 Recebimento dos originais: 12/01/2024 Aceitação para publicação: 14/02/2024 Fellipe Oliveira Uliam Doutor em Direito Tributário e Previdenciário Instituição: Toledo Prudente Centro Universitário Endereço: Praça, Av. Raul Valadão Furquim, 09, Presidente Prudente - SP, CEP: 19030-430 E-mail: uliamadvogado@gmail.com RESUMO A aposentadoria por idade é concebida pelos estudiosos do tema como a prestação previdenciária por excelência, já que tem por objetivo substituir os rendimentos do segurado, assegurando a sua subsistência e de seus dependentes. Dentre as modalidades de aposentadoria tem-se a concedida em virtude da idade do segurado do Regime Geral de Previdência Social, exigindo também a carência. Este estudo objetiva esclarecer os critérios adequados de utilização do Direito Previdenciário para a sua efetividade no processo de concessão do benefício de aposentadoria por idade, a partir de uma análise histórico-evolutiva do instituto. método adotado é o hipotético-dedutivo e como técnica de pesquisa tem-se o levantamento bibliográfico. Assim, contextualiza-se o Direito Previdenciário, seu surgimento e evolução. Aborda- se as prestações previdenciárias e os segurados e dependentes do Regime Geral de Previdência Social. Analisa-se o conceito de aposentadoria e os aspectos históricos da aposentadoria por idade. Destaca-se os requisitos legais para a concessão da aposentadoria por idade ao trabalhador urbano e rural, a possibilidade de requerimento da aposentadoria por idade pela empresa e a dificuldade de comprovação da condição de trabalhador rural para fins de aposentadoria. Enfatiza- se a possibilidade de conversão da aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença em aposentadoria por idade. Constata-se a importância da aposentadoria por idade no ordenamento jurídico brasileiro, bem como a diversidade de requisitos para a sua concessão, o que justifica o aprofundamento no estudo do tema e a maior conscientização dos segurados, de modo a tornar efetivo o direito ao melhor benefício previdenciário. Palavras-chave: prestação previdenciária, aposentadoria por idade, requisitos. ABSTRACT The age for retirement is designed by theme scholars such as pension provision for excellence, as it has intended to replace the income of the insured, ensuring their livelihood and their dependents. Among the retirement arrangements have to be granted because of the age of the insured of the General Social Security Regime, also demanding the grace period. This study aims to clarify the appropriate use criteria of the Social Security Law to its effectiveness in the concession process of the age for retirement benefit, from a historical and evolutionary analysis of the institute. The method adopted is the hypothetical-deductive and as a research technique has the literature. Thus, it contextualizes the Social Security Law, its emergence and evolution. Approaches to social security benefits and the insured and dependent on the General Social Security Scheme. It analyzes the concept of retirement and historical aspects of retirement by age. the legal requirements for granting the retirement age to urban and rural worker highlight the possibility of age for retirement application by the company and the difficulty of proving the rural worker condition for retirement purposes. It emphasizes the possibility of disability retirement or conversion sickness age for retirement. Notes the importance of 258Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT age for retirement in the Brazilian legal system, as well as the diversity of requirements for its grant, which justifies the deepening on the subject of the study and the increased awareness of the insured, in order to make effective the right to the best social security benefits. Keywords: social security services, retirement age, requirements. 1 INTRODUÇÃO presente estudo versa sobre a evolução da aposentadoria por idade no ordenamento jurídico brasileiro, a partir da análise doutrinária e legal, mormente as Leis n° 8.212/1991 e 8.213/1991, em uma visão sistêmica e prática, da efetividade e eficácia objetivada da Previdência Social. A atual e crescente valorização das medidas de benefícios previdenciários, com o paralelo respaldo das conceituações e sistematizações, enriquece o tema acerca da importância e conveniência da presente política previdenciária, a exemplo do que se processa quanto ao conceito e natureza das diferentes medidas disponíveis no ordenamento atinentes à agilização dos procedimentos de geração de benefícios, tanto administrativo quanto judicial no mundo contemporânea. Nesse ponto é mister destacar que a aposentadoria tem como propósito o surgimento latente de um direito, com a busca do efetivo benefício aos segurados. Assim, o problema que se vislumbra é a necessidade de que as aposentadorias por idade sejam aplicadas de forma correta, ou seja, como preconiza a legislação brasileira. Desta feita, no presente trabalho se analisa os requisitos e hipóteses do seu cabimento. presente trabalho trata da premente e relevante tarefa de justificar o novo perfil da prestação previdenciária, para a sua compatibilização com os princípios da garantia do devido benefício, o que é viabilizado por meio da utilização criteriosa dos institutos, da terminologia própria e adequada na conceituação do direito, da classificação racional, técnica e útil dos institutos. Tal panorama convida a uma análise da questão, que passa pela confusão que ainda se verifica entre, por exemplo, a celeridade e a sumarização do processo administrativo, entre tantas outras que a casuística oferece e que retardam o regular processamento dos benefícios. Acredita-se que, com uma maior conscientização do necessário e criterioso manejo das ferramentas aos operadores do direito, em especial do direito previdenciário, haja um ganho em efetividade da prestação do atendimento. É nesse cenário que se situa o presente estudo, que tem por objetivo esclarecer os critérios adequados de utilização do Direito Previdenciário para a sua efetividade no processo de concessão do benefício de aposentadoria por idade, a partir de uma análise histórico-evolutiva do instituto. Para tanto, se adota como método o hipotético-dedutivo e como técnica de pesquisa tem-se o levantamento bibliográfico, pois se busca na doutrina, legislação, artigos, periódicos, dentre outras fontes, elementos para a compreensão do tema. 259Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Assim, divide-se o estudo em três capítulos. No primeiro busca-se compreender as peculiaridades do Direito Previdenciário, seu surgimento e evolução histórica, bem como os aspectos conceituais das prestações previdenciárias e os segurados do Regime Geral de Previdência Social. No segundo capítulo, por sua vez, aborda-se a origem e evolução histórica da aposentadoria por idade no direito pátrio, traçando também o conceito de aposentadoria. No terceiro capítulo, por fim, apresenta-se a distinção entre aposentadoria por idade urbana e aposentadoria por idade rural, destacando os requisitos legais para a concessão de cada uma destas espécies, quando aborda-se a possibilidade de ser a aposentadoria do trabalhador urbano requerida pela empresa, a problemática da comprovação da atividade rural para fins de aposentadoria, bem como a possibilidade de conversão da aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença em aposentadoria por idade. 2 JUSTIFICATIVA DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO A compreensão dos aspectos jurídicos da aposentadoria por idade no ordenamento pátrio clama, inicialmente, que se aborde o surgimento e evolução do Direito Previdenciário, sendo este o objeto desse primeiro capítulo, no qual também se abordam os aspectos gerais das prestações previdenciárias, assim como o conceito de segurado e dependente do Regime Geral de Previdência Social, conceitos imprescindíveis à análise do tema proposto. 2.1 DIREITO PREVIDENCIÁRIO: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO Antes de se abordar a aposentadoria por idade no ordenamento jurídico se faz necessário contextualizar o Direito Previdenciário, abordando seus elementos históricos, as razões do seu surgimento e suas principais características, sem ignorar os aspectos gerais que contribuíram para a sua evolução no mundo e, principalmente, no direito pátrio. As primeiras manifestações de proteção social, segundo remontam ao século XVIII a.C., na Babilônia. Contudo, tais manifestações nos Códigos de Hamurabi e Manu eram voltadas aos trabalhadores carentes, e por isso se distanciam da atual concepção de proteção social, não podendo ser concebidas como políticas de seguridade social, embora demonstrem a preocupação dos povos antigos em assistir os menos favorecidos, encargo este que, com o passar dos tempos, foi transferido ao Estado. Porém, o Estado também não se preocupava em assegurar prestações sociais, já que as políticas eram de cunho assistencial, se distanciando da noção atual de Previdência Social, como bem lembra 1 ALLY, Raimundo Cerqueira. Normas previdenciárias de Direito do Trabalho. São Paulo: IOB, 2002, p. 02. 260Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT que ao dissertar sobre a concepção de Previdência na atualidade enfatiza tratar-se de um -[...] seguro que garante a renda do trabalhador e sua família quando da perda, temporária ou permanente, da capacidade de trabalho em decorrência dos riscos cuja finalidade é garantir aos segurados meios indispensáveis de manutenção da qualidade de vida ao segurado ou seus dependentes. Porém, o caminho percorrido para se chegar a tal concepção foi longo, já que num primeiro momento, como já mencionado, as políticas eram de cunho assistencial, e se fundavam na caridade, como se extrai da lição de A primeira etapa da proteção social foi a da assistência pública, fundada na caridade, no mais das vezes, conduzida pela Igreja e, mais tarde, por instituições públicas. indivíduo em situação de necessidade em casos de desemprego, doença e invalidez socorria-se da caridade dos demais membros da comunidade. Nessa fase, não havia direito subjetivo do necessitado à proteção social, mas mera expectativa de direito, uma vez que o auxílio da comunidade ficava condicionado à existência de recursos destinados à caridade. A segunda fase, que veio superar o assistencialismo, se revestia de caráter privado e facultativo, ao passo que na terceira fase de evolução da Previdência Social é que se consagraram os princípios da integralidade e universalidade da proteção, abarcando, por conseguinte, os trabalhadores rurais.4 Semelhante são os ensinamentos de Castro e Lazzari,5 os quais observam que a primeira fase teve forte influência do Cristianismo, sem qualquer vinculação ao Estado, principalmente pela prestação de atendimentos hospitalares aos pobres, nas denominadas Casas de Saúde de Misericórdia, que perduraram ao longo do século XVI. Com o advento da Constituição do Império, em 1824, o Brasil passou por um momento de transição, superando a fase da assistência privada, em virtude do disposto no art. 179, XXXI, o qual assegurou a todos os -socorros instituto influenciado pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1793, que em seu art. 23 estipulava a obrigação do Estado em prestar tal socorro. Apesar da consagração em nível constitucional, o instituto não foi efetivamente implementado, já que somente no ano de 1888 as denominadas -caixas de foram disciplinadas pela Lei n° 2 Wilson Leite. Seguridade e Previdência Social na Constituição de 1988. Jus Navigandi, Teresina,ano 3, n. 34, ago. 1999. Disponível em: Acesso em: 20 jul. 2016. 3 SANTOS, Marisa dos Santos. Direito previdenciário esquematizado. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 27 4 loc. cit. 5 CASTRO, Carlos Alberto Pereira LAZZARI, Castro Batista. Manual de direito previdenciário. 16. ed.Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 71. 6 Ibid., loc. cit. 261Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT 3.397, voltadas à proteção dos trabalhadores das estradas de ferro, à época eram propriedade do Ainda segundo Oliveira,8 em 1889 a proteção das -caixas de foi estendida aos empregados dos correios, oficinas da Imprensa Régia, e aos empregados do Ministério da Fazenda, demonstrando a preocupação do Estado em resguardar os trabalhadores a eles vinculados diretamente. A promulgação da primeira Constituição da República, em 1891, pouco alterou este cenário, pois embora tenha inovado ao assegurar a aposentadoria por invalidez aos funcionários públicos, independentemente de qualquer contribuição, manteve a proteção restrita a determinados Apesar da tímida inovação, a Constituição em comentou estabeleceu nova modalidade de proteção social, vinculada aos funcionários públicos, inserindo no direito pátrio um dos principais benefícios previdenciários, a saber, a aposentadoria. Contudo, deixou a cargo do legislador infraconstitucional a disciplina da proteção social, sendo na sua vigência que emergiu toda a legislação previdenciária que culminou na evolução dos regimes de Previdência Social existentes, a exemplo da Lei n° 4.682/1923 (Lei Eloy Chaves), reconhecida como marco legal de todo o sistema previdenciário, como disserta [...] o grande destaque na vigência da Constituição de 1891 foi a -Lei Eloy Chavesl, implantada através do Decreto Legislativo 4.682, de 24.01.1923, tida como marco inicial da Previdência Social no Brasil. Essa lei criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões para os ferroviários, prevendo aposentadoria por invalidez, ordinária (por tempo de serviço), pensão por morte e assistência médica. custeio era realizado pelos ferroviários, que contribuíam com 3%, e pelos usuários, que recolhiam 1,5%. A doutrina pátria é ao apontar que foi o diploma legal supracitado responsável pelo grande salto que a Previdência Social deu em matéria protetiva, apesar de inicialmente se destinar apenas a uma parcela dos empregados urbanos, mas que foi estendendo gradativamente sua proteção a outras classes, como aos empregadores, domésticos, autônomos, dentre outras categorias. Nessa senda, Castro e ressaltam que -[...] em termos de legislação nacional, [...] considera como marco inicial da Previdência Social a publicação do Decreto Legislativo n. 4.682, de 24.1.23, mais conhecido como Lei Eloy Chaves [...]], já que a ele coube a instituição de diversas -caixas de aposentadoria e pensõesl, que sobreviveram por anos na proteção aos trabalhadores de diversos ramos de atividade. 7 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático de seguridade social. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 04. 8 Ibid., p. 05. 9 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 38. 10 Jane Lucia Wilhelm. Previdência Rural: inclusão social. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2008, p. 77. 11 LAZZARI, op. cit., p. 73. 262Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Percebe-se, portanto, que no Brasil a origem da Previdência Social se encontra na instituição das caixas de aposentadoria, modalidade de poupança e/ou seguro por meio das quais os empregados buscavam resguardar parte de seus vencimentos para deles usufruir quando incapacitados de trabalhar, principalmente pela idade avançada, já que a proteção aos infortúnios não era prática comum, ou seja, não era a preocupação primordial dos trabalhadores. De acordo com Barros coube ao Decreto n° 19.667/1931, que criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, impulsionar a legislação previdenciária brasileira, contribuindo para o surgimento de um número maior de benefícios voltados à proteção social e para o próprio fortalecendo da Previdência Social. Anos depois veio a lume o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos, instituído pelo Decreto 22.872/1933, instituto pioneiro em sua amplitude, pois foi de alcance nacional, embora ainda tenha surgido restrito a uma categoria de empregados, seguido por diversos outros institutos, a exemplo do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC); Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI); o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargos (IAPETC), dentre É mister frisar que somente na década de 1930 que os benefícios previdenciários passaram a ser vinculados à prévia contribuição, modelo similar ao existente, instituindo o sistema contributivo, consagrado inclusive na Constituição de 1934, e que permaneceu nas Cartas Constitucionais que a sucederam, no qual a Previdência passou é custeada pelo Estado, empregador e A Constituição de 1937, devido ao período histórico em que veio a lume, foi omissa quanto a cobertura pelo seguro social. Contudo, disciplinou o custeio da Previdência Social, que ficou a cargo tão somente dos trabalhadores e empregadores, configurando um verdadeiro retrocesso, já que exclui o Estado. Em que pese tal observação, foi sob sua égide que foi criado, por meio do Decreto-Lei n° 7.526/1945, um verdadeiro sistema de Previdência Social, permitindo que está voltasse a evoluir, já que se estabeleceu um instituto único de Previdência, denominado de -Instituto dos Seguros Sociais do Brasil ISBBI, que objetivou a-uniformização das normas a respeito dos benefícios e serviços devidos por cada instituto de classel, embora não tenha sido o instituto implementado, sendo marco meramente histórico e Com o advento da Constituição de 1946, inspirada pelos ideais do pós-guerra, o texto constitucional expressamente utilizou, pela primeira vez, o termo "Previdência Social", em substituição 12 BARROS Cássio de Mesquita. Previdência social urbana e rural. São Paulo: Saraiva, 1981, p. 31. 13 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 74. 14 OLIVEIRA, op. cit., p. 08. 15 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 74. 263Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT à expressão até então utilizada "Seguro inovando por introduzir, ao lado do termo -Previdêncial, o adjetivo -sociall. Ressalta Martins16 que a Constituição em comento também inovou por disciplinar a matéria em capítulo específico, impondo aos empregadores a obrigatoriedade de manter o denominado -seguro de acidente de trabalhol, visando atender aos trabalhadores em casos de infortúnios, sendo várias as leis aprovadas na sua vigência, a exemplo da Lei Orgânica da Previdência Social. Também de suma importância na evolução da Previdência Social é a Emenda Constitucional n° 11/1965, que estabeleceu a obrigatoriedade da equivalência entre contribuições previdenciárias e benefícios e serviços prestados, pois afastou as prestações desprovidas de fontes de custeio, dando início à distribuição de rendas entre os segurados ativos e os inativos, objetivando o maior equilíbrio do sistema. A Constituição de 1967, e a Emenda Constitucional de 1969, se limitaram a incluir o seguro por acidente de trabalho como espécie de benefício vinculado ao sistema público de Previdência Já na década de 1970 foi instituído o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), cujo objetivo era integrar as atribuições dos sistemas de Previdência Social, unificando os trabalhadores urbanos e rurais, e os servidores públicos federais e empregados da iniciativa privada. E, por força do SINPAS, todos os órgãos federais vinculados à assistência social, à saúde e à Previdência Social passaram a compor o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Na linha evolutiva da Previdência Social, tem-se, ainda na década de 1970, a criação dos institutos, que transformaram significativamente o modelo previdenciário brasileiro, a exemplo do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS) e do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social 19 Em meio a essa tendência unificadora e ampliativa da Seguridade Social é que foi promulgada a Constituição da República de 1988, caracterizada principalmente pelos ideais redemocratizadores, até mesmo pelo momento histórico em que veio a lume, após décadas de regime militar. Desta feita, como dissertam Castro e estabeleceu como objetivo a-[...] ser alcançado pelo Estado brasileiro, atuando simultaneamente nas áreas da saúde, assistência social e previdência social, de modo que as contribuições sociais passaram a custear as ações do Estado nestas três áreasl, não mais apenas no tocante à previdência. 16 MARTINS, op. cit., p. 62-63. 17 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 75. 18 MARTINS, op. cit., p. 89. 19 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 76-77. 20 Ibid., p. 77-78. 264Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT A atual Constituição trouxe em seu bojo conteúdo socializante, além de assegurar um rol amplo de direitos e garantias fundamentais e direitos sociais, sendo que o Sistema Nacional de Seguridade Social demonstrou a preocupação do constituinte em assegurar efetiva proteção aos trabalhadores. Por isso Martins21 assevera que se estabeleceu um conjunto normativo integrado por múltiplos princípios e normas que asseguram a justiça social e o bem-estar de todos, a partir da garantia a um mínimo essencial. Outrossim, coube à Constituição de 1988 consagrar a universalidade de cobertura e de atendimento, princípios que norteiam todas as políticas públicas voltadas à Saúde, à Assistência Social e à Previdência Social, sendo, pois, um divisor de águas, já que as políticas públicas passaram a enfatizar os denominados direitos sociais. Por fim, cumpre registrar que coube à Constituição vigente a unificação dos sistemas previdenciários rurais e urbanos, -erigido o princípio de identidade de benefícios e serviços prestados e equivalência dos valores dos mesmosl, como preconiza o art. 195, § da Constituição de 1988.22 Porém, antes de se passar à análise da aposentadoria, benefício previdenciário que em especial interessa ao presente estudo, necessário se faz contextualizar os benefícios previdenciários e os segurados, objeto do próximo item. 2.2 PRESTAÇÕES SEGURADOS E DEPENDENTES: ANÁLISE CONCEITUAL A Constituição da República de 1988 consagrou o direito à previdência social como um direito social que compõe uma realidade mais ampla, denominada de Seguridade Social, que em linhas gerais é um sistema de ações e políticas de saúde, assistência e previdência. Para atender aos fins propostos, a previdência social se encontra organizada em forma de um Regime Geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observando-se critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, cobrindo os seguintes eventos sociais: doença, invalidez, morte, idade avançada, maternidade (especialmente à gestante), reclusão, dentre outros. Importa registrar que a Lei n° 8.213/1991 prevê e disciplina os benefícios previdenciários, ficando a cargo do Decreto n° 3.048/1999 a regulamentação dos mesmos. Ao presente estudo, em especial, interessa o Regime Geral de Previdência Social, sendo mister compreender quais são as prestações concedidas por este regime, e quem são os segurados. 21 MARTINS, op. cit., p. 89-90. 22 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 308. 265Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Com relação aos serviços prestados pela Previdência Social, de acordo com Rocha e Baltazar Junior, -as prestações previdenciárias correspondem às obrigações impostas ao ente público pela ordem jurídica, a fim de que sejam minimizados os efeitos das contingências Ainda, tem-se o disposto no art. 18, da Lei n° 8.213/1991, o qual elenca uma série de previdenciárias a que tem direito o segurado e/ou dependentes, in verbis: Art. 18. Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços: I Quanto ao segurado: a) aposentadoria por b) aposentadoria por idade; c) aposentadoria por tempo de serviço; d) aposentadoria especial; e) auxílio doença f) salário família; g) h) auxílio-acidente II Quanto ao dependente: a) pensão por morte; b) auxílio reclusão; III quanto ao segurado e dependente: a) pecúlios; b) serviço social; c) reabilitação profissional. § 1° somente poderão beneficiar-se do auxílio acidente os segurados incluídos nos incisos I, VI e VII do artigo 11 desta Lei § 2° o aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social RGPS que permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus à prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário -família e à reabilitação profissional, quando Em suma, o RGPS é o regime que vai atender todos os trabalhadores da iniciativa privada e os que não se enquadrem nos regimes próprios, sendo o mesmo administrado pelo INSS. Tem inscrição e filiação obrigatória, e suas prestações estão elencadas no art. 18, da Lei n° 8.213/1991. Dentre os benefícios do art. 18, do diploma legal supracitado, encontra-se prevista, no inciso I, alínea -bl, a aposentadoria por idade, objeto do presente estudo, que será abordada no próximo capítulo, assim como prestações outras, asseguradas aos dependentes e segurados da Previdência Social, tais como a pensão por morte e o auxílio reclusão, as demais formas de aposentadoria, o auxílio doença previdenciário e acidentário, dentre outros. No que tange os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, se dividem em segurados e seus dependentes. Os segurados são pessoas que contribui com a Previdência Social na forma de custeio e, por isso, podem gozar dos benefícios e serviços que para ele é oferecido. 23 BRASIL, 1991. 266Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Ao dissertar sobre os segurados do Regime Geral de Previdência Social, Castro e assim os define: Os segurados da Previdência são os principais contribuintes do sistema de seguridade social previsto na ordem jurídica nacional. São contribuintes em função do vínculo jurídico que possuem com o regime de previdência, uma vez que, para obter os benefícios, devem teoricamente verter contribuições ao fundo comum. Diz-se teoricamente porque, em certos casos, ainda que não tenha ocorrido contribuição, mas estando o indivíduo enquadrado em atividade que o coloca nesta condição, terá direito a benefícios e serviços: são os casos em que não há carência de um mínimo de contribuições pagas. Exemplo típico é o do segurado obrigatório (enquadrado em qualquer das espécies), que, no primeiro mês de atividade laborativa em sua vida inteira, sofre um acidente e se torna incapaz para o trabalho, ou pior, vem a falecer: a contribuição devida por este somente seria paga no mês seguinte ao do trabalho realizado; mas, mesmo sem ter contribuído (o acidente aconteceu antes), o segurado (ou seu dependente) fará jus ao benefício. Os dependentes, por sua vez, são pessoas que se beneficiam da contribuição do segurado em razão do vínculo previdenciário das prestações da Seguridade Social. São definidos, segundo Castro e como pessoas que, -[...] embora não estejam contribuindo para a Seguridade Social, a Lei de Benefícios elenca como possíveis beneficiários do Regime Geral de Previdência Social RGPS, em razão de terem vínculo familiar com segurados do regime [...]]. complementa destacando que os dependentes, para terem direito a prestação previdenciária, devem estar relacionados na legislação vigente, motivo pelo qual são enumerados em classes, como se verá oportunamente. Os segurados podem ser obrigatórios, ou seja, os trabalhadores em geral, que exercem atividade remunerada cuja contribuição à Previdência Social é obrigatória, o que não afasta a tutela dos segurados facultativos, que são aqueles que não exercem atividade remunerada mas querem contribuir de forma facultativa ao Regime Geral de Previdência Social, a exemplo do estagiário e da dona de casa. Os segurados obrigatórios são o empregado, o doméstico, o avulso, o contribuinte individual e o segurado especial. É considerado empregado o trabalhador que exerce atividade remunerada com vínculo de emprego, estando presente os requisitos da pessoalidade, onerosidade, habitualidade e subordinação, nos termos da Consolidação das Leis do Ressalta-se que o empregado rural também está incluso nesta regra, embora seja o mesmo conceituado pelo art. 2° da Lei n° 5.889/1973, a qual o define como toda -pessoa física que, em 24 LAZZARI, op. cit., p. 166. 25 Ibid., p. 222. 26 SANTOS, op. cit., p. 145-146. 27 BRASIL. Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943: Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho.Disponível em: Acesso em: 20 set. 2016. 267Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência deste e mediante Com o advento da Constituição da República de 1988 restou afastada a existência de tratamento diferenciado concedido aos trabalhadores rurais, em virtude do princípio da universalização da Previdência Social, embora prevaleçam regras de caráter específico para a percepção de benefícios previdenciários pelos rurais, tal como a redução da idade para a concessão da aposentadoria rural por idade, conferida ao homem com 60 (sessenta) anos, e à mulher com 55 (cinquenta e cinco) anos. É considerado empregado doméstico o trabalhador que prestar serviços no âmbito residencial, cujo empregador não tenha finalidade lucrativa nesta prestação. Portanto, o que determinará se o empregado é doméstico é a atividade do empregador, pois se a atividade não visar finalidade lucrativa e for exercida no âmbito residencial, o empregado será considerado doméstico, os termos da legislação que regulamenta o trabalho doméstico. Por sua vez, o trabalhador avulso é aquele que não possui vínculo de emprego, presta serviços a mais de uma empresa realizando, via de regra, serviços portuários, podendo ser sindicalizado ou não. Contudo, por força de lei, é obrigatória a intermediação do sindicato ou do órgão gestor de mão-de- obra em sua contratação. contribuinte individual recebe remuneração, mas não possui vínculo empregatício. Exerce atividade habitual ou eventual. Na maioria das vezes contribui à Previdência Social individualmente. Já o segurado especial é aquele que exerce suas atividades individualmente ou em regime de economia não se admitindo, para fins de caracterização de tal categoria, que se encontrem empregados permanentes, embora seja plenamente possível o auxílio eventual de terceiros (cônjuges, companheiros, filhos maiores de 16 anos de idade), desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo, nos termos do art. 11, inciso VII, alínea -cl, da Lei São exemplos de segurados especiais: o produtor rural, o meeiro, o arrendatário rural, o pescador artesanal, dentre outros. Importa ressaltar que a qualidade de segurado é adquirida com a inscrição e filiação junto a Previdência Social, denominada filiação. E, para a mantença desta qualidade, há necessidade de contribuir mensalmente com a Previdência. 28 BRASIL. Lei n° 5.889, de 8 de junho de 1973: Estatui normas reguladoras do trabalho rural. Disponível em:Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT De acordo com Balera,30 a inscrição é o cadastro da pessoa física junto ao Instituto Nacional do Seguro Social; ou, em outras palavras, é o registro do segurado. E ao tratar da filiação, concebido como o liame jurídico que une o segurado a Previdência Social, disserta o autor: É o momento em que o segurado passa a se integrar como beneficiário no regime de previdência. É decorrência automática do exercício de qualquer atividade remunerada reconhecida pela lei como de vinculação obrigatória para o segurado obrigatório. [...] o exercício de mais de uma atividade remunerada, enquadrada dentro do Regime geral de previdência Social, impõe ao trabalhador tantas inscrições quantas forem essas Entretanto, existe um instituto denominado -período de graçal, em que o contribuinte não pagará à Previdência Social durante um período de tempo, mas manterá sua qualidade de segurado. Assim, com exceção do salário-maternidade, o período de graça não conta para fins de carência e nem como tempo de contribuição. Portanto, no dia 16 do segundo mês seguinte ao término do período de graça ocorrerá à perda da qualidade de segurado. Consoante ao art. 102 da Lei n° 8.213/1991, -a perda da qualidade de segurado importa em caducidade dos direitos inerentes a essa Quanto aos dependentes, dispõe o art. 16, do mesmo diploma legal, quem preenche tal condição, a saber: o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido; os pais; o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou Cumpre anotar que o dependente é a pessoa que necessita dos recursos provenientes do segurado para sobreviver, como se extrai da lição de in verbis: [...] pessoa economicamente subordinada ao segurado. Com relação a ele, é mais próprio falar em estar ou não escrito ou situação de quem mantém a relação de dependência ao segurado, adquirindo-a ou perdendo-a não sendo exatamente um filiado, pois este é o estado de quem exerce atividade remunerada. Desta feita, os beneficiários da Previdência Social, na condição de dependentes do segurado são, portanto, divididos em três classes hierárquicas, pois a existência de dependente de qualquer das classes do artigo em epígrafe, exclui do direito às prestações os das classes seguintes (§ 1°, art. 16, Lei n° 8.213/1991). 30 BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito previdenciário. 10. ed. Rio de Janeiro: SãoPaulo: Método, 2014, p. 64-65. 31 loc. cit. 32 BRASIL. Lei n° 8.213, de 24 de julho de 1991: Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: Acesso em: 02 set. 2016. 33 BRASIL, 1991. 34 Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário: direito previdenciário procedimental. São Paulo: LTr, 1999, p. 201. 269Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Significa dizer que na primeira classe de beneficiários se encontra consagrada no inciso I, do art. 16, e é integrada pelo cônjuge, companheiro (a) e filho menor de 21 (vinte e um anos), não emancipado, sem prejuízo do seu pagamento a filho inválido, ou que tem há deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente Nesses casos não há limite de idade. Assim, na primeira classe de dependentes, se encontram o cônjuge, a(o) companheira(o) e o filho não emancipado, de qualquer condição, desde que conte com menos de 21 (vinte e um) anos de idade, assim como o filho inválido ou portador de deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado A segunda classe, por sua vez, contempla a categoria dos ascendentes, ou seja, dos pais do A segunda classe de beneficiários se encontra consagrada no inciso II, do art. 16, do diploma legal em comento, quais sejam, os ascendentes. Nesse caso, presentes pai e mãe do segurado do RGPS, e inexistindo beneficiários da classe anteriormente citada, o benefício é rateado entre os pais do de inciso III, por sua vez, apresenta a terceira classe de beneficiários da pensão por morte, alcançando o irmão não emancipado, de qualquer condição, desde que menor de 21 (vinte e um) anos de idade, ou o irmão inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental, que o torne absoluta ou relativamente incapaz, desde que esta incapacidade seja declarada Assim, por último, tem-se a terceira classe, que engloba o irmão não emancipado de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos de idade, ou que seja inválido ou tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absolutamente ou relativamente incapaz, também declarado judicialmente.40 § do art. 16, da Lei n° 8.213/1991 consagra expressamente que a presença de qualquer uma das classes exclui obrigatoriamente o direito à pensão por morte dos insertos na classe seguinte. Significa dizer, em outras palavras, que presente cônjuge, companheira ou filho menor de 21 (vinte) e um anos, restará afastado o direito ao benefício da classe seguinte, qual seja, dos ascendentes; e, a presença destes, afastará o direito à pensão por morte do irmão menor de 21 (vinte e um anos), não emancipado, ou do irmão incapaz. Contudo, os integrantes de uma mesma classe, a exemplo do companheiro e filhos do segurado do Regime Geral de Previdência Social, se encontram equiparados, sendo o valor rateado. 35 BRASIL, 1991. 36 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 222 37 Ibid. loc. cit. 38 BRASIL, 1991. 39 Ibid. 40 LAZZARI, op. cit., p. 222. 270Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT § 2°, do art. 16, da Lei n° 8.213/1991, consagra o direito do benefício da pensão por morte do -enteado e o menor tuteladol, que são equiparados ao filho mediante declaração do segurado, sendo mister, em tais casos, comprovar a dependência econômica, observando o disposto no Decreto 3.048/1999. Nesse caso, não há presunção da dependência econômica, com o ocorre com o cônjuge, companheiro e filho. § do art. 16, do diploma legal em comento, conceitua, para fins previdenciários, o(a) companheiro(a), como a -pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3°, do art. 226 da Constituição Federall. É, pois, o reconhecimento da pluralidade das entidades familiares, consagrada pelo constituinte e que norteia as relações familiares na atualidade. A presunção da dependência econômica impera tão somente para fins do direito à pensão por morte do cônjuge, companheiro ou filhos menores de 21 (vinte e um) anos. Nos demais casos, ou seja, quanto aos ascendentes e irmãos menores de 21 (vinte e um anos), ou irmãos inválidos, deve obrigatoriamente ser comprovada, nos termos do § do art. 16, da Lei n° 8.213/1991. As hipóteses em que ocorrerá a perda da qualidade de dependente são tratadas no art. 17, do Decreto n° 3.048/1999, a saber: o cônjuge, em virtude da separação judicial ou divórcio, enquanto não lhe for assegurada a prestação de alimentos, pela anulação do casamento, pelo óbito ou por sentença judicial transitada em julgado; a(o) companheira(o), pela cessação da união estável, enquanto não lhe for garantida a prestação de alimentos; o filho e o irmão, quando completar 21 (vinte e um) anos, salvo se inválidos, ou pela emancipação, ainda que inválido, excetuada a emancipação em decorrência de colação de grau científico em curso de ensino superior; para o filho e o irmão, de qualquer condição, ao completar 21 (vinte e um) anos de idade, ou pela emancipação, salvo se inválidos; e, ao final, aos dependentes em geral, pela cessação da invalidez ou No que diz respeito aos benefícios previdenciários, concebidos como prestações pecuniárias que dependem para sua concessão de certos requisitos de elegibilidade, cumpre trazer à baila a lição de Balera e Mussi,42 que ao dissertar sobre o instituto salienta que só -terá direito ao benefício aquele que se enquadrar na situação de risco social geradora de necessidadel. Na mesma senda é a lição de para quem: [...] benefícios são prestações pecuniárias, devidas pela Previdência Social a pessoas por ela protegidas, destinadas a prover-lhes a subsistência, nas eventualidades que as impossibilitem de, por seu esforço, auferir recursos para isto, ou a reforçar-lhes os ganhos para enfrentar encargos de família, ou amparar, em caso de morte, os que deles dependiam economicamente. 41 BRASIL. 1991. 42 BALERA; MUSSI, op. cit., p. 157. 43 OLIVEIRA, op. cit., p. 71. 271Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Nesse ponto é mister salientar que a carência é o -número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefíciol, como preconiza o art. 24, da Lei n° 8.213/1991. Anote-se, ainda, que os prazos mínimos de contribuição mensal para se ter direito aos benefícios são regulados pelo art. 25, da Lei n° 8.213/1991, sendo de 12 (doze) contribuições mensais para o auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, nos termos do inciso I; 180 (cento e oitenta) contribuições mensais para a concessão da aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria especial, nos termos do inciso II, 10 (dez) contribuições mensais para a segurada contribuinte individual, para a segurada especial e para a segurada facultativa para concessão do salário-maternidade, como preconiza o inciso III.44 Segundo se extrai da Lei n° 8.213/1991, são benefícios previdenciários: aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, aposentadoria especial, auxílio-doença, salário-família, salário-maternidade, auxílio-acidente, pensão por morte e auxílio- reclusão, além dos serviços prestados como habilitação ou reabilitação profissional e serviço social. Entretanto, para a concessão de alguns benefícios a legislação dispensa o implemento do período de carência, a exemplo do que ocorre com a pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família, o auxílio-acidente, de qualquer natureza e o salário-maternidade (para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa e doméstica), o auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de trabalho de qualquer natureza ou causa, nos termos do inciso I, do art. 26, da Lei n° 8.213/1991. Também independe de período de carência o segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de alguma doença grave de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereça tratamento particularizado (tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, cegueira etc.), com o preconiza o inciso II, do art. 26, da Lei n° De igual forma estão isentos do período de carência o serviço social e a reabilitação profissional, nos termos do art. 26, da Lei n° 8.213/1991. Portanto, verifica-se que a aposentadoria consiste em benefício previdenciário que é caracterizado na lei em quatro modalidades: aposentadoria por invalidez, por idade, por tempo de contribuição e especial. E para a melhor compreensão do problema de pesquisa, passa-se a abordar, no próximo capítulo, o conceito de aposentadoria e as suas modalidades, antes de se adentrar nas peculiaridades da aposentadoria por idade no Regime Geral de Previdência Social. 44 1991. 45 BRASIL, 1991. 272Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT 3 ORIGEM HISTÓRICA E EVOLUÇÃO DA APOSENTADORIA POR IDADE Para se compreender as peculiaridades da aposentadoria por idade no ordenamento jurídico brasileiro, mormente o seu surgimento e evolução, necessário abordar inicialmente o conceito de aposentadoria. 3.1 CONCEITO DE APOSENTADORIA A aposentadoria é modalidade de benefício previdenciário que, após um período de carência, visa cobrir os riscos da idade avançada, incapacidade para o trabalho, podendo ser concedida por diferentes regras (idade, tempo de contribuição, por invalidez e especial). Como dissertam Castro e Lazzari,46 a aposentadoria é concebida como a-prestação por excelência da Previdência Sociall, ao lado da pensão por morte, pois como ressaltam os autores, tais benefícios substituem, em definitivo, ou pelo menos de forma duradoura, os rendimentos do segurado, possibilitando assim que o indivíduo resguarde a sua subsistência e daqueles que dele dependem. A primeira modalidade de aposentadoria aqui analisada é denominada especial, espécie de aposentadoria por tempo de contribuição, concedida em razão do exercício de atividades consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física do segurado. Dispõe o art. 142 da Lei n° 8.213/1991 que para a concessão do benefício em comento se exige, além da exposição aos agentes nocivos à saúde ou integridade física, a carência de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais para os inscritos no Regime Geral da Previdência Ainda, se exige que o exercício de atividade sujeita às condições especiais se dê por um período de 15, 20 ou 25 anos, conforme o grau da lesividade estabelecido em lei, sendo o benefício concedido aos segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuinte individual, bem como aos filiados às cooperativas de trabalho ou de produção. Martins,48 sobre o tema pontua: Aposentadoria especial é o benefício previdenciário decorrente do trabalho realizado em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física do segurado, de acordo com a previsão da lei. Trata-se de um benefício de natureza extraordinária, tendo por objeto compensar o trabalho do segurado que presta serviços em condições adversas à sua saúde ou que desempenha atividade com riscos superiores aos normais. Também Balera e Mussi49 salientam que a concessão do benefício dependerá da comprovação do tempo de trabalho permanente, ou seja, não se reconhece tal benefício aos trabalhadores que, de 46 LAZZARI, op. cit., p. 543. 47 BRASIL, 1991. 48 MORAES, op. cit., p. 371. 49 BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito previdenciário: série concursos públicos. São Paulo:Método, 2009, p. 177. 273Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT forma ocasional ou intermitente, forem expostos a agentes nocivos, sendo imperiosa a comprovação, pelo trabalhador, da efetiva exposição, já que esta não se presume. Tem-se, ainda, a aposentadoria por invalidez, concedida em casos de incapacidade permanente do trabalhador, tendo em vista a incapacidade total para o exercício da atividade laborativa. A aposentadoria por invalidez, segundo Santos,50 encontra previsão na própria Constituição de 1988, que em seu art. 201, inciso I, determina a cobertura da contingência invalidez, sendo que o legislador infraconstitucional tratou de disciplinar o tema no art. 43 a 50 da Lei n° 8.213/1991, estabelecendo ser o benefício hábil a cobrir a -incapacidade total e a impossibilidade de reabilitação para o exercício de atividade que garanta a subsistência do seguradol. Sobre a importância do benefício em comento, Lazzari e enfatizam: Juntamente com o auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez é benefício de pagamento continuado, de risco imprevisível, devido à incapacidade presente para o trabalho. É deferida, sobretudo, se o segurado está impossibilitado de trabalhar e insuscetível de reabilitar-se para a atividade garantidora da subsistência. Trata-se de prestação provisória com nítida tendência à definitividade, geralmente concedida após a cessação do auxílio-doença. Para ter direito ao benefício o legislador exigiu o período de carência de 12 (doze) contribuições mensais para a aposentadoria por invalidez comum, pois sendo aposentadoria por invalidez acidentária, ou proveniente de doença profissional ou do trabalho, com também se tratando de alguma das doenças arroladas pelo art. 151 da Lei n° 8.213/1991, não haverá período de carência. Quanto aos critérios para a concessão da aposentadoria por invalidez, determina a legislação que se trate de segurado incapacitado para a atividade laborativa, não sendo possível ser reabilitado ou readaptado. Logo, a incapacidade deve ser total e permanente, não havendo prognóstico de recuperação, sendo previstos exames periciais bienais. Há, ainda, a modalidade de aposentadoria por tempo de contribuição. Até o advento da Emenda Constitucional n° 20/1998 tal espécie era denominada de aposentadoria por tempo de serviço. Portanto, os segurados que até 1998 estavam filiados ao sistema terão computado o tempo de serviço como tempo de contribuição. Com a Reforma da Previdência, efetivada pela Emenda Constitucional n. 20/98, o tempo de serviço deixou de ser considerado para a concessão da aposentadoria, passando a valer o tempo de contribuição efetiva para o regime previdenciário, e, não será mais concedida aposentadoria proporcional para quem entrou no mercado de trabalho depois da publicação da Emenda. A exigência da combinação do tempo de contribuição com uma idade mínima foi eliminada no texto principal da Emenda Constitucional n. 20, constando apenas das regras de 50 SANTOS, op. cit., p. 214. 51 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 699. 52 Ibid., p. 663. 274Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Assim, para a concessão do benefício em comento, exige-se, como carência, o número mínimo de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais para os segurados inscritos após o advento da Lei n° 8.213/1991, pois para os segurados inscritos antes da referida Emenda Constitucional aplica-se a tabela de transição de carência inserta no art. 142 do diploma legal em comento. Anote-se que se exige, para os homens, 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, ao passo que para as mulheres o tempo exigido de contribuição para a concessão da aposentadoria em comento é de 30 (trinta) anos, não se exigindo idade mínima. Como mencionado alhures, esta espécie de aposentadoria veio substituir a antiga aposentadoria por tempo de serviço. Assim, após o advento da Emenda Constitucional n° 20/1998 não é mais possível obter aposentadoria por tempo de contribuição proporcional, ficando este direito reservado filiados até a data da Emenda supracitada, e que havia implementado os requisitos para sua concessão. Desta feita, para eles, com 30 anos completos de contribuição, se homens, ou 25 anos, se mulheres, ou, ainda, se professor com comprovado tempo de efetivo exercício do magistério na educação infantil e no ensino fundamental e ficou resguardado o direito à aposentadoria proporcional, não sendo exigido o quesito -idade mínimal para concessão do benefício, mas sim a carência de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais ou os critérios da tabela prevista no art. 142 da Lei n° 8.213/1991. Por último, mas não menos importante, tem-se a aposentadoria por idade, que leva em consideração o critério cronológico, isto é, a idade avançada do trabalhador, mas que dada a sua relevância ao presente estudo será analisada no próximo tópico. 3.2 ESCORÇO HISTÓRICO DA APOSENTADORIA POR IDADE A primeira questão a ser destacada nesse segundo capítulo é que a utilização da expressão -aposentadoria por idadel foi cunhada, inicialmente, na Lei 8.213/1991, em substituição à expressão utilizada na sistemática anterior, que a denominava de -aposentadoria por instituto em comento visa garantir a manutenção do segurado e seus dependentes quando sua idade avançada não o permita ou o prejudique a continuar laborando. Por isso a define como 53 A Lei n° 11.301/2006 ampliou o conceito da expressão "funções de magistério", para englobar as funções dedireção escolar, coordenação e assessoria pedagógica. 54 Cf. Santos (2014, p. 220), "[...] esse benefício era denominado Aposentadoria por Velhice pela Lei n. Orgânica da Previdência Social), posteriormente modificada pela Lei n. 5.890/73. A CLPS de 1976 (Decreto n. 77.077/76) e a CLPS de 1984 (Decreto n. 89.312/84) deram a mesma denominação ao benefício. A aposentadoria por velhice prevista, na legislação anterior à Lei n. 8.213/91, só era concedida aos segurados urbanos, uma vez que os trabalhadores rurais não eram segurados do Regime Geral, e tinham proteção assistencial na forma da Lei Complementar n. 11, de 25.05.1971. Como se verá adiante, os trabalhadores ruraissó passaram a ter cobertura previdenciária no RGPS a partir da vigência da Lei n. 8.213/91". 55 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário: direito previdenciário procedimental. São Paulo: LTr, 1999, p. 198. 275Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT -[...] benefício substituidor dos salários, de pagamento continuado, definitivo e não reeditável, é devido a segurado com a idade mínima determinada na lei e não obsta a volta ao trabalhol. Por isso tem direito à aposentadoria por idade o empregado, o empregado doméstico, o contribuinte individual, o trabalhador avulso, o segurado especial e facultativo, ou seja, alcança os trabalhadores urbanos e também os trabalhadores rurais. A prestação previdenciária em análise é assim conceituada por Eduardo e Eduardo:56 A aposentadoria por idade é uma prestação previdenciária, paga mensalmente ao segurado que completar 65 anos de idade, se do sexo masculino, reduzindo para 60 anos para o trabalhador rural, e à segurada que completar 60 anos, reduzindo para 55 anos de idade para a trabalhadora rural. A redução de cinco anos aplica-se também aos segurados garimpeiros que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar. Ao tratar do fundamento da aposentadoria por idade, enfatiza que a-[...] contingência idade avançada é, por certo, a mais importante em termos previdenciários, uma vez que presume a incapacidade para o trabalhol. Descrita no art. 201 da Constituição da República de 1988, a aposentadoria por idade é concedida, atualmente, no Regime Geral de Previdência Social, ao homem, com 65 (sessenta e cinco) anos de idade, e à mulher, com 60 (sessenta) anos, não se fazendo necessária a velhice para a sua concessão. Desta feita, como salienta Martins,58 a alteração na nomenclatura, adotada no diploma legal supracitado, é a mais adequada. Ademais, a expectativa de vida do brasileiro aumenta gradativamente, e não se pode conceber que um indivíduo com 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos de idade seja concebido com velho. Logo, nada mais justo que se fale em aposentadoria por idade, quando o segurado atinge a idade especificada na legislação para a concessão do Ressalta Santos60 que o [...; envelhecimento é evento certo, previsível, que a cada ano adquire diferentes contornos em razão da longevidade cada vez maior, fruto da melhoria das condições gerais de vida da populaçãol. Logo, a tendência é que mais segurados venham a desfrutar da aposentadoria por idade, o que coloca a prestação previdenciária em comento em evidência no ordenamento jurídico brasileiro. Ao dissertar sobre o benefício em comento, ressalta a sua importância, sem ignorar a distinta disciplina do instituto quanto às categorias de trabalhadores. E pontua: 56 EDUARDO; Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão Eduardo. Curso de direito previdenciário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013, p. 328. 57 SANTOS, op. cit., p. 220. 58 MARTINS, op. cit., p. 371. 59 Ibid., p. 371. 60 SANTOS, op. cit., p. 220. 61 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Direito adquirido na previdência social. 2. ed. São Paulo: LTr, 2003, p.791. 276Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT [...] a aposentadoria por idade é tradicional benefício da previdência social, criada praticamente ao tempo sua implantação. Prestação universal dos trabalhadores urbanos ou rurais, e dos servidores públicos, sob critérios distintos, cria problemas de interpretação em relação ao rurícola e urbano. De fato, a distinção do tratamento dispensado ao trabalhador rural, como já apontado anteriormente, acaba por criar, no RGPS, divergências quanto ao alcance não apenas do benefício da aposentadoria por idade, mas também outras prestações previdenciárias, o que não retira a importância do instituto em comento, e que se deve unicamente ao tratamento especial dispensado aos trabalhadores rurais, e a universalização da previdência social. De acordo com Tavares,62 a concessão da aposentadoria por idade é -[...] devida ao segurado homem que completar 65 anos e à mulher que completar 60 anosl. E, em se tratando de trabalhador rural, há uma diminuição de 05 (cinco) anos para a concessão do benefício, ou seja, será concedido ao homem que completar 60 (sessenta) anos de idade, e à mulher que completar 55 (cinquenta e cinco) anos, em consonância com a jurisprudência a seguir: DIREITO APOSENTADORIA POR IDADE URBANA. CONTRIBUINTE 1. Comprovado o recolhimento das contribuições previdenciárias, na condição de contribuinte individual, as competências respectivas devem ser computadas como tempo de serviço. 2. A concessão de aposentadoria por idade urbana depende do preenchimento da carência exigida e da idade mínima de 60 anos para mulher e 65 anos para homens. 3. No caso dos autos, a parte autora tem direito à averbação dos períodos reconhecidos, para fins de obtenção de futura aposentadoria. (TRF-4 REEX: 50481693320144047100 RS Relator: OSNI CARDOSO FILHO, Data de Julgamento: 16/12/2015, SEXTA TURMA, Data de Publicação: D.E. 18/12/2015). A aposentadoria por idade no RGPS se encontra disciplinada nos arts. 48 a 51 da Lei n° 8.213/1991, como se extrai dos ensinamentos de para quem: benefício aposentadoria por idade está estipulado nos arts. 48 a 51 da Lei 8.213 de 24/07/91. É de trato continuado devido, mensal e sucessivamente, para o segurado completar 65 anos e para segurada que completar 60 anos de idade. Esses limites são reduzidos em cinco anos para trabalhadores rurais. Essa aposentadoria pode ser compulsória, na medida em que o empregador pode requerê-la ao órgão previdenciário, para o trabalhador aos 70 anos ou para trabalhadora aos 65 anos de idade, desde que cumprido o período de carência. Uma importante observação a ser feita é que a aposentadoria por idade pode decorrer da conversão da aposentadoria por -invalidez ou auxílio-doença, desde que requerida pelo segurado, observado o cumprimento da carência exigida na data do início do benefício a ser 62 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário. 6. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2005, p. 145. 63 Odonel Urbano. Direito previdenciário para concursos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p.112. 64 KERTZMAN, Ivan. Direito previdenciário. São Paulo: BF&A, 2005, p. 123. 277Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Ainda segundo o autor, a aposentadoria por idade cessa com a morte do segurado, não havendo o que se falar, portanto, em transmissibilidade do Semelhante são os ensinamentos de Miranda,66 que ao lecionar sobre as características da aposentadoria por idade enfatiza: Aposentadoria por idade é benefício de prestação continuada, de periodicidade mensal, que substitui o salário-de-contribuição ou remuneração do trabalhador, devido àquele que, cumprindo a carência exigida, tenha alcançado a idade mínima estabelecida na legislação previdenciária. Significa dizer, portanto, que o beneficiário da previdência social que perceber a aposentadoria por idade receberá uma prestação mensal, que irá substituir a sua remuneração mensal, já que o contribuinte cessará as suas atividades e entrará na inatividade. Logo, para ter direito ao benefício, além da idade mínima, como já pontuado, qual seja, 65 (sessenta e cinco) anos para homens, e 60 (sessenta) para mulheres, salvo se se tratar de trabalhador rural, deverá o segurado também cumprir o período mínimo de carência. Cumpre trazer à baila, nesse ponto, o que dispõe o art. 48 da Lei 8.213/1991, in verbis: Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta), se mulher. § 1° Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinquenta e cinco anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do art. 11. § 2° Para os efeitos do disposto no § 1° deste artigo, o trabalhador rural deve comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII do § 9° do art. 11 desta Lei. § 3° Os trabalhadores rurais de que trata o § 1° deste artigo que não atendam ao disposto no § 2° deste artigo, mas que satisfaçam essa condição, se forem considerados períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus ao benefício ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos, se mulher. § 4° Para efeito do § 3° deste artigo, o cálculo da renda mensal do benefício será apurado de acordo com o disposto no inciso II do caput do art. 29 desta Lei, considerando-se como salário- de-contribuição mensal do período como segurado especial o limite mínimo de salário-de- contribuição da Previdência Vê-se que o referido dispositivo consagra exatamente a idade mínima para a concessão da aposentadoria por idade no RGPS, sendo que o seu caput se encontram as idades mínimas para o homem e mulher, trabalhador urbano, ao passo que o § 1° preconiza a redução de cinco anos para o trabalhador rural, complementado pelo disposto no § 2°. e que será comentado alhures, já que para esta categoria não se exige as contribuições. 65 Ibid., loc. cit. 66 MIRANDA, Jedial Direito da seguridade social. Rio de Janeiro: Elseiver: 2007, p. 188. 67 BRASIL. Lei 8.213, de 24 de julho de 1991: Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: em: 02 ago. 2016. 278Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT art. 49, por sua vez, dispõe acerca do momento em que será devido o benefício em comento, a saber: Art. 49. A aposentadoria por idade será devida: I Ao segurado empregado, inclusive o doméstico, a partir: a) da data do desligamento do emprego, quando requerida até essa data ou até 90 (noventa) dias depois dela; ou b) da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando for requerida após o prazo previsto na alínea "a": II Para os demais segurados, da data da entrada do Desta feita, quando houver desligamento do trabalho, será devida a aposentadoria por idade quando requerida até o efetivo desligamento, ou até o prazo de 90 (noventa) dias, nos termos da alínea do inciso I; e, nas hipóteses em que o trabalhador continua na atividade, da data do requerimento, valendo a mesma regra para as demais situações. Segundo Balera e Mussi, 69 a legislação previdenciária -não exige o desligamento do aposentado da empresa. No entanto, o aposentado, a partir do momento em que volta a trabalhar, volta a contribuirl. Assim também lecionam Eduardo e os quais enfatizam que -caso o segurado volte a exercer atividade remunerada, terá que contribuir, obrigatoriamente, para o INSS, em relação à remuneração dessa Ressalta que na hipótese de ser a aposentadoria requerida pelo empregado, o mesmo poderá continuar na empresa. Ocorre que após o empregado requerer a aposentadoria por idade, a sua permanência no emprego dependerá do aceite de seu empregador, pois o contrato de trabalho tem o requisito da bilateralidade. No que tange o valor do benefício, assim dispõe o art. 50: Art. 50. A aposentadoria por idade, observado o disposto na Seção III deste Capítulo, especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 70% (setenta por cento) do salário- de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições, não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do Por sua vez, o art. 51 da Lei n° 8.213/1991 trata da aposentadoria compulsória, instituto controverso no direito pátrio, já que impõe ao trabalhador o afastamento do trabalho ao completar 70 (setenta) anos, se homem, ou 65 (sessenta e cinco) anos, se mulher. Assim dispõe o dispositivo em comento: 68 Ibid. 69 BALERA; MUSSI, op. cit., p. 160. 70 EDUARDO; EDUARDO, op. cit., p. 329. 71 MARTINS, op. cit., p. 375. 72 BRASIL, 1991. 279Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Art. 51. A aposentadoria por idade pode ser requerida pela empresa, desde que o segurado empregado tenha cumprido o período de carência e completado 70 (setenta) anos de idade, se do sexo masculino, ou 65 (sessenta e cinco) anos, se do sexo feminino, sendo compulsória, caso em que será garantida ao empregado a indenização prevista na legislação trabalhista, considerada como data da rescisão do contrato de trabalho a imediatamente anterior à do início da A aposentadoria compulsória é uma faculdade a ser exercida ou não pela empresa, e esta, se desejar, poderá manter o empregado a sua 74 ainda que este complete a idade a que se refere o art. 51 da Lei 8.213/1991. Segundo o disposto no art. 51 da Lei n° 8.213/1991 excepciona a regra de que a aposentadoria por idade no RGPS é concedida voluntariamente ao segurado, pois traz a hipótese em que possibilita ao empregador pleitear, junto à autarquia previdenciária, a concessão do benefício ao segurado que implementa as condições objetivas, ainda que essa não seja a sua vontade. Contudo, Fortes e enfatizam que na modalidade de aposentadoria em comento, a -vontade do trabalhador é irrelevante para a sua concessão, podendo ser concedida a requerimento da empresal, mesmo contra a vontade do trabalhador, desde que implementado os requisitos legais. Em suma, Castro e Lazzari77 afirmam que o benefício em comento, instituído sobre a rubrica de aposentadoria por velhice, nos idosos da Lei n° 3.807/60, e hoje mantida pela Lei 8.213/91 é devida ao segurado que completar 65 (sessenta e cinco) anos, se homem, ou 60 (sessenta), se mulher, e ter cumprido a carência exigida, sendo os limites reduzidos em 05 (cinco) anos se trabalhadores rurais, nos termos do art. 201 § inciso II, da Constituição da República de 1988, tal período de trabalho pode ser comprovado por testemunha, conforme julgado a seguir: AÇÃO APOSENTADORIA POR IDADE. RURAL.COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE NO PERÍODO DE INÍCIO DEPROVA MATERIAL AMPLIADO POR PROVA TESTEMUNHAL PEDIDO PROCEDENTE. 1. É firme a orientação jurisprudencial desta Corte no sentido deque, para concessão de aposentadoria por idade rural, não se exige que a prova material do labor agrícola se refira a todo o período de carência, desde que haja prova testemunhal apta a ampliar a eficácia probatória dos documentos, como na hipótese em exame. 2. Pedido julgado procedente para, cassando o julgado rescindendo,dar provimento ao recurso especial para restabelecer a sentença. (STJ AR: 4094 SP 2008/0229984-9, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 26/09/2012, S3 TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 08/10/2012). 73 Ibid. 74 op. cit., p. 298. 75 SANTOS, op. cit., p. 221. 76 FORTES, Simone Bardisan. PAULSEN, Leandro. Direito da seguridade social: prestações e custeio daprevidência. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 159. 77 LAZZARI, op. cit., p. 647. 280Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Portanto, percebe-se que a Constituição da República fez uma diferenciação entre os trabalhadores em relação ao sexo e a atividade exercida, ou seja, tanto há tratamento diferenciado quanto a idade em se tratando de homem e mulher, como há redução se a atividade é exercida por trabalhador urbano ou rural. Desta feita, pode-se afirmar que existem quatro tratamentos diferentes quanto ao requisito idade, quais sejam: a) trabalhadora rural, idade mínima de 55 (cinquenta e cinco) anos; b) trabalhador rural, idade mínima de 60 (sessenta) anos; c) segurada urbana mulher, idade mínima de 60 (sessenta) anos; e d) segurado urbano homem com 65 (sessenta e cinco) anos de Consequentemente, para uma melhor compreensão da aposentadoria por idade no RGPS, é mister uma divisão em duas espécies: aposentadoria por idade urbana e aposentadoria por idade rural, objeto do próximo capítulo. 4 APOSENTADORIA POR IDADE URBANA E RURAL Primeiramente cumpre destacar que inexiste, na legislação pátria, prestação previdenciária com a nomenclatura em comento. A divisão aqui traçada, como dito alhures, é para cunho meramente elucidativo, pois há clara distinção na legislação quanto aos requisitos para a concessão do benefício da aposentaria por idade ao trabalhador urbano se comparado ao trabalhador rural, objeto desse terceiro capítulo. 4.1 APOSENTADORIA POR IDADE URBANA Conforme disposto no art. 48 da Lei 8.213/91, o segurado deverá cumprir dois requisitos para obtenção do benefício pleiteado: a idade mínima e a carência especificada em Lei. 79 Em se tratando de trabalhador urbano, a idade mínima é de 65 (sessenta e cinco) anos para homens, e 60 (sessenta) anos, para a mulher. A carência, por sua vez, é de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais. Importa ressaltar que o período de carência, para fins previdenciários, é o número de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências, nos termos do art. 24 e 25 da Lei n° 8.213/1991.80 78 MIRANDA, op. cit., p. 188. 79 TSUTIYA, Agusto Massayuri. Curso de direito da seguridade social. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 322. 80 Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências. 80 Art. 24. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências. 281Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Para o segurado inscrito a partir de 24/07/1991, o período de carência para as aposentadorias voluntárias é de 180 contribuições mensais, o que compreende a 15 (quinze) anos corridos, nos termos do art. 25, inciso II, da Lei Contudo, os segurados inscritos anteriormente a 24/07/1991, desde que não venham a perder a qualidade de segurado, devem obedecer à tabela progressiva prevista no art. 142 do mesmo diploma legal, a qual leva em conta o ano em que o segurado implementou ou implementará as condições necessárias à obtenção do benefício conforme tabela constante no Anexo A da Lei n° 8.213/1991, como Em suma, o período de carência para quem ingressou no RGPS antes do advento da Lei n° 8.213/1991, segue a regra de transição, ou seja, a tabela prevista no art. 142 do referido diploma legal, desde que não tenha perdido a condição de segurado. E, no ano de 2007, por exemplo, o período de carência da aposentadoria por idade foi de 156 contribuições, ou seja, de 13 (treze) anos. Logo, segurado que completou a idade exigida por lei naquele ano, e contava com 156 contribuições para a previdência social, pode requerer a aposentadoria por idade, com amparo na legislação vigente. Anote-se que a tabela de transição, no ano de 2011, alcançou todos os segurados, ou seja, desde tal ano não há mais o que se falar em redução, no tempo de contribuição, para a concessão do benefício em análise, já que a regra progressiva atingiu o limite de 180 (cento e oitenta) contribuições. Ainda, como disserta Tsutiya,83 para quem ingressou no RGPS após o advento da Lei n° 8.213/1991, ou perdeu a qualidade de segurado e somente voltou a contribuir após a promulgação desta lei, a carência é de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, ou seja, de 15 anos. E a tais segurados não houve o que se falar em aplicação da tabela de transição supracitada. Ressaltam Castro e Lazzari84 que para a concessão de aposentadoria por idade o entendimento predominante era que os requisitos da idade e da carência fossem preenchidos simultaneamente. Este posicionamento, todavia, se alterou com o advento da Lei n° 10.666/2003, pois a jurisprudência passou a entender ser desnecessário o implemento simultâneo dos requisitos idade e carência para o gozo da aposentadoria por idade. E sobre o tema, os autores acrescentam: Parágrafo Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa data só serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação à Previdência Social, com, no mínimo, 1/3 (um terço) do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser requerido. Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26: ..]II aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribuiçõesmensais (BRASIL, 1991) 81 1991. 82 LAZZARI, op. cit., p. 648. 83 TSUTIYA, op. cit., p. 322. 84 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 649. 282Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT [...] cabe mencionar que a Lei 10.666/2003 (art. 3, § 1°) estabelece que para a concessão da aposentadoria por idade, a perda da qualidade de segurado não será considerada, desde que o segurado conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de carência na data do requerimento do benefício. Consoante orientação firmada pelo STJ, a regra da não simultaneidade dos requisitos não tem validade no caso da aposentadoria por idade rural, sendo necessário que o segurado especial comprove o cumprimento da carência no período que antecede o implemento da idade ou o A Lei n° 10.666/2003, que decorreu da conversão da Medida Provisória n° 83/2002, tem a finalidade de tentar solucionar uma injustiça praticada contra o segurado da Previdência Social, de baixa renda que na maioria das vezes, ao perder seu emprego, não tem condições de contribuir como facultativo e acabava perdendo a qualidade de segurado. Enfim, foi uma fórmula encontrada para amparar o trabalhador brasileiro, que muitas vezes tinha os requisitos necessários para obtenção do benefício da aposentadoria por idade e não conseguia obter o benefício, por força da interpretação. Vale lembrar que a finalidade da Previdência Social é a necessidade de amparar o trabalhador. Preleciona Santos86 que o advento da Lei n° 10.666/2003 revogou tacitamente o disposto no art. 102, § 1°, da Lei n° 8.213/1991, para a perda da qualidade de segurado, exigia o cumprimento simultâneo de todos os requisitos para a aposentadorial. Portanto, a perda da qualidade de segurado, após o atendimento aos requisitos da idade mínima e do recolhimento das contribuições previdenciárias devidas (carência) não impede a concessão de aposentadoria por idade. Desta feita, a -perda da qualidade de segurado não será considerada para a concessão da aposentadoria por idade, desde que o segurado conte com, no mínimo, o número de contribuições a que se refere a legislação vigente para fins de concessão do benefício em comento, ou seja, 180 (cento e oitenta) contribuições. Sobre o tema, também Castro e lecionam: [...] no que diz respeito à comprovação dos requisitos para obtenção da aposentadoria por idade, a jurisprudência é assente no sentido de que a idade e a carência não necessitam ser preenchidas simultaneamente. [...]O mesmo vale para o direito da pensionista do falecido segurado que já havia implementado os requisitos para a aposentadoria por idade, a saber: idade e carência, ainda que não de forma simultânea. No que toca a renda mensal, Tsutiya89 bem lembra que nos termos do art. 50, da Lei n° 8.213/1991, esta é calculada com base no salário de benefício, no índice de 70% (setenta por cento) 85 Ibid., p. 649-650. 86 SANTOS, op. cit., p. 221. 87 EDUARDO; EDUARDO, op. cit., p. 330. 88 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 649. 89 TSUTIYA, op. cit., p. 323. 283Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT acrescido de mais 1% para cada grupo de doze contribuições mensais, até o limite de 100% (cem por cento) do Para tornar mais clara a regra inserta no dispositivo de lei já transcrito alhures, para o segurado homem que tenha completado 65 (sessenta e cinco) anos de idade, e 20 (vinte) anos de contribuição, terá o percentual aplicado sobre o salário de benefício, de 90% (noventa), ou seja, 70% (setenta por cento) em virtude do disposto no art. 50, da Lei n° 8.213/1991, e 20% (vinte por cento) referente ao tempo em que contribuiu para a previdência social. Logo, se o mesmo segurado tiver 30 (trinta) anos de contribuição, o percentual será 100% do salário de benefício, pois será observado a regra 70% + 30%, sendo aquele referente ao disposto no dispositivo de lei, e os 30% correspondente ao período em que contribuiu para a previdência social. Todavia, o cálculo pode ser diferente, podendo haver a multiplicação pelo fator previdenciário, caso este, uma vez aplicado, caracterize condição mais benéfica para o segurado, art. 7090 da Lei Na mesma esteira é a lição de Eduardo e os quais pontuam que: Fica garantida ao segurado com direito à aposentadoria por idade a opção pela não aplicação do fator previdenciário, devendo o Instituto Nacional do Seguro Social, quando da concessão do benefício, proceder ao cálculo da renda mensal inicial com e sem o fator previdenciário, prevalecendo o valor mais vantajoso. Eduardo e ressaltam que o valor do salário de benefício para fins de aposentadoria por idade será a média aritmética simples dos maiores salários de contribuição, correspondente à 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo, -multiplicado pelo fator previdenciário, se seu valor for superior a um, ou seja, mais vantajoso para o seguradol. Destarte, o valor do benefício resultar inferior obtido com a não aplicação do fator previdenciário, o segurado poderá optar pelo benefício de maior valor. 4.1.1 Aposentadoria requerida pela empresa A aposentadoria é, em regra, voluntária, e depende do ato de vontade do segurado. Entretanto há uma exceção que é a aposentadoria requerida pela empresa, contida no art. 51 da Lei n° 8.213/1991. Significa dizer, portanto, que a empresa, segundo a lei, possui a faculdade de requerer o benefício desde que o segurado tenha cumprido o período de carência e a idade de 70 (setenta) anos de idade, se for homem, ou 65 (sessenta) anos, se for mulher. 90 "Art. É garantido ao segurado com direito à aposentadoria por idade a opção pela não aplicação do fator previdenciário" (BRASIL, 1999). 91 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 660. 92 EDUARDO; EDUARDO, op. cit., p. 329. 93 Ibid., loc. cit. 284Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT A aposentadoria compulsória também é aplicada ao segurado, conforme jurisprudência a seguir: APOSENTADORIA EMPREGADO PÚBLICO CELETISTA. REINTEGRAÇÃO. Consoante entendimento pacificado nesta Corte superior, ao servidor público celetista também é aplicável a aposentadoria compulsória prevista no artigo 40, § II, da Constituição da República. Precedentes desta Corte superior. Agravo de instrumento a que se nega provimento. DANOS MORAIS. Os dispositivos constitucionais invocados pelo reclamante (artigos III e IV, e I, da Constituição da República) não guardam pertinência com a matéria ora em discussão, relativa à indenização por danos morais. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST AIRR: 1557402520085020022 Relator: Lelio Bentes Corrêa, Data de Julgamento: 14/05/2014, Turma, Data de Publicação: DEJT 16/05/2014) Como se trata de rescisão do contrato de trabalho sem que se caracterize justa causa, existe a garantia ao empregado à indenização devida na forma trabalhista (equivalente a 40% dos depósitos de FGTS na conta vinculada), sendo considerada como data da rescisão do contrato de trabalho o dia imediatamente anterior ao do início da Todavia existe divergências a esta regra, como disserta Martinez,95 que sem discutir a constitucionalidade do disposto no art. 51 da Lei n° 8.213/1991, pontua que a norma compreende decisão de requerer o benefício previdenciário a despeito da prestação situar-se no campo da norma pública, é do titular do direitol. Não se pode negar que duas questões devem ser analisadas com certa cautela ao se tratar do dispositivo em questão. A primeira diz respeito à liberdade do trabalhador, pois, em tese, quem detém o direito e a legitimidade de pleitear a aposentadoria por idade é o trabalhador. Logo, quando o empregador solicita a aposentadoria do segurado, por ter este completado a idade de 70 (setenta) anos, se homem, ou 65 (sessenta e cinco), se mulher, impondo-lhe a inatividade, semelhante ao que ocorre no serviço público, com o instituto da aposentadoria compulsória, acaba por adentrar na esfera de um direito individual. A segunda questão diz respeito à constitucionalidade do dispositivo, a exemplo dos questionamentos inúmeros que se tece acerca da aposentadoria compulsória no serviço público, principalmente porque a expectativa do brasileiro aumenta a cada ano, e os indivíduos tendem a permanecerem ativos, no mercado de trabalho. Logo, seria tais modalidades de aposentadoria compulsória e a requerimento do empregador uma clara afronta à liberdade do trabalhador, a ensejar o reconhecimento da sua inconstitucionalidade. Em que pesem os questionamentos, na hipótese de o empregador requerer a aposentadoria por idade ao trabalhador que atingir a idade de 70 (setenta) anos, se homem, e 65 (sessenta e cinco), se 94 MIRANDA, op. cit., p. 190. 95 MARTINEZ, op. cit., p. 392. 285Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT mulher, não restam alternativas ao segurado, já que este não pode recusar a prestação previdenciária, e restará o contrato de trabalho rescindido. Assim, fica garantida ao segurado que for aposentado compulsoriamente a indenização prevista na legislação trabalhista. Neste caso, é considerado como data de rescisão do contrato de trabalho o dia anterior ao início do benefício Ao tratar da extinção do contrato de trabalho, Oliveira97 adverte que: Extinguindo-se o contrato de trabalho, por qualquer motivo, há sempre, por parte do empregador, a obrigação de pagar ao empregado determinadas importâncias correspondentes a vantagens decorrentes do pacto laboral por imposição legal. Muitas vezes, o empregador cumpre, espontaneamente, essa obrigação e efetua o pagamento das parcelas devidas ao obreiro. Outras vezes, não o faz e o empregado leva o caso à Justiça do Trabalho, para que o patrão seja forçado a lhe pagar o que lhe deve. Ainda, ao empregador que rescindir o contrato de trabalho através da aposentadoria compulsória, recai o dever de indenizar o empregado, como se estivesse demitindo este sem justa causa. Portanto, deve a empresa arcar com a indenização prevista na Consolidação das Leis do Trabalho. Por fim, cabe enfatizar que, no momento em que o empregador solicitar a aposentadoria compulsória de seu empregado que tiver cumprido os requisitos para a obtenção da mesma, o obreiro não ficará impedido de realizar novo contrato de trabalho,98 já que a aposentadoria por idade não obsta a permanência do trabalhador no mercado de trabalho. 4.2 APOSENTADORIA POR IDADE RURAL A aposentadoria por idade do trabalhador rural, como já apontado alhures, é reduzida em 5 (cinco) anos em relação ao trabalhador urbano. Logo, a idade mínima é de 60 (sessenta) anos para o homem, e de 55 (cinquenta) anos para a mulher. De acordo com Eduardo e Eduardo,99 tem direito à aposentadoria rural por idade os seguintes segurados: [...] o contribuinte individual pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4 (quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro) módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos; o contribuinte individual que presta serviço de natureza rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; o trabalhador avulso que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão gestor de mão de obra ou do sindicato da categoria. 96 FORTES, PAULSEN, 2000, p. 159. 97 OLIVEIRA, 1996, p. 65. 98 MARTINS, op. cit., p. 364. 99 EDUARDO; op. cit., p. 330-331. 286Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Também faz jus à redução de 05 (cinco) anos para fins de concessão do benefício em comento o segurado especial, -a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em regime de economia exerça atividade rurícola ou a ela equiparada, nos termos da legislação Ainda, para o trabalhador rural, há regra especial, pois este é isento de comprovar contribuição até 24/07/1991 para obtenção de aposentadoria voluntária, bastando, para tanto, comprovar o exercício de atividade, ainda que descontínua, no período imediatamente anterior ao implemento dos requisitos para obtenção do benefício. Castro e afirmam que, no caso em comento, também se aplica a tabela progressiva que trata o art. 142 da Lei n° 8.213/1991. Após esta data a contribuição é necessária, e a carência exigida é de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais. No âmbito dos segurados trabalhadores rurais, há observância de duas regras para o cálculo do benefício: uma, a regra geral, que se aplica a todas as aposentadorias por idade, desde que haja contribuição recolhida sobre a comercialização da produção rural; a outra, especial, para trabalhadores rurais que não conseguirem provar contribuição para o sistema, prevista no art. 143, da Lei n° 8.213/1991, que assim dispõe: Art. 143. trabalhador rural ora enquadrado como segurado obrigatório no Regime Geral de Previdência Social, na forma da alínea "a" do inciso I, ou do inciso IV ou VII do art. 11 desta Lei, pode requerer aposentadoria por idade, no valor de um salário mínimo, durante quinze anos, contados a partir da data de vigência desta Lei, desde que comprove o exercício de atividade rural, ainda que descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em número de meses idêntico à carência do referido A intenção deste benefício é de proteger um grande contingente de trabalhadores rurais que não contribuíram de forma adequada para o Regime de Previdência Social a que pertenciam. O legislador atribuiu a este trabalhador rural o benefício no valor de um salário mínimo, sem que houvesse a necessidade de comprovação de Ressaltam Castro e que a redação original do art. 143 da Lei 8.213/1991 impunha ao trabalhador rural a obrigação de comprovar o exercício da atividade rural, ainda que de forma não continuada, nos últimos cinco anos anteriores ao requerimento junto à autarquia previdenciária. Porém, no ano de 1995 foi o dispositivo legal alterado pela Lei n° 9.063, que passou a exigir, como se extrai da leitura do mesmo, a comprovação no período imediatamente anterior, sem, contudo, exigir que labor 100 Ibid., p, 330. 101 LAZZARI, op. cit., p. 651. 102 BRASIL, 1991. 103 TSUTIYA, op. cit., p. 323. 104 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 652. 287Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT na atividade rural pelo prazo de 05 (cinco) anos, o que não afasta a obrigatoriedade de se comprovar o período equivalente à carência exigida para a aposentadoria por idade, ou seja, 15 (quinze) anos. Sobre o benefício da aposentadoria rural Castro e enfatizam a evolução da prestação previdenciária em comento, in verbis: A aposentadoria do trabalhador rural por idade, no regime precedente à Lei n. 8.213/1991, somente era devida ao homem, e, excepcionalmente, à mulher, desde que estivesse na condição de chefe ou arrimo de família, nos termos do art. 297 do Decreto n. 83.080/1979. Isso porque, no regime da LC n. 11/1971, a unidade familiar compunha-se de apenas um trabalhador rural; os demais eram dependentes. A partir da Lei n. 8.213/1991, esse benefício foi estendido aos demais integrantes do grupo familiar (cônjuges ou companheiros, filhos maiores de 14 anos ou a eles equiparados), nos termos do art. VII, da mencionada lei. De fato, somente os trabalhadores rurais enquadrados nas categorias de segurado empregador, trabalhador eventual (contribuinte individual), trabalhador avulso e segurado especial podem ter esta diminuição de cinco anos de idade para aposentadoria que a lei possibilita, com a redação dada pelo art. 48, § 1°. da Lei 8.213/91 e pelo art. 51 do Decreto n° 106 Anote-se que também o pescador artesanal tem direito à aposentadoria em comento, ainda que não tenha recolhido para a previdência social, já que fora equiparado ao trabalhador Cumpre salientar aqui que a diminuição no tempo de cinco anos para aposentadoria rural se justificaria por ser tal modalidade de labor mais penoso. Não se pode falar, portanto, em violação ao princípio da igualdade, pois é a própria Constituição determina tratamento diferenciado, justificando, por conseguinte, a redução no tempo para a concessão da aposentadoria por idade aos rurícolas, bem como a dispensa no tocante à efetiva contribuição para o embora se faça necessária a comprovação da prova da atividade rural, como se passa a abordar no próximo item. 4.2.1 Comprovação da atividade rural para fins de aposentadoria por idade A concessão da aposentadoria rural por idade está condicionada, nos termos do art. 48, da Lei n° 8.213/1991, à idade mínima de 60 (sessenta) anos se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos, se mulher, e a comprovação do exercício de atividade rural, nos termos do art. 143 do mesmo diploma legal. A comprovação, nos termos do art. 106, da Lei n° 8.213/1991, pode ser feita mediante: Art. 106. A comprovação do exercício de atividade rural será feita, alternativamente, por meio de: I Contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social; II Contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural; 105 Ibid., p. 651. 106 Ibid., loc. cit. 107 Ibid., loc. cit. 108 MARTINS, 2005, p. 372. 288Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT III declaração fundamentada de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS; V Comprovante de cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA, no caso de produtores em regime de economia familiar; V Bloco de notas do produtor rural; VI Notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § do art. 30 da Lei n° 8.212, de 24 de julho de 1991, emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do nome do segurado como vendedor; VII documentos fiscais relativos a entrega de produção rural à cooperativa agrícola, entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou consignante; VIII comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização da produção; IX Cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente da comercialização de produção rural; ou X Licença de ocupação ou permissão outorgada pelo dispositivo supracitado teve redação dada pela Lei n° 11.718/2008, sendo as sucessivas alterações no referido dispositivo demonstração de que há um alargamento nos meios de prova, na seara administrativa, da atividade rural, pois quando do advento da lei era estritamente restrito o rol de documentos aceitos pela Previdência para a comprovação da condição de rurícola. Sobre o tema pontua que a doutrina vem afirmando que a prova da atividade rural pode ser qualquer meio de prova contemporânea aos fatos, como bloco de notas, registro do INCRA, Declaração do Sindicato Rural, Certidões de Casamento, nascimento de filhos, certidão de reservista ou dispensa, nas quais devem constar a sua profissão, como lavrador. Registrado o entendimento da Súmula n° 06, da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais sobre a matéria. -A certidão de casamento ou outro documento idôneo que evidencie a condição de trabalhador rural do cônjuge constitui início razoável prova material de atividade Nesse ponto é mister ressaltar que se considera início de prova material documentos atuais ao período que se pretende Também se colhe da jurisprudência da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, sobre a prova do trabalho rural, a Súmula n° 14, a qual consolidou que, para a -concessão da aposentadoria rural por idade, não se exige que o início de prova material, corresponda a todo o período equivalente à carência do O Tribunal Regional Federal da 2° Região, por sua vez, também já se pronunciou sobre o assunto, como enfatiza 109 1991. 110 TSUTIYA, op. cit., p. 324. 111 Ibid., loc. cit. 112 MIRANDA, op. cit., p. 193. 113 CASTRO; LAZZARI, op. cit., p. 652. 114 MIRANDA, op. cit., p. 193. 289Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Início de prova material, a que alude o art. 55 § 3°, da Lei 8.213/91 é qualquer documento escrito que demonstre inequivocamente o exercício da atividade requerida, ainda não corresponda integralmente ao período exigido em lei, desde que complementado por qualquer outro meio de prova idôneo. Observa o mesmo autor que o início de prova material nada mais é que um início de prova, um indício, que pode vir a ser completada a outros dados probatórios, ou seja, não se refere uma prova completa, mais um começo de prova que vai fazer que se levante uma discussão jurídica sobre o A Súmula n° 149 do Superior Tribunal de Justiça, editada no ano de 1995, por sua vez, esclarece que prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção do benefício previdenciáriol. Destarte, cabe à parte corroborar e, na hipótese de ter que comprovar judicialmente a condição de rurícola, não se prender apenas à prova testemunhal, produzindo indício de prova material. Desta feita, cabe ao trabalhador rural comprovar, a um só tempo, a carência exigida por lei, dentro do período estabelecido no bojo do art. 143 da Lei 8.213/1991 15 (quinze) anos, possuir a idade exigida, e conseguir provar que trabalhou realmente na lavoura através de documentos contemporâneos, poderá solicitar junto à previdência social o benefício da aposentadoria por idade. 4.3 CONVERSÃO DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ OU AUXÍLIO-DOENÇA EM APOSENTADORIA POR IDADE Não se pode ignorar a possibilidade de transformação da aposentadoria por invalidez ou auxílio- doença em aposentadoria por idade. Nesse ponto se faz mister algumas colocações, pois é situação interessante tal possibilidade, desde que requerida pelo segurado e cumprida a carência exigida na data de início do benefício transformado, nos termos do art. 55 do Decreto Embora não seja objeto do presente estudo, não é demais salientar que os benefícios supracitados aposentadoria por invalidez e auxílio-doença não são permanentes, ou seja, de duração definitiva. Por consequência este procedimento poderá se tornar vantajoso para o segurado, haja vista que este não estará mais sujeito à perícia médica periódica e ao eventual cancelamento do benefício, caso recuperada a capacidade Ocorre que por desconhecimento dos seus direitos não raras vezes o segurado permanece em situação de insegurança, percebendo o auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez quando já faz jus à aposentadoria por idade. 115 Ibid., loc. cit. 116 TSUTIYA, op. cit., p. 324. 117 MIRANDA, op. cit., p. 190. 290Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT De acordo com o que está disposto no art. 29, § 5°, da Lei n° 8.213/1991, o segurado em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez terá o tempo de inatividade computado como de contribuição. Desta forma, -esse tempo será contado para cômputo do período de carência e tempo de contribuição para a aposentadoria por Buscando exemplificar, ressalta que se um trabalhador urbano que esteve em gozo de aposentadoria por invalidez após completar 96 (noventa e seis) contribuições em dezembro de 2002, poderá pleitear uma aposentadoria por idade se, no ano de 2007, vier a completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade. Isso se deve porque, tendo em vista que os 60 (sessenta) meses contados de dezembro de 2002 a dezembro de 2007 são considerados para efeito de carência, que somados aos 96 (noventa e seis) meses anteriores chega ao total de 156 (cento e cinquenta e seis) contribuições mensais, que é o período de carência exigido para a aposentadoria por idade em 2007, considerando a regra de transição contida na tabela inserta no art. 142, da Lei n° 5 CONCLUSÃO Ao longo do presente estudo buscou-se compreender as peculiaridades da aposentadoria por idade no Regime Geral de Previdência Social, modalidade de prestação previdenciária que ao lado da aposentadoria por invalidez e do auxílio-doença é um dos mais conhecidos benefícios concedidos pela previdência, muito embora possua características desconhecidas por muitos segurados. Para o melhor entendimento do tema, viu-se a necessidade de contextualizar a Previdência Social na evolução da humanidade, já que é, na atualidade, ao lado da Assistência Social e da Saúde, um dos direitos do indivíduo, unificado na moderna conceituação de Seguridade Social. Assim, constatou-se que a Previdência Social surgiu com a finalidade de proteger o trabalhador contra a desigualdade social. Em face disto propicia meios indispensáveis à subsistência da pessoa humana quando esta não puder auferir através do seu próprio trabalho, ou por decorrência de fatos que fazem parte do nosso cotidiano, como a maternidade, a incapacidade, idade avançada, ou a morte do trabalhador. Desta feita, estando a Previdência Social consagrada no rol dos direitos fundamentais, ao lado do direito à saúde, à educação, à segurança, à maternidade, dentre outros, nos termos do art. 6°, da Constituição da República de 1988, a sua importância resta ressaltada, principalmente porque restou afastada aquela concepção assistencialista e atrelada a instituições privadas que norteou o instituto em seus primórdios. 118 TSUTIYA, op. cit., p. 325. 119 Ibid., loc. cit. 120 Ibid., loc. cit. 291Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Constatou-se que o marco inicial da Previdência Social no Brasil, em que pese a existência de diplomas legais anteriores, foi a publicação da Lei Eloy Chaves Decreto-Lei n° 4.682, de 24 de janeiro de 1923. Atualmente, a Constituição de 188 dedica um capítulo específico à Seguridade Social, que contemplo, como já dito, a Previdência Social. Não obstante, foi a Constituição da República um marco em matéria previdenciária, principalmente pela consagração do princípio da universalidade, que tornou acessível a Seguridade Social a todas as pessoas, sempre mediante a participação do segurado por meio de sua contribuição, pois será em consequência destas contribuições que os segurados que estiverem nas contingências estarão amparados. Dentre os benefícios atualmente prestados pela Previdência Social se encontra a as aposentadorias por idade, por invalidez, tempo de contribuição e especial, o auxílio-doença, o auxílio- acidente, o auxílio-reclusão, a pensão por morte, o salário-maternidade e o salário-família. Assim, em virtude das diversas espécies de aposentadoria que coexistem no ordenamento jurídico brasileiro, fez- se necessário abordar não apenas o conceito do instituto, mas também distinguir brevemente as modalidades. Ao presente estudo interessa a aposentadoria por idade, disciplinada nos arts. 48 e seguintes da Lei 8.213/1991, que pode ser concedida ao homem que requeira após atingir 65 (sessenta e cinco) anos e à mulher, após a idade de 60 (sessenta) anos, e tendo sido cumprida a carência exigida por lei, qual seja, 180 (cento e oitenta) contribuições, sendo que a legislação autoriza a redução da idade de 05 (cinco) anos para os trabalhadores rurais, em virtude do tratamento diferenciado conferido a esta classe. Não é demais salientar que período de carência é um número mínimo de contribuições indispensáveis para que o beneficiário tenha direito ao benefício. A manutenção da qualidade de segurado ocorre enquanto estiver desenvolvendo atividade laborativa obrigatoriamente vinculada ao Regime Geral da Previdência Social. É uma ferramenta necessária para concessão do benefício. E esta aquisição se dá com a filiação do segurado. É mister ressaltar que para a concessão da aposentadoria por idade, o legislador estabeleceu uma regra de transição, quando do advento da Lei n° 8.213/1991. Assim, para os para os segurados filiados à Previdência Social até 24/07/1991, que compõe uma tabela progressiva elencada no 142 do citado diploma legal, observa-se um prazo reduzido no tocante à carência; e a segunda regra, por assim dizer, foi instituída para aqueles filiados ao sistema previdenciário após 24/07/1991, aplicando-se a estes a regra geral do art. 25, inciso II, da referida lei, que é de 180 (cento e oitenta) meses. 292Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Portanto tendo o segurado preenchido o requisito idade e reunido o número mínimo de contribuições ou de tempo de serviço (carência) segundo o ano em que completou os requisitos, poderá se aposentar. Algumas questões, porém, apesar da disciplina legal do instituto, na prática acabam por contribuir para inseguranças e incongruências, a exemplo do indeferimento de aposentadorias por idade, quando o requerente, ao completar os 65 (sessenta e cinco) anos, se homem, ou 60 (sessenta) anos, se mulher, não se encontra na qualidade de segurado, embora já tenha implementado a carência exigida pela lei. Nesses casos a jurisprudência é pacífica no sentido de que não há o que se falar em simultaneidade entre os requisitos exigidos por lei, pois o direito adquirido à aposentadoria por idade impõe à autarquia previdência que conceda o benefício em comento, mesmo que, quando do requerimento, não se encontre o indivíduo segurado. Basta que tenha a idade mínima exigida por lei, e o número de contribuições a que se refere o período de carência, qual seja, 180 (cento e oitenta) contribuições. Essa regra, porém, não se aplica ao trabalhador rural, categoria que também fomenta sérias divergências no que tange a aposentadoria por idade. Isso se deve porque a legislação, quanto a tais trabalhadores, ressalta a imprescindibilidade de estarem exercendo a atividade no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício. problema maior quanto aos rurícolas diz respeito à comprovação da qualidade de rural, pois a legislação previdenciária apresenta um rol de documentos; e, não raras vezes, os pedidos administrativos são indeferidos ao argumento de que não restou comprovada a condição de rural, sendo necessária a busca, junto ao Poder Judiciário, para fazer prova da condição de trabalhador rural, no período de 15 (quinze anos), o que equivale a carência exigida por lei para a concessão do benefício, ainda que de forma descontínua. No âmbito do Poder Judiciário, por sua vez, se faz necessário indício de prova material, não sendo possível comprovar a condição de rurícola, para fins previdenciários, apenas por meio de oitiva de testemunhas, entendimento este inclusive sumulado. Contudo, há um alargamento nos documentos hábeis à comprovação. Não se pode negar que dentre os estudiosos do Direito há uma grande preocupação com os indeferimentos no âmbito administrativo, no que toca os benefícios previdenciários, em especial as aposentadorias por idade, seja do segurado urbano, ou do rurícola, pois se trata de prestação que vem atender às necessidades do trabalhador quando a idade avançada lhe alcança. Logo, implementados os requisitos legais, não pode a autarquia previdenciária obstar tal direito, criando entraves à sua concessão. 293Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT Desta feita, espera-se, com este estudo, uma maior conscientização acerca das peculiaridades da aposentadoria por idade, mormente quanto aos seus requisitos legais, sendo os exemplos aqui citados apenas uma forma de alertar para os problemas práticos, e a necessidade de uma conscientização quanto aos direitos assegurados na legislação previdenciária, pois se trata de um direito social consagrado na Constituição vigente, sendo imperiosa a atuação do Estado para torná-lo efetivo. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e às pessoas que efetivamente contribuíram para a elaboração do trabalho, minha orientadora Maria Eugênia e aos professores das disciplinas, cujos ensinamentos foram incorporados na presente Monografia, agradeço à Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus pelos incentivos aos estudos e pesquisas que contribuíram para a realização deste trabalho. 294Latin American Journal of Development, Curitiba, v.6, n.1, p. 258-296, 2024. ISSN 2674-9297 LATIN AMERICAN JOURNAL OF DEVELOPMENT REFERÊNCIAS ALLY, Raimundo Cerqueira. Normas previdenciárias de Direito do Trabalho. São Paulo: IOB, 2002. BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito previdenciário. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014. BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito previdenciário: série concursos públicos. São Paulo: Método, 2009. BARROS Cássio de Mesquita. Previdência social urbana e rural. São Paulo: Saraiva, 1981. 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