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Biofísica Potencial de repouso e equação de Nernst Prof. Marco Aurélio Conceitos Simples de Eletricidade Diferença de potencial (Voltagem): Colocando-se eletrotodos dentro e fora de célula temos uma diferença de potencial de – 70 mV, ou seja, há um potencial negativo de 70 mV no interior da célula em relação ao meio externo. O instrumento usado para medir a diferença de potencial é o voltímetro, sua colocação está representada do diagrama esquemático abaixo. Neurônio Eletrodos V Voltímetro + - I Corrente elétrica (I): É o movimento de cargas elétricas em meios condutores, é medida em Ampères (A), o que equivale a 1 Coulomb/segundo, uma unidade relativamente grande para os propósitos da biofísica, assim normalmente trabalha-se com submúltiplos desta unidade física, tais como, miliampère (mA, 10-3 A), microampère (A, 10-6), nanoampère (nA, 10-9) e picoampère (pA, 10-12 A). As cargas para os fenômenos elétricos na membrana celular são íons, tais como, Na+,K+, Ca++ e Cl-. Conceitos Simples de Eletricidade Neurônio Eletrodos A Amperímetro + - I Método para Medir o Potencial de Repouso +++++++++++++++++++++++++ -------------------------------------------- -------------------------------------------- +++++++++++++++++++++++++ Neurônio Axônio Amplificador Oscilóscopio Eletrodos -70mV Dois eletrodos, inseridos no axônio de um neurônio em repouso, detectam a pequena diferença de potencial, entre os meios extra e intra celular, esse sinal é amplificado e mostrado num osciloscópio. Meio extracelular Meio intracelular Comportamento Elétrico da Membrana Celular C R V S Membrana como circuito RC. A análise do comportamento elétrico da membrana celular permite traçarmos uma analogia com um circuito paralelo resistivo-capacitivo (RC). C: Capacitância do capacitor, é a relação entre a quantidade de carga elétrica (Q) e a voltagem (V), sua unidade é o Farad (F). 1 F = 1 Coulomb/Volt. R: Resistência elétrica, é a oposição à passagem da corrente elétrica, mede-se em Ohms (). R - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ++++++++++++++++++++++++ Circuito RC Modelo de membrana celular +++++ - - - - - Comportamento Elétrico da Membrana Celular Resistência Elétrica das Membranas Rigidez elétrica. Resistência elétrica é a oposição do meio à passagem da corrente elétrica, quanto maior a resistência elétrica, pior condutor é o meio. Dados experimentas sobre modelos de membrana artificiais apresentam resistência elétrica na faixa de 106 a 109 .cm2, esses valores excedem em muito aos observados para membranas celulares, que variam na faixa de 103 a 104 .cm2 (Weidmann, 1952, 1970). A inclusão de proteínas nas membranas artificiais reduzem consideravelmente a resistência elétrica das membranas artificiais, o que ressalta o papel das proteínas nos modelos de membranas celulares. Referências: Weidmann, S. (1952). J. Physiol., 118:348-360. Weidmann, S. (1970). J. Physiol., 210:1041-1054. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 8). Permeabilidade Elétrica das Membranas Permeabilidade elétrica. Estudos realizados por Dean em 1941 indicaram que a membrana celular é permeável a íons como sódio e potássio, foram utilizados íons radioativos, que permitiram verificar a alta concentração de sódio e e baixa concentração de potássio no meio extracelular, quando comparado com o meio intracelular. A explicação de Dean para tal observação foi a seguite: “some sort of pump possibly located in the membrane which can pump out sodium or, what is equivalent, pump in the potassium”. A descoberta da bomba de sódio/potássio viria a confirmar a previsão de Dean. Referência: Dean, R. B. (1941). Biol. Symp., 3:331-348. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 8). Bomba de Na+/K+ Em 1955 Hodgkin e Keynes, realizando experimentos com axônio de sépia (Sepia officinalis), determinaram que havia transporte do íon de sódio do meio intracelular para o meio extracelular, às custas de energia metabólica. Os experimentos foram realizados em água do mar artificial, contendo o íon de sódio radioativo 24Na+ . No experimento havia estímulo do axônio de sépia, que elevava a concentração intracelular do sódio radioativo. Em seguida o axônio era lavado e mergulhado em água do mar, sem sódio radioativo. O monitoramento da radioatividade indicava que havia passagem de sódio radioativo, do axônio para a água do mar. O próximo slide indica a liberação do sódio radioativo em função do tempo. Referência: Hodgkin, A. L. & Keynes, R. D. (1955). J. Physiol. 128:28-60. O gráfico ao lado mostra a liberação do sódio radioativo em função do tempo. Na fase inicial o axônio estava mergulhado em água do mar artificial, onde então adiciona-se DNP, que tem o efeito de bloquear a cadeia respiratória. Por volta do 200 minutos a solução do banho é trocada, colocando-se água do mar natural. Observa-se a partir do gráfico um aumento do sódio radioativo no meio extracelular, indicando que há passagem de sódio. Referência: Hodgkin, A. L. & Keynes, R. D. (1955). J. Physiol. 128:28-60. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 11). Bomba de Na+/K+ E fl u x o d e 2 4 N a (c o n ta g e m /m in /m in ) Tempo (min) O presente gráfico mostra os resultados do experimento de Caldwell e colaboradores de 1960. Nesse experimento é injetado ATP ao axônio de sépia, após a injeção de cianeto. O cianeto tem como efeito bloquear a cadeia respiratória. A injeção de ATP faz elevar o nível de sódio no meio extracelular. Os experimentos de Hodgkin & Keynes juntamente com os experimentos de Caldwell e colaboradores confirmaram a hipótese de Dean, sobre a existência de um sistema que bombeava sódio para fora da célula, às custas de ATP. Esse sistema também bombeia potássio, para o interior da célula e é chamado bomba de Na+/K+ . Referência: Caldwell, P. C., Hodgkin, A. L., Keynes, R. D. & Shaw, T. L. (1960). J. Physiol., 152:561-590. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 11). Bomba de Na+/K+ Na+ K+ Bomba de Na+/K+ Canais de K+ Canais de K+ são os canais mais usualmente abertos na membrana plasmática de neurônios em repouso. Assim há saída de íons K+, o que deixa um excesso de carga negativa no interior da célula. Membrana Sensor de voltagem Exterior Canal aberto Canal fechado K+ Interior celular Canal de Potássio em Ação http://wfdaj.sites.uol.com.br Difusão de Íons por Canais Passivos Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html [Íon]fora [Íon]dentro FD = RT ln ( ) FD: Força difusional FE: Força elétrica FE = VKzeA Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html Difusão de Íons por Canais Passivos [Íon]fora [Íon]dentro RT ln ( ) FE = VKzeA = FD = Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html Difusão de Íons por Canais Passivos FD: Força difusional FE: Força elétrica [Íon]fora [Íon]dentroVKzeA = (No equilíbrio) Difusão de Íons por Canais Passivos Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html FD: Força difusional FE: Força elétrica RT ln ( ) [Íon]fora [Íon]dentro VK = RT ln ( ) zeA Difusão de Íons por Canais Passivos Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html FD: Força difusional FE: Força elétrica Equação de Nernst [Íon]fora [Íon]dentro Diferença de voltagem através da membrana Concentração do íon monovalente dentro da célula Concentração do íon monovalente fora da célula Constante universal dos gases Temperatura absoluta Valência do Íon VK = RT ln ( ) zeA Carga elétrica do elétron Número de Avogrado [Íon]fora [Íon]dentro VK = RT ln ( ) zeA VK = 8,315 J/mol.K 293 K 1. 1,602.10-19C.6,022.1023 1/mol [Íon]fora [Íon]dentro ln ( ) VK = 25 mV [Íon]fora [Íon]dentro ln ( ) Equação de Nernst VK = (58 mV) log ( ) [Íon]fora [Íon]dentro Diferença de voltagem através da membrana Concentração do íon monovalente dentro da célula Concentração do íon monovalente fora da célula Equação de Nernst VK = (58 mV) log ( ) [K+]fora [K+]dentro Diferença de voltagem através da membrana Concentração do íon potássio dentro da célula Concentração do íon potássio fora da célula Equação de Nernst A equação de Nernst é uma idealização, que considera que a membrana celular é permeável a apenas um tipo de íon. Tal idealização leva a expressão simples da equação de Nernst, contudo, a sua aplicação, não consegue prever o valor final do potencial presente na membrana celular, levando-se em consideração a ação dos diversos íons presentes nas regiões intra e extra celular. Outra consideração sobre a forma simplificada da equação de Nernst, da forma apresentada ela é válida para íons monovalentes, para íons de outra valência é necessário dividir pela valência do íon (z), como mostrado na equação abaixo. VK = (58 mV) log ( ) [Íon]fora [Íon]dentro z Equação de Nernst Aplicando a Equação de Nernst VK = (58 mV) log ( ) = - 84 mV 5 mM 140 mM Ex. 1. No interior de neurônios de mamíferos a concentração de íons de potássio é de aproximadamente 140 mM e do lado de fora de 5 mM, aplicando-se estes resultados à equação de Nernst temos: VK = (58 mV) log ( ) = 56,3 mV 140 mM 15 mM Ex. 2. No interior de neurônios de mamíferos a concentração de íons de Na+ é de aproximadamente 15 mM e do lado de fora de 140 mM, aplicando-se estes resultados à equação de Nernst temos: Aplicando a Equação de Nernst A aplicação da equação de Nernst, para determinar o potencial de repouso devido à presença de diversos íons, é inadequada, pois a membrana celular apresenta permeabilidade distinta para cada íon, devido aos diferentes tipos de canais presentes na membrana celular. A análise da permeabilidade levou a uma equação mais realística, como a desenvolvida por Goldman (1941) e Hodgkin & Katz (1949). Na equação os termos PNa , PK e PCl são as permeabilidades dos íons de Na, K e Cl respectivamente. Como a permeabilidade para os outros íons é desprezível, comparadas às do Na, K e Cl, para as condições do potencial de repouso, os termos referentes aos outros íons não são incluídos na equação. VK = (58 mV) log ( ) PNa [Na]fora + PK[K]fora + PCl[Cl]dentro PNa [Na]dentro + PK[K]dentro + PCl[Cl]fora z Equação de Goldman-Hodgkin- Katz (GHK) Íon Concentração iônica intracelular [Íon]dentro (mM) Concentração iônica extracelular [Íon]fora (mM) Permeabilidade iônica (cm/s) Cl- 5 120 1.10-8 K+ 150 4 5.10-7 Na+ 15 145 5.10-9 Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 10). e http://employees.csbsju.edu/hjakubowski/classes/ch331/signaltrans/tableionpermeabcells.htm VK = (58 mV) log ( ) PNa [Na]fora + PK[K]fora + PCl[Cl]dentro PNa [Na]dentro + PK[K]dentro + PCl[Cl]fora z Aplicando-se a equação GHK temos: VK = -83,5 mV, bem próximo ao valor determinado experimentalmente (de -85 a -95 mV). Composição Iônica da Membrana do Músculo Cardíaco Trabalho 1) Explique o potencial de repouso da célula. 2) Usando-se a equação de Nernst determine a diferença de potencial (VK) devido a cada um dos seguintes íons, sabendo-se suas concentrações intracelular e extracelular. a) [Na+]extracelular=140 mM, [Na+]intracelular= 15 mM, b) [K+]extracelular= 5 mM, [K+]intracelular= 140 mM, A equação de Nernst é a seguinte: VK = (58 mV) log {[I]extracelular/[I]intracelular}, onde [I] é a concentração do íon sendo analisado. Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000. Purves, W. K., Sadava, D., Orians, G. H., Heller, H. G. Vida. A Ciência da Biologia. 6a ed. Artmed editora. 2002. Referências
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