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@diego_sanson – UFJF A membrana neuronal em repouso Introdução: A carga elétrica no citosol do axônio é transportada por átomos eletricamente carregador (íons) em vez de elétrons livres. Isso torna o citosol muito menos condutivo do que um fio de cobre. Ademais, além de o axônio não ser particularmente bem isolado, ele é banhado em fluido extracelular salino, que conduz eletricidade. A membrana do axônio possui propriedades que driblam essa situação e permite a condução do sinal, o impulso nervoso ou potencial de ação. Os potenciais de ação são diminuem com a distância, pois são sinais de tamanho e duração fixas. A informação está codificada na frequência dos potenciais de ação dos neurônios, bem como na distribuição e no número de neurônios disparando os potencias de ação em um dado nervo. Células capazes de gerar e conduzir potenciais de ação, que incluem tanto células nervosas como musculares, são conhecidas por possuírem uma membrana excitável. A “ação” nos potenciais de ação ocorre na membrana celular. Quando uma célula com membrana excitável não está gerando impulsos, diz-se que ela está em repouso. No neurônio em repouso, o citosol em contato com a superfície interna da membrana possui carga elétrica negativa com relação ao exterior. Essa diferença de carga elétrica através da membrana é chamada de potencial de repouso da membrana (ou potencial de repouso). O potencial de ação é simplesmente uma breve inversão dessa condição e, por um instante o interior da membrana torna-se positivamente carregado em relação ao exterior. A escolha dos componentes químicos: - Íons são os principais portadores de carga envolvidos na condução da eletricidade em sistemas biológicos, incluindo o neurônio. Os íons especialmente importantes para a neurofisiologia celular são os cátions: Na+, K+ e Ca2+, e o ânion Cl-. - Os lipídios da membrana neuronal contribuem para os potenciais de repouso e ação por formarem uma barreira aos íons solúveis em agua e a própria água. A bicamada fosfolipídica isola o citosol do neurônio do fluido extracelular. - O tipo, e a distribuição das moléculas proteicas distinguem os neurônios de outros tipos celulares. @diego_sanson – UFJF - Os potencias de repouso e de ação são dependentes de proteínas especiais que atravessam a bicamada lipídica. Essas proteínas – os chamados canais iônicos – definem passagens para os íons através da membrana neuronal. - Canais iônicos possuem uma propriedade, determinada pelo diâmetro do poro e pela natureza dos grupamentos R que o revestem, que é a seletividade iônica. Outra importante propriedade de muitos canais é a existência de portões: esses podem ser abertos ou fechados por alterações no microambiente local da membrana. - Outras proteínas transmembrana organizam-se para formar bombas iônicas, que são enzimas que usam a energia liberada pela quebra do ATP para transportar certos íons através da membrana. O movimento de íons: A existência de um canal aberto na membrana não necessariamente significa que haverá movimento direcionado de íons através da mesma. Tal movimento também requer que forças externas sejam usadas para forçá-los a atravessar. Movimentos iônicos através de canais são influenciados por dois fatores: difusão e eletricidade. Difusão: Movimento direcionado de íons de regiões de alta concentração para regiões de baixa concentração. Apesar de os íons normalmente não passarem diretamente através da bicamada fosfolipídica, a difusão faz com que os íons sejam forcados através dos canais da membrana. A diferença de concentração do meio intra extracelular é chamada de gradiente eletroquímico. Os íons fluem a favor do gradiente de concentração. Íons que sejam forçados a atravessar a membrana por difusão assim o fazem quando 1: a membrana possui canais a eles permeáveis e 2: existe um gradiente de concentração através da membrana. Eletricidade: Uma outra maneira de induzir um movimento direcionado de íons em uma solução é usando um campo elétrico. @diego_sanson – UFJF O potencial elétrico, também chamado de voltagem, reflete a forca exercida sobre uma partícula carregada, assim como a diferença entre o anodo e o catodo. Mais corrente flui quanto maior for essa diferença. O movimento de qualquer íon através de seu canal depende do gradiente de concentração e da diferença no potencial elétrico através da membrana. As bases iônicas do potencial de repouso da membrana: O potencial de membrana é a voltagem através da membrana neuronal em qualquer momento, sendo representado pelo símbolo Vm. Às vezes, o Vm está “em repouso”; outras vezes não (no potencial de ação). O interior do neurônio é eletricamente negativo em relação ao exterior. Essa diferença constante será mantida sempre que o neurônio não esteja gerando impulsos. O potencial de repouso de um neurônio típico é de cerca de -65 mV. Potenciais de equilíbrio Se a membrana fosfolipídica for impermeável, mesmo que exista uma diferença de concentração entre o meio interno e externo, não haveria movimento direcionado de íons, tendo 0 mV como diferença de potencial. À medida que o fluido no interior adquirisse mais e mais carga negativa, a força elétrica começaria a atrair os íons de K+ positivamente carregados de volta para o interior celular. Quando uma determinada diferença de potencial fosse atingida, a força elétrica atraindo os íons K+ ao interior contrabalançaria a forca de difusão que os estaria colocando para fora. Assim, um estado de equilíbrio seria atingido, onde a força elétrica e a força de difusão seriam iguais e opostas, cessando o movimento direcionado de K+ através da membrana. A diferença de potencial elétrico que contrabalança exatamente um gradiente de concentração iônico é chamado de potencial de equilíbrio iônico ou potencial de equilíbrio. Observações importantes: - Grandes alterações no potencial de membrana são causadas por alterações minúsculas nas concentrações iônicas. @diego_sanson – UFJF - A diferença de carga elétrica ocorre entre as superfícies interna e externa da membrana. Em função de a bicamada ser tão fina, torna-se possível que os íons de um lado interajam eletrostaticamente com os íons do outro lado da bicamada. A carga negativa de dentro da célula não é distribuída igualmente pelo citosol, mas, ao contrário, é localizada na face interna da membrana. Capacitância da membrana. - Íons são impelidos através da membrana em uma velocidade proporcional a diferença de potencial de membrana e o potencial de equilíbrio. Vm – Eion é chamado de força de impulsão iônica. - Se a diferença de concentração para um íon através da membrana é conhecida, o potencial de equilíbrio para esse íon pode ser calculado. A equação de Nernst: cada íon tem seu próprio potencial de equilíbrio- o potencial elétrico estacionário que seria atingido se a membrana fosse permeável somente aquele íon. Sabendo-se a carga elétrica de um íon e sua diferença de concentração através da membrana, pode-se facilmente deduzir se o interior celular seria positivo ou negativo no equilíbrio. A equação de Nernst leva em consideração a carga do íon, a temperatura e a razão das concentrações externas e interna do íon. Distribuição de íons através da membrana O potencial de membrana do neurônio depende das concentrações iônicas nos dois lados da membrana. O mais importante é que o K+ está mais concentrado no meio intracelular e que o Na+ e Ca2+ estão mais concentrados no meio extracelular. Gradientes de concentração iônica são estabelecidos pela ação de bombas iônicas na membrana neuronal. Bomba de sódio e potássio e a bomba de cálcio. A bomba de sódio e potássio é uma enzima que hidrolisa ATP na presença de sódio intracelular, que troca Na+ intracelular por K+ extracelular. A ação dessa bomba garante que o K+ esteja mais concentrado dentro do neurônio e que o Na+esteja mais concentrado fora. Esse trabalho, contra o gradiente de concentração, exige o gasto de energia metabólica (estima-se que a bomba de sódio e potássio gaste até 70% da quantidade de ATP utilizada pelo encéfalo. A bomba de cálcio é uma enzima que transporta ativamente Ca2+ para fora do citosol através da membrana celular. @diego_sanson – UFJF As bombas iônicas trabalham na retaguarda para assegurar que os gradientes de concentração iônica sejam estabelecidos e mantidos, sem elas, o potencial de repouso da membrana não existia, e o encéfalo não funcionaria. Permeabilidades iônicas relativas da membrana em repouso Lembre-se que o potencial de equilíbrio de um íon é o potencial de membrana que resultaria se a membrana fosse seletivamente permeável aquele íon isoladamente, contudo, os neurônios não são permeáveis a um único tipo de íon. Se a membrana de um neurônio fosse permeável somente ao K=, o potencial de membrana seria igual ao Ek, que é de -80 mV. Se a membrana de um neurônio fosse permeável somente ao Na_, o potencial de membrana seria igual ao Ena, 62 mV. O potencial de repouso da membrana, que é de -65 mV, aproxima-se, sem alcançar, do potencial de equilíbrio do potássio, que é de -80 mV. Essa diferença surge porque, apesar de a membrana em repouso ser altamente permeável ao K+, existe um vazamento constante de Na+ para dentro da célula. A equação de Goldman leva em consideração a permeabilidade relativa da membrana aos diferentes íons, se nos preocuparmos somente com K+ e Na+ e presumimos que a permeabilidade da membrana em repouso é 40 vezes maior ao K+ do que ao Na+, então a equação de Goldman prediz que o potencial de membrana é de -65 mV, que é o valor observado. O vasto mundo dos canais de potássio: A seletividade para os íons K+ provem do arranjo espacial dos resíduos de AA que revestem as regiões do poro do canal e mutações envolvendo um único AA dessa região podem interromper a função neuronal severamente. Importância da regulação da concentração externa de potássio: Outra consequência da alta permeabilidade ao K+ é que o potencial de membrana é particularmente sensível a alterações na concentração extracelular de potássio. Uma alteração no potencial de membrana do valor de repouso normal (-65mV) para um valor menos negativo é chamada de despolarização da membrana, logo, um aumento na concentração extracelular de potássio despolariza os neurônios. @diego_sanson – UFJF Mecanismos como a barreira hematencefálica (uma especialização das paredes dos capilares no encéfalo que limita o movimento de potássio para dentro do fluido extracelular do encéfalo), regulam firmemente as concentrações extracelulares de potássio no encéfalo. A glia e, em particular, os astrócitos, também possuem mecanismos eficientes para capturar K+ extracelular sempre que a concentração suba. Nem todas as células excitáveis, entretanto, são protegidas dos aumentos na concentração de potássio. Células musculares, por exemplo, não possuem uma barreira hematencefálica ou mecanismos gliais de tamponamento.
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