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ALEITAMENTO Gustavo Penna Fisiologia As mulheres adultas possuem de 15 a 25 lobos mamários (glândulas túbulo-alveolares), constituídos, cada um, por 20 a 40 lóbulos. Esses, por sua vez, são formados por 10 a 100 alvéolos. Envolvendo os alvéolos, encontram-se as células mioepiteliais e, entre os lobos mamários, os tecidos adiposo, conjuntivo, linfático, nervoso e vascular. O leite é secretado nos alvéolos por uma camada única de células epiteliais altamente diferenciadas (lactócitos) e conduzido até o exterior por uma rede de ductos. Durante as mamadas, enquanto o reflexo de ejeção do leite está ativo, os ductos sob a aréola se enchem de leite e se dilatam, formando o que antes se chamava, equivocadamente, de seios lactíferos. Na gravidez, a mama é preparada para a lactação sob a ação de diferentes hormônios. Os mais importantes são o estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e a progesterona, pela formação dos lóbulos. Outros hormônios também estão envolvidos na aceleração do crescimento mamário, como lactogênio placentário, prolactina e gonadotrofina coriônica. Embora o estrogênio e a progesterona sejam essenciais para o desenvolvimento físico das mamas durante a gravidez, ambos os hormônios possuem um efeito específico inibir a verdadeira secreção de leite Por outro lado a prolactina tem o efeito exatamente oposto e promove a secreção do leite. A prolactina é secretada pela adeno-hipófise da mãe, e sua concentração no sangue materno aumenta de forma constante a partir da quinta semana de gravidez até o nascimento do bebê, sua ação é limitada pelos elevados teores circulantes de progesterona, estrogênio e de HPL, cuja ligação com receptores alveolares possui maior afinidade. A secreção láctea (Colostro) ocorre a partir da 16ªsemana de gravidez. Em alguns casos a sua produção é tão grande que pode ocorrer o extravasamento(de Colostro) antes mesmo de ser ejetado pela ocitocina. Calcula-se que aproximadamente 30 mL de colostro podem ser secretados diariamente durante a gestação. Após a fase de iniciação secretora (lactogênese I), que se inicia na 2ª metade da gravidez e se estende até 2 a 3 dias após o parto, então inicia-se a ativação secretora (lactogênese II), cujo início corresponde à “descida do leite” ou apojadura. A síntese do leite após o nascimento da criança é controlada basicamente pela ação hormonal, e a “descida do leite”, que costuma ocorrer entre o 2o e 3º dia após o parto, ocorre mesmo sem a sucção da criança ao seio. Com o parto e a dequitação, os níveis circulantes de estrógeno, HPL e progesterona produzidos pela placenta decrescem de forma abrupta, possibilitando a ação da prolactina em seus receptores mamários. A prolactina exerce seus efeitos na mama, modificando a secreção de colostro para leite propriamente dito no período de aproximadamente 72 horas. A prolactina produz uma série de efeitos nas células alveolares: • Diferenciação celular da fase pré-secretória para a fase secretória. • Estímulo da síntese de RNA para produção de proteínas específicas do leite (alfalactoalbumina). • Indução de enzimas catalisadoras da produção da lactose (galactosiltransferase e lactose sintetase). Em seguida, em torno do 7o ao 10o dia pós-parto, inicia- se a fase de manutenção da lactação, também denominada galactopoiese. A galactocinese, por sua vez, é o mecanismo que descreve a ejeção do leite durante a sucção das mamas pelo neonato. A produção e a ejeção do leite são controladas por arcos reflexos neurais, iniciando-se em terminações nervosas livres no complexo areolopapilar. O estímulo dessas terminações nervosas leva informações pelas vias aferentes torácicas (de T4 a T6), com liberação de ocitocina pela hipófise posterior e prolactina pela hipófise anterior. A liberação da ocitocina também ocorre em resposta a estímulos condicionados, como visão, cheiro e choro da criança, e a fatores de ordem emocional, como motivação, autoconfiança e tranquilidade. O reflexo de ejeção do leite é mais complexo que o reflexo liberador de prolactina, uma vez que é mais suscetível a influências de fatores psicoemocionais e ambientais. Assim, situações de desconforto, vergonha, ansiedade e dor provocam inibição imediata desse reflexo, reduzindo a quantidade de leite expelida A ejeção do leite é realizada pelo estímulo da ocitocina nas células mioepiteliais que circundam os alvéolos mamários e se contraem causando a excreção láctea. A ocitocina também age nas células da musculatura lisa areolar, promovendo compressão do seio lactóforo e ereção da papila, eventos que colaboram para o mecanismo de ejeção do leite. Qualquer fator materno ou da criança que limite a retirada do leite das mamas pode causar diminuição na síntese do leite. Os níveis de prolactina sobem em picos induzidos pela sucção do recém-nascido. Quanto menor for o intervalo entre as mamadas, menor será o tempo para o restabelecimento dos níveis de prolactina, mantendo o nível sérico desse hormônio e a produção adequada de leite. A secreção basal é progressivamente menor com picos relativamente maiores até o terceiro mês pós-parto, quando os níveis séricos circulantes se aproximam dos valores normais. O aumento dos intervalos entre as mamadas ou a sucção ineficiente acarreta estase láctea e redução do fluxo vascular local. À medida que o leite se acumula nos alvéolos, a forma das células alveolares fica distorcida e a prolactina não consegue se ligar aos seus receptores, criando, assim, um efeito inibidor da síntese de leite. A remoção contínua de peptídeos supressores da lactação (feedback inibitor of lactation – FIL) do leite contribui para a reposição do leite removido . Enquanto o acúmulo desses peptídeos interrompe a reposição do leite. A secreção de leite é pequena nos primeiros dias, aumentando gradativamente: em média, de 0 a 5 mL de colostro na 1ª mamada, 40 a 50 mL no primeiro dia, 395 a 868 mL do 2º ao 6º dia. Com 1 mês, a ingestão média diária de um bebê em AME é de 750 a 800 mL. Entre 1 e 6 meses de idade, o volume de leite ingerido pela criança em AME é relativamente constante (entre 710 e 803 mL/dia), com uma grande variação entre as crianças com crescimento adequado, de 440 a 1.220 mL. O volume que uma criança mama em cada mamada em um período de 24 horas também varia bastante, de 30 a 135 mL, em média. Habitualmente, a capacidade de produção de leite pela mãe é maior que a demanda de seu filho. Uma mama nunca é esvaziada completamente, permanecendo, em média, 30 mL de leite após as mamadas. Composição do Leite Distinguem-se 2 tipos de secreção láctea no período puerperal, sucessivamente: o colostro e o leite maduro. O colostro é um fluido cremoso, amarelado, mais denso que o leite, com composição altamente proteica e com baixo teor de gorduras. Sua excreção dura, em geral, 72 horas. É de fácil digestão para o recém-nascido, além de conter grande quantidade de imunoglobulinas e células leucocitárias e epiteliais. As imunoglobulinas são transportadas do plasma materno para o leite e absorvidas pelo trato gastrointestinal do neonato. Estão protegidas da digestão porque se ligam a inibidores de enzimas proteolíticas. O leite maduro só é secretado por volta do 10º dia pós- parto. Após a apojadura, o leite materno apresenta aumento da quantidade de carboidratos e gorduras em sua composição, com redução relativa de proteínas. A água contribui com quase 90% da composição do leite materno, o que garante o suprimento das necessidades hídricas de uma criança em AME, mesmo em climas quentes e áridos. A maior parte das gorduras do leite fica depositada nos alvéolos posteriores da mama. Por esse motivo, é necessário que a lactante esvaziecompletamente cada uma das mamas para garantir que o leite com maior teor de gordura seja ofertado para o RN. O maior teor de gordura no leite posterior se deve à liberação de glóbulos de gordura adsorvidos nos lactócitos com o esvaziamento da mama e às forças geradas pela expulsão do leite dos alvéolos. O esvaziamento dos alvéolos altera a forma dos lactócitos, que passa de escamosa para colunar, diminuindo, assim, a área para adsorção dos glóbulos de gordura. Assim, quando a mama está cheia, parte da gordura fica depositada nas células alveolares e vai sendo liberada com o progredir da mamada; porém, se a mama não estiver tão cheia, como ocorre por exemplo em intervalos muito curtos entre as mamadas, a diferença entre os leites anterior e posterior quanto ao teor de gordura é menor. O principal carboidrato do leite materno é a lactose, e a principal proteína é a lactoalbumina. As gorduras são o componente mais variável do leite materno, e são responsáveis por suprir até 50% das necessidades energéticas da criança pequena. Os ácidos graxos poli- insaturados de cadeia longa são essenciais no desenvolvimento cognitivo e visual, e na mielinização dos neurônios. As mamas também apresentam a capacidade de adaptação mediante situações fora do padrão habitual de lactação. Assim, em casos de gravidez múltipla, a produção de leite aumenta proporcionalmente à nova demanda estabelecida. Da mesma forma, a composição do leite é diferente em casos de recém-nascido pré- termo. Nutriente Colostro (3 a 5 dias) Leite maduro (26 a 29 dias) A termo Pré- termo A termo Pré- termo Calorias (kcal/dL) 48 58 62 70 Lipídios (g/dL) 1,8 3 3 4,1 Proteínas (g/dL) 1,9 2,1 1,3 1,4 Lactose (g/dL) 5,1 5 6,5 6 O leite humano tem vários fatores imunológicos específicos e não específicos que conferem proteção ativa e passiva contra infecções às crianças amamentadas. A IgA secretória é a principal imunoglobulina, que atua contra microrganismos que colonizam ou invadem superfícies mucosas. A especificidade dos anticorpos IgA no leite humano é um reflexo dos antígenos entéricos e respiratórios da mãe, o que proporciona proteção à criança contra os agentes infecciosos prevalentes no meio em que ela está inserida. A concentração de IgA no leite materno diminui ao longo do 1º mês, permanecendo relativamente constante a partir de então. Outros fatores de proteção que se encontram no leite materno são: leucócitos, lisozima e lactoferrina, que atuam sobre bactérias, vírus e fungos; fator bífido, que favorece o crescimento do Lactobacilus bifidus, uma bactéria saprófita que acidifica as fezes, dificultando a instalação de bactérias que causam diarreia, como Shigella, Salmonella e Escherichia coli; oligossacarídeos (mais de 200 compostos), que previnem ligação da bactéria na superfície mucosa e protegem contra enterotoxinas no intestino e estimulam as células intestinais a produzir proteínas que “selam” o intestino e anti-inflamatórios que modulam o sistema imunológico. Há outros componentes bioativos no leite materno além dos fatores de proteção, como a lipase, que facilita a digestão da gordura, e o fator de crescimento epidérmico, que estimula a maturação das células intestinais, melhorando a digestão e a absorção de nutrientes. Os principais macrominerais disponíveis no leite materno são: Na, K, Cl, Ca, P, Mg e sulfato; Entre os microminerais, os principais são: Zn, Cu, Fe, Mn, Se, I, Fl, Mo, Co, Cr, Ni e Cd; O conteúdo vitamínico do leite humano é diretamente afetado pelo estado nutricional materno. Vitaminas lipossolúveis: A, D, E e K. Vitaminas hidrossolúveis: complexo B; Técnica de amamentação As técnicas de amamentação visam à pega correta da boca do recém-nascido no mamilo da lactante, com consequente nutrição adequada da criança, sem prejuízo físico ou psicológico materno. A amamentação de forma incorreta leva à insatisfação do recém-nascido, com consequente choro do infante e ansiedade materna. A ansiedade materna, por sua vez, gera produção e liberação inadequadas de ocitocina com ingurgitamento mamário. O ingurgitamento mamário, por fim, dificulta ainda mais a pega do lactente, o que leva a um círculo vicioso. Orienta-se à lactante a amamentação de livre demanda, ou seja, ao neonato devem ser oferecidas as mamas toda vez que ele desejar (ou que a lactante assim julgar), e o tempo das mamadas deverá ser o necessário para o esvaziamento mamário, o que pode variar de poucos minutos a 1 hora. Assim, é importante alertar a puérpera que cada criança terá seu período de aprendizado e adaptação. Técnica Posicionamento • A mãe deverá estar em posição confortável (sentada, recostada ou deitada), de forma que possibilite ao bebê abocanhar corretamente o mamilo e a aréola; • A nutriz deverá posicionar a mão embaixo da mama, com o polegar voltado para cima do mamilo e o indicador na sua parte de baixo, formando a letra “C”. • Todo o corpo do lactente deve estar voltado para a mãe, cinturas pélvica e escapular, pescoço e coluna vertebral alinhados. Evitar flexão dos membros entre o corpo da lactante e do lactente. A criança deve estar bem apoiada. • Rosto do RN na altura do mamilo, de frente para a mama. Pega • O corpo do RN deve estar próximo ao da mãe. • RN bem apoiado. • Tronco e cabeça do RN alinhados. • Rosto do RN na altura do mamilo, de frente para a mama. O objetivo da boa técnica é permitir que o recém-nascido abocanhe toda ou boa parte da aréola e posicione a papila na região do palato duro, de forma que as gengivas fiquem na projeção dos seios lactíferos. Com isso, será possível a formação de pressão negativa pela língua e pelos movimentos de sucção, assim como compressão dos seios galactóforos pela gengiva. Orientações na Atenção Primária Frequência e duração das mamadas Aleitamento sob livre demanda; Não se deve estabelecer tempo para a permanência em cada mama; É importante que o bebê esvazie as mamas, independente do tempo; É importante orientar que a frequência alta de mamadas, bem como durações curtas, não significam que o “leite está fraco” ou algo parecido. São questões variáveis individualmente para cada bebê; Sinais de que a criança quer mamar: Sons e movimentos de sucção, movimentos rápidos com os olhos, levar a mão à boca, suspiros, inquietação e choro (esse último é um sinal tardio). Choro Importante orientar que o choro tem muitas causas além da fome; Há bebês que choram mais que outros; Geralmente, os bebês se acalmam quando aconchegados ou colocados no peito, de forma a se sentirem seguros. Suplementação ao leite Evitar, pois o leite tem toda água e nutrientes de que o bebê precisa (Salvo em situações necessárias) Água e chás são desnecessários. Mamadeira e chupeta Mamadeiras são contraindicadas, visto serem fontes de contaminação e causarem "confusão de bicos" e desmame precoce; Chupetas também são desaconselhadas, pois têm relação com menor frequência de amamentação. Alimentação da mãe Comer vegetais e frutas ricos em vitamina A; Ingerir água e outros líquidos saudáveis como suco e leite, de maneira a saciar a sede; Alimentar-se de maneira saudável e balanceada; Consumir cálcio, de preferência em 3 a 4 porções de leite e seus derivados; Em caso de alergia a leite, suplementar cálcio; Evitar gorduras trans; Evitar dietas ou medicamentos que levem a perda de peso rápida. Vantagens da Amamentação Para a Criança Redução da mortalidade Redução da incidência e da gravidade de diarreia: devido à presença de IgA , Oligossacarídeos, fácil digestão , Lactoferrina e Lisozima. Redução da incidência e da gravidade de infecções respiratórias: devido à presença de IgA, Leucócitos, Lactoferrina e Lisozima. 1Pega incorreta(A e B) e pega correta (C e D) Redução de morbidade por otite média aguda: devido à presença de IgA, Leucócitos, Lactoferrina e Lisozima. Redução de morbidade por rinite alérgica: devido a presença de IgA , e prevenção de infecções respiratórias. Redução de sobrepeso e obesidade: composição nutricional balanceada e proteção contra alimentação exacerbada. Redução de diabetes tipos 1 e 2: proteção contra obesidade, Efeito protetor contra autoimunidade( modulação imunológica proteção contra dm-1). Redução de leucemia Redução de maloclusão dentária: movimentos de sucção. Promoção do desenvolvimento cognitivo Promoção do desenvolvimento orofacial: presença de ácidos graxos essenciais Para Mulher Aumento do período de amenorreia lactacional: Prolactina inibe GnRH Redução do risco de câncer de mama: Reduz a exposição da mama ao estrogênio. Redução do risco de câncer de ovário: supressão ovulação Redução do risco de câncer de endométrio: supressão ovulação Redução do risco de diabetes tipo 2 Redução do risco de depressão pós-parto Contraindicações a Amamentação Relacionadas com o lactente: Galactosemia (contraindicação absoluta). Relacionadas com mãe: Uso de medicamentos incompatíveis com a amamentação (ex.: antineoplásicos e radiofármacos); Uso de drogas ilícitas (retornar à amamentação respeitando-se o período de interrupção após o consumo); Infecções Infecção por HIV, HTLV-1 e HTLV-2 (contraindicação absoluta); Lesão herpética ativa na pele da mama (manter amamentação na mama sadia); Doença de Chagas aguda ou caso haja sangramento mamilar; Infecção materna por varicela cinco dias antes ou até dois dias após o parto. Caso haja vesículas nesse intervalo, isolar a mãe até que todas as lesões se tornem crostosas. O RN deverá receber imunoglobulina antivaricela-zóster em até 96 horas. Não contraindicam o aleitamento materno: Tuberculose A lactante com suspeita de tuberculose ativa (escarro positivo) deve ser isolada do contato respiratório após o parto, independentemente do modo de alimentação do neonato. Esse contato coloca os recém-nascidos em risco de infecção. O leite materno, entretanto, não contém o bacilo tuberculoso. Pode, portanto, ser ordenhado e oferecido ao recém-nascido por meio de “copinho” ou seringa. Com o tratamento da mãe, após ser considerada não bacilífera (escarro negativo em aproximadamente 2 semanas de tratamento), a amamentação pode ser reiniciada. O uso profilático de isoniazida (10 mg/kg/dia) para o recém-nascido está indicado, sendo seguro e efetivo em prevenir a infecção por tuberculose. Hanseníase Por se tratar de doença cuja transmissão depende de contato prolongado da criança com a mãe sem tratamento, e considerando que a primeira dose de rifampicina é suficiente para que a mãe não seja mais bacilífera, deve-se manter a amamentação e iniciar tratamento da mãe. Hepatite B Os recém-nascidos de mães que são positivas para pesquisa do antígeno de superfície do vírus da hepatite B (Ag-HBs positivo) devem receber profilaxia por meio de imunoglobulina e vacinação para hepatite B (aplicadas em membros diferentes). Hepatite C A prevenção de fissuras mamilares em lactantes HCV positivas é importante, uma vez que não se sabe se o contato da criança com sangue materno favorece a transmissão da doença. Dengue Não há contraindicação da amamentação em mães que contraem dengue, pois há no leite materno um fator antidengue que protege a criança. Tabagismo – desencorajar o consumo; Etilismo – desencorajar o consumo. Categorias de risco Tipos de Aleitamento Aleitamento materno exclusivo: A criança recebe somente leite materno (diretamente ou ordenhado) e nenhum outro líquido ou sólido, exceto eventuais medicações. Aleitamento materno predominante: Além do leite materno, a criança recebe água ou bebida à base de água, mas não recebe outro tipo de leite. Aleitamento materno misto ou parcial: Quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. Aleitamento materno complementado: Além do leite materno, a criança recebe alimentos sólidos ou semissólidos, a fim de complementar as necessidades nutricionais. Pode receber também outro tipo de leite que não o materno. Intercorrências da Amamentação Durante a amamentação, poderão surgir algumas intercorrências, como mamilos sensíveis e doloridos, ingurgitamento mamário, fissuras, mastites, abscessos, diminuição temporária do leite. Ingurgitamento Mamário O ingurgitamento mamário é, em geral, causado pelo esvaziamento insuficiente das mamas. A produção excessiva de leite ou hipergalactia também pode ocorrer, embora bem mais rara, provavelmente causada pelo desequilíbrio entre a produção e a secreção de dopamina e prolactina. Entre os fatores de risco para sua ocorrência, estão técnica inadequada de esvaziamento, anomalia anatômica dos mamilos, mamas muito pendentes (o que dificulta a retificação e o consequente esvaziamento dos ductos), dificuldades do recém- nascido e questões emocionais maternas. O ingurgitamento mamário surge mais frequentemente no período de apojadura, entre 1 e 5 dias após o parto, devido ao início da produção de leite, ao ajuste entre frequência e duração das mamadas e à demanda do recém-nascido. As mamas apresentam-se endurecidas e extremamente dolorosas, com distensão dos tecidos e aumento volumétrico evidente. O leite flui com dificuldade à expressão manual. O estiramento dos alvéolos incapacita-os de produzir mais leite, chegando à lesão tecidual quando ultrapassa o limite de contenção. Ocorre aumento da congestão vascular. Esse processo altera a conformação anatômica mamária que, com a dor que o acompanha, não permite a pega adequada do mamilo pelo recém-nascido. ingurgitamento e fissura contribuem significativamente para o surgimento de mastite. Uso seguro durante a lactação, Exige avaliação risco/benefício Contraindicado O tratamento precoce do ingurgitamento mamário é crucial para evitar complicações graves. Recomenda-se manter o aleitamento exclusivo sob livre demanda, corrigir falhas na técnica de amamentação e massagear as mamas antes e após as mamadas. Utilizar compressas frias nas mamas, após as mamadas ou nos intervalos. A hipotermia diminui a produção do leite, pela vasoconstrição provocada e consequente diminuição de oferta de substratos necessários à produção do leite. Em situações de maior gravidade, pode ser aplicada a cada 2 horas. Contudo, o tempo de aplicação das compressas frias não deve ultrapassar 15 minutos, por causa do efeito rebote, ou seja, um aumento de fluxo sanguíneo para compensar a redução da temperatura local. Em casos graves, como hipergalactia, pode-se estimular a doação de leite. Para casos mais severos, podem ser utilizados analgésicos e ocitocina nasal. Fissura Ocorre quando a pega é inadequada, geralmente porque a mama está muito ingurgitada, ou quando a criança é muito pequena e sua boca não consegue envolver toda a aréola. Pode ocorrer sangramento, o que não impede a amamentação. Assim como no ingurgitamento mamário, os fatores de risco são os mesmos e a correção da técnica de aleitamento é mandatória. Se a fissura for muito grande e dolorosa, suspende-se a amamentação na mama mais afetada por um período de 24 a 48 horas e ordenha-se manualmente até seu esgotamento, para evitar o ingurgitamento. O leite ordenhado deve ser oferecido ao recém-nascido por meio de “copinho” ou colher pequena. Outros fatores que contribuem para os mamilos doloridos incluem obstrução de ductos lactíferos, infecções (por exemplo, candidíase), limpeza exagerada das mamas, uso de produtos potencialmente irritantes e doenças da pele. O manejo de lactantes com trauma mamilar inclui o seguinte Mastite É um processo inflamatório da mama,podendo acompanhar-se ou não de infecção; quando ocorre durante a lactação, denomina-se mastite lactacional ou puerperal. É uma complicação da lactação muito comum, podendo atingir um terço das mulheres. Qualquer condição que leve à estase do leite favorece o desenvolvimento de mastite. Quando a estase do leite não é resolvida e se esgotam os mecanismos de proteção da lactante contra infecção, o processo inflamatório e o crescimento bacteriano se instalam. A presença de bactérias no leite não indica necessariamente infecção e nem sempre está associada a manifestações clínicas. Várias espécies de microrganismos têm sido associadas à mastite puerperal e ao abscesso mamário, destacando- se o Staphylococcus aureus como o agente mais comum da mastite lactacional infecciosa. As portas de entrada mais frequentes são os poros mamilares e os ductos lactíferos, mas as vias linfática e hematogênica também podem estar envolvidas. As manifestações clínicas podem variar desde inflamação local, com repercussões sistêmicas mínimas, até sinais e sintomas de abscesso e septicemia. A área atingida da mama apresenta-se vermelha, quente, edemaciada e dolorida, e a mulher refere febre e sintomas semelhantes à síndrome gripal, acompanhados, algumas vezes, de náuseas e vômitos. Os sintomas costumam ter grande impacto nas atividades diárias da mulher. Orientações: Tratamento sintomático para reduzir a dor e o edema (com anti-inflamatórios não esteroides e compressas frias) e o completo esvaziamento da mama (seja pela amamentação, bombeamento e/ou expressão manual); não é necessário cessar a lactação. Deve-se orientar o uso de sutiã adequado. Antibioticoterapia: Cefalexina, Amoxicilina + Clavulanato; em caso de MRSA, Sulfametoxazol + Trimetoprima. Para portadores de hipersensibilidade a betalactâmicos ou em caso de mastite não lactacional, usar Clindamicina. Na presença de abscesso mamário: Avaliar suspensão da lactação para casos de abscessos periareolares; Realizar drenagem cirúrgica, com incisão curvilínea, coletar secreção através de swab com pesquisa para Gram, cultura e TSA; Antibioticoterapia venosa: Oxacilina, Cefazolina, Clindamicina. Se refratário, pode-se optar por Cefepima e/ou Vancomicina.