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7 CUIDADOS COM SUPERFÍCIES NO AMBIENTE DE TRABALHO ODONTOLÓGICO Fábio Barbosa de Souza OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM QUE VOCÊ VAI APRENDER NESTE CAPÍTULO: 1. Classificar os tipos de superfícies do ambiente de trabalho odontológico. 2. Conceituar limpeza, desinfecção e esterilização. 3. Aplicar os protocolos de cuidados para as diferentes superfícies. 4. Conhecer as características dos saneantes indicados para uso nas 5. Entender os fundamentos para uso de barreiras no serviço de saúde bucal CONTAMINAÇÃO DAS SUPERFÍCIES: patógenos podem ser transferidos para os instrumentos, QUAIS AS EVIDÊNCIAS? nariz, boca e olhos de trabalhadores ou pacientes. Além disso, esses microrganismos podem permanecer viáveis Na área da saúde, a contaminação das superfícies do em superfícies secas desde algumas horas até semanas ambiente de trabalho tem sido relacionada à transmissão (Figura 1). Desse modo, os cuidados (limpeza e a desin- de uma série de patógenos, incluindo Staphylococcus aureus fecção) das superfícies são essenciais para o controle de resistente à meticilina (MRSA) e enterococo resistente à infecções na prática odontológica. vancomicina (VRE), norovírus, Clostridium difficile e Aci- netobacter spp. Embora não haja comprovação científica dessa transmissão na assistência odontológica, inúmeras QUAIS SUPERFÍCIES MERECEM superfícies podem se tornar contaminadas por microrga- ATENÇÃO NA ODONTOLOGIA? nismos oriundos da cavidade bucal dos pacientes durante o atendimento. Essa contaminação ocorre por meio do Em consultórios ou clínicas odontológicas, inúmeras contato direto das superfícies por luvas contaminadas ou superfícies estão expostas à contaminação, de equipamen- pela deposição de partículas carreadoras de microrganismos tos a bancadas de trabalho. Em função da proximidade e material biológico em suspensão com as fontes de microrganismos - cavidade bucal do A transmissão desses microrganismos a partir da paciente essas superfícies podem apresentar diferen- superfícies ocorre principalmente por meio das mãos dos tes níveis de contaminação. Mas como seria possível profissionais. Assim, quando essas áreas são tocadas, os diferenciá-las?7 CUIDADOS COM SUPERFÍCIES NO AMBIENTE DE TRABALHO 101 Herpes 4,5 horas a 8 semanas Hepatite B semana SARS-CoV-2 4 horas a 1 semana HIV semana Influenza 2 dias Tempo FIGURA 1 Permanência de microrganismos em superfícies inanimadas Fonte adaptada de Kramer et al Em 1991, o Centro de Controle e Prevenção de Doen- perfícies clínicas de contato. São superfícies que requerem ças (CDC) americano, considerando a classificação de tratamento, no mínimo, ao final do dia, sendo contrain Spaulding para produtos para saúde, propôs uma cate- dicada a técnica de varredura a seco (uso de vassouras). gorização das superfícies ambientais, que não entram em contato direto com o paciente durante o atendimento. Essa classificação utiliza como critério a possibilidade de COMO LIDAR COM AS SUPERFÍCIES transmissão de microrganismos, sendo classificadas como CLÍNICAS DE CONTATO NA PRÁTICA superfícies clínicas de contato ou superfícies de limpeza ODONTOLÓGICA? doméstica. Neste capítulo, as áreas de limpeza doméstica serão denominadas superfícies tratamento das superfícies clínicas de contato no ambiente odontológico pode seguir duas linhas de ação: Superfícies clínicas de contato Realização de limpeza e desinfecção da superfície. As superfícies clínicas de contato representam as áreas Utilização de barreiras protetoras para prevenir a con- capazes de se tornar contaminadas com sangue, saliva ou taminação da área durante o atendimento. outros materiais potencialmente infecciosos e, posterior- mente, entrar em contato com instrumentos, dispositivos e mãos. Essas superfícies requerem tratamento adequado após LIMPEZA E DESINFECÇÃO o atendimento de cada paciente, uma vez que podem servir como fonte de contaminação para o próximo atendimento. A eliminação dos patógenos das superfícies exige a No contexto odontológico, há uma grande quantidade de adoção de duas estratégias básicas: limpeza e desinfecção. superfícies clínicas de contato, descritas na Figura 2. De uma forma geral, o ato da limpeza consiste na remoção tratamento das superfícies clínicas de contato deverá mecânica e/ou química de sujidades de determinada super- acontecer sempre antes do primeiro atendimento, após o fície. Já a desinfecção é a eliminação de microrganismos, atendimento de cada e ao final do dia de trabalho exceto endósporos bacterianos, de materiais ou artigos (descontaminação terminal). Além disso, a limpeza e de- inanimados. A destruição dos endósporos só será possível sinfecção terminais no último dia de trabalho da semana através da esterilização, que é um processo validado capaz deve ser implementada, mesmo que não tenha havido de tornar um objeto inanimado livre de todas as formas atendimentos. viáveis de microrganismos. Esse método de tratamento destina-se aos instrumentos odontológicos e será discutido Superfícies de limpeza ambiental no Capítulo 10. A Tabela 1 traz as diferenças básicas entre esses processos. As diferentes técnicas/produtos eliminarão As superfícies de limpeza ambiental não entram em os microrganismos de acordo com o grau de susceptibili- contato com mãos da equipe de saúde bucal, nem mesmo (Figura 3). com dispositivos usados em procedimentos odontológicos. Na clínica odontológica, portanto, a estratégia da de- São exemplos dessas áreas: pisos, paredes e pias. Como sinfecção das superfícies será o método de escolha, estando essas superfícies possuem risco limitado de transmissão de relacionada ao uso de produtos químicos líquidos com microrganismo, podem ser descontaminadas com métodos objetivo de inativar microrganismos à temperatura ambien- menos rigorosos quando comparados aos usados nas su- te, que são os produtos saneantes com ação102 BIOSSEGURANÇA EM ODONTOLOGIA ESSENCIAL PARA A PRÁTICA CLÍNICA Controles da unidade de Apoio de cabeça da cadeira raios X odontológica Alcas Manipulos do refletor de torneiras Interruptores Bancadas Mangueira do sugador Mesa Seringa auxiliar Encostos Botões de Puxadores de mochos controle da de gavetas cadeira Mangueiras das peças de mão FIGURA 2 Superfícies clínicas de contato no ambiente odontológico. TABELA 1 Características diferenciais entre limpeza, desinfecção e esterilização na prática Método que é? Destinado para... Limpeza Remoção de sujidades orgânicas e com Objetos e superfícies consequente redução da carga microbiana presente na que está sendo utilizando-se detergentes, produtos e acessórios de por meio de ação mecânica (manual ou automatizada), de forma a tornar a superfície preparada para ou esterilização Desinfecção Processo ou químico que e/ou elimina a Objetos e superfícies maioria dos microrganismos patogênicos de objetos inanimados e com exceção de esporos bacteriano, podendo ser de baixo, intermediário ou alto Esterilização Processo validado que utiliza agentes como Objetos inanimados vapor saturado sob para destruir todas as formas de vida microbiana inclusive os endósporos bacterianos7 CUIDADOS COM SUPERFÍCIES NO AMBIENTE DE TRABALHO ODONTOLÓGICO 103 Resistente Nível Endósporos bacterianos (Bacillus atrophaeus) Esterilização Coccidia (Cryptosporium) Desinfecção Alto Micobactérias (M. tuberculosis) Intermediário Vírus não envelopados (pólio) Fungos (Aspergillus, Candida) Bactérias vegetativas aureus, P. aeruginosa) Baixo envelopados (HIV, herpes, hepatite B, SARS-CoV-2) FIGURA 3 dos microrganismos à desinfecção e esterilização (com os níveis de desinfecção indicados). Fonte: adaptado de Rutala e Weber, Que produtos saneantes devem ser mente pela presença do surfactante na sua composição. utilizados? surfactante modifica as propriedades da água, que resulta na diminuição da tensão superficial, facilita a sua penetração Para que a limpeza e a desinfecção ocorram de forma nas superfícies, dispersa e emulsifica a sujidade. Convém efetiva, é essencial que sejam escolhidos saneantes adequa- ressaltar que detergentes enzimáticos não se destinam à dos, devidamente registrados junto à Agência Nacional de de superfícies clínicas e/ou ambientais. Vigilância Sanitária (ANVISA). Eles são produtos classi- A limpeza prévia das superfícies é fundamental, uma ficados como de "uso hospitalar", ou seja, são destinados vez que a matéria orgânica presente no sangue e na saliva ao uso profissional e com venda restrita para hospitais e isola os microrganismos, impedindo seu contato com o estabelecimentos relacionados com atendimento à saúde. desinfetante. Além disso, podem promover a inativação dos princípios ativos do produto desinfetante. A limpeza deve Detergentes ser seguida de enxague e secagem para garantir a eficácia dos agentes desinfetantes. Quando pensamos na limpeza de superfícies, os É importante destacar que o sabão comum, disponível produtos saneantes indicados são os detergentes neutros para a população de uma forma geral, é um produto para (Figura 4). Os detergentes limpam por meio da redução lavagem e limpeza doméstica, formulado à base de sais da tensão superficial. efeito de limpeza ocorre principal- alcalinos de ácidos graxos associados ou não a outros tensoativos, não sendo, portanto, indicado para a limpeza das superfícies dos ambientes odontológicos. Desinfetantes Os saneantes desinfetantes representam formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas e apresentam efeito letal para microrganismos não esporu- DENTROL-N lados. Considerando o espectro de ação, eles são classifi- cados como de nível baixo, intermediário e alto. Para as superfícies clínicas de contato na odontologia, os produtos de nível intermediário e baixo podem oferecer segurança de uso para o controle de infecções. Na Tabela 2, é possível identificar as características dessas duas categorias, com exemplos de formulações. Com a necessidade de otimização do processo de cuidado das superfícies, foram introduzidos no mercado produtos saneantes desinfetantes com propriedades de limpeza, que dispensam o uso de detergente e água pre- FIGURA 4 Detergente neutro para uso em serviços viamente à desinfecção técnica simplificada (Figura 5). de A literatura científica mostra que, para aplicar esses Fonte imagem gentilmente cedida por Sispack Medical Ltda. produtos com segurança em superfícies clínicas odontoló-104 BIOSSEGURANCA EM ESSENCIAL PARA A PRÁTICA CLÍNICA TABELA 2 Níveis de produtos saneantes desinfetantes indicados para a prática odontológica Nivel Definição Exemplo Baixo Produtos capazes de eliminar bactérias Compostos à base de quaternário de amônio alguns fungos e alguns mas não inativam M tuberculosis var bovis ou não são tuberculinicidas Produtos são capazes de eliminar bactérias Compostos à base de vegetativas a maioria dos fungos e a maioria dos peróxido de hidrogênio, compostos quaternários de inativando Mycobacterium tuberculosis amônio com álcool ou outros agentes bovis (tuberculicida) brometos e (70-90%) associações. A Tabela 3 sumariza as principais ticas dessas Lenços impregnados de desinfetantes: sim ou não? Com o surgimento de produtos mais práticos e de uso simplificado, mercado passou a disponibilizar uma nova ATENÇÃO A B FIGURA 5 Produtos saneantes desinfetantes com propriedades de limpeza, indicados para realização da técnica de desinfecção simplificada (sem lava- gem prévia com água e sabão), à base de peróxido de hidrogênio (A e B) e quaternário de amônio + Alcool 70% associação com polihexanida PHMB (C). gicas, deve-se dar preferência ao uso de formulações com desinfetantes de nível No Brasil, os produ- tos comercialmente disponíveis sem ação tuberculinicida (baixo nível) apresentarão em seu rótulo a identificação de "desinfetantes hospitalares para superfícies fixas e artigos não críticos". Desse modo, é necessário estar atento não apenas à regularização do produto junto à ANVISA, mas também à sua classificação. álcool na concentração de 70-90% é um pro- De acordo com o CDC, os desinfetantes de baixo nível duto de uso bastante difundido na odontologia. podem ser empregados em superfícies clínicas de contato, Entretanto, deve-se destacar que não ele não desde que produto tenha um rótulo indicando a eficácia deve ser utilizado pela técnica simplificada, pois para eliminação do vírus da humana a sua efetividade depende de limpeza prévia com (HIV) e o vírus da hepatite B (HBV). água e sabão. Se ele for utilizado sem limpeza Os desinfetantes elegíveis para uso na prática clínica prévia, as superfícies permanecerão contamina- odontológica são representados pela álcool, hipoclorito de favorecendo a transmissão cruzada de sódio, peróxido de hidrogênio e quaternário de amônio + crorganismos7 CUIDADOS COM SUPERFÍCIES NO AMBIENTE DE TRABALHO 105 TABELA 3 Saneantes desinfetantes indicados para superfícies clínicas de contato na odontologia Produto Composição Vantagens Limitações Etílico ou Não é não provoca Ação germicida afetada por matéria 70% manchamento, não produz lenta ação contra virus não não e possui ação possui propriedades de causa rápida danos a materiais de borracha/ sofre rápida evaporação Compostos 1000 a 5.000 ppm Não provoca manchamento e Rápida evaporação, não é quaternário de possui ação rápida amônio e associações Hipoclorito de sódio Não é inflamável, possui baixo Ação germicida afetada por matéria custo. calor e corrosivo para promove descoloração em odor forte, pode provocar irritação (pele e olhos) Peróxido de 0,5% É seguro para profissionais de Alto incompatível com alguns materiais não provoca (latão, /prata) não é inflamável e rápida ação Fonte adaptada de 2012 Rutala e forma de apresentação: os lenços umedecidos impregnados incorporem a praticidade do momento da aplicação na de desinfetantes (Figura 6). superfície, é importante lembrar que a matéria orgânica seu uso vem crescendo a cada dia, pois conferem exerce interferência na ação do álcool, sendo necessária praticidade no cotidiano clínico e já possuem uma quan- a limpeza prévia). tidade específica capaz de promover o efeito desinfetante especificado no rótulo. O único cuidado a ser tomado Qual passo a passo para realização pela equipe de saúde bucal é justamente quanto à leitura da desinfecção precedida por limpeza? do rótulo do produto, uma vez que inúmeras formulações comercializadas na forma líquida como desinfetantes de A Figura 7 ilustra a sequência de procedimentos ne- nível intermediário, quando disponibilizados no formato cessários para executar a técnica da desinfecção precedida de lenços (wipes) têm o seu poder de ação reduzido, sendo por limpeza. classificados como desinfetantes hospitalares para super- fícies fixas e artigos não Qual o passo a passo para realização da Com a pandemia da Covid-19, lenços umedecidos desinfecção pela técnica simplificada? impregnados de álcool etílico e isopropílico a 70% foram disponibilizados no mercado (embora esses produtos A técnica de desinfecção simplificada consiste no em- prego de agentes saneantes com propriedades de limpeza e desinfecção combinadas em um único produto. Nesse método, o desinfetante é empregado em um primeiro mo- mento com o objetivo de promover uma limpeza, seguido de uma nova aplicação, que será a desinfecção propriamente dita (Figura 8). Ao utilizar essa técnica, é importante que, ao final dos atendimentos diários, realize-se limpeza com água e detergente neutro, enxágue e secagem das superfícies. Essas manobras terão a finalidade de remover o acúmulo de resíduos químicos dos produtos desinfetantes sobre as superfícies, garantindo uma maior segurança para as Germi próximas descontaminações, além de aumentar a vida útil dos BARREIRAS FIGURA 6 Saneantes com ação desinfetante na forma A utilização de barreiras nas superfícies clínicas de de apresentação de lenços impregnados (wipes). contato é uma manobra recomendada pelo CDC com o106 BIOSSEGURANÇA EM ODONTOLOGIA ESSENCIAL PARA A PRÁTICA CLÍNICA 1 Realizar a higiene das mãos. Colocar o EPI: luvas de utilidade exclusivas para descontaminação de superfícies clínicas de contato, de cor diferente das utilizadas 2 para limpeza de instrumentos; máscara cirúrgica ou respirador PFF2: óculos de proteção; protetor facial; touca/gorro e avental/jaleco. 3 Realizar fricção na superfície, com água e detergente, por meio de escovas de cerdas macias e cabo plástico, em movimentos 4 Enxaguar com água. 5 Secar com papel toalha. 6 Aplicar desinfetante de acordo com as recomendações do em sentido 7 Remover o EPI e realizar a higiene das FIGURA 7 Técnica da desinfecção precedida de limpeza sequência de procedimentos. Fonte adaptada de 2012 1 Realizar a higiene das mãos. Colocar o EPI: luvas de utilidade exclusivas para descontaminação de superfícies clínicas de contato, de con diferente das utilizadas 2 para limpeza de máscara cirúrgica ou respirador PFF2: óculos de proteção; protetor facial: touca/gorro e avental/jaleco. 3 Aplicar desinfetante em papel toalha ou retirar um lenço impregnado com desinfetante da embalagem. 4 Realizar fricção na superfície, em movimentos 5 Descartar lenco de 6 Repetir o passo 4 com um novo papel toalha ou lenco. 7 Aguardar o tempo recomendado pelo fabricante. 8 Secar a superfície com papel toalha, caso esteja 9 Remover o EPI e realizar a higiene das FIGURA 8 Técnica da desinfecção simplificada de procedimentos. objetivo de evitar a contaminação das áreas Essas perfícies planas do consultório, podem ser utilizados os coberturas estão especialmente indicadas para as regiões de babadores para pacientes ou folhas de plástico difícil limpeza e desinfecção, como aparelhos que possuem Previamente à colocação das barreiras protetoras nas botões ou muitas superfícies, é necessário adotar as medidas de limpeza e/ou barreiras podem ser constituídas por plástico trans- desinfecção, descritas anteriormente. E, após o atendimento parente, sacos, tubos ou outros materiais impermeáveis clínico, as barreiras se tornam contaminadas pelo toque à umidade (Figura 9). Quando for necessário cobrir su- das luvas da equipe de saúde bucal, e também deposição7 CUIDADOS COM SUPERFÍCIES NO AMBIENTE DE TRABALHO 107 um vez que essa prática favorecerá o acúmulo de sujidades e, consequentemente, de microrganismos, possibilitando a contaminação cruzada (ver Curtindo a Biossegurança). Após a remoção das barreiras, deve-se proceder a inspe- ção das superfícies, para verificar a presença de sujidades. Barreiras com perda de integridade ou identificação de sujidade visível na superfície apontam para uma necessidade de descontaminação (utilizar um dos protocolos descritos anteriormente) previamente à colocação de novas Em procedimentos cirúrgicos, o uso das barreiras sobre as superfícies clínicas de contato é essencial. Nesse caso, as barreiras devem ser esterilizadas (tecido não tecido des- cartável), sendo aplicadas com os cuidados assépticos line- rentes ao preparo pré-operatório do ambiente (Figura 10). FIGURA 9 Barreiras plásticas para proteção das su- perfícies clínicas de contato. COMO SER SUSTENTÁVEL DURANTE CUIDADO DAS SUPERFÍCIES? de bioaerossóis gerados durante a realização dos procedi- mentos. Assim, essas coberturas devem ser removidas e A adoção de protocolos sustentáveis é uma realidade descartadas entre pacientes, devendo profissional estar cada vez mais presente na nossa vida cotidiana e também devidamente paramentado (luvas, máscara, óculos de pro- na prática odontológica. Atualmente, dispomos de subs- teção, protetor facial e avental). Além disso, as barreiras não tâncias saneantes desinfetantes que produzem resíduos devem ser submetidas à ação de substâncias desinfetantes, menos prejudiciais ao meio ambiente e também requerem CURTINDO A BIOSSEGURANÇA Utilizar as barreiras plásticas uma única vez e descartá-las após atendimento é uma prática e essencial para gerar like Entretanto, em muitos serviços de saúde bucal, uma rotina de risco é observada: desinfecção das barreiras entre pacientes Embora haja a intenção de descontaminação quando se utiliza desinfetante nas barreiras, a atuação de produtos sobre as superfícies plásticas poderá gerar porosidade no causando maior retenção de matéria orgânica e possibilidade de formação de Desse representa erro grave e não deve ser108 BIOSSEGURANÇA EM ESSENCIAL PARA A PRÁTICA CLÍNICA QUAL MOMENTO IDEAL PARA TRATAMENTO DAS SUPERFÍCIES CLÍNICO? Os bioaerossóis produzidos durante a consulta odonto- lógica podem permanecer no ar, sendo depositados sobre as regiões periféricas à cadeira mesmo após a saída do Desse modo, determinar o momento ideal para realização da limpeza e desinfecção das superfícies entre atendimentos clínicos mostra-se como um desafio. Particularmente com a pandemia da Covid-19, doença cujo microrganismo pode ser transmitido por meio das partículas suspensas no ar, a definição desse momento ganhou destaque. Para determinação deste tempo, uma série de fatores devem ser considerados: tipo de procedimento realizado; FIGURA 10 Barreiras esterilizadas aplicadas com cui- sistema de refrigeração/ ventilação do ambiente; tipo de dado asséptico luvas cirúrgicas. sucção adotada; realização bochechos pré-procedimento; uso de isolamento absoluto do campo operatório; insta- lação de sucção extra-oral de alta potência; presença de menor consumo de recursos naturais. Um exemplo disso equipamentos para tratamento do ar com filtros HEPA ou são os produtos com ação de limpeza e desinfecção combi- radiação com luz UVC. Assim, as condições locais de cada nadas que, por não necessitarem de limpeza, geram menor serviço de saúde bucal deverão ser analisadas a fim de se consumo de água, papel e detergente. Adicionalmente, ao estabelecer um tempo seguro. Para auxiliar nessa tarefa, o usar essas formulações, podemos eliminar ou reduzir o suporte de uma equipe de engenharia clínica é fundamen- quantitativo de barreiras protetoras plásticas, produzindo tal, além da consulta às resoluções sanitárias vigentes, no assim, menor volume de resíduos sólidos no cotidiano sentido de basear as ações nas evidências relacionadas às clínico odontológico. peculiaridades de cada microrganismo, quando se tratar de situações epidêmicas específicas. PARA REFLETIR QUE FAZER COM SUPERFÍCIES INACESSÍVEIS, COMO AS TUBULAÇÕES DO SUGADOR? As superfícies internas das tubulações do sugador e da cuspideira representam áreas inacessíveis aos métodos de limpeza e desinfecção descritos até o momento. A grande problemática associada a essas regiões é a possibilidade de entupimento, refluxo e contaminação de pacientes e equipe de saúde bucal. Para minimizar essas ocorrências e garantir um atendimento seguro, algumas recomendações devem ser seguidas: Reduzir uso e, se possível, eliminar a cuspideira da unidade de trabalho, pois é um local de bastante contaminação que pode ser substituído pelos sistemas de sucção. Nesse caso, caso o paciente queira cuspir, Os produtos com ação de limpeza e desinfecção poderá fazê-lo em um recipiente descartável que será combinadas, por não necessitarem de submetido à imediata sucção pela equipe auxiliar. Essa geram menor consumo de água, papel e manobra, elimina a necessidade de cuspideira, além de Adicionalmente, ao usar essas podemos eliminar ou reduzir reduzir a formação de e respingos, decorrente quantitativo de barreiras protetoras plásticas, do ato de cuspir executado pelos pacientes. produzindo assim, menor volume de Realizar a sucção com agente de limpeza (detergente sólidos no cotidiano odontológico. neutro), por um minuto, após cada paciente, por meio dos sugadores acoplados à cadeira.7 CUIDADOS COM SUPERFÍCIES NO AMBIENTE DE TRABALHO 109 Proceder a sucção de agente desinfetante, compatível com as superfícies do equipamento, por 1 minuto, após cada paciente. É importante consultar fabricante sobre os possíveis saneantes compatíveis com equipamento. Limpar e desinfetar o filtro do sugador, ao final do dia, sempre averiguando a necessidade de troca, quando necessário. Uma informação importante a ser destacada é que os pacientes não devem ser instruídos a fechar os lábios com força ao redor do sugador, uma vez que esta manobra pode culminar em refluxo dos conteúdos existentes na tubulação do sugador. COMO LIDAR COM AS SUPERFÍCIES AMBIENTAIS NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA? Paredes, piso e teto representam as superfícies am- FIGURA 11 MOP para realização de limpeza e desin- bientais dos serviços de saúde com menor contaminação, fecção das superfícies ambientais. sendo a sua frequência de limpeza realizada após o turno de trabalho a depender do volume de atendimentos e cir- culação de pessoas no serviço. A descontaminação dessas Técnica de dois baldes áreas é basicamente executada por meio de dois métodos: técnica de dois baldes e técnica com uso de MOP, que Consiste na limpeza com a utilização de panos de lim- são dispositivos formados por cabo, armação ou haste ou peza de piso e rodo, envolvendo os seguintes passos: realizar suporte e luva ou refil (Figura 11). varredura úmida, ensaboar, enxaguar e secar (Tabela 4). TABELA 4 Passos para realização da limpeza pela técnica de dois baldes Passo Objetivo Técnica Varredura úmida Remover pó e possíveis detritos soltos no Os não podem ser levados até a de fazendo uso de pano úmido e devendo ser recolhidos do ambiente com auxílio de Os dois baldes conterão apenas água Ensaboar Remover toda a sujidade com sabão ou detergente sobre a Um dos baldes conterá água e outro, sabão ou Enxaguar e secar Remover sabão ou detergente. Os dois baldes conterão apenas água Fonte adaptada de 2012 QUIZ BIOSSEGURO C. Sabonete neutro. D. Detergente neutro. 1. Qual das alternativas abaixo cita apenas superfícies clínicas de contato no ambiente odontológico? 3. Que categoria de produtos saneantes desinfetantes A. Alça do refletor, bancadas, equipo. devem ser preferencialmente usados para o tratamento B. Sugador, seringa tríplice, parede. de superfícies clínicas de contato na odontologia? C. Piso, parede, bancada. A. Desinfetante de alto nível. D. Interruptores, bancada, teto. B. Desinfetante hospitalar para superfícies fixas e artigos não críticos. 2. Que produto deve ser usado para realizar a limpeza C. Desinfetante de nível intermediário. com enxágue em superfícies odontológicas? D. Desinfetante não tuberculinicida. A. Detergente enzimático. B. Sabão comum.