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S ÍNDROME ANT IFOSFOL IP ÍD ICA (SAF) I M U N O L O G I A Ana Karoline Utzig A Síndrome Antifosfosfolipídica (SAF) é uma doença autoimune sistêmica associada a produção de anticorpos anticardiolipina, anticoagulante lúpico e anti-beta-2- glicoproteína I, caracterizada pelo surgimento de trombose arterial ou venosa, manifestações cutâneas, renais, pulmonares, cardíacas, neurológicas e abortos de repetição. Existem três formas de SAF: 1) Primária, que ocorre em condições primárias ou genéticas; 2) Secundária a doenças autoimunes/reumáticas; 3) e a SAF catastrófica que envolve a falência de múltiplos órgãos. Síndrome Antifosfolipídica (SAF) Os anticorpos antifosfolipídios (aFL) estão presentes em 1% a 5% da população geral, enquanto a Síndrome Antifosfolípide (SAF) possui uma prevalência de 40-50 casos por 100.000 indivíduos e uma incidência de 5 casos por 100.000 indivíduos. A SAF é mais frequente em mulheres adultas, especialmente durante o período fértil e a gestação. Além disso, há maior frequência de casos entre familiares, com correlação genética envolvendo antígenos leucocitários humanos (HLA). Epideomiologia Fisiopatologia anticorpos antifosfolipídios (aFL) Os anticorpos antifosfolipídicos se ligam a Abrir B,GPI Os anticorpos antifosfolipídicos são produzido por células B O mimetismo molecular entre estruturas de bactérias/vírus sequências de aminoácidos da ß2-glicoproteína-1 e seu enrolamento incorreto contribuem para formação de autoanticorpos. Ao se ligar a uma superficie fosfolipídica aniônica (após lesão endotelial) através do domínio V, a forma circular se abre, expondo o epitopo do domínio I, permitindo que os autoanticorpos se liguem. A ß2-glicoproteína circula numa forma circular, com o domínio l interagindo com V. A glicoproteína ß2-1 e uma proteína plasmatica que possui uma sequencia de aminoácidos muito semelhantes aos bactérias/vírus A presença de gatilhos como ambientais/genéticos/inflamatorios empurram o equilíbrio da homeostase a favor da trombose. Manchas esparsas na pele que aumentam no frio (livedo) Critérios clínicos Tromboflebite (oclusão de vasos sanguíneos superficiais) O quadro clínico da SAF varia conforme o local acometido pela trombose. Trombose venosa profunda (TVP), acidente vascular cerebral (AVC), livedo reticular, embolia pulmonar, trombocitopenia, tromboflebite e perda fetal são as consequências mais comuns. As principais manifestações da SAF variam conforme o sítio acometido pela trombose, seja ela arterial ou venosa. Os anticorpos antifosfolipídios estão associados 13% dos casos de acidente vascular cerebral isquêmico 11% dos casos de infarto do miocárdio 9,5% das tromboses venosas profundas 6% das complicações gestacionais A incidência de SAF é maior em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES), chegando a 42%. Também envolvido em Critérios laboratoriais Anticoagulante Lúpico Anticardiolipina Anti-ß2-GP1 Teste de coagulação ELISA Plasma Prolongamento confirmado em 22 ocasiões Títulos >40 GPL/MPL em ≥2 ocasiões Presença de IgG/IgM em ≥2 ocasiões ≥12 semanas Unidade de fosfolipídeo para IgM Unidade de fosfolipídeo para IgG O LAC é um anticorpo que interfere em testes de coagulação ao se ligar a fosfolipídios ou proteínas associadas. Princípio do teste: Detectado por testes de coagulação, como o Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPa) ou Teste do Veneno de Cobra de Russell Diluído (dRVVT). O prolongamento do tempo de coagulação indica a presença do LAC. Confirmado ao corrigir o resultado com adição de fosfolipídios, indicando inibição dependente de fosfolipídios. Critério diagnóstico: LAC presente em duas ocasiões separadas por ≥12 semanas. Conexão imunológica: O LAC interfere no equilíbrio hemostático por meio de interações com complexos fosfolipídicos. Anticoagulante Lúpico (LAC) São autoanticorpos dirigidos contra a cardiolipina, um fosfolipídio presente nas membranas celulares e plaquetas. Princípio do teste: Detectado por ELISA padronizado. Mede títulos de anticorpos IgG e IgM, expressos em unidades GPL (IgG) ou MPL (IgM). Títulos significativos: >40 GPL/MPL. Critério diagnóstico: Presença de ACL em títulos moderados a altos em ≥2 ocasiões, com intervalo de ≥12 semanas. Conexão imunológica: ACL promove adesão e ativação plaquetária, contribuindo para a formação de trombos. Anticorpos Anticardiolipina (ACL) 1. A base da placa é composta por moléculas de cardiolipina, que servem como antígeno específico. 3. Lavagem: Remove moléculas não ligadas, deixando apenas os anticorpos fixados 4. Adição do anticorpo secundário marcado que reconhece os anticorpos humanos. 5. Ele contém uma enzima estrela amarela. O substrato enzimático reage com a enzima do anticorpo secundário, gerando uma mudança de cor. Anticorpos Anticardiolipina (ACL) 2. Anticorpos anticardiolipina (aCL), caso presentes no soro do paciente adicionado, ligam-se à cardiolipina. Na imagem, os anticorpos IgG ou IgM são mostrados em azul com regiões de ligação em vermelho. 6. Leitura do resultado: A intensidade da cor (não ilustrada diretamente) é medida em um leitor de ELISA, correlacionando-se à quantidade de anticorpos presentes no soro. Anticorpos dirigidos contra a β2-glicoproteína I, uma proteína que regula a coagulação ao se ligar a fosfolipídios. Princípio do teste: Detectado também por ELISA padronizado. Avalia anticorpos IgG e IgM. Critério diagnóstico: Presença de anti-β2-GP1 em ≥2 ocasiões, com intervalo de ≥12 semanas. Conexão imunológica: Anti-β2-GP1 ativa células endoteliais, monócitos e plaquetas, contribuindo para o estado pró-trombótico. Anticorpos Anti-β2-Glicoproteína I (Anti-β2-GP1) 2. Anticorpos (IgG ou IgM) específicos que se ligam à β2GPI fixada. 4. Área onde o anticorpo secundário que está conjugado irá se ligar, permitindo a detecção. 5. Substrato enzimático, que reage com a enzima do anticorpo secundário, gerando uma coloração. 1. Moléculas de β2- glicoproteína I (β2GPI). Anticorpos Anti-β2- Glicoproteína I (Anti-β2-GP1) 3. A lavagem ocorre após a ligação dos anticorpos para remover materiais não ligados. 6. Leitura do resultado: A intensidade da coloração gerada é medida em um leitor de ELISA, indicando a quantidade de anticorpos anti-β2GPI presentes. O diagnóstico de síndrome antifosfolípide (SAF) baseia-se na presença de ≥ 1 critério clínico e ≥ 1 critério laboratorial, segundo os critérios de Sidney revisados pelo American College of Rheumatology (ACR), com um intervalo de mais de três meses e menos de cinco anos. Critérios classificatórios C ol ég io A m er ic an o de R eu m at ol og ia Relato de Caso Paciente de 25 anos, na quarta gestação, com histórico de três abortos consecutivos entre 7 e 11 semanas de idade gestacional. A suspeita de Síndrome Antifosfolípide (SAF) foi fundamentada em métodos clínicos e imunológicos, destacando-se: 1. Histórico clínico e anamnese: Abortos recorrentes sem explicações anatômicas, hormonais ou cromossômicas foram cruciais para levantar a hipótese diagnóstica. Dados adicionais foram obtidos por exame físico, revisão de prontuário, caderneta gestacional e de vacinação. 2. Critérios de Sydney (2006): Os abortos espontâneos consecutivos atendem aos critérios clínicos da SAF. Esses critérios incluem eventos gestacionais recorrentes associados à presença de anticorpos antifosfolípides. Relato de Caso 3. Exames imunológicos: Os anticorpos antifosfolípides, como anticardiolipina (IgG/IgM) e anti-B2-glicoproteína I, foram os principais marcadores investigados, sendo fundamentais para confirmar a suspeita da doença. Títulos médios ou elevados, mantidos em intervalos de 12 semanas, são diagnósticos para SAF conforme os critérios estabelecidos. 4. Sorologias e hemograma: Outras condições foram excluídas por exames de rotina, que indicaram sorologias negativas para citomegalovírus, rubéola, toxoplasmose e outras infecções, além de hemograma com valores dentro da normalidade.5. Imagem com Doppler obstétrico: Realizados no segundo e terceiro trimestres, os exames indicaram normalidade do fluxo vascular placentário, descartando insuficiência placentária como causa de complicações gestacionais. Com base nos achados imunológicos e clínicos, iniciou-se a terapia com enoxaparina (Clexane®) 40 mg/dia por via subcutânea para prevenir trombose venosa e outras complicações. Este manejo pré-natal estruturado, associado ao monitoramento imunológico, demonstrou ser uma estratégia eficaz para reduzir riscos e melhorar os resultados obstétricos. Relato de Caso Journal of Medical and Biosciences Research Volume1,Número2(2024),Páginas225-232. anticoagulante Jornal de Pesquisa Médica e Biociências O diagnóstico precoce da Síndrome Antifosfolípide (SAF) é essencial para prevenir complicações graves, como tromboses e problemas obstétricos. A combinação de critérios clínicos e laboratoriais, que incluem a presença de anticorpos antifosfolípides, permite uma identificação mais precisa da condição. Além disso, o monitoramento regular em pacientes de risco é importante para detectar mudanças na saúde e ajustar o tratamento conforme necessário. A abordagem proativa ajuda a minimizar complicações e melhora a qualidade de vida dos pacientes, permitindo intervenções rápidas e eficazes quando necessário. Conclusão CHAMLEY LW, ALLEN JL, JOHNSON PM. Synthesis of B2-glicoprotein 1 by the human placenta. Placenta. v.18, p.403-410, 1997. DE GROOT PG, URBANUS RT. Cellular signaling by antiphospholipid antibodies. J Thromb Haemost. v.12, p.773-775, 2014. European League Against Rheumatism (EULAR): Recommendations for the management of antiphospholipid syndrome in adults (2019) International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH): Laboratory criteria for antiphospholipid syndrome (2018) ISTH: Guidance on testing for antiphospholipid antibodies with solid phase assays (2014) DE GROOT PG, URBANUS RT. The significance of autoantibodies against B2-glicoprotein 1. Blood. v.120, p. 266-274, 2012. DE LAAT B, et al., Immune responses against domain I of B2-glicoprotein I are driven by conformational changes domain I of B2-glicoprotein I harbors a cryptic immunogenic epitope. Arthritis Rheum. v.63, p.3960-3968, 2011. https://journalmbr.com.br/index.php/jmbr/article/view/32 Referências