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1EDITORIAL MÓDULO I EDITORIAL Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Núcleo de Estudos em Economia Criativa e da Cultura (NECCULT) O Núcleo de Estudos em Economia Criativa e da Cultura (NECCULT) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é um ambiente interdisciplinar de ensino, pesquisa e extensão vinculado à Faculdade de Ciências Econômicas. O Núcleo pretende ser capaz de criar sinergia entre os vários interlocutores da área de Economia Criativa e da Cultura, funcionando, ao mesmo tempo, como ponto focal para os estudos na Universidade e referência nacional e internacional da área. Termo de Cooperação Processo nº 23078.548465/2020-09 Código: IAP-001041 Título: Estudos e pesquisas para formulação de indicadores sobre Economia Criativa e da Cultura no Brasil Unidade Administrativa Responsável: Ministério do Turismo/Secretaria Especial de Cultura Vigência do Termo Cooperação MTur-UFRGS: Março/2020 a Dezembro/2021 Convênio UFRGS-FEENG 022/2019 Protocolo Proc. Convênio UFRGS-FEENG: 23078.450256/2019-84 Código do Projeto: FEENG 339 Portal SICONV n. 896777/2019 Este documento está também disponível em: www.ufrgs.br/neccult Faculdade de Ciências Econômicas Anexo – Campus Centro - Av. João Pessoa, 52 - Porto Alegre – RS, Brasil - CEP 90040-000 Tel: +55 51 3308-4718 www.ufrgs.br/neccult Ministro do Turismo Gilson Machado Secretário Especial de Cultura Mário Frias Secretário Nacional de Cultura e Diversidade Cultural Aldo Valentim Chefe de Gabinete Igor Pinto Diretor do Departamento de Empreendedorismo Cultural - Substituto Marcos Vinícius Rocha Coordenador- Geral de Monitoramento Marco Henrique Borges Coordenador-Geral de Estudos e Monitoramento Lucas Silveira Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Inovação Ricardo Braga Coordenador de Inovação - Substituto Francisco Neto Coordenador de Empreendedorismo - Substituto Adriana Leite Analistas Técnicas Jessica Afonso e Raihana Faleiros Equipe gabinete do Secretário Patrícia Coimbra (Coordenadora de Gabinete) e Matheus Allison Geraldo (Coordenador de Estudos e Monitoramento – Substituto) UFRGS Reitor da UFRGS Carlos André Bulhões Mendes Vice-Reitora da UFRGS Patricia Helena Lucas Pranke Diretora Faculdade de Ciências Econômicas Maria de Lurdes Furno da Silva Vice-Diretor Faculdade de Ciências Econômicas André Moreira Cunha Coordenador de Extensão Hélio Henkin Gerência Gustavo Möller Coordenação de Ensino e Pesquisa Débora Wobeto Coordenação de Assistentes de Pesquisa Mariana Steffen Pedro Perfeito da Silva Equipe do Projeto Débora Wobeto Gustavo Möller Marcelle Schimitt Projeto gráfico e editoração Alejandro Reyes Carolina Nobre ............................................................... 6 .............. 8 ............................................... 62 .................................................. 26 .................................... 78 APRESENTAÇÃO 1. O MERCADO EDITORIAL - VISÃO GERAL 2. A CADEIA DO LIVRO 3. A CADEIA DO LIVRO II 4. O LIVRO COMO PRODUTO I ................................... 94 ................................. 116 ......................................... 130 ........................... 141 5. O LIVRO COMO PRODUTO II 6. O LIVRO COMO PRODUTO III 7. TECNOLOGIA E FUTURO 8. QUER FUNDAR UMA EDITORA? A economia mundial experimenta uma transformação sem precedentes, impactando diferentes sociedades e demandando novas competências e habilidades para atender os mercados produtores de bens tangíveis e in- tangíveis. Em razão da sua complexa rede de conservação, produção e di- fusão, acrescida dos múltiplos formatos e suportes tecnológicos disponíveis e disseminados pela globalização, a indústria da economia criativa força a contínua capacitação e requalificação dos elos das cadeias de criação. A valorização e o correto aproveitamento do potencial dos pontos dessa in- trincada e dinâmica teia podem promover impactos significativos nas re- ceitas de países como o Brasil, gerar renda, trabalho e desenvolvimento em diversificados contextos sociais, políticos e econômicos. Atento a essa possibilidade, o Ministério da Cultura, por intermédio da Se- cretaria da Economia Criativa, tem adotado uma série de medidas para im- pulsionar esse vetor estratégico ao desenvolvimento e à economia brasileira, incluindo as modernas ferramentas de formação de mão-de-obra especia- lizada para servir e impulsionar a economia da cultura. Entre os resultados estão os cursos de educação a distância (EaD) para alguns dos principais segmentos culturais, ofertados gratuitamente para todos os públicos, obje- tivando ampliar a qualidade dos nossos produtos. Somados a outras inicia- tivas deste Ministério, estes cursos tem o propósito de dinamizar os negócios no âmbito da economia criativa e contribuir na consolidação desse mercado. Portanto, convidamos todos a conhecer os cursos EaD para os segmentos culturais de games, moda, gastronomia, artes cênicas, música, editorial, mu- seus e patrimônio, com conteúdos inéditos criados especialmente para for- mar ou requalificar os profissionais da cultura. A capacitação é totalmente autoinstrucional, ilustrada com gráficos, entrevistas em áudio e vídeo, além de sugestões de publicações, sítios e outros documentos que colaborem com o aprendizado. Sem custos, com linguagem acessível e disponível on line em portal de educação, os participantes têm à disposição informações de qualidade e a oportunidade de inserção profissional no valorizado mer- cado da economia criativa. Bons estudos! MÓDULO I 1 O mercado editorial – Visão geral Evolução nos últimos anos “O brasileiro lê pouco.” É possível que você já tenha ouvido essa frase várias vezes, dita por pessoas liga- das à cadeia do livro, educadores, políticos, analistas sociais ou simplesmente em uma roda de amigos. A afirmação é muitas vezes associada a uma questão cultural (“os brasileiros historicamente não gostam de ler”), política (“o governo não incentiva a leitura”) ou social (“livros são caros, por isso não são prioridade”). Dividiremos esta unidade nos seguintes tópicos: - Evolução nos últimos anos; - O livro em outros países. Estamos preparados? Vamos lá! 9EDITORIAL MÓDULO I Mas até que ponto essas críticas têm razão? O mer- cado do livro no Brasil é tão restrito? Publicar e ven- der livros no país é uma aventura? Para tentar chegar a algumas respostas, é preciso pri- meiro conhecer algumas estatísticas recentes impor- tantes. A partir delas, é possível entender o tamanho do mercado editorial brasileiro e do comportamento dos leitores. Segundo a pesquisa Produção e vendas do setor editorial brasileiro, produzida em conjunto pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), tendo 2017 10 MÓDULO I como ano-base, foram produzidos mais de 390 mi- lhões de exemplares, enquanto mais de 350 milhões foram vendidos. Considerando a atual população brasileira – cerca de 208 milhões de pessoas em julho de 2018, segundo o IBGE1 –, chega-se a uma média de pouco mais de 1,5 livro per capita durante todo o ano de 2017, o que está bem longe de ser um número empolgante, me- nos ainda ideal. Na verdade, em comparação com o ano anterior, houve uma queda de praticamente 8% no total de exemplares produzidos e 7,5% no total de livros comercializados. Outro fator importante que precisa ser considerado é a influência das compras governamentais nesses números. A diminuição dessas compras foi o principal fator determinante da queda de desempenho em 2017, em comparação com o ano anterior, puxando a produção para baixo em mais de 15% e o faturamento, em praticamente 13%. 1 www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/box_popclock.php 11EDITORIAL MÓDULO I Gráfico 1.1 COMPORTAMENTO DO SETOR EDITORIAL BRASILEIRO - Ano-base 2017 2016 2017 Variaçãoacesso ao mundo dos livros e contato com os escritores, de forma gratuita, nesta cida- de turística de Minas Gerais. Procura reunir temas e autores diversificados, atraindo profissionais de diferentes áreas da cadeia do livro. • Salão Carioca de Leitura – LER (maio, Rio de Janeiro) Realizado no Centro do Rio, recebeu oficinas, de- bates, leituras, saraus e outros eventos organiza- 76 MÓDULO III dos por editoras e organizações de fomento à lei- tura e à divulgação cultural. • Festival de Literatura Pop – Flipop (junho/julho, São Paulo). Evento inicialmente organizado pelo selo Seguinte, da Cia. das Letras, passou a ser aberto a outras editoras brasileiras. Focado no público jovem. • Festival Literário de Araxá – FliAraxá (junho/julho, Araxá). Evento que está em sua sétima edição, é marcado pelo sólido trabalho de curadoria, reunin- do autores e pensadores brasileiros e internacio- nais na cidade mineira. • Bienal Brasil do Livro e da Leitura (agosto, Brasília) Tendo começado como feira de livros, o evento agora passa a contar com eventos culturais. • Festival Internacional Literário de Óbidos – Folio (outubro, Óbidos, Portugal). A charmosa e medie- val Óbidos – considerada pela Unesco uma das “cidades literárias” do mundo – recebe milhares de pessoas para eventos culturais, saraus, debates e outras atividades, reunindo principalmente auto- res portugueses, mas também de outros países. 77EDITORIAL MÓDULO I 77 MÓDULO III • Semana Negra de Gijón (julho, Gijón, Espanha) Festival literário realizado nas Astúrias, começou em 1988 dedicado a romances policiais. Com o tempo, passou a abarcar outros gêneros e cole- cionar polêmicas. Imagem 3.6 - Folio 2017: a cidade medieval de Óbidos, em Portugal, recebe milhares de visitantes em sua feira literária anual Foto: Omar de Souza MÓDULO I 4 O LIVRO COMO PRODUTO I Elementos componentes A partir desta parte da apostila, vamos abordar os elementos básicos que compõem um livro em seu formato mais conhecido, o impresso, assim como os formatos digitais. Pode ser que, para algum profissio- Este módulo está dividido nos seguintes tópicos: - Elementos componentes; - Capa; - Miolo; - Acabamentos; - Formatos digitais. 79EDITORIAL MÓDULO I tre os tipos de arquivos para e-books etc., e indicando como essas opções são importantes não apenas em termos editoriais, mas também para o trabalho das áreas comercial e de marketing. Antes de entrar no detalhe de cada elemento, ouça o que Bruno Zolotar, diretor de Marketing e Comunicação do Grupo Record, comenta sobre isso. Ouça o áudio 3 nal mais experiente, várias informações pareçam re- dundantes, mas a ideia é enriquecer a visão sobre os componentes do livro, mostrando que existe uma ló- gica na escolha entre uma capa dura ou brochura, en- 80 MÓDULO IV Imagem 2.6 - Bruno Zolotar - Diretor de Marketing e Comunicação/Grupo Record Capa Não há dúvida de que uma boa embalagem é im- portante na venda de um produto. Se ele vier em uma caixa, um pacote ou uma garrafa atraente, tem chance maior de atrair o olhar e sobressair na prate- leira. Além disso, é necessário haver informações vi- suais e textuais que indiquem o que o consumidor vai encontrar quando comprar. Resumindo, é necessário que a embalagem desperte o interesse e estimule a aquisição do produto. 81EDITORIAL MÓDULO I 81 MÓDULO IV Com o livro não é diferente. A capa11 não deixa de ser a embalagem do miolo, e por isso precisa ser desen- volvida com a mesma mentalidade. Se o conteúdo é, por exemplo, um romance de época, é essa a mensa- gem que a capa precisa passar – quem tem interesse nesse gênero literário tende a ser atraído por um pro- jeto gráfico que sugira ou remeta a uma cena român- tica do passado. Da mesma forma, um thriller precisa transmitir a sensação de tensão ou mistério. Seja na escolha do lettering (a fonte das letras do título), da cor ou da imagem a ser utilizada, é fundamental pensar no leitor potencial daquela obra. Para que o capista (o artista responsável pelo desen- volvimento da capa) possa oferecer uma ou mais op- ções de qualidade, é preciso que lhe seja fornecido um bom briefing do que o editor espera ou deseja. Quanto mais informações estiverem disponíveis sobre o livro e o autor, maior a chance de se chegar a um projeto criativo e eficiente. Uma descrição detalhada do con- teúdo (se o próprio conteúdo estiver disponível, pode acompanhar), os possíveis ganchos (pontos de empatia com a realidade do leitor), endossos, notícias sobre o sucesso do autor ou do próprio livro (quando já vem de um lançamento no exterior) e outros dados são pre- 11 No ambiente editorial, a capa da frente do livro é chamada primeira capa, e a que vem depois do conteúdo é chamada quarta capa (e não contracapa). 82 MÓDULO IV ciosos, e o bom capista saberá identificar, entre eles, os mais relevantes para orientar a composição da capa. O título também é de extrema importância. Ele pode conter explicitamente o cerne da obra (O diário de Anne Frank; O poder do hábito), despertar a curiosidade (Outros jeitos de usar a boca) ou aguçar a identificação com um valor ou uma situação do potencial leitor (A sutil arte de ligar o f*da-se). Quando é necessário comu- nicar uma peculiaridade ou um atrativo adicional que o título não contempla, é comum o uso de um subtí- tulo, principalmente em livros de não ficção (O poder da ação – Faça sua vida ideal sair do papel). Ao combinar os elementos da capa, é importante equi- librar o peso de cada um de acordo com o conteúdo. A biografia de uma celebridade muito provavelmente chamará mais atenção se a imagem dessa pessoa fa- mosa estiver na capa. Se houver uma adaptação da obra para o cinema prestes a ser lançada, é comum as editoras trabalharem com a imagem do filme, em colaboração com a distribuidora. Pode ser que a me- lhor solução seja apenas usar um bom lettering sem imagem – recurso muito comum em livros de negócios. Há ainda casos em que o prestígio do autor com os leitores é tão forte que seu nome pode aparecer em fonte tão grande ou maior que a do título do livro. 83EDITORIAL MÓDULO I 83 MÓDULO IV Assim como toda embalagem de produto chama atenção na frente, mas carrega informações de inte- resse do consumidor atrás, o livro também precisa ca- tivar o leitor com um texto de quarta capa envolvente. Lembre-se: se uma pessoa é atraída pela primeira capa, a tendência é que ela vire o livro ainda fechado para obter mais informações. É muito provável que nesse momento aconteça a decisão de compra, por isso o texto de quarta capa deve ser publicitário, isto é, objetivo e sedutor (preferencialmente, dois ou três parágrafos de cinco ou seis linhas), como um anúncio que explica e exalta as virtudes do produto. No Brasil, o tipo de capa mais comum é a brochura com orelhas (abas). Ao contrário do que muitos pen- sam, as orelhas não existem primordialmente para marcar páginas (se bem que também podem ter essa utilidade). Na verdade, elas servem para evitar que as bordas da capa deformem (embeicem) pelo uso. É comum incluir nelas informações sobre o autor, endossos, trechos do livro ou mesmo textos de apre- sentação. A lombada também é importante, pois é a única área que fica visível quanto o livro é colocado de pé ao lado de outros em uma prateleira ou estante. O título, o nome do autor e o logotipo da editora devem estar bem visíveis. 84 MÓDULO IV Tenha em mente também que a capa diz muito sobre a percepção de valor que a editora espera despertar no leitor. Isso tem relação direta com o material da capa e os recursos de acabamento. Por exemplo, a um livro de alto valor agregado pode caber uma capa dura com aplicação de verniz UV localizado, pois o lei- tor está supostamente disposto a gastar mais por um produto premium. Para uma edição maispopular, di- rigida a um perfil de consumidor que tem um poder aquisitivo mais limitado, o uso da brochura permite precificar a obra em uma faixa mais acessível. Miolo Ainda que um livro fechado exposto em uma prate- leira de livraria não tenha seu interior visível, o cuidado com o chamado “miolo” da obra deve exigir tanto zelo quanto a capa. A disposição do texto sobre as páginas (diagramação) deve ser condizente com o conteúdo, permitir uma leitura agradável e fluente, estar corre- tamente organizada e conter todas as informações necessárias para a identificação e localização do con- teúdo (cabeçalho, paginador etc.). É preciso analisar se a fonte, o corpo (tamanho) e a entrelinha são ade- quados para uma boa leitura; se as margens guardam distâncias seguras entre a mancha (espaço da página coberto pelo bloco de texto) e a borda, evitando que 85EDITORIAL MÓDULO I 85 MÓDULO IV o texto seja cortado na hora de refilar; se a folha de créditos, as referências, as notas e as remissões es- tão corretas; se a diagramação está “fechando ca- dernos”, ou seja, se a contagem de páginas perfaz um múltiplo de 16 ou 32 (dependendo da máquina onde o miolo está sendo impresso), entre outros detalhes. A escolha do papel tem influência tanto na percepção de valor do livro quanto no cálculo do custo de impres- são. Pode valer mais a pena produzir um livro com um papel de melhor qualidade, que custe alguns centavos a mais por unidade, mas que também comporte um preço final mais elevado que o perfil do leitor daquele tipo de obra é capaz de absorver. Considere também que, ao cotar orçamentos com gráficas, é possível que uma delas tenha um estoque extra de um tipo de pa- pel e possa oferecer mais qualidade por um preço in- teressante. Por outro lado, certifique-se de estar tra- balhando com uma gráfica que garanta um resultado satisfatório. Por melhor que seja o papel e o preço, o uso de uma cola ruim ou um trabalho malfeito no acabamento de uma capa dura pode custar muito mais caro em termos de percepção de valor. 86 MÓDULO IV Acabamentos É neste item que os livros podem se distinguir mais uns dos outros. As gráficas modernas oferecem vários recursos para que uma obra desperte no leitor outro interesse além do que naturalmente terá pelo conte- údo – ou seja, para aumentar o interesse pelo objeto. E isso não se refere apenas à adição de detalhes para sofisticar o produto; também vale no sentido oposto, quando a redução no custo de produção vai permitir chegar a um preço final que cabe no orçamento do público ao qual a obra se destina. Novamente, nesse momento é preciso priorizar as preferências e expec- tativas do leitor potencial, assim como seus limites em termos de poder aquisitivo. O editor deve pensar como o comprador daquele título – o que ele espera e quanto está disposto a pagar por isso. Capa dura ou brochura? Em 14x21cm ou 16x23cm? Laminação brilhante ou fosca? Orelha na capa ou não? Aplicação de verniz UV ou hot stamping sobre o título? Faca especial? Material tipo soft touch nas capas? Usar fitilho (a fita de tecido presa na parte superior da lombada) como marcador de páginas de uma edição de luxo em capa dura? Cada um desses itens significa aumentar ou reduzir o custo gráfico, di- ferença essa que também pode ser influenciada pelo 87EDITORIAL MÓDULO I 87 MÓDULO IV número de exemplares impressos a cada vez (tira- gem). As variáveis são múltiplas, portanto veja a se- guir duas situações hipotéticas que podem dar uma ideia da complexidade envolvida nessas decisões: • Exemplo 1: Você entrega um livro de medidas 16x23cm para diagramação, e ele chega com 244 páginas, ou seja, precisaria de mais doze para fechar oito cadernos de 32 páginas (8x32=256) ou dar um jeito de fazer o conteúdo caber em sete cadernos (7x32=224). Entre várias alternativas, você pode: 1) Aumentar ou reduzir o tamanho (corpo) da fonte e a entrelinha, mas com o cuidado de fazê- -lo sem exagero, sob o risco de ficar evidentemen- te forçado e prejudicar o projeto gráfico do miolo. 2) Optar por reduzir o formato para 14x21cm. Como o mesmo texto terá de caber em uma mancha menor, ele automaticamente vai so- brar e espichar para mais páginas. Mas lembre- -se que isso pode influenciar a percepção de valor, por isso considere essa alternativa com cuidado. Além disso, certifique-se de que o livro não faz parte de uma série ou de uma cole- ção que tenha o formato maior como padrão. 3) Criar recursos no projeto gráfico para adicionar páginas, como criar aberturas de capítulos isola- das do texto ou incluir ilustrações, se isso for com- patível com o conteúdo e a proposta visual. 88 MÓDULO IV • Exemplo 2: O livro está pronto, a capa dura está linda, tem apelo para o público ao qual se destina, mas falta uma “bossa” para melhorar ainda mais a percepção de valor. O preço não pode ultrapassar certo limite, por isso, os cus- tos não podem aumentar. Assim, considere: 1) Mudar materiais, como o papel do miolo ou mesmo apenas a gramatura. A diferença pode ser redirecionada, por exemplo, para a inclu- são de fitilho. Só não esqueça de que, se a ideia é que a percepção de valor seja boa, a inclusão de um elemento não pode significar o sacrifício de outro importante para atingir o mesmo objetivo. 2) Negociar com a gráfica por pacote de jobs tam- bém pode ajudar a reduzir custos nesse e em ou- tros projetos. Situações similares às duas mencionadas são comuns na rotina dos profissionais envolvidos na produção editorial e gráfica. Sem dúvida, a sensibilidade é muito importante ao definir as especificações de uma obra, assim como no momento da aquisição. Uma coisa, po- rém, atravessa todo o processo: não se pode ignorar ou minimizar o fato de que uma editora faz livros para leitores, e são eles, em última análise, que determinam o que e como será publicado. Os valores do consumi- dor final do livro, suas preferências, o ambiente social e profissional em que vive, os recursos financeiros de 89EDITORIAL MÓDULO I 89 MÓDULO IV que dispõe, sua formação acadêmica, seus objetivos, enfim, tudo o que diz respeito ao leitor tem o maior peso no momento da definição das especificações de todo livro. Isso vale também para os projetos especiais, desen- volvidos pelas editoras para uma venda excepcional ou exclusiva. Esse tipo de projeto pode ser disponibilizado com exclusividade para uma rede de livrarias físicas, e-commerce ou clube de assinaturas, produzido para uma empresa ou instituição ou criado para uma ação de marketing específica e pontual. O livro (ou coleção) pode ser inédito ou uma edição especial de um item do catálogo da editora, que geralmente produz uma ou mais tiragens com especificações diferenciadas. Formatos digitais Assista agora a dois vídeos sobre os formatos digi- tais disponíveis atualmente. Ricardo Costa, CEO da Metabooks, fala sobre o e-book, enquanto Eduardo Albano, cofundador e CFO da Ubook, comenta a res- peito do audiolivro. Veja, na parte 7 desta apostila, mais comentários a res- peito dos formatos digitais no panorama do futuro do livro. 90 MÓDULO IV BOX: Quando uma editora trabalha com grandes tiragens de uma obra que exige um alto custo de produção – como acontece com enciclopédias ou bíblias, por exemplo –, a saída para não ter de colocar o preço do livro na estratosfera pode ser a impressão no exterior. A área de produção gráfica precisa negociar as espe- cificações, geralmente em inglês. O glossário abaixo é útil para conhecer os nomes dos principais itens. • Acetate – lâmina de acetato, geralmente usada na “janela” (diecut) das caixas ou luvas para proteger a parte aparente da capa • Backwrap – folha que fica sobre a quarta capa do livro (ou da Bíblia) com informações, destaques, código de barras, logotipo da editora etc. • Bookblock, textblockou block – miolo completo (bloco) • Burnish – baixo relevo • Case, Cover – capa • Case bound – denominação para o tipo de encadernação da capa dura • Clothing – acabamento em tecido • Corners – cantos externos da capa • Diecut – a janela (abertura) que permite ver parte da capa do produto dentro da caixa ou luva • Edges – os cortes, extremidades do miolo onde o livro é refilado. O da altura é front edge (corte lateral ou dianteiro), o da largura de cima é top edge (corte superior) e o da largura de baixo é bottom edge (corte inferior) 91EDITORIAL MÓDULO I 91 MÓDULO IV • Tailband – cabeceado inferior • Endsheet – folha de guarda. Serve tanto para a da capa frontal (front endsheet) quanto a da capa posterior (back endsheet) • Foil – douração na capa (qualquer cor) • French flap – orelha • Gauze strip ou super – gaze de lombada (aquela que sustenta a costura dos cadernos) • Gilding – douração na borda do miolo (qualquer cor) • Glueing – aplicação de cola • Hard cover – acabamento em capa dura • Headband – cabeceado superior • Hinge ou joint – dobra da capa (também pode ser aplicado ao vinco da capa dura) • Insert – Encarte de folha ou caderno de papel diferente do miolo • Interior – miolo • Jacket – sobrecapa ou jaqueta • J-Wrap – luva em formato de “J” que geralmente cobre toda a quarta capa, passa por baixo do livro e vai até um terço ou metade da altura da primeira capa • O-Wrap – luva em formato de “O” que envolve todo o produto. Pode ter parte frontal vazada em faca (janela ou diecut) com um acetato fazendo o acabamento • Packaging – embalagem do produto (caixa, luva etc.) 92 MÓDULO IV • Paperback – acabamento em brochura • Perfect bound – tipo de encadernação da brochura • Proof – prova (de miolo, capa etc.) • PU – poliuretano, material com textura de couro ou emborrachado, usado com frequência na encadernação de livros de referência, bíblias e agendas • Raised band – pequena dobra ou vinco na lombada de livros de capa dura clássicos • Ribbon – fitilho (fita marca-página) • Round corner – canto arredondado (comum em livros de referência e bíblias) • Sheet – lâmina (quando já dobrada em caderno, passa a ser referida como folded sheet) • Signature (ou sig) – cada caderno do livro • Smashing – prensagem dos cadernos • Softproof – prova eletrônica • Spine ou back – lombada • Stich – forma de fixar um ou mais cadernos. São várias: • Saddle stich – grampo simples (geralmente usado em revistas simples para fixação do caderno em canoa) • Loop stich – grampo redondo • Sewn stich ou sewn bound – costura 93EDITORIAL MÓDULO I 93 MÓDULO IV • Spiral bound – espiral propriamente dita • Wire-O bound – falsa espiral (uma haste para cada furo no papel) • Tape bound – fita adesiva envolvendo a dobra dos cadernos, como uma lombada estendida • Stitching-thread – costura aparente sobre a capa (comum em bíblias) • Trimming – cortes laterais para refilar um livro . MÓDULO I 5 O LIVRO COMO PRODUTO II Já vimos nesta apostila que toda casa publicadora trabalha a partir de premissas editoriais próprias, mesmo que os processos se assemelhem em vários aspectos. Nesta parte vamos reforçar alguns desses conceitos e ouvir especialistas que ajudam a enten- der como funcionam os mecanismos e as estruturas dentro de uma área editorial. 95EDITORIAL MÓDULO I Linhas editoriais Esse é o ponto de partida para tudo o que uma edi- tora vai produzir: definir com que tipo de publicação deseja trabalhar. E não existe resposta certa, a não ser aquela que a empresa decide dar. Há as que tra- balham com uma linha só, bem clara, às vezes dirigida a um nicho específico, como a Forense, do Grupo Gen, especializada em Direito, e a Aller, do grupo 106, fo- cada em Psicanálise e assuntos correlatos. No outro extremo, alguns grupos editoriais se notabilizam pela diversificação – são as editoras de interesse geral, como Record, Cia. das Letras e Sextante. E há muitas Dando continuidade ao módulo anterior, nesta unidade você verá os seguintes tópicos: - Linhas editoriais; - Processo de captação; - Autores e agentes; - Regras de direitos autorais; - Avaliação de originais e manuscritos; - Tradução; - Copidesque ou preparação de texto; - Revisões; - Recapitulando. 96 MÓDULO V outras no meio desses polos, trabalhando com dois, três ou mais segmentos. O importante é saber que, definida a linha editorial – diretamente relacionada à visão e à missão da empresa e, consequentemente, à sua estratégia –, ela será o norte para guiar aquisi- ções, contratações e formação das equipes editorial, comercial e de marketing. Uma primeira instância na definição das linhas edi- toriais é identificar os quatro grandes grupos geral- mente utilizados para classificação para efeito de estatísticas: ficção, não ficção, infanto-juvenil e CPT (livros científicos, profissionais e técnicos). Isso permite que o profissional ou empreendedor entenda em que áreas do cenário vai atuar, quanto elas representam em termos de participação no mercado, qual o grau de competitividade e o comportamento dos leitores em cada uma delas. Dentro da generalização desses quatro grupos maio- res estão reunidos todos os gêneros literários. Se uma editora publica apenas romances de época e histórias policiais, ela se localiza apenas no mercado de litera- tura de ficção. Se passa a produzir biografias, livros de negócios e histórias infantis, também se torna uma casa publicadora de não ficção e infanto-juvenis. E são essas escolhas que vão determinar o tipo de conteúdo 97EDITORIAL MÓDULO I 97 MÓDULO V que a equipe editorial vai prospectar e quais as estra- tégias de marketing e vendas que serão adotadas. É importante que a equipe editorial tenha conheci- mento do público-alvo de cada gênero que pretende publicar: qual o comportamento daquele grupo de lei- tores, quais os seus autores preferidos, quais os títu- los que se destacaram historicamente, quem são os agentes especializados, quais as tendências e como trabalha a concorrência, tudo isso são exemplos de informações extremamente relevantes para o pro- cesso de prospecção de novos títulos. Afinal, nem sempre seguir uma tendência é sinônimo de sucesso, assim como é preciso estar atento a oportunidades de reativação de autores clássicos ou que possuem um histórico favorável. Da mesma forma, os profissio- nais que vão promover e vender os livros devem do- minar as peculiaridades dos segmentos de mercado específicos onde vão trabalhar. Isso porque, também no que diz respeito a linhas editoriais, o princípio fun- damental não muda: quem define o que deve ser pu- blicado é o leitor. O mercado oferece sinalizações que ajudam o edi- tor a perceber quais as linhas editoriais com melhor desempenho. Empresas como a Nielsen elaboram pesquisas sistemáticas sobre o comportamento do 98 MÓDULO V público leitor, oferecendo informações valiosas sobre quais gêneros e subgêneros literários sobressaem, os autores mais procurados e os sinais de mudança. Da mesma forma, as listas de best-sellers também ser- vem de subsídio, por mais que tenham seus métodos criticados. Duas delas, divulgadas semanalmente pela revista Veja e pelo portal PublishNews, são as mais desejadas pelo mercado. É importante dizer que, por mais rígidos que sejam seus critérios, as listas de best-sellers não cobrem 100% das vendas de livros. Pequenas livrarias não atendidas por distribuidores, sebos, vendas porta a porta, livrarias evangélicas e canais informais não são cobertos pelas pesquisas, assim como vendas corpo- rativas ou em igrejas. Essa é a razão pela qual a Bíblia, o livro mais vendido em volume no Brasil, com mais de 10 milhões de unidades anuais, não entra nos rankings. Processo de captação Como já vimos nesta apostila, os gerentes editoriais ou editores de aquisições dispõem de várias fon- tes de informaçãopara encontrar títulos e autores que se adequam às linhas editoriais da empresa e demonstram potencial de vendas. Identificadas as oportunidades, eles iniciam o processo de captação, cujo primeiro passo é a consulta ao agente (ou ao Ouça o áudio 2 99EDITORIAL MÓDULO I 99 MÓDULO V próprio autor) sobre a disponibilidade da obra para o país e o idioma. Em caso positivo, o editor prepara um pitch, que é a proposta de trabalho que a casa pu- blicadora se compromete a realizar pelo sucesso do livro. Normalmente, é uma apresentação que inclui a exposição da editora e de suas capacidades, o plano de marketing (incluindo eventos de lançamento) e o plano de distribuição e vendas. Caso a empresa já te- nha um projeto em mente para o autor, ele também é incluído na apresentação, antes dos planos de marke- ting e vendas. É comum incluir no pitch também uma projeção de resultados e, ocasionalmente, até mesmo a oferta da editora ao autor (advance, royalties etc.). Quando uma editora não tem concorrência por um tí- tulo ou autor, ela envia uma oferta e negocia detalhes e ajustes com o agente. No entanto, quando outra edi- tora entra na disputa, pode ocorrer o chamado “leilão” – ganha a que apresentar a melhor oferta, geralmente um adiantamento mais alto ou uma taxa de royalties mais elevada. Se uma editora tem muito interesse e expectativa sobre um livro e quer evitar a disputa com concorrentes, ela pode oferecer um preemptive, ou seja, uma oferta maior e melhor para que o agente sequer abra o leilão. Além do advance e da taxa de royalties, a oferta pode conter uma proposta de luvas, que é um valor em dinheiro que não será descontado na prestação de contas dos direitos autorais. 100 MÓDULO V Ao ter uma proposta aceita ou vencer uma concor- rência, a editora oficializa a proposta em um contrato que garante a ela o direito, via de regra exclusivo, sobre uma ou mais obras. É possível incluir no texto contra- tual uma cláusula de renovação automática ou uma garantia de primeira opção (direito de preferência) ao fim de cada período de vigência. Atualmente, os con- tratos costumam abranger todos os formatos, tanto do livro impresso quanto do digital. Autores e agentes Diz-se que o negócio de livros é baseado em rela- cionamentos, e há grande porção de verdade nisso. As equipes editoriais geralmente contam com profis- sionais que conhecem e são conhecidos por autores, agentes e representantes das áreas de negociação de licenciamento de outras editoras. Esses relaciona- mentos são construídos no dia a dia em feiras e fes- tivais literários, grandes eventos nacionais e interna- cionais, lançamentos de livros, contatos telefônicos e encontros informais. Há uma espécie de código de conduta tácito, segundo o qual um autor que se faz representar por um agente não deve ser abordado diretamente por um editor para negociação de contrato. Em outras palavras, não é de bom tom atravessar o agente, mesmo que o edi- 101EDITORIAL MÓDULO I 101 MÓDULO V tor e o autor sejam amigos e já tenham demonstrado interesse em trabalhar juntos. No que diz respeito a obras traduzidas, há editoras internacionais que ne- gociam diretamente, mas as maiores costumam ser representadas por agências brasileiras, como Villas- Boas e Moss, Riff, Bookcase, entre outras. Regras de direitos autorais Como já foi abordado nesta apostila, uma editora só pode publicar um texto que não esteja em domínio público com a licença do autor ou de seu represen- tante (em geral, o agente ou outra editora), o que se faz por intermédio de um contrato em que a casa pu- blicadora se compromete a pagar os percentuais de direitos autorais devidos em períodos determinados de apuração de vendas. Mas há mecanismos na le- gislação brasileira que determinam que direitos são esses. Nos podcasts a seguir, o advogado Gustavo Martins de Almeida, mestre e doutor em Direito espe- cializado na área de responsabilidade civil, contratos e direito autoral, que também atua como consultor jurídico do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, explica quais são essas regras. 102 MÓDULO V Imagem 4.1 - Gustavo Martins de Almeida - Consultor jurídico/SNEL Os contratos existem para proteger o autor, mas tam- bém são instrumentos de proteção de outras partes que têm direitos envolvidos, como o tradutor e a pró- pria editora. O dr. Gustavo prossegue falando sobre o tema em mais dois podcasts. Ouça os áudios 5, 6 e 7 103EDITORIAL MÓDULO I 103 MÓDULO V Avaliação de originais e manuscritos A existência de linhas editoriais pressupõe que a editora não publica qualquer material que lhe é apresentado. E mesmo que um original tenha tudo a ver com o que a empresa se dispõe a produzir, é necessário se certificar da qualidade e do potencial de vendas do texto. Assim, a equipe editorial avalia esses materiais ou os envia a pareceristas, que são pessoas responsáveis por ler um manuscrito (ou original) e preparar um relatório de ava- liação. É fundamental que a pessoa responsável por essa análise tenha algumas perguntas em mente: • O conteúdo está de acordo com alguma linha editorial da empresa? • O tema é relevante? Tem apelo comercial? • O manuscrito tem qualidade? As ideias estão bem organizadas? Permitem fluidez de leitura, compreensão e pensamento? • O texto precisa de preparação pesada? Ofere- ce espaço para isso? • Há alguma ideia ou algum conceito que desabo- Ouça os áudios 8 e 9 104 MÓDULO V ne o texto? Por exemplo, ele é ofensivo, precon- ceituoso ou incita violência? • O autor tem boa plataforma de público? O autor se engaja na divulgação? As respostas a essas perguntas apontam a viabili- dade ou não da aquisição e publicação daquela obra. Editores que negligenciam as respostas e lançam ape- nas os livros dos quais “gostam” têm grande chance de lançar projetos fadados ao fracasso. Tradução Obras estrangeiras exigem um trabalho de tradução, naturalmente, mas essa etapa do processo também deve ser criteriosa. O profissional responsável pela tarefa de verter um texto de uma língua para ou- tra deve dominar tanto o idioma original (de partida) quanto o local (de chegada). Isso significa tomar deci- sões importantes e, em certos momentos, até difíceis, sobre priorizar o texto original ou a compreensão do leitor sobre o texto traduzido. Há tradutores que de- fendem manter a integridade do texto de partida, em respeito ao autor e sua cultura, mesmo que o texto soe estranho ao leitor – algo que notas de rodapé ou de fim podem resolver. Outra corrente acredita que o 105EDITORIAL MÓDULO I 105 MÓDULO V objetivo de todo autor é, em última análise, ser com- preendido pelo leitor, o que justifica adaptar trechos para que façam sentido na cultura e na experiência de quem está lendo em outro país. Como mencionado, não basta que o tradutor conheça muito bem a língua de partida; ele precisa ser hábil na língua de chegada para que não se percam sentidos, ritmos, fluências, informações, intenções, traços de es- tilo contidos no texto. Afinal, assim como o original re- flete a voz do autor, o mesmo deve acontecer com a obra traduzida. A duração de uma tradução depende da quantidade de texto, e pode durar de um mês, para um livro de pequeno porte, até meses ou mesmo anos, quando se trata de uma enciclopédia, um texto acadêmico ou uma obra de referência. Por ser um tra- balho especializado, o preço varia, sempre em função do número de laudas.12 A natureza do texto também influencia o valor da lauda, que pode começar em R$ 22,00, para livros comuns (romances, autoajuda etc.), e ultrapassar R$ 40,00 para obras acadêmicas com- plexas, de alto grau de especificidade ou em um idioma 12 Lauda é uma medida utilizada no passado por jornais para calcular o número de caracteres (letras, espaços e sinais gráficos) necessários para preencherdeter- minados espaços da página. É a mais usada em editoras para calcular serviços de tradução, copidesque e revisão. Não existe uma lauda-padrão, mas a mais comum equivale a 2.000 caracteres. Assim, para se calcular o número de laudas de um texto original ou traduzido, soma-se todos os caracteres e divide-se por 2.000. Ao chegar ao número de laudas, basta multiplicar pelo valor unitário para se chegar ao custo do job. O mesmo vale para copidesque e revisões. 106 MÓDULO V pouco usual. Versões (transposição do português para outros idiomas) têm preço pelo menos 50% maior. A urgência do trabalho, geralmente pressupondo prazos curtos, também pode fazer o preço por lauda subir. Há editoras e agentes internacionais que ainda exigem, por contrato, que a tradução da obra seja aprovada, mas na prática isso raramente acontece. Copidesque ou preparação de texto Há quem faça distinção entre os dois termos, mas quase sempre se referem ao mesmo tipo de trabalho: seja em um original na língua local ou em uma tradu- ção, a preparação tem por objetivo ajustar ou lapidar o texto bruto, encontrando vícios de linguagem, falsos cognatos, construções truncadas, saltos de tradu- ção, problemas de organização de ideias, repetições e outros problemas que comprometem a qualidade, a fluência, o sentido e a melhor compreensão do con- teúdo. Nas traduções, é importante que o preparador (também referido como copy ou redator) conheça o idioma de partida para garantir que a chegada seja fiel ao sentido pretendido pelo autor. Embora não tenha a responsabilidade primordial de corrigir erros de digitação ou gramaticais, já que sua maior preocupação é com a fidelidade do conteúdo 107EDITORIAL MÓDULO I 107 MÓDULO V ao propósito a que se destina, é desejável que faça um trabalho de revisão inicial (copidesque revisional). Por razões óbvias, o copidesque não deve ser feito pela mesma pessoa que traduziu a obra. O valor do trabalho de copidesque é, em média, R$ 10,00 por lauda, mas também pode variar de acordo com a especificidade do texto ou da urgência no prazo. O gerente editorial ou o editor responsável pelo projeto deve checar o trabalho de copidesque realizado so- bre o texto original ou a tradução, identificando even- tuais problemas e evitando retrabalho. É também recomendável que, em seguida, o texto copidescado seja submetido à aprovação do autor. Revisões Sim, é no plural que se deve tratar essa etapa do tra- balho sobre o texto. Historicamente falando, é comum que se encontre erros de digitação, gramática ou pro- blemas de diagramação (como viúvas ou gralhas)13 em mais de uma revisão. Por essa razão, também aqui se recomenda que cada revisão seja feita por uma pessoa diferente, e nunca pela mesma que fez o co- pidesque, evitando que alguém viciado no texto deixe 13 No jargão editorial, “viúva” é uma linha final de parágrafo com uma ou duas pa- lavras, gerando um problema estético, o que normalmente é evitado ajustando o kerning (ajuste para mais ou para menos do espaço entre caracteres). “Gralha” de- nomina erros de tipografia ou troca de letras ou palavras. 108 MÓDULO V escapar algum problema. Muitas editoras atualmente fazem a primeira revisão em tela, antes da diagrama- ção, e em prova impressa a partir da segunda revisão. Há outras que mantêm o costume de diagramar de- pois da preparação, submetendo todas as revisões a cópias impressas. A cada revisão, o profissional aponta correções (emendas) que a equipe editorial envia ao diagramador para providenciar, e recebe de volta para checar se foram realizadas (batida de emendas). Pelo fato de o texto ser apurado a cada revisão, o custo por lauda é escalonado, começando por R$ 8,00 (primeira) e passando para R$ 4,50 (segunda), em média. Em livros acadêmicos, científicos, técnicos, profissionais ou de referência, é comum a realização de uma revisão técnica, cujo objetivo é verificar a ade- quação da linguagem ao jargão do público-alvo. Por exemplo, livros sobre Direito costumam conter muitos termos familiares a especialistas, mas que um tradu- tor ou redator pode entender de maneira equivocada. Essa revisão técnica pode ter um preço por lauda um pouco superior ao usual. Quando não há mais emendas, o texto é considerado final, e a equipe editorial faz a última checagem nos arquivos, conferindo paginação, sumário, folhas de rosto e de créditos, colofão (informações técnicas so- 109EDITORIAL MÓDULO I 109 MÓDULO V bre gráfica, papel e fonte, geralmente na última pá- gina do miolo), etc. Recomenda-se que os arquivos finais de capa e miolo sejam enviados ao autor nacio- nal mais uma vez para aprovação definitiva antes de ser enviado à gráfica. Igualmente rigorosa deve ser a checagem da folha de créditos, pois ela contém infor- mações exigidas por legislação e contrato ou estra- tégicas, como ISBN, catalogação, ano de lançamento, edição, direitos, título e editora original, equipe edito- rial, colaboradores, entre outras. Ouça, a seguir, um áudio produzido por Silvia Rebello sobre essas etapas de tratamento do texto. Ouça o áudio 10 110 MÓDULO V Recapitulando Tendo falado sobre a estrutura da equipe editorial no segundo capítulo dessa apostila, e nesta parte, so- bre os principais processos que envolvem esses pro- fissionais, vale a pena localizar esses a tores dentro da cadeia produtiva. É um bom momento de rever as duas estruturas funcionais sugeridas (simplificada e complexa), bem como os fluxogramas de proces- sos (títulos nacionais e internacionais), enquanto ouve outro podcast em que Silvia Rebello faz a correlação entre as atividades e os agentes envolvidos. Ouça o áudio 11 MÓDULO II MÓDULO IV 111 Gráfico 2.2 ORGANOGRAMA EDI TORI AL COMPLEXO EDITOR 1.1 EDITOR 1.2 EDITOR 1.3 EDITOR 2.1 EDITOR 3.1 EDITOR 3.2 GERENTE EDITORIAL 1 GERENTE EDITORIAL 2 GERENTE EDITORIAL 3 GERENTE DE PRODUÇÃO PRODUTOR EDITORIAL PRODUTOR GRÁFICO ASSISTENTE EDITORIAL 1.1 ASSISTENTE EDITORIAL 1.2 ASSISTENTE EDITORIAL 1.3 ASSISTENTE EDITORIAL 2.1 ASSISTENTE EDITORIAL 3.1 ASSISTENTE EDITORIAL 3.2 PRODUTOR EDITORIAL DIRETOR EDITORIAL 112 MÓDULO V Gráfico 2.3 ORGANOGRAMA EDITORIAL SIMPLES GERENTE EDITORIAL EDITOR DE AQUISIÇÕES 1 EDITOR DE AQUISIÇÕES 2 PRODUTOR GRÁFICO ASSISTENTE EDITORIAL 1.1 ASSISTENTE EDITORIAL 2.1 PRODUTOR EDITORIAL 1.1 PRODUTOR EDITORIAL 2.1 113 MÓDULO V Gráfico 2.4 Editorial Produção editorial Jurídico FLUXOGRAMA EDITORIAL - LIVROS NACIONAIS Prospecção Captação Recusa de original Elaboração de contrato Desistência Análise do original Está de acordo com a linha editorial? Contratação Entrega de originais Projeto gráfico Produção de arte e texto de capa Preparação de texto Revisão de tela Diagramação Revisão de prova Aprovação de PDFs pelo editorial e autor Criação de cadastro de projeto Análise de viabilidade de produção, comercial e marketing Submissão ao Publisher ou Comitê de Aprovação O BP e o mercado indicam viabilidade? Aprovado? Aprovado por editorial e pelo autor? Aprovado por editorial e pelo autor? Aprovado por editorial, diretoria e autor? Ainda há emendas? Pode reapresentar? Finalização de arquivos para gráfica Plotter aprovada? Aprovação para impressão N S N S N S N S N S S S N S N N S 114 MÓDULO V Editorial Produção editorial Jurídico FLUXOGRAMA EDITORIAL - LIVROS INTERNACIONAIS Prospecção Captação Recusa de original Elaboração de contrato Desistência Análise do original Está de acordo com a linha editorial? Contratação Entrega de originais Projeto gráfico Produção de arte e texto de capa Tradução Preparação de texto Revisão de tela Diagramação Revisão de prova Aprovação de PDFs pelo editorial e autor Criação de cadastro de projeto Análise de viabilidade de produção, comercial e marketing Submissão aoPublisher ou Comitê de Aprovação O BP e o mercado indicam viabilidade? Aprovado? Aprovado por editorial? Aprovado por editorial Aprovado por editorial, editora orig. e diretoria? Ainda há emendas? Pode reapresentar? Finalização de arquivos para gráfica Plotter aprovada? Aprovação para impressão N S N S N S N S N S S S NN S N N S Gráfico 2.5 MÓDULO I 6 O LIVRO COMO PRODUTO III Estratégias de distribuição e lançamento Previamente nesta apostila, ao se falar sobre os crité- rios essenciais na captação e contratação de um livro, foi abordada a questão da plataforma do autor, bem Esta unidade está dividida nos seguintes tópicos: - Estratégias de distribuição e lançamento; - Marketing; - Estratégias de divulgação; - Mídias sociais; - Eventos; - Exposição. 117EDITORIAL MÓDULO I • Se o autor é uma celebridade nas mídias sociais, a área de marketing tende a desenvolver uma es- tratégia concentrada nesse segmento. • A autora não é muito conhecida, mas traz uma abordagem nova sobre um tema atual, como em- poderamento feminino, caracterizando um ótimo argumento de vendas. • Uma biografia de um político polêmico em época de eleições atrai o interesse da imprensa, gerando buzz. como da relevância e do potencial do conteúdo. Esses dois fatores vão influenciar diretamente o trabalho das equipes de marketing e comercial, cuja responsabilidade, em linguagem bem sim- plista, é fazer o livro aparecer e vender. Veja aqui alguns aspectos desse impacto: 118 MÓDULO VI • Uma obra inédita recém-descoberta de um autor clássico ou de grande prestígio deve receber forte investimento na campanha de lançamento. • Um livro relacionado a uma data importante do calendário – por exemplo, o Dia da Criança – deve ter seu lançamento planejado para, pelo menos, um mês antes, garantindo divulgação e distribui- ção em tempo hábil e potencializando os resulta- dos de venda. É fundamental ter o livro certo nos lugares certos. Livrarias de nicho, como as especializadas em litera- tura de arte, podem não ser o melhor canal para ex- posição de livros de youtubers, assim como livros aca- dêmicos provavelmente encalhariam se colocados no catálogo da Avon. Os dois gêneros têm seu valor e potencial de vendas, desde que sejam expostos e di- vulgados nos espaços que seu público-alvo costuma frequentar. Para que esse trabalho de promoção e distribuição seja eficiente, ele deve ser planejado com antecedên- cia, daí a importância de um diálogo constante entre as áreas editorial, comercial e de marketing. Não se trata de um ingerir sobre o outro, mas de trabalha- rem em cooperação constante, trocando informações 119EDITORIAL MÓDULO I 119 MÓDULO VI e discutindo possibilidades. O conhecimento do editor sobre a rede de relacionamentos do autor pode aju- dar muito o marketing a planejar eventos específicos para esse grupo. O interesse de uma rede de livrarias em investir em um projeto especial baseado em de- terminado gênero pode coincidir com a contratação de um autor forte naquele segmento. Bruno Zolotar, diretor de Marketing e Comunicação do Grupo Record, sintetiza e exemplifica essa relação. Marketing Em um mercado competitivo como o editorial, em que muitas empresas produzem muitas novidades para poucos canais de venda, o marketing tem uma impor- tância grande, mas um desafio ainda maior: ser ori- ginal em um setor com práticas conservadoras. Para fazer os livros de uma editora se distinguirem dos tí- tulos concorrentes e conquistar o coração (e o bolso) do consumidor, é preciso um planejamento específico que, em algumas editoras, por vício antigo ou estru- tura equivocada, às vezes é confundido com atribui- ções próprias da área comercial, como explica Bruno Zolotar no podcast a seguir. Em tempos de multiplataforma e alcance digital, o planejamento da imagem institucional de uma edi- Ouça o áudio 12 Ouça o áudio 13 120 MÓDULO VI tora ou da campanha de um lançamento específico se tornou mais complexo. Recursos como marcado- res de páginas personalizados, displays no balcão de check-out (caixa), sinalização para pilhas de livros nas lojas e sessões de autógrafos continuam sendo vá- lidos, mas com mais exigência de originalidade para sobressair, o que, não raro, pressupõe investimentos. É preciso pensar o marketing do livro de maneira mo- derna. Ações para o crescimento da presença em mí- dias sociais tornaram-se palavra de ordem para edi- toras que querem fazer circular informações sobre suas iniciativas com agilidade. Até mesmo o ponto de referência para o início de uma campanha, que antes acontecia praticamente junto com a chegada do livro nas livrarias, mudou para o período de pré-vendas, que hoje é tanto uma ação comercial quanto de marketing. Estratégias de divulgação Quando se pensa na divulgação de um livro, é pre- ciso considerar os vários públicos que se deseja atin- gir. Até chegar ao ponto de encantar o leitor, um lan- çamento precisa ser convincente e mostrar potencial às livrarias e distribuidoras, à imprensa, a formado- res de opinião e aos influenciadores. Isso passa não apenas pelo marketing, mas também pelo comercial, Ouça o áudio 14 Ouça o áudio 15 121EDITORIAL MÓDULO I 121 MÓDULO VI começando pelo atendimento aos clientes diretos: os canais de venda. Gerson Ramos, diretor comercial da Editora Planeta, tem uma experiência interessante nessa área, como relata no vídeo a seguir. Iniciativas como feiras e festivais literários não são no- vidade, mas hoje o investimento nesses eventos não se resume mais a montar um estande com estantes e balcão de vendas. São ocasiões de reafirmação insti- tucional e uma forma cada vez mais eficiente de apro- ximar os autores do público. Feiras e eventos de menor porte, como as que educandários particulares organi- zam, também se tornaram valiosas oportunidades de ampliar a exposição da empresa e seu catálogo. As estratégias para conquistar e cativar o leitor evolu- íram. Casos como o da TAG, especializada em atendi- mento direto ao consumidor por intermédio de clubes de assinatura, demonstram que mesmo ideias antigas podem ganhar novo impulso quando reimaginadas. Um dos mais fortes canais de divulgação para livros é a mídia convencional – aqui referida como os meios tradi- cionais de comunicação, como jornais, revistas, TV aberta e rádio. Isso faz sentido: há uma enorme interseção entre as pessoas interessadas em notícias, filmes, en- tretenimento e cultura e o universo das que compram Assista o vídeo 6 122 MÓDULO VI e leem obras dos mais diversos gêneros. Antes da revolução digital, quando a imprensa escrita vivia de grandes tiragens e contava com grandes orçamen- tos vindos de publicidade e serviço de assinaturas, as editoras disputavam cada centímetro dos cadernos literários e culturais – Caderno B e Ideias, do Jornal do Brasil; Prosa e Verso e Segundo Caderno, em O Globo; Cultura e Sabático, em O Estado de S. Paulo; Ilustrada e Mais!, na Folha de S. Paulo; entre outros. Os espaços hoje são bem mais raros e limitados, mas ainda são relevantes em termos de mídia espontânea. Da mesma forma, os programas de rádio e TV que dedicam tempo integral ou parcial à divulgação de li- vros, autores e editoras podem ser estratégicos numa campanha de lançamento. Evidentemente, o resultado é proporcionalmente eficaz ao perfil do público de cada atração. A linha editorial, o horário de exibição e a emissora do programa de entrevistas de Pedro Bial são diferentes do show das manhãs da TV Record ou da atração vespertina da rádio Bandeirantes. O mesmo vale para a diferença entre os colunistas e os forma- dores de opinião. É para fazer a gestão do material de divulgação que vai para cada um desses meios que muitas editoras contratam assessorias especializadas, que podem ficar sob a gestão da áreaeditorial (mais adequado, já que há muitos editores ou publishers com 123EDITORIAL MÓDULO I 123 MÓDULO VI formação no Jornalismo) ou de marketing. Um press kit que inclua um release bem elaborado pode abrir um espaço de mídia espontânea mais efi- caz e menos caro que um anúncio. Cabe lembrar que, diferentemente do que acontece com a quarta capa, onde se exige um texto publicitário para cativar o lei- tor, o release tem por objetivo convencer o jornalista ou formador de opinião que o livro ou autor é rele- vante e justifica uma matéria. Por essa razão, copiar a quarta capa e colar o texto no release não é neces- sariamente uma boa ideia. Quartas capas vendem livros; releases vendem pautas. Outro recurso de divulgação do qual as assessorias se valem é o oferecimento de textos a jornalistas e forma- dores de opinião em primeira mão um pouco antes do lançamento. Até o início dos anos 1990, eram enviadas cópias físicas e encadernadas artesanalmente, sem re- visão. Hoje o processo é mais simples – basta enviar o texto pela internet. Uma empresa de divulgação tam- bém deve ficar atenta aos temas recorrentes e às pes- soas que estão em evidência, para aproveitar oportuni- dades de indicação de um título ou mesmo uma simples aparição na mesa de um entrevistado influente. Outra forma de divulgar uma obra é a aparição em alguma lista de best-sellers, como já mencionado nesta apos- 124 MÓDULO VI tila. Incluir um splash (pequena chamada em destaque) na capa com o texto “Best-seller da Amazon” ou “Vinte semanas entre os mais vendidos da Veja” serve, no mí- nimo, para atiçar a curiosidade do leitor potencial. Mídias sociais A partir do início dos anos 2000, à medida em que as mídias sociais se proliferaram, percebeu-se que uma nova geração de consumidores (e leitores) cres- cia tendo como referência as interações no Facebook, YouTube, Twitter, Instagram e outras plataformas. Mais recentemente, surgiram os influenciadores digi- tais, muitos dos quais se tornaram autores, nem sem- pre replicando nas livrarias o sucesso na internet. As editoras passaram a desenvolver estratégias de di- vulgação para acompanhar esse fenômeno e o com- portamento que continua gerando. Ouça a análise de Bruno Zolotar, diretor de Marketing e Comunicação do Grupo Record. Eventos Não se pode esquecer de uma ação que nada tem de nova, mas continua sendo estratégica para vários autores, livros, séries e gêneros: os eventos de lança- mento. Uma tarde ou noite de autógrafos bem mo- Ouça o áudio 16 125EDITORIAL MÓDULO I 125 MÓDULO VI vimentada e divulgada pode significar mídia espon- tânea e até presença na lista de mais vendidos da semana seguinte. Mesmo que não seja tão concor- rida assim, ela tem potencial para atrair grupos de interesse, ativando o chamado “boca a boca”. Esses eventos costumam ser combinados entre a editora e a livraria, mas também podem ocorrer em outros lo- cais e situações, como palestras, shows, festivais, fei- ras literárias etc., dentro de uma parceria comercial. Uma ação bastante comum entre editoras, princi- palmente as de maior porte, é convidar autores in- ternacionais para uma turnê no Brasil. Essas visi- tas, programadas com boa antecedência, propiciam oportunidades de entrevistas e reportagens, sessões de autógrafo, encontro com grupos de interesse e ou- tras formas de promoção e mídia. Quando concilia- das com uma feira ou um festival literário, o resultado pode ser ainda melhor. É preciso, porém, calcular o retorno comercial e institucional, pois o investimento com transporte, hospedagem, alimentação e outras despesas não é baixo. Exposição A exposição do livro é um dos grandes desafios da área comercial. Lembre-se: são dezenas de editoras 126 MÓDULO VI publicando, literalmente, centenas de títulos por mês, e é claro que não há espaço para tanta novidade nas vitrines ou nas melhores prateleiras das livrarias. A tendência é que os livros com melhor resultado fi- quem mais tempo nas posições de maior visibilidade. Considere-se também os espaços nobres (estan- tes de recomendação da loja ou pontas de gôndola, as extremidades das estantes no meio da loja) e as ações especiais (pilhas de livros na entrada, sinaliza- ções etc.), frequentemente negociados pela livraria. O pagamento por esses espaços e ações não é neces- sariamente feito em dinheiro, mas às vezes em des- contos diferenciados ou produtos. Com as distâncias geográficas e a diferença de perfil dos leitores, dependendo da região, definir quantos exemplares são necessários para uma boa exposição do livro se transforma numa equação que os geren- tes e diretores comerciais precisam resolver rotinei- ramente. E isso afeta a decisão sobre tiragens ini- ciais e reimpressões. Se um livro tem bom giro (vende bem) em uma região, não se pode correr o risco de uma ruptura (falta de abastecimento) – como se diz, “a fila anda”, e um título que some das lojas tende a ser substituído por outro na preferência do leitor. Por outro lado, o mesmo livro pode encalhar em outras regiões, e as reimpressões se tornam um problema, 127EDITORIAL MÓDULO I 127 MÓDULO VI gerando custos, estoque elevado e redução na mar- gem de lucro daquela obra. Outro fator importante na questão da distribuição é compreender em quais canais de vendas o livro pode desempenhar bem. Por exemplo, pela natureza do ne- gócio das Lojas Americanas, é difícil imaginar que as pessoas que compram obras de alto valor agregado, como livros de arte, geralmente caros, procurem ali por novidades. A lógica se inverte quando se pensa em títulos de autoajuda ou escritos por youtubers, com apelo mais popular. As vendas por e-commerce, em tendência de crescimento, podem ocorrer em três modalidades: a venda é feita diretamente pelas editoras, o que exige a montagem de uma estrutura de atendimento, geralmente cara; a livraria consigna, estoca e vende em seu site de vendas; ou o livro é oferecido em marketplaces, portais de vendas que in- termedeiam as operações, promovendo o produto, e repassam às editoras a responsabilidade da entrega. Imagem 6.1 e 6.2 - Vitrine de uma filial da rede Leitura e área de destaque na Fnac: editoras competem também pelos melhores espaços de exposição nas livrarias 128 MÓDULO VI Fonte: Omar de Souza 129EDITORIAL MÓDULO I 129 MÓDULO VI Fonte: Omar de Souza MÓDULO I 7 TECNOLOGIA E FUTURO O mercado do livro não é mais o mesmo. Os proces- sos editoriais evoluíram, surgiram novas formas de distribuir e divulgar os livros, o comportamento do lei- tor está mudando, e esse movimento não começou hoje, mesmo que nem todos os envolvidos na cadeia produtiva estejam conseguindo acompanhar. Para Tópicos desta unidade: - E-books; - Audiolivros; - Crossmedia; - E-commerce; - Clubes de assinatura. 131EDITORIAL MÓDULO I Um dos pontos mais interessantes desse novo tempo é a multiplicidade de formas como o conteúdo passou a transitar entre o autor e o leitor. Não se trata apenas dos formatos do livro, o que também é muito relevante. Trata-se ainda da democratização dos processos, in- cluindo as portas que se abrem para pessoas que tal- vez jamais tivessem oportunidade de publicar um texto de sua autoria nem acesso a determinados conheci- mentos, por falta de informação ou poder aquisitivo. Isso não quer dizer que a leitura deu um salto quanti- tativo e qualitativo, nem que o mercado editorial está alguns, a onda de mudanças não é motivo de festa, mas outros estão enxergando muitas possibilidades e oportunidades, desde que bem aproveitadas. 132 MÓDULO VII melhor que anos atrás. Essa questão é complexa, e passa pela capacidade de gestão das livrarias e edi- toras, pelas políticas governamentais de incentivo à leitura, pela crise econômica, pelo sistema educacio- nal e mais uma lista de razões. Mas nãose pode dizer que as vias de acesso entre quem produz e quem consome conteúdo estão mais escassas. Nesta parte do livro, vamos abordar essas mudanças, particular- mente a questão dos formatos digitais. E-books Apesar de ainda representar uma fatia pequena do mercado de livros, os formatos digitais, como mencio- namos no início dessa apostila, estão abrindo espaço aos poucos. Não há números precisos sobre qual fatia do mercado eles representam, mas há um consenso de que a participação ainda é tímida, na faixa de 3%. Os mais otimistas acreditam que já está próxima de 5%. De uma forma ou de outra, há indícios claros de que muitos leitores estão entendendo que os forma- tos digitais avançam de maneira suave, e não signifi- cam a morte do livro impresso. Outra razão que contribuiu para quebrar o gelo entre os leitores e os formatos digitais foi a mudança de percepção sobre o que é necessário para ter acesso 133 MÓDULO I EDITORIAL 133 MÓDULO VII a um e-book ou audiolivro. Quando os primeiros títu- los digitais foram disponibilizados, apenas o Kindle era referência clara de dispositivo de leitura digital. Além disso, edições de obras em formato PDF (muitas de- las piratas) proliferaram, passando a impressão de uma leitura difícil, mesmo em um computador pes- soal. Pouco a pouco, as pessoas foram se acostu- mando com formatos digitais dinâmicos (ajustáveis) e disponibilidade de texto em outros dispositivos, es- pecialmente os smartphones e tablets. Os próprios aparelhos de leitura digital (Kindle, Kobo, Lev) ficaram mais leves, funcionais e acessíveis. É certo que, à medida em que os formatos digitais vão se consolidando, as editoras passam a lidar com questões novas. Uma delas é a gestão dos chamados metadados – os dados sobre dados, ou seja, as infor- mações digitais que identificam e, consequentemente, permitem a localização de uma obra e suas caracte- rísticas. Daí surgiu o conceito de encontrabilidade (tra- dução de findability), neologismo para o grau de pre- ponderância da visibilidade das informações de um e-book (ou de um site, um aplicativo ou qualquer ou- tra coisa no mundo digital). Simplificando: em formato digital, quanto melhor a gestão de seus metadados, mais fácil de encontrar ficará um livro (assim como informações sobre ele, como sinopse, gênero etc.). 134 MÓDULO VII Segundo Ricardo Costa, CEO da Metabooks, pesqui- sas da Nielsen nos Estados Unidos e no Reino Unido indicam que isso pode significar um aumento de 100% em termos de receita de um e-book. Audiolivros Bem anteriores aos e-books, os audiolivros (ou audio- books) apareceram em meados do século passado, em gravações feitas em discos de vinil. Infelizmente, não eram muito práticos, pois exigiam um toca-discos e caixas de som. Nas décadas de 1970 e 1980, com a proliferação das fitas cassete, o audiolivro ganhou um pouco mais de portabilidade e se popularizou, prin- cipalmente nos Estados Unidos. O formato CD-ROM ajudou nesse processo até o início dos anos 2000, mas o salto de qualidade e acesso é bem mais recente, quando os audiolivros foram disponibilizados em pla- taformas que permitem baixar os arquivos (stream) em vários dispositivos, incluindo tablets e smartphones. Na prática, o conteúdo acompanha o leitor onde ele estiver, mesmo que não possa desgrudar os olhos do trânsito ou esteja dando sua corridinha matinal. É preciso, antes de tudo, descolar a ideia de que um conteúdo editorial (que chamamos “livro”) só pode ser assimilado visualmente. O ganho que o audiolivro en- 135 MÓDULO I EDITORIAL 135 MÓDULO VII trega é a possibilidade de ler sem ler. A informação, o conhecimento, o entretenimento e o prazer proporcio- nados pela obra estão ali, porém se valendo de outro dos cinco sentidos para chegar à mente e ao coração. Para facilitar a compreensão e eliminar qualquer des- confiança, pense nas histórias que você ouvia quando criança, e que deixaram marcas em sua vida. Por tudo isso, Eduardo Albano, diretor da Ubook, tem convicção que o futuro do audiolivro no Brasil é promissor, e o país pode experimentar um avanço significativo do formato, como tem acontecido nos Estados Unidos e alguns países da Europa, onde as vendas chegam a alcançar dois dígitos de crescimento anual. Crossmedia Os formatos digitais trazem à cadeia produtiva no- vas possibilidades de interação que podem contri- buir tanto para a divulgação quanto para a comer- cialização do livro. Imagine a situação: a leitora está em casa, assistindo confortavelmente a um filme em sua smarTV, baseado em um livro que ela ainda não leu, mas que parece muito bom, a julgar pelo roteiro adaptado. Com o controle remoto, ela entra em um menu onde aparece a opção “Comprar o livro”, bem como as alternativas de formato: e-book, audiolivro (ambas para baixar na hora) ou impresso (e-com- 136 MÓDULO VII merce). Alguns dias depois, ela nota que o filho está adorando jogar um game adaptado de um livro infan- til no celular e, no mesmo aparelho, baixa o audiolivro para a criança ouvir a história completa. Esse tipo de interação, conhecida como crossmedia, oferece inúmeras possibilidades. O livro encontra vá- rios caminhos antes inusitados para chegar ao leitor: aplicativos, plataformas de música, mídias sociais, si- tes, canais de vídeo, TV por assinatura, games e tan- tas outras estradas que o mundo digital vai abrindo. E não se trata apenas de oferecer mais formatos e al- ternativas de acesso para o leitor regular comprar seus livros – o que, em si, já seria uma excelente justificativa. Carlo Carrenho, do portal PublishNews, aponta os be- nefícios sociais que os conteúdos digitais representam. E-commerce O temor do potencial do livro digital para “acabar” com o livro físico – e, consequentemente, com as livrarias – não provoca mais a celeuma de alguns anos atrás. O que hoje se discute é como as vendas pela internet – modalidade de operação comercial que corresponde a quase um terço das vendas de livros no Brasil – es- tão substituindo as lojas no comportamento do con- sumidor. Os portais de compras das livrarias virtuais 137 MÓDULO VII não têm um atendente com camiseta escrita “Em que posso ajudar?”, mas oferecem navegação intuitiva, diversificação e segurança – sem fila no caixa. É bem verdade que as livrarias, principalmente as grandes redes, foram ágeis na criação de suas lojas virtuais. As distribuidoras também fizeram sua parte. Porém, a chegada da Amazon com sua estratégia agressiva sacudiu o mercado. O profissional do livro ou empreendedor encontra hoje um cenário muito mais complexo para a distribuição do que cinco ou dez anos atrás. E o e-commerce, seja via livraria virtual ou por in- termédio de marketplace, não pode ser visto como um canal alternativo ou secundário. Com isso em mente, editoras brasileiras têm desenvolvido projetos espe- ciais para venda exclusiva pela internet, geralmente por intermédio de apenas um parceiro comercial, em edições diferenciadas ou mesmo personalizadas. MÓDULO II 138 MÓDULO VII Imagens 7.1 e 7.2 - Portais de e-commerce da rede Saraiva e da Amazon: vendas de livros físicos pela internet é opção real às livrarias de cimento e tijolo MÓDULO II MÓDULO IV 139 Fonte: Reprodução de tela (16/8/2018) 140 MÓDULO I EDITORIAL 140 MÓDULO VII Clubes de assinatura Criatividade é uma palavra-chave no mercado brasi- leiro do livro. O empreendedor ou profissional que se dispõe a fazer diferença precisa começar pensando diferente – mesmo quando se trata de resgatar ideias antigas, como fizeram os sócios fundadores da TAG, um dos vários clubes de assinatura que surgiram nos últimos anos. A empresa, que entrega mensalmente uma edição especial e personalizada de um título se- lecionado (TAG Curadoria) ou inédito (TAG Inéditos), edição essa muito bem embalada e acompanhada-35.449 118.798 272.765 426.439 593.645 8% Fluxo de Caixa Recebimento Liquido 765.093 1.106.943 1.448.793 1.790.643 2.132.493 100% Compra Gráf ica 253.800 380.700 507.600 634.500 761.400 2.538.000 35% Direito Autoral 115.923 167.719 219.514 271.310 323.105 1.097.570 15% Editorial 120.000 120.000 120.000 120.000 120.000 600.000 8% Frete 19.321 27.953 36.586 45.218 53.851 182.928 3% Comissões 21.639 31.307 40.976 50.644 60.313 204.880 3% Pessoal 168.500 175.240 182.250 189.540 197.121 912.652 13% Market ing 15.456 22.362 29.269 36.175 43.081 146.343 2% Desp. Administrat ivas 229.200 229.200 229.200 229.200 229.200 1.146.000 16% Outras 30.000 30.000 30.000 30.000 30.000 150.000 2% Geraçao de Caixa -208.747 -77.539 53.399 184.056 314.422 265.591 4% Caixa Acumulado -208.747 -286.286 -232.887 -48.831 265.591 265.591 4% Obs. Este modelo não prevê invest imento inciais com estrutura, sistemas e mobiliários Fonte: Elaboração própria do MinC 147 MÓDULO VIII Alguns pontos merecem destaque: • Repare que o quadro na primeira aba, das pre- missas de receita, aponta previsão de receita com livros de catálogo a partir do segundo ano. Lem- bre-se que a Muitos Livros Bons é uma entrante no mercado, o que significa que está começando do zero, e os lançamentos de cada ano se tornam os títulos de catálogo do ano seguinte. • Ainda falando sobre os livros de catálogo, note que a tabela prevê uma redução de 50% na tira- gem anual (taxa de degradação), mesmo sendo oferecidos com um desconto ainda maior, de 58%. Hipoteticamente, os livros já completaram a traje- tória da curva de vendas e se estabilizaram nessa média anual de vendas. • O quadro oferece uma estimativa de perdas – livros danificados no transporte, ou que não são devolvidos, etc. • Note também que, a partir do ano 4, a receita com vendas de títulos do catálogo supera a de lançamentos. A situação mudaria se a Muitos Li- vros Bons resolvesse aumentar o número de lan- çamentos a cada ano até dobrá-lo em cinco anos. 148EDITORIAL MÓDULO I 148 MÓDULO VIII Vá até a tabela e experimente modificar o número de lançamentos para 12, 14, 17, 20 e 24 (linha 7 da planilha). Você vai notar que o número de títulos no catálogo também aumenta, mas só supera a receita com lançamentos no ano 5. • A aba seguinte mostra os componentes de cus- tos para se fazer uma venda. • A terceira aba é das despesas. Imagina-se um quadro (headcount) enxuto, no qual as funções denominadas como “analistas” e “assistentes” são generalizações para componentes de qualquer equipe (editorial, administrativo, comercial etc.), subordinados às gerências. • A quarta aba apresenta dois cenários. O primei- ro é o DRE, a demonstração do resultado do exer- cício, que apresenta o resultado econômico da operação ao longo dos cinco anos de referência. Aqui é importante notar a linha 27, do Ebitda, sigla em inglês para “Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization” (“Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”). É ali que os stakeholders vão prestar mais atenção. 149 MÓDULO VIII • O segundo cenário é extremamente importante no dia a dia: o fluxo de caixa – o dinheiro que entra e sai. Note que, nos primeiros dois anos, a gera- ção de caixa é negativa, mas a situação começa a mudar no ano 3. BOX: Na terceira aba, das despesas, você vai reparar que a folha de pagamento tem um peso grande – além de salários, há também os encargos trabalhistas. Para entender esse impacto, faça uma experiência. Primeiro, consulte a linha 27 da aba seguinte, do DRE. Repare que o Ebitda da Muitos Livros Bons só fica positivo no ano 3. Agora volte na aba Despesas e experimente reduzir o número de gerentes para dois e o de analistas para cinco. Em seguida, passe para a aba seguinte, do DRE, e perceba que o Ebitda fica positivo no ano 2. Mas suponha que a redução do quadro fixo obrigue a empresa a dobrar as despesas com terceiros (linha 16 da aba Despesas), passando para R$ 20.000,00 mensais. O Ebitda fica pior. Isso sem contar com possíveis impactos sobre volume de produção, qualidade etc. Mesmo sendo um modelo simplificado, como mencionado, o quadro serve para mostrar que cada decisão da empresa deve ser muito bem planejada. 150EDITORIAL MÓDULO I 150 MÓDULO VIII Missão, visão, valores e estratégias (selos, linhas editoriais etc.) Além de estrutura e planejamento, uma editora pre- cisa ter uma noção precisa daquilo que faz (missão), aonde deseja chegar (visão), bem como dos valores que a impulsionam. Esses elementos vão determi- nar suas estratégias corporativa e competitiva, mar- cando seu posicionamento no mercado. Veja o qua- dro abaixo com as declarações de missão e visão de algumas grandes empresas brasileiras. Quadro 8.2 Empresa Visão Missão Grupo Abril Vale Ambev Ser a companhia líder em mult imídia integrada, atendendo aos segmentos mais rentáveis e de maior crescimento dos mercados de comunicação e educação. A Abril está empenhada em contribuir para a difusão de informação, cultura e entretenimento, para o progresso da educação, a melhoria da qualidade de vida, o desenvolvimento da livre iniciat iva e o fortalecimento das inst ituições democrát icas do país. Ser a maior empresa de mineração do mundo e superar os padrões consagrados de excelência em pesquisa, desenvolvimento, implantação de projetos e operação de seus negócios. Transformar recursos minerais em riqueza e desenvolvimento sustentável. Ser a melhor empresa de bebidas do mundo em um mundo melhor. Criar vínculos fortes e duradouros com os consumidores e clientes, fornecendo-lhes as melhores marcas, produtos e serviços. Fonte: Sites das empresas, citados em Lobato, Moysés Filho, Lobo e Rodrigues (2017). Fonte: Sites das empresas, citados em Lobato, Moysés Filho, Lobo e Rodrigues (2017). 151 MÓDULO VIII Relacionamentos e concorrência Como citado nesta apostila, os componentes da ca- deia do livro sabem que precisam manter um relacio- namento saudável e constante. Isso não significa que não haja conflitos de pontos de vista e interesse, e cabe aos players a tarefa de manter as rodas girando, mesmo que isso signifique ceder em algumas situa- ções. Disso depende o equilíbrio do ecossistema do livro, mencionado na primeira parte deste material. Por isso, as editoras procuram manter uma concor- rência cordial entre si, assim como as livrarias, distri- buidoras e gráficas, trabalhando juntas Talvez o ponto de maior – ou, pelo menos, mais cons- tante – tensão seja o relacionamento entre as edito- ras e livrarias. Desafios e conselhos Agora que você já tem uma visão mais ampla do mer- cado editorial e da cadeia produtiva do livro, com to- das as suas oportunidades e mazelas, vale a pena ouvir o conselho de pessoas de diferentes áreas, com experiências diferentes, falando sobre aqueles que consideram os maiores desafios para o setor. Assista o vídeo 8 152EDITORIAL MÓDULO I 152 MÓDULO VIII Esperamos que esses conselhos ajudem, capacitem e inspirem você a se tornar um profissional ou empre- endedor cada dia melhor. Feira do Livro de Londres Foto: Divulgação London Book Fair Ouça os áudios 17 e 18 153 MÓDULO VIII BIBLIOGRAFIA _________. Produção e vendas do setor editorial brasileiro. Rio de Janeiro: SNEL/Nielsen, 2018. _________. Retratos da leitura no Brasil. São Paulo: Instituto Pró-Livro,% Títulos 51.819 48.879 -5,67 Total de exemplares produzidos 427.188.093 393.284.611 -7,94 Faturamento total (em R$) 5.269.973.133,98 5.167.057.536,71 -1,95 Mercado 3.872.510.546,37 3.951.075.849,00 2,03 Governo 1.397.462.587,61 1.215.981.687,50 -12,99 Total de exemplares vendidos 383.416.450 354.938.361 -7,43 Mercado 226.621.534 222.336.845 -1,89 Governo 156.794.917 132.601.516 -15,43 Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) Diante desse cenário recessivo, o mercado editorial tem se mostrado muito desafiador nos últimos anos. Várias editoras fecharam as portas ou foram incor- poradas pelos grandes grupos editoriais, enquanto grandes redes de livrarias enfrentam sérios proble- mas de gestão, entre outros efeitos da crise econô- mica. Algumas características desse setor são fatores agravantes, como o alto custo do frete, a dependên- cia de várias editoras das compras governamentais, a concorrência agressiva e o sistema de consigna- ção,2 que representa uma parte significativa da re- ceita. Confira, no vídeo a seguir, como Sonia Jardim, presidente do Grupo Editorial Record, um dos maiores do Brasil, e que também presidiu o Sindicato Nacional dos Editores de livros, sintetiza a questão. 2 Neste sistema, amplamente usado no Brasil, a livraria, rede ou distribuidor faz o pedido e, depois de períodos determinados entre as partes, fatura apenas o que vendeu, geralmente pagando em parcelas, e devolve o que não vendeu sem ônus. É criticado por várias editoras, que alegam serem obrigadas a fazer todo o investimen- to na produção de cada livro muito antes de começarem a capitalizá-lo, o que pode gerar um sério problema de fluxo de caixa. Assista o vídeo 1 12 MÓDULO I Ao analisar o panorama do setor editorial a partir da pesquisa da Fipe, o profissional (seja ele um funcionário ou empreendedor) precisa ter em mente alguns dados que indicam o comportamento do mercado e de seus agentes, além de apontar tendências e lançar alertas. • Em 2017, a queda nominal do setor editorial foi de aproximadamente 2% sobre o ano anterior. Con- siderando a variação do IPCA no período, a queda real foi de quase 5%. • Excluídas as vendas ao governo, houve cresci- mento nominal de pouco mais de 2% em relação a 2016, mas a mesma correção pelo IPCA indica queda de quase 1%. • A redução geral é creditada pela Fipe à queda real (considerado o IPCA) no desempenho dos subsetores de Didáticos – 10,43%, incluindo vendas ao governo – e CTP (científicos, técnicos e profis- sionais) – 1,39%, também incluídas as vendas go- vernamentais. • Ainda não há pesquisas seguras sobre a partici- pação de formatos digitais, mas há um consenso de que esteja na faixa de 3%. 13EDITORIAL MÓDULO I Até meados dá década de 2000, a evolução nas ven- das de livros no mercado acompanhava o crescimento do PIB, mas a situação muda nos anos seguintes. No início da década de 2010, o setor chega a apresentar queda, em contraste com a curva do PIB. Recentemente, o declínio tornou-se ainda mais acentuado. Comparativo entre a evolução do PIB e das vendas no mercado (número índice) 140 130 120 110 100 90 80 70 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 PIB VENDAS AO MERCADO Fonte: Fipe • Ao se considerar as vendas por tipo de obra em 2017, os números indicam que os livros didáticos e do segmento CTP respondem juntos por mais da metade das vendas no mercado. 14 MÓDULO I Participação percentual no faturamento por tipo de obra – Vendas no mercado3 (2017) 26% 31% 29% 14% Didáticos Obras gerais Religiosos CTP Fonte: Fipe • Note-se também a participação significativa de livros religiosos, que correspondem a um terço das vendas no mercado quando os didáticos e CTP são excluídos da conta. 33% 67% Obras Gerais Religiosas Fonte: Fipe 3 Livrarias, distribuidores, bancas, livrarias virtuais e outros canais, excetuando ven- das governamentais. 15EDITORIAL MÓDULO I • Outro dado importante revelado na pesqui- sa Produção e vendas do setor editorial brasileiro é a manutenção da forte participação dos auto- res nacionais nas vendas de novos títulos. Apesar da queda em números absolutos – foram 9.523 novos ISBNs4 de escritores brasileiros em 2017, uma queda de 7,86% em relação ao ano anterior –, aproximadamente 60% dos lançamentos são de autores nacionais. Os novos livros traduzidos apresentaram redução de praticamente 7%. Em termos de exemplares vendidos, a participação dos lançamentos de escritores brasileiros é ainda mais expressiva, registrando aumento de 3,65% em relação a 2016 (quase 61,5 milhões de cópias em 2017), enquanto os traduzidos sofreram queda de quase 17% (menos de 17 milhões de cópias no ano passado). A julgar pelos primeiros meses de 2018, as perspec- tivas são um pouco mais otimistas. Segundo a sétima edição anual do Painel de vendas de livros no Brasil, le- vantamento realizado em conjunto pela Nielsen e pelo SNEL e divulgado no início de agosto de 2018, 4 International Standard Book Number: sistema internacional padronizado, criado na Inglaterra em 1967 e oficializado em 1972, que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país, a editora e até edição. Seu sistema numérico é con- vertido em código de barras, facilitando a circulação e comercialização das obras. No Brasil, a Fundação Biblioteca Nacional representa a Agência Internacional do ISBN desde 1978, atribuindo o número de identificação aos livros editados no país. (Fonte: Agência Brasileira do ISBN em www.isbn.bn.br/website/o-que-e-isbn). 16 MÓDULO I o mercado editorial manteve, no primeiro semestre, os sinais de recuperação do início do ano. De janeiro a junho, a venda de livros no varejo (ou seja, sem a participação das compras governamentais e vendas especiais) cresceu quase 9,97% em faturamento, um total de R$ 1,07 bilhão, e 5,24% em exemplares co- mercializados, total de 24,27 milhões de cópias, em comparação com igual período de 2017. Foi também no início do segundo semestre de 2018 que o governo sancionou a nova Política Nacional de Leitura e Escrita, lei que prevê várias medidas, incluindo investimentos em bibliotecas públicas e ações de incentivo à pro- dução literária com envolvimento de editoras e livra- rias como agentes “fundamentais e dinamizadores da economia criativa”. Mesmo assim, nem todos os motivos são para come- moração: o primeiro semestre também enviou men- sagens preocupantes, como a decisão unilateral da Saraiva, maior rede de livrarias do Brasil, de suspen- der temporariamente e renegociar os prazos de pa- gamento aos principais fornecedores. A situação de outra rede, a Cultura, também deixou as editoras em estado de alerta, a ponto de algumas cancelarem en- vio às lojas enquanto os pagamentos atrasados não fossem regularizados. Cabe lembrar que a Cultura comprou em 2016 as lojas da Fnac no Brasil, porém anunciou o fechamento de algumas delas. 17EDITORIAL MÓDULO I Tais contradições confirmam o fato de que o mercado editorial brasileiro ainda enfrenta os problemas cau- sados pela recessão dos últimos anos e exige cautela. No entanto, mesmo com queda no desempenho, ele ultrapassou a marca de R$ 5 bilhões de faturamento. Também é verdade que está bem aquém dos mais de R$ 7 bilhões5 que chegou a faturar no início da década de 2010, antes da crise econômica, mas ainda assim é um número expressivo, que coloca o Brasil entre os maiores mercados mundiais para a indústria do livro, atraindo o interesse de grandes grupos internacio- nais em todos os setores, como a editora espanhola Planeta; a norte-americana Penguin-Random House; a também norte-americana RR Donnelley, uma das maiores gráficas atualmente em atividade no Brasil; e a gigante da tecnologia de vendas online Amazon, entre outros. 5 Valores corrigidos para 2017março de 2016. LOBATO, David M. et al. Gestão estratégica. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 2017. ZAID, Gabriel. Livros demais: sobre ler, escrever e publicar. São Paulo: Summus, 2004. 154EDITORIAL MÓDULO I 154 MÓDULO VIII AGRADECIMENTO AOS COLABORADORES Os profissionais abaixo, com vasta experiência no mercado editorial e referência em suas áreas de atu- ação, contribuíram voluntariamente cedendo seus de- poimentos e serviços para este projeto. A eles, nosso agradecimento e respeito. Bernardo Gurbanov, presidente da Associação Nacional de Livrarias Bruno Zolotar, diretor de Marketing e Comunicação do Grupo Record Carlo Carrenho, CEO do PublishNews e consultor editorial Eduardo Albano, diretor da Ubook Gerson Ramos, diretor comercial da Editora Planeta Gustavo Lambert, sócio fundador e diretor da TAG Gustavo Martins de Almeida, advogado e consultor jurídico do SNEL Lucas Nagem, pesquisador Marcelo Pelegia, gerente de Marketing da Editora Alto Astral Pedro Souza, revisor Ricardo Costa, CEO da Metabooks Samuel Coto, gerente editorial da Thomas Nelson Brasil Silvia Rebello, fundadora e diretora da BR75 – Texto, Design e Produção Sonia Jardim, presidente do Grupo Editorial Record Wendel Almeida, gerente comercial da Cataventopelo IPCA. Fonte: Fipe. 18 MÓDULO I BOX: Segundo o site Statista (https://www.statista.com/statistics/288746/ global-book-market-by-region/), o Brasil ocupou em 2017 o décimo lugar em termos de participação no mercado editorial mundial com 2%. Veja os dez primeiros colocados: Estados Unidos (30%) China (10%) Alemanha (9%) Japão (7%) França (4%) Reino Unido (4%) Itália (3%) Espanha (3%) Índia (2%) Brasil (2%) Se algumas livrarias e redes estão fechando portas, outras se lançam no mercado, muitas vezes pela via da segmentação e gestão mais enxuta – caminho também trilhado por novas editoras. Ainda que as barreiras à entrada sejam grandes, a tendência ao oligopólio, tão temida a cada nova aquisição, não inti- mida certos empreendedores que estão contrariando os pessimistas e abrindo franquias, criando novos modelos de clubes de leitura e fundando editoras de nicho. Beneficiados pelas plataformas de divulgação e por mídias sociais, autores que frequentam as cobi- çadas listas de best-sellers atraem centenas, às vezes 19EDITORIAL MÓDULO I milhares de pessoas às sessões de autógrafos em li- vrarias, debates em feiras literárias e apresentações em eventos especiais. Imagem 1.2 - Fila durante sessão de autógrafos na Livraria Cultura do Conjunto Nacio- nal, em São Paulo: eventos com autores atraem o público leitor aos pontos de venda Foto: Omar de Souza 20 MÓDULO I Considerando as mudanças do setor editorial, como o desenvolvimento das plataformas de distribuição digital de conteúdo, a consolidação do e-commerce, o fenômeno da autopublicação, a informatização dos processos gráficos, os novos players globais e tantas outras revoluções maiores ou menores das últimas três décadas, o desafio agora não se limita a identificar as alternativas para o negócio do livro (aquilo que o man- tém), mas também as alternativas ao livro (aquilo que o ameaça). O livro em outros países Em mercados de economia mais estável e um histórico mais favorável para o setor de livros, como Estados Unidos, Japão e os principais países da Europa, os movimentos de avanço ou retrocesso no desempe- nho são proporcionalmente mais tímidos, mas tam- bém são acompanhados de perto. • Nos Estados Unidos, de acordo com o NPD Group, especializado em pesquisas de mercado, as ven- das de livros impressos em 2017 tiveram um au- mento de quase 2% no total de exemplares em relação a 2016 – um pouco abaixo da média de cerca de 3% dos quatro anos anteriores. Foram vendidos pouco menos de 700 milhões de cópias, 21EDITORIAL MÓDULO I pequeno crescimento que não salvou a rede de livrarias Barnes & Noble de dar mais um sinal ne- gativo ao mercado com a demissão de seu CEO, Demos Parneros. • Quanto ao mercado digital norte-americano, uma notícia ruim e outra boa: os e-books registra- ram uma queda de aproximadamente 10% no total de unidades vendidas no mesmo período de apu- ração, ficando em 162 milhões de unidades. Mas o entusiasmo está no formato audiolivros, que, segundo estimativas da norte-americana Audio Publishers Association, cresceu em 2017 mais de 22% em comparação ao faturamento de 2016, chegando a US$ 2,5 bilhões. • Dois importantes mercados editoriais europeus apresentaram ligeira queda no ano passado. O Syndicat National de l’Edition (SNE), que reúne as editoras francesas, informou que o faturamento com as vendas de livros em 2017 caiu 1,6% em re- lação ao ano anterior. Em exemplares vendidos, a redução foi de 1,1%, ficando na faixa de 430 mi- lhões de livros. Na Alemanha, a queda também foi de 1,6%, mas o dado mais alarmante foi revelado a partir de uma pesquisa da GfK: o país perdeu mais de 6 milhões de leitores de 2013 a 2017. Em 22 MÓDULO I compensação, a média de livros que um alemão lê por ano passou de 11 em 2016 para 12,4 em 2017. • Em Portugal, o mercado ficou praticamente es- tável, com 11,8 milhões de exemplares vendidos em 2017 – apenas 120 mil livros a menos em compa- ração com o resultado de 2016. No entanto, houve um aumento de 3% no faturamento, segundo a GfK Portugal. • No Reino Unido, as vendas de livros cresceram 5%, segundo o relatório da associação dos edito- res britânicos PA Publishing Yearbook 2017. Os nú- meros, que comparam o mercado a 2016, foram puxados pelo aumento de 8% nas exportações de livros, mas houve queda de 12% na venda de livros didáticos, resultado de cortes de gastos pú- blicos. Os livros físicos apresentaram aumento nas vendas de 5%, enquanto os e-books caíram 2%. Tal como nos Estados Unidos, a estrela é o audiolivro, com aumento de 25%. • O Relatório da Cámara Argentina del Libro6, ba- seado na Agencia Argentina de ISBN, indica que houve uma queda de cerca de 19% no total de exemplares produzidos em 2017, pouco mais de 51 6 https://issuu.com/camaradellibro/docs/2018.03.04_informe_de_producci_n_an 23EDITORIAL MÓDULO I milhões. É o terceiro ano consecutivo de queda. A proporção dos formatos digitais se manteve está- vel, na faixa de 17%. Imagens 1.3, 1.4. 1.5 e 1.6 - Livrarias em Portugal, Inglaterra, França e Argentina: um mercado em momento de transição 24 MÓDULO I Fotos: Omar de Souza MÓDULO I 2 Este módulo é composto pelos seguintes tópicos: - Estrutura; - Os players: autores e agentes; - Os players: editoras; - Os players: gráficas e logística; - Os players: livrarias, distribuidoras e outros canais; - Os players: governo. A CADEIA DO LIVRO Estrutura É comum ouvir a expressão “cadeia do livro” para se referir ao conjunto de atividades e agentes envolvi dos na seleção, produção, distribuição, divulgação, 27EDITORIAL MÓDULO I completo no ato da leitura. Neste capítulo, vamos examinar quem e o quê está entre esses dois extre- mos, bem como os principais atores e seus papéis, as questões e as tensões, as estruturas, práticas e ope- rações mais comuns. Ainda que as atividades ou os cargos possam variar um pouco entre uma empresa e outra, fundamentalmente cooperam para o mesmo fluxo, que recentemente passou a ser referido como o ecossistema do livro. comercialização e disseminação cultural e tecnológica de conteúdos editoriais. A rigor, o ponto de partida e agente primeiro é o próprio autor, ao apresentar um original a um editor que fará a avaliação do material, e o processo só pode ser considerado efetivamente 28 MÓDULO II Veja a seguir um fluxograma simplificado da cadeia do livro. É claro que o sistema é bem mais complexo, envolvendo áreas, organizações e processos não in- cluídos, mas o esquema ajuda a dar uma ideia da in- terdependência entre os componentes. 29EDITORIAL MÓDULO I 29 MÓDULO II Gráfico 2.1 CADEIA DO LIVRO (SIMPLIFICADA) Autor Conteúdo Agente Produção Logíst ica Editora Distribuição Consumidor Fornecedores Insumos Impostos Papel Gráfica Estoque Frete E-commerce Leitor Frete E-commerce Leitor Leitor Leitor Frete Leitor Leitor Leitor Elaboração própria do MinC Livraria física Distribuidor físico Distribuidor digital Livraria física Livraria física Livraria física Livraria virtual Livraria virtual 31% Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) 30 MÓDULO II É importante destacar alguns detalhes: • Repare que, pelo menos em tese, há mais agilida- de para que um conteúdo chegue aos canais de dis- tribuição de formatos digitais. Eles dispensam pro- cessos gráficos e de logística que o livro físico exige. • Considere também que as livrarias virtuais (aqui no sentido de canais de distribuição de formatos digitais) podem estar vinculadas a alguma rede de livrarias físicas – por exemplo, a Saraiva com o Lev. • Falando em livrarias físicas, note que há duas for- mas de se chegar ao leitor (aqui no sentido de con- sumidor final): elas podem fazer a venda direta na loja ou por e-commerce (venda do livro físico pelo site). Neste caso, é necessárioconsiderar uma lo- gística para que o produto chegue ao seu destino. • Quando se trata de distribuidores, que servem tanto as grandes redes quanto as livrarias inde- pendentes, a lógica para a chegada do produto ao leitor é a mesma: no ponto de venda ou por e-com- merce, que pressupõe uma logística de entrega. • Bancas, supermercados e outros canais físicos de venda estão incluídos no fluxo dos distribuido- 31EDITORIAL MÓDULO I 31 MÓDULO II res físicos, ainda que possa haver algumas dife- renças de etapas (por exemplo, representantes e empresas de catálogos). • Note ainda que há impostos em várias intera- ções comerciais. Ainda que haja isenção de ICMI e IPI sobre o papel utilizado na produção (desde que não seja para fins de propaganda) e a alíquo- ta de PIS e COFINS para livros seja zero no mer- cado interno, impostos incidem sobre as demais operações (serviços de manutenção de estoque, pagamento de outros fornecedores etc.). O termo “ecossistema” é bem adequado, pois pressupõe que qualquer alteração em um dos componentes dese- quilibra o sistema inteiro. Pensemos em alguns exemplos: • Se a fábrica de papel aumenta os preços, a grá- fica tende a repassar o acréscimo para a edito- ra que, por sua vez, majora o preço para as lojas. Para manter os preços, alguém precisa abrir mão de parte da sua margem de lucro. • Quando uma rede de livrarias deixa de pagar às editoras, o impacto no fluxo de caixa tende a re- fletir no volume de produção. 32 MÓDULO II • Caso um autor ou tradutor atrase a entrega de um texto, isso pode comprometer o tempo ideal de lançamento (por exemplo, a simultaneidade com o lançamento de um livro ou um evento de repercussão na mídia). • Se o poder aquisitivo do leitor cai, há a tendên- cia histórica de que ele reduza a compra de livros, causando um efeito cascata invertido. Mesmo simplificado, o fluxograma deixa clara não apenas a importância de uma interação constante entre os envolvidos na cadeia do livro, como também de uma gestão eficiente. Isso significa competência gerencial, inteligência estratégica, sensibilidade e vi- são, consolidada na experiência, para tentar antever os movimentos do mercado e se preparar para eles, tomando as decisões certas – ainda que nem sem- pre sejam as desejadas. Não se trata de encontrar fórmulas mágicas nem procurar segredos. É ter em mente que cada elo da cadeia do livro precisa ser saudavelmente rentável. É preciso considerar ainda que, mesmo que houvesse consenso total entre os participantes desse ecossis- tema, diversos fatores conspiram para promover de- 33EDITORIAL MÓDULO I 33 MÓDULO II sequilíbrio, começando pelo mais evidente: há mais oferta de livros que capacidade de absorção pelos consumidores. “No primeiro século da imprensa (1450- 1550) foram publicados 35 mil títulos; no último meio século (1950-2000) houve mil vezes mais, chegando a 36 milhões” (Zaid, 2004, p. 21). E enquanto o brasileiro não ler mais e nem comprar mais livros do que antes – ou seja, enquanto o tamanho da pizza não aumen- tar –, a disputa por cada fatia de mercado ficará mais acirrada. A seguir vamos examinar, de maneira geral, o papel dos principais players desse setor. Os players – Autores e agentes Qualquer pessoa sabe o que significa ser um autor – o escritor responsável pelo conteúdo que será proces- sado e colocado à disposição do leitor por meio de um livro impresso ou digital (e-book ou audiolivro). Mas seu papel não se limita a entregar originais e receber os direitos autorais – não, pelo menos, na dinâmica atual do mercado editorial. Além de analisar a qualidade do conteúdo apresentado e o potencial de atratividade sobre o leitor, as editoras estão em busca de autores com o que passou a se chamar de “plataforma”, ou seja, uma rede de prestígio e influência que pode, de alguma forma, potencializar os resultados de vendas. 34 MÓDULO II Essa plataforma pode variar em termos de alcance, segmentação e amplitude. Veja alguns exemplos: • O autor que já tem vários livros lançados e é re- conhecido por sua produção literária. Sendo ou não frequentador das listas de best-sellers, formou um grupo de leitores cativos e fiéis. • Um líder comunitário que se destaca em sua região ou ganha espaço na mídia por sua atuação tende a atrair a atenção de um grupo de leitores que se solidarizam ou sentem empatia por sua causa. • Fãs estão sempre atentos a tudo que se refere a artistas famosos que estão sempre em evidên- cia. E a presença constante em meios de comuni- cação alimenta esse processo. • Livros DE e SOBRE influenciadores digitais tive- ram uma explosão de vendas relativamente re- cente. Hoje o público ficou mais seletivo, mas ainda há alguns em evidência – especialmente os que conseguem manter suas mídias sociais ativas e em crescimento. • Professores ou palestrantes requisitados em seus segmentos de atuação, principalmente para 35EDITORIAL MÓDULO I 35 MÓDULO II participar de eventos e programas de rádio e TV, como psicólogos, filósofos, historiadores etc. Al- guns possuem canais em mídias sociais, potencia- lizando seu alcance. • Especialistas que ganharam prestígio por sua habilidade em valorizar atividades comuns, como cozinheiros, etc. • Oradores, coachs e outros profissionais hábeis em motivação pessoal que mantêm uma agenda regular de participação em palestras e eventos. Quanto mais intensa, melhor. • Líderes de organizações religiosas com canais de divulgação ou presença na mídia, como padres, pastores e monges. 36 MÓDULO II Imagem 2.1 - Público aguarda lançamento do livro da atriz Lorena Queiroz na Bienal do Rio de Janeiro, em 2017: plataforma ampla entre o público infanto-juvenil Foto: Omar de Souza Aos agentes cabe uma dupla tarefa: representar os in- teresses dos autores sob contrato, garantindo-lhes a melhor negociação possível com a editora; e apresen- tar seu conteúdo a tantas editoras ou agências quanto forem possíveis, com o objetivo de despertar o inte- resse delas na contratação daquele autor. O agente é o mediador de interesses, e precisa estar atento para as tendências do mercado em termos de condições contratuais, que podem variar em função do histórico do autor (iniciante ou consagrado?), da expectativa sobre o conteúdo (o livro ou autor está sendo muito disputado?), do sucesso no exterior (em caso de títulos traduzidos) e vários outros fatores. Quando um agente não especializado na área editorial – por exemplo, o empresário de uma atriz ou um cantor – faz esse pa- 37EDITORIAL MÓDULO I 37 MÓDULO II pel, a negociação pode se tornar mais demorada e complicada, com exigências muitas vezes inviáveis. Nem sempre a relação entre autores e editoras é inter- mediada por agentes. Há casos (não tão raros) em que autores nacionais negociam diretamente seus contra- tos, outra situação que pode gerar desconforto quando pendências nas condições prejudicam o relacionamento entre o escritor e o editor da obra, como analisa Samuel Coto, gerente editorial da Thomas Nelson Brasil. Os players – Editoras Se podemos dizer que há um elemento polarizador de toda a cadeia do livro, trata-se da editora. É ela quem capta o autor, processa seu texto, elabora o produto, negocia com as gráficas e transportadoras, desen- volve o plano de divulgação e marketing, interage com as livrarias e mantém o título ativo. Não por acaso, duas partes deste curso são dedicadas aos proces- sos e aos profissionais que trabalham nas casas pu- blicadoras, como você vai constatar mais adiante. A não ser nos casos de autopublicação (mais frequen- tes a partir da consolidação das plataformas digitais especializadas, desde o início da década de 2010), a editora catalisa as atividades fundamentais para que um conteúdo ganhe forma e tome as trilhas que o Assista o vídeo 2 38 MÓDULOII conduzirão às mãos do leitor. Por essa razão, precisa contar com uma estrutura corporativa que converse com públicos tão diversos quanto os títulos que pro- duz – o autor e seu agente, o artista que vai criar a capa, o organizador da feira literária, o fornecedor de materiais de escritório, a Biblioteca Nacional, o coor- denador de compras da livraria, o desenvolvedor de sites, o gerente do banco, o contador, enfim, todos que, direta ou indiretamente, estão envolvidos nas vá- rias atividades. Sonia Jardim sintetiza essa estrutura. Essa estrutura é fundamental para que a roda gire. Produzir livros é tanto arte quanto ciência, e o ideal de levar conhecimento e cultura ao leitor pode se esva- necer se uma editora, como qualquer empresa, não contar com uma boa equipe nas áreas administrativa, jurídica e financeira. É por causa delas que outra área pode focar no que constitui a razão de ser de uma casa publicadora: o editorial. O organograma do departamento editorial pode ser diferente de uma empresa para outra. Na maioria dos casos, tem status de diretoria, mas também pode par- tir de um nível gerencial, especialmente em editoras de menor porte. Da mesma maneira, as equipes podem ser numerosas e divididas em editorias (ou gerências) – caso das maiores editoras – ou bastante enxutas. Assista o vídeo 3 39EDITORIAL MÓDULO I 39 MÓDULO II Repare nos dois organogramas a seguir; são dois mo- delos simplificados de organização de equipes edito- riais. Nenhum dos dois é apresentado aqui como certo ou definitivo, mas apenas como representação de hierarquia e fluxo, que pode mudar significativamente, de acordo com a conveniência e a tradição de cada editora. Semelhantemente, as nomenclaturas utiliza- das para as posições podem ser bem diferentes das sugeridas. Apenas como exemplo, o que algumas ca- sas publicadoras denominam gerente editorial é iden- tificado em outras como editor de aquisições. Desde que cumpra seu papel, qualquer estrutura é válida. MÓDULO II MÓDULO IV 40 Gráfico 2.2 ORGANOGRAMA EDI TORI AL COMPLEXO EDITOR 1.1 EDITOR 1.2 EDITOR 1.3 EDITOR 2.1 EDITOR 3.1 EDITOR 3.2 GERENTE EDITORIAL 1 GERENTE EDITORIAL 2 GERENTE EDITORIAL 3 GERENTE DE PRODUÇÃO PRODUTOR EDITORIAL PRODUTOR GRÁFICO ASSISTENTE EDITORIAL 1.1 ASSISTENTE EDITORIAL 1.2 ASSISTENTE EDITORIAL 1.3 ASSISTENTE EDITORIAL 2.1 ASSISTENTE EDITORIAL 3.1 ASSISTENTE EDITORIAL 3.2 PRODUTOR EDITORIAL DIRETOR EDITORIAL Elaboração própria do MinC 41EDITORIAL MÓDULO I 41 MÓDULO II O primeiro indica uma editora de porte médio ou grande, que publica pelo menos oito ou nove livros por mês, e por isso precisa se organizar em editorias distintas para garantir foco e agilidade. Cada equipe se concentra em uma linha editorial – por exemplo, autores nacionais, ficção, não ficção, clássicos ou au- toajuda. Dependendo do volume de projetos e frequ- ência de entregas, uma gerência editorial (ou editoria) pode contar com um ou mais editores de conteúdo. Ocasionalmente é possível que duas ou mais edito- rias compartilhem assistentes ou estagiários, mas, de maneira geral, essa cogestão é pouco indicada. Note três características dessa estrutura: 1. Ela não prevê a presença de revisores, preparado- res de texto, diagramadores, ilustradores e capistas, atividades que passaram a ser terceirizadas sob su- pervisão das gerências editoriais; 2. Ela unifica a produção editorial e a produção grá- fica sob uma gerência que se reporta ao diretor edi- torial ou publisher. Tal estrutura favorece a integração de dois processos-chave e permite que todos estejam alinhados no desenvolvimento dos projetos. Na com- posição da produção editorial, em modelo de pool, há que se considerar as peculiaridades de editorias vol- tadas para publicações de nicho, que podem exigir profissionais especializados. 42 MÓDULO II 3. Considera-se que a conversão de formatos faça parte das atribuições da gerência de produção, em- bora algumas editoras prefiram separar. Gráfico 2.3 ORGANOGRAMA EDITORIAL SIMPLES GERENTE EDITORIAL EDITOR DE AQUISIÇÕES 1 EDITOR DE AQUISIÇÕES 2 PRODUTOR GRÁFICO ASSISTENTE EDITORIAL 1.1 ASSISTENTE EDITORIAL 2.1 PRODUTOR EDITORIAL 1.1 PRODUTOR EDITORIAL 2.1 Elaboração própria do MinC O segundo organograma é mais apropriado a uma editora de pequeno porte, que publica cinco livros por mês ou menos. Por uma questão de lógica gerencial, a estrutura é enxuta e, não raro, a empresa traba- lha com apenas uma editoria, mesmo que produzindo conteúdos de natureza diferente. Também é comum o compartilhamento de assistentes ou estagiários, 43EDITORIAL MÓDULO I 43 MÓDULO II muito mais por necessidade de ter um time reduzido. Também vale notar: 1. Ela também não prevê a presença de profissionais que normalmente são terceirizados sob supervisão das gerências editoriais; 2. Ela separa a produção editorial e a produção grá- fica, que, por sua vez, não tem status de gerência. Todos se reportam ao gerente (ou diretor) editorial. 3. Considera-se que a conversão de formatos faça parte das atribuições de cada editoria. Cada editora encontra o próprio caminho para fun- cionar com mais eficiência e fluidez. Algumas estão há décadas no mercado, reinventando-se a cada apren- dizado sem deixar o prestígio que a conduziu nem des- prezar a própria história. Outras, mais jovens, encontra- ram o sucesso cedo por investir em inovação e ousadia. Seja qual for o organograma da área editorial de uma empresa (complexo ou simples), os processos pelos quais o livro passa são praticamente os mes- mos, desde a prospecção de um título ou autor até a aprovação dos arquivos para que a produção gráfica dê prosseguimento. Algumas editoras (ou, ocasional- mente, projetos específicos) podem incluir, excluir ou 44 MÓDULO II reposicionar certas etapas – por exemplo, aumentar o número de revisões ou limitar a aprovação de títu- los ao gestor da área editorial. Ainda assim, a trilha é fundamentalmente a mesma, representada de ma- neira simples nos gráficos a seguir. 45 MÓDULO V Gráfico 2.4 Editorial Produção editorial Jurídico FLUXOGRAMA EDITORIAL - LIVROS NACIONAIS Prospecção Captação Recusa de original Elaboração de contrato Desistência Análise do original Está de acordo com a linha editorial? Contratação Entrega de originais Projeto gráfico Produção de arte e texto de capa Preparação de texto Revisão de tela Diagramação Revisão de prova Aprovação de PDFs pelo editorial e autor Criação de cadastro de projeto Análise de viabilidade de produção, comercial e marketing Submissão ao Publisher ou Comitê de Aprovação O BP e o mercado indicam viabilidade? Aprovado? Aprovado por editorial e pelo autor? Aprovado por editorial e pelo autor? Aprovado por editorial, diretoria e autor? Ainda há emendas? Pode reapresentar? Finalização de arquivos para gráfica Plotter aprovada? Aprovação para impressão N S N S N S N S N S S S N S N N S Fonte: Elaboração própria do MinC 46 MÓDULO II Neste primeiro gráfico é representado o fluxo de pro- cessos da captação até a entrega em gráfica de um título nacional. Ele se baseia na suposição de que to- dos os processos seguirão um curso normal, e que é possível criar uma linha do tempo segura para de- terminar uma data de lançamento confiável, mesmo considerando possíveis retornos. Na prática, porém, nem sempre acontece assim. Não é raro acontecer de o autor atrasar o prazo de entrega de um origi- nal, ou de o conteúdo exigir autorizações para uso de imagens, entre outras circunstâncias que podem ge- rar postergação de datas. Por isso, ao projetar esse fluxo sobre o cronograma de lançamentos, é preciso estar alerta para esse risco. 47 MÓDULO V Gráfico 2.5 Editorial Produção editorial Jurídico FLUXOGRAMA EDITORIAL - LIVROS INTERNACIONAISProspecção Captação Recusa de original Elaboração de contrato Desistência Análise do original Está de acordo com a linha editorial? Contratação Entrega de originais Projeto gráfico Produção de arte e texto de capa Tradução Preparação de texto Revisão de tela Diagramação Revisão de prova Aprovação de PDFs pelo editorial e autor Criação de cadastro de projeto Análise de viabilidade de produção, comercial e marketing Submissão ao Publisher ou Comitê de Aprovação O BP e o mercado indicam viabilidade? Aprovado? Aprovado por editorial? Aprovado por editorial Aprovado por editorial, editora orig. e diretoria? Ainda há emendas? Pode reapresentar? Finalização de arquivos para gráfica Plotter aprovada? Aprovação para impressão N S N S N S N S N S S S NN S N N S Fonte: Fonte: Elaboração própria do MinC 48 MÓDULO II O fluxo de processos para títulos internacionais não é tão diferente, mas tem peculiaridades dignas de ob- servação. Uma delas é a contratação de títulos ainda na proposal, ou seja, um livro que ainda não dispõe de texto original para tradução. Em geral, as agências ou editoras internacionais são muito precisas nas datas de liberação de originais, mas é importante fazer o acompanhamento. Outro ponto de atenção é a tra- dução, que pode determinar o fracasso de um ótimo livro se não for feita com zelo e excelência – afinal, tão importante quanto garantir o sentido do texto no idioma de partida é assegurar-se da qualidade do texto no idioma de chegada. No podcast a seguir, ouça Silvia Rebello, fundadora e diretora da BR75 – Texto, Design e Produção, agên- cia especializada nos trabalhos de produção editorial, e que hoje presta serviço para várias editoras, falar sobre a importância de cumprir cada etapa com dili- gência e qualidade. Os players – Gráficas e logística É um equívoco pensar nas gráficas apenas como fá- bricas, um conjunto de máquinas que processam pa- pel para transformá-lo na capa e no miolo do livro. Hoje muitas delas são consideradas parceiras na ela- Ouça o áudio 1 49EDITORIAL MÓDULO I 49 MÓDULO II boração de um produto na medida em que desen- volvem expertise para oferecer soluções eficientes, sustentáveis e até inovadoras. O diálogo com elas se tornou tão importante que várias editoras incluem em seu quadro um ou mais funcionários responsáveis pela interação com gráficas. Esse trabalho em con- junto pode significar um projeto editorial surpreen- dente, uma redução significativa de custos de produ- ção ou a agilidade necessária para que as vendas de um best-seller não sejam prejudicadas com a ruptura de abastecimento. Uma das partes mais importantes do processo edito- rial é a definição das especificações do livro. Essas de- cisões são fundamentais para o trabalho da gráfica, a começar pelo formato. Um livro de 16x23cm (largura x altura em centímetros) significa um aproveitamento de papel diferente de outro em formato 14x21cm ou 20x20cm.7 E isso tem impacto sobre o custo de im- pressão, assim como o tipo e a gramatura dos papeis utilizados na confecção da capa e do miolo, escolhas que também pesam na percepção do livro. Há ainda a questão dos acabamentos e embalagem para trans- porte, fatores que influenciam tempo e logística. 7 Essas são medidas arredondadas, já que podem variar milimetricamente, depen- dendo da máquina onde o livro será impresso. 50 MÓDULO II Imagem 2.5 - Estante da Livraria Cultura em São Paulo: diversidade de formatos, tipos de papel e acabamento adequados para cada conteúdo. Foto: Divulgação Para os objetivos desta apostila, bem como por sua limitação de espaço, esta parte da apostila oferece uma visão geral das principais especificações de um livro e de como a gráfica lida com elas. TIRAGEM É a quantidade de unidades que se imprime a cada vez. O livro pode ser impresso em máquinas rotati- vas, que trabalham com bobinas de papel para im- 51EDITORIAL MÓDULO I 51 MÓDULO II pressões de grandes volumes (altas tiragens) em alta velocidade; ou máquinas planas, que usam folhas de papel soltas e cortadas, em geral usadas em tiragens reduzidas. Em ambos os casos, o papel é posterior- mente dobrado e refilado (guilhotinado nos extremos superior, inferior e lateral direito), formando cadernos de múltiplos de 16, 32, 64 ou 128 páginas. Quanto maior a impressão, por ganho de escala, menor o preço unitário.8 CAPA No mercado brasileiro, três tipos de capa predominam: • Brochura (flexível) com orelha, a mais comum, também chamada de formato trade, normalmente com cadernos colados pela lombada; • Capa dura, em geral para edições de alto valor agregado, com cadernos costurados ou colados; • Baixo custo (econômica ou mass market), sem orelhas e com material mais simples e barato. 8 Aqui é importante observar que, a partir de determinada tiragem, esse ganho de escala cai proporcionalmente. Por exemplo, o custo unitário para imprimir 100.000 exemplares de um livro é substancialmente menor ao custo de 20.000, mas a dife- rença desses mesmos 100.000 em relação a 120.000 exemplares, no que se refere ao custo unitário, é bem menor. 52 MÓDULO II Podem ser laminadas (revestidas) com material bri- lhante ou fosco e receber vários tipos de tratamento especial, como facas especiais (cortes diferentes da guilhotina convencional reta nas extremidades); apli- cação de verniz ultravioleta (UV) para dar mais bri- lho a detalhes; relevo; hot stamping (película laminada); etc. O próprio material da capa pode variar de um simples papel cartão até acabamentos com revesti- mento de tecido ou película com textura soft touch. MIOLO Há vários tipos e gramaturas de papel disponíveis em gráficas brasileiras, e cabe ao editor, junto com o pro- dutor gráfico e em diálogo com a própria gráfica, de- finir o mais adequado para cada projeto. Uma Bíblia ou um dicionário, por exemplo, precisam de papel fino pela grande quantidade de páginas, por isso geral- mente usam o chamado papel-bíblia. Os livros trade normalmente são impressos no Brasil com papéis do tipo Off-set, Pólen ou Avena, que variam em termos de cor (brancos ou levemente amarelados) e gramatura. É importante garantir também a opacidade, ou seja, a certeza de que o que está impresso em uma página não vai vazar para a seguinte, dificultando a leitura. 53EDITORIAL MÓDULO I 53 MÓDULO II Há outros aspectos da produção gráfica do miolo que fazem diferença na percepção de valor e, natu- ralmente, no custo de impressão. É o caso da impres- são em quatro cores; da inserção de encartes, ca- dernos com conteúdo especial, como álbum de fotos coloridas ou mapas, geralmente em papel diferente das páginas de texto; pintura trilateral (nas bordas); impressão com folhas de guarda, que unem o miolo à capa dura; e assim por diante. EMBALAGEM E ESTOCAGEM Os livros podem sair da gráfica para transporte aos galpões das editoras ou livrarias em caixas ou palets. Também podem ser shrinkados, isto é, envoltos em plástico justo para proteger de choques ou sujeiras. Das gráficas, os livros partem para os estoques das editoras, que tanto podem ser próprios quanto com- partilhados, em empresas especializadas. Essa ges- tão, aliás, é muito importante para que se evite um estoque muito elevado, o que acarreta custos. Há sof- twares que ajudam a manter o controle e indicam o momento mais adequado para reimpressões. Mais adiante você verá os elementos de um livro impresso mais detalhadamente. Por enquanto, o mais importante é ter a noção de que a relação entre a editora e a gráfica é mais do que entre um cliente e um fornecedor. 54 MÓDULO II Os players – Livrarias, distribuidoras e outros canais O propósito maior de um livro é ser lido, e isso só é possível quando chega ao leitor. Não faz tanto tempo assim, os caminhos para alcançar esse destino eram basicamenteos mesmos: livrarias, bancas, lojas, ven- dedores porta-a-porta... Mas as duas últimas décadas viram o surgimento de novas formas de armazenar conteúdo, assim como de comercializá-lo e entregá- -lo. As próprias livrarias mudaram, oferecendo mais serviços (cafeteria, eletrônicos, presentes), na tenta- tiva de manter sua relevância como ponto de referên- cia. Houve ainda uma onda que culminou na forma- ção de algumas redes de livrarias, como a centenária Saraiva, a maior do Brasil, com mais de uma centena de lojas por todo o país, além da Cultura, Nobel, Leitura e Curitiba, entre outras. No entanto, o modelo de negócio das livrarias enfrenta um momento de redefinição. A rede La Selva, an- tes uma das mais fortes, submergiu em inadimplên- cia. Muitas livrarias independentes não resistiram ao avanço das megastores. A própria Saraiva teve de re- negociar suas dívidas com as editoras, mesmo depois de se desfazer de áreas pouco rentáveis, como a de educação. Por efeito cascata, toda a cadeia do livro foi prejudicada, com editoras cancelando lançamen- 55EDITORIAL MÓDULO I 55 MÓDULO II tos, renegociando com gráficas e assim por diante. Veja a seguir como Bernardo Gurbanov, diretor da Associação Nacional de Livros, explica essa situação. Há alternativa a essa concentração? Para Gustavo Lambert, sócio fundador do clube de assinaturas TAG, é necessário buscar novas possibilidades, sob o risco de o mercado entrar em colapso. De fato, a discussão não se limita ao jeito de vender, que por si já mudou bastante com a consolidação do e-commerce, mas se estende também às próprias plataformas de leitura disponíveis, principalmente as digitais. Para falar de canais de venda, é importante entender esse fenômeno. Assista o vídeo a seguir com a análise de Carlo Carrenho, CEO do PublishNews, so- bre a questão. Visão e criatividade marcaram a trajetória dos mais respeitados nomes do setor editorial brasileiro, como Pedro da Silva Quaresma, Francisco Alves, Joaquim Inácio Saraiva, José Olympio, Ênio Silveira, entre ou- tros, e continuam sendo predicados fundamentais, porém a serviço de outras iniciativas de pioneirismo em um período de transição como o atual. Dos anti- gos modelos de negócio, pouca coisa ainda resta. O papel dos livreiros e dos editores ficaram mais dis- 56 MÓDULO II tintos. Os players se conscientizaram de que o pro- duto é conteúdo, e vice-versa, e que o livro impresso e exposto nas estantes de uma loja é apenas uma das muitas formas de oferecer e fazer chegar esse conteúdo/produto aos consumidores. Atualmente, um mesmo conteúdo – digamos, uma edição de O guarani, de José de Alencar – pode che- gar ao consumidor em vários formatos: • Livro físico, em edições de luxo (geralmente, capa dura), brochura (flexível) ou econômica (em mate- riais mais simples e baratos, porém menos duráveis). • E-book (o livro eletrônico), que pode ser baixa- do (download) em vários dispositivos eletrônicos, como leitores digitais (Kindle, da Amazon; Lev, da rede de livrarias Saraiva; entre outros), tablets (por exemplo, o iPod, da Apple e o Galaxy Tab, da Sam- sung), laptops ou smartphones. • Audiolivro (ou audiobook), disponível em quase todos os dispositivos citados (à exceção de leitores digitais que ainda não dispõem do recurso de som).9 9 Ainda há no mercado exemplares de audiolivros em CD-Rom, mas trata-se de um formato em desuso. 57EDITORIAL MÓDULO I 57 MÓDULO II • Combinação de plataformas (crossmedia e enhanced media), como e-books com recursos de áudio e vídeo complementares ao texto, realidade aumentada etc. Imagem 2.6 - Kindle, um dos modelos de dispositivos para leitura digital: os e-books ainda representam um percentual pequeno na venda de livros, mas a tendência é de crescimento Foto: Divulgação Da mesma maneira, aos canais de distribuição tradi- cionais se juntaram muitos outros: • Livrarias físicas, as tradicionais lojas de alvena- 58 MÓDULO II ria (brick and mortar – tijolo e argamassa, como se referem os anglófilos), muitas delas em shopping centers. Podem compor redes, como Saraiva, Lei- tura, Curitiba, Cultura, Travessa, entre outras, ou funcionar de maneira independente. • Livrarias virtuais (e-commerce), em que o con- sumidor procura os livros que procura em um site e ali mesmo faz a compra por meios eletrônicos para receber o produto no local desejado (no caso de exemplares físicos) ou baixar em seu dispositi- vo eletrônico. Incluídos nesta categoria estão tanto os sites de livrarias (Saraiva, Cultura etc.) como os das editoras que fazem venda direta, além do cha- mado marketplace virtual, portal que reúne e in- termedeia produtos de vários fornecedores, como fazem Submarino e Amazon. • Distribuidoras, que fazem a intermediação entre fornecedores que dispõem de pouca ou nenhuma estrutura de distribuição para o varejo ou venda direta. É o caso da Catavento e da BookPartners, entre outras. • Venda por catálogo, em que se destacam em- presas como Avon e Hermes. 59EDITORIAL MÓDULO I 59 MÓDULO II • Vendas porta a porta ou por representantes, im- portantes para ampliar capilaridade da distribui- ção e alcançar diretamente nichos de mercado. • Bancas de jornais e revistas, cada vez mais escassas. • Supermercados, lojas de conveniência, lojas de de- partamento e outros pontos de venda diversificada. • Clubes de leitura em suas várias modalidades, oferecendo diferenciação e curadoria, como TAG, Leia Mulheres, Leiturinhas, entre outros. • Vendas corporativas, com produtos exclusivos ou de catálogo, em edições muitas vezes personaliza- das. Aqui se incluem também as vendas a organi- zações não governamentais (ONGs), igrejas etc. • Vendas governamentais, dirigidas a escolas pú- blicas e programas federais, estaduais e munici- pais de incentivo à leitura e fomento do livro, como o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). • Vendas a instituições de ensino particulares, uni- versidades etc. • Feiras literárias e outros eventos que têm o livro como foco – Bienais do Livro do Rio e de São Paulo, Flip. 60 MÓDULO II ‘Há ainda outros canais eventuais ou próprios de ni- chos de mercado, como a venda em congressos, se- minários, palestras e outros eventos temáticos, muitas vezes com a participação de autores – CCXP (cultura pop), HSM (negócios) etc. – ou tiragens produzidas por encomenda de autores que possuem meios próprios de distribuição e revenda. É preciso também falar da importância do marketing editorial com suas peculiaridades. Ele existe para tor- nar os livros conhecidos e, assim, lubrificar as engre- nagens que movem a cadeia do livro. A maior parte desse investimento costuma partir da editora, mas tem por objetivo, em última análise, estimular as ven- das, daí sua importância como elo na cadeia do livro. Entretanto, para Bruno Zolotar, diretor de Marketing da editora Record, o setor pode e deve ser mais as- sertivo. Ouça o podcast a seguir. Os players – Governo Outro elemento importante na cadeia do livro tem sido a iniciativa pública na aquisição de material, tanto para alunos e professores (programas estaduais e municipais), quanto para bibliotecas (programas fe- derais, estaduais e municipais). Como as compras são efetuadas em grandes volumes e por licitações, vá- rias editoras contavam, até três ou quatro anos atrás, Ouça o áudio 2 61EDITORIAL MÓDULO I 61 MÓDULO II com essas vendas para compor seu orçamento anual. Com os problemas econômicos recentes, porém, os governos reduziram gastos públicos, e vários progra- mas foram reduzidos ou mesmo suspensos. Na esfera federal, de onde saem as principais com- pras, há dois programas de livro para abastecer es- colas de nível básico: o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Programa Nacional Biblioteca Da Escola (PNBE). Em seu auge, o PNBE chegou a dis- tribuirgratuitamente mais de 60 milhões de exem- plares de obras didáticas, pedagógicas e literárias. A suspensão das compras significou um golpe forte para várias editoras, grandes, médias e pequenas. Outro papel importante do poder público é o de pro- duzir iniciativas para estimular o hábito da leitura e ativar a cadeia produtiva, e nesse ponto há também sérias críticas de outros players. MÓDULO I 3 A CADEIA DO LIVRO II Nasce um livro Tendo falado sobre o mercado do livro e dos players que o integram, bem como de seus papéis na ca- deia de produção e distribuição do livro, vamos entrar agora nas atividades vinculadas à produção do livro propriamente dito – e aqui, ao usarmos o termo “livro”, Neste módulo abordaremos os seguintes tópicos: - Nasce um livro; - Aquisições; - Identificação de tendências; - Feiras e festivais. Vamos lá! 63EDITORIAL MÓDULO I apresentar as etapas desse processo, já que, mesmo fazendo parte da prática regular de muitos profissio- nais do livro, elas são ainda novas para pequenas edi- toras ou ingressantes do mercado editorial. Aquisições O ponto de partida para o processo é a prospecção, ou seja, a busca ou pesquisa do editor por um texto que seja condizente com a linha editorial da editora, tenha conteúdo de qualidade, possua apelo para o público a que se destina (geral ou nicho), seja tecnica- estamos nos referindo ao conteúdo nas formas atual- mente existentes de apresentação: impresso (livro fí- sico) e digital (e-book e audiolivro). Nesta parte, vamos 64 MÓDULO III mente viável e demonstre claro potencial de vendas. Para isso, o editor se vale de várias fontes, a começar por uma atualização constante e permanente sobre a produção dos autores consagrados, as tendências de gênero literário, o comportamento do público leitor e os novos títulos e autores que dão indício de que podem se tornar sucesso. Também é comum o editor receber muitos originais de pessoas que desejam ser publicadas pela primeira vez, ou que já tentaram fa- zê-lo de forma independente. Além disso, os editores recebem o subsídio de agen- tes literários e representantes de outras casas pu- blicadoras que oferecem materiais para avaliação, que podem ser originais completos ou proposals com o resumo e algumas características do conteúdo. Há ainda os scouts, especialistas que, além de possuir fontes privilegiadas de informação sobre lançamentos e novidades do mercado, também fazem uma ava- liação prévia de originais para indicar possíveis aqui- sições. Feiras literárias, revistas especializadas, infor- mes do mercado editorial, sites de recomendações e plataformas de autopublicação também devem ser acompanhados regularmente para o editor não cor- rer o risco de perder uma boa oportunidade. É bom lembrar que a área comercial, que está na linha de frente, pode ajudar o editor de aquisições ou gerente editorial com informações valiosas sobre o compor- 65EDITORIAL MÓDULO I 65 MÓDULO III tamento do mercado, como explica Gerson Ramos, diretor comercial da Editora Planeta. Uma vez identificado um título ou autor que preencha os requisitos citados para se adequar às linhas edito- riais, é feito um contato com o autor ou agente para verificar a disponibilidade do direito de publicação no país (e, em alguns casos, também no exterior). É possível também que o processo seja um pouco dife- rente: o editor percebe que há um assunto recorrente, um acontecimento em evidência ou um modismo que acaba de surgir e, para aproveitar o movimento, enco- menda uma obra a um autor. Ouça Samuel Coto, gerente editorial da Thomas Nelson Brasil, explicar como trabalha: O livro só pode ser publicado sob licença do autor da obra ou de seus representantes, a não ser que se trate de uma obra em domínio público.10 Assim, para que uma casa publicadora produza um livro, ela precisa fazer um contrato de licenciamento. Negociam-se as condições contratuais (veja o boxe a seguir) e, chegan- do-se a um acordo, a editora passa a deter o direito de publicação da obra pelo tempo previsto no acordo. 10 Condição jurídica segundo a qual o direito de propriedade de uma obra deixa de existir por decorrer de tempo. Segundo a legislação brasileira, uma obra entra em domínio público, isto é, a família do autor deixa de ter o direito patrimonial sobre essa obra, depois de decorridos setenta anos mais um da morte desse autor. E caso se trate de uma tradução, sua autoria é tratada da mesma forma, pressupondo também um direito patrimonial com o mesmo prazo de vigência. Assista o vídeo 4 Assista o vídeo 5 66 MÓDULO III BOX: Os contratos entre editoras e autores podem (e devem) prever várias situações, e é possível que o texto varie de um para outro, mas algumas condições são fundamentais para a negociação e estão presentes em praticamente todos os acordos: • Adiantamento (ou advance): como o nome indica, é uma parte dos direitos autorais que a editora se dispõe a pagar antes de o livro chegar às livrarias, e que será descontada nas prestações de contas regulares. Inicialmente utilizada como uma forma de financiar a produção do conteúdo, hoje também é moeda de negociação, sinalizando o grau de confiança da editora no sucesso do livro. Autores iniciantes não costumam receber grandes quantias – isso quando recebem. Já autores consagrados, principalmente best-sellers, podem chegar a cifras de seis ou sete dígitos. O advance tem pouco impacto econômico, já que será descontado nas prestações de contas. No entanto, pode influenciar bastante o fluxo de caixa. Por isso, algumas editoras propõem contratos sem advance, ou um valor apenas simbólico, para dispor de mais recursos para investimentos próprios do lançamento de um livro. • Direitos autorais (DA ou royalties): calculados como participação percentual do autor na venda de cada exemplar. Podem ser calculados sobre o preço de capa (critério que ainda predomina, principalmente quando se trata de licenciamento de livros estrangeiros) ou sobre o preço líquido, isto é, o valor percentual incide sobre o valor de faturamento do livro para o livreiro ou distribuidor. De um jeito ou outro, ao final de um período de apuração determinado contratualmente (em geral, seis meses ou um ano), a editora faz a prestação de contas dos exemplares vendidos naquele intervalo de tempo, calcula o que é devido ao autor e faz o pagamento, iniciando então novo período de apuração. Normalmente não entram nessa conta os exemplares enviados gratuitamente para divulgação ou bibliotecas, nem aqueles adquiridos pelo próprio autor. 67EDITORIAL MÓDULO I 67 MÓDULO III • O percentual de DA varia de acordo com o formato. Para capa dura ou brochura (também chamada, como vimos, de formato trade), costuma ficar entre 7% do preço de capa (ou 14% do preço líquido) e 10% do preço de capa (ou 20% do preço líquido). A um autor iniciante pode ser oferecido um percentual menor, assim como um best-seller pode negociar uma faixa superior. Os royalties para formatos impressos de baixo custo (também chamados econômicos ou mass market, produzidos com acabamento e materiais mais simples) geralmente correspondem a 50% ou 60% do percentual para capa dura ou brochura. Para formatos digitais, é comum trabalhar com 30% sobre o preço de face. Uma alternativa encontrada por editoras e autores para aliviar o investimento inicial é trabalhar com escalonamento de DA – por exemplo, 8% do preço de capa para os primeiros 10.000 exemplares vendidos e 10% para as vendas subsequentes. • Há ainda os direitos relacionados à eventual adaptação do conteúdo de um livro para o cinema, teatro ou televisão, que alguns autores preferem não incluir no contrato com a editora, ou o fazem a partir de negociações específicas. • A duração de um contrato-padrão é de cinco anos, mas pode variar. Para garantirem melhor retorno para seus investimentos, as editoras têm preferidooferecer vigência de sete a dez anos. • Outro ponto fundamental do contrato é o alcance geográfico e linguístico. O contrato pode conceder à editora direitos locais, regionais ou mundiais da obra, em um ou vários idiomas. Livros estrangeiros costumam ser licenciados com exclusividade apenas para o país e a língua local. Identificação de tendências É fundamental que uma editora disponha de uma equipe editorial que esteja atenta às tendências, pro- messas e novidades não apenas do mundo literário, mas também – e principalmente – da sociedade em ge- 68 MÓDULO III ral. Identificar um interesse recorrente do público (seja em alguém ou alguma coisa) ou antever uma mudança no comportamento do leitor pode significar o lança- mento de um best-seller e até a liderança no mercado. Tomemos dois exemplos relativamente recentes: há alguns anos, livros com histórias baseadas em mun- dos ou futuros alternativos disputavam os primeiros lugares nas listas de best-sellers de ficção, alavanca- dos especialmente pela redescoberta da mitologia O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, adaptada para o cinema, e pelo sucesso das sagas As crônicas de gelo e fogo, de George R.R. Martin (base da série Game of Thrones), e Jogos vorazes, de Suzanne Collins. Todas as editoras publicaram livros na mesma linha, ten- tando “aproveitar a onda”. Então o mercado viu surgir outro fenômeno: a trilogia Cinquenta tons de cinza, de E.L. James, com tempero erótico, e as livrarias foram inundadas com títulos com a mesma temática. É claro que nem todas as editoras tiveram o mesmo sucesso, mas perceber uma tendência e agir rápido (e princi- palmente fazer isso antes da concorrência) pode ga- rantir uma receita considerável. Por isso, o editor e sua equipe devem estar atentos aos movimentos do mercado editorial brasileiro e estrangeiro. 69EDITORIAL MÓDULO I 69 MÓDULO III Feiras e festivais Pontos de referência e convergência do mercado edi- torial, as feiras e os festivais podem ser tanto vitrine de títulos e autores quanto balcão de negócios. Além de reunir os players, elas também atraem a atenção de público e mídia, e dependendo de sua natureza, po- dem alavancar negócios, promover autores e criar ou consolidar tendências. Antes de falar sobre a impor- tância desses eventos e sobre os de maior prestígio, é bom fazer uma distinção entre eles, que nem sempre está presente nos nomes pelos quais são conhecidos. Imagens 3.1 e 3.2 - Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, e Festa Literária Internacional de Paraty, no Rio de Janeiro: eventos de natureza diferente com o livro como protagonista 70 MÓDULO III Fotos: Omar de Souza Entende-se as feiras de livros como eventos de cará- ter mais mercadológico, onde editoras, livrarias, grá- ficas, organizações de classe e governo, entre outros players, procuram se expor, mostrando seus livros e autores tanto para o público consumidor quanto para a mídia, os parceiros comerciais e, naturalmente, a concorrência. É um acontecimento mais corporativo, institucional e comercial, com investimentos altos em estandes, infraestrutura e divulgação. Também é co- mum abrir espaços especiais para negociação do li- cenciamento de direitos de publicação. Os festivais literários, por sua vez, se propõem a pro- mover debates temáticos, estimular a produção li- terária e fazer homenagens a autores. Por ter esse 71EDITORIAL MÓDULO I 71 MÓDULO III caráter mais cultural, esses eventos atraem um pú- blico menor, mais interessado em mesas de discussão e menos em sessões de autógrafos. Alguns eventos procuram juntar as duas finalidades, mas geralmente uma se sobressai. MÓDULO II MÓDULO IV 72 Quadro 3.1 PRINCIPAIS EVENTOS LITERÁRIOS Evento País Época Característ ica Duração América Latina Brasil Agosto/Setembro 9 dias 700.000 Brasil Agosto/Setembro 9 dias 700.000 México Novembro/Dezembro 9 dias 800.000 Argent ina Abril/Maio 3 semanas 1.000.000 Colômbia Abril/Maio 16 dias 570.000 Europa Frankfurt Buchmesse Alemanha Outubro 5 dias 300.000 London Book Fair Inglaterra Março 3 dias 25.000 Itália Abril 4 dias 27.000 Estados Unidos Book Expo America Maio/Junho 4 dias 10.000 Outras feiras China Novembro 3 dias 30.000 Turquia Novembro 9 dias 450.000 Emirados Árabes Abril/Maio 7 dias 300.000 Estimativa de visitantes Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro Realizada em alternância com a Bienal de São Paulo, tem caráter misto, mas predomina o inst itucional e comercial Bienal Internacional do Livro de São Paulo Realizada em alternância com a Bienal do Rio, tem caráter inst itucional e comercial. Está na 25ª edição. Feria Internacional del Libro de Guadalajara Caráter inst itucional e comercial, é considerada a mais importante das Américas, assim como dos países hispânicos. Está na 32ª edição. Feria Internacional del Libro de Buenos Aires Caráter misto, é a mais importante da América do Sul. Está na 44ª edição. Feria Internacional Libro Bogotá (FILBO) Caráter inst itucional e comercial, tem reconhecimento entre países hispânicos e do Caribe. Está na 31ª edição. Caráter misto, é a maior e mais importante do mundo. Está na 70ª edição. Caráter comercial, principalmente negociação de direitos. Está na 47ª edição. Fiera del Libro per Ragazzi di Bologna Caráter comercial e inst itucional, focada no mercado infanto-juvenil. Está na 55ª edição. Estados Unidos, geralmente em Nova York Caráter inst itucional e comercial, concentra o foco no mercado norte- americano. Está na 71ª Editção China Shanghai Internat ional Children’s Book Fair Caráter comercial e inst itucional, focada no mercado infanto-juvenil, agora chancelada pelos organizadores da Feira de Bolonha. Está na 6ª edição. Internat ional Istambul Book Fair Caráter misto, procura se estabelecer como o evento de ligação entre a literatura do Oriente e do Ocidente. Está na 37ª edição. Abu Dhabi Internat ional Book Fair Caráter inst itucional e comercial, tem foco na produção literária árabe. Está na 28ª edição. 73EDITORIAL MÓDULO I 73 MÓDULO IV Imagem 3.3 - Feira de Xangai: foco no público infanto-juvenil Foto: Divulgação CCBF Imagem 3.4 - Book Expo America: ator Neil Patrick Harris em sessão de autógrafos Foto: Divulgação BEA 74 MÓDULO III Imagem 3.5 - Feira de Istambul: ligando Oriente e Ocidente Foto: Divulgação Nos vídeos a seguir, Carlos Carrenho, do PublishNews, e Ricardo Costa, da Metabooks (empresa vinculada à Feira do Livro de Frankfurt), comentam sobre a im- portância das feiras e festivais e o que caracteriza esses eventos. BOX: A Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) traba- lham em parceria no projeto Brazilian Publishers, que tem por objetivo capacitar e promover editoras, autores e livros brasilei- ros em outros países, incentivando a exportação e a participa- ção em eventos internacionais. Dentro dessa iniciativa, profis- sionais brasileiros filiados ao projeto podem se candidatar a um subsídio para expor suas publicações no estande do Brazilian Publishers (www.brazilianpublishers.com.br). 75EDITORIAL MÓDULO I 75 MÓDULO III Além das grandes feiras internacionais, alguns festi- vais no Brasil e no exterior oferecem a oportunidade de projetar autores e editoras a partir de debates, exposições e outras iniciativas culturais. Aqui estão al- guns que se destacam: • Festa Literária Internacional de Paraty – FLIP (julho, Paraty). Desde 2003, a cidade histórica re- cebe milhares de pessoas que visitam as casas, igrejas e outras construções locais, alugadas por empresas e organizações para abrigar eventos dos mais diversos tipos, além de tendas e palcos com programações culturais. A cada ano um autor é homenageado. • Festival Literário de Poços de Caldas – Flipoços (abril/maio, Poços de Caldas). Tem por objetivo promovermarço de 2016. LOBATO, David M. et al. Gestão estratégica. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 2017. ZAID, Gabriel. Livros demais: sobre ler, escrever e publicar. São Paulo: Summus, 2004. 154EDITORIAL MÓDULO I 154 MÓDULO VIII AGRADECIMENTO AOS COLABORADORES Os profissionais abaixo, com vasta experiência no mercado editorial e referência em suas áreas de atu- ação, contribuíram voluntariamente cedendo seus de- poimentos e serviços para este projeto. A eles, nosso agradecimento e respeito. Bernardo Gurbanov, presidente da Associação Nacional de Livrarias Bruno Zolotar, diretor de Marketing e Comunicação do Grupo Record Carlo Carrenho, CEO do PublishNews e consultor editorial Eduardo Albano, diretor da Ubook Gerson Ramos, diretor comercial da Editora Planeta Gustavo Lambert, sócio fundador e diretor da TAG Gustavo Martins de Almeida, advogado e consultor jurídico do SNEL Lucas Nagem, pesquisador Marcelo Pelegia, gerente de Marketing da Editora Alto Astral Pedro Souza, revisor Ricardo Costa, CEO da Metabooks Samuel Coto, gerente editorial da Thomas Nelson Brasil Silvia Rebello, fundadora e diretora da BR75 – Texto, Design e Produção Sonia Jardim, presidente do Grupo Editorial Record Wendel Almeida, gerente comercial da Catavento