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UNIVERSIDADE PAULISTA
CAMILA ALVES SOMBRA
DANIELA DE JESUS PEREIRA
THAYNA GLORIA DOS SANTOS
O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO
SÃO PAULO
2020
UNIVERSIDADE PAULISTA
CAMILA ALVES SOMBRA
DANIELA DE JESUS PEREIRA
THAYNA GLORIA DOS SANTOS
O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado para obtenção de título de
bacharel em Serviço Social pela
Universidade Paulista UNIP.
Orientadora: Prof°. Eliana Pereira Silva.
SÃO PAULO
2020
O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO
Trabalho de Conclusão do Curso de Serviço Social para obtenção do título de bacharel
em Serviço Social, apresentado a Universidade Paulista – UNIP.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
_________________________________/___/___
Profª Adriana Ribeiro Negrão
Universidade Paulista - UNIP
_________________________________/___/___
Profª
Universidade Paulista – UNIP
_________________________________/___/___
Profª
Universidade Paulista – UNIP
Data de Aprovação ____/___/__
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho a todas as crianças e adolescentes abandonadas e
institucionalizadas, que tiveram suas infâncias fragilizadas, seus direitos violados e
ainda sonham em ser criados e educados em um seio familiar.
A todos das nossas famílias que foram de suma importância para nossa
formação.
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar quero agradecer a Deus, por ter me dado forças e ânimo para
continua e chegar até aqui. Sou muito grata aos meus pais e familiares por terem
acreditado e lutado junto comigo. Muito obrigada aos meus amigos, e professores e
principalmente a minha orientadora! Também quero agradecer a Daniela e Thayná que
fizeram o TCC comigo.
Camila
Agradeço primeiramente a Deus e que através da fé Nele cheguei até aqui. Sou
grata por minha família, em especial a minha mãe Edinalva que sempre me apoiou,
torcendo por minhas conquistas. Deixo também registrado minha gratidão ao meu
noivo Nilton por estar sempre comigo, seu auxilio foi fundamental para mim. E aos
professores Eliana, Dra. Vanice, e Luciana que contribuíram e compartilharam do
conhecimento para elaboração desse referido TCC. Obrigada a todos!
Daniela
Primeiramente gostaria de agradecer à Deus por me fortalecer até aqui. À
minha mãe por ter acreditado em mim, por cada cuidado ao longo da vida, pelo carinho
e pela dedicação com a minha vida estudantil. Ao Taigo, por me aturar durante essa
trajetória, por ser meu ponto de paz e definição de amor. A cada professor da UNIP por
compartilharem o seu conhecimento profissional e pessoal, pelas palavras atenues e
auxílios em momentos turbulentos.
Thayna
“Nós falam�s sempre de Malc�lm X e Martin
Luther King Jr, mas está na h�ra de ser c�m�
eles, f�rte c�m� eles. Eles eram m�rtais c�m�
nós e tud� que fizeram, nós também p�dem�s
fazer.”
(Tupac Shakur).
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso teve como objetivo retratar o racismo nos
processos de adoção no Brasil. O objetivo foi analisar como o racismo estruturado em
nosso país demonstra-se durante os processos de adoção fazendo um recorte no
Estado de São Paulo, um dos estados com maior número de crianças
institucionalizadas. O estudo apresenta o processo histórico do abandono de crianças e
da adoção, além de trazer a evolução do conceito família e a teoria da eugenia para
depois debater como o racismo se manifesta durante o processo de adoção. Houve a
combinação de pesquisas qualitativas e quantitativas para coletar as informações
combinando os dados matemáticos e descritivos, utilizando o método da análise
bibliográfica e de dados coletados por cadastros, pesquisas e leis nacionais como o
IBGE, o Cadastro Nacional de Adoção, a Constituição Federal entre outros. Além disso,
também foram utilizados textos de livros e artigos como porte teórico. De maneira
geral, o objetivo do trabalho foi mostrar que a construção racista da sociedade, levou a
reprodução do racismo em todos os âmbitos da sociedade, inclusive na adoção. Com
uma população Majoritariamente composta por negros e pardos, o cadastro de adoção
não se difere, logo a busca pelo filho perfeito e dentro dos padrões europeus de beleza,
tornam a adoção um caminho longo a se trilhar.
Palavras-Chave: Adoção. Racismo. Família. Preconceito Racial. Institucionalização.
ABSTRACT
The present course conclusion work aimed to portray racism in the adoption processes
in Brazil. The objective was to analyze how structured racism in our country is
demonstrated during the adoption processes by making a cut in the State of São Paulo,
one of the states with the largest number of institutionalized children. The study
presents the historical process of child abandonment and adoption, in addition to
bringing the evolution of the family concept and the theory of eugenics to later discuss
how racism manifests itself during the adoption process. There was a combination of
qualitative quantitative research to collect the information combining mathematical and
descriptive data, using the method of bibliographic analysis and data collected by
registries, research and national laws such as IBGE, the National Adoption Register, the
Federal Constitution among others. In addition, texts from books and articles were also
used as theoretical. In general, the objective of the work was to show that the racist
construction of society, led to the reproduction of racism in all areas of society, including
adoption. With a population mostly composed of black people, the adoption register is
no different, so the search for the perfect child and within European standards of
beauty, making adoption a long way to go.
Keywords: Adoption. Racism. Family. Racial prejudice. Institutionalization.
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SUMÁRIO
• INTRODUÇÃO...........................................................................................................
11
• A HISTORICIDADE DO ABANDONO DE CRIANÇAS NO BRASIL................14
• O conceito de família na era colonial e contemporânea....................................20
• A transformação do conceito família...............................................................23
• O negro e a teoria da eugenia no Brasil............................................................24
• O SERVIÇO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL........................................30
• Institucionalização: FEBEM e FUNABEM.......................................................33
• A história dos direitos das crianças e dos adolescentes: Código de Menores vs
ECA.................................................................................................................38
• A adoção de crianças e adolescentes e seu processo histórico....................40
• Rede de proteção integral a criança e o adolescente.....................................42
• O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO...........................46
• O perfil de crianças institucionalizadas: a realidade por trás dos
números.............................................................................................................48
• 3.1.1 O perfil dos adotantes e a busca pelo filho perfeito..........................................50
• Crianças e adolescentes nos serviços de acolhimento no Estado de São
Paulo..................................................................................................................51
• A contribuição do Serviço Social no combate ao preconceito na adoção inter-
racial..................................................................................................................54
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................57
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................58
• INTRODUÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso é resultado da pesquisa sobre o
preconceito racial no processo de adoção, tendo como objetivo principal investigar e
explanar as razões que levam o preconceito racial no processo de adoção de crianças
e
inferior,
aos filhos biológicos. Seria algo semelhante a dormir junto com os
demais membros da família e não no espaço reservado aos
empregados, contudo o, não possuir um quarto ou uma cama própria.
(BARBOSA; DUTRA, 2010, p. 359).
Ainda segundo Barbosa e Dutra (2010), tal herança cultural contribuiu
significativamente para que, até os dias de hoje, esta forma de filiação seja impregnada
por mitos e preconceitos.
Além disso, as adoções possuíam um intuito religioso, segundo o advogado
Marone (2016), ou seja, o intuito era garantir o culto aos ancestrais familiares, para que
não houvesse a extinção da família. Seguindo por tal raciocínio, apenas eram
atendidos os interesses do adotante e de seus parentes consanguíneos.
No início da Idade Média, por influência da Igreja Católica, a adoção tornou-se
um desábito, pois a Igreja Católica passou a pregar que somente os filhos
consanguíneos eram merecedores o suficiente de carregar o sobrenome de uma
família.
No Brasil, até o século XX a adoção não era judicialmente regulamentada, pois
nessa época, a prática da adoção somente era permitida por casais que não possuíam
filhos biológicos, e eram realizadas através da roda dos expostos.
A não regulamentação da adoção na época deixavam as crianças e os pais
adotivos em situação de vulnerabilidade, pois não havia nenhum direito de adoção que
lhes era assegurado.
Na década de 1980, tornou-se comum a “adoção a brasileira” que se constituía
em acolher uma criança e registra-la em cartório como seu filho biológico, mesmo não
sendo.
Entre o fim do século XIX e o início do século XX, a regulamentação das leis da
adoção. Em 1916, foi promulgada a Lei n° 3.071 de 1916, no Código Civil brasileiro,
dentro do direito de família. Esta lei preconizava que a adoção poderia ser realizada
apenas para pessoas ou casais sem filhos, com idade mínima de 50 anos, restringindo,
desta forma, as adoções para pessoas que não tiveram filhos biológicos.
Por volta de 1957, afim de estimular o aumento de adoções, houveram
mudanças efetuadas, tanto que a nova Lei n° 3.133 de 1957, trouxe mudanças
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3133.htm
importantes que, de fato, cumpriram com o papel esperado. Houve uma diminuição da
idade mínima para 30 anos e a diferença de idade entre adotantes e adotado para 16
anos e não mais 18. Houve também a acréscimo do requisito de que os pretendentes
fossem um casal com pelo menos cinco anos de relacionamento oficial.
Além disso, a adoção deixa de ser exclusividade de casais sem filhos
biológicos. Alguns anos depois, em 1965, mais mudanças surgiram, como a Lei n°
4.655 de 1965, que trouxe modificações importantes que existem até hoje. São eles:
• O rompimento definitivo da criança com a família de origem através da
formalização do registro de nascimento, fazendo constar o nome dos
pais e avós adotantes, suprimindo o nome da família biológica e, por
consequência,
• A irrevogabilidade da adoção, isto é, ela não poderia mais ser desfeita.
Além de tais aspectos que seguem até hoje no processo de adoção, há também
aspectos trazidos do Código de Menores de 1979 como as qualificações que devem
ser comprovadas através de documentos, seriam elas: estabilidade conjugal,
comprovação de idoneidade moral, atestado de sanidade física e mental e adequação
do lar.
Em 1988, através da Constituição Federal, o artigo 227 declara a igualdade
entre os filhos biológicos e adotivos, garantindo-os os mesmos direitos e qualificações.
A mudança mais recente ocorreu em 2009, com a criação da Lei n° 12.010 de
2009, conhecida como “Lei da Adoção”, tais mudanças estabelecidas pela Lei n°
12.010/09 tem como maior objetivo reforçar a proteção as crianças e adolescentes, e o
convívio familiar, como citam Arpini e Silva (2013):
[...] há um reforço na busca da proteção de crianças e adolescentes
quando se centraliza a atenção na família. Este Plano busca fortalecer a
família para que esta seja auxiliada e assim possa manter um cuidado
continuado em relação aos seus filhos. (ARPINI, SILVIA, 2013, p. 126).
Após tal reflexão, é possível notar que as mudanças realizadas em 2009 e o
Estatuto da Criança e do Adolescente, por um lado, protege as crianças e adolescentes
e “facilitam” a adoção, pois abrangeram os possibilitados a adotar- mudanças que
vieram com a modificação do conceito família, mas também burocratizaram e
dificultaram ainda mais o processo de adoção.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4655.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12010.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12010.htm
2.1.3 Rede de proteção integral a criança e o adolescente
A doutrina de proteção integral foi introduzida no Brasil através da Constituição
Federal de 1988 no art. 227 que declarou ser dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão. Com o passar dos anos, havia uma discussão sobre
reconhecer crianças e adolescentes como cidadãos de direitos e garantir a proteção
integral dos mesmos, sendo materializado através da promulgação do Estatuto da
Criança e do Adolescente- ECA em 1990, pelo reconhecimento da criança e o
adolescente como sujeito de direitos, em condição de desenvolvimento.
Após a promulgação da Constituição, as organizações da sociedade civil
que participaram do processo constituinte influenciando a área da
criança e do adolescente se articularam com setores progressistas da
Magistratura, do Ministério Público e do poder Executivo, defensores da
doutrina de Proteção Integral, para elaborar e articular aprovação Lei
Complementar aos Artigos 227 e 228 da Constituição, que viria a ser
chamada de Estatuto da Criança e do Adolescente –ECA. (TORRES,
SOUZA FILHO & MORGADO, 2006, p. 107).
A rede de proteção integral foi criada, visto que uma parte da população
brasileira estava em desenvolvimento (infanto- juvenil) ou porque viviam em situação
de risco em seu convívio familiar, com isso o poder público interviu para que os direitos
das crianças e dos adolescentes fossem efetivados dando a eles a proteção integral.
Além disso, a rede de proteção integral na esfera dos direitos, tem em sua
essência a proteção de crianças e adolescentes que estejam em situações de
vulnerabilidade, maus tratos e com seus direitos violados no ambiente familiar, sendo
indicada pelo ECA como penúltima medida a institucionalização de crianças e
adolescentes, apenas em casos extremos. A rede integral é formada tanto por órgãos
governamentais e não governamentais, tendo estes órgãos objetivo de atender as
necessidades básicas como saúde, educação cultura entre outros.
Tomando-se o eixo da promoção dos direitos, por exemplo, a teia da
rede é formada por todos os órgãos e serviços governamentais e não-
governamentais que atuam na ampliação e aperfeiçoamento da
qualidade dos direitos legalmente previstos, o que se faz essencialmente
por meio da formulação e execução de políticas públicas, quer se trate
de políticas universais de atendimento às necessidades básicas da
criança e do adolescente, quer se trate de medidas de proteção especial
para aqueles que se encontram em situação de risco pessoal e social.
Nessas conexões interagem atores tão variados quanto os órgãos
executores das políticas públicas (nas áreas de educação, saúde,
assistência social, alimentação, cultura, esporte etc.), os conselhos
paritários de deliberação sobre as diretrizes dessas políticas, os
Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e as entidades
públicas e privadas de prestação de serviços.(AQUINO, 2004, p.330).
Segundo Aquino (2004) a nova forma de gestão de direitos passam a
ser
responsáveis como as ações públicas e privadas e também é um dever da família,
Estado, comunidade e da sociedade proteger e garantir o direito da criança. Nessa
perspectiva, a Resolução 113 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente-Conanda (2006), é uma articulação e integração de parceria entre o poder
público e sociedade civil para elaborar, executar e monitorar políticas públicas voltadas
para criança e adolescente. Os eixos são compostos pela promoção que busca efetivar
de fato os direitos políticos públicos, saúde, educação, lazer, moradia, segurança e
medidas protetiva.
Portanto, com a Resolução 113 do Conanda, surgiu em 2006, com o Sistema
de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente–SGDCA, um órgão de defesa
que visa a certificação e fortalecimento da implementação do ECA com foco na
proteção integral da infância e adolescência. Esse sistema é formado pela integração e
articulação da sociedade civil, Estado, famílias, formados por conselhos tutelares,
promotores e juízes das Varas da Infância e Juventude, defensores públicos, conselhos
de direitos da criança e do adolescente, educadores sociais, policiais de delegacias
especializadas, profissionais que trabalham em entidades sociais e nos Centro de
Referencia da Assistência Social (CRAS) e integrantes de entidades de defesa dos
direitos humanos da criança e adolescentes, entre outros.
A institucionalização é a penúltima medida indicada pelo ECA, pois busca
proteger crianças e adolescentes que estejam sendo violados, ameaçados ou até
mesmo em seu convívio familiar, a fim de prevenir quando voltam ao ambiente familiar
e garantir que estejam seguros, porém em alguns casos esses meninos e meninas são
destinados à adoção para serem inseridos em uma família substituta.
Um dos motivos que levam a viverem em situação de abrigo não é somente em
casos de violência física, mas também por não ter acesso a serviços básicos como
saúde e educação, sendo necessário o trabalho em rede nos municípios, voltado ao
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente –SGDCA, pois prevê
que a criança e adolescente esteja perto da escola ou de seus lazeres.
Se generalizados os dados relativos às condições do abrigamento de
crianças e adolescentes nas unidades conveniadas à Rede SAC para
todo o universo dos abrigos do país, bem como aqueles referentes ao
trabalho desenvolvido por essas instituições junto aos abrigados e a
suas famílias, tem-se um quadro claro dos limites enfrentados pelos
programas de abrigo para fazer cumprir os princípios da brevidade da
medida e do incentivo à convivência familiar. Esses dados, contudo,
evidenciam não apenas os limites da atuação das entidades de abrigo,
mas questionam diretamente a própria dinâmica do sistema de garantias
e das redes de proteção integral no sentido de fazer valer os direitos de
uma parcela das crianças e dos adolescentes brasileiros. (AQUINO,
2004, p. 340).
Portanto, a rede de proteção integral ao público infanto- juvenil se articulam nos
vários municípios brasileiros materializam o sistema de garantia de direitos,
conectando atores, instrumentos e espaços institucionais que atuam na atenção àquela
parcela da população no nível local (AQUINO, 2004). Contudo, Oliveira (2014) ressalta
que a proteção integral passa por dificuldades para sua efetivação, como: a
fragmentação e setorização das necessidades recortandoas em problemas sociais
“particulares”; a precarização dos serviços sociais; a falta de recursos humanos,
materiais, financeiros; mas também a falta de motivação política e comprometimento
dos atores sociais envolvidos no Sistema de Garantia de Direitos.
E para aprofundar o quanto as crianças e adolescentes negros (as) acolhidos
(as) nos serviços de acolhimento institucional ainda trazem entrelaçados em suas
histórias as marcas de um país colonizado, que se utilizou da força de trabalho
escravo, que barbarizou a população negra violentando suas mulheres, desprotegendo
seus filhos e os inferiorizando, é que no próximo capítulo, pretende analisar o
preconceito racial no processo de adoção.
• O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO
O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão. Historicamente, trouxe
efeitos negativos para o país e principalmente para a população negra. E como
consequência desse passado, a população pobre e marginalizada era
predominantemente negra, sendo que a criminalidade era vista por alguns como única
opção para a sobrevivência. Ignorando todo o contexto econômico e social, as classes
média e alta associava o negro à criminalidade, aos serviços braçais, destinados
aqueles que não tinham estudos, e à inferioridade, rotulando-os também de
preguiçosos por não alcançarem posições de destaque na sociedade. Já nos dias
atuais o legado da escravidão se perpetua, devido à segregação econômica e social. A
verdade que a pobreza no Brasil tem cor e ela é preta. (DIVINO, 2019. p.21).
Conforme CFESS (2016) podemos compreender que o racismo:
É a crença na existência de raças e sua hierarquização. É a ideia de que
há raças e de que elas são naturalmente inferiores ou superiores a
outras, em uma relação fundada na ideologia de dominação. As
características fenotípicas são utilizadas como justificativa para
atribuição de valores positivos ou negativos, atribuindo a essas
diferenças a justificativa para a inferiorização de uma raça em relação à
outra. (p.10-11).
Reafirmando a ideia do CFESS, a Lei n° 12.288, de 20 de julho de 2010 do
Estatuto da Igualdade Racial, assim define o racismo:
Discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição
ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional
ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento,
gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e
liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural
ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada (BRASIL, 2010).
Nessa perspectiva, o racismo se manifesta seja de forma explicita ou implícita
pelo sentimento de superioridade de um determinado grupo racial em relação ao outro.
[...] compreendemos que o processo de escravidão enquanto um
fenômeno historicamente determinado e datado, cuja caraterística
eliminável é o racismo moderno, que confere privilégios à classe
dominante, ancorado na supremacia branca e se organiza a partir de
uma estrutura que, pela primeira vez na historia da humanidade,
submete à escravização um grupo inteiro em virtude da sua origem ética
racial negra a partir de XVI. (EURICO, 2018, p.37).
Desse modo, no Brasil a partir de pactos internacionais na defesa dos direitos
humanos e contra o racismo. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988,
considerada com constituição cidadã, trouxe avanços na garantia dos direitos
humanos/sociais, declarado através do artigo 5º todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, já no inciso XLII, a prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
Entretanto, no Brasil há uma falsa impressão de democracia racial, que é
chamada de mito da democracia racial, devido o país ter um povo miscigenado Os
cidadãos brasileiros negarem a associação sofrida por negros e não brancos ao
preconceito ou racismo, limitando- se as desigualdades econômicas e ou diferenças de
classes, sem admissão de que haja o pensamento de uma raça superior à outra.
Idealizou- se que todos os povos e culturas vivem em harmonia, pela ausência de
ataques raciais explícitos, porém, na verdade, a exclusão dos negros na sociedade,
assim como o preconceito e a inferiorização de sua cultura e padrões éticos, são
igualmente hostilizados. (DIVINO, 2019).
O racismo está em enraizado em todas as esferas/instituições do país, sendo
um legado da escravidão na sociedade, que é o racismo
estrutural institucional, se
manifestando de forma que a sua organização e funcionamento discriminam pessoas
negras e privilegiam pessoas brancas.
Uma das expressões do racismo, também conhecido como
discriminação indireta, é o institucional. O racismo institucional está
presente em diversos espaços públicos e privados. Está nas relações de
poder instituído, expresso através de atitudes discriminatórias e de
violação de direitos. Por estar, muitas vezes, naturalizado nas práticas
cotidianas institucionais, naturaliza comportamentos e ideias
preconceituosas, contribuindo, fortemente, para a geração e/ou
manutenção das desigualdades étnico-raciais. (CFESS, 2016, p. 11).
Entretanto, ao que se refere aos aspectos do preconceito racial na adoção,
entende-se que o racismo está em enraizado historicamente na vida dos cidadãos
brasileiros, sejam de forma sutil ou explicitas, partindo desses elementos apresentando
anteriormente, quando os pretendentes para adoção se cadastram, e respondem os
critérios para adoção, muitos deles, querem adotar crianças de até 5 anos, de cor
branca, sendo que a realidade das crianças/ adolescentes em situação de acolhimento
institucional é outra. Com as restrições que são feitas pelos pretendentes em relação
as suas preferencias, onde o quesito cor tem papel fundamental na hora da escolha do
adotando, pois na hora da escolha procuram aqueles que mais se assemelham com
eles (adotantes), manifestando com essas exigências um preconceito quanto às
características raciais.
Com base nos dados de 2018 do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), geridos
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mais de 73.48% são maiores de 5 anos,
65.85% são negras ou pardas, 58.52% possuem irmãos, 25.68% tem doença ou
deficiência. Já os adotantes cadastrados, 77.99% só aceitam crianças de até 5 anos,
17% querem apenas crianças brancas, 63.27% não optam adotar aquelas que tem
doenças ou deficiência e 64.27% não estão abertos a receber irmãos.
O preconceito racial é um sentimento desprezível e deve ser combatido por
todos que atuam e defendem a diversidade e os direitos humanos. É necessária a
conscientização da realidade das crianças e adolescentes institucionalizados, sendo
importante a compreensão de que o filho ideal não existe. É preciso uma mudança na
mentalidade das pessoas, pois muitas crianças/ adolescentes esperam uma família, e
para isso importante que as barreiras dos preconceitos sejam quebradas, para que a
cor da pele deixe de ser um motivo para exclusão, sem discriminação em decorrências
dos traços raciais.
• 3.1 O perfil de crianças institucionalizadas: a realidade por trás dos números
Sabe-se que cerca de 54% da população brasileira é negra. Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), no ano de 2014 os brancos representavam
cerca de 46,6% da população enquanto os negros representavam 7,4% e os pardos
45,3%. A partir do ano de 2016 essa realidade mudou, pardos representam cerca de
46,6% da população enquanto pretos representam cerca de 8,3% da população, tendo
em vista que pardos e pretos são considerados negros, o país tem cerca de 54% da
sua população constituída por negros.
No Brasil, em 2013 cerca de 2.247 são entidades de acolhimento institucional
(abrigos e casas-lares) que atendem a 29.321 acolhidos; e 123 são serviços de
acolhimento familiar. Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no
acolhimento institucional há capacidade de atender a 45.569 crianças e adolescentes.
Através de pesquisas podemos notar que, das crianças encontradas no cadastro
de adoção, há uma predominância de crianças negras, que somam cerca de 68%,
enquanto as brancas somam cerca de 29% e as mestiças somente 3,2%.
Segundo Silveira (2005), uma das hipóteses levantadas para a compreensão do
grande número de crianças negras no cadastro da adoção diz respeito ao nível de
desigualdade social e qualidade de vida entre os brancos e os não-brancos.
Quando se discute a situação das desigualdades raciais, indicadores
como desemprego, condições dos domicílios, acesso aos serviços de
saneamento básico, renda familiar e outros, denunciam a precariedade
em que sobrevive o segmento negro, mesmo ao se levar em conta a
situação de brancos que estão nos patamares da pobreza. (SILVEIRA,
2005, p.110)
Além disso, ao serem cadastradas as crianças são denominadas como: branco,
pardo claro, pardo escuro, negro e mestiço- que seriam as crianças consideradas
amarelas ou indígenas.
A propósito, averiguou-se que, em termos raciais, o segmento infanto-
juvenil nos Juizados é incluído nas seguintes categorias: brancos, pretos,
pardos claros, pardos escuros e mestiços (crianças descendentes da
raça amarela ou índigena). (SILVEIRA, 2005, p.61).
Nota-se que o sistema de classificação está além da presunção da população,
além da busca pela descrição de cor e fenótipo. Segundo D’adesky (2001, apud
Silveira 2005, p. 106) a diversificação da cor no âmbito de classificação popular retrata
antes de tudo hierarquização, relação assimétrica e um c�ntinuum vertical, em que a
categoria branco se situa no topo e a categoria negro, embaixo.
Segundo Silveira (2005), durante o processo de adoção há uma preocupação
em encontrar crianças que se assemelhem aos seus pais adotivos, por vez, tal detalhe
de busca pode ser tão grotesco a ponto de que os agentes busquem por um
“embranquecimento” das crianças negras a fim de atingir o modelo idealizado pelos
adotantes.
3.1.1 O perfil dos adotantes e a busca pelo filho perfeito
Através de pesquisas foi possível notar que a maioria dos adotantes tem um
perfil semelhante, sendo: casais brancos ou inter-raciais, inférteis, idade entre 30 e 40
anos, classe média-baixa e 3° grau completo.
Inicialmente, indica-se que os adotantes buscam por filhos que possuam
características físicas semelhantes à dos adotantes. Acredita-se que essa busca se dá
pelo luto pela infertilidade e pelo tão desejado filho biológico que não conseguiram
gestar.
Segundo Mariano e Ferreira (2008), apud Brito e Diuana (2005), acredita-se
também que uma das motivações subjacentes a elas: adotantes que requereram seus
enteados em adoção, a fim de atribuírem a eles próprios o papel de pai, legitimarem o
papel de educador e minimizarem conflitos dentro da nova família que foi constituída.
Assim como a busca pelas características semelhantes, a busca pelo filho ideal
também se assemelha a busca pela perfeição. Segundo Silveira (2005), o ideal de um
filho está fortemente relacionado ao fator racial e à ideologia dos modelos estéticos de
beleza predominantes na sociedade brasileira.
Conforme depoimento de um dos profissionais entrevistados, vários
candidatos a pais adotivos serem questionados, os adotantes informam
que buscam um filho idealizado, de preferência que tenham suas
características, ou características melhores ainda – um
aperfeiçoamento-. (SILVEIRA, 2005, p. 114).
Em sua maioria, os adotantes buscam por um padrão inexistente, para Silveira
(2005), a busca por essa “criança ideal” é o motivo pelo qual as filas de crianças em
busca de adoção seguem crescendo, pois, as mesmas não apresentam esse ideal.
Além disso, as características raciais apresentadas pelos candidatos a adoção,
está fortemente atrelada aos julgamentos e valores aprendidos ao longo das vivências
sociais e ideias que possuem de si mesmos. Em sua maioria, os adotantes preferem
crianças brancas, ou no máximo, pardas claras.
A autora afirma também que o crescimento do número de casais negros
candidatos à adoção não interferiu no aumento de adoções de crianças negras. Para
Silveira (2005), essa exclusão acontece porque nem sempre negros são absorvidos ou
aceitos por seus próprios grupos raciais. Negros e pardos tendem a avaliar
negativamente a própria cor.
A explicação para isso vem do fato de que o negro cresce em meio a
estereótipos e padrões, envolvido na cultura branca, ele é induzido a inferiorizar seus
valores culturais e suas características, adquirindo a preferência pelo padrão estético
europeu.
Tal negação entre
sua própria etnia está fortemente ligado a teoria eugenista e a
teoria do branqueamento, que buscaram embranquecer a população durante o século
XIX.
3.2 Crianças e adolescentes nos serviços de acolhimento do Estado de São Paulo
Analisando a construção da nossa sociedade entende-se que foi através de
explorações, das desigualdades sociais e econômicas que trazem consequências e
reflexos até hoje. De acordo com Silva, citando Azevedo e Guerra (2004) as crianças e
adolescentes em sua maioria institucionalizada, estão nos centro de acolhimento
devido a diversos fatores, sejam elas relacionadas há vulnerabilidade social, pobreza
ou situação de negligência familiar ou abandono.
Buscando desvendar o fenômeno da relação entre criança, adolescente
e violência no cotidiano de famílias brasileiras, Azevedo e Guerra
referem-se às consequências da desigualdade social e da pobreza que
teriam como resultado a “produção social de crianças vitimadas pela
fome, por ausência de abrigo ou por morar em habitações precárias, por
falta de escolas, por doenças contagiosas, por inexistência de
saneamento básico. Essa situação de vulnerabilidade é denominada
vitimação de crianças, sendo que “a questão principal que consolida o
argumento da vitimação é seu caráter desencadeador da agressão física
ou sexual contra crianças, tendo em conta que a cronificação da pobreza
da família contribui para a precarização e deterioração de suas relações
afetivas e parentais. Nesse sentido, pequenos espaços, pouca ou
nenhuma privacidade, falta de alimentos e problemas econômicos
acabam gerando situações estressantes que, direta ou indiretamente,
acarretam danos ao desenvolvimento infantil”. (SILVA, aput AZEVEDO E
GUERRA, 2004, p.44).
Com base nos dados do Instituto de Geografia Estatística - IBGE (2019) no
Brasil, a população é de 210 milhões de pessoas e 68.8 milhões que tem entre 0 à 19
anos. Com isso o Conselho Nacional de Justiça – CNJ (2014) informa que o número de
crianças e adolescentes na espera de adoção é de 5.491, haja vista que é a
quantidade de pretendentes é de 31.688, isso significa que a quantidade de
pretendentes é maior do que o número de crianças institucionalizadas, pois nota-se
que a preferências e exigências dos pretendentes dificultam ainda mais o processo de
adoção.
Ainda conforme dados do Cadastro Nacional de Adoção- CNA (2020) o total de
crianças e adolescentes brancas são de 3.091 e crianças e adolescentes negros o total
é de 1.542.
Fonte: (SILVA, 2004, p.51).
Conforme Silva (2004), em relação à raça/cor, os dados do levantamento
nacional de 2003, mostra que mais de 63% das crianças e adolescentes abrigadas são
da raça negra (21% são pretos e 42% são pardos), 35% são brancos e cerca de 2%
são das raças indígena e amarela.
Neste presente trabalho faremos o recorte para o Estado de São Paulo, devido à
maior concentração de crianças institucionalizadas em São Paulo, comparado aos
demais estados do Brasil, visto que São Paulo é uma metrópole, que se faz presente
as diversas expressões da questão social.
Com base no levantamento para a cidade de São Paulo realizado em 2003 pelo
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente (NECA), com objetivo
de conhecer o perfil das instituições que abrigam crianças e adolescentes, como
funcionam e quem são as pessoas que vivem ali, nos dados colhidos foi detectado que
a cidade de São Paulo tem 190 abrigos, sendo contabilizadas 4.847 crianças e
adolescentes vivendo nesses espaços.
O Levantamento Nacional e a pesquisa na cidade de São Paulo
apontaram que a maior parte das crianças e adolescentes estava
abrigada em local distante da moradia dos familiares, inclusive em outros
municípios ou até em outros estados. A maior concentração dos abrigos
paulistanos se encontra nas zonas sul (32%) e leste (29%), onde há
maior número de distritos com índices de vulnerabilidade social. Porém,
esses distritos estão localizados especialmente na periferia dessas
regiões, onde há poucos abrigo.(OLIVEIRA, 2010, p.41).
Ainda de acordo com Oliveira (2010, p. 39), a pesquisa de São Paulo mostrou
que a menor concentração de abrigados está na faixa etária mais procurada para
adoção, de 13% têm de 0 a 3 anos, outros 13%, de 4 a 6 anos, e 74% têm entre 7 e 18
anos. Dos pesquisados, apenas 10% estavam em situação legal definida para serem
adotados e, desses, a maioria (84%) tem entre 8 e 19 anos de idade, devido a
chegarem nos serviços de acolhimento com idade avançada, são aqueles que para os
quais praticamente inexiste a possibilidade de adoção.
Conforme aponta Oliveira (2010):
Em âmbito nacional: a maioria dos abrigados é formada por meninos
(58,5%) afro-descendentes (63,6%) entre 7 e 15 anos (61,3%). E, nos
abrigos paulistanos, 44% dos meninos e meninas são brancos, 37%
pardos e 15% negros. Portanto, a etnia negra predomina (52% do total).
(p.39).
Portanto, o estudo do NECA (2003) ressalta que o abandono de crianças e
adolescente se da por motivos relacionados ao abandono e/ou negligência dos pais ou
responsáveis 22,3%, violência doméstica 10,3%, problemas relacionados à saúde, à
situação financeira precária, à falta de trabalho e de moradia da população 18,8%, uso
de drogas e álcool por parte dos familiares 9,8%.
Os dados revelam que os motivos mais citados para o abrigamento
estão ligados, direta ou indiretamente, à pobreza: abandono e/ ou
negligência, problemas relacionados à saúde e às condições sociais,
violência física intrafamiliar e dependência química dos pais. Mas é
preciso ter clareza de que, embora a pobreza seja uma constante nas
histórias das crianças e dos adolescentes que vivem nos abrigos, ela
não pode, por si só, justificar ou explicar toda situação de abrigamento.
(OLIVEIRA, 2010, p.38).
Já o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada- IPEA (2004) relata que a
pobreza atinge em maior proporção à população negra e parda, se comparada às
pessoas de cor branca.
Apesar de São Paulo ser uma capital considerada a mais rica do Brasil,
oferecendo serviços para outros estados do Brasil e até mesmo para o exterior, a
distribuição de renda é desigual, e essa desigualdade é muito presente, tendo muitas
pessoas ainda vivendo em situação de pobreza extrema. Consequentemente, entende-
se que a pobreza trás para as famílias mais vulneráveis e para as crianças e
adolescentes drásticas problemáticas que podem afetar a vidas das mesmas.
3.3 A contribuição do Serviço Social no combate ao preconceito na adoção inter-racial
O assistente social é um profissional que atua nas expressões da questão social,
tendo como base a Lei que regulamenta a profissão 8.662 de 7 de junho de 1993, e o
Código de Ética, que norteiam o fazer profissional.
Entendendo essa questão, o assistente social deve exercer seu papel na defesa
intransigente dos direitos humanos, na emancipação humana, e no combate a qualquer
forma de preconceito, seja de qualquer natureza, classe social, cor da pele, gênero
sexual, idade, crença religiosa, valores culturais, enfim. E se tratando do racismo no
Brasil, por ser um país historicamente formado pela miscigenação, e mesmo assim, o
preconceito em relação à cor ainda se faz presente na sociedade, o Conselho Federal
de Serviço Social (CFESS, 2016) em relação ao compromisso da categoria no combate
ao racismo pontua que:
É no âmbito da defesa de direitos que a/o profissional de Serviço Social
é convocada/o a intervir. E nesse terreno arenoso da intervenção,
constituído de tensões e contradições, o/a assistente social se defrontará
com os limites e possibilidades de garantir direitos nos marcos da
sociedade de classes. Nesse sentido, faz-se necessária a apreensão
crítica acerca dessa realidade e a apropriação de conhecimentos sobre o
fenômeno do racismo e de suas diversas expressões na vida social.
Esse processo contribuirá para o fortalecimento do projeto ético-politico
profissional, sobretudo no que tange à sua direção política, que busca
construir outra sociabilidade, com valores emancipatórios, cujas relações
humanas sejam livres de qualquer exploração,
opressão e discriminação
de classe, racial e patriarcal. (p. 16).
•
Trazendo essa questão do preconceito racial na adoção inter- racial, no campo
de Serviço Social, ainda é bastante novo, fato que dificulta uma intervenção efetiva
junto aos casos que exigem uma atuação profissional especializada. Embora a questão
da discriminação racial seja um tema que, atualmente, vem se destacando em nível
nacional e internacional, a problemática específica da adoção inter-racial ainda é pouco
explorada, sendo pouquíssimos os pesquisadores que se dispuseram a estudá-la,
vindo a distorcer algumas concepções sobre o assunto, conforme aponta Rufino
(2016).
Ainda conforme a autora:
Essa necessidade exige que o profissional deixe claro em suas
intervenções que as conquistas não devem ocorrer apenas por uma
questão de sobrevivência, mas, acima de tudo, que desenvolva ações
que visem à conscientização de que todos os cidadãos
afrodescendentes – e aqui damos destaque às particularidades
presentes nos procedimentos de adoção que tem contribuído para a
discriminação racial, onde crianças negras têm sido preteridas por não
se encaixarem nos padrões de beleza vigentes no imaginário social -
merecem lutar por seus espaços, não de maneira desigual como
usualmente ocorre, para conseguir a igualdade de deveres e direitos em
relação à outras etnias. (RUFINO, 2016, p.161).
Nessa perspectiva Rufino (2016) salienta ainda que é necessário o rompimento
dos modelos de tradicionais de família, e para isso os profissionais que lidam com a
questão da adoção, tragam para o centro do debate a adoção inter- racial, nas áreas
da criança e do adolescente, não por esta ser uma solução para os problemas de
abandono de crianças afrodescendentes excluídas e abandonadas no país, pois esta é
uma questão estrutural e que, portanto, requer medidas de natureza política,
econômica e social, visando o seu efetivo enfrentamento e combate.
A participação dos assistentes sociais neste debate, então, se faz
pertinente à medida que evoca a explicitação dos limites, entraves,
equívocos, mitos e preconceitos que permeiam a adoção inter-racial, e
adota uma postura pró-adoção inter-racial, pois somente desta forma,
será possível superá-los e criar novas bases para formação de uma nova
cultura da adoção, eliminando idealizações, medos, inseguranças e
constrangimentos, para que se criem elementos favoráveis a sua
concretização. E é primando pela efetivação do compromisso ético e
político da profissão, que o assistente social, ao trabalhar com a temática
da adoção, especificamente a inter-racial, poderá realmente objetivar a
construção de melhores condições, de termos uma forma de vivência
afetiva e igualitária para todas as crianças em suas famílias, seja
biológica ou adotiva, racial ou multirracial. É por estas e outras muitas
preocupações que acometem as famílias adotantes de crianças
afrodescendentes, que se faz bastante prudente, que tais famílias sejam
apoiadas acompanhadas e preparadas pelos profissionais de Serviço
Social, não para que se tornem bons pais e boas mães, mas para que se
fortaleçam e se tornem mais seguros em relação a esse ato, para que
conseqüentemente tenham condições e subsídios para o enfrentamento
das futuras e previsíveis reações que a adoção inter-racial provoca nas
pessoas. (RUFINO, 2016, p.163).
Portanto, para Rufino (2016) assim caminha a humanidade, com os seus
diversos avanços e retrocessos, atendendo a interesses de todos os âmbitos,
conciliando e mediando ações com o objetivo primordial de encontrar apenas um lugar
ao sol. E, é exatamente desta forma, que os assistentes sociais devem caminhar em
prol da adoção inter-racial, acreditando na possibilidade de constituição de uma família
multirracial, com a convivência, através do diálogo, do encontro com o novo, da
reciprocidade, que faz uso da celebração das diferenças, como um elo que une todas
elas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Unir os temas racismo e adoção no presente trabalho teve como objetivo
demonstrar a maneira como o racismo se manifesta em todas as esferas da sociedade.
A intenção da temática escolhida foi demonstrar as expectativas na busca pelo filho
perfeito e como, na maioria das vezes, ela não se encaixa com a realidade
apresentada.
Retratar o racismo no âmbito da adoção demonstrou como o negro ainda é
reconhecido como inferior, julgado e discriminado unicamente por sua raça.
A complexidade desse trabalho, não permitiu –e nem se quer buscou- o fim do
preconceito racial no processo de adoção, mesmo que o fim da escravidão tenha
ocorrido há 132 anos, ainda é possível vivenciar as correntes que ainda não foram
quebradas. Ainda assim, fora possível concluir que de alguns anos para cá, a cor está
deixando de ser tão importante durante o processo de adoção, mas ainda não é o
suficiente para esgotar as filas de crianças disponíveis e de pais pretendentes.
Dada à importância do assunto, torna-se necessário reconhecer o problema e
atuar para diminui-lo de maneira eficaz. O assistente social, por sua vez, deve exercer
seu papel na defesa intransigente dos direitos humanos, na emancipação humana, e
no combate a qualquer forma de preconceito. Para o assistente social tal campo ainda
é novidade, mas a busca pela solução é diária.
É inegável que a burocracia do sistema jurídico de adoção torna o processo
mais lento e maçante, mas fechar os olhos para a maneira como o racismo enraizado
em nossa sociedade influencie para que os pretendentes à adoção idealizem laços de
afeto baseado na cor da pele.
Por fim, reconhecemos que cada clamor contra o racismo vem abalando as
estruturas da sociedade, fazendo com que caminhemos para o fim do preconceito
racial. É importante ressaltar que ainda estamos longe de extinguir o racismo, e
alcançar esse ideal, implica em um combate diário, onde cada passo se torna
importante.
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adolescentes negras1 no Brasil.
Busca-se neste trabalho analisar e compreender o perfil dessas crianças e
adolescentes, e as causas que as levam a estarem na fila de espera para receber uma
família, bem como análise do perfil dos pretendentes para adoção.
Escolhemos esse tema através da sugestão da Thayna em que a mesma foi a
um Simpósio do dia nacional da adoção realizado pelo Grupo de Apoio e Incentivo á
Adoção- GAIA, em Embu das Artes, em que abordava questões referentes a crianças e
adolescentes em serviços de acolhimento institucional, denominados anteriormente
como “abrigos”, a realidade em que vivem, e o preconceito acerca da adoção. Diante
dos elementos apresentados pela integrante do grupo, concordamos em realizar esta
pesquisa, por ser um tema relevante e necessário, e direcionamos nossa pesquisa no
preconceito racial no processo de adoção, pois sabemos que a desigualdade entre
brancos e negros, é real e esse preconceito racial se entende em várias esferas da
sociedade.
Segundo os dados do Conselho Nacional de Justiça (2019), há muitas restrições
por parte dos adotantes que dificultam e ocasionam a lentidão, pois o quesito cor tem
papel fundamental neste processo. Conforme registrado no Cadastro Nacional de
Adoção, há uma discrepância entre a pretensão dos adotantes e a realidade dessas
crianças e adolescentes, pois conta que 65,85% delas são negras ou pardas. Pois
infelizmente a maior parte dessas crianças e adolescentes que esperam ser adotados
não atende ao “perfil desejado” pelos pretendentes.
____________________________
1 Usaremos nesse referido trabalho o termo negro, pois Movimento Negro, não reconhece a categoria
pardos, considerado negros e pardos como única categoria de análise. Portanto, a partir desse
momento, usaremos apenas o termo negro.
Conforme ressalta Daflon (2014, p. 42), em consonância com essa crítica, rejeita a categoria parda,
assim como categorias análogas como moreno e mulato, adotando negro ou afrodescendente como as
únicas categorias étnico-raciais válida.
Neste contexto, para aprofundar o objetivo da pesquisa, o referido TCC, divide-
se em três capítulos, considerando que no Capítulo 1, abordaremos a historicidade do
abandono de crianças no Brasil, a rodas dos expostos como primeira instituição de
acolhimento que foi durante muito tempo a única alternativa de abrigo para crianças e
adolescentes abandonados na época, abordaremos também sobre o conceito de
família na era colonial e contemporânea, entendendo que família sempre foi pensada
como uma instituição que moldou os padrões da colonização e ditaram normas e
condutas das relações sociais desde os tempos primórdios, as questões do conceito de
famílias e as novas configurações da família, o impacto da escravidão e a teoria da
eugenia que causou graves consequências para o negro perante a sociedade, e a
representatividade do negro que historicamente é marcada pelo preconceito,
discriminação racial, considerada como inferior, pois o branco sempre foi enaltecido
perante a sociedade, portanto o negro ainda atualmente sofre consequência dos frutos
de um processo de escravidão.
Já no Capítulo 2, abordaremos sobre o serviço de acolhimento institucional, qual
órgão que regulamenta, bem como, as políticas que estão inseridas nesses serviços,
abordaremos o surgimento da Fundação Estatual para o Bem Estar do Menor (FEBEM)
e Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM), o Código de Menores, bem
como, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como um marco na busca pela
efetivação de políticas públicas para garantir direitos à saúde, liberdade, respeito e
dignidade as crianças e adolescentes brasileiros, traremos também sobre o que é e
qual a importância à rede de proteção integral.
Entretanto, no Capítulo 3, traremos reflexões sobre o racismo, e como o
contexto histórico no Brasil, trouxe efeitos negativos para o país e principalmente para
população negra. Neste capítulo apresentaremos o recorte do trabalho, sendo as
crianças e adolescentes no serviço de acolhimento no Estado de São Paulo, devido a
São Paulo ser um dos estados que mais tem crianças e adolescentes
institucionalizadas, e mesmo sendo uma metrópole, a desigualdade social, e os
reflexos da questão social se faz presente neste estado. Abordaremos também a
questão do perfil dessas crianças acolhidas, em qual contexto de vida são levadas para
os abrigos, ou seja, quais motivações levam os pais a abandonarem seus filhos. Qual
perfil dos pretendentes que estão na fila de espera para adoção e quais motivações
levam esses pretendentes a adotarem. Por que a há essa contradição, de o número de
pretendentes para adotar é maior que o número de crianças acolhidas, o que leva o
preconceito racial na adoção? Quais questões são consideradas ao se adotar? Por que
a uma preferência em adotar uma criança de cor branca? Essas perguntas serão
esclarecidas nesse capítulo.
Sabemos que apesar dos avanços e a luta pela igualdade racial, o preconceito
racial na sociedade brasileira infelizmente ainda é presente, uma vez que, há uma falsa
democracia racial e esse preconceito em muitos casos é velado.
É necessário trazer a tona a discussão crítica para a sociedade referente à
realidade das crianças e adolescentes que estão à espera de uma família, sendo elas
na maioria negras, portanto este trabalho tem como relevância social a quebra de
paradigmas e preconceitos, pois elas merecem um lar, independente de sua cor.
• A HISTORICIDADE DO ABANDONO DE CRIANÇAS NO BRASIL
Nesse presente capítulo, busca-se compreender a questão histórica da
institucionalização das crianças no Brasil, e as razões da predominação das crianças
de cor negra serem a maioria que compõem essas instituições de acolhimento.
Na época colonial, nota-se que uns dos motivos do abandono de crianças se
dava pelo viés religioso, ou seja, por serem geradas fora da moral cristã, pois os bebês
concebidos fora do casamento, ou de moças solteiras e brancas, de família de classe
alta, eram enjeitados, porém em sua maior proporção de abandono era de crianças
pobres, e órfãs. Essas crianças eram abandonadas nas ruas, terrenos baldios, e nas
portas das igrejas.
De acordo com Constantino (2000), a visão que se tinha das crianças pobres e
desvalidas no período do Brasil colonial e na primeira República estava relacionada
com a ideia de delinquência e criminalidade.
É a partir desta data (1930) que o Estado pressionado tanto pela atuação
dos setores privados, como também principalmente com as mudanças
no contexto político, social e econômico provocadas pelo capitalismo em
expansão nos países, começa a se encarregar da assistência.
(CONSTANTINO, 2000, p. 44).
Conforme aponta a autora, no final do século XIX e nas primeiras décadas do
século XX, se inicia uma verdadeira ruptura no sistema pré-capitalista de produção,
como fruto da reorganização da economia cafeeira, antes baseada na mão de obra
escrava. Com a vinda dos imigrantes estrangeiros para substituir os escravos na força
de trabalho, e as relações de trabalho se modificam em virtude da crescente oferta de
mão de obra, agora assalariada.
Ainda segundo a autora, em decorrência desse tipo de desenvolvimento,
grandes transformações aconteceram nas principais cidades brasileiras. A expansão
industrial e a urbanização aumentam significativamente a taxa populacional urbana,
causando a formação de extenso segmento populacional urbana que necessitava,
agora, lutar pela sobrevivência, por meio da venda de sua força de trabalho.
O crescimento da pobreza, da violência e a diminuição da qualidade de
vida são questões que assumiram maior dimensão, sobretudo nas
últimas décadas do século XX. E não surgiram como resultado de uma
conjuntura especifica, mas sim de fenômenos sociais produzidos e
reproduzidos historicamente, exacerbados na sociedade moderna em
decorrência das profundas transformações do capitalismo e do ideário
neoliberal. Os efeitos relativos aos avanços tecnológicos no campo do
trabalho e ao modo de acumulação de capital, aliado ao agravamento
da
crise econômica, política e social, acabaram por atingir não só a classe
trabalhadora, mas também outros contingentes populacionais.
(SILVEIRA, 2005, p. 25).
Diante desse cenário da época, houve um aumento da vulnerabilidade social2
das classes exploradas, agravando sérios problemas sociais, os quais o Estado não
conseguiu trazer respostas efetivas para a questão, negligenciando e se isentando do
seu papel de Estado, passando a responsabilidade para iniciativas filantrópicas.
Para fazer face os problemas oriundos do progresso aumento das
condições da miséria das classes subalternas, o Estado, por não dispor
de um serviço social organizado, faz uma série de acordos junto às
casas particulares de assistência, fornecendo-lhes verbas para o
funcionamento. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo, que contava entre outros, com serviço para o
abrigo de crianças, por meio da Roda dos Expostos. (CONSTANTINO,
2000, p.44).
A roda dos expostos foi à primeira iniciativa de acolhimento para as crianças
abandonadas no Brasil, sendo na época colonial a primeira forma de
institucionalização.
Conforme descreve a autora Maria Luiza Marcilio (1997) a roda dos expostos foi
uma das instituições brasileira de vida mais longa, sobrevivendo aos três grandes
regimes da História. Criada na Colônia perpassou e multiplicou-se no período imperial,
conseguiu manter-se durante República e só foi extinta definitivamente na recente
década de 1950. O Brasil foi o último país a abolir em 1988 a chaga da escravidão, e o
triste sistema da roda dos enjeitados.
De início, atuando como agente de apoio e fiscalizador das entidades
filantrópicas religiosas ou leigas, o Estado gradualmente se apropria da
questão da assistência sem, contudo, apresentar, uma mudança de
enfoque do problema, ou seja, continua a considerar os indivíduos como
causa da própria condição de pobreza e organização social que separa
os homens em classes. Como consequência, o problema da
_____________________________
2A vulnerabilidade passa a ser compreendida a partir da exposição a riscos de diferentes naturezas,
sejam eles econômicos, culturais ou sociais, que colocam diferentes desafios para seu enfrentamento
(VIGNOLI, 2001; CAMARANO; et al., 2004).
infância pobre e desemparada era visto como um caso de polícia e
repressão e não como uma questão de assistência e proteção.
(CONSTANTINO, 2000, p. 45).
As crianças eram acolhidas pela Santa Casa de Misericórdia, de forma anônima,
e as mães colocaram as crianças na roda. A roda dos expostos tinha uma atuação
assistencialista e filantrópica ligado à Igreja Católica, que deveria garantir a
sobrevivência dos ejetados e ocultar a identidade da mãe que abandonasse o bebê.
O nome roda [dos expostos] provém do dispositivo onde se colocavam os bebês
que se queriam abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória,
era fixada no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro inferior e em sua abertura
externa, o expositor depositava a criancinha que enjeitava. A seguir, ele girava a roda e
a criança já estava do outro lado do muro. Puxava-se uma cordinha com uma sineta,
para avisar a vigilante ou rodeira que um bebê acabava de ser abandonado e o
expositor furtivamente retirava-se do local, sem ser identificado (MARCÍLIO, 1997,
p.55), conforme observa-se na Figura 1, a seguir.
Figura 1- Roda dos Expostos
Fonte: Imagem adaptada. (BAPTISTA, 2006, p.29).
As crianças atendidas pela Santa Casa de Misericórdia eram encaminhadas ao
batismo e seriam registradas, depois receberiam os primeiros cuidados, sendo
encaminhadas para as amas-de-leite3.
Era comum também que as crianças que eram encontradas abandonadas que
não recebiam proteção devida pela Câmara ou pela roda dos expostos acabavam
sendo acolhidas em famílias que as criavam por dever de caridade ou por compaixão.
A prática de criar filhos alheios sempre, e em todos os tempos foi amplamente
difundida e aceita no Brasil. São inclusive raras as famílias brasileiras que, mesmo
antes de existir o Estatuto da Adoção, não possuíam um filho de criação em seu seio,
conforme afirma Freitas (2003, p. 70).
Existia nessa época, uma prática de adoção conhecida como à moda brasileira,
que consistia na entrega de crianças, pelos pais biológicos, para que outras pessoas
criassem, de modo que conseguiam registrar a criança como se fosse filho (a)
biológico. Porém, muitas dessas crianças não eram tratadas como filhos (as), ou havia
um sentimento de afeto, ao contrário, usavam essas crianças para exploração da mão
de obra, através da realização de vários tipos de trabalho.
Em notícias publicadas no início do século XX, O Estado de S. Paulo
ilustra claramente a tendência a considerar o trabalho como redentor da
infância e da adolescência abandonadas, desamparadas, imersas na
vadiagem, na delinquência, na criminalidade. Ilustra, também, a
tendência a fazer do abandono, do desamparo, da delinquência e da
criminalidade infanto juvenis, uma justificativa louvável para a exploração
da capacidade produtiva da infância e da adolescência. (MOURA, 1999,
p.261).
Cabe ressaltar que a primeira roda foi aberta na Santa Casa de Misericórdia em
Salvador, no ano de 1726. Ainda no período colonial, uma segunda e última roda é
estabelecida em Recife. Mesmo, após a independência do Brasil, essas rodas
continuaram a funcionar. Em 1825, uma outra roda é instalada na Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo. (PASSETI, s/a, p. 10).
No entanto, havia na Santa Casa, um alto índice de mortalidade4, devido a
vários fatores, como a falta de cuidados necessários, capacitação dos funcionários
para cuidar dos bebês e das crianças, higienização, má alimentação, falta de recursos
financeiros etc. Devido a isso, com o passar do tempo às rodas dos expostos no Brasil
começaram a ser fechadas, pois passaram a serem consideradas contrárias aos
interesses do Estado, as rodas começam a receber críticas de médicos higienistas, que
viam esta forma de assistencialismo como responsável pelas mortes prematuras de
crianças (PASSETI, s/a, p. 11).
Portanto com as instituições fechadas o que restava para as crianças era
mendigarem nas ruas, passando a ser vistas como marginais, e para conter esse
problema social da época, foi necessário que o Estado tomasse providências cabíveis.
Mobilizando-se de forma a organizar a assistência com as novas exigências sociais,
políticas, econômicas e morais.
Segundo Neto (2000, p. 110) desta forma, caberia ao Estado implantar uma
política de proteção e assistência à criança, a qual foi estabelecida por meio do Decreto
16.272, de novembro de 19235. Consequentemente, a criança deveria ter seus
cuidados higiênicos, saúde e educação atendidas, buscando a reintegração da criança
na sociedade.
Nesse período, surgiu o termo men�r, associado às crianças pobres, em
situação de abandonado e marginalidade, sendo que o termo “menor” apresenta um
sentido de cunho negativo. Portanto, a terminologia men�r não está ligado ao fator da
idade, mas sim estava relacionada as questões sociais e econômicas, já o termo
criança era para dar referência aos filhos de família consideradas adequadas na
época, quanto ao nível social e econômico.
A partir dos autores apresentados até o momento, podemos supor que
historicamente na sociedade brasileira, as crianças e adolescentes negros e pobres
começam a ter sua trajetória marcadas por estes estigmas, considerando que
atualmente os (as) acolhidos (as) dos serviços de acolhimentos são em sua maioria as
crianças negras e pobres, conforme discorremos ainda neste capítulo.
Portanto, no sistema da roda dos expostos, em sua totalidade, predominava as
crianças pobres e negras, pois o abandono dessas crianças era marcado pelo
isolamento econômico e sociocultural do negro e do mulato no meio urbano
acarretando a miséria social econômica desse sujeito (SILVEIRA, 2005).
_____________________________
³ De acordo com o dicionário Houaiss (2009) o termo amas de leite referiam-se as mulheres que
amantavam crianças alheias;
ama de leite, criadeira.
4 Nessa longa trajetória de circulação, por não haver fiscalização dos administradores das Santas Casas
de Misericórdia, muitas crianças morriam por maus-tratos ou por descuido das amas mercenárias que,
motivadas pelo salário que recebiam, mesmo este sendo ínfimo, traziam para seus cuidados mais de
uma criança, não conseguindo cuidar de todas devidamente. Para se ter uma ideia, Marcílio (1998)
destaca que há registros históricos de amas mercenárias que, em menos de dois meses tomaram três
bebês da Roda para criar, pois assim que um falecia, iam logo buscar outro para substituir o primeiro.
Cabe analisar, que a palavra men�r começou a ser utilizada no final do século
XIX e início do século XX. A terminologia, no Brasil, aparecia constantemente no
vocabulário jurídico a partir de 1920. A palavra passou a referir e indicar a criança em
relação à situação de abandono e marginalidade, além de definir sua condição civil e
jurídica e os direitos que lhe correspondem. (LONDONO, 1996).
Referente aos marcos importantes entre o período de 1889 a 1985 cabe
ressaltar que o Estado teve objetivo de controle em relação à institucionalização da
infância no Brasil. Nessa contextualização histórica da infância no Brasil, abrange: a
República Velha os marcos legais e normatizações (1889-1930); autoritarismo
populista e o serviço de assistência ao menor- SAM (1930-1945); democracia
populista (1945- 1964) ; e a ditadura militar e criação da Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor (1964- 1985).
Conforme análise do quadro abaixo dos autores PEREZ, José Roberto Rus;
PASSONE, Eric Ferdinando (p. 652, 2010).
Fonte: PEREZ, José Roberto Rus; PASSONE, Eric Ferdinando. Políticas sociais de atendimento às
crianças e aos adolescentes no Brasil. Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, maio/ago. 2010 Disponível
em: . Acessado em
21 de março de 2020.
Nota-se então, que historicamente na sociedade brasileira, o início de “proteção”
a criança se deu a partir da roda dos expostos, na qual observamos não se caracterizar
como uma política pública de responsabilidade do Estado, mas como um tempo o
Estado, é pressionado devido às transformações sociais, econômicas e políticas, a
intervir nesta questão, através da implantação de instituições estatais, conforme
aprofundaremos no próximo capítulo.
1.1 O conceito de família na era colonial e contemporânea
Ao analisar a evolução do conceito de família, em nosso país, é necessário,
fazer uma reflexão histórica sucinta do que seja família, desde os primórdios do
período colonial até nos dias atuais.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742010000200017
Entende-se que a família sempre foi pensada na história do Brasil como a
instituição que moldou os padrões da colonização e ditou as normas de conduta e de
relações sociais desde o período colonial. (SAMARA, 2002).
Sem dúvidas, o perfil predominado se dava pelo modelo patriarcal, em que a
figura do homem era o responsável por cuidar da sua família e do sustento, através do
trabalho, já a mulher era submissa, tendo responsabilidade de servir e dar herdeiros ao
marido. Esse modelo funcionou como critério e medida de valor para entendermos a
vida familiar brasileira ao logo dos tempos.
No processo de formação de família, o Brasil colonial que foi de 1500 a 1822,
sendo a primeira fase embrionária da futura nação brasileira, que possibilitou a
chegada das primeiras famílias a nosso país, que contou com o apoio da Igreja
Católica, para impor a moralidade pública na constituição das famílias. Nesse período
colonial com a chegada da família imperial no país para explorar a terra, ao se deparar
como os índios que tinham uma forma organizada de família com suas tribos, o intuito
dos europeus era a escravização desses povos, porém muitas tribos resistiram,
levando a confrontos e mortes.
_____________________________
5 No ano de 1923, através do decreto 16.272, foi criado no Distrito Federal um Juiz Privativo de Menores,
que tinha a função de fornecer assistência, proteção, defesa, processo e julgamento dos menores
abandonados e delinquentes (Decreto 16.272, art. 37.º, 1923).
O branco colonizador, ao chegar, aqui encontrou de um modo geral a
hostilidade do gentio da terra, que também tinha as suas famílias,
organizadas em tribos ou nações indígenas, e que muito resistiu para
não ser escravizado. Em certas regiões foram dizimados pelos colonos e
em outras dizimaram a tentativa de implantação de assentamentos de
colonos. (OLIVEIRA, 2004, p.50).
Conforme ressalta Oliveira (2004, p. 50) pela resistência dos povos indígenas ao
trabalho forçado, houve a necessidade do reino português autorizar a entrada dos
negros vindos da África, como escravos, e assim, possibilitou no Brasil colônia, a
constituição de uma terceira modalidade (1-brancos, 2- índios e 3-negros) de famílias,
sendo essa de famílias negras.
Como consequência, nesse período deu-se início a novos padrões de família
através da miscigenação das raças, pois os brancos começaram a se amasiarem com
as mulheres negras, principalmente os senhores de terras e engenho.
O que era inevitável acabou acontecendo à mistura do branco, do índio e
do negro, dando origem a uma miscigenação em grande escala em
nosso período colonial, principalmente, levando-se em conta que a maior
parte da população era constituída de homens solteiros ou
desacompanhada de sua mulher, que vinham aventurar, na Colônia, na
busca da riqueza fácil. (OLIVEIRA, 2004, p. 50).
Ainda conforme aponta o autor:
Portanto, em nossa colônia, claramente se percebia que a miscigenação
das raças branca, negra e vermelha (ameríndia), acabou acontecendo
quase que por um processo natural e que contava com um oposição
ostensiva por parte da Igreja Católica, que via nisso um pecado e uma
ilegalidade, pois não havia permissão do poder reinol para tais uniões.
Apenas a título de ilustração, tem-se que a sociedade colonial tolerava a
descendência dos brancos com as índias, pois ela não comprometia a
transmissão do “sangue bom” dos reinóis, fato que não ocorria com a
miscigenação dos brancos com os negros e destes com os indígenas.
(OLIVEIRA, 2004, p. 50).
No período colonial, as famílias com origem europeia tinham, por costume,
formar famílias, de acordo com as diretrizes da Igreja Católica, com as normas
reguladoras do casamento que seguiam os ditames do Concílio de Trento de 1563 e
das Constituições do Arcebispo da Bahia6.
Tem-se que durante o Período Colonial e o Período Imperial, a
constituição das famílias, sob o aspecto legal, somente ocorria, através
do casamento católico e a desconstituição dessas uniões, somente
ocorria por intermédio do divórcio a não vínculo, que na verdade,
correspondia a uma separação de corpos e a divisão do patrimônio,
porém, nesses dois períodos, não se permitia o rompimento do vínculo
matrimonial. Assim, a legislação religiosa e também a legislação que se
tentou editar em tal período, sempre eram voltadas para a
impossibilidade da não dissolução do vínculo matrimonial. (OLIVEIRA,
2004, p.50).
Ao passar dos anos em com a promulgação da Carta Magna, a Código Civil de
1916, o Estado reconhecida a família através dos laços matrimoniais do casamento.
Porém com ascensão das políticas públicas, através da Constituição Federal de 1988,
houve grandes avanços no que diz respeito às novas configurações de família,
refletidos no direito de famílias.
Em suma, pode-se concluir que a família, no antigo Código de 1916, era
fundada sob o aspecto matrimonializado, patriarcal, hierarquizado,
heteroparental, biológico, como função de produção e reprodução e
caráter institucional; esse quadro reverteu-se com a Lex Fundamentallis
de 1988, refletindo também no Código Civil de 2002, tornando-se
pluralizada, democrática, igualitária substancialmente, hétero ou
homoparental, biológica ou socioafetiva, com unidade socioafetiva e
caráter instrumental. (NORONHA e PARRON, 2017 p. 7).
No que tange os aspectos
da evolução do conceito de família, sob a perspectiva
da sociedade brasileira, considerando que foi um país colonizado e desde a inserção
da família imperial no Brasil que trouxe novos costumes de vidas para os povos
indígenas, e após, a vinda dos negros escravos, sendo inevitável a mistura de raças,
conceituado como miscigenação. Ao passar dos anos foi sendo criando novas
configurações de família, através do fruto das misturas de raças e culturas, porém por
longos anos o conceito estava atrelado ao casamento, mas com o passar dos tempos
foi se originando novas adaptações de família, o que não poderia ser ignorado pelo
Estado, fazendo-se necessário o reconhecimento e garantia a sua proteção, que antes
era reconhecido pelo casamento e devido aos avanços é reconhecido o conceito de
família através da efetividade, sendo todos dignos de proteção do Estado.
_____________________________
6 Soares, NORONHA, Maressa Maelly Soares. PARRON, Stênio Ferreira. A evolução do conceito de
família Disponível em: . Acessado
em 10 de abril de 2020
• A transformação do conceito família
A origem do conceito família está expressamente ligada à evolução da
sociedade e suas necessidades. A família surgiu como um fenômeno natural, criado da
necessidade do ser humano de afeto e de estabelecer e manter relações estáveis.
(NORONHA; PARRON, 2017, p. 18).
O modelo antigo reconhecido como família, era o patriarcal, patrimonial e
matrimonial. Onde o homem era a figura do “chefe de família”, era o líder, o centro do
grupo familiar e responsável pela tomada das decisões que deveriam ser seguidas por
todos os outros membros.
Sabe-se também que, a ideia de família é matrimonial e imperialista, ou seja, os
casamentos não eram feitos por afinidade ou feição, mas sim, por interesses de poder
e patrimônio, como destacam Silva e Ribeiro (2017):
[...] A ideia de família patrimonial e imperialista, prova disso estar no fato
de que família era constituída unicamente pelo casamento, união entre o
homem e a mulher. Pois, até pouco tempo atrás, o seio familiar era
patriarca, com domínio exclusivo do marido sobre a mulher, que parecia
um ser criado para cuidar do lar. (SILVA, RIBEITO, 2017, p. 14 e 15).
http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170602115104.pdf
A constituição da família era conhecida somente pelo casamento, não existia a
ideia de união estável ou demais arranjos familiares conhecidos hoje. Manter o poder e
as aparências era tão importante, que a ideia de divórcio não poderia jamais ser
cogitada, a felicidade e a liberdade dos membros era deixado como segundo plano.
O Código Civil de 1916 ligava o conceito família com dois pontos fundamentais:
o matrimônio e consanguinidade entendia o casamento entre homem e mulher, não
permitindo o divórcio, mas não de forma definida.
Com as mudanças na história de evolução da sociedade, fez-se necessário que
os arranjos de família mudassem também, segundo Silva e Ribeiro (2017).
A família passou por muitas transformações ao longo do tempo. Antes o
conceito de família formada pelo pai, pela mãe e pelos filhos, mas devido
a mudanças que ocorreram na sociedade esse conceito foi se
abrangendo e com isso foram surgindo outros tipos de famílias e aceito
pela legislação e garantida a sua proteção e respeito. Devido a essas
mudanças ocorridas na sociedade o conceito de família não se baseia
mais em uma visão apenas de reprodução, mas sim de valorização e
respeito à afetividade humana. (SILVA, RIBEIRO, 2017, p. 20).
A partir daí o modelo de família tornou-se mais democrático, e deixou de ser
vista como uma instituição. Tal avanço considerável nos modelos de família tem como
um de seus maiores responsáveis o princípio da dignidade humana, que visa maior
proteção à pessoa, sua liberdade e felicidade.
Portanto, é notável que a ideia de família já evoluiu consideravelmente, trazendo
diferentes modelos como a homoafetiva7, monoparental8 e entre outras e pode-se
confirmar que os avanços obtidos na atualidade tem como parâmetro os movimentos
sociais e as transformações na constituição da sociedade brasileira, que além de
contribuírem com tais avanços na ideia de formação de família, contribuiu também para
avanços no processo de adoção no país.
No entanto, ao discutir as transformações da família, é importante não perdemos
de vista a sua relação de família, raça e eugenia na sociedade brasileira, uma vez que
a população negra configura-se marcada pela teoria eugenista, implicando ainda mais
nas crianças e adolescentes negros (as) acolhidos (as).
1.2 O negro e a teoria da eugenia no Brasil
Para entender a atual configuração da sociedade brasileira, é necessário
compreendemos que o território denominado “Brasil” é fruto da invasã� e da
expl�raçã� da f�rça de trabalh� da p�pulaçã� negra, ou seja, a nossa sociedade é
marcada não apenas pela barbárie ocorrida ao povo originário (indígenas), mas
também da população negra.
____________________________
7 É uma relação baseada no afeto entre pessoas do mesmo sexo.
8 Ocorre quando a família é constituída pela adoção, em que um indivíduo solteiro (independentemente
de sexo) adota uma criança, constituindo um núcleo familiar, ou por superveniente, quando se origina da
de um núcleo parental composto por duas pessoas, mas que sofre os efeitos da morte, separação de
fato ou divórcio.
Nesse contexto o Brasil no século XVI passou por um processo escravista. A
colônia portuguesa traziam homens, mulheres e crianças negras para serem vendidas
como escravos para comerciantes. Os navios negreiros trazidos em péssimas
condições (desumanas), quando chegavam ao Brasil eram levados para as fazendas
obrigando-os a trabalharem de sol a sol.
Empilhados nos porões, recebendo parcas rações de comida e de água,
era natural que o morticínio fosse acentuado. Perdia-se, invariavelmente,
10% da carga, na melhor das hipóteses, e casos houve em que morreu a
metade dos indivíduos transportados. Amontoados no porão, quando o
navio jogava, a massa de corpos negros agitava-se como um
formigueiro, para beber um pouco desse ar lúgubre que se escoava pela
estilha gradeada de ferro. (MACEDO, apud. MARTINS, 1974, p. 29).
Os senhores de engenho utilizavam a mão de obra das mulheres para tarefas
domésticas como: lavar, cuidar dos filhos dos senhores e ser ama de leite.
Já na metade do século XIX, a Inglaterra questionava a escravidão no Brasil,
pois prejudicava seus interesses comerciais e com isso foi criada a Lei Bill Aberdeen de
1845 onde proibia o tráfico de escravos. Logo no Brasil, foi promulgada no dia 4 de
setembro de 1850 a Lei n° 581 Eusébio de Queirós, elaborada pelo político Eusébio de
Queirós Coutinho Matoso Câmara, que visava à proibição do tráfico de escravos. Neste
momento, observam-se as transformações no mundo, que começam a impactar na
então, força de trabalho dos escravos, caminhando para uma futura força de trabalho
livre.
Tanto que no dia 28 de setembro de 1871 foi aprovada Lei n° 2.040 conhecida
como Ventre Livre. Considerada um marco no processo de abolição da escravidão no
Brasil, em que determinava que os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir
desta data ficariam livres, conforme consta no primeiro artigo: Art. 1º - Os filhos de
mulher escrava que nasceram no Império desde a data desta lei serão considerados de
condição livre.
Já no século XVIII, de acordo com Costa e Diener (1999) os interesses da Igreja
Católica se assimilaram aos interesses dos proprietários de escravos, no qual os
escravos teriam o direito de casarem, contudo, a condição de constituírem uma família
não significa liberdade.
A Igreja defendia o direito do escravo de casar e usufruir de uma vida
conjugal normal, como se não estivesse em cativeiro, mas deixava claro
que o casamento não significava a alforria. Aconselhava os proprietários
a casar os seus escravos e evitar nas partilhas a separação das famílias
constituídas. (SAMARA, 1989, p. 33).
Os casamentos legítimos pela lei e pela igreja traziam
complicações aos donos
de fazendas, pois no momento de serem separados, ou seja, vendidos à igreja
contestava, pois só caberia a ela a separação.
Apesar de o casamento ser incentivado pelos senhores, para que os escravos
tivessem mais filhos, e não fugissem, em algumas circunstâncias era difícil controlar os
escravos, pois eles tinham relações sexuais com várias escravas, engravidando-as,
deixando muitas escravas mães solteiras.
As crianças que nasceram após a Lei do Ventre Livre eram chamadas de
ingênuo, pois sua mãe era escrava e os mesmo não teria o direito à escola etc. Muitas
vezes quando chegava a idade de 6 anos as crianças já trabalhavam para não serem
abandonada, não existia nenhuma proteção social, porém em alguns casos as crianças
eram abandonadas.
Podemos supor, que as marcas do abandono à proteção social e o abandono
real, atinge primeiramente os (as) negros (as) mesmo após a Lei do Ventre Livre, por
outro lado também, percebe-se que a configuração de uma família negra da época não
significava a liberdade, além da violência sexual na qual passavam as escravas,
reforçava com isso os estereótipos inferiores e preconceitos que ainda se tem na
sociedade brasileira em relação às famílias negras e suas crianças e adolescentes.
Por ser o Brasil um país que passou por um processo de escravidão, e nesse
processo o negro sofreu terríveis requintes de crueldades, tratados como inferiores,
mesmo após as leis que proibiam a escravidão, e anos mais tarde trouxe a liberdade.
Cabe ressaltar, que o negro para entender e posicionar-se como sujeito emancipado
levou um longo processo de luta pela liberdade, dignidade e igualdade, a ser
reconhecidos pela sociedade como sujeitos de direitos, porém para usufruir dos
mesmos direitos que os brancos sempre tiveram acesso, era necessário um
ajustamento de atitudes e comportamentos de acordo com a ideologia e moral do
branco.
Ao assimilarem os valores sociais e/ou morais da ideologia do
branqueamento, alguns negros avaliavam-se pelas representações
negativas construídas pelos brancos. Era necessário ser um “negro da
essência da brancura”. Por isso, desenvolveram um terrível preconceito
em relação às raízes da negritude. Aliás, a recusa da herança cultural
africana e o isolamento do convívio social com os negros da “plebe”
eram duas marcas distintivas dos negros “branqueados socialmente”.
(DOMINGUES, 2001, p.576).
Nesse percurso em que os negros eram tratados como inferiores, sendo
aceitável e propagado na sociedade essas ideias carregadas de preconceitos, surge no
Brasil, no início do século XIX a Teoria da Eugenia criado pelo britânico Francis Galton
(1883), que estudou diversas famílias e defendia que as características eram passada
de geração a geração, para Francis existia dois tipos de eugenia a positiva em que
pessoas saudáveis deveriam se reproduzir com pessoas saudáveis e a negativa no
caso de pessoas débeis, doentes que não deveriam se reproduzir. Francis era
totalmente contra casamentos livres, para ele casamento deveria ser arranjado. Essa
teoria influenciou muito intelectuais de diversos países, já no Brasil foi divulgado por
Renato Ferraz Kehl. Tinha como princípio alcançar uma raça pura e superior, através
da esterilização e a tentativa de branqueamento, por meio do casamento. Segundo
essa teoria havia raças inferiores.
Nós, os eugenistas, queremos que de idade em idade cada geração seja
superior à geração que a precedeu. A eugenia, segura de seus
desígnios, assentada em sólidos alicerces científicos, guinada por
princípios, continuará, por intermédio dos seus prosélitos, na faina de
implantar o grande ideal de regeneração das raças. [...] Para alcançar a
regeneração humana e transformar este planeta em um novo jardim de
delícias, onde imperará a saúde, onde reinará a harmonia social e
internacional, só existe um caminho a seguir: o do ideal eugênico.
(KEHL, 1923, p.35).
A partir das configurações referentes à questão do branqueamento, podemos
supor que a sociedade brasileira a partir desta teoria, reforça entre a população um
padrão, ou seja, “famílias brancas”, “crianças e adolescentes brancos”, “uma sociedade
branca”, e isso inviabiliza uma sociedade desigual entre negros e brancos.
Sendo o Brasil um país de extrema miscigenação resultado de uma formação
colonial e de migrações, através vinda dos europeus, atraídos pela oportunidade de
trabalho e riqueza que o país poderia oferecer, houve após a abolição da escravidão,
um grande aumento de brancos no país.
Portanto no Brasil a teoria da eugenia foi difundida através da tentativa de
branqueamento que teve início no século XIX. Acreditava-se que com o clareamento
poderia melhorar a imagem do país, e em alguns anos não existiria mais negros.
Havia, dessa maneira, um projeto de higienização não apenas dos
espaços físicos, mas também uma “higienização” moral, que valorizava
os costumes europeus ditos civilizados, em detrimento de elementos da
cultura popular e africana que deveriam ser condenados – e na
impossibilidade de seu total desaparecimento deveriam ser ao menos
excluídos visualmente da “vitrine”, isto é, a região central da cidade.
(PEIXOTO, 2017, p. 79).
De acordo com autora Diwan (2007), a eugenia no Brasil começou quarenta
anos após a escravidão, segundo a mesma, Renato Kehl acreditava que a mestiçagem
trazia para o país um desequilibro, e defendia a política a higienização.
No ano de 1929, Renato Kehl, no livro, lições de eugenia, decretou: “a
nacionalidade brasileira só embranquecerá á de muito sabão coco
ariano”! dessa premissa dependia a melhoria da raça brasileira. Essa
imagem de limpeza remete também ao modo como deveriam agir os
eugenia a: esfregando, torcendo e branqueando os corpos do povo
brasileiro, como se fossem roupas sujas. Politicas compulsórias como a
restrição de imigração a esterilização e o controle de casamentos
estavam entre suas propostas. (DIWAN, 2007, p.86).
Essa política do branqueamento acreditava que através da miscigenação (etnia
racial), ou seja, a mistura de raças, os descendentes de negros ficariam mais brancos a
cada geração, e no futuro não haveria mais negros, pois o negro nessa época era
considerado inferior. Havia uma discriminação racial muito forte, e esse conceito era
considerado natural, e aceitável, incentivados pelas massas intelectuais, pelas mídias,
propagandas e a classe burguesa.
Em uma conjuntura na qual a classe dominante franqueou uma fé
“religiosa” no branqueamento, o mestiço, dependendo do grau de
pigmentação da pele, era classifica do como quase branco, semibranco
ou sub-branco e tratado de forma diferenciada do negro retinto, porém
não era considera do um quase negro, se mi negro ou sub negro. Em
outras palavras, podemos afirmar que a mestiçagem era via de mão
única. No cruzamento do branco com o negro, necessariamente,
contava-se com o “clareamento” gradual e permanente da pessoa, mas
jamais se cogitava a hipótese de que a mestiçagem gerava o
“enegrecimento” da população. (DOMINGUES, 2001, p. 568-569).
Portanto vivemos em um país que trazem marcas esse processo escravista, em
que o negro ainda nos dias atuais necessita se posicionar frente à discriminação racial.
É lamentável que em pleno século XXI ainda há rastros da teoria da eugenia, e
tentativa de branqueamento. Ainda hoje o branco é supervalorizado, nas diversas
esperas da nossa sociedade, e apesar dos avanços pela luta da igualdade étnica
racial, há muito ainda a fazer e evoluir no pensamento intelectual, no combate ao
preconceito, pois de acordo com o código 5° da CF de 1988, todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, e que de fato essas leis sejam efetivas para
todos sem restrições.
E nesse processo de preconceitos racial enraizado na nossa sociedade seja
explicito ou na maioria dos casos é velado, no que tange a adoção de crianças,
sabendo que o perfil da maioria dos institucionalizados são de crianças de cor negra, e
que os pretendentes em sua maioria querem adotar bebês e crianças de cor branca,
nota-se que de fato há uma
questão de preconceito estruturalmente cultural, pois a
muitas barreiras que o negro enfrenta desde os tempos passados até os dias atuais o
que se refere à valorização perante a sociedade.
• O SERVIÇO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL
Neste capítulo pretende-se abordar sobre o serviço de acolhimento institucional
e quais questões referem-se sobre a institucionalização de crianças e adolescentes.
Os serviços de acolhimentos antes precários devido a diversos fatores, conforme
análise crítica abordada no capítulo 1, desde a aprovação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), as instituições, hoje conhecida como abrigo ou centro de
acolhimento institucional, com as novas diretrizes e parâmetros de funcionamento, vem
rompendo com o passado em que crianças e adolescentes eram, legalmente e por
tempo bastante prologando afastados da vida comunitária e familiar. (GUARÁ, 2006,
p.9).
Nesse contexto, nos antigos abrigos no Brasil, existia uma predominância da
função assistencialista, fundada na perspectiva tão somente de ajudar, oferecendo
somente um local para as crianças e adolescentes abandonadas, havendo um frágil
compromisso com as questões fundamentais de desenvolvimento da infância e da
adolescência. Em 2009, foram instituídas, pelo Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (CONANDA), as normativas9 para o sistema de instituições
que abrigam crianças e adolescentes no Brasil, trazendo, portanto novas concepções
sobre o acolhimento institucional no Brasil. (SANTOS, 2013).
Observa-se que a promulgação do ECA, a defesa é de caráter provisório dos
centros de acolhimento10, conforme Art. 2o assinala que a permanência da criança e
do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais
de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse,
devidamente fundamentada pela autoridade judiciária (BRASIL,1990). E baseados no
princípio da proteção integral11, os abrigos tem a missão educativa e de proteção, de
forma que as crianças e adolescentes e as famílias atendidas possam desenvolver-se
com segurança enquanto durar o acolhimento.
_____________________________
9 Orientações técnicas para os serviços de acolhimento de crianças e adolescentes. Resolução
Conjunta n° 1, de 18 de junho de 2009. Disponível em
 Acesso em 10 de nov de 2019.
Os abrigos, como medida de proteção prevista pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente, são uma conquista para a garantia integral dos
direitos desses jovens. Certamente, como diz a lei, deve ser uma medida
excepcional e provisória. Mas o tempo de vivência de cada menino e
menina no abrigo deve ser pleno de significado, uma oportunidade
imperdível de desenvolvimento. (GULASSA, 2010, p. 8).
Conforme ressalta Gulassa (2010) o abrigo, segundo o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), é uma medida de proteção integral e especial, provisória e
excepcional, para crianças em situação de risco social e pessoal. A entrada da criança
no abrigo implica a abertura de um processo judicial, o afastamento (provisório ou não)
da convivência familiar e a passagem da guarda provisória dela para o dirigente do
abrigo.
De acordo com a história, o fator socioeconômico e a vulnerabilidade social
foram é ainda é uma das justificativas que levam as crianças e adolescentes a serem
institucionalizados.
A realidade tem mostrado que a ausência de recursos básicos, como
moradia, alimentação, emprego e outros, se apresenta, por vezes, como
um dos principais motivos que conduzem à colocação de uma criança ou
jovem em abrigo ou em família substituta. Muitos pais, não tendo
condições de manter sua prole, repassam, definitivamente, seus deveres
e obrigações às pessoas que possuam melhor padrão de vida.
(SILVEIRA, 2005, p. 36).
Porém com a promulgação do ECA, esse fator não pode ser considerado
motivos suficientes para perda do poder familiar.
A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente
para a perda ou a suspensão do pátrio poder. Parágrafo único. Não
existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a
criança ou adolescente será mantido em sua família de origem, a qual
deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficias do governo.
(BRASIL, 1990, Art.23).
Conforme afirma Gulassa (2010) o papel do abrigo não deve refletir um lugar de
abandonados e de excluídos, é necessário que a instituição busque constantemente a
concretização da função, do seu papel e da identidade, para assim refletir mudanças
na formação do ser social de meninos e meninas institucionalizados, realizando
trabalho de projeto de vida, emancipação, autonomia desses sujeitos, trabalhando
elementos como, a preservação dos vínculos familiares, a integração em família
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf
substituta quando esgotados os recursos de investimento na família de origem, o
atendimento personalizado e em pequenos grupos, desenvolvimento de atividades em
regime de coeducação, não desmembramento do grupo de irmãos, evitar transferência
para outras entidades, a participação na vida da comunidade local, preparação
gradativa para o desligamento, e a participação de pessoas da comunidade no
processo educativo.
Os abrigos precisam se recriar, se reinventar, criando modelos de novas
comunidades. É necessário construir novas relações que assumam o
papel de transformação social – com objetivos clarificados, metas
definidas, estruturas humanizantes, profissionais qualificados, reflexivos,
competentes, capacitação contínua, recursos financeiros condizentes,
relações de igualdade e cooperação com os outros protagonistas do
sistema de garantia de direitos da criança/do adolescente e da família. O
abrigo, como proposta, tem a missão de ser o lugar de inclusão. Para
tanto, ele precisa criar esta possibilidade para si próprio como instituição.
É esse movimento dos abrigos que descrevemos nesta publicação.
(GULASSA, 2010, p. 9).
Portanto, cabe salientar que os abrigos ao oferecer proteção, devem no
processo de formação, trazer elementos para reflexão, estimular os profissionais que
fazem parte da construção da identidade dos abrigos, trazer elementos em seu
exercício profissional à capacidade de sonhar, de mudar, refletindo nos abrigos um
espaço de esperança, de construção de vínculos de um projeto de vida para esses
sujeitos institucionalizados, não ficando no papel de submissos e impossibilitados, mas
de pessoas capaz de construir sua história.
_____________________________
10 Cabe assinalar, que atualmente a nomenclatura destes serviços é “Serviços de Acolhimento
Institucional para Criança e Adolescentes”.
11A Constituição Federal é o marco legal do princípio da proteção integral da criança e do adolescente no
Brasil, de acordo com Passetti (1999, p. 345) o artigo 227 da Constituição Federal afirma que será “com
absoluta prioridade” que se deverá assegurar os direitos às crianças e aos adolescentes, princípio que
se repetirá no parágrafo único do artigo 4° do ECA - A garantia de prioridade compreende: primazia de
receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; precedência de atendimento nos serviços
públicos ou de relevância pública; preferência na formulação e na execução das políticas sociais
públicas; preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; destinação privilegiada
de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
2.1 A Institucionalização: FEBEM e FUNABEM
A partir da década de 60, surgem algumas mudanças em relação a assistências
às crianças abandonadas, pois nessa época de ditadura militar, marcado por forte
repressão aos direitos individuais e coletivos, de caráter repressivo. Com o a
predominação
do autoritarismo, os menores abandonados e infratores, eram vistos
como questão de segurança nacional, cabendo ao Estado disciplinar, reeducar para
que a criança abandonada não viesse a se tornar um marginal. Através desse conceito
existente na época, foi criada em 1964, a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor
(FUNABEM), órgão normativo que teve a finalidade de criar e implantar a Política
Nacional de Bem-Estar do Menor, através da elaboração de diretrizes políticas e
técnicas.
No ano de 1964, o governo militar introduziu, mediante a Lei 4.513 de 1º
de dezembro de 1964, a Política Nacional do Bem - Estar Social do
Menor, cabendo a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor
(FUNABEM) sua execução. Seus objetivos eram cuidar do menor
carente, abandonado e delinquente, cujos desajustes sociais se
atribuíam aos desafetos familiares (NETO, 2000, p. 111).
Silveira (2005) afirma que gestado na visão conversadora do regime militar, nos
anos 60, o enfoque assistencialista tinha por finalidade suprir carências biossociais da
infância e da adolescência pobre, mediante a Política Nacional de Bem Estar do Menor.
Porém, esse novo modelo de pensar à questão infanto-juvenil, não contribuiu para sair
das amarras repressivas mantidas anteriormente.
Portanto, observa-se que a Lei n° 4.513, de 1 de dezembro de 1964, não
abrangia todas as idades, mas apenas, as crianças que se encontravam em situação
de risco, ou seja, meninos e meninas abandonadas pelas mães, pais ou responsáveis
e aqueles que tinham alguma deficiência, ou crianças que viviam em conflito com a lei.
Surge também em nível estadual as FEBEMs (Fundação Estadual para o Bem
Estar do Menor), que tinham por objetivo adequar a assistência que era quase
exclusiva da Igreja Católica, como por exemplo, a Casa de Misericórdia e a roda dos
expostos. O juizado passou a encaminhar as crianças órfãs ou abandonadas para
essas fundações, no qual ficavam esperando serem adotadas, e enquanto viviam nas
fundações, realizavam atividades propícias à formação, treinamento e
aperfeiçoamento, seguindo rígidas disciplinas.
Figura 2- FEBEM – Uma sala de aula com menores infratores ou
abandonados no início do século 20, em São Paulo.
Fonte: Machado (2019).12
A FUNABEM e a FEBEM eram responsáveis por fornecer suporte e assistência,
orientando, coordenando e fiscalizando as entidades (públicas e privadas) que
executassem suas políticas, através de convênios e contratos, e, também, mobilizando
a opinião pública no sentido da indispensável participação de toda a comunidade na
solução do problema do menor.
Através do Decreto 17.943-A, de 12 de outubro de 1927, surge o primeiro
Código de Menores no Brasil. Nesse período, o código foi considerado um marco
brasileiro para assistência e proteção à infância e adolescência da época.
O Código de Menores também era conhecido como Código de Mattos, uma
referência ao Juiz José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, o idealizador do código.
Nesse código, as crianças que se encontrava em situação irregular, eram qualificadas
em termos legais como delinquente ou abandonado, e deveriam ser submetidos a
correções, conforme Art. 1° o menor, de um ou outro sexo, abandonado ou
delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade
competente ás medidas de assistência e proteção contidas neste Código (Brasil, 1927).
O Código de Menores consolida a prática de prevenção e sedimenta em
termos legais a ideia de correção a que deveriam ser submetidas
crianças e adolescentes, entendidos legalmente como menos
qualificados como abandonados e delinquentes. (ROSA, 2001, p.190).
Posteriormente em 1979 teve um avanço significativo, pois foi promulgado pela
Lei n° 6.697/1979, o novo Código de Menores que dispunha sobre a assistência,
proteção e vigilância das crianças e adolescentes.
Nesse contexto, o Estado começou a dar os primeiros passos com
relação à assistência e proteção à infância. Tanto é que, em 1927, a
partir da promulgação do primeiro Código de Menores, o Estado
possibilitou a criação de um sistema público de atendimento que definia
um novo projeto jurídico e institucional que não fosse apenas repressivo,
mas fosse preventivo, disciplinar e tutelar. (SANTOS, p. 68).
Nota-se que o novo Código dos Menores dava ao Estado o poder de aplicar
medidas de caráter preventivo a todo menor de dezoito anos, independente de sua
situação, era mais ligado a punir � men�r p�bre. Desse modo através de políticas
previa criação de instituições, permitia ao Estado uma intensa intervenção sobre as
famílias, podendo retirar a criança do convívio familiar, indicando a possiblidade de
destituição do pátrio poder13 e encaminhando o caso ao juiz.
Conforme ressalta Passetti (1999):
O Código de Menores de 1979 atualizou a Política Nacional do Bem-
Estar do Menor formalizando a concepção “biopsicossocial” do abandono
e da infração e explicitou a estigmatização das crianças pobres como
“menores” e delinquentes em potencial através da noção de “situação
irregular” expressa no artigo 2o: para os efeitos deste Código considera-
se em situação irregular o menor: I. privado de condições essenciais à
sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que
eventualmente em razão de: a) falta, ação ou omissão, dos pais ou
responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para
provê-las; II. vítima de maus-tratos ou castigos imoderados impostos
pelos pais ou responsáveis; III em perigo moral, devido: a) encontrar-se,
de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes, devido: a
encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons
costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; b)
exploração em atividades
_____________________________
12 MACHADO, Leandro. BBC News Brasil em São Paulo. Como o Brasil trata menores infratores dos
tempos do Império até hoje. 2019. Disponível em: 
Acesso em 14 out.2019.
contrária aos bons costumes; IV. privado de representação ou
assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V. com
desvio de conduta em virtude de uma grave inadaptação familiar ou
comunitária; VI. autor de infração penal. (PASSETTI, 1999, p. 344).
Porém, a institucionalização tinha ação de disciplinar, educar e ou reabilitar o
menor para voltar ao convívio social, sempre com rígidas regras e quem não
obedecesse às regras seriam severamente punidos. Era a disciplina, e os muros em
volta como confinamentos os principais critérios de eficácia dos programas de
assistência aos menores.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47661497
Portanto, havia muitos casos de violência, crueldade, e uma série de violação
de direitos que esses internos viviam nessas instituições, trazendo sérios problemas
para formação do ser social dessas crianças. Assim, de acordo com Passetti (1999):
Num mundo de exclusões econômicas, interdições de prazeres e
ilegalidades do tráfico, a prisão e o internato representam um novo
circuito de vítimas formado por condenados pela justiça, ampliando,
desta maneira, o círculo das compaixões. Em nome da suposta
integração social, da ordem, da educação, da disciplina, da saúde, da
justiça, da assistência social, do combate ao abandono e a criminalidade,
as ações se revezam para consagrar os castigos e as punições em um
sistema de crueldades. Se é sabido que a prisão não
educa ou integra adultos infratores, ela não deveria servir de espelho
para a educação de jovens ou para sequer corrigir-lhes supostos
comportamentos perigosos. (PASSETTI, 1999, p. 344).
Com o passar dos anos e extinção do Regime Militar em 1985, ocorrem diversas
denúncias quanto ao descaso com a questão da criança e do adolescente, tornado o
Código de Menores insuficiente.
Em um contexto, vivenciado no Brasil pela luta contra a ditadura, surgem vários
movimentos na década de 80, através dos militantes de diversas causas na busca pela
dignidade humana, liberdade e direitos. Nesta época, surge o Movimento Nacional de
Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), cujo
objetivo era a luta pelos direitos da criança
e do adolescente. Conforme ressalta Souza (2013):
A conquista dos direitos sociais no âmbito da infância e adolescência
deve-se, sobretudo, aos movimentos sociais insurgidos a partir da
década de 1980 no Brasil. Dentre os existentes, o Movimento Nacional
de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) se destacou ao propor um
atendimento às crianças e adolescentes de forma diferenciada, no
sentido de promover o empoderamento dos jovens moradores de rua
para que percebessem que a realidade em que estavam inseridos não
era natural, mas sim fruto de um sistema que a produz. (SOUZA, 2013,
p.2).
Este movimento atuava de forma independente, não estava ligada à igreja e
nem ao Estado. O movimento não atendia de forma direta os menores14, porém
mobilizava os próprios menores, funcionários, educadores, diretores das instituições
como a FEBEM e a FUNABEM. Buscavam lutar pelos direitos sociais referentes às
crianças e os adolescentes, através da mobilização popular, atuando em conjunto com
outros movimentos populares da época.
O Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) é uma
organização popular não governamental autônoma, composta
basicamente de voluntários, que busca, através do engajamento e da
participação das próprias crianças e adolescentes, a conquista e a
defesa de seus direitos de cidadania (BRASIL, 1994, p.11).
Esse movimento teve total importância nas conquistas aos direitos das crianças
e adolescentes, que posteriormente fez emergir o Estatuto da Criança e do
Adolescente, pois nesse período buscou dialogar, mobilizando e dando visibilidade
nacional e internacionalmente a essa questão social.
Frente à nova realidade da época, e como resultado do processo de
redemocratização do Brasil é promulgado em 1988 a Constituição Federal (CF),
também conhecida como Constituição Cidadã.
Para Passetti (1999, p.344) a Constituição de 1988, expressou o fim da
estigmatização formal pobreza-delinquência e pode-se pensar, então, novo paradigma
de proteção para a criança e adolescente, materializando no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
_____________________________
13 A terminologia pátrio poder, referia-se ao direito exercido exclusivo do pai, não se entendendo a mãe,
conforme art. 380 do Código Civil de 1916, durante o casamento, exerce o pátrio poder o marido, como
chefe da família, e, na fala ou impedimento seu, a mulher. Porém com as mudanças na legislação esse
termo é retirado, passando a ser utilizado o termo poder familiar, portanto essa nova nomenclatura,
refere-se aos direitos e deveres igualitários para a mãe e o pai da criança.
14 Cabe assinalar que o termo “menor” aqui exposto se refere à terminologia utilizada na época.
2.1.1 A história dos direitos das crianças e dos adolescentes: Código de
Menores vs ECA
Neste sub- capítulo pretende-se resgatar o processo sócio- histórico das
conquistas dos direitos das crianças e adolescentes, para isso apresentaremos a
transição entre o Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Desde os primórdios da sociedade crianças e adolescentes existem, sabe-se
que todo e qualquer ser humano passa por ambas as fases antes de tornar-se um
adulto. Antes de meados do século XX, não há vestígios de tentativas de políticas
sociais desenvolvidas afim de proteger e acolher crianças e adolescentes na sociedade
brasileira. As crianças de famílias carentes que se consideravam incapazes de cuidar
de seus oriundos buscavam soluções juntamente com a igreja entregando-os através
da roda dos expostos, conforme apresentado anteriormente.
Em 1927, surge o primeiro código voltado a crianças e adolescentes, o Código
de Menores. Por sua vez, o Código de Menores não possuía abrangência para todos
os jovens da sociedade brasileira, mas sim, aos considerados “delinquentes” perante
os valores da época. Focado na preservação da ordem o Código de Menores colocava
o Estado como responsável por crianças e adolescentes consideradas infratoras afim
de reeduca-las e recupera-las.
Para a psicóloga social e mestre, Ana Silvia Ariza de Souza (2017), de maneira
hostil, o Código de Menores associava a pobreza a delinquência, acreditando que há
uma genética de pobreza, que torna todo e qualquer jovem pobre, automaticamente em
um delinquente, ignorando a existência da questão social.
Essa inferiorização das classes populares continha a ideia de norma, à
qual todos deveriam se enquadrar. Como se os mais pobres tivessem
um comportamento desviante e uma certa “tendência natural à
desordem”. Portanto, inaptos a conviver em sociedade. Natural que
fossem condenados à segregação. Os meninos que pertenciam a esse
segmento da população, considerados “carentes, infratores ou
abandonados” eram, na verdade, vítimas da falta de proteção. Mas, a
norma lhes impunha vigilância. (SOUZA, 2017, s/n).
Apesar do caráter discriminatório e mesmo anulado na década de 70, o Código
de Menores foi à porta de entrada para a garantia de direitos dos jovens na sociedade
brasileira, um de seus maiores feitos foi o artigo que prevê que jovens menores de 18
anos não podem ser processados criminalmente. Além disso, o Código de Menores
também previu o fim da roda dos expostos e a obrigatoriedade do registro da criança
com o nome dos pais logo após o nascimento.
Com a difusão da Constituição de 1988, houve o reconhecimento de um campo
na legislação voltado somente a proteção de crianças e adolescentes. No ano de 1989,
na convenção das Nações Unidas, efetivou-se a construção de uma nova lei de
proteção, conhecida hoje como ECA.
Em 1990 surge o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, conhecido como
uma espécie de filhote do Código de Menores, surgiu trazendo proteção a todas as
crianças e adolescentes independente de suas condições.
Apesar da maneira como o ECA é conhecido, a diferença entre os dois códigos
de menores de 1979 e o ECA é nítida. Ainda segundo Souza (2017), o ECA trouxe o
reconhecimento das crianças e adolescentes como seres de direito e não mais como
portadores de carência.
Além disso, o antigo Código funcionava como instrumento de controle,
transferindo para o Estado a tutela dos “menores inadaptados” e assim,
justificava a ação dos aparelhos repressivos. Ao contrário, o ECA serve
como instrumento de exigibilidade de direitos àqueles que estão
vulnerabilizados pela sua violação. (SOUZA, 2017, s/n).
É importante lembrar que o Código de Menores de 1979, compreendia a criança
como um mini adulto, tratando-o da mesma maneira como os demais cidadãos, não
levando em consideração que a infância e a adolescência são fases de
desenvolvimento e, segundo daí deriva-se a importância do ECA: Proteger aqueles que
vivem em período de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social.
Para Márcia Bonapaz de Moura (2006, p.4), é dever da comunidade e da família
assegurar os direitos garantidos às crianças e adolescentes, sendo a família a maior
responsável pela educação e criação, podendo o Estado intervir quando a família não
houver suporte para fazê-lo, independentemente de sua formação.
A partir desta transição entre o Código de Menores e o ECA, nota-se que a
proteção das crianças e adolescentes busca não permear a pobreza e a delinquência,
mas sim a proteção integral, bem como expressa as responsabilidades do Estado, da
família e da sociedade, e neste contexto, cabe ressaltar que a adoção adquire um
patamar relevante na proteção das crianças e adolescentes.
2.1.2 A adoção de crianças e adolescentes e seu processo histórico
Desde a época da colonização a adoção esteve presente. Inicialmente, a
adoção era realizada por caridade: os mais ricos prestavam assistência aos mais
pobres. Tal maneira de “adoção”, além de não ser formalizada, possuía interesses que
iam além da caridade. O maior interesse dos mais ricos em adotar e acolher crianças
mais pobres, não dera de fato cuidar, era obter mão-de-obra gratuita.
Este “filho” ocupava um lugar diferenciado, sendo também singular a
maneira como era tratado, sempre de forma distinta, comumente

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