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UNIVERSIDADE PAULISTA CAMILA ALVES SOMBRA DANIELA DE JESUS PEREIRA THAYNA GLORIA DOS SANTOS O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO SÃO PAULO 2020 UNIVERSIDADE PAULISTA CAMILA ALVES SOMBRA DANIELA DE JESUS PEREIRA THAYNA GLORIA DOS SANTOS O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção de título de bacharel em Serviço Social pela Universidade Paulista UNIP. Orientadora: Prof°. Eliana Pereira Silva. SÃO PAULO 2020 O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO Trabalho de Conclusão do Curso de Serviço Social para obtenção do título de bacharel em Serviço Social, apresentado a Universidade Paulista – UNIP. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA _________________________________/___/___ Profª Adriana Ribeiro Negrão Universidade Paulista - UNIP _________________________________/___/___ Profª Universidade Paulista – UNIP _________________________________/___/___ Profª Universidade Paulista – UNIP Data de Aprovação ____/___/__ DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho a todas as crianças e adolescentes abandonadas e institucionalizadas, que tiveram suas infâncias fragilizadas, seus direitos violados e ainda sonham em ser criados e educados em um seio familiar. A todos das nossas famílias que foram de suma importância para nossa formação. • • • • AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar quero agradecer a Deus, por ter me dado forças e ânimo para continua e chegar até aqui. Sou muito grata aos meus pais e familiares por terem acreditado e lutado junto comigo. Muito obrigada aos meus amigos, e professores e principalmente a minha orientadora! Também quero agradecer a Daniela e Thayná que fizeram o TCC comigo. Camila Agradeço primeiramente a Deus e que através da fé Nele cheguei até aqui. Sou grata por minha família, em especial a minha mãe Edinalva que sempre me apoiou, torcendo por minhas conquistas. Deixo também registrado minha gratidão ao meu noivo Nilton por estar sempre comigo, seu auxilio foi fundamental para mim. E aos professores Eliana, Dra. Vanice, e Luciana que contribuíram e compartilharam do conhecimento para elaboração desse referido TCC. Obrigada a todos! Daniela Primeiramente gostaria de agradecer à Deus por me fortalecer até aqui. À minha mãe por ter acreditado em mim, por cada cuidado ao longo da vida, pelo carinho e pela dedicação com a minha vida estudantil. Ao Taigo, por me aturar durante essa trajetória, por ser meu ponto de paz e definição de amor. A cada professor da UNIP por compartilharem o seu conhecimento profissional e pessoal, pelas palavras atenues e auxílios em momentos turbulentos. Thayna “Nós falam�s sempre de Malc�lm X e Martin Luther King Jr, mas está na h�ra de ser c�m� eles, f�rte c�m� eles. Eles eram m�rtais c�m� nós e tud� que fizeram, nós também p�dem�s fazer.” (Tupac Shakur). RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso teve como objetivo retratar o racismo nos processos de adoção no Brasil. O objetivo foi analisar como o racismo estruturado em nosso país demonstra-se durante os processos de adoção fazendo um recorte no Estado de São Paulo, um dos estados com maior número de crianças institucionalizadas. O estudo apresenta o processo histórico do abandono de crianças e da adoção, além de trazer a evolução do conceito família e a teoria da eugenia para depois debater como o racismo se manifesta durante o processo de adoção. Houve a combinação de pesquisas qualitativas e quantitativas para coletar as informações combinando os dados matemáticos e descritivos, utilizando o método da análise bibliográfica e de dados coletados por cadastros, pesquisas e leis nacionais como o IBGE, o Cadastro Nacional de Adoção, a Constituição Federal entre outros. Além disso, também foram utilizados textos de livros e artigos como porte teórico. De maneira geral, o objetivo do trabalho foi mostrar que a construção racista da sociedade, levou a reprodução do racismo em todos os âmbitos da sociedade, inclusive na adoção. Com uma população Majoritariamente composta por negros e pardos, o cadastro de adoção não se difere, logo a busca pelo filho perfeito e dentro dos padrões europeus de beleza, tornam a adoção um caminho longo a se trilhar. Palavras-Chave: Adoção. Racismo. Família. Preconceito Racial. Institucionalização. ABSTRACT The present course conclusion work aimed to portray racism in the adoption processes in Brazil. The objective was to analyze how structured racism in our country is demonstrated during the adoption processes by making a cut in the State of São Paulo, one of the states with the largest number of institutionalized children. The study presents the historical process of child abandonment and adoption, in addition to bringing the evolution of the family concept and the theory of eugenics to later discuss how racism manifests itself during the adoption process. There was a combination of qualitative quantitative research to collect the information combining mathematical and descriptive data, using the method of bibliographic analysis and data collected by registries, research and national laws such as IBGE, the National Adoption Register, the Federal Constitution among others. In addition, texts from books and articles were also used as theoretical. In general, the objective of the work was to show that the racist construction of society, led to the reproduction of racism in all areas of society, including adoption. With a population mostly composed of black people, the adoption register is no different, so the search for the perfect child and within European standards of beauty, making adoption a long way to go. Keywords: Adoption. Racism. Family. Racial prejudice. Institutionalization. • • • • • SUMÁRIO • INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11 • A HISTORICIDADE DO ABANDONO DE CRIANÇAS NO BRASIL................14 • O conceito de família na era colonial e contemporânea....................................20 • A transformação do conceito família...............................................................23 • O negro e a teoria da eugenia no Brasil............................................................24 • O SERVIÇO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL........................................30 • Institucionalização: FEBEM e FUNABEM.......................................................33 • A história dos direitos das crianças e dos adolescentes: Código de Menores vs ECA.................................................................................................................38 • A adoção de crianças e adolescentes e seu processo histórico....................40 • Rede de proteção integral a criança e o adolescente.....................................42 • O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO...........................46 • O perfil de crianças institucionalizadas: a realidade por trás dos números.............................................................................................................48 • 3.1.1 O perfil dos adotantes e a busca pelo filho perfeito..........................................50 • Crianças e adolescentes nos serviços de acolhimento no Estado de São Paulo..................................................................................................................51 • A contribuição do Serviço Social no combate ao preconceito na adoção inter- racial..................................................................................................................54 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................57 BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................58 • INTRODUÇÃO Este trabalho de conclusão de curso é resultado da pesquisa sobre o preconceito racial no processo de adoção, tendo como objetivo principal investigar e explanar as razões que levam o preconceito racial no processo de adoção de crianças e inferior, aos filhos biológicos. Seria algo semelhante a dormir junto com os demais membros da família e não no espaço reservado aos empregados, contudo o, não possuir um quarto ou uma cama própria. (BARBOSA; DUTRA, 2010, p. 359). Ainda segundo Barbosa e Dutra (2010), tal herança cultural contribuiu significativamente para que, até os dias de hoje, esta forma de filiação seja impregnada por mitos e preconceitos. Além disso, as adoções possuíam um intuito religioso, segundo o advogado Marone (2016), ou seja, o intuito era garantir o culto aos ancestrais familiares, para que não houvesse a extinção da família. Seguindo por tal raciocínio, apenas eram atendidos os interesses do adotante e de seus parentes consanguíneos. No início da Idade Média, por influência da Igreja Católica, a adoção tornou-se um desábito, pois a Igreja Católica passou a pregar que somente os filhos consanguíneos eram merecedores o suficiente de carregar o sobrenome de uma família. No Brasil, até o século XX a adoção não era judicialmente regulamentada, pois nessa época, a prática da adoção somente era permitida por casais que não possuíam filhos biológicos, e eram realizadas através da roda dos expostos. A não regulamentação da adoção na época deixavam as crianças e os pais adotivos em situação de vulnerabilidade, pois não havia nenhum direito de adoção que lhes era assegurado. Na década de 1980, tornou-se comum a “adoção a brasileira” que se constituía em acolher uma criança e registra-la em cartório como seu filho biológico, mesmo não sendo. Entre o fim do século XIX e o início do século XX, a regulamentação das leis da adoção. Em 1916, foi promulgada a Lei n° 3.071 de 1916, no Código Civil brasileiro, dentro do direito de família. Esta lei preconizava que a adoção poderia ser realizada apenas para pessoas ou casais sem filhos, com idade mínima de 50 anos, restringindo, desta forma, as adoções para pessoas que não tiveram filhos biológicos. Por volta de 1957, afim de estimular o aumento de adoções, houveram mudanças efetuadas, tanto que a nova Lei n° 3.133 de 1957, trouxe mudanças https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3133.htm importantes que, de fato, cumpriram com o papel esperado. Houve uma diminuição da idade mínima para 30 anos e a diferença de idade entre adotantes e adotado para 16 anos e não mais 18. Houve também a acréscimo do requisito de que os pretendentes fossem um casal com pelo menos cinco anos de relacionamento oficial. Além disso, a adoção deixa de ser exclusividade de casais sem filhos biológicos. Alguns anos depois, em 1965, mais mudanças surgiram, como a Lei n° 4.655 de 1965, que trouxe modificações importantes que existem até hoje. São eles: • O rompimento definitivo da criança com a família de origem através da formalização do registro de nascimento, fazendo constar o nome dos pais e avós adotantes, suprimindo o nome da família biológica e, por consequência, • A irrevogabilidade da adoção, isto é, ela não poderia mais ser desfeita. Além de tais aspectos que seguem até hoje no processo de adoção, há também aspectos trazidos do Código de Menores de 1979 como as qualificações que devem ser comprovadas através de documentos, seriam elas: estabilidade conjugal, comprovação de idoneidade moral, atestado de sanidade física e mental e adequação do lar. Em 1988, através da Constituição Federal, o artigo 227 declara a igualdade entre os filhos biológicos e adotivos, garantindo-os os mesmos direitos e qualificações. A mudança mais recente ocorreu em 2009, com a criação da Lei n° 12.010 de 2009, conhecida como “Lei da Adoção”, tais mudanças estabelecidas pela Lei n° 12.010/09 tem como maior objetivo reforçar a proteção as crianças e adolescentes, e o convívio familiar, como citam Arpini e Silva (2013): [...] há um reforço na busca da proteção de crianças e adolescentes quando se centraliza a atenção na família. Este Plano busca fortalecer a família para que esta seja auxiliada e assim possa manter um cuidado continuado em relação aos seus filhos. (ARPINI, SILVIA, 2013, p. 126). Após tal reflexão, é possível notar que as mudanças realizadas em 2009 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, por um lado, protege as crianças e adolescentes e “facilitam” a adoção, pois abrangeram os possibilitados a adotar- mudanças que vieram com a modificação do conceito família, mas também burocratizaram e dificultaram ainda mais o processo de adoção. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4655.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12010.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12010.htm 2.1.3 Rede de proteção integral a criança e o adolescente A doutrina de proteção integral foi introduzida no Brasil através da Constituição Federal de 1988 no art. 227 que declarou ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Com o passar dos anos, havia uma discussão sobre reconhecer crianças e adolescentes como cidadãos de direitos e garantir a proteção integral dos mesmos, sendo materializado através da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA em 1990, pelo reconhecimento da criança e o adolescente como sujeito de direitos, em condição de desenvolvimento. Após a promulgação da Constituição, as organizações da sociedade civil que participaram do processo constituinte influenciando a área da criança e do adolescente se articularam com setores progressistas da Magistratura, do Ministério Público e do poder Executivo, defensores da doutrina de Proteção Integral, para elaborar e articular aprovação Lei Complementar aos Artigos 227 e 228 da Constituição, que viria a ser chamada de Estatuto da Criança e do Adolescente –ECA. (TORRES, SOUZA FILHO & MORGADO, 2006, p. 107). A rede de proteção integral foi criada, visto que uma parte da população brasileira estava em desenvolvimento (infanto- juvenil) ou porque viviam em situação de risco em seu convívio familiar, com isso o poder público interviu para que os direitos das crianças e dos adolescentes fossem efetivados dando a eles a proteção integral. Além disso, a rede de proteção integral na esfera dos direitos, tem em sua essência a proteção de crianças e adolescentes que estejam em situações de vulnerabilidade, maus tratos e com seus direitos violados no ambiente familiar, sendo indicada pelo ECA como penúltima medida a institucionalização de crianças e adolescentes, apenas em casos extremos. A rede integral é formada tanto por órgãos governamentais e não governamentais, tendo estes órgãos objetivo de atender as necessidades básicas como saúde, educação cultura entre outros. Tomando-se o eixo da promoção dos direitos, por exemplo, a teia da rede é formada por todos os órgãos e serviços governamentais e não- governamentais que atuam na ampliação e aperfeiçoamento da qualidade dos direitos legalmente previstos, o que se faz essencialmente por meio da formulação e execução de políticas públicas, quer se trate de políticas universais de atendimento às necessidades básicas da criança e do adolescente, quer se trate de medidas de proteção especial para aqueles que se encontram em situação de risco pessoal e social. Nessas conexões interagem atores tão variados quanto os órgãos executores das políticas públicas (nas áreas de educação, saúde, assistência social, alimentação, cultura, esporte etc.), os conselhos paritários de deliberação sobre as diretrizes dessas políticas, os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e as entidades públicas e privadas de prestação de serviços.(AQUINO, 2004, p.330). Segundo Aquino (2004) a nova forma de gestão de direitos passam a ser responsáveis como as ações públicas e privadas e também é um dever da família, Estado, comunidade e da sociedade proteger e garantir o direito da criança. Nessa perspectiva, a Resolução 113 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente-Conanda (2006), é uma articulação e integração de parceria entre o poder público e sociedade civil para elaborar, executar e monitorar políticas públicas voltadas para criança e adolescente. Os eixos são compostos pela promoção que busca efetivar de fato os direitos políticos públicos, saúde, educação, lazer, moradia, segurança e medidas protetiva. Portanto, com a Resolução 113 do Conanda, surgiu em 2006, com o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente–SGDCA, um órgão de defesa que visa a certificação e fortalecimento da implementação do ECA com foco na proteção integral da infância e adolescência. Esse sistema é formado pela integração e articulação da sociedade civil, Estado, famílias, formados por conselhos tutelares, promotores e juízes das Varas da Infância e Juventude, defensores públicos, conselhos de direitos da criança e do adolescente, educadores sociais, policiais de delegacias especializadas, profissionais que trabalham em entidades sociais e nos Centro de Referencia da Assistência Social (CRAS) e integrantes de entidades de defesa dos direitos humanos da criança e adolescentes, entre outros. A institucionalização é a penúltima medida indicada pelo ECA, pois busca proteger crianças e adolescentes que estejam sendo violados, ameaçados ou até mesmo em seu convívio familiar, a fim de prevenir quando voltam ao ambiente familiar e garantir que estejam seguros, porém em alguns casos esses meninos e meninas são destinados à adoção para serem inseridos em uma família substituta. Um dos motivos que levam a viverem em situação de abrigo não é somente em casos de violência física, mas também por não ter acesso a serviços básicos como saúde e educação, sendo necessário o trabalho em rede nos municípios, voltado ao Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente –SGDCA, pois prevê que a criança e adolescente esteja perto da escola ou de seus lazeres. Se generalizados os dados relativos às condições do abrigamento de crianças e adolescentes nas unidades conveniadas à Rede SAC para todo o universo dos abrigos do país, bem como aqueles referentes ao trabalho desenvolvido por essas instituições junto aos abrigados e a suas famílias, tem-se um quadro claro dos limites enfrentados pelos programas de abrigo para fazer cumprir os princípios da brevidade da medida e do incentivo à convivência familiar. Esses dados, contudo, evidenciam não apenas os limites da atuação das entidades de abrigo, mas questionam diretamente a própria dinâmica do sistema de garantias e das redes de proteção integral no sentido de fazer valer os direitos de uma parcela das crianças e dos adolescentes brasileiros. (AQUINO, 2004, p. 340). Portanto, a rede de proteção integral ao público infanto- juvenil se articulam nos vários municípios brasileiros materializam o sistema de garantia de direitos, conectando atores, instrumentos e espaços institucionais que atuam na atenção àquela parcela da população no nível local (AQUINO, 2004). Contudo, Oliveira (2014) ressalta que a proteção integral passa por dificuldades para sua efetivação, como: a fragmentação e setorização das necessidades recortandoas em problemas sociais “particulares”; a precarização dos serviços sociais; a falta de recursos humanos, materiais, financeiros; mas também a falta de motivação política e comprometimento dos atores sociais envolvidos no Sistema de Garantia de Direitos. E para aprofundar o quanto as crianças e adolescentes negros (as) acolhidos (as) nos serviços de acolhimento institucional ainda trazem entrelaçados em suas histórias as marcas de um país colonizado, que se utilizou da força de trabalho escravo, que barbarizou a população negra violentando suas mulheres, desprotegendo seus filhos e os inferiorizando, é que no próximo capítulo, pretende analisar o preconceito racial no processo de adoção. • O PRECONCEITO RACIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão. Historicamente, trouxe efeitos negativos para o país e principalmente para a população negra. E como consequência desse passado, a população pobre e marginalizada era predominantemente negra, sendo que a criminalidade era vista por alguns como única opção para a sobrevivência. Ignorando todo o contexto econômico e social, as classes média e alta associava o negro à criminalidade, aos serviços braçais, destinados aqueles que não tinham estudos, e à inferioridade, rotulando-os também de preguiçosos por não alcançarem posições de destaque na sociedade. Já nos dias atuais o legado da escravidão se perpetua, devido à segregação econômica e social. A verdade que a pobreza no Brasil tem cor e ela é preta. (DIVINO, 2019. p.21). Conforme CFESS (2016) podemos compreender que o racismo: É a crença na existência de raças e sua hierarquização. É a ideia de que há raças e de que elas são naturalmente inferiores ou superiores a outras, em uma relação fundada na ideologia de dominação. As características fenotípicas são utilizadas como justificativa para atribuição de valores positivos ou negativos, atribuindo a essas diferenças a justificativa para a inferiorização de uma raça em relação à outra. (p.10-11). Reafirmando a ideia do CFESS, a Lei n° 12.288, de 20 de julho de 2010 do Estatuto da Igualdade Racial, assim define o racismo: Discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada (BRASIL, 2010). Nessa perspectiva, o racismo se manifesta seja de forma explicita ou implícita pelo sentimento de superioridade de um determinado grupo racial em relação ao outro. [...] compreendemos que o processo de escravidão enquanto um fenômeno historicamente determinado e datado, cuja caraterística eliminável é o racismo moderno, que confere privilégios à classe dominante, ancorado na supremacia branca e se organiza a partir de uma estrutura que, pela primeira vez na historia da humanidade, submete à escravização um grupo inteiro em virtude da sua origem ética racial negra a partir de XVI. (EURICO, 2018, p.37). Desse modo, no Brasil a partir de pactos internacionais na defesa dos direitos humanos e contra o racismo. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, considerada com constituição cidadã, trouxe avanços na garantia dos direitos humanos/sociais, declarado através do artigo 5º todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, já no inciso XLII, a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. Entretanto, no Brasil há uma falsa impressão de democracia racial, que é chamada de mito da democracia racial, devido o país ter um povo miscigenado Os cidadãos brasileiros negarem a associação sofrida por negros e não brancos ao preconceito ou racismo, limitando- se as desigualdades econômicas e ou diferenças de classes, sem admissão de que haja o pensamento de uma raça superior à outra. Idealizou- se que todos os povos e culturas vivem em harmonia, pela ausência de ataques raciais explícitos, porém, na verdade, a exclusão dos negros na sociedade, assim como o preconceito e a inferiorização de sua cultura e padrões éticos, são igualmente hostilizados. (DIVINO, 2019). O racismo está em enraizado em todas as esferas/instituições do país, sendo um legado da escravidão na sociedade, que é o racismo estrutural institucional, se manifestando de forma que a sua organização e funcionamento discriminam pessoas negras e privilegiam pessoas brancas. Uma das expressões do racismo, também conhecido como discriminação indireta, é o institucional. O racismo institucional está presente em diversos espaços públicos e privados. Está nas relações de poder instituído, expresso através de atitudes discriminatórias e de violação de direitos. Por estar, muitas vezes, naturalizado nas práticas cotidianas institucionais, naturaliza comportamentos e ideias preconceituosas, contribuindo, fortemente, para a geração e/ou manutenção das desigualdades étnico-raciais. (CFESS, 2016, p. 11). Entretanto, ao que se refere aos aspectos do preconceito racial na adoção, entende-se que o racismo está em enraizado historicamente na vida dos cidadãos brasileiros, sejam de forma sutil ou explicitas, partindo desses elementos apresentando anteriormente, quando os pretendentes para adoção se cadastram, e respondem os critérios para adoção, muitos deles, querem adotar crianças de até 5 anos, de cor branca, sendo que a realidade das crianças/ adolescentes em situação de acolhimento institucional é outra. Com as restrições que são feitas pelos pretendentes em relação as suas preferencias, onde o quesito cor tem papel fundamental na hora da escolha do adotando, pois na hora da escolha procuram aqueles que mais se assemelham com eles (adotantes), manifestando com essas exigências um preconceito quanto às características raciais. Com base nos dados de 2018 do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), geridos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mais de 73.48% são maiores de 5 anos, 65.85% são negras ou pardas, 58.52% possuem irmãos, 25.68% tem doença ou deficiência. Já os adotantes cadastrados, 77.99% só aceitam crianças de até 5 anos, 17% querem apenas crianças brancas, 63.27% não optam adotar aquelas que tem doenças ou deficiência e 64.27% não estão abertos a receber irmãos. O preconceito racial é um sentimento desprezível e deve ser combatido por todos que atuam e defendem a diversidade e os direitos humanos. É necessária a conscientização da realidade das crianças e adolescentes institucionalizados, sendo importante a compreensão de que o filho ideal não existe. É preciso uma mudança na mentalidade das pessoas, pois muitas crianças/ adolescentes esperam uma família, e para isso importante que as barreiras dos preconceitos sejam quebradas, para que a cor da pele deixe de ser um motivo para exclusão, sem discriminação em decorrências dos traços raciais. • 3.1 O perfil de crianças institucionalizadas: a realidade por trás dos números Sabe-se que cerca de 54% da população brasileira é negra. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), no ano de 2014 os brancos representavam cerca de 46,6% da população enquanto os negros representavam 7,4% e os pardos 45,3%. A partir do ano de 2016 essa realidade mudou, pardos representam cerca de 46,6% da população enquanto pretos representam cerca de 8,3% da população, tendo em vista que pardos e pretos são considerados negros, o país tem cerca de 54% da sua população constituída por negros. No Brasil, em 2013 cerca de 2.247 são entidades de acolhimento institucional (abrigos e casas-lares) que atendem a 29.321 acolhidos; e 123 são serviços de acolhimento familiar. Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no acolhimento institucional há capacidade de atender a 45.569 crianças e adolescentes. Através de pesquisas podemos notar que, das crianças encontradas no cadastro de adoção, há uma predominância de crianças negras, que somam cerca de 68%, enquanto as brancas somam cerca de 29% e as mestiças somente 3,2%. Segundo Silveira (2005), uma das hipóteses levantadas para a compreensão do grande número de crianças negras no cadastro da adoção diz respeito ao nível de desigualdade social e qualidade de vida entre os brancos e os não-brancos. Quando se discute a situação das desigualdades raciais, indicadores como desemprego, condições dos domicílios, acesso aos serviços de saneamento básico, renda familiar e outros, denunciam a precariedade em que sobrevive o segmento negro, mesmo ao se levar em conta a situação de brancos que estão nos patamares da pobreza. (SILVEIRA, 2005, p.110) Além disso, ao serem cadastradas as crianças são denominadas como: branco, pardo claro, pardo escuro, negro e mestiço- que seriam as crianças consideradas amarelas ou indígenas. A propósito, averiguou-se que, em termos raciais, o segmento infanto- juvenil nos Juizados é incluído nas seguintes categorias: brancos, pretos, pardos claros, pardos escuros e mestiços (crianças descendentes da raça amarela ou índigena). (SILVEIRA, 2005, p.61). Nota-se que o sistema de classificação está além da presunção da população, além da busca pela descrição de cor e fenótipo. Segundo D’adesky (2001, apud Silveira 2005, p. 106) a diversificação da cor no âmbito de classificação popular retrata antes de tudo hierarquização, relação assimétrica e um c�ntinuum vertical, em que a categoria branco se situa no topo e a categoria negro, embaixo. Segundo Silveira (2005), durante o processo de adoção há uma preocupação em encontrar crianças que se assemelhem aos seus pais adotivos, por vez, tal detalhe de busca pode ser tão grotesco a ponto de que os agentes busquem por um “embranquecimento” das crianças negras a fim de atingir o modelo idealizado pelos adotantes. 3.1.1 O perfil dos adotantes e a busca pelo filho perfeito Através de pesquisas foi possível notar que a maioria dos adotantes tem um perfil semelhante, sendo: casais brancos ou inter-raciais, inférteis, idade entre 30 e 40 anos, classe média-baixa e 3° grau completo. Inicialmente, indica-se que os adotantes buscam por filhos que possuam características físicas semelhantes à dos adotantes. Acredita-se que essa busca se dá pelo luto pela infertilidade e pelo tão desejado filho biológico que não conseguiram gestar. Segundo Mariano e Ferreira (2008), apud Brito e Diuana (2005), acredita-se também que uma das motivações subjacentes a elas: adotantes que requereram seus enteados em adoção, a fim de atribuírem a eles próprios o papel de pai, legitimarem o papel de educador e minimizarem conflitos dentro da nova família que foi constituída. Assim como a busca pelas características semelhantes, a busca pelo filho ideal também se assemelha a busca pela perfeição. Segundo Silveira (2005), o ideal de um filho está fortemente relacionado ao fator racial e à ideologia dos modelos estéticos de beleza predominantes na sociedade brasileira. Conforme depoimento de um dos profissionais entrevistados, vários candidatos a pais adotivos serem questionados, os adotantes informam que buscam um filho idealizado, de preferência que tenham suas características, ou características melhores ainda – um aperfeiçoamento-. (SILVEIRA, 2005, p. 114). Em sua maioria, os adotantes buscam por um padrão inexistente, para Silveira (2005), a busca por essa “criança ideal” é o motivo pelo qual as filas de crianças em busca de adoção seguem crescendo, pois, as mesmas não apresentam esse ideal. Além disso, as características raciais apresentadas pelos candidatos a adoção, está fortemente atrelada aos julgamentos e valores aprendidos ao longo das vivências sociais e ideias que possuem de si mesmos. Em sua maioria, os adotantes preferem crianças brancas, ou no máximo, pardas claras. A autora afirma também que o crescimento do número de casais negros candidatos à adoção não interferiu no aumento de adoções de crianças negras. Para Silveira (2005), essa exclusão acontece porque nem sempre negros são absorvidos ou aceitos por seus próprios grupos raciais. Negros e pardos tendem a avaliar negativamente a própria cor. A explicação para isso vem do fato de que o negro cresce em meio a estereótipos e padrões, envolvido na cultura branca, ele é induzido a inferiorizar seus valores culturais e suas características, adquirindo a preferência pelo padrão estético europeu. Tal negação entre sua própria etnia está fortemente ligado a teoria eugenista e a teoria do branqueamento, que buscaram embranquecer a população durante o século XIX. 3.2 Crianças e adolescentes nos serviços de acolhimento do Estado de São Paulo Analisando a construção da nossa sociedade entende-se que foi através de explorações, das desigualdades sociais e econômicas que trazem consequências e reflexos até hoje. De acordo com Silva, citando Azevedo e Guerra (2004) as crianças e adolescentes em sua maioria institucionalizada, estão nos centro de acolhimento devido a diversos fatores, sejam elas relacionadas há vulnerabilidade social, pobreza ou situação de negligência familiar ou abandono. Buscando desvendar o fenômeno da relação entre criança, adolescente e violência no cotidiano de famílias brasileiras, Azevedo e Guerra referem-se às consequências da desigualdade social e da pobreza que teriam como resultado a “produção social de crianças vitimadas pela fome, por ausência de abrigo ou por morar em habitações precárias, por falta de escolas, por doenças contagiosas, por inexistência de saneamento básico. Essa situação de vulnerabilidade é denominada vitimação de crianças, sendo que “a questão principal que consolida o argumento da vitimação é seu caráter desencadeador da agressão física ou sexual contra crianças, tendo em conta que a cronificação da pobreza da família contribui para a precarização e deterioração de suas relações afetivas e parentais. Nesse sentido, pequenos espaços, pouca ou nenhuma privacidade, falta de alimentos e problemas econômicos acabam gerando situações estressantes que, direta ou indiretamente, acarretam danos ao desenvolvimento infantil”. (SILVA, aput AZEVEDO E GUERRA, 2004, p.44). Com base nos dados do Instituto de Geografia Estatística - IBGE (2019) no Brasil, a população é de 210 milhões de pessoas e 68.8 milhões que tem entre 0 à 19 anos. Com isso o Conselho Nacional de Justiça – CNJ (2014) informa que o número de crianças e adolescentes na espera de adoção é de 5.491, haja vista que é a quantidade de pretendentes é de 31.688, isso significa que a quantidade de pretendentes é maior do que o número de crianças institucionalizadas, pois nota-se que a preferências e exigências dos pretendentes dificultam ainda mais o processo de adoção. Ainda conforme dados do Cadastro Nacional de Adoção- CNA (2020) o total de crianças e adolescentes brancas são de 3.091 e crianças e adolescentes negros o total é de 1.542. Fonte: (SILVA, 2004, p.51). Conforme Silva (2004), em relação à raça/cor, os dados do levantamento nacional de 2003, mostra que mais de 63% das crianças e adolescentes abrigadas são da raça negra (21% são pretos e 42% são pardos), 35% são brancos e cerca de 2% são das raças indígena e amarela. Neste presente trabalho faremos o recorte para o Estado de São Paulo, devido à maior concentração de crianças institucionalizadas em São Paulo, comparado aos demais estados do Brasil, visto que São Paulo é uma metrópole, que se faz presente as diversas expressões da questão social. Com base no levantamento para a cidade de São Paulo realizado em 2003 pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente (NECA), com objetivo de conhecer o perfil das instituições que abrigam crianças e adolescentes, como funcionam e quem são as pessoas que vivem ali, nos dados colhidos foi detectado que a cidade de São Paulo tem 190 abrigos, sendo contabilizadas 4.847 crianças e adolescentes vivendo nesses espaços. O Levantamento Nacional e a pesquisa na cidade de São Paulo apontaram que a maior parte das crianças e adolescentes estava abrigada em local distante da moradia dos familiares, inclusive em outros municípios ou até em outros estados. A maior concentração dos abrigos paulistanos se encontra nas zonas sul (32%) e leste (29%), onde há maior número de distritos com índices de vulnerabilidade social. Porém, esses distritos estão localizados especialmente na periferia dessas regiões, onde há poucos abrigo.(OLIVEIRA, 2010, p.41). Ainda de acordo com Oliveira (2010, p. 39), a pesquisa de São Paulo mostrou que a menor concentração de abrigados está na faixa etária mais procurada para adoção, de 13% têm de 0 a 3 anos, outros 13%, de 4 a 6 anos, e 74% têm entre 7 e 18 anos. Dos pesquisados, apenas 10% estavam em situação legal definida para serem adotados e, desses, a maioria (84%) tem entre 8 e 19 anos de idade, devido a chegarem nos serviços de acolhimento com idade avançada, são aqueles que para os quais praticamente inexiste a possibilidade de adoção. Conforme aponta Oliveira (2010): Em âmbito nacional: a maioria dos abrigados é formada por meninos (58,5%) afro-descendentes (63,6%) entre 7 e 15 anos (61,3%). E, nos abrigos paulistanos, 44% dos meninos e meninas são brancos, 37% pardos e 15% negros. Portanto, a etnia negra predomina (52% do total). (p.39). Portanto, o estudo do NECA (2003) ressalta que o abandono de crianças e adolescente se da por motivos relacionados ao abandono e/ou negligência dos pais ou responsáveis 22,3%, violência doméstica 10,3%, problemas relacionados à saúde, à situação financeira precária, à falta de trabalho e de moradia da população 18,8%, uso de drogas e álcool por parte dos familiares 9,8%. Os dados revelam que os motivos mais citados para o abrigamento estão ligados, direta ou indiretamente, à pobreza: abandono e/ ou negligência, problemas relacionados à saúde e às condições sociais, violência física intrafamiliar e dependência química dos pais. Mas é preciso ter clareza de que, embora a pobreza seja uma constante nas histórias das crianças e dos adolescentes que vivem nos abrigos, ela não pode, por si só, justificar ou explicar toda situação de abrigamento. (OLIVEIRA, 2010, p.38). Já o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada- IPEA (2004) relata que a pobreza atinge em maior proporção à população negra e parda, se comparada às pessoas de cor branca. Apesar de São Paulo ser uma capital considerada a mais rica do Brasil, oferecendo serviços para outros estados do Brasil e até mesmo para o exterior, a distribuição de renda é desigual, e essa desigualdade é muito presente, tendo muitas pessoas ainda vivendo em situação de pobreza extrema. Consequentemente, entende- se que a pobreza trás para as famílias mais vulneráveis e para as crianças e adolescentes drásticas problemáticas que podem afetar a vidas das mesmas. 3.3 A contribuição do Serviço Social no combate ao preconceito na adoção inter-racial O assistente social é um profissional que atua nas expressões da questão social, tendo como base a Lei que regulamenta a profissão 8.662 de 7 de junho de 1993, e o Código de Ética, que norteiam o fazer profissional. Entendendo essa questão, o assistente social deve exercer seu papel na defesa intransigente dos direitos humanos, na emancipação humana, e no combate a qualquer forma de preconceito, seja de qualquer natureza, classe social, cor da pele, gênero sexual, idade, crença religiosa, valores culturais, enfim. E se tratando do racismo no Brasil, por ser um país historicamente formado pela miscigenação, e mesmo assim, o preconceito em relação à cor ainda se faz presente na sociedade, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS, 2016) em relação ao compromisso da categoria no combate ao racismo pontua que: É no âmbito da defesa de direitos que a/o profissional de Serviço Social é convocada/o a intervir. E nesse terreno arenoso da intervenção, constituído de tensões e contradições, o/a assistente social se defrontará com os limites e possibilidades de garantir direitos nos marcos da sociedade de classes. Nesse sentido, faz-se necessária a apreensão crítica acerca dessa realidade e a apropriação de conhecimentos sobre o fenômeno do racismo e de suas diversas expressões na vida social. Esse processo contribuirá para o fortalecimento do projeto ético-politico profissional, sobretudo no que tange à sua direção política, que busca construir outra sociabilidade, com valores emancipatórios, cujas relações humanas sejam livres de qualquer exploração, opressão e discriminação de classe, racial e patriarcal. (p. 16). • Trazendo essa questão do preconceito racial na adoção inter- racial, no campo de Serviço Social, ainda é bastante novo, fato que dificulta uma intervenção efetiva junto aos casos que exigem uma atuação profissional especializada. Embora a questão da discriminação racial seja um tema que, atualmente, vem se destacando em nível nacional e internacional, a problemática específica da adoção inter-racial ainda é pouco explorada, sendo pouquíssimos os pesquisadores que se dispuseram a estudá-la, vindo a distorcer algumas concepções sobre o assunto, conforme aponta Rufino (2016). Ainda conforme a autora: Essa necessidade exige que o profissional deixe claro em suas intervenções que as conquistas não devem ocorrer apenas por uma questão de sobrevivência, mas, acima de tudo, que desenvolva ações que visem à conscientização de que todos os cidadãos afrodescendentes – e aqui damos destaque às particularidades presentes nos procedimentos de adoção que tem contribuído para a discriminação racial, onde crianças negras têm sido preteridas por não se encaixarem nos padrões de beleza vigentes no imaginário social - merecem lutar por seus espaços, não de maneira desigual como usualmente ocorre, para conseguir a igualdade de deveres e direitos em relação à outras etnias. (RUFINO, 2016, p.161). Nessa perspectiva Rufino (2016) salienta ainda que é necessário o rompimento dos modelos de tradicionais de família, e para isso os profissionais que lidam com a questão da adoção, tragam para o centro do debate a adoção inter- racial, nas áreas da criança e do adolescente, não por esta ser uma solução para os problemas de abandono de crianças afrodescendentes excluídas e abandonadas no país, pois esta é uma questão estrutural e que, portanto, requer medidas de natureza política, econômica e social, visando o seu efetivo enfrentamento e combate. A participação dos assistentes sociais neste debate, então, se faz pertinente à medida que evoca a explicitação dos limites, entraves, equívocos, mitos e preconceitos que permeiam a adoção inter-racial, e adota uma postura pró-adoção inter-racial, pois somente desta forma, será possível superá-los e criar novas bases para formação de uma nova cultura da adoção, eliminando idealizações, medos, inseguranças e constrangimentos, para que se criem elementos favoráveis a sua concretização. E é primando pela efetivação do compromisso ético e político da profissão, que o assistente social, ao trabalhar com a temática da adoção, especificamente a inter-racial, poderá realmente objetivar a construção de melhores condições, de termos uma forma de vivência afetiva e igualitária para todas as crianças em suas famílias, seja biológica ou adotiva, racial ou multirracial. É por estas e outras muitas preocupações que acometem as famílias adotantes de crianças afrodescendentes, que se faz bastante prudente, que tais famílias sejam apoiadas acompanhadas e preparadas pelos profissionais de Serviço Social, não para que se tornem bons pais e boas mães, mas para que se fortaleçam e se tornem mais seguros em relação a esse ato, para que conseqüentemente tenham condições e subsídios para o enfrentamento das futuras e previsíveis reações que a adoção inter-racial provoca nas pessoas. (RUFINO, 2016, p.163). Portanto, para Rufino (2016) assim caminha a humanidade, com os seus diversos avanços e retrocessos, atendendo a interesses de todos os âmbitos, conciliando e mediando ações com o objetivo primordial de encontrar apenas um lugar ao sol. E, é exatamente desta forma, que os assistentes sociais devem caminhar em prol da adoção inter-racial, acreditando na possibilidade de constituição de uma família multirracial, com a convivência, através do diálogo, do encontro com o novo, da reciprocidade, que faz uso da celebração das diferenças, como um elo que une todas elas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Unir os temas racismo e adoção no presente trabalho teve como objetivo demonstrar a maneira como o racismo se manifesta em todas as esferas da sociedade. A intenção da temática escolhida foi demonstrar as expectativas na busca pelo filho perfeito e como, na maioria das vezes, ela não se encaixa com a realidade apresentada. Retratar o racismo no âmbito da adoção demonstrou como o negro ainda é reconhecido como inferior, julgado e discriminado unicamente por sua raça. A complexidade desse trabalho, não permitiu –e nem se quer buscou- o fim do preconceito racial no processo de adoção, mesmo que o fim da escravidão tenha ocorrido há 132 anos, ainda é possível vivenciar as correntes que ainda não foram quebradas. Ainda assim, fora possível concluir que de alguns anos para cá, a cor está deixando de ser tão importante durante o processo de adoção, mas ainda não é o suficiente para esgotar as filas de crianças disponíveis e de pais pretendentes. Dada à importância do assunto, torna-se necessário reconhecer o problema e atuar para diminui-lo de maneira eficaz. O assistente social, por sua vez, deve exercer seu papel na defesa intransigente dos direitos humanos, na emancipação humana, e no combate a qualquer forma de preconceito. Para o assistente social tal campo ainda é novidade, mas a busca pela solução é diária. É inegável que a burocracia do sistema jurídico de adoção torna o processo mais lento e maçante, mas fechar os olhos para a maneira como o racismo enraizado em nossa sociedade influencie para que os pretendentes à adoção idealizem laços de afeto baseado na cor da pele. Por fim, reconhecemos que cada clamor contra o racismo vem abalando as estruturas da sociedade, fazendo com que caminhemos para o fim do preconceito racial. É importante ressaltar que ainda estamos longe de extinguir o racismo, e alcançar esse ideal, implica em um combate diário, onde cada passo se torna importante. BIBLIOGRAFIA AQUINO, Luseni Maria Cordeiro de. IPEA. Rede de proteção à criança e adolescente, a medida protetora de abrigo e o direito à convivência familiar e comunitária: em nove municípios. Disponível em: . Acessado em: 11 de maio de 2020. BAPTISTA, M. V. Um olhar para a história, in: BAPTISTA, M. V. (coord.). Abrigo: comunidade de acolhida e socioeducação. São Paulo: Instituto Camargo Corrêa, 2006. 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Busca-se neste trabalho analisar e compreender o perfil dessas crianças e adolescentes, e as causas que as levam a estarem na fila de espera para receber uma família, bem como análise do perfil dos pretendentes para adoção. Escolhemos esse tema através da sugestão da Thayna em que a mesma foi a um Simpósio do dia nacional da adoção realizado pelo Grupo de Apoio e Incentivo á Adoção- GAIA, em Embu das Artes, em que abordava questões referentes a crianças e adolescentes em serviços de acolhimento institucional, denominados anteriormente como “abrigos”, a realidade em que vivem, e o preconceito acerca da adoção. Diante dos elementos apresentados pela integrante do grupo, concordamos em realizar esta pesquisa, por ser um tema relevante e necessário, e direcionamos nossa pesquisa no preconceito racial no processo de adoção, pois sabemos que a desigualdade entre brancos e negros, é real e esse preconceito racial se entende em várias esferas da sociedade. Segundo os dados do Conselho Nacional de Justiça (2019), há muitas restrições por parte dos adotantes que dificultam e ocasionam a lentidão, pois o quesito cor tem papel fundamental neste processo. Conforme registrado no Cadastro Nacional de Adoção, há uma discrepância entre a pretensão dos adotantes e a realidade dessas crianças e adolescentes, pois conta que 65,85% delas são negras ou pardas. Pois infelizmente a maior parte dessas crianças e adolescentes que esperam ser adotados não atende ao “perfil desejado” pelos pretendentes. ____________________________ 1 Usaremos nesse referido trabalho o termo negro, pois Movimento Negro, não reconhece a categoria pardos, considerado negros e pardos como única categoria de análise. Portanto, a partir desse momento, usaremos apenas o termo negro. Conforme ressalta Daflon (2014, p. 42), em consonância com essa crítica, rejeita a categoria parda, assim como categorias análogas como moreno e mulato, adotando negro ou afrodescendente como as únicas categorias étnico-raciais válida. Neste contexto, para aprofundar o objetivo da pesquisa, o referido TCC, divide- se em três capítulos, considerando que no Capítulo 1, abordaremos a historicidade do abandono de crianças no Brasil, a rodas dos expostos como primeira instituição de acolhimento que foi durante muito tempo a única alternativa de abrigo para crianças e adolescentes abandonados na época, abordaremos também sobre o conceito de família na era colonial e contemporânea, entendendo que família sempre foi pensada como uma instituição que moldou os padrões da colonização e ditaram normas e condutas das relações sociais desde os tempos primórdios, as questões do conceito de famílias e as novas configurações da família, o impacto da escravidão e a teoria da eugenia que causou graves consequências para o negro perante a sociedade, e a representatividade do negro que historicamente é marcada pelo preconceito, discriminação racial, considerada como inferior, pois o branco sempre foi enaltecido perante a sociedade, portanto o negro ainda atualmente sofre consequência dos frutos de um processo de escravidão. Já no Capítulo 2, abordaremos sobre o serviço de acolhimento institucional, qual órgão que regulamenta, bem como, as políticas que estão inseridas nesses serviços, abordaremos o surgimento da Fundação Estatual para o Bem Estar do Menor (FEBEM) e Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM), o Código de Menores, bem como, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como um marco na busca pela efetivação de políticas públicas para garantir direitos à saúde, liberdade, respeito e dignidade as crianças e adolescentes brasileiros, traremos também sobre o que é e qual a importância à rede de proteção integral. Entretanto, no Capítulo 3, traremos reflexões sobre o racismo, e como o contexto histórico no Brasil, trouxe efeitos negativos para o país e principalmente para população negra. Neste capítulo apresentaremos o recorte do trabalho, sendo as crianças e adolescentes no serviço de acolhimento no Estado de São Paulo, devido a São Paulo ser um dos estados que mais tem crianças e adolescentes institucionalizadas, e mesmo sendo uma metrópole, a desigualdade social, e os reflexos da questão social se faz presente neste estado. Abordaremos também a questão do perfil dessas crianças acolhidas, em qual contexto de vida são levadas para os abrigos, ou seja, quais motivações levam os pais a abandonarem seus filhos. Qual perfil dos pretendentes que estão na fila de espera para adoção e quais motivações levam esses pretendentes a adotarem. Por que a há essa contradição, de o número de pretendentes para adotar é maior que o número de crianças acolhidas, o que leva o preconceito racial na adoção? Quais questões são consideradas ao se adotar? Por que a uma preferência em adotar uma criança de cor branca? Essas perguntas serão esclarecidas nesse capítulo. Sabemos que apesar dos avanços e a luta pela igualdade racial, o preconceito racial na sociedade brasileira infelizmente ainda é presente, uma vez que, há uma falsa democracia racial e esse preconceito em muitos casos é velado. É necessário trazer a tona a discussão crítica para a sociedade referente à realidade das crianças e adolescentes que estão à espera de uma família, sendo elas na maioria negras, portanto este trabalho tem como relevância social a quebra de paradigmas e preconceitos, pois elas merecem um lar, independente de sua cor. • A HISTORICIDADE DO ABANDONO DE CRIANÇAS NO BRASIL Nesse presente capítulo, busca-se compreender a questão histórica da institucionalização das crianças no Brasil, e as razões da predominação das crianças de cor negra serem a maioria que compõem essas instituições de acolhimento. Na época colonial, nota-se que uns dos motivos do abandono de crianças se dava pelo viés religioso, ou seja, por serem geradas fora da moral cristã, pois os bebês concebidos fora do casamento, ou de moças solteiras e brancas, de família de classe alta, eram enjeitados, porém em sua maior proporção de abandono era de crianças pobres, e órfãs. Essas crianças eram abandonadas nas ruas, terrenos baldios, e nas portas das igrejas. De acordo com Constantino (2000), a visão que se tinha das crianças pobres e desvalidas no período do Brasil colonial e na primeira República estava relacionada com a ideia de delinquência e criminalidade. É a partir desta data (1930) que o Estado pressionado tanto pela atuação dos setores privados, como também principalmente com as mudanças no contexto político, social e econômico provocadas pelo capitalismo em expansão nos países, começa a se encarregar da assistência. (CONSTANTINO, 2000, p. 44). Conforme aponta a autora, no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, se inicia uma verdadeira ruptura no sistema pré-capitalista de produção, como fruto da reorganização da economia cafeeira, antes baseada na mão de obra escrava. Com a vinda dos imigrantes estrangeiros para substituir os escravos na força de trabalho, e as relações de trabalho se modificam em virtude da crescente oferta de mão de obra, agora assalariada. Ainda segundo a autora, em decorrência desse tipo de desenvolvimento, grandes transformações aconteceram nas principais cidades brasileiras. A expansão industrial e a urbanização aumentam significativamente a taxa populacional urbana, causando a formação de extenso segmento populacional urbana que necessitava, agora, lutar pela sobrevivência, por meio da venda de sua força de trabalho. O crescimento da pobreza, da violência e a diminuição da qualidade de vida são questões que assumiram maior dimensão, sobretudo nas últimas décadas do século XX. E não surgiram como resultado de uma conjuntura especifica, mas sim de fenômenos sociais produzidos e reproduzidos historicamente, exacerbados na sociedade moderna em decorrência das profundas transformações do capitalismo e do ideário neoliberal. Os efeitos relativos aos avanços tecnológicos no campo do trabalho e ao modo de acumulação de capital, aliado ao agravamento da crise econômica, política e social, acabaram por atingir não só a classe trabalhadora, mas também outros contingentes populacionais. (SILVEIRA, 2005, p. 25). Diante desse cenário da época, houve um aumento da vulnerabilidade social2 das classes exploradas, agravando sérios problemas sociais, os quais o Estado não conseguiu trazer respostas efetivas para a questão, negligenciando e se isentando do seu papel de Estado, passando a responsabilidade para iniciativas filantrópicas. Para fazer face os problemas oriundos do progresso aumento das condições da miséria das classes subalternas, o Estado, por não dispor de um serviço social organizado, faz uma série de acordos junto às casas particulares de assistência, fornecendo-lhes verbas para o funcionamento. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que contava entre outros, com serviço para o abrigo de crianças, por meio da Roda dos Expostos. (CONSTANTINO, 2000, p.44). A roda dos expostos foi à primeira iniciativa de acolhimento para as crianças abandonadas no Brasil, sendo na época colonial a primeira forma de institucionalização. Conforme descreve a autora Maria Luiza Marcilio (1997) a roda dos expostos foi uma das instituições brasileira de vida mais longa, sobrevivendo aos três grandes regimes da História. Criada na Colônia perpassou e multiplicou-se no período imperial, conseguiu manter-se durante República e só foi extinta definitivamente na recente década de 1950. O Brasil foi o último país a abolir em 1988 a chaga da escravidão, e o triste sistema da roda dos enjeitados. De início, atuando como agente de apoio e fiscalizador das entidades filantrópicas religiosas ou leigas, o Estado gradualmente se apropria da questão da assistência sem, contudo, apresentar, uma mudança de enfoque do problema, ou seja, continua a considerar os indivíduos como causa da própria condição de pobreza e organização social que separa os homens em classes. Como consequência, o problema da _____________________________ 2A vulnerabilidade passa a ser compreendida a partir da exposição a riscos de diferentes naturezas, sejam eles econômicos, culturais ou sociais, que colocam diferentes desafios para seu enfrentamento (VIGNOLI, 2001; CAMARANO; et al., 2004). infância pobre e desemparada era visto como um caso de polícia e repressão e não como uma questão de assistência e proteção. (CONSTANTINO, 2000, p. 45). As crianças eram acolhidas pela Santa Casa de Misericórdia, de forma anônima, e as mães colocaram as crianças na roda. A roda dos expostos tinha uma atuação assistencialista e filantrópica ligado à Igreja Católica, que deveria garantir a sobrevivência dos ejetados e ocultar a identidade da mãe que abandonasse o bebê. O nome roda [dos expostos] provém do dispositivo onde se colocavam os bebês que se queriam abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, era fixada no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro inferior e em sua abertura externa, o expositor depositava a criancinha que enjeitava. A seguir, ele girava a roda e a criança já estava do outro lado do muro. Puxava-se uma cordinha com uma sineta, para avisar a vigilante ou rodeira que um bebê acabava de ser abandonado e o expositor furtivamente retirava-se do local, sem ser identificado (MARCÍLIO, 1997, p.55), conforme observa-se na Figura 1, a seguir. Figura 1- Roda dos Expostos Fonte: Imagem adaptada. (BAPTISTA, 2006, p.29). As crianças atendidas pela Santa Casa de Misericórdia eram encaminhadas ao batismo e seriam registradas, depois receberiam os primeiros cuidados, sendo encaminhadas para as amas-de-leite3. Era comum também que as crianças que eram encontradas abandonadas que não recebiam proteção devida pela Câmara ou pela roda dos expostos acabavam sendo acolhidas em famílias que as criavam por dever de caridade ou por compaixão. A prática de criar filhos alheios sempre, e em todos os tempos foi amplamente difundida e aceita no Brasil. São inclusive raras as famílias brasileiras que, mesmo antes de existir o Estatuto da Adoção, não possuíam um filho de criação em seu seio, conforme afirma Freitas (2003, p. 70). Existia nessa época, uma prática de adoção conhecida como à moda brasileira, que consistia na entrega de crianças, pelos pais biológicos, para que outras pessoas criassem, de modo que conseguiam registrar a criança como se fosse filho (a) biológico. Porém, muitas dessas crianças não eram tratadas como filhos (as), ou havia um sentimento de afeto, ao contrário, usavam essas crianças para exploração da mão de obra, através da realização de vários tipos de trabalho. Em notícias publicadas no início do século XX, O Estado de S. Paulo ilustra claramente a tendência a considerar o trabalho como redentor da infância e da adolescência abandonadas, desamparadas, imersas na vadiagem, na delinquência, na criminalidade. Ilustra, também, a tendência a fazer do abandono, do desamparo, da delinquência e da criminalidade infanto juvenis, uma justificativa louvável para a exploração da capacidade produtiva da infância e da adolescência. (MOURA, 1999, p.261). Cabe ressaltar que a primeira roda foi aberta na Santa Casa de Misericórdia em Salvador, no ano de 1726. Ainda no período colonial, uma segunda e última roda é estabelecida em Recife. Mesmo, após a independência do Brasil, essas rodas continuaram a funcionar. Em 1825, uma outra roda é instalada na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. (PASSETI, s/a, p. 10). No entanto, havia na Santa Casa, um alto índice de mortalidade4, devido a vários fatores, como a falta de cuidados necessários, capacitação dos funcionários para cuidar dos bebês e das crianças, higienização, má alimentação, falta de recursos financeiros etc. Devido a isso, com o passar do tempo às rodas dos expostos no Brasil começaram a ser fechadas, pois passaram a serem consideradas contrárias aos interesses do Estado, as rodas começam a receber críticas de médicos higienistas, que viam esta forma de assistencialismo como responsável pelas mortes prematuras de crianças (PASSETI, s/a, p. 11). Portanto com as instituições fechadas o que restava para as crianças era mendigarem nas ruas, passando a ser vistas como marginais, e para conter esse problema social da época, foi necessário que o Estado tomasse providências cabíveis. Mobilizando-se de forma a organizar a assistência com as novas exigências sociais, políticas, econômicas e morais. Segundo Neto (2000, p. 110) desta forma, caberia ao Estado implantar uma política de proteção e assistência à criança, a qual foi estabelecida por meio do Decreto 16.272, de novembro de 19235. Consequentemente, a criança deveria ter seus cuidados higiênicos, saúde e educação atendidas, buscando a reintegração da criança na sociedade. Nesse período, surgiu o termo men�r, associado às crianças pobres, em situação de abandonado e marginalidade, sendo que o termo “menor” apresenta um sentido de cunho negativo. Portanto, a terminologia men�r não está ligado ao fator da idade, mas sim estava relacionada as questões sociais e econômicas, já o termo criança era para dar referência aos filhos de família consideradas adequadas na época, quanto ao nível social e econômico. A partir dos autores apresentados até o momento, podemos supor que historicamente na sociedade brasileira, as crianças e adolescentes negros e pobres começam a ter sua trajetória marcadas por estes estigmas, considerando que atualmente os (as) acolhidos (as) dos serviços de acolhimentos são em sua maioria as crianças negras e pobres, conforme discorremos ainda neste capítulo. Portanto, no sistema da roda dos expostos, em sua totalidade, predominava as crianças pobres e negras, pois o abandono dessas crianças era marcado pelo isolamento econômico e sociocultural do negro e do mulato no meio urbano acarretando a miséria social econômica desse sujeito (SILVEIRA, 2005). _____________________________ ³ De acordo com o dicionário Houaiss (2009) o termo amas de leite referiam-se as mulheres que amantavam crianças alheias; ama de leite, criadeira. 4 Nessa longa trajetória de circulação, por não haver fiscalização dos administradores das Santas Casas de Misericórdia, muitas crianças morriam por maus-tratos ou por descuido das amas mercenárias que, motivadas pelo salário que recebiam, mesmo este sendo ínfimo, traziam para seus cuidados mais de uma criança, não conseguindo cuidar de todas devidamente. Para se ter uma ideia, Marcílio (1998) destaca que há registros históricos de amas mercenárias que, em menos de dois meses tomaram três bebês da Roda para criar, pois assim que um falecia, iam logo buscar outro para substituir o primeiro. Cabe analisar, que a palavra men�r começou a ser utilizada no final do século XIX e início do século XX. A terminologia, no Brasil, aparecia constantemente no vocabulário jurídico a partir de 1920. A palavra passou a referir e indicar a criança em relação à situação de abandono e marginalidade, além de definir sua condição civil e jurídica e os direitos que lhe correspondem. (LONDONO, 1996). Referente aos marcos importantes entre o período de 1889 a 1985 cabe ressaltar que o Estado teve objetivo de controle em relação à institucionalização da infância no Brasil. Nessa contextualização histórica da infância no Brasil, abrange: a República Velha os marcos legais e normatizações (1889-1930); autoritarismo populista e o serviço de assistência ao menor- SAM (1930-1945); democracia populista (1945- 1964) ; e a ditadura militar e criação da Fundação Nacional do Bem- Estar do Menor (1964- 1985). Conforme análise do quadro abaixo dos autores PEREZ, José Roberto Rus; PASSONE, Eric Ferdinando (p. 652, 2010). Fonte: PEREZ, José Roberto Rus; PASSONE, Eric Ferdinando. Políticas sociais de atendimento às crianças e aos adolescentes no Brasil. Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, maio/ago. 2010 Disponível em: . Acessado em 21 de março de 2020. Nota-se então, que historicamente na sociedade brasileira, o início de “proteção” a criança se deu a partir da roda dos expostos, na qual observamos não se caracterizar como uma política pública de responsabilidade do Estado, mas como um tempo o Estado, é pressionado devido às transformações sociais, econômicas e políticas, a intervir nesta questão, através da implantação de instituições estatais, conforme aprofundaremos no próximo capítulo. 1.1 O conceito de família na era colonial e contemporânea Ao analisar a evolução do conceito de família, em nosso país, é necessário, fazer uma reflexão histórica sucinta do que seja família, desde os primórdios do período colonial até nos dias atuais. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742010000200017 Entende-se que a família sempre foi pensada na história do Brasil como a instituição que moldou os padrões da colonização e ditou as normas de conduta e de relações sociais desde o período colonial. (SAMARA, 2002). Sem dúvidas, o perfil predominado se dava pelo modelo patriarcal, em que a figura do homem era o responsável por cuidar da sua família e do sustento, através do trabalho, já a mulher era submissa, tendo responsabilidade de servir e dar herdeiros ao marido. Esse modelo funcionou como critério e medida de valor para entendermos a vida familiar brasileira ao logo dos tempos. No processo de formação de família, o Brasil colonial que foi de 1500 a 1822, sendo a primeira fase embrionária da futura nação brasileira, que possibilitou a chegada das primeiras famílias a nosso país, que contou com o apoio da Igreja Católica, para impor a moralidade pública na constituição das famílias. Nesse período colonial com a chegada da família imperial no país para explorar a terra, ao se deparar como os índios que tinham uma forma organizada de família com suas tribos, o intuito dos europeus era a escravização desses povos, porém muitas tribos resistiram, levando a confrontos e mortes. _____________________________ 5 No ano de 1923, através do decreto 16.272, foi criado no Distrito Federal um Juiz Privativo de Menores, que tinha a função de fornecer assistência, proteção, defesa, processo e julgamento dos menores abandonados e delinquentes (Decreto 16.272, art. 37.º, 1923). O branco colonizador, ao chegar, aqui encontrou de um modo geral a hostilidade do gentio da terra, que também tinha as suas famílias, organizadas em tribos ou nações indígenas, e que muito resistiu para não ser escravizado. Em certas regiões foram dizimados pelos colonos e em outras dizimaram a tentativa de implantação de assentamentos de colonos. (OLIVEIRA, 2004, p.50). Conforme ressalta Oliveira (2004, p. 50) pela resistência dos povos indígenas ao trabalho forçado, houve a necessidade do reino português autorizar a entrada dos negros vindos da África, como escravos, e assim, possibilitou no Brasil colônia, a constituição de uma terceira modalidade (1-brancos, 2- índios e 3-negros) de famílias, sendo essa de famílias negras. Como consequência, nesse período deu-se início a novos padrões de família através da miscigenação das raças, pois os brancos começaram a se amasiarem com as mulheres negras, principalmente os senhores de terras e engenho. O que era inevitável acabou acontecendo à mistura do branco, do índio e do negro, dando origem a uma miscigenação em grande escala em nosso período colonial, principalmente, levando-se em conta que a maior parte da população era constituída de homens solteiros ou desacompanhada de sua mulher, que vinham aventurar, na Colônia, na busca da riqueza fácil. (OLIVEIRA, 2004, p. 50). Ainda conforme aponta o autor: Portanto, em nossa colônia, claramente se percebia que a miscigenação das raças branca, negra e vermelha (ameríndia), acabou acontecendo quase que por um processo natural e que contava com um oposição ostensiva por parte da Igreja Católica, que via nisso um pecado e uma ilegalidade, pois não havia permissão do poder reinol para tais uniões. Apenas a título de ilustração, tem-se que a sociedade colonial tolerava a descendência dos brancos com as índias, pois ela não comprometia a transmissão do “sangue bom” dos reinóis, fato que não ocorria com a miscigenação dos brancos com os negros e destes com os indígenas. (OLIVEIRA, 2004, p. 50). No período colonial, as famílias com origem europeia tinham, por costume, formar famílias, de acordo com as diretrizes da Igreja Católica, com as normas reguladoras do casamento que seguiam os ditames do Concílio de Trento de 1563 e das Constituições do Arcebispo da Bahia6. Tem-se que durante o Período Colonial e o Período Imperial, a constituição das famílias, sob o aspecto legal, somente ocorria, através do casamento católico e a desconstituição dessas uniões, somente ocorria por intermédio do divórcio a não vínculo, que na verdade, correspondia a uma separação de corpos e a divisão do patrimônio, porém, nesses dois períodos, não se permitia o rompimento do vínculo matrimonial. Assim, a legislação religiosa e também a legislação que se tentou editar em tal período, sempre eram voltadas para a impossibilidade da não dissolução do vínculo matrimonial. (OLIVEIRA, 2004, p.50). Ao passar dos anos em com a promulgação da Carta Magna, a Código Civil de 1916, o Estado reconhecida a família através dos laços matrimoniais do casamento. Porém com ascensão das políticas públicas, através da Constituição Federal de 1988, houve grandes avanços no que diz respeito às novas configurações de família, refletidos no direito de famílias. Em suma, pode-se concluir que a família, no antigo Código de 1916, era fundada sob o aspecto matrimonializado, patriarcal, hierarquizado, heteroparental, biológico, como função de produção e reprodução e caráter institucional; esse quadro reverteu-se com a Lex Fundamentallis de 1988, refletindo também no Código Civil de 2002, tornando-se pluralizada, democrática, igualitária substancialmente, hétero ou homoparental, biológica ou socioafetiva, com unidade socioafetiva e caráter instrumental. (NORONHA e PARRON, 2017 p. 7). No que tange os aspectos da evolução do conceito de família, sob a perspectiva da sociedade brasileira, considerando que foi um país colonizado e desde a inserção da família imperial no Brasil que trouxe novos costumes de vidas para os povos indígenas, e após, a vinda dos negros escravos, sendo inevitável a mistura de raças, conceituado como miscigenação. Ao passar dos anos foi sendo criando novas configurações de família, através do fruto das misturas de raças e culturas, porém por longos anos o conceito estava atrelado ao casamento, mas com o passar dos tempos foi se originando novas adaptações de família, o que não poderia ser ignorado pelo Estado, fazendo-se necessário o reconhecimento e garantia a sua proteção, que antes era reconhecido pelo casamento e devido aos avanços é reconhecido o conceito de família através da efetividade, sendo todos dignos de proteção do Estado. _____________________________ 6 Soares, NORONHA, Maressa Maelly Soares. PARRON, Stênio Ferreira. A evolução do conceito de família Disponível em: . Acessado em 10 de abril de 2020 • A transformação do conceito família A origem do conceito família está expressamente ligada à evolução da sociedade e suas necessidades. A família surgiu como um fenômeno natural, criado da necessidade do ser humano de afeto e de estabelecer e manter relações estáveis. (NORONHA; PARRON, 2017, p. 18). O modelo antigo reconhecido como família, era o patriarcal, patrimonial e matrimonial. Onde o homem era a figura do “chefe de família”, era o líder, o centro do grupo familiar e responsável pela tomada das decisões que deveriam ser seguidas por todos os outros membros. Sabe-se também que, a ideia de família é matrimonial e imperialista, ou seja, os casamentos não eram feitos por afinidade ou feição, mas sim, por interesses de poder e patrimônio, como destacam Silva e Ribeiro (2017): [...] A ideia de família patrimonial e imperialista, prova disso estar no fato de que família era constituída unicamente pelo casamento, união entre o homem e a mulher. Pois, até pouco tempo atrás, o seio familiar era patriarca, com domínio exclusivo do marido sobre a mulher, que parecia um ser criado para cuidar do lar. (SILVA, RIBEITO, 2017, p. 14 e 15). http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170602115104.pdf A constituição da família era conhecida somente pelo casamento, não existia a ideia de união estável ou demais arranjos familiares conhecidos hoje. Manter o poder e as aparências era tão importante, que a ideia de divórcio não poderia jamais ser cogitada, a felicidade e a liberdade dos membros era deixado como segundo plano. O Código Civil de 1916 ligava o conceito família com dois pontos fundamentais: o matrimônio e consanguinidade entendia o casamento entre homem e mulher, não permitindo o divórcio, mas não de forma definida. Com as mudanças na história de evolução da sociedade, fez-se necessário que os arranjos de família mudassem também, segundo Silva e Ribeiro (2017). A família passou por muitas transformações ao longo do tempo. Antes o conceito de família formada pelo pai, pela mãe e pelos filhos, mas devido a mudanças que ocorreram na sociedade esse conceito foi se abrangendo e com isso foram surgindo outros tipos de famílias e aceito pela legislação e garantida a sua proteção e respeito. Devido a essas mudanças ocorridas na sociedade o conceito de família não se baseia mais em uma visão apenas de reprodução, mas sim de valorização e respeito à afetividade humana. (SILVA, RIBEIRO, 2017, p. 20). A partir daí o modelo de família tornou-se mais democrático, e deixou de ser vista como uma instituição. Tal avanço considerável nos modelos de família tem como um de seus maiores responsáveis o princípio da dignidade humana, que visa maior proteção à pessoa, sua liberdade e felicidade. Portanto, é notável que a ideia de família já evoluiu consideravelmente, trazendo diferentes modelos como a homoafetiva7, monoparental8 e entre outras e pode-se confirmar que os avanços obtidos na atualidade tem como parâmetro os movimentos sociais e as transformações na constituição da sociedade brasileira, que além de contribuírem com tais avanços na ideia de formação de família, contribuiu também para avanços no processo de adoção no país. No entanto, ao discutir as transformações da família, é importante não perdemos de vista a sua relação de família, raça e eugenia na sociedade brasileira, uma vez que a população negra configura-se marcada pela teoria eugenista, implicando ainda mais nas crianças e adolescentes negros (as) acolhidos (as). 1.2 O negro e a teoria da eugenia no Brasil Para entender a atual configuração da sociedade brasileira, é necessário compreendemos que o território denominado “Brasil” é fruto da invasã� e da expl�raçã� da f�rça de trabalh� da p�pulaçã� negra, ou seja, a nossa sociedade é marcada não apenas pela barbárie ocorrida ao povo originário (indígenas), mas também da população negra. ____________________________ 7 É uma relação baseada no afeto entre pessoas do mesmo sexo. 8 Ocorre quando a família é constituída pela adoção, em que um indivíduo solteiro (independentemente de sexo) adota uma criança, constituindo um núcleo familiar, ou por superveniente, quando se origina da de um núcleo parental composto por duas pessoas, mas que sofre os efeitos da morte, separação de fato ou divórcio. Nesse contexto o Brasil no século XVI passou por um processo escravista. A colônia portuguesa traziam homens, mulheres e crianças negras para serem vendidas como escravos para comerciantes. Os navios negreiros trazidos em péssimas condições (desumanas), quando chegavam ao Brasil eram levados para as fazendas obrigando-os a trabalharem de sol a sol. Empilhados nos porões, recebendo parcas rações de comida e de água, era natural que o morticínio fosse acentuado. Perdia-se, invariavelmente, 10% da carga, na melhor das hipóteses, e casos houve em que morreu a metade dos indivíduos transportados. Amontoados no porão, quando o navio jogava, a massa de corpos negros agitava-se como um formigueiro, para beber um pouco desse ar lúgubre que se escoava pela estilha gradeada de ferro. (MACEDO, apud. MARTINS, 1974, p. 29). Os senhores de engenho utilizavam a mão de obra das mulheres para tarefas domésticas como: lavar, cuidar dos filhos dos senhores e ser ama de leite. Já na metade do século XIX, a Inglaterra questionava a escravidão no Brasil, pois prejudicava seus interesses comerciais e com isso foi criada a Lei Bill Aberdeen de 1845 onde proibia o tráfico de escravos. Logo no Brasil, foi promulgada no dia 4 de setembro de 1850 a Lei n° 581 Eusébio de Queirós, elaborada pelo político Eusébio de Queirós Coutinho Matoso Câmara, que visava à proibição do tráfico de escravos. Neste momento, observam-se as transformações no mundo, que começam a impactar na então, força de trabalho dos escravos, caminhando para uma futura força de trabalho livre. Tanto que no dia 28 de setembro de 1871 foi aprovada Lei n° 2.040 conhecida como Ventre Livre. Considerada um marco no processo de abolição da escravidão no Brasil, em que determinava que os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir desta data ficariam livres, conforme consta no primeiro artigo: Art. 1º - Os filhos de mulher escrava que nasceram no Império desde a data desta lei serão considerados de condição livre. Já no século XVIII, de acordo com Costa e Diener (1999) os interesses da Igreja Católica se assimilaram aos interesses dos proprietários de escravos, no qual os escravos teriam o direito de casarem, contudo, a condição de constituírem uma família não significa liberdade. A Igreja defendia o direito do escravo de casar e usufruir de uma vida conjugal normal, como se não estivesse em cativeiro, mas deixava claro que o casamento não significava a alforria. Aconselhava os proprietários a casar os seus escravos e evitar nas partilhas a separação das famílias constituídas. (SAMARA, 1989, p. 33). Os casamentos legítimos pela lei e pela igreja traziam complicações aos donos de fazendas, pois no momento de serem separados, ou seja, vendidos à igreja contestava, pois só caberia a ela a separação. Apesar de o casamento ser incentivado pelos senhores, para que os escravos tivessem mais filhos, e não fugissem, em algumas circunstâncias era difícil controlar os escravos, pois eles tinham relações sexuais com várias escravas, engravidando-as, deixando muitas escravas mães solteiras. As crianças que nasceram após a Lei do Ventre Livre eram chamadas de ingênuo, pois sua mãe era escrava e os mesmo não teria o direito à escola etc. Muitas vezes quando chegava a idade de 6 anos as crianças já trabalhavam para não serem abandonada, não existia nenhuma proteção social, porém em alguns casos as crianças eram abandonadas. Podemos supor, que as marcas do abandono à proteção social e o abandono real, atinge primeiramente os (as) negros (as) mesmo após a Lei do Ventre Livre, por outro lado também, percebe-se que a configuração de uma família negra da época não significava a liberdade, além da violência sexual na qual passavam as escravas, reforçava com isso os estereótipos inferiores e preconceitos que ainda se tem na sociedade brasileira em relação às famílias negras e suas crianças e adolescentes. Por ser o Brasil um país que passou por um processo de escravidão, e nesse processo o negro sofreu terríveis requintes de crueldades, tratados como inferiores, mesmo após as leis que proibiam a escravidão, e anos mais tarde trouxe a liberdade. Cabe ressaltar, que o negro para entender e posicionar-se como sujeito emancipado levou um longo processo de luta pela liberdade, dignidade e igualdade, a ser reconhecidos pela sociedade como sujeitos de direitos, porém para usufruir dos mesmos direitos que os brancos sempre tiveram acesso, era necessário um ajustamento de atitudes e comportamentos de acordo com a ideologia e moral do branco. Ao assimilarem os valores sociais e/ou morais da ideologia do branqueamento, alguns negros avaliavam-se pelas representações negativas construídas pelos brancos. Era necessário ser um “negro da essência da brancura”. Por isso, desenvolveram um terrível preconceito em relação às raízes da negritude. Aliás, a recusa da herança cultural africana e o isolamento do convívio social com os negros da “plebe” eram duas marcas distintivas dos negros “branqueados socialmente”. (DOMINGUES, 2001, p.576). Nesse percurso em que os negros eram tratados como inferiores, sendo aceitável e propagado na sociedade essas ideias carregadas de preconceitos, surge no Brasil, no início do século XIX a Teoria da Eugenia criado pelo britânico Francis Galton (1883), que estudou diversas famílias e defendia que as características eram passada de geração a geração, para Francis existia dois tipos de eugenia a positiva em que pessoas saudáveis deveriam se reproduzir com pessoas saudáveis e a negativa no caso de pessoas débeis, doentes que não deveriam se reproduzir. Francis era totalmente contra casamentos livres, para ele casamento deveria ser arranjado. Essa teoria influenciou muito intelectuais de diversos países, já no Brasil foi divulgado por Renato Ferraz Kehl. Tinha como princípio alcançar uma raça pura e superior, através da esterilização e a tentativa de branqueamento, por meio do casamento. Segundo essa teoria havia raças inferiores. Nós, os eugenistas, queremos que de idade em idade cada geração seja superior à geração que a precedeu. A eugenia, segura de seus desígnios, assentada em sólidos alicerces científicos, guinada por princípios, continuará, por intermédio dos seus prosélitos, na faina de implantar o grande ideal de regeneração das raças. [...] Para alcançar a regeneração humana e transformar este planeta em um novo jardim de delícias, onde imperará a saúde, onde reinará a harmonia social e internacional, só existe um caminho a seguir: o do ideal eugênico. (KEHL, 1923, p.35). A partir das configurações referentes à questão do branqueamento, podemos supor que a sociedade brasileira a partir desta teoria, reforça entre a população um padrão, ou seja, “famílias brancas”, “crianças e adolescentes brancos”, “uma sociedade branca”, e isso inviabiliza uma sociedade desigual entre negros e brancos. Sendo o Brasil um país de extrema miscigenação resultado de uma formação colonial e de migrações, através vinda dos europeus, atraídos pela oportunidade de trabalho e riqueza que o país poderia oferecer, houve após a abolição da escravidão, um grande aumento de brancos no país. Portanto no Brasil a teoria da eugenia foi difundida através da tentativa de branqueamento que teve início no século XIX. Acreditava-se que com o clareamento poderia melhorar a imagem do país, e em alguns anos não existiria mais negros. Havia, dessa maneira, um projeto de higienização não apenas dos espaços físicos, mas também uma “higienização” moral, que valorizava os costumes europeus ditos civilizados, em detrimento de elementos da cultura popular e africana que deveriam ser condenados – e na impossibilidade de seu total desaparecimento deveriam ser ao menos excluídos visualmente da “vitrine”, isto é, a região central da cidade. (PEIXOTO, 2017, p. 79). De acordo com autora Diwan (2007), a eugenia no Brasil começou quarenta anos após a escravidão, segundo a mesma, Renato Kehl acreditava que a mestiçagem trazia para o país um desequilibro, e defendia a política a higienização. No ano de 1929, Renato Kehl, no livro, lições de eugenia, decretou: “a nacionalidade brasileira só embranquecerá á de muito sabão coco ariano”! dessa premissa dependia a melhoria da raça brasileira. Essa imagem de limpeza remete também ao modo como deveriam agir os eugenia a: esfregando, torcendo e branqueando os corpos do povo brasileiro, como se fossem roupas sujas. Politicas compulsórias como a restrição de imigração a esterilização e o controle de casamentos estavam entre suas propostas. (DIWAN, 2007, p.86). Essa política do branqueamento acreditava que através da miscigenação (etnia racial), ou seja, a mistura de raças, os descendentes de negros ficariam mais brancos a cada geração, e no futuro não haveria mais negros, pois o negro nessa época era considerado inferior. Havia uma discriminação racial muito forte, e esse conceito era considerado natural, e aceitável, incentivados pelas massas intelectuais, pelas mídias, propagandas e a classe burguesa. Em uma conjuntura na qual a classe dominante franqueou uma fé “religiosa” no branqueamento, o mestiço, dependendo do grau de pigmentação da pele, era classifica do como quase branco, semibranco ou sub-branco e tratado de forma diferenciada do negro retinto, porém não era considera do um quase negro, se mi negro ou sub negro. Em outras palavras, podemos afirmar que a mestiçagem era via de mão única. No cruzamento do branco com o negro, necessariamente, contava-se com o “clareamento” gradual e permanente da pessoa, mas jamais se cogitava a hipótese de que a mestiçagem gerava o “enegrecimento” da população. (DOMINGUES, 2001, p. 568-569). Portanto vivemos em um país que trazem marcas esse processo escravista, em que o negro ainda nos dias atuais necessita se posicionar frente à discriminação racial. É lamentável que em pleno século XXI ainda há rastros da teoria da eugenia, e tentativa de branqueamento. Ainda hoje o branco é supervalorizado, nas diversas esperas da nossa sociedade, e apesar dos avanços pela luta da igualdade étnica racial, há muito ainda a fazer e evoluir no pensamento intelectual, no combate ao preconceito, pois de acordo com o código 5° da CF de 1988, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, e que de fato essas leis sejam efetivas para todos sem restrições. E nesse processo de preconceitos racial enraizado na nossa sociedade seja explicito ou na maioria dos casos é velado, no que tange a adoção de crianças, sabendo que o perfil da maioria dos institucionalizados são de crianças de cor negra, e que os pretendentes em sua maioria querem adotar bebês e crianças de cor branca, nota-se que de fato há uma questão de preconceito estruturalmente cultural, pois a muitas barreiras que o negro enfrenta desde os tempos passados até os dias atuais o que se refere à valorização perante a sociedade. • O SERVIÇO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL Neste capítulo pretende-se abordar sobre o serviço de acolhimento institucional e quais questões referem-se sobre a institucionalização de crianças e adolescentes. Os serviços de acolhimentos antes precários devido a diversos fatores, conforme análise crítica abordada no capítulo 1, desde a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as instituições, hoje conhecida como abrigo ou centro de acolhimento institucional, com as novas diretrizes e parâmetros de funcionamento, vem rompendo com o passado em que crianças e adolescentes eram, legalmente e por tempo bastante prologando afastados da vida comunitária e familiar. (GUARÁ, 2006, p.9). Nesse contexto, nos antigos abrigos no Brasil, existia uma predominância da função assistencialista, fundada na perspectiva tão somente de ajudar, oferecendo somente um local para as crianças e adolescentes abandonadas, havendo um frágil compromisso com as questões fundamentais de desenvolvimento da infância e da adolescência. Em 2009, foram instituídas, pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), as normativas9 para o sistema de instituições que abrigam crianças e adolescentes no Brasil, trazendo, portanto novas concepções sobre o acolhimento institucional no Brasil. (SANTOS, 2013). Observa-se que a promulgação do ECA, a defesa é de caráter provisório dos centros de acolhimento10, conforme Art. 2o assinala que a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária (BRASIL,1990). E baseados no princípio da proteção integral11, os abrigos tem a missão educativa e de proteção, de forma que as crianças e adolescentes e as famílias atendidas possam desenvolver-se com segurança enquanto durar o acolhimento. _____________________________ 9 Orientações técnicas para os serviços de acolhimento de crianças e adolescentes. Resolução Conjunta n° 1, de 18 de junho de 2009. Disponível em Acesso em 10 de nov de 2019. Os abrigos, como medida de proteção prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, são uma conquista para a garantia integral dos direitos desses jovens. Certamente, como diz a lei, deve ser uma medida excepcional e provisória. Mas o tempo de vivência de cada menino e menina no abrigo deve ser pleno de significado, uma oportunidade imperdível de desenvolvimento. (GULASSA, 2010, p. 8). Conforme ressalta Gulassa (2010) o abrigo, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é uma medida de proteção integral e especial, provisória e excepcional, para crianças em situação de risco social e pessoal. A entrada da criança no abrigo implica a abertura de um processo judicial, o afastamento (provisório ou não) da convivência familiar e a passagem da guarda provisória dela para o dirigente do abrigo. De acordo com a história, o fator socioeconômico e a vulnerabilidade social foram é ainda é uma das justificativas que levam as crianças e adolescentes a serem institucionalizados. A realidade tem mostrado que a ausência de recursos básicos, como moradia, alimentação, emprego e outros, se apresenta, por vezes, como um dos principais motivos que conduzem à colocação de uma criança ou jovem em abrigo ou em família substituta. Muitos pais, não tendo condições de manter sua prole, repassam, definitivamente, seus deveres e obrigações às pessoas que possuam melhor padrão de vida. (SILVEIRA, 2005, p. 36). Porém com a promulgação do ECA, esse fator não pode ser considerado motivos suficientes para perda do poder familiar. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio poder. Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficias do governo. (BRASIL, 1990, Art.23). Conforme afirma Gulassa (2010) o papel do abrigo não deve refletir um lugar de abandonados e de excluídos, é necessário que a instituição busque constantemente a concretização da função, do seu papel e da identidade, para assim refletir mudanças na formação do ser social de meninos e meninas institucionalizados, realizando trabalho de projeto de vida, emancipação, autonomia desses sujeitos, trabalhando elementos como, a preservação dos vínculos familiares, a integração em família http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf substituta quando esgotados os recursos de investimento na família de origem, o atendimento personalizado e em pequenos grupos, desenvolvimento de atividades em regime de coeducação, não desmembramento do grupo de irmãos, evitar transferência para outras entidades, a participação na vida da comunidade local, preparação gradativa para o desligamento, e a participação de pessoas da comunidade no processo educativo. Os abrigos precisam se recriar, se reinventar, criando modelos de novas comunidades. É necessário construir novas relações que assumam o papel de transformação social – com objetivos clarificados, metas definidas, estruturas humanizantes, profissionais qualificados, reflexivos, competentes, capacitação contínua, recursos financeiros condizentes, relações de igualdade e cooperação com os outros protagonistas do sistema de garantia de direitos da criança/do adolescente e da família. O abrigo, como proposta, tem a missão de ser o lugar de inclusão. Para tanto, ele precisa criar esta possibilidade para si próprio como instituição. É esse movimento dos abrigos que descrevemos nesta publicação. (GULASSA, 2010, p. 9). Portanto, cabe salientar que os abrigos ao oferecer proteção, devem no processo de formação, trazer elementos para reflexão, estimular os profissionais que fazem parte da construção da identidade dos abrigos, trazer elementos em seu exercício profissional à capacidade de sonhar, de mudar, refletindo nos abrigos um espaço de esperança, de construção de vínculos de um projeto de vida para esses sujeitos institucionalizados, não ficando no papel de submissos e impossibilitados, mas de pessoas capaz de construir sua história. _____________________________ 10 Cabe assinalar, que atualmente a nomenclatura destes serviços é “Serviços de Acolhimento Institucional para Criança e Adolescentes”. 11A Constituição Federal é o marco legal do princípio da proteção integral da criança e do adolescente no Brasil, de acordo com Passetti (1999, p. 345) o artigo 227 da Constituição Federal afirma que será “com absoluta prioridade” que se deverá assegurar os direitos às crianças e aos adolescentes, princípio que se repetirá no parágrafo único do artigo 4° do ECA - A garantia de prioridade compreende: primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. 2.1 A Institucionalização: FEBEM e FUNABEM A partir da década de 60, surgem algumas mudanças em relação a assistências às crianças abandonadas, pois nessa época de ditadura militar, marcado por forte repressão aos direitos individuais e coletivos, de caráter repressivo. Com o a predominação do autoritarismo, os menores abandonados e infratores, eram vistos como questão de segurança nacional, cabendo ao Estado disciplinar, reeducar para que a criança abandonada não viesse a se tornar um marginal. Através desse conceito existente na época, foi criada em 1964, a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), órgão normativo que teve a finalidade de criar e implantar a Política Nacional de Bem-Estar do Menor, através da elaboração de diretrizes políticas e técnicas. No ano de 1964, o governo militar introduziu, mediante a Lei 4.513 de 1º de dezembro de 1964, a Política Nacional do Bem - Estar Social do Menor, cabendo a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) sua execução. Seus objetivos eram cuidar do menor carente, abandonado e delinquente, cujos desajustes sociais se atribuíam aos desafetos familiares (NETO, 2000, p. 111). Silveira (2005) afirma que gestado na visão conversadora do regime militar, nos anos 60, o enfoque assistencialista tinha por finalidade suprir carências biossociais da infância e da adolescência pobre, mediante a Política Nacional de Bem Estar do Menor. Porém, esse novo modelo de pensar à questão infanto-juvenil, não contribuiu para sair das amarras repressivas mantidas anteriormente. Portanto, observa-se que a Lei n° 4.513, de 1 de dezembro de 1964, não abrangia todas as idades, mas apenas, as crianças que se encontravam em situação de risco, ou seja, meninos e meninas abandonadas pelas mães, pais ou responsáveis e aqueles que tinham alguma deficiência, ou crianças que viviam em conflito com a lei. Surge também em nível estadual as FEBEMs (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor), que tinham por objetivo adequar a assistência que era quase exclusiva da Igreja Católica, como por exemplo, a Casa de Misericórdia e a roda dos expostos. O juizado passou a encaminhar as crianças órfãs ou abandonadas para essas fundações, no qual ficavam esperando serem adotadas, e enquanto viviam nas fundações, realizavam atividades propícias à formação, treinamento e aperfeiçoamento, seguindo rígidas disciplinas. Figura 2- FEBEM – Uma sala de aula com menores infratores ou abandonados no início do século 20, em São Paulo. Fonte: Machado (2019).12 A FUNABEM e a FEBEM eram responsáveis por fornecer suporte e assistência, orientando, coordenando e fiscalizando as entidades (públicas e privadas) que executassem suas políticas, através de convênios e contratos, e, também, mobilizando a opinião pública no sentido da indispensável participação de toda a comunidade na solução do problema do menor. Através do Decreto 17.943-A, de 12 de outubro de 1927, surge o primeiro Código de Menores no Brasil. Nesse período, o código foi considerado um marco brasileiro para assistência e proteção à infância e adolescência da época. O Código de Menores também era conhecido como Código de Mattos, uma referência ao Juiz José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, o idealizador do código. Nesse código, as crianças que se encontrava em situação irregular, eram qualificadas em termos legais como delinquente ou abandonado, e deveriam ser submetidos a correções, conforme Art. 1° o menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente ás medidas de assistência e proteção contidas neste Código (Brasil, 1927). O Código de Menores consolida a prática de prevenção e sedimenta em termos legais a ideia de correção a que deveriam ser submetidas crianças e adolescentes, entendidos legalmente como menos qualificados como abandonados e delinquentes. (ROSA, 2001, p.190). Posteriormente em 1979 teve um avanço significativo, pois foi promulgado pela Lei n° 6.697/1979, o novo Código de Menores que dispunha sobre a assistência, proteção e vigilância das crianças e adolescentes. Nesse contexto, o Estado começou a dar os primeiros passos com relação à assistência e proteção à infância. Tanto é que, em 1927, a partir da promulgação do primeiro Código de Menores, o Estado possibilitou a criação de um sistema público de atendimento que definia um novo projeto jurídico e institucional que não fosse apenas repressivo, mas fosse preventivo, disciplinar e tutelar. (SANTOS, p. 68). Nota-se que o novo Código dos Menores dava ao Estado o poder de aplicar medidas de caráter preventivo a todo menor de dezoito anos, independente de sua situação, era mais ligado a punir � men�r p�bre. Desse modo através de políticas previa criação de instituições, permitia ao Estado uma intensa intervenção sobre as famílias, podendo retirar a criança do convívio familiar, indicando a possiblidade de destituição do pátrio poder13 e encaminhando o caso ao juiz. Conforme ressalta Passetti (1999): O Código de Menores de 1979 atualizou a Política Nacional do Bem- Estar do Menor formalizando a concepção “biopsicossocial” do abandono e da infração e explicitou a estigmatização das crianças pobres como “menores” e delinquentes em potencial através da noção de “situação irregular” expressa no artigo 2o: para os efeitos deste Código considera- se em situação irregular o menor: I. privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente em razão de: a) falta, ação ou omissão, dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; II. vítima de maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsáveis; III em perigo moral, devido: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes, devido: a encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; b) exploração em atividades _____________________________ 12 MACHADO, Leandro. BBC News Brasil em São Paulo. Como o Brasil trata menores infratores dos tempos do Império até hoje. 2019. Disponível em: Acesso em 14 out.2019. contrária aos bons costumes; IV. privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V. com desvio de conduta em virtude de uma grave inadaptação familiar ou comunitária; VI. autor de infração penal. (PASSETTI, 1999, p. 344). Porém, a institucionalização tinha ação de disciplinar, educar e ou reabilitar o menor para voltar ao convívio social, sempre com rígidas regras e quem não obedecesse às regras seriam severamente punidos. Era a disciplina, e os muros em volta como confinamentos os principais critérios de eficácia dos programas de assistência aos menores. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47661497 Portanto, havia muitos casos de violência, crueldade, e uma série de violação de direitos que esses internos viviam nessas instituições, trazendo sérios problemas para formação do ser social dessas crianças. Assim, de acordo com Passetti (1999): Num mundo de exclusões econômicas, interdições de prazeres e ilegalidades do tráfico, a prisão e o internato representam um novo circuito de vítimas formado por condenados pela justiça, ampliando, desta maneira, o círculo das compaixões. Em nome da suposta integração social, da ordem, da educação, da disciplina, da saúde, da justiça, da assistência social, do combate ao abandono e a criminalidade, as ações se revezam para consagrar os castigos e as punições em um sistema de crueldades. Se é sabido que a prisão não educa ou integra adultos infratores, ela não deveria servir de espelho para a educação de jovens ou para sequer corrigir-lhes supostos comportamentos perigosos. (PASSETTI, 1999, p. 344). Com o passar dos anos e extinção do Regime Militar em 1985, ocorrem diversas denúncias quanto ao descaso com a questão da criança e do adolescente, tornado o Código de Menores insuficiente. Em um contexto, vivenciado no Brasil pela luta contra a ditadura, surgem vários movimentos na década de 80, através dos militantes de diversas causas na busca pela dignidade humana, liberdade e direitos. Nesta época, surge o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), cujo objetivo era a luta pelos direitos da criança e do adolescente. Conforme ressalta Souza (2013): A conquista dos direitos sociais no âmbito da infância e adolescência deve-se, sobretudo, aos movimentos sociais insurgidos a partir da década de 1980 no Brasil. Dentre os existentes, o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) se destacou ao propor um atendimento às crianças e adolescentes de forma diferenciada, no sentido de promover o empoderamento dos jovens moradores de rua para que percebessem que a realidade em que estavam inseridos não era natural, mas sim fruto de um sistema que a produz. (SOUZA, 2013, p.2). Este movimento atuava de forma independente, não estava ligada à igreja e nem ao Estado. O movimento não atendia de forma direta os menores14, porém mobilizava os próprios menores, funcionários, educadores, diretores das instituições como a FEBEM e a FUNABEM. Buscavam lutar pelos direitos sociais referentes às crianças e os adolescentes, através da mobilização popular, atuando em conjunto com outros movimentos populares da época. O Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) é uma organização popular não governamental autônoma, composta basicamente de voluntários, que busca, através do engajamento e da participação das próprias crianças e adolescentes, a conquista e a defesa de seus direitos de cidadania (BRASIL, 1994, p.11). Esse movimento teve total importância nas conquistas aos direitos das crianças e adolescentes, que posteriormente fez emergir o Estatuto da Criança e do Adolescente, pois nesse período buscou dialogar, mobilizando e dando visibilidade nacional e internacionalmente a essa questão social. Frente à nova realidade da época, e como resultado do processo de redemocratização do Brasil é promulgado em 1988 a Constituição Federal (CF), também conhecida como Constituição Cidadã. Para Passetti (1999, p.344) a Constituição de 1988, expressou o fim da estigmatização formal pobreza-delinquência e pode-se pensar, então, novo paradigma de proteção para a criança e adolescente, materializando no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). _____________________________ 13 A terminologia pátrio poder, referia-se ao direito exercido exclusivo do pai, não se entendendo a mãe, conforme art. 380 do Código Civil de 1916, durante o casamento, exerce o pátrio poder o marido, como chefe da família, e, na fala ou impedimento seu, a mulher. Porém com as mudanças na legislação esse termo é retirado, passando a ser utilizado o termo poder familiar, portanto essa nova nomenclatura, refere-se aos direitos e deveres igualitários para a mãe e o pai da criança. 14 Cabe assinalar que o termo “menor” aqui exposto se refere à terminologia utilizada na época. 2.1.1 A história dos direitos das crianças e dos adolescentes: Código de Menores vs ECA Neste sub- capítulo pretende-se resgatar o processo sócio- histórico das conquistas dos direitos das crianças e adolescentes, para isso apresentaremos a transição entre o Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Desde os primórdios da sociedade crianças e adolescentes existem, sabe-se que todo e qualquer ser humano passa por ambas as fases antes de tornar-se um adulto. Antes de meados do século XX, não há vestígios de tentativas de políticas sociais desenvolvidas afim de proteger e acolher crianças e adolescentes na sociedade brasileira. As crianças de famílias carentes que se consideravam incapazes de cuidar de seus oriundos buscavam soluções juntamente com a igreja entregando-os através da roda dos expostos, conforme apresentado anteriormente. Em 1927, surge o primeiro código voltado a crianças e adolescentes, o Código de Menores. Por sua vez, o Código de Menores não possuía abrangência para todos os jovens da sociedade brasileira, mas sim, aos considerados “delinquentes” perante os valores da época. Focado na preservação da ordem o Código de Menores colocava o Estado como responsável por crianças e adolescentes consideradas infratoras afim de reeduca-las e recupera-las. Para a psicóloga social e mestre, Ana Silvia Ariza de Souza (2017), de maneira hostil, o Código de Menores associava a pobreza a delinquência, acreditando que há uma genética de pobreza, que torna todo e qualquer jovem pobre, automaticamente em um delinquente, ignorando a existência da questão social. Essa inferiorização das classes populares continha a ideia de norma, à qual todos deveriam se enquadrar. Como se os mais pobres tivessem um comportamento desviante e uma certa “tendência natural à desordem”. Portanto, inaptos a conviver em sociedade. Natural que fossem condenados à segregação. Os meninos que pertenciam a esse segmento da população, considerados “carentes, infratores ou abandonados” eram, na verdade, vítimas da falta de proteção. Mas, a norma lhes impunha vigilância. (SOUZA, 2017, s/n). Apesar do caráter discriminatório e mesmo anulado na década de 70, o Código de Menores foi à porta de entrada para a garantia de direitos dos jovens na sociedade brasileira, um de seus maiores feitos foi o artigo que prevê que jovens menores de 18 anos não podem ser processados criminalmente. Além disso, o Código de Menores também previu o fim da roda dos expostos e a obrigatoriedade do registro da criança com o nome dos pais logo após o nascimento. Com a difusão da Constituição de 1988, houve o reconhecimento de um campo na legislação voltado somente a proteção de crianças e adolescentes. No ano de 1989, na convenção das Nações Unidas, efetivou-se a construção de uma nova lei de proteção, conhecida hoje como ECA. Em 1990 surge o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, conhecido como uma espécie de filhote do Código de Menores, surgiu trazendo proteção a todas as crianças e adolescentes independente de suas condições. Apesar da maneira como o ECA é conhecido, a diferença entre os dois códigos de menores de 1979 e o ECA é nítida. Ainda segundo Souza (2017), o ECA trouxe o reconhecimento das crianças e adolescentes como seres de direito e não mais como portadores de carência. Além disso, o antigo Código funcionava como instrumento de controle, transferindo para o Estado a tutela dos “menores inadaptados” e assim, justificava a ação dos aparelhos repressivos. Ao contrário, o ECA serve como instrumento de exigibilidade de direitos àqueles que estão vulnerabilizados pela sua violação. (SOUZA, 2017, s/n). É importante lembrar que o Código de Menores de 1979, compreendia a criança como um mini adulto, tratando-o da mesma maneira como os demais cidadãos, não levando em consideração que a infância e a adolescência são fases de desenvolvimento e, segundo daí deriva-se a importância do ECA: Proteger aqueles que vivem em período de desenvolvimento físico, psicológico, moral e social. Para Márcia Bonapaz de Moura (2006, p.4), é dever da comunidade e da família assegurar os direitos garantidos às crianças e adolescentes, sendo a família a maior responsável pela educação e criação, podendo o Estado intervir quando a família não houver suporte para fazê-lo, independentemente de sua formação. A partir desta transição entre o Código de Menores e o ECA, nota-se que a proteção das crianças e adolescentes busca não permear a pobreza e a delinquência, mas sim a proteção integral, bem como expressa as responsabilidades do Estado, da família e da sociedade, e neste contexto, cabe ressaltar que a adoção adquire um patamar relevante na proteção das crianças e adolescentes. 2.1.2 A adoção de crianças e adolescentes e seu processo histórico Desde a época da colonização a adoção esteve presente. Inicialmente, a adoção era realizada por caridade: os mais ricos prestavam assistência aos mais pobres. Tal maneira de “adoção”, além de não ser formalizada, possuía interesses que iam além da caridade. O maior interesse dos mais ricos em adotar e acolher crianças mais pobres, não dera de fato cuidar, era obter mão-de-obra gratuita. Este “filho” ocupava um lugar diferenciado, sendo também singular a maneira como era tratado, sempre de forma distinta, comumente