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Capítulo VII – Conversão do Mundo Antigo 
(Resumo de ORLANDIS, 93-120) 
 
1. O Édito de Milão 
Tetrarquia de Diocleciano: Sistema de governo com dois Augustos (Diocleciano e 
Maximiano) e dois Césares (Constâncio Cloro e Galério). 
 
Édito de Sárdica (311): 
Emitido por Galério próximo de sua morte. 
Reconhece a existência dos cristãos e permite assembleias e atos de culto. 
Marca a primeira tolerância oficial ao cristianismo, que deixa de ser visto como 
superstitio illicita. 
 
Constantino e a Ponte Mílvio (312): 
Vitória sobre Maxêncio; Constantino assume o poder. 
Segundo a tradição, suas tropas usavam o monograma de Cristo após uma visão que ele 
teria tido. 
 
Édito de Milão (313): 
Documento que declara tolerância ao cristianismo e liberdade religiosa a todos. 
Garante à Igreja a recuperação de lugares de culto, propriedades e bens confiscados. 
Representa um marco decisivo para a aceitação e crescimento do cristianismo no Império 
Romano. 
 
2. Da Liberdade Religiosa à Unidade Católica 
Constantino e a Promoção do Cristianismo (324 em diante): 
Declaração de fé cristã nos éditos destinados ao Oriente. 
Exortação aos súditos para seguirem a “lei divina”. 
Paganismo é tolerado, mas descrito como “falsa religião das trevas”. 
Funcionários imperiais proibidos de participar em sacrifícios pagãos. 
Administração imperial favorece cristãos. 
 
Iniciativas em Prol do Cristianismo: 
Construção de basílicas e templos em Roma e Constantinopla. 
Concílio de Arles (314): enfrentou o cisma donatista. 
Concílio de Niceia (325): combateu o arianismo. 
 
Leis: 
Restringem o divórcio. 
Transformam o domingo em dia festivo semanal. 
Favorecem a Igreja com imunidades, isenções fiscais e reconhecimento civil dos tribunais 
episcopais. 
Introduzem a manumissão na Igreja (libertação de escravos). 
 
Política Pós-Constantino: 
Continuação da hostilidade ao paganismo. 
Exceção: Juliano, o Apóstata (breve reinado), tentou restaurar o paganismo sem sucesso. 
 
A Culminação com Teodósio: 
Constituição Cunctos Populos (380): 
Proclamou o cristianismo católico como religião oficial do Império. 
Determinou adesão à fé cristã “transmitida pelo Apóstolo Pedro aos Romanos”. 
Desobediência resultava em infâmia legal. 
 
Leis posteriores: 
Proibiram qualquer ato de culto pagão, tanto público quanto privado. 
Marcaram o fim do paganismo no Império Romano. 
 
3. Cristianização da sociedade 
A conversão de Constantino abriu as portas da Igreja a multidões de fiéis. Até ao século 
IV, os cristãos eram uma minoria composta por grupos de elite, homens dotados de grande 
força de vontade e elevação de espírito, capazes de enfrentar dificuldades e riscos pela fé. 
A partir do século IV, contudo, a maioria da população começou a aderir ao cristianismo, 
de modo que as comunidades cristãs deram lugar a uma sociedade cristã. Resta, porém, a 
pergunta: como se processou essa passagem? 
 
4. Das comunidades cristãs à sociedade cristã 
Recepção de Multidões na Igreja: 
Grande número de pessoas ingressando na Igreja causou uma “perda de qualidade” na 
prática cristã. 
O cristianismo passou a ser algo herdado culturalmente, em vez de fruto de conversão 
pessoal. 
 
Catecumenado: 
Alcançou o auge no século IV com a entrada de muitos pagãos. 
Posteriormente, começou a declinar até desaparecer. 
 
Administração do Batismo: 
Deixou de ser exclusivo das grandes solenidades (Páscoa e Pentecostes). 
Passou a ser administrado ao longo do ano. 
 
Vida Comunitária: 
Houve relaxamento na intimidade das primeiras comunidades. 
A penitência pública desapareceu, sendo substituída pela confissão auricular como meio 
exclusivo de absolvição sacramental. 
 
Tribunais Episcopais: 
Constantino permitiu que bispos julgassem todo tipo de processos, conferindo valor civil 
às suas decisões. 
Consequências: 
No século IV: Bispos sobrecarregados com questões judiciais, prejudicando suas funções 
pastorais. 
No século V: O Império restringiu a competência judicial episcopal a causas espirituais e 
casos envolvendo clérigos, surgindo o “privilégio de foro”. 
 
Eleições de Bispos: 
A ampla participação popular foi progressivamente reduzida. 
Transformou-se em uma aclamação simbólica. 
 
 
 
 
5. Evangelização dos campos 
 
Tarefa da Igreja após o Império Cristão: 
Evangelizar as zonas rurais, com atenção especial às massas simples e rústicas. 
 
São Martinho de Tours (316-397): 
• Nasceu na Panónia; aos 15 anos entrou no exército. 
• Famoso episódio de Amiens: ofereceu metade de sua capa a um pobre. 
• Batizado, foi orientado por Santo Hilário de Poitiers, fundando o mosteiro de 
Ligugé. 
• Tornou-se bispo de Tours (371) e fundou o mosteiro de Marmoutier. 
• Após intensa atividade apostólica, morreu em 397, sendo venerado como santo, 
com peregrinações ao seu túmulo na Idade Média. 
 
Culto aos Mártires e Santos: 
• Fundamental para a catequese cristã. 
• Santos eram vistos como intercessores e modelos de virtude. 
• Relíquias, como provas tangíveis da santidade, difundiram-se amplamente, 
atendendo às necessidades religiosas populares. 
 
Cristianização de Festividades e Santuários: 
• Festividades pagãs foram reinterpretadas e integradas ao calendário litúrgico. 
• Santuários pagãos foram transformados em templos cristãos. 
 
Retrocesso e Desafios na Cristianização: 
A crise do Império Romano e as invasões bárbaras atrasaram o avanço cristão e 
provocaram retornos ao paganismo. 
Exemplo: 
o Na Hispânia, a cristianização estava avançada no ano 400. 
o Porém, no final do século VI, São Martinho de Braga (De correctione 
rusticorum) ainda combatia práticas pagãs na Galiza e norte de Portugal. 
o Concílios do século VII mostram resquícios de paganismo e imaturidade 
cristã em várias regiões da Península Visigótica. 
 
6. As igrejas rurais 
A evangelização das áreas rurais integrou a população camponesa à Igreja, exigindo a 
formação de um clero rural e a construção de igrejas e oratórios para celebrações e 
sacramentos, o que deu origem às paróquias. 
Formação de Paróquias: 
• Gália: Promovida por São Martinho de Tours. 
• Itália: Estabelecimento a partir dos séculos V e VI. 
• Galiza e Norte de Portugal: Iniciativa de São Martinho de Dume. 
São Martinho de Dume (c. 516-579): 
Origem: Natural da Panónia (atual Hungria). 
Trajetória: 
• Estudou no Oriente e visitou Roma e França. 
• Devoto de São Martinho de Tours, inspirou-se nele. 
• Em 550, veio com o rei suevo Cararico para a Península Ibérica. 
• Fixou-se no Mosteiro de Dume e tornou-se bispo de Braga em 556. 
• Presidiu ao I Concílio de Braga (561), combatendo arianismo e paganismo. 
 
Legado: 
• Faleceu em 579 e foi sepultado em Dume. 
• Restos mortais transferidos para a Sé de Braga no século XI. 
• Tornou-se padroeiro principal da Arquidiocese de Braga em 1985. 
 
Características das Paróquias Rurais: 
Possuíam pia batismal e, geralmente, um cemitério anexo. 
Sustentavam-se com cultivos próprios, oferendas dos fiéis e os “direitos de estola” 
(associados aos sacramentos). 
 
Igrejas Rurais e a “Igreja Própria”: 
Nem todas as igrejas eram paróquias; havia oratórios, basílicas e ecclesiae. 
Muitos templos foram financiados por grandes proprietários, que os consideravam sua 
propriedade. 
Tinham direito aos rendimentos e à nomeação de clérigos. 
Esse fenômeno deu origem à “Igreja própria”, característica da Idade Média. 
 
7. Estrutura da sociedade cristã: clérigos e leigos 
 
Estatuto do Clérigo e Celibato (Século IV): 
Introdução do Celibato Obrigatório: 
• Motivado pelo ideal do celibato “por amor do reino dos céus”, inspirado na 
virgindade de Cristo e de Nossa Senhora. 
• Suporte bíblico nos Evangelhos e Cartas Apostólicas, que exaltam a castidade. 
• Grande veneração popular por virgens e ascetas, devido à sua continência 
exemplar. 
 
Matrimônio dos Clérigos: 
Oriente: Proibido para presbíteros no século IV, com penade deposição. 
Ocidente: Estendido aos subdiáconos, conforme decreto do Papa Leão I. 
Continência dos Clérigos Casados: 
Ocidente: Norma imposta gradualmente ao longo do século IV em regiões como 
Hispânia, Gália, Norte da África e Roma, com apoio de decretos papais. 
Oriente: Essa disciplina não prevaleceu, criando a disparidade ainda existente entre as 
tradições ocidental e oriental. 
Papel dos Leigos e Ordo Virginum: 
Participação dos Leigos: 
• Gradualmente limitada nas eleições episcopais. 
• Leigos influentes continuaram a ter impacto na administração eclesiástica e 
concílios. 
Ascetas e Virgens: 
Ordo Virginum: 
• Instituído no século IV, com virgens vivendo em casa ou em comunidades 
incipientes. 
• Podiam fazer um propositum (compromisso privado de castidade) ou uma 
consagração pública e solene. 
 
 
Velatio Virginum: 
• Ritual de consagração com recepção do véu. 
• Celebrado em festas litúrgicas diante da comunidade cristã reunida. 
8. Origens monásticas no Oriente 
Origem e Significado do Monaquismo Cristão 
Conceito: 
• Fenômeno antigo, baseado no contemptus saeculi (separação do mundo). 
• Objetivo: purificação interior e contemplação divina. 
 
Desenvolvimento no Cristianismo: 
• Especialmente no Oriente, a partir do século IV. 
• Influência de monges e Padres pioneiros: São Antão, São Pacómio, São Basílio, 
São Sabas e São Efrém. 
Principais Figuras e Contribuições 
 
São Antão Abade: 
• Local: Egito. 
• Vida: Anacorética (solidão e silêncio). 
• Seguidores: milhares de anacoretas que viviam isolados ou em pequenos grupos, 
dedicados à oração, penitência e trabalho manual. 
• Reuniões: celebradas semanalmente para ofícios divinos e conselhos. 
São Pacómio: 
• Local: Baixo Egito. 
• Vida Cenobítica: 
▪ Introduziu vida em comunidade com obediência a um superior. 
▪ Fundou grandes mosteiros com comunidades numerosas. 
▪ Criou a Regra de São Pacómio para regulamentar a vida 
monástica. 
▪ Influência: Monges pacomianos contribuíram, no século V, para o 
surgimento do cristianismo copta. 
 
 
São Basílio: 
• Local: Ásia Menor. 
• Contribuições: 
• Fundou mosteiros e escreveu sobre espiritualidade monástica. 
• Estruturou o monaquismo oriental, oferecendo uma regra mais sólida. 
• Influência: Suas orientações foram adotadas pelos monges Studitas, associados ao 
mosteiro Studion em Constantinopla. 
 
São Sabas e São Efrém: 
• Local: Palestina e Síria. 
• Práticas: 
• Enfatizavam rigorosas penitências. 
• Exemplos de ascetismo extremo, como São Simeão, que passou 37 anos no topo 
de uma coluna. 
Impactos e Desdobramentos 
Crescimento: Popularidade do monaquismo em diversas regiões do Oriente. 
Rupturas: Contribuição dos monges egípcios para o monofisismo e o surgimento do 
cristianismo copta. 
Legado: Estrutura monástica no Oriente, profundamente influenciada pelas Regras de 
São Basílio e pelos monges Studitas. 
 
9. Primeiro monacato ocidental 
Mosteiros na Palestina (Século IV): Fundados sob iniciativa de senhoras da aristocracia 
romana, com orientação de São Jerónimo. 
Figuras Ocidentais que Promoveram o Monaquismo: 
 
São Agostinho: 
• Local: África. 
• Contribuições: Impulsionou o ascetismo, incentivando o clero e virgens 
consagradas em Hipona a viverem comunitariamente e de forma ascética. 
 
São Martinho de Tours: 
• Local: França (Ligugé e Marmoutier). 
• Contribuições: Reuniu solitários (ascetas) em mosteiros, promovendo a vida 
monástica. 
 
São Honorato: 
• Local: Ilha de Lérins (sul da Gália). 
• Contribuições: Fundou um mosteiro que formou grandes figuras, como São 
Cesário de Arles. 
 
João Cassiano: 
• Local: Marselha (Mosteiro de São Víctor). 
• Escritos: Instituições Monásticas e Collationes (Conferências). 
• Espiritualidade: Enfatizava a “pureza de coração”, desapego, caridade e 
contemplação. 
 
São Bento: Pai dos Monges do Ocidente 
• Experiência Monástica: Começou em Subiaco, reunindo uma pequena 
comunidade. Fundou o mosteiro de Montecassino, com intensa vida comunitária. 
 
Características da Vida Monástica Beneditina: 
• Dividida entre: 
• Oração litúrgica. 
• Lectio divina (leitura espiritual). 
• Trabalho manual. 
Regra Beneditina:Escrita ao final de sua vida, tornou-se a principal norma do 
monaquismo ocidental. 
Legado: Esses esforços consolidaram a vida monástica no Ocidente, com a Regra 
Beneditina como modelo duradouro. Mosteiros tornaram-se centros de espiritualidade, 
educação e trabalho comunitário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO VIII – OS ÓRGÃOS DA AUTORIDADE 
(Resumo do Orlandis 121-145) 
1. Introdução 
Implementação do Cristianismo no Império Romano: 
• 311 (Edicto de Sárdica): 
o O cristianismo deixou de ser considerado superstitio illicita e tornou-se 
tolerado. 
• 313 (Edicto de Milão): 
o Plena liberdade religiosa e devolução dos bens confiscados à Igreja. 
• 380 (Constituição Cunctos Populos): 
o O cristianismo tornou-se a religião oficial do Império sob Teodósio. 
Consequências das Transformações: 
• De comunidades cristãs para uma sociedade cristã: 
o O catecumenado floresceu e depois desapareceu. 
o Surgiu a confissão auricular, substituindo a confissão e penitência 
públicas. 
o Evangelização dos campos, levando ao surgimento de igrejas rurais, 
igrejas próprias e paróquias. 
o Dispersão do clero para atender as necessidades crescentes. 
Mudanças Adicionais no Século IV: 
Reestruturação da Organização Eclesiástica: 
Os órgãos pastorais e de governo das antigas comunidades tornaram-se insuficientes para 
as novas exigências. 
Foi necessária uma reorganização para atender à nascente sociedade cristã. 
 
Distanciamento entre Oriente e Ocidente: 
Iniciado com a divisão do Império por Diocleciano, agravou-se ao longo do século IV. 
Fatores: 
Diferenças culturais e linguísticas. 
Dualidade política: 
Ocidente: sucumbe às invasões germânicas no século V. 
Oriente: centrado em Constantinopla, perdurou por mais de mil anos. 
Ponto de Análise: 
A partir destes dois fenômenos (reestruturação eclesiástica e distanciamento 
Oriente-Ocidente), emergiram as bases para as divergências e tensões que 
marcaram a história da Igreja e do Império. 
2. Cristianismo latino e cristianismo oriental 
Fatores Decisivos para a Separação entre Oriente e Ocidente 
Diferenças Culturais: 
o Latinos: 
▪ Reconhecidos como juristas pragmáticos. 
o Gregos: 
▪ Inclinados à especulação filosófica e teológica. 
Dualidade Linguística: 
o Ocidente: 
▪ Substituiu o grego pelo latim nos atos de culto a partir do século 
IV. 
▪ No século V, a Cúria Romana e os Padres ocidentais desconheciam 
quase totalmente o grego. 
o Oriente: 
▪ Progressivo desconhecimento e menosprezo pelo latim e sua 
literatura. 
o Consequências: 
▪ Dificuldade de comunicação e desconfiança mútua nas traduções 
teológicas. 
▪ Obstáculo ao enriquecimento recíproco da ciência teológica. 
▪ Exemplo: o Oriente não recebeu a contribuição doutrinal de Santo 
Agostinho. 
Tensões Eclesiásticas e Políticas: 
o Constantinopla: 
▪ Procurava equiparar-se a Roma, reivindicando prerrogativas 
semelhantes devido à sua condição de capital imperial. 
o Diferenças Disciplinares: 
▪ Continência clerical imposta no Ocidente; não aplicada no Oriente. 
Disparidade nos Destinos do Império: 
o Ocidente: Caiu às invasões germânicas no século V. 
o Oriente: Centrado em Constantinopla, perdurou como Império Bizantino 
por mais de mil anos. 
Caminho para o Cisma de 1054: 
A separação gradual entre a Igreja latina e as Igrejas orientais, aliada às diferenças 
culturais, linguísticas e disciplinares, criou uma “crónica tensão”. 
Essa tensão culminou no cisma de 1054, marcando a ruptura formal entre Roma e 
Constantinopla. 
3. Bispos e dioceses 
Expansão do Ministério Episcopal às Zonas Rurais: 
• Até ao Século IV: 
o A ação do bispo limitava-se às cidades, já que os campos ainda não haviam 
sido evangelizados.• Após a Evangelização Rural: 
o O bispo estendeu seu ministério às periferias urbanas, espaços rurais e 
camponeses. 
o Surgiu a noção de diocese como uma extensão territorial sob autoridade 
episcopal. 
2. Organização e Limitações da Diocese: 
• Delimitação Geográfica: 
o O bispo exercia autoridade apenas dentro de sua diocese e sobre os fiéis 
ali residentes. 
• Normas sobre a Permanência Episcopal: 
o O Concílio de Niceia proibiu: 
▪ Trasladações episcopais (mudança de bispo entre dioceses). 
▪ Mudança de clérigos maiores. 
o Fundamentação: 
▪ Analogias com o matrimônio: 
▪ O bispo era considerado espiritualmente "casado" com sua 
Igreja, e apenas a morte poderia romper esse vínculo. 
▪ Mudança de diocese seria um “adultério simbólico”. 
3. Flexibilização durante as Invasões Bárbaras: 
• Durante o período das invasões, alguns bispos foram forçados a abandonar suas 
dioceses e assumiram outras igrejas. 
• Após o Período Bárbaro: 
o A norma da permanência episcopal voltou a prevalecer como regra geral. 
4. O Bispo e a Sociedade 
Colapso do Império Romano no Ocidente (Século V): 
1. Consequências do Colapso: 
o Vazio de poder: 
▪ Desintegração da administração pública. 
▪ Abandono de funções por magistrados e funcionários. 
▪ Ausência de tutela do poder civil sobre o povo. 
2. Papel dos Bispos: 
o A autoridade episcopal permaneceu firme em meio à ruína geral. 
o Bispos assumiram novas funções sociais, tornando-se defensores 
civitatis: 
▪ Proteção social: 
▪ Defendiam os mais frágeis (humiles, pauperes, miserabiles 
personae). 
▪ Defesa e negociação: 
▪ Organizavam a defesa contra invasores. 
▪ Negociavam com os invasores para proteger as cidades e 
seus habitantes. 
3. Exemplo Notável: 
o Santo Agostinho: 
▪ Permaneceram ao lado do povo em Hipona, mesmo cercada pelos 
vândalos. 
▪ Faleceu durante o cerco, simbolizando o compromisso episcopal 
com seu povo. 
5. As províncias eclesiásticas 
Divisão Territorial no Império Romano: 
1. Prática Romana: 
o Novos territórios conquistados eram organizados em províncias. 
o Cada província era governada por um magistrado com amplos poderes. 
o No século IV, o Império tinha mais de 100 províncias. 
2. Adaptação pela Igreja: 
o A Igreja adotou uma organização territorial supradiocesana baseada no 
modelo romano: 
▪ Ocidente: Chamadas de Províncias. 
▪ Oriente: Chamadas de Eparquias. 
Organização e Governo Supradiocesano: 
1. Metropolita: 
o Bispo que ocupava a sede mais importante da província ou eparquia. 
o Funções: 
▪ Supervisionar eleições episcopais nas dioceses da província. 
▪ Julgar, em tribunal, apelações das decisões dos tribunais 
diocesanos. 
▪ Presidir aos concílios provinciais. 
2. Concílios Provinciais: 
o Finalidade: 
▪ Funcionavam como órgão colegial do episcopado provincial. 
▪ Tratavam de questões comuns. 
▪ Resolvam diferenças e legislavam sobre a vida religiosa. 
Impacto: 
Essa estrutura organizacional da Igreja, baseada no modelo romano, consolidou a 
governança eclesiástica e promoveu a unidade e eficiência na ação pastoral. 
6. As grandes sedes: os patriarcados 
Algumas sedes episcopais gozavam de um prestígio singular, excedendo a importância 
das simples capitais de província eclesiástica. Tais sedes existiram tanto na Igreja Latina 
quanto na Igreja Oriental. 
Na Igreja Latina, destacaram-se particularmente: 
• A sede de Milão, engrandecida pela figura de Santo Ambrósio e por ter sido, em 
algumas ocasiões, residência imperial. 
• A de Ravena, que abrigou a corte nos últimos anos do Império do Ocidente, 
tornando-se depois capital do reino ostrogodo e da Itália bizantina. 
• A de Cartago, relevante no Norte de África não apenas pela importância da cidade 
mas também pelo prestígio do seu bispo Cipriano. 
Na Igreja Oriental, sobressaíram: 
• Jerusalém, por excelência a cidade santa. 
• Alexandria, à qual o Concílio de Niceia atribuiu primazia sobre todo o Egipto, 
com base na importância da cidade (capital egípcia) e no princípio da 
apostolicidade (tinha como primeiro bispo o evangelista São Marcos). 
• Antioquia, que segundo Niceia ficava responsável pela “diocese” civil do Oriente; 
era a capital da Síria e havia recebido Pedro em vida. 
• Constantinopla, que se considerava a “Nova Roma” desde a sua fundação. Com o 
desaparecimento do Império Ocidental, Constantinopla tornou-se a capital do 
Império do Oriente. No Concílio realizado em 381, os seus bispos receberam uma 
primazia de honra. Porém, isso não satisfazia completamente as aspirações da 
nova capital, o que levou ao famoso Cânone 28 do Concílio de Calcedónia (451), 
que atribuía a Constantinopla os mesmos privilégios e honras que a sede romana 
e, ainda, submetia à sua jurisdição todos os territórios do Império Oriental não 
dependentes dos patriarcados de Alexandria, Antioquia ou Jerusalém (ver 
Orlandis, 135-136). 
7. O Pontificado Romano e o Ocidente Cristão 
Origem e Desenvolvimento do Primado Romano: 
1. Fundamentação Bíblica: 
o Baseado em Mt 16,18, onde se estabelece a sollicitudo omnium 
ecclesiarum (solicitude por todas as Igrejas) ao Papa. 
2. Dificuldades Iniciais: 
o Nos primeiros séculos, os Papas enfrentaram desafios para exercer 
autoridade sobre a Igreja universal e particular. 
3. Impulso no Século IV: 
o Apoiado por Papas como São Dâmaso, São Leão I, Gelásio e Gregório 
Magno. 
o Ação papal ganhou maior liberdade em questões universais e locais. 
4. Título "Servus Servorum Dei": 
o Adotado pelo Papa Gregório Magno no século VI em resposta ao título de 
"Patriarca Ecumênico" usado pelo Bispo de Constantinopla. 
Mecanismos de Ação Papal: 
1. Epístolas Decretais: 
o Respostas a questões submetidas à Sé Romana por Igrejas locais. 
2. Legados Papais: 
o Presbíteros ou diáconos enviados para transmitir orientações do Papa. 
3. Vicariatos Apostólicos: 
o Criados para exercer autoridade papal em áreas específicas: 
▪ Sedes episcopais (como Arles e Tessalónica). 
▪ Bispos eleitos como vigários apostólicos, como na Hispânia a 
partir do século V. 
Intervenções Políticas dos Papas: 
1. São Leão I (Século V): 
o 452: Encontro com Átila para salvar a Itália da invasão dos hunos. 
o 455: Tentativa de impedir Genserico, rei vândalo, de destruir Roma; 
conseguiu evitar o incêndio e salvar vidas. 
2. Gregório Magno (Século VI): 
o Protegeu a Itália central contra os longobardos durante o enfraquecimento 
do domínio bizantino. 
Impacto: 
• A autoridade papal consolidou-se tanto no plano religioso quanto no político, 
desempenhando um papel crucial na transição da Antiguidade para a Idade Média. 
8. O Pontificado e a Igreja do Oriente 
Intervenção Papal no Oriente a Partir do Século IV: 
1. Contexto e Obstáculos: 
o Os Papas buscavam exercer o primado no Oriente, mas enfrentavam: 
▪ Distanciamento crescente entre Oriente e Ocidente. 
▪ Tendências autonomistas dos patriarcados orientais. 
▪ Interferências imperiais, que dificultavam a aceitação da 
autoridade papal. 
2. Concílio de Sárdica (343-344): 
o Confirmou o direito de qualquer bispo apelar ao Papa em última instância. 
o Contudo, a maioria dos bispos orientais preferia resolver questões 
internamente, evitando recorrer a Roma. 
Cisma de Acácio (471-489): 
1. Causa do Cisma: 
o Acácio, Patriarca de Constantinopla, convenceu o imperador a publicar o 
Henoticon, um édito dogmático que buscava conciliar com os monofisitas. 
o Em resposta, o Papa Félix II excomungou Acácio. 
2. Reações: 
o Acácio retirou o nome do Papa dos dísticos (orações e listas litúrgicas) da 
Igreja de Constantinopla. 
o O cisma durou 30 anos. 
Encerramento do Cisma: 
1. Intervenção de Justiniano: 
o Aconselhou os bispos orientais a assinarem o Libellus Hormisdae do Papa 
Hormisdas. 
o Documento afirmava explicitamente o primado pontifício. 
2. Concessão dos Papas: 
o Em troca, os Papas aceitaram reconhecer Constantinopla como segunda 
sede da Igreja. 
Impacto: 
A resoluçãodo cisma reafirmou o primado de Roma, mas também consolidou a posição 
de Constantinopla como centro de influência no Oriente, refletindo a tensão crescente 
entre as duas tradições. 
9. Concílios Ecuménicos 
Renovação e Importância dos Concílios (Século IV em diante): 
1. Caráter dos Concílios: 
o Reuniões de representantes cristãos com poder colegial supremo na Igreja 
universal. 
o Dois tipos: 
▪ Regionais/Provinciais: Limitados a áreas específicas. 
▪ Ecumênicos: Representavam toda a cristandade. 
2. Concílios Ecumênicos (Séculos IV-IX): 
o Oito realizados no Oriente, com maioria de participantes orientais. 
o Iniciativa frequentemente partia do Papa, mas a convocação oficial era 
feita pelo imperador. 
o Aprovação final das atas e decretos competia aos Papas, conferindo caráter 
universal. 
3. Participação Imperial: 
o Imperadores frequentemente: 
▪ Participavam das sessões. 
▪ Interferiam nos debates. 
▪ Promulgavam éditos para assegurar a aplicação das decisões 
conciliares, garantindo autoridade civil. 
Os Quatro Primeiros Concílios Ecumênicos: 
1. Nicéia (325): 
o Combateu o arianismo; definiu a divindade de Cristo e formulou o Credo 
Niceno. 
2. Constantinopla I (381): 
o Reafirmou o Credo de Nicéia; condenou o macedonianismo e afirmou a 
divindade do Espírito Santo. 
3. Éfeso (431): 
o Condenou o nestorianismo; proclamou Maria como Theotokos (Mãe de 
Deus). 
4. Calcedónia (451): 
o Definiu a doutrina das duas naturezas de Cristo (divina e humana) em uma 
única pessoa. 
Veneração Especial: 
• Os quatro primeiros Concílios eram especialmente reverenciados. 
• São Gregório Magno comparou-os simbolicamente aos “quatro livros do 
Evangelho”, dada a importância das formulações doutrinais para a ortodoxia 
cristã. 
. 
10. O Imperador Cristão 
Papel dos Imperadores na Cristandade a partir de Constantino: 
1. Missão Especial dos Imperadores: 
o Como membros da Igreja, deviam fomentar a cristianização da sociedade 
por meio de: 
▪ Leis: Promulgação de normas inspiradas pelo cristianismo. 
▪ Criação de um Direito Romano cristão. 
2. Riscos e Problemas: 
o Cesaropapismo: 
▪ Imperadores interferiam em assuntos religiosos, tentando resolver 
questões doutrinais com soluções políticas conciliatórias. 
▪ Priorizavam a unidade do Império em detrimento da verdade 
dogmática. 
Dependência da Igreja ao Apoio Imperial: 
1. Contexto Original: 
o A Igreja considerava o apoio imperial essencial para: 
▪ Realizar os desígnios divinos. 
▪ Promover a salvação dos homens. 
2. Mudança no Século VII: 
o Declínio do apoio bizantino: 
▪ Os imperadores orientais deixaram de defender eficazmente a Sé 
Romana. 
o Reorientação para o Ocidente: 
▪ Papas buscaram o apoio dos francos, culminando no 
estabelecimento de uma aliança com Carlos Magno. 
 
Impacto na História da Europa: 
Essa mudança político-religiosa foi decisiva para a formação da Europa medieval. 
Representou a transição da Igreja Romana de uma dependência do Oriente para uma 
parceria com os poderes ocidentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO IX – A IDADE DOS PADRES E A FORMULAÇÃO DO DOGMA 
TRINITÁRIO 
1. Introdução 
Desenvolvimento da Ciência Teológica no Século III: 
• Escolas Teológicas de Destaque: 
o Alexandria: Clemente, Orígenes. 
o Antioquia: Tertuliano, São Cipriano. 
• Essas escolas foram fundamentais para a sistematização do pensamento cristão. 
“Idade de Ouro” da Patrística (Séculos IV a V): 
1. Características Gerais: 
o Período de grande progresso na ciência teológica. 
o Sustentado por um clima de liberdade e pela necessidade de enfrentar 
novos problemas doutrinais. 
o Contribuições tanto no Oriente quanto no Ocidente. 
2. Contribuidores de Destaque: 
o Personalidades excepcionais uniam: 
▪ Santidade de vida. 
▪ Ortodoxia doutrinal. 
▪ Produção científica e cultural notável. 
Contribuições Específicas: 
• Enorme avanço na formulação da doutrina e teologia cristãs. 
• Especial atenção ao desenvolvimento do dogma trinitário. 
Extensão do Período: 
• Alguns autores estendem essa “Idade de Ouro” até o século VII, incluindo figuras 
como São Bernardo. 
 
2. Os Padres Orientais 
a) Santo Atanásio: 
• Símbolo da Ortodoxia contra o Arianismo: 
o Defendeu no Concílio de Niceia (325) a consubstancialidade do Filho com 
o Pai (homoousios). 
o Autor de três Discursos contra os Arianos, essenciais para o 
desenvolvimento da teologia trinitária. 
• Bispo de Alexandria (328): 
o Sofreu cinco expulsões devido à oposição dos arianos. 
• Outros Destaques: 
o Provável autor de A Vida e Obras de Nosso Santo Pai Antão, promovendo 
o ascetismo cristão. 
b) Os “Capadócios”: Basílio de Cesareia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nisa 
1. Basílio de Cesareia: 
o Formação e Vida Monástica: 
▪ Batizado adulto; formou-se com excelência e viveu como monge 
antes de ser bispo. 
o Contribuições como Bispo: 
▪ Organização da caridade em tempos de crise (criação de uma 
“cidade de urgência”). 
▪ Promoção da vida monástica comunitária (Grandes e Pequenas 
Regras). 
▪ Defesa da ortodoxia trinitária contra o arianismo (Tratado sobre o 
Espírito Santo). 
2. Gregório de Nazianzo: 
o Contribuições Doutrinais: 
▪ Autor de cinco Discursos Teológicos, defendendo a divindade do 
Filho e do Espírito Santo. 
o Outros Destaques: 
▪ Bispo de Constantinopla por breve período. 
▪ Envolveu-se em obras sociais e cuidado aos pobres. 
3. Gregório de Nisa: 
o Teólogo Profundo: 
▪ Teve papel central no Concílio de Constantinopla (381), 
defendendo a divindade do Espírito Santo. 
o Vida Pessoal: 
▪ Casado antes de ingressar na vida monástica; tornou-se bispo de 
Nisa. 
c) São João Crisóstomo: 
• Orador e Exegeta Proeminente: 
o Apelidado de "boca de ouro" por suas homilias. 
o Comentou extensivamente os livros da Bíblia. 
• Bispo de Constantinopla: 
o Oposição ao ambiente imperial; entrou em conflito com a Imperatriz 
Eudóxia e foi desterrado. 
• Legado Literário: 
o Deixou sermões, catequeses e reflexões sobre estados de vida como o 
sacerdócio, matrimônio e virgindade. 
d) Cirilo de Alexandria: 
• Defensor da Ortodoxia Contra Nestório: 
o Promoveu o título de Theotokos (Mãe de Deus) para a Virgem Maria. 
• Contribuições Marianas: 
o Principal mariólogo entre os Padres da Igreja. 
o Sua doutrina foi ratificada no Concílio de Éfeso (431), firmando a 
maternidade divina de Maria. 
 
3. Os grandes padres ocidentais 
3.1. Santo Ambrósio (333-397): 
• Contribuições: 
o Exegese bíblica, pregação e atuação pastoral como Bispo de Milão. 
o Elevado a bispo por aclamação popular, mesmo sendo ainda catecúmeno. 
• Influência: 
o Administrou o batismo de Santo Agostinho. 
o Amigo e conselheiro de três imperadores (Graciano, Valentiniano II e 
Teodósio). 
o Excomungou Teodósio por causa da matança de Tessalônica, mas fez 
elogio fúnebre ao imperador após sua morte. 
• Legado: 
o Aumentou o prestígio de Milão no Ocidente latino. 
3.2. São Jerônimo: 
• Origem: 
o Nascido na Dalmácia (atual Croácia). 
o Viveu em várias cidades antes de se estabelecer em Belém. 
• Contribuições: 
o Traduziu a Bíblia do hebraico e aramaico para o latim, criando a Vulgata, 
reconhecida pelo Concílio de Trento como autêntica. 
o Obra destacada como historiador e exegeta. 
3.3. Santo Agostinho (354-430): 
• Origem: 
o Africano, nascido na atual Argélia. 
• Obras e Contribuições: 
o Confissões: autobiografia espiritual considerada obra-prima da literatura 
universal. 
o Comentou o Antigo e o Novo Testamento. 
o A Cidade de Deus: ensaio de teologia e história que refuta a ideia de que 
a queda de Roma foi causada pelo abandono da religião pagã, abordando 
o sentido da história e o plano divino. 
• Impacto: 
o Figura central na teologia e na história cristã. 
3.4. Os Papas “Magno”: Leão I e Gregório I: 
1. São Leão I (Leão Magno): 
o Contribuições: 
▪ Formulou o dogma cristológico. 
▪ Desenvolveua teologia do primado romano, fundamentando-a nas 
Escrituras. 
2. São Gregório I (Gregório Magno): 
o Contexto Histórico: 
▪ Atuação no período da Itália lombarda, Espanha visigoda e França 
merovíngia. 
o Obras: 
▪ Morais e Diálogos, muito populares na Idade Média. 
o Legado Litúrgico: 
▪ O canto gregoriano, vivo até os dias atuais. 
3.5. Santo Isidoro de Sevilha: 
• Contribuições: 
o Considerado o último Padre do Ocidente. 
o Autor das Etimologias, a primeira enciclopédia cristã. 
• Impacto: 
o Mestre do Ocidente medieval, transmitindo a sabedoria da Antiguidad 
 
4. Formulação do dogma trinitário: o arianismo 
Heresias da Idade de Ouro da Patrística: 
• Contexto: 
o Período marcado pelas grandes heresias sobre a Trindade, a Pessoa de 
Cristo e a graça. 
o Essas heresias incentivaram o desenvolvimento teológico. 
 
1. Sabelianismo: 
• Líder: Sabélio. 
• Doutrina: 
o Exagera a unidade na Trindade. 
o Defende que há uma só pessoa divina, com Pai e Filho sendo dois 
“modos” diferentes de manifestação (modalismo). 
2. Subordinacionismo: 
• Doutrina Geral: 
o Admite apenas o Pai como única pessoa divina. 
o O Filho é inferior ao Pai e: 
▪ Não é eterno. 
▪ Não é da mesma natureza do Pai. 
▪ Pode ser visto como um homem dotado de uma dynamis (força 
divina singular). 
3. Arianismo: 
• Líder: Ário, presbítero alexandrino. 
• Doutrina: 
o Variante radical do subordinacionismo. 
o Nega a divindade do Filho, afirmando que: 
▪ O Filho é uma criatura, embora a mais nobre. 
▪ O Filho foi criado no tempo e não é eterno. 
▪ O Verbo é intermediário entre Deus e o mundo (inspirado na 
noção platônica de demiurgo). 
• Difusão Rápida: 
o Acolhido por intelectuais helenistas, inclinados ao racionalismo e à ideia 
de um Deus Supremo. 
o Associado à ideia platônica de um ser intermediário (demiurgo). 
• Consequências Teológicas: 
o Se o Verbo não é Deus verdadeiro, então: 
▪ A morte de Cristo não foi redentora. 
▪ O pecado do homem não está realmente resgatado. 
Impacto do Arianismo: 
• Começou na Igreja de Alexandria, mas rapidamente se tornou um problema para 
toda a Igreja universal. 
• A solução exigiu a convocação do Concílio de Niceia (325), o primeiro concílio 
ecumênico, que condenou o arianismo e afirmou a consubstancialidade do Filho 
com o Pai (homoousios). 
5. Concílio de Niceia e pós-Concílio 
Concílio de Niceia (325): 
• Participação: 
o Cerca de 300 bispos estiveram presentes. 
o Ário defendeu pessoalmente sua doutrina. 
o Foi rebatido por Marcelo de Ancira e pelo diácono Atanásio de 
Alexandria. 
• Definição Dogmática: 
o Aprovado o Símbolo de Niceia, que afirmava a divindade do Verbo 
(homoousios = consubstancial ao Pai). 
o Ário e dois bispos que recusaram o símbolo foram excomungados e 
desterrados. 
Persistência do Arianismo: 
• Filo-arianismo: 
o Eusébio de Nicomédia, embora em comunhão com Niceia, promoveu a 
causa ariana. 
o Convenceu o imperador Constantino de que os defensores de Niceia eram 
um obstáculo à unidade do Império. 
o Isso resultou em uma perseguição aos nicenos, incluindo Atanásio. 
• Impacto: 
o Muitas dioceses, especialmente na Ásia Menor, foram entregues a bispos 
arianos. 
o O arianismo ganhou força a ponto de, segundo São Jerônimo, "a terra 
inteira gemer e descobrir que se tinha tornado ariana." 
Declínio do Arianismo: 
• Contribuições Decisivas: 
o Os Capadócios: 
▪ Basílio de Cesareia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nisa 
atraíram muitos desviados à doutrina nicena. 
o Imperador Teodósio (379-395): 
▪ Firmemente aderiu à ortodoxia católica. 
▪ Reuniu o Concílio de Constantinopla (381), que deu o golpe final 
contra o arianismo. 
Conclusão: 
Apesar de sua condenação em Niceia, o arianismo continuou a ameaçar a Igreja por 
décadas. 
A vitória definitiva da ortodoxia foi alcançada graças ao esforço conjunto dos Capadócios 
e do imperador Teodósio, consolidando a doutrina trinitária definida em Niceia e 
reafirmada em Constantinopla. 
 
6. I Concílio de Constantinopla e a divindade do Espírito Santo 
6.1. Apresentação da questão cristológica 
Contexto da Questão Cristológica e Pneumatológica: 
• Relação com a Consubstancialidade: 
o Quem nega a consubstancialidade do Filho com o Pai (arianismo) tende 
também a negar a divindade do Espírito Santo. 
• Macedonianismo: 
o Proposto por Macedônio de Constantinopla. 
o Defende que o Espírito Santo é uma criatura, superior aos anjos e 
dispensador de graças, mas não consubstancial ao Pai e ao Filho. 
o Seguidores chamados de pneumatómacos ("inimigos do Espírito Santo"). 
 
2. Resolução da Questão no Concílio de Constantinopla (381): 
• Papel dos Capadócios: 
o Gregório de Nazianzo e Gregório de Nisa foram decisivos na defesa da 
divindade do Espírito Santo. 
o Ensinaram a homoousia (consubstancialidade) do Espírito Santo em 
relação ao Pai e ao Filho. 
• Definição Doutrinal: 
o O Concílio reafirmou o Símbolo de Niceia e complementou a doutrina da 
Santíssima Trindade. 
o Definição sobre o Espírito Santo: 
▪ "Cremos no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, que procede do 
Pai, que com o Pai e o Filho é igualmente adorado e glorificado, 
que falou pelos profetas." 
3. Importância e Limitações do Concílio: 
• Triunfo Final da Ortodoxia: 
o O Concílio sancionou a vitória sobre o arianismo e os pneumatómacos. 
• Formulação da Doutrina Trinitária: 
o Antes do final do século IV, a doutrina da Santíssima Trindade foi 
formalizada no Símbolo Niceno-Constantinopolitano, aceito no Oriente 
e no Ocidente. 
• Lacuna Remanescente: 
o Permanecia por definir claramente a relação do Espírito Santo com o 
Filho, tema que provocaria debates futuros. 
Conclusão: O Concílio de Constantinopla (381) completou a formulação da doutrina 
trinitária, consolidando a fé na consubstancialidade do Espírito Santo e reafirmando a 
ortodoxia contra as heresias cristológicas e pneumatológicas. 
CAPÍTULO X – QUESTÃO CRISTOLÓGICA E DOUTRINA DA GRAÇA 
1. Introdução à Questão Cristológica: 
• Após definir a relação de Cristo com a Trindade, resta abordar: 
o Como as duas naturezas (divina e humana) se unem em Cristo. 
o Essa união ocorre sem confusão nem detrimento de ambas as naturezas. 
2. Heresias sobre a Essência de Cristo: 
2.1. Apolinarismo: 
• Fundador: Apolinário, amigo de Santo Atanásio. 
• Doutrina: 
o Baseia-se na teoria platônica de que o homem é composto de três 
elementos: 
▪ Corpo, alma sensitiva, e alma espiritual. 
o Em Cristo, a alma espiritual seria substituída pelo Logos divino. 
• Erro Teológico: 
o Cristo não seria verdadeiro homem, pois careceria de humanidade 
completa. 
o Contradiz a doutrina católica sobre a perfeita humanidade de Cristo, 
essencial para os dogmas da encarnação e redenção. 
2.2. Escolas de Antioquia e Alexandria: 
• Doutrina: 
o As duas naturezas de Cristo realizam apenas uma união moral e relativa, 
não substancial. 
o Enfatizam a "inhabitação" do Verbo no homem Jesus, em vez de uma 
verdadeira encarnação. 
• Analogia Utilizada: 
o A natureza divina penetra a humanidade de Cristo como: 
▪ O fogo penetra a brasa ou o ferro candente (união acidental e 
externa). 
• Erro Teológico: 
o Subentende-se que há duas pessoas em Cristo, e não uma união hipostática 
(união real e substancial das duas naturezas em uma só pessoa). 
3. Consequências Doutrinais: 
• Ambas as heresias comprometem: 
o A verdadeira humanidade de Cristo, necessária para o dogma da 
redenção. 
o A compreensão correta da união hipostática, fundamental para a teologia 
cristã. 
Conclusão: 
Essas questões seriam enfrentadas e esclarecidas nos debates conciliares subsequentes, 
reforçando a doutrina sobre a perfeita união das duas naturezas em Cristo sem 
confusão, divisão ou alteração. 
2. Nestório e o Concílio de Éfeso 
O Problema Cristológico e a Controvérsia de Nestório: 
• Questão Central: 
o Levantada por Nestório, teólogo da escola de Antioquia. 
o Defendia que Marianão era Theotokos (Mãe de Deus), mas apenas 
Christotokos (Mãe de Cristo). 
o Argumentava que Maria teria gerado o homem Cristo, habitado pelo 
Verbo, mas não o Filho de Deus. 
2. Reação da Igreja: 
• Intervenção do Papa Celestino I: 
o Encaminhou o caso ao Patriarca Cirilo de Alexandria. 
o Cirilo redigiu 12 anatematismos contra Nestório, rejeitados por este 
último. 
• Convocação do Concílio de Éfeso (431): 
o Convocado por Teodósio II, com a participação de todos os bispos. 
3. Desenrolar do Concílio de Éfeso: 
• Primeira Sessão: 
o Decisões: 
▪ Aprovado um decreto redigido por Cirilo, formulando a doutrina 
da união hipostática. 
▪ Confirmada a legitimidade do título de Theotokos para Maria. 
▪ Deposição e excomunhão de Nestório. 
o O povo de Éfeso celebrou o reconhecimento de Maria como Mãe de Deus. 
• Oposição Antioquena: 
o Bispos antioquenos, liderados por João de Antioquia, chegaram atrasados. 
o Recusaram as decisões do Concílio e formaram um anti-concílio. 
• Posição Imperial: 
o Após período de indecisão, Teodósio II apoiou o Concílio. 
o Nestório foi exilado. 
4. Resultado e Impacto: 
• Decisões Teológicas: 
o Reconhecida a união hipostática, ou seja, a união das duas naturezas 
(divina e humana) na única pessoa de Cristo. 
o Confirmado o título de Theotokos para Maria. 
• Consequências: 
o O Concílio consolidou a doutrina cristológica e reforçou a devoção 
mariana. 
o O exílio de Nestório marcou o enfraquecimento de suas ideias no cenário 
eclesiástico. 
3. O monofisismo e o Concílio de Calcedónia 
Origem do Monofisismo: 
• Doutrina Alexandrina: 
o Rejeita a doutrina de Éfeso sobre as duas naturezas de Cristo. 
o Defende que, após a encarnação, há apenas uma natureza em Cristo 
(monofisismo), pois a natureza humana teria sido absorvida pela divina. 
• Fundador: 
o Eutiques, superior de um mosteiro em Constantinopla. 
• Apoio de Dióscuro: 
o Patriarca de Alexandria que convenceu o imperador Teodósio II a 
convocar o Concílio de Éfeso em 449. 
o No concílio, Dióscuro não permitiu a leitura da “carta dogmática” enviada 
pelo Papa Leão I. 
o O concílio condenou a doutrina das duas naturezas. 
Reação ao “Latrocínio de Éfeso” (449): 
• Denúncia: 
o O Papa Leão I chamou o Concílio de 449 de “sínodo de ladrões” 
(Latrocínio de Éfeso). 
• Convocação de Calcedónia (451): 
o Convocado por São Leão I para refutar o monofisismo. 
o Foi o concílio mais concorrido da Antiguidade. 
 
Decisões do Concílio de Calcedónia (451): 
• Condenações: 
o Rejeitou o “Latrocínio de Éfeso” e condenou Dióscuro e seus seguidores. 
• Definição Dogmática: 
o Cristo possui duas naturezas, divina e humana, unidas em uma só pessoa 
(união hipostática): 
▪ “Sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação”. 
▪ Cada natureza mantém suas propriedades, coexistindo numa única 
pessoa. 
• Questões Disciplinares: 
o Várias sessões trataram de questões disciplinares. 
o Cânone 28: 
▪ Aprovado na ausência dos legados papais. 
▪ Reconhecia prerrogativas de Constantinopla, mas não foi aceito 
pelo Papa Leão I. 
Impacto: 
• O Concílio de Calcedónia consolidou a doutrina cristológica, refutando o 
monofisismo. 
• O Cânone 28 tornou-se um ponto de tensão entre Oriente e Ocidente, 
contribuindo para o distanciamento entre as duas tradições cristãs. 
 
4. Na sequência do monofisismo 
Persistência do Monofisismo após Calcedónia: 
• Rejeição no Egipto: 
o O povo egípcio (coptas), influenciado pelos monges e patriarcas de 
Alexandria, viu a condenação de Dióscuro e do monofisismo como um 
ataque à sua Igreja. 
o Melquitas: 
▪ Minoria fiel ao Concílio de Calcedónia e ao Império Bizantino 
(cerca de 300 mil). 
▪ Contrastavam com os 6 milhões de coptas monofisitas. 
 
Tentativas de Conciliação: 
• Henoticon: 
o Fórmula de compromisso promovida por imperadores bizantinos para 
reconciliar ortodoxos e monofisitas. 
• Heráclio e a Crise Política: 
o Sob pressão dos persas e árabes, o imperador tentou assegurar a fidelidade 
dos monofisitas no Egipto e na Síria. 
o Buscou uma fórmula conciliatória sem negar Calcedónia. 
 
Monoenergismo e Monotelismo: 
• Proposta de Sérgio, Patriarca de Constantinopla: 
o Duas naturezas em Cristo (divina e humana) reconhecidas por Calcedónia. 
o Porém, devido à união hipostática, haveria: 
▪ Uma única energia humano-divina (monoenergismo). 
▪ Uma única vontade (monotelismo). 
• Objetivo da Proposta: 
o Satisfazer os católicos ao manter as duas naturezas. 
o Agradar os monofisitas ao enfatizar a unidade em Cristo. 
 
O Decreto Echtesis (638): 
• Promulgado por Heráclio: 
o Adotava a fórmula do monoenergismo e monotelismo. 
o Gerou grande controvérsia e fracassou em alcançar reconciliação. 
 
O Typus de Constâncio II: 
• Resposta ao Fracasso: 
o Constâncio II, sucessor de Heráclio, proibiu qualquer disputa sobre a 
existência de uma ou duas vontades em Cristo por meio do decreto Typus. 
 
Impacto: 
As tentativas de reconciliação fracassaram e aprofundaram as divisões entre monofisitas 
e ortodoxos. 
Conflitos doutrinais como o monotelismo continuariam a ser debatidos até sua 
condenação no Terceiro Concílio de Constantinopla (681). 
 
5. O final da questão cristológica 
A definição derradeira ocorreu no III Concílio de Constantinopla (680-681), que 
completou o símbolo de Calcedónia com uma profissão de fé explícita nas duas energias 
e nas duas vontades em Cristo. Assim, antes de terminar o século VII, ficava encerrada a 
última questão cristológica e estava concluído um enorme esforço de formulação da 
doutrina da fé. 
 
6. A questão da Graça 
A Controvérsia Pelagiana: 
• Origem e Difusão: 
o Doutrina atribuída a Pelágio, difundida na Península Ibérica por 
Prisciliano. 
• Doutrina de Pelágio: 
o Minimiza o papel da graça divina na salvação. 
o Defende a capacidade da natureza humana de evitar o pecado e praticar o 
bem por suas próprias forças. 
o Considera o pecado de Adão como estritamente pessoal, negando sua 
transmissão à descendência. 
 
A Reação de Santo Agostinho: 
• Contribuição Teológica: 
o Refutou Pelágio, enfatizando: 
▪ A existência e universalidade do pecado original. 
▪ A necessidade absoluta da graça para a salvação e para as obras 
meritórias. 
o Suas reflexões tornaram-se elementos essenciais do dogma católico sobre 
a salvação. 
• Exageros Agostinianos (“Agustinismo”): 
o Falava da humanidade como uma massa damnata (massa de perdição) 
devido ao pecado de Adão. 
o Defendia que a salvação dependia: 
▪ Da predestinação divina desde toda a eternidade. 
▪ Da graça irresistível que não depende dos méritos pessoais. 
o Esse ponto sacrificava a autonomia humana em favor da 
omnicausalidade divina. 
 
Reação ao Agustinismo e a Solução Doutrinal: 
• II Concílio de Orange (529): 
o Presidido por São Cesário de Arles, fixou a doutrina católica da graça. 
o Definições Doutrinais: 
▪ O homem natural é incapaz de realizar o bem sobrenatural por suas 
próprias forças. 
▪ A graça é necessária tanto para o início da salvação quanto para a 
perseverança final. 
▪ Não é possível "merecer" a graça. 
o Condenações: 
▪ Rejeitou a predestinação absoluta e a ideia de “predestinação ao 
mal”. 
▪ Corrigiu os exageros agostinianos sobre a predestinação e a 
vontade salvífica de Deus. 
 
Impacto: 
A doutrina da graça foi definitivamente fixada no Concílio de Orange. 
Encerraram-se as controvérsias suscitadas pelo pelagianismo e pelo agustinismo mais de 
um século após seu início. 
A Igreja alcançou um equilíbrio teológico entre a ação da graça divina e a liberdade 
humana. 
 
 
CAPÍTULO XI – CONVERSÃO DOS POVOS BÁRBAROS 
 
1. As invasões bárbaras e os novos reinos 
Contexto Histórico: Formação da Europa Cristã 
• Queda do Império Romano do Ocidente: 
o Marca o início do processo de formação da Europa, com o cristianismo 
ultrapassando a cultura greco-latina e alcançando a germânica. 
 
Movimentos dos Povos Bárbaros:Visigodos: 
• Século IV: Instalam-se no sul do Danúbio (atual Grécia) sob pressão dos hunos. 
• 410: Saqueiam Roma, liderados por Alarico I. 
• Fixam-se no sul da Gália e na Península Ibérica, com capital em Tolouse. 
• 711: São destruídos pelos árabes. 
Suevos, Vândalos e Alanos: 
• Suevos e Alanos: 
o Absorvidos pelos visigodos e permanecem na Península Ibérica. 
• Vândalos: 
o Sob Genserico, atravessam para o Norte da África e formam um reino 
(431-535), destruído pelos bizantinos liderados por Belisário. 
Ostrogodos: 
• 493-553: Ocupam a Península Itálica, com capital em Ravena. 
• 476: Sob Odoacro, destronam o último imperador do Ocidente, Rômulo 
Augústulo. 
• Desaparecem com a reconquista bizantina no tempo de Justiniano I. 
Longobardos: 
• 568: Substituem os ostrogodos na Itália. 
• 774: São derrotados por Carlos Magno. 
Burgúndios: 
• Estabelecem-se na Gália Oriental (443-534), sendo anexados pelos francos após 
a destruição causada pelos hunos. 
Francos: 
• 480: Inicialmente ocupavam uma região pequena no nordeste da Gália. 
• Sob Clodoveu: 
o Expandem-se, formando um reino que abrange a atual França, Bélgica, 
Alemanha Ocidental e Áustria. 
o Único reino bárbaro a sobreviver ao tempo, entrelaçando-se com a França 
medieval. 
Hunos: 
• Perdem força após a morte de Átila, mas causaram grande impacto nas migrações 
bárbaras. 
 
Distribuição dos Povos Bárbaros: 
• Península Ibérica (norte): Suevos. 
• Península Ibérica (restante) e sul da Gália: Visigodos. 
• Norte da África: Vândalos. 
• Itália: Ostrogodos, seguidos pelos longobardos. 
• Gália (norte): Burgúndios, depois substituídos pelos francos. 
• Alemanha: Alamanos, bávaros e turíngios. 
 
 
Arianismo Germânico: 
• Muitos povos bárbaros aderiram ao arianismo antes da conversão ao catolicismo. 
• Povos que permaneceram arianos: 
o Ostrogodos e vândalos (até sua extinção). 
• Povos que se converteram ao catolicismo: 
o Exemplo: Francos, que abandonaram o arianismo sob Clodoveu. 
 
Impacto: 
• O movimento bárbaro trouxe transformações culturais e religiosas profundas, 
resultando na integração de novas culturas germânicas no cristianismo e na 
formação da Europa medieval. 
 
2. Explicações para a adesão dos povos bárbaros ao arianismo: 
a) Penetração Inicial pelos Visigodos: 
• Primeiro povo germânico cristianizado: Visigodos. 
• Responsável: Ulfilas, bispo consagrado em Constantinopla por Eusébio de 
Nicomédia (ariano). 
• Contribuições de Ulfilas: 
o Missionário entre os godos por 40 anos. 
o Criou um alfabeto gótico e traduziu a Bíblia para o idioma gótico, pois os 
godos não possuíam escrita. 
b) Influência sobre Outros Povos Germânicos: 
• A conversão dos visigodos ao arianismo inspirou outros povos bárbaros a 
aderirem à mesma vertente cristã. 
 
Apoio Imperial ao Arianismo: 
c) Papel de Valente: 
• Imperador Apoiador: 
o Valente, ariano, incentivou a educação ariana entre os visigodos. 
o Enviou missionários arianos ao meio visigótico. 
3. Razões de Adesão e Perseguições: 
d) Autonomia e Identidade Germânica: 
• O arianismo serviu como forma de afirmação identitária e autonomia dos povos 
bárbaros: 
o Mantinha os invasores (minoritários) diferenciados das populações 
romanas católicas. 
o Evitação de Fusão: O arianismo ajudava a preservar a identidade cultural 
germânica. 
• Caráter Proselitista: 
o Geralmente, o arianismo não era imposto à força às populações romanas. 
o Exceções: 
▪ Vândalos no Norte da África: Realizaram perseguições 
sistemáticas. 
▪ Outras perseguições pontuais ocorreram por motivos políticos, 
visando unidade, mais do que por motivos religiosos. 
 
Conclusão: 
O arianismo teve impacto significativo na formação religiosa dos povos germânicos, 
servindo tanto como base de autonomia cultural quanto como expressão de sua 
independência frente à população romana católica. A difusão inicial pelos visigodos e o 
apoio de imperadores como Valente consolidaram sua influência, ainda que com 
diferenças de abordagem entre os povos germânicos. 
 
3. Do arianismo ao cristianismo católico 
“Ao longo do século VI vários povos germânicos consumaram a sua evolução religiosa 
e, abandonando o arianismo, abraçaram a fé católica” (Orlandis, 185). Os primeiros a 
converterem-se foram os burgúndios, sob influência dos francos católicos; depois 
converteram-se os suevos da Galiza, por obra de São Martinho de Dume; e, em seguida, 
converteram-se os visigodos. 
 
3.1. Conversão dos suevos 
O Reino Suevo e a Religião: 
• Arianismo: 
o Em 538, uma carta do Papa Virgílio informa que os suevos eram arianos, 
mas não criavam obstáculos à Igreja Católica. 
• Priscilianismo: 
o Erros doutrinários: 
▪ Sabelianismo sobre a Trindade (uma só pessoa divina com três 
modos). 
▪ Docetismo em relação a Cristo. 
▪ Negação de que o Deus do Antigo Testamento seja o mesmo do 
Novo Testamento. 
o Perda de força a partir do I Concílio de Toledo (400), onde bispos 
renunciaram aos erros priscilianistas. 
o Persistência de seguidores até o tempo de São Martinho de Dume (561). 
• Paganismo: 
o Marcada presença no reino suevo. 
o Evidências encontradas em textos como o De Correctione Rusticorum e 
nos Cânones de São Martinho de Dume. 
 
Conversão ao Catolicismo: 
• Rei Cararico (550): 
o Converte-se ao catolicismo após ser impressionado pelos milagres no 
sepulcro de São Martinho de Tours. 
o Abre espaço para a atividade missionária da Igreja Católica no reino 
suevo. 
 
Atuação de São Martinho de Dume: 
• Origem: 
o Monge vindo da Panónia (Hungria). 
• Contribuições: 
o Fundou um centro missionário em Dume. 
o Foi nomeado Metropolita de Braga (561-580). 
o Organizou e consolidou a Igreja nacional do reino dos suevos. 
 
Impacto da Conversão: 
• A conversão do rei Cararico e a atuação de São Martinho de Dume facilitaram a 
transição do arianismo e do paganismo para o catolicismo, consolidando a 
identidade cristã no reino suevo. 
 
3.2. Conversão dos visigodos 
Contexto Inicial dos Visigodos: 
• Sistema Dualístico: 
o Separava Estado e sociedade: 
▪ Um único Estado, mas preservava a identidade de godos e 
romanos. 
o Ineficácia do sistema: 
▪ Surgiram matrimónios mistos entre godos e romanos, apesar de 
proibidos. 
▪ Exemplo: Rei Teudis casou-se com uma dama da aristocracia 
hispano-romana e promulgou leis comuns para ambos os grupos. 
• Cristianização Inicial: 
o Contatos políticos, militares e culturais levaram muitos godos a abraçar o 
cristianismo. 
o Alguns líderes religiosos godos integraram a hierarquia católica. 
Reinado de Leovigildo (568-586): 
• Unificação Externa: 
o Subjugou a aristocracia do Norte da Hispânia. 
o Conquistou os suevos (585) e obteve sucessos contra os bizantinos. 
o Elevou seus filhos, Hermenegildo e Recaredo, a consortes regni (573). 
• Unificação Interna: 
o Matrimónios mistos: 
▪ Aboliu a proibição e unificou a legislação para godos e romanos. 
o Problema Religioso: 
▪ Persistia o conflito entre arianos e católicos. 
▪ Hermenegildo converteu-se ao catolicismo, influenciado por sua 
esposa Ingunda e pelo metropolita Leandro de Sevilha. 
▪ Essa conversão causou a ruptura com Leovigildo, defensor da 
“religio goda” (ariana). 
o Conflito com Hermenegildo: 
▪ Leovigildo conquistou Sevilha e Córdova (584). 
▪ Hermenegildo foi preso e assassinado em Tarragona na Páscoa de 
585. 
• Tentativa de Unificação Religiosa: 
o Convocou um concílio em Toledo para aproximar católicos e arianos. 
o Admitiu a consubstancialidade do Filho com o Pai para suavizar as 
diferenças dogmáticas. 
o Sucessos foram temporários. 
 
Reinado de Recaredo (586-601): 
• Conversão ao Catolicismo (587): 
o Dez meses após assumir o trono, abraçou a fé católica. 
• Unificação Religiosa: 
o Facilitou a integração do clero e bispos arianos na Igreja Católica. 
o Com a conversão do rei, a unificação religiosa do povo sob o catolicismo 
ocorreu de forma simples e rápida.Conclusão: 
• A conversão de Recaredo foi decisiva para a transição dos visigodos do arianismo 
para o catolicismo, consolidando a unidade religiosa no reino e a integração 
cultural entre godos e romanos. 
 
3.3. Conversão dos longobardos 
Contexto Inicial: 
• Antes da Invasão da Itália: 
o Os longobardos eram aliados dos francos e dos bizantinos. 
o Este pacto marcou o início do catolicismo entre os longobardos, mas sem 
adesão completa ou imediata. 
• Sob Justiniano I: 
o Justiniano recuperou a Itália, destruindo o domínio ostrogodo. 
o Longobardos receberam terras entre o Danúbio e o Sava, mas, 
insatisfeitos, expandiram-se. 
• Invasão da Itália (568-572): 
o Derrotaram os gépidas e invadiram o Norte da Itália. 
o Adoção do arianismo: Facilitou a fusão com populações ostrogodas e 
gépidas derrotadas, que também eram arianas. 
 
Conversão Gradual ao Catolicismo: 
a) Sob Agilulfo (590-616): 
• Influência de Teodolinda: 
o Rainha católica, incentivou a colaboração com os romanos. 
• Políticas Religiosas: 
o Permitiu o batismo do filho na Igreja Católica (mesmo cismática devido à 
“questão dos três capítulos”). 
o Deu refúgio ao missionário irlandês Columbano, que fundou o mosteiro 
de Bobbio, importante centro missionário. 
b) Sob Arioaldo (626-636): 
• Influência de Gundeperga: 
o Rainha católica (não cismática). 
o Promoveu a união do mosteiro de Bobbio à Sé Romana, transformando-o 
em um centro missionário. 
c) Sob Ariperto (653-661): 
• Professou a fé católica de observância romana. 
• Aboliu o arianismo como religião oficial. 
d) Sob Perctarit (661-688): 
• Consolidação do Catolicismo: 
o Representou a vitória definitiva do catolicismo entre os longobardos. 
o Apoiou o Papa na restauração da Igreja no Norte da Itália. 
3. Impacto: 
• A conversão dos longobardos ao catolicismo ocorreu de forma gradual, 
impulsionada pela influência de esposas católicas, missionários como Columbano 
e a atuação de reis que favoreceram a aproximação com Roma. 
• A vitória final do catolicismo sob Perctarit ajudou a reforçar os laços entre os 
longobardos e a Sé Romana, contribuindo para a restauração e unificação religiosa 
no Norte da Itália. 
 
4. A conversão dos francos 
Contexto Histórico: 
• Paganismo dos Francos: 
o Ao contrário de outros povos germânicos, os francos permaneceram 
pagãos até o final do século V. 
o Em 482, Clodoveu, jovem monarca, subiu ao trono. 
• Dominância do Arianismo: 
o Visigodos e burgúndios, arianos, controlavam grande parte do território 
franco. 
o A população galo-romana católica via nos bispos os seus líderes naturais, 
em oposição aos dominadores heréticos. 
 
Conversão de Clodoveu: 
• Casamento com Clotilde: 
o Casou-se com uma princesa católica da Borgonha, que teve influência 
decisiva em sua conversão. 
• Batalha de Tollbiac (496): 
o Durante o combate contra os alamanos, Clodoveu invocou Jesus Cristo, 
prometendo converter-se caso vencesse. 
o Vitória milagrosa: 
▪ Os alamanos recuaram, o rei deles morreu e o exército inimigo 
rendeu-se. 
o Cumprindo a promessa, Clodoveu foi batizado (possivelmente em 25 de 
dezembro de 500), junto com cerca de três mil guerreiros, segundo 
Gregório de Tours. 
Importância da Conversão: 
• Clodoveu tornou-se o primeiro monarca germânico a abraçar o catolicismo, 
contrastando com o arianismo predominante entre outros povos germânicos. 
 
Resultados e Consequências: 
• Crescimento do Cristianismo entre os Francos: 
o Realização de quatro concílios nacionais no século VI e do Concílio de 
Paris (séc. VII). 
o Apoio à evangelização de outros povos germânicos. 
• Produção Cultural e Religiosa: 
o A obra de São Gregório de Tours. 
o Venâncio Fortunato, autor do hino Pange lingua. 
• Influência Histórica: 
o A conversão dos francos marcou o início de um forte vínculo entre o Reino 
Franco e a Igreja Católica, sendo um evento crucial para a cristianização 
da Europa Ocidental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Conversão dos Alamanes, Bávaros e Turíngios 
 
5.1. Os Alamanes 
Até terem sido derrotados pelos Francos, os Alamanes eram pagãos; após a conquista de 
Clodoveu (496 ou 497), os mais influentes aproximaram-se da nova religião e a parte 
setentrional do seu território ficou sob domínio Franco. Quer nos territórios que ficaram 
sujeitos aos Francos, quer nos pertencentes aos nobres Alamanes, surgiram depressa 
igrejas e capelas dedicadas a São Martinho, a São Miguel Arcanjo, a São João Batista etc. 
Importante na cristianização deste povo foi a fundação da sede episcopal de Constança, 
junto ao lago homônimo, que viria a tornar-se uma das maiores e mais célebres dioceses 
da Alemanha. O influxo do cristianismo sobre o povo Alamano era já forte no século VI, 
de tal modo que os vários chefes das várias estirpes, reunidos em assembleia, decidiram 
aceitar a nova religião. 
 
5.2. Os Bávaros 
Também os Bávaros tiveram de reconhecer (por volta de 540) o domínio dos Francos, 
ainda que até finais do século VIII subsistisse a casa ducal dos Agilulfingos, da qual saíra 
Teodolinda, Rainha dos Longobardos. O principal evangelizador deste povo foi São 
Ruperto, vulgarmente chamado “apóstolo da Baviera”, a quem se deve a construção do 
mosteiro de São Pedro em Salzburgo (atual Áustria). O principal organizador eclesiástico 
foi São Bonifácio, que dividiu o território em quatro dioceses (Passávia, Ratisbona, 
Salzburgo e Frisinga). Da Baviera partiriam missionários que haveriam de prestar grande 
contributo à evangelização dos eslavos (particularmente os residentes na Morávia e 
Boêmia) e também dos Húngaros. 
 
5.3. Turíngios 
Os Turíngios ocupavam a atual zona central da Alemanha e ficaram sujeitos aos Francos 
em 531. Alguns Francos estabeleceram-se na zona sudo-ocidental, que assim se foi 
cristianizando, adotando o nome de Francônia Oriental. Quem se encarregou de 
completar a obra de conversão e de lançar as bases da organização eclesiástica foi São 
Bonifácio. A maior diocese desta região foi a de Würzburg, cujo primeiro bispo foi o 
anglo-saxão Burcado. 
 
6. As Cristandades Célticas 
Os inícios de uma missão cristã sobre as ilhas britânicas remontam possivelmente ao final 
do segundo século. Para sermos precisos, essa missão abrangia somente a parte 
romanizada da maior ilha, então chamada Britânia, uma vez que a parte setentrional e a 
Hibérnia (= Irlanda) nunca estiveram sob o Império Romano. No tempo das invasões 
germânicas (Anglos e Saxões), por volta de 450, a Igreja perdeu terreno, pois muitos 
Bretões emigraram para fugir aos invasores, vindo a fixar-se na zona hoje conhecida como 
Bretanha (noroeste da França). 
 
6.1. Cristianismo na Irlanda 
Contexto Inicial: Introdução do Cristianismo na Irlanda 
• Antes de São Patrício, existiam pequenos grupos cristãos na Irlanda. 
• Em 431, o Papa Celestino enviou Palladio como bispo para o sul da ilha. 
• São Patrício (432): 
o Considerado o “Apóstolo da Irlanda”. 
o Capturado pelos Scoti aos 16 anos, foi escravizado e convertido durante o 
cativeiro. 
o Após seis anos, fugiu, retornando à Britânia e, posteriormente, à Irlanda 
como missionário. 
A Missão de São Patrício: 
• Estratégia: 
o Buscou o apoio dos reis tribais (exemplus regis). 
o Fundou o centro missionário de Armagh, que se tornou sua sede 
episcopal. 
• Método de Evangelização: 
o Cristianizou ritos e festas pagãs, transformando centros de culto pagão em 
sedes episcopais. 
o Apesar da persistência de tradições pagãs, consolidou o cristianismo na 
Irlanda antes de sua morte. 
Características da Igreja Irlandesa: 
• Organização Monástica: 
o Mosteiros como centros de vida religiosa e cultural. 
• Ascetismo e Moralidade: 
o Práticas rigorosas de mortificação corporal. 
o Desenvolvimento dos livros penitenciais, com regras para confissão e 
penitência. 
• Cultura Litúrgica: 
o Diferenças no cômputo pascal em relação à tradição romana. 
Forte Espírito Missionário:• Peregrinação por Amor de Deus: 
o Monges celtas não tinham morada fixa, lançando-se em missões 
apostólicas. 
• Exemplos de Missionários: 
o São Columba (521-597): Evangelizou a Escócia. 
o São Columbano (540-615): 
▪ Missionário na França merovíngia, Suíça e Itália do Norte. 
▪ Espalhou a tradição cristã céltica em várias regiões da Europa. 
Impacto: 
• São Patrício assegurou a consolidação do cristianismo na Irlanda, transformando 
a ilha em um celeiro de espiritualidade, cultura e missão. 
• Os monges irlandeses foram fundamentais na disseminação do cristianismo pela 
Europa, deixando um legado duradouro de fé e cultura cristã céltica. 
 
6.2. Evangelização dos Anglo-Saxões 
1. Declínio do Cristianismo na Inglaterra: 
• Invasão Germânica: 
o O cristianismo sofreu grande declínio, quase desaparecendo em centros 
importantes como York e Londres. 
Início da Evangelização dos Anglo-Saxões: 
• Ação dos Francos: 
o A princesa Berta, casada com o rei Etelberto de Kent, influenciou sua 
conversão ao cristianismo. 
• Missão de Gregório Magno: 
o Em 597, o Papa enviou monges liderados por Agostinho, que batizaram o 
rei e muitos nobres. 
Desafios e Organização da Igreja: 
• Resistências: 
o Cristãos bretões resistiram à integração com os Anglo-Saxões. 
o Retornos ao paganismo foram comuns. 
• Teodoro de Tarso: 
o Reorganizou a Igreja na Inglaterra, fortalecendo a evangelização. 
Contribuição dos Mosteiros: 
• Centros de Cultura e Missão: 
o Mosteiros floresceram, desempenhando papel central na conversão de 
povos germânicos. 
Cristianização da Europa (até o século VIII): 
• Povos Evangelizados Tornam-se Evangelizadores: 
o Exemplo: Francos e Irlandeses. 
• Facilitadores da Expansão Cristã: 
o Decadência das religiões bárbaras, marcadas por superstição e fatalismo. 
o Relações amigáveis entre romanos e germânicos: 
▪ Muitos germânicos viviam no Império Romano e colaboravam 
militarmente. 
Conversão e Integração dos Povos Germânicos: 
• Visigodos e Suevos: 
o Eliminaram diferenças étnicas ao se converterem ao cristianismo. 
• Francos: 
o Sob Clodoveu, desempenharam papel crucial na história do Ocidente e na 
consolidação do cristianismo. 
Conclusão: 
• Até o século VIII, a cristianização da Europa estava quase completa ou em 
progresso. 
• A integração cultural e religiosa entre romanos e bárbaros foi um marco crucial 
na transição para a Idade Média. 
 
Islamismo 
Origem e Contexto Histórico: 
• O Islamismo foi fundado por Maomé no século VII. 
• Antes dele, os árabes adoravam forças da natureza, astros e ídolos, tendo Meca 
como centro religioso e comercial, com a Kaaba como santuário onde se 
guardava a pedra negra. 
 
Expansão e Significado: 
• O Islão é a segunda maior religião do mundo (500 milhões de fiéis), atrás apenas 
do Cristianismo. 
• Está presente principalmente no norte da África e sudoeste da Ásia. 
• A palavra “Islão” significa “submissão” ou “abandono a Deus”. 
 
Maomé: 
• Nasceu em Meca em 570 e, após ficar órfão, foi criado por um tio e encaminhado 
para o comércio. 
• Durante suas viagens comerciais, tomou contato com o Cristianismo e a Sagrada 
Escritura. 
• Recebeu uma suposta revelação divina, tornando-se profeta. 
• Enfrentou resistência dos ricos e autoridades, mas ganhou seguidores entre os 
pobres. 
• Em 622, fugiu para Medina (Hégira), marco inicial do calendário muçulmano. 
• Tornou-se líder político e religioso, morrendo em Medina em 632. 
 
Doutrina: 
• Verdades centrais: 
1. Allah é único e grande. 
2. Maomé é o profeta de Allah, precedido por Abraão, Moisés e Jesus. 
• Crenças: 
o Criaturas invisíveis, imortalidade da alma, julgamento divino, ressurreição 
da carne, paraíso e inferno. 
• Obrigações: 
1. Profissão de fé: "Não há outro Deus além de Allah, e Maomé é o Profeta 
de Allah". 
2. Orações diárias: Cinco vezes ao dia voltados para Meca. 
3. Jejum do Ramadã: Abstinência do nascer ao pôr do sol. 
4. Esmola: Ajuda aos pobres e contribuição comunitária (imposto religioso). 
5. Peregrinação a Meca: Pelo menos uma vez na vida. 
 
O Corão: 
• Texto sagrado composto por 114 capítulos (suras) e 6236 versículos. 
• Contém doutrinas religiosas, leis e orientações para a vida. 
• Muitos muçulmanos o sabem de cor e o consideram sua maior riqueza terrena. 
 
Pontos em Comum com o Cristianismo: 
• Fé em um Deus Único, crença numa Revelação, veneração de Maria e esforço 
moral e espiritual. 
• O Corão dedica o capítulo XIX a Maria, considerada Mãe puríssima, e menciona 
frequentemente Jesus, reconhecido como um grande profeta. 
 
A Arte após o Século IV 
Contexto e Origem: 
• A arte cristã não começou com a conversão de Constantino; já no século III, havia 
obras influenciadas pelo cristianismo. 
• Apesar da clandestinidade inicial, a arte das catacumbas, embora rústica, revelou 
engenho e criatividade. 
 
Expansão e Desenvolvimento: 
• A partir de Constantino, a arte cristã ganhou expressão pública: 
o Objetos cristianizados: Lâmpadas de azeite com símbolos cristãos. 
o Construções: Proliferação de igrejas, mosaicos, sarcófagos 
ornamentados. 
• Basílica: Modelo arquitetônico principal adaptado das salas romanas: 
o Estrutura alongada com três naves, colunatas, átrio e ábside (onde ficava 
o altar). 
o Exemplos: São Pedro, São Paulo extra-muros, Santa Sabina, entre outras. 
o Variedades: Igrejas quadradas, cruziformes, circulares, e com cúpulas 
(influência oriental). 
 
Ornamentação e Simbolismo: 
• Interiores decorados: Mosaicos, pinturas e esculturas. 
• Pinturas: 
o Realismo e semelhança; temas centrados em Jesus e nos Evangelhos. 
o Exemplo: Afrescos da igreja de Dura Europos. 
• Mosaicos: 
o Resistente e duradouro, enfeitando basílicas como Santa Prudenciana. 
o Exemplo: Cristo em glória, cercado pelos Apóstolos. 
• Esculturas: 
o Baixos-relevos em igrejas e sarcófagos. 
o Temas do Novo Testamento, com alusões simbólicas ao Antigo. 
o Exemplo: Sarcófago de Júnio Basso (359), equilibrado e sereno. 
 
A Unidade da Arte Cristã: 
• A arte cristã unificou formas, temas e emoções: 
o Inspirada pela piedade e pela busca do espiritual. 
o Representava a transição de um mundo material para um mundo espiritual 
e divino. 
• Influência duradoura, antecipando estilos como o românico séculos depois. 
 
Testemunho de Fé e Tradição: 
• A arte tornou-se uma ferramenta pedagógica e apologética. 
• Padres da Igreja: São Basílio e São Gregório Niceno defenderam a arte como 
forma de ensinar e inspirar fé. 
• Cristo na arte: Do jovem das catacumbas ao majestoso juiz com nimbo nos 
mosaicos das basílicas. 
Conclusão: 
A arte cristã não apenas sobreviveu, mas floresceu, moldando a estética e a espiritualidade 
do Ocidente e do Oriente, refletindo a mensagem do Evangelho em cada detalhe.

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