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DIREITO CONSTITUCIONAL – MARCELO NOVELINO 
AULA III - DATA: 21.08.2020 
Material complementar: Lesen (2020), Ouse Plenus (2020) 
 
5 - PODER CONSTITUINTE DERIVADO 
Conforme dito anteriormente, divide-se em reformador, decorrente e 
revisor. A doutrina, no geral, traz três características do Poder 
Constituinte Derivado: 
i) Derivado: Já que é oriundo do próprio Poder Originário; 
ii) Subordinado: Subordina-se ao Poder Originário nos termos da 
Constituição; 
iii) Limitado ou condicionado: Possui regras rígidas estabelecidas pelo 
Poder originário. 
O Poder Constituinte Originário cria limitações ao Poder Constituinte 
Derivado porque se sabe que, em momentos de crise, as sociedades 
tendem a cair em tentações (Teoria da Autolimitação ou Pré-
Comprometimento). 
Este poder é aquele responsável por modificar uma constituição 
existente. Esta modificação pode ser feita por emenda (reforma – art. 60 
da CF) ou por revisão (art. 3º da ADCT) ou responsável pela elaboração 
das constituições dos Estados-membros. 
Portanto, podemos ter tanto um poder constituinte derivado 
reformador, poder constituinte derivado decorrente e um poder 
constituinte derivado revisor. A reforma é a via ordinária de alteração 
da constituição. A revisão é a via extraordinária. 
*** O que é a teoria do Pré-Comprometimento? Trata-se de formulação 
teórica envolvendo a Teoria do Poder Constituinte baseada na literatura 
e mitologia gregas clássicas. Na Odisseia, Ulisses, durante seu regresso 
 
 
a Ítaca, saberia que ia passar por todo tipo de provação e tentação. Para 
não ser levado por essas tentações, pediu para ser acorrentado no barco, 
principalmente, em razão do canto das sereias, que, por seu efeito 
encantador, desviava os homens de seus objetivos e os conduzia a 
caminhos tortuosos. Ulisses saberia que não resistiria e, por isso, criou 
uma auto restrição para não sucumbir depois. 
Nesse sentido, existe uma grande relação entre o mito grego e a existência 
de cláusulas pétreas impostas pelo Poder Constituinte Origiário. Jon 
Elster, fazendo essa ligação, justifica a existência de cláusulas pétreas 
através da teoria do pré-comprometimento. Aduz que as Constituições 
democráticas são mecanismos de auto vinculação adotados pela 
soberania popular para se proteger de suas paixões e fraquezas, razão 
pela qual os temas mais sensíveis que precisavam ser petrificados, não 
sucumbindo a tentações momentâneas. 
A Teoria do pré-comprometimento parte da ideia de que as 
constituições democráticas são mecanismos de autovinculação da 
sociedade, ou seja, são mecanismos de pré-comprometimento. São 
adotados para que a sociedade possa se proteger de suas próprias 
paixões e fraquezas. A vontade momentânea deve ser deixada de lado 
para que o propósito maior não seja esquecido. “...mas muito mais 
frequente é os homens serem distraídos de seus principais interesses, 
mais importantes, mas mais longínquos, pela sedução de tentações 
presentes, embora muitas vezes totalmente insignificantes. Esta grande 
fraqueza é incurável na natureza humana.” (David Hume). É curioso que, 
posteriormente, Jon Elster adotou uma visão negativa acerca das 
cláusulas pétreas. 
•Teoria da democracia dualista: Essa teoria tem esse nome, pois Bruce 
Ackerman faz uma distinção entre política ordinária e a política 
extraordinária. a) Política ordinária: deliberações dos órgãos de 
representação popular, ou seja, é a atuação cotidiana do Congresso 
Nacional (leis). b) Política extraordinária: decisões tomadas pelo povo 
 
 
em momentos de grande mobilização cívica. Neste caso, essa política 
poderia impor certos limites à política ordinária. 
 ✓ “Peter drunk – Peter sober”: essa é uma outra analogia feita 
por Stephen Holmes. A ideia é a seguinte: Pedro vai a uma festa e, antes 
de sair de casa, fala para o amigo que, se ele estivesse bêbado, o amigo 
não deveria entregar a chave do carro a ele. Pedro vai à festa, fica bêbado 
e muda de ideia. Então, pede que o amigo lhe entregue a chave do carro. 
O amigo se recusa a entregá-la. Diante disso, pergunta-se: por que a 
primeira vontade de Pedro deve prevalecer sobre a segunda? Porque, no 
primeiro momento, ele estava sóbrio; no segundo, embriagado. Do mesmo 
modo, muitas vezes, a sociedade toma certas decisões embriagada. Por 
esse motivo, é necessário que algumas metas sejam resguardadas. 
As cláusulas pétreas possuem três finalidades básicas: 
a) Preservar a identidade material da Constituição: toda Constituição 
tem uma identidade de conteúdo. Para evitar que a Constituição se 
desfigure, alguns dispositivos que conferem a ela a identidade material 
não podem ser alterados – pelo menos em seu núcleo essencial. É para 
isto que existem cláusulas pétreas. 
b) Proteger institutos e valores essenciais para a sociedade: a 
Constituição consagra institutos e valores essenciais para uma sociedade 
– por exemplo, direito à vida, direito ao voto etc. 
C) Assegurar a continuidade do processo democrático: nesse sentido, 
as cláusulas pétreas servem para impedir que uma maioria que esteja no 
poder utilize mecanismos para se manter no poder. Quem está no poder 
tem a tendência de modificar as regras do jogo para nele se manter. Para 
evitar isto, a Constituição consagra cláusulas pétreas. 
6 - PODER CONSTITUINTE DECORRENTE 
Auto-organização do Estado. É aquele responsável pela elaboração das 
constituições dos Estados-membros. Vai elaborar a constituição dos 
Estados-membros. É o responsável pela criação da constituição dos 
 
 
estados-membros que são responsáveis pela auto-organização dos 
Estados. – ADCT, art. 11 e o artigo 25 da CF. É um poder exercido pelas 
assembleias legislativas. Este poder encontra limites na constituição 
federal. 
Poder derivado decorrente é a capacidade conferida pelo poder originário 
aos Estados-membros, enquanto entidades integrantes da Federação, 
para elaborarem suas próprias Constituições (art. 25 da CF/88). É aquele 
que a Constituição confere aos estados-membros, permitindo que eles 
se auto organizem, o que se dá com a elaboração de suas Constituições 
Estaduais, inclusa a possibilidade de o Distrito Federal elaborar e 
modificar a sua Lei Orgânica. 
Nota-se que é no exercício do poder decorrente que os Estados cumprirão 
sua capacidade de auto-organização, fruto da autonomia política a eles 
conferida pelo sistema constitucional federado. Para viabilizar essa 
tarefa, o poder originário fez constar no ADCT (art. 11) a possibilidade de 
as Assembleias Legislativas eleitas em 1986, investidas no poder 
decorrente, elaborarem, no prazo de um ano, a contar da promulgação 
da Constituição da República, as Constituição estaduais. 
Art. 11. Cada Assembléia Legislativa, com 
poderes constituintes, elaborará a 
Constituição do Estado, no prazo de um 
ano, contado da promulgação da 
Constituição Federal, obedecidos os 
princípios desta. 
Parágrafo único. Promulgada a 
Constituição do Estado, caberá à Câmara 
Municipal, no prazo de seis meses, votar a 
Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de 
discussão e votação, respeitado o disposto 
na Constituição Federal e na Constituição 
Estadual. 
 
 
OBS.: Desse artigo se extrai o princípio da simetria. Este princípio impõe 
que as constituições estaduais observem determinados modelos 
estabelecidos pela Constituição Federal (são as chamadas normas de 
observância obrigatória). Na lei orgânica municipal, a simetria é dupla, 
pois ela deve observar a simetria tanto da constituição do Estado quanto 
à simetria da Constituição da República. 
OBS.: O entendimento majoritário na doutrina brasileira é no sentido de 
que o DF tem um poder constituinte decorrente, mas os municípios não, 
pois a lei orgânica municipal está submetida à constituição estadual e 
pelo fato de não existir controle de constitucionalidade tendo como 
parâmetro lei orgânica municipal. 
– A Lei orgânica do DF é equiparada aconstituições estaduais. – Já os 
municípios, embora dotados de autonomia política, administrativa e 
financeira, com competência para elaborar sua própria Lei Orgânica, não 
dispõem de poder constituinte derivado decorrente. 
– Resumindo! O poder constituinte derivado decorrente é aquele 
atribuído aos Estados-membros e ao DF para a elaboração de suas 
Constituições e Lei orgânica. Esse poder, porém, não foi estendido aos 
municípios. 
Acrescenta-se que Poder Constituinte Decorrente (PCD), conferido aos 
estados-membros da federação, não foi estendido aos municípios. Estes 
devem observar necessariamente dois graus de imposição legislativa 
constitucional (estadual e federal). Veja-se o Supremo Tribunal Federal 
sobre o ponto: 
“Dar alcance irrestrito à alusão, no art. 29, 
caput, CF, à observância devida pelas leis 
orgânicas municipais aos princípios 
estabelecidos na Constituição do Estado, 
traduz condenável misoneísmo 
constitucional, que faz abstração de dois 
dados novos e incontornáveis do trato do 
 
 
Município da Lei Fundamental de 1988: 
explicitar o seu caráter de “entidade 
infraestatal rígida” e, em consequência, 
outorgar-lhe o poder de auto-organização, 
substantivado, no art. 29, pelo de votar a 
própria lei orgânica. É mais que bastante ao 
juízo liminar sobre o pedido cautelar a 
aparente evidência de que em tudo quan to, 
nos diversos incisos do art. 29, a 
Constituição da República fixou ela mesma 
os parâmetros limitadores do poder de auto-
organização dos Municípios e excetuados 
apenas aqueles que contêm remissão 
expressa ao direito estadual (art. 29, VI, IX 
e X) – a Constituição do Estado não os 
poderá abrandar nem agravar”. [ADI 2.112 
MC, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 11-5-
2000, P, DJ de 18-5-2001.] 
Buscador Dizer o Direito: É constitucional norma originária da Lei 
Orgânica do DF que preveja que “a direção superior das empresas 
públicas, autarquias, fundações e sociedades de economia mista terá 
representantes dos servidores”. A Lei Orgânica do DF é uma manifestação 
do poder constitucional derivado decorrente, ou seja, ela possui o mesmo 
status jurídico ostentado pelas Constituições estaduais. STF. Plenário. 
ADI 1167/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/11/2014 (Info 768). 
[...] 1) Não houve ofensa à iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo 
porque a regra de iniciativa privativa do art. 61, § 1o, da CF/88 não se 
aplica para normas originárias da Constituição Estadual (e também da 
Lei Orgânica do DF). Segundo o STF, a norma em questão, por ser 
oriunda do poder constituinte originário decorrente, não sofre vício de 
reserva de iniciativa legislativa do chefe do Poder Executivo. Importante 
não confundir: • Normas originárias da Constituição estadual: não estão 
 
 
limitadas ao art. 61, § 1o, da CF/88. • Emendas à Constituição estadual: 
não podem contrariar a iniciativa reservada do art. 61, § 1º, da CF/88. 
Efeito dominó: Feita uma nova Constituição Federal, deverá ser feita 
uma nova Constituição Estadual. 
Algumas normas são chamadas pelo STF como normas de observância 
ou de repetição obrigatória – a Constituição de 1988 não diz quais as 
normas deverão ser observadas no âmbito do Estado, ao contrário da 
constituição de 1967, mas através da análise da jurisprudência do STF 
se pode identificá-las, mas não é restritiva essa interpretação. 
Ademais, os Territórios Federais que eventualmente sejam criados devem 
integrar a União (art. 18, § 2º, da CF), não possuem autonomia federativa 
e nem manifestação do poder constituinte derivado decorrente. 
Por fim, cumpre registrar que o Poder Constituinte Derivado Decorrente 
subdivide-se em instituidor, que é aquele que irá criar o texto da 
Constituição Estadual, e em revisor, o qual é responsável pelas emendas 
regulares, bem como pelas emendas de revisão. Quando o poder 
decorrente cria a Constituição do Estado ele é denominado “poder 
decorrente instituidor”; e quando realiza as alterações em seu texto, 
procedendo aos ajustes necessários à compatibilização com a realidade, 
é intitulado “poder decorrente reformador”. 
Assim, na verdade, o Poder Constituinte Derivado é um poder criado pelo 
Poder Constituinte Originário. É exercido por um órgão constitucional, 
conhece limitações expressas e implícitas e, por isso, é passível de 
controle de constitucionalidade. 
O poder constituinte derivado tem as seguintes características: 
• Derivado: decorre do poder constituinte originário e da própria 
Constituição. 
• Subordinado: deve observância ao poder constituinte originário. 
• Condicionado ou limitado: seu exercício deve seguir as regras 
previamente estabelecidas no texto constitucional. 
 
 
O poder constituinte derivado subdivide-se em: a) poder constituinte 
derivado reformador; b) poder constituinte derivado decorrente; c) poder 
constituinte revisor. 
Para José Afonso da Silva há três limitações ao poder constituinte 
decorrente, quais sejam: 
a) princípios constitucionais sensíveis: Definição de Pontes de 
Miranda. Estão previstos no artigo 37, inciso VII da CF. Se não forem 
observados pelos Estados, o PGR ele poderá ajuizar uma Adi interventiva 
ou representação interventiva de competência do STF. 
Se for julgada improcedente, o Presidente não poderá declarar a 
intervenção, ou seja, conforme o artigo 36, inciso III da CF o Presidente 
só poderá declarar a intervenção se a Adi interventiva for julgada 
procedente. É um ato vinculado, estando o Presidente obrigado a 
decretar a intervenção, sob pena de crime de responsabilidade conforme 
o disposto na Lei 1.079/50 em seu artigo 12. A decisão do STF tem 
natureza jurídica e política. 
b) princípios constitucionais extensíveis: São aqueles previstos para a 
União e que se estendem aos Estados. Estes princípios podem ser 
expressos (artigo 28 e artigo 75 da CF) ou implícitos (normas de 
observância obrigatória). 
Algumas normas são chamadas pelo STF como normas de observância 
ou de repetição obrigatória – a Constituição de 1988 não diz quais as 
normas deverão ser observadas no âmbito do Estado e dos municípios, 
ao contrário da constituição de 1967, mas através da análise da 
jurisprudência do STF se pode identificá-las, mas não é restritiva essa 
interpretação: 
a) princípio da separação dos poderes – os Estados têm que observar 
as mesmas competências do âmbito federal; 
b) princípios básicos do processo legislativo – a CF/88 estabelece 
apenas o processo legislativo federal, mas são normas de observação 
 
 
obrigatória – ex.: art. 61, § 2º, CF – competência de iniciativa do 
presidente, simetricamente nos Estados a competência é do governador 
e na esfera municipal, a competência será do prefeito; 
c) requisitos para criação de CPI (o restante não é de observância 
obrigatória) – art. 58, § 3º, CF/88 – quorum de 1/3 dos membros da 
casa legislativa, fato (objeto) determinado, prazo certo de duração – 
quebra de sigilo bancário por CPI estadual – ACO 730 – 6 x 5 – CPI 
estadual pode determinar quebra de sigilo bancário; 
d) normas relativas ao TCU – art. 75, CF/88 
Art. 75. As normas estabelecidas nesta 
seção aplicam-se, no que couber, à 
organização, composição e fiscalização dos 
Tribunais de Contas dos Estados e do 
Distrito Federal, bem como dos Tribunais e 
Conselhos de Contas dos Municípios. 
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais 
de Contas respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros. 
*** Vedação de que os membros da mesa do Congresso sejam 
reconduzidos – art. 57, § 4º, CF/88 – é norma de observância 
obrigatória no âmbito estadual? O STF considerou que essa norma não 
é de observância obrigatória pelos Estados podem dispor da maneira que 
bem entenderem. 
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir 
de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus 
membros e eleição dasrespectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, 
vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente 
subseqüente. 
O TJ pode processar e julgar ADI (parâmetro: CE; objeto: lei ou ato 
normativo estadual ou municipal) – art. 125, § 2º, CF/88 – quando a 
norma violada for norma de observância obrigatória, desta decisão do TJ 
 
 
caberá recurso extraordinário para o STF (ex. lei municipal violada em 
face de CE, norma de observância obrigatória) e a lei municipal será 
analisada pelo STF, em face da constituição federal, ou seja, haverá duas 
exceções à regra: 
- O RE, instrumento de controle difuso, está sendo usado como 
instrumento de controle concentrado abstrato; 
- Lei municipal está sendo objeto de controle abstrato em face da 
constituição federal (por isso, lei municipal pode ser objeto de controle 
abstrato concentrado tendo como parâmetro a constituição federal). 
Normas de observância obrigatória: são aquelas editadas pelo poder 
constituinte federal cujo conteúdo implique limitação à autonomia 
estadual. 
Normas de mera repetição (ou mera imitação) – normas que a 
constituição federal cópia, sem necessidade, da constituição federal 
Normas de remissão – aquelas que fazem remissão à constituição federal 
O STF admite que esses três tipos de norma servem como parâmetro para 
controle de constitucionalidade no TJ, mas para ser objeto de RE somente 
as normas de observância obrigatória. 
c) princípios constitucionais estabelecidos: Subdivididos em três 
grupos: 
c.1) expressos – estão textualmente na constituição, consubstanciados 
em regras mandatórias (obrigam o Estado a fazer algo, como por exemplo, 
o art. 37) e em regras vedatórias (impedem que o Estado faça algo, como 
por exemplo, o artigo 19) 
c.2) implícitos – ex. art.: 22 – matérias de competência privativa da 
União e artigo 30 da CF – matérias de competência do município. 
c.3) decorrentes – defluem do sistema constitucional adotado – ex.: 
princípio federativo, deste princípio decorre vários princípios, por 
exemplo, o respeito recíproco entre os Estados-membros. 
 
 
Resumindo: 
Segundo Raul Machado Horta, os limites decorreriam de normas 
centrais da CF: a) princípios constitucionais sensíveis cuja 
inobservância enseja intervenção federal (art. 34, VII); b) princípios 
estabelecidos (dispersos na CF); e c) regras de pré-organização do 
Estado-membro (disciplinam órgãos e instituições do Estado). Ele 
distinguiu as normas de reprodução (constituinte estadual é obrigado a 
transpor) das normas de imitação (mimetização do modelo federal). 
José Afonso da Silva, por sua vez, classificou os limites ao poder 
constituinte derivado decorrente em: i) princípios constitucionais 
sensíveis (pode deflagrar intervenção federal); ii) princípios 
constitucionais estabelecidos (normas de variada natureza que limitam a 
autonomia organizatória dos Estados); e iii) princípios constitucionais 
extensíveis (são endereçados expressamente à União, mas extensíveis aos 
Estados). 
Segundo Uadi Lammêgo Bulos, os limites à manifestação do Poder 
Constituinte Derivado Decorrente são: a) Princípios constitucionais 
sensíveis: são aqueles cuja observância é obrigatória, sob pena de 
intervenção federal (art. 34, VII, da CF). A Constituição de 1988 foi 
moderada na fixação dos chamados princípios sensíveis. Nos termos do 
art. 34, VII, da CF, devem ser observados pelo Estado-membro, sob pena 
de intervenção: a) forma republicana, sistema representativo e regime 
democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) 
prestação de contas da administração pública direta e indireta e e) 
aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, 
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e 
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. 
b) Princípios constitucionais estabelecidos ou indicativos: segundo 
Bulos, são aqueles que limitam, vedam ou proíbem a ação indiscriminada 
do Poder Constituinte Derivado Decorrente. Funcionam como balizas 
 
 
reguladoras da capacidade de auto-organização dos Estados, podendo 
ser extraídas do conjunto de normas centrais, dispersas na CR/88. 
Exemplo, normas que tratam: da repartição de competência, do sistema 
tributário nacional, da organização dos poderes, dos direitos políticos, da 
nacionalidade, dos direitos e garantias individuais, dos direitos sociais, 
da ordem econômica etc. 
Podem ser divididos em: i. Limites explícitos vedatórios – Proíbem os 
Estados de praticar atos (ou procedimentos) contrários ao fixado pelo 
Poder Constituinte Originário (ex.: arts. 19, 35, 150); ii. Limites explícitos 
mandatórios – São restrições à liberdade de organização (ex.: arts. 18, § 
4o; 29; 31, § 1o etc.); iii. Limites inerentes – Implícitos ou tácitos, vedam 
qualquer possibilidade de invasão de competência por parte dos Estados-
membros; iv. Limites decorrentes – Decorrem de disposições expressas 
(ex.: necessidade de observância do princípio federativo, do Estado 
Democrático de Direito, do princípio republicano, da dignidade da pessoa 
humana). 
c) Princípios constitucionais extensíveis: consistem nas regras de 
organização que a Constituição estendeu aos Estados-membros. 
Expressamente, só estão previstos para a União, mas que, por extensão 
interpretativa, vinculam as demais entidades. 
Poder constituinte derivado reformador: É responsável pela reforma 
do texto constitucional. Ele vai fazer alterações na constituição já 
existente. Ele não vai criar uma nova constituição. Ele vai apenas alterá-
la. É secundário e não inicial, condicionado, limitado juridicamente. 
Apesar de ser chamado de poder constituinte, as suas características são 
totalmente contrárias ao poder constituinte originário. É secundário, 
limitado e condicionado pela CF. 
Poder constituinte reformador vai fazer a reforma da constituição e esta 
reforma é a via ordinária de alteração da constituição. Está presente no 
artigo 60 da CF. 
 
 
É o poder de modificar a Constituição, desde que observadas as regras e 
limitações impostas pelo poder constituinte originário. O poder 
constituinte derivado reformador está submetido a limites explícitos e 
implícitos. 
São os seguintes os limites explícitos ao poder constituinte derivado 
reformador: 
a) Limites materiais: alguns conteúdos não podem ser modificados na 
Constituição, como o disposto no art. 60, § 4º, que prevê as cláusulas 
pétreas. As limitações materiais são aquelas que proíbem modificações 
violadoras do núcleo essencial de certos institutos e princípios. As 
cláusulas pétreas não impedem a alteração da constituição em si, mas 
apenas a violação desses núcleos essenciais. 
b) Limitações formais: a modificação da Constituição deve observar o 
procedimento previsto na própria CF/88, como: apenas três legitimados 
podem propor a mudança; deve haver duas votações em cada casa do 
Congresso Nacional, com voto favorável de, ao menos, 3/5 dos membros 
de cada casa. 
Obs. 1: O STF não se posicionou sobre a possibilidade de iniciativa 
popular para proposta de emenda, mas parcela da doutrina admite a 
iniciativa popular, a partir da interpretação sistemática do art. 1o, 
parágrafo único; art. 14 e art. 61, § 2o, da CF (José Afonso da Silva). 
Obs. 2: No julgamento da ADI 825, em 25.10.2018, o STF, por maioria 
de votos, entendeu que, embora a Constituição Federal não autorize 
proposta de iniciativa popular para emendas ao próprio texto, mas 
apenas para normas infraconstitucionais, não há impedimento para que 
as constituições estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a 
competência constante da Carta Federal. A ação foi ajuizada pelo governo 
do Amapá para questionar este e outros pontos da Constituição estadual. 
c) Limitações circunstanciais: a Constituição não poderá ser emendada 
na vigência de Intervenção Federal, Estado de Sítio ou Estado de Defesa. 
As limitações circunstanciaissão aquelas que proíbem a alteração da 
 
 
constituição durante a vigência de situações excepcionais, nas quais a 
livre manifestação do Poder Constituinte possa estar ameaçada. Estas 
circunstâncias são tão graves que podem colocar em risco a livre 
manifestação do Poder Reformador, (§ 1º do art. 60) – intervenção federal 
(art. 34 da CF), estado de defesa (art. 136 da CF) ou estado de sítio (art. 
137 da CF). Prevalece na doutrina que as limitações previstas se aplicam 
ao Poder Revisor. 
d) Limitações temporais: A Constituição não pode ser modificada em 
certo lapso temporal. Não há, para a doutrina majoritária, essa limitação 
no ordenamento jurídico pátrio. 
São aquelas que impedem a alteração (modificação) da constituição 
durante (dentro de um) determinado período de tempo – a CF/88 não tem 
essa previsão, ou seja, não há limitação temporal na CF. Para o poder 
reformador não há limitação temporal na CF/88. Tem apenas para o 
poder revisor, previsto no ADCT no seu art. 3º. 
OBS.: Um pequeno grupo de autores considera que a limitação prevista 
no art. 60, parágrafo quinto da CF seria uma limitação temporal. 
OBS.: Há corrente minoritária (Daniel Sarmento) que sustenta a 
existência de limite temporal na CF/88: a) proibição de proposta de 
emenda anteriormente rejeitada ou prejudicada na mesma sessão 
legislativa (art. 60, § 5); e b) limitação temporal (5 anos) para a revisão 
constitucional (art. 3 do ADCT). 
A doutrina aponta também a existência dos seguintes limites materiais 
implícitos ao poder constituinte derivado reformador: i) impossibilidade 
de modificação da titularidade do poder constituinte originário; ii) 
impossibilidade de modificação dos titulares do poder constituinte 
derivado; iii) impossibilidade de revogação dos limites materiais explícitos 
(art. 60, § 4, da CF); iv) impossibilidade de alteração do processo de 
reforma da Constituição; e v) impossibilidade de revogação dos princípios 
fundamentais da República Federativa do Brasil. 
 
 
A doutrina constitucionalista majoritária entende que há vedação na 
Constituição Federal de 1988 à aplicação da Teoria da Dupla Revisão. 
A referida teoria estabelece que é legítima a vontade do Poder 
Constituinte Originário em impedir a modificação da Constituição em 
alguns pontos, porém, aceita que esses parâmetros protegidos sejam 
modificados pelo Constituinte Derivado, permitindo, a partir daí, a dupla 
revisão da Constituição. Com isso, o instituto da dupla revisão 
autorizaria, por exemplo, que uma emenda constitucional retirasse da 
Constituição as cláusulas pétreas e, sem que não mais existam os limites 
impostos, outras emendas modificariam qualquer princípio-base da 
Constituição. Referida teoria não é acolhida no Brasil, tendo em vista a 
ocorrência de limitações implícitas no texto constitucional, entre elas, a 
relativa ao art. 60, § 4, da CF/88. 
Quanto à possibilidade de estabelecimento de direitos fundamentais por 
Emenda Constitucional, importa destacar que, de acordo com Gilmar 
Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco, é plenamente possível 
que emenda constitucional crie direitos individuais. Porém, a criação, 
para ser redundante, de novos direitos individuais por emenda 
constitucional, através do Poder Constituinte Derivado Reformador, não 
os torna cláusula pétrea, de modo que o novo direito pode ser abolido por 
emenda constitucional futura. Isso porque somente o Poder Constituinte 
Originário pode limitar o Poder Constituinte Reformador. 
e) formais (processuais, procedimentais ou implícitas). Estão ligadas as 
formalidades de alteração da constituição. São elas que estabelecem 
certas formalidades a serem observadas para a modificação da 
constituição. Elas são implícitas porque apesar de não impedirem 
expressamente adoção de outras formalidades, ao estabelecer quais são 
as que devem ser seguidas, implicitamente ela impede a adoção de 
outras. 
Elas se dividem em objetivas e subjetivas. As subjetivas estão 
relacionadas ao sujeito competentes (iniciativa de proposta de emenda) – 
art. 61 da CF, regra geral de iniciativa de leis ordinárias e 
 
 
complementares (deputados, senadores, presidente, STF, tribunais 
superiores, MP, iniciativa popular). 
O Presidente é o único que tem legitimidade que pode propor também 
emenda à CF. A única participação que o Presidente da República pode 
ter no processo de elaboração de emenda é a iniciativa. Ele só pode 
participar na proposta. Ele não sanciona e não veda proposta de emenda. 
OBS: Presidente da República é o único legitimado que pode propor leis 
e emenda à constituição. Ele não veta, não promulga, não publica a 
proposta de emenda. 
As Assembleias Legislativas, se quiserem apresentar proposta de 
Emenda, devem se reunir em, no mínimo, quatorze, devendo obter a 
maioria relativa dos votos dos presentes na sessão (maioria relativa). 
Atenção: a Constituição Federal não traz previsão expressa de iniciativa 
popular para a PEC. Diante disso, há dois posicionamentos na doutrina 
sobre a possibilidade ou não de que uma PEC seja de iniciativa popular: 
1º) Ingo Sarlet e José Afonso da Silva sustentam que é possível, por 
meio de uma interpretação sistemática da CF, haver iniciativa popular de 
emenda. Por analogia, aplicar-se-ia o art. 61, §2º, CF. 
2º) Gilmar Mendes e Marcelo Novelino defendem que, por razões de 
interpretação histórica, a iniciativa popular não é possível, já que o Poder 
Constituinte Originário optou por não acrescentar essa possibilidade ao 
texto constitucional. 
Limitações formais objetivas: o art. 60, §2º da CF prevê que “A proposta 
será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois 
turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos 
votos dos respectivos membros.” 
 b.1) Limitação relativa ao quórum: é necessário ter atenção 
ao quórum (3/5 dos votos = 60% - É possível fazer a relação: art.60 = 
60% dos votos) e para o fato de que são dois turnos de votação em cada 
Casa do Congresso Nacional. Não há previsão para lapso temporal entre 
 
 
esses dois turnos, mas o Regimento Interno do Senado prevê, no mínimo, 
5 dias úteis. 
 b.2) A segunda limitação está no § 3º do art. 60, CF: “a 
emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos 
Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem”. 
Esta promulgação é feita conjuntamente por duas Mesas: a Mesa da 
Câmara dos Deputados e a Mesa do Senado Federal. Não há sanção ou 
veto de proposta de emenda. 
 b.3) A terceira limitação está no § 5º do art. 60, CF: “a 
matéria constante da proposta de emenda rejeitada ou havida por 
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão 
legislativa”. 
Obs.: o STF decidiu uma questão interessante referente ao substitutivo, 
o qual é uma emenda mais ampla que, praticamente, substitui a proposta 
de emenda originária. Imagine, por exemplo, que o Presidente da 
República apresenta uma PEC e, ao chegar na Câmara dos Deputados, 
estes apresentam um substitutivo a esta PEC. Posteriormente, o 
substitutivo é rejeitado. Em relação a essa situação, o STF entende que 
a rejeição do substitutivo não impede que a proposta originária seja 
votada na mesma sessão legislativa. 
OBS.: Atenção: sessão legislativa não se confunde com períodos 
legislativos, os quais são semestrais. A sessão legislativa também não se 
confunde com a legislatura, que é o período de mandato de 4 anos (art. 
44, §único, CF 
7 - PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISOR 
É fruto do trabalho de criação do poder constituinte originário, estando 
a ele vinculado. É um poder condicionado e limitado às regras instituídas 
pelo poder originário. Está previsto no art. 3º do ADCT. Ele vai fazer a 
revisão constitucional. A reforma é via ordinária, via comum da alteração. 
A revisão é via extraordinária de alteração da constituição. Com base no 
artigo 3º da ADCT não se pode maisfazer a revisão tendo em vista que a 
 
 
revisão já ocorreu entre 1993 e 1994. Este artigo é uma norma de eficácia 
exaurida, ou seja, já esgotou seus efeitos. Hoje nós só temos um 
mecanismo legitimo de alteração da constituição, pois a reforma não pode 
mais ser feita com base no artigo 3º da ADCT. 
Art. 3º. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados 
da promulgação da Constituição (limitação temporal), pelo voto da 
maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão 
unicameral (limitação formal da revisão é diferente da limitação da 
reforma, que prevê quórum de 3/5 e 2 turnos). 
Reforma é uma via ordinária de alteração da Constituição (art. 60). 
Reforma não tem limitação temporal. E é mais pontual que a revisão. 
Revisão é a via extraordinária de alteração da Constituição (art. 3º, 
ADCT). Faz uma análise sistemática da constituição para poder alterá-la. 
Essa revisão já ocorreu, esse dispositivo já teve sua eficácia exaurida, por 
isso não pode ser realizada outra revisão, ou seja não pode ser aplicado 
novamente. 
Essa cláusula do ADCT não se refere a limitações materiais e 
circunstanciais, mas, por analogia, o entendimento majoritário é que 
essas limitações são as mesmas da reforma. JAS defende que a revisão 
não tinha limitações materiais e circunstanciais. 
Ressalta-se que, com a competência revisional, foram elaboradas apenas 
seis emendas constitucionais de revisão, não sendo mais possível nova 
manifestação do poder constituinte derivado revisor em razão da eficácia 
exaurida e aplicabilidade esgotada dessa regra. 
✓ Constitucionalismo x democracia: É importante destacar que essa 
limitação material faz surgir um conflito entre o constitucionalismo e a 
democracia. A ideia do Constitucionalismo é limitar o poder para proteger 
direitos fundamentais. Já a democracia é o governo do povo, ou seja, a 
maioria impõe a sua vontade. Ao criar cláusulas pétreas, surge uma 
tensão, pois, há, de um lado a imposição de certas normas para proteger 
 
 
direitos; de outro, há o enfraquecimento da vontade da população 
naquele momento. 
I- Dificuldades: 1ª) de caráter temporal: “Governo dos mortos sobre os 
vivos” (Thomas Jefferson): questiona-se por que a vontade de gerações 
passadas deve prevalecer sobre a vontade da geração atual; 2ª) de caráter 
semântico: existem alguns dispositivos na constituição que são vagos, 
abstratos e imprecisos. Assim, quando os juízes fazem a interpretação de 
preceitos vagos, a vontade deles, em tese, poderia estar prevalecendo em 
relação à vontade do parlamento. Exemplos: individualização da pena e 
princípio da presunção de inocência (houve quatro alterações de 
entendimento do STF ao longo dos anos). 
PODER CONSTITUINTE DIFUSO 
É o poder de fato que atua na etapa da mutação constitucional, meio 
informal de alteração da constituição. Altera o conteúdo, alcance e o 
sentido das normas constitucionais sem a modificação do texto. 
É chamado de difuso porque não vem formalizado (positivado) no texto 
da constituição. É um poder de fato porque nascido do fato social, político 
e econômico. É informal porque se manifesta por meio das mutações 
constitucionais, modificando o sentido das constituições, mas sem 
nenhuma alteração do texto expresso. 
Este poder realiza mudanças relacionadas ao conteúdo e ao alcance das 
normas constitucionais, sem alteração do texto formal, atualizando, 
desse modo, a Constituição sem mudanças na sua estrutura linguística. 
O termo poder constituinte difuso tem sido utilizado pela doutrina para 
caracterizar o poder de fato que serve de fundamento para a atuação da 
mutação constitucional. 
Conforme alerta Bernardo Gonçalves Fernandes, “a doutrina também 
desenvolveu um outro conceito, que é o das ‘mutações inconstitucionais’. 
Essas são modificações informais da Constituição que usurpam 
(deterioram) seu texto deturpando-o”. Conforme definição de Uadi 
Lammêgo Bulos, “mutações inconstitucionais são os processos informais 
 
 
de violação da carta magna. Elas desbordam o próprio controle de 
constitucionalidade. Destroem a vida dos preceptivos constitucionais. Os 
efeitos provocados por essas deformações variam em grau e em 
profundidade e podem contrariar a carta suprema, em maior ou menor 
extensão, sem mudar a letra das suas normas”. 
PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL 
O poder constituinte supranacional é a força que une os interesses dos 
cidadãos de diversos Estados e esses próprios Estados Soberanos na 
busca pela criação de uma Carta Constitucional multi-estatal para 
legitimar a ligação entre esses diversos povos, propiciando maior 
integração. 
Assim, o poder constituinte supranacional baseia-se na ideia de 
cidadania universal, na qual há uma maior relativização do princípio da 
soberania estatal, em que as Constituições se interligam ao direito 
comunitário, tornando os textos constitucionais supranacionais, 
globalizando o direito constitucional e acolhendo em especial, a 
influência do Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
Muitos autores sustentam a ideia de um constitucionalismo localizado 
fora do Estado, ligada a acontecimentos como o fortalecimento da 
proteção internacional dos direitos humanos e a corrosão da soberania 
dos Estados nacionais. 
Sobre o tema, Daniel Sarmento aponta que há exagero em atribuir 
natureza constitucional a determinadas normas não estatais, como a 
Carta da ONU. Porém, o cenário muda quando se trata da UE, pois possui 
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. As normas que lá são 
editadas possuem aplicabilidade imediata aos Estados que a constituem, 
ademais, possui hierarquia superior às normas internas daqueles 
Estados. 
Em que pese essas características, na visão de Daniel Sarmento, a UE 
ainda não possui uma constituição formal, e não se pode, ainda, falar em 
povo europeu. Esse constitucionalismo europeu não decorreu de nada 
 
 
que possa ser equiparado ao exercício do poder constituinte. Um aspecto 
importante dessa ótica prescritiva é o fato de não ter havido participação 
popular; sob o viés descritivo, não há impedimento enxergar essa 
constitucionalização comunitária. Há, portanto, segundo o aludido 
doutrinador, um processo de constitucionalização do Direito Comunitário 
Europeu. Todavia, não se pode, até o momento, falar na existência de um 
verdadeiro Poder Constituinte Europeu, sobretudo no sentido 
democrático. 
BOOTSTRAPPING 
Para conceituar Bootstrapping, Canotilho baseia-se em John Elster. 
Veja-se o seguinte trecho: 
“Bootstrapping é, em rigor, o processo pelo 
qual uma assembleia constituinte liberta os 
atadores que as autoridades lhe haviam 
posto, arrogando-se a todos ou a algum dos 
poderes destas mesmas autoridades. Esta 
‘libertação de amarras’ tem, porém, os seus 
limites. Significa isso que as normas 
constitucionais devem revelar-se aptas a 
conseguir uma articulação das preferências 
e interesses públicos dos ‘produtores’ de 
normas (o povo, os deputados constituintes, 
os eleitores) e as preferências e interesses 
dos destinatários (consumidores) dessas 
normas. As normas constitucionais que não 
podem fugir a esta medida de aptidão 
(fitness): grau de adequação do espaço 
normativo constitucional à constante 
redefinição interativa entre interesses 
públicos e privados”. 
 
 
O autor refere-se ao fenômeno como uma reação interna ao processo 
constituinte, deflagrada pela assembleia quando esta rejeita a submissão 
ao seu ato de criação e busca legitimar o seu resultado diretamente 
perante o povo ou convenções especiais. Ele cita o exemplo das 
constituições republicanas dos Estados Unidos e da França, justamente 
as pioneiras no estado democrático moderno.

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