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Edilson Souza

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Introdução

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Irineu Letenski
Soter Schiller
PRESS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução

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Dr. Germano Rigacci Júnior
Editor-chefe
Dr. Irineu Letenski
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Revisão
Me. Teresinha Teixeira Colleone
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Introdução

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Irineu Letenski
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APRESENTAÇÃO 
 
 Este livro foi escrito objetivando oferecer uma introdução geral ao 
estudo da filosofia. O livro está dividido em cinco unidades, sendo que cada 
uma delas contempla um conjunto de temáticas e conceitos fundamentais, 
para que você possa iniciar a sua jornada filosófica de maneira autônoma e 
crítica. 
A primeira unidade da obra tem como título, Filosofia: construindo 
sua noção. Como o próprio título já indica, almejamos que o estudante, a 
partir dos conteúdos abordados, desenvolva sua própria noção de filosofia 
construindo os seus próprios caminhos. Para tal intento você terá a 
oportunidade de entrar em contato com os conceitos e as características 
fundamentais do ato de filosofar. Assim, trata-se de tomar consciência das 
questões humanas mais fundamentais, fazendo a distinção entre a filosofia 
da experiência vital (ou do senso comum) e filosofia por ofício. Tudo isso 
para que você possa buscar novos horizontes no seu modo de pensar. Nesta 
unidade você também estudará sobre a importância do estudo da filosofia no 
contexto dos estudos eclesiásticos. 
Filosofia e a sua origem histórica é o título da Unidade 2. Nesta 
unidade você terá a oportunidade de refletir sobre alguns motivos que 
propiciaram a origem da filosofia na Grécia Antiga e também algumas 
características da sociedade grega. Ora, o ser humano como ser racional além 
de produzir a filosofia, também reflete sobre a religiosidade, as ciências e 
dimensão artística, os chamados grandes ramos da cultura humana. Todas 
essas temáticas estão presentes nesta parte do livro. 
A partir da Unidade 3, intitulada, Filosofia e a sua problemática, você 
encontrará no livro uma divisão geral dos grandes assuntos da filosofia, o 
conhecimento, o ser e a ação. Tais assuntos abordados nas suas diversas 
perspectivas constituem-se nas disciplinas que fazem parte de um curso de 
filosofia. Deste modo, nesta unidade você já tomará conhecimento das 
questões fundamentais que são estudadas na lógica, na teoria do 
conhecimento, na filosofia da ciência, na filosofia da linguagem, na 
metafísica e na teodiceia. Trata-se de uma tomada de consciência do objeto 
de estudo, do conteúdo e dos elementos fundamentais tratados nestas grandes 
temáticas filosóficas. 
 
Dando continuidade aos aprofundamentos das tradicionais disciplinas 
de um curso de filosofia, na Unidade 4 será o momento de você entrar em 
contato com as questões fundamentais da antropologia filosófica, da 
cosmologia, da ética, da estética e da filosofia política. Assim, a partir dos 
conteúdos abordados nestas áreas do saber, você estará se familiarizando 
cada vez com a filosofia, desenvolvendo a sua consciência crítica na grande 
jornada filosófica guiada pela questão: afinal, o que é o homem? 
Finalizando o livro, a Unidade 5 é a parte na qual você estudará sobre 
a religião na história do pensamento. Nesta unidade você ainda encontrará 
um quadro cronológico da história da filosofia, as suas grandes divisões e 
alguns filósofos que compõem as chamadas idades: antiga, medieval, 
moderna e contemporânea. Ora, para estudar a filosofia é indispensável 
conhecer a história da filosofia, isto é, conhecer o desenvolvimento do 
pensamento humano no espaço e no tempo. Vamos trilhar juntos este 
caminho na busca de novos sentidos e significados para a sua vida? 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Filosofia: construindo sua noção ............................................................. 13 
1.1 Filosofia: conceitos fundamentais ........................................................ 13 
1.1.1 Filosofia: abertura de horizontes ................................................... 18 
1.2 Filosofia: elaboração da consciência crítica ......................................... 19 
1.2.1 Filosofia: fundamentação da prática humana .............................. 20 
1.2.2 Filosofia: integração e fundamentação da cultura humana ........ 21 
1.2.3 Filosofia no contexto dos estudos eclesiásticos .............................. 23 
1.3 Filosofia: busca pela sabedoria ............................................................. 25 
1.3.1 A sabedoria nas antigas culturas orientais .................................... 25 
1.3.2 A sabedoria grega ............................................................................ 26 
1.4 Filosofia: características fundamentais................................................. 27 
1.5 A filosofia como ciência ....................................................................... 30 
1.5.1 A filosofia é uma ciência dos fundamentos.................................... 32 
1.5.2 A filosofia é uma ciência da universalidade .................................. 34 
 
Filosofia e a sua origem histórica ............................................................ 39 
2.1 A filosofia nasceu na grécia ................................................................. 39 
2.1.1 Por que a filosofia nasceu na Grécia? ............................................ 41 
2.1.2 Origem da filosofia a partir do mito .............................................. 42 
2.1.3 Os alvores da filosofia ..................................................................... 44 
2.2 Filosofia e a cultura humana................................................................. 47 
2.2.1 Filosofia e ciências ........................................................................... 49 
2.2.2 Filosofia e ciências na história ........................................................ 49 
2.3 O conhecimento científico .................................................................... 54 
2.3.1 O método experimental ................................................................... 56 
2.3.2 Ciência e filosofia: distinção ........................................................... 57 
2.3.3 Ciência e filosofia: relação .............................................................. 61 
 
2.4 Filosofia e religião ................................................................................ 65 
2.4.1 O fenômeno religioso ....................................................................... 65 
2.4.2 Filosofia e religião: distinção .......................................................... 67 
2.4.3 Filosofia e religião: relação ............................................................. 68 
2.4.3.1 Filosofia e religião: relação de conflito .......................................... 69 
2.4.3.2 A razão nega a fé ............................................................................ 69 
2.4.3.3 A redução da religião pela razão .................................................... 69 
2.4.3.4 A fé nega a razão ............................................................................É nas narrativas de deuses e heróis que o homem antigo expressava 
a sua compreensão das coisas, e dentro deles encontramos sempre um 
determinado núcleo, que podemos considerar como o “embrião” da filosofia. 
Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de 
significação, através dos tempos. Todos nós precisamos contar nossa 
história, compreender nossa história. Todos nós precisamos 
compreender a morte e enfrentar a morte, e todos nós precisamos de 
ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. 
Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, 
compreender o misterioso, descobrir o que somos.31 
O mito distingue-se justamente de outras narrativas, que não contêm 
esse núcleo explicativo, como a fábula e a lenda. A fábula é uma narrativa 
que pretende oferecer um ensinamento moral; a lenda é geralmente 
despretensiosa. Os mitos classificam-se em mitos teogônicos (origem dos 
princípios da realidade: deuses), mitos cosmogônicos (origem das coisas) e 
mitos antropológicos (refletem a condição humana). 
Na tentativa de explicar o natural, o terreno, a própria tragédia da vida 
humana com seus conflitos, surge a mitologia como aquela que entre 
ídolos, heróis, deuses e semideuses reflete em mitos e alegorias o 
próprio trágico da vida humana. Seus personagens desempenham 
papéis que no pano de fundo nada mais são do que as intrincadas 
emoções humanas, o conflito entre a autodeterminação, a 
possibilidade de escolha e a idéia de um destino que previamente tudo 
marcou, tudo decidiu. A fatalidade, o trágico da mitologia nada mais 
são do que o código encontrado pelo grego para expressar a nossa 
própria condição de ser humano. O sobrenatural é apenas o reflexo do 
 
30 JAEGER, Werner. A formação do homem grego. São Paulo: WMF Martins 
Fontes, 2013, p. 76. 
31 CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 2020, p. 16. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
44 
natural. Os deuses, semideuses e heróis do Olimpo representam a 
força e ao mesmo tempo a impotência do homem na terra, quando, 
apesar de livres para decidir, são enredados pelo destino, se 
transformam em objetos da fatalidade. 
Do pensamento mítico (mitológico) para o filosófico foi para o grego 
um passo relativamente pequeno. A mola propulsora é a mesma: 
perguntar, tentar entender, explicar o grande mistério que é o universo, 
o cosmos (macro e micro). Apenas a resposta que mudou de plano: 
saiu do Olimpo e veio para a terra. A mitologia também foi uma 
tentativa de explicação do universo, também demonstra ‘atitude de 
espanto do homem’, só que ainda carece de espírito filosófico, pois 
desloca o homem de seu próprio eixo no momento em que busca 
respostas fora do espaço humano. Mas, foi um início, que tendo 
continuidade deflagrou no aparecimento da filosofia enquanto tal.32 
Na civilização helênica ocorre a grande mudança cultural: a passagem 
do mito à razão. Na medida que os mitos foram se tornando reflexivos, em 
que o homem ia gradualmente substituindo a mitologia pela filosofia, das 
roupagens imaginativas do mito iam surgindo os elementos de cunho 
filosófico. É verdade que, nos inícios, nas próprias origens da filosofia grega, 
as reflexões sobre o universo cósmico se confundem ainda com a linguagem 
mítica, mas, aos poucos, a reflexão continuada atinge o amadurecimento, 
fazendo surgir a filosofia.33 Além da filosofia, também a ciência, pois na 
cultura grega ambos os elementos são indistintos e caminham juntos. 
 
2.1.3 Os alvores da filosofia 
 
Vejamos como foi o desenvolvimento da filosofia e o surgimento dos 
primeiros filósofos. 
 
32 SCHIRATO, Maria Aparecida. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Editora Moraes, 
1987, p. 54-55 
33 Para o aprofundamento da questão sobre a continuidade ou ruptura da filosofia 
com o mito veja: ARANHA, Maria Luisa de Arruda; MARTINS, Maria Helena 
Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 84 (Mito e 
filosofia: continuidade e ruptura). Leia também: ALMEIDA, Rogério Miranda de. 
Eros e tânatos: a vida, a morte e o desejo. São Paulo: Loyola, 2007, especialmente 
o tópico Ciência, mito e religião, p. 49-55. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
45 
A partir do século VI a.C., os principais centros da cultura helênica 
eram, além da própria Grécia, as ilhas do mar Egeu, a Ásia Menor, a 
Sicília e a Itália Meridional. É nesta época que se inicia o pensamento 
filosófico propriamente dito, e quando surgem os primeiros filósofos 
que procurarão apresentar sistemas coerentes e completos para a 
explicação do universo. É quando o mito deixa de ser importante.34 
 
A história da filosofia grega é geralmente dividida, tomando-se a 
figura de Sócrates como ponto de referência, em três períodos, ou 
épocas. O primeiro, pré-socrático, também chamado cosmológico, é o 
período de formação. O segundo, socrático ou antropológico, que 
coincide com o apogeu do poderio econômico e militar de Atenas, é o 
período da maturidade e do esplendor. O terceiro, finalmente, que 
corresponde à decadência da pólis, e à desintegração do império 
macedônico, é o de declínio, ao longo do qual o pensamento grego é 
incorporado à cultura romana e à apologética cristã.35 
A primeira reflexão filosófica volta-se à natureza material, o 
“cosmos”: é uma “filosofia da natureza”. A preocupação dos primeiros 
filósofos, ditos “pré-socráticos”, era encontrar a substância ou o elemento 
básico que explicasse a composição de todas as coisas materiais. O chamado 
período pré-socrático ou cosmológico, compreende o século VI ao final do 
século V a.C., quando a filosofia se ocupa, sobretudo, com a origem do 
mundo e das causas das transformações da natureza. 
Nas primeiras páginas de Metafísica, resumindo as doutrinas dos 
pensadores gregos que o precederam, Aristóteles afirma que Tales e 
os seus discípulos de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes, foram os 
primeiros filósofos, porque enfrentaram racionalmente – e, portanto, 
sem recorrer a uma explicação mítica – o problema primordial (arché, 
em grego), do qual tudo deriva. É evidente que tal progresso da 
espiritualidade humana não deve ter ocorrido de uma única vez.36 
O ponto de partida da reflexão era a observação da pluralidade e da 
unidade no cosmos. Existe a enorme multiplicidade dos seres e objetos: não 
haveria algo que unisse esses seres entre si, que fizesse a unidade do mundo? 
 
34 NETO, H. Nielsen. Filosofia Básica. São Paulo: Atual, 1986, p. 102. 
35 CORBISIER, R. Introdução à Filosofia. Tomo II, Parte 1. São Paulo: Civilização 
Brasileira, 1983, p. 43. 
36 UBALDO, Nicola. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. 
São Paulo: Globo, 2005, p. 13. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
46 
Isso porque as coisas se transformam, uma coisa se transforma em outra, às 
vezes a morte de um ser coincide com o nascimento de outro. Não haveria, 
então, um “estofo”, uma matéria elementar, da qual todas as coisas, sem 
exceção, fossem formadas? 
As respostas sobem do mais material (Tales - água; Anaxímenes - ar; 
Heráclito - fogo) ao menos material (ápeiron - indeterminado de 
Anaximandro; o átomo de Demócrito; o número de Pitágoras). São respostas 
ainda marcadas pela ingenuidade, mas estamos já diante de um modo de 
pensar abstrato, racional, bem diferente do pensar concreto do modelo 
mítico. 
Neste sentido, segundo Aristóteles: 
Os que por primeiro filosofaram, em sua maioria, pensaram que os 
princípios de todas as coisas fossem exclusivamente materiais. De 
fato, eles afirmaram que aquilo de que todos os seres são constituídos 
e aquilo de que originalmente derivam e aquilo em que por último se 
dissolvem é elemento e princípio dos seres, na medida em que é uma 
realidade que permanece idêntica mesmo na mudança de suas 
afecções. Por esta razão eles crêem que nada se gera e nada se destrua, 
já que tal realidade sempre se conserva.37 
Essa filosofia, de teor cosmológico, se torna metafísica purana 
discussão entre Heráclito e Parmênides: para o primeiro, o ser e o nada se 
identificam, existe apenas a mudança pura (panta rei), sem nada que 
permaneça como ser; para o segundo, o que existe é o ser imóvel e idêntico 
a si, e a mudança é apenas aparente. 
No período imediatamente anterior ao clássico, o pensamento 
filosófico se volta mais ao problema ético, com os sofistas e Sócrates, para 
quem o verdadeiro filosofar é a procura do reto viver (“sábio” = bom). 
No s. IV a.C. a filosofia conquista as grandes cidades e se torna o 
elemento mais importante da civilização grega. É o seu apogeu, com Platão 
e Aristóteles, quando ela se torna realmente universal, a “ciência do todo”: a 
filosofia abrange e inclui em si a reflexão sobre todos os setores da realidade 
e se torna, por assim dizer, “completa”. 
Platão e Aristóteles forneceram as grandes linhas de pensamento para 
toda a Idade Média e, a própria Filosofia Moderna, apesar de criar 
metodologia própria, faz sempre reviver os grandes gênios da Antiguidade. 
 
37 ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002, A 983b. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
47 
Já no século IV, antes de Cristo, a filosofia grega, com Platão e 
Aristóteles, elabora as formas superiores da racionalidade, matrizes de 
todo o pensamento posterior. A partir dos gregos, a filosofia ocidental 
é um processo progressivo, que se prolonga, através de Roma e do 
Cristianismo, até o mundo moderno e contemporâneo. Heráclito, por 
exemplo, não é um pensador perdido no passado remoto, cujos 
aforismas teriam um interesse puramente histórico ou arqueológico. 
Na condição de precursor da dialética, está presente na filosofia 
moderna, e Hegel nos diz que não há um só de seus aforismas que ele 
não tenha recuperado na “Ciência da Lógica”. E, assim como está 
presente em toda a obra de Hegel, assim também está presente na obra 
de Marx, que nos diz não ter feito outra coisa senão prosseguir numa 
tarefa começada por Heráclito e Aristóteles.38 
O autor está coberto de razão: estudamos Platão, Aristóteles e outros, 
não por interesse meramente histórico ou arqueológico, mas por que eles 
estão na base de todo o progresso do pensamento posterior e constituem as 
raízes da cultura atual. 
 
• Indicação de leitura: 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 79-86 (Do 
mito à razão: o nascimento da filosofia). 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006 (p. 25-45; 
cap. 1-3). 
 
2.2 FILOSOFIA E A CULTURA HUMANA 
 
Ninguém coloca em dúvida que o homem é um ser muito complexo e 
radicalmente diferente de todos os outros seres no mundo, mesmo em relação 
aos mais superiores dos animais.39 
 
38 CORBISIER, R. Introdução à Filosofia. Tomo II, Parte 1. São Paulo: Civilização 
Brasileira, 1983, p. 34. 
39 Para aprofundar essa questão, veja o texto do Prof. Admardo Serafim de Oliveira 
- Como o homem difere do resto da natureza: OLIVEIRA, Admardo Serafim de et 
al. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo, Loyola, 2005, p. 124-127. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
48 
Diferentemente dos animais, o homem não se encontra em situação de 
passividade e identidade na natureza. Pelo contrário, o homem se caracteriza 
por uma intensa e diversificada atividade. Ele age sobre o mundo em que 
vive, transforma o seu meio, cria objetos, relacionamentos, instituições: 
agricultura, medicina, leis, esportes, organizações sociais, políticas, escola, 
igreja, literatura, cinema, etc. Nada, nem um pouquinho parecido, existe no 
mundo animal. Parece que não existe nenhum limite para a ação humana: o 
homem está em contínuo desenvolvimento de si mesmo, dentro do tempo: a 
história (os animais não têm história, estão em permanente identidade 
consigo mesmos). 
Neste sentido, na perspectiva de Laraia: 
[...] A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas 
próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força 
física dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos 
predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas 
próprias, conquistou os mares. Tudo isso porque difere dos outros 
animais por ser o único que possui cultura.40 
Ninguém discorda que esta capacidade de ação, transformação, 
autodesenvolvimento, fundamenta-se numa capacidade intrínseca humana: a 
faculdade de conhecimento, também está radicalmente diferente dos animais 
(linguagem, ciência). O homem tem uma capacidade extraordinária de ação 
e criação, porque tem uma faculdade extraordinária para conhecer, saber. 
Esta faculdade, os gregos chamavam de “intelecto” (nous, logos), os 
medievais de “alma”, os modernos de “razão”. 
Pelo seu espírito, enfim, o homem tem a faculdade de intervir no 
mundo em que vive e criar um mundo próprio, que se interliga com o mundo 
natural. É o mundo da cultura. O homem é um ser de cultura. 
Que é cultura? É bastante discutido o conceito de “cultura” (existe a 
“Antropologia Cultural, a Filosofia da Cultura). 
De uma forma geral, podemos dizer que: 
Cultura é a produção do espírito humano em qualquer dimensão 
(intelectual, emocional, prático). 
 
40 LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 1986, p. 21 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
49 
A cultura é ampla: ciência, medicina, artes, esportes, escola, igreja, 
biblioteca, etc. 
Mas podemos identificar os seguintes ramos da cultura humana: 
 
— CIÊNCIA 
— ARTE 
— RELIGIÃO 
— FILOSOFIA 
 
A filosofia é, portanto, um dos ramos, entre outros, ou dimensões da 
cultura humana. 
O objetivo dos próximos tópicos é analisar a filosofia em relação às 
outras manifestações culturais humanas: ciência, religião e arte. 
 
2.2.1 Filosofia e ciências 
 
Como a filosofia se distingue das ciências e que relação existe entre 
elas — é a questão que deve ser analisada neste ponto. Tendo em mente que 
a filosofia também se apresenta como “ciência”, então se trata de verificar 
que tipo de ciência é a filosofia em relação às ciências no sentido comum, 
isto é, ciências experimentais ou ciências “positivas” (É mais difícil 
distinguir a filosofia da ciência do que da religião ou arte, porque ambas são 
obras da razão). 
 
2.2.2 Filosofia e ciências na história 
 
As ciências, no sentido próprio, vieram a surgir só na Era Moderna, 
isto é, a partir do s. XVI, como decorrência principalmente da elaboração do 
método experimental (Bacon, Newton). 
Na Antiguidade houve pesquisas científicas ou elementos de ciências, 
mas eles surgiam esporadicamente, mais como resultado da ação prática do 
homem sobre a natureza. Aliás, a ação prática do homem sobre a natureza é 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
50 
o aspecto mais fundamental e universal da vida do homem no mundo. O 
homem é desafiado pela natureza e esse desafio converte-se no próprio motor 
do desenvolvimento intelectual humano, como com razão enfatiza Marx. 
Assim a ação humana em resposta aos desafios da natureza constitui a 
continuidade do processo civilizatório, feito de descobertas, “técnicas”, 
elementos científicos (a descoberta dos metais, invenção da roda, a arte da 
navegação, a medicina, etc.). 
Se a partir do século XVI ocorre a explosão das ciências, este fato é 
apenas a aceleração de um processo que é essencialmente humano. A 
aceleração desse processo, com o surto das ciências, como sabemos, ocorreu 
devido à formulação e o aperfeiçoamento dos procedimentos científicos 
(método) e à sistematização dos resultados obtidos. 
Para situarmos melhor a relação filosofia e ciências dentro do contexto 
histórico, voltemos aos gregos. Qual era o “espírito” da cultura grega? 
Platão afirmava que há dois tipos de conhecimento: a “doxa” (opinião) 
e a “episteme” (ciência, verdade). O primeiro é o conhecimento pelos 
sentidos, um conhecimento impreciso, particular, enganador, que não nos 
fornece certezae verdade. O segundo, a “episteme”, é o conhecimento pela 
razão. A razão nos fornece certezas inabaláveis, verdades eternas. No fundo 
do pensamento de Platão está a sua distinção entre o mundo sensível e o 
mundo espiritual (“Mundo das Ideias”). 
Platão representa todo o espírito da cultura grega: era uma cultura 
voltada não ao sensível, mas ao racional-espiritual. Mesmo quando 
afirmamos que a preocupação dos primeiros filósofos gregos era o “cosmos”, 
a “physis”, essa preocupação era no sentido de compreender o “lógos”, a 
“razão” das coisas, do mundo, aquilo que estava além da aparência 
sensível.41 
 
41 Para o aprofundamento da questão sobre o conhecimento em Platão veja: 1. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS. Maria Helena Pires. Filosofando: 
introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 121-123; 2. REALE, Giovani; 
ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga. Vol. 1. São Paulo: 
Paulus, 2003, p. 163-164; 3. UBALDO, Nicola. Antologia ilustrada de filosofia: das 
origens à idade moderna. São Paulo: Globo, 2005, p. 63-72. Obs. Embora a maioria 
dos livros tragam a expressão “mito da caverna”, a designação melhor desta 
passagem de Platão é “alegoria da caverna”. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
51 
A cultura grega era intelectualista: o homem voltado ao cultivo do 
espírito, ao desenvolvimento espiritual. Era indigno ao homem a 
preocupação com o sensível (desvalorização do trabalho manual). 
O mesmo espírito manifesta-se também nas preocupações estéticas, 
onde a aparente preocupação pelo sensível (o cultivo do corpo, ginástica) 
estava em função do equilíbrio espiritual (“mens sana in corpore sano”). 
Em seu caráter de cultura intelectualista, a cultura grega estava voltada 
primordialmente à filosofia e às artes, que representavam o exercício do 
espírito. Era, pois, uma cultura basicamente desfavorável à pesquisa sobre o 
sensível, ao experimental (apesar de Arquimedes, Ptolomeu, Hipócrates e o 
próprio Aristóteles). 
Essa preocupação, fundamentalmente dirigida ao “espiritual”, perdura 
na Idade Média, quando a filosofia se soma à teologia. A Idade Média cristã 
assume a cultura grega e lhe soma um outro elemento, que passa a ser 
fundamental, a fé cristã. 
Com o início da Era Moderna (século XVI), o contexto cultural muda 
e com ele o próprio espírito da época: ocorre aí a volta à natureza, a 
preocupação pelo sensível, a valorização da experiência. 
Curiosamente, essa mudança cultural acontece como sendo uma volta 
aos gregos, à cultura grega (Humanismo, Renascimento), à racionalidade 
grega, mas num sentido diferente. É uma volta à cultura pré-platônica, aos 
filósofos da “physis” — à racionalidade aplicada à natureza. Ocorre então 
uma reação ao espírito medieval teocêntrico que se traduz numa paixão pelo 
natural, que se reflete até nas artes (arte renascentista). 
Circunstâncias que ajudam a explicar o momento: as descobertas 
geográficas (América; há no mundo mais segredos do que se poderia 
imaginar) e a ascensão da burguesia (o surgimento da cultura leiga 
autônoma). 
Ocorre, então aqui, a partir do início da Idade Moderna, dentro de 
circunstâncias favoráveis, o desenvolvimento do método científico (Francis 
Bacon, Isaac Newton) e o consequente desenvolvimento cada vez mais 
acelerado e extraordinário das ciências experimentais. 
Dentro desse interesse pela natureza – “physis”, a primeira ciência a 
afirmar-se é a física. Ela provém da antiga “Física” clássica, filosófica (da 
qual conserva o nome), mas muda o seu estatuto, as suas bases. Passa a ser 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
52 
uma pesquisa e um saber experimental sobre a natureza (em vez do caráter 
reflexivo-fundamentador da antiga “física”). 
O estatuto da nova física fundamenta-se sobre duas cláusulas: a) 
matemática; b) experiência sensível. 
a) A ciência moderna escolhe a matemática como sua linguagem, a 
linguagem de suas representações, seus conceitos. Diz Galileu na obra O 
Ensaiador: 
A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente 
se abre perante nossos olhos (isto é o universo) que não se pode 
compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com 
os quais está escrito. Ele está escrito em linguagem matemática, os 
caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, 
sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem 
eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.42 
Em consequência disso, as representações científicas passam a ser 
consideradas como devendo ser predominantemente quantitativas. Ou seja, 
tudo devia ser expresso em termo de quantidades, relações numéricas 
(medida, peso, volume) e não qualidades. Por expressar aspectos 
quantitativos, a linguagem matemática é uma linguagem de precisão. 
b) O recurso e critério de verdade, de certeza objetiva, passa a ser a 
experiência sensível ou experiência corpórea. 
Foi preciso fazer uma seleção entre as representações possíveis do 
mundo, para considerar apenas as representações matematizáveis. 
Surge então a Matemática como a linguagem das representações 
científicas, como a forma de linguagem conceitual mais plenamente 
analítica. Neste sentido, a linguagem matemática é oposta à linguagem 
poética, onde cada expressão possui ao mesmo tempo múltiplos 
sentidos. A linguagem matemática, como sabemos, é a linguagem das 
relações quantificáveis entre grandezas, e cada uma de suas 
expressões possui um, e apenas um sentido. Para traduzir o mundo em 
linguagem matemática, o meio mais adequado é através de medidas. 
E só se pode medir aqueles aspectos da realidade que são 
quantificáveis, como, por exemplo, comprimento, largura, peso, etc. 
Aqueles outros aspectos, chamados de qualitativos, como cores, 
cheiros, gosto, sensações em geral, por pertencerem à esfera privada 
 
42 GALILEU GALILEI. O Ensaiador. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (Coleção Os 
pensadores), p. 119. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
53 
de cada indivíduo, muito dificilmente podem ser atribuídos 
univocamente à realidade do mundo exterior. Os aspectos 
quantitativos, ao contrário, podem ser medidos, isto é, comparados 
com um padrão publicamente convencionado, por exemplo, um 
metro, um quilograma, etc. Nesse caso, torna-se necessária uma 
experiência corpórea com os objetos, para poder medi-los, 
descrevendo-os matematicamente”.43 
Os pioneiros da Física Moderna, nos ss. XVI-XVII, foram: Copérnico, 
Galileu, Kepler, na área da Astronomia e Isaac Newton na área da Física 
Mecânica. 
No século XVIII desenvolveu-se a Física dos elementos, denominada 
Química (em contraposição à “Física dos corpos”). Boyle e Lavoisier foram 
seus principais propulsores. 
Na passagem do século XVIII ao século XIX afirmam-se as ciências 
biológicas (Bichat, Gall, Lineu, C. Bernard, Darwin). 
Como se situa a filosofia neste contexto da Idade Moderna? Em seus 
delineamentos mais fundamentais, a filosofia moderna acompanha e 
aprofunda uma temática que foi inspirada pela realidade das ciências: a 
afirmação da razão humana. Toda a filosofia moderna centra-se na análise 
dos poderes da razão humana, fazendo-o sob diversas perspectivas 
(Racionalismo, Empirismo, Iluminismo, Kant, Idealismo). 
No século XIX aparece no cenário um novo ramo de ciência: as 
chamadas “ciências humanas” (Psicologia, Sociologia, Pedagogia, etc.). São 
ciências que têm por objeto algum aspecto determinado da realidade humana. 
Nesta altura, parecia que a filosofia tinha se esvaziado por completo; 
parecia que seu campo fora totalmente tomado pelas ciências particulares. 
Antes pensava-se que o mundo físico pertencia às ciências, mas o mundo 
humano seria privativo da filosofia. Acreditava-se que a esfera da 
consciência pertencia ao domínio da filosofia, até que veio a Psicologia 
(Freud e outros) que invadiu o mundo da consciência (e até do inconsciente). 
No entanto, este esgotamento da filosofia é apenas ilusório. Naverdade, o domínio próprio da filosofia não foi e não pode ser tomado pelas 
ciências, mesmo as humanas. Porque todas as ciências, de qualquer caráter 
que sejam, estabelecem o seu campo exclusivo de pesquisa, no domínio do 
 
43 CUNHA, José Auri. Filosofia: iniciação à investigação filosófica. São Paulo: 
Atual, 1992, p. 90. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
54 
experimental, do fenomênico. Porém, existe muito o que questionar sobre a 
realidade, além da pesquisa sobre o experimentável. Vale recordar o dito de 
Wittgenstein: “mesmo se todos os problemas científicos estivessem 
solucionados, as questões verdadeiramente humanas não seriam sequer 
tocadas”.44 
No entanto, é verdade que a filosofia contemporânea percebeu a 
necessidade de repensar a sua tarefa própria e ela se encontra, no século XX, 
numa situação de intensa interação com as ciências humanas. Ou: a filosofia 
contemporânea leva a marca das ciências humanas. 
 
2.3 O CONHECIMENTO CIENTÍFICO 
 
 Todo o homem no mundo é obrigado, para viver e sobreviver, a agir 
sobre o meio em que vive (trabalho). Essa ação não é uma ação puramente 
mecânica, mas dirigida e orientada pelo pensamento (conhecimento). A ação 
pressupõe então o conhecimento. 
O modo de conhecer e agir sobre o meio de forma espontânea e 
irreflexa chamamos de “senso comum” ou conhecimento pré-científico. 
O “senso comum” é justamente o conjunto de conhecimentos 
espontâneos, surgidos pela interação com o meio, adquiridos pela 
experiência de vida. São conhecimentos colhidos sem a preocupação de 
comprová-los, de forma ametódica e assistemática. Eles são muitas vezes 
subjetivos, fragmentados, às vezes certos, às vezes errados. 
Quando um conhecimento se torna mais cuidadoso, mais reflexivo — 
ele se torna científico. A ciência seria, então, o aperfeiçoamento do 
conhecimento comum. Acrescentar uma dose maior de inteligência no lugar 
da fantasia. Maior cuidado na observação, ceticismo diante das aparências, 
maior criatividade na procura das explicações: eis alguns procedimentos que 
transformaram o conhecimento comum em conhecimento científico. 
Existe uma discussão no meio acadêmico se o conhecimento científico 
seria de natureza diferente do conhecimento comum (“senso comum”). É 
mais razoável a opinião contrária. O conhecimento científico não é de 
 
44 WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo: Editora da 
Universidade de São Paulo, 1994, 6.52. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
55 
natureza diferente, em relação ao comum. Não há dois gêneros de 
conhecimento humano: um dos cientistas, outro do homem comum (embora 
existam diferentes níveis de conhecimento). Todo homem conhece, 
formalmente, de maneira igual. Um homem comum pode tomar os mesmos 
procedimentos da ciência (embora de forma simplificada): observação, 
formulação de hipótese, verificação, etc. 
O conhecimento científico difere, então, do conhecimento comum no 
aspecto de aperfeiçoamento e complexidade, mas não é de outro gênero. 
A perfeição e a complexidade do conhecimento científico estão na 
questão do método. O desenvolvimento científico verificado a partir da Idade 
Moderna foi condicionado pelo desenvolvimento do método científico ou 
método experimental. 
Do ponto de vista lógico, a ciência pode ser assim definida: 
A ciência é um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos 
e sistematicamente organizados. 
Duas notas distintivas caracterizam, portanto, a ciência: o método e o 
sistema. 
• Método. Segundo a sua etimologia (grego “metá” = com; “hodos” 
= caminho), método significa “seguir um caminho” (para outros, significaria 
“seguir um caminho mais curto”, um “atalho”). Método existe quando o 
conhecimento segue uma marcha racional visando a atingir um determinado 
fim. Em outras palavras, isso significa que na investigação científica os 
conhecimentos não são recolhidos ao acaso, mas desenrolam-se segundo um 
plano consequente. Enfim, método é a soma de determinados procedimentos 
graduais, procurando um determinado resultado. 
• Sistema: é a ordenação dos conhecimentos num todo integrado. Os 
conhecimentos adquiridos são reunidos em torno de verdades centrais que 
chamamos “princípios”. O trabalho científico só se completa pela síntese, 
pela reunião de conhecimentos num todo unitário. Diz Poincaré: “fazemos a 
ciência com fatos, assim como fazemos uma casa com pedras; mas a 
acumulação de fatos não é ciência, assim como um monte de pedras não é 
uma casa”.45 
Por esse motivo, não podemos isolar as coisas na ciência: por 
exemplo, para aprender uma coisa, precisamos aprender outras coisas, com 
 
45 POINCARÉ, Henry. A ciência e a hipótese. Brasília: Editora UNB, 1984, p. 115. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
56 
as quais ela está relacionada. Aprender uma ciência exige anos de estudo, 
justamente para poder abarcar todo o sistema, o conjunto de conhecimentos 
correlacionados entre si. 
 
2.3.1 O método experimental 
 
O método científico é uma técnica ou modo de proceder pelo qual o 
cientista adquire, de maneira segura, certos tipos de conhecimento. É 
uma sucessão de passos ou operações que vão desde a formulação de 
um problema (hipótese) até a incorporação, no patrimônio científico, 
do novo conhecimento. Estes passos ou operações podem ser 
escalonados da seguinte maneira: 
1. Observação rigorosa. 
2. Hipótese ou formulação do problema. 
3. Tentativa de obtenção de um modelo. 
4. Planejamento da verificação. 
5. Submissão do modelo ou da hipótese a testes críticos - 
experimentação. 
6. Comprovação dos resultados obtidos. 
7. Comunicação dos resultados obtidos (dá-se a passagem da atividade 
para uma linguagem.46 
 
Essa “comunicação dos resultados obtidos” se dá, geralmente, sob a 
forma de leis, teorias ou hipóteses. A diferença entre as três está apenas na 
graduação de intensidade de asserção. A lei representa uma asserção quase 
absoluta: uma demonstração da relação necessária entre fenômenos e é 
reconhecida por todos (por exemplo, a lei da gravidade, da queda dos corpos, 
da expansão dos gases, as leis de Mendel). Dissemos “quase absoluta”, por 
que para a ciência nada há de absoluto: tudo, a princípio, é modificável e 
reformável. 
A teoria diferencia-se da lei por ser menos absoluta: é uma lei “por 
enquanto” (teoria de Darwin, teoria da Relatividade). 
 
46 TELES, A. X. Introdução ao estudo da filosofia. São Paulo: Ática, 1985, p. 63. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
57 
A hipótese é sempre relativa e representa um resultado ou explicação 
ainda provável. Inclui grande divergência de opiniões (por exemplo, as 
hipóteses sobre os OVNIs). 
Há de se acrescentar aqui que o método experimental, acima descrito, 
aplica-se de maneira cabal às ciências naturais; as ciências sociais, ciências 
humanas e históricas, têm sua metodologia própria. 
 
• Indicação de leitura: 
AMADO, João; GAMA, João; MORÃO, Artur. O Prazer de Pensar: 11º 
Ano de Filosofia. Lisboa: Edições 70, 1989, p. 74. 
 
2.3.2 Ciência e filosofia: distinção 
 
No intuito de fazer uma síntese da diferenciação entre filosofia e 
ciências elaboramos o seguinte esquema de oposição de notas ou 
características de ambas: 
 
 Ciência Filosofia 
campo experiência transcendência 
objeto fenômenos, fatos sentidos e valores 
método experimental analítico-fundamentador 
critério de 
verdade experimentação evidência da razão 
espírito matemático crítico-reflexivo 
apoio Matemática Lógica 
termo leis, teorias cosmovisão, sistema 
explicativo 
abrangência particularidade universalidade 
objetivo aplicabilidade (técnica) vivência 
 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
58 
O esquema acima tem um valor limitado. As características aferidas 
precisam ser corretamente entendidas. 
 
Explicação do quadro: 
1. Campo: 
— da ciência: a experiência. O campo da experiência se entende o 
campo dos fatos, dados, fenômenos: tudo aquilo que pode ser percebido 
pelos sentidos,direta ou indiretamente, ou por meio de instrumentos. 
— da filosofia: a transcendência. Entendemos por isso tudo aquilo que 
está além da percepção dos sentidos e que é perceptível pela inteligência. A 
ciência para na experiência, a Filosofia transcende a experiência. Um 
sinônimo de “transcendente” é = “metafísico”. 
Obs.: o termo “transcendência” também pode significar “o que está 
além do mundo” (Deus). 
 
2. Objeto: 
— da ciência: o fenômeno. “Fenômeno”, do grego “phainesthai”, que 
quer dizer mostrar-se significa “o que aparece”, “o que tem aparência. 
Fenômeno é, pois, um fato de experiência, um dado. 
— da filosofia: sentidos e valores. A Filosofia não se detém somente 
nos fatos ou na relação entre os fatos, mas busca o sentido total e último da 
realidade ou de um setor da realidade (por exemplo o homem). Os sentidos 
são traduzidos em valores vitais. 
 
3. Método (ou procedimento): 
— da ciência: experimental. Ou seja, a ciência segue um método 
basicamente fundamentado no modelo elaborado por Bacon e Newton, que 
consiste em determinados procedimentos, já consagrados: observação, 
hipótese, experimentação, verificação ou comprovação. 
— da filosofia: analítico-fundamentador. Isto significa que a filosofia 
utiliza-se da análise, que não tem passos rigidamente predeterminados, mas 
que se propõem a perscrutar a realidade de forma livre, sempre em busca dos 
fundamentos (ou causas) últimas da realidade. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
59 
 Podemos dizer ainda que o método da filosofia é o especulativo 
(questionar, esquadrinhar, analisar) a realidade em busca de questões 
implicadas. 
 
4. Critério de verdade: 
— da ciência: a experimentação (ou evidência da experiência). 
Podemos dizer que “experimentação” é a reprodução de um fato, para 
constatar a sua regularidade. O que é que vai conferir se é válido ou não o 
enunciado “a água ferve a 100º C”? A repetição do fato ou observação 
repetida do fato. Então, verdade em ciência é aquilo que a experimentação 
confirma. 
— da filosofia: a evidência da razão. Isto significa que a verdade para 
a filosofia é aquilo que se apresenta como justificado perante o juízo da 
razão. 
 Isto não é um critério subjetivo (“é verdade o que eu acho que é 
verdade”!): a filosofia sempre se refere à objetividade e procura ser 
maximamente objetiva. Mas mesmo na referência à objetividade, o critério 
último de aceitação de uma verdade é a evidência da razão. 
 
5. “Espírito”: 
— da ciência: espírito matemático. Como já foi dito anteriormente, as 
ciências tendem o quanto mais a expressar ou traduzir suas proposições em 
números ou quantidades ou fórmulas matemáticas. 
— da filosofia: espírito crítico-reflexivo. A Filosofia tem um 
“espírito” fundamentalmente caracterizado pela livre reflexão, pela análise 
crítica, pela especulação que visa buscar a fundamentação total das coisas. 
 Isto não significa que as ciências não usam da “reflexão”; entende-
se “reflexão” na Filosofia num sentido especial. 
 
6. Apoio: 
— da ciência: a Matemática. As ciências são tanto mais exatas quanto 
mais se apoiam na Matemática. A Matemática é a sustentação das ciências. 
— da filosofia: a Lógica. Ou seja, a Filosofia se apoia na lógica da 
razão. Já Aristóteles dizia que a Lógica não é propriamente Filosofia, mas o 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
60 
instrumento da Filosofia. Em Filosofia, pois, é evidente, é verdadeiro o que 
é “lógico”, isto é, o que está de acordo com a estrutura e o procedimento da 
razão. 
 
7. Termo (aonde chega, a meta ou ponto final) 
— da ciência: as leis dos fenômenos. A ciência se completa quando 
chega à formulação de leis dos fenômenos. A lei é a expressão da 
universalidade de resultados, isto é, que engloba todos os fenômenos ou um 
dado conjunto de fenômenos. (Exemplo a água ferve a 100º C). 
— da filosofia: sistema explicativo da realidade, uma cosmovisão. 
Também a filosofia quer chegar a uma universalidade, mas de outro tipo. O 
termo ao qual a filosofia quer chegar é elaborar um sistema de idéias, 
coerente e lógico, racionalmente justificado, para estabelecer um 
fundamento e significado abrangente da realidade. 
A filosofia tende, pois, a uma universalidade total dos conhecimentos, 
a uma visão totalizante e global da realidade (“cosmovisão”). 
 
8. Abrangência: 
— da ciência: a particularidade. Toda a ciência é particular, isto é, se 
refere a um campo delimitado e restrito de fenômenos. As ciências são 
tematicamente reduzidas. 
— da filosofia: a universalidade. A filosofia não possui restrição de 
campo: pode tratar de tudo, onde esteja envolvida uma questão de fundo, de 
fundamento ou de sentido. 
 A ciência, por si, trata de uma parte restrita da realidade; a filosofia, 
por si, trata de toda a realidade. 
 
9. Objetivo: 
— da ciência: a aplicabilidade (técnica). O objetivo de toda a ciência 
é adquirir o domínio da realidade, dos fenômenos; enfim, um poder sobre a 
realidade. “Conhecer para prever, a fim de prover” – disse Comte. Por 
exemplo, conhecer as leis da eletricidade, para “dominar” a força da 
eletricidade e utilizar-se dela para a vida humana. Toda a ciência tende, pois, 
a ser utilitária. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
61 
— da filosofia: a vivência. A filosofia não possui um fim utilitário: ela 
procura o saber que satisfaz o espírito - que é também uma necessidade 
humana. Mas esse saber é que imprime a grande e fundamental orientação à 
vida humana. A filosofia nos conduz à descoberta de sentidos e valores pelos 
quais orientamos a nossa vida e que se manifestam na ação. Em suma: 
• a Ciência é dirigida à prática utilitária ou laborial. 
• a Filosofia é dirigida à prática vivencial. 
Obs.: uma análise mais a fundo sobre a ciência, sua natureza, suas 
características, é desenvolvida nas discussões sobre a filosofia da ciência na 
teoria do conhecimento. 
 
2.3.3 Ciência e filosofia: relação 
 
Há três modos de se fazer filosofia e, ao mesmo tempo, três modos de 
entender a relação entre filosofia e ciências: 
 
a) Desconsideração: 
 Isto é, fazer filosofia ignorando as ciências, por se entender que a 
filosofia não tem preocupação imediata com o concreto. Às vezes se presume 
que o objetivo da filosofia é “formar o espírito”, cultivar o intelecto, dotar o 
ser humano de princípios metafísicos. 
 Em suma, a filosofia seria a “ciência do espírito”, as ciências o “saber 
sobre a natureza”. 
 Seria então um tipo de filosofia desencarnada, que ignora as questões 
científicas. 
 
b) Identidade: 
 Essa posição é típica de alguns círculos ligados ao Positivismo 
(século XIX) e Neopositivismo (século XX). Nessa posição há uma 
identificação total entre filosofia e ciência (Filosofia = Ciência). 
 Fundamenta-se essa posição positivista na afirmação de que o 
conhecimento científico é o único válido e legítimo. Todo outro assunto, fora 
o das ciências, é falso e vazio. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
62 
 Para Augusto Comte, a Filosofia não tem assuntos próprios, todos 
eles estão contidos nas ciências. A função da Filosofia é a da sistematização 
das ciências. 
 O Neopositivismo (Carnap, Popper, Wittgenstein) mantém o 
princípio positivista de que o conhecimento científico é o único válido. A 
filosofia seria então a análise da linguagem científica. A única filosofia 
possível seria, portanto, a “Filosofia da Ciência”. 
 
c) Interrelação: 
 Essa posição entende que a filosofia não se identifica com as 
ciências: ela tem conteúdos próprios que não são da competência das 
ciências. No entanto, a filosofia deve estar em estreita interrelação (ou 
diálogo) com as ciências (contra a 1ª posição). 
Existe na época contemporânea — época de extraordinário 
desenvolvimento científico — entrecruzamentos, interferências e 
implicações recíprocas entre a ciência e a filosofia. Tanto as ciências não 
podem substituir a filosofia, como a filosofia não pode dispensar as ciências. 
As ciênciasgeram questões filosóficas e a filosofia deve estar em referência 
contínua às ciências. 
Por exemplo, não é possível uma antropologia, uma filosofia do 
homem, sem levar em conta a Biologia (Darwin), a Psicologia, a Sociologia, 
as Neurociências, etc. 
Não é possível uma Cosmologia, uma filosofia da natureza, sem 
referência às teorias físicas sobre a matéria, o universo. 
Não é possível uma Ética, uma filosofia moral, sem referência à 
Psicologia, às Neurociências, à Psicanálise, à Sociologia e à Biologia 
(Bioética). 
Hoje, uma cosmovisão deve ser, ao mesmo tempo, científica e 
filosófica. Por um lado, uma cosmovisão só científica não se basta. A ciência 
gera questionamentos que não são científicos e que ela mesma não pode 
resolver. Principalmente porque o saber científico é um saber operativo, 
utilitário. As ciências e a tecnologia são um meio para os fins da humanidade. 
Mas estes fins a ciência não está capacitada a propor. 
Aqui se abre o campo da filosofia, cuja tarefa é a função 
fundamentadora e crítica das ciências. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
63 
A filosofia tem de estar, pois, em referência às ciências. Hoje em dia, 
uma visão do mundo acientífica é um absurdo. 
Portanto: a filosofia e a ciência estão e devem estar face a face, em 
mútua correlação, numa via de mão dupla, como se diz. Os dois discursos 
são autônomos, têm método e campo próprio, mas nem por isso deixam de 
se exigir um ao outro. Insistindo: o saber humano é sempre unitário. Vejamos 
no texto abaixo, segundo Aranha e Martins, quais são as funções da filosofia: 
Uma das funções da filosofia é analisar os fundamentos da ciência. O 
próprio cientista já está na verdade colocando questões propriamente 
filosóficas quando se pergunta em que consiste o conhecimento 
científico, qual o seu alcance, qual a validade do método que utiliza e 
qual é sua responsabilidade no que se refere às consequências das 
descobertas. Por isso é importante que o cientista se disponha a 
filosofar, a fim de investigar os pressupostos e as implicações do seu 
saber. 
Além disso, a filosofia busca recuperar a visão da totalidade, perdida 
diante da multiplicação das ciências particulares e da valorização do 
mundo dos ‘especialistas’. É a filosofia que, diante do saber e do 
poder, avalia se estes estão a serviço do homem ou contra ele, isto é, 
se servem para seu crescimento espiritual ou se o degradam, se 
contribuem para a liberdade ou para a dominação. 
Assim, é preciso questionar a ideologia do progresso que justifica as 
ilusões e preconceitos do homem ‘civilizado’ por este se julgar 
superior a qualquer outro. Não é em nome do progresso que as tribos 
indígenas têm sido sistematicamente expulsas dos seus territórios? E 
não seria o caso de perguntar quais são os valores do homem ‘urbano 
e civilizado’ que é individualista, sofre de solidão e tem sido vítima 
dos descontroles do progresso, como a poluição ambiental? 
Diante de tais questões, não há como sustentar a neutralidade da 
ciência. A bomba atômica não pode ser considerada apenas como 
resultado do saber sobre a energia atômica, nem como simples técnica 
de produzir explosão. Trata-se de um saber e de uma técnica que 
dizem respeito à vida e à morte de seres humanos. 
Como tal, cabe ao cientista a responsabilidade social de indagar a 
respeito dos fins a que se destinam suas descobertas. E não é possível 
alegar isenção, uma vez que a produção científica não se realiza fora 
de um determinado contexto social e político, cujos objetivos a serem 
alcançados estão claramente definidos. As altas cifras necessárias ao 
encaminhamento das pesquisas supõem o apoio financeiro das 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
64 
instituições públicas e privadas, que evidentemente subvencionam os 
trabalhos que mais lhes interessam. Pode-se falar que, por muito 
tempo, houve uma ‘indústria da guerra’, alimentando a ‘corrida 
armamentista’ e exigindo o constante desenvolvimento da ciência e 
tecnologia no campo militar. 
O papel da filosofia consiste, portanto, em analisar as condições em 
que se realizam as pesquisas científicas, investigar os fins e as 
prioridades a que a ciência se propõe, bem como avaliar as 
consequências das técnicas utilizadas. 
Resta lembrar que, no desempenho desse papel, o filósofo não tem 
respostas prontas, nem um saber acabado. Não caberia ao filósofo 
nortear, de forma onipotente, os rumos da ciência. A filosofia deve 
caminhar ao lado dos cientistas e técnicos a fim de que a abordagem 
específica que ela é capaz de fazer os auxilie a não perder de vista que 
a ciência e a técnica são apenas meios, e devem estar a serviço da 
humanidade”.47 
 
• Indicação de leitura: 
AMADO, João; GAMA, João; MORÃO, Artur. O Prazer de Pensar - 11º 
Ano de Filosofia. Lisboa, Edições 70, 1988, p. 65-152. 
ANZENBACHER, Arno. Introducción a la Filosofia. Barcelona: Herder, 
1983, p. 22-29. 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 116-205. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas 
de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992, p. 89-103. 
BUZZI, Arcângelo. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 101-
128. 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006 (p. 247-286). 
CUNHA, José Auri. Iniciação à Investigação Filosófica. São Paulo: Atual, 
1992, p. 50-116. 
GILES, Thomas Ransom. A Filosofia e as Ciências Exatas ou Naturais: 
Iniciação à Ciência Filosófica. São Paulo: EPU, 1995. 
 
47 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de 
Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992, p. 101-102 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
65 
MARTINS, J. B. Questões fundamentais de filosofia. São Paulo: Fesan, 
1983, p. 22-27. 
TELES, Antônio Xavier. Introdução ao Estudo da Filosofia. São Paulo: 
Ática, 1985. p. 60-64. 
 
2.4 FILOSOFIA E RELIGIÃO 
 
Da mesma forma como foi tratado o assunto filosofia e ciências, o 
objetivo deste iteme é diferenciar a filosofia da religião, como também 
verificar a relação que existe entre ambas. 
 
2.4.1 O fenômeno religioso 
 
A religião é um fenômeno humano e social (não estamos dizendo que 
a religião é uma criação humana simplesmente!) que, desde o século passado, 
vem sendo objeto de estudo científico. Esta ciência da religião recebeu o 
nome de “Fenomenologia da Religião”, que tem por objetivo descrever de 
forma acurada o fenômeno religioso e captar os elementos constituintes 
essenciais da religião. Os maiores nomes da Fenomenologia da Religião são 
Rudolf Otto e Mircea Eliade.48 
De uma forma simples e concisa podemos descrever a religião da 
seguinte maneira: “Religião é a vinculação existencial do homem a um 
supremo sentido-fundamento (Deus, Absoluto, Santo)” (Karl Rahner). 
Ou ainda: Religião é a relação pessoal com o Mistério (Transcendente 
- Sobrenatural - Absoluto - Deus) que se revela. 
Ou seja, trata-se de uma atitude de reconhecimento e aceitação de um 
poder ou ser transcendente ao mundo, que se revela ao homem. 
Normalmente, a religião (pelo menos as grandes religiões históricas) 
inclui três elementos essenciais: 
 
48 Para o aprofundamento dessa questão veja: OTTO, Rudolf. O sagrado: os 
aspectos irracionais na noção do divino e sua relação com o racional. São Leopoldo 
RS: SINODAL, 2007; ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das 
religiões. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
66 
 
a) Revelação: é o ponto de partida de toda a religião. Toda a religião 
se fundamenta numa revelação. Quer dizer: o fundamento da religião não é 
um princípio racional, uma doutrina filosófica, nem fundamentalmente uma 
doutrina elaborada por um grande mestre (se existe esse mestre, ele se 
apresenta falando em nome de Deus: Moisés, Maomé). 
Revelação significa a abertura de si mesmo do Transcendente ou 
Deus. 
O primeiro fundamento da religião não é o caminho dohomem a Deus, 
mas o caminho de Deus ao homem: Deus é que se faz conhecer ao homem, 
gratuitamente. 
Todas as religiões, de uma forma ou outra, pressupõem a Revelação, 
que é depois registrada nos livros sagrados (Bíblia, Corão). 
 
b) Fé: — é a contrapartida à Revelação. A revelação provoca no 
homem uma atitude de resposta, a fé. 
A fé é a atitude religiosa propriamente dita: o reconhecimento e a 
aceitação da Revelação ou de Deus que se revela. 
A fé é uma atitude humana “sui generis”. Ela não é de natureza 
racional; antes podemos defini-la como uma atitude existencial, que envolve 
a existência inteira ou todas as dimensões do homem: razão, vontade, 
emoção. 
 
c) Doutrina religiosa (ou ainda “estrutura religiosa”) — é o conteúdo 
objetivo da fé. O elemento conceptual ligado à fé. Aquilo que se diz no “quê 
creio”. 
Esse conteúdo objetivo, tanto procede da revelação, como é elaborado 
pelo homem. Envolve elementos teóricos e elementos práticos. 
— Elementos teóricos: concepção de Deus, do mundo, do homem e da 
história. É o “dogma” no qual um indivíduo é iniciado ou catequizado. 
Por exemplo, onde na religião católica, está recolhida essa doutrina? 
No “creio”. 
— Elementos práticos: 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
67 
• Culto: sacramentos, oração, sacrifícios. 
• Moral: normas condutoras da vida. 
Religião é, então, precisamente o conjunto desses três elementos: 
- Revelação; 
- Fé; 
- Doutrina objetiva dessa fé. 
Assim, de acordo com Vanucchi, “subjetivamente, a religião é a 
atitude pela qual a criatura humana se orienta para o Outro divino; 
objetivamente, o conjunto de noções, normas e ritos pelos quais nos ligamos 
a esse Outro.49 
 
2.4.2 Filosofia e religião: distinção 
 
Em princípio, não há maiores dificuldades em delimitar a distinção 
entre filosofia e religião: seus fundamentos são distintos. 
— O fundamento da filosofia é a razão. 
— O fundamento da religião é a fé na revelação, 
— A verdade religiosa é verdade porque revelada por Deus. 
— A verdade filosófica é uma conclusão da inteligência humana. 
— Na religião tem fundamental importância a autoridade (no caso, a 
divina). 
— A filosofia prescinde de toda a autoridade: a única autoridade na 
filosofia é a evidência da razão. 
As coisas, no entanto, são mais complexas quando da distinção 
passamos à relação entre filosofia e religião. 
Em primeiro lugar, há um elevado grau de parentesco entre filosofia e 
religião. Tanto que Hegel pôde dizer que ambas “possuem o mesmo 
conteúdo”. Sua semelhança está no fato de que ambas se referem às questões 
do absoluto. No §1 da Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio 
de 1830, o filósofo afirma que: 
 
49 VANUCCHI, Aldo. Filosofia e ciências humanas. São Paulo: Loyola, 1977, p. 
32. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
68 
[...] a filosofia tem, de fato, seus objetos em comum com a religião. 
As duas têm a verdade por seu objeto, decerto no sentido mais alto: 
no sentido de que Deus é a verdade, e só ele é a verdade. Além disso, 
ambas tratam do âmbito do finito, da natureza e do espírito humano; 
de sua relação recíproca, e da sua relação com Deus, enquanto sua 
verdade.50 
Assim, ambas se referem ao fundamento da realidade, à causa última 
do ser, ao significado da vida do homem, seu fim e destino, e ambas 
pretendem estabelecer normas ao agir humano. Em outras palavras, a 
filosofia e a religião se ocupam das questões mais importantes ao homem, 
sobre o ser e o não ser, sobre o bem e o mal, sobre a vida e a morte. 
Nessa semelhança, os princípios são, no entanto, diferentes: a razão e 
a fé, respectivamente. Como foi dito, a filosofia se assenta sobre a razão, que 
é seu instrumento primeiro. Já a religião exige em princípio a submissão da 
razão. A religião pressupõe a humildade da razão, o calar-se humano perante 
o incompreensível, o mistério. 
Exatamente esse fato resultou num ponto de conflitos históricos na 
relação entre filosofia e religião (quem não tem fé, não pode aceitar o 
princípio da religião), conflitos esses que são nada mais que a expressão da 
crucial relação entre razão e fé. 
 
2.4.3 Filosofia e religião: relação 
 
O conflito razão e fé irrompe de maneira acentuada nos tempos 
modernos. Até o final da Idade Média, toda a cultura ocidental era 
compactamente cristã: a Igreja dominava as artes, a educação e a própria 
Filosofia era eminentemente cristã, conduzida pelas Ordens religiosas. Ela 
era considerada como subsidiária da Teologia (“Philosophia ancilla 
Theologiae”). 
A partir do Renascimento ocorre o rompimento dessa unidade 
cultural: a cultura passa para as mãos dos leigos; o surgimento das ciências, 
novas filosofias. Começando com o humanismo, passando pelo 
Racionalismo, Iluminismo, Idealismo e outros movimentos filosóficos até os 
 
50 HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Enciclopédia das ciências filosóficas em 
compêndio (1830). São Paulo: Loyola, 1995, p. 39. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
69 
dias de hoje, desvela-se uma progressiva euforia pela razão, que é 
considerada como o único motor propulsivo do progresso, a realização do 
destino humano. Era inevitável, então, que a razão pusesse em julgamento a 
própria fé: todos os movimentos filosóficos modernos interessam-se pelo 
fato religioso e esse debate perpassa os séculos até os dias de hoje. 
 
2.4.3.1 Filosofia e religião: relação de conflito 
 
Durante a história da filosofia, diversos foram os autores e correntes 
filosóficas que julgaram a religião como pré-científica, como projeção 
humana, como alienadora e mesmo como expressão de imaturidade psíquica. 
 
2.4.3.2 A razão nega a fé 
 
Uma primeira atitude filosófica assume uma posição negativa perante 
a fé: esta é considerada como um elemento sem valor ou de valor inferior. 
• Positivismo: Augusto Comte julga a religião como uma atitude 
cultural pré-científica e anacrônica. A religião explica o mundo e os fatos por 
agentes sobrenaturais: espíritos, deuses, demônios. É necessária uma 
explicação real dos fatos (e não fantasiosa): um fato ou fenômeno se explica 
por outro fato; é a ciência. O Positivismo professa o cientismo: a ciência é a 
única atitude digna do homem. 
• Ludwig Feuerbach: a religião é a projeção das aspirações humanas. 
Deus é o que o homem quer ser. Deus é o homem idealizado. 
• Marxismo: a religião é uma forma de “alienação”. As mentes 
sofridas, os pobres criam um mundo fantasioso, belo e justo, como consolo 
ao mundo injusto atual. 
• Sigmund Freud: a religião é uma forma de infantilismo psicológico. 
A compensação pela falta de maturidade e segurança interior. 
 
2.4.3.3 A redução da religião pela razão 
 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
70 
Algumas correntes do século XVIII, principalmente o Iluminismo, 
propunham-se uma distinção entre “Religião natural” e “Religião positiva”. 
As religiões positivas são todas falsas, mas a “Religião natural” é uma 
exigência da natureza humana. Os iluministas consideravam os dogmas, os 
ritos, o culto, os mandamentos das religiões históricas como um conjunto de 
falsidades e superstições de que é preciso libertar-se para chegar a uma 
religião que só contenha o que é aceitável à razão. Essa é a posição de 
Voltaire, de Rousseau e de Kant, entre outros. Voltaire afirma que se pode 
demonstrar a existência de Deus e a imortalidade da alma, e deduzir daí 
certas consequências sobre o culto que se deve prestar a Deus e sobre a moral 
que um homem que raciocina deve observar. Para Rousseau, a Religião é o 
sentimento moral. Para Kant, a existência de Deus e a imortalidade da alma 
são postulados incluídos nas exigências da razão prática. A Religião é uma 
fé, mas uma fé racional, ligada à ação moral. 
 
2.4.3.4 A fé nega a razão 
 
Em oposição ao acima exposto encontram-se as atitudes “filosóficas” 
que podem ser reunidas sob o nome de fideísmo. É a atribuição de valor 
exclusivo à fé, com a consequente negação da razão. A Filosofia é inútile 
incapaz de nos conduzir a qualquer verdade: a verdade provém unicamente 
da fé. 
Atitudes como essa já existiam desde a Antiguidade. Alguns Padres 
da Igreja (Taciano, Tertuliano) rejeitavam totalmente a filosofia. Para eles, 
toda a “filosofia” está contida no Evangelho. 
• Tradicionalismo: é uma corrente do século XIX (Joseph de Maistre, 
Louis de Bonnald, Robert de Lammenais) que, por reação ao Iluminismo e 
ao racionalismo, rejeita totalmente o valor da razão. O homem, por sua 
própria capacidade, não pode conhecer nenhuma verdade. Todas as verdades 
e, enfim, tudo o que é bom na humanidade, provém da revelação divina. 
Deus, quando criou o homem, lhe revelou e lhe deu a conhecer todas as 
verdades necessárias para viver. Essas verdades são transmitidas de geração 
a geração (daí “tradicionalismo”). 
• Søren Kierkegaard: filosófo dinamarquês do século XIX, “pai do 
existencialismo”. Também ele proclama a absoluta impotência da razão 
frente à realidade e à vida e a ineficácia de toda a filosofia. Só há um 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
71 
caminho, o da fé, como a de Abraão: a fé como abandono da razão e 
“mergulho no escuro”. Perante a cruz, a sabedoria humana é insensatez.51 
 
2.4.3.5 Filosofia e religião: relação de harmonia 
 
No entanto, a relação entre fé e razão na história não é apenas de 
conflito: numerosos filósofos souberam conciliar fé e razão, estabelecendo 
uma relação de harmonia entre Filosofia e Religião. 
O exemplo mais clássico é São Tomás de Aquino, que foi um dos 
maiores filósofos da história e ao mesmo tempo um santo. A posição de S. 
Tomás é resumida na sua própria expressão: “A fé não destrói a razão, mas 
a supera e lhe confere plenitude” (De Veritate, q.15, a.10, ad 9). 
A verdade conhecida pela revelação é superior porque fundamenta-se 
na autoridade divina. Mas a razão humana também tem valor, pelo simples 
fato de que também ela procede de Deus. A razão humana é, porém, 
imperfeita, pelo fato de que depende da sensibilidade: é uma razão 
encarnada. A razão, enfim, deve ser iluminada pela fé: este é o ideal humano 
de São Tomás. 
O tema razão e fé é, de maneira especial, analisado por Maurice 
Blondel (1861-1949) na sua obra A Ação. Desenvolvendo o seu tema 
filosófico peculiar da “ação”, Blondel pretende demonstrar que a vida 
humana é, na sua dimensão mais profunda, uma busca de Deus. O 
coroamento do filosofar é, portanto, a busca de Deus. Mas a Filosofia apenas 
entrevê Deus; o abismo entre o homem e Deus é coberto pela Religião que 
leva ao encontro de Deus.52 
Eis por que a filosofia e a religião não podem ser dois compartimentos 
separados. A Filosofia não pode fechar-se em si mesma; o racionalismo 
autosuficiente é uma ilusão. A Filosofia é coroada pela Religião: a razão é 
elevada pela graça, o sobrenatural corresponde às mais profundas aspirações 
do coração humano. 
 
 
51 Cf. KIERKEGAARD, Søren. Temor e tremor. São Paulo: Nova Cultural, 1979. 
(Os Pensadores). 
52 Cf. SCANTIMBURGO, João de. Introdução à filosofia de Maurice Blondel. Rio 
de Janeiro: Faculdade da Cidade, 1997 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
72 
2.4.4 Filosofia e religião: apreciação crítica 
 
Apresentamos algumas posições típicas de como se apresentou a 
relação entre filosofia e religião, mais precisamente a relação razão-fé na 
história humana. Uma relação delicada e complexa, que se traduziu muitas 
vezes em confrontos de diversos tipos. O motivo dessa complexidade e 
dificuldade de relação, como vimos, é a coincidência de ambas no seu termo 
(ou conteúdo): ambas se referem às questões humanas mais fundamentais. E 
neste aspecto ambas pretendem ter o caráter de totalidade, isto é, pretendem 
oferecer respostas últimas. 
No entanto, analisando as coisas de forma mais acurada e objetiva, 
particularmente se nos concentrarmos no significado real de razão e fé, 
haveremos de concluir que há espaço na cultura humana para ambas, 
filosofia e religião, não precisamos eliminar uma ou outra, e que o conflito 
não é real. Se ele existe de fato, trata-se de uma visão das coisas a partir de 
uma perspectiva particular e pessoal. 
De um lado, a razão autêntica, e por conseguinte a filosofia autêntica, 
tem consciência de seus limites. Isto significa que por mais que a razão se 
empenhe em perscrutar e desvelar a realidade, jamais consegue desvendá-la 
e compreendê-la por completo. A filosofia busca as respostas últimas, mas 
não tem as respostas últimas. A realidade, o ser, conservam sempre um fundo 
de imperscrutabilidade, um fundo de mistério. A um dado momento, a 
própria razão se dá conta de que é impotente para ir adiante. Que precisa 
calar-se. 
É aí, justamente, que se abre o espaço para o mistério, para a revelação. 
A fé e a experiência religiosa, para a autêntica filosofia, se torna justamente 
o mistério que se revela para além das capacidades e possibilidades humanas. 
Para um autêntico filósofo, pois, a revelação não é trevas, o absurdo, mas 
luz, luz brilhante demais para a inteligência humana. A filosofia busca o 
fundamento de todo o ser — a experiência religiosa propicia a felicidade do 
encontro com o Outro, com o mistério que se revela ao homem. 
A filosofia, por definição, é um sistema totalitário: busca as razões 
últimas das coisas [...] A filosofia é totalitária, mas na ordem natural. 
Ela engloba, pois, o estudo da regra suprema da atividade humana 
natural. As razões que ela busca são, nesse domínio, últimas e 
absolutas. As conclusões certas da filosofia conservam sempre o seu 
valor, mesmo na hipótese da elevação do homem à vida da graça, 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
73 
precisamente por não destruir a graça a natureza. Essas conclusões não 
são de maneira nenhuma provisórias: são verdadeiras e de uma 
verdade absoluta [...] 
Mas a atividade humana tem os seus limites. A filosofia não resolve 
todos os problemas; nem mesmo chega a formulá-los todos. Pode 
tomar consciência das suas fronteiras: embora atingindo de certo 
modo as razões supremas, pode procurar delimitar regiões misteriosas 
que escapam ao nosso conhecimento; e mesmo mais, que devem 
escapar-lhes por ser a natureza radicalmente incapaz de alcançá-las. 
[...] A filosofia, traçando os seus próprios limites, deixa lugar aberto a 
uma revelação superior.53 
Por outro lado, a verdadeira fé não exige a negação da razão. A 
Religião entende a razão como a capacidade superior conferida por Deus ao 
homem, e que nesta capacidade está primariamente a sua dignidade. Não 
pode haver, de fato, conflito de verdades, entre uma verdade de fé e uma 
verdade de razão, entre uma verdade divina e uma verdade humana. Se este 
conflito existe, trata-se de um equívoco. 
A Igreja em diversas oportunidades condenou o “fideísmo”, a posição 
que nega a razão em favor da fé. A fé não é cega ou irracional, mas pressupõe 
capacidades e valores humanos naturais. 
É certo de que não se chega à fé por raciocínio nem se convence 
ninguém à fé por razões: a fé é antes de tudo um dom e uma graça de Deus, 
uma experiência de encontro com Deus vivo, onde Deus sempre tem a 
iniciativa. Mas a fé supõe uma pessoa humana, com o pleno exercício de suas 
capacidades e potencialidades. 
Há de se concluir, portanto, que a Filosofia e a Religião podem 
coexistir numa relação de plena harmonia. O conflito só ocorre, ou a partir 
de perspectivas particulares e pessoais, ou por equívoco: da falta de 
compreensão dos devidos limites. 
A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas 
quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi 
Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a 
verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, 
conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena 
 
53 RAEYMAEKER, Luis de. Introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Herder, 1973, 
p. 34-35. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
74 
sobre si próprio (cf. Ex 33, 18; Sal 27/26,8-9; 63/62, 2-3; Jo 14, 8; 1 
Jo 3, 2).54 
Uma luz ilusória? 
E contudo, podemos ouvir a objecção que se levanta de muitos dos 
nossos contemporâneos, quando se lhes fala desta luz da fé. Nos 
tempos modernos, pensou-se que tal luz poderia ter sido suficiente 
para as sociedades antigas, mas não servia para os novos tempos, para 
o homem tornado adulto, orgulhoso da sua razão, desejoso de explorar 
de forma nova o futuro. Nesta perspectiva, a fé aparecia como uma luz 
ilusória, que impedia o homem de cultivar a ousadia do saber. O jovem 
Nietzsche convidava a irmã Elisabeth a arriscar, percorrendo vias 
novas (…), “na incerteza de proceder de forma autônoma”. E 
acrescentava: “Neste ponto, separam-se os caminhos da humanidade: 
se queres alcançar a paz da alma e a felicidade, contenta-te com a fé; 
mas, se queres ser uma discípula da verdade, então investiga”. O crer 
opor-se-ia ao indagar. Partindo daqui, Nietzsche desenvolverá a sua 
crítica ao cristianismo por ter diminuído o alcance da existência 
humana, espoliando a vida de novidade e aventura. Neste caso, a fé 
seria uma espécie de ilusão de luz, que impede o nosso caminho de 
homens livres rumo ao amanhã. 
Por este caminho, a fé acabou por ser associada com a escuridão. E, a 
fim de conviver com a luz da razão, pensou-se na possibilidade de a 
conservar, de lhe encontrar um espaço: o espaço para a fé abria-se 
onde a razão não podia iluminar, onde o homem já não podia ter 
certezas. Deste modo, a fé foi entendida como um salto no vazio, que 
fazemos por falta de luz e impelidos por um sentimento cego, ou como 
uma luz subjetiva, talvez capaz de aquecer o coração e consolar 
pessoalmente, mas impossível de ser proposta aos outros como luz 
objetiva e comum para iluminar o caminho. Entretanto, pouco a 
pouco, foi-se vendo que a luz da razão autônoma não consegue 
iluminar suficientemente o futuro; este, no fim de contas, permanece 
na sua obscuridade e deixa o homem no temor do desconhecido. E, 
assim, o homem renunciou à busca de uma luz grande, de uma verdade 
grande, para se contentar com pequenas luzes que iluminam por 
breves instantes, mas são incapazes de desvendar a estrada. Quando 
falta a luz, tudo se torna confuso: é impossível distinguir o bem do 
 
54 JOÃO PAULO II. Carta encíclica Fides et Ratio: aos bispos da Igreja Católica 
sobre as relações entre fé e razão. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 5. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
75 
mal, diferenciar a estrada que conduz à meta daquela que nos faz girar 
repetidamente em círculo, sem direção.55 
 
• Indicação de leitura: 
GOURINAT, Michel. Introducción al pensamiento filosófico. Madrid: 
ISTMO, 1973, p. 119-187. 
JOÃO PAULO II. Carta encíclica Fides et Ratio: aos bispos da Igreja 
Católica sobre as relações entre fé e razão. São Paulo: Paulinas, 2008. 
RAEYMAEKER, Louis de. Introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Herder, 
1973, p. 30-35. 
SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. O 
Ensino da Filosofia nos Seminários. Roma: Typis Polyglottis Vaticanis, 
1972. 
SCHIRATO, Maria Aparecida R. Iniciação à filosofia. São Paulo: Moraes, 
1987, p. 45-49. 
VANCOURT, R. A estrutura da filosofia: as origens do homem. São Paulo: 
Duas Cidades, 1964, p. 116-170. 
 
2.5 FILOSOFIA E ARTE 
 
Na sua situação vital no mundo, o homem não só conhece as coisas, 
as realidades, mas também as contempla. As coisas, os seres não são apenas 
objetos de seu conhecimento e de sua manipulação, mas também atingem a 
sua emoção, despertam sentimentos de uma variada gama. O mundo, a 
natureza, antes de ser objeto do conhecimento e da atividade prática, é objeto 
de percepção e de contemplação. O mundo, no conjunto de seus objetos e 
seres, tange uma vasta gama das emoções humanas: admiração, prazer, dor, 
alegria, temor, tristeza, perplexidade. 
Mais ainda: guiado pelas suas emoções, o homem modifica objetos e 
cria formas expressivas de seus sentimentos e de suas vivências internas. 
 
55 FRANCISCO. Carta Encíclica Lumen Fidei aos presbíteros aos diáconos, às 
pessoas consagradas e a todos os fieis leigos. São Paulo: Loyola/Paulus, 2013, n. 2-
3. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
76 
Desde os seus primórdios, o homem não apenas contemplou e encantou-se 
com a natureza, mas procurou expressar as suas emoções através de diversos 
meios, como também criar objetos que de certa forma reproduzissem e 
imitassem a beleza do mundo. É a criação artística, a arte, que é uma das 
dimensões culturais da humanidade desde sempre. Assim, para Chauí: 
A palavra arte vem do latim ars e corresponde ao termo grego techne, 
técnica, significando: o que é ordenado ou toda espécie de atividade 
humana submetida a regras. Em sentido lato, significa habilidade, 
destreza, agilidade. Em sentido estrito, instrumento, ofício, ciência. 
Seu campo semântico se define por oposição ao acaso, ao espontâneo 
e ao natural. Por isso, em seu sentido mais geral, arte é um conjunto 
de regras para dirigir uma atividade humana qualquer. 
Nessa perspectiva, falamos em arte médica, arte política, arte bélica, 
retórica, lógica, poética, dietética. Platão não a distinguia das ciências 
nem da Filosofia, uma vez que estas, como a arte, são atividades 
humanas ordenadas e regradas. A distinção platônica era feita entre 
dois tipos de artes ou técnicas: as judicativas, isto é, dedicadas apenas 
ao conhecimento, e as dispositivas ou imperativas, voltadas para a 
direção de uma atividade, com base no conhecimento de suas regras. 
Aristóteles, porém, estabeleceu duas distinções que perduraram por 
séculos na Cultura ocidental. Numa delas distingue ciência-Filosofia 
de arte ou técnica: a primeira refere-se ao necessário, isto é, ao que 
não pode ser diferente do que é, enquanto a segunda se refere ao 
contingente ou ao possível , portanto, ao que pode ser diferente do que 
é. Outra distinção é feita no campo do próprio possível, pela diferença 
entre ação e fabricação, isto é, entre praxis e poiesis. A política e a 
ética são ciências da ação. As artes ou técnicas são atividades de 
fabricação.56 
Neste sentido, a civilização humana se expressou não só na ciência, na 
técnica, na filosofia, mas também na música, na poesia, na dança, na pintura, 
na escultura, na arquitetura; mais recentemente no cinema e também na arte 
digital.57 Desde sempre, a arte é um dos segmentos constantes da cultura e 
da civilização humana (ao lado da ciência, da filosofia e da religião). 
 
56 CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995, p. 317. 
57 Para um aprofundamento das relações entre arte e tecnologia veja: 
BERNARDINO, Paulo. Arte e tecnologia: intersecções. ARS (São Paulo). São 
Paulo, v. 8, n. 16, p. 39-63, 2010. Disponível em: 
sobre a beleza, sobre as condições 
do belo (uma vez que o belo existe além das obras de arte, na natureza, por 
exemplo). 
x Estética – ciência da arte: na linguagem corrente, estética pode 
significar um estudo científico (histórico, sociológico, etc.) das 
manifestações artísticas. 
 
Crítica da arte: é a análise e o juízo das obras de arte a partir de 
princípios e padrões da própria arte, de seus setores específicos. Exemplo: 
crítica literária, crítica musical, crítica do cinema, entre outras. 
Ao abordarmos a questão estética, podemos fazê-la a partir de três 
vertentes: 1) fenomenologia das emoções estéticas (o que estrutura as 
emoções estéticas); 2) a metafísica do belo (o que caracteriza a beleza? Existe 
o belo universal?); 3) os sentidos e funções da arte. 
 
53202010000200004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 31 Jan 2021. 
http://dx.doi.org/10.1590/S1678-53202010000200004. 
58 CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006, p. 281. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
78 
Alguns consideram que a arte tem por função formar e cultivar o 
espírito humano. 
Para Platão, Agostinho e Tomás de Aquino, a arte tem uma finalidade 
eminentemente pedagógica; por isso, recomendam apenas as obras de 
arte que sirvam à educação e condenam as que favorecem a corrupção. 
Platão, em “A República”, condena a comédia e a tragédia 
principalmente por dois motivos. Primeiro, porque os cômicos e os 
trágicos representam os deuses e os heróis, atribuindo-lhes baixezas e 
paixões, próprias da natureza humana e desse modo desvirtuam o 
sentido religioso. Segundo, porque, compondo as suas obras, não se 
baseiam sobre a razão, mas sobre o sentimento e fantasia; ao invés de 
servirem de ajuda à razão, agitam as paixões, provocando o prazer e a 
dor. Segundo Platão, uma só arte merece ser cultivada assiduamente: 
a música. Esta educa o belo e forma a alma à harmonia interior.59 
Para outros, a arte é uma forma de purificação do espírito, um 
instrumento de domínio da sensibilidade humana. “Para Aristóteles, Plotino 
e Schopenhauer, a arte possui um escopo essencialmente catártico; será 
cultivada enquanto ajuda a alma a libertar-se das paixões, a purificar-se, a 
elevar-se para contemplação”.60 
Existe também é a função idealista/metafísica da arte. Para Hegel, a 
arte é expressão do Absoluto em forma sensível, paralela às outras duas: 
Religião – representação; Filosofia – conceito/pensamento; Arte – intuição. 
Junto com a religião e a filosofia, a arte é a forma mais elevada da realização 
humana como espírito e sua identificação com o Espírito Absoluto. 
Existem ainda aqueles que defendem a autonomia da arte. 
Hoje, essas finalidades secundárias da obra de arte (pedagógica, 
catártica, metafísica, metafísica) não despertam muitos consensos 
entre os filósofos. Geralmente, afirma-se, e a nosso ver de forma justa, 
que a arte possui uma função autônoma, que é fim a si mesma, como 
a ciência, a religião, a moral, a política, a economia [...] Produzindo a 
obra de arte, o artista supõe criar algo: quer nos colocar perante uma 
realidade nova. Sua criação, esta nova realidade, deve ser olhada 
frontalmente, por sua conta, sem a pretensão ou a preocupação de 
encontrar significados recônditos ou segundas intenções. Tudo o que 
 
59 MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 
São Paulo: Paulus, 1980, p. 167. 
60 MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 
São Paulo: Paulus, 1980, p. 167. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
79 
o artista quis dizer é o quanto ele conseguiu manifestar. E aquilo que 
ele de fato conseguiu manifestar está ali diante de nós.61 
 
2.5.1 Filosofia e arte: diferenciação 
 
No que consiste a diferença fundamental da Filosofia em relação à 
Arte? 
— A Filosofia é obra da inteligência humana. 
— A Arte é obra da emoção humana. 
Portanto, ambas estão radicadas em faculdades humanas distintas. 
Na Filosofia se trata de raciocinar, pensar, conhecer. 
Na Arte se trata de perceber, sentir, criar. 
[...] A filosofia e a arte se diferem essencialmente pelo tipo de leitura 
que ambas fazem do universo. É evidente que ambas têm o mesmo 
objeto, se assim se pode dizer, em cima do qual produzem: a relação 
homem-mundo. O universo é, portanto, o mesmo. Entretanto, a forma 
de abordar este universo é diferente. Esta diferença se dá, portanto, a 
nível do sujeito e não do objeto. 
Vejamos: tanto o filósofo quanto o artista são os sujeitos agentes na 
forma de abordar o objeto, na leitura que dele fazem. É na expressão 
da palavra, o ato de invasão do sujeito na esfera do objeto que 
determina tanto a arte como a filosofia. Apenas a forma como esta 
invasão é feita (e daí a decorrente interpretação do objeto) que é 
diferente. O filósofo se atém ao objeto naquilo que ele tem de 
essencial, àquilo que ele tem de propriamente objetivo, que é a sua 
própria natureza. Utiliza para tanto a sua razão como meio de 
conhecimento e, da própria determinação do objeto mais a leitura que 
sua razão faz deste objeto, o filósofo procura entender e interpretar a 
realidade. Seu objetivo é, pois, a realidade objetiva. Seu trabalho é 
captar esta realidade, percebê-la como problemática e tentar explicá-
la. Ao tentar explicar esta realidade o filósofo busca possíveis 
caminhos de solução e resposta para as questões que daí surgem. É o 
próprio trabalho de desvelamento, na linguagem de Heidegger. Seu 
 
61 MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 
São Paulo: Paulus, 1980, p. 168. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
80 
esforço vai, portanto, na direção de decodificar o mais possível este 
complexo de objetos e símbolos que é a realidade. 
Para realizar este trabalho o filósofo utiliza sua razão. Na medida em 
que o filósofo se percebe diante da determinação da natureza do objeto 
e de seu próprio objetivo de explicar este objeto, de percebê-lo como 
problema, o percurso que ele fará é essencialmente racional, objetivo 
(no sentido de estar abordando a objetividade do real e pensando sobre 
ela). O instrumento de trabalho do filósofo é a razão, a via pela qual 
ele chega à objetividade do universo. Seu plano de abordagem é a 
realidade tal como ela é por sua própria natureza. 
Com o artista as coisas não são bem assim. O percurso que ele traça é 
o inverso ao do filósofo, embora o ponto de partida e o objetivo sejam 
quase os mesmos. O ponto de partida tal como para o filósofo é 
abordar a realidade, invadi-la. O objetivo é o mesmo: explicá-la. 
Como podem, então ser diferentes? A diferença está exatamente na 
forma com que isto acontece. O artista vai utilizar nesta abordagem do 
real a sua sensibilidade. Ou seja, o que ele sente diante do objeto. É a 
sua emoção que fala, é a percepção não como via para a razão, mas 
para a sensibilidade. O seu percurso é o inverso no momento em que 
sua sensibilidade ao se deparar diante do objeto real, ao invés de 
decodificá-lo como faz o filósofo, na tentativa de explicá-lo, ele o 
codifica segundo a intensidade de sua sensibilidade. Ou seja, o artista 
codifica a realidade através de sua própria sensibilidade, passando a 
ter, a partir daí, uma visão só sua, apenas sua, subjetiva do objeto. 
Cria, então, sobre a realidade a supra-realidade, que é a realidade 
subjetivada pela sua sensibilidade. De forma que, explicar a realidade 
para o artista, significa percebê-la e senti-la (não mais pensá-la) 
segundo seus (do artista) próprios códigos e símbolos. A 
problematicidade do real aparece para o artista como a via pela qual 
ele desperta a própria sensibilidade e cria em cima do real uma 
realidade maior, sua apenas sua”.62 
 
Faça uma síntese comentada do texto, destacando os seguintes pontos: 
– No que a Filosofia e a Arte são semelhantes? 
– No que propriamente a Filosofia difere da Arte? 
 
62 SCHIRATO, Maria Aparecida R. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Moraes, 1987, 
p. 37-39.70 
2.4.3.5 Filosofia e religião: relação de harmonia ....................................... 71 
2.4.4 Filosofia e religião: apreciação crítica ........................................... 72 
2.5 Filosofia e arte ...................................................................................... 75 
2.5.1 Filosofia e arte: diferenciação......................................................... 79 
2.5.2 Filosofia e arte: relação ................................................................... 81 
 
Filosofia e a sua problemática ................................................................. 85 
3.1 A temática filosófica............................................................................. 85 
3.1.1 A divisão da filosofia ....................................................................... 87 
3.1.2 Lógica................................................................................................ 89 
3.1.3 Lógica uma ciência formal: objeto de estudo................................ 91 
3.1.4 Lógica: uma ciência propedêutica e o seu conteúdo..................... 92 
3.2 Teoria do conhecimento ....................................................................... 96 
3.2.1 A problemática do conhecimento: um pequeno histórico............ 97 
3.2.2 Teoria do conhecimento: objeto ..................................................... 99 
3.2.3 Possibilidade do conhecimento ..................................................... 100 
3.2.4 Essência ou natureza do conhecimento ....................................... 101 
3.2.5 Origem ou fontes do conhecimento .............................................. 101 
3.2.6 Espécies (ou formas) de conhecimento ........................................ 102 
3.3 Filosofia da ciência (epistemologia) ................................................... 104 
3.3.1 Filosofia da ciência: contexto histórico ........................................ 104 
 
 
3.3.2 Filosofia da ciência: problemática ............................................... 105 
3.3.3 Filosofia da linguagem .................................................................. 107 
3.3.3.1 Filosofia da linguagem: contextualização .................................... 107 
3.3.3.2 Os sentidos da filosofia da linguagem .......................................... 107 
3.3.3.3 Filosofia da linguagem: conceitos ................................................ 108 
3.3.3.4 Filosofia da linguagem: problemática ......................................... 108 
3.4 Metafísica ........................................................................................... 109 
3.4.1 Metafísica: origem do termo......................................................... 109 
3.4.2 Metafísica: sentido do termo ........................................................ 110 
3.4.3 A metafísica aristotélica: referencial da metafísica universal ... 110 
3.4.4 Sistemas filosóficos metafísicos e anti-metafísicos ..................... 112 
3.4.5 Metafísica: conteúdo básico .......................................................... 113 
3.5 Teodiceia ............................................................................................ 114 
3.5.1 Teodiceia: esclarecimento de terminologia ................................. 114 
3.5.2 Teodiceia: coroamento da metafísica........................................... 116 
3.5.3 Teodicéia: objeto ............................................................................ 117 
3.5.4 Teodiceia clássica: conteúdo ......................................................... 118 
3.5.5 Teodiceia: conteúdos hodiernos ................................................... 119 
 
Antropologia ........................................................................................... 123 
4.1 Antropologia filosófica ....................................................................... 123 
4.1.1 Antropologias ................................................................................. 124 
4.1.2 A psicologia racional ..................................................................... 124 
4.1.3 Antropologia filosófica: origem, determinação e conteúdo ....... 125 
4.2 Cosmologia ......................................................................................... 127 
4.2.1 Cosmologia: esclarecimento de terminologia .............................. 127 
4.2.2 Cosmologia: histórico .................................................................... 128 
4.2.3 Cosmologia: tem sentido uma filosofia sobre o mundo material?
 .................................................................................................................. 129 
4.2.4 Cosmologia: objeto e conteúdo ..................................................... 130 
 
4.3 Ética .................................................................................................... 131 
4.3.1 Ética: conceitos .............................................................................. 132 
4.3.2 Ética: perspectiva histórica .......................................................... 132 
4.3.3 Ética: conceituação e problemática ............................................. 135 
4.3.4 Ética fundamental e ética especial ............................................... 137 
4.4 Estética ............................................................................................... 139 
4.4.1 Estética: elucidação de conceitos .................................................. 140 
4.4.2 Estética filosófica: temática .......................................................... 141 
4.5 Filosofia política ................................................................................. 144 
4.5.1 O pensamento político: pequeno histórico .................................. 145 
4.5.2 Filosofia Política: elementos ......................................................... 149 
 
Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia .................. 153 
5.1 A religião na história do pensamento ................................................. 153 
5.1.1 Fenomenologia da religião: definição .......................................... 155 
5.1.2 Filosofia da religião: objeto .......................................................... 156 
5.2 História da filosofia ............................................................................ 157 
5.2.1 História da filosofia: quadro cronológico .................................... 159 
5.3 Idade antiga e medieval ...................................................................... 159 
5.3.1 Período pré-socrático (700 a.C. - 470 a.C.).................................. 160 
5.3.2 Período ático (470 - 300 a.C.) ........................................................ 160 
5.3.3 Período helenístico (300 a.C. - 30 a.C.) ........................................ 161 
5.3.4 Período romano ............................................................................. 162 
5.3.5 Idade média .................................................................................... 163 
5.3.6 Filosofia patrística (século III – século VII) ................................ 163 
5.3.7 A pré-escolástica (alta idade média, século IX-X) ...................... 164 
5.3.8 Alta escolástica (baixa idade média, século XI-XIII) ................. 165 
5.3.9 Baixa escolástica (século XIV-XV) ............................................... 165 
5.4 Idade moderna .................................................................................... 166 
 
 
5.5 Período contemporâneo ...................................................................... 170 
 
 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
13 
 
UNIDADE 01 – FILOSOFIA: 
CONSTRUINDO SUA NOÇÃO 
 
 
 
 
 
 
Objetivo da unidade: conhecer as características fundamentais da 
filosofia e a sua importância na formação humana. 
 
Conteúdos da unidade: 
1) Filosofia: conceitos fundamentais. 
2) Filosofia: a elaboração consciência crítica. 
3) Filosofia: a busca pela sabedoria. 
4) Filosofia: características fundamentais.Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
81 
– Qual o instrumento próprio da Filosofia e qual o instrumento da 
Arte? 
– Explique, de maneira especial, o que você entende disso que a 
filosofia “decodifica” a realidade, e a arte a “codifica”? 
 
2.5.2 Filosofia e arte: relação 
 
Em alguns momentos muito especiais, a filosofia e a arte se 
confundem, ou melhor, se fundem numa só obra (artística e 
filosófica). Esta fusão não se dá só a nível do objeto (que, já dissemos, 
pode ser sempre o mesmo), mas a nível da leitura que ambas fazem do 
objeto. São produções riquíssimas em reflexão e sensibilidade, que 
comprovam uma comunhão profunda de arte e de filosofia. São 
momentos em que o filósofo se expressa pela arte, exterioriza sua 
filosofia, sua leitura da realidade e a reflexão que faz sobre ela, através 
dos canais que a arte lhe proporciona: música, poesia, pintura, 
romances, etc. E, momentos em que o artista, na expressão de sua 
sensibilidade, na abrangência de sua leitura do real, não simplesmente 
codifica a realidade segundo seu próprio caráter artístico, mas faz 
desta produção de arte também uma produção filosófica, ou seja, 
expressa pela sua sensibilidade questões objetivas, que podem ser 
avaliadas sob o ponto de vista filosófico, que servem de reflexão, de 
crítica ao social. 
Quando esta comunhão é profunda, fica difícil de se saber se é uma 
obra de arte filosófica ou uma filosofia artística. São momentos, como 
já disse, raros de comunhão, onde a produção humana vai além das 
fronteiras da razão e da sensibilidade simplesmente. Ou pela 
emergência do objeto, ou pela contundência do real, ou ainda, pela 
grandeza de percepção do artista ou do filósofo, o resultado da obra 
produzida é de um valor sem medida para o conhecimento e para a 
cultura. Ao mesmo tempo que contribui filosoficamente (com suas 
considerações e reflexões) agrada e dá prazer (pela sua arte) àqueles 
que entram em contato com ela. 
No decorrer da história, muitos filósofos se utilizaram da arte para 
expressar sua filosofia. Ou ainda, podemos dizer que muitos artistas 
produziram pela sua sensibilidade e reflexão belíssimas obras 
filosóficas: Platão elaborou mitos de uma criatividade riquíssima para 
explicar sua filosofia, sua visão do homem e do mundo ( mito da 
caverna, dos dois corcéis ); Santo Agostinho utilizava-se também da 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
82 
literatura, até mesmo de forma romanceada para expressar a sua 
filosofia (Confissões); Sartre escreveu belíssimos romances e peças 
teatrais para discutir a questão existencial que tanto o afligiu em sua 
produção filosófica (A Náusea, A Idade da Razão, O Diabo e o Bom 
Deus, Entre Quatro Paredes, etc. ).63 
 
– Faça um comentário sobre o texto, isto é, sobre a comunhão entre a 
Arte e a Filosofia. 
– Você já leu alguma obra literária (da literatura brasileira, por 
exemplo) que lhe tocou a razão e a emoção? 
– Você já viu algum filme que lhe agradou e fê-lo refletir? 
 
• Indicação de leitura: 
MANDRIONI. Introducción a la filosofia. Buenos Aires: Kapelusz, 1969, p. 
287-299. 
SCHIRATO, Maria Aparecida R. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Moraes, 
1987, p. 37-45. 
 
63 SCHIRATO, Maria Aparecida R. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Moraes, 1987, 
41-42. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
83 
REFERÊNCIAS 
 
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São Paulo: Loyola, 2007. 
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Paulo: Paulus, 2003. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS. Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas 
de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992. 
ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002. 
BERNARDINO, Paulo. Arte e tecnologia: intersecções. ARS (São 
Paulo). São Paulo, v. 8, n. 16, p. 39-63, 2010. 
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 2020. 
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995. 
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2006. 
CORBISIER, R. Introdução à Filosofia. Tomo II, Parte 1. São Paulo: 
Civilização Brasileira, 1983. 
CUNHA, José Auri. Filosofia: iniciação à investigação filosófica. São 
Paulo: Atual, 1992. 
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. 2. ed. São 
Paulo: Martins Fontes, 2008. 
GALILEU GALILEI. O Ensaiador. São Paulo: Abril Cultural, 1973 
(Coleção Os pensadores). 
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Enciclopédia das ciências filosóficas em 
compêndio (1830). São Paulo: Loyola, 1995. 
JAEGER, Werner. A formação do homem grego. São Paulo: WMF Martins 
Fontes, 2013. 
KIERKEGAARD, Søren. Temor e tremor. São Paulo: Nova Cultural, 1979. 
(Os Pensadores). 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 1986 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
84 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980. 
NETO, H. Nielsen. Filosofia básica. São Paulo: Atual, 1986. 
OLIVEIRA, Admardo Serafim de et al. Introdução ao pensamento 
filosófico. São Paulo, Loyola, 2005. 
OTTO, Rudolf. O sagrado: os aspectos irracionais na noção do divino e sua 
relação com o racional. São Leopoldo RS: SINODAL, 2007. 
POINCARÉ, Henry. A ciência e a hipótese. Brasília: Editora UNB, 1984, p. 
115. 
SCANTIMBURGO, João de. Introdução à filosofia de Maurice Blondel. Rio 
de Janeiro: Faculdade da Cidade, 1997. 
SCHIRATO, Maria Aparecida R. Iniciação à filosofia. São Paulo: Moraes, 
1987. 
TELES, Antonio Xavier. Introdução ao estudo da filosofia. São Paulo: 
Ática, 1985. 
UBALDO, Nicola. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade 
moderna. São Paulo: Globo, 2005. 
VANUCCHI, Aldo. Filosofia e ciências humanas. São Paulo: Loyola, 1977. 
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo: 
Editora da Universidade de São Paulo, 1994. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
85 
 
UNIDADE 03 – FILOSOFIA E A SUA 
PROBLEMÁTICA 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivo da unidade: compreender os grandes temas da filosofia, 
suas divisões e os conceitos fundamentais da lógica, da teoria do 
conhecimento, da filosofia da ciência, da metafísica e da teodiceia. 
 
Conteúdos da unidade: 
1) A temática filosófica e a Lógica 
2) Teoria do Conhecimento 
3) Filosofia da Ciência e Filosofia da Linguagem 
4) Metafísica 
5) Teodiceia 
 
3.1 A TEMÁTICA FILOSÓFICA 
 
Foi dito anteriormente que a filosofia é a ciência da universalidade: 
quer dizer, a sua temática é universal. A filosofia não tem um campo restrito 
e particular, como as outras ciências, mas é a ciência do todo: qualquer coisa 
que envolva um questionamento mais profundo, mais radical (que vai às 
raízes, às causas) é tema da filosofia. 
É claro que isto não nos satisfaz: fica bastante vago para nós. 
Queremos saber mais precisamente do que propriamente trata a filosofia, 
quais são os seus temas ou assuntos principais. Queremos ter uma ideia do 
seu conteúdo, como ela se ramifica ou qual a divisão dos seus assuntos. 
03 
Unidade 04 – Antropologia 
 
86 
Para formarmos uma ideia mais clara sobre a temática filosófica, 
vamos partir de um filósofo, o primeiro filósofo “universalista”, Aristóteles. 
Aristóteles delineou a filosofia no que se refere à sua temática – para todos 
os tempos. 
Aristóteles escreveu muito e das suas obras nós podemos tirar a ideia 
de quais são os assuntos filosóficos, qual o campo próprio da filosofia. 
As grandes obras de Aristóteles são assim classificadas: 
a) Organon — que é um conjunto de escritos reunindo “Analítica 
Primeira”, “Analítica Posterior” e “Tópicos”, e que trata sobre o 
pensamento e os conhecimentos humanos. 
b) Metafísica — que também é uma reunião de escritos menores e que 
trata sobre o ser em geral. Essa é uma parte de muita importância na filosofia 
de Aristóteles, que ele chama de“filosofia primeira”. 
c) Física - também um conjunto de escritos que trata do mundo 
material, físico, a natureza. 
d) Sobre a Alma — um livro que trata do homem, mais particularmente 
do que é considerada a própria essência do homem a alma. 
e) Ética a Nicômaco — trata sobre a ação humana (“filosófica 
prática”), no aspecto do bem e do mal. 
f) Política — reunindo 8 livros, trata da vida pública-social humana. 
g) Poética — trata da produção humana, sob o aspecto do belo (arte). 
Das obras aristotélicas podemos, portanto, divisar quais são os 
assuntos centrais da filosofia: o conhecimento humano, o ser, o ser físico-
material, o ser humano, a vida pública-social, a ação humana, o bem o mal, 
o belo. 
Estes são, na verdade, os assuntos recorrentes da filosofia: eles são 
antigos e sempre novos; antigos, porque pertencem essencialmente ao 
homem, em qualquer tempo ou lugar, e sempre novos, porque reaparecem 
em novos contextos e novas situações. 
 
 
 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
87 
3.1.1 A divisão da filosofia 
 
A filosofia tem seus assuntos fundamentais já consagrados: eles 
refletem justamente as preocupações fundamentais da humanidade e sua 
necessidade de compreender mais profundamente a realidade (externa e 
interna). 
Esses assuntos, como já observamos, são fundamentalmente os 
mesmos. O que varia é a perspectiva, o enfoque, o modo de tratá-los e, mais 
especificamente, varia a denominação que se dá a uma determinada área 
filosófica (“Ética” - “Filosofia Moral”). 
Pode-se dividir a filosofia de diversas maneiras e toda a divisão é 
relativa, pois depende de uma época, das preocupações de um determinado 
tempo e até do alcance ou conceito que se dá à “filosofia” (cf. os manuais 
citados). 
Tendo em conta, pois, que toda a divisão ou classificação da filosofia 
é relativa, fixaremos uma divisão para nós, com o intuito de posteriormente 
fazermos uma breve introdução a cada uma das partes ou a cada um dos 
temas da filosofia. 
Toda a imensa área da filosofia pode ser dividida em 3 grandes 
campos: o conhecimento, o ser e a ação. Às partes que tratam destas questões 
denominaremos respectivamente de Gnosiologia (conhecimento), 
Metafísica (ser) e Axiologia (ação). 
 
• O conhecimento pode ser considerado sob diferentes aspectos: 
— o conhecimento em si, considerado internamente, antes como 
pensamento, sua estrutura, suas regras. É a temática da Lógica. 
— o conhecimento considerado externamente, isto é, em referência a 
um objeto: Teoria do Conhecimento. 
Há ainda considerações mais específicas sobre o conhecimento: 
— o conhecimento científico, seus fundamentos: Filosofia da Ciência. 
— o conhecimento comunicado, por meio, ou intermediação 
linguística: Filosofia da Linguagem. 
 
Unidade 04 – Antropologia 
 
88 
• O campo do ser abrange os seguintes aspectos: 
— o ser em si, ser em geral, sua estrutura e seus fundamentos: 
Metafísica Geral (Ontologia). 
— tratação de setores específicos do ser. É a Metafísica Especial, que 
se subdivide: 
— o ser absoluto: Teodicéia. 
— o ser homem: Antropologia Filosófica. 
— o ser físico-material: Cosmologia. 
 
• A ação ou produção humana no mundo é o terceiro campo da 
Filosofia: aquilo que o espírito humano produz no seu existir no mundo. São 
diversos aspectos: 
— princípios e regras de conduta, costumes e atitudes: a Ética. 
— produção da emotividade humana, criação artística: a Estética. 
— relações com o seu semelhante, vida comunitária: Filosofia Social 
(Política). 
— relações com a transcendência, a vida religiosa: Filosofia da 
Religião. 
— produção transformadora do meio, a cultura: Filosofia da Cultura. 
— desenvolvimento humano no espaço e no tempo, a história: 
Filosofia da História. 
 
De toda essa classificação formamos o seguinte quadro: 
1. Gnosiologia 
Lógica, Teoria do Conhecimento, Filosofia da Ciência, Filosofia da 
Linguagem. 
 
2. Metafísica 
Metafísica Geral (Ontologia) 
Metafísica Especial: Teodicéia, Antropologia Filosófica, Cosmologia. 
 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
89 
3. Axiologia 
Ética 
Estética 
Filosofia Social 
Filosofia da Religião 
Filosofia da Cultura 
Filosofia da História 
 
Além do esquema acima, que trata dos temas mais centrais da 
filosofia, há ramos mais específicos e especializados (como nas ciências): 
• Filosofia da Educação 
• Filosofia do Direito 
Ou muito específicos: Filosofia da Matemática. 
 
3.1.2 Lógica 
 
O conhecimento humano pode ser considerado sob vários aspectos. 
Um primeiro aspecto do conhecimento é a sua forma interna. Melhor 
dizendo: é o conhecimento como pensamento, como uma operação 
estritamente mental. A ciência filosófica que tem por objeto o pensamento 
como uma operação mental simplesmente é a Lógica. 
No nosso linguajar cotidiano, usamos com muita frequência a palavra 
‘lógica”. Assim dizemos: “mas é claro, é lógico” ou “que falta de lógica!”, 
“a tua conversa não tem lógica”. 
Quando estamos falando de “lógica”, estamos nos referindo a um 
pensamento correto, à coerência de raciocínio. 
É justamente disso que trata a Lógica, disciplina filosófica: do 
pensamento correto, da coerência de raciocínio. 
Note-se que a mente ou a inteligência humana é naturalmente lógica. 
A inteligência já é estruturada naturalmente para pensar de uma forma 
organizada, coerente. Então não é preciso estudar filosofia (Lógica) para 
pensar logicamente. O homem da roça pensa logicamente. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
90 
A filosofia, no caso a disciplina filosófica chamada “Lógica”, tem por 
objetivo estudar de modo científico o funcionamento da inteligência, o modo 
de pensar, sua estrutura e expressão, enfim, o raciocínio. 
Normalmente, há falta de lógica em 3 situações: 
— por patologia mental. 
— por situações emocionais (quando temos fortes emoções, o nosso 
raciocínio não funciona; quando não gostamos de alguém costumamos faltar 
à lógica). 
— por falta de consciência e atenção (às vezes não nos damos conta 
de que não somos lógicos). 
Então, a Lógica como ciência filosófica refere-se à terceira situação, 
pode corrigir este aspecto. 
Segundo Sextus Empiricus, a palavra “Lógica” teria sido empregada, 
pela primeira vez, não por Aristóteles, mas pelo acadêmico 
Xenócrates. De acordo com D. Ross, Alexandre foi o primeiro 
escritor a empregar o termo ‘Logiké’, no sentido de lógica. O termo 
utilizado por Aristóteles, para designar o estudo do raciocínio, é 
‘analítico’. O Estagirita, no entanto, embora possa não ter sido o 
primeiro a empregar o vocábulo, é unanimemente reconhecido como 
o fundador da Lógica, seu maior título de glória. 
No séc. II d.C., Alexandre de Afrodísia reuniu as obras lógicas de 
Aristóteles sob a designação geral de ‘Organon’, com a qual passaram 
a ser conhecidas. O Organon aristotélico inclui os seguintes tratados: 
Categorias, Da Interpretação, Primeiros Analíticos, Segundos 
Analíticos, Tópicos e Argumentos Sofísticos. A seqüência desses 
tratados corresponde à divisão do objeto da Lógica, que estuda as três 
operações da inteligência, o conceito, o juízo e o raciocínio.64 
 Percebe-se a importância da sistematização aristotélica para o estudo 
da estruturação do pensamento humano. “A Lógica de Aristóteles, aquela de 
suas obras que tem por título Organon, não só é a primeira sistematização 
na filosofia ocidental, como foi, durante muitos séculos, padrão, modelo e 
texto permanente”.65 
 
 
64 CORBISIER, Roland. Enciclopédia filosófica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 
166. 
65 ALMEIDA, Vieira de. Introdução à Filosofia. Coimbra: Almedina, 1981, p. 107. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
91 
Para revisar: 
— quem usou pela primeira vez a palavra “lógica”? 
— quem é considerado o fundador da Lógica? 
— com que obras? Qual é o nome geral dessas obras? 
— que estuda a Lógica de Aristóteles (as 3 operações da inteligência)? 
— qual foi a importância da Lógica de Aristóteles? 
 
3.1.3 Lógica uma ciência formal: objeto de estudo 
 
De acordocom São Tomás:“A Lógica é uma ciência racional, não só 
porque procede da razão, característica comum de todas as artes e de todas 
ciências, mas também porque tem o próprio ato da razão como matéria de 
seu estudo”.66 
O objeto da Lógica é, pois, a razão, o estudo da razão, sua estrutura, 
seu funcionamento. 
Mais precisamente, diz São Tomás, que a matéria de estudo da Lógica 
é o “ato próprio da razão”. E qual é o “ato próprio da razão”? É o 
pensamento. A filosofia pergunta, pois, se o pensamento obedece ou não a 
regras, possui ou não normas, princípios e critérios para seu uso e 
funcionamento. Para Corbisier, a “lógica é a ciência ou propedêutica 
científica, que tem por objetivo o estudo da razão, entendida como 
pensamento e como palavra, e a determinação de suas formas e de suas 
leis”.67 
A lógica é também definida como “a ciência do pensamento formal”. 
“Formal”, significa aqui o pensamento em si, independentemente de sua 
referência à realidade. “A Lógica formal distingue os raciocínios 
verdadeiros dos raciocínios falsos, independentemente do seu conteúdo. Não 
 
66 TOMÁS DE AQUINO. Comentario de los Analíticos Posteriores de Aristóteles. 
Trad. de Ana Mallea e Marta Daneri-Rebok. Pamplona: EUNSA, 2002, 1. 
67 CORBISIER, Roland. Enciclopédia filosófica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 
166. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
92 
se preocupa com a matéria sobre a qual se apóia o raciocínio, mas apenas 
com a forma”.68 
Trata-se das “formas” de pensar e não do conteúdo do pensar. A 
Lógica trata da correção do pensamento e não da sua verdade: se um 
pensamento é correto e não se é verdadeiro. 
Para entendermos melhor o que significa “formal”, vejamos um 
exemplo de dois silogismos: 
 
“Todos os homens são mortais. 
Pedro é homem. 
Logo, Pedro é mortal”. 
 
A Lógica é clara: se afirmamos um atributo de um todo e um indivíduo 
pertence a este todo, então necessariamente o indivíduo terá esse atributo. 
 
“Todos os alunos do 1º Ano são paranaenses. 
O Cícero é aluno do 1º Ano. 
Logo, Cícero é paranaense. 
 
O raciocínio acima sob o aspecto formal está correto; mas sob o 
aspecto material não. Se é verdadeiro é preciso verificar. 
 
3.1.4 Lógica: uma ciência propedêutica e o seu conteúdo 
 
A Lógica não é considerada como propriamente uma parte da 
Filosofia, mas uma condição para a Filosofia. Assim era para Aristóteles e 
assim para S. Tomás. É uma condição não só da Filosofia, mas de toda e 
qualquer ciência. Todas as ciências pressupõem um bom uso do raciocínio, 
portanto, pressupõem a Lógica. 
 
68 CHARBONEAU, Paul-Engene. Curso de Filosofia. Lógica e Metodologia. São 
Paulo: EPU, 1986, p. 19. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
93 
Para Aristóteles, a Lógica não é propriamente uma ciência mas um 
instrumento, um organon, do qual todas as ciências se utilizam, uma 
propedêutica de qualquer ramo do conhecimento epistemológico. De 
fato, o conhecimento só é científico, ou epistemológico, quando, além 
de universal, é também metódico e sistemático, quer dizer, lógico. 
Distinguindo-se das demais ciências, a Lógica se apresenta não só 
como método, ou “caminho”, que as ciências trilham para encontrar e 
conhecer seu objeto, mas também como característica geral ou 
“forma” do conhecimento científico.69 
“A Lógica, de certo modo, mais que ciência filosófica, é um 
instrumento introdutório e necessário para a filosofia e as ciências” (“non 
est tam scientia quam scientiae instrumentum”São Tomás: in Metaph. I, 1 
[32]; I,3 [57]). 
Assim, 
Para Aristóteles, a lógica não era uma ciência teorética, nem prática 
ou produtiva, mas um instrumento para as ciências. Eis por que o 
conjunto das obras lógicas aristotélicas recebeu o nome de Órganon, 
palavra grega que significa instrumento. Um estudioso do Órganon 
verá que a lógica aristotélica possui as seguintes características: 
• instrumental: é o instrumento do pensamento e da linguagem para 
pensar e dizer corretamente a fim de verificar a correção do que está 
sendo pensado e dito; 
• formal: não se ocupa com os conteúdos pensados ou com os objetos 
referidos pelo pensamento, mas apenas com a forma pura e geral dos 
pensamentos, expressos por meio da linguagem; 
• propedêutica ou preliminar: é o que devemos conhecer antes de 
iniciar uma investigação científica ou filosófica, pois somente ela 
pode indicar os procedimentos (métodos, raciocínios, demonstrações) 
que devemos empregar para cada modalidade de conhecimento; 
• normativa: fornece princípios, leis, regras e normas que todo 
pensamento deve seguir se quiser ser verdadeiro; 
• doutrina da prova: estabelece as condições e os fundamentos 
necessários de todas as demonstrações. Dada uma hipótese, permite 
verificar as consequências necessárias que dela decorrem; dada uma 
conclusão, permite verificar se é verdadeira ou falsa; 
 
69 CORBISIER, Roland. Enciclopédia filosófica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 
167. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
94 
• geral e temporal: as formas do pensamento, seus princípios e suas 
leis não dependem do tempo e do lugar, nem das pessoas e 
circunstâncias, mas são universais, necessárias e imutáveis.70 
Com relação ao conteúdo da lógica, podemos sintetizar nos seguintes 
pontos: 
 
a) elementos lógicos: conceito, juízo, raciocínio; 
— conceito: apreensão mental de um objeto (também nominado 
“simples apreensão”); 
— juízo: união de dois conceitos (os juízos podem ser afirmativos, 
negativos, contrários, contraditórios); 
— raciocínio: é a união de juízos. O raciocínio na Lógica chama-se 
‘silogismo”. Há uma variedade de tipos de silogismos e suas regras. 
Exemplo: 
“Todos os homens são vertebrados. 
Ora, eu sou vertebrado, 
Logo, eu sou homem”. 
Aparentemente o silogismo está correto, mas formalmente está errado, 
segundo as regras do silogismo. Para conferir, vamos mudar um termo: 
 
“Todos os homens são vertebrados, 
Ora, o meu cão é vertebrado 
Logo, o meu cão é homem”. 
 
b) Processos lógicos: definição, classificação, indução, dedução, 
analogia.71 
 
 
70 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006, p. 183. 
71 Ainda sobre a definição leia: GILES, Thomas Ransom. Curso de iniciação à 
filosofia: ramos fundamentais da filosofia: lógica, teoria do conhecimento, ética, 
política. São Paulo: EPU, 1995, p. 16-17. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
95 
 c) Princípios lógicos: princípio de contradição, princípio de 
identidade, princípio de exclusão do terceiro termo, princípio de razão 
suficiente. 
 
3.1.5 Lógica Matemática: lógica Simbólica ou logística 
 
No final do século passado pretendeu-se construir um novo tipo de 
Lógica que deveria ser puramente científica, totalmente desvinculada da 
Filosofia: a Lógica simbólica (matemática), formulada por George Boole 
(Laws of Thought - 1854) e Gottlob Frege (1879), e que foi mais elaborada 
por Alfred North Whitehead, Bertrand Russel e muitos outros. 
A lógica simbólica tem por objetivo estudar os processos que se fazem 
em qualquer ciência, sobretudo os processos de indução e dedução, e que são 
expressos por intermédio de uma, forma, artificial, matemática linguagem. 
Pretende-se demonstrar que as operações mentais podem ser reduzidas a 
cálculos (por isso chama-se “matemática”), os quais podem ser 
caracterizados por intermédio de símbolos da linguagem (por isso chama-se 
“simbólica”). Faz das operações mentais como que operações algébricas. 
 
• Indicação de leitura: 
ANZENBACHER, Arno. Introducción a la Filosofia. Barcelona: Herder, 
1983, p. 185-208. 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 96-107. 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006 , p. 179-205. 
CORBISIER, R. Enciclopédia Filosófica, p. 166-176. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 
303-313. 
FERRATER MORA, J., Diccionário de Filosofia, vol. 3, 2002-2015. 
GILES, Thomas Ransom. Ramos Fundamentais da Filosofia:lógica, teoria 
do conhecimento, ética, política. São Paulo, EPU, 1995, p. 11-56. 
 MORUJÃO, A. F. “Lógica”. In: Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de 
Filosofia, vol. 3. Lisboa: Editorial Verbo, 1992, col. 444-456. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
96 
OLSCAMP, Paul, J. Introdução à Filosofia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos 
e Científicos, 1980, p. 3-92. 
SOUZA ALVES, V. de. “Lógica Matemática”. In: Logos. Enciclopédia 
Luso-Brasileira de Filosofia, vol. 3. col. 459-473. 
TELES, Antônio Xavier. Introdução ao Estudo da Filosofia. São Paulo: 
Ática, 1985. p.153-157. 
TOBIAS, José Antonio. Iniciação à Filosofia. Presidente Prudente, Editora 
do Unoeste, 1986, p. 27-52. 
 
3.2 TEORIA DO CONHECIMENTO 
 
O conhecimento — uma operação mental tão comum, tão usual, mas, 
olhando mais de perto, tão complexa, tão misteriosa! 
Que é conhecer? A princípio poderíamos dizer que conhecer é como 
tirar fotografias da realidade. Que é fotografia? É uma imagem, uma 
semelhança com a realidade, mas não é a realidade (você não pode conversar 
com a pessoa da foto, pode perfurar que não acontece nada). Assim é o 
conhecimento: tem a ver alguma coisa com a realidade, mas não é a própria 
realidade. Adiante: a fotografia é um processo químico. O conhecimento é 
um processo químico no cérebro? A princípio, as nossas sensações visuais 
são como uma máquina fotográfica (lente-cristalino, retina-filme). Mas é 
algo a mais: os nossos conhecimentos não são só imagens; são ideias, 
relações. 
Que significa conhecer, afinal? É evidente que no conhecimento, o eu 
— o “sujeito” — trava uma relação com uma realidade fora dele — o 
“objeto”. Mas qual é a natureza dessa relação? Parece que o sujeito 
“transporta” o objeto para dentro de si. Mas o que mesmo do objeto está em 
mim? É o objeto mesmo ou sua aparência apenas? O que a “ideia” tem do 
objeto? No fim do questionamento sobre o conhecimento está a pergunta 
sobre a verdade. O que é verdade? O homem é capaz de verdade? 
Eis a problemática do conhecimento que é tratada na disciplina Teoria 
do Conhecimento (ou ainda, “Crítica do Conhecimento” ou “Gnosiologia”). 
 
 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
97 
TEORIA DO CONHECIMENTO DIFERENCIAÇÃO DA LÓGICA 
 
— A Lógica trata do conhecimento em si, internamente (melhor 
dizendo: do pensamento), sua estrutura, sua correção, sem considerar a sua 
referência a um objeto. 
— A Teoria do Conhecimento trata do conhecimento enquanto 
referido a um objeto. 
— A Lógica trata do conhecimento (pensamento) no aspecto formal 
(forma, estrutura), sem ater-se propriamente a seu conteúdo. 
— A Teoria do conhecimento trata do conhecimento no aspecto 
material, isto é, seu conteúdo. Mais simplesmente: 
— A Lógica trata do pensamento (pois, “pensamento” é sempre uma 
operação mental). 
— A Teoria do Conhecimento trata do conhecimento (pois o 
conhecimento é sempre objetivo, sempre o conhecimento de alguma coisa). 
 
3.2.1 A problemática do conhecimento: um pequeno histórico 
 
O tema do conhecimento constante à História da Filosofia, desde o seu 
início, mas adquiriu enorme peso na época moderna, principalmente no 
Racionalismo, Empirismo e, especialmente, em Kant, que questionou a 
fundo o conhecer humano na sua obra Crítica da Razão Pura. 
Para Platão, o conhecimento sensível é apenas ocasião para a 
inteligência recordar os conhecimentos que já possuía, visto que a alma se 
origina do “Mundo das Ideias”, caindo depois num corpo material que a 
escraviza e obscurece. 
A filosofia aristotélica é mais realista: a inteligência é 
fundamentalmente uma “tabula rasa”, sem nenhum conteúdo, e todo o 
conhecimento é adquirido. Ele é adquirido através da experiência (nihil est 
in intellectu quod prius in sensibus non erat72). O conhecimento sensível 
fornece a imagem ao “intelecto ativo” que ilumina a imagem captando a sua 
“forma”, isto é, o essencial, formando assim o conceito abstrato. O conceito 
 
72 Tradução: Nada está no intelecto que não tenha estado antes nos sentidos. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
98 
é diferente da imagem sensível: esta é material e sempre do singular, o 
conceito é abstrato e sempre universal. Através dos conceitos a inteligência 
faz a ciência (unindo-os em juízos e representados em proposições e 
raciocínios). 
A filosofia tomista segue o aristotelismo nesse ponto. 
No início da época moderna, Descartes (Racionalismo) desconfiou da 
experiência sensível: esta, por si só, não nos fornece nenhuma certeza 
confiável. Há em Descartes uma volta ao platonismo: nossa inteligência 
possui conteúdos próprios, independentes e anteriores à experiência (estas 
são: a existência do ego, a alma, Deus, o mundo, além das ideias 
matemáticas). Essas ideias próprias da inteligência são o fundamento de toda 
a certeza. 
Ao Racionalismo se opõe o Empirismo (Hobbes e sobretudo Hume). 
O Empirismo revaloriza o aristotelismo: a nossa mente é de fato uma “tabula 
rasa”, e todo o nosso conhecimento provém da experiência sensível. Mas, 
em diferença da filosofia clássica, o nosso conhecimento é só conhecimento 
sensível, empírico. No aristotelismo-tomismo o conhecimento sensível 
fornece o material para um conhecimento de nível diferente, o conhecimento 
intelectivo-espiritual. No Empirismo, a inteligência não é uma faculdade 
superior, mas é a memória que armazena e associa mecanicamente as 
imagens sensíveis. O conceito é apenas associação-reunião de diversas 
imagens. 
Immanuel Kant (século XVIII) faz uma síntese do Racionalismo e 
Empirismo: o nosso conhecimento tem elementos tanto a posteriori (isto é, 
tirados da experiência), como a priori (isto é, próprios da mente). 
Começando pelo conhecimento sensível: os sentidos fornecem-nos algo 
vago e indefinido, chamado ‘fenômeno”. A nossa sensibilidade tem duas 
“formas” a priori que enquadram esse material que vem dos sentidos: são o 
tempo e o espaço, duas formas em si só “vazias”, mas que servem para 
perceber o mundo externo, fornecido pelos sentidos. 
Daí o entendimento constitui e organiza o que nos é fornecido pelo 
conhecimento sensível. Mas de novo aqui existe um elemento a priori, isto 
é, as categorias do entendimento. São em número de doze: unidade, 
pluralidade, totalidade, realidade, negação, limitação, substancialidade, 
causalidade, reciprocidade, possibilidade, existência e necessidade ), que 
são em si só “vazias” e que adquirem conteúdo com o que vem de fora, isto 
é, do conhecimento sensível. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
99 
Vemos, portanto, como Kant é uma síntese: o nosso conhecimento é 
ao mesmo tempo objetivo (porque seu conteúdo vem de fora) e subjetivo 
(porque a mente acrescenta algo de próprio ao que vem de fora). O nosso 
conhecimento é dos fenômenos, mas estes fenômenos são elaborados pelo 
entendimento. 
Outra coisa importante em Kant: o nosso conhecimento é só dos 
“fenômenos”, isto é, das aparências das coisas, como elas se manifestam ao 
cognoscente. Não conhecemos as coisas em si, “noumenon”. Muito menos 
conhecemos as coisas que não são fenomênicas, isto é, que não são colhidas 
pelos sentidos, p.ex., Deus, bem-mal, alma, etc. 
Após Kant, toda a filosofia é opção dessas posições que citamos, 
sendo que o Idealismo é o máximo do Racionalismo e o Materialismo o 
máximo do Empirismo. 
 
3.2.2 Teoria do conhecimento: objeto 
O objeto geral da Teoria do conhecimento é a investigação do ato de 
conhecer humano, mas esta investigação envolve vários aspectos ou vários 
pontos. Esses aspectos são: 
— a possibilidade do conhecimento. 
— a essência ou natureza do conhecimento. 
— a origem do conhecimento 
— as fontes do conhecimento 
— as espécies de conhecimento, etc. 
Todos esses aspectos estão, no entanto, correlacionados, 
interdependentes entre si. Assim, segundo Teles:“Teoria do Conhecimento 
vem a ser o estudo reflexivo e crítico da origem, da natureza, dos limites e 
do valor do conhecimento”.73 
A Gnosiologia (gr. “gnosis” = conhecimento + “logia” = ciência) 
estuda a essência do conhecimento,a possibilidade de conhecer a realidade, 
as origens ou fontes do conhecimento, as formas ou espécies em que se 
 
73 TELES, A. X. Introdução ao estudo da filosofia. São Paulo: Ática, 1985, p. 66. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
100 
reveste o conhecimento, bem como a validade do conhecimento em geral, 
isto é, o que é a verdade e qual o seu critério.74 
 
3.2.3 Possibilidade do conhecimento 
 
A primeira questão, pois, em relação ao conhecimento é sobre a sua 
possibilidade. 
Podemos conhecer as coisas ou não? Conhecemos ou nos enganamos? 
A nossa mente é capaz de atingir as coisas ou atinge só a si mesma? 
As posições em torno da questão são muito variadas, conforme a 
intensidade do “não” ou do “sim”. 
— A posição filosófica que nega a possibilidade do conhecimento é 
chamada de ceticismo. O ceticismo absoluto é autocontraditório. 
— A posição positiva frente à capacidade de conhecer podemos 
chamá-la de realismo. É assim, por exemplo, a posição de Aristóteles ou de 
São Tomás e de muitos outros: a capacidade da nossa mente é positiva, 
podemos conhecer as coisas em si. Mas mesmo nessa posição, admite-se um 
trabalho da mente: no caso de Aristóteles e de São Tomás, esse trabalho é o 
de abstração. A mente conhece por abstração. 
Uma posição intermediária é a de Kant: 
O mundo fenomênico que conhecemos é um mundo formado pela 
nossa consciência. Nunca podemos conhecer como o mundo está 
constituído em si, pois logo que tratarmos de conhecer as coisas, 
introduzimo-las, por dizer, nas formas a priori da consciência. Desta 
maneira não temos perante nós a coisa em si, o númeno, mas a coisa 
como se nos apresenta ou seja, o fenômeno.75 
Outra questão intimamente conexa com esta é a questão da essência 
ou natureza do conhecimento. 
 
 
74 BAZARIAN, J. O Problema da Verdade. Teoria do Conhecimento. São Paulo: 
Alfa e Omega, 1985, p. 41. 
75 BAZARIAN, J. O Problema da Verdade. Teoria do Conhecimento. São Paulo: 
Alfa e Omega, 1985, p. 79. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
101 
3.2.4 Essência ou natureza do conhecimento 
 
No plano gnosiológico estuda-se a essência do conhecimento e da 
relação cognoscitiva do sujeito com o objeto, e indaga-se qual o fator 
primário e determinante no conhecimento humano: o objeto ou o 
sujeito? A realidade ou a consciência? É a consciência um reflexo e 
reprodução do objeto, ou, ao contrário, o objeto é um reflexo e uma 
reprodução de nossa consciência? É a consciência determinada pelos 
objetos e suas propriedades, ou estas são produzidas pela nossa 
consciência?76 
As respostas a essas questões dividem duas posições filosóficas: o 
idealismo e o realismo, que encerram inúmeras variantes. Em suma, o 
idealismo afirma que a consciência cria o objeto, e o realismo afirma que a 
consciência reflete ou reproduz o objeto. 
Essa questão é, talvez, a mais fundamental em relação ao 
conhecimento. No que, de fato, consiste o conhecimento? É representação 
ou constituição da realidade? O objeto que está na nossa consciência reflete 
o objeto real, ou é ele inteiramente criado pela nossa mente? Somos neutros 
perante o objeto ou nós criamos o objeto? 
 
3.2.5 Origem ou fontes do conhecimento 
 
O conhecimento tem sua origem na experiência ou no puro 
pensamento? Ou na combinação dos elementos de ambas as fontes: 
experiência sensível e razão? Eis as alternativas que colocam as principais 
teorias acerca da origem do conhecimento humano. 
Platão dizia que a alma possui em si todas as ideias. 
O Empirismo considera que a fonte única do conhecimento é a 
experiência sensível; adota ao pé da letra o ditado: “nihil est in intellectu 
quod prius in sensibus non erat”77. 
O Racionalismo e o Idealismo admitem que o verdadeiro 
conhecimento provém unicamente da razão. 
 
76 BAZARIAN, J. O Problema da Verdade. Teoria do Conhecimento. São Paulo: 
Alfa e Omega, 1985, p. 53. 
77 Tradução: Nada está no intelecto que não tenha estado antes nos sentidos. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
102 
O intelectualismo aristotélico-tomista faz uma síntese entre as duas 
coisas: a fonte primária do conhecimento é a sensação, mas a inteligência 
elabora a sensação, produzindo um conhecimento de nível essencialmente 
diferente, o conhecimento intelectual. 
O apriorismo kantiano faz igualmente uma síntese entre os dois 
elementos, embora sob uma perspectiva inteiramente diferente da filosofia 
aristotélico-tomista. 
 
3.2.6 Espécies (ou formas) de conhecimento 
 
A filosofia clássica distinguia duas espécies de conhecimento: 
a) O conhecimento sensível (chamado às vezes de “intuição sensível”: 
é a percepção direta dos objetos através de imagens sensíveis; sempre 
concreto e individual. 
b) O conhecimento intelectual (ou intelectivo): é por abstração, 
sempre universal, mediado por conceitos. O conhecimento intelectual inicia-
se com o conhecimento sensível, mas o supera por operações próprias da 
inteligência. É o que constitui a ciência (“a ciência é dos universais”). 
Algumas filosofias (Bergson, Scheler, Husserl e outros) propõem um 
terceiro modo de conhecer. Além dos sentidos e da inteligência, não haveria 
um modo de conhecer, de caráter espiritual, mas trans-intelectual (porém não 
sobrenatural), que permite ao homem colher a realidade em toda a sua 
riqueza? Teríamos então: 
c) O conhecimento intuitivo: imediato e unitário (que não fragmenta a 
realidade em conceitos). Mais do que “conhecer”, seria um “sentir” um 
objeto, “entrar dentro” dele (etimimologia “intra+ire”). Bergson o define 
assim: “chamamos de intuição a simpatia por meio da qual nos 
transportamos para o interior de um objeto a fim de coincidir com o que ele 
possui de único e, pois, de inexprimível”.78 
O conhecimento intuitivo já era proposto na filosofia medieval: Santo 
Agostinho fala da illuminatio, conhecimento por iluminação. E muitos o 
seguem. 
 
78 BAZARIAN, J. O Problema da Verdade. Teoria do Conhecimento. São Paulo: 
Alfa e Omega, 1985, p. 181. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
103 
A filosofia aristotélico-tomista recusa, porém, a intuição: o 
conhecimento intuitivo simplesmente não existe: o nosso conhecer é sempre 
parcial, fragmentário, muito mais pobre que a realidade. São Tomás fala da 
“visão beatífica”, na outra vida, quando perceberíamos as coisas na sua 
totalidade, sem nenhum esforço. 
 
• A verdade 
Todos os problemas, até aqui examinados e relativos à origem, à 
possibilidade, ao alcance, às formas e à essência do conhecimento 
humano, objetivam, em última instância, o problema da verdade. 
Todo o esforço do pensamento humano se exerce no sentido de 
descobrir a verdade. Tanto no ato do próprio pensar, quanto no agir, 
tanto no conhecimento vulgar como na Ciência e na Filosofia. Mas 
aparece, como problema preliminar à própria verdade, o problema dos 
critérios que possam certificar a certeza e a verdade.79 
 
• Indicação de leitura: 
AMADO, João - GAMA, João - MORÃO, Artur. O Prazer de Pensar - 11º 
Ano de Filosofia, p. 13- 64 (obs. há aqui bons textos para analisar!). 
ANZENBACHER, Arno. Introducción a la Filosofia. Barcelona: Herder, 
1983, p. 144-175. 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 165-184. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas 
de Filosofia. São Paulo, Moderna, 1991, p. 47-88. 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006, p. 109-178; 
90-108. 
GILES, Thomas Ransom. Ramos Fundamentais da Filosofia. São Paulo: 
EPU, 1995, p. 57-62. 
LUCKESI, Cipriano Carlos - SILVA PASSOS, Elizete. Introdução à 
filosofia, p. 13-69. 
 
79 MARTINS, J. Salgado. Preparação à filosofia. Porto Alegre: Globo, 1981, p. 68. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
104 
MANDRIONI. Introducción a la filosofia. Buenos Aires: Kapelusz, 1969, p. 
108-126. 
MARTINS, João Batista. Questões fundamentais da filosofia. São Paulo: 
Fesan, 1983, p. 67-83. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras.São Paulo: Paulus, 1980, p. 19-34. 
RAIMUNDO DOS SANTOS, Antonio in aavv. Para Filosofar, São Paulo, 
Scipione, 1995, p. 22-40. 
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo, Saraiva, 1989, p. 65-
134. 
TELES, Antônio Xavier. Introdução ao Estudo da Filosofia. São Paulo: 
Ática, 1985. p.65-74. 
 
3.3 FILOSOFIA DA CIÊNCIA (EPISTEMOLOGIA) 
 
Um ramo especializado da Gnosiologia é a Filosofia da Ciência, 
também chamada às vezes de Espistemologia. 
Como o nome indica, Filosofia da Ciência tem por objeto a ciência 
experimental e é uma reflexão crítica sobre os fundamentos do saber 
científico. 
 
3.3.1 Filosofia da ciência: contexto histórico 
 
A Filosofia da Ciência veio a desenvolver-se a partir dos anos 20 do 
século XX, sobretudo no movimento chamado neopositivismo. 
O neopositivismo, representado principalmente pelo “Círculo de 
Viena” (Rudolf Carnap, Moritz Schlick, Hans Reichenbach), seguindo o 
positivismo clássico de Augusto Comte (século XIX), afirmava que o 
conhecimento científico, fundamentado sobre a experiência empírica, é o 
único conhecimento válido. O “princípio da verificação” é critério da 
significância, que delimita a esfera das “proposições sensatas” (científicas) e 
“proposições insensatas”, que são apenas expressões de nossas emoções. A 
única função da filosofia é, então, tratar das proposições sensatas, cuidar que 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
105 
a ciência se estabeleça sobre bases rigorosas. A única filosofia possível é, 
então, a Filosofia da Ciência, com a sua “atividade clarificadora da 
linguagem (científica). 
Karl Popper (1902-1994) investe com veemência contra as teses do 
“Círculo de Viena”, sua concepção da ciência, sua negação da metafísica. 
Popper põe em cheque os princípios fundamentais da ciência, dizendo que 
“a indução não existe e a concepção oposta é grande erro”. Analisando os 
pressupostos da ciência, Popper faz ver que não há um conhecimento 
científico puro e que a nossa mente não é uma pura “tabula rasa”, mas em 
toda a experimentação existem preocupações, expectativas e ideias prévias. 
Popper também nega a tese de que só as proposições verificáveis 
(experimentais) são dotadas de sentido. 
Enfim, Popper defende que a ciência é importante, mas nunca pode 
ser dogmática e erigir-se a dona exclusiva da verdade; muito menos, a ciência 
pode atender a todas as necessidades humanas e não é a única possibilidade 
do homem. 
Após Popper, muitos outros filósofos dedicaram-se à investigação 
sobre os fundamentos da ciência e à relação entre as ciências e outras 
dimensões culturais humanas: por exemplo, Gaston Bachelard, Thomas 
Kuhn, Larry Laudan, Alexander Koyré e outros. 
 
3.3.2 Filosofia da ciência: problemática 
 
A Gnosiologia é uma disciplina que se ocupa com o conhecimento 
humano em geral, enquanto Epistemologia deve ocupar-se só com o 
conhecimento científico e seu método. Foi na segunda parte do século 
XIX que a Epistemologia ganhou corpo como disciplina filosófica e é 
atualmente uma das disciplinas mais importantes, 
Epistemologia é a disciplina filosófica que se ocupa com a forma da 
ciência. Ela indaga sobre as afirmações científicas; por isto mesmo ela 
é uma reflexão crítica, de estilo filosófico, sobre tudo o que a ciência 
faz. Ela é, por conseguinte, uma Filosofia da Ciência. Ela indaga sobre 
os critérios de cientificidade e sobre o método científico. Delimitar o 
campo das ciências experimentais e das não-experimentais, avaliar 
criticamente a natureza e o valor do conhecimento científico, analisar 
e discutir seus princípios, bem como os elementos metodológicos 
Unidade 04 – Antropologia 
 
106 
usados na sua construção, discutir a linguagem usada na ciência, etc., 
estão entre as principais tarefas da Epistemologia.80 
Enfim, os temas fundamentais da Filosofia da Ciência são os 
seguintes: 
— o método da pesquisa científica. 
— os elementos fundamentais da ciência, tais como: observação, 
hipótese, verificação, lei, teoria. 
— a natureza das teorias científicas e sua capacidade de explicar a 
realidade. 
— o papel cultural e social da ciência 
— ciência e ideologia. 
— ciência e outras dimensões da cultura humana: ciência e filosofia, 
ciência e arte, ciência e religião. 
 
• Indicação de leitura: 
AMADO, João; GAMA, João; MORÃO, Artur. O Prazer de Pensar - 11º 
Ano de Filosofia, p. 65-152; 283-326. 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 116-205. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006, p. 247-286. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 
193-209. 
CUNHA, José Auri. Iniciação à Investigação Filosófica. São Paulo: Atual, 
1992, p. 86-99. 
GILES, Thomas Ransom. A filosofia e as ciência exatas ou naturais. São 
Paulo: EPU, 1995. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980, p. 28-33. 
NIELSEN NETO, Henrique. Filosofia básica, p. 6-37. 
 
80 OLIVEIRA, Admardo Serafim de. Introdução ao Pensamento Filosófico. São 
Paulo, Loyola, 1990, p. 195-966 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
107 
OLIVEIRA, Admardo Serafim de e o. Introdução ao pensamento filosófico. 
São Paulo: Loyola, 1990, 4ª ed., p. 189-201. 
OLSCAMP, Paul J. Introdução à Filosofia. Rio de Janeiro, Livros Técnicos 
e Científicos, 1980, p. 415-459. 
 
3.3.3 Filosofia da linguagem 
 
3.3.3.1 Filosofia da linguagem: contextualização 
 
Da mesma forma que a Filosofia da Ciência, também a Filosofia da 
Linguagem é um ramo recente da Filosofia. Embora houvesse interesse pela 
linguagem humana em épocas anteriores (por exemplo, os gregos: o homem 
— “zoon logistikon”), foi na segunda metade deste século XIX que a 
investigação filosófica interessou-se mais de perto pelo fenômeno da 
linguagem, a tal ponto que certas correntes fizeram da linguagem o único 
prisma da filosofia (toda a filosofia é análise da linguagem). 
A Filosofia da linguagem veio a desenvolver-se após o 
amadurecimento da ciência linguística moderna sendo considerado como seu 
pioneiro o filósofo suiço Ferdinand de Saussure (1857 - 1913). A corrente 
que mais representa a Filosofia da Linguagem é a chamada “Filosofia 
Analítica” e seus vultos maiores são os filósofos: Ludwig Wittgenstein, 
Noam Chomsky, P. F. Strawson, J. L. Austin,Quine, G. Ryle e J. Derrida 
entre outros. 
 
3.3.3.2 Os sentidos da filosofia da linguagem 
 
A Filosofia da linguagem desenvolveu-se em três sentidos: 
a) análise da linguagem formal: a Lógica moderna. 
b) análise da linguagem científica: a Filosofia da Ciência. 
c) análise da linguagem ordinária (ou geral). Esta última é 
propriamente a Filosofia da Linguagem. 
 
Unidade 04 – Antropologia 
 
108 
3.3.3.3 Filosofia da Linguagem: conceitos 
 
A linguagem comporta antes de tudo o esclarecimento de alguns 
conceitos:“É um sistema de signos que possa servir como meio de 
comunicação”.81Ou ainda: “Linguagem é um sistema de signos verbais ou 
palavras, de signos simbólicos e regras para o seu uso, implícita ou 
explicitamente formuladas”.82 
 
• Linguística: é o estudo científico da estrutura dos signos verbais e 
gráficos. Abrange diversos aspectos. 
 
• Filosofia da linguagem: investigação filosófica sobre a natureza e a 
função da linguagem humana. 
 
3.3.3.4 Filosofia da linguagem: problemática 
 
Vários assuntos referentes à linguagem são tratados na Filosofia da 
Linguagem: 
 
• Origem da linguagem: natural ou convencional? 
• Função da linguagem: função representativa (em relação ao objeto); 
função expressiva (em relação ao sujeito); função comunicativa (em relação 
ao outro). 
• Linguagem simbólica e linguagem conceitual. 
 
• Indicação de leitura: 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 10-19. 
 
81 LALANDE, A. Dicionário Técnico Crítico de Filosofia. São Paulo: Martins 
Fontes, 1996, p. 627. 
82 DIZIONARIO DELLEIDEE. Firenze: Sansoni Edit, 1977, p. 621. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
109 
BUZZI, Arcângelo. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 205-
226. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006, pp. 136-150. 
CUNHA, José Auri. Iniciação à Investigação Filosófica. São Paulo: Atual, 
1992, p. 50-75. 
HUISMAN, Denis. Filosofia para principiantes. Lisboa: Publicações Dom 
Quixote, 1984, pp. 133-149. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980, pp. 35-45. 
RENAUD, Michel. “Linguagem”. In: Logos. Enciclopédia Luso-brasileira 
de Filosofia, vol. 3, col. 399-410. 
 
3.4 METAFÍSICA 
 
 Após a questão do conhecimento, o segundo campo da filosofia é o 
campo do ser. O ser é precisamente o objeto do conhecimento. 
 E que é o ser? É tudo o que existe e, mais do que isso, não só o que 
existe, mas também o que pode existir. Ao ser se opõe o nada. A noção do 
ser é a mais universal de todas. Então, tratar do ser em geral, é a filosofia 
mais geral possível (às vezes, no lugar de “Metafísica” se usa “Filosofia 
Geral”). 
 
3.4.1 Metafísica: origem do termo 
 
A palavra ‘Metafísica’ deve a sua origem a uma denominação especial 
na classificação das obras de Aristóteles feita no século I por 
Andrônico de Rodes. Como os livros que tratam da filosofia primeira 
foram colocados na edição das obras do Estagirita a seguir aos livros 
da Física, chamou-se aos primeiros Metafísica, isto é, “aos que estão 
detrás da Física”. Esta designação, cujo sentido primitivo parece ser 
puramente classificador, teve posteriormente um significado mais 
profundo, pois, com os estudos que são objeto da filosofia primeira, 
Unidade 04 – Antropologia 
 
110 
se constitui um saber que pretende penetrar no que está situado para 
além ou detrás do ser físico enquanto tal.83 
 
3.4.2 Metafísica: sentido do termo 
 
O termo “Metafisica” pode ter dois sentidos básicos (que são 
correlatos): 
a) Metafísica = realidade não-física. É o sentido apontado acima 
(Ferrater Mora): “metafísica” é uma realidade não-física, ou melhor, além-
física, não fenomênica. Ainda: o que não pode ser atingido por nenhuma 
experiência ou conhecimento sensório; é apenas objeto do conhecimento 
intelectivo ou que é deduzido pela lógica racional, através do raciocínio 
discursivo. Assim, p.ex., “alma” ou “Deus” são realidades metafísicas. 
b) Metafísica = estudo do ser enquanto ser (Ontologia). É a disciplina 
filosófica — caracterizada a partir de Aristóteles — que trata sobre o ser em 
geral, suas propriedades e seus fundamentos. 
Neste sentido, a “Metafísica” também leva o nome de “Ontologia” 
(grego “ontos” = ser + “logia” = ciência), termo criado pelo filósofo alemão 
Jacob Thomasius, no século XVII. 
 
3.4.3 A metafísica aristotélica: referencial da metafísica universal 
 
A preocupação para entender o ser ou a realidade em geral já existiu 
na antiga filosofia grega, a pré-socrática. No intuito de entender a 
racionalidade da natureza física, às vezes a filosofia transborda para questões 
mais gerais. Por exemplo, alguns filósofos se preocupavam com questão do 
uno e múltiplo. Há um só ser e a multiplicidade das coisas é só aparência, ou 
o ser é múltiplo, isto é, existem realidades diversificadas e não só uma 
realidade. 
Parmênides e Heráclito discutem sobre a questão da identidade e do 
devir. Parmênides dizia que o ser é, idêntico a si mesmo, e a mudança é 
 
83 FERRATER MORA, J. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Dom Quixote, 1991, p. 
260. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
111 
apenas aparente. Heráclito, por sua vez, tinha opinião contrária: não há o ser, 
só existe a mudança. Não há nada que permaneça, “tudo muda” (“panta rei”). 
Platão dividiu a realidade em dois mundos (dualidade platônica): a 
realidade sensível, a matéria, é o “mundo das sombras”, da aparência. O 
verdadeiro ser é ideal: o “Mundo das Ideias”. Daí a sua divisão do 
conhecimento entre “doxa” e “episteme”, correspondendo à sua metafísica 
dualista. 
Mas é Aristóteles que pode ser considerado o “pai da Metafísica” e o 
referencial para toda a especulação metafísica posterior, até os nossos dias.84 
Na sua obra “Metafísica” (recordar: o termo não é dele, é posterior, 
ver acima), Aristóteles define esta parte da filosofia como: “uma ciência que 
estuda o ser enquanto ser”. 
Ela chama esta parte da filosofia de “filosofia primeira”. A 
denominação indica o lugar próprio dessa ciência no contexto de toda a 
filosofia. Ela é “filosofia primeira”, porque investiga os primeiros princípios 
e as primeiras causas (ou últimas) de tudo quanto existe, do ser; ocupa, pois, 
um lugar de preeminência na filosofia. Todos os demais setores da filosofia 
são “filosofia segunda”, dependentes da “filosofia primeira” e por ela 
determinados. 
Portanto, para Aristóteles, a Metafísica é o “coração” e a “alma” de 
toda a filosofia. Ocupando-se da noção mais universal - a do “ser” - a 
Metafísica constitui-se no fundamento de toda a filosofia: aqui é que se 
decide o tipo de filosofia e se plasma a visão geral da realidade. Desta visão 
geral do ser ou da realidade depende a visão dos seres em particular, do 
mundo, do homem, da vida, etc. “É preciso adquirir a ciência das causas 
primeiras. Com efeito, dizemos conhecer algo quando passamos a conhecer 
a causa primeira”.85 
 A parte culminante da Metafísica aristotélica e depois também a de 
São Tomás é a Teologia Natural: a causa primeira e última do ser, que é 
Deus. 
 Conforme dissemos antes, a Metafísica aristotélica tornou-se o 
referencial para toda a filosofia posterior, até hoje. Os assuntos e a 
 
84 Para o aprofundamento da questão veja: ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: 
Loyola, 2002, Livro A (primeiro). 
85 ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002, A 982b. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
112 
terminologia de Aristóteles (ato - potência, essência - existência, substância 
- acidente, as quatro causas) são usados e reelaborados por filósofos 
posteriores até os dias de hoje. 
 
3.4.4 Sistemas filosóficos metafísicos e anti-metafísicos 
 
Levando em consideração toda a história da filosofia, podemos 
classificar todos os sistemas filosóficos em dois grupos: 
 
a) sistemas filosóficos metafísicos: os que admitem a capacidade da 
razão ir além dos fenômenos, do fato empírico. 
Por exemplo: Platão, Aristóteles, a Filosofia Medieval (Santo 
Agostinho, São Tomás), Racionalismo, Idealismo, Fenomenologia, 
Existencialismo. 
 
b) sistemas filosóficos anti-metafísicos: sistemas que negam a 
capacidade da razão humanas ir além do fenômeno, do dado empírico. 
Exemplo: Empirismo, Kant, Positivismo, Neopositivismo, todos os 
materialismos. 
Merece aqui menção especial Kant: dele se diz que “desferiu o golpe 
mortal à Metafísica”. Na sua obra Crítica da Razão Pura, Kant faz uma 
análise profunda das capacidades cognitivas humanas e conclui: “a 
metafísica como ciência é impossível; só há ciência dos fenômenos”.86 
 Kant, no entanto, reconstrói a Metafísica em outras bases na sua obra 
Crítica da Razão Prática: as exigências da Metafísica decorreriam dos 
“postulados práticos” da razão.87 
 Por exemplo, sobre Deus não é possível nenhuma ciência teórica, 
isto é, um saber seguro e fundamentado. No entanto, Deus é uma 
“necessidade prática”, ligando a questão de Deus à questão da moral: sem 
 
86 Cf. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Martim Claret, 2009, p. 
13-27 (introdução). 
87 Cf. KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. São Paulo: Martins Fontes, 2008, 
p. 3-23 (prefácio). 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
113 
Deus, não caberia nenhuma moral e não haveria nenhum sentido para a vida 
humana. 
 
3.4.5 Metafísica: conteúdo básico 
 
Existem várias perspectivas de se desenvolver a metafísica: a clássica, 
baseada na filosofia aristotélico-tomista, a existencialista, a fenomenológica, 
inspirada em Husserl, Heidegger, a personalista, etc. 
Um exemplode estrutura do conteúdo da Metafísica clássica:88 
 
I. Estrutura metafísica do ente: 
– Substância e acidentes 
– Predicamentos 
– Ato e Potência 
– Essência e existência 
 
II. Os Transcendentais: 
– A unidade do ente 
– A verdade 
– O bem 
 
III. As causas 
– Causas material e formal 
– Causa eficiente 
- Causa final 
- Causalidade de Deus e das criaturas 
 
• Indicação de leitura: 
 
88 Cf. Alvira, T. & Clavell, L. & Melendo, T. Metafísica. Firenze: Le Monnier, 1987. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
114 
ARTIGAS, M. Introducción a la Filosofia, pp. 51-59. 
BUZZI, Arcângelo. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 13-
62. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006, pp. 206-246. 
CORBISIER, Roland. Enciclopédia filosófica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 
1987, pp. 197-205. 
MANDRIONI. Introducción a la filosofia. Buenos Aires: Kapelusz, 1969, 
pp. 159-171. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980, p. 71-78. 
PIRES, Celestino. “Metafísica”. In: Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de 
Filosofia, vol. 3, col. 839-846. 
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo, Saraiva, 1989, p. 232-
252. 
TOBIAS, José Antonio. Iniciação à Filosofia. Presidente Prudente, Editora 
do Unoeste, 1986, p. 97-100. 
 
3.5 TEODICEIA 
 
3.5.1 Teodiceia: esclarecimento de terminologia 
 
Teodicéia (grego Theos + diké = “justificação de Deus): o termo foi 
criado por Leibniz como título de uma obra sua Ensaios de Teodiceia: sobre 
a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal (1710). O 
assunto de Leibniz era restrito: tratava-se de como “justificar” a sabedoria e 
bondade de Deus perante a presença do mal no mundo.89 
Posteriormente, o significado do termo foi ampliado para designar o 
tratado filosófico geral sobre Deus, tornando-se assim sinônimo de 
“Teologia Natural”. É o menos adequado dos termos, mas é hoje amplamente 
usado. 
 
89 Cf. LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Ensaios de Teodiceia: sobre a bondade de Deus, 
a liberdade do homem e a origem do mal. São Paulo: Estação liberdade, 2013. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
115 
 
• Teologia Natural: o termo começou a ser usado, a partir do século 
XVII, para distinguir o tratado filosófico sobre Deus da Teologia cristã, que 
começara a ter grande sistematização nos tratados escolásticos. 
Provavelmente encontra-se pela primeira vez no De augmentis scientiarum 
de Francis Bacon (1623). Ele denomina “Teologia Natural” o conhecimento 
que se pode obter de Deus “por meio da luz natural da razão ou da 
contemplação das coisas criadas”; a “Teologia sagrada ou inspirada” é a que 
se fundamenta sobre princípios ou dados diretamente revelados por Deus. 
E no que se refere à Filosofia Divina ou Teologia Natural, diremos 
que é esse conhecimento ou rudimento de conhecimento acerca de 
Deus que se pode obter da contemplação de suas criaturas, 
conhecimento que, em verdade, se pode chamar divino em relação ao 
objeto e natural em relação à luz. Os limites deste conhecimento são 
suficientes para refutar o ateísmo, mas não para informar a religião. 
Assim, Deus jamais fez um milagre para converter um ateu, porque a 
luz da natureza teria bastado para fazê-lo confessar a existência de um 
Deus; mas foram feitos milagres para converter os idólatras e 
supersticiosos, porque nenhuma luz natural chega a manifestar a 
vontade e o culto verdadeiro de Deus. Pois, assim como toda obra 
reflete o poder e a habilidade do trabalhador, e não sua imagem, o 
mesmo ocorre nas obras de Deus que mostram a onipotência e a 
sabedoria do Fazedor, mas não sua imagem. E daí que nisso difira a 
opinião pagã da verdade sagrada, pois os pagãos acreditavam que o 
mundo fosse imagem de Deus, e o homem, um compêndio ou imagem 
condensada do mundo; mas as Escrituras nunca atribuem ao mundo 
essa honra de ser imagem de Deus, mas sim apenas obra de suas mãos 
(Sl 8,49; nem falam tampouco de nenhuma outra imagem de Deus, 
afora o homem. Por conseguinte, inferir da contemplação da natureza 
e confirmar a existência de Deus, e demonstrar seu poder, providência 
e bondade, é excelente argumentação, e tem sido excelentemente 
desenvolvida por várias pessoas. Mas, por outro lado, inferir da 
contemplação da natureza, ou sobre a base dos conhecimentos 
humanos, qualquer certeza ou convicção relativa às questões de fé não 
é, a meu juízo, seguro: Da fidei quae fidei sunt [Dá à fé o que é da 
fé]90. 
 
90 FRANCIS BACON. O progresso do conhecimento. São Paulo: UNESP, 2007, p. 
39-40. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
116 
A denominação da disciplina filosófica sobre Deus é relativa: há quem 
prefira chamá-la simplesmente de “Questões Filosóficas sobre Deus”. 
 
3.5.2 Teodiceia: coroamento da metafísica 
 
Vejamos a perspectiva de Jacques Maritain: 
Metafísica estuda o ser enquanto ser; mas por isso mesmo deve 
estudar a causa do ser: eis a razão por que a sua parte mais elevada, 
que é por assim dizer a sua coroa, tem por objeto Aquele que é o 
próprio Ser subsistente. Chamam a esta parte da Metafísica Teologia 
Natural”.91 
Para o aprofundamento da questão, vejamos o que apresenta Brugger, 
no Dicionário de filosofia: 
De acordo com Aristóteles, vemos que o metafísico se apresenta em 
duas formas. Primeiramente, há alguma coisa que não pode ser objeto 
de experiência e que está entranhado no experimentável como seu 
âmago mais íntimo: o ser indeterminado ou geral que penetra ou 
domina todo ente. Existe, em seguida, um Inexperimentável que 
ultrapassa o empírico como sua origem primeira: o Ser infinito e 
divino, criador de todo o ente finito. Com isto se indicam os dois 
ramos da Metafísica. A doutrina do ser considera todo o ente desde o 
ponto de vista do ser, em geral, indagando-lhe a essência, 
propriedades e leis; dá-se-lhe ordinariamente o nome de Ontologia 
(Du Hamel, 1661, foi quem primeiro se serviu deste vocábulo). A 
doutrina de Deus considera todo o ente em relação ao Ser divino, do 
qual investiga a essência, existência e atividade; Aristóteles 
denominou-a Theologiké, e mais tarde recebeu o nome de “Teologia 
Natural” (em oposição à Teologia baseada na Revelação sobrenatural) 
e também (menos felizmente) de Teodicéia.92 
De fato, na filosofia clássica, a Teodiceia (ou Teologia Natural) era a 
parte final da Metafísica, seu coroamento ou ponto mais alto. Nem 
Aristóteles nem São Tomás de Aquino têm um tratado especial sobre Deus: 
esta questão está incluída na Metafísica. Se a Metafísica busca a causa última 
 
91 MARITAIN, Jacques. Introdução geral à filosofia: elementos de filosofia I. 10. 
ed. Rio de Janeiro: Agir, 1972, p. 162. 
92 BRUGGER, Walter. Diccionário de filosofia. Barcelona: Herder, 1983, p. 269. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
117 
do ser, da realidade, então é natural que se passe à questão de Deus como 
causa última do ser. 
 
3.5.3 Teodicéia: objeto 
 
Na Teodiceia trata-se, portanto, não do Deus especificamente da 
Religião – o Pai de Abraão e Jacó, o Pai de Jesus Cristo – mas unicamente 
como o ponto mais alto da Metafísica: o Deus como causa última do ser. 
“Teologia racional ou Natural é a ciência de Deus à luz natural da razão 
ou, mais explicitamente, a parte da metafísica que estuda a existência e os 
atributos de Deus na sua qualidade de ser Absoluto e Infinito”.93 
Para Jacques Maritain, a “Teologia Natural é a ciência de Deus 
enquanto ele é acessível à razão natural, ou ainda enquanto é causa das 
coisas e autor da ordem natural”.94 
Não se trata também do que sabemos de Deus pela fé e através da 
Revelação, mas “enquanto ele é acessível à razão natural”, instrumento de 
toda a Filosofia. A fé não é aqui negada, mas apenas dispensada. 
Igualmente importantes são os termos “enquanto é causa das coisas e 
autor da ordem natural”. Quer dizer, a Teodiceia, toda a ciência de Deus é 
indutiva: partimos do mundo para chegar a Deus, como sua causa. Não há 
conhecimento imediato de Deus: Ele é termo do raciocínio discursivo.Com efeito, a existência de Deus não é imediatamente, e antes de todo 
o movimento discursivo do espírito, evidente para nós, como 
acreditavam Malebranche e os Ontologistas; é em virtude da operação 
intelectual, que é a operação mais fundamentalmente própria do 
homem, é em virtude do raciocínio que ela se torna evidente para 
nós.95 
 
 
93 COSTA FREITAS, Manuel. In: Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de 
Filosofia. vol. 5. Lisboa: Verbo, 1992, col. 104. 
94 MARITAIN, Jacques. Introdução geral à filosofia: elementos de filosofia I. 10. 
ed. Rio de Janeiro: Agir, 1972, p. 162. 
95 MARITAIN, Jacques. Introdução geral à filosofia: elementos de filosofia I. 10. 
ed. Rio de Janeiro: Agir, 1972, p. 162-163. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
118 
3.5.4 Teodiceia clássica: conteúdo 
 
As Teodiceias clássicas, baseadas na filosofia tomista, tinham um 
esquema e uma estrutura definidas, constando de 3 partes bem nítidas: 
 
1. Sobre a existência de Deus - como pelo raciocínio discursivo 
podemos chegar ao conhecimento de sua existência. Construída geralmente 
em torno das “cinco vias” de São Tomás, essa parte tinha por objetivo 
confrontar duas posições filosóficas: 
– o agnosticismo que nega a possibilidade do conhecimento de Deus. 
– o fideísmo, que nega a possibilidade do conhecimento natural ou 
racional de Deus (só se pode conhecê-lo pela fé). 
 
2. A essência ou natureza de Deus: seus atributos ou perfeições. O 
atributo fundamental é a “asseidade” (“ser-por-si”): só Deus é ser por si, 
todos os demais seres têm o ser participado. Desse atributo se inferem outros: 
a unidade (só é concebível um Deus), a simplicidade (não se distinguem nele 
matéria e forma, essência e existência, substância e acidentes) e 
imutabilidade (não se distinguem nele ato e potência, ele é Ato Puro). 
Pretende-se confutar: 
– o deísmo, que admite a existência de Deus e só: nada mais podemos 
conhecer de Deus. 
 
3. Relação Deus - mundo, incluindo dois itens principais: 
a) A possibilidade dessa relação contra: 
– o deísmo, que nega que Deus age no mundo. 
b) O modo dessa relação. Deus é transcendente ao mundo, contra: 
– o panteísmo, que identifica Deus e mundo. 
E Deus é Providência - direção causal e mantedora do mundo, contra: 
– o deísmo que nega a ação de Deus no mundo. 
 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
119 
Dentro dessa última parte eram incluídos dois assuntos que foram os 
específicos da Teodicéia de Leibniz: o problema da causalidade mantedora 
divina e a liberdade do homem, como age Deus e como age o homem, e o 
problema do mal em confronto com a perfeição divina. 
 
3.5.5 Teodiceia: conteúdos hodiernos 
 
Os tratados tradicionais de Teodiceia têm um conteúdo geral válido, 
porque apoiado na Metafísica. No entanto, eles são estreitos demais para os 
tempos atuais e necessitam de incluir outros aspectos. Por exemplo: 
— como a filosofia atual aborda a questão de Deus (Filosofia da 
Linguagem, Hermenêutica). 
— o fenômeno dos ateísmos modernos. 
— Deus - fé - ciência, etc. 
 
• Indicação de leitura: 
ANZENBACHER, Arno. Introducción a la Filosofia. Barcelona: Herder, 
1983, p. 324-359. 
COSTA FREITAS, Manuel da. “Teologia Natural”. In: Logos. 
Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, vol. 5, col. 104-107 (ver também 
o verbete “Teodiceia”, col. 99). 
MARITAIN, Jacques. Introdução Geral à Filosofia, p. 162-164. 
TOBIAS, José Antonio. Iniciação à Filosofia. Presidente Prudente, Editora 
do Unoeste, 1986, p. 129-146. 
 
Unidade 04 – Antropologia 
 
120 
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, Vieira de. Introdução à Filosofia. Coimbra: Almedina, 1981. 
Alvira, T. & Clavell, L. & Melendo, T. Metafísica. Firenze: Le Monnier, 
1987. 
ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002 
BAZARIAN, J. O Problema da Verdade. Teoria do Conhecimento. São 
Paulo: Alfa e Omega, 1985. 
BRUGGER, Walter. Diccionário de filosofia. Barcelona: Herder, 1983 
CHARBONEAU, Paul-Engene. Curso de Filosofia. Lógica e Metodologia. 
São Paulo: EPU, 1986. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006 
CORBISIER, Roland. Enciclopédia filosófica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 
1987. 
COSTA FREITAS, Manuel. Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de 
Filosofia. vol. 5. Lisboa: Verbo, 1992 
DIZIONARIO DELLE IDEE. Firenze: Sansoni Edit, 1977. 
FERRATER MORA, J. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Dom Quixote, 
1991. 
FRANCIS BACON. O progresso do conhecimento. São Paulo: UNESP, 
2007 
GILES, Thomas Ransom. Curso de iniciação à filosofia: ramos 
fundamentais da filosofia: lógica, teoria do conhecimento, ética, política. São 
Paulo: EPU, 1995. 
KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. São Paulo: Martins Fontes, 
2008 
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Martim Claret, 2009. 
LALANDE, A. Dicionário Técnico Crítico de Filosofia. São Paulo: Martins 
Fontes, 1996. 
LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Ensaios de Teodiceia: sobre a bondade de 
Deus, a liberdade do homem e a origem do mal. São Paulo: Estação 
liberdade, 2013. 
Unidade 03 – Filosofia e a sua problemática 
 
121 
MARITAIN, Jacques. Introdução geral à filosofia: elementos de filosofia I. 
10. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1972. 
MARTINS, J. Salgado. Preparação à filosofia. Porto Alegre: Globo, 1981. 
OLIVEIRA, Admardo Serafim de. Introdução ao Pensamento Filosófico. 
São Paulo, Loyola, 1990 
TELES, A. X. Introdução ao estudo da filosofia. São Paulo: Ática, 1985. 
TOMÁS DE AQUINO. Comentario de los Analíticos Posteriores de 
Aristóteles. Trad. de Ana Mallea e Marta Daneri-Rebok. Pamplona: EUNSA, 
2002. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
123 
 
UNIDADE 04 – ANTROPOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
Objetivo da unidade: compreender os conceitos fundamentais da 
antropologia, da cosmologia, da ética, da estética e da filosofia política. 
 
Conteúdos da unidade: 
1) Antropologia filosófica 
2) Cosmologia 
3) Ética 
4) Estética 
5) Filosofia política 
 
4.1 ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA 
 
 A questão do “que é o homem?” é uma interrogação profundamente 
natural e existencial, da qual se ocupa a religião, a ciência, a sabedoria 
popular, a literatura, a arte e particularmente a filosofia. 
 
O problema que a Antropologia Filosófica coloca é do próprio 
homem. O que é o homem, qual a sua origem, a sua essência, o seu 
destino? A questão não é nova, cada época tentou resolvê-la com os 
meios ao seu alcance, isto é, a partir do mito, na base da reflexão 
especulativa, no apoio dos conhecimentos científicos múltiplos, quer 
das ciências empíricas (fisiologia, bioquímica, etc.), quer das ciências 
humanas (psicologia, sociologia, antropologia cultural, etnologia). 
04 
Unidade 04 – Antropologia 
 
124 
Isso mostra-nos que o homem é para si próprio um problema ou, nos 
termos de Gabriel Marcel, um mistério”.96 
 
4.1.1 Antropologias 
 
Existem diversas Antropologias: 
• Antropologia Física – é uma ciência que considera o homem sob o 
aspecto biológico: sua estrutura somática, relações com o ambiente, 
classificações étnicas e raciais, etc. Fazem parte da Antropologia Física, a 
Paleontologia e a Etnologia. 
• Antropologia Cultural – é igualmente uma ciência que estuda a 
cultura humana. Entende-se como “cultura” qualquer obra ou instituição 
humana no mundo. 
O campo dessa disciplina especial é vastíssimo, pois ela se propõe 
estudar a obra humana. Ora, essa obra que se denomina cultura é este 
conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, lei, 
costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo 
homem enquanto membro da sociedade.97 
 Muito específico da Antropologia Cultural é o estudo comparativo 
das instituições e criações culturais. 
• Antropologia Teológica – considera o homem a partir dos dados da 
Revelação. 
• Antropologia Filosófica – Metafísica do homem; considerações 
fundamentais sobre a estrutura essencial do ser humano. 
 
4.1.2 A psicologia racional 
 
Como não poderia deixar de ser, o homem refletiu sobre si mesmo 
desde os primórdios da filosofia. A preocupação antropológica existe já nos 
 
96 RENAUD,Michel. Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia. vol. 1. 
Lisboa: Verbo, 1992, col. 311. 
97 MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. 12. 
ed. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 37. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
125 
pré-socráticos, e Sócrates faz do lema “conhece-te a ti mesmo” o sumo da 
filosofia. 
Foi, porém, Aristóteles que completou um estudo mais amplo sobre o 
homem no seu tratado “Sobre a Alma”. É verdade que tudo aí está centrado 
na “alma”, pois a alma intelectiva é considerada como a “forma”, o essencial 
e o específico do ser humano. 
São Tomás assumiu a doutrina antropológica aristotélica, reelaborou-
a em alguns pontos, e a retransmitiu a toda a tradição escolástica cristã. Os 
tratados antropológicos nos institutos católicos fundamentavam-se na 
doutrina aristotélico-tomista. 
Esses tratados levavam, desde o século XVIII, o nome de Psicologia 
Racional. O termo “Psicologia” provém de Melanchton (século XVI), mas 
foi Christian Wolff (século XVIII) que o divulgou, distinguindo uma 
Psicologia Racional – tratado filosófico sobre a alma – e uma Psicologia 
Experimental, que trata cientificamente dos fenômenos anímicos constatados 
empiricamente. Esta, porém, viria a ter seu grande florescimento só nos 
séculos XIX e XX. 
Os tratados escolásticos de Psicologia Racional tinham, tal como a 
Teodiceia, uma estrutura fixa, constituída das seguintes partes: 
– As faculdades da alma (sensitiva, intelectiva e volitiva). 
– A natureza da alma (simplicidade, espiritualidade, unidade). 
– Imortalidade da alma. 
– União psico-física (Unio substantialis): união da alma com o corpo. 
Estes tratados clássicos de Psicologia Racional tiveram uma longa 
tradição no ensino de Filosofia, principalmente nas instituições católicas. 
 
4.1.3 Antropologia filosófica: origem, determinação e conteúdo 
 
A Antropologia Filosófica, como disciplina filosófica autônoma e 
sistemática, surgiu no nosso século. Trata-se de um movimento 
filosófico, surgido na década de 20, que a si mesmo deu o nome de 
“Antropologia Filosófica”. Os seus principais representantes são: Max 
Scheler (A posição do Homem no Cosmos - 1928), Helmuth Plessner 
Unidade 04 – Antropologia 
 
126 
(O Estofo do Orgânico e o Homem, 1928) e Arnold Gehlen (O 
Homem: sua Natureza e seu lugar no mundo, 1928 )”.98 
 
A filosofia moderna e grande parte da filosofia contemporânea 
voltava-se ao homem só sob o aspecto da razão; é uma longa tradição, que 
vem desde o Racionalismo, que privilegia e quase absolutiza a razão. 
Na década de 20 do século anterior, surgiu, dentro da corrente 
fenomenológica principalmente, o movimento Antropologia Filosófica, que 
pretendia fundamentar um estudo mais global do homem, antes, buscar uma 
metafísica do homem. 
O termo Antropologia Filosófica foi popularizado a partir da obra de 
Erns Cassirer (Antropologia Filosófica, 1944) e este movimento teve muita 
influência; posteriormente surgiram muitas outras obras filosóficas que 
pretendiam fazer uma análise das estruturas essenciais do homem. A própria 
Psicologia Racional nos institutos católicos foi, aos poucos, sendo 
substituída pela Antropologia Filosófica, quer dizer: no lugar de uma 
consideração mais estreita do homem, restrita ao aspecto “alma”, 
desenvolveu-se uma consideração mais ampla, tomando o homem no seu 
todo, em suas diversas dimensões. Assim, segundo Jolif: “o fundamental da 
tarefa da Antropologia Filosófica é a apreeensão da estrutura essencial do 
homem”.99 
Entende-se por Antropologia Filosófica a reflexão acerca do homem 
e de sua natureza. Assim, a tarefa da Antropologia Filosófica é o 
questionamento acerca do homem, do lugar que ele ocupa no Universo 
e de sua função como fazedor da história e criador de culturas. A 
Antropologia Filosófica levanta, dessa forma, as seguintes questões: 
O que é o homem? O que sou eu? Por que é o ser humano diferente 
do resto da natureza? O que significa dizer que todos os homens são 
irmãos e são iguais? Existe, na verdade, o que comumente se chama 
de ‘natureza humana’?100 
O conteúdo da Antropologia Filosófica (ou qualquer outro nome que 
leve) pode ser muito diversificado (cf. manuais indicados). 
 
98 RABUSKE, E. Antropologia Filosófica. Petrópolis: Vozes, 1986, p. 14. 
99 JOLIF, A. Compreender o Homem. São Paulo: Herder, 1975, p. 137. 
100 OLIVEIRA, Admardo Serafim de. Introdução ao pensamento filosófico. São 
Paulo: Loyola, 2005, p. 119. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
127 
No entanto, alguns pontos são essenciais para uma boa Antropologia 
Filosófica: 
• Origem do homem: considerações científico-filosóficas sobre a 
gênese humana. 
• Natureza do homem: questões sobre o corpo e alma, razão e 
liberdade (vontade). Aqui entrariam os aspectos válidos da “Psicologia 
Racional”. 
• Dimensões fundamentais do ser humano: linguagem, sociabilidade, 
historicidade, transcendência. 
• Morte e imortalidade: o destino humano. 
 
• Indicação de leitura: 
ANZENBACHER, Arno. Introducción a la Filosofia. Barcelona: Herder, 
1983, p. 225-268. 
BUZZI, Arcângelo. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 63-
82. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980, p. 54-70. 
OLIVEIRA, Admardo Serafim de et al. Introdução ao pensamento filosófico, 
p. 119-157. 
RENAUD, Michel. “Antropologia”. In: Logos. Enciclopédia Luso-
Brasileira de Filosofia, vol. 1, col. 311-318. 
 
4.2 COSMOLOGIA 
 
4.2.1 Cosmologia: esclarecimento de terminologia 
 
A disciplina filosófica que tem por objeto o mundo físico-material tem 
recebido diversas denominações: 
• Cosmologia (grego “kosmos” = mundo) - termo largamente usado 
nos tratados escolásticos clássicos. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
128 
Nos dias de hoje, porém, o termo Cosmologia designa também uma 
ciência: ela tem por objeto elaborar teorias sobre o modelo do universo, sua 
origem, formação, etc. 
• Filosofia da Natureza - traduz a antiga denominação latina 
Philosophia Naturae ou Philosophia Naturalis. Ainda: 
• Filosofia do Mundo: termo utilizado também em alguns tratados 
atuais. 
 
4.2.2 Cosmologia: histórico 
 
A especulação filosófica iniciou-se, como sabemos, com a 
preocupação de entender o mundo físico-material. O pensamento grego 
primitivo centrava-se, pois, no problema cosmológico: qual é o estofo 
primeiro de todas as coisas.101 
No período clássico, a filosofia grega universalizou-se, mas o tema 
cosmológico manteve o seu lugar dentro das questões filosóficas. A ele 
Aristóteles, por exemplo, dedicou todo um conjunto de escritos, 
denominados globalmente de Física. A Física aristotélica tinha por objeto o 
“ente móvel”, entendendo por “móvel” o ser submetido à mudança, isto é, o 
ser material. Esse tratado incluía todo o saber sobre a natureza, inorgânica e 
viva, em primeiro lugar sob o ponto de vista metafísico. Mas incluía também 
aspectos que hoje poderíamos considerar como pertencentes à ciência, uma 
vez que não existiam então ciências autônomas: o saber era global. Há de se 
recordar que Aristóteles era um grande apaixonado pelas coisas da natureza: 
passava longo tempo a pesquisar o comportamento animal, o 
desenvolvimento das plantas e a meditar sobre o curso dos astros (verificar 
suas obras: História dos Animais, Sobre as Plantas, Sobre o Céu, 
Metereológica). 
A Física aristotélica inspirou os tratados sobre a natureza material 
durante toda a Idade Média e inícios da Idade Moderna. O próprio nome do 
tratado foi conservado: Física. 
 
101 Para aprofundamento desta questão veja: ALMEIDA, Rogério Miranda de. 
História da filosofia antiga [recurso eletrônico]. Curitiba: FASBAMPRESS, 2021 
(Unidade 02: Desenvolvimento da Filosofia Grega: os filósofos pré-socráticos). 
Unidade 04 – Antropologia 
 
129 
 Nos séculos XVII e XVIII alguns sábios começaram a dar ao tratado 
de Física um conteúdo inteiramente diferente, baseado no método 
experimental e matemático: as investigações das leis mecânicas da natureza.5) Filosofia: como ciência. 
 
1.1 FILOSOFIA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS 
 
Ao iniciarmos a Introdução à filosofia, a sua própria denominação — 
“Introdução à filosofia” — nos dá uma ideia prévia do objetivo dessa 
disciplina: introduzir (= “conduzir para dentro”) na filosofia, conhecer o que 
é a filosofia e para que serve, ter ciência de seu caráter, de seus assuntos, sua 
problemática. Enfim, ter um panorama geral e completo do que é a ciência 
filosófica. 
E para começar o assunto, podemos colocar uma primeira pergunta 
que conduz a outras duas: 
Por que estudamos filosofia? Que é filosofia? Para que serve ela? 
01 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
14 
Tomemos a primeira pergunta: Por que estudamos filosofia? As 
respostas podem ser variadas e diversas, tais como: quero conhecer melhor 
o mundo, ter consciência crítica, interpretar a realidade, conhecer o 
pensamento dos filósofos, etc. 
Por exemplo, se você está na caminhada rumo ao sacerdócio outras 
respostas até poderiam ser: “porque me mandaram” ou “foi determinado 
pelos superiores”. Mas podemos ir adiante: “Por que os superiores me 
mandaram estudar filosofia?” 
A razão principal do fato pelo qual os superiores mandaram estudar 
filosofia é porque é exigido pela legislação eclesiástica. A Igreja Católica 
exige daqueles que se preparam ao sacerdócio um curso de filosofia. 
Diz o Código de Direito Canônico: 
Cân. 250 – Os estudos filosóficos e teológicos, organizados no próprio 
seminário, podem ser feitos sucessiva e simultaneamente, de acordo 
com as Diretrizes básicas para a formação sacerdotal; compreendam, 
ao menos, seis anos completos, de tal modo que o tempo reservado às 
disciplinas filosóficas corresponda a dois anos completos, e o tempo 
reservado aos estudos teológicos, a quatro anos completos. 
Cân. 251 – A formação filosófica, que deve estar baseada no 
patrimônio filosófico perenemente válido e também levar em conta a 
investigação filosófica no progresso do tempo, seja ministrada de tal 
modo que complete a formação humana dos alunos, lhes aguce a 
mente e os torne mais aptos para fazerem os estudos teológicos.1 
Assim, pode-se dizer que a razão principal do fato referido é porque 
isso é exigido pela legislação eclesiástica. A Igreja exige daqueles que se 
preparam ao sacerdócio um curso ou uma faculdade de Filosofia. Se a Igreja 
coloca como requisito à preparação ao sacerdócio um Curso de Filosofia é 
porque a Filosofia deve ser algo importante, é porque a Filosofia tem um 
valor. 
A Igreja, com a sua experiência de mais de dois mil anos, não podia 
indicar algo, isto é, passar três anos em média estudando filosofia, se não 
tivesse a devida importância ou valor. 
À essa questão – por que filosofia para um sacerdote – nós vamos 
voltar especificamente mais adiante. 
 
1 IGREJA CATÓLICA. Código de Direito Canônico. Promulgado por João Paulo 
II, Papa. São Paulo: Loyola, 2008. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
15 
Voltemos às perguntas gerais: 
— Qual é então a importância e o valor da filosofia? 
— Que é filosofia? 
— Para que serve a filosofia? 
Vamos partir da ideia mais simples possível de filosofia. A palavra 
filosofia significa “amor à sabedoria”. Filosofia é sabedoria, saber. Filosofar 
é pensar, refletir. Filósofo é o pensador. 
É claro que isso não nos diz muita coisa. É ainda muito vago. Pensar 
e refletir, de alguma forma, todo mundo pensa. Quando quebramos a cabeça 
com um problema matemático – estamos pensando, refletindo. Quando o 
carro enguiça – pensamos, refletimos, procurando onde está o defeito. 
Então, daí, a questão: 
Pensar, refletir, sobre o quê? 
Vocês já estão percebendo que “filosofia” não é um pensar, refletir no 
sentido comum, pois isso todo o mundo faz. 
É pensar, refletir num sentido especial. Como especial? Trata-se de 
assuntos especiais. 
Numa primeira noção mais simples de filosofia (vamos desenvolver 
melhor, com o decorrer das aulas, mais adiante), podemos dizer: 
 
• Filosofia é a análise das questões humanas mais fundamentais. 
Quais são essas questões? Foi dito que elas são “fundamentais”, isto 
é, questões de fundo, de profundidade, de muita importância para a vida do 
homem. São questões muito amplas, conforme estudaremos no decorrer do 
curso. 
A Filosofia, por sua própria natureza, almeja despertar em quem a ela 
se entrega, a disposição permanente, o hábito, como dizia Aristóteles, 
de analisar, mais ainda, de questionar radicalmente toda a realidade, 
de perguntar: o que é e por que é; de perguntar sem poder antecipar 
uma resposta definitiva: Quem sou eu? — Quem é o outro ‘eu’ e qual 
a sua relevância e incidência sobre mim e minha existência? — O que 
é que vem a ser o universo, o meio ambiente e qual o seu significado 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
16 
para mim, para nós? Trata-se de um processo de questionamento que 
perpassa todas as gerações, todos os povos e épocas.2 
 
• Filosofia da experiência vital e filosofia por ofício 
É preciso fazer aqui uma pequena distinção, existem dois níveis de 
filosofia: 
— a filosofia da experiência vital (ou do senso comum); 
— a filosofia por ofício (filosofia propriamente dita, filosofia ciência). 
 
• A filosofia da experiência vital (ou do senso comum) é como que 
universal; todo o homem tem, até certo ponto, uma filosofia, pelo simples 
fato de que ele é inteligente, um ser pensante. Que ele não só vegeta, vive e 
age, mas pensa sobre a sua vida, sua ação e se coloca perguntas mais 
profundas, e às vezes até respostas, sobre o seu viver, sobre o mundo, a 
realidade. 
Essa “filosofia da experiência vital” ou do “senso comum” é mais ou 
menos reflexa, às vezes não muito consciente, às vezes insensível às 
contradições. Mas, em geral, todo o homem possui uma “filosofia de vida”, 
forma-se para si mesmo uma visão geral da vida, do mundo, apoia-se em 
certos princípios, valores, que orientam a sua vida. Não importa de onde ele 
tira estes princípios e valores (da tradição, do meio social, da religião, etc.). 
 
• A filosofia por ofício é a filosofia propriamente dita, a que “está nos 
livros”. É, nada mais, que ir adiante nessa filosofia que todo homem já 
possui: desvendar os problemas, analisá-los, tratá-los de modo metódico e 
sistemático, fazer deles uma ciência. 
Assim podemos dizer: 
— Filosofia é a análise metódica e sistemática (científica) das 
questões humanas mais fundamentais. 
A filosofia tem por objeto de reflexão os sentidos, os significados e os 
valores que dimensionam e norteiam a vida e a prática histórica 
humana. Nenhum indivíduo, nenhum povo, nenhum momento 
 
2 GILES, Thomas Ranson. Curso de iniciação à filosofia: origem, significado e 
panorama histórico. São Paulo: EPUC, 1985, p. 7. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
17 
histórico vive e sobrevive sem um conjunto de valores que significam 
a sua forma de existência e sua ação. Não há como viver sem se 
perguntar pelo seu sentido; assim como não há como praticar qualquer 
ação, sem que se tenha que perguntar pelo seu sentido próprio, pela 
sua finalidade. É claro que alguém poderá viver pelo senso comum, 
entranhado em seu inconsciente, sem se perguntar conscientemente 
pelo seu efetivo significado. Já falamos nisso, porém essa não é uma 
conduta filosófica, como já temos reiterado anteriormente. A filosofia 
e o exercício do filosofar implicam uma pergunta explícita e 
consciente pelo sentido e significado das coisas, da vida e da prática 
humana.3 
Vejamos mais algumas características do filosofar: 
Arcângelo Buzzi expressa, em seu livro Introdução ao Pensar, a 
universalidade de a filosofia ser necessária para a vida humana da 
seguinte forma: 
Consciente ou inconscientemente, explícita ou implicitamente, quem 
vive possui uma filosofia, uma concepção do mundo. Esta concepção 
pode não ser manifesta. Geralmente, ela se aninha nas estruturas 
inconscientes da mente. De lá, ela comanda a vida, dirige-lhe os 
passos, norteia a vida. AÉ o nascimento da Física moderna. 
 Daí então, como as considerações científicas adquiriram sua plena 
independência, começou-se a diferenciar as denominações: Física 
Especulativa (filosófica) e Física Empírica (científica). Aos poucos, no 
entanto, a própria denominação “Física”, aplicada ao tratado filosófico, cai 
em desuso, sendo substituída por Philosophia Naturalis e também por 
Cosmologia. 
 
4.2.3 Cosmologia: tem sentido uma filosofia sobre o mundo material? 
 
Durante um certo tempo a cosmologia filosófica esteve em descrédito. 
Acreditava-se que para entender o mundo físico e material bastavam as 
ciências naturais. Se as ciências alcançaram um nível de progresso e 
especialização tão elevados, haveria ainda no mundo segredos reservados 
para a filosofia? 
 Hoje, todavia, verifica-se um renovado interesse pela reflexão 
filosófica nesse campo, surgido principalmente em decorrência exatamente 
da grande fragmentação e especialização das ciências. Faz-se necessário 
construir uma visão mais total e integradora do universo físico, uma 
“cosmovisão” unitária e fundamentada. 
 Disse o grande filósofo Wittgenstein: “ainda que todas as questões 
científicas fossem resolvidas, nossos problemas vitais não seriam sequer 
tocados”.102 
 Os próprios físicos contemporâneos sentiram essa necessidade, e 
alguns deles até enveredaram pela reflexão filosófica. Assim, por exemplo, 
Einstein escreveu a obra Como vejo o universo, e Stephen Hawkins faz o 
mesmo na Breve História do Tempo. 
 
 
102 WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo: Editora da 
Universidade de São Paulo, 1994, 6.52. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
130 
4.2.4 Cosmologia: objeto e conteúdo 
 
Fillipo Selvaggi diz que “na filosofia da natureza a Física oferece a 
matéria, a Metafísica a forma”103. Isto significa que os assuntos da Filosofia 
da Natureza são os mesmos das ciências naturais, mas o ponto de vista é 
propriamente o da reflexão metafísica. 
A Metafísica Natural procura alcançar uma compreensão filosófica 
dos conceitos básicos da ciência natural, como espaço, tempo, 
movimento, força, energia, matéria, vida orgânica, etc., estabelecer, 
na medida do possível, seus constitutivos essenciais, e, a partir deles, 
elaborar uma imagem filosófica do universo.104 
O tratado de Filosofia da Natureza pode ser de grande diversidade no 
seu conteúdo. Mas, em geral, os seus assuntos mais específicos são os 
seguintes: 
– Extensão. O ser material é ser extenso. Em que esta consiste? 
Distingue-se ela da substância? 
– Quantidade-qualidade. A qualidade é reduzível ou não à 
quantidade? 
– Espaço. Limitado ou ilimitado? Real ou ideal? O vácuo. 
– Tempo. Correlativo ao espaço. Real ou ideal? 
– Movimento. Como interpetá-lo? Absolutamente ou relativamente? 
Movimento e ação à distância: causalidade física, o determinismo. 
– Categorias do ente físico. O inorgânico e o vivo. A vida é 
ontologicamente superior à matéria? 
A elaboração do tratado de Filosofia da Natureza resulta hoje em dia 
um tanto quanto difícil, pois exige pelo menos um certo conhecimento dos 
pressupostos da Física moderna, como as novas teorias sobre a matéria, a 
energia, o espaço, o movimento (teoria da relatividade de Albert Einstein, a 
teoria dos quanta de Max Planck, etc.), para integrá-las num juízo filosófico. 
Requer igualmente uma parte epistemológica ou de Filosofia da Ciência: 
consideração sobre os pressupostos das ciências naturais. 
 
103 SELVAGGI, Filippo. Filosofia do mundo: cosmologia filosofica. São Paulo: 
Loyola, 1988, p. 162. 
104 BRUGGER, Walter. Diccionário de filosofia. Barcelona: Herder, 1983, p. 194. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
131 
 
• Indicação de leitura: 
ANZENBACHER, Arno. Introducción a la Filosofia. Barcelona: Herder, 
1983, p. 122-143. 
CUNHA, José Auri. Iniciação à Investigação Filosófica. São Paulo: Atual, 
1992, p. 102-116. 
MANDRIONI. Introducción a la filosofia. Buenos Aires: Kapelusz, 1969, p. 
76-107. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980, p. 46-53. 
RAEYMAEKER, Louis de. Introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Herder, 
1973, p. 53-61. 
TOBIAS, José Antonio. Iniciação à Filosofia. Presidente Prudente, Editora 
do Unoeste, 1986, p. 53-70. 
 
4.3 ÉTICA 
 
A preocupação pelo sentido da ação humana é talvez a mais evidente 
daquelas questões humanas mais fundamentais. 
O fato de que a ação e o comportamento humano tem a ver com certas 
regras e normas é um fato de experiência. Os pais ensinam aos filhos 
determinadas normas de comportamento; assim faz a escola; nós julgamos 
certas ações dos outros como corretas ou erradas e nós mesmos nos 
consultamos às vezes perguntando: “o que eu devo fazer agora”? 
Como eu devo agir? O que é lícito e o que não é lícito fazer? O que é 
que constitui o bem e o que constitui o mal? A partir de que avaliar a ação 
humana? De que princípio, padrão ou modelo? Como se caracteriza uma vida 
“boa” e uma vida “imoral”? 
Obviamente que, de forma mais consciente ou menos consciente, 
essas questões existem e são prementes. Porque elas afetam toda uma vida 
humana. Ninguém pode dizer a si mesmo e ao outro: “faça o que quiser”, 
porque senão acaba a vida humana, acaba qualquer possibilidade de 
convivência e a própria existência humana perde todo o sentido. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
132 
Todos percebem que para existir e coexistir é necessário respeitar e 
observar certas normas. Que normas e de onde elas procedem? Eis a questão 
filosófica da ética. Para que a vida humana tenha sentido é necessário buscar 
certos valores. Que valores e onde encontrá-los? Eis a questão da filosofia 
moral. 
É certo que as pessoas vivem e convivem respeitando os valores que 
elas recebem do seu meio social, da religião, etc. A função da filosofia é 
refletir sobre normas e valores e lhes proporcionar uma fundamentação. 
 
4.3.1 Ética: conceitos 
 
• Ética: (do grego “ethos” - costume): filosofia dos costumes. 
Costume no sentido de práticas de vida habituais do homem. 
• Moral: (do latim “mos-moris” = costume): mesmo sentido; filosofia 
dos costumes. 
• Moral Religiosa — moral fundamentada nos dados da Revelação ou 
nos princípios religiosos. 
• Direito — ciência da legitimidade das ações e práticas humanas a 
partir de uma legislação estabelecida. 
Direito se refere sempre a um código escrito. Moral (ética) se refere a 
um código não escrito. 
 
4.3.2 Ética: perspectiva histórica105 
 
A questão sobre o sentido e o valor das ações humanas perpassa toda 
a história da filosofia e se concretiza em diversas perspectivas ou “filosofias 
morais”. 
 
• Ética clássica 
O pioneiro da sistematização e fundamentação da Ética é Aristóteles. 
Embora os assuntos éticos já estivessem presentes antes, em Sócrates 
 
105 Cf. SENA, Gleison. Ética. Curitiba: FASBAMPRESS, 2021. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
133 
(identificação: bom = sábio) e Platão, é Aristóteles que nas suas obras, 
principalmente na sua obra Ética a Nicômaco, empreende uma análise mais 
sistemática da ação humana: é a sua filosofia prática. 
A obra aristotélica influencia a filosofia medieval cristã, 
principalmente S. Tomás de Aquino, sua autoridade maior, e delineia o que 
chamamos de “Ética clássica ocidental”. 
Esta ética clássica possui as seguintes características: ela se liga à 
metafísica, mais propriamente à causalidade final. Todo o ser é bom na 
medida em que realiza a sua essência e sua finalidade. Assim também o 
homem. Qual é a essência do homem? Ela está na sua alma intelectual: guiar-
se pela razão nos seus atos é fundamentalmente agir moralmente. Como 
concretamente? A vontade livre descobre na consciência uma lei natural que 
orienta os seus atos. O homem sobretudo descobre, por via racional, que 
Deus é o seu fim último, o “Sumo Bem”, a partir do qual todo outro bem 
adquire valor. “Toda a Ética de S. Tomás é deduzida do princípio “Deus é o 
último fim do homem” (S. Th. II, 2, q 1, 8), princípio de que se deduza 
doutrina da felicidade e da virtude”.106 
Enfim, a ética clássica baseia-se numa ordem cósmica: Deus, o 
Criador, criou todas as coisas, colocando nelas essência e finalidades, 
inclusive no próprio homem; das finalidades naturais, nasce a lei natural; o 
homem pela sua razão pode descobrir as finalidades naturais das coisas, a 
sua finalidade própria e a dos seus atos. 
 
• Ética kantiana 
O filósofo alemão, Immanuel Kant (século XVIII) pretendeu mudar 
inteiramente a perspectiva ética. Ele afirmou que não se podia fundamentar 
a ética nem em algum fato da experiência, nem em algum bem objetivo 
(mesmo porque, negando a Metafísica, Kant nega a possibilidade de se 
conhecer algum bem ou valor em si). 
A fundamentação da ética é transferida, então, para o interior da 
própria razão. A razão contém em si um princípio ou um senso, que ele 
chama de “imperativo categórico a priori do dever”. Existe a percepção ou o 
 
106 ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1982, p. 
361. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
134 
“senso do dever” na razão prática. Então, é moral o que é feito pela 
consciência e senso do dever. 
 Kant foi criticado por apresentar uma ética excessivamente formal. 
Ele postulou algumas regras “práticas” para a sua filosofia moral, como, por 
exemplo: “age de forma que a tua ação possa se tornar uma máxima 
universal”. 
De qualquer forma, Kant operou também na Ética a “revolução 
copernicana”: mudou a ética da objetividade para a subjetividade. 
 
• Moral sensista 
É a moral derivada do empirismo e também do positivismo: a ética 
não pode fundamentar-se em princípios racionais, que não podem ser 
conhecidos, mas deve fundamentar-se na experiência. E a experiência nos 
ensina que a natureza humana procura o prazer e evita o desprazer, a dor. 
O prazer é então o fundamento da ética. Toda a ética (como filosofia) 
consiste em avaliar o prazer.107 É a ética do Utilitarismo: Jeremy Bentham, 
John Stuart Mill, William James. Trata-se aqui, de fundamentar o que se 
entende por prazer. 
 
• Ética como “ciência dos costumes” 
O Positivismo e a Escola Sociológica (Émile Durkheim, Lévy-Bruhl) 
reduzem a ética a um fato sociológico: é a sociedade que cria seus valores e 
seus costumes, para sobreviver e se defender. Eles são sempre produtos de 
um tempo e de um espaço. Não há valores, bens ou princípios universalmente 
válidos. 
Émile Durkheim, assim define o fato social: 
É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de 
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda 
maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao 
 
107 Essa perspectiva já existia na antiguidade, por exemplo, no pensamento de 
Epicuro de Samos. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
135 
mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas 
manifestações individuais.108 
A ética é então “ciência dos costumes”: deve considerar o fato moral 
à maneira de outros fatos sociais, descrever os costumes, os juízos e os 
sentimentos morais próprios às diferentes sociedades e determinar as leis de 
seu surgimento, desenvolvimento e evolução. É, portanto, um estudo 
científico do fato moral como um fato sociológico. 
 
• Ética dos Valores (Max Scheler) 
Max Scheler, escrevendo contra Kant quer recolocar a ética na 
objetividade, mas se opõe também à ética clássica. Existem valores 
objetivos, independentes da nossa consciência. Mas os valores não são 
racionais e sim de caráter emocional. Os valores são percebidos pela 
“intuição emotiva” e se impõem à nossa consciência.109 
Pelas diversas perspectivas em ética, acima acenadas, podemos 
constatar que a questão mais importante na ética é a sua sustentação: sobre 
que bases fundamentar a ação humana? 
 
4.3.3 Ética: conceituação e problemática 
 
A problemática da Ética é vasta, intrincada e complexa, envolvendo 
diversos aspectos e diversas questões. Envolve também questões metafísicas 
e antropológicas, das quais dependem essencialmente as colocações sobre a 
moral dos atos humanos. 
A ética ou moral é a ciência ou filosofia da ação humana. A Ética é 
normativa, porque se refere ao bom andamento da vida, ao reto 
orientamento da existência. É uma ciência prática, não só porque trata 
da práxis humana, mas porque pretende dirigi-la110 
 
108 DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins 
Fontes, 2007, p. 13 (itálicos do autor). 
109 Para aprofundar está temática veja o artigo: SCHILLER, Soter. A questão 
“homem” como problema fundamental da filosofia na perspectiva de Max Scheler. 
Basilíade – Revista de Filosofia, Curitiba, v. 1, n. 2, p. 23-35, jul./jdez. 2019 
110 FINANCE, Joseph. Etica Generale. Bari: Tipografica Meridionale, 1975, p. 10. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
136 
Fundamentalmente na ética são discutidas em primeiro lugar as 
chamadas condições transcendentais do fato ético, que são três: 
 
• Liberdade: só são atos morais os atos livres do homem (não entram, 
portanto, os atos necessários: respirar, comer, defecar). Se o homem não é 
livre, não se pode absolutamente falar de moralidade.111 
Que é liberdade? Que são “atos livres” (ausência de necessidade 
interior)? Em que medida? Entra aqui a questão da liberdade e do 
determinismo. 
 
• Consciência: é outra condição transcendental da moral. 
Ela decorre da anterior: para ser verdadeiramente livre, uma ação 
implica o conhecimento daquilo que se faz. 
 
• Norma ou referência. Se quanto às duas primeiras condições há 
muito consenso, aqui há muito dissenso. A norma é objetiva (isto é, 
independente de nós, da nossa vontade) ou subjetiva? Em que se fundamenta 
essa norma? Qual é a norma primeira, a norma das normas? 
 
Afora esses fundamentos, há ainda outros aspectos ou problemas que 
devem ser tratados na Ética fundamental. Por exemplo, a consciência e a lei, 
os valores, as virtudes, a sanção moral, a relacionabilidade da moral. Assim: 
A ética (do grego ethikos, ‘costumes, comportamento’) é uma parte 
da filosofia que busca refletir sobre o comportamento humano sob o 
ponto de vista das noções de bem e de mal, de justo e de injusto. A 
ética tem duplo objetivo: 
a. elaborar princípios de vida capazes de orientar o homem para uma 
ação moralmente correta; 
 
111 Por exemplo, António Damásio na Introdução da sua obra, O erro de Descartes, 
escreve que “a razão pode não ser tão pura quanto a maioria de nós pensa que é ou 
desejaria que fosse, e que as emoções e os sentimentos podem não ser de todo uns 
intrusos no bastião da razão, podendo encontrar-se, enredados nas suas teias, para o 
melhor e para o pior” (DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão 
e cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2012). 
Unidade 04 – Antropologia 
 
137 
b. refletir sobre os sistemas morais elaborados pelos homens. 
Podemos dizer que pertencem ao vasto campo da ética a reflexão sobre 
perguntas fundamentais como: 
• O que devo fazer para ser justo? 
• Quais valores devo escolher para guiar minha vida? 
• Há uma hierarquia de valores que deve ser seguida? 
• Que tipo de ser humano devo ser nas minhas relações comigo 
mesmo, com meus semelhantes e com a natureza? 
• Que tipo de atitudes devo praticar como pessoa e como cidadão?112 
 
4.3.4 Ética fundamental e ética especial 
 
Há de se observar que podemos dividir a ética em: 
• Ética Fundamental: que trata sobre a fundamentação do fato moral 
em geral. 
• Ética Especial: que trata de determinados setores da ética: ética 
política, ética sexual, ética ambiental etc. 
A temática da ética especial é hoje especialmente ampla e interessante, 
abrangendo situações concretas e pungentes da vida hodierna, tais como: 
— bioética e neuroética; 
— ética da afetividade e sexualidade (uma área especial de relação 
entre ética e psicologia); 
— o problema da violência; 
— ética política; 
— ética ambiental (a nossa responsabilidade perante o meio e perante 
as gerações futuras). 
A natureza como uma responsabilidade humanaé seguramente um 
novum sobre o qual uma nova teoria ética deve ser pensada. Que tipo 
de deveres ela exigirá? Haverá algo mais do que o interesse utilitário? 
É simplesmente a prudência que recomenda que não se mate a galinha 
dos ovos de ouro, ou que não se serre o galho sobre o qual se está 
 
112 COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia ser, saber e fazer: elementos da 
história do pensamento ocidental. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 212-213. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
138 
sentado? Mas este que aqui se senta e que talvez caia no precipício 
quem é? E qual é o meu interesse no seu sentar ou cair?113 
Tudo isso faz com que hoje em dia a ética seja uma das disciplinas 
filosóficas com diversas perspectivas e abordagens. 
 
• Indicação de leitura: 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 300-334. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas 
de Filosofia. São Paulo, Moderna, 1991, p. 116-137. 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006, p. 334-366. 
JUSTINO, Maria José. “A admirável complexidade da arte”. In: CORDI, 
Cassiano e o. Para Filosofar, p. 41-53. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 
212-227. 
CUNHA, José Auri. Iniciação à Investigação Filosófica. São Paulo: Atual, 
1992, p. 279-315. 
FERRATER MORA, José. “Ética”. In: Diccionario de Filosofia. vol. 2, 
Alianza Editorial, Madrid, 1980, p. 1057-1062 (ótimo resumo da história da 
ética). 
GILES, Thomas Ransom. Ramos Fundamentais da Filosofia: lógica, teoria 
do conhecimento, ética, política. São Paulo, EPU, 1995, p. 66-86. 
HUISMAN, Denis. Filosofia para principiantes. Lisboa: Publicações Dom 
Quixote, 1984, p. 47-76. 
LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia, 
p. 171-188. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980, p. 106-121. 
Morale” in: Dizionario delle Idee. Firenze: Sansoni, 1977, p. 722-738. 
 
113 JONAS, Hans. Princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para uma 
civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Puc Rio, 2006, p. 39-40. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
139 
RENAUD, Michel. “Moral”. In: Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de 
Filosofia, vol. 3, col. 956-978. 
SEVERINO, Antonio Joaquim. Filosofia, p. 191-200. 
 
4.4 ESTÉTICA 
 
A vida do ser humano não se restringe à prática utilitária ou apenas a 
agir e transformar a natureza. O mundo e a realidade tocam não somente a 
inteligência humana, mas também as emoções. O mundo, a natureza, antes 
de ser objeto do conhecimento e da atividade prática, é objeto da percepção 
e da contemplação. O mundo, no conjunto dos seus objetos e seres, tange 
uma vasta gama de emoções humanas: admiração, dor, felicidade, tristeza, 
raiva, medo, surpresa, etc. 
Desde os primórdios, o ser humano não apenas encantou-se com a 
natureza, mas procurou expressar as suas emoções através de diversos meios, 
como também criar objetos que de certa forma imitassem a beleza do mundo. 
É a criação artística: pintura, música, dança, etc. São expressões tão antigas 
quanto o próprio homem. Desde sempre, a arte é um dos segmentos 
constantes da cultura e da civilização humana, ao lado da religião, da 
filosofia e da ciência. 
Ora, a filosofia também inclui a vida emocional, a expressão artística, 
a dimensão estética como seu objeto de reflexão. 
Fazendo um levantamento do uso comum da palavra estética 
encontramos: Instituto de Estética e Cosmetologia, estética corporal, 
estética facial, etc. Essas expressões dizem respeito à beleza física e 
abrangem desde um bom corte de cabelo e maquilagem bem-feita a 
cuidados mais intensos como ginástica, tratamentos à base de creme, 
massagens, chegando às vezes à cirurgia plástica. Encontramos, ainda, 
expressões como: senso estético, arranjo de flores estético ou 
decoração estética. Nelas também está presente a relação com a beleza 
ou, pelo menos, com o agradável, mas aqui a palavra estética é usada 
como adjetivo, isto é, como qualidade. 
Se continuarmos a procurar, saindo agora do uso comum e entrando 
no campo das artes, encontramos expressões como: estética 
renascentista, estética realista, estética socialista, etc. Nesses casos, a 
palavra estética, usada como substantivo, designa um conjunto de 
Unidade 04 – Antropologia 
 
140 
características formais que a arte assume em determinado período e 
que poderia também ser chamado de estilo. 
Resta ainda outro significado, mais específico, usado no campo da 
filosofia. Sob o nome estética enquadramos um ramo da filosofia que 
estuda racionalmente o belo e o sentimento que suscita nos seres 
humanos. 
Tradicionalmente, portanto, mesmo em filosofia, a estética aparece 
ligada à noção de beleza. E é exatamente por causa desta ligação que 
a arte vai ocupar um lugar privilegiado na reflexão estética, pois, 
durante muito tempo, ela foi considerada como tendo por função 
primordial exprimir a beleza de modo sensível.114 
 
4.4.1 Estética: elucidação de conceitos 
 
• Estética: etimologia = percepção sensível 
A palavra “estética” (grego “aisthesis” = sentido, percepção sensível), 
significaria então uma experiência ou percepção pelos sentidos. 
Neste sentido, a palavra é usada por Immanuel Kant. A estética em 
Kant é parte da gnosiologia (“Estética Transcendental”) que teoriza sobre a 
sensibilidade, a percepção sensível. 
 
• Estética - percepção do belo, teoria do belo 
Estética, no sentido atual, como “percepção do belo” ou “teoria do 
belo”, deve-se à obra do alemão Alexander Baumgarten: Estética (1750).115 
 
Baumgarten reconheceu no seu campo semântico os seguintes 
aspectos: a presença de certos objetos melhor dotados, bem 
organizados nas suas formas, capazes de se dirigirem 
simultaneamente a todas as faculdades internas do homem, aos 
sentidos e ao espírito — objetos que correspondem à noção de beleza; 
a presença de uma experiência portadora de uma fruição 
 
114 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Morderna, 2003, p. 369. 
115 Cf. BAUMGARTEN, Alexander Gottlieb. Estética: a lógica da arte e do poema. 
Petrópolis: Vozes, 1993. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
141 
desinteressada, prazer estético; a existência de uma atividade humana 
que tinha como finalidade a produção deste tipo de objetos belos e 
específicos da experiência estética — a arte.116 
 
• Estética e Filosofia da Arte: sinônimos? 
Alguns identificam as duas coisas, outros distinguem: 
— “Filosofia da Arte”: seria a especulação metafísica especificamente 
sobre a criação artística. 
— “Estética”: um tratado mais amplo, sobre a beleza, sobre as 
condições do belo (uma vez que o belo existe além das obras de arte, na 
natureza, por exemplo). 
Para São Tomás, o belo é um dos atributos transcendentais do ser: 
“unum, verum, bonum et pulchrum” (indivisivo, verdadeiro, bom e belo). 
 
Há de se esclarecer ainda: 
 
• Estética: ciência da arte. Éstética”, na linguagem corrente, pode 
significar um estudo científico (histórico, sociológico) das manifestações 
artísticas. 
 
Há ainda: 
 
• Crítica da Arte: é a análise e o juízo das obras de arte a partir de 
princípios e padrões da própria arte, de seus setores específicos. Ex. crítica 
literária, crítica musical, crítica do cinema. 
Vamos, aqui, nos ater à estética como disciplina filosófica. 
 
4.4.2 Estética filosófica: temática 
 
 
116 MORAIS, Carlos B. “Estética”. In: Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de 
Filosofia, vol. 2, col. 270. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
142 
Muitos são os aspectos que podem constituir a temática da Estética, 
como por exemplo: 
 
• Relação entre arte e natureza: 
São três os modos principais de conceber a arte em relação ao real, à 
natureza: 
— imitação (concepção mimética da arte): arte como representação da 
realidade. 
— criação: arte como exteriorização dos sentimentos interiores dogênio excepcional. A obra de arte exprime em formas externas, criadas, os 
sentimentos e emoções. 
— expressão e construção: o artista não imita, não cria, mas reconstrói 
a realidade. 
O artista não é um gênio solitário e excepcional, mas um ser social 
que busca exprimir seu modo de estar no mundo na companhia de 
outros seres humanos, num embate contínuo com a natureza, com a 
sociedade e consigo mesmo. É alguém que, além de voltar-se para si 
mesmo para compreender-se por meio da obra que exprime seu 
trabalho de compreensão, também reflete sobre a sociedade, e por 
meio da obra social volta-se para o social, seja para criticá-lo, seja para 
afirmá-lo, seja para superá-lo.117 
 
• Sentido fundamental da arte: 
Há duas grandes concepções sobre a arte que percorrem a história, 
modificando-se às vezes, mas permanecendo fundamentalmente as mesmas: 
— a concepção platônica: arte como forma ou via de conhecimento, 
contemplação (atividade teórica); 
— a concepção aristotélica: arte como “poesis”, como atividade 
prática. 
 
• Finalidades ou funções da arte: 
Temos duas concepções que predominaram na história: 
 
117 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006, p. 322. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
143 
— a função pedagógica: arte como modeladora do espírito; a “catarse” 
em Aristóteles, produção do sentimento do sublime em Kant, função crítica 
social e política. 
— a função expressiva: desvincula a arte de outras manifestações 
vitais a afirma a sua autonomia, como expressão autônoma de uma dimensão 
essencialmente humana. 
 
• Arte e moral: 
De certa forma se liga ao anterior: 
— uma corrente afirma a total autonomia da arte: não está submetida 
nem à filosofia, nem à ciência, nem à moral. Em si, a arte é amoral, isto é, 
aquém do bem e do mal. 
— outra corrente (ligada à função pedagógica) afirma que mesmo não 
estando sujeito à moral como artista, o artista está sujeito à moral como 
homem. Portanto, o artista não pode escapar aos valores humanos enquanto 
tal, e a arte, segundo Croce deve ser considerada como uma missão, exercida 
como um sacerdócio.118 
 
• Indicação de leitura: 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 374-418. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas 
de Filosofia. São Paulo, Moderna, 1991, p. 186-224. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 
292-302. 
CUNHA, José Auri. Iniciação à Investigação Filosófica. São Paulo: Atual, 
1992, p. 239-278. 
FERRATER MORA, José: “Estética”. In: Diccionário de Filosofia, vol. 2, 
p. 1031-1033. 
HUISMAN, Denis. Filosofia para principiantes. Lisboa: Publicações Dom 
Quixote, 1984, p. 105-117. 
 
118 Cf. CROCE, Benedetto. Breviário de estética. São Paulo: Ática, 1997. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
144 
JUSTINO, Maria José. “A admirável complexidade da arte” in: CORDI, 
Cassiano e o. Para Filosofar, p. 191-219. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980, p. 162-171. 
MORAIS, Carlos B. “Estética”. In: Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de 
Filosofia, vol. 2, col. 269-290. 
NIELSEN NETO, Henrique. Filosofia Básica, p. 279-308. 
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo, Saraiva, 1989, p. 219-
231. 
TELES, Antonio Xavier. Introdução ao estudo da filosofia, p. 89-96. 
TOBIAS, José Antonio. Iniciação à Filosofia. Presidente Prudente, Editora 
do Unoeste, 1986, p. 181-196. 
 
4.5 FILOSOFIA POLÍTICA 
 
Desde os primórdios, o homem viveu em agrupamentos mais ou 
menos organizados, reunidos em clãs, tribos, grupos étnicos entre outros. 
Posteriormente, criou sociedades mais complexas, chamadas de Estados. 
O Estado assumiu, durante a história, diversas formas: pequenas 
cidades-Estados, Estados de grandes extensões territoriais, teocrático, 
absolutista, liberal, democrático, socialista etc. Assim, em toda a sua história 
o homem se preocupou em questionar e refletir sobre a organização social. 
O filósofo francês do século XVI, La Boétie, dizia que a história das 
associações políticas entres os homens é a história da própria servidão. 
E acrescentava que essa servidão é voluntária. Tal afirmação envolve 
várias questões sobre a condição humana. 
É o homem naturalmente sociável? Se não é, por que vive em 
sociedade? Se é sociável, por que tanta inimizade, tanta violência, 
tanta exploração? Como ocorreu a divisão da sociedade entre aqueles 
que mandam e aqueles que obedecem? Que motivos levam uma 
maioria a se entregar nas mãos de uns poucos para que estes conduzam 
as suas vidas? O que é, enfim, o poder político? 
Muitas das respostas dadas a essas interrogações apontaram para 
questões éticas, para a aspiração de um bem comum entre os homens. 
Talvez entrevendo a necessidade de uma relação íntima entre a ética 
Unidade 04 – Antropologia 
 
145 
— a busca da felicidade e justiça — e a política, em seu sentido 
superior”.119 
 
4.5.1 O pensamento político: pequeno histórico 
 
A reflexão sobre a vida em comunidade, a vida organizada, está 
presente praticamente desde o início da filosofia. Aliás, como vimos, a 
organização mais complexa e sofisticada das polis gregas coincide com o 
nascimento da filosofia e é uma das condições de seu surgimento. 
 
O problema da cidade conduz à filosofia e a filosofia, por seu turno, 
conduz a reformas e à transformação da vida da cidade e dos seus 
fundamentos religiosos, éticos e sociais. A partir de vários pontos de 
vista e de várias maneiras, os filósofos tornaram-se assim os teóricos 
e críticos da polis.120 
 
O pensamento sócio-político é um dos componentes mais importantes 
da tradição filosófica. Toda a filosofia socrática tem um fundo político: as 
virtudes humanas (prudência, sabedoria, honestidade, justiça) sobre as quais 
Sócrates discute são as virtudes necessárias para a convivência na polis. 
De forma mais caracterizada discorre Platão sobre a vida em sociedade 
em duas obras: República e Leis. Platão desenvolve uma concepção classista 
da sociedade — para ele um fato natural, decorrente da divisão das 
faculdades da alma. O governo pertence naturalmente à elite dos intelectuais. 
 
A cidade justa é governada pelos filósofos, administrada pelos 
cientistas (magistrados), protegida pelos guerreiros e mantida pelos 
produtores. Cada classe cumprirá sua função para o bem da polis, 
racionalmente dirigida pelos filósofos. Em contrapartida, a cidade 
injusta é aquela onde o governo está nas mãos dos proprietários — 
que não pensam no bem comum da polis e lutarão por interesses 
 
119 COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia ser, saber e fazer: elementos da 
história do pensamento ocidental. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 228. 
120 PACI. Enzo. Storia del pensiero presocratico. Turim: Eri, 1957 apud AMADO, 
João. O prazer de pensar: 10º ano de filosofia. Lisboa: Edições 70, 1986, p. 80. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
146 
econômicos particulares —, ou na dos militares — que mergulharão a 
cidade em guerras para satisfazer seus desejos particulares de honra e 
glória. Somente os filósofos têm como interesse o bem geral da polis 
e somente eles podem governá-la com justiça.121 
Uma referência universal do pensamento social é a obra Política de 
Aristóteles. Aristóteles constata a radical naturalidade e consubstancialidade 
da sociabilidade humana: “o homem é um animal político” (anthropos zoon 
politikon). O homem é por natureza um ser político, porque não é auto-
suficiente e necessita do seu semelhante para se desenvolver e para 
sobreviver. Ele se distingue dos demais animais pelo fato de que estes, 
embora vivam em associação permanente, só constituem agrupamentos em 
função dos instintos. O ser humano é o único animal que fundamenta sua 
convivência com base no conceito do bem e do mal, do justo e do injusto, 
valores que só se realizam pela presença do Estado. 
Essas considerações deixam claro que a cidade é uma criaçãonatural 
e que o homem é por natureza um animal social, e um homem que por 
natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma 
seria desprezível ou estaria acima da humanidade, e se poderia 
compará-lo a uma peça isolada do jogo de gamão. Agora é evidente 
que o homem, muito mais do que a abelha ou outro animal gregário, 
é um animal social. Como costumamos dizer, a natureza nada faz sem 
um propósito, e o homem é o único entre os animais que tem o dom 
da fala. Na verdade, a simples voz pode indicar a dor e o prazer, e 
outros animais a possuem (sua natureza foi desenvolvida até o ponto 
de ter sensações do que é doloroso ou agradável e externá-las entre si), 
mas a fala tem a finalidade de indicar o conveniente e o nocivo e, 
portanto, também o justo e o injusto; a característica específica do 
homem em comparação com os outros animais é que somente ele tem 
o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de outras 
qualidades morais, e é a comunidade de seres com tal sentimento que 
constitui a família e a cidade (polis)”.122 
Quanto às formas de governo, Aristóteles aponta três, sem preferência 
pessoal: monarquia, aristocracia e democracia, que no, entanto, podem 
degenerar em tirania, oligarquia e anarquia. 
 
121 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2006, p. 382. 
122 ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martins Fontes, 2006, Livro I, cap. 1. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
147 
O pensamento político medieval tende a uma teocracia: a potestas não 
é conferida pelo povo, mas procede de Deus; o soberano é o braço temporal 
do poder espiritual (aliança trono-altar).123 
Thomas Hobbes (século XVII) é o mentor do absolutismo. O homem, 
embora vivendo em sociedade, não possui o instinto natural da sociabilidade. 
Cada homem sempre encara seu semelhante como um concorrente que 
precisa ser dominado. No estado natural, portanto, o homem é um animal 
violento, e a única lei que prevalece é a lei do mais forte (homo homini 
lupus). 
Por conseguinte, para evitar a guerra de todos contra todos, o homem 
transfere os seus direitos ao soberano governante, como garantia de 
segurança. O poder tem de ser absoluto para conter a violência natural do 
homem e assegurar o bem comum. O Estado surge assim de um pacto de 
todos com todos: a transferência de direitos como condição para uma vida 
social segura. 
O desígnio dos homens, causa final ou fim último – que amam 
naturalmente a liberdade e o domínio sobre os outros –, introduzindo 
restrições sobre si mesmos conforme os vemos viver no Estado, é o 
cuidado com a sua própria conservação e com uma vida mais 
satisfeita.124 
Concepção inteiramente oposta à de Hobbes é a de Jean-Jacques 
Rousseau (século XVIII). No estado natural o homem é livre, puro, 
igualitário e bom (le bon sauvage). “Tudo está bem quando sai das mãos do 
autor das coisas, tudo degenera nas mãos dos homens”.125 
Hobbes pretendia que o homem era naturalmente intrépido e não 
procurava senão atacar e combater. Um filósofo ilustre pensa o 
contrário, e Cumberland e Pufendorf asseguram também que nenhum 
 
123 Para o aprofundamento dessa questão veja: ESTEVÃO, José Carlos. Da 
Antiguidade Tardia à Idade Média. In: MACEDO JUNIOR, Ronaldo Porto 
(Coord.). Curso de filosofia política: do nascimento da filosofia a Kant. São Paulo: 
Atlas, 2008, p. 185-222. 
124 HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martin Claret, 2005, p. 127. Para o 
aprofundamento dessa temática leia especialmente o capítulo XIII (Da condição 
natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria) e o capítulo XVII 
(Das causas, geração e definição de um Estado) do Leviatã. 
125 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da educação. São Paulo: Martins Fontes, 
1999, p. 7. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
148 
ser é tão tímido quanto o homem em seu estado de natureza, sempre 
trêmulo e pronto para fugir ao menor ruído que o alcance, a qualquer 
movimento que perceba.126 
O mal começa com a organização social, especialmente com a 
afirmação da propriedade privada. Na organização social há sempre opressão 
dos fortes sobre os fracos. 
Mas a organização social é inevitável e como concebê-la? Para 
Rousseau, o soberano é o povo e todo o poder procede dele. O governante 
deve ser, então, não o soberano, mas o representante da soberania popular. 
Ele deve representar e salvaguardar a “vontade geral”. 
Outro filósofo importante para pensarmos a origem do estado é John 
Locke. Locke possui tem uma posição moderada e equilibrada: o homem no 
estado natural não é pura maldade (Hobbes), nem pura bondade inocente 
(Rousseau). Locke parece não partilhar nenhuma destas duas teses extremas. 
É certo que no estado natural (no qual não existe organização política) os 
homens podem violar os direitos e liberdades dos demais (portanto, o homem 
não é necessariamente bom), mas também é certo que no estado natural os 
homens contam com uma lei natural, descoberta pela razão: a lei natural 
impõe limites à consciência e à conduta dos homens. 
Em conexão com o “estado de natureza”, Locke escreve sobre certos 
“direitos naturais” do homem (vida, saúde, liberdade, propriedade). Esses 
direitos decorrem da própria natureza humana. Eles são inalienáveis, isto é, 
ninguém pode ser desprovido desse direito, nada e ninguém pode negá-los 
ao homem, e é dever do Estado garanti-los – embora este possa regulamentá-
los e determiná-los. 
Neste sentido, afirma-se nos séculos XVIII e XIX o liberalismo 
político (John Locke, Utilitarismo) e na sua esteira o capitalismo como teoria 
de economia política liberal (Adam Smith, Stuart Mill). 
O liberalismo afirma as liberdades individuais como condição de ser 
no corpo político. O poder existe somente em função da salvaguarda e 
garantia das liberdades individuais. O “bem comum” é apenas a soma das 
 
126 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da 
desigualdade entre os homens. Brasília: Universidade de Brasília, 1985, p. 54. Obs. 
O filósofo ilustre, trata-se de Motesquieu, O espírito das Leis, I, cap. II; Cumberland 
(1631-1718), bispo anglicano, adversário de Hobbes, que opõe a lei da 
“benevolência universal” à “guerra de todos contra todos”. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
149 
felicidades individuais. O ideal é então quanto menos governo e quanto mais 
liberdades individuais. 
Em conjunção com o liberalismo, afirma-se a ideologia do 
capitalismo, como rejeição da intervenção do Estado em assuntos 
econômicos, a liberdade de mercado, a livre concorrência. 
As teorias liberais defendem o Estado laico, recusando a intervenção 
da Igreja nas questões políticas. Defendem a economia de mercado, 
segundo a qual existe um equilíbrio natural decorrente da lei da oferta 
e da procura, o que reduz a necessidade de intervenções (teoria do 
Estado mínimo). A economia de mercado supõe ainda a defesa da 
propriedade privada dos bens de produção e a garantia de 
funcionamento da economia a partir do princípio do lucro e da livre 
iniciativa, o que valoriza o espírito empreendedor e competitivo.127 
Em decorrência da injustiça social compreendida como consequência 
natural do capitalismo, surgem, no s. XIX, as ideias socialistas (socialismo 
francês, Karl Marx, Friedrich Engels). 
O socialismo pretende superar o capitalismo pela revolução sócio-
econômica (cujo fulcro é a abolição da propriedade privada) e chegar a uma 
nova estruturação social: uma sociedade igualitária, sem classes, justa e feliz. 
 O mundo conheceu políticas fundamentadas na força como solução 
aos diversos problemas sociais: nazismo, fascismo, comunismo, ditaduras 
militares. 
Do breve histórico acima, pudemos captar pelo menos algumas 
questões que tangem a realidade social e política do homem. Estas questões 
formalizadas formam justamente os elementos e a temática da Filosofia 
Política. 
 
4.5.2 Filosofia política: elementos 
 
• Indicação de leitura: 
ANZENBACHER, Arno. Introducción a la Filosofia. Barcelona: Herder, 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS,Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 206-301. 
 
127 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de 
Filosofia. São Paulo, Moderna, 1991, p. 157. 
Unidade 04 – Antropologia 
 
150 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas 
de Filosofia. São Paulo, Moderna, 1991, p. 136-186. 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006, p. 367-437. 
JUSTINO, Maria José. “A admirável complexidade da arte” in: CORDI, 
Cassiano e o. Para Filosofar, p. 87-146. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 
228-250. 
CUNHA, José Auri. Iniciação à Investigação Filosófica. São Paulo: Atual, 
1992, p. 117-199. 
GILES, Thomas Ransom. Ramos Fundamentais da Filosofia: lógica, teoria 
do conhecimento, ética, política. São Paulo, EPU, 1995, p. 87-125. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 1980, p. 114-138. 
NIELSEN NETO, Henrique. Filosofia básica, p. 216-279. 
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo, Saraiva, 1989, p. 205-
218. 
SEVERINO, Antonio Joaquim. Filosofia, p. 163-174; 191-200. 
 
Unidade 04 – Antropologia 
 
151 
REFERÊNCIAS 
 
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 
1982 
ALMEIDA, Rogério Miranda de. História da filosofia antiga [recurso 
eletrônico]. Curitiba: FASBAMPRESS, 2021. 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas 
de Filosofia. São Paulo, Moderna, 1991 
BAUMGARTEN, Alexander Gottlieb. Estética: a lógica da arte e do poema. 
Petrópolis: Vozes, 1993. 
BRUGGER, Walter. Diccionário de filosofia. Barcelona: Herder, 1983. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia ser, saber e fazer: elementos 
da história do pensamento ocidental. São Paulo: Saraiva, 1993. 
CROCE, Benedetto. Breviário de estética. São Paulo: Ática, 1997. 
DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e cérebro 
humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins 
Fontes, 2007. 
FINANCE, Joseph. Etica Generale. Bari: Tipografica Meridionale, 1975. 
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Martin Claret, 2005. 
JOLIF, A. Compreender o Homem. São Paulo: Herder, 1975. 
JONAS, Hans. Princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para uma 
civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Puc Rio, 2006. 
MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. 
12. ed. Petrópolis: Vozes, 2005. 
OLIVEIRA, Admardo Serafim de. Introdução ao pensamento filosófico. São 
Paulo: Loyola, 2005 
PACI. Enzo. Storia del pensiero presocratico. Turim: Eri, 1957 apud 
AMADO, João. O prazer de pensar: 10º ano de filosofia. Lisboa: Edições 
70. 
RABUSKE, E. Antropologia Filosófica. Petrópolis: Vozes, 1986 
Unidade 04 – Antropologia 
 
152 
RENAUD, Michel. Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia. vol. 1. 
Lisboa: Verbo, 1992. 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da 
desigualdade entre os homens. Brasília: Universidade de Brasília, 1985. 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da educação. São Paulo: Martins 
Fontes, 1999. 
SELVAGGI, Filippo. Filosofia do mundo: cosmologia filosofica. São Paulo: 
Loyola, 1988. 
SENA, Gleison. Ética. Curitiba: FASBAMPRESS, 2021. 
WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo: Editora 
da Universidade de São Paulo, 1994. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
153 
 
UNIDADE 05 – FILOSOFIA DA 
RELIGIÃO E OS PERÍODOS DA 
HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
Objetivo da unidade: estudar a religião como um dos componentes 
da cultura humana e familiarizar-se com os grandes períodos da história da 
filosofia. 
 
Conteúdos da unidade: 
1) A religião na história do pensamento 
2) História da filosofia 
3) História da filosofia antiga e medieval 
4) História da filosofia moderna 
5) História da filosofia contemporânea 
 
5.1 A RELIGIÃO NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
 
A religião é um dos elementos fundamentais e constantes das 
civilizações humanas. Ora, para conhecer uma cultura e uma sociedade 
precisamos conhecer também a sua religião. 
Trata-se de uma manifestação que, por abarcar a humanidade inteira, 
tanto no espaço quanto no tempo (e não só este ou aquele grupo de 
uma época histórica particular), assume proporções notáveis. Os 
antropólogos nos informam que o homem desenvolveu uma atividade 
religiosa desde seu primeiro aparecimento no cenário da história e que 
05 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
154 
todas as tribos e todas as populações, qualquer que seja o nível 
cultural, cultivaram alguma forma de religião.128 
A Filosofia, como “ciência do todo”, haveria de interessar-se também 
pelo fenômeno religioso. Encontramos algo desse interesse já na própria 
filosofia grega. Assim, de acordo com Almeida: 
Para o estudioso britânico, Francis M. Cornford, no seu livro Da 
religião à filosofia, as categorias básicas da filosofia grega já se 
achavam implícitas na mitologia, e a teoria dos opostos teria como 
origem uma representação religiosa. Logo, não teria havido nenhuma 
descontinuidade entre uma e outra área do saber. É o que também 
pensa Werner Jaeger, na sua obra intitulada, A teologia dos primeiros 
filósofos gregos.129 
Na Idade Média, a filosofia – quase exclusivamente cristã – aceita 
pacificamente a seu lado uma ciência autônoma da religião, a teologia; antes, 
considera-se como subsidiária daquela (philosophia ancilla theologiae). 
A partir da Idade Moderna ocorre um interesse mais positivo pelo fato 
religioso e não há praticamente filósofo algum que não aborde o assunto. No 
estudo da religião e do fenômeno religioso, os filósofos seguem 
procedimentos diferentes, segundo perspectivas variadas: seja respeitando e 
valorizando o fenômeno religioso, seja negando-o, aceitando-o parcialmente 
e interpretando-o de maneiras diversas. 
 
• As “ciências da religião” 
 
A partir do final do século XIX verificamos um fato novo. Começam 
a proliferar as chamadas “ciências da religião”. As ciências históricas, 
psicológicas e sócio-antropológicas centram seu interesse sobre o fenômeno 
religioso como um dos elementos capitais da história e da civilização 
humana. Vemos, então, aparecerem obras importantes, como a Mitologia 
Comparada de Max Müller (1856), a Cultura Primitiva de Edward Tylor 
 
128 MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 
São Paulo: Paulus, 2004, p. 79. 
129 ALMEIDA, Rogério Miranda de. História da filosofia antiga [recurso 
eletrônico]. Curitiba: FASBAMPRESS, 2021, p. 24. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
155 
(1871), As formas elementares da vida religiosa de Émile Durkheim (1912), 
As origens da ideia de Deus de Wilhelm Schmidt (1912-1955). 
Essas ciências da religião carregam, no entanto, ainda muita influência 
do Positivismo evolucionístico e estão, em geral, seguem um método e um 
esquema interpretativo: a preocupação básica centra-se na questão da origem 
da religião e sua evolução na história. 
 
• A “Fenomenologia da Religião” 
 
A partir da metade do século passado aparecem as chamadas 
Fenomenologias da Religião. Situada ainda no nível científico, a 
fenomenologia pretende analisar e descrever mais objetivamente o fenômeno 
religioso, captar a sua estrutura e seus elementos – sem pretender uma 
interpretação ou reflexão global desses elementos (o que é objeto da Filosofia 
da Religião). 
Dentre os fenomenólogos podemos destacar os seguintes mais 
importantes: Joachim Wach (The Comparative Study of Religion - 1958), 
Gerard van der Leeuw (Fenomenologia da Religião - 1933), G. Mausching 
(A religião, formas de manifestação e estrutura - 1959), Friedrich Heiler 
(Formas e essência da Religião - 1961), e os grandes Mircea Eliade (O 
Sagrado e o Profano- Hamburgo 1957 ) e Rudolph Otto (O sagrado - Berlim 
1967). 
A Fenomenologia fornece elementos para a filosofia da religião: antes 
de refletir sobre o fenômeno religioso é preciso conhecê-lo suficientemente. 
A fenomenologia da religião teve, efetivamente, um grande desenvolvimento 
nos últimos anos. 
 
5.1.1 Fenomenologia da religião: definição 
 
Como podemos entender a fenomenologia no estudo da religião? Qual 
é a sua importância para o conhecimento religioso? 
A Fenomenologia da Religião é um estudo científico dos fatos 
religiosos e de suas manifestações, assim como se apresentam na 
história da humanidade. O material, do qual ela se serve, é colhido da 
observação e dos testemunhos da vida e do comportamento religioso 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
156 
do homem, pois que este manifesta a sua atitude religiosa em atos 
como a oração, em ritos como o sacrifício e os sacramentos, os seus 
pensamentos e as suas aspirações religiosas enquanto expressas em 
mitos e símbolos, as suas crenças e as suas convicções acerca da 
realidade do sagrado e de Deus”.130 
Na perspectiva de Caffarena podemos ler: 
La fenomenologia de la religión puede ser definida en una primera 
aproximación a su contenido como la compreensión del fenómeno 
religioso en su totalidad a partir de sus múltiples manifestaciones 
históricas.131 
A fenomenologia da religião tem, portanto, um caráter descritivo: 
descrever o fenômeno religioso e seus diversos elementos componentes. O 
seu conteúdo desdobra-se, geralmente, nos seguintes pontos: a experiência 
religiosa, o sagrado e o profano, a atitude religiosa em seus diversos níveis 
(oração, sacrifício, culto), a configuração do divino e outros. 
 
5.1.2 Filosofia da religião: objeto 
 
A filosofia da religião é o complemento e o termo da fenomenologia: 
é a reflexão crítica sobre o fenômeno religioso e seus elementos 
constitutivos. Trata-se da compreensão fundamental da religião no que ela 
possui de essencial, de sua estrutura como um fato humano. 
A filosofia da religião diferencia-se da teodiceia pelo objeto. O objeto 
da teodiceia é Deus ou o Absoluto como causa última do ser. O objeto da 
filosofia da religião é o fenômeno religioso como um fato humano, elemento 
fundamental da civilização humana na história. 
Filosofia da Religião é a investigação filosófica da religião como tal 
ou daquilo pelo qual as religiões históricas se distinguem, enquanto 
religião, dos restantes fenômenos culturais. Sua investigação 
primordial incide sobre a essência da religião, sobre o que esta é e 
deve ser na plenitude de seu conceito.132 
 
130 CANTONE, Carlo. Le scienze della religione oggi. Roma: LAS, 1981, p. 12 
(tradução nossa). 
131 CAFFARENA, Jose Gomez. Filosofia de la religion. Madrid: Revista de 
Occidente, 1973, p. 18. 
132 BRUGGER, Walter. Diccionário de filosofia. Barcelona: Herder, 1983, p. 358. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
157 
A filosofia da religião, no entanto, deve ser conduzida com especial 
cuidado: deve respeitar o fenômeno religioso como específico e autônomo, 
sem entrar em nenhuma espécie de redução, isto é, englobar o fenômeno 
religioso em outros fenômenos (sociais, psicológicos, filosóficos) e a partir 
disso interpretá-lo. O fenômeno religioso haverá, pois, de ser enfrentado 
como um fenômeno absolutamente singular e irredutível. 
 
• Indicação de leitura: 
BRUGGER, Walter. Diccionário de filosofia. Barcelona: Herder, 1983, p. 
358. 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006, p. 279-313. 
FERRATER MORA, J., Diccionário de Filosofia, vol. 3, 2002-2015, p. 
2834-2836. 
 
5.2 HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
 
Para estudar a filosofia é indispensável conhecer a história da filosofia, 
isto é, conhecer o desenvolvimento do pensamento humano no espaço e no 
tempo. A filosofia desenvolveu-se devido aos gênios do pensamento que 
questionaram o mundo e o próprio homem e sua vida, e que contribuíram de 
maneira decisiva – ao lado da ciência, da técnica e da arte – para a evolução 
da consciência humana e da própria civilização. Conhecer estes personagens 
e seu pensamento é, portanto, indispensável num Curso de Filosofia. 
As relações da filosofia com sua história são análogas às relações do 
homem com seu próprio passado. O adulto não é a criança que foi, é 
a criança que deixou de ser criança e se tornou adulto. A infância, 
porém, não foi destruída, ou aniquilada nesse processo, no qual foi 
sucedida pela adolescência, pela mocidade e pela maturidade. A 
infância persiste, na forma de ter sido, enquanto presença do passado, 
contida e superada pelas idades posteriores. Somos e não somos o 
nosso passado, porque somos também o nosso futuro, que ainda não 
passou, embora esteja constantemente deixando de ser futuro, para 
converter-se, ao longo do presente, em passado. A filosofia não é a 
sua história – porque não é apenas o seu passado, mas também o seu 
presente e o seu futuro. E, no entanto, é a sua história porque, como 
diz Hegel, ‘o que somos, o somos também historicamente” e ‘o 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
158 
tesouro da razão consciente dela mesma, que nos pertence, que 
pertence à época contemporânea, não saiu do solo do tempo presente 
mas (para esse tempo) é essencialmente uma herança, mais 
precisamente o resultado, do trabalho e, a bem dizer, do trabalho de 
todas as gerações anteriores do gênero humano’. O estudo da história 
da filosofia, acrescenta, ‘é o estudo da própria filosofia’. 
Não se trata, porém, de erudição e, muito menos, de arqueologia, 
porque essa tomada de consciência do passado filosófico, ou, para usar 
uma metáfora heraclítica, essa viagem às cabeceiras do rio, do rio do 
pensamento, não se empreende pelo simples prazer da viagem, mas, 
para que esse rio, que corre sem cessar, que jamais é o mesmo e é 
sempre o mesmo, nos reconduza ao presente, nos traga de volta à 
atualidade, ao momento do tempo em que nos encontramos. Não teria 
sentido permanecer indefinidamente nas cabeceiras do rio, em suas 
nascentes, fazendo a exegese dos pensadores e que se acham no 
começo da história da filosofia. Por mais importante e significativo 
que seja esse pensamento inicial, é apenas o ponto de partida, o 
primeiro momento, desse processo que, uma vez desencadeado, não 
mais se interrompe, prosseguindo até os nossos dias. 
O primeiro período da história da filosofia grega se prolonga no 
segundo que, por sua vez, se prolonga no terceiro. Já em Aristóteles, 
na Metafísica, encontramos a primeira história da filosofia, pois, nos 
primeiros livros desse tratado, o Estagirita faz um inventário crítico de 
todo o pensamento anterior ao seu. A filosofia grega se prolonga na 
teologia cristã, que é platônica e plotiniana até o século XIII, no qual 
se torna aristotélica. Os germens da filosofia renascentista e mesmo 
moderna, já se acham na filosofia medieval e, o que chamamos de 
filosofia contemporânea é um prolongamento imediato da filosofia 
moderna. A filosofia contemporânea é um resultado e, como resultado 
é inseparável de toda a filosofia anterior, que nela se acha 
implicitamente contida. ‘A filosofia moderna, escreve Marx, não fez 
senão continuar a tarefa já começada por Heráclito e Aristóteles’”.133 
Por outro lado, estudar a história da filosofia não é só estudar a 
evolução das ideias filosóficas em si. Estudar a História da Filosofia é 
detectar a dimensão mais profunda da própria história, do processo 
civilizatório em si, entender os grandes temas intelectuais e culturais de uma 
época. 
 
133 CORBISIER, R. Introdução à Filosofia. Tomo II, Parte 1. São Paulo: Civilização 
Brasileira, 1983, p. 241. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
159 
A filosofia pressupõe o filósofo que, por sua vez, pressupõe o lugar e 
o tempo, a cultura, a época e a fase, o momento histórico em que viveu e 
pensou. A filosofiaé a fronteira da consciência, o limite extremo alcançado 
pela consciência humana em determinado momento da história. 
Em suma, desenvolver a História da Filosofia é entender o homem, o 
tempo, a história e a cultura em suas dimensões mais profundas. 
 
5.2.1 História da filosofia: quadro cronológico 
 
Agrupar filósofos em correntes de pensamento resulta um tanto quanto 
arbitrário, visto que cada filosofia pretende ser autônoma, um modo original 
de elaborar visões e interpretações da realidade. 
Quando se agrupa autores numa determinada corrente, há de se ter em 
mente, portanto, que o que os une não é uma identidade de pensamento, mas 
apenas algumas características que podem ser mais ou menos 
assemelhadoras. 
Igualmente convencional é dividir a História da Filosofia em idades e 
períodos, já que o que existe na realidade é a plena continuidade e evolução 
paulatina do pensamento. 
Convencionalmente, pois, e de acordo com o modelo da história 
política, divide-se a história da filosofia em quatro idades ou períodos: 
antiga, medieval, moderna e contemporânea. 
 
5.3 IDADE ANTIGA E MEDIEVAL 
 
Estende-se do s. VII a.C. ao s. III d.C. (ou oficialmente até o s. VI d.C. 
fechamento da Academia de Atenas). 
É o período da filosofia grega (em pequena parte também romana). 
 
• Subdivisão: 
 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
160 
5.3.1 Período pré-socrático (700 a.C. - 470 a.C.)134 
 
Pensamento predominantemente cosmológico: a busca do estofo, a 
“physis” de todas as coisas. Torna-se mais puramente metafísico na 
discussão sobre o uno e o múltiplo, a identidade e a mudança (Heráclito e 
Parmênides). 
 
Tales, Anaximandro, Anaxímenes (“Milésios”) 
Heráclito de Éfeso 
Anaxágoras de Clazómenes 
Pitágoras, Filolau (“Pitagóricos”) 
Xenófanes, Parmênides, Zenon (“Eleatas”) 
Empédocles de Agrigento 
Leucipo, Demócrito (“Atomistas”) 
Sofistas 
 
 
5.3.2 Período ático (470 - 300 a.C.) 
 
É o período clássico, do apogeu da filosofia grega, no brilhante século 
de Péricles. Atenas torna-se o grande centro cultural grego (Academia, 
Perípato). A filosofia se universaliza; o centro é a Ontologia, a doutrina do 
ser. 
 
Sócrates (469 - 399) 
Platão (427 - 347) 
Aristóteles (384 – 322) 
 
134 Para o aprofundamento no estudo da História da Filosofia Antiga, veja a obra: 
ALMEIDA, Rogério Miranda de. História da filosofia antiga [recurso eletrônico]. 
Curitiba: FASBAMPRESS, 2021. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
161 
 
Platão e Aristóteles realizam num alto grau de perfeição dois tipos 
clássicos de pensamento. Criaram, um e outro, uma síntese filosófica, 
que não cessou de exercer poderosa atração sobre os espíritos. 
Platão tem a inteligência fina, servido por uma imaginação brilhante e 
inspirado por um profundo sentimento; temperamento poético e 
místico, deixa gostosamente o mundo das contingências para atingir a 
esfera serena do ideal e entregar-se a especulações elevadas e sutis. 
Seus “Diálogos” são obras clássicas da literatura universal. 
Aristóteles é um amante fervoroso das ciências naturais, observador 
paciente, que coleciona e classifica os fatos. Ambiciona construir suas 
teorias sobre larga base empírica. Espírito sistemático, de uma lógica 
rigorosa, organiza metodicamente os seus trabalhos e os distribui em 
ramos nitidamente definidos – lógica, física, filosofia primeira, moral, 
etc. – nunca perde de vista o alvo final, a elaboração de uma síntese 
universal, que forneça a explicação radical do conjunto das coisas. 
Seus “Tratados”, quase as únicas obras que nos foram conservadas, 
são escritos numa língua técnica, sóbria, clara e precisa.135 
 
5.3.3 Período helenístico (300 a.C. - 30 a.C.) 
 
Período sob o Império Macedônico; a cultura grega sofre influências 
externas, sobretudo egípcias e indo-iranianas. 
 
• Estoicismo 
O estoicismo é uma filosofia moral: o ideal humano é o exercício da 
serenidade e da insensibilidade perante o prazer e a dor, porque o cosmos é 
regido pelo fatum, o destino inexorável. 
 
Zenon de Cítio (340 – 264 a. C.) 
Crísipo de Solis (279 – 206 a. C.) 
Sêneca (romano) (4 a. C. – 65 d.C.) 
Epíteto (romano) (50 – 138) 
 
135 RAYMAEKER, L. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU: 1973, p. 78. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
162 
 
• Epicurismo 
 
Igualmente uma filosofia moral, fundamentada no prazer. A vida é a 
procura de prazeres; mas para obter o bom prazer é necessária uma sábia 
moderação e buscar sobretudo os prazeres refinados do espírito, que são 
calmos e profundos. 
 
Epicuro de Samos (341 – 270 a. C.) 
Metrodoro de Lâmpsaco (331 – 277 a. C.) 
Apolodoro de Atenas (180 – 120 a. C.) 
Lucrécio Caro (romano) (94 – 50 a. C.) 
 
• Ceticismo (Academia) 
 
Pirro de Elis (360 – 270 a. C.) 
 
• Ecletismo (Perípato) 
 
Andrônico de Rodes (séc. I a.C) 
 
5.3.4 Período romano 
 
Domínio militar romano, mas a cultura grega continua predominando. 
Filosofia em decadência. Uma única escola a se destacar: 
 
• Neo-platonismo 
 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
163 
O neo-platonismo é renovação da filosofia de Platão, mas com 
influências da mística oriental, de onde decorre o seu desprezo pela matéria. 
Doutrina moral ascética, com muitas influências no Cristianismo. 
 
Plotino (204 - 270 d.C.) 
Amônio Sacas (175 – 242) 
Proclo (412 – 485) 
 
5.3.5 Idade média 
 
Estende-se do século III d.C. — os primeiros filósofos cristãos — ao 
século XV (não é a Idade Média sócio-política no sentido rigoroso). 
É o período da filosofia cristã: a filosofia é cultivada exclusivamente 
pelos homens da Igreja. 
É uma filosofia elaborada sobre os moldes da filosofia grega: 
inicialmente predominou o platonismo, depois adveio o aristotelismo, 
trazido do Oriente pelos árabes. A filosofia antiga, porém, recebe as 
contribuições da fé cristã: trata-se agora de pensar em um mundo já 
configurado em função da fé e dos valores cristãos. 
Conjunturas culturais: a ciência suprema da Idade Média era a 
teologia. A filosofia era considerada como subsidiária da teologia: era natural 
entender o mundo pela fé; a razão criava as condições para a fé. Apesar disso, 
a filosofia medieval encerra dentro de si verdadeiras riquezas de pensamento. 
 
• Subdivisão: 
 
5.3.6 Filosofia patrística (século III – século VII) 
 
Os filósofos da patrística são muito mais teólogos do que filósofos. 
São filósofos na medida em que assumem uma filosofia (a platônica e a neo-
platônica) como fundo de seu pensamento teológico. Utilizam a filosofia 
grega para a elucidação do dogma na luta contra o paganismo e as heresias. 
O filósofo mais conhecido desse período é Santo Agostinho. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
164 
Do século VII ao século IX ocorre uma total paralização do 
pensamento filosófico: época da invasão bárbara. 
 
• Padres gregos: 
 
Justino Mártir (100 - 165) 
Clemente de Alexandria (150 - 215) 
Orígenes (185 – 254) 
Padres Capadócios: São Basílio Magno (330-379), São 
Gregório de Nissa (330-395), São Gregório de Nazianzo (329-389). 
 
• Padres latinos: 
Tertuliano (160-220) 
Boécio (480-524) 
Ambrósio de Milão (340-397) 
Santo Agostinho (354-430) 
 
5.3.7 A pré-escolástica (alta idade média, século IX-X) 
 
É a etapa de formação do pensamento cristão propriamente dito: a 
influência predominante ainda é o platonismo e a autoridade de Santo 
Agostinho é incontestável. 
 
João Scoto Eriúgena (+ 877) 
Santo Anselmo (1033-1109) 
Pedro Abelardo (1079-1142) 
Escola de Chartres (Bernardo de Chartres, Teodorico de 
Chartres, Gilberto de Poitiers). 
 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
165 
5.3.8 Alta escolástica (baixa idade média, século XI-XIII) 
 
A Alta escolástica é o apogeu do movimento escolástico; intenso 
dinamismo filosófico, devido à entrada noOcidente das obras de Aristóteles, 
o florescimento das Universidades e a atividade científica das grandes 
Ordens religiosas. 
 
Avicena, Averroes (árabes que introduziram Aristóteles no 
Ocidente) 
Escola de Oxford 
Roberto Grossteste (1175-1250) 
Rogério Bacon (1210-1292) 
 
Escola Franciscana (rival dos dominicanos, na linha platônico-
agostiniana): 
Alexandre de Halles (1170-1245) 
São Boaventura (1221-1274) 
S. Alberto Magno (1193-1280) 
São Tomás de Aquino (1224-1274) — o maior filósofo 
medieval; o cristianismo em moldes aristotélicos. 
João Duns Scoto (1266-1308) 
Mestre Eckhart (1260-1327) 
 
5.3.9 Baixa escolástica (século XIV-XV) 
 
Período de decadência da Escolástica: escolas que apenas repetiam e 
comentavam os mestres anteriores. Uma única corrente de destaque: 
 
 
 
 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
166 
 • Nominalismo 
 
O Nominalismo põe em questão a Metafísica escolástica: não existem 
as realidades das coisas abstratas e universais; são puros “nomes”. 
 
Guilherme de Ockam (1300-1349) 
Nicolau de Cusa (1401-1464) 
 
5.4 IDADE MODERNA 
 
Estende-se do s. XVI (Renascimento) até o século XIX (Idealismo 
alemão). 
Contexto sócio-cultural: dissolução do feudalismo, emergência de 
nova classe (burguesia), descobertas geográficas e científicas, quebra da 
unidade do cristianismo, emergência da cultura leiga. Grande fator: a 
imigração de sábios e literatos bizantinos (que não tiveram uma Idade 
Média), que trouxeram obras literárias ainda desconhecidas ao Ocidente. Isto 
fez ressurgir o interesse pela Antiguidade clássica: é o Renascimento como 
retorno ao ideal humano clássico, a valorização dos poderes humanos. A 
razão, em vez de especular as coisas da fé, volta-se à natureza: ciência. 
Característica: a filosofia moderna desenvolve-se em torno da análise 
dos poderes da razão (mesmo no empirismo), seja para enaltecê-la, seja para 
questioná-la. A filosofia moderna é, antes de tudo, gnosiológica: tudo é 
tratado a partir dessa perspectiva. 
Período também de elaboração de ideias sociais e políticas. 
 
• Correntes principais: 
 
1. Humanismo e Renascimento: 
 
O Humanismo renascentista é um movimento artístico e literário, com 
reflexos na filosofia: no lugar do teocentrismo medieval, a preocupação pelo 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
167 
homem, a valorização da razão humana (não são, porém, ateus). Uma 
renovação intelectual, inspirada no retorno aos valores da civilização em que 
se julga que o homem tenha conseguido sua melhor realização, a civilização 
greco-romana. Ideais filosóficos da primeira filosofia grega: a volta à 
natureza - ciências. 
 
Erasmo de Rotterdam (1467-1536) 
Jacob Böhme (1575-1624) 
 Maurício Ficino (1433-1499) 
 Pico della Mirandola (1463-1494) 
 Bruno Telésio (1509-1588) 
 Giordano Bruno (1548-1600) 
 Tomás Campanella (1568-1639) 
 
2. Contra-Reforma: 
 
 Tomás de Vio (1468-1534) 
 Francisco Suarez (1548-1617) 
 
3. Ceticismo: 
 
 Michel de Montaigne (1533-1592) 
 Pierre Charron (1541-1603) 
 
4. Filosofia Política (Direito): 
 
Filósofos que procuraram pensar a nova necessidade gerada pelo novo 
momento (a queda do feudalismo, a ascensão da burguesia): fundamentar a 
teoria do Estado e das leis civis. 
 
 Johannes Althusen (1557-1638) 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
168 
 Hugo Grotius (1541-1603) 
 Nicolau Maquiavel (1469-1527) 
 Jean Bodin (1530-1596) 
 Tomas Morus (1480-1535) 
 
5. Racionalismo: 
 
O Racionalismo — a primeira grande corrente da filosofia moderna 
— é antes de tudo gnoseológico: a posição segundo a qual só a razão é capaz 
de propiciar o conhecimento adequado do real e é a fonte primeira de todo o 
saber humano. 
 
 René Descartes (1596-1650) 
 Baruch Spinoza (1632-1677) 
 Gotffried Whilhelm Leibniz (1646-1716) 
 
5.1 Crítico do racionalismo 
 
 Blaise Pascal (1623-1662) 
 
6. Ocasionalismo: 
 
É uma ramificação do racionalismo, um racionalismo “pietista”: a 
fonte dos conhecimentos é a Razão Divina; a nossa razão intui as verdades 
na Razão Divina. 
 
 Nicolas Malebranche (1638-1715) 
 Arnold Geulincx (1624-1669) 
 
 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
169 
7. Empirismo: 
 
Corrente contrária ao racionalismo: considera a experiência sensível 
como a única fonte do conhecimento. Mas é uma posição crítica frente ao 
próprio conhecimento empírico: dele não podemos desvendar as coisas em 
si. No fundo, o Empirismo é uma maneira diversa de conceber a razão. 
 
 Francis Bacon (1561-1626) 
 Thomas Hobbes (1588-1679) 
 John Locke (1623-1704) 
 George Berkeley (1685-1753) 
 David Hume (1711-1776) 
 
8. Iluminismo: 
 
O iluminismo não constitui uma corrente de grandes pensadores, mas 
de divulgadores de ideais como “ciência”, “progresso”, “liberdade”. Luta 
contra o obscurantismo do regime autoritário e contra a autoridade 
dogmática da Igreja, avessos que são à fé numa revelação sobrenatural 
(deísmo). 
 
a) Iluminismo francês: 
 
 Voltaire (1694-1778) 
 Jean le Rond D’Alembert (1717-1783) 
 Denis Diderot (1713-1784) 
 Claude Adrien Helvetius (1715-1771) 
 Julien Offray de la Mettrie (1709-1751) 
 T. D’Holbach (1723-1789) 
 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) 
 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
170 
b) Iluminismo alemão (Aufklärung): 
 
 Christian Wolff (1679-1754) 
 Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) 
 Hermann Samuel Reimarus (1694-1768) 
 
9. Criticismo 
 
Immanuel Kant (1724-1804) 
 
O pensamento de Kant questiona a fundo o pensamento racionalista e 
empirista, como também analisa o método das ciências físico-matemáticas, 
e se concentra na investigação da faculdade da razão ou do conhecimento, 
propondo um método crítico capaz de determinar o poder e o limite das 
faculdades de conhecimento e superar os dois sistemas mencionados. 
 
5.5 PERÍODO CONTEMPORÂNEO 
 
• Inclui os séculos XIX, XX e XXI. 
• Filosofia muito diversificada e fragmentada. Difícil de ser 
sistematizada em correntes devido à sua proximidade a nós. 
• Filosofia às vezes em estreita conjunção com as ciências humanas: 
psicologia, psicanálise, antropologia, sociologia, entre outras 
• Temática específica (mais no século XX): ciência (filosofia da 
ciência), linguagem (filosofia da linguagem) e sociedade (filosofia social). 
 
a) Idealismo: 
 
Identifica ideia (pensamento) e ser: o ser na sua essência é ideal. 
Monismo. No idealismo alemão o racionalismo moderno atinge o ápice com 
a absolutização e divinização da razão. Filosofia que se caracteriza pela 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
171 
elaboração de sistemas grandiosos, enciclopédicos, e que gerou profundas 
influências, diretas ou indiretas. 
 
 Johan Gottlietb Fichte (1762-1814) 
 Friedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775-1854) 
 Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) 
 
b) Anti-hegelianismo: 
 
Filósofos isolados que questionaram o sistema hegeliano sob diversos 
pontos de vista. 
 Johann Friedrich Herbart (1776-1841) 
 Arthur Schopenhauer (1778-1860) 
 
c) Esquerda hegeliana: 
 
Grupo de discípulos de Hegel que enveredaram para uma radical 
crítica religiosa e em direção de um materialismo cada vez mais manifesto. 
 
 David Friedrich Strauss (1808-1874) 
 Bruno Bauer (1809-1882) 
 Ludwig Feuerbach (1804-1872) 
 Arnolg Ruge (1802-1880) 
 Max Stirner (1806-1856) 
 
d) Materialismo Dialético: 
 
Deriva da Esquerda hegeliana. De Hegel conserva apenas a Dialética. 
Filosofia de fundo materialista que faz a crítica social e se torna partido 
político. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
172 
 
 Karl Marx (1818-1883) 
 Friedrich Engels (1820-1895) 
 Jacob Moleschott (1822-1893) 
 Ludwig Büchner (1824-1899) 
 
e) Espiritualismo: 
 
Reação aos materialismos do século XIX:propõe a valorização da 
vida do espírito. 
 
 Maine de Birain (1766-1824) 
 Victor Cousin (1792-1867) 
 Antônio Rosmini (1797-1855) 
 Vincenzo Gioberti (1801-1852) 
 
f) Tradicionalismo: 
 
Uma ramificação do espiritualismo: anti-racionalista e fideísta. 
 
 Joseph de Maistre (1753-1821) 
 Louis de Bonnald (1754-1840) 
 Robert de Lammenais (1782-1854) 
 
g) Positivismo: 
 
Sistema antimetafísico: valorização única do fato positivo. Cientismo: 
a fé absoluta na ciência como solução dos problemas humanos e sociais. 
Projeto de reorganização social fundamentado sobre o estudo positivo dos 
fatos humanos e sociais: Sociologia. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
173 
Manifestando-se de modo variado em diversos países ocidentais, a 
partir da segunda metade do s. XIX, o Positivismo reflete, no plano 
filosófico, o entusiasmo capitalista pelo desenvolvimento da 
sociedade industrial. Assim, verificamos que o Positivismo expressa 
um tom geral de confiança nos benefícios da industrialização, bem 
como um otimismo em relação ao progresso capitalista, gerado pela 
técnica e pela ciência.136 
 
 Augusto Comte (1798-1857) 
 Hippolyte Taine (1828-1893) 
 Ernest Renan (1823-1892) 
 
h) Escola Sociológica: 
 
Ligada imediatamente ao positivismo: erige o fato social-sociológico 
num princípio geral de explicação de todos os produtos do espírito humano. 
 
 Émile Durkheim (1858-1917) 
 Gabriel Tarde (1842-1904) 
 Lucien Levi-Bruhl (1857-1939) 
 
i) Positivismo evolucionista: 
 
Agrega ao fundo positivista a visão evolucionista decorrente do 
darwinismo. 
 
 Herbert Spencer (1820-1903) 
 Ernst Haeckel (1831-1911) 
 
 
 
136 COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 1986, p. 177. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
174 
j) Utilitarismo: 
 
 Também chamado de “positivismo ético”, é essencialmente uma 
filosofia moral: propõe-se a desenvolver uma moral baseada unicamente nos 
fatos. O fato fundamental é o “prazer”. 
 
 Jeremy Bentham (1748-1832) 
 John Stuart Mill (1806-1873) 
 William Hamilton (1788-1856) 
 
l) Pragmatismo: 
 
Semelhante ao utilitarismo, uma corrente americana. Todos os 
princípios e teorias devem ser medidos e avaliados pelo êxito prático. 
 
 William James (1842-1910) 
 Charels Sanders Pierce (1839-1914) 
 John Dewey (1859-1952) 
 
m) Metafísica indutiva: 
 
Desenvolver a metafísica não aprioristicamente construída, mas a 
partir da ciência. 
 
 Rudolf Herman Lotze (1817-1881) 
 Friedrich Albert Lange (1828-1875) 
 Gustav Fechner (1801-1887) 
 Karl Robert Eduard von Hartmann (1842-1906) 
 Johannes Volkelt (1848-1930) 
 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
175 
n) Escola de Baden (Empiriocriticismo): 
 
É uma escola neo-kantiana, centrada antes na Crítica da Razão 
Prática: filosofia da cultura e dos valores. 
 
 Wilhelm Windelband (1845-1915) 
 Ernest Mach (1834-1916) 
 Ernst Julius Wilhelm Schupper (1836-1913) 
 Heinrich Rickert (1863-1936) 
 
o) Escola de Marburgo: 
 
A Escola de Marburgo é igualmente neo-kantiana: centra-se sobretudo 
na explicitação da ciência e da Lógica, a partir de elementos kantianos. 
 
 Hermann Cohen (1842-1918) 
 Paul Natorp (1854-1924) 
 Ernst Cassirer (1874-1945) 
 
 
p) Filosofia da Vida: 
Filósofos que desenvolvem sua filosofia sobre uma certa noção de 
“vida”. 
Destaque a Friedrich Nietzsche, um dos pensadores mais radicais da 
história, violentamente anticristão, considera o cristianismo como o 
corruptor do Ocidente, apresenta a “morte de Deus”, a “transmutação de 
todos os valores” e o “super-homem”. 
 
 Friedrich. Nietzsche (1844-1900) 
 Henry Bergson (1859-1941) 
Maurice Blondel (1861-1949) 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
176 
 Wilhelm Dilthey (1833-1911) 
 Oswald Spengler (1880-1936) 
 
q) Fenomenologia: 
 
É sobretudo um renovado método filosófico e exerceu influência em 
todas as ciências. 
É caracterizada pela busca de um método filosófico capaz de orientar 
a análise dentro dos padrões de rigor. Husserl estabelece como campo 
da análise filosófica certas realidades anteriores àquelas enfocadas 
pelas demais ciências: deve analisar tudo aquilo que se oferece como 
conteúdo da consciência. Em outras palavras, a Fenomenologia busca 
entender não propriamente o saber científico, mas os fundamentos de 
todo o saber.137 
 
 Edmund Husserl (1859-1938) 
 Max Scheler (1874-1928) 
 Adolf Reinach (1883-1917) 
 Franz Brentano (1838-1917) 
 
s) Existencialismo: 
 
É uma corrente que atinge o grande público depois da II Guerra 
Mundial, sobretudo nos anos 1945-1960, e que, como tendência filosófica 
geral, sustenta a prioridade da existência sobre a essência. Insiste na 
autonomia do indivíduo em face da sociedade e do Estado. Questiona as 
estruturas dominantes e analisa o viver humano nas circunstâncias atuais. 
O existencialismo é, fundamentalmente, uma antropologia, quer dizer, 
uma reflexão filosófica sobre o homem, ou melhor, sobre o ser do 
homem enquanto existente. 
Na perspectiva antropológica, surgem os temas, ou os problemas, 
características do pensamento existencial. A finitude, a contingência 
 
137 COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 1986, p. 213. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
177 
e a fragilidade da existência humana; a alienação, a solidão e a 
comunicação, o segredo, o nada, o tédio, a náusea, a angústia e o 
desespero; a preocupação e o projeto, o engajamento e o risco, são 
alguns dos temas principais de que se têm ocupado os representantes 
do existencialismo.138 
 
 Søren Kierkegaard (1813-1855) 
 Martim Heidegger (1889-1976) 
 Karl Jaspers (1883-1969) 
 Gabriel Marcel (1889-1973) 
 Jean Paul Sartre (1905-1980) 
 Martim Buber (1878-1966) 
 
t) Neo-positivismo (Circulo de Viena): 
 
Filosofia centrada na análise da linguagem científica (Filosofia da 
Ciência). As proposições científicas (“verificáveis”) são as únicas com 
sentido. Radicalmente antimetafísico: as proposições não verificáveis não 
são nem verdadeiras nem falsas, mas “sem sentido”. Popper é crítico do 
Círculo de Viena. 
 
 Moritz Schlick (1882-1936) 
 Rudolf Carnap (1891-1970) 
 Hans Reichenbach (1891-1953) 
 Karl Popper (1902-1994) 
 
 
 
 
 
138 CORBISIER, Roland. Enciclopédia Filosófica. Petrópolis: Vozes, 1974, p. 86-
87. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
178 
s) Filosofia Analítica 
 
Às vezes englobada no neopositivismo. Filosofia centrada na análise 
da linguagem formal (Lógica Simbólica) ou da linguagem comum (Filosofia 
da Linguagem). 
 
 • Escola de Cambridge: 
 Ludwig Wittgenstein (1889-1951) 
 Bertrand Russell (1872-1970) 
 George Edward Moore (1873-1958) 
 
• Escola de Oxford: 
 Gilbert Ryle (1900-1976) 
 John Langshaw Austin (1911-1960) 
 Peter Frederick Strawson (1919-2006) 
 Alfred Jules Ayer (1910-1989) 
 
u) Estruturalismo: 
 
É antes um método ou processo de pesquisa que, em qualquer tempo, 
faça uso do conceito de “estrutura”. O termo nasceu na Psicologia da Gestalt 
e na linguística e foi aplicado às ciências humanas e à Filosofia. O princípio 
subjacente é que toda produção humana – toda obra de cultura – por mais 
criativa, genial, consciente e livre que seja, obedece a um código 
preexistente, nas profundezas do inconsciente natural. Desvendar essa 
estrutura e interpretá-la levaria à compreensão científica da cultura. O estudo 
do homem pode, finalmente, constituir-se em estudo científico, a par do 
estudo da natureza. 
 
 Ferdinand de Saussure (1857-1913) 
 Claude Levi-Strauss (1908-2009) 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
179 
 Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) 
 Michel Foucault (1926-1984) 
 Jean Piaget (1896-1980) 
 Roland Barthes (1915-1980) 
 Jacques Lacan (1901-1981) 
 
v) Epistemologia:vida concreta de todo o homem é, assim, 
filosofia. O campônio, o operário, o técnico, o artista, o jovem, o 
velho, vivem todos de uma concepção do mundo. Agem e se 
comportam de acordo com uma significação inconsciente que 
emprestam à vida. Neste sentido, pois, pode-se dizer que todo o 
homem é filósofo. Não podemos, porém, dizer que todo o homem é 
filósofo no sentido usual da expressão. 
De fato, todos vivem a partir de um direcionamento significativo do 
mundo e da vida, mas nem todos poderão ser chamados de filósofos; 
nem certa significação inconsciente que dá alguma direção ao agir 
cotidiano das pessoas pode ser chamada propriamente de filosofia. O 
que se pode dizer, com propriedade, é que todos vivem a partir de 
significações, seja de forma mais consciente, seja de forma menos 
consciente. Contudo, a filosofia propriamente dita, é tão-somente uma 
forma consciente e crítica de pensar e de agir. A última frase de 
Arcângelo Buzzi lembra bem esse fato; genericamente, todos são 
 
3 LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia. São 
Paulo: Cortez, 1995, p. 87. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
18 
filósofos porque vivem significações; especificamente, alguns são 
filósofos porque estudam, refletem e vivem significações.4 
 
1.1.1 Filosofia: Abertura de horizontes 
 
Seguindo com os nossos estudos, é muito pertinente a concepção de 
Merleau-Ponty a respeito do filosofar: “A verdadeira filosofia é reaprender 
a ver o mundo.5 Já para Descartes, “viver sem filosofar é como ter os olhos 
fechados sem jamais fazer um esforço por abri-los; e o prazer de ver todas 
as coisas que nossa vista descobre não é comparável à satisfação que dá o 
conhecimento daquelas que se encontram pela filosofia”.6 
Ambas as citações nos oferecem mais uma ideia do valor da filosofia. 
Essa seria uma “expansão da visão”, um “ver” redimensionado. O filósofo é 
aquele que “vê mais” a realidade, em maior profundidade; ele “vê” o que os 
outros não percebem. 
Os gregos, criadores da Filosofia, tinham dela exatamente essa ideia. 
Eles estavam convencidos de que a verdadeira realidade não é a que os 
nossos olhos percebem. Que havia uma diferença entre aparência e 
realidade. O mundo, a realidade possuem uma outra dimensão, uma outra 
faixa que só a inteligência pode perceber. Para os gregos, o mundo possuía 
no seu âmago um “logos” (= razão), que só o “logos” humano, a inteligência 
pode captar. Isso era filosofia para os helênicos: uso da inteligência para 
perceber a inteligibilidade que está além das aparências. 
A filosofia, pois, num sentido ainda muito geral”, é uma abertura de 
horizontes, quando os nossos horizontes mentais se estendem para além dos 
limites da aparência, dos fenômenos, do corriqueiro. A filosofia nos faz 
perceber e viver em profundidade, ir às dimensões mais profundas da 
realidade e da vida, buscar o verdadeiro significado e valor das coisas. 
Assim, de acordo com o pensador Simon Sinek: 
 
4 LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia. São 
Paulo: Cortez, 1995, p. 84-85. 
5 MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins 
Fontes, 1999, p. 19 (Prefácio). 
6 DESCARTES. Princípios da filosofia. Lisboa: Guimarães, 1971, p. 31 (Carta 
prefácio). 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
19 
POR QUÊ: muitas pessoas ou companhias conseguem articular com 
clareza POR QUE fazem O QUE fazem. Quando falo do PORQUÊ, 
não estou me referindo a ganhar dinheiro – isso é uma consequência. 
Com o PORQUÊ, refiro-me a qual é o seu propósito, sua causa ou sua 
crença. POR QUE sua companhia existe? POR QUE você sai da cama 
toda manhã? E POR QUE alguém deveria se importar?7 
 
1.2 FILOSOFIA: ELABORAÇÃO DA CONSCIÊNCIA CRÍTICA 
 
Continuando as nossas reflexões, vejamos a citação de 
Morin:“Precisamos pensar-nos ao pensar, conhecer-nos ao conhecer. É 
essa existência reflexiva fundamental, que não é só a do filósofo profissional 
e não deve estender-se apenas ao homem da ciência, mas deve ser a de cada 
um e de todos”.8 Para Gusdorf: 
A aula de filosofia é o momento privilegiado em que se coloca a 
questão de todas as questões e em que cada existência se acha ela 
própria novamente colocada em questão. Ruptura das evidências e 
renovação das evidências. Acreditava-se que tudo era evidente, mas 
não é. O despertar da reflexão consagra o advento do homem para si 
mesmo. Ele descobre então sua mais alta liberdade, isto é, sua 
liberdade mais pessoal.9 
O texto de Morin traduz o objetivo imediato da Filosofia na 
“existência reflexiva”. Em outras palavras, a filosofia conduz a uma plena 
consciência de si mesmo, à autoconsciência. Uma vida autoconsciente ou de 
existência reflexiva é aquela que tem consciência de seus atos, que se dá 
conta de tudo o que pensa, quer, fala e faz. Que se justifica, perante o tribunal 
de sua razão e da sua consciência, a sua vida e seus atos. 
O contrário é uma vida sem consciência, que não se dá conta de si 
mesma, um viver sem razões. É uma existência despersonalizada e 
massificada, um resultado das pressões sociais, do consumismo, da mídia 
publicitária e de outros fatores externos à pessoa. 
 
7 SIMON, Sinek. Comece pelo porquê. Rio de Janeiro: Sextante, 2018, p. 51. 
8 MORIN, Edgar. Para sair do século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 
111. 
9 GUSDORF, Georges. Professores para quê? São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 
210. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
20 
Uma autêntica autoconsciência é também, e ao mesmo tempo, uma 
consciência crítica. Consciência crítica significa ter pensamento próprio 
formado e justificado e não ser guiado ou teleguiado por posições alheias. É 
ter posição própria e não ser simplesmente levado pela opinião pública. O 
espírito crítico fundamenta-se sobre princípios e valores descobertos 
pessoalmente e livremente aceitos. A consciência crítica propicia, então, a 
capacidade de discernimento e escolha. Ela nos faz descobrir, como diz 
Gusdorf, a nossa liberdade mais pessoal. Pois ser autenticamente livres é 
justamente isto: sermos guiados por nós mesmos. 
A consciência crítica nos faz, então, sermos sujeitos de nossa história 
e não objetos de uma história feita por outros. 
A atual cultura de massificação, de consumismo publicitário alienante 
e opressor às vezes, quando ao poder econômico e político interessa 
consciências adormecidas e passividade irrefletida dos cidadãos — precisa 
de consciência crítica, e essa é uma das funções principais da filosofia. 
 
1.2.1 Filosofia: fundamentação da prática humana 
 
De acordo com o filósofo René Descartes, “o estudo da filosofia é 
mais necessário para regular nossos costumes e nos conduzir na vida que o 
uso de nossos olhos para guiar nossos passos”.10 
A filosofia não é só teoria, mas se refere também à prática humana: 
ela tem o poder de “regular os costumes” e “conduzir na vida”. Em outras 
palavras, a filosofia não se refere só à inteligência (ciência), mas também à 
ação humana (práxis). A filosofia busca os sentidos e os valores, reflete 
sobre os fundamentos da vida humana, individual e social, e por isso incide 
sobre a ação humana. Os sentidos e valores chamam à ação. Kierkegaard 
ressalta que a filosofia, a ciência, o saber, só têm valor quando se traduzem 
em “vida espiritual”. 
É verdade que a filosofia não é a única fonte de valores; estes podem 
provir também da religião, da arte, do convívio social e da própria 
experiência vital. A filosofia, porém, tem a função de tornar estes sentidos e 
valores conscientes, refletidos, justificados, organizados, fundamentados. 
 
10 DESCARTES. Princípios da filosofia. Lisboa: Guimarães, 1971, p. 31 (Carta 
prefácio). 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
21 
A autêntica filosofia, por conseguinte, não se esgota em si mesma, em 
sistemas teóricos e rígidos, mas está em contínua referência à realidade 
humana, à vida pessoal, social, política, econômica, cultural do homem,Filósofos independentes que desenvolvem, sob diversos pontos de 
vista, uma “teoria da ciência”. 
 
Henri Poincaré (1854-1912) 
Gaston Bachelard (1884-1962) 
Thomas Kuhn (1922-1996) 
Imre Lakatos (1922-1974) 
Larry Laudan (1941) 
Paul Karl Feyerabend (1921-1994) 
 
x) Neomarxismo: 
 
Filósofos que repensam alguns pontos do marxismo. Contrapõe-se 
como “marxismo de rosto humano” ao marxismo “ortodoxo”. Destaca-se 
aqui a Escola de Frankfurt. 
 
• Escola de Frankfurt (Teoria Crítica”): 
Max Horkheimer (1895-1973) 
Theodor Wiesengrund Adorno (1903-1969) 
Herbert Marcuse (1898-1978) 
Georg Lukásc (1885-1971) 
Jürgen Habermas (1929) 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
180 
Walter Benjamin (1902-1940) 
Erich Fromm (1900-1980) 
 
Outros: 
 Ernst Bloch (1885-1977) 
 Roger Garaudy (1913-2012) 
 A. Gramsci (1891-1937) 
 
z) Neotomismo: 
 
Renascimento da filosofia de São Tomás que predominou nas escolas 
católicas desde o início do século até os anos 50, incentivado sobretudo por 
documentos papais (Leão XIII, Pio X, Benedito XV). Trata-se de expor as 
riquezas do pensamento de São Tomás de Aquino ao mundo moderno e 
modelar uma cultura propriamente católica. Foram fundados institutos 
(Louvain, Angelicum) e periódicos neotomistas. Entrou em declínio após a 
II Guerra. 
 
 Désiré Mercier (1851-1926) 
 Ambroise Gardeil (1859-1931) 
 R. Garrigou-Lagrange (1877-1964) 
 Jacques Maritain (1882-1973) 
 Antonin-Gilbert Sertillanges (1863-1948) 
 Étienne Henry Gilson (1884-1979) 
 Régis Jolivet (1891-1980) 
 Leonel Franca (1893-1948) 
 Alceu Amoroso Lima (1893-1983) 
 
 
 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
181 
aa) Personalismo 
 
Grupo de filósofos católicos, franceses, reunidos em torno da revista 
Esprit. Propõem a revalorização dos valores cristãos na cultura moderna, 
numa linha diferente do neotomismo. Criticam o capitalismo, inclinando-se 
pelo socialismo, rejeitando, porém, o ateísmo e o totalitarismo do marxismo. 
Assim, para Juan Manuel Burgos: 
O personalismo surgiu na Europa durante a primeira metade do século 
XX, como movimento de resposta coletiva a um conjunto complexo 
de questões sociais, culturais e filosóficas: o auge do individualismo e 
dos coletivismos, tanto de direita (fascismo e nazismo), como de 
esquerda (marxismo); a preponderância de um materialismo 
cientificista, que negava o valor da verdade a qualquer proposição não 
experimental; uma forte crise de valores, percebida por alguns como 
crise global da civilização ocidental.139 
Deste modo, a partir de tais condicionamentos históricos, no 
personalismo destaca-se o a ideia de pessoa. 
A ideia central do pensamento personalista é a ideia de pessoa, na sua 
não-objetivação, inviolabilidade, liberdade, criatividade e 
responsabilidade; de pessoa encarnada em um corpo, situada na 
história e constitutivamente comunitária. Escreve um de seus 
expoentes mais representativos, Jean Lacroix: “O personalismo, de 
certa forma, gostaria de situar-se como sucessor das filosofias do eu 
para refutá-las no mundo físico e social”. E em nome da pessoa e sob 
o signo dessa ideia, o personalismo se apresenta como análise do 
mundo moderno, impõe-se (escreve Mounier) como protesto contra 
“seu estado de putrefação avançada” e, considerando “a derrocada de 
sua estruturação verminosa”, projeta uma saída para a crise através de 
uma “revolução personalista e comunitária”, fundamentada na fé 
cristã aceita para além de qualquer reserva e vivida sem 
compromissos.140 
Vejamos a reflexão que faz Emmauel Mounier a respeito do niilismo 
europeu: 
 
139 BURGOS, Juan Manuel. Introdução ao personalismo. São Paulo: Cultor de 
Livros, 2018, p. 11. 
140 REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia, 6: de Nietzsche à Escola de 
Frankfurt. São Paulo: Paulus, 2006, p. 399. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
182 
A crise espiritual é a crise do homem clássico europeu, nascido do 
mundo burguês. Convenceu-se de que realizaria o animal racional, 
com a razão triunfante a domesticar definitivamente a animalidade, e 
a felicidade a neutralizar as paixões. Em cem anos foram dadas três 
machadadas nesta civilização demasiado convencida de seu 
equilíbrio: para lá das harmonias econômicas, Marx revela a luta sem 
tréguas de profundas forças sociais; para lá da harmonia psicológica, 
Freud descobriu o turbilhão dos instintos; finalmente Nietzsche 
anunciava o niilismo europeu antes de passar o facho a Dostoivsky. 
As duas guerras mundiais, o aparecimento dos estados policiais e do 
universo concentracionário, orquestraram depois, largamente, estes 
temas. Hoje, o niilismo europeu estendeu-se e organiza-se exatamente 
nos sítios em que se notam os maiores recuos das grandes crenças que 
mantinham nossos pais em pé: fé cristã, religião da ciência, da razão 
ou do dever [...].141 
E, deste modo, Simone Weil se expressa a respeito da inteligência e 
da graça: 
Sabemos por meio da inteligência que aquilo que a inteligência não 
aprende é mais real que aquilo que ela aprende. 
A fé é a experiência de que a inteligência é iluminada pelo amor. 
Só que a inteligência deve reconhecer pelos meios que são próprios, 
isto é, a constatação e a demonstração, a preeminência do amor. Só 
deve submeter-se sabendo por quê, e de uma maneira perfeitamente 
precisa e clara. Sem isso, sua submissão é um erro, e aquilo a que se 
submete, não importa o rótulo que leve, é outra coisa que não o amor 
sobrenatural. É a influência do social, por exemplo. 
No domínio da inteligência, a virtude de humildade não é senão o 
poder de atenção. 
A humildade errada se leva a crer que se é nada enquanto si mesmo, 
enquanto determinado ser humano particular. 
A verdadeira humildade é o conhecimento de que se é nada enquanto 
ser humano e, de maneira mais geral, enquanto criatura. 
A inteligência tem grande participação nisso. É preciso conceber o 
universal.142 
 
141 MOUNIER, Emmanuel. O personalismo. São Paulo: Centauro, 2004. 
142 WEIL, Simone. A gravidade e a graça. São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 141-
142. 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
183 
 
Emmauel Mounier (1905-1950) 
Simone Weil (1909-1943) 
Jean Lacroix (1900-1986) 
René La Senne (1882-1954) 
São João Paulo II (Karol Wojtyla) (1920-2005) 
 
ab) Filosofia da Mente: 
 
A Filosofia da Mente é um grande tema da filosofia contemporânea 
que surge em decorrência das neurociências. Tem implicações com a Ciência 
Computacional (“Inteligência Artificial”), com a Psicologia, Ciência da 
Cognição, Teoria da Linguagem, etc. A Filosofia da Mente se evidencia 
como um problema de fronteira: entre a ciência e a filosofia. Restaura, no 
fundo, a problemática cartesiana: relação entre mente e corpo. 
De acordo com Teixeira: 
[...] é no século XX que vai surgir a Filosofia da Mente propriamente 
dita. A Filosofia da mente é um novo esforço para retornar os 
principais temas clássicos que atravessam o pensamento na 
modernidade. Era preciso fazer uma nova tentativa no sentido de 
determinar a natureza última dos fenômenos mentais; uma tentativa 
que faria a reflexão filosófica mergulhar novamente em direção ao 
exame das grandes teorias metafísicas, mas que não poderia, dessa 
vez, ignorar os resultados das pesquisas sobre o cérebro humano. A 
questão das relações entre mente e cérebro passa a construir uma de 
suas preocupações fundamentais. Era preciso encontrar novas teorias 
que pudessem dar conta das relações entre fenômenos físicos e 
fenômenos mentais. Esboçar tais teorias era necessidade premente, 
sobretudo porque o século XX tinha se iniciado com uma forte 
tendência para a adoção do monismo materialista, resultante do grande 
entusiasmo pelas pesquisas neurofisiológicas que se avolumavam 
cada vez mais.143 
 
143 TEIXEIRA, João de Fernandes. Filosofia da mente [recurso eletrônico]. Porto 
Alegre: Fi, 2016, p. 23. 
Unidade 05 – Filosofiada religião e os períodos da história da filosofia 
 
 
184 
Podemos colocar algumas questões: Os nossos pensamentos, 
sentimentos, percepções, sensações e desejos ocorrem além do processo 
físico do nosso cérebro, ou eles são parte do processo físico? A sua mente é 
algo diferente do seu cérebro – ou a sua mente é o seu cérebro? O que 
acontece quando você morde uma barra de chocolate? O momento em que 
você sente o gosto do chocolate? O que é? É um evento físico? Analisando 
o seu cérebro, é possível capturar totalmente a sua experiência? 
Gilbert Ryle (1900-1976) 
John Eccles (1903-1997) 
Mario Bunge (1919-2020) 
Roger Penrose (1931) 
John Searle (1932) 
Daniel Dennett (1942) 
David Chalmers (1966) 
Paul Churchland (1942) 
António Damásio (1944) 
 
ac) Hermenêutica: ciência da interpretação dos textos. 
 
A hermenêutica compreende a preocupação com a interpretação, 
tradução e explicação dos textos da tradição. Aparece inicialmente ligada à 
interpretação dos textos sagrados (exegese) e depois, gradativamente se 
configura por uma filosofia propriamente hermenêutica. Também conhecida 
como hermenêutica filosófica. Principais representantes: 
 
Friedrich Schleiermacher (1768-1834) 
Wilhelm Dilthey (1833-1911) 
Martim Heidegger (1889-1976) 
Rudolf Bultmann (1884-1976) 
Hans-Georg Gadamer (1900-2002) 
Paul Ricoeur (1913-2005) 
Unidade 05 – Filosofia da religião e os períodos da história da filosofia 
 
185 
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, Rogério Miranda de. História da filosofia antiga [recurso 
eletrônico]. Curitiba: FASBAMPRESS, 2021. 
BRUGGER, Walter. Diccionário de filosofia. Barcelona: Herder, 1983. 
BURGOS, Juan Manuel. Introdução ao personalismo. São Paulo: Cultor de 
Livros, 2018. 
CAFFARENA, Jose Gomez. Filosofia de la religion. Madrid: Revista de 
Occidente, 1973. 
CANTONE, Carlo. Le scienze della religione oggi. Roma: LAS, 1981. 
CORBISIER, R. Introdução à Filosofia. Tomo II, Parte 1. São Paulo: 
Civilização Brasileira, 1983. 
CORBISIER, Roland. Enciclopédia Filosófica. Petrópolis: Vozes, 1974 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 1986. 
GRONDIN, Jean. Hermenêutica. São Paulo: Parábola Editorial, 2012. 
MONDIN, Battista. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, 
obras. São Paulo: Paulus, 2004. 
MOUNIER, Emmanuel. O personalismo. São Paulo: Centauro, 2004. 
RAYMAEKER, L. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU, 1973. 
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia, 6: de Nietzsche à Escola 
de Frankfurt. São Paulo: Paulus, 2006 
TEIXEIRA, João de Fernandes. Filosofia da mente [recurso eletrônico]. 
Porto Alegre: Fi, 2016. 
WEIL, Simone. A gravidade e a graça. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	UNIDADE 01 – FILOSOFIA: CONSTRUINDO SUA NOÇÃO
	1.1 FILOSOFIA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
	1.1.1 Filosofia: Abertura de horizontes
	1.2 FILOSOFIA: ELABORAÇÃO DA CONSCIÊNCIA CRÍTICA
	1.2.1 Filosofia: fundamentação da prática humana
	1.2.2 Filosofia: integração e fundamentação da cultura humana
	1.2.3 Filosofia no contexto dos estudos eclesiásticos
	1.3 FILOSOFIA: BUSCA PELA SABEDORIA
	1.3.1 A sabedoria nas antigas culturas orientais
	1.3.2 A sabedoria grega
	1.4 FILOSOFIA: CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS
	1.5 A FILOSOFIA COMO CIÊNCIA
	1.5.1 A filosofia é uma ciência dos fundamentos
	1.5.2 A filosofia é uma ciência da universalidade
	REFERÊNCIAS
	UNIDADE 02 – FILOSOFIA E A SUA ORIGEM HISTÓRICA
	2.1 A FILOSOFIA NASCEU NA GRÉCIA
	2.1.1 Por que a filosofia nasceu na Grécia?
	2.1.2 Origem da filosofia a partir do mito
	2.1.3 Os alvores da filosofia
	2.2 FILOSOFIA E A CULTURA HUMANA
	2.2.1 Filosofia e ciências
	2.2.2 Filosofia e ciências na história
	2.3 O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
	2.3.1 O método experimental
	2.3.2 Ciência e filosofia: distinção
	2.3.3 Ciência e filosofia: relação
	2.4 FILOSOFIA E RELIGIÃO
	2.4.1 O fenômeno religioso
	2.4.2 Filosofia e religião: distinção
	2.4.3 Filosofia e religião: relação
	2.4.3.1 Filosofia e religião: relação de conflito
	2.4.3.2 A razão nega a fé
	2.4.3.3 A redução da religião pela razão
	2.4.3.4 A fé nega a razão
	2.4.3.5 Filosofia e religião: relação de harmonia
	2.4.4 Filosofia e religião: apreciação crítica
	2.5 FILOSOFIA E ARTE
	2.5.1 Filosofia e arte: diferenciação
	2.5.2 Filosofia e arte: relação
	REFERÊNCIAS
	UNIDADE 03 – FILOSOFIA E A SUA PROBLEMÁTICA
	3.1 A TEMÁTICA FILOSÓFICA
	3.1.1 A divisão da filosofia
	3.1.2 Lógica
	3.1.3 Lógica uma ciência formal: objeto de estudo
	3.1.4 Lógica: uma ciência propedêutica e o seu conteúdo
	3.2 TEORIA DO CONHECIMENTO
	3.2.1 A problemática do conhecimento: um pequeno histórico
	3.2.2 Teoria do conhecimento: objeto
	3.2.3 Possibilidade do conhecimento
	3.2.4 Essência ou natureza do conhecimento
	3.2.5 Origem ou fontes do conhecimento
	3.2.6 Espécies (ou formas) de conhecimento
	3.3 FILOSOFIA DA CIÊNCIA (EPISTEMOLOGIA)
	3.3.1 Filosofia da ciência: contexto histórico
	3.3.2 Filosofia da ciência: problemática
	3.3.3 Filosofia da linguagem
	3.3.3.1 Filosofia da linguagem: contextualização
	3.3.3.2 Os sentidos da filosofia da linguagem
	3.3.3.3 Filosofia da Linguagem: conceitos
	3.3.3.4 Filosofia da linguagem: problemática
	3.4 METAFÍSICA
	3.4.1 Metafísica: origem do termo
	3.4.2 Metafísica: sentido do termo
	3.4.3 A metafísica aristotélica: referencial da metafísica universal
	3.4.4 Sistemas filosóficos metafísicos e anti-metafísicos
	3.4.5 Metafísica: conteúdo básico
	3.5 TEODICEIA
	3.5.1 Teodiceia: esclarecimento de terminologia
	3.5.2 Teodiceia: coroamento da metafísica
	3.5.3 Teodicéia: objeto
	3.5.4 Teodiceia clássica: conteúdo
	3.5.5 Teodiceia: conteúdos hodiernos
	REFERÊNCIAS
	UNIDADE 04 – ANTROPOLOGIA
	4.1 ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
	4.1.1 Antropologias
	4.1.2 A psicologia racional
	4.1.3 Antropologia filosófica: origem, determinação e conteúdo
	4.2 COSMOLOGIA
	4.2.1 Cosmologia: esclarecimento de terminologia
	4.2.2 Cosmologia: histórico
	4.2.3 Cosmologia: tem sentido uma filosofia sobre o mundo material?
	4.2.4 Cosmologia: objeto e conteúdo
	4.3 ÉTICA
	4.3.1 Ética: conceitos
	4.3.2 Ética: perspectiva histórica
	4.3.3 Ética: conceituação e problemática
	4.3.4 Ética fundamental e ética especial
	4.4 ESTÉTICA
	4.4.1 Estética: elucidação de conceitos
	4.4.2 Estética filosófica: temática
	4.5 FILOSOFIA POLÍTICA
	4.5.1 O pensamento político: pequeno histórico
	4.5.2 Filosofia política: elementos
	REFERÊNCIAS
	UNIDADE 05 – FILOSOFIA DA RELIGIÃO E OS PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA
	5.1 A RELIGIÃO NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO
	5.1.1 Fenomenologia da religião: definição
	5.1.2 Filosofia da religião: objeto
	5.2 HISTÓRIA DA FILOSOFIA
	5.2.1 História da filosofia: quadro cronológico
	5.3 IDADE ANTIGA E MEDIEVAL
	5.3.1 Período pré-socrático (700 a.C. - 470 a.C.)
	5.3.2 Período ático (470 - 300 a.C.)
	5.3.3 Período helenístico (300 a.C. - 30 a.C.)
	5.3.4 Período romano
	5.3.5 Idade média
	5.3.6 Filosofia patrística (século III – século VII)
	5.3.7 A pré-escolástica (alta idade média, século IX-X)
	5.3.8 Alta escolástica (baixa idade média, século XI-XIII)
	5.3.9 Baixa escolástica (século XIV-XV)
	5.4 IDADE MODERNA
	5.5 PERÍODO CONTEMPORÂNEO
	REFERÊNCIASdentro da história concreta do ser humano no mundo. Neste aspecto, Marx 
teve razão em dizer que a função da filosofia não é só de “contemplar o 
mundo”, mas também de “transformar o mundo”. 
 
1.2.2 Filosofia: integração e fundamentação da cultura humana 
 
Sem o conhecimento filosófico, através dos grandes princípios 
diretores do pensamento, não há verdadeiramente cultura humana, no 
melhor sentido humanista, senão simples acumulação de 
conhecimentos sobre determinado setor da realidade, sem o poder de 
sugerir uma visão total e integradora do mundo e da vida. Orientar-se 
no meio dos problemas universais, que dizem respeito à ciência e à 
ação humana, só é possível através da Filosofia, que realiza a síntese 
última e crítica de todos os conhecimentos, tanto os puramente 
especulativos, quanto os de endereço prático.11 
O autor está com toda a razão quando afirma que sem filosofia não há 
uma autêntica cultura humana, mas apenas “acumulação de conhecimentos”. 
Há de se distinguir entre uma pessoa “erudita”, que tem muitos 
conhecimentos, no sentido enciclopédico, e uma pessoa realmente “sábia” e 
“culta”, que sabe organizar, unificar os conhecimentos e, principalmente, 
usar esses conhecimentos. Uma pessoa assim tem princípios, uma visão do 
mundo e da vida, em torno dos quais giram os conhecimentos e todo o seu 
saber. 
É essa a função da filosofia como “ciência dos fundamentos”: 
proporcionar princípios axiais e uma “visão total e integradora do mundo e 
da vida”. 
Neste sentido, a filosofia se faz necessária sobretudo no momento 
atual da história: os meios de comunicação, principalmente, despejam sobre 
as pessoas e sobre a sociedade de hoje uma avalanche de dados e informações 
que muito frequentemente não são digeridas e não assimiladas. As pessoas 
ficam incapacitadas para acomodar, integrar, unificar essas informações e 
 
11 MARTINS, José Salgado. Preparação à filosofia. Porto Alegre: Globo, 1981, p. 
15. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
22 
dados e perdem a unidade do entendimento e da vida, o que frequentemente 
conduz a um desacerto, um desiquilíbrio geral. 
O mesmo ocorre com as ciências. As ciências, hoje tão especializadas 
e fragmentadas, fornecem um enorme acúmulo de dados e informações que 
frequentemente desconcertam, deixam as pessoas perdidas, sem saber se 
situar em meio a esta grande quantidade de conhecimentos, fatos, dados e 
informações. 
A filosofia tem, então, a função precípua de, através da crítica e 
reflexão, unificar, integrar e fundamentar os conhecimentos, tanto os de 
ordem teórica, como os de ordem prática, buscar princípios básicos e, 
principalmente, estabelecer uma visão total e integradora do mundo, do 
homem, e da vida. 
Além disso, a filosofia tem uma função humanizadora em relação à 
ciência e à técnica. Isto é, buscar fins humanos para a pesquisa científica e 
para a produção técnica, encontrando uma orientação para a autêntica vida 
humana. A ciência e a técnica, por si só, são neutras: podem ir a favor ou 
contra a pessoa humana. Cabe ao próprio homem imprimir um sentido e uma 
orientação à ciência e à técnica. E a filosofia tem uma função preponderante 
neste aspecto. 
 
• Indicação de leitura: 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003, p. 87-92. 
(“A reflexão filosófica”). 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006 (p. 9-18). 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1993 (p. 
44-55). 
HUISMAN, Denis. Filosofia para principiantes. Lisboa: Publicações Dom 
Quixote, 1984 (p. 13-27). 
LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia. 
São Paulo, Cortez, 1995 (p. 75-90). 
SHIRATO, Maria Aparecida Rhein. Iniciação à Filosofia: que viva a 
filosofia viva. São Paulo: Moraes, 1987 (p. 73-89). 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
23 
TELES, Antonio Xavier. Introdução ao Estudo da Filosofia. São Paulo: 
Ática, 1985 (p. 6-10). 
 
1.2.3 Filosofia no contexto dos estudos eclesiásticos 
 
Perguntamos: para que serve a filosofia para o seminarista, o sacerdote 
e o religioso? 
Como sabemos, a legislação eclesiástica exige como formação para o 
sacerdócio, para o presbiterato, os cursos de Filosofia e Teologia. Teologia 
é a formação religiosa, o estudo da história da salvação. Mas por que estudar 
Filosofia? Por que ela é importante, indicada e exigida como parte da 
formação? 
A filosofia possui um alto valor formativo: ela ajuda sobremaneira no 
amadurecimento intelectual e humano. Esse valor formativo que a filosofia 
possui e não encontramos em outras ciências. Já houve tentativas de 
substituir a filosofia por outras ciências, como por exemplo, a psicologia, a 
sociologia – como parte da formação eclesiástica. Mas logo voltou-se atrás. 
Nenhuma outra ciência contribui tanto para o amadurecimento intelectual e 
humano, como a filosofia pelos seguintes aspectos: 
1. O sacerdote deve possuir uma cultura “humanista”, ele não é um 
profissional técnico que lida com máquinas, ele lida com pessoas e deve ter 
uma compreensão profunda das questões fundamentais do ser humano 
inserido no mundo e na história. As questões humanas e sociais, a promoção 
do ser humano, a defesa da vida e da dignidade humana, o conhecimento dos 
problemas reais e cruciais do ser humano devem ser a base da sua ação 
pastoral e a filosofia tem tudo a ver com isso. 
2. O sacerdote deve ser um homem de posições definidas e opiniões 
formadas sobre as questões humanas e sociais. O sacerdote deve ter uma fé 
bem fundamentada, porém também uma “cabeça” esclarecida e firme. 
3. A filosofia é, de certo modo, uma base humana para a fé. Não 
podemos ser “fideístas” ou “fundamentalistas”. A fé, a mensagem cristã, 
deve corresponder à realidade humana, a uma cultura. E para conhecer a 
realidade humana, a cultura, é importante a filosofia. 
4. O sacerdote deve ser um homem capaz de dialogar e discutir os 
problemas fundamentais do homem e da humanidade com pessoas de outras 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
24 
religiões e até não-crentes. Deve ser capaz de colaborar com os adeptos de 
outras religiões e até mesmo os não-crentes, para a construção de uma 
sociedade mais justa e um mundo melhor. 
Resumindo: 
- a filosofia tem um alto valor formativo: contribui sobremaneira ao 
amadurecimento intelectual e humano. 
- o sacerdote, deve possuir uma cultura “humanista”; 
- o sacerdote deve ser um homem de posições definidas e opiniões 
formadas sobre as questões humanas e sociais. 
- a filosofia é, de certo modo, uma base humana para a fé. 
- o sacerdote deve ser um homem capaz de dialogar e discutir os 
problemas fundamentais do homem e da humanidade com pessoas de outras 
formações e convicções, inclusive com não-crentes. 
As disciplinas filosóficas devem ser ensinadas de tal modo que os 
estudantes se sintam conduzidos a adquirir sobre tudo um 
conhecimento sólido e coerente do homem, do mundo e de Deus, 
apoiados no patrimônio filosófico perenemente válido. Tenha-se em 
conta também as investigações filosóficas dos tempos modernos, em 
especial as de maior influência na respectiva nação, bem como o mais 
recente progresso das ciências, para que os alunos conheçam de 
maneira exata a índole da época presente e se preparem 
convenientemente para o diálogo com os homens de seu tempo [...] 
Atenda-se diligentemente para a relação da filosofia com os 
verdadeiros problemas da vida e também com as questões que agitam 
a mente dos estudantes. Sejam eles ajudados em descobrir o nexo 
existente entre os argumentos filosóficos e os mistérios da salvação, 
que são estudados na teologia, à luz superior da fé.12 
 
• Indicação de leitura: 
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Orientações 
para os Estudos Filosóficos e Teológicos. São Paulo: Paulinas, 1987. 
(Estudos da CNBB, 51), p. 57-65. 
 
12 CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Decreto Optatam Totius: sobre a 
formação sacerdotal.Brasília: Edições CNBB, 2018, 15. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
25 
JOÃO PAULO II. Carta encíclica Fides et Ratio: aos bispos da Igreja 
Católica sobre as relações entre fé e razão. São Paulo: Paulinas, 1998. 
SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. O 
Ensino da Filosofia nos Seminários. Roma: Typis Polyglottis Vaticanis, 
1972. 
 
1.3 FILOSOFIA: BUSCA PELA SABEDORIA 
 
Um primeiro passo em direção ao esclarecimento da natureza e do 
objeto da Filosofia pode ser dado a partir de sua etimologia. 
“Filosofia” (do grego “filos” = amigo + “sofia” = sabedoria) significa 
literalmente “amor pela sabedoria”, “ser apaixonado pela sabedoria. Conta-
se que o criador do termo foi Pitágoras que, achando que a sabedoria convém 
propriamente só a Deus, queria que o chamassem não de “sábio”, mas de 
“amigo da sabedoria”. O mesmo diz Sócrates, relatado por Platão: “o nome 
de sábio, Fedro, me parece demasiado grande e só aplicável à divindade. 
Mais adequado seria o de amigo da sabedoria”. 
Convém esclarecer aqui o sentido da palavra “sabedoria”. 
 
1.3.1 A sabedoria nas antigas culturas orientais 
 
Nas antigas culturas do Oriente encontramos a figura do “sábio” e o 
elemento “sabedoria”: entre os egípcios, os mesopotâmicos e entre os 
próprios hebreus (livro da Sabedoria da Bíblia). O “sábio” aqui é o mestre 
educador que está presente geralmente nas cortes, ensinando a “sabedoria” 
aos jovens das classes de elite. “Sabedoria” significa neste contexto a “arte 
de viver” um conjunto de regras sobretudo morais e sociais que tinham por 
objetivo a formação do jovem para que alcançasse prestígio social e soubesse 
viver na comunidade (a educação nas virtudes, como educar os filhos, tratar 
os amigos, enfrentar a riqueza e a desgraça, etc.). O sábio transmitia a 
“sabedoria” geralmente em fórmulas fixas, para que fosse facilitada a sua 
memorização: sentenças, máximas, provérbios, comparações, etc. 
Nas culturas orientais e, portanto, anteriores à grega, sabedoria podia 
designar: 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
26 
Arte de viver: conjunto de regras morais e sociais, com função 
didático-pedagógica. 
Sábio: mestre educador das cortes. 
Gênero sapiencial: sentenças, provérbios, máximas, comparações. 
Sabedoria: uma “filosofia” popular, de conotação religiosa. 
 
1.3.2 A sabedoria grega 
Na cultura grega, no entanto, “sabedoria” adquire um outro 
significado. Podemos dizer, a princípio, que “sabedoria” entre os gregos 
significa “ciência”, “racionalidade”. Entender o mundo e o homem pela 
razão, inteligência. Os gregos foram os primeiros a pesquisar e a entender o 
mundo racionalmente, fazendo então uma passagem a partir das explicações 
mitológicas para uma reflexão propriamente racional, ou, como diz, à luz da 
razão natural (embora em outras culturas se desenvolvessem elementos de 
cálculo, a matemática e até noções de astronomia, medicina).13 
Os gregos estavam convencidos de que a própria realidade escondia 
as suas causas e as suas explicações. Era necessário ir buscá-las e descobri-
las. O homem, de sua parte, possui o instrumento adequado para descobrir a 
racionalidade e a lógica das coisas: a sua própria razão. Pelo seu “logos” o 
homem descobre o “logos” (razão) do mundo e das coisas. A cultura grega 
é a primeira cultura eminentemente intelectualista, que identifica a essência 
humana na razão. 
A ânsia de entender racionalmente as coisas criou a um só tempo a 
Filosofia e a Ciência. ‘É necessário, dizia Platão, ir até onde nos leva 
a razão e o espírito’ (Rep. III, 394). A razão levou os gregos a ver uma 
ordem, uma unidade, uma harmonia por detrás da multiplicidade 
caótica das coisas e dos acontecimentos. 
A realidade não era o que estava à nossa frente, mas sim, o que a razão 
iria encontrar e dizer. Daí a busca das causas e dos princípios. Há uma 
citação de Eurípides, repetida por Vergílio, que reflete esta motivação 
 
13 Para um aprofundamento da questão das relações entre o mito e a filosofia veja: 
ALMEIDA, Rogério Miranda de. Eros e tânatos: a vida, a morte e o desejo. São 
Paulo: Loyola, 2007, especialmente o tópico Ciência, mito e religião, pp. 49-55. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
27 
intelectual dos helênicos: ‘feliz aquele que aprendeu a pesquisar as 
causas’.14 
A ciência – sabedoria grega adquire um caráter especial: ela 
desenvolveu-se no sentido que hoje dizemos “filosófico” e não científico-
positivo. Os gregos não desenvolveram o método científico (apesar de 
Euclides, Ptolomeu, Hipócrates): não lhes interessava propriamente os fatos, 
os fenômenos, mas antes a razão, o princípio das coisas. A sabedoria grega 
não é um enciclopedismo, um conjunto muito vasto de conhecimentos, um 
saber tudo sobre todas as coisas. É mais, um conhecimento em profundidade 
do que em horizontalidade: significa não possuir um grande cabedal de 
conhecimentos, mas conhecimentos aprofundados, radicais, que penetram 
dentro das coisas, vencendo as aparências, para descobrir as suas causas ou 
razões. “A filosofia não é a ciência de tudo, mas a ciência do todo”, dizia 
Triboudet. 
Aqui então, diferenciamos na sabedoria, segundo os gregos, os 
seguintes termos: 
x Ciência: racionalidade; é compreender o mundo pela razão, pela 
inteligência (e isso em oposição à explicação mitológica da realidade) 
x Logos do mundo: o mundo possui uma “razão” dentro de si; as 
causas das coisas estão nas próprias coisas e não no determinismo que os 
mitos e a religião grega apresentavam. 
x Logos do homem: é o instrumento para captar e compreender o 
“logos do mundo”. 
 
1.4 FILOSOFIA: CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS 
 
Definir a filosofia de forma exata e clara não é uma tarefa fácil. Uma 
definição, para ser boa, deve ser concisa, precisa e clara; deve oferecer-nos 
um conceito inicial e abrangente de um determinado objeto, a partir do qual 
entendem-se outras noções sobre esse objeto. 
As definições da filosofia podem ser variadas, dependendo do ponto 
de vista ou do enfoque que se a considera. Ademais, uma definição da 
 
14 TELES, Antônio Xavier. Introdução ao Estudo da Filosofia. Ática, São Paulo, 
1985, p. 22 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
28 
filosofia colocada no início é sempre problemática: é pouco compreensível 
aos não iniciados. Para uma melhor compreensão da filosofia, sua natureza 
e seu objeto, talvez o melhor procedimento a ser adotado seria o de iniciar-
se gradualmente no mundo filosófico, adentrar na sua problemática, ter dela 
uma vivência gradativa e só então formular-se noções e definições. 
Apesar dessas ressalvas, tiraremos bom proveito analisando e 
comparando diversas definições, com o objetivo de, a partir delas, 
elaborarmos uma noção mais exata e mais clara da natureza da ciência 
filosófica. 
“A filosofia é a ciência da realidade inexperimentável. Ciência é o conjunto 
de conhecimentos metódicos e sistemáticos. Inexperimentável é tudo aquilo que não 
se percebe pelos sentidos, nem armados nem desarmados, mas percebe-se pela 
inteligência”.15 Uma definição razoável. O termo “inexperimentável” poderia, 
contudo, levar a um equívoco: o de entender a Filosofia como uma ciência 
que trata de coisas que não têm relação com a experiência humana, com a 
vida concreta do homem. Não é esse o caráter da filosofia, como já tivemos 
a oportunidade de observar. 
O autor, porém, fala que a filosofia trata de uma realidade que 
“percebe-se pela inteligência”. E isso é correto: o “trabalho” da filosofia é o 
trabalho da inteligência. A inteligência percebe além daquilo que os sentidos 
percebem. 
“A filosofia é um conjunto de conhecimentos naturais e metodicamente 
adquiridos e ordenados, que tende a fornecer a explicação fundamental de todas as 
coisas”.16 A primeira parte da definição é apenas uma explicitação do 
conceito de “ciência”. Filosofia é a “explicação fundamental de todas as 
coisas”; ela busca os fundamentos, a explicação última da realidade. Embora 
não fique muito claroaqui a distinção entre filosofia e ciência, porque a 
ciência é também, de certa forma, uma explicação fundamental das coisas, 
em contraposição a uma explicação superficial ou aparente. 
 
15 DREHER, Edmund Que é filosofia? Curitiba: 1977, p. 48. 
16 RAYMAEKER, Luis de. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU, 1973, p. 36. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
29 
Semelhante é a definição de São Tomás de Aquino: “Philosophia est 
cognitio rerum per primis et universalibus causis, sub lumine naturali 
rationis17”.18 
Vejamos os elementos da definição tomista: 
— A filosofia é “conhecimento das coisas”; quer dizer, é uma ciência. 
— E seu instrumento é “a luz natural da razão”; em distinção da “luz 
da fé”, que caracteriza a religião. 
— Os termos mais importantes da definição são: “através das causas 
primeiras (ou últimas ) e universais”. Isto quer dizer que a filosofia busca a 
razão última sobre as coisas. “Universais” significa que busca respostas 
válidas para todos e para todo o tempo. 
Outra definição ainda: “A filosofia é aquele conhecimento especulativo ou 
analítico sobre a realidade como um todo ou a respeito de certos problemas que não 
caem sob a alçada das ciências, principalmente os do conhecimento e da ação”.19 
Vejamos os termos dessa definição: 
— A filosofia é “conhecimento especulativo”. “Especular” significa 
“espiar”, “esquadrinhar”, quer dizer, nos dá a ideia que quer descobrir algo 
oculto. Vem com o sinônimo: “analítico”. “Análise” = decompor, destrinchar 
algo, para ver o seu interior, para ver a sua realidade interna. 
— “da realidade como um todo”, isto é, a filosofia não se interessa 
somente por algum aspecto da realidade, mas pela realidade em si, tomada 
como um todo. 
— Acrescenta-se algo: “certos problemas que não caem sob a alçada 
da ciência” são o tema da filosofia. Quer dizer que a filosofia vai adiante da 
ciência positiva, para tratar de certos assuntos que a ciência não pode 
resolver, que lhe escapam da alçada. 
— Esses problemas são principalmente os “do conhecimento e da 
ação”. “Conhecimento” é um importante assunto da filosofia: o que podemos 
 
17 Tradução: A filosofia é conhecimento das coisas através das causas primeiras e 
universais, sob a luz natural da razão. 
18 TOMÁS DE AQUINO. Comentário à Metafísica de Aristóteles. Campinas: Vide 
Editorial, 2020, I, 1.3. 
19 TELES, Antonio Xavier. Introdução ao estudo da filosofia. São Paulo: Ática, 
1985, p. 53. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
30 
conhecer, o que é a verdade? “Ação”: qual o fundamento do agir humano; 
como o homem pode agir e como não pode? 
Mais uma definição: “A filosofia é uma forma crítica e coerente de pensar 
o mundo, produzindo um entendimento de seu significado e do seu sentido, 
formulando, dessa forma, uma concepção geral do mundo, uma cosmovisão da qual 
decorre uma forma de agir”20 
Essa é uma definição mais descritiva da filosofia, que inclui: 
— o procedimento da filosofia: “uma forma crítica de pensar o 
mundo”. 
— o objetivo da filosofia: “um entendimento do significado, do 
sentido”. 
— o termo final (ou o resultado) da filosofia: “concepção geral do 
mundo, cosmovisão”. 
— a aplicação da filosofia: “da qual decorre uma forma de agir”, 
indicando a natureza também prática da Filosofia e não só teórica. 
Levando em consideração as definições acima, sem dúvida não 
podemos fazer uma síntese delas, mas também já estamos, com certeza, em 
condições de nos formular uma ideia melhor e mais precisa da filosofia.21 
Apesar das várias e diferentes formulações das definições, podemos 
encontrar nelas muita coisa em comum, alguns elementos que praticamente 
aparecem em todas elas. 
 
1.5 A FILOSOFIA COMO CIÊNCIA 
 
A Filosofia pretende ser e é realmente uma ciência, rigorosamente 
falando. Ela tem o seu lugar entre as ciências humanas, embora seu caráter 
seja diferente das demais ciências. Diversos filósofos, entre eles Descartes e 
Husserl, tiveram como grande preocupação a fundamentação da Filosofia 
como ciência verdadeira. 
 
20 LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à filosofia. 
Salvador: UFBA, 1992, p. 73. 
21 Sugerimos que o estudante pesquise outras definições de filosofia e faça uma 
análise dos diversos elementos presentes. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
31 
Portanto a Filosofia não é apenas uma discussão, uma conclusão 
definitiva, nem é uma retórica, uma habilidade de linguagem, ou arte de bem 
falar. 
Ela é verdadeiramente uma ciência: 
 
a) Pela sua racionalidade e criticidade. 
A Filosofia situa-se no nível da razão, é uma coisa racional, seu 
instrumento é a inteligência e seu critério último é a evidência da razão. 
A Filosofia utiliza-se de argumentação, demonstração, raciocínio 
lógico - este é o seu procedimento. 
Por isso, a Filosofia difere tanto da Arte, que se refere à emoção, como 
da Religião, que se fundamenta sobre a fé e a autoridade. A Filosofia, por 
seu caráter, prescinde da emoção, da fé e da autoridade. 
 
b) Por seus procedimentos metodológicos 
Toda a ciência se fundamenta sobre um método. Também a filosofia 
possui método próprio. Quer dizer, os conhecimentos na filosofia não são 
reunidos ao acaso, de forma caótica. Ela segue um procedimento próprio, um 
caminho metódico. 
Embora o método da filosofia seja diferente do das outras ciências 
naturais (ou positivas), seu o procedimento segue um método no sentido 
próprio. O aprofundamento do método filosófico será visto no decorrer do 
curso. 
 
c) Pela sua sistematicidade. 
Toda a ciência se completa também num “sistema”, quer dizer 
organização dos conhecimentos num todo coerente. Assim também é a 
filosofia: os conhecimentos não são simplesmente acumulados, mas 
organizados em torno de princípios centrais, formando uma 
interdependência das verdades, numa unidade coerente. 
Todo o pensamento filosófico tende a construir um sistema. As 
filosofias dos grandes filósofos são “sistemas filosóficos”. 
 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
32 
1.5.1 A filosofia é uma ciência dos fundamentos 
 
A Filosofia é uma ciência, mas uma ciência “sui generis”, uma ciência 
de caráter próprio. Não é uma ciência particular, ao lado de outras ciências, 
ditas “experimentais” ou “positivas”, mas é uma ciência “de fundo” - uma 
“ciência dos fundamentos”. 
Ela é uma “ciência dos fundamentos” em tríplice sentido: 
 
a) Porque busca a razão última, os primeiros princípios das coisas 
Isso vem expresso nas definições acima mencionadas com as palavras: 
“ciência do inexperimentável”, “a explicação fundamental de todas as 
coisas”, por meio das causas primeiras e universais”, etc. Na medida que 
vamos aprofundando a nossa experiência com a filosofia, aumentaremos o 
nosso entendimento do significado desses termos. 
Em geral, quer dizer que a filosofia não pára, não se limita diante de 
uma explicação, ela ainda precisa de outra explicação ou envolve ainda 
outras perguntas, outros questionamentos. Ela pretende “ir até o fim”, até a 
última evidência, o último significado ou valor das coisas. 
A Filosofia, com efeito, procura sempre resposta a perguntas 
sucessivas, objetivando atingir, por vias diversas, certas verdades 
gerais, que põem a necessidade de outras: daí o impulso inelutável e 
nunca plenamente satisfeito de penetrar, de camada em camada, na 
órbita da realidade, numa busca incessante de totalidade de sentido, 
na qual se situem o homem e o cosmos. Ora, quando atingimos uma 
verdade que nos dá a razão de ser de todo um sistema particular de 
conhecimento, e verificamos a impossibilidade de reduzir tal verdade 
a outras verdades mais simples e subordinantes, segundo certa 
perspectiva, dizemos que atingimos um princípio, ou um 
pressuposto.22 
 
b) Porque tem por temática os problemas “de fundo” da humanidade 
A temática, o assunto da Filosofia são as questões fundamentais que, 
se pode dizer, são as mais importantes, que tocam a própria vida do homem, 
 
22REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 4. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
33 
são “existenciais” para cada homem que está no mundo e para a humanidade 
em geral. 
Esse questionamento, mais fundamental, cada homem pode fazê-lo e 
geralmente o faz, colhendo respostas de seu meio cultural, da religião no 
mais das vezes. A filosofia enfrenta essas questões de forma explícita e 
sistemática. 
São inúmeras essas questões. Por exemplo: 
— O que é o ser, a verdadeira realidade? A matéria, espírito, ambas as 
coisas? Ou a questão de Heidegger: “por que o ser e não o nada?” 
— O que é que explica tudo o que existe? Deus ou não é necessário 
Deus? 
— Quem é o homem, afinal de contas? Por que está ele aí? Qual o 
sentido da vida e da morte? Para onde caminha a humanidade? 
— O que é lícito e o que não é lícito ao homem fazer? O que é o bem 
e que é o mal? Por que o mal no mundo? 
— O homem deve ou não deve viver em comunidade, sociedade? Qual 
é a melhor maneira de viver em sociedade? Pode haver justiça e igualdade? 
Como atingir a justiça? 
 
c) Porque a filosofia se situa além das ciências positivas 
Isto está expresso na definição já vista de Xavier Teles: “A Filosofia é 
aquele conhecimento… de certos problemas que não caem sob a alçada das 
ciências”. 
Como foi falado “a filosofia começa onde a ciência pára”. E isso é 
verdade: o objeto das ciências são os fenômenos experimentais; elas buscam 
uma explicação suficiente para os fenômenos, a relação entre os fenômenos, 
suas leis e têm um objetivo utilitário, a aplicação. Ciência - técnica. Saber - 
fazer. 
As ciências não têm como objetivo, nem sequer o poder, de fazer um 
questionamento mais além do experimentável. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
34 
Disse Wittgenstein: “se todos os problemas científicos estivessem 
resolvidos, as questões realmente humanas não seriam sequer tocadas”.23 
Realmente, a realidade envolve questões que estão além da alçada das 
ciências. E esse é o campo próprio da filosofia. 
Muitas vezes, as próprias ciências “esbarram” em questões de fundo 
(por exemplo na Biologia: o que é a vida, afinal de contas?) e não raro os 
cientistas entram no campo além-científico (por exemplo Freud, Einstein). 
 
1.5.2 A filosofia é uma ciência da universalidade 
 
A filosofia não só é uma ciência fundamentadora, mas também 
universalizante, totalizante. 
Isto está expresso em algumas definições acima: “per primis et 
universalibus causis” (São Tomás), “um conhecimento especulativo ou 
analítico sobre a realidade como um todo” (Xavier Teles), “formando uma 
concepção geral do mundo, uma cosmovisão” (Luckesi & Silva Passos). 
Que significa isso? A Filosofia é uma ciência da universalidade em 
dois sentidos: 
 
a) Porque seu campo é universal 
A Filosofia não trata de um assunto específico, ou de alguns assuntos 
específicos, mas pode tratar de qualquer assunto que envolva um 
questionamento racional. Nisto está a diferença da filosofia em relação às 
demais ciências: as ciências positivas ou experimentais têm todas um campo 
e um objeto particular, e não saem dele. A Filosofia tem um campo 
universal. 
A Filosofia pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciência, 
seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode 
pensar a arte; pode pensar o próprio homem em sua vida cotidiana. 
Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto 
da reflexão filosófica. A Filosofia incomoda porque questiona o modo 
de ser das pessoas, do mundo. Questiona as práticas política, 
 
23 WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo: Editora 
da Universidade de São Paulo, 1994, 6.52. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
35 
científica, técnica, ética, econômica, cultural, artística. Não há nada 
onde ela não se meta, não indague, não perturbe.24 
 
b) Porque a filosofia busca a integração e a totalidade dos 
conhecimentos 
A filosofia busca reunir, organizar e harmonizar todos os 
conhecimentos. Estes conhecimentos, todo o nosso saber são reunidos em 
torno de certos princípios ou verdades centrais, a partir dos quais adquirem 
significado todos os demais conhecimentos ou verdades. A filosofia visa, 
pois, formar uma visão totalizante ou global, ordenada e coerente da 
realidade, do mundo e do homem. 
Esta é também a função da filosofia em relação às demais ciências: 
globalizar, universalizar. Os conhecimentos científicos são parciais, 
fragmentários e necessitam ser globalizados numa visão abrangente do 
mundo e do universo. 
 
Quando se afirma que a Filosofia é a ciência dos primeiros princípios, 
o que se quer dizer é que a Filosofia pretende elaborar uma redução 
conceitual progressiva, até atingir juízos com os quais se possa 
legitimar uma série de outros juízos integrados em um sistema de 
compreensão total. Assim, o sentido de universalidade revela-se 
inseparável da Filosofia.25 
 
• Indicação de leitura: 
 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006 (p. 19-24). 
CORBISIER, Roland. Introdução à Filosofia. Tomo I. São Paulo: 
Civilização Brasileira, 1983 (p. 51-124). 
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo, Saraiva, 1989 (p. 3-8). 
 
 
24 ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas de Filosofia. São Paulo, 
Moderna, 1991, p. 69. 
25 REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 4. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
36 
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, Rogério Miranda de. Eros e tânatos: a vida, a morte e o desejo. 
São Paulo: Loyola, 2007. 
ARANHA, Maria Lúcia de; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: 
introdução à filosofia. São Paulo, Moderna, 2003. 
ARANHA, Maria Lúcia de; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de 
Filosofia. São Paulo, Moderna, 1991. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2006. 
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Decreto Optatam Totius: sobre 
a formação sacerdotal. Brasília: Edições CNBB, 2018. 
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Orientações 
para os Estudos Filosóficos e Teológicos. São Paulo: Paulinas, 1987. 
CORBISIER, Roland. Introdução à Filosofia. Tomo I. São Paulo: 
Civilização Brasileira, 1983. 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1993. 
DESCARTES. Princípios da filosofia. Lisboa: Guimarães, 1971 
DREHER, Edmund. Que é filosofia? Curitiba: 1977. 
GILES, Thomas Ranson. Curso de iniciação à filosofia: origem, significado 
e panorama histórico. São Paulo: EPUC, 1985. 
GUSDORF, Georges. Professores para quê? São Paulo: Martins Fontes, 
2003. 
HUISMAN, Denis. Filosofia para principiantes. Lisboa: Publicações Dom 
Quixote, 1984. 
IGREJA CATÓLICA. Código de Direito Canônico. Promulgado por João 
Paulo II, Papa. São Paulo: Loyola, 2008. 
JOÃO PAULO II. Carta encíclica Fides et Ratio: aos bispos da Igreja 
Católica sobre as relações entre fé e razão. São Paulo: Paulinas, 1998. 
LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia. 
São Paulo: Cortez, 1995. 
MARTINS, José Salgado. Preparação à filosofia. Porto Alegre: Globo, 
1981. 
Unidade 01 – Filosofia: construindo sua noção 
 
37 
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: 
Martins Fontes, 1999. 
MORIN, Edgar. Para sair do século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 
1986. 
RANSOM GILES, T. A filosofia: origem, significado e panorama histórico. 
São Paulo: EPUC, 1985. 
RAYMAEKER, Luís de. Introdução à filosofia. São Paulo: EPU, 1973. 
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1989. 
SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. O 
Ensino da Filosofia nos Seminários. Roma: Typis Polyglottis Vaticanis, 
1972. 
SHIRATO, Maria Aparecida Rhein. Iniciação à Filosofia: que viva a 
filosofia viva. São Paulo: Moraes, 1987. 
SIMON, Sinek. Comece pelo porquê. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. 
TELES, Antonio Xavier. Introdução ao estudo da filosofia. São Paulo: 
Ática, 1985. 
TOMÁS DE AQUINO. Comentário à Metafísica de Aristóteles. Campinas:Vide Editorial, 2020. 
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo: 
Editora da Universidade de São Paulo, 1994. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
39 
 
UNIDADE 02 – FILOSOFIA E A SUA 
ORIGEM HISTÓRICA 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivo da unidade: Estudar a filosofia na Grécia e a sua relação 
com a cultura humana: ciência, religião e arte. 
 
Conteúdos da unidade: 
1) A filosofia nasceu na Grécia. 
2) Filosofia e a cultura humana. 
3) O conhecimento científico. 
4) Filosofia e religião. 
5) Filosofia e arte. 
 
2.1 A FILOSOFIA NASCEU NA GRÉCIA 
 
O berço da filosofia é a Grécia. Esta é uma afirmação tão comum 
quanto verdadeira. A filosofia propriamente dita germinou na cultura grega, 
alguns séculos antes de Cristo, não porém em Atenas, mas nas colônias 
gregas da Ásia Menor (atual Turquia) no século VI a.C. 
Entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico, 
demonstrativo e sistemático da realidade natural e humana, da origem 
e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das 
ações humanas e do próprio pensamento, a filosofia é uma instituição 
cultural tipicamente grega que, por razões históricas e políticas, veio 
02 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
40 
a tornar-se, no correr dos séculos, o modo de pensar e de se exprimir 
predominante da cultura europeia ocidental.26 
Na verdade, não houve Filosofia, no pleno sentido da palavra, nem nas 
antigas civilizações orientais, nem na própria Grécia antes do s. VI a. C. 
Houve, sim, elementos filosóficos ou reflexões sobre o homem, a vida e o 
mundo desde as mais antigas culturas que se conhece, mas esses elementos 
ou reflexões estão envoltos em outros contextos, geralmente religiosos. 
Assim, por exemplo, a filosofia hindu ou a chinesa (Confúcio, Lao-
Tse) estão em nítido contexto religioso. Os Upanishads são livros religiosos. 
Embora contenham profusas reflexões sobre o homem, a vida e a morte, o 
fundo é sempre religioso. No máximo podemos chamá-los de “sabedoria”, 
no sentido geral. 
Também em contexto religioso está a “filosofia” da sabedoria popular 
de Israel. O livro de Jó é um magnífico exemplar de reflexão poético-
filosófico sobre o destino humano. Em outros livros do Antigo Testamento, 
como Provérbios, Sabedoria ou Sirach, essa sabedoria popular se expressa 
em provérbios, máximas, comparações, que contêm inúmeras reflexões 
sobre as diversas situações humanas. Mas o fundo continua sendo religioso: 
a “sabedoria” é antes de tudo um dom de Deus. 
O gênero sapiencial era também vastamente cultivado em outras 
culturas do Oriente, como no Egito (“Aicar”, “Amenemopet”), na Babilônia, 
entre os acádicos, cananeus, árabes. Mas, no todo, podemos rotular essa 
“filosofia” de “sabedoria popular”: é a experiência humana acumulada e 
transmitida através das gerações. 
Filosofia, porém, no sentido autêntico, como uma pesquisa racional, 
uma ciência, desvinculada da religião, encontramos pela primeira vez na 
cultura grega, seis séculos antes de Cristo. Foram só os gregos que 
desenvolveram, na Antiguidade, a filosofia no sentido de uma ciência 
verdadeira. Os chamados “pré-socráticos” são os primeiros verdadeiros 
filósofos da história. 
 
 
 
 
26 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2006, p. 26. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
41 
2.1.1 Por que a filosofia nasceu na Grécia? 
 
Uma pergunta: por que razões a filosofia nasceu entre os gregos e não 
em outras culturas? Poderíamos perguntar: por que a filosofia não surgiu na 
cultura egípcia, que foi uma cultura poderosa e duradoura, mais antiga que a 
grega? 
É normalmente difícil encontrar razões para um fato histórico ou para 
fatos em geral. Como, por exemplo, por que eu nasci no Brasil e não em 
outro país? 
No entanto, podemos aduzir duas razões que, se não explicam 
totalmente o fato de a filosofia ter surgido na cultura grega, pelo menos 
ajudam a justificá-lo. As razões são complementares uma a outra, uma 
praticamente se deduz da outra. 
 
a) Os gregos não possuíam livros religiosos 
O elemento fundamental das grandes culturas da Antiguidade era a 
religião, cujas doutrinas e preceitos eram codificados em livros religiosos. A 
cultura hebraica possuía a Bíblia, os árabes o Corão, os hindus os 
Upanishads; também os egípcios possuíam seus livros religiosos. 
Esses livros traziam a solução religiosa para as grandes questões 
humanas. Por exemplo, a Bíblia: o que é o mundo? Uma criação de Deus. O 
que é o homem? Para que vive? O que o homem pode fazer e o que não pode 
fazer? Que é bem e que é mal? Temos os mandamentos no Decálogo. 
Os gregos jamais tiveram livros religiosos de importância global. 
Quase que naturalmente, então, eles tinham de buscar explicações racionais 
para as coisas e usar da razão para encontrar solução para as grandes questões 
humanas. 
É claro que os gregos possuíam uma mitologia muito desenvolvida, 
mas, como diz Aristóteles, foi o mito que conduziu à filosofia; o mito é o 
embrião da filosofia. “Aquele que ama o mito é, de certo modo, filósofo: o 
mito, com efeito, é constituído por um conjunto de coisas admiráveis”.27 
 
 
27 ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002, A 982 b. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
42 
b) A sociedade grega era fundamentalmente uma sociedade 
democrática. 
Outras culturas da Antiguidade eram basicamente teocráticas 
(hebraica, egípcia, babilônica, indiana, árabe). Isto significava que a vida da 
sociedade era predeterminada pela religião, de cima para baixo (por 
exemplo, os hebreus possuíam leis bem detalhadas sobre todos os setores da 
vida humana, individual, familiar, social, política). Neste tipo de sociedade 
tinha função especial a classe sacerdotal. 
Entre os gregos existia a classe sacerdotal, mas ela tinha pouca 
influência sobre a vida pública. Da mesma forma, a religião era um assunto 
quase privado. 
Os gregos na maior parte da sua história construíram regimes 
democráticos, onde o poder vinha de baixo, as leis eram codificadas por 
legisladores humanos, onde contava a opinião popular. 
Neste tipo de sociedade, os gregos tiveram de buscar soluções para as 
suas questões e seus problemas sozinhos. Como isso acontecia? Sabemos 
historicamente da importância das assembleias em praça pública (“ágora”), 
onde os cidadãos se reuniam para discutir seus problemas. O procedimento 
para chegar à verdade era o diálogo (“dialética”). 
Para os gregos, então, as soluções para as suas questões não vinham 
prontas, de cima para baixo, mas surgiam de baixo, da discussão, do debate. 
Um terreno propício, portanto, para o filosofar.28 
 
2.1.2 Origem da filosofia a partir do mito 
 
“A filosofia originou-se do mito”, disse Aristóteles. Para o Estagirita, 
pois, a origem da Filosofia situa-se no desenvolvimento do mito. “Ora, quem 
experimenta uma sensação de dúvida e de admiração reconhece que não 
sabe; e é por isso que também aquele que ama o mito é, de certo modo, 
filósofo: o mito, com efeito, é constituído por um conjunto de coisas 
admiráveis”.29 
 
28 Para aprofundar essa questão leia: CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. 
São Paulo: Ática, 2006, p. 34-38 (Mito e filosofia; Condições históricas para o 
surgimento da filosofia). 
29 ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002, A 982 b. 
Unidade 02 – Filosofia e a sua origem histórica 
 
43 
A cultura grega expressou primeiramente a sua “compreensão” do 
mundo e do homem no mito, e depois, aos poucos, traduziu essa 
compreensão na racionalidade filosófica. De acordo com Werner Jaeger: 
A obra de Homero é inspirada na sua totalidade, por um pensamento 
filosófico relativo à natureza humana e às leis eternas que governam 
o mundo. Não lhe escapa nada do essencial da vida humana. O poeta 
contempla todo o conhecimento particular à luz do seu conhecimento 
geral da essência das coisas.30 
O mito é um elemento cultural de muita importância nas civilizações 
antigas.

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