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Apoio: Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade CONSEMA PA R Q U E ESTA D U A L M ATA D A PIM EN TA : R iqueza N atural e C onservação da C aatinga A presente obra trata-se de um esforço de vários pesquisadores, educadores e caatingueiros em divulgar, em um único documento, informações relevantes sobre aspectos físicos, biológicos e antrópicos da primeira Unidade de Con- servação (UC) Estadual, na Caatinga Pernambucana, o Parque Estadual Mata da Pimenteira. Essas informações são de grande valia e fundamentais para constituir a base do Plano de Manejo. Concomitantemente teve como objetivo criar um sentimento de apropriação do conhecimento sobre um bioma exclu- sivamente brasileiro; estimular o pertencimento do nosso potencial natural, além de instituir possibilidades regionais referente a importância e cuidados dos recursos que a natureza gentilmente oferece, sobretudo, para o entorno dessa UC. Tais objetivos são extremamente importantes para valorização das nossas riquezas naturais. Esta publicação sobre o Parque Estadual Mata da Pimenteira é um testemunho da capacidade da sociedade pernambucana em partici- par da tarefa coletiva, na construção do diagnóstico ambiental de uma unidade de Conservação. A Universidade Federal Rural de Pernambu- co/Unidade Acadêmica de Serra Talhada, junto com os gestores e servidores públicos, construíram este instrumento, que ganha a assinatura de todos os pernambucanos, es- pecialmente os caatingueiros, resultado da instrumentaliza- ção de compromissos fi rmes e compartilhados, descritos em cada artigo desse volume, com legitimidade e saberes sociais, aliado a capacidade técnica e o compromisso dos professores em se doar com suas mãos e com suas mentes na tarefa atribuída de construir, de for- ma participativa, transparente e impessoal este diagnóstico. Temos que nos orgulhar como pernambucanos, pela forma e pelo resultado alcançado com a construção desse volume, pioneiro, ousado e responsá- vel, tendo como desafi o dos autores um esforço no sentido de agregar contribuições tanto dos cidadãos comuns como de cientistas e estudiosos que, de uma forma ou de outra, pri- meiro analisam a Caatinga com os olhos do coração, para, num segundo momento, conhecer os seus segredos com os olhos da razão. Dessa forma, este livro foi desenvolvido com o objetivo de apresentar à sociedade e ao corpo técnico do Estado um conjunto de dados, informa- ções e refl exões, de maneira sistematizada e atualizada, acerca da primeira Unidade de Conservação Estadual criada no Bioma Caatinga do Estado de Pernambuco, e representa também um momento marcan- te em termos de exercício intermultidisciplinar, ao en- volver e integrar profi ssionais de diferentes formações rea- fi rmando o papel do Governo Estadual na conservação do bioma Caatinga por meio da sua capacidade de articulação e diversidade disciplinar e institucional. Hélvio Polito Lopes Filho Secretario Executivo da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) do Estado de Pernambuco Este livro “Parque Estadual Mata da Pimenteira: Riqueza Natural e Conservação da Caa- tinga”, elaborado sob a compe- tente coordenação de Ednilza Maranhão dos Santos, Mauro de Melo Junior, Jacque- line dos Santos Silva Cavalcanti e Gleymerson Almeida, além de oportunizar uma série de co- nhecimentos sobre unidades de conservação, bioma caatinga, inventários biológicos, educa- ção ambiental, biodiversidade, entre outros, contextualiza a temática dentro do sertão Per- nambucano, em especial do Parque Estadual Mata da Pi- menteira localizado na cidade de Serra Talhada. Ademais de disponibilizar in- formações técnicas nos capí- tulos que constituem o livro, oferece-nos a oportunidade de refl exão sobre o nosso pa- pel enquanto cidadãos em um mundo que necessita “cami- nhar e conservar”. A leitura deste livro é com certeza uma estrada no caminho do cuidado e conservação de nosso plane- ta, e de todos os seres vivos que o habita. Marcelo Brito Carneiro Leão Pós-Doutor no uso das Tecno- logias da Informação e Comu- nicação no Ensino de Ciências pela Universitat de Barcelona e Bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico do CNPq. Professor do Curso de Licenciatura em Química e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências (mes- trado/doutorado) da UFRPE. Atualmente é Vice-reitor da UFRPE. 9 788579 461385 pdf hueheuheheuhhe.indd 1 22/11/2013 16:37:17 PARQUE ESTADUAL MATA DA PIMENTEIRA: Riqueza Natural e Conservação da Caatinga Ednilza Maranhão dos Santos Mauro de Melo Júnior Jacqueline Santos Silva-Cavalcanti Gleymerson Vieira Lima de Almeida (Organizadores) Serra Talhada - PE 2013 P257 Parque Estadual Mata da Pimenteira: Riqueza Natural e Conservação da Caatinga / organizadores: Ednilza Maranhão dos Santos ... [et al.]. – Recife : EDUFRPE, 2013. 257 p. : il. Inclui referências e anexos. ISBN: 978-85-7946-138-5 1. Unidade de conservação 2. Nordeste (Brasil) 3. Regiões áridas 4. Biodiversidade 5. Caatinga 6. Pernambuco I. Santos, Ednilza Maranhão dos, org. CDD 581.90954 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO Profª. Maria José de Sena — Reitora Prof. Marcelo Brito Carneiro Leão — Vice-Reitor Revisão Técnica Ana Carla Alfora El-Deir UFRPE Ana Carolina Borges Lins e Silva UFRPE Bruno Severo Gomes UFPE César Auguste Badji UFRPE Cristina Maria de Souza Motta UFPE David Holanda de Oliveira UFPB Enaide Marinho de Melo-Magalhães UFAL Ênio Wocyli Dantas UEPB / UFRPE Fabiana Oliveira de Amorim UFRPE Francisca Soares de Araújo UFC Geraldo Jorge Barbosa de Moura UFRPE Heliofábio Barros Gomes UFAL Jozélia Maria Sousa Correia UFRPE Lucas Rezende Penido Paschoal UEMG Luciana Santos Dias de Oliveira UFRPE Luciana Pinto Sartori CUSC/SP Luiz Augustinho Menezes da Silva UFPE Maria Adélia Borstelmann de Oliveira UFRPE Maria da Graça Gama Melão UFSCar Nilson Sant’Anna Júnior UFRPE Pedro Augusto Mendes de Castro Melo UFPE Sarah Maria Athiê de Souza UFRPE Soraya Giovanetti El-Deir UFRPE Telton Pedro Anselmo Ramos UFPB Uided Maaze Tiburcio Cavalcante UFPE Viviane Ferreira Melo UFRPE Yana Teixeira Reis UFSE Yumma Bernardo Maranhão Valle UFRPE Produção Editorial Universidade Federal Rural de Pernambuco Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos - CEP: 52171- 900 - Recife/PE www.ufrpe.br Projeto gráfico e diagramação Editora Universitária da UFRPE Capa Eduardo Henrique de Farias Cavalcanti Fotos da capa André Laurênio de Melo, André Luiz Alves de Lima, Ednilza Maranhão dos Santos, Bárbara Lins Caldas de Moraes, Lourdes Maria Abdu Elmoor-Loureiro, Mauro de Melo Júnior Revisão Dorothy Bezerra Silva Brito e Iêdo de Oliveira Paes Agradecimentos Somos gratos a várias instituições, colegas e amigos por suas impor- tantes contribuições para o engrandecimento da obra Parque Estadual Mata da Pimenteira: Riqueza Natural e Conservação da Caatinga. Discus- sões e conferências realizadas em vários eventos científicos na Unidade Acadêmica de Serra Talhada, da Universidade Federal Rural de Pernam- buco, foram o estímulo inicial para a realização desta obra. A partir de então, os organizadores desta obra conseguiram reunir um expressivo grupo de pesquisadores que já atuavam na área do Parque Estadual Mata da Pimenteira e que aceitaram, com bastante confiança e agrado, o nosso convite para compor este importante documento científico. Agradecemos a todos os revisores, váriosprofissionais, de diversas instituições, por suas expressivas revisões científicas e textuais em di- ferentes capítulos desta obra. Somos muito gratos à UFRPE, no nome do Vice-reitor, o Prof. Dr. Marcelo Carneiro Leão, por sempre ter atendido às nossas inúmeras solicitações; a Bruno de Souza Leão, diretor da Editora Universitária da UFRPE, que, por sua grande presteza e dedicação, conseguiu trans- formar um conjunto de arquivos de texto em um livro elegante e real; a Phillipe Burgos Cabral, pelos ajustes finais; e aos Profs. Dra. Dorothy Bezerra Silva de Brito, da UAST/UFRPE, e Dr. Iêdo de Oliveira Paes, do DLCH/UFRPE, pelas revisões textuais de todos os capítulos desta obra. Agradecimentos especiais ao Sr. Zenildo Cirino e todos que fazem o Instituto Nova Ação para Educação, Cidadania e Meio Ambiente, que juntamente com toda diretoria aceitou participar como parceiro na re- alização desta obra através do Edital FEMA 1/2012 e à Profa. Dra. Maria Adélia Borstelmann de Oliveira (ASPAN, DMFA/UFRPE), por seu incenti- vo e por gentilmente ter aceitado ao convite para elaborar o contagian- te prefácio desta obra. Créditos distintos vão para Eduardo Henrique de Farias Cavalcanti, que voluntariamente idealizou e elaborou a bela capa desta obra. Da mesma forma, e não menos importante, agradecemos a Associa- ção Pernambucana de Defesa da Natureza (ASPAN), ao Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga (CERBCAA/PE), ao Governo do Esta- do de Pernambuco, através da Secretaria de Meio Ambiente e Susten- tabilidade (SEMAS), pela iniciativa e apoio financeiro para a impressão desta obra, bem como para a reprodução da mesma a partir de mídias digitais. A consolidação deste projeto só foi possível graças aos recursos disponibilizados a partir do Edital FEMA 01/2012. Por fim, e com maior destaque, a todos que lutam pela preservação/ conservação das Caatingas, aqueles que sonham e fazem do sonho uma realidade e a todos os seres vivos que resistem e persistem nesse Bioma. Prefácio Peço licença para – desbloqueando as portas de minha mente e do meu coração – filosofar um pouco sobre as angústias de ser uma ati- vista do movimento ambientalista de Pernambuco, antes que vocês, leitores, descortinem as verdades científicas e os fatos socioambientais contidos nos maravilhosos capítulos desse livro sobre o primeiro Par- que Estadual de Pernambuco, Mata da Pimenteira, localizado no mais brasileiro de todos os biomas nacionais – a Caatinga. Creio que ambientalistas sofrem mais do que qualquer outro ativis- ta, principalmente porque vivem engendrados no círculo vicioso dos problemas que, ao longo do tempo, adquirem a força e o poder des- truidor de uma avalanche. Não pensem que exagero, senão analisem: em qualquer luta há vitórias e derrotas; porém na luta ambiental, as vitórias são sempre provisórias e as derrotas definitivas. Se uma flo- resta ou uma nascente de água é destruída, não há como recuperar as condições preexistentes – temos aí derrotas definitivas. Se conseguir- mos, por outro lado, proteger uma área de caatinga, por exemplo, não podemos relaxar nem ficar tranquilos porque evitamos a destruição. A todo momento aquela mesma área estará a mercê de um novo golpe, um novo “projeto de desenvolvimento”, uma nova “necessidade ou interes- se social” que raramente é concebida para criar o novo sem destruir o antigo. Desse modo as pretensas vitórias se acumulam na luta sem fim e as derrotas fatais nos empurram para um mar de desolação. Isso exige do ambientalista um esforço de Titãs para se manter encorajado e disposto a continuar lutando pelo que acredita: o desenvolvimento verdadeiro é sustentável e compatível com a preservação da natureza. Diante dessa dura realidade, nós, ambientalistas de carteirinha, não podemos desperdiçar as oportunidades de comemorar, e neste livro te- mos um forte motivo. Ele é resultado de, na minha humilde opinião, a mais bela e madura vitória da luta ambientalista. Luta que envolveu a comunidade acadêmica local (UAST/UFRPE, Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural de Pernambuco), capi- taneada pela professora e ambientalista Dra. Ednilza Maranhão dos Santos, a ASPAN (Associação Pernambucana de Defesa da Natureza), o Comitê da Reserva da Biosfera da Caatinga, gestores públicos das esferas municipal, estadual e federal, além de cidadãos conscientes e preocupa- dos com a conservação da riqueza natural contida nos ecossistemas do Parque Estadual Mata da Pimenteira. O que motivou este grupo? O as- sombro diante da riqueza da área somado à indignação diante de um ce- nário cuja destruição seria uma questão de tempo... A estatística oficial do Governo de Pernambuco revelou aquilo que, com lágrimas nos olhos, se via ao redor: a linda cidade de Serra Talhada era vítima da maior taxa de desmatamento entre todos os 185 municípios pernambucanos. A ASPAN, criada no dia 05 de junho de 1979, completa, neste ano de 2013, 34 anos de atividades ininterruptas em defesa da Natureza, e teve na defesa de outra mata – a do Engenho Uchôa – a sua primeira luta e vitória provisória. É a organização ambientalista da sociedade civil, sem fins lucrativos, mais antiga do Nordeste do Brasil. Nascida da in- satisfação de um pequeno grupo de estudantes da UFRPE nos tempos da ditadura militar, diante da destruição do ambiente e do marasmo da população em geral, a ASPAN não prosperaria se estes alunos não tivessem recebido o apoio e contado com o entusiasmo de um professor especial: João Vasconcelos Sobrinho. Se para a UFRPE o Professor Vasconcelos Sobrinho é muito mais do que um exemplo a seguir, para nós da ASPAN ele foi o fermento que fez vicejar o movimento e despertar a consciência ambientalista em Pernambuco, e em consequência no Nordeste. Ele não só acreditou nos quatro jovens estudantes da Rural, entusiasmados com os discursos ambientalistas, estudantes estes que foram do Recife à Porto Alegre para participar de um encontro de entidades ambientalistas: levando-os com suas mãos ex- perientes, Vasconcelos conduziu os estudantes, recrutando de todos os cantos das cidades de Recife e Olinda as pessoas sensíveis à questão am- biental. Até hoje recebemos na ASPAN correspondências endereçadas ao Centro Pernambucano para a Conservação da Natureza, criado e dirigido por ele de modo pioneiro, para lutar pela criação de unidades de conser- vação e combater as formas de uso insustentáveis dos recursos naturais. Porém, nos idos de 1979, ele avaliava que o Centro era muito acadêmico e pouco prático para a luta que a causa ambientalista exigia à época. Com um misto de brincadeira e de orgulho costumamos dizer na ASPAN que foi o braço armado do Centro Pernambucano para Conservação da Na- tureza. O Dia Nacional da Caatinga, instituído por Decreto Presidencial datado de 20 de agosto de 2003, por sugestão da ASPAN, consagrou o dia de seu aniversário, 28 de abril, para comemorar e lembrar esse impor- tante bioma brasileiro. Para se ter uma idéia da importância da ação desse que foi não apenas sócio fundador, mas o incentivador da ASPAN, basta ressaltar a sua função a nível planetário no que tange a questão do Semiárido brasileiro. Após a primeira Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente, ocorrida em 1972, o Brasil deu início, em 1974, aos preparativos para o Relatório Nacional a ser apresentado na Conferência sobre Desertificação convocada pela ONU, que ocorreu em Nairobi, Quênia, no continente africano em 1977. Este relatório ficou sob responsabilidade e coordenação do Professor João de Vasconcelos Sobrinho, que ainda em 1974 publicou o livro “O Grande Deserto Brasileiro”. As teses apresentadas neste livro vêm se confirmando a cada nova pesquisa, e nele estão edificados o conceito dos Núcleos de Desertificação, utilizado até os dias dehoje, e adotado oficialmente pelo Governo Federal, em estudos realizados posterior- mente, sendo indicados como áreas prioritárias no recente Programa Nacional de Combate à Desertificação. Como cientista ligado a insti- tuições governamentais (exerceu vários cargos públicos, entre eles: vice-reitor da UFRPE, diretor de Floresta da Secretaria da Agricultura do Estado de Pernambuco, consultor da SUDENE), Vasconcelos não se intimidava em fazer o papel que caberia às instituições da sociedade civil, de pressionar o Estado a tomar certas medidas. Uma vez que seu salário era pago pelo governo, ele acabava se tornando fator de pressão dentro dos órgãos governamentais. Mas Vasconcelos Sobrinho tinha estrutura para suportar a pressão. Detentor de um lado místico que poucos conhecem, ele se considerava um buscador da Verdade e seus livros “Catecismo da Ecologia” e “Ciência, religião sem dogmas” tradu- zem esse equilíbrio. Não quero me furtar da oportunidade de deixar para o deleite dos leitores essa pérola, que revela de modo concentrado parte de seus ensinamentos ecológicos, que ele sabiamente chamou de Dez Mandamentos da Ecologia: 1. Ama a Deus sobre todas as coisas e a Natureza como a ti mesmo. 2. Não defenderás a Natureza em vão, apenas com palavras, mas através de teus atos. 3. Guardarás as florestas virgens, pois tua vida depende delas. 4. Honrarás a fauna, a flora, todas as formas de vida, e não ape- nas a humana. 5. Não matarás. 6. Não pecarás contra a pureza do ar deixando que a indústria suje o que a criança respira. 7. Não furtarás da terra sua camada de húmus, raspando-a com o trator, condenando o solo à esterilidade. 8. Não levantarás falso testemunho dizendo que o lucro e o pro- gresso justificam teus crimes. 9. Não desejarás para teu proveito que as fontes e os rios se enve- nenem com o lixo industrial. 10. Não cobiçarás objetos e adornos para cuja fabricação é preciso destruir a paisagem: a terra também pertence aos que ainda estão por nascer. Realizar um sonho marca indelevelmente a vida de qualquer pessoa, de qualquer instituição. Quando esta realização resultou de um sonho sonhado junto, então...como diz a canção... é realidade! Nas páginas se- guintes, vocês terão a alegria de confirmar o final feliz de uma história verdadeira de luta e de superação, de boa vontade e de companheiris- mo. A história de uma vitória que nos conclama a permanecermos sem- pre juntos, cuidando do novo rebento, cujo nascimento trará muitos frutos e mostrará a todos que esta luta vale a pena. Ambientalista Maria Adélia Borstelmann Oliveira – ASPAN Sumário Capítulo 1 O Parque Estadual Mata da Pimenteira - Primeira Unidade de Conservação Estadual na Caatinga de Pernambuco 13 Ednilza Maranhão dos Santos, Gleymerson Vieira Lima de Almeida, Lourinalda Luíza Dantas da Silva Selva de Oliveira, Everdelina Roberta Araújo de Meneses, Marilourdes Vieira Guedes, Ana Cláudia Sacramento, Giannina Settimi Cysneiros Landim Bezerra, Joice de Vasconcelos Alexandrino Brito & José Cordeiro dos Santos. Capítulo 2 Climatologia e Características Geomorfológicas 27 Thieres George Freire da Silva & André Quintão de Almeida Capítulo 3 Fitoplâncton de um Lago Temporário Raso 37 Ariadne do Nascimento Moura, Juliana dos Santos Severiano, Mauro Cesar Palmeira Vilar & Mauro de Melo Júnior Capítulo 4 Mucorales (Mucoromycotina) 51 Carlos Alberto Fragoso de Souza, Cynthia Maria Carneiro Costa, Leonor Costa Maia & André Luiz Cabral Monteiro de Azevedo Santiago Capítulo 5 Flora Aquática de Duas Lagoas Temporárias 65 Wesley Patrício Freire de Sá Cordeiro, Carmen Sílvia Zickel, Samara Silva de Matos, Rivânia de Melo, Débora Rafaela Menezes Caldas, Mauro de Melo Júnior, Ana Paula de Souza Gomes & André Laurênio de Melo Capítulo 6 Flora Vascular Terrestre 81 André Laurênio de Melo, André Luiz Alves de Lima, Tatiane Gomes Calaça Menezes, Rodrigo Soares Cordeiro, Elvira de Souza Santos, Séfora Gil Gomes de Farias, Flávia Vieira da Silva, Débora Rafaela Menezes Caldas, Samara Silva de Matos, Rivânia de Melo, Lucivania Rodrigues Lima, Wesley Patrício Freire de Sá Cordeiro, Ana Paula de Souza Gomes & Maria Jesus Nogueira Rodal Capítulo 7 Estrutura e Funcionamento da Vegetação Lenhosa 105 André Luiz Alves de Lima, André Laurênio de Melo, Tatiane Gomes Calaça Menezes, Séfora Gil Gomes de Farias, Lucivania Rodrigues Lima, Everardo Valadares de Sá Barretto Sampaio & Maria Jesus Nogueira Rodal Capítulo 8 Fauna Planctônica e Fitófila de uma Lagoa Temporária Rasa 121 Mauro de Melo Júnior, Leidiane Pereira Diniz, Marcos Felipe Menezes Magalhães, Maiara Tábatha da Silva Brito, André Laurênio de Melo, Lourdes Maria Abdu Elmoor-Loureiro & Viviane Lúcia dos Santos Almeida Capítulo 9 Macroinvertebrados Aquáticos 137 Girlene Fábia Segundo Viana, Silvano Lima do Nascimento Filho, Paulo Rogério de Souza Almeida & Jesser Fidelis de Souza-Filho Capítulo 10 Cupins 151 Carlos Romero F. Oliveira, Cláudia Helena C.M. Oliveira & Yasmin Bruna S. Bezerra Capítulo 11 Ictiofauna de Poças Temporárias 165 Elton José de França & Willian Severi Capítulo 12 Vertebrados Tetrápodes 175 Ednilza Maranhão dos Santos, Barbara Lins Caldas de Moraes, Francisco Geraldo de Carvalho Neto & Gleymerson Vieira Lima de Almeida Capítulo 13 Educação Ambiental – Experiência em uma Escola 207 Renan do Nascimento Barbosa, Bárbara Augusta Estima Mota & Ednilza Maranhão dos Santos Capítulo 14 Resíduos Sólidos em Unidades de Conservação: Instrumentos Legais e Perspectivas de Monitoramento 221 Jacqueline Santos Silva-Cavalcanti, Maria Christina Barbosa de Araújo & Bhertone Batista Freire Capítulo 15 Medidas de Controle e Ações de Manejo 235 Gleymerson Vieira Lima de Almeida, Ednilza Maranhão dos Santos, Barbara Lins Caldas de Moraes, Girlene Fábia Segundo Viana, Elton José de França, Jacqueline Santos Silva-Cavalcanti, Maria das Graças Sobreira & Sérgio de Azevedo Mendonça Breve Biografia dos Autores 257 Capítulo 1 16 O Parque Estadual Mata da Pimenteira - Primeira Unidade de Conservação Estadual na Caatinga de Pernambuco Ednilza Maranhão dos Santosa, Gleymerson Vieira Lima de Almeidab, Lourinalda Luíza Dantas da Silva Selva de Oliveirac, Everdelina Roberta Araújo de Menesesb, Marilourdes Vieira Guedesd, Ana Cláudia Sacramentod, Giannina Settimi Cysneiros Landim Bezerrac, Jóice de Vasconcelos Alexandrino Britoe & José Cordeiro dos Santosd Resumo O Parque Estadual Mata da Pimenteira surgiu de uma inquietação de grupos de professores e alunos da Unidade Acadêmica de Serra Talhada, prefeitura e amigos ambientalistas que observavam e deslumbravam com a paisagem única das serras com toda sua biota. Preocupados com a exploração da lenha na região e, bem como, em manter a diversidade de organismos na área, além de melhor qualidade de vida para as co- munidades humanas do entorno, se reuniram, debateram e, com ajuda do Comitê Estadual da Reserva da Bioesfera da Caatinga (CEBCAA) e da Associação Pernambucana em Defesa da Natureza (ASPAN), iniciaram esforços para transformar a área em Unidade de Conservação. Como consequência dessa luta, em 2012 foi criado o Parque Estadual Mata da Pimenteira, a primeira unidade de conservação Estadual do Bioma Caatinga no estado de Pernambuco (Decreto n. 37.823/12). Palavras-chave: Área protegida. Conservação da Caatinga. Serra Ta- lhada. Região do Pajeú. Introdução A palavra caatinga tem sua origem na lingua indígena tupi, signifi- ca caa = mata + tinga = branca “mata branca” ou “floresta branca”. Sua vegetação apresenta, na maior parte do ano, aspecto esbranquiçado ou prateado, em decorrência da perda de folhas pelas plantas na esta- a – Universidade Federal Rural de Pernambuco,Departamento de Biologia, Recife/PE. E-mail: ednilzamaranhao@gmail.com; b - Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE/UAST), Fazenda Saco s.n., CEP 56900-000, Serra Talhada - PE; c - Universidade Federal Rural de Pernambuco,Departamento de Química Recife/PE; d - Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (SEMAS-PE), Recife-PE. e - Analista Ambiental da CPRH, Recife-PE 17 ção seca e de algumas delas possuirem caule claro ou cinzento. Existe uma grande diversidade de paisagens nesse Bioma e é comum a denominação de “as Caatingas” devido às diferentes feições (Maia, 2004). Podemos resumir caracterizando-a como uma comunidade vegetal xerófila, de fisionomia e diversidade variadas, composta por uma vegetação que varia de aberta e ar- bustiva até fechada e florestal, típica da região semiárida nordestina. Ocupa uma área que corresponde a mais de 800.000 km² (IBGE, 2004), 9,92% do ter- ritório nacional e 70% da região Nordeste (Rodal & Sampaio, 2001) e se esten- de do Piauí até o norte do Estado de Minas Gerais, se constituindo em um dos principais domínios morfoclimáticos brasileiro (Ab’Saber, 1977). Dos grandes tipos de vegetação do Brasil, a caatinga, é o mais hete- rogêneo, apresentando sempre um aspecto novo, seja de um local para outro, seja na mesma região em estações climáticas diferentes (Egler, 1951). Estudada por Dárdano de Andrade Lima, João de Vasconcelos So- brinho, Dora do Amarante Romariz, Walter Egler entre outros, os quais grandemente contribuíram para o conhecimento fitogeográfico desse bioma. As caatingas dividem-se em dois grandes grupos: as caatingas hipoxerófilas e as caatingas hiperxerófilas, que se diferenciam por re- gião de ocorrência, bem como por disporem em diferentes proporções de fatores como umidade, condições de exposição ou não aos ventos, natureza do solo e topografia (Egler, 1951; Andrade-Lima, 1981, 1989; Ferraz et al., 1998; Leal et al., 2003; Maia, 2004). Por muito tempo se sustentou o mito de que a Caatinga era conside- rada homogênea, com uma biota pobre em espécies e em endemismos, mas através do esforço de alguns pesquisadores esse “sentimento” vem mudando (Leal et al., 2003). Uma das principais iniciativas para desta- car a Caatinga como um bioma biodiverso, além dos projetos financiados pelo MMA, foi a realização da oficina “Avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade do bioma Caatinga”, na cidade de Petroli- na/PE entre os dias 21 e 26 de maio de 2000. Esse evento destacou que, apesar do semiárido possuir profundas chagas relacionadas às questões políticas e sociais, a Caatinga tem uma biota representativa. Além disso, foi evidenciada a necessidade e a urgência da realização de inventários e monitoramentos multidisciplinares para melhor documentar a biodiver- sidade, e através desta prática definir áreas prioritárias para conserva- ção no domínio. Nessa oficina o município de Serra Talhada foi apontado como de alta importância biológica (MMA, 2002), assinalada como uma área prioritária para investigação biológica. Posteriormente, o governo de 18 Pernambuco também destacou potencialidades ecológicas no Município em seu atlas de prioridades para a conservação biológica (CNRBCAA, 2004). Em 2006, com o estabelecimento da Unidade Acadêmica de Serra Ta- lhada, uma expansão da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE/UAST) na Fazenda Saco, em Serra Talhada, alguns pesquisado- res encantados com a beleza que observavam ao redor da instituição de ensino (Figura 1.1.A), apaixonados pela Caatinga e tendo como inspira- ção os ensinamentos do Professor João de Vasconcelos Sobrinho (Figura 1.1.B), iniciaram a exploração científica na área da Fazenda e destacaram em seus trabalhos a representatividade da Mata da Pimenteira e seus complexos de serras, indicando a necessidade de criar uma Unidade de Conservação (U.C.) na localidade. Isso com base num compromisso, que diz a convenção para a diversidade Biológica: “Assinada por vários países, incluindo o Brasil, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Am- biente e Desenvolvimento, estabeleceu um conjunto de medidas a serem adota- das para conservar a diversidade biológica de cada nação, conferindo especial destaque à conservação in situ, ou seja, a proteção da biodiversidade no próprio local de ocorrência natural, cujo sistema de unidades de conservação é um dos instrumentos essenciais”. Essa indicação foi apresentada durante as reuniões do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga (CERBCAA) e reunião com a Associação Pernambucana em Defesa da Natureza (ASPAN). Ambas foram importan- tes para oficializar e dar início às solicitações e tramitações junto ao Go- verno do Estado, que contou com o auxílio de alguns professores da UAST e da Prefeitura de Serra Talhada, respectivamente no fornecimento de da- dos e no apoio político. Posteriormente, a área foi visitada pelos técnicos da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), que confirmaram as potencia- lidades do local para a conservação. A partir dessa visita foram iniciadas as etapas para criação e implementação da primeira Unidade de Conservação gerenciada pelo Estado de Pernambuco dentro do bioma Caatinga, o “Par- que Estadual Mata da Pimenteira”. O nome Mata da Pimenteira foi mantido por representar o fragmento florestal com maior destaque e também por ser conhecido pela população local, mantendo-se o registro local. Nesse trabalho será apresentada uma breve descrição de uma conquista impor- tante para o município de Serra Talhada e do sertão do Pajeú. Os dados aqui apresentados referem-se, na sua maioria, a informa- ções secundárias, disponíveis na literatura, entrevistas informais com algumas personalidades históricas que viveram e conheceram a Fazen- 19 da Saco, bem como aquelas que participaram ativamente do processo de construção e também de atividades que ocorreram e que foram impor- tantes no processo de conhecimento e sensibilização de um dos resquí- cios mais importantes da Caatinga de Pernambuco. Conhecer essa traje- tória é de grande valia para a valorização da luta por um ideal comum na defesa da biodiversidade do bioma e do planeta. É possível, através de organizações coletivas, nas discussões em grupos e da perseverança de pessoas comprometidas, proteger um pouco do que resta do patrimônio genético desse bioma, único e exclusivamente brasileiro. A seguir vocês irão conhecer um pouco dessa história. A cidade de Serra Talhada Serra Talhada encontra-se distante cerca de 415 km do Recife, capital do Estado de Pernambuco, com acesso pela BR-232. Localiza-se na mesor- região do Sertão, na microrregião do Vale do Pajeú e na região de desen- volvimento do Pajeú (RD-Pajeú). Possui uma população de mais de 80.000 habitantes em uma área aproximada de 2.980 km² com uma densidade demográfica de 26,59 hab/km² (IBGE, 2010). Tem como principal ativida- de econômica a agropecuária, com destaque para o cultivo de lavouras de subsistência, algodão e cana-de-açúcar e a criação de caprinos e ovi- nos, além de atividades ligadas ao comércio. A cidade teve início em meados do século XVIII, com a chegada do capitão-mor da esquadra portuguesa, Agostinho Nunes Magalhães, que arrendou a sesmaria a Casa da Torre, às margens do Rio Pajeú. No sopé da imponente serra que marca a paisagem, o português arrendou qua- tro fazendas, inclusive a Fazenda Serra Talhada, numa alusão ao relevo (um corte abrupto) observado na serra de mesmo nome (Figura 1.1.A). Hoje essa serra é uma das grandes atrações paisagísticas da cidade e é considerada um monumento natural de grande relevância para todos os serratalhadenses. A Serra Talhadaé considerada um potencial atrativo turístico devido à sua formação rochosa, granítica, sua altura e estru- tura, e por ser propícia à prática de esportes radicais como rapel e es- calada. Sua vegetação, a caatinga, permite ainda a realização de trilhas ecológicas, corridas de aventura, interpretação do próprio bioma, estu- dos científicos, observação de pássaros, turismo fotográfico, entre outras atividades de baixo impacto ambiental. Os açudes de Jazigo e Cachoeira, a barragem de Serrinha, uma das maiores de Pernambuco, e o mirante Talhado do Urubu, que possibilita uma magnífica visão da Chapada do Araripe, do Vale do Pajeú e do açude do Saco, também são atrações turís- ticas da cidade. 20 Atualmente o município encontra-se em crescimento econômico contínuo com a instalação de novos empreendimentos e grandes insti- tutos de ensino, como universidades e escolas técnicas. É considerado um polo médico importante (CPRN, 2005) na região, e está inserido nos circuitos turísticos de Pernambuco, pela Rota do Cangaço e Rota – 232. A história do cangaço ainda pulsa nas tradições de Serra Talhada. Todos os anos há o encontro Nordestino de Xaxado (dança muito apre- ciada pelos cangaceiros), excursões à casa onde Lampião nasceu e mu- seus do cangaço, constituindo um lugar apropriado para turismo histó- rico, de aventura e técnico científico na região (Lorena, 2001). A Fazenda Saco Há informações, no livro “Serra Talhada – 250 anos de história 150 anos de emancipação política”, através de entrevista fornecida pelo Sr. Genário Rodrigues, de que um dos primeiros titulares da Fazenda Saco foi Agos- tinho Nunes de Magalhães. Posteriormente o Coronel Braz Magalhães (nome atual da escola municipal situada na Fazenda Saco), descendente do Sr. Agostinho e bisavô do Governador Agamenon Magalhães, tornou-se também titular da Fazenda Saco e decidiu pela construção da parede de terra do primeiro Açude Saco, em 1848. Em 1930 o Coronel Cornélio Soa- res, parente da família Magalhães, vende para o Estado de Pernambuco a Fazenda Saco. Na época o governador era o Sr. Estácio Coimbra. Em con- vênio com o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS - na época INFOCS: Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas) ergueram o grande paredão de pedra e cal que deu origem ao atual Açude Saco. Em 1935, o Engenheiro Agrônomo Lauro Bezerra assumiu a chefia da Fazenda Saco, que era ocupada pelas atividades dos departamentos da Secretaria da Agricultura. O Dr. Lauro permaneceu à frente das atividades desenvol- vidas na Fazenda Saco até 1947. O Nome da estação experimental do Insti- tuto Agronômico de Pernambuco (IPA) tem o seu nome em homenagem à dedicação na gestão desse patrimônio. A Fazenda Saco ou Estação Experimental Lauro Bezerra – IPA (atualmen- te, Instituto Agronômico de Pernambuco), na sua extensão original, ocu- pava 3.200 hectares. O açude Saco, quando na sua cota máxima, cobre 500 hectares. Este resulta da barragem do riacho do Medéia, que nasce na Serra do Triunfo, drena metade do município de Triunfo e, praticamente, todo o município de Santa Cruz da Baixa Verde. A margem direita do lago é deno- minada HARAS e constitui, hoje, um assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). As terras da margem esquerda são divididas pelos lugares conhecidos pelos nomes de Barragens Trinta e 21 Sete, Guiné, Vila, Pedra Branca, Cumbuco, Piáu, Xique-xique, Mandaçaia, Paus-Brancos e Pimenteira. A Estação Lauro Bezerra dista cerca de 3 km do centro urbano de Serra Talhada. Recentemente o acesso foi asfaltado e se dá a partir da BR-232, em um anexo federal recentemente construído na imediação do viaduto, conhecida localmente como a Avenida do Saco ou Avenida Padre Cícero. Em seguida, no final do asfalto, segue por uma estrada vicinal de onde se obser- va o Açude Saco e todo complexo de serras. Parte da Fazenda Saco foi doada para UFRPE/UAST, 52 ha, e 934 ha para um assentamento rural do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). O IPA inicialmente explorou nessas terras sementes se- lecionadas de algodões arbóreos, de milho e feijão de corda, produção de reprodutores caprinos, bovinos e equinos, pecuária em regime de semi- -cofinamento, manejo florestal e pesca. Sua estação de piscicultura foi construída no ano de 1980, contudo, esta atividade no local já havia sido introduzida no ano de 1975, antes mesmo da construção da referida es- tação (IPA, 2003). Algumas comunidades que vivem na Fazenda e no seu entorno utilizam a piscicultura como meio de subsistência, através de criatórios de peixes (IPA, 2003). Quanto à unidade geoambiental, esta se encontra inserida na Depressão Sertaneja que representa a paisagem típica do semiárido nordestino, ca- racterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, rele- vo predominantemente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos de erosão que atingiram grande parte do sertão Nordestino. A vegetação é basicamente composta por Caatinga Hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia (Proposta para Criação, 2011). O Parque Estadual Mata da Pimenteira e sua história O Parque localiza-se nas porções sul, oeste e noroeste da propriedade do IPA e possui 887,24 ha. Esta área corresponde, em sua maior parte, a topos de serras e tem seus limites definidos, ora pela cota topográfica de 530 metros, ora pela estrada vicinal que limita a Mata da Pimenteira ao norte. Os espaços contornados por estes limites estão representados, de forma geral, por áreas com alta declividade (acima de 45°) e por um fragmento expressivo de caatinga arbórea, com aproximadamente 300 ha de exten- são conhecida como Mata da Pimenteira, contígua à área da Serra Branca, área de caatinga bem preservada, reserva legal da Estação Lauro Bezerra. 22 Em 2006 alguns professores da UFRPE/UAST recém chegados na re- gião, deslumbrados com a área, mas preocupados com o número alarman- te de caminhões que utilizavam as estradas da fazenda para transportar madeiras nativas (Figrura 1.1.C), decidiram procurar ajuda para fiscalizar e proteger as áreas de APPs e de caatinga preservada. Essa busca por ajuda contribuiu com parcerias importantes como da Prefeitura Municipal de Serra Talhada, o CERBCAA e a ASPAN, em especial da colaboração da professora e ambientalista Dra. Maria Adélia B. de Oliveira. Além desse apoio, eventos foram realizados a fim de informar e sensibilizar a comu- nidade universitária e do entorno da importância da conservação da área. Foram realizados entre 2008 e 2010 eventos como o Primeiro Seminário sobre Criação de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), ciclos de palestras sobre a conservação da Caatinga e eventos comemorativos no dia 28/04, dia Nacional da Caatinga (Figuras 1.1. D, I e G). Nesses mo- mentos eram apresentadas as descobertas e potencialidades da Mata da Pimenteira e sua importância como banco genético e biblioteca viva para os alunos da UAST. Durante esses eventos houve revelações interessantís- simas, como a participação de alunos com suas poesias. Um desses desta- ques e que foi bastante ativo no processo de sensibilização foi o aluno do curso de bacharelado em ciências biológicas, George Nascimento, conheci- do como Dó Viagem. Um dos seus poemas foi recitado em várias ocasiões e é digno de registro: Homem, raiz da CAATINGA Homem no meio do mato Menino chupando umbu Moça tirando comida De um pé de mandacaru ... Um casal de peba Debaixo da jurema Escutando a sariema A natureza a cantar O homem trabalha todo dia Derrubando a vegetação Coisa que a mãe natureza Levou mais que um milhão Pra fazer toda beleza Que homem derrubar sem coração Olhetenha certeza Do tamanho da destruição Aqui vai minha mensagem Escute e preste atenção Você que é nordestino Cuide e preserve nossa região Principalmente da caatinga Que está sofrendo uma ta de desertificação. (Dó Viagem) 23 O processo de criação da Unidade de Conservação foi iniciado em ja- neiro de 2010 a partir de documentos encaminhados à SECTMA (antiga Secretaria de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente): 1- Carta do CERB- CAA. Nº 02/2010, de 26.01.2010, indicando três áreas para a criação de U.C., entre elas a Fazenda Saco - Serra Talhada; 2- Ofício da Prefeitura Municipal de Serra Talhada. Nº 17/2010, de 28.01.2010 (com mais 07 áre- as indicadas para criação de U.C.´ s); e 3- Ofício da ASPAN/UAST/UFRPE. S/N, de 28.04.2010, solicitando a criação de U.C. nas matas da Fazenda Saco e no complexo de serras dos arredores. Em oito de junho de 2010, foi realizada outra vistoria técnica conjunta SECTMA e CPRH, para reconhecimento das áreas indicadas (Figura 1.1F) e processo de discussão com contribuição dos professores da UFRPE/UAST. Posteriormente foi elaborado o relatório técnico conjunto da SECTMA e CPRH (DRFB/UGUC Nº 014/2010 de 15.06.2010) em que foi confirmada a viabilidade da área para criação da U.C.. No final de setembro de 2010 foi realizada outra visita Técnica e elabo- rado o Relatório Técnico da SECTMA, hoje SEMAS e CPRH (DRFB/UGUC Nº 022/2010 de 01.10.2011), onde foram vislumbrados os primeiros limites para a Unidade de conservação. Deve-se destacar nessas visitas a presen- ça do Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Sr. Sérgio Xavier, e do Secretário executivo de meio ambiente, Sr. Hélvio Polito. Em outubro de 2010, foi instituído o Grupo de Trabalho/GT - Portaria 129, de 15.10.2010 – composto por membros da SECTMA, da CPRH, do IBAMA, do ICMBIO, do MMA, da CODEVASF, e do CERBCAA, tendo como objetivo selecionar e analisar as áreas prioritárias para criação de Uni- dades de Conservação no Bioma Caatinga do Estado de Pernambuco. Em 15 de dezembro de 2010 foi realizada a reunião conjunta com a UFRPE/ UAST, o IPA, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Urbano Sustentável de Serra Talhada, a Prefeitura Municipal de Serra Talhada, a CPRH e a SECTMA, quando ficou definida a agenda pactuada entre os participantes da reunião. Como encaminhamento, os participantes apresentaram mais alguns dados existentes sobre a área e vislumbrou- -se a possibilidade de criação da U.C. nas áreas de Preservação Perma- nentes - APP s´, nas áreas de Reserva Legal e nas conectividades com elevação acentuada. Em 28 de abril de 2011, em um evento realizado pelo NEPPAS (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas no Semiárido) na UFRPE/UAST em Serra Talhada, em comemoração ao Dia Nacional do Bioma Caatinga, foi anunciado pelo Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Sr. Sérgio Xavier, a criação da Unidade de Conservação Mata da Pimenteira. Nesse mesmo dia o secretário, junta- 24 mente com técnicos da SEMAS, professores da Universidade e Diretor Municipal do Meio Ambiente, Sr. Homembom Magalhães, visitaram a Serra Grande, que dá o nome à cidade de Serra Talhada, área contígua ao Parque Estadual Mata da Pimenteira e que também encontra-se em processo de criação de uma Unidade de Conservação Municipal. Em maio de 2011, quando da realização do “I Workshop para Defini- ção de Áreas Prioritárias para Criação de Unidades de Conservação no Bioma Caatinga do Estado de Pernambuco”, a Fazenda Saco foi incluída como uma das treze áreas prioritárias pelas instituições participantes. A partir da importância da validação pelo IPA da área de 887,24 ha (equivalente às Áreas de Preservação Permanente- APP e às áreas de Reserva Legal - RL) e do consenso sobre os limites da área (Figuras 1.1. G, H), foi dado prosseguimento ao processo de criação da U.C., a partir da sistematização dos estudos existentes, levantamento georreferen- ciado da Fazenda Saco, da quantificação da área que seria disponibili- zada pelo IPA para a criação da Unidade de Conservação. Todos os dados e informações que foram analisados para a formula- ção da proposta levaram a concluir pela significância da Fazenda Saco para conservação da biodiversidade da Caatinga pernambucana. A sua vegetação representativa e distinta em termos de fitofisionomia, devi- do às grandes modificações proporcionadas pelo Complexo de Serras, torna a paisagem muito interessante. A proposta Técnica elaborada em conjunto com as equipes da UFRPE/ UAST, SEMAS e CPRH foi apresentada em Consulta Pública no dia 14 de de- zembro de 2011 na Câmara de Vereadores de Serra Talhada, e contou com a participação das comunidades que vivem no entorno do Parque, órgãos públicos e privados, escolas estaduais e municipais, Prefeitura, associações, ONGs e Sociedade Civil. Após aprovada pelos participantes a proposta foi ainda apresentada ao Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONSEMA). Em 23 de janeiro de 2012 o governador do Estado de Pernambuco, Sr. Eduardo Campos, baixou o decreto de nº 37.823 que criou oficialmente o Parque Estadual Mata da Pimenteira. Em 03 abril de 2012, foi realizada uma audiência pública para formação do Conselho Gestor do Parque Estadual Mata da Pimenteira. Em junho de 2012 foi criada a Portaria de nº 062/2012 que institui o Conselho Gestor do Parque Estadual Mata da Pimenteira. Essa proposta fornecida pelo governo do estado evidenciou que o objeti- vo geral para a criação da U.C. é contribuir para a preservação e a restaura- ção da diversidade ecológica da Caatinga, ampliando a representatividade dos ecossistemas estaduais protegidos como unidades de conservação. 25 Figura 1.1. Momentos e dados relacionados à Criação do Parque Estadual da Mata da Pimenteira. A – Vista geral da Serra Talhada na época chuvosa; B – Professor João de Vasconcelos Sobrinho, o “pai da Caatinga” (Fonte:www.onordeste.com/onordeste/ enciclopediaNordeste); C – Saída de caminhões com lenha da Fazenda Saco; D, E, G – Cartaz dos eventos no Dia Nacional da Caatinga e momentos de sensibilização da comunidade sobre a Mata da Pimenteira; F – Visita técnica a área da Pimenteira com a UFRPE, ASPAN, CPRH e SEMAS; H – Palestras nas escolas em Serra Talhada sobre a importância da Unidade de Conservação. 26 Agradecimentos A todos que fazem a Unidade Acadêmica de Serra Talhada, em es- pecial aos alunos do Bacharelado em Ciências Biológicas da disciplina zoologia A e D; Ao diretor do departamento de biologia da UFRPE e membro do CONSEMA, Dr. Severino Mendes de Azevedo Junior pela participação e apoio durante a visita técnica a área; A todos os funcio- nários do IPA, em nome do Dr. Eraldo, pelo apoio e atenção; Ao Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga, à ASPAN em nome da Pro- fessora Maria Adélia B. de Oliveira. Aos gestores do Município de Serra Talhada na época, Prefeito Carlos Evandro e seu Vice-Prefeito, Luciano Duque. A Joice Brito e todos os técnicos da CPRH, técnicos e Secretário Estadual do Meio Ambiente, Sérgio Xavier, ao Secretário Executivo do Meio Ambiente Hélvio Polito pela promessa cumprida, e em especial a um filho ilustre de Serra Talhada, pelos seus ensinamentos e amor pela Caatinga, o professor Homembom Magalhães. Referências Bibliográficas 1. Ab’Saber, A. N. 1977. Os domínios morfoclimáticos da América do Sul. Primeira aproximação. Geomorfologia, São Paulo, 1977, 52:1-22. 2. Andrade-Lima, D. 1981. The caatinga dominium. Revista Brasileira de Botânica, v.4, p.149-153. 3. Andrade-Lima, D. 1989. Plantas das Caatingas. Rio de Janeiro: Aca- demia Brasileira de Ciências, 243p. 4. Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga - CNRBCAA (Brasil). 2004. Cenários para o Bioma Caatinga. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco. Recife: SECTMA, 283p. 5. Egler, W. A. 1951.Contribuição ao Estudo da Caatinga Pernambucana. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro: IBGE. Ano 13, n.4, p. 577-590, out./dez. 6. Ferraz, E. M. N.; Rodal, M. J. N.; Sampaio, E. V. S. B., Pereira, R. C. A. 1998. Composição florística em trechos de vegetação de caatinga e brejo de altitude na região do Vale do Pajeú, Pernambuco. Revista Brasileira de Botânica 21:7-15. 27 7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. 2004. Biomas continentais do Brasil. Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. 8. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. 2010. Censo po- pulacional por Município 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ cidadesat/painel/painel.php?codmun=261390. Acesso em: janeiro/2012. 9. IPA, Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária. 2003. Dispo- nível na em : <http://www.ipa.br/ipa.php?id=1>. Acesso em 28 de agosto de 2009. 10. Leal, I. R., Tabarelli, M. & Silva, J. M. C. (eds.). 2003. Ecologia e Con- servação da Caatinga. Editora Universitária, UFPE, p. 275-333. 11. Lorena, L. 2001. Serra Talhada 250 Anos de História 150 Anos de Emancipação Política. Serra Talhada, Sertagráfica. 380 p. 12. Maia, G. N. 2004. Caatinga, árvores e arbustos e suas utilidades. Leitura e arte edi., São Paulo 413p. 13. Ministério do Meio Ambiente - MMA – Brasil. 2002. Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Caa- tinga. Brasília: UFPE, Fundação de Apoio ao Desenvolvimento, Conser- vation International – Fundação Biodiversitas, EMBRAPA – Semi-árido, MMA/SBF, 36p. 14. Proposta para Criação da Unidade de Conservação na Fazenda Saco, Município de Serra Talhada. 2011. Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. 53p. 15. Rodal, M.J.N. & Sampaio, E.V.S.B. 2002. A vegetação do bioma Caatin- ga. In: E.V.S.B. Sampaio; A.M. Giulietti, J. Virgínio & C.F.L. Gamarra-Rojas (eds.). Vegetação e Flora da Caatinga. Associação Plantas do Nordeste / Centro Nordestino de Informações sobre Plantas, Recife, p. 11-24. 16. Serviço Geológico do Brasil - CPRM. 2005. Projeto cadastro de fon- tes de abastecimento por água subterrânea. Diagnóstico do muni- cípio de Serra Talhada, estado de Pernambuco / Organizado [por] Mascarenhas, J. C.; Beltrão, B. A.; Souza Junior, L. C.; Galvão, M. J. T. G.; Pereira, S. N.; Miranda, J. L. F.; Recife: CPRM/PRODEEM, 32p. Capítulo 2 30 Climatologia e Características Geomorfológicas Thieres George Freire da Silvaa & André Quintão de Almeidab Resumo Nesse capítulo foi realizada a descrição da climatologia e das prin- cipais características geomorfológicas do Parque Estadual Mata da Pi- menteira. Para isso foram usados dados de radiação solar global, tem- peratura mínima, média e máxima do ar, precipitação pluviométrica, umidade relativa do ar e velocidade do vento, a partir dos quais tam- bém foi feito o balanço hídrico climatológico. Os dados geomorfológi- cos foram extraídos do Zoneamento Agroecológico de Pernambuco, do Modelo Digital de Elevação e da literatura, que fazia menção às infor- mações morfométricas da Bacia Hidrográfica do Rio Pajeú. Palavras-chave: Bacia Hidrográfica do Rio Pajeú. Normais climatoló- gicas. Semiárido. Introdução Como em qualquer área, a caracterização dos elementos climáticos e geomorfológicos permite analisar a sua dinâmica ambiental (Feitosa et al., 2011). O Parque Estadual Mata da Pimenteira está situado na região centro-norte do estado de Pernambuco, nas proximidades da Serra da Borborema, região do Nordeste brasileiro (Figura 2.1). Assim, forçantes como relevo, localização geográfica e fenômenos atmosféricos podem atuar sobre a climatologia e a geomorfologia do Parque. O Nordeste brasileiro ocupa em torno de 18,2% do território brasilei- ro, representado sobretudo pelo Semiárido, em que as médias anuais da precipitação frequentemente são inferiores a 800 mm, a evapora- ção acima de 2000 mm/ano, as temperaturas variam de 23ºC a 27ºC e a umidade relativa fica próximo a 50% (Moura et al., 2007). Entretanto, mesmo dentro da região semiárida é comum encontrar condições cli- máticas e edáficas específicas, de modo que modifiquem a dinâmica da fauna e da flora. Assim, nesse capítulo, procurou-se, de maneira sim- a – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Fazenda Saco, s/n, Caixa Postal 063, Serra Talhada - PE. E-mail: thieres@uast.ufrpe.br b –Universidade Federal de Sergipe, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Agronomia. Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa Elze, São Cristóvão, SE - Brasil 31 ples e objetiva, descrever a climatologia e as principais características geomorfológicas do Parque Estadual Mata da Pimenteira. Metodologia Essa descrição foi estabelecida obedecendo ao limite territorial do Parque. Para as informações climáticas foram usados os dados de pre- cipitação pluviométrica, temperatura mínima, média e máxima do ar, radiação solar global, umidade relativa do ar e velocidade do vento. Entretanto, devido à inexistência de estações meteorológicas dentro da área de estudo, vários foram os procedimentos metodológicos ado- tados, de modo a se obter uma maior representatividade do clima do Parque, ou seja, a sua normal climatológica. Os dados médios de pre- cipitação pluviométrica, temperatura mínima, média e máxima do ar e umidade relativa do ar para a área de abrangência do Parque foram Figura 2.1. Localização do Parque Estadual Mata da Pimenteira. 32 extraídos de mapas gerados para o estado de Pernambuco, por meio de um sistema de informação geográfica (SIG), que se utilizou de valores observados e estimados médios mensais para um período de pelo me- nos 30 anos, e de um modelo digital de elevação (MDE), que representou o relevo do local. Os valores observados, utilizados na geração dos mapas climatológicos, foram obtidos de 252 postos pluviométricos, pertencentes à Rede Hidrometeorológica da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE, 1990), e de sete estações meteorológicas convencio- nais do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, 1992). Os valores estimados das normais mensais de temperatura mínima, média e máxima do ar foram oriundos de dados geográficos (latitude, longitude e altitude) dos 252 postos pluviométricos e de equações lineares múltiplas propostas no presente estudo. A estimativa dos dados das nor- mais mensais de umidade relativa do ar foi realizada utilizando um mo- delo multiplicativo proposto por Silva et al. (2007). Os dados observados de radiação solar global e de velocidade do vento foram adquiridos de uma Plataforma de Coleta de dados (PCD) do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco - LAMEPE/ITEP para um período de 1999 a 2011. Por meio dos dados médios de temperatura mínima e máxima do ar, usados no cálculo da temperatura efetiva, e do total mensal de precipitação pluviométrica, foi realizado o balanço hídrico climatológico normal (BHCn) de acordo com o método de Thornthwaite & Mather, como descrito em Pereira et al. (2002), considerando uma capacidade de água disponível no solo (CAD) de 100 mm. A partir do BHCn foi determinada a evapotranspiração potencial (ETP), que reflete a demanda atmosférica local; a evapotranspiração real, indicando a quantidade de água que realmente pode ser utilizada por uma extensa superfície vegetada diante da disponibilidade hídrica local; e, os extratos de excesso, deficiência, retirada e reposição de água no solo. Adicionalmente foram realizadas as classificações climáticas de Köppen e Thornthwaite como descrito em Vianello & Alves (2004). Por sua vez, as características geomorfológicas do Parque foram representadas pelas classes de solos obtidas diretamente do Zoneamento Agroecológico de Pernambuco - ZAPE, que possui escala 1:100.000 com compatibilidadepara a resolução de 90 m x 90 m, Datum WGS84; a altitude foi oriunda do modelo digital de elevação com 90 metros de resolução espacial, vetori- zado a partir de imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission); e, finalmente, informações morfométricas da Bacia Hidrográfica do Rio Pa- jeú foram extraídas de Feitosa et al. (2011), visando caracterizar o sistema hidrológico do Parque. 33 Resultados e Discussão O Parque Estadual Mata da Pimenteira possui seus extremos geográ- ficos entre 7°53’21” e 7° 57’ 36” S e 38°18’42” e 38° 17’7” W, ocupando 827,16 hectares, e não apresenta características de microclima dentro da região Nordeste. É uma área climaticamente semiárida, de acordo com a classificação de Thornthwaite, apresentando índice efetivo de umidade de -47,6, com excesso hídrico de pequeno a nulo ao longo do ano. Por sua vez, pela classificação de Köppen, o clima dessa área é do tipo BSwh’, ca- racterizando-se também por ser uma área semiárida, quente e seca, com os meses mais frios possuindo baixos níveis pluviométricos. A tempera- tura média anual na sua área é em torno de 23,8±0,92ºC, com valores mé- dios anuais da temperatura mínima e máxima na ordem de 19,2±0,97ºC e 30,0±1,57ºC, respectivamente (Figura 2.2). Por estar situado no hemisfério Sul, as maiores magnitudes da tem- peratura ocorrem entre os meses de outubro e março, quando os raios solares estão menos inclinados para a região, de modo que a intensidade de radiação solar global é superior em relação aos demais meses (Figura 2.2), sendo, em escala anual, a média de 26,3±3,56 MJ/m2/dia. O padrão de precipitação pluviométrica obedece àquele verificado em muitas regiões interioranas do território brasileiro, em que o período mais chuvoso coincide com os meses mais quentes. Os eventos de chuva são mais preponderantes a partir do mês de dezembro (Figura 2.3), es- tendendo-se até o mês de maio, constituindo os meses de janeiro, feverei- ro, março e abril o período mais chuvoso, totalizando em torno de 65,9% da precipitação pluviométrica anual, que é de 653,2 mm. Esse baixo nível Figura 2.2. Normais climatológicas da temperatura máxima (Tmáx.), média (Tméd.) e mínima (Tmín.) do ar e radiação solar global (Rg) do Parque Estadual Mata da Pimenteira Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Te m pe ra tu ra d o ar (o C) 15 20 25 30 35 Ra di aç ão so la r g lo ba l ( M J/ m 2 / di a) 10 15 20 25 30 35 40 Tméd. Tmáx. Tmín. Rg Figura 2.2. Normais climatológicas da temperatura máxima (Tmáx.), média (Tméd.) e mínima (Tmín.) do ar e radiação solar global (Rg) do Parque Estadual Mata da Pimenteira. Eventualmente, essa região também é afetada por eventos de El Niño e La Niña, que podem promover, nessa ordem, redução e elevação dos níveis pluviométricos na região (Molion & Bernado, 2010). A distribuição dos eventos de chuva ao longo do ano induz o padrão dos valores de umidade relativa do ar (Figura 2.3), que variam entre 53% e 78%, com média de 64% (Figura 2.3). Devido, a formação de células de maior pressão, a velocidade do vento é maior entre os meses de junho e dezembro, atingindo uma média anual de 2,4±0,23 m/s, com menores magnitudes durante os meses mais chuvosos (Figura 2.3). Como o resultado da combinação desses diferentes fatores, a maior demanda atmosférica, ou seja, os maiores valores de evapotranspiração potencial ocorrem entre os meses de outubro e abril (Figura 2.4), quando a radiação solar global e a temperatura do ar possuem maiores magnitudes. 34 pluviométrico é característico do semiárido brasileiro, que sofre influ- ência do relevo (chapadas e planaltos do agreste nordestino), impedindo o avanço de umidade ao continente a partir de massas de ar (Equatorial Atlântica e Tropical Atlântica); da baixa temperatura do Atlântico Sul, que inibe o aumento de umidade no continente; e, da Zona de Convergên- cia Intertropical (ZCIT), que forma uma célula de alta pressão durante as estações de inverno (junho a setembro) e de primavera (setembro a dezembro), promovendo longo período de estiagem. Figura 2.3. Normais climatológicas da precipitação pluviométrica (P), umidade relativa do ar (UR) e da velocidade do vento (u) do Parque Estadual Mata da Pimenteira Figura 2.4. Normais climatológicas evapotranspiração potencial (ETP) e real (ETR) em relação a precipitação pluviométrica (P) do Parque Estadual Mata da Pimenteira Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Pr ec ip ita çã o pl uv io m ét ric a ( m m ) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Ev ap ot ra sn pi ra çã o (m m ) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 P ETP ETR Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Pr ec ip ita çã o pl uv io m ét ric a ( m m ), U m id ad e r el at iv a d o ar (% ) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Ve lo cid ad e d o ve nt o (m /s ) 0 1 2 3 4 P UR u Figura 2.3. Normais climatológicas da precipitação pluviométrica (P), umidade relativa do ar (UR) e da velocidade do vento (u) do Parque Estadual Mata da Pimenteira. Figura 2.4. Normais climatológicas evapotranspiração potencial (ETP) e real (ETR) em relação a precipitação pluviométrica (P) do Parque Estadual Mata da Pimenteira. Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Pr ec ip ita çã o pl uv io m ét ric a ( m m ) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Ev ap ot ra sn pi ra çã o (m m ) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 P ETP ETR Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Pr ec ip ita çã o pl uv io m ét ric a ( m m ), U m id ad e r el at iv a d o ar (% ) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Ve lo cid ad e d o ve nt o (m /s ) 0 1 2 3 4 P UR u Figura 2.3. Normais climatológicas da precipitação pluviométrica (P), umidade relativa do ar (UR) e da velocidade do vento (u) do Parque Estadual Mata da Pimenteira. Figura 2.4. Normais climatológicas evapotranspiração potencial (ETP) e real (ETR) em relação a precipitação pluviométrica (P) do Parque Estadual Mata da Pimenteira. 35 Eventualmente, essa região também é afetada por eventos de El Niño e La Niña, que podem promover, nessa ordem, redução e elevação dos níveis pluviométricos na região (Molion & Bernado, 2010). A distribui- ção dos eventos de chuva ao longo do ano induz ao padrão dos valores de umidade relativa do ar (Figura 2.3), que variam entre 53% e 78%, com média de 64% (Figura 2.3). Devido à formação de células de maior pres- são, a velocidade do vento é maior entre os meses de junho e dezembro, atingindo uma média anual de 2,4±0,23 m/s, com menores magnitudes durante os meses mais chuvosos (Figura 2.3). Como resultado da combi- nação desses diferentes fatores, a maior demanda atmosférica, ou seja, os maiores valores de evapotranspiração potencial, ocorre entre os me- ses de outubro e abril (Figura 2.4), quando a radiação solar global e a temperatura do ar possuem maiores magnitudes. O total anual da demanda atmosférica do Parque atinge em torno de 1350 mm e, devido aos baixos níveis pluviométricos, a quantidade de água utilizada pela vegetação é no máximo igual a lâmina precipitada (653,2 mm). Em consequência, observa-se uma alta deficiência anual, que se estende durante oito e dez meses (Figura 2.5), totalizando 697,8 mm. Não se verifica excesso em nenhumdos meses do ano, havendo reposição apenas em março e abril, quando a lâmina de água no solo atinge valor próximo de 50mm e 16mm , nessa ordem que, por sua vez, é retirada do Figura 2.5. Normais climatológicas do extrato do balanço hídrico (DEF - deficiência, EXC - excesso, RET - retirada e REP - reposição) do Parque Estadual Mata da Pimenteira, assumindo uma capacidade de água disponível no solo (CAD) de 100 mm. Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Lâ m in a (m m ) -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 DEF EXC RET REP 36 solo a partir de maio (Figura 2.5). O Parque está situado na Unidade de Paisagem Depressão Sertaneja, carac- terizada principalmente pela ocorrência de rochas cristalinas e sedimentares de diferentes idades e origens, e diversificação litológica, compreendendo a Bacia Hidrográfica do Rio Pajeú. No Parque há três principais classes de solos, sendo eles os cambissolos, litólicos e os podzólicos (Figura 2.6a), que apresen- tam simplesmente aptidão agroecológica de preservação. Predominantemen- te ocorrem os solos litólicos, caracterizados sobretudo por serem rasos, de textura média, associados com Podzólicos Vermelho Amarelo e com aflora- mentos rochosos, e baixa disponibilidade hídrica para a vegetação. Os cambissolos estão situados mais na parte central da área do Parque, associados com o Podzólico Vermelho Amarelo, na área sul, além de Pla- nossolos e Solonetz Solodizado. Essas classes estão situadas em uma ampla faixa de altitude (Figura 2.6b), que varia de 500m a 820m. Verificam-se po- dzólicos associados a solos litólicos, Planossolos e Solonetz Solodizado, na parte mais norte do Parque. As maiores altitudes são evidentes na parte sul da área, havendo um gradiente de redução à medida que se desloca para o norte, quando se observa uma nova elevação. Por estar inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Pajeú, caracteriza-se, então, pela baixa capaci- dade de drenagem (0,753km/km2), resultante dos reduzidos índices pluvio- métricos, chuvas de pequena abrangência temporal, altitudes modestas e devido ao baixo comprimento da maioria de seus afluentes (Feitosa et al., 2011). Ainda de acordo com Feitosa et al. (2011), a Bacia Hidrográfica do Rio Pajeú é uma área que possui forma muito alongada, o que favorece o rápido escoamento e inundação, e apesar dos seus solos predominantemente Figura 2.6. Classificação dos solos (A) e altitude (B) do Parque Estadual Mata da Pimenteira 37 rasos, possui vulnerabilidade à erosão nas encostas mais declivosas. Agradecimentos À Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UAST, pela concessão da Infraestrutura, e aos Grupos de Pesquisa “Ciências Florestais no Semi- árido Nordestino” e “Grupo de Agrometeorologia no Semiárido”, pelo desprendimento de seus pesquisadores para elaboração desse estudo. Referências Bibliográficas 1. BRASIL. Normais climatológicas (1961-1990). Brasília: INMET, 1992. 84 p. 2. Feitosa, A.; Santos, B. dos; Araújo, M. do S. B. de. Caracterização Mor- fométrica e identificação de Áreas Susceptíveis a Erosão na Bacia do Rio Pajeú, PE: o Estudo de Caso da Bacia do Rio Pajeú/PE. Revista Brasileira de Geografia Física, n.4, p.820-836, 2011. 3. Miranda, E. E. de; (Coord.). Brasil em Relevo. Campinas: Embrapa Mo- nitoramento por Satélite, 2005. Disponível em: <http://www.relevobr. cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 20 ago. 2012. 4. Molion, L. C. B.; Bernardo, S. de O. Dinâmica das chuvas no Nordeste brasileiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 11, rio de Ja- neiro. Anais... Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Meteorologia. 2000. 5. Moura, M. S. B. de; Galvíncio, J. D.; BRITO, L. T. L.; Souza, L. S. B. de; SA, I. I. S.; Silva, T. G. F. da. Clima e água de chuva no semiárido. In: BRITO, L. T. L.; Moura, M. S. B. de; Gama, G. F. B. (Org.). Potencialidades de água de chuva no semiárido brasileiro. 1ed. Petrolina-PE: EMBRAPA/Semiá- rido, 2007, v. 1, p. 37-59. 6. Pereira, A. R.; Angelocci, L. R.; Sentelhas, P. C. Agrometeorologia: Fun- damentos e Aplicações Práticas. Guaíba: Agropecuárias. 2002. 465p. 7. Silva, T. G. F.; Zonier, S.; Moura M. S. B. de; Sediyama, G. C.; Souza, L. S. B. Umidade relativa do ar: estimativa e espacialização para o estado de Pernambuco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA, 15, Aracaju. Anais... Aracaju: Sociedade Brasileira de Agrometeorologia e EMBRAPA/Tabuleiros Costeiros. 2007. 8. SUDENE. Dados pluviométricos mensais do Nordeste - Estado de Pernambuco. Recife, 1990. 363p. 9. Vianello,R.L; Alves, A.R. Meteorologia Básica e Aplicações. Viçosa: UFV, 2004. 449p Capítulo 3 40 Fitoplâncton de um Lago Temporário Raso Ariadne do Nascimento Mouraa, Juliana dos Santos Severianob, Mauro Cesar Palmeira Vilarc & Mauro de Melo Juniord Resumo: Este estudo foi conduzido com o objetivo de conhecer a flora planc- tônica de um lago temporário no Parque Estadual Mata da Pimenteira. Foi observada uma comunidade fitoplanctônica rica e diversificada com 88 espécies, distribuídas em nove classes. As algas verdes apresentaram maior riqueza, com 49 espécies, seguidas pelas diatomáceas e cianobac- térias. Pela diversidade de algas encontrada, foi constatado que o am- biente não é poluído. Sugere-se que seja feito o monitoramento frequente para a manutenção da integridade do sistema e da biodiversidade. Palavras-chave: Ambientes dulciaquícolas. Microalgas. Nordeste. Introdução O termo fitoplâncton refere-se ao conjunto de microrganismos aquá- ticos fotossintéticos e que vivem à deriva flutuando na coluna d’água (Fragoso-Junior et al., 2009). Esses organismos são capazes de conver- ter e disponibilizar a energia aos demais níveis da cadeia trófica (Wet- zel, 1993), bem como de contribuir à aerobiose, através da fotossínte- se. Além disso, devido ao curto ciclo de vida e à grande variedade de formas e espécies, que respondem a flutuações ambientais específicas, esses e outros representantes do plâncton podem ser utilizados como bioindicadores (Costa et al., 2004). Alguns estudos têm sido realizados utilizando o fitoplâncton como ferramenta na predição da qualidade de ecossistemas dulciaquícolas no Nordeste (Costa et al., 2006; Fuentes et al., 2010) e especialmente no estado de Pernambuco (Bouvy et al., 2000; Dantas et al., 2012; Moura et a – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Área de Botânica, CEP: 52171- 900 – Recife, PE – Tel: (81) 3320-6000. E-mail: ariadne@db.ufrpe.br b – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Pós-graduação em Botânica, Departamento de Biologia, CEP: 52171-900 – Recife, PE – Tel: (81) 3320-6000. E-mail: jsantosseveriano@gmail.com c – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Pós-graduação em Ecologia, Departamento de Biologia, CEP: 52171-900 – Recife, PE – Tel: (81) 3320-6000. E-mail: maurovilar@gmail.com d - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, CEP: 56900-000 – Serra Talhada, PE – Tel: (87) 3831-1927. E-mail: mmelojunior@gmail.com 41 al., 2012), subsidiando programas de monitoramento em toda a região. O sertão caracteriza-se por ser uma das mesorregiões onde o clima semiárido é mais fortemente marcado, principalmente pela escassez de água, tornando-se necessário o monitoramento dos corpos d’água exis- tentes, a fim de garantir a qualidade e manutenção deste recurso, bem como da biodiversidade existente. A microrregião do Sertão do Pajeú abrange aproximadamente 20 municípios de Pernambuco, os quais são contemplados por diferentes ecossistemas aquáticos, provenientes da bacia do Pajeú. Com o intuito de ampliar o conhecimento acerca da biodiversidade fitoplanctônica na região Nordeste do Brasil, este trabalho tem como ob- jetivo realizar um levantamento florístico em um lago temporário raso do ParqueEstadual Mata da Pimenteira, Sertão do Pajeú, Pernambuco. Metodologia O Parque Estadual Mata da Pimenteira está localizado no municí- pio de Serra Talhada, Pernambuco, a 450 km do Recife (7°53’48.96”S e 38°18’14.30”O). O ambiente de estudo caracteriza-se por ser um lago raso, temporário, com dominância algumas macrófitas, como Nymphaea pulchella. As coletas foram realizadas durante o período seco (dezembro de 2011 e maio de 2012) e chuvoso (janeiro e março de 2012) (IPA, 2012), sempre na região litorânea do lago em 3 pontos, que funcionaram como réplicas, a fim de aumentar a suficiência amostral. As amostras do fitoplâncton foram obtidas da camada superficial da água através de arrastos horizontais com o auxílio de uma rede de plâncton (20µm), acondicionadas em recipientes plásticos e fixadas com formol a 4%. A identificação dos táxons foi feita em microscópio óptico, com ocular de medição e sistema de fotodocumentação digital SAMSUNG modelo SHC-730N acoplados, onde foram observadas características morfológi- cas dos indivíduos, as quais foram utilizadas na identificação com au- xílio de bibliografia especializada (Komárek & Fott, 1983; Komárek & Anagnostidis, 1989; 2000; 2005; Popovsky & Pfiester, 1990; Krammer & Lange-Bertalot, 1991a; 1991b; John et al., 2002). Resultados e Discussão A comunidade fitoplanctônica do lago temporário do Parque Estadu- al Mata da Pimenteira esteve representada por 88 espécies distribuídas 42 Fitoplâncton de um lago temporário raso do Parque Estadual Mata da Pimenteira, sertão do Pajeú, Pernambuco auxílio de uma rede de plâncton (20µm), acondicionadas em recipientes plásticos e fixadas com formol a 4%. A identificação dos táxons foi feita em microscópio óptico, com ocular de medição e sistema de fotodocumentação digital SAMSUNG modelo SHC-730N acoplados, onde foram observadas características morfológicas dos indivíduos, as quais foram utilizadas na identificação com auxílio de bibliografia especializada (Komárek & Fott, 1983; Komárek & Anagnostidis, 1989; 2000; 2005; Krammer & Lange- Bertalot, 1991a; 1991b; John et al., 2002; Popovsky & Pfiester, 1990). Resultados e Discussão A comunidade fitoplanctônica do lago temporário do Parque Estadual Mata da Pimenteira esteve representada por 88 espécies distribuídas em nove classes (Figura 3.1 e 3.2; Tabela 3.1). As algas verdes (Chlorophyceae, Zygnematophyceae e Oedogoniaceae) apresentaram maior riqueza, com 49 espécies, destacando-se os gêneros Euastrum, com sete espécies, e Cosmarium e Scenedesmus, ambos com quatro espécies. As diatomáceas (Bacillariophyceae) e cianobactérias (Cyanophyceae) também foram importantes em termos de riqueza, apresentando 13 e 12 espécies, respectivamente. A análise da distribuição sazonal da riqueza taxonômica mostrou que 76 espécies foram identificadas durante o período seco e 41 no chuvoso (Tabela 3.1). Figura 3.1. Contribuição relativa das classes fitoplanctônicas identificadas em um lago temporário na Reserva Mata da Pimenteira, Pernambuco, Brasil. O número de espécies identificadas é compatível com o estabelecido por Sommer et al. (1993) para ecossistemas aquáticos de regiões tropicais, em torno de 70 espécies. A presença de macrófitas aquáticas na zona litorânea Cyanophyceae (14%) Chlorophyceae (36%) Zygnematophyceae (19%) Oedogoniaceae (1%) Xanthophyceae (2%) Bacillariophyceae (15%) Euglenophyceae (10%) Cryptophyceae (1%) Dinophyceae (2%) em nove classes (Figura 3.1 e 3.2; Tabela 3.1). As algas verdes (Chloro- phyceae, Zygnematophyceae e Oedogoniaceae) apresentaram maior ri- queza, com 49 espécies, destacando-se os gêneros Euastrum, com sete espécies, e Cosmarium e Scenedesmus, ambos com quatro espécies. As diatomáceas (Bacillariophyceae) e cianobactérias (Cyanophyceae) tam- bém foram importantes em termos de riqueza, apresentando 13 e 12 espécies, respectivamente. A análise da distribuição sazonal da riqueza taxonômica mostrou que 76 espécies foram identifi cadas durante o período seco e 41 no chuvo- so (Tabela 3.1). Figura 3.1. Contribuição relativa das classes fi toplanctônicas identifi cadas em um lago temporário na Reserva Mata da Pimenteira, Pernambuco, Brasil Tabela 3.1. Espécies identifi cadas no lago temporário da Pimenteira, Pernambuco, Brasil. Espécies Período Seco Período Chuvoso Cyanophyceae Aphanocapsa elachista W. West & G.S. West x Chroococcus minutus (Kützing) Nageli x Cylindrospermpsis raciborskii (Woloszynska) Seenaya & Subba Raju x x Dolichospermum sp. x Geitlerinema amphibium (C. Agardh) Anagnostidis x x Gloeocapsa sp. x 43 Espécies Período Seco Período Chuvoso Gomphosphaeria sp. x Lyngbya sp. x Microcystis aeruginosa (Kützing) Kützing x x Oscillatoria sp. x x Planktothrix agardhii (Gomont) Anagnostidis & Komárek Pseudanabaena catenata Lauterborn x Chlorophyceae Ankistrodesmus densus Kors. x x A. fusiformis Corda x A. gracilis (Reinsch) Kors. x x Botryococcus braunii Kuetzing x Chlorela vulgaris Kessler & Huss x x Coelastrum microporum Nägeli x x C. reticulatum (P.A. Dangeard) Senn x x Crucigenia tetrapedia (Kirchner) Kuntze x Desmodesmus armatus (R.Chodat) E.Hegewald x x Dictyosphaerium ehrenbergianum Nägeli x D. pulchellum H.C. Wood x Eutetramorus sp. x Franceia droescheri (Lemmermann) G. M. Smith x Glaucocystis sp. x Gloeocystis sp. x Golenkinia sp. x x Monoraphidium contortum (Thuret) Komàrková-Legnerová x Nephrocytium agardhianum Nägeli x Oocystis sp. x Pediastrum duplex Meyen x x P. simplex Meyen x P. tetras (Ehrenberg) Ralfs x Planktosphaeria gelatinosa G.M. Smith x x 44 Espécies Período Seco Período Chuvoso S. bernardii G.M. Smith x Scenedesmus curvatus Bohlin x S. protuberans F.E.Fritsch & M.F.Rich x S. quadricauda (Turpin) Brébisson var. parvus G.M. Smith x Selenastrum gracile Reinsch x Sphaerocystis schroeteri Chodat x Tetraedron incus (Teiling) G.M.Smith x T. trigonum (Nägeli) Hansgirg x x Zygnematophyceae Closterium sublaterale Ruzicka x x Cosmarium bioculatum Brébisson ex Ralfs x x C. granatum Brébisson ex Ralfs x C. margaritatum (P. Lundell) J. Roy & Bisset x x C. reniforme (Ralfs) W. Archer var. reniforme x Euastrum abruptum Nordestedt x E. insulare var. silesiacum (Krieg) x E. subintegrum Nordstedt var. brasiliense Gronblad x Euastrum sp.1 x Euastrum sp.2 x Euastrum sp.3 x Euastrum sp.4 x Micrasterias crux-melitensis Ralfs x Spirogyra sp. x Staurastrum brachioprominens Børgesen x S. gracile Ralfs ex Ralfs x x Staurodesmus sp. x Oedogoniophyceae Oedogonium sp. x 45 Espécies Período Seco Período Chuvoso Xanthophyceae Centritractus ellipsoideus Starmach x Bacillariophyceae Amphipleura sp. x Aulacoseira granulata (Ehrenberg) Simonsen x Brachysira sp. x Cyclotella meneghiniana Kützing x x Fragilaria sp. x x Frustulia rhomboides (Ehrenberg) De Toni x x Gomphonema gracile Ehrenberg x G. parvulum (Kützing) Kützing x x Melosira italica (Ehrenberg) Kützing x Pinnularia viridis (Nitzsch) Ehrenberg x x Synedra sp. x Ulnaria ulna (Nitzsch) P.Compère x x Stauroneis sp. x x Euglenophyceae Euglena acus (O.F.Müller) Ehrenberg x x E. oxyuris Schmarda x Lepocinclis sp. x Phacus curvicauda Svirenko x x P. longicauda (Ehrenberg) Dujardin x x P. pleuronectes (Müller) Dujardin x Trachelomonas armata (Ehrenberg) F.Stein x T. hispida (Perty) F.Stein x x T. volvocina (Ehrenberg) Ehrenberg x x Cryptophyceae Cryptomonas sp. x 46 Espécies Período Seco Período Chuvoso Dinophyceae Peridinium cinctum (O.F.Müller) Ehrenberg x Peridinium sp. x x O número de espécies identificadas é compatível com o estabe-
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