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INTRODUÇÃO originário do ciclo oconômico do gado no Brasil, tendo realmente folguedo a tríplice genação, com a influência das raças responsáveis pela nossa colonização: o negro, o Faremos, pois, uma desta etapa ma para o Tentaremos visualizar a principal tra- jetória do ciclo do gado, até sua entrada no Os como sabemos, alimentavam-se da caça e da pesca, por conseguinte não possuíam animais domésti- Supomos que a realização da colonização brasileira foi iniciada com a expedição de Martim Afonso de Sousa, tendo sido pois, com ele, a vinda dos primeiros animais domésticos. Esta armada encontrou, em São Vicente, galinha, não existin- do o gado bovino. Começa a criação de gado no Brasil nos idos de 1534, com a iniciativa da esposa de Martim Afonso, Ana Pimentel, trazendo as primeiras cabeças de gado para a capitania de seu marido. Aprioristicamente, gado vacum prestou grande traba- lho nos engenhos de açúcar, além de dar sustento alimentar, do mais alto índice nutritivo, através da carne e do leite. Logo, tornou-se fator preponderante na economia colo- nial, passando, pois, Brasil-Colônia, a viver ciclo do gado. Começando pela Bahia, que recebia gado bovino vindo da arquipélago do Cabo Verde, devido ao "Pedido que Tomé de Sousa fez a D. João III, por carta de 18 de junho de 1551, às margens do rio São Francisco, na sesmaria de Garcia Partindo da Bahia, o ciclo toma duas direções distintas: uma, subindo o rio São Francisco, acompanhando o seu cur- so; a outra, atingindo-o e o transpondo em direção ao Norte. Nos fins do século XVII, chega ao Estado do "As fazen- das do tornar-se-ão logo as mais importantes do todo 21RIBAMAR SOUSA DOS REIS e a maior parte do gado é consumida na Bahia, rém Nordeste, delas, embora tivesse de percorrer para seu mercado cerca de mil ou mais quilômetros de NOTAS DE Através do rio Parnaíba, as fazendas de gado ram ao Maranhão e também pelo litoral sobem transborda rio 1 BANDECCHI, Brasil. Histo São Paulo, Irradiante, 196 Para fechar o cerco do Nordeste, gado no 2 PRADO Caio. para ter interseção com outra corrente vinda em direção Brasiliense, 1970. 3 FURTADO, Celso. Forma trária, de Pernambuco. cional, 1970. problema crucial da seca nordestina, uma constante 4 FALCÃO, Ciro. Bumba-n nesse território semi-árido, determinou um aglomerado no às margens do rio São Francisco e de rios do e do Maranhão. "A acumulação de capital dentro da economia criatória induzia a uma permanente expansão, sempre que houvesse terras por ocupar independentemente das condições da pro- cura. A essas características se deve que a economia criato- ria se haja transformado num fator fundamental de penetra- ção e ocupação do interior brasileiro". A trilha do gado, através de fazendas e currais, deu gem a núcleos iniciais de povoados que hoje são importantes municípios brasileiros. Exemplificando, temos Pastos Bons, no Maranhão; Campo Maior, no Piauí; e muitos outros, cujos nomes vinculam-se à atividade criatória. Na afirmação de Capristano de Abreu, "Existiu na faixa de influência do Rio São Francisco uma verdadeira civilização do couro. O grande rio da interiorização nacional, o rio dos Currais". Observa-se a grande importância do ciclo do gado para interiorização, trazendo o branco, o negro, juntando-se ao índio para maior fixação do homem no "hinterland". Como nos referimos acima, o Bumba-meu-boi instalou- se e, depois, difundiu-se nas atividades ligadas aos engenhos nos últimos anos do século De lá para cá, vem sendo uma das mais importantes manifestações populares, tornando-se, pois, uma, das expres- folclóricas mais antigas do nosso Estado. A brincadeira do Bumba-meu-bo é praticada na quase totalidade do território maranhense, tendo maior intensidade em São Luís e na zona litorânea, despontando as cidades de Cururupu e Não resta dúvida de que hoje é fol- guedo mais popularizado do Maranhão. 22JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS BUMBA-BOI português, e os pajés e os caboclos-de-pena, representando os índios. A dança é, assim, alegria pela recuperação do boi e, a salvação da vida de Pai Francisco, é uma represália à tirania e opulência dos então fazendeiros e senhores donos de engenhos da época colonial ASPECTOS HISTÓRICOS Considera-se também homenagem ao boi que, na épo- ca colonial, foi um dínamo, propulsor de força, quer na planta- A Dramaturgia Popular ção de cana, quer na indústria do açúcar e na lavoura de modo Enredo geral. Cita muito bem o Prof. Gilberto Freyre, em seu livro A lenda é narrada como fato acontecido a um casal de Nordeste: "O aliado fiel do escravo africano no trabalho agrí- escravos, de determinada fazenda; o marido, chamado Fran- cola, na rotina da lavoura de cana, na própria indústria de açú- car, foi o boi; e esses dois o negro e o boi é que foram o cisco, e a mulher, Catirina. Esta, grávida e com desejo, pede alicerce vivo da civilização do ao esposo que lhe traga língua de boi. Então, Pai Francisco boi tornou-se naquela época um dos maiores fatores rouba um boi do seu patrão, dono da fazenda, e quando está de economicidade para os fazendeiros e senhores de enge- no início da matança, é descoberto. Tomando conhecimento nho, servindo de quase tudo e na maior parte de suas tarefas. do ocorrido, o patrão manda o capataz apurar o caso. Preso o Sem o boi, só o cavalo, o engenho não teria se firmado como negro Chico, este terá de dar conta do boi, sob pena de ser se firmou. "Até as vezes de égua o boi fez nas almanjarras. morto. Até as vezes da besta. E até as vezes da mulher a vaca fez Em virtude disto, toda a fazenda foi mobilizada para para os meninos de engenho." 2 salvar o boi. Então, são chamados os pajés, doutores, que Ajudando o escravo no trabalho pesado e servindo bem finalmente conseguem ressuscitar o animal. A alegria foi con- ao dono (fazendeiro ou dono de engenho), o boi foi um com- tagiante. boi estava salvo e também Pai Francisco. panheiro ideal do homem no Em homenagem ao acontecimento, o cantador tira lin- das toadas, a tropeada brinca e dança em redor do boi, o qual A Lenda do Sebastianismo faz evoluções diversas. Como se observa nesta toada do Boi da Madre Deus, denominada URRAR DO BOI: Evidencia-se a existência de interseção muito grande, Já urrou, pai da malhada da do Bumba e o Tambor-de-Mina, principalmente aqui, no Mara- Madre Deus nhão. Que fez o povo se alegrar. A brincadeira de Bumba-meu-boi em outros Estados é Eu já ouvi dizer feita na época natalina. Já no Maranhão é realizada no perío- Que muitos Pais Francisco mau do dos festejos juninos. Bumba sai às ruas no dia 23 de Vêm pedir perdão junho, véspera de São João. Curiosamente existe aqui uma Pra Mané Onça lenda, segundo a qual D. Sebastião, Rei de Portugal, ao desa- E Vavá. parecer em veio com a corte de Queluz para uma das nossas praias, talvez a mais bela de todas, Interpreta-se nesta manifestação popular a participa- município de Cururupu, onde permanece encantado. ção dos responsáveis pela nossa colonização. Pai Francis- Mais adiante, é contado que "no período junino trans- o negro africano, escravo; o dono da fazenda, o branco forma-se em luzente touro coberto de pedras preciosas, com 24 25