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ESTÉTICA E ARTE: PROCESSOS DE INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE NO AUDIOVISUAL W BA 07 19 _v 1. 0 22 © 2019 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Rogério Pelizzari de Andrade Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sampaio, Jurema Luzia de Freitas S192e Estética e arte: processos de inovação e criatividade no audiovisual/ Jurema Luzia de Freitas Sampaio, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 135 p. ISBN 978-85-522-1520-2 1. Recursos audiovisuais. 2 Gêneros cinematográficos. I. Sampaio, Jurema Luzia de Freitas. Título. CDD 700 Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ mailto:editora.educacional%40kroton.com.br?subject= http://www.kroton.com.br/ 3 3 ESTÉTICA E ARTE: PROCESSOS DE INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE NO AUDIOVISUAL SUMÁRIO Apresentação da disciplina 4 Um pouco de História 6 Cultura Popular, Cultura de Massa, Indústria Cultural e o Kitsch 33 TV no Brasil: História e a Estética das novelas 57 Filmes clássicos: estéticas da linguagem audiovisual 80 Análise da Produção Nacional: identidade, estética e linguagem 99 Produção audiovisual na Internet: estética e linguagem de produções em plataformas digitais 128 Os novos modelos de produção audiovisual e o formato streaming 150 44 Apresentação da disciplina Saudações, “terráqueos”! (E se eu estiver falando com algum aluno extraterrestre, saudações, igualmente, ok ?) Bom... vamos lá! É comum ouvirmos falar em “criatividade & inovação”, não é verdade? E, geralmente, as duas palavras vêm associadas, como se fossem quase sinônimos. Mas... não são, sabia? Embora, naturalmente, elas se relacionem, “criatividade” e “inovação” são conceitos distintos. Criatividade é um potencial, uma capacidade inerente aos seres humanos, e como diz a pesquisadora do tema, Fayga Ostrower, é “uma visão política, histórica e filosófica” (1977, p.17). Em síntese, a criatividade é um modo de ser, estar e ver o mundo que se manifesta na capacidade de solucionar problemas de forma diferente das usuais, ou seja, de uma forma nova. É um “passo” anterior à inovação. A inovação é, por sua vez, o resultado da aplicação da criatividade. Ao aplicar criatividade na resolução de uma questão, a consequência é gerar inovação. Parece até “mágica”! Mas não é, não... É importante entender bem que “criatividade & inovação” podem ser desenvolvidas, “alimentadas” e que, quanto mais praticarmos, melhores seremos em aplicar ambos os conceitos: sendo mais criativos e mais inovadores. A disciplina ‘Estética e arte: processos de inovação e criatividade no audiovisual’ busca atingir exatamente essa meta: proporcionar informações e reflexões para que você alimente seu potencial criativo, a fim de desenvolver suas habilidades naturais, seus conhecimentos e seu repertório pessoal, gerando inovação, como modo de colaborar efetiva e positivamente na profissionalização da produção audiovisual brasileira, pela compreensão da importância do embasamento conceitual e teórico na formação desses profissionais. 55 5 Durante as unidades da disciplina vamos conhecer um pouco da história da Linguagem Audiovisual; compreender a influência dos movimentos artísticos na produção de conteúdo audiovisual, estudando sobre História da Arte. Com isso, vamos buscar desenvolver habilidades críticas da estética utilizada nas produções de cinema, TV e Internet; analisar fenômenos contemporâneos de comunicação de massa e buscar desenvolver o repertório criativo individual e coletivo para produção de conteúdo nesses cenários, por meio de reflexões acerca de materiais existentes e de criação autoral de novos conteúdos. É uma disciplina que vem “para incomodar”, para problematizar e “colocar minhocas na cabeça” de profissionais e futuros profissionais do audiovisual, instigando você a não se deixar acomodar, ou seja, sair das “zonas de confortos” ou “caixinhas”, para usar um vocabulário que, “vamos combinar”, embora até “pareça descolado”, é só o uso de linguagem popular num texto escrito... (Assim como o emoji aí ao lado...) Brincadeiras à parte, vamos “tacar fogo no parquinho”? É hora de “arregaçar as mangas” e... “mãos à obra”! Conto com você... Vamos? Jurema Sampaio1 OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1977 666 Um pouco de História Autora: Jurema L. F. Sampaio Objetivos • Conhecer a linha do tempo das manifestações da arte. • Compreender a alternância de preceitos estéticos entre os períodos históricos. • Investigar a origem dos conceitos fundamentais de estética. 77 7 1. De onde partimos? Toda jornada tem um começo e, para dar início ao nosso estudo, vamos conhecer um pouco da História da Arte. A visão que trazemos nesta proposta de estudo é uma visão, portanto, histórica. Você pode estudar arte de diversos modos, dentre eles, os aspectos históricos se configuram como uma forma de contextualizar as informações de forma que o passar do tempo oriente nossa visão, para construir conhecimento. A ideia é termos uma perspectiva panorâmica dos períodos que antecedem a arte na idade moderna, no mundo e, em especial, no Brasil. Vamos, ainda, procurar entender os caminhos que levaram, no século XX, ao evento que se chamou Semana de Arte Moderna de 1922, uma das responsáveis por nossa percepção artística, estética e de inovação, no mundo contemporâneo. Desde a pré-história, as relações entre a humanidade e as manifestações artísticas são marcadas pela necessidade de expressar e comunicar por meio de vários tipos de suportes: imagens, gestos, sons, etc. Da pré-história ao início do século XX, uma imensa quantidade de movimentos artísticos compõe uma bagagem de conhecimentos que, certamente, colaboram na construção de nossa percepção e, mais certo ainda, influenciam nossa visão de mundo e, por consequência, nossas poéticas e a estética contemporânea. 88 Figura 1 – Síntese da linha dos períodos históricos, da Pré-História à Contemporaneidade Fonte: Elaborada pela autora. PARA SABER MAIS Se fosse para escolher um único livro para estudar História da Arte, com certeza escolheria o do Gombrich, que faz parte da bibliografia deste tema. Não o indico porque seja o “melhor”, já que temos vários autores e vários livros de excelente qualidade, mas justamente por ser um dos mais tradicionais, e que apresenta um grau de profundidade bastante seguro em termos de pesquisa e documentação. 99 9 Dele podemos partir até mesmo para questionar e discordar, visto que o conhecimento deve ser sempre questionado mesmo. Mas, se o usarmos como um guia para a compreender o “roteiro” dessa “viagem” que foi, e é, a História da Arte, podemos construir uma base sólida de conhecimentos. Dedique um tempo para conhecerde criação. Conhecer estilos, saber reconhecer traços característicos, cores, sons, imagens, movimentos é o primeiro passo para a criação desde relações estéticas e culturais. E, assim, todas as formas de cultura são importantes na construção dessas relações. A cultura pop, por exemplo, com seus super-heróis, ícones da cultura nerd e estreita relação com as tecnologias digitais, apresenta relações culturais com mitos gregos, que muitas vezes nem notamos claramente, mas estão lá, na composição das criações, que extrapolam a sua cultura original e se espalham pelo mundo (Figura 7) pelo fenômeno da globalização. Figura 7 – Imagens de super-heróis americanos Fonte: Rweisswald/iStock.com. 4949 49 Os repertórios podem e devem ser sempre atualizados para que tenhamos flexibilidade criativa, essa atualização pode ser feita sistematicamente, por meio de leituras, frequência a exposições, cinema, teatro, em que as novas formas que conhecemos vão se acumulando no nosso próprio repertório, como também podem ser feitas premeditadamente, por meio de exercícios, projetos e propostas que tenham como meta estudar o modo que uma cena ou imagem de séculos anteriores poderia ser representada nos dias atuais. Um exemplo bastante interessante é a pesquisa da historiadora Dra. Suzannah Lipscomb, da Universidade de Roehampton, sobre como seriam as imagens de personalidades históricas, atualizadas de acordo com suas características, gostos pessoais e costumes, segundo a sua época, nos dias atuais. A pesquisa foi combinada com o trabalho de artistas digitais para produzir uma galeria de fotos mostrando o que figuras históricas podem parecer agora. A ideia da pesquisadora foi a de cruzar referências dos hábitos de personalidades históricas como Henrique VIII, Elizabeth I, Shakespeare e Maria Antonieta, vistos aos olhos do mundo contemporâneo, pela cultura das ‘celebridades’. O resultado é bastante interessante! A Rainha Maria Antonieta, da França, conhecida por suas excentricidades em relação à moda e trocar de roupa três vezes ao dia, na leitura contemporânea veste um modelo de grife moderno. Como é relatado nos livros de história que usava acessórios variados como uma espécie de “termômetro” de seu humor, como os adereços de sua famosa peruca, feitos especialmente para ela por seus estilistas, na atualização de imagem ela usa um ‘fascinator’, no estilo Philip Treacy, conhecido designer de chapéus, inglês, autor de vários desses acessórios para a nobreza, inclusive Kate Middleton. 5050 Figura 8 – Imagem da Rainha Maria Antonieta, atualizada na pesquisa da Dra. Suzannah Lipscomb Fonte: THELEGRAPH, The. “Shakespeare e Henrique VIII deram a reforma do século XXI”. In: How about that? The Telegraph. Edição de 2 mai.2013. Disponível em: https://www. telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII- given-21st-Century-makeover.html. Acesso em: 26 maio 2019. E o Rei Henrique VIII, conhecido por ser vaidoso e generoso, e ostentar sua riqueza, teve seu volumoso traje de veludo com mangas bufantes atualizado em um terno preto de grife, usando um anel de diamante cintilante e um relógio de grife (Figura 8). Figura 9 – Imagem do Rei Henrique VIII, atualizada na pesquisa da Dra. Suzannah Lipscomb Fonte: THELEGRAPH, The. “Shakespeare e Henrique VIII deram a reforma do século XXI”. In: How about that? The Telegraph. Edição de 2 mai.2013. Disponível em: https://www. telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII- given-21st-Century-makeover.html. Acesso em: 26 maio 2019. https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 5151 51 A cultura popular brasileira faz parte do repertório de todos nós, brasileiros, em maior ou menor escala, respeitando os regionalismos, ampliada ou reduzida à medida que viajamos pelos país ou entramos em contato com pessoas de outros lugares de origem, com quem trocamos informações. Tomemos como exemplo as festas juninas. De origem religiosa, trazidas para cá pelos imigrantes, refletem diversas outras influências ao longo dos estados brasileiros. Apesar de na essência se assemelharem, como a devoção aos santos Juninos, Antônio, João e Pedro, cujas datas comemorativas são 13, 24 e 29 de junho, respectivamente, em cada região tem itens acrescentados ou subtraídos de acordo com as influências de repertórios variados. No nordeste brasileiro são muito marcadas, movimentando a economia da região, e em algumas localidades, sendo a principal data do calendário de efemérides. Sudeste e centro-oeste também contam com suas festas juninas, porém com características regionais próprias. No sul, por exemplo, o tradicional churrasco não pode faltar, nem as danças gaúchas. Nos trabalhos do artista brasileiro Alfredo Volpi podemos encontrar com frequência as tradicionais bandeirolas juninas (Figura 9), que enfeitam as festas populares, revelando, assim, parte do repertório visual desse artista, composto por percepções e experiências estéticas nesse tema. Figura 9 – Quadro Bandeirinhas, têmpera sobre tela Fonte: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1797/bandeirinhas. Acesso em: 24 de maio 2019. Verbete da Enciclopédia. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1797/bandeirinhas 5252 TEORIA EM PRÁTICA Numa produção audiovisual, as referências podem acontecer de forma sutil ou mais claramente mostradas. Recortadas de seus contextos originais, proporcionam novas leituras, porém, carregam em si também suas cargas de informação. A animação Kunstbar, The Petrie Lounge, de 2002 (http:// www.whitehouseanimationinc.com/), foi toda construída com base em referências a obras artísticas dos “grandes mestres” das artes visuais. É muito interessante! Assista à animação e reflita sobre as obras apresentadas e a relação que os autores fazem na animação, percebendo como releem as visualidades dos trabalhos, expressando sentimentos, ideias e pensamentos encadeados numa produção nova. Selecione entre 5 e 10 obras de sua preferência e faça o rascunho de um pequeno roteiro para uma animação de uma historieta de sua escolha. Pense em como as obras iriam contar sua história e como gostaria de sequenciá-las para que construísse o sentido da história que está contando. Você pode até mesmo tentar realizar essa animação usando algum software simples. Lembre-se que o objetivo é exercitar a criatividade e a inovação na integração das referências, não necessariamente fazer a animação! Veja o trailer em: https://www.youtube.com/ watch?v=PD8K7BBAR38 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. As diversas matrizes que embasam a cultura brasileira colaboram... http://www.whitehouseanimationinc.com/ http://www.whitehouseanimationinc.com/ https://www.youtube.com/watch?v=PD8K7BBAR38 https://www.youtube.com/watch?v=PD8K7BBAR38 5353 53 a. na composição da identidade das produções brasileiras e originam-se de práticas culturais diversas, sejam elas regionais ou nacionais. b. exclusivamente na Indústria Cultural e não nas possibilidades derivadas dessas reflexões. c. na Cultura de Massa e na Cultura Popular, mas sem estabelecer relações entre as possibilidades. d. nas reflexões provocadas pela Indústria Cultural ao se transformarem em Cultura Popular. e. na construção do estilo Kitsch, pois hora complementam, horaquestionam as produções audiovisuais. 2. A cultura pop, com seus super-heróis, ícones da cultura nerd e estreita relação com as tecnologias digitais apresenta relações culturais... a. com faraós egípcios. b. com a composição das criações. c. somente com a sua cultura original. d. com a falta de globalização. e. com mitos gregos. 3. A cultura popular brasileira faz parte do repertório de todos nós, brasileiros, porque... a. cada região tem itens restritos de acordo com as influências de repertórios limitados por suas fronteiras estaduais. 5454 b. o artista brasileiro Alfredo Volpi pinta bandeirolas juninas, que enfeitam as festas populares em seus quadros. c. é ampliada ou reduzida à medida que viajamos pelos país ou entramos em contato com pessoas de outros lugares de origem, com quem trocamos informações. d. revela parte do repertório visual de todos os brasileiros como artistas com percepções e experiências estéticas nesse tema. e. refletem diversas outras influências de origem religiosa, trazidas para cá pelos imigrantes, ao longo dos estados brasileiros. Referências bibliográficas ADORNO, T. & HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos, 1947. ADORNO, Theodor. Indústria cultural e sociedade. Seleção de textos Jorge Mattos Brito de Almeida, trad. Juba Elisabeth Levy... [et a1.]. 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Acesso em: 26 maio 2019. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1797/bandeirinhas http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra1797/bandeirinhas https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2008/12/081216_cleopatrarosto_np.shtml https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2008/12/081216_cleopatrarosto_np.shtml https://www.smithsonianmag.com/history/who-was-cleopatra-151356013/ https://www.smithsonianmag.com/history/who-was-cleopatra-151356013/ 5555 55 DALRYMPLE. T. Sociedade e Política — Por que Havana Estava Condenada. In: Nossa Cultura... ou o que restou dela. Trad. Maurício G. Righi. - 1. ed. São Paulo: Realizações Ed., 2015, p.221-230. GREENBERG, C. Vanguarda e Kitsch. In: FERREIRA, Glória e MELLO, Cecilia Cotrim de. (Org.). Clement Greenberg e o debate crítico. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar/Funarte, 1997. KITSCH. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. 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Disponível em: https:// www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and- Henry-VIII-given-21st-Century-makeover.html. Acesso em: 26 maio 2019. Gabarito Questão 1 – Resposta: A As diversas matrizes que embasam a cultura brasileira colaboram na composição da identidade das produções brasileiras e originam- se de práticas culturais diversas, sejam elas regionais ou nacionais. Desse modo, é possível compreender que a “cultura é o conjunto das práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social” (BOSI, 1992, p.10). Seus valores e estéticas, somados aos conceitos, análises e reflexões acerca de propostas como Indústria Cultural, Cultura de Massa, Cultura Popular; as http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3798/kitsch http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3798/kitsch https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/conheca-o-verdadeiro-rosto-de-cleopatra.p https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/conheca-o-verdadeiro-rosto-de-cleopatra.p https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/conheca-o-verdadeiro-rosto-de-cleopatra.p https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 https://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/howaboutthat/10030286/Shakespeare-and-Henry-VIII-given-2 5656 relações entre todas as possibilidades derivadas dessas reflexões e, ainda, as variadas proposições estéticas que circulam desde a modernidade, como o kitsch, etc., ora complementam, ora questionam as produções audiovisuais contemporâneas. Questão 2 – Resposta: D A cultura pop, por exemplo, com seus super-heróis, ícones da cultura nerd e estreita relação com as tecnologias digitais apresenta relações culturais com mitos gregos, que muitas vezes nem notamos claramente, mas estão lá, na composição das criações, que extrapolam a sua cultura original e se espalham pelo mundo (Figura 7), pelo fenômeno da globalização. Questão 3 – Resposta: C A cultura popular brasileira faz parte do repertório de todos nós, brasileiros, em maior ou menor escala, respeitando os regionalismos, ampliada ou reduzida à medida que viajamos pelos país ou entramos em contato com pessoas de outros lugares de origem, com quem trocamos informações. 5757 57 TV no Brasil: História e a Estética das novelas Autora: Jurema L. F. Sampaio Objetivos • Conhecer a história, narrativas e conteúdo da televisão brasileira. • Compreender o público consumidor dos produtos e serviços televisivos. • Perceber a transformação da produção com o crescente das novas tecnologias. 5858 1. A história da TV no Brasil Nesta aula vamos conhecer um pouco sobre a História das produções de TV no Brasil, desde as primeiras transmissões até a revolução digital, trazida com as mudanças provocadas pela evolução das tecnologias de informação e comunicação. Vamos também conhecer um pouco sobre a estética televisiva, a estrutura narrativa das novelas e o perfil do público consumidor de TV, na tentativa de entender os caminhos da produção nacional nessa área. Voltando algumas décadas do tempo, vamos até a metade do século XX. O ano era 1950 e, no dia 18 de setembro, era inaugurada em São Paulo a primeira emissora de televisão do Brasil, a TV Tupi. Quando, “às sete em ponto” (MORAIS, 1994, p.364), o radialista Walter Forster “esperava a luz vermelha da câmera se acender para pronunciar uma breve mensagem: Está no ar a PRF-3-Tv Tupi de São Paulo, a primeira estação de televisão da América Latina”, deu-se o início oficial história da TV no Brasil. O pronunciamentoe as demais atrações da estreia foram assistidos pelos cidadãos da capital paulista, já que “em pontos estratégicos da cidade foram instalados 22 receptores nas vitrinas das dezessete lojas revendedoras de televisores, em quatro bares e no saguão dos Diários Associados, na rua Sete de Abril” (MORAIS, 1994, p. 364). Mas a história não começa exatamente nesse ponto. A primeira transmissão de TV, que foi efetivamente um marco histórico, foi possível como realização de uma mistura de sonho e teimosia de um homem. A primeira emissora de TV brasileira foi montada com equipamentos trazidos para o país pelo empresário Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, mais conhecido como Assis Chateaubriand. Chatô, como era chamado pelos amigos e colegas de trabalho, de acordo com o que nos conta Fernando Morais (1994), autor da biografia de Assis Chateaubriand, era muito rico e “um dos homens 5959 59 mais poderosos do Brasil” (MORAIS, 1994, p.7), dono e diretor dos Diários Associados, grupo de comunicação que contava com “sete jornais e O Cruzeiro” (MORAIS, 1994, p.189). O poderoso empresário tinha uma espécie de ‘trânsito livre’ entre autoridades e celebridades, fato que dava ao jornalista uma grande ‘intimidade com o poder’. Isso lhe facilitou, e muito, alguns procedimentos para realizar o sonho de trazer a televisão para o Brasil. Para haver quem assistisse à programação da televisão imaginada, Fernando Morais (1994) conta que Chateaubriand importou aparelhos de TV, de forma inusitada e “curiosa”. Numa passagem interessante da biografia do jornalista, Morais diz que, ao ser alertado para o fato de que ninguém no país tinha aparelhos de TV para receber as transmissões que ele pretendia realizar, Chatô telefonou ao dono de uma grande empresa de importação e exportação e pediu-lhe que trouxesse por avião, dos Estados Unidos, duzentos aparelhos de tv, de modo que chegassem a São Paulo três dias depois. O homem explicou que não era tão simples: por causa da morosa burocracia do Ministério da Fazenda, um processo de importação (mesmo que fosse agilizado por ordem do presidente da República, como Chateaubriand sugeria) iria consumir pelo menos dois meses até que os televisores fossem postos no aeroporto de Congonhas. Chateaubriand não se assustou: - Então traga de contrabando. Eu me responsabilizo. O primeiro receptor que desembarcar eu mando entregar no Palácio do Catete, como presente meu para o presidente Dutra (MORAIS, 1994, p.363). Morais destaca que o jornalista realmente fez o que havia prometido, os dois primeiros televisores que recebeu, dos duzentos contrabandeados, Chateaubriand deu de presente, respectivamente, a Vera Faria, sua secretária particular em São Paulo, e ao presidente Dutra. O de Dutra só serviu, durante um ano, como insólita peça de decoração de seu gabinete: a TV Tupi do Rio só seria inaugurada em 1951 (MORAIS, 1994, p.365). 6060 Essa passagem pitoresca da biografia do ‘quase mitológico’ jornalista nos mostra claramente a estreita relação entre Assis e o Presidente Eurico Gaspar Dutra, e a influência de Chateaubriand junto às mais altas esferas de poder do país. Quatro meses depois da festa em São Paulo, foi a vez do Rio de Janeiro receber a TV Tupi, com a inauguração acontecida em 20 de janeiro de 1951, dia do padroeiro da cidade, São Sebastião. A data foi escolhida justamente por ser feriado municipal na cidade, com a ideia de conquistar mais expectadores para a chamada TV Tupi da Guanabara. O nome mudou depois da fusão dos estados do Rio de Janeiro e Guanabara, em 1975, quando a emissora passou a se chamar TV Tupi Rio. A TV Tupi “apresentava programa idênticos nos dois estados e era obrigada a manter esquemas semelhantes de produção naquelas cidades em que Chateaubriand iria instalando suas afiliadas” (BRANDÃO, 2010, p.39). Em 1952, entrava no ar a terceira emissora de televisão no Brasil e a segunda em São Paulo: a TV Paulista, no canal 5. No ano de 1953 foi inaugurada a TV Record, em SP, e em 1955 a TV Rio é inaugurada, juntando-se à Record nas Emissoras Unidas. Também em 1955, no dia 8 de setembro, entrou no ar a TV Itacolomi canal 4 de Belo Horizonte, de propriedade das Emissoras Associadas. Era o início da operação da televisão em Minas Gerais. Em 1957 dez emissoras estavam em operação no Brasil (MATTOS, 1990, p. 42). Em 1959 surge a TV Continental, canal 9, no Rio de Janeiro, inaugurando a era do videoteipe, que acabava de chegar ao Brasil. A concessão da TV Continental foi cassada em 1972. Em 1960 é inaugurada a TV Excelsior em São Paulo e, em 1963, chega a TV Excelsior Rio de Janeiro. As duas saíram do ar por decisão do governo militar, em 1970. Vale destacar que a TV Excelsior “foi considerada como a primeira emissora a ser administrada dentro dos padrões empresariais de hoje” (MATTOS, 1990, p.13). 6161 61 Em dia 26 de abril de 1965 é inaugurada a TV Globo Rio, de propriedade do jornalista Roberto Marinho, dono do jornal O Globo e de emissoras de rádio de mesmo nome. A concessão havia sido obtida em 1957, quando o Conselho Nacional de Telecomunicações fez um decreto público que concedeu a quatro canais de frequência em Rio de Janeiro à TV Globo Ltda., com uma programação baseada em jornalismo e entretenimento, tendo a novela como carro chefe, logo se firma e passa a ser distribuída para outros estados por meio de emissoras próprias adquiridas de outros empresários, e de emissoras afiliadas. Em pouco tempo forma-se a Rede, com a transmissão simultânea da programação da Globo para todo o país. (GLOBO, 2013, s/p). No dia seguinte à inauguração, estreou, às 17 horas, “Capitão Furacão”, primeiro programa infantil e, de noite, “Ilusões Perdidas”, escrita por Enia Petri e estrelada por Leila Diniz. A TV Tupi Rio e TV São Paulo, e mais 5 emissoras próprias da Rede Tupi, operaram até 18 de julho de 1980, quando tiveram suas concessões cassadas pelo Governo Federal, por problemas financeiros e administrativos, e dívidas com a Previdência Social, como as principais justificativas alegadas (RAMOS, 1995). Em 19 agosto de 1981 Silvio Santos funda o Sistema Brasileiro de Televisão - SBT. Em 1983 o empresário Adolpho Bloch, dono da Bloch Editores, consegue a concessão de um canal, ao qual batizou de TV Manchete, em referência ao maior sucesso editorial de suas empresas, a Revista Manchete. Entre 5 de junho de 1983 e 10 de maio de 1999, quando encerrou suas atividades, a TV Manchete desenvolveu “uma boa grade de programas jornalísticos, esportivos e de entretenimento” (TARDÁGUILA, 2013, s/p). 6262 Em maio de 1999, os empresários Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho assumiram todas as concessões da Manchete, transferiram a sede para a cidade de Barueri, na Grande São Paulo, e o nome da emissora foi mudado para RedeTV! (FOLHA, 2013, s/p). PARA SABER MAIS A jornalista Cristina Tardáguila, no Observatório da Imprensa, tem um artigo bem interessante sobre o destino do acervo da TV Manchete quando a emissora pediu concordata. Nele, a jornalista discute questões sobre direito patrimonial, produções audiovisuais e traz a opinião de especialistas em processos de falência. Vale a leitura! TARDÁGUILA, Cristina. “TV Manchete, um inventário - na prateleira da memória”. In: Observatório da Imprensa, edição nº 730, 22 jan. 2013. 1.1 A transformação da produção O início da produção televisiva brasileira se caracterizou por uma espécie de laboratório de experimentações. As emissoras não tinham parâmetros e seguiram “exibindo uma programação ao vivo, pela inexistência do videoteipe” (BRANDÃO, 2010, p.39). Na produção, a falta de referências, que poderia ser um problema, também era, ao mesmo tempo, uma possibilidade imensa de criação, pois “sem contar com qualquer experiência quanto ao uso da imagem, só restava aos primeiros profissionais a alternativa de aprender fazendo. E assim foi sendo montada a equipe pioneira (BRANDÃO, 2010, p. 46). Depois da estreia,houve a necessidade de dar continuidade à iniciativa e, então, tudo era novidade e, assim, tudo era possível na abordagem das pessoas envolvidas. 6363 63 E assim foi sendo montada a equipe pioneira, fundada apenas no entusiasmo e abnegação de Cassio Gabus Mendes, Luís Gallon, Walter Tasca, Régis Cardoso, Walter George Durst, Dionísio de Azevedo, Ribeiro Filho, Tulio de Lemos, Walter Avancini, Álvaro Moya, Geraldo Vietri, entre outros, em São Paulo. Já no Rio de Janeiro tínhamos João Loredo, Chianca de Garcia, Pernambuco de Oliveira, Dermival Costa Lima, Fábio Sabag, Sadi Cabral, Herval Rossano, Paulo Bandeira, Daniel Filho, Maurício Sherman e inúmeros outros (BRANDÃO, 2010, p. 46). A imagem de um imenso laboratório de ideias acompanha o imaginário desses primeiros tempos da TV brasileira. O que foi um rico momento de criatividade em que, ao olharmos para a história, percebemos que de passo em passo as apostas eram feitas numa mistura de criatividade, risco calculado e audácia, com tudo bem interessante. Uma análise da programação levada ao ar durante os primeiros meses mostra claramente um engatinhar hesitante na busca de atrações e programas para preencher os horários das transmissões, mas levaria ainda algum tempo para que as estações de TV pudessem estruturar sua programação, uma verdadeira caixa de surpresas para os primeiros telespectadores. Registramos o exemplo do “Teatro Walter Foster” (pequenas cenas românticas) apresentado após a estreia da televisão nos seus primeiros dias de funcionamento. [...] Antes de partir para a encenação de uma peça de fôlego, a TV brasileira ensaiava, em São Paulo, pequenas dramatizações destinadas ao público jovem feminino. (BRANDÃO, 2010, p. 38-39). Profissionais de diversas áreas, das artes e da comunicação, como teatro e rádio, envolveram-se na produção e desenvolvimento de propostas de conteúdo e formatos de atrações para esse novo suporte e Faziam um pouco de tudo, chegando até mesmo a pintar cenários, e ajudavam-se mutuamente. Era comum atravessarem as noites, após a programação se encerrar, experimentando ângulos diferentes e novas tomadas de câmera, pesquisando efeitos especiais e reproduzindo truques, misturando ideias próprias com o que viam nos filmes. (BRANDÃO, 2010, p. 46). 6464 Todas as iniciativas eram válidas e todas também, de algum modo, terminavam colaborando para a construção da identidade própria e da linguagem da TV brasileira, diferente de outros países. Ao contrário da TV americana que já encontrava no cinema uma infraestrutura de imagem e som para o fornecimento de recursos humanos - bem como experiência com produções de Hollywood diretamente para a televisão -, a nossa televisão iria abastecer-se no rádio. Como a Vera Cruz encerrava suas produções em 1954 e nas telas predominavam as chanchadas, desprezadas como produtos de ínfima qualidade, a televisão encontraria no teatro a sua fonte fornecedora de pessoal e dramaturgia. [...] Em toda a América Latina a programação ficcional televisiva norteava-se por seus teleteatros aparecendo como programas mais importantes do período, mas, tal qual no Brasil, caracterizados pela convergência dos recursos técnicos incipientes, pela orientação criativa dos pioneiros e pela acolhida de uma audiência que começava a se perfilar. (BRANDÃO, 2010, p. 40). Em 1953, o noticiário Repórter Esso foi trazido do rádio para a TV, marcando o início de um formato para telejornais. O radialista mineiro Gontijo Teodoro foi o âncora do programa por 18 anos e virou sinônimo de confiabilidade, chegando ao ponto de as pessoas se referirem ao noticiário como “Se o Repórter Esso não deu, não aconteceu” (TEODORO, 2003, s/p). Telejornais, programas de entrevistas, teleteatro adulto e infantil, como o Sítio do Pica-Pau Amarelo, de 1954, baseado em obra de Monteiro Lobato, e atrações como o programa de variedades Alô, Doçura!, compunham a programação das emissoras. Ainda em 1956 foi transmitida a primeira partida de futebol pela televisão (MATTOS, 1990, p. 42). 6565 65 Em 1956 Manuel da Nóbrega cria o primeiro programa humorístico, Praça da Alegria, num formato muito simples: um banco de praça aonde os humoristas trazidos do rádio revezavam seus personagens sob a coordenação do próprio Nóbrega. O programa se tornou um sucesso, sendo referência na TV até os dias atuais, em variantes como A praça é Nossa e similares. No mesmo ano, a TV Rio cria o TV Rio Ringue, primeiro programa esportivo que exibia lutas de boxe ao vivo, aos domingos. No geral, as grades de programação eram regionais, porém, “de gêneros diversos, romântico, dramático, humorístico, policial ou terror, os teleteatros ocupavam quase todos os horários na programação (à tarde, à noite e de madrugada)” (BRANDÃO, 2010, p. 41). Em agosto de 1957, uma novidade: uma transmissão entre Rio de Janeiro e São Paulo, simultaneamente, com um link entre a TV Rio e a TV Record para a transmissão do Grande Prêmio Brasil de Turfe, direto do Hipódromo da Gávea no Rio de Janeiro. Essa novidade permitiu o surgimento de um novo tipo de produção: as transmissões diretas. Assim, em 12 de outubro do mesmo ano, a TV Rio e a TV Record transmitiram, direto da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, a missa em homenagem à padroeira do Brasil. Em 1960 a TV Tupi usou, pela primeira vez, o videoteipe, numa adaptação de “Hamlet”, de Shakespeare. Foi o primeiro teleteatro a usar o VT no Brasil (MATTOS, 1990, p.43). Também em 1960 foi transmitido pela TV Cultura de São Paulo o primeiro Telecurso brasileiro, visando preparar candidatos ao “exame de admissão ao ginásio” (MATTOS, 1990, p. 42). O ano de 1962 traz um marco para a TV brasileira: foi promulgado o Código Brasileiro de Telecomunicações (MATTOS, 1990, p.43) que passou a reger as comunicações no Brasil, inclusive a televisão, e o Decreto No. 52.795, de 31 de outubro de 1962, regulamentou os serviços de radiodifusão, fixando os objetivos do rádio e da televisão, considerados de interesse nacional (MATTOS, 1990, p. 43). 6666 O Golpe Militar de 1964 tem grande impacto na TV brasileira, que passa a sofrer restrições governamentais ao conteúdo veiculado. A situação vai ficando cada vez mais restritiva até que em 13 de dezembro 1968 o Ato Institucional No. 5 institui de vez a censura prévia de toda a produção, como nos esclarece Sérgio Mattos: Durante o período compreendido entre 1968 e 1979, os veículos de comunicação operaram sob as restrições do Ato Institucional No. 5, o qual concedia ao poder executivo federal o direito de censurar os veículos, além de estimular a prática da autocensura, evitando assim qualquer publicação ou transmissão que pudesse levá-los a ser enquadrados e processados na Lei de Segurança Nacional. (MATTOS, 1985, p. 68). Até a década de 1980 todas as emissoras têm seu conteúdo e programação aprovados pelo governo federal para poder ser exibido. Uma lembrança marcante foi a proibição da exibição da telenovela “Roque Santeiro”, de Dias Gomes, que só foi veiculada pela Rede Globo 10 anos depois (MATTOS, 1985, p. 45). Nos anos de 1990, a TV brasileira já havia conquistado respeito mundial, com diversas premiações internacionais de reconhecimento de mérito, como o infanto-juvenil Sítio do Pica-pau Amarelo, exibido entre 1977 a 1985, que foi considerado pela UNESCO como o melhor programa infantil do mundo e o Prêmio Asa de Ouro do Sucesso, à telenovela “Dancin’ Days”, produzida pela TV Globo e transmitida no Brasil (MATTOS, 1985, p.47). ASSIMILE “A TV brasileira acompanhava, em sua teledramaturgia, a tendência mundial. Basta dizer que em muitos outros países, entre eles os Estados Unidos, o ‘live drama’ constituiu-se na antologia dos anos dourados dos canais de TV. A diferença é que lá muitos espetáculos ao vivo 6767 67 foram também registrados em películas e cuidadosamente arquivados, deixando, no seu rastro, uma vasta bibliografia do período e, no Brasil, mesmo nos anosem que os espetáculos já poderiam ser gravados em videoteipe, as fitas foram apagadas e grandes espetáculos tele teatrais, varridos da memória do público e alijados da história da nossa televisão” (BRANDÃO, 2010, p.39-40). 1.2 A TV por assinatura e o Streaming No Brasil, a TV por assinatura tem uma história recente, se comparada a outros países, como os EUA. O jornalista Maurício Araújo, estudioso sobre o tema, nos conta que Oficialmente, a história da TV paga no Brasil teve início no dia 23 de fevereiro de 1988, quando o decreto 95.744, do então presidente da república José Sarney regulamentou o chamado Serviço Especial de Televisão por Assinatura, realizado inicialmente em transmissões através da faixa UHF e via satélite. O novo serviço tornou-se realidade em 24 de março de 1989, quando o Ministério das Comunicações anunciou o resultado da concorrência para a exploração da TV paga em São Paulo (ARAÚJO, 2010, s/p). Na TV por assinatura, o assinante escolhe a programação dos canais que exibem conteúdos exclusivos para assinantes. Esse formato foi criado pela emissora norte-americana HBO, em 1972. O pagamento pela assinatura se justificava na ideia de não haver intervalos comerciais, como nas TV abertas, em que os comerciais sustentam as emissoras, patrocinando as atrações. Porém, hoje em dia, mesmo pagando, não são raros os comerciais nas emissoras de TV a cabo, o que torna essa justificativa questionável. 6868 O que mais caracteriza a TV por assinatura, hoje em dia, não é a exclusividade de conteúdo, embora ainda seja um forte argumento, mas a segmentação de interesses de assuntos. Por exemplo, há canais temáticos, como esportes ou filmes, em que o assinante tem acesso ao conteúdo que deseja, filtrado os demais tipos de produtos televisivos. Com uma grade que, com a ajuda da tecnologia contemporânea, é controlada pelo telespectador, torna a experiência de assistir televisão muito mais personalizada. Os serviços de assinatura de TV têm evoluído bastante nas últimas décadas, em especial pela concorrência dos serviços de streaming, que proporcionam ainda mais personalização de programação, estando literalmente nas mãos dos espectadores as escolhas do que e quando assistir à programação, podendo parar, retomar, rever a qualquer momento o conteúdo escolhido. Derivado do verbo stream, em inglês, ‘fluxo’, streaming é uma tecnologia que envia informações multimídia, através da transferência de dados de forma contínua, utilizando redes de computadores, especialmente a Internet, e foi criada para tornar as conexões mais rápidas. Os dados são processados de forma diferente dos dados em lote, das transmissões mais antigas e, assim, aumentam a velocidade das transmissões, permitindo que o usuário assista ao conteúdo ao mesmo tempo em que ele é “baixado”, sem necessidade de esperar o carregamento total dos dados. Há desafios com o streaming de conteúdo na Internet. Se o usuário não tiver largura de banda suficiente em sua conexão com a Internet, poderá haver paradas, atrasos ou buffer lento do conteúdo. Alguns usuários podem não conseguir transmitir determinados conteúdos devido a não terem sistemas de computador ou software compatíveis. O termo streaming foi usado pela primeira vez para unidades de fita fabricadas pela Data Electronics Inc. para se referir aos seus vídeos que permitiam acesso ao que chamou-se “sob demanda”, como também é conhecido o serviço, visto o total controle de exibição que o usuário tem sobre o conteúdo. 6969 69 A TV por streaming é uma realidade e as possibilidades trazidas pelos serviços de telefonia mobile (Figura 1) colocam literalmente nas mãos dos consumidores as escolhas do que assistir, quando e onde. A produção de conteúdo original e de qualidade vai, cada vez mais, enfrentar a questão de produzir conteúdo para veiculação em veículos cada vez menos hegemônicos, trazendo para perto dos produtores de conteúdos a necessidade e obrigatoriedade de conhecer, cada vez mais e melhor, seu telespectador. Figura 1 – Ilustração que mostra a imensa quantidade de possibilidades de programação de uma fornecedora de conteúdos sob demanda Fonte: Metamorworks/iStock.com. Alguns serviços populares de streaming incluem os sites de compartilhamento de vídeos YouTube, Twitch e Mixer, que transmitem ao vivo videogame. Netflix e Amazon Video streaming de filmes e programas de TV, e Spotify, Apple Music fluxo de música. O streaming de música é uma das formas mais populares pelas quais os consumidores interagem com a mídia de streaming. Na era da digitalização, o consumo privado de música se transformou em um bem público, em grande parte devido a um participante do mercado: o Napster. 7070 O sistema colocou em xeque diversos modelos de negócio de comercialização de música ao demonstrar o poder das redes P2P (neologismo para “person to person”, em inglês, que significa ‘de pessoa para pessoa’ ou distribuição sem intermediários) em transformar qualquer arquivo digital em um bem público e compartilhável. Isso também impactou as leis, que tiveram que ser rediscutidas, em especial sobre direitos autorais e patrimoniais, de propriedade intelectual. Transmitir conteúdo protegido por direitos autorais pode envolver a falsificação de cópias das obras em questão, mas a tecnologia que permite a transmissão em fluxo contínuo ou a visualização de conteúdo na Internet é legal, mesmo que o material seja protegido por direitos autorais. 2. Estética das novelas Já vimos que, na origem da TV brasileira, os teleteatros tiveram significativa colaboração na construção de um público de telespectadores. Junto com as notícias, os teleteatros compunham grande parte da programação. O fascínio do brasileiro pela televisão é explicado, em parte, pela simplicidade e semelhança com a vida dos telespectadores. Diferente de outras formas artísticas, na televisão e na percepção do público que visualiza as suas imagens há um só tempo, e esse é o presente. Um presente estendido que engloba o passado tornando presente e o futuro transfigurado em extensão do mesmo presente. (BARBOSA, 2010, p. 34). Isso traz identificação e proximidade ao telespectador que se identificou imediatamente, em especial com as histórias dos teleteatros, assim como já acontecia com as radionovelas. Precursores das telenovelas brasileiras, os teleteatros se caracterizavam pelo formato “unitário”, que é “um formato de programa levado ao ar uma única vez, isto é, numa única transmissão, sem diluí-la em capítulos como são as telenovelas ou as minisséries” (BRANDÃO, 2010, p.41). A cada seção, uma história é contada (ou recontada, quando novamente exibida) na íntegra. 7171 71 No formato “unitário” são estabelecidos “parâmetros de produção próprios” (BRANDÃO, 2010, p.42)”, que desenvolviam encenações únicas, assemelhadas às peças encenadas em teatros e que, por isso, “poderia ultrapassar uma hora de duração” (BRANDÃO, 2010, p. 42). Os teleteatros eram sucesso absoluto de público e se constituíram no Principal gênero dramático da televisão brasileira a que se assistiu nos anos 1950, o teleteatro foi o programa ficcional de maior prestígio junto ao público, aos profissionais da televisão e aos críticos que acompanhavam as tele peças em todos os horários e emissoras existentes naqueles primeiros anos da TV. Isso se deve, em parte, ao fato de que os principais teleteatros (“Grande Teatro Tupi”, “TV de Vanguarda”, “TV de Comédia”, “Câmera Um”) trazerem para a TV um referencial da chamada “alta cultura”, exibindo os clássicos da dramaturgia e literatura mundial e, ainda, levando à telinha os atores mais representativos do nosso teatro. Sua produção/exibição se organizou com o virtual monopólio de um grupo - a Rede Tupi de Televisão - que integrava o primeiro oligopólio da informação no Brasil, os Diários Associados, de propriedade de Assis Chateaubriand (BRANDÃO, 2010, p. 36). Os primeiros teleteatros que fizeram muito sucesso (Tabela1) chegaram a ser exibidos por anos, semanalmente contando uma nova história, em que Os telespectadores “privilegiados” com a aquisição de um aparelho de TV - sinônimo de status social - assistiam junto aos televizinhos, até a madrugada, aos teleteatros que desfilavam um repertório de autores como Shakespeare, Ibsen, Goethe, Pirandello, Strindberg, Maughan, Dostoievski, Lorca, Nelson Rodrigues, entre outros (BRANDÃO, 2010, p. 39). Tabela 1 – Primeiros teleteatros que fizeram sucesso Teleteatro Período de exibição Canal Tv de Vanguarda 1952 a 1967 (semanal) TV Tupi (SP) O Sítio do Pica-Pau Amarelo 1952 a 1963 (semanal) TV Tupi (SP) Câmera Um 1953 a 1967 (semanal) TV Tupi (RJ) Teatro Cacilda Becker 1953 a 1955 (semanal) TV Paulista e Tv Record Teledrama 1955 a 1963 (semanal) TV Paulista Fonte: BRANDÃO, Cristina. “As primeiras produções teleficcionais”. In: RIBEIRO, Ana Paula; SACRAMENTO, Igor & ROXO, Marco. (Org.) História da televisão no Brasil: do início aos dias de hoje. São Paulo: Contexto, 2010. p. 37-55. 7272 Não são poucos os estudiosos da TV brasileira que destacam a vocação para a dramaturgia da TV brasileira já nos anos iniciais de suas produções. Em seguida aos teleteatros vieram as novelas. O desafio de produzir uma peça a cada semana, mesmo se mostrando como sucesso inicial, trazia complicações de produção que tinham custos. Com a ideia de reduzir custos, e espelhados nas novelas radiofônicas, surgiu a ideia de contar no formato de novelas, as histórias dos teleteatros. Surgiu, assim, a telenovela. A primeira telenovela brasileira foi Sua Vida me Pertence, que estreou no dia 21 de dezembro de 1951 na extinta TV Tupi. Escrita, dirigida e protagonizada por Walter Foster, a novela começou a ser exibida pouco mais de um ano após a implantação da televisão no Brasil e ficou no ar até o dia 8 de fevereiro de 1952. Naquele tempo, como não existia o videoteipe para gravar imagens, todos os programas, incluindo a novela, eram encenados ao vivo. Ao todo foram 15 capítulos, exibidos às terças e quintas-feiras às 20 horas. Sua Vida me Pertence também apresentou o primeiro beijo na boca das novelas nacionais, na verdade um selinho bem-comportado entre Foster e a atriz Vida Alves. O enredo girava em torno do despertar da paixão de um homem mais velho (Foster) por uma jovem garota (Vida). O ator Lima Duarte também fazia parte do elenco. (MUNDO ESTRANHO, 2001, s/p). Sua Vida me Pertence não só foi a primeira novela brasileira, como a primeira telenovela do mundo, nesse formato (MUNDO ESTRANHO, 2001, s/p) e ainda guarda outra marca histórica: nela aconteceu o primeiro beijo da televisão brasileira. No último capítulo da novela, os protagonistas, vividos pelos atores Vida Alves e Walter Foster, trocaram um rápido ’selinho’, mas o fato ficou marcado quase como um escândalo de ousadia. A atriz Vida Alves, que era avó da cantora brasileira Tiê, morreu em 2017, aos 88 anos. Até o fim de sua vida ficou marcada pela ousadia da cena histórica. Também foi dela outra cena historicamente ousada. Junto com 7373 73 Geórgia Gomide também foi a protagonista do primeiro beijo gay da TV brasileira, no teleteatro “Calúnia”, no início da década de 1960. Como os teleteatros eram ao vivo e sem registro do videoteipe, a cena era relatada boca a boca entre atores, e sempre foi confirmada pelas duas atrizes. Mesmo com a comparação às “soap operas” norte americanas (termo que teve origem em dramas de rádio patrocinados por fabricantes de sabão nos EUA, nos anos de 1950), as telenovelas se diferenciam dessas pela forma de seriação. Enquanto as “soap opera” são exibidas em episódios, com começo, meio e fim de cada história contada, por episódio, as telenovelas são exibidas em capítulos, como as novelas literárias, que também são fontes de inspiração das radionovelas. O formato diário de exibição de capítulos só apareceu em 1963, como vemos a seguir. Já a primeira novela exibida diariamente no Brasil foi produzida pela TV Excelsior em 1963. 2-5499 Ocupado foi ao ar em julho daquele ano, sendo inicialmente transmitida às segundas, quartas e sextas-feiras. Em setembro, a história sobre o amor impossível entre uma detenta que trabalhava como telefonista num presídio e um homem que liga para lá por engano passou a ser exibida diariamente. Escrita por Dulce Santucci, 2-5499 Ocupado reuniu pela primeira vez o casal romântico Glória Menezes e Tarcísio Meira. (MUNDO ESTRANHO, 2001, s/p). 3. Quem é o público consumidor de novelas? As telenovelas brasileiras são famosas quase no mundo todo, por meio de comercialização direta das obras. Avenida Brasil, produção de 2012 da Rede Globo, é a novela mais vendida para o exterior, e já foi exibida em 130 países, levando a cultura brasileira para todo o mundo. O Brasil coleciona 12 indicações na categoria de telenovela no International Emmy Awards, das quais 6 foram vencedoras. 7474 Os temas das produções são variados, muitas vezes literários, e noutras, espelham a cultura brasileira em suas produções, além de trazerem ao debate público, temas polêmicos e atuais. Se hoje e nas telenovelas ou minisséries que encontramos a linguagem e o padrão de qualidade, tão procurados no universo ficcional da TV, não há dúvida de que o teleteatro, nas duas primeiras décadas de instalação da TV brasileira, foi o desbravador do desconhecido terreno da linguagem televisiva. (BRANDÃO, 2010, p. 41). Os enredos das novelas são executados ao mesmo tempo, cruzam- se e levam a novos desenvolvimentos. Um capítulo individual de uma novela geralmente alterna entre vários tópicos narrativos simultâneos, diferentes, que às vezes podem interconectar-se e afetar-se mutuamente ou podem ser totalmente independentes um do outro. São chamadas de “obras abertas”, pois os autores iniciam o trabalho apresentando uma trama que pode se desenrolar dentro de algumas possibilidades, que são definidas ao longo do desenvolvimento da trama, contando, inclusive, com a participação do público, direta ou indiretamente (por meio de pesquisas de opinião). O público que assiste novelas é bastante variado. Senso comum, considera-se que o gênero de teledramaturgia seja predominantemente assistido por mulheres na faixa de idade adulta, mas ainda produtiva. Os dados da pesquisa que o jornalista Ricardo Feltrin, colunista da revista ‘TV e Famosos’ (2018) divulgou, baseado num estudo junto aos dados consolidados da Kantar Ibope Media para saber o perfil de quem assistia às três novelas em cartaz na TV aberta em agosto de 2018, da Globo, Record e SBT, mostra que isso está perto da verdade. Os resultados são interessantes. 7575 75 Tabela 2 – Perfil do público de novelas da TV aberta, agosto de 2018 “Segundo Sol”, da Globo. “Jesus”, da Record. “As Aventuras de Poliana”, do SBT.1 Gênero 62% mulheres X 38% homens. 57% mulheres X 43% de homens . 66% mulheres e meninas X 34% de homens e meninos. Idade 27% do público está na faixa etária entre 35 e 49 anos; 18% tem de 50 a 59 anos, e 24% tem 60 anos ou mais. 25% têm idade entre 35 a 49 anos; 25%, 60 anos ou mais; 19% tem de 50 a 59 anos. 17% têm de 4 a 11 anos 12% tem de 12 a 17 anos; 8%, de 18 a 24 anos; 14% vai de 25 a 34 anos; 21% de 25 a 49 anos; 11% tem de 50 a 59 anos; e 16% tem 60 anos ou mais. Classe Social 33% são das classes AB; 30% da classe C1, e 26% da classe C2; 12% pertencem às classes D e E. 32% pertencem à classe AB; 24% são da chamada classe C1; 30% da classe C2 e 14% da classe DE. 19% de quem vê “Poliana” são das classes AB; 26% são classe C1; 35% --o maior público--, da classe C2; e 20% da classe D e E. 1 A Novela do SBT tem forte apelo infantil, assim, a classificação etária é mais abrangente. Fonte: Tabela feita pela autora, com dados da pesquisa Kantar Ibope Media divulgados na Revista TV e Famosos. 25 ago.2018. 4. Considerações finais • Nesta aula vimos um pouco da história da TV no Brasil, suas características e destaques. Alémde conhecer os aspectos históricos, também falamos sobre as atuais tendências do mercado de audiovisual no Brasil, em especial sobre as possibilidades do streaming como suporte de uma TV cada vez mais personalizada. • As novelas, tão presentes na cultura brasileira, exercem grande influência na sociedade, seja na maneira de se vestir, no jeito de abordar um assunto e até mesmo na forma de pensar. Criam e disseminam modas, expressões e alteram comportamento, quando, por exemplo, os telespectadores se identificam com algum personagem e acabam tentando adotar os estilos parecidos em sua vida. A cada nova novela personagens e tramas mudam, 7676 e os assuntos abordados também, assim, a sociedade vai respondendo a este estímulo produzido diariamente. Às vezes de forma positiva, noutras, negativa, rejeitando um conceito ou proposta, demonstrando sua insatisfação e até mesmo imaturidade para lidar com a questão naquele momento. TEORIA EM PRÁTICA Um programa de TV pode ser classificado como educativo, sem que necessariamente tenha sido feito com esse fim. A qualidade educativa de uma produção diz respeito ao seu conteúdo e à sua forma. Uma animação pode ser educativa, e um filme também, assim como uma novela, ou qualquer peça da teledramaturgia. Em que aspectos a televisão brasileira contribui para a educação e para a educação das pessoas? Como a televisão poderia contribuir de maneira mais efetiva para elevar o nível educacional e cultural da população? Vamos pensar em possíveis soluções, mas que sejam possíveis aos indivíduos, e não somente às políticas públicas de comunicação. Plagiando o poeta, a TV não muda o mundo. A TV pode mudar as pessoas, e pessoas mudam o mundo. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A primeira emissora de TV do Brasil foi: a. Rede Tupi. b. TV Globo. c. Rede Bandeirantes. 7777 77 d. TV Tupi. e. Rede Globo. 2. As telenovelas brasileiras são famosas quase no mundo todo... a. porque o idioma português é o mais falado no mundo. b. por meio de comercialização direta das obras. c. porque trazem artistas novos e bonitos no elenco. d. importando a cultura estrangeira para o Brasil. e. porque ganharam 6 prêmios Oscar. 3. Qual a diferença entre telenovela e ‘soap opera’? a. As “soap opera” são exibidas diariamente e por temporadas, as telenovelas são exibidas semanalmente, em capítulos. b. As “soap opera” são exibidas semanalmente e por temporadas, as telenovelas são exibidas diariamente, em episódios. c. Não há diferenças, ‘soap opera’ e telenovelas são o mesmo tipo de teledramaturgia. d. As telenovelas são exibidas em episódios, com começo, meio e fim de cada história contada, por episódio, as ‘soap opera’ são exibidas em capítulos. e. As “soap opera” são exibidas em episódios, com começo, meio e fim de cada história contada, por episódio, as telenovelas são exibidas em capítulos. 7878 Referências bibliográficas ARAÚJO, Mauricio. O Início da TV por Assinatura no Brasil. In: TV Magazine. 12 dez. 2010. Disponível em: https://www.tvmagazine.com.br/noticias/o-inicio-da-tv-por- assinatura-no-brasil,8521. Acesso em: 26 maio 2019. BARBOSA, Marinalva Carlo. Imaginação televisual e os primórdios da TV no Brasil. In: RIBEIRO, Ana Paula; SACRAMENTO, Igor & ROXO, Marco. (Org.) História da televisão no Brasil: do início aos dias de hoje. São Paulo: Contexto, 2010, p.15-35. BRANDÃO, Cristina. As primeiras produções teleficcionais. In: RIBEIRO, Ana Paula; SACRAMENTO, Igor & ROXO, Marco. (Org.) História da televisão no Brasil: do início aos dias de hoje. São Paulo: Contexto, 2010, p. 37-55. FELTRIN, Ricardo. Veja o perfil de quem assiste a novelas da Globo, SBT e Record. In: TV e Famosos. 25 ago. 2018. 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Quando, “às sete em ponto” (MORAIS, 1994, p. 364), o radialista Walter Forster “esperava a luz vermelha da câmera se acender para pronunciar uma breve mensagem: Está no ar a PRF-3-Tv Tupi de São Paulo, a primeira estação de televisão da América Latina”, deu-se o início oficial história da TV no Brasil. Questão 2 – Resposta: B As telenovelas brasileiras são famosas quase no mundo todo, por meio de comercialização direta das obras. Avenida Brasil, produção de 2012 da Rede Globo, é a novela mais vendida para o exterior, e já foi exibida em 130 países, levando a cultura brasileira para todo o mundo. O Brasil coleciona 12 indicações na categoria de telenovela no International Emmy Awards, das quais 6 foram vencedoras. Questão 3 – Resposta: E Enquanto as “soap opera” são exibidas em episódios, com começo, meio e fim de cada história contada, por episódio, as telenovelas são exibidas em capítulos, como as novelas literárias, que também são fontes de inspiraçãodas radionovelas. 808080 Filmes clássicos: estéticas da linguagem audiovisual Autora: Jurema L. F. Sampaio Objetivos • Analisar a estética de filmes clássicos. • Observar a linguagem audiovisual empregada nas produções. • Conhecer obras de grande relevância para estudos da história do cinema. 8181 81 1. O cinema mudou o mundo e o mundo mudou o cinema Nesta aula vamos conhecer e analisar um pouco da estética dos filmes clássicos. Ao observar a linguagem audiovisual empregada nesses filmes, compreendemos o motivo pelos quais se tornaram clássicos e passaram a servir de referência para as produções que vieram depois deles. Conhecer ao menos um pouco da história do cinema e de como este se constituiu como uma linguagem artística, ajuda a compreender o modo como os filmes foram e são desenvolvidos, e suas variadas formas de expressão estética. Em 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière fazem a primeira exibição pública de seu invento, o cinematógrafo. Por cerca de vinte minutos, as pessoas presentes se encantaram com o aparelho, assistindo a imagens de empregados saindo das Fábrica Lumière e da chegada de um trem a uma estação, como contam diversos historiadores. Este fato marca a invenção do cinema. O impacto no mundo das artes foi tamanho que [...] logo, os críticos passaram a considerá-lo um tipo mais recente de arte. No século XX, Ricciotto Canudo, intelectual italiano radicado na França, escreveu o Manifesto das Sete Artes. “Nele, Canudo define o cinema como a sétima arte por ser a arte plástica em movimento, aquela que consegue congregar todas as outras em uma só”, diz Ana Maria Giannasi, professora do curso de audiovisual do Senac São Paulo (GIANNASI apud LOPES, 2013, s/p). ASSIMILE Sétima Arte é como o cinema é chamado. Quais são as outras seis? “São a música, a dança, a pintura, a escultura, a arquitetura e a poesia. Essa definição começou a tomar forma na 8282 Europa durante o século XVIII, quando surgiu o conceito de belas-artes – artes preocupadas com a criação do belo, sem utilidade prática, a não ser representar a própria beleza”. LOPES, Noêmia. Se o cinema é a sétima arte, quais são as outras?. In: Revista Superinteressante, 24 maio 2013. MUNDOESTRANHO-134-55-B-620. Por sua natureza, ora de entretenimento, ora de comunicação, outras vezes, ainda, de expressão artística, não nos parece realmente certo afirmar que o cinema seja pertencente à categoria das “Belas Artes”, visto que assume funções outras além da representação do belo, como o termo define. Mas certamente é uma forma contundente de expressão estética que, se analisado frente aos conceitos mais contemporâneos, pode ser definido como arte. Já em 1900 há a primeira versão para o cinema do romance de William Shakespeare, “Romeu e Julieta”, e uma imensa quantidade de produções sucederam, numa velocidade assombrosa, durante o século XX, também chamado de século das comunicações. De certa forma, o cinema vem de uma espécie de ‘evolução’ do teatro, na realidade, a possibilidade de registrar o que era encenado pelos atores foi a base dos primeiros filmes que se tem registro. Assim, a maioria dos filmes era feita para que fosse assistida por um público que estaria sentado confortavelmente em suas poltronas, como no teatro, vendo o desenrolar da trama na sua frente. Desse modo, as primeiras formas de enquadramento foram também reflexo dessa “passividade” dos espectadores. Ou seja, a câmera fazia o “papel”, como se fosse o espectador propriamente dito. Estática sobre um tripé também estático. Atores se movimentavam e não a câmera. Do mesmo modo, a edição dos primeiros filmes era sempre linear, cronologicamente montada, de modo a contar histórias com “começo”, “meio” e “fim”, exatamente na ordem temporal que os fatos aconteciam. 8383 83 As inovações surgiram muito mais por criatividade dos realizadores, que decidiram, em dado momento, experimentar coisas novas, do que por alguma limitação tecnológica. O enquadramento do tipo “Point of View” (ponto de vista), em “primeira pessoa”, ou seja, como se a câmera estivesse ainda nos olhos do público, - mas este participa da cena, e não fica somente a assistindo -, foi uma imensa inovação na linguagem cinematográfica, trazendo intensidade dramática às cenas memoráveis do cinema, como o ataque no banho, em Psicose, de Alfred Hitchcock. ASSIMILE Uma injustiça histórica: Dentre as técnicas mais copiadas de Alfred Hitchcock, estão, além da câmera em primeira pessoa, o uso de sombras para gerar ansiedade e apreensão no espectador e, principalmente, o uso intenso da trilha-sonora para incentivar e construir o “clima” das sensações, em especial as de tensão. Apesar de ser considerado um gênio como diretor, ele jamais ganhou um Oscar de melhor diretor, nem nenhum dos grandes prêmios do mundo do cinema, pela direção de um filme. Cannes, Veneza, Globo de Ouro ou Bafta jamais reconheceram seu trabalho. Numa visão panorâmica da construção da linguagem cinematográfica e sua consolidação como arte, vamos partir de uma lista de 12 filmes, que são considerados pela crítica especializada como clássicos, e que de alguma forma contribuíram para a construção da estética do cinema. Vamos conhecer os motivos por que foram e são destaques até os dias atuais. 8484 É natural que, para cada pessoa que construa qualquer lista de “os X mais”, em relação a filmes, essa lista incluirá preferências pessoais. Na presente lista, para além de gostos pessoais, o que nos guia é a ideia da promoção de uma visão estética abrangente sobre os filmes que, de forma surpreendente, inovadora e criativa, “mudaram” o cinema por algum motivo. De outro modo, seja por inovação técnica ou de linguagem, esses filmes trouxeram imensas contribuições ao cinema como um todo, configurando-o como arte. Na nossa lista de filmes que mudaram o mundo do cinema temos alguns inesquecíveis, outros, complexos ou polêmicos, mas todos eles marcaram época e a história do cinema ao trazerem para a ‘telona’ uma estética específica, um estilo, novas ideias ou um gênero em especial, e contribuíram para construir sonhos e imagens mentais, estéticas e conceitos. 1. E o vento levou... (1939). 2. Cidadão Kane (1941). 3. O crepúsculo dos deuses (1950). 4. 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968). 5. Laranja Mecânica (1971). 6. O Poderoso Chefão (1972). 7. Star Wars (1977). 8. Apocalypse Now (1979). 9. Blade Runner (1982). 10. Pulp Fiction (1994). 11. Matrix (1999). 12. Avatar (2009). 8585 85 Vamos aos filmes! 1.1 E o vento levou... (1939). Diretores: Victor Fleming, com colaboração de George Cukor e Sam Wood. Em 1939, a estrutura e a linguagem narrativa do cinema já estavam definidas. O som já estava presente nos filmes há mais de uma década e alguns filmes já eram coloridos. Com todo esse avanço tecnológico na indústria cinematográfica, os estúdios da Metro-Goldwyn-Mayer investiram muito nesse projeto. É o clássico dos clássicos, ganhador de 10 Oscars, é uma superprodução que se mantém, ainda hoje, como o filme mais assistido de todos os tempos. Foi uma das primeiras produções em cores no mundo, com seu magnífico Tecnicolor, e a memorável trilha sonora de Max Steiner. É a síntese estética do que de melhor foi feito na Era de Ouro de Hollywood. A tríplice direção é apontada pela crítica como perceptível em alguns momentos quando podem ser percebidas as diferenças de estilos. Adaptado do romance de mesmo nome, escrito em 1936 por Margaret Mitchell, é um romance histórico épico norte-americano que tem como pano de fundo da Guerra Civil Americana, a conhecida “Guerra da Secessão”. Pioneiro de um estilo de filmes em que acontecimentos marcantes da história mundial são tratados como pano de fundo de grandes histórias de amor que “não dão certo”, como em “Doutor Jivago” (1965), que se passa durante a Revolução Russa e que tem na morte do protagonista o fim do romance; e “Titanic” (1997), em que o casal central enfrentaa grande tragédia do célebre naufrágio, que os separa definitivamente com a morte de Jack; em “E o Vento Levou”, Scarlett O’Hara (interpretada por Vivien Leigh) e Rhett Butler (papel do galã Clark Gable) se enfrentam e se desentendem boa parte do filme. Até mesmo na cena final, antológica, após Scarlett finalmente dizer que o ama e implorar que fique, dizendo que não sabe o que vai fazer sem ele, Rhett Butler a abandona, com a mais famosa frase de todos os tempos: “Francamente, minha querida, eu não dou a mínima”. 8686 Figura 1 – Reprodução de ilustração do pôster do filme “E o vento levou” Fonte: Traveler1116/iStock.com. 1.2 Cidadão Kane (1941) Diretor: Orson Welles. Produtor, corroteirista, diretor e estrela, Orson Welles realizou o filme quase biográfico sobre a vida de Charles Foster Kane, personagem baseado em parte nos magnatas norte-americanos William Randolph Hearst e Joseph Pulitzer. O filme foi indicado para o Oscar em nove categorias e considerado por muitos críticos, cineastas e fãs, como o maior filme já feito. Cidadão Kane é particularmente elogiado pela cinematografia, edição, música e estrutura narrativa, todas consideradas inovadoras e definidoras de precedentes. Apesar do sucesso frente a crítica, a produção não conseguiu recuperar seus custos nas bilheterias. 1.3 O Crepúsculo dos Deuses (1950) Diretor: Billy Wilder. No original, em inglês, chama-se “Sunset Boulevard”. É um filme do gênero “noir”. Esse termo cinematográfico é usado principalmente para 8787 87 descrever dramas de crimes estilosos de Hollywood, particularmente aqueles que enfatizam atitudes cínicas e motivações sexuais. O período clássico do cinema noir de Hollywood é do início dos anos 1920 até o final dos anos 1950. O filme noir dessa época está associado a um estilo de visual discreto, geralmente em preto e branco, que tem raízes na cinematografia expressionista alemã. Muitas das histórias prototípicas e muito da atitude do noir clássico derivam da escola hard boiled de ficção de crime que surgiu nos Estados Unidos durante a Grande Depressão. Crepúsculo dos Deuses foi dirigido e coescrito por Billy Wilder, e coproduzido e coescrito por Charles Brackett. Aclamado por vários críticos na época em que foi lançado, foi indicado para onze Oscars, tendo recebido três. É considerado como um dos filmes mais notáveis do cinema americano. No início, uma voz em ‘off’ começa a narrar a história, que se desenrola com todo o ‘climão’ dos filmes da estética ‘noir’. A voz é justamente do morto que vai nos contar como o crime ocorreu. “Sunset Boulevard” (título original) é o mesmo nome de uma rua, que atravessa toda Los Angeles e Beverly Hills, na Califórnia, geralmente associada ao luxo e à riqueza, mas a primeira cena do filme, um close da Sunset Boulevard numa entrada de esgoto, literalmente. Crepúsculo dos Deuses tem seu lugar na história como um dos melhores filmes de todos os tempos pela construção da metáfora visual que se refere à decadência de costumes no meio cinematográfico, transformando o filme numa dura crítica aos costumes da época e daquela comunidade, apontando para a real necessidade de saber administrar emocionalmente a fama, em especial, a perda dela. Apesar do tempo passado, a crítica cabe bem aos dias atuais, à sociedade de celebridades, no sentido de alerta, para a percepção de que após os 15 minutos de fama, como afirmou certa vez o cineasta e pintor americano Andy Warhol, tudo pode se perder. 8888 1.4 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968) Diretor: Stanley Kubrick. Em 1968, o filme de Stanley Kubrick revolucionou o cinema de ficção cientifica usando técnicas de filmagem e efeitos especiais nunca antes vistos em nenhuma outra produção. Suas técnicas, como a grande ênfase no visual, poucos diálogos, som como narrativa, imagens ambíguas próximas ao surrealismo, criaram novas formas de contar uma história e serviram de inspiração, e algumas foram mesmo copiadas e repetidas em outros filmes e franquias de ficção cientifica, como Star Wars e Star Trek, tornando-se referências no gênero. O filme tem uma trilha sonora inesquecível, marcada pelo contraste de valsas, como Danúbio Azul, de Johann Strauss II, e o clássico poema sinfônico de Richard Strauss, Also sprach Zarathustra, “para mostrar a evolução filosófica do Homem, teorizado no trabalho de Friedrich Nietzsche de mesmo nome” (HUGES, 2000, p.135). 1.5 Laranja Mecânica (1971). Diretor: Stanley Kubrick. O nome original é “A Clockwork Orange”. É um filme de ficção ambientado em um futuro distópico, sobre violência e crimes, baseado no romance de mesmo nome, de Anthony Burgess. A trilha sonora do filme conta com uma primorosa seleção de música clássica, somadas às composições autorais com sintetizador eletrônico. Laranja Mecânica impressiona por sua linguagem direta e estética agressiva, que foi repetidamente rejeitada pela crítica por, segundo eles próprios, fazer apologia à violência. Mas o filme mostra tudo de maneira tão fortemente literal, justamente porque sua profundidade está na instigação de questões acerca das deduções que a sociedade faz sobre a violência mostrada de maneira tão clara, e não na violência 8989 89 em si. O diretor faz uso de imagens fortes de violência, que chegam a ser perturbadoras para tratar de temas difíceis como a própria violência da delinquência juvenil, ação de gangues e outros assuntos sociais, mas numa distópica Inglaterra de um futuro próximo, propondo uma tentativa de interromper a violência promovida pelos jovens delinquentes, também uma forma de violência. O filme de Kubrick segue a mesma linha de violência explícita apresentada no romance de Burgess, em que a questão central do filme (como em muitos dos livros de Burgess), é a definição moral de “bondade” e o questionamento do sentido de usar terapia psicológica para cessar o comportamento violento. Ao longo de décadas o filme Laranja Mecânica tem servido de influência em diversos campos das artes com o icônico pôster de divulgação, que foi criado por Philip Castle, com o layout desenvolvido pelo designer Bill Gold, sendo elevado à condição de objeto de arte. 1.6 O Poderoso Chefão (1972) Diretor: Francis Ford Coppola. O Poderoso Chefão é considerado um dos mais importantes da história do cinema e um dos melhores, de todos os tempos, pela crítica especializada. Isso porque inovou na forma de fazer filmes sobre mafiosos e, abandonando a estética “noir”, até então usada para tratar o tema, trazendo “glamour” e sofisticação ao tratar as personagens. Diálogos inteligentes, humor e certo cinismo nas falas, características tão presentes nos personagens dirigidos por Coppola, que também escreveu o roteiro junto com Mario Puzo, fazem do mafioso Don Corleone quase um “galã”, certamente, um mito e são, ainda hoje, encontrados como referências ao filme em diversos trabalhos cinematográficos e em séries. A fotografia é perfeita e a trilha sonora é das que não se esquece nunca mais. 9090 O estilo inconfundível e genial de Coppola também pode ser observado em outros dos grandes filmes do século XX, como Apocalypse Now e Drácula, de Bram Stoker, entre outros. O diretor e produtor já foi indicado 14 vezes ao Oscar e venceu por 5 vezes. 1.7 Star Wars (1977) Diretor: George Lucas. Star Wars marcou uma época e uma geração. Ou gerações, como dizem os especialistas e estudiosos em cultura “nerd”. O sucesso do filme foi imenso e mudou a forma de se fazer filmes de ficção cientificas. Os efeitos especiais, que hoje parecem até mesmo simples e “toscos” para uma geração acostumada às maravilhas tecnológicas, foram, nos anos 1970, inovadores ao extremo. As guerras espaciais do filme foram consideradas um marco para o cinema, pois nunca haviam sido usadas técnicas sequer semelhantes, muito menos uma linguagem tão inovadora. Mesmo com alguns questionamentos sobre o comportamento do fogo e do som no espaço, que estariam em oposição aos conhecimentos científicosvigentes, o efeito estético foi realmente inovador e sensacional. Figura 2 – Personagens de Star Wars, incluindo Darth Vader, os Stormtroopers, Chewbacca e Jawas, numa feira Comic Con, em Doncaster, Inglaterra Fonte: Teamjackson/iStock.com. 9191 91 1.8 Apocalypse Now (1979) Diretor: Francis Ford Coppola. Outro dos trabalhos de Coppola, em que a música The End, do The Doors, tocando, mais o barulho dos helicópteros e do ventilador do quarto com um Martin Sheen completamente possuído no meio de tudo isso abre o filme de forma surpreendente, é Apocalypse Now. A sequência de ataque dos helicópteros ao som de “A Cavalgada das Valquírias” é um dos momentos de genial equilíbrio estético entre música e imagem neste filme que a crítica considera o melhor filme de guerra já feito em toda a história do cinema. Há duas versões dele, a primeira é a melhor delas, a Redux deixa desejar, e as inclusões feitas nela são de qualidade inferior ao filme original. A ácida e crítica frase do personagem ‘Coronel “surfista” Kilgore’ (interpretado por Robert Duvall), que diz “adoro o cheiro de napalm pela manhã” entrou para as eternas citações do cinema, sendo referenciada em diversos outros filmes, em momentos de indisfarçável cinismo. Ganhou sete prêmios internacionais, dentre eles, a Palma de Ouro, no Festival de Cannes de 1979. Levou os prêmios de melhor fotografia e melhor som no Oscar de 1980, quando foi indicado também para direção de arte, ator coadjuvante, diretor e edição, além de melhor filme - drama. No Globo de Ouro, de 1980, ganhou nas categorias de diretor, ator coadjuvante, argumento original. No Prêmio David di Donatello, de 1980, na Itália, venceu na categoria de “Melhor diretor - filme estrangeiro”. É considerado, até hoje, “culturalmente, historicamente e esteticamente significante” (COWIE, 1990, p.132) pelo National Film Registry, pela crítica contundente à Guerra do Vietña. 1.9 Blade Runner (1982) Diretor: Ridley Scott. Blade Runner é considerado pela crítica especializada uma “obra-prima” da cultura Cyberpunk. É um filme de ficção científica neo-noir, gênero totalmente inovador na época de seu lançamento, ambientado em 9292 um futuro distópico de uma Los Angeles de 2019, na qual humanos sintéticos são bioprojetados para trabalhar em colônias fora da Terra. Quando foi lançado teve um desempenho ruim nos cinemas e uma imensa polarização da crítica. Enquanto alguns elogiaram sua complexidade temática e visual, outros apontavam um ritmo lento de narrativa e falta de ação como pontos fracos. Posteriormente foi aclamado como filme cult e considerado um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos. Revolucionou a forma de filmar e usar efeitos especiais não computadorizados. Seu design de produção se propunha a retratar um futuro “modernizado” (para a época), resultando numa estética que influenciou muitos filmes de ficção científica, videogames, animes e séries de televisão. A trilha sonora, composta por Vangelis, é inesquecível e fantástica. 1.10 Pulp Fiction (1994) Diretor: Quentin Tarantino. Tarantino é um diretor conhecido por muitos filmes de sucesso, mas Pulp Fiction, que também escreveu além de dirigir, é definitivamente um dos seus mais icônicos trabalhos. Com diálogos marcantes e cenas inesquecíveis, o filme trouxe uma linguagem ágil, forte e não-linear para o cinema, ao contar, entremeadamente, várias histórias distintas, ao mesmo tempo autônomas e entrelaçadas, uma característica marcante das obras do diretor. O autor/diretor inova ao usar recursos comuns da linguagem cinematográfica de maneira surpreendente: Recursos de flashback e flash forward não são nada novos em narrativas cinematográficas, mas seu uso em Pulp Fiction deixa os espectadores desnorteados com os ladrões que somem após a sequência de abertura, os personagens que morrem e reaparecem etc. Lendo o roteiro, fica claro que isso foi planejado desde sua redação. Ainda assim, podemos remontar o filme em grandes blocos, como se estivéssemos em um processador de textos. (TIETZMANN, 1997, p. 127). 9393 93 Pulp Fiction venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1994 e foi um grande sucesso comercial, além da crítica, que o considera a obra-prima de Tarantino, com elogios especiais por seu roteiro. A autorreflexividade, estrutura não convencional, extensa homenagem e pastiche levaram os críticos a descrevê-lo como um marco cultural pós- moderno, influenciando filmes e outras mídias que adotaram elementos de seu estilo e de sua estética. 1.11 Matrix (1999) Diretores: Lana (Larry) e Lilly (Andy) Wachowski. Matrix revolucionou o cinema com uma técnica inovadora de filmagem, criada especialmente para o filme (e usada, posteriormente nas sequências), chamada de “Bullet-time”. Nessa técnica, trabalhada essencialmente por computadores, o objeto filmado tem sua velocidade drasticamente reduzida para ênfase dramática. Outra técnica que marcou a estética do filme foi a de usar várias câmeras estrategicamente posicionadas ao redor dos objetos que faziam centenas de fotos por segundo, fornecendo material para a edição trabalhar em modo de câmera super lenta, além de possibilitar o “congelamento” total das imagens na montagem. Essa inovação criou cenas memoráveis, repletas de carga dramática tão intensa que construiu uma nova estética visual: o “efeito Matrix”, nas cenas. 1.12 Avatar (2009) Diretor: James Cameron. Filme de ficção científica ambientada em meados do século XXII, escrito pelo próprio Cameron em 1994, as filmagens deveriam ocorrer após a conclusão de outro filme do diretor: Titanic, de 1997. Porém, segundo o próprio diretor, que declarou em diversas entrevistas na época, a tecnologia necessária ainda não estava disponível para alcançar sua visão do filme. Dessa forma, James Cameron aguardou até 2009 para realizar seus sonhos cinematográficos. 9494 Avatar estreou em dezembro de 2009, com os críticos se desmanchando em elogios aos seus efeitos visuais inovadores, quebrando vários recordes de bilheteria e se tornando o filme de maior bilheteria de todos os tempos, superando mesmo Titanic, do próprio Cameron, que vinha mantendo esses registros por doze anos. Foi o primeiro filme a arrecadar mais de 2 bilhões de dólares de bilheteria. Indicado para nove Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, ganhou três: Direção de Arte, Fotografia e Efeitos Visuais. Embora Avatar não tenha sido o primeiro filme a ser feito em formato 3D, a maneira como o recurso foi utilizado jamais havia sido feito antes. Além disso, a fotografia e os efeitos utilizados surpreenderam a todos, assistindo ao filme fica difícil diferenciar ficção da realidade, levando o público a uma experiência estético sensorial única. Figura 3 – Embalagem do DVD de Avatar Fonte: ABDESIGN/iStock.com. 9595 95 PARA SABER MAIS Poderíamos fazer uma lista com 25, 50, 100 filmes! A produção cinematográfica do século XX certamente é imensa e conta com uma infinidade de modos de análise. Cada um dos filmes que traz uma nova ideia, um novo aspecto, uma nova leitura do mundo, seja na forma que aborda um tema ou como inova ao contar uma história, contribuiu de forma significativa para a construção do cinema, mas creio que esses, aqui apresentados, são suficientes para ajudar a começar a construir um bom repertório estético na linguagem audiovisual cinematográfica. Se não viu ainda algum deles, corra para assistir! Os serviços de streaming oferecem vários deles em seus catálogos. Escolha seus preferidos, construa suas análises e faça você mesmo sua lista dos “X melhores filmes”, que tal? É fato que abordamos neste conteúdo 12 filmes comerciais, que entraram no circuito “blockbusters”, ou “arrasa quarteirão”, movimentando milhares de dólares e um verdadeiro batalhão de pessoas que os assistiram. Se formos nos dedicar a estudar cada tipo de possíveis estéticas cinematográficas, teríamos que nos debruçar sobre o cinema italiano,o conteúdo deste livro. Vai valer a pena! GOMBRICH, E.H. A História da Arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2000. ASSIMILE Se aceitarmos o significado de arte em função de atividades tais como a edificação de templos e casas, realização de pinturas e esculturas, ou tessitura de padrões, nenhum povo existe no mundo sem arte. Se, por outro lado, entendermos por arte alguma espécie de belo artigo de luxo, algo para nos deleitar em museus e exposições, ou certa coisa especial para usar como preciosa decoração na sala de honra, cumpre-nos entender que esse uso da palavra constitui um desenvolvimento muito recente e que muitos dos maiores construtores, pintores ou escultores do passado nunca sonharam sequer com ele (GOMBRICH, 2000, p.14). Pré-História A arte da pré-história, também chamada de Arte Primitiva, é como chamamos os registros arqueológicos encontrados em pesquisas, em especial aos referentes ao período Neolítico. Os objetos como 1010 esculturas não eram considerados como arte, não no mesmo sentido que consideramos o que é a arte atualmente. Acredita-se que as imagens rupestres, por exemplo, teriam função ritualística, ou seja, eram realizadas para servir às crenças do “pensamento mágico”. Segundo Lucien Lévy-Bruhl (1922), essas sociedades tinham o que chamou de uma mentalidade “pré-lógica”, baseada em representações míticas do pensamento mágico, o que teria levado o homem pré- histórico à criação de imagens em rituais para controlar as forças da natureza. Ou seja, a representação da vitória na luta com um bisão, por exemplo, influenciaria no sucesso da caçada desse animal. A arte primitiva não visava o belo, conceito que só veio a surgir na antiguidade clássica, com os gregos, nem aspectos decorativos. Os povos primitivos não faziam distinção entre imagem e realidade e, portanto, também não faz sentido avaliar as manifestações primitivas com relação às técnicas de representação, pois as imagens não tinham função de expressar realidade, mas sim de representar uma ideia, ou um fim religioso, sejam pinturas, esculturas, objetos, máscaras ou monumentos megalíticos. 2. Arte Egípcia Falar de Arte Egípcia nos faz lembrar, imediatamente, as imagens das pirâmides e da esfinge. Está estreitamente relacionada à religião e, embora essa arquitetura seja frequentemente associada à ideia de monumentos, sabe-se que por mais recursos que o Egito contasse, por mais poder econômico que tivessem os faraós, os custos de construção das pirâmides, financeiros e humanos, eram demasiadamente altos para se justificarem em um “mero monumento” (GOMBRICH, 2000, p. 24). 1111 11 Com as representações das imagens de seus faraós, nas pinturas e baixos-relevos, sendo apresentadas sempre numa mesma representação do corpo (com as figuras humanas sempre retratadas de perfil e com os olhos, ombros e o tronco voltados para frente), criaram o que se convencionou chamar de Lei da Frontalidade, que valoriza cada elemento do corpo humano. Pernas, pés e rostos são desenhados em perfil, para serem exibidos a maioria de seus detalhes, mas o peito é sempre representado de frente. Os olhos também são sempre representados de frente, por acreditarem que dessa forma se mostram mais característicos e reveladores. A escultura egípcia também se desenvolveu apresentando características bastante particulares e se caracterizavam por reunir e apresentar uma quantidade significativa de informações de caráter social, profissional e étnico da pessoa representada. No governo de Tutancâmon (o jovem faraó coroado com apenas 9 anos, que reinou por aproximadamente 10 anos), a arte egípcia passou a exibir uma evidente conotação política, além da religiosa, passando a usar os espaços mortuários para também exibir o registro dos grandes feitos dos faraós sepultados. O arqueólogo e egiptólogo egípcio Zahi Hawass conta que a tumba, descoberta em 1922, “ainda continha peças de ouro, tecidos, mobília, armas e textos sagrados que revelam muito sobre o Egito de 3400 anos atrás” (HAWASS, 2010, p. 46). A máscara mortuária desse faraó (Figura 2), descoberta pelo arqueólogo Howard Carter, em 1925, que atualmente está exposta no Museu Egípcio no Cairo, de acordo com o egiptólogo Nicholas Reeves, “é uma das mais conhecidas obras de arte do mundo” [...],”não só por excelência do túmulo de Tutancâmon, mas talvez seja o objeto mais conhecido do próprio Egito Antigo” (REEVES, 2015, p. 521-522). 1212 Figura 2 – Máscara Mortuária de Tutancâmon Fonte: José Ignácio Soto/iStock.com. No fim do império de Tutancâmon, a civilização egípcia foi alvo de sucessivas invasões de diversos povos, isso trouxe uma série de influências estéticas desses povos invasores, principalmente dos gregos, promovendo alterações significativas na arte egípcia. 3. Arte Grega A cultura grega é de imensa importância na formação da civilização ocidental, cultural e politicamente. A cultura grega exerceu grande influência sobre os romanos que, com a expansão do poderio imperial, se encarregaram de espalhá-la pelas variadas partes do mundo que se incorporaram ao Império Romano ao longo dos séculos. Não há dúvida de que a civilização grega foi uma das mais avançadas. Os gregos criaram a Filosofia, com Sócrates, Platão e Aristóteles; a Democracia e os Jogos Olímpicos, e proporcionaram significativas colaborações à arquitetura, escultura, pintura e ao teatro, além de vários avanços matemáticos, com os estudos de Pitágoras. A arte Grega se caracterizava pela “mestria de movimento e expressão [...], que persistiu até à era romana” (GOMBRICH, 2000, p. 83). Deles, herdamos o conceito de 1313 13 belo clássico, que perdura até os dias de hoje, com base em equilíbrio e harmonia e “a grande revolução da arte grega, a descoberta de formas naturais e do escorço ” (GOMBRICH, 2000, p.42). Uma das mais significativas contribuições dos gregos para as artes foi a criação do teatro. Sendo uma das mais expressivas manifestações da cultura grega, o teatro grego é, até hoje, bastante influente nas diversas formas de arte. Surgido no período arcaico, derivando da organização sistemática das manifestações religiosas e festas para Dionísio, deus da fertilidade e do vinho (Baco, para os romanos), atinge o ápice em Atenas, no século V a.C. O nome “theatrum”, em latim, e “θέατρον” em grego, é derivado do verbo “κοιτάξτε” que significa “olhar”, e designava “o lugar de onde se vê” (MALUF & AQUINO, p. 62). É tanto o lugar de onde se olha (as arquibancadas) quanto o que é visto (a cena na qual o espetáculo acontece). Durante o período clássico da história da Grécia (século V a.C.) foram estabelecidos os estilos mais conhecidos de teatro: a tragédia e a comédia. Ésquilo, o mais antigo dos três grandes tragediógrafos atenienses (ARISTÓTELES, 2008, p. 44), e Sófocles, autor de ‘Rei Édipo1’, e “um dos três grandes autores da tragédia ática” (ARISTÓTELES, 2008, p. 62), são os dramaturgos de maior destaque desta época. Aristófanes, “o maior dos comediógrafos atenienses” (ARISTÓTELES, 2008, p.41), foi o escritor de sátiras contundentes que criticavam em especial os aspectos sociais e políticos da sociedade ateniense. Também no período clássico foram erguidos diversos teatros ao ar livre. Colinas e montanhas serviam de suporte para a construção de arquibancadas apoiadas pelo relevo natural (Figura 3), em torno de vales que, por sua boa acústica, proporcionavam excelentes espaços para as encenações. Os atores se apresentavam usando máscaras, as quais Aristóteles (2008) afirma desconhecer a origem, de acordo com o personagem. 1 Escorço: desenho ou pintura de qualquer objeto que o reproduz de maneira reduzida, em proporções menores. 1414 Figura 3 – Teatro Grego no Monte Etna, na Sicília, Itália Fonte: Fotooiason/iStock.com. A Grécia antiga já conhece a noção de fantasia teatral: atores usam roupas, sapatos que não são os da vida cotidiana. Algumas vezes também eram erguidos cenários para proporcionaro cinema francês, o cinema iraniano e mesmo o cinema indiano, com as produções fantásticas de Bollywood, cheias de luzes, cores música e dança, tão características da cultura indiana. Esta aula não pretende ser um fim, ao contrário, coloca-se como um início. O começo de uma jornada apaixonante de estudo de cinema, essa linguagem tão surpreendente que, por isso mesmo, é chamada de sétima arte, numa alusão de grandeza que a aproximaria às seis artes clássicas. 9696 TEORIA EM PRÁTICA Quando um filme se torna um clássico, é comum acontecer de sua estética vir a influenciar produções posteriores a ele. Um exemplo é a estética visual de Star War, que surgiu no ano de 1977, mas se popularizou tanto na cultura pop que muitas vezes não nos damos conta da presença dessa referência em outras peças de comunicação audiovisual. Você notou que quando a 20th Century Fox divulgou dois comerciais da animação “Kung Fu Panda 3″, centradas no reencontro de Po com sua família desconhecida, uma das prévias fazia uma divertida referência a “Star Wars” – mais especificamente a uma famosa cena de “O Império Contra- Ataca” (1980). Você saberia identificar a cena? Ou ainda no filme “O Homem de Aço”, Nicky Fury diz que Loki “transformou dois dos homens mais inteligentes que ele conheceu em macacos voadores”, logo em seguida, Thor pergunta “como assim, eu não entendi?” E em seguida o Capitão América diz “eu sim, eu entendi a referência”. Para quem não entendeu essa referência no filme, ele se referre a “O Magico de Oz”, em que uma Bruxa Verde, que se assemelha ao Loki, controla dois macacos voadores. Que outros exemplos de referência cruzada em filmes você conhece? Procure localizar ao menos um caso e analise a forma como a referência foi construída, em especial destacando a adequação ao público-alvo. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Em 1895 os irmãos Auguste e Louis Lumière fazem a primeira exibição pública de seu invento, o cinematógrafo. Por cerca de vinte minutos, as pessoas presentes se encantaram com o aparelho, assistindo a 9797 97 imagens de empregados saindo das Fábrica Lumière e da chegada de um trem a uma estação, como contam diversos historiadores. Este fato marca: a. a invenção do cinema. b. a invenção do teatro. c. a invenção da fotografia. d. a comercialização dos ingressos. e. a ocupação dos teatros pelo cinema. 2. O cinema é chamado de Sétima Arte. Quais são as outras seis? a. A dança, a pintura, a escultura, a arquitetura, a cirurgia e a poesia. b. A pintura, a escultura, a maquiagem, a culinária, a arquitetura e a poesia. c. A escultura, a culinária, a dança, a pintura, a arquitetura e a poesia. d. A arquitetura, a pintura, a cirurgia, a culinária, a dança e a poesia. e. A música, a dança, a pintura, a escultura, a arquitetura e a poesia. 3. O diretor de 2001 – Uma Odisseia no Espaço foi o mesmo de Laranja Mecânica. O nome dele é: a. Billy Wilder. b. Quentin Tarantino. c. Stanley Kubrick. d. George Lucas. e. Ridley Scott. 9898 Referências bibliográficas COWIE, Peter. Coppola (em inglês). Nova Iorque: Charles Scribner’s Sons, 1990. HUGHES, David. The Complete Kubrick. Londres: Virgin Publishing Ltda., 2000. LOPES, Noêmia. “Se o cinema é a sétima arte, quais são as outras?”. In: Revista Superinteressante. 24 maio 2013. MUNDOESTRANHO-134-55-B-620. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/se-o-cinema-e-a-setima-arte-quais- sao-as-outras/. Acesso em: 20 jun. 2019. TIETZMANN, Roberto. “Pulp Fiction e a não-linearidade narrativa”. In: Revista FAMECOS. Porto Alegre, v.4, n.7, 1997. Disponível em: http://revistaseletronicas. pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/2992/2274. Acesso em: 20 jun. 2019. Gabarito Questão 1 – Resposta: A Em 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière fazem a primeira exibição pública de seu invento, o cinematógrafo. Por cerca de vinte minutos, as pessoas presentes se encantaram com o aparelho, assistindo a imagens de empregados saindo das Fábrica Lumière e da chegada de um trem a uma estação, como contam diversos historiadores. Este fato marca a invenção do cinema. Questão 2 – Resposta: E São a música, a dança, a pintura, a escultura, a arquitetura e a poesia. Essa definição começou a tomar forma na Europa durante o século XVIII, quando surgiu o conceito de belas-artes – artes preocupadas com a criação do belo, sem utilidade prática a não ser representar a própria beleza. Questão 3 – Resposta: C Laranja Mecânica e 2001 – Uma Odisseia no Espaço foram ambos dirigidos por Stanley Kubrick. https://super.abril.com.br/mundo-estranho/se-o-cinema-e-a-setima-arte-quais-sao-as-outras/ https://super.abril.com.br/mundo-estranho/se-o-cinema-e-a-setima-arte-quais-sao-as-outras/ http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/2992/2274 http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/2992/2274 9999 99 Análise da Produção Nacional: identidade, estética e linguagem Autora: Jurema L. F. Sampaio Objetivos • Analisar a Produção Nacional audiovisual. • Compreender a estética e linguagem de documentários, filmes e séries. • Identificar a Identidade nacional e compreender a influência de produções estrangeiras. 100100 1. Audiovisual no Brasil A primeira coisa que vamos abordar nesta aula é a desmistificação da ideia de que “o cinema brasileiro é ruim”. Essa é uma daquelas frases repetidas, infelizmente, muitas vezes, por quem quer “pagar de conhecedor” de cinema, mas que, na verdade, não conhece nada. Além de demonstrar um profundo preconceito. O Brasil produz e coproduz, sim, muitos filmes excelentes. Além de outros conteúdos como séries, filmes de animação, especiais, documentários e programas audiovisuais de ótima qualidade. O país poucas vezes foi indicado ao Oscar (direta ou indiretamente), e nunca conseguiu vencer nessa premiação com uma produção totalmente brasileira, mas tem um histórico bastante consistente em relação ao prêmio. Seja a Vera Cruz, passando por diretores como Glauber Rocha, que foi um marco no cinema nacional, e os premiados Walter Salles, Laís Bodanzky, Anna Muylaert, José Padilha, Fernando Meirelles e Héctor Babenco (argentino naturalizado brasileiro), até as produções mais contemporâneas, como as séries e web séries, além do conteúdo de streaming da Globo Play e de produtoras independentes, o Brasil tem um catálogo de produções de valor estético e artístico, que tem representatividade mundial. Do ponto de vista internacional, como enfatizam Almeida & Butcher (2003, p 48), “Cidade de Deus consolidou o interesse do mercado externo no cinema feito por aqui”. Também produzem coisas ruins, é claro. Mas Hollywood certamente não produz somente coisas boas. Não é verdade? Nesta aula vamos conhecer um pouco da produção audiovisual brasileira de qualidade, além das novelas, que são reconhecidas mundialmente por seu valor, e aprender a reconhecer a qualidade dos profissionais e produtos audiovisuais brasileiros. 101101 101 ASSIMILE Participações brasileiras no Oscar: • Em 1945, Ari Barroso, juntamente com o americano Ned Washington, concorreu ao Oscar de Melhor Canção pelo filme “Brazil”, de 1944, com a música Rio de Janeiro. • Em 1959, o filme Orfeu do Carnaval ganhou o prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Mas quem levou o Oscar foi a França, pois era uma produção do francês Marcel Camus. • Em 1962, O Pagador de Promessas foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, com o título de The Given World. • Em 1978, a coprodução franco-brasileira Raoni concorreu para Melhor Documentário de Longa Metragem. • Em 1982, El Salvador: Another Vietnam concorreu a Melhor Documentário. • Em 1985, O Beijo da Mulher Aranha, uma produção brasileira e norte-americana, concorreu a quatro prêmios: Melhor Filme; Melhor Diretor, com Hector Babenco; Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator, vencendo nesta última categoria com o ator William Hurt. • Em 1993, com Howard End;1994, com The Remains os the Day e 2000, com Anna e o Rei, a brasileira Luciana Arrighi concorreu a Melhor Direção de Arte. Ganhou em 1993. • Em 1996, O Qu4trilho, de Fábio Barreto, concorreu a melhor filme estrangeiro. • Em 1998, O Que é Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto, concorreu a melhor filme estrangeiro. 102102 • Em 1999, Central do Brasil, do diretor Walter Salles, concorreu a Melhor Filme Estrangeiro e Fernanda Montenegro estava entre as finalistas ao Oscar de Melhor Atriz. • Em 2001, Uma História de Futebol, de Paulo Machline, concorreu na categoria de Melhor Curta-metragem em Live-action. • Em 2003, Era do Gelo, de direção de Carlos Saldanha, concorreu a Melhor filme de Animação. • Em 2004, Cidade de Deus concorreu em quatro categorias: Direção, com Fernando Meirelles; Roteiro Adaptado, com Bráulio Mantovani; Fotografia, com Sérgio Charlone e Montagem. • Em 2004, novamente Carlos Saldanha, dirigindo Gone Nutty, concorreu como Melhor Curta-metragem de Animação. • Em 2005, a coprodução franco-germano-chileno-peruano- argentino-norteamericano-brasileira, dirigida por Walter Salles, concorreu a Melhor Roteiro Adaptado e ganhou o prêmio de Melhor Canção Original. • Em 2011, a coprodução brasileira Lixo Extraordinário concorreu a Melhor Documentário. • Em 2015, O Sal da Terra concorreu a Melhor Documentário. • Em 2016, O Menino e o Mundo concorreu a Melhor Filme de Animação. 1.1 Era uma vez... A história do cinema no Brasil ocorre em paralelo aos acontecimentos mundiais. Pouco depois da apresentação ao mundo do cinematógrafo dos irmãos Lumiére, em Paris, em 28 de dezembro de 1895, aconteceu no Rio de Janeiro, em julho de 1896, a primeira exibição de cinema 103103 103 no país. O filme apresentado foi o mesmo de Paris, “Saída dos Trabalhadores da Fábrica Lumière”, dos irmãos Lumiére, “uma iniciativa do belga Henri Paillie, um exibidor itinerante” (TRIBUNA, 2011, s/p). No ano seguinte, em 1887 é inaugurada a primeira sala de cinema na capital carioca, “por iniciativa dos irmãos italianos Paschoal e Afonso Segreto, junto com José Roberto Cunha Salles” (SOUZA, 2007, p.21) e “as primeiras imagens brasileiras foram captadas sobre película cinematográfica e exibidas ao público nesse mesmo ano” (SOUZA, 2007, p.22). Os irmãos também foram considerados os primeiros cineastas no país, uma vez que realizaram várias filmagens da Baía de Guanabara, em 1898 (TRIBUNA, 2011, s/p). Figura 1 – Cinema Antigo Fonte: Selimaksan/iStock.com. Em 1908, o cineasta luso-brasileiro António Leal apresenta sua película “Os Estranguladores” (SOUZA, 2007, p. 24), considerado o primeiro filme de ficção brasileiro, com duração de 40 minutos e, também, o “primeiro grande triunfo do cinema brasileiro, alcançando mais de 800 exibições em apenas dois meses” (SOUZA, 2007, p. 24) e, “em 1910, chega ao Rio de Janeiro Francisco Serrador, que instalara as primeiras salas fixas de São Paulo em 1907” (SOUZA, 2007, p. 25). 104104 Na mesma época começam a chegar os filmes estrangeiros ao Brasil e, “em 1911 alguns cinemas já anunciam a exibição exclusiva de filmes americanos da Vitagraph” (SOUZA, 2007, p. 25). É o que os pesquisadores chamaram de invasão estrangeira do cinema, “num país que aceitava com a maior cordialidade a entrada de interesses estrangeiros em todas as áreas de sua estrutura econômica, ninguém sequer pensava na possibilidade de dificultar a entrada do filme estrangeiro” (SOUZA, 2007, p.26). Mas a produção brasileira resiste, conseguindo realizar trabalhos significativos. Em 1916, o mesmo grupo paulista de Inocência, filma O guarani, que estreia em noite memorável, sob a dupla égide das bandeiras italiana e brasileira, ao som dos acordes de Carlos Gomes, com a presença de autoridades especialmente convidadas e a fina flor da colônia italiana em São Paulo. Esse filme marca a estreia no cinema de Georgina Marchiani, atriz dos grupos Liga Lombarda e Muse Italiche, que seria a estrela de outras fitas. Georgina tinha um rosto nobre e bem feito e, como os filmes em que trabalhou não existem mais, apenas através de fotografias podemos recuperar seu rosto que é o mais próximo de uma “diva italiana” de todas as atrizes do cinema brasileiro antigo. Em O guarani, Victorio Capellaro não era apenas diretor: representava também o papel de Peri. Este O guarani foi precursor de uma série de outros, realizados por décadas afora, em São Paulo e no Rio de Janeiro. (SOUZA, 2007, p. 28). Com o surgimento do som nos filmes nos anos de 1930, os estúdios norte-americanos haviam investido fortunas no negócio e, como desdobramento, passaram a investir também em equipar salas de exibição para abrir espaços e mercados para seus filmes. Assim, passaram a comercializar suas produções em “lotes” e a dominar o novo mercado. A situação do cinema nacional ficou tão delicada que o governo federal, na figura do presidente Getúlio Vargas, instituiu uma comissão nacional para tratar da questão. O governo acabou nomeando uma comissão para tratar do assunto, mas aconteceu algo que depois se repetiria muitas vezes. Em vez de cuidar do cinema brasileiro, foram abordados os problemas da classe cinematográfica brasileira, num sentido amplo que abrangia toda a gente 105105 105 que tinha sua atividade ligada ao cinema, em primeiro lugar o setor do comércio cinematográfico, totalmente subordinado aos interesses da indústria americana de cinema. O governo aceitou as sugestões da comissão e prometeu: para os comerciantes, a diminuição de 60% das taxas que incidiam sobre os filmes importados; para os produtores, uma lei obrigando os cinemas a passarem um complemento nacional por sessão e uma fita de longa metragem por ano. A promessa para os comerciantes e para os americanos foi cumprida imediatamente, e ampliou-se ainda mais a entrada em nosso mercado do produto norte- americano. (SOUZA, 2007, p. 35). Com o Estado Novo, de Getúlio, veio também a censura e, por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda do Governo Federal, iniciou- se produção de jornais cinematográficos, que veiculavam notícias de interesse da administração federal (SOUZA, 2007, p. 36). A historiadora Lays Rocha (2013, s/p) destaca que merece registro, em meio à “invasão norte-americana” das salas de cinema nacionais, e da censura imposta pelo governo, a iniciativa de Edgar Roquette-Pinto, que cria o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), em 1936, e produz o filme épico ‘O Descobrimento do Brasil’, com forte apelo nacionalista e música de Heitor Villa-Lobos. O uso da música de Villa-Lobos na produção foi acusado pelo também músico e pesquisador José Ramos Tinhorão, como “arma política de propaganda”. Tinhorão, que havia chamado Villa-Lobos de “o maestro da ditadura” (LORENZOTTI, 2009, s/p), posteriormente se retrata ao declarar seu arrependimento: “Eu me arrependi de ter escrito esse artigo. Claro que ele foi um funcionário da ditadura, era publicado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda. Mas cheguei à conclusão de que Villa-Lobos não colaborou com a ditadura, ele a usou” (LORENZOTTI, 2009, s/p). A produção foi um marco importante do cinema nacional, apesar da falta de interesse do público, já acostumado às legendas e à grandiosidade das produções norte-americanas, e do forte viés ideológico da produção, repleta de referências nacionalistas como destacam os historiadores Maria Helena Capelato (2007, s/p) e Jorge Edson Garcia: 106106 Sem possuir uma indústria cinematográfica capaz de suprir as necessidades do mercado, já convertido em bom receptor dos filmes hollywoodianos, o cinema educador/nacionalista brasileiro resultou em fracasso de bilheteria: os temas [...] não seduziam o espectador, mas sim convertiam-se em lemas nacionalistas. (CAPELATO, 2017, s/p). O lançamento de o Descobrimento do Brasil foi cercado de publicidade nos jornais, exibições para as autoridades, mas o filme não alcançou propriamente um grande sucesso, nem no Brasilnem em Portugal, onde foi exibido pouco depois. Apesar da relevância do episódio na história dos dois países, não havia propriamente um enredo que atraísse o público, e os poucos diálogos do filme eram, na maior parte, em tupi. (GARCIA, 1997, s/p). Os anos de 1930 a 1940 foram muito prósperos para o cinema norte-americano, mas, no final da década de 1940, surge a primeira iniciativa brasileira de industrialização do cinema, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. 1.2 Companhia Cinematográfica Vera Cruz A Companhia Cinematográfica Vera Cruz, ou Vera Cruz, como era conhecida, foi um estúdio cinematográfico brasileiro, com sede em São Bernardo do Campo/SP, de fundação e propriedade do produtor italiano Franco Zampari e do industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, que produziu e distribuiu filmes entre 1949 e 1954. Era também conhecida como a Hollywood Brasileira, tendo produzido ou coproduzido mais de 40 filmes de longa-metragem (CALLEGARI & GEORGINO, 2013, s/p). Na sua melhor fase, os anos de ouro, produziu 18 filmes. Dentre eles, os principais foram: • Caiçara – Ano: 1950. Diretor: Adolfo Celi. • Tico-Tico no Fubá – Ano: 1952. Diretor: Adolfo Celi. • Sai da Frente – Ano: 1951/1952. Diretor: Abílio Pereira de Almeida. 107107 107 • O Cangaceiro – Ano: 1952. Diretor: Lima Barreto. • Sinhá Moça – Ano: 1952/1953. Diretor: Tom Payne e Osvaldo Sampaio • Floradas na Serra – Ano: 1953/1954. Diretor: Luciano Salce. Em 1954, depois de ter entregado seus bens para pagamentos de dívidas ao Banespa, Franco Zampari se afastou da companhia. O Banespa nomeou o produtor e diretor da companhia, Abílio Pereira de Almeida, para gerenciar a companhia e foi criada uma nova empresa, chamada Brasil Filmes. Essa empresa produziu sete novos filmes, com a estrutura de equipamentos da Vera Cruz. Nos anos 1970, a Brasil Filmes estava a ponto de ser fechada, mas os irmãos cineastas Walter Hugo e William Khouri decidem se arriscar a adquirir várias cotas de acionistas minoritários para assumir a empresa. Passaram a produzir filmes até 1976. Na gestão de Wilfred, filho de Walter Hugo, a antiga Vera Cruz se dedicou a relançar seus títulos em DVD, preservar o acervo e novas produções, como o documentário sobre Lima Barreto (CALLEGARI & GEORGINO, 2013, s/p). 1.3 Companhia Atlântida Cinematográfica No início da década de 1950, o cinema nacional, já livre da censura de Vargas, enfrenta nova série de questionamentos, causados pela insatisfação dos cineastas brasileiros, que estavam bastante perturbados pela popularidade de produções como as chanchadas da Companhia Atlântida Cinematográfica, que havia sido fundada no Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1941 (ANCINE, s/d, s/p), por Moacir Fenelon e os irmãos José Carlos e Paulo Burle, com o objetivo de “promover o desenvolvimento industrial do cinema brasileiro” (ANCINE, s/d, s/p). As produções da Atlântida se concentravam, no início, em cinejornais, como o Atualidades Atlântida. A partir de 1943 108108 se consolidou como a maior produtora brasileira: nesse período foram produzidos 12 filmes, como Gente Honesta, de Moacir Fenelon, com Oscarito, e Tristezas Não Pagam Dívidas, de José Carlos Burle: foi neste filme que Oscarito e Grande Otelo atuaram juntos pela primeira vez. [...] Em 1947, o controle da empresa foi assumido pelo exibidor Luís Severiano Ribeiro Jr., que imprimiu uma linha mais comercial à produtora. [...] A Atlântida produziu um total de 66 filmes até 1962, quando interrompeu suas atividades. (ANCINE, s/d, s/p). Os cineastas brasileiros se incomodavam muito com o que consideravam que as chanchadas da Atlântida promoviam: “identificação com a estética e a narrativa do cinema americano marcava, até certo ponto, uma relação de dependência do cinema brasileiro em relação à indústria de Hollywood”. As chanchadas eram filmes “em que predominavam um humor ingênuo, burlesco, de caráter popular” (MUNDO ESTRANHO, 2011, s/p), e os críticos da época não reconheciam seu valor como arte, fato que só ocorreu mais tarde, nos anos de 1970, “quando uma nova geração de especialistas identificou na chanchada qualidades até então despercebidas, sobretudo o conteúdo crítico de seus enredos” (ANCINE, s/d, s/p). O clima de insatisfação inicia-se nos fins da década de 1950, permeia os anos de 1960 até depois do Golpe Militar de 1964 e o Ato Institucional n.5, de 1968, que instituiu novamente a censura no Brasil. Com produtores e diretores como Roberto Santos, em São Paulo, e Alex Viany e Nelson Pereira dos Santos n,o Rio de Janeiro (com ‘Rio, 40 graus’, de 1955), que, influenciados pelo Neorrealismo italiano de Rosselini e Mario Serandrei, e pela Nouvelle Vague francesa, partem em busca da construção do que chamaram de Realismo Brasileiro (VIANY, 1970, pp.141-144). Surge então o movimento que ficou conhecido como Cinema Novo. Na Bahia desponta um jovem que é alçado ao posto de “maior representante do movimento: seu nome é Glauber Rocha” (JOHNSON & STAM, 1995, p. 42). 109109 109 1.4 O Cinema Novo O movimento cinematográfico brasileiro que se definia por uma estética em que a ênfase na igualdade social era o marco central. Assuntos fortes e duros como racismo e diferenças sociais eram a tônica das produções cujo tema mais forte é a “estética da fome”, desenvolvida pelo estreante cineasta Glauber Rocha. Depois de Barravento, em 1961, que já abordava a dicotomia misticismo-engajamento político, Glauber Rocha realizou sua obra-prima, Deus e o Diabo na Terra do Sol. Em seu ensaio de 1965, ‘Uma estética da fome’, Glauber (1965, p. 2) afirmou que “a fome latina, por isto, não é somente um sistema alarmante: é o nervo da sua própria sociedade [...] Nossa originalidade é nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida” (ROCHA, 1965, p.2). Figura 2 – Glauber Rocha Fonte: Arquivo nacional – Domínio Público. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Glauber_Rocha#/media/Ficheiro:Glauber_Rocha,_sem_data.tif. Acesso em: 24 maio 2019. Falar de Glauber Rocha é entrar num mundo quase mítico. Sua célebre frase, “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, enfatiza entendimento de um cinema engajado na realidade do país e voltado para a transformação da sociedade, defendendo o uso dos meios de produção artística a serviço da transformação social. https://pt.wikipedia.org/wiki/Glauber_Rocha#/media/Ficheiro:Glauber_Rocha,_sem_data.tif https://pt.wikipedia.org/wiki/Glauber_Rocha#/media/Ficheiro:Glauber_Rocha,_sem_data.tif 110110 Caçado depois da promulgação do Ato Institucional 5, em 1968, Glauber foi para Cuba, onde realizou o documentário intitulado História do Brasil. Em seguida, no Congo, dirigiu o longa ‘O leão das sete cabeças’, com temática que denunciava a exploração dos países do Terceiro Mundo pelo imperialismo multinacional. Já na Europa, realizou os filmes ‘Cabeças cortadas’ e ‘Claro’, com forte influência de Jean-Luc Godard, cineasta francês que, ao lado do espanhol Luis Buñuel e do italiano Píer Paolo Pasolini, foi fonte de inspiração ao jovem Glauber. A obra de Glauber Rocha foi realizada no período que antecede ao golpe militar de 1964 e se estende até a abertura política, no início da década de 1980, espelhando e refletindo esse contexto histórico. PARA SABER MAIS Filmes de Glauber Rocha como diretor: 1962 – Barravento. 1963 – Deus e o Diabo na Terra do Sol. 1967 – Terra em Transe. 1969 – O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro. 1970 – O Leão de Sete Cabeças. 1970 – Cabeças Cortadas. 1972 – Câncer. 1975 – Claro. 1977 – Di (Curta-metragem). 1980 – A Idade da Terra. 111111 111 2. As políticas públicas de cultura e o audiovisual Como pudemos ver, a interferência do governo no cinema nacional tem fortes motivações ideológicas, além de comerciais. Inicialmente proposta como forma de garantir o mercado do filme norte-americano, seguida pela tentativa de atendimento das ambições nacionalistas de industrialização, podemos perceberque, desde 1932, já há leis de obrigatoriedade de exibição de produções brasileiras (para os cinejornais, desde 1932 e para os filmes de longa metragem, desde 1939). Em 1966, o Instituto Nacional de Cinema Educativo - INCE é transformado no Instituto Nacional de Cinema - INC, cujos principais objetivos são estimular a produção e exibição de filmes brasileiros (SIMIS, 2008, p.252) e em 1969 é criada a Empresa Brasileira de Filmes - EMBRAFILME. O governo federal passa a financiar as produções de cinema nacional e é criado o Conselho Nacional de Cinema - CONCINE, para tratar da legislação do setor. Os recursos para isso vêm da taxação sobre os lucros das distribuidoras de filmes estrangeiros no Brasil com o sistema de escolha dos filmes a serem financiados totalmente controlada pelo governo federal (SIMIS, 2008, p.253). 2.1 Histórico da indústria nacional cinematográfica Entre 1974 e 1984, o cinema brasileiro atingiu o ápice no mercado interno de salas de exibição, graças à atuação direta do governo na distribuição e na produção, através da EMBRAFILME. Nogueira (apud MINISTÉRIO DA CULTURA, 1997-1998, p. 53) mostra a relevância da ação da EMBRAFILME, entre 1969 e 1990, para o cinema nacional: A Embrafilme atuando como agência distribuidora, financiadora e coprodutora, foi a grande propulsora da produção cinematográfica nacional durante os anos setenta e oitenta. De 1969 a 1990, a empresa funcionou com um orçamento anual de cerca de 12 milhões de dólares, dos quais 70% a 80% eram destinados à investimentos na produção de filmes de longa-metragem. Esses recursos produziram cerca de 25 filmes por ano, com orçamento de produção que se situavam, na média, entre 500 e 600 mil dólares por filme (NOGUEIRA apud MINISTÉRIO DA CULTURA, 1997-1998, p. 53). 112112 Na década de 1980, a tecnologia do videocassete e o advento comercial das videolocadoras causam um impacto significativo no cinema nacional. Mesmo a ampliação das atribuições da EMBRAFILME, concedida pela Lei n° 6281, de 1975, o modelo de arrecadação é abalado com essa nova forma de ver filmes, pois é embasado em recolhimento de percentual cobrado das salas de distribuição, e começa a ser questionado. A substituição das idas ao cinema pelas sessões caseiras de filmes e a consequente diminuição de arrecadação dos cinemas apontam para uma necessidade urgente de descobrir novas formas de financiamento do cinema nacional. Muitos pesquisadores destacam que isso teria sido a ‘ponta do iceberg’, pois acreditam que o erro do governo foi centrar a arrecadação somente nas salas de cinema, sem vincular a obrigatoriedade de exibição de conteúdo nacional na programação das grades das emissoras de televisão para garantir o consumo da produção nacional cinematográfica. Somente em 1991 surge uma alternativa ao decadente modelo de financiamento da EMBRAFILME: a Lei Rouanet, que possibilitou uma retomada da produção audiovisual, com um novo modelo de financiamento de produção, via isenção fiscal de patrocinadores, ou seja, um modelo de intervenção indireta do governo federal. A Lei nº 8.313 é de 23 de dezembro de 1991 e também instituiu o Programa Nacional de Apoio à Cultura – Pronac. A Secretaria do Audiovisual - SAv foi criada pela Lei nº 8.490, de 19 de novembro de 1992, com o nome de Secretaria para o Desenvolvimento Audiovisual. Tem as atribuições de cuidar e “fomentar a formação, produção inclusiva, regionalização, difusão não-comercial, democratização do acesso e preservação dos conteúdos audiovisuais brasileiros, respeitadas as diretrizes da política nacional do cinema e do audiovisual e do Plano Nacional de Cultura” (SAV, 2019, s/p), e é responsável por diversos editais de fomento à produção audiovisual brasileira, que podem ser acessados na página de Editais e Apoios. 113113 113 Em 20 de julho de 1993 é promulgada a Lei do Audiovisual, n. 8.685. Segundo o Relatório das Atividades da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura 1995-2002 (2002, p. 3), no período do governo de Fernando Henrique Cardoso “o setor do audiovisual, que começara a receber apoio por meio das leis do Mecenato [Rouanet] e Audiovisual, passou a ser considerado prioritário para o desenvolvimento nacional” (Minc, 2002, p. 3). E no governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, as leis de incentivo permaneceram como um instrumento fundamental para a indústria cinematográfica brasileira. Segundo Almeida e Butcher (2003): Ambas as leis permitem às empresas que o dinheiro investido na produção de filmes brasileiros seja deduzido de seus impostos de renda. A Lei do Audiovisual tem dois dispositivos principais: o artigo 1° determina que as empresas podem deduzir até 3% do total do seu imposto de renda se esse dinheiro for revertido para a produção de obras audiovisuais; o artigo 3°, por sua vez, incentiva as distribuidoras estrangeiras a investir na produção nacional [como coprodutoras], permitindo a dedução de até 70% do imposto sobre a remessa de lucros para o exterior [...] A política de incentivos fiscais que se estabeleceu obedecia a princípios muito diversos, com o Governo Federal transferindo para agentes privados e empresas públicas a iniciativa de escolha e investimento nos projetos a serem realizados [...] Pela complexidade dos mecanismos, essa política demorou alguns anos para apresentar os primeiros resultados, mas o fato é que conseguiu fazer a máquina da produção voltar a se movimentar. Em um tempo relativamente curto foi retomado o ritmo de lançamentos, que chegou a 12 títulos por ano (em 1995), depois 20 e, entre 2000 e 2002, estabilizou em cerca de 30 por ano. (ALMEIDA E BUTCHER, 2003, p. 25). Os novos modelos de financiamento e produção de cinema e do audiovisual em geral abrem caminhos para um novo modo de produzir. Os anos de 1990 são anos de intensa atuação no setor. Tendo como base essa política de incentivos, bem como o surgimento de novas políticas públicas e de novos parâmetros estruturais favoráveis ao desenvolvimento da indústria cinematográfica no país, tem aumentado 114114 o fluxo anual de produções nacionais e o seu desempenho no mercado interno de cinemas frente aos filmes norte-americanos e de demais nacionalidades. (MATTA, 2007, p. 9). Em matéria do Jornal Valor Econômico, de 2014, a jornalista Ana Paula Sousa (2014, p. 28) destaca que a indústria nacional cinematográfica está se consolidando, produzindo filmes de sucesso comercial. Sousa diz que “o cinema brasileiro bateu recorde em 2013, com mais de 127 longas- metragens que chegaram às telas, 9 dos quais fizeram mais de 1 milhão de espectadores, enquanto 88 foram visto por menos de 10 mil pessoas, de acordo com informações divulgadas pela Agência Nacional do Cinema”, com filmes que agradam ao público, como as comédias ‘Minha Mãe é uma Peça’ e ‘De Pernas pro Ar 2’, embora a crítica especializada não seja muito favorável quando se trata de comentar a qualidade estética das produções. O crítico da Folha de São Paulo, Inácio Araújo, afirma que o cinema brasileiro continua a buscar seu público. E a referência desse público amplo, hoje, é a estética dos programas da Globo ou os blockbusters americanos. Esses últimos não podemos imitar. Então o cinema imita, no que pode, a Globo. São essas comédias idiotas, com atores que se esforçam para imitar atores de teatro colegial, aquela luz esbranquiçada. O público responde bem a isso. Que dizer? Não é o cinema brasileiro que está doente. É o cinema. (ARANTES, 2014, s/p). No entanto, desde que o filme ‘Central do Brasil’ coloca o Brasil definitivamente no circuito mundial e a primeira década do século XXI conta com produções como ‘Cidade de Deus’ (2002), de Fernando Meirelles, ‘Carandiru’ (2003) de Hector Babenco e ‘Tropa de Elite’ (2007) de José Padilha. PARA SABER MAIS A Agência Nacional do Cinema – ANCINE - é um órgão oficial do governo federal do Brasil, criada por Medida Provisória como autarquia especial, e constituída como 115115115 agência reguladora, com sede na cidade de Brasília, cujo objetivo é fomentar, regular e fiscalizar a indústria cinematográfica e vídeo fonográfica nacional. Instituída em 2001, começando a atuar efetivamente em 2002, está vinculada ao Ministério da Cultura. A mesma medida provisória alterou a legislação sobre a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional – CONDECINE, cujo recolhimento passou a caber à ANCINE, sendo parte da contribuição revertida para o custeio das atividades da agência reguladora. (MATTA, 2007, p. 10). Visite o site da ANCINE e conheça mais sobre as políticas de financiamento de cinema no Brasil: https://www. ancine.gov.br/ 3. Filmes Brasileiros para não deixar de ver Se você ainda acredita que o Cinema Nacional não tem qualidade, experimente você mesmo e tire suas conclusões. A seguir, preparamos para você uma lista com 15 filmes brasileiros que a crítica destaca como muito bons para ver e conhecer. 3.1 O que é isso, companheiro? (1997) Direção: Bruno Barreto. Filme que trata da história recente do Brasil, pós golpe de 1964, quando, 1968, o Ato Institucional número 5 é implementado, acabando com a liberdade de imprensa, instituindo a censura e eliminando vários direitos civis dos brasileiros, gerando situações limites de tortura e atos extremos, como sequestro de embaixadores e o movimento armando. https://www.ancine.gov.br/ https://www.ancine.gov.br/ 116116 3.2 Central do Brasil (1998) Direção: Walter Salles. Filme que é considerado pela crítica um marco do cinema brasileiro, por recolocar o Brasil no circuito internacional de cinema. Com a indicação de Fernanda Montenegro para o Oscar de Melhor Atriz, o filme conta a história de uma mulher que ganha a vida escrevendo cartas para migrantes analfabetos darem notícias aos parentes deixados para trás em suas jornadas de busca de melhores condições de vida, um dos grandes temas sociais brasileiros. 3.3 Bicho de sete cabeças (2000) Direção: Laís Bodanzky. O tema delicado do filme, o preconceito com relação à loucura e os pacientes que precisam de tratamentos, partindo dos próprios familiares, é o tema central deste que é um dos filmes brasileiros mais sensíveis já produzidos. A moralidade “classe média”, que mascara o profundo desrespeito aos problemas mentais por trás de orgulho doente de pais que também precisam de apoio para lidar com o desequilíbrio do filho. 3.4 Auto da Compadecida (2000) Direção: Guel Arraes. A comédia literato-teatral de Ariano Suassuna é a base desse filme premiado, que conta, em formato de teatro popular, as aventuras e desventuras de Chicó e João Grilo, personagens que retratam o homem simples do povo e suas crendices e pequenos golpes para sobreviver. O próprio Suassuna declarou, em entrevista de 2000 ao Jornal O Estado de São Paulo, sobre a interpretação de Chicó por Matheus Nachtergaele: “Sua atuação é impecável, pois consegue passar toda a esperteza do personagem, que luta contra o patriarcado rural, a burguesia urbana, a polícia, o cangaceiro, e até contra o diabo” (AGÊNCIA ESTADO, 2000, s/p). 117117 117 3.5 Abril Despedaçado (2001) Direção: Walter Salles. A produção suíço-franco-brasileiro de 2001 é baseada no romance ‘Prilli i Thyer’ de Ismail Kadare, adaptado por Karim Aïnouz. Foi o filme que deu a Rodrigo Santoro o “passaporte internacional” do ator, quando esteve entre os indicados como Melhor Filme Estrangeiro, no Oscar de 2002. Teve uma curtíssima exibição, de apenas uma semana em um único cinema, em Salvador, o que é uma pena, pois deixou em esquecimento este que é um dos melhores filmes brasileiros já feitos. Santoro é brilhante interpretando um jovem atormentado pelo pai para vingar a morte do irmão. A história se passa em 1910, e é um retrato da organização social do Brasil no início do século XX. Vale cada minuto! E entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), em 2015, como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. 3.6 Cidade de Deus (2002) Direção: Fernando Meirelles. O filme já falava, em 2002, do fenômeno social da gentrificação urbana, que foi o conceito base para a criação do bairro chamado Cidade de Deus, nos anos de 1960, na cidade do Rio de Janeiro. Baseado no livro de mesmo nome, de Paulo Lins, que é considerado um dos primeiros romances contemporâneos a narrar a vida dos moradores da favela com um ponto de vista dos moradores de uma. Fala da tentativa de “afastar os pobres” do centro da cidade, mudando-os obrigatoriamente para bairros distantes, ocorrida nos anos 1980. Narrado pela visão de Buscapé, personagem que é um dos moradores da favela que cresceu dentro do ambiente de violência do bairro, conheceu bandidos célebres e conseguiu não ser envolvido no crime, a produção marcou época no cinema nacional, sendo considerado o filme símbolo do fim da era chamada pelos historiadores de “Cinema de Retomada”. Inovou ao 118118 trabalhar com oficinas de atores em comunidades, tendo envolvido mais de 500 jovens nessas oficinas, de onde saíram novos e bons atores como os intérpretes dos principais papéis. No total, mais de 60 atores principais, 150 secundários e 2600 figurantes fazem de Cidade de Deus um marco de representatividade negra no cinema brasileiro. 3.7 Lisbela e o Prisioneiro (2003) Direção: Guel Arraes. Comédia romântica brasileira, que é uma adaptação da peça de teatro de mesmo nome do escritor Osman Lins em coprodução entre a Globo Filmes, Natasha Filmes e o estúdio norte-americano Twentieth Century Fox. Apresenta uma característica estética de semelhança com as novelas televisivas, que é creditada ao fato de ser a primeira experiência cinematográfica do diretor Guel Arraes, conhecido diretor de novelas. Um destaque especial da crítica sempre foi feito à trilha sonora, com nomes como Sepultura, Zé Ramalho, Caetano Veloso e Elza Soares. Este fato levou ao lançamento, junto com o filme, de um DVD com apresentações ao vivo da trilha, feitas pelos intérpretes dos temas sonoros da trilha, com destaque especial para ‘Você Não Me Ensinou a Te Esquecer’, de autoria de Fernando Mendes, considerada um clássico da música brega, alçada à categoria ‘cult music’ ao ser interpretada por Caetano Veloso como tema de Lisbela e Leléu, os protagonistas da história. Recebeu dois prêmios no Grande Prêmio Cinema Brasil: melhor ator e melhor trilha sonora. Teve ainda mais dez indicações: melhor filme, melhor diretor, melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante, melhor roteiro adaptado, melhor figurino, melhor maquiagem, melhor montagem e melhor som. 3.8 Carandiru (2003) Direção: Héctor Babenco. É um dos filmes nacionais mais conhecidos. E é uma das poucas ‘superproduções’ nacionais. O roteiro foi baseado no livro ‘Estação Carandiru’, do médico Dráuzio Varella, que narra as experiências do 119119 119 dr. Dráuzio com a realidade dos presídios brasileiros num trabalho de prevenção à AIDS, realizado na antiga “Casa de Detenção de São Paulo, mais conhecida como Presídio do Carandiru, bairro onde se localizava a instituição. Está na lista dos “100 melhores filmes brasileiros”, segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). É ainda um dos filmes brasileiros mais premiados e que recebeu maior número de indicações de prêmios. Cinco indicações no Prêmio Qualidade Brasil; indicado a Melhor filme no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata; Melhor Filme, crítica e público, no Festival de Cinema de Havana, Cuba; no Grande Prêmio Cinema Brasil recebeu o Prêmio Especial do Júri e Prêmio do Público, além de Melhor Diretor e Melhor Roteiro, recebendo mais 11 indicações. No Festival Internacional de Cinema de Cartagena foi o Melhor Filme e Prêmio de Melhor som, no Prêmio ABC de Cinematografia. Teve ainda indicação para a Palma de Ouro, em Cannes; e para Melhor Filme, no Bangkok International Film Festival. 3.9 O homem que copiava (2003) Direção: Jorge Furtado.O núcleo de cinema gaúcho é responsável por uma tradição cinematográfica de destaque no Brasil. O filme tem um roteiro inteligente, que não subestima a audiência, apesar do tema improvável de se ter “sucesso financeiro” copiando notas numa máquina copiadora. A linguagem narrativa do início é um pouco monótona e dá um “tom” quase didático ao filme, o que seria lamentável, mas felizmente dura pouco, e logo o filme toma um ritmo interessante. Venceu nas categorias de melhor diretor, melhor montagem, melhor filme, melhor roteiro original, melhor ator coadjuvante e melhor atriz coadjuvante, no Festróia 2004, em Portugal; foi indicado ao Golfinho de Ouro no Festival de Havana, Cuba, em 2003 e Lázaro Ramos ganhou o prêmio de Melhor Ator, no Troféu APCA 2003. 120120 3.10 Cinema, aspirina e urubus (2005) Direção: Marcelo Gomes. O filme fala de maneira delicada do quanto o próprio cinema tem a capacidade de atingir as pessoas. Numa realidade de guerra do ano de 1942, filmado no sertão e cariri da Paraíba, conta a os desdobramentos da declaração de guerra brasileira à Alemanha e as decisões do governo brasileiro, com o recrutamento dos nordestinos para ir para a Amazônia para trabalhar como ‘Soldados da Borracha’. Um capítulo quase esquecido da história do Brasil. 3.11 O cheiro do ralo (2006) Direção: Heitor Dhalia. Do mesmo diretor de ‘Nina’, o filme é baseado em livro de mesmo nome, do escritor Lourenço Mutarelli, e teve roteiro escrito por Marçal Aquino junto com o próprio diretor, Heitor Dhalia. Foi realizado com um baixíssimo orçamento para um longa. Apenas 315 mil reais. Mesmo assim, consegue ser de uma poesia ímpar e vale a pena conferir o motivo dele ter recebido tantos prêmios: no Festival do Rio 2006, nas categorias de melhor ator (Selton Mello, dividindo o prêmio com Sidney Santiago); prêmio especial do júri e da FIPRESCI da 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; Melhor Filme (Júri Oficial e Crítica) e Menção Honrosa do Júri Oficial para todo o elenco no 2007 Sundance Filme Festival; no 4º Festival de Cinema de Campo Grande, Melhor Filme Nacional; e no 10º Festival de Cinema de Punta Del Leste, Melhor Ator para Selton Mello. 3.12 Tropa de Elite (2007) Direção: José Padilha. A violência carioca, junto com a atuação do Batalhão de Operações Policiais Especiais - BOPE e da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, são os temas centrais. O roteiro, de Bráulio Mantovani e Rodrigo 121121 121 Pimentel, junto com José Padilha, que o dirigiu, baseia-se em elementos do livro ‘Elite da Tropa’, de André Batista e Rodrigo Pimentel, em parceria com Luiz Eduardo Soares. Muita gente acredita que a popularidade deste filme se deu por causa da pirataria sofrida, meses antes do lançamento, que teria feito uma divulgação favorável ao filme. A Revista Veja chegou a afirmar que “11 milhões de brasileiros teriam visto o filme de forma ilegal” (BOSCOV, 2007, s/p). Um tema para além da temática central, mas ainda assim importante a ser discutido pelo cinema: a pirataria de conteúdos audiovisuais. 3.13 Estômago (2007) Direção: Marcos Jorge. O site de crítica cinematográfica Adoro Cinema diz que, segundo a descrição do próprio diretor do filme, o curitibano Marcos Jorge, Estômago “pode ser definido como ‘uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e culinária’ (JORGE, 2013, s/p)”. Ao assistir ao filme, você pode perceber que ele realmente é isso: Uma fábula nada infantil sobre os temas poder, sexo e culinária. O filme foi sucesso “de público & crítica”, como se fala no modo popular, por tratar de um tema infelizmente muito perto de todos nós, a corrupção do dia a dia, em que as pessoas parecem realmente não considerar errado “levar vantagens” em situações cotidianas, obtendo ‘poder’ em trocas de favores. No Festival do Rio, de 2007, recebeu quatro prêmios: melhor filme pelo público, melhor diretor, melhor ator e prêmio especial do júri. No Ganhou o Lions Award, no Festival Internacional de Rotterdam, na Holanda; e prêmio de participação especial no Festival de Berlim de 2008 e melhor filme no Festival de Punta del Este, no Uruguai. 3.14 De pernas para o ar (2010) Direção: Roberto Santucci. O primeiro, da sequência de três comédias de mesmo nome, o filme é uma crítica bem-humorada ao preconceito quanto ao trabalho de mulheres de sucesso profissional. Classificada como “doente” ao se 122122 comportar profissionalmente como qualquer empresário de sucesso, a protagonista é forçada a acreditar que precisa escolher entre o casamento ou a carreira. O tema em si dá a devida importância ao filme, mas alguns errinhos de produção fazem parte da crítica especializada “torcer o nariz” para o filme, além, claro, do preconceito comum que as comédias sofrem da mesma crítica. Como Carina Toledo, em sua crítica para o portal de crítica de cinema Omelete, que disse: De Pernas pro Ar traz uma premissa relativamente inusitada, considerando o espectro das comédias brasileiras. Seu roteiro, no entanto, é permeado por uma série de situações comuns ao gênero, que se salvam do fracasso total apenas pelo talento para comédia de Ingrid Guimarães, que faz rir sem parecer forçada. (TOLEDO, 2010, s/p). 3.15 Que horas ela volta? (2015) Direção: Anna Muylaert. Filme lindo, que trata, com um olhar feminino na direção, de um delicado tema social ao abordar a realidade da profissão de empregada doméstica no Brasil. Mostrando como muitas mulheres têm que deixar de lado seus próprios filhos para cuidar dos filhos das famílias ricas, como única forma de sustento e os desdobramentos e impactos disso em suas próprias vidas e famílias. Delicado, intenso, firme, mas esperançoso, ao final. Também está na lista dos “100 melhores filmes brasileiros”, segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) e é, realmente, um belíssimo filme. Procure assistir aos filmes indicados nesta lista, minimamente para conhecer e ampliar seu repertório audiovisual. E, lembre-se, o cinema nacional pode ser ainda melhor, se houver valorização da produção brasileira que, como vimos, tem qualidade. 123123 123 TEORIA EM PRÁTICA Você já deve ter ouvido alguém esbravejar críticas à Lei Rouanet, em especial quando algum caso de mau uso dos recursos é noticiado. Mas você sabe como funciona a lei Rouanet, Lei n. 8313, de 23 de dezembro 1991? Vamos imaginar que você tenha em mãos um roteiro cinematográfico de boa qualidade e precisa conseguir apoio e patrocínio para realizar essa produção. Quais são os passos a seguir, para conseguir aprovação via Lei Rouanet para iniciar a captação? Vamos elaborar um plano de trabalho para isso? Consulte o site do Ministério da Cultura, em especial o da Lei de Incentivo à Cultura (http:// leideincentivoacultura.cultura.gov.br/) e elabore a proposta de um projeto cultural para ser apresentado à Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC). A Lei 8313 está disponível, na íntegra, em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L8313cons.htm. Acesso em: 21 jun. 2019. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A história do cinema no Brasil ocorre em paralelo aos acontecimentos mundiais. Qual desses acontecimentos marca o início da história do cinema no Brasil? a. A apresentação do filme “Saída dos Trabalhadores da Fábrica Lumière”, dos irmãos Lumiére, no Rio de Janeiro. b. Apresentação ao mundo do cinematógrafo dos irmãos Lumiére, em Paris, em 28 de dezembro de 1895. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8313cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8313cons.htm 124124 c. A inauguração da primeira sala de cinema na capital carioca, de propriedade dos irmãos italianos Paschoal e Afonso Segreto. d. A exibição das primeiras imagens brasileiras captadas sobre película cinematográfica, em São Paulo. e. Apresentação no Rio de Janeiro das filmagens da Baía de Guanabara, em 1898. 2. Com o surgimento do som nos filmes, nos anos de 1930, os estúdios norte-americanos haviam investido fortunasno negócio e, como desdobramento, passaram a investir também em a. equipar com som salas de exibição. b. melhorar o cinema nacional. c. abrir espaços e mercados para seus filmes. d. comercializar suas produções em “lotes”. e. instituir a comissão nacional para tratar da questão. 3. O filme ‘O Descobrimento do Brasil’, com música de Heitor Villa-Lobos marca: a. A “invasão norte-americana” das salas de cinema nacionais. b. A censura imposta pelo governo federal aos filmes de guerra. c. A criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE). 125125 125 d. O forte apelo nacionalista pela produção de jornais cinematográficos. e. A política nacionalista do Estado Novo, Governo de Getúlio Vargas. Referências bibliográficas ADORO CINEMA. “Filmografia de Glauber Rocha”. In: Adoro Cinema. Disponível em: http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-368/filmografia/. Acesso em: 24 maio 2019. AGÊNCIA ESTADO. Suassuna aprova ‘O Auto’ de Guel Arraes. Portal Terra Cinema. 15 set. 2000. Disponível em: https://www.terra.com.br/cinema/ noticias/2000/09/15/005.htm. Acesso em: 24 maio 2019. ALMEIDA, P. S.;e BUTCHER, P.. Cinema: desenvolvimento e mercado. São Paulo: Ed. Aeroplano, 2003. ANCINE. Saiba mais sobre a Atlântida. Disponível em: https://www.ancine.gov.br/ media/Saiba_mais.pdf. Acesso em: 24 maio 2019. ARANTES, Silvia. Cinema brasileiro perdeu espaço em 2014 e a culpa é dos filmes. 19 DEZ.2014. In: UOL Filmes & Séries. 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Pouco depois da apresentação ao mundo do cinematógrafo dos irmãos Lumiére, em Paris, em 28 de dezembro de 1895, aconteceu no Rio de Janeiro, em julho de 1896, a primeira exibição de cinema no país. O filme apresentado foi o mesmo de Paris, “Saída dos Trabalhadores da Fábrica Lumiére”, dos irmãos Lumiére. No ano seguinte, em 1887, é inaugurada a primeira sala de cinema na capital carioca. Questão 2 – Resposta: A Com o surgimento do som nos filmes nos anos de 1930, os estúdios norte-americanos haviaminvestido fortunas no negócio e, como desdobramento, passaram a investir também em equipar salas de exibição para abrir espaços e mercados para seus filmes. Assim, passaram a comercializar suas produções em “lotes” e a dominar o novo mercado. A situação do cinema nacional ficou tão delicada que o governo federal, na figura do presidente Getúlio Vargas, instituiu uma comissão nacional para tratar da questão. Questão 3 – Resposta: E A historiadora Lays Rocha (2013, s/p) destaca que merece registro, em meio à “invasão norte-americana” das salas de cinema nacionais e da censura imposta pelo governo, a iniciativa de Edgar Roquette-Pinto, que cria o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), em 1936, e produz o filme épico ‘O Descobrimento do Brasil’, com forte apelo nacionalista e música de Heitor Villa-Lobos. O uso da música de Villa- Lobos na produção foi acusado pelo também músico e pesquisador José Ramos Tinhorão, como “arma política de propaganda”. 128128128 Produção audiovisual na Internet: estética e linguagem de produções em plataformas digitais Autora: Jurema L. F. Sampaio Objetivos • Analisar a estética e a linguagem de produções em plataformas digitais. • Conhecer e identificar as características de material para redes sociais e YouTube. • Investigar a ascensão do conteúdo produzido por youtubers. 129129 129 1. Uma história recente Nesta aula você vai conhecer e compreender a estética das produções audiovisuais, em especial nas plataformas digitais, como o trabalho dos “youtubers”, ou seja, desse pessoal que vem ganhando milhões de seguidores e ficando bem famoso, produzindo conteúdo digital, distribuído pela internet em canais do YouTube, a mais famosa das plataformas. Como destaca Daniella Buttler (2017, s/p): Lançar um canal no YouTube e em alguns meses ganhar notoriedade de artista pop, foi o destino de muitos jovens brasileiros. E todos começaram assim: brincando! Os Youtubers saíram da internet para a livraria, para a TV aberta e até para o cinema. Eles começaram no site de vídeos e hoje faturam como estrelas internacionais. E alguns deles não são apenas ouvidos, mas venerados por milhões que lotam bienais, estádios, livrarias e teatros. (BUTTLER, 2017, s/p). Você sabe quando surgiu esse verdadeiro fenômeno de comunicação? O YouTube foi fundado em 14 de fevereiro de 2005, em San Mateo, na Califórnia, EUA, em instalações bastante rudimentares. Lembro de conversas em chats da época que diziam que “ficava em cima de uma pizzaria e um restaurante japonês” (KLEINA, 2005, s/p). A ideia era bem simples: dar suporte ao compartilhamento de vídeos digitais de forma mais rápida, nem os próprios criadores tinham muitas expectativas: “os criadores nem sabiam direito para onde o site iria e achavam até que seria uma plataforma mais privada, para você só hospedar vídeos e mandar para pessoas próximas” (KLEINA, 2005, s/p). A iniciativa, que não foi a primeira do gênero, foi resultado do trabalho e desejo de três “caras” que trabalhavam no PayPal (até o eBay comprar o sistema de pagamentos) na época. Eles são Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim. As “e-lendas” da Internet, como costumo chamar, ou “mitos”, dizem que Chad, que era designer, juntou-se com Chen e Karim, que eram programadores, quando, numa festa, todos reclamavam das “agruras” e das “aventuras” de se tentar assistir a vídeos na internet. 130130 Dessa conversa nasceu a ideia do YouTube e Chad se tornou o primeiro CEO, enquanto Chen ficou com a chefia de tecnologia. Karim, que permaneceu somente como acionista, nem é considerado fundador por alguns historiadores da internet. Atualmente a sede da empresa fica em San Bruno, também na Califórnia, desde que foi adquirida pelo Google, em 2006, quando este encerrou as atividades do Google Vídeos. Na primeira versão do YouTube só havia, como recursos, os vídeos, e as abas de favoritos, mensagens e o seu perfil. Na tela inicial não havia nada além do espaço de ‘login’, como nos mostra o print de tela a seguir (Figura 1). Figura 1 – Homepage do YouTube em 28 de abril de 2005, registro mais antigo do WebArquive.Org. Fonte: https://web.archive.org/web/20050428014715/http://www.youtube.com/ Acesso em: 14 jun. 2019. O primeiro vídeo da história do YouTube foi um ‘vlog’ curtíssimo postado pelo próprio Karim, publicado em 23 de abril de 2005, em que o jovem Yakov Lapitsky fala de elefantes no zoológico de San Diego, chamado “Me at the zoo” (“Eu no Zoológico”). https://web.archive.org/web/20050428014715/http://www.youtube.com/ 131131 131 A compra pelo Google deu impulso ao YouTube, iniciando o que chamo de “era Google” dos serviços de vídeo: Em 2006, o YouTube já era uma sensação e um dos sites de maior crescimento na rede. A plataforma chamou a atenção da Google, que até aquele momento usava o bem inferior Google Vídeos. [...] A revista TIME sente que a época estava mudando e coloca “You”, isto é, “Você”, como a pessoa do ano de 2006, por causa da explosão de conteúdos criados por gente comum e postado na internet. Outro avanço foi nos debates presidenciais dos Estados Unidos em 2007, quando a CNN usa na TV perguntas feitas e postadas por eleitores no YouTube. Hoje seria tudo bem mais fácil, ao vivo e com o chat. Esse ano, o site faz o seu primeiro YouTube Awards para premiar os melhores vídeos do site naquele período. [...] Aí o YouTube começa a pensar em ganhar dinheiro e fazer os criadores faturarem também. Nesse ano, são lançados o programa de parcerias, o Content ID para pagamento de direitos autorais e os anúncios dentro dos vídeos. O ano de 2008 é marcante pelo surgimento dos vídeos em 480p e da versão mobile do site, enquanto o HD só apareceu no ano seguinte. O reconhecimento de fala, que é tão poderoso hoje em dia, só foi adicionado em 2009 (KLEINA, 2005, s/p). Em paralelo aos avanços tecnológicos implementados no site, surgem os primeiros “canais” do YouTube, com gente “comum” produzindo conteúdo de forma muitas vezes ‘amadora’, mas com qualidade, que passou a interessar aos “seguidores”, como são chamados os assinantes de um conteúdo/canal. Os próprios canais têm história semelhante à do site. Pessoas que começaram em suas casas, quase sempre com poucos recursos (um notebook, uma câmera doméstica, etc.), falando de coisas de seus próprios interesses, sem grandes pretensões de alcance de seguidores. Foram crescendo e arregimentando verdadeira legiões de fãs, chegando, atualmente, nas casas dos milhões. No início de 2019, registramos que os três maiores youtubers do mundo são, em números de seguidores: 132132 • PewDiePie: Felix Arvid, um sueco de 27 anos, é o dono do canal que reúne mais de 60 milhões de inscritos. Desde 2013, seu canal é “o maior do mundo”, segundo o VidMonsters (2019, s/p), distribuindo conteúdos de vlog e gameplays, inclusive transmissões de partidas entre gamers famosos. • Dude Perfect: Os irmãos gêmeos norte-americanos Coby e Cory Cotton, mais os amigos Garrett Hilbert, Cody Jones e Tyler Toney comandam um canal cuja temática gira em torno de entretenimento esportivo. Tem mais de 40 milhões de seguidores. • HolaSoyGerman: O espanhol Germán Garmendian, também de 27 anos, controla o canal, que também é sobre conteúdos de vlog e gameplays. Além disso, também conta com esquetes engraçados, que falam de situações complicadas e/ou constrangedoras que pessoas comuns passam e enfrentam no dia a dia. Tem 39,5 milhões de inscritos. A estética predominante dos youtubers de sucesso inclui inteligência, irreverência e simpatia, independente do tema/assunto do canal. Uma intimidade é criada com os seguidores, que são tratados como “amigos”, próximos o suficiente para gerarem a credibilidade e, por consequência, a fidelidade de público. No Brasil, o fenômeno de comunicação digital não fica atrás, quando se fala em números de seguidores, e alguns ostentam marcas surpreendentes em relação ao número de seguidores. Em algunscasos, milhões de pessoas. Endereços como o ‘Porta dos Fundos’, de esquetes de humor (com mais de 15 milhões de inscritos, em junho de 2019) e o de Júlio Cocielo (do ‘Canal Canalha’, terceira página com maior número de inscritos no YouTube Brasil em 2019: mais 18 milhões de assinantes, junho de 2019) são empreendimentos de sucesso. O Canal KondZilla é o maior canal de YouTube do Brasil e o quarto maior do mundo, com mais de 50 milhões de inscritos e 23 bilhões de visualizações (KONDZILLA, 2019, s/p). O termo é o nome artístico de Konrad Dantas, um produtor brasileiro de vídeos musicais de funk. É o primeiro brasileiro a aparecer na lista mundial de maiores canais no YouTube. 133133 133 O canal do humorista Whindersson Nunes (com mais de 20 milhões de inscritos e mais de 1 bilhão de visualizações, é o nono maior canal do mundo em número de seguidores, segundo a jornalista Gabriela Zocchi (2018, s/p). No segmento infantil, a ‘Galinha Pintadinha’ segue na liderança no Brasil. São 17 milhões de inscritos e 10 bilhões de visualizações, segundo os dados disponíveis no próprio YouTube (GALINHA PINTADINHA, 2019, s/p). Basta uma pesquisa superficial e rápida pelos canais de sucesso para perceber que os maiores públicos se concentram em canais “jovens” ou dedicados a esse segmento da população e se apresentam, em geral, com uma estética leve e baseada em humor. Mas não são exclusivamente os jovens que assistem aos youtubers. Muito menos só as temáticas dirigidas a esse público as que têm sucesso. O Canal ‘5-Minutes Crafts’, que se especializou em vídeos com diversas dicas de “Crafts”, ou seja, Trabalhos Manuais, e curiosidades como ‘dicas para pintar as unhas’, conta com números impressionantes: mais de 57 milhões de inscritos e 12 bilhões de visualizações (5-MINUTE CRAFTS, 2019, s/p). A versão infantil conta com 13 milhões de assinantes no mundo. Embora seja o maior deles, o YouTube certamente não é o único site do gênero. Nomes como Vimeo, Flickr, DailyMotion, Veoh, ZippCast, Twitch, Blip.tv, Viddler e Metacafe (que, por sinal, foi o primeiro site deste tipo a ir ao ar na internet, em 2003) são referências mais ou menos comuns no nosso dia a dia digital. Certeza você já viu conteúdo em algum deles, só não “reparou” no endereço. Procure prestar atenção ao que circula nas redes sociais e poderá comprovar. Mesmo o Facebook e o Instagram, as redes sociais mais tradicionais, têm suporte para distribuição de mídia audiovisual. Vamos conhecer alguns deles. 134134 1.1 Vimeo O Vimeo é um site de compartilhamento de vídeo ad-free com sede em Nova York. Concorrente direto do YouTube, foi fundado por Zach Klein e Jakob Lodwick, em dezembro de 2004. Ou seja, é anterior ao YouTube. Nele os usuários podem fazer upload, partilhar e ver vídeos com um diferencial: em 2007, o Vimeo se tornou o primeiro site de compartilhamento de vídeos a suportar vídeo de alta definição. Alguns usuários se referem a ele, muitas vezes, como “melhor” que o YouTube. É verdade que os recursos sociais, o sistema de acompanhamento de métricas e o controle de publicidade do Vimeo sejam melhores (não tem as irritantes telinhas de monetização do YouTube sobre os vídeos), os recursos grátis como legendas, tornar um vídeo 3D e editar um vídeo já postado a qualquer hora (coisas que o Vimeo não oferece) seduzem os usuários menos experientes. Mas o que mais se destaca na preferência dos usuários, e que o Vimeo não oferece aos usuários gratuitos, são as ‘Soluções Móveis’ do app YouTube. Apesar de limitadas, o acesso a favoritos, histórico, playlists, inscrições, comentários e “populares” da rede é amplo. No app Vimeo não é possível carregar vídeos e não há acesso aos álbuns e grupos, apenas ao feed, favoritos e “watch later”. Ou seja, uma experiência pouco interativa para influenciadores digitais, que desejam postar vídeos em ‘tempo real’. 1.2 Flickr Embora muita gente não saiba e considere o Flickr (Figura 2), site canadense que foi desenvolvido pela Ludicorp em fevereiro de 2004 (também antes do YouTube), somente um suporte de flogs, e até mesmo ultrapassado, o sistema dá suporte à publicação de vídeos. Não oferece os serviços do YouTube e do Vimeo e, por isso, é usado pela maioria dos assinantes como armazenador de conteúdo, mas por muito poucos como canal de material audiovisual. 135135 135 Seu sistema de buscas, que permite localizar conteúdos por buscas de cor predominante e tipos de textura, é fascinante para vídeos de arte e, claro, fotografias. Mas menos interessante para influenciadores digitais construírem e administrarem suas marcas/nomes. A obrigatoriedade de ter um e-mail Yahoo para cadastrar-se no serviço afasta muita gente que não gosta do servidor de e-mails. Figura 2 – Print da página de busca de vídeos do Flickr Fonte: https://www.flickr.com/search/?text=v%C3%ADdeos. Acesso em: 14 jun. 2019. 1.3 Metacafe É o primeiro site de distribuição de vídeos do mundo. Fundado por Eyal Hertzog, Arik Czerniak e Ofer Adler, em julho de 2003. Segundo a jornalista de tecnologia Teresa Furtado, do site TechTudo: O Metacafe é um site especializado em entretenimento multimídia, ou seja, você encontra conteúdo em categorias como filmes, vídeos, canções, videogames e televisão. Seu grande diferencial é parceria com grandes estúdios de cinema, gravadoras musicais, ligas esportivas, redes de TV e outros. O que proporciona ao usuário um infinito de material de qualidade. Seu conteúdo está dividido em três grandes categorias: filmes, jogos e música. Dentro delas, temos diversas sub que facilitam seu acesso ao que procura. (FURTADO, 2012, s/p). https://www.flickr.com/search/?text=v%C3%ADdeos 136136 O destaque maior do Metacafe é que não se limita a vídeos, e a segmentação de games se subdivide em plataformas disponíveis: PlayStation, Xbox 360, Wii, PC, PSP, DS, Mobile e Browse, o que faz a alegria dos gamers. Conta ainda com um software gratuito que pode ser instalado junto ao navegador que permite baixar para sua máquina os conteúdos que mais gostar, e um diferencial bastante interessante é que utiliza filtros para não repetir vídeos na busca, o que ajuda muito nas pesquisas. Oferece monetização para conteúdo de sucesso. Se seu vídeo ultrapassar 20 mil visualizações, pagam $5 para cada 1 mil visualizações. Figura 3 – Print da página inicial do Metacafe Fonte: http://www.metacafe.com/. Acesso em: 14 jun. 2019. 2. Youtuber ou digital influencer? O nome “youtuber” se refere, obviamente, ao suporte, o site YouTube. Um youtuber é alguém que comanda um canal no YouTube. Mas com os outros sites e possibilidades de compartilhar conteúdos audiovisuais, o termo passou a ‘incomodar’ os jornalistas. Em especial, pelo surgimento http://www.metacafe.com/ 137137 137 da ‘monetização’, ou seja, esses canais passaram a valer dinheiro, e muito, simplesmente fazer propaganda ‘de graça’ para o YouTube começou a impulsionar os jornalistas a buscarem alternativas ao termo. Surgiu, então, a expressão “digital influencer”, ou, “influenciador digital”, em português. Que é como são chamados mais recentemente os criadores de conteúdo audiovisual para web. Ou seja, youtuber é um tipo de influenciador digital, que pode ter seu material e conteúdo disponível em diversas plataformas. Youtubers podem ser considerados os influenciadores mais populares em todo o mundo, atualmente, mas os blogueiros foram os primeiros influenciadores digitais da internet e a atividade continua em alta. A maioria dos blogueiros mantêm uma página com criação de conteúdo, mas aparece também em outras plataformas, como Facebook e Instagram. De ser considerado uma distração de adolescentes a passar a uma das profissões mais cobiçadas da atualidade, os influenciadores digitais chegaram ‘para ficar’. Geralmente o influenciador aborda um nicho específico de atuação, como esporte, educação, nutrição, gastronomia, tecnologia, cursos, moda, aventura, saúde, viagens, etc., e com ocrescimento da base de seguidores expande também para outras áreas. Quando um influenciador atinge uma quantia considerável de seguidores, desperta o interesse das marcas que atuam no seu nicho de mercado e frequentemente passa a receber produtos e serviços gratuitos para experimentar. Naturalmente que o objetivo é que eles comentem e divulguem a marca. Alguns influenciadores, como as blogueiras que vieram do mundo da moda, ou ‘fashion’, têm mesmo ‘media kit’, detalhando o valor e condições para fazerem divulgação de marcas, empresas e produtos: é o chamado publipost, ou postagem publicitária. O investimento de empresas em influenciadores digitais é chamado de marketing de influência, e essa estratégia tem se mostrado bastante eficiente em termos de custo-benefício, pois os bloggers e vloggers têm visibilidade e credibilidade junto a seus fãs. 138138 Bloggers e vloggers? Blog, vlog ou flog? Que termos são esses? O que significam? São todos neologismos, ou seja, palavras novas no nosso idioma, ‘importadas’ do universo digital. O Jornalista Caio Ramos, da Revista Superinteressante, registra que O blog é uma página de internet composta de parágrafos dispostos em ordem cronológica, que pode ser atualizada frequentemente. Muitas vezes, eles funcionam como uma versão eletrônica e pública dos velhos diários pessoais. [...] A atualização é automática e não é necessário dominar HTML, o código usado na internet. Mas nem sempre foi assim. Por volta de 1996, um weblog era um guia de links, e criá-lo requeria conhecimentos específicos. [...] Os blogs explodiram – no bom sentido – em 11 de setembro de 2001, quando relataram os ataques terroristas nos Estados Unidos minuto a minuto. (RAMOS, 2017, s/p). ASSIMILE Blog é derivado de ‘weblog’, ou seja, ‘web + ‘log’, ou, “diário da rede”, em português. Já usamos o termo ‘blogue’ em nosso idioma, mas, na origem, o termo é em inglês: blog. Um ‘vlog’ é a abreviação de ‘videoblog’ ou “vídeo diário da rede” e, por fim, ‘flog’ vem de “foto + blog”, ou, “foto diário da rede” e é o mais “estranho” dos neologismos, pois, em inglês, seria ‘photo’ e não ‘foto’. 3. O que é preciso para ser um digital influencer de sucesso Os youtubers, como vimos, são os influenciadores digitais que trabalham com a plataforma YouTube. Outro tipo de influenciador são os Blogueiros, que cuidam de blogues de conteúdos, e os Instagrammers, 139139 139 que utilizam o Instagram para produzir conteúdo. Independentemente da plataforma usada, a primeira e mais importante condição para ter sucesso nesse mercado é ter conteúdo original. Em evento da Fundação Telefônica, acontecido em 12 de novembro de 2012, em Madrid, com transmissão direta via web, a diretora executiva da rede de supermercados DIA e fundadora da ideas4all Innovation, Ana María Llopiz, chamou de “La Ley de Internet: 90 / 9 / 1” (Figura 4). Ou seja, a cada 100 conteúdos disponíveis na rede, 90% das pessoas somente replicam, 9% interage com esses conteúdos e somente 1% produz conteúdo novo (SAMPAIO, 2014, p. 128): “A ‘inovação’, tão falada e mesmo tida como o ‘caminho’ do ‘futuro da Internet’ estaria no conteúdo, mas no conteúdo ORIGINAL de quem realmente PRODUZ conteúdo” (SAMPAIO, 2014, p. 129). Figura 4 – Gráfico ilustrativo da “Lei da Internet 90 / 9 / 1”, de Ana María Llopiz Fonte: Elaborada pela autora. Para ser realmente um(a) bom(boa) digital influencer é preciso trazer algo realmente inovador, com qualidade, que interesse às pessoas a ponto de fidelizar seguidores, ou seja, a ponto de seus seguidores ‘quererem’ ver/ouvir o que você tem a dizer. 140140 A professora Daniella Barbosa Buttler (2017, s/p), doutora em Linguística Aplicada em Estudos da Linguagem pela PUC-SP, disse ao Estadão Educação que considera que O segredo para ter um canal de sucesso hoje é apresentar o conteúdo com um diferencial, irreverente, para não ser apenas mais do mesmo. Há que ter a noção que para conseguir sucesso, um Youtuber deve criar algo pessoal, único e, de preferência, com qualidade (BUTTLER, 2017, s/p). Uma das estratégias, e realmente a mais comum, é o humor. Mas não só de humor se sustenta um influenciador digital. Ele(a) precisa ter ‘presença’, ter carisma, representar a imagem do que as pessoas desejam, seja em moda, seja em produtos de consumo, sejam games, enfim, em qualquer segmento. Mas a estética dos blogs e vlogs não é estanque ou fixa. Um exemplo é o trabalho do influenciador Felipe Neto. Inicialmente, meio que buscando seu próprio estilo, Neto aparecia na frente da câmera falando palavras desconexas, fazendo piadas e comentários aleatórios. O estilo informal abriu caminho para o surgimento do primeiro formato do ‘Não Faz Sentido!’. Felipe encontrou seu personagem em uma atuação com óculos escuros e comentários sobre um tema específico, diferente a cada vídeo novo. Esse foi o formato que trouxe a popularização para o seu canal. O caso de Kéfera Buchmann, outro fenômeno youtuber, que começou, em 2010, em seu canal ‘5inco Minutos’ reclamando das vuvuzelas da Copa do Mundo, ‘trocou’ várias vezes de estilo e assumiu diversas ‘personagens’ antes de assumir seu ‘papel’ que parece ser o definitivo: influenciadora digital. Mesmo com atuações como as de escritora e atriz, o maior patrimônio de Kéfera é sua imagem. Também vem do exemplo de Kéfera as possibilidades de negócios e atividades que se desdobram da atuação dos influenciadores digitais. 141141 141 Desde 2010, além do canal, Kéfera já lançou 3 livros, participou de 7 peças de teatro, 7 filmes, 3 novelas, atuou como VJ, fez um programa de rádio na Jovem Pan FM de Curitiba e comanda uma série de empresas, como a Kéfera Store (loja online, com produtos personalizados do canal ‘5inco Minutos’); a linha de comidas ‘Fit e Saudáveis’, que inclui a dieta líquida ‘Tudo Leve by Kéfera Buchmann’ (sem glúten, zero lactose e fibra); a sua própria linha de esmaltes, ‘Oi Oi Gente - Kéfera Buchmann by Studio 35’; um sabor de sorvete para a ‘Bacio di Latte’, chamado ‘Kéfera di Latte’ (zero lactose, associando um problema de saúde da moça ao negócio); a ‘Coleção Kéfera’, uma linha de óculos da Chilli Beans, que traz armações com hastes com as palavras “Together” e “Forever”, frase que a moça tem tatuada no braço; e uma coleção de joias para a joalheria Monte Carlo: “junto com outras das quatro das maiores youtubers do Brasil — Bruna Santina; Bruna Vieira, Bianca Andrade e Taciele Alcoela. Cada uma delas desenhou cinco pingentes que representam seus momentos favoritos e suas paixões para a coleção” (ASTUTO, 2016, s/p). O que se pode perceber, principalmente, é que influenciadores digitais trabalham e vendem sua imagem pessoal como se fossem marcas, e que essa imagem é seu patrimônio, seu principal conteúdo. Outro ponto importante de destacar quando pensamos em desvendar os ‘mistérios’ dos influenciadores digitais é o tempo. Os vídeos do ‘5inco Minutos’ quase nunca têm cinco minutos de duração. O que sempre deixou seus seguidores curiosos foi ‘explicado’ pela curitibana em várias entrevistas como sendo um dos objetivos centrais do canal: oferecer vídeos de, no máximo, cinco minutos de duração, demonstrando um conhecimento, inicialmente meio que intuitivo, do que viria a se consolidar como uma das características importantes dos conteúdos audiovisuais na web que ‘funcionam’: são curtos, diretos. Isso porque a velocidade de assimilação e descarte de informações na atualidade é grande e, programada ou não, uma verdade a ser considerada com atenção no planejamento e produção de conteúdo audiovisual para web. 142142 Os blogueiros foram os primeiros influenciadores digitais da internet e a atividade continua em alta. A maioria dos blogueiros mantém uma página com criação de conteúdo, mas aparece também em outras plataformas, como Facebook e Instagram. PARA SABER MAIS O conceito de obsolescência programada surgiu após a depressão Norte Americana, na qual Bernard Londonmaior realismo às cenas e encenações (BROCKETT, 1999, p. 16-17). 4. Arte Romana A História da cultura romana é dividida basicamente em três momentos distintos: monarquia, república e império. A monarquia romana é o período mais antigo e suas características são bastante variadas, muito ligadas aos reis e seus respectivos reinados. A República Romana teve início em 509 a.C. e vai até o estabelecimento do Império Romano em 27 a.C. (TITO, 2008, p.8). Por fim, o Império Romano, que nasceu oficialmente em 27 a.C. e terminou em 476 d.C., data da queda do Império do Ocidente (LE ROUX, 2009), dando início à Idade Média. A arte romana é fortemente influenciada pelos padrões estéticos gregos, expressando o ideal de beleza. Ao final do século I d.C.m Roma já havia superado as influências gregas, vindo a desenvolver criações próprias. 1515 15 Na arquitetura, a maior de todas as expressões artísticas dos romanos, as edificações abobadadas (GOMBRICH, 2000, p.113) são suas mais significativas características. Estão presentes em anfiteatros, templos, aquedutos, muralhas, dentre outras formas de arquitetura, que retratam a magnitude da civilização romana. A pintura romana se distinguia pelo uso do realismo na representação, somado à imaginação, nas temáticas, eram geralmente feitas em grandes dimensões, se valiam de recursos de ilusão, como a sugestão de profundidade. De essência decorativa, os painéis, compostos por pessoas, animais e objetos, ocupavam grandes espaços, enriquecendo ainda mais a arquitetura. Em relação às esculturas, os romanos se diferenciavam dos gregos em alguns aspectos. Ao invés da representação do ideal de beleza, a escultura romana procurava a ‘cópia fiel’, buscando retratar traços particulares dos retratados. Exemplos disso podem ser percebidos na estátua do imperador Augusto (Figura 4), datada por volta de 19 a.C. O artista retratou as feições reais do Imperador, a couraça e as capas romanas. Essas características também podem ser encontradas nos relevos esculpidos, retratando acontecimentos e pessoas participantes deles, são “os métodos narrativos [...] desenvolvidos pela arte romana” (GOMBRICH, 2000, p.83) que colaboravam na propagação das vitórias do exército romano e nas conquistas do império. Figura 4 – Estátua do Imperador César Augusto. Brindisi, Itália Fonte: Fotooiason/iStock.com. 1616 Outra grande contribuição da cultura romana às artes foi a criação do Teatro Romano, também chamado de Teatro de Arena ou anfiteatro. Um anfiteatro é uma espécie de “fusão” de dois teatros gregos em uma única construção, espelhados. Os teatros romanos são estruturas arquitetônicas amplas, construídas com uso de abóbadas e arcos, que acolhiam muitas pessoas e eram compostas de um espaço central em formato elíptico, a arena, circundado pelas arquibancadas, com grande número de fileiras distribuídas em torno dessa arena. Os anfiteatros romanos não apresentavam representações teatrais, mas era onde se realizavam grandes espetáculos populares, como as lutas dos gladiadores. Para isso, não era necessário um palco para apreciar o espetáculo. Esses eventos tinham forte conotação política, pois ao entreterem a massa, a mantinham sob controle dos dirigentes, num período marcado por grandes desequilíbrios sociais. Dessa prática vem a expressão “política do pão e circo” (panem et circenses, em Latim original), que “foi usada pela primeira vez durante a administração Caio Graco pelo poeta satírico Juvenal em suas Sátira” (GARRAFFONI, 2005, p. 77-78; ARAUJO & VIEIRA, 2015, p. 30). As obras desse poeta, que era de origem aristocrática, “além de imbuídas de fortes valores morais, demonstram certa aversão para com a plebe romana” (GARRAFFONI, 2005, p. 79). Juvenal (apud GARRAFFONI, 2005, p. 81-84) descreve a plebe como viciada, apática e dependente do pão e do circo dado pelo Império Romano, por esse motivo alguns historiadores acabaram utilizando dessa expressão para designar o controle da plebe pelos imperadores feito através do pão (distribuição do trigo) e do circo (espetáculos). (GARRAFFONI, 2005, p. 81-84). O maior dos exemplos dos anfiteatros romanos é o Coliseu (Figura 5), em Roma, que é considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno. 1717 17 Figura 5 – Panorâmica interna do Coliseu. Roma, Itália Fonte: Power of Forever/iStock.com. 5. Idade Média O fim do Império Romano marca o início da Idade Média, ou período medieval, ou, ainda, a idade das trevas. Durou dez séculos, entre os séculos V e XV, e é dividida em dois períodos: Alta e Baixa Idade Média. A arte desse período se chama Arte Medieval e mantém forte influência da igreja católica, o que faz com que a maior parte dos trabalhos desse período tenha temática religiosa. Com o declínio do Império Romano, o Império Romano do Oriente sobrevive e se reorganiza no Império Bizantino, tendo como grande expressividade artística sua arte em mosaicos, que perdura até hoje. 6. Alta Idade Média Na Europa, a queda do Império Romano do Ocidente inicia um período de reorganização social tendo a igreja Católica como fator de centralização, visto que grande parte desse império era cristã. Mesmo 1818 com o desmonte do Império Romano do Ocidente, a reorganização social não foi pacífica e houve diversos conflitos entre os reinos, somados às invasões de povos bárbaros, como francos, celtas e vikings, vindo do norte europeu. A cultura greco-romana prevaleceu na maioria do ocidente e o cristianismo se expandiu, espalhando monastérios e igrejas “de forma surpreendentemente homogênea” (BENTON, 2002, p.55). Aperfeiçoando a estética romana, muitas vezes reconstruindo templos originais romanos, transformando-os em templos católicos, numa tentativa de manter o poderio católico, em que “praticamente todos estes espaços foram decorados com pinturas murais” (DOWELL, 1993, p. 37). Isso faz com que a estética romana ressurja no que se passou a chamar de “Estilo Românico” (BENTON, 2002, p. 55). As características do Estilo Românico, o predominante da Alta Idade Média, que mais se destacam são “o uso do arco de volta perfeita, aberturas de pequena dimensão e o uso de arcaria cega nas paredes” (ADAMS, 2001, p. 181-189). 6.1 Iluminuras e manuscritos As principais formas de arte da Alta Idade Média são as Iluminuras. Como a alfabetização era quase restrita aos religiosos, eram eles quem, geralmente, realizavam a escrita dos textos e as ilustrações e decorações dos manuscritos chamadas de iluminuras. Em definição simples, um manuscrito iluminado é um texto escrito à mão, geralmente em pergaminho, decorado com ilustrações feitas em ouro ou prata, e cores oriundas de pigmentos desenvolvidos pelos próprios artistas, como o pó de grafite. Os tons de vermelho vinham do chumbo (tetróxido de chumbo) ou, como o Carmesim, também conhecido como ‘kermes’, que era extraído do inseto ‘Kermes vermilio’. O uso de ouro é, de longe, uma das características mais marcantes dos manuscritos iluminados. Um manuscrito não era considerado iluminado 1919 19 a menos que uma ou muitas iluminações apresentassem detalhes ou folhas de ouro ou fossem ‘escovadas’ com partículas de ouro, num processo conhecido como polimento. A inclusão do ouro nas iluminuras tem muitos significados, por exemplo, se o texto é de natureza religiosa, o ouro é um sinal de exaltação do texto. Iluminados ou não, os manuscritos eram escritos em pergaminho (mais comumente da pele de bezerro, de ovelha ou de cabra) ou foram criados como códices (manuscritos gravados em madeira), que haviam substituído os pergaminhos. Porém, os textos importantes o suficiente para serem iluminados foram escritos sobre pergaminhos da melhor qualidade. Seja pelas capitulares, em que o texto é complementado com decoração com iniciais trabalhadas, ou seja, pelas bordas (marginalia) e desenhos em miniatura, o termo ‘iluminuras’ refere-se a qualquer manuscrito decorado ou ilustrado nas tradições ocidentais. A iluminaçãopropunha “uma redução na vida útil das mercadorias, com o intuito de impulsionar a economia norte americana que estava estagnada” (BULOW, 1986, pp.729–749). É uma teoria já bastante estudada pelos pesquisadores do tema “obsolescência programada”, procure conhecer mais sobre este conceito. BULOW, Jeremy. An Economic Theory of Planned Obsolescence. The Quarterly Journal of Economics (em inglês). 101 (4): 729–749. 1986. 4. Audiovisual nas redes sociais As redes sociais são, em si, um fenômeno de comunicação que merece estudo dedicado. Os audiovisuais em redes sociais já são uma realidade e há uma grande tendência de que, a cada dia mais, ocupem essas mesmas redes. Para que conteúdo audiovisual em redes sociais seja eficiente, é preciso que seja relevante e traduza os valores do perfil que o compartilha. A estética e a linguagem utilizada devem estar adequadas ao público-alvo. Assim como em qualquer outra peça de comunicação, o planejamento é essencial para o sucesso de qualquer estratégia. Com o audiovisual não é diferente. 143143 143 Conteúdos bem planejados e bem desenvolvidos ajudam a fidelizar públicos por meio de temas e assuntos relevantes e que estejam em acordo com o universo do produto ou serviço a que se referem. Por mais que seja uma verdade de que é possível fazer um vídeo com qualquer smartphone, se a ideia é construir material consistente e efetivamente adequado, é extremamente importante pensar na qualidade da produção. Um dos pontos importantes das redes sociais, e que as vezes é esquecido pelos produtores audiovisuais, é que não adianta muito haver postagens de vídeos ‘impecáveis’ se não houver oportunidade de interação com os seguidores. É essa relação de interação onde “mora” o “segredo” dos bons desempenhos de material audiovisual em redes sociais. Mais até que a qualidade do vídeo, muitas vezes a interação por meio de respostas a comentários, por exemplo, seja em conteúdos assíncronos ou em tempo real, as “lives” são essenciais. Uma dica importante para orientar o início do planejamento de produção audiovisual para rede social: busque construir uma proposta em que já nos primeiros 5 ou, no máximo 10 segundos iniciais do seu material, seja absolutamente interessante, pois eles é que vão definir a permanência ou não do público até o fim. Cuide da frequência de exibição do material. Pesquise dias e horários mais interessantes para seu público-alvo e mantenha-se o mais possível dentro desses parâmetros. E, lembre-se, exposição excessiva pode “queimar” um bom material. Junto com o planejamento de mídia é muito importante dimensionar a intensidade da exibição da mensagem, equilibrando frequência e impacto. Agindo desse modo você já terá um ótimo início e isso logo se refletirá nas métricas de seu material. Mas lembre-se de sempre manter uma observação constante a essas mesmas métricas para monitorar o desempenho, analisando número de visualizações, curtidas e interações, verificando sempre a necessidade de ajustes para melhorar os resultados da estratégia adotada. 144144 As redes sociais oferecem algumas das melhores estratégias para engajamento de marcas e produtos, e isso acontece porque têm como característica principal o apelo visual – de imagens e vídeos. Mas cada uma delas tem seu próprio ritmo, estética e dinâmica de funcionamento. O Instagram, por exemplo, pede vídeos mais curtos e diretos. O Facebook permite conteúdo um pouco mais extenso, mas, ainda assim, compacto. Os motivos para que o YouTube continue sendo o “mais querido” dos webplayers de vídeo online não são exatamente unanimidade entre especialistas, mas podemos especular alguns deles, com alguma segurança, defendidos pela experiência dos profissionais da área. Primeiro, o sistema de busca. A busca no YouTube conta com o suporte de um sistema robusto e eficiente, faz com que se possa encontrar facilmente o que se procura, com poucos cliques ou algumas hashtags. O editor online, Creator Academy, disponível gratuitamente, é de fácil operação e conta com um banco de recursos também gratuitos, muito interessante. Por fim, mas não menos importante, a interface intuitiva, simples de usar, sem exigir grandes conhecimentos técnicos também é um fator relevante. A Revista Exame veiculou um conteúdo de Publicidade Corporativa em que dizia que hoje, 74% dos consumidores se orientam por meio de suas redes sociais para realizar uma compra, de acordo com estudo realizado pela Sprout Social, e, segundo a Nielsen, 84% dos consumidores tomam decisão com base nas opiniões de fontes confiáveis, acima de outras formas de publicidade. Além disso, de 2016 para 2017, o tempo gasto pelos brasileiros na internet dobrou, de 8 horas semanais para 16 horas semanais. De olho nesses dados, as empresas apostam forte nos influenciadores. (DINO, 2018, s/p). Qualidade e profissionalização de recursos de áudio, iluminação, direção e edição fazem toda a diferença e influenciam diretamente na performance de seu material audiovisual para redes sociais. Desse modo, mesmo com recursos controlados e principalmente por isso, para evitar desperdícios e retrabalho, é essencial planejar o material 145145 145 audiovisual de acordo com cada canal de divulgação. É primordial começar com um planejamento global, mas não se deve ignorar as características de cada rede social. Por isso, adapte as estratégias sempre que isso se mostrar necessário. A tendência do futuro é a diversificação das fontes de informação e a inovação na forma de produzir e absorver conteúdo. E isso se reflete na forma como esse conteúdo é apresentado. A profissão de digital influencer se apresenta, cada vez mais, como uma forte opção de atuação no mercado de comunicação e as empresas de RH são quase unânimes em apontá-la com frequência nas listas de “profissões de futuro”. Um futuro que já começou. TEORIA EM PRÁTICA Você deve saber que a maioria dos vídeos comerciais tem 15 ou 30 segundos de duração. Mas já reparou que dentro do YouTube, antes de um vídeo começar, muitas vezes temos comerciais também em vídeo, que são exibidos nos canais monetizados, obrigatoriamente por cinco segundos antes de aparecer o botão “pular anúncios” possa ser acionado? Isso força o usuário a assistir ao menos 5 segundos do vídeo comercial, antes de poder “pular” a propaganda e ter acesso ao conteúdo que deseja ver. Elabore um projeto de roteiro para uma peça audiovisual comercial de 15 segundos, em que nos 5 primeiros segundos seja efetivamente passada uma mensagem que mantenha o usuário sem apertar o “pular comercial” e o faça querer assistir aos 15 segundos totais dos comerciais. Que tipos de mensagem inicial deve haver nesses cinco segundos iniciais para que a atenção do usuário seja capturada? O que deve ser priorizado nesse tempo para que se mantenha SEM apertar o botão de ‘pular comercial’ e assista a toda peça? 146146 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Sobre o YouTube é verdadeiro afirmar que a. foi fundado em 14 de fevereiro de 2015 na California, EUA. b. foi o primeiro serviço de compartilhamento de vídeos do mundo. c. os próprios criadores tinham muitas expectativas no seu lançamento. d. foi resultado do trabalho e desejo de três funcionários do PayPal. e. Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, os criadores, eram programadores. 2. A estética predominante dos youtubers de sucesso inclui... a. inteligência, irreverência e simpatia. b. irreverência, distanciamento e monetização. c. intimidade, inteligência e segmentação. d. proximidade, escárnio e distanciamento. e. inteligência, formalidade e discrição. 3. Sobre o público dos youtubers, é verdadeiro afirmar que... a. são na maioria pessoas superficiais e rápidas. 147147 147 b. gostam de uma estética definida e clássica. c. só as temáticas dirigidas aos jovens têm sucesso. d. são exclusivamente os jovens que assistem aos youtubers. e. os maiores públicos se concentram em canais jovens. Referências bibliográficasASTUTO, Bruno. “Cinco das principais youtubers do país lançam juntas coleção de joias. Kéfera Buchmann, Bruna Santina, Bruna Vieira, Bianca Andrade e Taciele Alcoela dominam a chamada blogosfera. Revista Época, 22/02/2016 - 12h00 - Atualizado 22/02/2016. Disponível em: https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ bruno-astuto/noticia/2016/02/cinco-das-principais-youtubers-do-pais-lancam- juntas-colecao-de-joias.html. Acesso em: 21 jun. 2019. BULOW, Jeremy. An Economic Theory of Planned Obsolescence [Uma Teoria Econômica de Obsolescência Programada] (PDF). The Quarterly Journal of Economics (em inglês). 101 (4): 729–749. 1986. Disponível em: http://www.murks- nein-danke.de/blog/download/An+Economic+Theory+of+Planned+Obsolescence. pdf. Acesso em: 21 jun. 2019. BUTTLER, Daniella Barbosa. “Youtubers: moda ou tendência irreversível?”. In: Estadão Educação. 27 set.2017. Disponível em: https://educacao.estadao.com. br/blogs/blog-dos-colegios-humboldt/youtubers-moda-ou-tendencia-irreversivel/. Acesso em: 21 jun. 2019. DINO - Divulgadores de Notícias. “Influenciadora Digital: profissão é nova aposta de mercado, diz master coach”. In: Publicidade Corporativa. Revista Exame. 3 maio 2018. Disponível em: https://exame.abril.com.br/negocios/dino/influenciadora- digital-profissao-e-nova-aposta-de-mercado-diz-master-coach/. Acesso em: 21 jun. 2019. FURTADO, Teresa. “O que é Metacafe?” In: TechTudo. 8 maio 2012. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/05/o-que-e-metacafe.html. Acesso em: 23 jun. 2018. GALINHA PINTADINHA, Canal YouTube. Jun.2019. Disponível em: https://www. youtube.com/channel/UCBAb_DK4GYZqZR9MFA7y2Xg. Acesso em: 21 jun. 2019. https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/bruno-astuto/noticia/2016/02/cinco-das-principais-youtubers- https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/bruno-astuto/noticia/2016/02/cinco-das-principais-youtubers- https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/bruno-astuto/noticia/2016/02/cinco-das-principais-youtubers- http://www.murks-nein-danke.de/blog/download/An+Economic+Theory+of+Planned+Obsolescence.pdf http://www.murks-nein-danke.de/blog/download/An+Economic+Theory+of+Planned+Obsolescence.pdf http://www.murks-nein-danke.de/blog/download/An+Economic+Theory+of+Planned+Obsolescence.pdf https://educacao.estadao.com.br/blogs/blog-dos-colegios-humboldt/youtubers-moda-ou-tendencia-irrever https://educacao.estadao.com.br/blogs/blog-dos-colegios-humboldt/youtubers-moda-ou-tendencia-irrever https://exame.abril.com.br/negocios/dino/influenciadora-digital-profissao-e-nova-aposta-de-mercado-d https://exame.abril.com.br/negocios/dino/influenciadora-digital-profissao-e-nova-aposta-de-mercado-d https://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/05/o-que-e-metacafe.html https://www.youtube.com/channel/UCBAb_DK4GYZqZR9MFA7y2Xg https://www.youtube.com/channel/UCBAb_DK4GYZqZR9MFA7y2Xg 148148 KLEINA, Nilton. “A história do YouTube, a maior plataforma de vídeos do mundo [vídeo]”. 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A ideia era bem simples: dar suporte ao compartilhamento de vídeos digitais de forma mais rápida, nem os próprios criadores tinham muitas expectativas. A iniciativa, que não foi a primeira do gênero, foi resultado do trabalho e desejo de três “caras” que trabalhavam no PayPal (até o eBay comprar o sistema de pagamentos) na época. Eles são Chad Hurley, Steve https://www.tecmundo.com.br/youtube/118500-historia-youtube-maior-plataforma-videos-do-mundo-video.h https://www.tecmundo.com.br/youtube/118500-historia-youtube-maior-plataforma-videos-do-mundo-video.h https://www.youtube.com/user/CanalKondZilla https://www.youtube.com/user/CanalKondZilla https://super.abril.com.br/tecnologia/o-que-e-blog/ https://super.abril.com.br/tecnologia/o-que-e-blog/ https://vidmonsters.com/blog/youtuber-mais-famoso-do-mundo/ https://vidmonsters.com/blog/youtuber-mais-famoso-do-mundo/ https://capricho.abril.com.br/famosos/sabia-que-dois-brasileiros-estao-entre-os-10-maiores-canais-do https://capricho.abril.com.br/famosos/sabia-que-dois-brasileiros-estao-entre-os-10-maiores-canais-do https://www.youtube.com/channel/UC57XAjJ04TY8gNxOWf-Sy0Q https://www.youtube.com/channel/UC57XAjJ04TY8gNxOWf-Sy0Q https://www.youtube.com/channel/UC295-Dw_tDNtZXFeAPAW6Aw https://www.youtube.com/channel/UC295-Dw_tDNtZXFeAPAW6Aw 149149 149 Chen e Jawed Karim. Chad era designer, Chen e Karim eram programadores. Atualmente a sede da empresa fica em San Bruno, também na Califórnia, desde que foi adquirida pelo Google, em 2006, quando este encerrou as atividades do Google Vídeos. Questão 2 – Resposta: A A estética predominante dos youtubers de sucesso inclui inteligência, irreverência e simpatia, independente do tema/assunto do canal. Uma intimidade é criada com os seguidores, que são tratados como “amigos”, próximos o suficiente para gerarem a credibilidade e, por consequência, a fidelidade de público. Questão 3 – Resposta: E Basta uma pesquisa superficial e rápida pelos canais de sucesso para perceber que os maiores públicos se concentram em canais “jovens” ou dedicados a esse segmento da população e se apresentam, em geral, com uma estética leve e baseada em humor. Mas não são exclusivamente os jovens que assistem aos youtubers. Muito menos só as temáticas dirigidas a esse público as que têm sucesso. 150150150 Os novos modelos de produção audiovisual e o formato streaming Autora: Jurema L. F. Sampaio Objetivos • Conhecer os novos modelos de produção audiovisual. • Conhecer os formatos streaming. • Diferenciar os modelos de distribuição streaming: NetFlix, GloboPlay, Amazon Prime Video. 151151 151 1. Tecnologia streaming Nesta aula você vai conhecer um pouco sobre os novos modelos de produção audiovisual; conhecer os formatos streaming e aprender a diferenciar os modelos de distribuição streaming. A crescente penetração da Internet na vida cotidiana de milhões de pessoas no mundo através de diferentes plataformas tem concentrado as especulações e as disputas teóricas sobre as lógicas sociais emergentes no campo cultural, em especial no mercado do audiovisual. Com as mudanças no cenário tecnológico, econômico,artístico e social, renasce a preocupação com os novos hábitos culturais que se desenvolvem no entorno online e suas funções dentro do atual regime social. (SANTINI & CALVI, 2013, p. 161). Para entender os novos modelos de produção e consumo de audiovisual é importante compreender bem e assimilar a evolução tecnológica dos últimos 30 anos, que atingiu em cheio a área. Katia Fujisawa (2016, p.118) aponta para o caminho percorrido: o consumo de audiovisuais (grande parte gratuita), ou seja, filmes, programas de televisão, animações, videoclipes, vídeos amadores etc., são principalmente difundidos de duas formas: por download e por streaming (tecnologia possibilitada pela banda larga, pela qual o usuário consome o conteúdo por transmissão instantânea de dados de áudio e vídeo, sem a necessidade de fazer download). (FUJISAWA, 2016, p. 118). Dos modelos convencionais de produção (como filmes, de cinema e fotografia, discos, fitas, etc.) aos contemporâneos suportes de distribuição de conteúdo de modo personalizado e direto, muita coisa aconteceu ao audiovisual. Inclusive às linguagens. Os formatos e conteúdos audiovisuais incluem os filmes, programas de TV, videogames, videoclipes (vídeos musicais), videoarte (net-art), animações (cartoon), vídeos amadores, adultos (net-porn), notícias, entretenimento, documentários e vídeos 152152 educativos (SANTINI & CALVI, 2013, p. 167) e a “análise fílmica e televisiva pode ser transformada em documento para a pesquisa histórica ao articular, ao contexto histórico e social que o produziu, um conjunto de elementos intrínsecos à expressão audiovisual” (KORNIS, 2008, p. 29). Com relação à distribuição e consumo audiovisual na Internet é possível perceber duas principais modalidades: assistir aos conteúdos por streaming ou fazer download deles e, dentre as plataformas e sistemas de difusão e consumo audiovisual na internet, incluem-se: 1. conteúdos audiovisuais de televisão ou vídeo na web, gratuitos ou pagos, que se visualizam em um computador, tablet ou celular com conexão a Internet (Internet vídeo to PC/mobile: streaming); 2. intercâmbio nas Redes P2P e portais de enlaces (file sharing: download); 3. conteúdos audiovisuais de televisão ou vídeo na web, gratuitos ou pagos, que se visualizam em um aparelho de TV (Internet video to TV); 4. redes de usuários abertas ou fechadas, como no caso dos jogos on-line (Internet gaming); 5. difusão e visualização de conteúdos nas redes sociais (social networks); 6. difusão de vídeos através do correio eletrônico (web/e-mail); 7. vídeo comunicações, que incluem todas as aplicações de chamadas telefônicas com vídeo, chats e webcams (Internet video communications); 8. conteúdos audiovisuais ambientais (ambient video), que correspondem à transmissão de vídeo através da web em espaços fechados ou abertos. (SANTINI & CALVI, 2013, p.167-168). A partir daí vamos iniciar nossa “conversa” e conhecer alguns desses serviços, como Netflix, GloboPlay e Amazon Prime Video, que oferecem streaming de filmes e programas de TV, e Spotify, Apple Music, que promovem fluxo de música. 153153 153 Figura 1 – Qualquer hora, em qualquer lugar... Fonte: damircudic/iStock.com. 2. Conceito de streaming Você sabe o que é streaming? O termo streaming foi usado pela primeira vez pela empresa Data Electronics Inc. em referência aos vídeos que permitiam acesso “sob demanda”, ou seja, sob total controle de exibição de conteúdo, por parte do usuário. O termo vem de stream, em inglês, que significa ‘fluxo’. Passou a nomear a tecnologia streaming por apresentar a característica de envio de multimídia por meio de transferência de dados em modo contínuo, pela internet ou outras redes de computadores. O surgimento do streaming se deu devido à busca por aumentar a velocidade de conexões de transmissões de dados que, antes, eram feitas sob a forma de “pacotes”, ou “lotes”, o que fazia com que fosse necessário aguardar toda a transmissão dos dados para, depois, ter acesso ao conteúdo. A transmissão em streaming permite que um conteúdo seja assistido ao mesmo tempo que é transferido, sem ter que esperar o “carregamento” dos dados. 154154 Algumas características são necessárias para a efetiva utilização de serviços por streaming: a “largura de banda” (que é a medida da capacidade de transmissão de bits por segundo de um determinado meio, conexão ou rede, determinando a velocidade que os dados passam através desta rede específica) é a principal delas, e deve ser ampla o suficiente para não haver paradas ou atrasos na transmissão e, assim, tornar o buffer lento. Para entender, podemos usar uma metáfora simples, como canos hidráulicos: quanto maior a largura do cano, mais quantidade de água passa por ele. A televisão por streaming é uma realidade até mesmo em telefonia mobile, personalizando ainda mais o consumo de produções audiovisuais. Por sinal, este é o principal “desafio” da produção audiovisual contemporânea. Quanto mais controle de personalização o usuário/ expectador tem, maior a necessidade de desenvolvimento de produtos e serviços que atendam a essas necessidades e interesses. O monitoramento de resultados é, então, a “chave do sucesso” dos distribuidores de conteúdo streaming. 3. Modelos de distribuição streaming Tradicionalmente o consumo de audiovisual, antes das tecnologias digitais, tinha formas específicas de acontecer. Filmes eram vistos no cinema, que era, inclusive, um programa social relevante e movimentava negócios paralelos aos da produção cinematográfica, como as salas de exibição e mesmo os carrinhos de pipoca em que eram adquiridos os saquinhos da iguaria, considerada a melhor companhia para um filme. O videocassete já promoveu, nos anos de 1980, uma revolução nesse modo de consumo e, consequentemente, também nos negócios anexos, pois da ida à sala de cinema, passou-se às seções privadas, às vezes na companhia de amigos, para assistir às fitas. Mesmo que acompanhadas de pipoca, nessas seções, as pipocas não eram mais adquiridas nos carrinhos, mas sim feitas em casa, na maioria das vezes, no micro-ondas, tecnologia de popularização contemporânea ao videocassete. 155155 155 A música, que antes era ou ouvida em concertos ou adquirida para execução particular em algum tipo de mídia de suporte, desde os vinis antigos, passando pelas fitas K7 até os CD, ao ser digitalizada e compactada, com tecnologias do tipo mp3, passa pela mudança de comercialização. Antes, comprávamos discos ou CD, com uma coleção de músicas escolhidas pelo produtor musical e/ou artista, sem escolhas. Dessa forma, ao adquirir um disco, você levava também algumas faixas que não tinha interesse. Depois, a comercialização de faixas individuais faz com que a escolha se torne personalizada. Mais recentemente, a distribuição de música por streaming dá ainda mais poderes de escolha aos consumidores que, agora, pagam não mais pelas faixas, mas pelos serviços de execução de música, em que podem selecionar play lists completamente personalizadas. Quando pensamos em televisão, embora ainda seja difícil para alguns se desligarem do modelo “grade de programação”, com a ideia de “horário nobre” guiando inclusive a comercialização de espaços de propaganda comercial, a mudança começou com o videocassete, fazendo com que as emissoras passassem a comercializar fitas de vídeos contendo programas de sua produção para serem assistidos pelos espectadores quando desejassem. Mesmo modelo ainda reproduzido com os DVD que, embora os conteúdos já estivessem em suporte digital, o modelo de consumo era o mesmo das fitas de videocassete: adquiridos ou alugados em empresas locadoras de mídia. Em seguida, o mercado do cinema e da TV enfrentam a ideia da TV a cabo, ou TV por assinatura, em que o assinante escolhe a programação dos canais que deseja assinar e que produziam e exibiam conteúdos exclusivos para assinantes. O formato de TV por assinatura foi criado pela HBO,em 1972, e, em menos de uma década, atingiu grande parte do mundo. A ideia de exclusividade de conteúdo da TV por assinatura evoluiu para a de segmentação de interesses e surgiram os canais por assinatura temáticos, onde o assinante tem acesso com exclusividade e somente ao conteúdo que deseja. Esse modelo, porém, ainda guarda aproximação com o modelo 156156 convencional, pela ideia “broadcasting” (o sistema de distribuição de conteúdo de áudio ou vídeo para comunicação de massa) e a ideia de “grade” ainda está presente. Ou seja, o usuário deve se adaptar ao horário em que a emissora vai transmitir o conteúdo. São as tecnologias digitais contemporâneas, controladas pelo telespectador, que tornam a experiência de assistir televisão muito mais personalizada. E faz com que os serviços de assinatura de TV tenham uma evolução imensa nas duas primeiras décadas do século XXI, e caminhemos a passos largos para a consolidação dos conteúdos de audiovisual transmídia. Uma história transmídia desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor – a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida pela televisão, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões. (JENKINS, 2008, p. 141). Você está preparado para produzir nesse contexto? Contradições, confusões e múltiplos pontos de vista são esperados num momento de transição, em que um paradigma midiático está morrendo e outro está nascendo. Nenhum de nós sabe realmente como viver numa nesta época de convergência das mídias, inteligência coletiva e cultura participativa. (JENKINS, 2008, p. 248). A concorrência trazida pelos serviços de streaming, que proporciona ainda mais personalização de programação, acirra também a disputa por assinantes, pois os fornecedores como NetFlix, GloboPlay e Amazon Prime Video forçam às televisões abertas, inclusive as de distribuição via cabo, a reverem constantemente seus objetivos e atualizarem seus modelos de negócios. 157157 157 3.1 NetFlix A NetFlix, fundada em 1997 por Reed Hastings e Marc Randolph, é um americano provedor de serviços de mídia. O modelo de negócios inicial da Netflix incluía vendas e aluguel de DVD por correio, mas Reed Hastings abandonou as vendas cerca de um ano após a fundação da empresa se concentrar no negócio inicial de aluguel de DVD. Em 2010, a Netflix expandiu seus negócios com o início da transmissão de mídia, mantendo os negócios de locação de DVD e, na época, também Blu-ray. A expansão internacional também acontece em 2010, com disponibilização de serviços de streaming no Canadá, e, em seguida, para a América Latina e Caribe. Somente em 2012 a Netflix entrou no negócio de produção de conteúdo, estreando sua primeira série: Lilyhammer. A partir daí, assume cada vez mais o papel de produtora, além de distribuidora de conteúdo, criando e desenvolvendo uma variedade de conteúdo chamado “Netflix Original”, incluído, com destaque, em seu catálogo. Figura 2 – NetFlix Fonte: mphillips007/iStock.com. 158158 3.2 Globoplay A plataforma de streaming da Rede Globo de Comunicação, que teve o seu lançamento somente em 2017, disputando mercado com a maior concorrente, NetFlix, por meio de oferta de conteúdo exclusivo, seu principal diferencial: as produções do catálogo da TV Globo, lançadas antecipadamente na plataforma. Em 2018 começou a disponibilizar um acervo, também exclusivo, de produções estrangeiras de sucesso, como as séries norte-americanas The Good Doctor e O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale). Para o ano de 2019 estão previstas novidades, dentre elas, Deadly Class, Modern Family, Smallville e Arquivo X. E já foram também anunciadas, para entrar no catálogo: Homeland, The Vampire Diaries, Will & Grace e American Horror Story, integrando TV Globo e Globoplay numa estratégia de “uma plataforma abastecendo e divulgando a outra” (COSTA, 2019, s/p), como declarou Fábio Costa, do Observatório da Televisão. 3.3 Amazon Prime Video Este é o serviço de streaming da Amazon, que está em expansão para mais de 200 países e investimentos em produções originais. A empresa do multimilionário Jeff Bezos quer “abocanhar uma fatia” do mercado liderado pela NetFlix. Tem boa atuação nos computadores, smartphones e tablets, funcionando bem nos principais navegadores e não exige nenhum plugin. Desempenha com tranquilidade em alguns modelos de TV e nos consoles que também suportem NetFlix. Só não está disponível para Chromecast nem Apple TV. Em mobile possibilita fazer download do conteúdo para assistir posteriormente, mesmo sem conexão à internet, permitindo escolher onde armazenará os arquivos: cartão de memória ou armazenamento interno. Além de oferecer a opção de app para Android e iOS. 159159 159 A Amazon vem produzindo boas séries (“American Gods”, “Jack Ryan”, “Maravilhosa Sra. Maisel”, “O Homem do Castelo Alto” e “Transparent”) e filmes como “Valerian”, “A Chegada”, “Lady Bird” e “Extraordinário”, mas o serviço ainda é mais simples, com um preço único, incluindo “tudo” e libera conteúdo em 1080p em todos os principais browsers por meio do player em HTML5. Uma grande vantagem! 4. Mais opções Além das que já falamos, ainda existem outras opções de serviços que atendam às mais diversas necessidades e objetivos. Esses são os principais serviços de streaming em funcionamento no Brasil, em junho de 2019. HBO Go – É o serviço de streaming exclusivo da HBO. Ótima opção para quem é fã das séries exclusivas do canal, como Game of Thrones, Westworld, Silicon Valley, O Negócio, Last Week Tonight, entre outras, pois você só vai encontrá-las no HBO Go. Fox+ – A plataforma de streaming dos canais Fox oferece filmes, séries de TV e programas esportivos, além dos 11 canais da rede ao vivo pelo aplicativo, independentemente de ter assinatura com TV paga ou plano de telefonia. As atrações principais são as series, como “Homeland”, “The Walking Dead”, “Os Simpsons”, “The Gifted”, “Vikings” e “Outlander”. Também estão disponíveis filmes como “Django Livre”, “João e Maria: Caçadores de Bruxas” e outras produções dos estúdios Fox; a programação esportiva da Fox Sports e dos canais da National Geographic. Telecine Play – Serviço de streaming que se destaca por apresentar, antes de todos os outros canais, os lançamentos do ano logo em seguida de saírem dos cinemas. Destaques: Lançamentos como “Fragmentado”, “Pantera Negra”, “A Forma da Água”, “Maze Runner: Cura Mortal”, “Trama Fantasma”, “Star Wars: Os Últimos Jedi”, entre outros. A plataforma não possui séries de TV. 160160 Crackle – O streaming da Sony que, assim como o Amazon Prime Video, produz conteúdo original, além de filmes e séries licenciados. Looke – Este serviço de streaming brasileiro, que precisa do app Looke (Android ou iPhone), oferece filmes e séries sob demanda (você só paga o que usar), mas também possibilita o streaming. No modo assinatura é paga uma taxa baixa por mês, como o modelo convencional, e tem acesso a alguns títulos, mas não a todo o catálogo. Mubi – Oferece um serviço de streaming com curadoria do conteúdo. Por uma mensalidade fixa, ele oferece 30 filmes mensais para assistir ou baixar. O principal diferencial é o catálogo de filmes ‘cult’ e independentes, títulos clássicos ou fora do eixo Hollywoodiano. YouTube Premium – A assinatura do YouTube Premium remove propagandas e permite download para ver offline no celular, além de séries autorais como “Cobra Kai”, “Museo”, “Champaign ILL”, “Sideswiped” e “Dallas & Robo”. A assinatura também libera o YouTube Music Premium e o Google Play Música. NetMovies – Mensalidade baixa, que oferece streaming de séries e filmes, com catálogo imenso: mais de 12 mil títulos. A Google Play Store, a mesma loja de app da Google,oferece a opção de alugar filmes. Podem ser encontrados filmes como “It: A Coisa”, “O Poderoso Chefinho” e “Mulher-Maravilha”. Procure pela seção “Filmes” no Google Play. iTunes Store – Se você é usuário Apple, pode alugar filmes pelo iTunes, num Mac, iPhone ou iPad. Se for usuário de Windows, pode baixar o iTunes para PC e ter acesso ao catálogo. Microsoft Store – Opção para quem usa Windows, a seção de Filmes da Microsoft Store tem um catálogo bastante interessante para comprar. Entre no site da Microsoft Store e procure pela aba Filmes e TV. 161161 161 ASSIMILE Se você é cliente de alguma operadora de telefonia, também dá para assistir a filmes e séries. NET Now Online, Vivo Play, Claro Vídeo e Cine Sky HD são algumas opções, e os serviços terceirizados como o Telecine Play e o TNT Go funcionam com algumas delas. Opção não falta! Figura 3 – Um mundo de opções nas telas Fonte: Vertigo3d/iStock.com. PARA SABER MAIS Conheça mais sobre o universo profissional do audiovisual visitando o site do SindCine (http://www.sindcine.com. br/site/), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Distrito Federal. http://www.sindcine.com.br/site/ http://www.sindcine.com.br/site/ 162162 No site você encontra a legislação, tabelas de honorários e aprende como tirar seu registro da Delegacia Regional do Trabalho - DRT, que é o registro profissional da categoria nas Superintendências Regionais do Trabalho. Novos tempos, novas gerações, novas necessidades. O mais importante é estar sempre aberto ao que surge, sem esquecer que a atual geração de consumidores já transita de forma transmidiática com desenvoltura. Segundo Henry Jenkins (2008), a geração transmídia é aquela derivada de uma cultura de participação, habituada a consumir conteúdos dispersos sistematicamente entre os múltiplos canais com a proposta de criar uma única e coordenada experiência de entretenimento (JENKINS, 2008, p.29). Para ele: A lógica econômica de uma indústria de entretenimento integrada horizontalmente – isto é, uma indústria onde uma única empresa pode ter raízes em vários diferentes setores de mídia – dita o fluxo de conteúdos pelas mídias. (JENKINS, 2008, p.142). O campo da produção de conteúdos audiovisuais digitais interativos para televisão digital e multiplataformas no Brasil é ainda pouco desenvolvido e demanda soluções criativas e eficientes, mas é uma nova perspectiva de atuação para profissionais de audiovisual. “Além da digitalização dos equipamentos, uma alteração no conceito de produção de conteúdos audiovisuais, que passam agora a contemplar a perspectiva de programação não-linear, interativa e para múltiplas plataformas” (ANGELUCI & CASTRO, 2010, p. 3). Para isso, além de conhecer as linguagens do audiovisual, cada vez mais será necessário conhecer padrões de tecnologia para explorar adequadamente as possibilidades de criação multiplataformas. Alan César Belo Angeluci e Cosette Castro, no Congresso Pan-americano de Comunicação - PANAM, afirmaram que 163163 163 Interatividade não é nenhuma novidade na televisão mundial desde seus primórdios. O que torna essa característica tão inovadora é a possibilidade de feedback por parte da audiência através da própria televisão, por meio do canal de retorno, seja a partir do controle remoto ou mesmo de um celular. Essa inovação é permitida pelo processo de digitalização e, sobretudo, pelas características do sistema nipo-brasileiro que rege a televisão digital no país. (ANGELUCI & CASTRO, 2010, p. 2). Com todo o avanço tecnológico e necessidades de aprendizagem novas e constantes, é importante sempre lembrar que é o “humano” que faz a diferença, em qualquer produção audiovisual. Como destaca Herbert Zettl: Mesmo os mais sofisticados equipamentos para produção de televisão e interfaces de computador não poderão substituí-lo no processo de produção de televisão. Você e sua equipe de trabalho ainda reinam absolutos – pelo menos até́ o momento. Os equipamentos não são capazes de tomar decisões éticas e estéticas por você nem lhe dizer exatamente quais partes de o evento selecionar e como apresentá-las para estabelecer uma comunicação ideal. Essas decisões são suas e baseiam-se no contexto do propósito geral da comunicação e na interação com outros membros da equipe de produção – o pessoal de produção, as equipes técnicas, os engenheiros e os funcionários administrativos. Cedo ou tarde, você descobrirá que a principal tarefa em produção de televisão envolve menos trabalho com equipamentos e mais com pessoas. De modo geral, podemos dividir a equipe de produção em equipe não técnica e técnica. (ZETTL, 2017, p. 5). TEORIA EM PRÁTICA Você foi responsabilizado por escolher o serviço de assinatura de streaming que sua empresa irá contratar. Com o objetivo de fornecer aos funcionários a maior variedade 164164 de entretenimento, com o menor custo por pessoa, analise os pacotes de serviços disponíveis em sua região e escolha três deles para apresentar ao seu chefe como opções. Um “completo” (e mais caro), um intermediário, e um com os serviços básicos. Argumente em defesa de cada um deles, comparando prós e contras, levando em consideração que, para atender a um maior número de usuários, deve oferecer, em primeiro lugar, acesso multiplataformas. O segundo critério de escolha deve ser a possibilidade de interação e/ou interatividade com os conteúdos. Leve em consideração ainda o percentual de conteúdo por gênero. Por onde começar a pesquisa? Como estabelecer as metas e prioridades de escolha? Como redigir os resultados? Faça uma planilha comparativa como resultado final de sua pesquisa. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. O termo streaming foi usado pela primeira vez pela empresa Data Electronics Inc. em referência aos vídeos que permitiam acesso “sob demanda”, ou seja, sob total controle de exibição de conteúdo, por parte do usuário. O termo vem de stream, em inglês, que significa: a. Demanda. b. Multimídia. c. Contínuo. d. Conexões. e. Fluxo. 165165 165 2. Dos modelos convencionais de produção audiovisual aos contemporâneos suportes de distribuição de conteúdo, de modo personalizado e direto, muita coisa aconteceu ao audiovisual. Inclusive às linguagens. Com relação à distribuição e consumo audiovisual na Internet é possível perceber duas principais modalidades: a. Assistir aos conteúdos por streaming ou fazer download deles. b. Serviços de streaming como Netflix, GloboPlay e Amazon Prime Video. c. As plataformas e sistemas de difusão e consumo audiovisual na internet. d. Os modelos convencionais de produção e os contemporâneos suportes de distribuição de conteúdo. e. Conteúdos audiovisuais de televisão ou vídeo na web, gratuitos ou pagos, que se visualizam em um computador. 3. Algumas características são necessárias para a efetiva utilização de serviços por streaming, a principal delas é: a. Televisão por streaming. b. Controle de personalização. c. Ampla largura de banda. d. Taxas de compactação. e. Antenas digitais de TV. 166166 Referências bibliográficas ANGELUCI, Alan César Belo & CASTRO, Cosette. Oito Categorias para Produção de Conteúdo Audiovisual em Televisão Digital e Multiplataformas. In: Congresso Pan-americano de Comunicação - PANAM. Brasília, 2010.IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/panam/pdf/GT1_ Art6_Alan.pdf. Acesso em: 24 jun. 2019. COSTA, Fábio. Globoplay: um passo de cada vez na conquista da preferência do público de streaming. In: Observatório da Televisão. 06 maio 2019. Disponível em: https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/critica-de-tv/2019/05/globoplay-um- passo-de-cada-vez-na-conquista-da-preferencia-do-publico-de-streaming. Acesso em: 24 jun. 2019. FUJISAWA, Katia Sayuri. Novas tecnologias aplicadas à comunicação. Londrina: Editora eDistribuidora Educacional S.A., 2016. JENKINS, Henry. A Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008. KORNIS, Monica Almeida. Cinema, televisão e história. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. SANTINI, R. M.; CALVI, J. C. O consumo audiovisual e suas logicas sociais na rede. Comunicação, Mídia e Consumo. São Paulo, v. 10, n. 27, p. 159-182, mar. 2013. Disponível em: http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/view/531. Acesso em: 21 jun. 2019. ZETTL, Herbert. Manual de produção de televisão. São Paulo: Cengage Learning, 2017. Gabarito Questão 1 – Resposta: E O termo vem de stream, em inglês, que significa ‘fluxo’. Passou a nomear a tecnologia streaming por apresentar a característica de envio de multimídia por meio de transferência de dados em modo contínuo, pela internet ou outras redes de computadores. Questão 2 – Resposta: A Com relação à distribuição e consumo audiovisual na Internet, é possível perceber duas principais modalidades: assistir aos conteúdos por streaming ou fazer download dos mesmos e, dentre as plataformas e sistemas de difusão e consumo audiovisual na internet. http://www.ipea.gov.br/portal/panam/pdf/GT1_Art6_Alan.pdf http://www.ipea.gov.br/portal/panam/pdf/GT1_Art6_Alan.pdf https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/critica-de-tv/2019/05/globoplay-um-passo-de-cada-vez- https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/critica-de-tv/2019/05/globoplay-um-passo-de-cada-vez- http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/view/531 167167 167 Questão 3 – Resposta: C Algumas características são necessárias para a efetiva utilização de serviços por streaming: a “largura de banda” (que é a medida da capacidade de transmissão de bits por segundo de um determinado meio, conexão ou rede, determinando a velocidade que os dados passam através desta rede específica) é a principal delas, e deve ser ampla o suficiente para não haver paradas ou atrasos na transmissão e, assim, tornar o buffer lento. Para entender, podemos usar uma metáfora simples, como canos hidráulicos: quanto maior a largura do cano, mais quantidade de água passa por ele. 168168 Apresentação da disciplina Um pouco de História Objetivos 1. De onde partimos? 2. Arte Egípcia 3. Arte Grega 4. Arte Romana 5. Idade Média 6. Alta Idade Média 7. Baixa Idade Média Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Cultura Popular, Cultura de Massa, Indústria Cultural e o Kitsch Objetivos 1. O que é cultura? 2. O que é cultura de massa? 3. O que é o Kitsch? 4. Relações culturais e estéticas e a construção de repertórios Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito TV no Brasil: História e a Estética das novelas Objetivos 1. A história da TV no Brasil 2. Estética das novelas 3. Quem é o público consumidor de novelas? 4. Considerações finais Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Filmes clássicos: estéticas da linguagem audiovisual Objetivos 1. O cinema mudou o mundo e o mundo mudou o cinema Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Análise da Produção Nacional: identidade, estética e linguagem Objetivos 1. Audiovisual no Brasil 2. As políticas públicas de cultura e o audiovisual 3. Filmes Brasileiros para não deixar de ver Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Produção audiovisual na Internet: estética e linguagem de produções em plataformas digitais Objetivos 1. Uma história recente 2. Youtuber ou digital influencer? 3. O que é preciso para ser um digital influencer de sucesso 4. Audiovisual nas redes sociais Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabarito Os novos modelos de produção audiovisual e o formato streaming Objetivos 1. Tecnologia streaming 2. Conceito de streaming 3. Modelos de distribuição streaming 4. Mais opções Teoria em prática Verificação de leitura Referências bibliográficas Gabaritodos manuscritos, como forma de engrandecer documentos antigos, auxiliou sua preservação e valor informativo em uma era em que novas classes dominantes não eram mais alfabetizadas na linguagem usada nos manuscritos. Figura 6 – Tomo antigo com ilustração em miniatura, aberto dentro de uma vitrine da biblioteca nacional austríaca. Viena, Áustria. Fonte: Cristiano Alessandro/iStock.com. 2020 Manuscritos iluminados continuaram a ser produzidos no início do século XVI, mas em números muito menores e, principalmente, para os muito ricos. Eles estão entre os itens mais característicos da arte da Idade Média; e também são os mais bem conservados exemplares sobreviventes da pintura medieval. De fato, para alguns períodos de tempo, eles são os únicos exemplos sobreviventes de pintura. 7. Baixa Idade Média A Baixa Idade Média teve início depois do ano 1000. O estilo artístico predominante nesse período é o Gótico, que se desenvolveu no norte da França a partir de arte românica no século XII, acompanhado pelo desenvolvimento simultâneo da arquitetura e se espalhou por toda a Europa Ocidental e grande parte da Europa Central e do Sul. As mudanças facilmente reconhecíveis na arquitetura, do romanesco ao gótico, e do gótico ao renascentista, são frequentemente usadas para definir os períodos da arte e a arquitetura gótica é bastante particular. As características mais marcantes da arquitetura gótica eram elementos de engenharia, como o arco pontiagudo e o cofre de ‘costelas’, que permitiam maior altura e mais espaço para as janelas nos edifícios, assim como o uso extensivo de vitrais e as rosáceas, para trazer luz e cor para o interior (DUCHER, 1988, p.46). Essas características já existiam na arquitetura românica, mas foram usadas de forma mais ampla e inovadora para tornar as catedrais góticas “mais altas, mais fortes e cheias de luz” (BECHMANN, 1981, p.180). A Catedral Basílica de Saint Denis (Figura 7), em Île-de-France, datada do início do século XII, concluída em 1144, mostra o primeiro uso de todos os elementos da arquitetura gótica numa construção, embora a Catedral de Dublim, na Irlanda, fundada no ano 1030 já possa ser classificado como estilo pré-gótico. 2121 21 Figura 7 – Catedral de St. Denis Paris, França Fonte: Stockam/iStock.com. O estilo gótico se firmou com a ascensão das cidades, a fundação de universidades, o aumento do comércio, o estabelecimento de uma economia baseada no dinheiro e a criação de uma classe burguesa que podia se dar ao luxo de patrocinar as artes e comissionar obras, assim, as formas de arte no período gótico incluem escultura, pintura de painéis, vitrais, afrescos e também ainda os manuscritos iluminados. Na arte gótica são encontradas imagens cristãs, com ilustrações de histórias do Novo e do Antigo Testamentos, lado a lado, e as histórias de vida dos santos eram frequentemente descritas em imagens, assim como as representações da Virgem Maria, que mudaram da forma icônica bizantina para uma mãe mais humana e afetuosa, acariciando seu bebê, e mostrando as maneiras refinadas de uma dama aristocrática e bem-educada da corte. No final do século XIV, desenvolveu-se o sofisticado estilo de corte do gótico internacional, que caracteriza o estilo, como o arco em bico, e que continuou a evoluir até o final do século XV. Especialmente na Alemanha, a arte gótica tardia continuou até o século XVI, antes de ser incluída na arte renascentista. 2222 Idade Moderna O início do século XVI e o período compreendido entre 1453 e 1789 - data que marca o início da Revolução Francesa -, chama-se Idade Moderna e, junto com o Renascimento, a Era dos Descobrimentos e a Reforma Protestante, caracterizam um período de grandes transformações em todo o mundo. É importante não confundir Idade Moderna, com Arte Moderna, movimento artístico que só vai acontecer no século XX. O período moderno tardio começou aproximadamente em meados do século XVIII; com marcos históricos que incluem a Revolução Americana, a Revolução Industrial, a Grande Divergência e a Revolução Russa. Com todos os acontecimentos, mais os avanços científicos que acompanharam as evoluções, era de se esperar que as artes refletissem todas essas transformações. Renascimento Também chamado de Renascença, foi um dos mais produtivos períodos artísticos, marcando a transição da Idade Média para a modernidade, numa ruptura com o passado, e do feudalismo para o capitalismo. Iniciado na Toscana, região da Itália, ficou conhecido como a “italianização da Europa” pela busca da revalorização das referências da Antiguidade Clássica Romana, em oposição direta ao dogmatismo religioso que dominava a Idade Média. Racionalidade e ciência são a base na validação do ser humano no centro da Criação, e por isso deu-se à principal corrente de pensamento deste período o nome de humanismo. A pintura é fortemente representada, o desenho era considerado a base de todas as artes visuais e seu domínio era um requisito fundamental para todo artista. Contando com artistas como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rafael e muitos outros, distribuídos entre as fases do Trecento, a Quattrocento, a Alta Renascença, o Cinquecento e o Maneirismo italiano, a Renascença é um manancial de arte de qualidade inegável. 2323 23 Uma das características distintivas da arte renascentista foi o desenvolvimento de uma perspectiva linear altamente realista, que foi parte de uma tendência mais ampla em direção ao realismo nas artes. Os pintores desenvolveram outras técnicas, estudando luz, sombra e, especialmente no caso de Leonardo da Vinci, a anatomia humana. Figura 8 – O Homem Vitruviano de Leonardo da Vince Fonte: Vaara/iStock.com. Em paralelo a essas mudanças nos métodos artísticos, também surgia um desejo renovado de retratação da natureza e desvendar questões da estética, com os trabalhos de Leonardo, Michelangelo e Rafael representando o ápice artístico do belo, que foram muito imitados por outros artistas. São ainda notáveis no período: Sandro Botticelli, trabalhando para os Medici, em Florença, Donatello, outro florentino, e Ticiano, em Veneza, entre outros. 2424 Barroco Desenvolveu-se, primeiramente, nas artes visuais, em especial pintura e escultura, manifestando-se também na literatura, teatro e na música. Surgiu no século XVII, na Itália, e se estendeu por toda a Europa. Holanda, Bélgica, França e Espanha em especial, permanecendo ativo até o XVIII. Na América Latina chegou ainda no século XVII, trazido por artistas que viajavam para estudar na Europa. Aconteceu em paralelo à contrarreforma do catolicismo (em reação á reforma protestante) iniciada com a convocação do Concílio de Trento (1545-1563). Foi financiado pela Igreja Católica, que patrocinou grande parte da produção artística da época como parte da estratégia de recobrar os fiéis perdidos para os protestantes, por meio de uma arte carregada de intencionalidade político-religiosa. Obras impregnadas de imagens naturalistas com temas da espiritualidade, como que para construir uma visão “real” de conceitos abstratos religiosos, como paraíso, céu e inferno, anjos e demônios. Figura 9 – O Êxtase de Santa Teresa Fonte: Filipe Lopes/iStock.com. 2525 25 Elementos rebuscados, retorcidos, excesso de detalhes, ouro e prata, além de pedras preciosas, acrescentam a suntuosidade exagerada que caracteriza o período. Na arquitetura, o palácio de Versalhes talvez não seja a sua expressão maior, mas é um exemplo consistente do barroco francês. Os principais artistas barrocos foram: Caravaggio, Pieter Bruegel, Bernini (Figura 9), Van Dyck, Rembrandt, Diego Velasquez. No Brasil, o Barroco assumiu características bastante significativas. Enquanto na Europa o barroco encerrou-se definitivamente no fim do século XIV, com o início das vanguardas, por aqui ele influenciou até por boa parte do século XX, com especial destaque para o Barroco Mineiro, que tem em Aleijadinho (escultor) e Mestre Ataíde (pintor)seus principais representantes. Neoclassicismo e o Iluminismo Ao final do século XVIII – o século das luzes – o mundo conhece um novo movimento cultural: o Iluminismo. Também chamado de Século de Frederico, em referência ao rei filósofo Frederico da Prússia. O século da razão, do pensamento, em que nomes como Newton, Espinosa, Locke, Descartes, Diderot, Montesquieu, Pope, Gibbon, Rousseau, Hume, Voltaire e Kant surgem e se destacam, espalhando seus ideais de pensamento laico. O homem é o centro e seu pensamento é seu guia, sem necessidade de igreja ou reis para dizerem o que ele deve ou não fazer e pensar. Alguns consideram a publicação de Isaac Newton, ‘Principia Mathematica’, de 1687, como o primeiro grande trabalho iluminista. Porém, os historiadores datam o Iluminismo entre 1715 a 1789, desde o início do reinado de Luís XV até a Revolução Francesa e terminando na virada do século XIX. O período se caracteriza pela ampla divulgação de ideias de filósofos e cientistas, por meio de encontros em academias científicas, lojas maçônicas, salões literários, cafeterias e em livros impressos, revistas e panfletos. As ideias do Iluminismo minaram a autoridade da monarquia e da Igreja e abriram o caminho para 2626 as revoluções políticas dos séculos XVIII e XIX. Uma variedade de movimentos do século XIX, incluindo o liberalismo e o neoclassicismo, consolidam-se como herança intelectual. A arte produzida no período se chama Neoclássica e um dos principais destaques é Goya, que abraçou os princípios iluministas, acreditava na razão e na liberdade como os caminhos a serem seguidos pela humanidade. “O triunfo da claridade sobre as trevas, herdado do Iluminismo, é celebrado reiteradamente por obras demonstrativas de uma tradição consolidada.” (COLI, 1996, p.303). Outros artistas que merecem menção são: Joseph Wrigth, com seus fortes efeitos de luz e sombra (princípios do chiaroscuro), utilizava luz artificial e, principalmente, velas; Jacques Louis David, com seus “A Morte de Marat” e “O Juramento dos Horácios”. O Neoclassicismo no Brasil deve sua existência à influência europeia, onde era cultivado desde meados do século XVIII. Com a instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro desde 1808, a arquitetura sofre imenso impacto neoclássico, trazido pelas preferências dos europeus que aqui chegaram e, com a chegada da Missão Artística Francesa, em 1816, e a fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, o neoclassicismo, com seus arcos e deuses, foi institucionalizado e seu ensino sistematizado num modelo conhecido como Academismo. A Arte Moderna - Os Ismos O século XIX foi uma época agitada para as artes. Durante e maior parte do século, o Neoclassicismo, o Romantismo e o Realismo se alternaram como principais estilos. Na aproximação do fim do século, no entanto, os avanços tecnológicos e científicos, como a invenção da fotografia e do cinema, os questionamentos sobre qual seria, então, a função da arte, agitam a cena artística mundial. Surgiram: o Impressionismo, Pós-Impressionismo, Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Abstracionismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Construtivismo, Concretismo, Simbolismo... São tantos os “ismos” distribuídos em pouco tempo, muitos deles em paralelo. O maior destaque é a efervescência em que o mundo das artes se encontrava na virada do século XX. 2727 27 E a chamada Arte Moderna. O modernismo abrange vários estilos, com uma ideia em comum: questionar a arte convencional. Cada um desses movimentos tem suas características próprias, artistas que os representam em maior ou menor intensidade, e mesmo alguns que iniciam suas carreiras num movimento, atravessam outros, ou mudam seus estilos ao longo do tempo. Cada um dos movimentos merece ser estudado detalhadamente, para que se possa conhecer suas visualidades, porém é mais importante ainda entender a transição que a arte enfrentou nessas buscas dos artistas. Ou seja, entender o percurso de construção da visualidade contemporânea da representação da realidade para a sua interpretação, pelas novas e diversas formas propostas pelos artistas. Da imagem como índice até a imagem/objeto conceito de Duchamp, a abstração cromática de Kandinsky, que deságua no expressionismo e, posteriormente, na iconização. Ou da análise formal cubista, que também abstrai, só que pela forma. Passa pela análise lógica de Mondrian, a cinética e o minimalismo, alterando a percepção da função da arte, ampliando possibilidades e abrindo perspectivas. Assim, a arte contemporânea resultante desse processo assimila, digere e retorna tudo isso em sua essência. Para compreender a visualidade contemporânea, é preciso entender, também, como ela se formou, constituindo-se como resultado de séculos de experimentações, pesquisas e conhecimento acumulados, desde os povos primitivos. A Semana de Arte Moderna de 1922 O Brasil foi descoberto durante a época das Grandes Navegações, em 1500, ou seja, no início da Idade Moderna. Assim, é comum acreditar que a história da arte do Brasil se resuma às manifestações artísticas ocorridas depois da colonização. Porém, as primeiras manifestações artísticas do Brasil, como dos povos primitivos, registradas na Serra da Capivara, no Piauí, e a arte indígena mostram que a arte está no Brasil desde bem antes dos portugueses aportarem nas terras brasileiras. 2828 No início do século XX, com a arte brasileira espelhando as influências da Europa e suas escolas artísticas, um grupo de intelectuais brasileiros, composto por artistas, escritores e jornalistas, incomodava-se com a falta de uma identidade nas produções nacionais. Dessas inquietações, surgiu a ideia de realizar uma Semana de Arte, que se configurou como um evento sem precedentes de arte e cultura. Foram feitas experimentações e proposições que rompiam com cânones da arte clássica, buscando a renovação das linguagens, conceitos e mesmo formas de proposição artística, como a declamação poética, que até então não era considerada arte. Foi também proposta a apresentação de maquetes, trazendo aproximação da arquitetura, até então somente vista em desenhos bidimensionais. A Semana de Arte Moderna de São Paulo ocorreu entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal da cidade de São Paulo e se perpetuou como marco oficial do início do modernismo no Brasil. Participaram do evento: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Anita Malfatti, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti e, do Rio de Janeiro, vieram os artistas Plínio Salgado e Menotti Del Picchia. Tarsila do Amaral, artista brasileira modernista, cujo nome está intima e constantemente ligado aos demais artistas, não participou do evento, porque estava em viagem à Paris na ocasião. Resumindo... Nesta aula vimos um resumo amplo da História da Arte, concentrando nossa atenção nas características estéticas que construíram o percurso que nos levou do surgimento da arte à idade moderna e concentramos nosso interesse na Semana de Arte Moderna de 1922, marco da arte brasileira que proporcionou a efetivação de uma arte nacional, com características próprias. 2929 29 Partimos da Pré-História, passamos pela Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna chegando à Contemporaneidade, percebendo que o movimento pendular, ou seja, hora se aproximando, hora se afastando dos ideias clássicos, é uma constante ao longo dos séculos e podemos constatar que a arte manteve, ao longo de todo esse mesmo tempo, um diálogo constante com os acontecimentos da história da humanidade e da evolução da ciência, visto que a própria ideia de evolução, tão natural para nós nos dias de hoje, vem da ciência. Naturalmente que não tratamos de toda a História da Arte, da Pré-História à Contemporaneidade. O objetivo principal foi o de fazermos justamente uma vista panorâmica para ajudar a sua compreensão da construção da visualidade contemporânea, refletidanos produtos audiovisuais que nossa sociedade produz e consome. Desse modo, do “pensamento mágico” primitivo, que fazia com que pintassem animais nas cavernas com a ideia de projetar sua vitória nas caçadas, passando pelos objetos rituais de tribos africanas e indígenas que buscavam “representar as várias figuras e totens de seus mitos” (GOMBRICH, 2000, p. 21), passando pelo Egito antigo; pela arte grega, com sua busca da representação do belo; pela religiosidade da idade média e o racionalismo pragmático do Renascimento; até chegar à Realidade Virtual da contemporaneidade, podemos ressaltar a necessidade de representação visual de sua cultura e seus ideais. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: você já deve ter reparado que o que é arte hoje em dia é muitas vezes bem diferente do que as expectativas das pessoas consideram que seja arte. Como você responderia a uma pessoa que questione um trabalho de arte contemporânea com a pergunta “mas isso é arte?”, diante de um trabalho que ela não compreenda ou em que seja tratado algum tema socialmente polêmico? Como explicaria que o conceito de arte hoje não segue os mesmos padrões da antiguidade, tanto em forma quanto em conteúdo? 3030 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. No que se baseia a arte primitiva? a. No conceito do belo clássico. b. Em representações realísticas do pensamento mágico. c. Em imagens e rituais para se proteger da natureza. d. Para decorar as cavernas para ficarem mais bonitas. e. Para representar uma ideia ou um fim religioso. 2. Na arte gótica são encontradas: a. Esculturas sobre as histórias de vida dos santos. b. Arcos redondos e construções baixas e robustas. c. Imagens cristãs, com ilustrações de histórias somente do Novo Testamentos. d. Representações da Virgem Maria mostrando as maneiras de uma dama da corte. e. Templos originais romanos transformados em templos católicos, numa tentativa de manter o poderio católico. 3. São artistas do Renascimento: a. Caravaggio, Pieter Bruegel e Bernini. b. Van Dyck, Rembrandt e Diego Velasquez. c. Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael. d. Newton, Espinosa, Locke e Descartes. e. Montesquieu, Rousseau e Voltaire. 3131 31 Referências bibliográficas ADAMS, L.S. A History of Western Art. 3. ed. Boston: McGraw Hill, 2001. ARAUJO, A.A.L.; VIEIRA, A.L.B. As Visões Historiográficas sobre o “pão e circo”: a plebs no contexto político social da Roma imperial, séculos I-II d.C. 2015. In: Revista Mundo Antigo, Ano IV, v. 4, n. 07, jun. 2015. Disponível em: http://www.nehmaat. uff.br/revista/2015-1/artigo01-2015-1.pdf. Acesso em: 17 maio 2019. ARISTÓTELES. Poética. 3. ed. Trad. Ana Maria Valente. 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História de Roma - Livro I - A Monarquia. Trad. Mônica Costa Vitorino. Belo Horizonte: Crisálida, 2008. Gabarito Questão 1 – Resposta: E O povos primitivos não faziam distinção entre imagem e realidade e, portanto, também não faz sentido avaliar as manifestações primitivas com relação às técnicas de representação, pois as imagens não tinham função de expressar realidade, mas sim de representar uma ideia ou um fim religioso, sejam pinturas, esculturas, objetos, máscaras ou monumentos megalíticos. Questão 2 – Resposta: D As características mais marcantes da arquitetura gótica eram elementos de engenharia, como o arco pontiagudo e o cofre de ‘costelas’, que permitiam maior altura e mais espaço para as janelas nos edifícios, assim como o uso extensivo de vitrais e as rosáceas para trazer luz e cor para o interior. Imagens cristãs, com ilustrações de histórias do Novo e do Antigo Testamentos, lado a lado, e as histórias de vida dos santos eram frequentemente descritas em imagens, assim como as representações da Virgem Maria, que mudaram da forma icônica bizantina para uma mãe mais humana e afetuosa, acariciando seu bebê, e mostrando as maneiras refinadas de uma dama aristocrática e bem-educada da corte. Questão 3 – Resposta: C Caravaggio, Pieter Bruegel, Bernini, Van Dyck, Rembrandt e Diego Velasquez são artistas do Barroco. Newton, Espinosa, Locke, Descartes, Diderot, Montesquieu, Pope, Gibbon, Rousseau, Hume, Voltaire não são artistas, são filósofos. Os artistas do renascimento são: Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael. 3333 33 Cultura Popular, Cultura de Massa, Indústria Cultural e o Kitsch Autora: Jurema L. F. Sampaio Objetivos • Compreender a influência dos movimentos artísticos na produção de conteúdo audiovisual. • Compreender o modo como a cultura de massa se constrói e como se manifestam os repertórios criativos na produção de conteúdo. • Diferenciar conceitos como cultura popular, gosto e Kitsch nas produções audiovisuais. 3434 1. O que é cultura? No que diz respeito ao conceito de cultura, segundo Alfredo Bosi (1992, p.53), em seu livro Dialética da Colonização, este vem do verbo ‘colo’ que, para os antigos romanos, significava ‘eu cultivo’, em particular, o solo. O sentido básico de ‘colo’ é ‘tomar conta’, ou seja, cuidar. ‘Cultus’, o particípio passado de ‘colo’, é aquilo que já foi trabalhado. De ‘cultus’ deriva outro particípio, o futuro, ‘culturus’, que é o que será trabalhado. Inicialmente, a palavra cultura, por ser um derivado de ‘colo’, significava, rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado” (BOSI, 1992, p. 53). Ainda segundo Bosi (1992, p. 53), “esse significado material da palavra, relacionado com a sociedade agrária, durou séculos” e, do ponto de vista histórico, a cultura se aproximou de ‘colo’ e se distanciou de ‘cultus’. É nesse sentido que compreender o que é cultura é de fundamental importância, pois conhecer a cultura do outro é saber como este ser humano pode complementar a nossa. Conhecemos muito sobre nós mesmos ao compreender o outro, pois: [...] o alimento, o vestuário, a relação homem-mulher, a habitação, os hábitos de limpeza, as práticas de cura, as relações de parentesco, a divisão das tarefas durante a jornada e, simultaneamente, as crenças, os cantos, as danças, os jogos,a caça, a pesca, o fumo, a bebida, os provérbios, os modos de cumprimentar, as palavras tabus, os eufemismos, o modo de olhar, o modo de sentar, o modo de andar, o modo de visitar e ser visitado, as romarias, as promessas, as festas de padroeiro, o modo de criar galinha e porco, os modos de plantar feijão, milho e mandioca, o conhecimento do tempo, o modo de rir e de chorar, de agredir e de consolar. (BOSI, 1992, p. 53). As diversas matrizes que embasam a cultura brasileira colaboram na composição da identidade das produções brasileiras e originam-se de práticas culturais diversas, sejam elas regionais ou nacionais. Desse modo, é possível compreender que a “cultura é o conjunto das práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social” 3535 35 (BOSI, 1992, p.10). Seus valores e estéticas, somados aos conceitos, análises e reflexões acerca de propostas como Indústria Cultural, Cultura de Massa, Cultura Popular; às relações entre todas as possibilidades derivadas dessas reflexões e, ainda, às variadas proposições estéticas que circulam desde a modernidade, como o kitsch etc., ora complementam, ora questionam as produções audiovisuais contemporâneas. A estética das produções audiovisuais brasileiras reflete essa multiplicidade de valores estéticos e multiculturais que compõem nossa cultura e, assim, abarcam uma imensa pluralidade de estilos e modos de ser e fazer, mas mantêm em comum um traço de brasilidade, já defendido pelos modernistas, mesmo que, contemporaneamente, suavizados pela globalização. 2. O que é cultura de massa? Para Adorno e Horkheimer (1947), Indústria Cultural, voltada para produção de bens culturais voltados para serem consumidos sem crítica pela massa (1947, p.117) ,distingue-se de Cultura de Massa, propriamente, pois “o entretenimento e os elementos da indústria cultural já existiam muito tempo antes dela” [a cultura de massa] (1947, p. 63). Os processos de produção e distribuição diferenciam os conceitos um do outro, isso porque a Indústria Cultural, “ao mesmo tempo que já determina o consumo, ela descarta o que ainda não foi experimentado porque é um risco” (1947, p.63). E o que está em risco é o lucro. E o lucro é a meta, portanto, não pode ser colocado em risco. Como Cultura de Massa se origina do povo, seus costumes e modos de ser e agir, das regionalizações, e não tem necessariamente ambições comerciais, ou seja, não visa ser objeto de venda como meta existencial, seu objetivo maior é atingir ao maior número de expectadores/ consumidores, porém mantendo suas características estéticas originais. Já a Indústria Cultural se concentra na repetição massiva de padrões estéticos intencionalmente construídos com a finalidade de que sejam consumidos, visando o lucro de quem os negocia. 3636 É certo que a arte e a cultura, sejam populares ou eruditas (embora essa diferenciação também posso ser questionada e problematizada, pois carrega em si uma visão específica de modos de produção de arte e cultura bastante carregados de ideologias), também podem ser (e são!) comercializadas, porém o lucro a qualquer curso não é seu objetivo primordial ou principal. Não é sua motivação ou razão de ser. Ou seja, arte e cultura produzidas sem originalidade e espontaneidade, feitas a fim de atender a um padrão estético de consumo pré-estabelecido, a ser comercializada segundo interesses que sejam relativos somente à geração de maior lucro, é a essência da Indústria Cultural. A Cultura de Massa é, muitas vezes, chamada erroneamente de Cultura Popular. O erro se dá por se acreditar que algo ser “popular” seja sinônimo de ser massificado e feito exclusivamente com objetivos comerciais, ou seja, produzido e consumido sem nenhuma reflexão estética, o que não é verdadeiro. Os produtos da Cultura Popular refletem as questões estéticas do povo, das comunidades que os produzem. É preciso entender, também, que ‘massa’ não é uma definição de classe social, e sim uma forma de se referir a maioria da população. Cultura de Massa se refere ao alcance numérico de conhecedores. Quanto mais gente conhecer e consumir algo, ou seja, a massa (em termos numéricos), “melhor”. A Cultura de Massa pode ser tanto popular quanto erudita, pois a classificação de ‘massa’ não faz referência ao tipo ou qualidade do produto cultural e, certamente, a Indústria Cultural se baseia em distribuição de seus produtos junto à massa, porém sem buscar promover novas experimentações estéticas, e mesmo desencorajando- as. As experiências estéticas da cultura de massa são, muitas vezes, superficiais, porém proporcionam senso de coletividade à massa exposta a elas. Absorve as criações cotidianas populares e elabora um ou mais produtos a partir de representações populares, sem se preocupar com as significações, e esses produtos só terão vida por pouco tempo, pois logo perderão a representação e, então, um novo produto será criado, vendido e consumido. Num círculo vicioso que cada vez mais pede “novidades”, porém que sejam “seguras”. 3737 37 No entanto, é necessário perceber que nem tudo é negativo em relação à Indústria Cultural. Muitos pesquisadores acreditam, com razão, que, por meio dela, também se pode conseguir alcançar a democratização de acesso a produtos culturais pela massa que, de outra forma, ficariam restritos às regiões produtoras daquela forma ou manifestação, ou a um público restrito. PARA SABER MAIS Para discutir e estudar sobre Cultura de Massa e suas relações com as produções audiovisuais, é importante e necessário conhecer e compreender bem o conceito de “Indústria Cultural”. Se você ainda não o conhece ou tem dúvidas de seu entendimento efetivo, vale a pena pesquisar um pouco para aprofundar sua compreensão. O termo foi cunhado pelos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer para se referir ao lugar da arte na sociedade capitalista industrial, na década de 1940, no livro Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos, no capítulo chamado “O iluminismo como mistificação das massas”, publicado em 1947. Procure conhecer mais sobre Indústria Cultural lendo os livros abaixo indicados: 1. ADORNO, Theodor & HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos, 1947. 2. ADORNO, Theodor. Indústria cultural e sociedade. Seleção de textos Jorge Mattos Brito de Almeida, trad. Juba Elisabeth Levy... [et a1.]. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 2.1 Cultura popular X Cultura erudita Ao longo da história sempre nos deparamos com ideias interessantes, que são apresentadas como opostas entre si, como os termos ‘cultura popular’ e ‘cultura erudita’. Em linhas gerais, essa classificação separa 3838 a cultura em dois tipos, de acordo com a sua forma de produção, sendo a cultura popular feita e destinada ao povo, e a cultura erudita, idem, feita e destinada a um público elitizado, que se diferencia do povo, por deter um certo nível de ‘saberes’, necessariamente superiores aos populares. A sociedade de classes separa ‘ato’ de ‘projeto’, o ‘saber’ do ‘fazer’, destinando o saber às classes sociais mais abastadas e o fazer aos menos favorecidos economicamente e, por isso, considerados inferiores. Essas são noções surgidas a partir do ideário romântico europeu do século XIX, e são as mesmas que dão origem ao termo Folclore, neologismo inglês folk-lore, que designa o “saber do povo”, diferenciando-o do “saber erudito” (CASCUDO, 2002, p. 240). Porém, se a sociedade não fosse dividida em classes, não haveria uma ‘Cultura Popular’, pois esta não teria como se opor à outra cultura qualquer. Figura 1 – Ciclo da construção das produções culturais Fonte: Elaborada pela autora. “Saber” e “fazer” são partes de um todo na construção dos objetos culturais (Figura 1) e se alimentam reciprocamente na construção da cultura. Assim como Cultura Popular e Cultura Erudita são, ambas, parte da Cultura (Figura 2) e seguemalimentando-se mutuamente. 3939 39 Figura 2 – Composição da Cultura Fonte: Elaborada pela autora. A compreensão de que cultura é uma construção viva e constante nos faz perceber que não há motivos reais para a diferenciação entre popular e erudito, sendo, ambos, parte da cultura, devem, também ambos, ter a mesma valorização. No entanto, devemos estar atentos às apropriações da cultura por meio da Indústria Cultural, cuidando atentamente para que os bens e produtos culturais não se “percam” ou “esvaziem-se” de sentido, em função do lucro. Porém, a ampliação do acesso a esses mesmos bens deve sempre ser vista como positiva quando proporciona democratização de saberes culturais, produzindo significados, ainda que novos, pois o próprio processo cultural é, como dito, dinâmico e vivo. 3. O que é o Kitsch? Sua definição não é fácil. Em princípio o Kitsch é, para além de um estilo artístico, uma estética, um modo de ver o mundo em que os parâmetros de regulação são próprios e o conceito de belo é diferente do da estética convencional, clássica, é “o feio, discordante e sem sentido, passa a ser belo” (SONTAG, 2015, p.15). 4040 O estilo se popularizou na década de 1930 com os estudos de Theodor Adorno e Clement Greenberg. Para Clement Greenberg, Kitsch “é um produto da revolução industrial que, urbanizando as massas da Europa ocidental e da América, implantou a chamada alfabetização universal” (GREENBERG, 1997, p. 32). Adorno, considera-o no centro da indústria cultural. O termo, que significa “empréstimo”, em alemão, defende a supressão do senso crítico, gerando, assim, uma percepção e proposição diferenciada da estética, “que usa como matéria-prima os simulacros aviltados e academicizados da cultura genuína” [...], é experiência por procuração e sensações falsificada” (GREENBERG, 1997, p. 32). Também chamado de estética do simulacro, evidencia-se, preferencialmente, nas simulações, cópias e demais formas “efeitos de fachada”, o que é “feito por máquinas” (GREENBERG, 1997, p. 34) , é como um “Maxfield Parrish ou um equivalente que penduramos nas nossas paredes, em vez de Rembrandt ou Michelangelo” (GREENBERG, 1997, p. 35). É considerado como um fenômeno moderno, coincidindo com as mudanças sociais nos séculos recentes, como a Revolução Industrial, o processo de urbanização, a produção em massa de produtos, de materiais modernos e de meios tais, como plásticos, rádio e televisão, a ascensão da classe média e a implantação da educação pública, tudo isso contribuiu para uma percepção de supersaturação da arte produzida para o gosto popular. Flores de plástico, pinguins de geladeira, flamingos e anões de jardim, estampas de pele de animais, bibelôs e lembrancinhas de viagens, e tudo que “simule” o que não é, pertence à estética kitsch. Assim como, em decoração, por exemplo, ambientes “montados” com a intenção de “parecer ser” o que não são também podem ser classificados como kitsch, como revestimentos, cerâmicas e porcelanatos que “imitem” madeiras, pinturas que simulem pedras como mármores e granitos. Assim como “a literatura popular e comercial, com seus cromotipos, capas de revistas, ilustrações, anúncios, subliteratura, histórias em quadrinhos, a música do Tin Pan Alley, sapateado, filmes de Hollywood, etc.” (GREENBERG, 2013, p. 32). Assim como o pinguim de geladeira (Figura 3), que sugere que o ambiente é tão frio que atrairia pinguins, ou seja, a ideia do simulacro, do “como se fosse” está presente em vários itens do cotidiano. 4141 41 Figura 3 – Pinguim de geladeira Fonte: Miriam Mesquita/iStock.com. O Kitsch questiona a estética do belo clássico, desconectando-a do senso de equilíbrio de harmonia clássicos, para aproximá-lo das expressões de experiências estéticas de prazer, independentemente de serem, ou não, harmônicas e equilibradas. Embora bastante associados às vanguardas, pelos questionamentos estéticos similares que as vanguardas artísticas já haviam iniciado na metade do século XIV, o Kitsch, como estética popular, retoma-os ao questionar os modos de fazer arte convencionais. Vale ressaltar, no entanto, que não procura impor nada, mas sim aproximar a arte do povo, trazendo a estética popular para o universo elitista das artes convencionais, coisa que mesmo as vanguardas não teriam conseguido “desconstruir”. Como ferramenta política, o kitsch se mostrou extremamente “útil” ao ser usado como estética “oficial” de governantes radicais abusivos, totalitaristas, como na Alemanha nazista e na Revolução Comunista Russa, que visavam domínio das massas, por refletir o gosto popular em suas produções, em oposição e detrimento da estética clássica. Como ainda Clemente Greenberg nos esclarece que o principal problema com a arte e a literatura de vanguarda, do ponto de vista de fascistas e stalinistas, não é que sejam demasiado críticas, mas que sejam excessivamente “inocentes”, sendo muito difícil injetar-lhes uma propaganda efetiva, ao passo que o kitsch é mais maleável para esse fim. 4242 0 kitsch mantem um ditador em estreito contato com a “alma” do povo. Se a cultura oficial ficasse acima do nível geral das massas, haveria o perigo do isolamento. (GREENBERG, 1997, p. 39). Mas o estilo, em si, não se compromete ideologicamente com fascismo ou nenhuma outra ideologia, tendo se configurado numa corrente de grande peso na cultura norte-americana do pós-guerra, que dali passou a influenciar uma verdadeira ressurreição do kitsch em larga escala, chegando a ganhar espaço em alguns museus respeitados. Tendo autonomia de pensamento estético, os artistas kitsch não se preocupam com a manipulação da massa, mas sim em expressar e refletir seu gosto e suas experiências estéticas. Artistas como Jeff Koons (Figura 4) e o designer de objetos Philippe Starck são adeptos da estética kitsch em suas produções. Figura 4 – Escultura de Jeff Koons em aço Fonte: Jeff Koons/iStock.com. ASSIMILE Em linguagem popular, costuma-se referir ao Kitsch como sinônimo de ‘cafona’, ‘brega’, ou seja, quase os mesmos adjetivos que se usam para sinônimos de ‘gosto popular’. 4343 43 Porém, o kitsch não é a ausência do “bom gosto”, mas sim o questionamento desses conceitos de “bom” ou “mau” gosto, que hierarquiza socialmente as classes sociais. Tendo, necessariamente, o “bom gosto” estreita relação com as classes mais abastadas e, em oposição, o mau “gosto” situado nas classes economicamente menos favorecidas. Denominar algo como kitsch é, geralmente, pejorativo, pois insinua que o item apontado é “berrante”, “inadequado” e mesmo “feio”, em análise por estética clássica ou que serve apenas a um propósito ornamental e decorativo, em vez de equivaler a um trabalho do que pode ser visto como verdadeiro mérito artístico. No entanto, a arte considerada kitsch pode ser apreciada de uma maneira totalmente positiva, apesar de considerações tendenciosas, em geral elitistas, como a que diz que: “Um gosto pelo kitsch entre os abastados é sinal de empobrecimento espiritual; mas entre os pobres representa um esforço em nome do belo, uma aspiração sem a probabilidade de sua realização” (DALRYMPLE, 2015, p. 227). Nesse sentido, sobre a relação do pop com a estética kitsch: No período posterior à Segunda Guerra Mundial, 1939-1945, a arte pop retira o sentido pejorativo que cerca o kitsch. A arte pop se apresenta como um dos movimentos que recusam a separação arte/vida, e o faz - eis um de seus traços característicos - pela incorporação das histórias em quadrinhos, da publicidade, das imagens televisivas e do cinema. Ao aproximar arte e design comercial, os artistas superam, propositadamente, as fronteiras entre arte erudita e arte popular, ou entre arte elevada e cultura de massa, flertando sistematicamente com o kitsch. Podem ser citadas, entre outros, a colagem de Richard Hamilton (1922), O que Exatamente Torna os Lares de Hoje Tão Diferentes, Tão Atraentes?, de 1956; as naturezas-mortas de Tom Wesselmann (1931),compostas com produtos comerciais; os quadrinhos de Roy Lichtenstein (1923); as esculturas de Claes Oldenburg (1929), em Duplo Hamburguer , 1962; e as obras de Andy Warhol (1928-1987), 32 Latas de Sopas Campbell, 1961-1962, Caixa de Sabão Brilho, 1964, entre outras. No Brasil as obras de Nelson Leirner (1932) e Wesley Duke Lee (1931-2010) são 4444 pioneiras na incorporação dessas discussões. O pós-modernismo da década de 1980 rompe mais uma vez, e com resultados diversos, as fronteiras entre o kitsch e a chamada arte erudita. (KITSCH, 2019, s/p). A seguir, um tópico sobre as relações culturais e estéticas na construção de repertórios, incluindo a contribuição dessa intersecção no processo criativo. 4. Relações culturais e estéticas e a construção de repertórios O estabelecimento de relações entre estética e cultura é mais simples do que parece, e mais comum de acontecer do que nos damos conta. É, inclusive, a base de muitos processos criativos. Por exemplo, se você fosse convidado, ou convidada, para uma festa à fantasia, com temática egípcia, certamente encontraria várias mulheres de franjinha e com olhos bem delineados em preto, além de roupas brancas, longas e com cintura bem marcada. Não é verdade? Tudo isso, numa tentativa de “parecer” com Cleópatra e outros elementos da cultura egípcia, perpetuados pelas imagens encontradas nos templos e tumbas egípcios, e nos papiros (Figura 5) encontrados nas escavações arqueológicas. Figura 5 – Reprodução de papiro egípcio Fonte: Photoservice/iStock.com. 4545 45 Mas a imagem que as pessoas têm de Cleópatra, ou seja, o repertório de referências da maioria das pessoas, em que a rainha aparece sempre de franjinha e com os belos olhos bem delineados é uma construção do cinema norte americano, de 1963. Para destacar os belos olhos violetas de Elizabeth Taylor, os figurinistas desenvolveram a personagem com essas características. Além disso, propuseram roupas com cintura fina, bem marcada, valorização dos seios fartos, igualmente como a atriz tinha, e que era valorizado, na época, como padrão de beleza. Sem nem comentar a pele clara e as feições delicadas de Liz Taylor, em especial o nariz delicado que, definitivamente, não se assemelham às características do povo egípcio. Cleópatra foi realmente a mais conhecida das rainhas do Egito, mas nasceu na cidade de Alexandria, no Egito, que tinha influências helenísticas, núbias e semitas, o que está bem longe da imagem caucasiana conhecida da rainha. A história registra suas habilidades como estadistas e inteligência acima da média, em especial porque, sendo mulher numa sociedade machista e patriarcal, destacava-se por sua impetuosidade e enfrentamento, usando a astúcia, sedução e raciocínio contra a truculência masculina, mas, definitivamente, a beleza não fazia parte de seus atributos. Muito menos a beleza clássica de Liz Taylor. Certamente, a ideia por trás da escolha da atriz está repleta de referências culturais. Principalmente porque, para justificar as conquistas e poder de sedução de Cleópatra, a também machista indústria cinematográfica norte-americana achou por bem caracterizar seu poder de sedução, que conquistou Júlio César e Marco Aurélio, por sua “beleza física”, pois somente isso “explicaria” a capacidade de sedução. Uma visão culturalmente pejorativa das capacidades das mulheres. Para desconstruir essa imagem, muita pesquisa vem sendo feita. Segundo a BBC (2008), os restos mortais, descobertos na Turquia, da princesa Arisnoe, irmã de Cleópatra, indicam que ela e a mãe de Cleópatra tinham um “esqueleto africano” (CRAWFORD, 2007, s/d). 4646 Em 2007, a egiptóloga Sally-Ann Ashton (2008), da Universidade de Cambridge, baseou-se em gravuras de moedas antigas, em esculturas e reproduções de decorações de diversos templos de Dendera, uma cidade a oeste do rio Nilo, e imagens gravadas em artefatos antigos, como um anel que data da época do seu reinado, há 2 mil anos, para buscar reconstituir o rosto da rainha e elencar definitivamente os seus traços físicos (BBC, 2008), e criou uma animação 3D baseada em análise forense (Figura 5) que mostra Cleópatra como uma mulher de pele morena e trancinhas. De acordo com o Smithsonian, uma moeda que data de 32 a. C, encontrada em 2007, mostra que Cleópatra tinha um “nariz grande, lábios estreitos e um queixo pontiagudo” (CRAWFORD, 2007, s/d) e, “além disso, também tinha aproximadamente 1,52 m de altura e pele escura” (NOGUEIRA, 2019, s/p). A beleza de Cleópatra (ou a falta dela) era irrelevante para os romanos que a conheciam e para o povo egípcio que ela governava. Cleópatra tinha carisma e sua sensualidade derivava de sua inteligência - o que Plutarco (1968, s/p) descreveu como “o encanto de sua conversa”, pois, para o autor, “a atuação política da rainha egípcia esteve pautada em sua perspicácia retórica” (PELLING, 2005, s/p). Figura 6 – Projeção de como seria o rosto verdadeiro de Cleópatra Fonte: ASHTON, Sally-Ann. Cleopatra and Egypt. London: Blackwell Publishing, 2008. AH - Aventuras da História, 22 mai.2019. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/ noticias/reportagem/conheca-o-verdadeiro-rosto-de-cleopatra.phtml. Acesso em: 26 maio 2019. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/conheca-o-verdadeiro-rosto-de-cleopatra.p https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/conheca-o-verdadeiro-rosto-de-cleopatra.p 4747 47 Na indústria cinematográfica, os processos de produção visam principalmente o lucro, todos os produtos culturais são pensados para que haja um grande consumo por parte das massas, ou seja, para que um filme seja um blockbuster. Essa é a essência do Star System de Hollywood, a fábrica de estrelas e templo máximo da Indústria Cultural que, permeado pela estética kitsch de simulacro, transforma pessoas comuns em semideuses, com a construção de imagens que se consolidam no imaginário coletivo como ‘verdades’, que nem sempre correspondem à história e aos fatos. Mais recentemente, a imagem de Cleópatra no cinema foi “atualizada”, mas guardando as mesmas ideias que fizeram a base da escolha de Liz Taylor nos anos de 1960, ainda aposta na ideia da beleza física como razão da capacidade de articulação e sedução da Rainha do Egito. Em 2018, a atriz apontada para a refilmagem do clássico é Angelina Jolie. Sem dúvidas, uma mulher lindíssima, mas também com características físicas não compatíveis com as do povo egípcio. A crítica especializada apontou, imediatamente, que Jolie é “muito branca” para o papel e aponta para a cantora e atriz Lady Gaga como mais adequada. Construção de repertórios Você sabe o que quer dizer ‘repertório’? Um cantor ou cantora costumam interpretar uma série específica de cações em suas apresentações, ou seja, costumam ter um repertório que conhecem bem e que está confortável em performar. Isso também acontece com as pessoas que não são artistas. Todas as informações que vamos acumulando ao longo da vida constituem nosso repertório individual, ou seja, temas e assuntos em que estamos confortáveis, que não nos causam estranhamento e que costumamos conviver. Por exemplo, o repertório culinário. Arroz, feijão, carne e vegetais fazem parte do repertório da maioria dos brasileiros, sendo mesmo reconhecido como característicos do nosso povo. O repertório italiano inclui massas, molhos, etc. O francês, considerado requintado, também conta com uma série de pratos característicos, como croissant, patês e outros itens. 4848 Com todo tipo de assunto podemos falar em repertórios. Quem trabalha ou deseja trabalhar com criação ou inovação, em qualquer profissão, precisa ‘alimentar’ o seu repertório pessoal para que seja sempre atualizado e para que a variedade de informações possa colaborar na criação de novas propostas. Arte, literatura, cinema, música, dança, viagens, tudo é importante para a construção de repertórios ricos e que sejam efetivamente úteis como ferramentas