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GLEIDSON JORDAN DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O VÍNCULO AFETIVO EM GRUPOS MUSICAIS AMADORES: 
ESTUDO NA CORPORAÇÃO MUSICAL SÃO SEBASTIÃO DE SANTA 
CRUZ DE MINAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI 
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA 
SÃO JOÃO DEL-REI 
2013 
 
 
GLEIDSON JORDAN DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O VÍNCULO AFETIVO EM GRUPOS MUSICAIS AMADORES: 
ESTUDO NA CORPORAÇÃO MUSICAL SÃO SEBASTIÃO DE SANTA 
CRUZ DE MINAS 
 
 
Monografia apresentada como pré-requisito de 
conclusão do Curso de Licenciatura em Música com 
habilitação em Educação Musical, da Universidade 
Federal de São João del-Rei, tendo como orientadora 
a Profa. Maria Amélia de Resende Viegas. 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI 
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA 
SÃO JOÃO DEL-REI 
2013 
 
 
GLEIDSON JORDAN DOS SANTOS 
 
 
 
O VÍNCULO AFETIVO EM GRUPOS MUSICAIS AMADORES: 
ESTUDO NA CORPORAÇÃO MUSICAL SÃO SEBASTIÃO DE SANTA 
CRUZ DE MINAS 
 
Monografia apresentada como pré-requisito de 
conclusão do Curso de Licenciatura em Música com 
habilitação em Educação Musical, da Universidade 
Federal de São João del-Rei, tendo como orientadora 
a Profa. Maria Amélia de Resende Viegas. 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
_________________________________________________ 
Profa. Maria Amélia de Resende Viegas 
 
 
 
 
_________________________________________________ 
Profa. Liliana Botelho Pereira 
 
 
 
 
_________________________________________________ 
Profa. Mariana Rennó Jelen 
 
 
 
 
SÃO JOÃO DEL-REI, ________ de abril de 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos músicos e educadores 
que assim como eu acreditam na influência 
dos laços afetivos sobre a prática musical e no 
desenvolvimento psíquico e intelectual, e a 
todos que contribuíram para sua realização. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus, a meus pais Antônio e Eunice, a meus irmãos e a meus amigos pelo suporte 
inestimável dado a mim durante minha trajetória até este momento. 
 
Aos membros da Corporação Musical São Sebastião de Santa Cruz de Minas por toda 
disponibilidade, carinho e atenção que contribuíram muito para a realização da minha 
pesquisa. 
 
Aos colegas e professores do Curso de Psicologia da UFSJ, em especial a Profa. Dra. Kety 
Valéria Simões Franciscatti e a aluna Sara Santos Caetano que muito contribuíram para a 
elaboração do projeto que deu origem a esta Monografia. 
 
Aos colegas e professores do Curso de Música da UFSJ pelo carinho e contribuições, em 
especial a minha orientadora Profa. Maria Amélia de Resende Viegas que abraçou junto a 
mim esta Monografia, à Profa. Mariana Rennó Jelen que contribuiu para o desenvolvimento 
da minha pesquisa e colaborou constantemente com sua experiência, e à Profa. Liliana Pereira 
Botelho pela atenção e disponibilidade concedida a mim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Toda a natureza pode estar adormecida, mas aquele que a contempla 
não dorme e a arte do músico consiste em substituir à imagem 
insensível do objeto, a dos movimentos que sua presença excita no 
coração do contemplador. Ela não somente agitará o mar, animará 
as chamas de um incêndio, fará correr os regatos, cair a chuva e 
engrossar as torrentes, mas pintará o horror de um deserto medonho, 
enegrecerá os muros de uma prisão subterrânea, acalmará a 
tempestade, tornará o ar tranquilo e sereno, e da orquestra 
derramará um frescor novo sobre o arvoredo. 
JEAN JACQUES ROUSSEAU 
 
 
 
RESUMO 
 
Esta Monografia aborda os vínculos afetivos criados por membros de grupos musicais durante 
sua prática cotidiana em conjunto, o que inclui as relações desenvolvidas com o professor e 
regente e as afinidades encontradas entre os participantes. Parte-se da Teoria do Vínculo e do 
Processo Grupal abordados por Enrique Pichón-Rivière, associado ao conceito de Integração 
no ensino e prática musical exposto por Hans-Joachim Koellreutter e apoiado por Stephen 
Nachmanovitch. A função social da banda de música civil e a pedagogia utilizada nas mesmas 
são especificadas para ilustrar os processos que contribuem para essa integração. A pesquisa 
foi realizada na Corporação Musical São Sebastião da cidade de Santa Cruz de Minas através 
do método de Observação Participante. 
 
Palavras-chave: Vínculo; Educação Musical; Processo Grupal; Corporação Musical; Função 
Social da Música. 
 
 
ABSTRACT 
 
This work addresses the emotional bonds created by members of musical groups during their 
daily practice together, which includes the relationships developed the between teacher and 
conductor and the affinities found among participants. It starts with the Binding Theory and 
Group Process approached by Enrique Pichón-Rivière, associated with the concept of 
integration in the teaching and practice of music exposed by Hans-Joachim Koellreutter and 
supported by Stephen Nachmanovitch. The social function of marching band and pedagogy 
used in the same are specified to illustrate the processes that contribute to this integration. The 
survey was conducted in the Corporação Musical São Sebastião of Santa Cruz de Minas city, 
through the method of Participant Observation. 
 
Keywords: Linking, Music Education; Group Process; Marching Band; Social Function of 
Music. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8 
CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 12 
1.1 INTRODUZINDO OS CONCEITOS DE VÍNCULO E RELAÇÃO GRUPAL DE 
PICHÓN-RIVIÈRE...............................................................................................................12 
1.2 AS RELAÇÕES ENTRE ENSINO, PRÁTICA MUSICAL E INTEGRAÇÃO 
GRUPAL..............................................................................................................................15 
1.2.1 Koellreutter e a universalização do ensino de música em promoção da integração 
social.................................................................................................................................. 15 
1.2.2 A criação musical compartilhada segundo Stephen Nachmanovitch ....................... 17 
1.3 A MOTIVAÇÃO, O ENSINO DE MÚSICA E SUA PARTICIPAÇÃO NA 
CONSTRUÇÃO DO VÍNCULO.........................................................................................19 
CAPÍTULO II ........................................................................................................................... 23 
2.1 REVISÃO DA LITERATURA SOBRE AS BANDAS DE MÚSICA CIVIS..............23 
2.2 A BANDA DE MÚSICA CIVIL....................................................................................25 
2.2.1 A função da banda de música civil........................................................................... 25 
2.2.2 O processo de aprendizagem na banda de música civil ........................................... 27 
CAPÍTULO III ......................................................................................................................... 33 
3.1 A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE APLICADA A PESQUISA NA 
CMSS...................................................................................................................................33 
3.2 OBSERVAÇÕES REALIZADAS NA CMSS...............................................................34 
3.3 ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS NA CMSS...................................37 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 41 
ANEXOS ..................................................................................................................................43 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 52 
GLOSSÁRIO ............................................................................................................................ 55 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
A ideia de realizar este projeto surgiu da participação durante nove anos do 
pesquisador no grupo apresentado aqui como objeto de estudo, o que motivou seu interesse 
em estudar e compreender as relações interpessoais que acontecem dentro dos grupos 
musicais. A observação constante de aspectos relacionados aos vínculos estabelecidos dentro 
do grupo intrigou o investigador a se aprofundar na área ingressando em disciplinas da 
Universidade Federal de São João del-Rei que abordam a subjetividade. Pode-se destacar a 
influência da disciplina Método de Pesquisa Qualitativo do sétimo período do curso de 
Psicologia Integral, onde esta pesquisa teve seu apoio com base na leitura de autores dessa 
área. 
O caráter social da prática musical em grupos filantrópicos tem sido amplamente 
mencionado e influenciado diversos estudos (GONÇALVES et al., 2009; PENNA, 1990; 
PAREJO, 2001; entre outros) na área de Educação Musical. Todavia, a maioria foca-se mais 
nos processos socioculturais em si, sem relacioná-los às questões propriamente musicais ou 
do ensino musical. Através do interesse em aprofundar e compreender estas questões surgiu a 
ideia de realizar a presente pesquisa em um grupo musical, abordando aspectos relacionados 
ao vínculo interno do grupo, sua integração social, e como a música aí se insere. 
A convivência grupal fortalece os laços afetivos e a capacidade de interação social 
do indivíduo. Nesse contexto, podem-se citar os grupos musicais como um espaço em 
potencial que colabora com a comunicação e a interação grupal, estimulando o 
desenvolvimento das qualidades afetivas com base na prática e aprendizado musical, 
conforme será explorado ao longo deste trabalho. 
Os grupos musicais desenvolvem um vínculo em prol da obtenção dos seus 
objetivos: uma performance musical de sucesso e digna de apreciação. Para atingi-los, os 
membros desses conjuntos passam por um processo contínuo de interação envolvendo a 
aprendizagem, a colaboração mútua, o convívio regular, os processos de comunicação, dentre 
outras. Nesse contexto, desenvolve-se a capacidade de integração social dos indivíduos e as 
relações afetivas em níveis distintos. 
Para aprofundamento do conceito envolto no processo de integração grupal, foi 
utilizada a Teoria do Vínculo desenvolvida por Enrique Pichón-Rivière. O vínculo está 
relacionado aqui às relações interpessoais entre os indivíduos (comunicação, trabalho em 
9 
 
equipe, rivalidade, afinidade, semelhanças, diferenças e afins), e suas consequências para o 
grupo (companheirismo, amizade, integração e afins). 
Da educação musical, utilizamos algumas ideias do educador e compositor H.J 
Koellreutter, que defende que a Educação Musical deve adquirir um papel de construção 
social, promovendo a integração dos indivíduos. 
Como hipótese deste trabalho tem-se que a prática musical e o processo de 
aprendizagem da música são instrumentos facilitadores do processo de integração social e da 
construção de vínculos interpessoais, por tratar-se de um fenômeno que gera emoções, 
despertando diversos sentimentos relacionados à subjetividade. Na ausência destes aspectos, a 
prática musical em conjunto pode ser prejudicada, resultando em uma performance musical 
fraca, incapaz de atingir e explorar suas potencialidades, já que um músico está 
dependentemente integrado ao outro nessa atividade grupal. É importante ressaltar que o 
presente estudo foca-se em grupos musicais amadores e filantrópicos. 
Na cidade mineira de Santa Cruz de Minas, pode-se destacar o importante papel 
realizado pela Corporação Musical São Sebastião- CMSS, onde realizamos nossa pesquisa. A 
CMSS, conforme seu estatuto, é uma banda de música civil sem fins lucrativos com o 
objetivo de disseminar a arte musical. Esta entidade oferece aulas gratuitas de teoria musical e 
de instrumentos de sopro e percussão, além de manter uma Banda de Música tradicional 
mineira atuando em procissões, festividades e eventos diversos. As atividades realizadas por 
corporações musicais como esta desenvolvem a integração social dos seus membros 
fortalecendo o vínculo entre eles. 
A Corporação Musical São Sebastião de Santa Cruz de Minas, foi fundada em 
1997 e inaugurada em janeiro de 2001, não possui nenhum cunho político ou religioso. 
Apresenta-se como uma entidade filantrópica privada mantendo-se com recursos próprios e 
donativos. Seu principal objetivo é o ensino de música e a manutenção de uma Banda de 
Música Civil. 
Através desta pesquisa, buscou-se identificar os aspectos da aprendizagem 
musical que se relacionam ao desenvolvimento dos vínculos, caracterizando de que forma 
estes influenciam na integração social de seus membros. E, consequentemente, como esses 
vínculos influenciam na performance musical do grupo. 
Partindo das reflexões de integração e da influência da música nesse contexto, sob 
a luz dos pensamentos de Hans-Joachim Koellreutter e Enrique Pichón-Rivière, buscou-se 
neste trabalho encontrar, dentre outros, fatores qualitativos que revelam a importância da 
10 
 
música para o grupo principalmente no que lhe concerne a integração e a performance 
musical. Pensou-se assim, em tratar os aspectos musicais, principalmente os da prática 
musical em conjunto, como ferramenta de integração entre os indivíduos neles inseridos. 
O primeiro capítulo deste trabalho apresenta o referencial teórico utilizado, 
sintetizando a Teoria do Vínculo e o Processo Grupal de Enrique Pichón-Rivière, bem como 
os temas relacionados à integração e à educação musical de Hans-Joachim Koellreutter. Além 
disso, busca-se contextualizar a motivação e sua importância para a experiência grupal. 
No segundo capítulo realizou-se uma revisão da literatura existente relativa às 
corporações musicais que tratam de temáticas afins a este trabalho. Abordaram-se também 
neste capítulo, a função da banda civil, a atividade pedagógica existente na mesma, e como 
ambos estão presentes na Corporação Musical São Sebastião de Santa Cruz de Minas. 
O terceiro capítulo revela a metodologia utilizada para a realização da pesquisa, 
demonstrando como a mesma foi aplicada. Apresentam-se também os dados coletados e os 
relaciona com as teorias presentes nos dois primeiros capítulos deste trabalho. Por fim, os 
resultados da pesquisa são analisados e levam à conclusão desta monografia. 
Ao final do trabalho, apresentamos um glossário para os termos que aparecem em 
itálico durante o trabalho. Dessa forma pretende-se esclarecer conceitos que podem levantar 
dúvidas ao leitor, principalmente os referentes ao campo de Psicologia. 
A Metodologia para a realização desta pesquisa se utilizou de instrumentais como 
a Observação Participante e entrevistas semiestruturadas e abertas. O pesquisador se inseriu 
no grupo foco da pesquisa, participando de todas as atividades realizadas durante cerca de oito 
meses, realizando as entrevistas com dezessete integrantes da banda, incluindo o regente e o 
presidente da Corporação Musical São Sebastião de Santa Cruz de Minas. O pesquisador foi 
membro efetivo da CMSS durante nove anos, onde obteve sua iniciação musical e 
instrumental. Após seu afastamento da entidade para dedicação aos estudos, esta pesquisa 
serviu como impulso para seu retorno à banda de música, se disponibilizando a contribuir com 
seus conhecimentos adquiridos durante a graduação em Música. 
O trabalho proposto nesta pesquisa torna-se relevante por ressaltar a importância 
dos grupos musicais no âmbito social e suas possibilidades de contribuição para o 
desenvolvimento cívico e das relações interpessoais do indivíduo. Com apoio desta pesquisa,pôde-se reforçar a característica civilizadora e integradora de um grupo musical filantrópico. 
A principal intenção ao pesquisar os vínculos nos grupos musicais foi a de conseguir 
identificar como eles surgem, como influenciam e como são influenciados pela prática 
11 
 
musical. É válido ressaltar a escassez de estudos relacionados a esse tema, havendo a 
necessidade de se realizar trabalhos de pesquisa nessa área pouco investigada. 
Buscou-se contribuir, dessa forma, para a sistematização de uma possível maneira 
de potencializar as relações grupais e amenizar conflitos futuros dentro desses grupos, 
servindo de referência para o desenvolvimento desses aspectos em grupos similares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
CAPÍTULO I 
1.1 INTRODUZINDO OS CONCEITOS DE VÍNCULO E RELAÇÃO 
GRUPAL DE PICHÓN-RIVIÈRE 
 
As reflexões deste trabalho têm um alcance que extrapola o âmbito da educação 
musical ao relacionar o objeto de pesquisa a outras áreas do conhecimento. Sendo assim, para 
a sua realização foi necessário a compreensão dos conceitos relacionados às relações 
interpessoais, que são abordados pelo psicanalista de origem suíça, radicado na Argentina, 
Enrique Pichón-Rivière, que estudou e desvendou conceitos sobre o vínculo e o processo 
grupal. Este não estudou o homem como um ser isolado, mas sempre inserido em um grupo. 
De acordo com Pichón-Rivière (1988) existem três dimensões de investigação 
psíquica: a do indivíduo, a do grupo e a da sociedade. Esses três campos são interligados, 
integrando-se sucessivamente. O vínculo, como fruto das relações interpessoais, é apresentado 
como a maneira particular pela qual um indivíduo se relaciona com os demais. 
Segundo Pichón-Rivière (apud GONÇALVES et al., 2009) o conceito de vínculo 
está intimamente relacionado com o conceito de papel, status e de comunicação. Ele ainda 
afirma que existem vínculos individuais, estabelecidos entre pessoas, e vínculos grupais, 
estabelecidos entre grupos. 
Partindo dos pressupostos de Pichón-Rivière (1988) pode-se afirmar que dentro 
dos grupos é possível identificar diferentes patologias referentes aos vínculos, o que é 
trabalho para um profissional da área da psicologia social analisar. O grupo social no qual o 
indivíduo encontra-se inserido atua constantemente sobre a construção de um vínculo. O 
profissional que se dedica ao estudo do vínculo analisa o grupo investigado em suas 
dimensões, avaliando as tensões de um determinado indivíduo em relação aos demais 
membros do grupo, o grupo como uma totalidade em si e as funções internas do grupo. 
Estuda-se, dessa forma a influência que um indivíduo exerce sobre os outros com relação ao 
vínculo estabelecido por cada um. 
Conforme é afirmado por Pichón-Rivière (1988), para se compreender o vínculo é 
necessário partir das relações de independência e dependência entre os indivíduos de um 
determinado grupo. Quando um indivíduo depende do outro deposita partes internas suas 
nele, e quando acontece a retribuição do outro agindo da mesma forma, ocorre entre ambos 
um entrecruzamento de depósitos, criando em cada um, dificuldades para reconhecer o que é 
13 
 
propriamente seu. O autor cita um exemplo onde um casal de indivíduos totalmente 
diferenciados entre si teriam uma independência afetiva, social e econômica. Ao terem um 
filho, acontece a união simbiótica nessa estrutura de dois diferenciados. 
Ramalho (2010) afirma que para Pichón-Rivière o grupo é um espaço para o 
crescimento tanto individual quanto grupal. Elaborando-se e solidificando-se através das 
interações que ocorrem no grupo, se este se desenvolve, os seus membros se desenvolvem 
junto. 
Conforme Pichón-Rivière (1988) os indivíduos assumem papéis dentro do grupo 
em que se inserem. Esses papéis definem a maneira de ação do indivíduo perante os demais 
membros deste grupo. O nível de cooperação desses grupos pode ser operativo. Encontra-se 
um montante de vínculos dentro do grupo, e a modificação de um dos parâmetros dentro 
dessas relações acarreta a modificação do todo. A relação de interdependência entre os 
indivíduos de um grupo delega funções a cada um, ou seja, cada indivíduo assume um papel 
perante o grupo. 
Segundo Ramalho (2010) o grupo nasce de acordo com as necessidades e 
interesses comuns aos seus membros. Como cada indivíduo desse grupo é um ser histórico, 
além de social, muita carga individual é trazida por cada um. A interação pressupõe o contato 
com o outro. Muitas vezes os desejos e necessidades de cada um são transmitidos 
inconscientemente para os outros. Na medida em que os participantes interagem, tornam-se 
cada vez mais significativos entre si. A ligação mais duradoura e a reincidência e 
aprofundamento da interação entre os sujeitos constitui o vínculo, este que os liga, mas não os 
torna iguais. Eles possuem uma dependência entre si, mas mantêm sua unidade, sua história 
de vida, necessidades e expectativas particulares. Então, com base em Pichón-Rivière, pode-
se afirmar que o vínculo seria, além da ligação entre sujeitos, a ligação das “cargas” pessoais 
que cada um traz estabelecendo um processo de comunicação em um determinado contexto. 
Ainda com base em Pichón-Rivière, Ramalho (2010) fala sobre a necessidade de 
o indivíduo realizar um descentramento, o que seria um desligar de si mesmo e ir em direção 
ao outro. Dessa forma o sujeito pode se reconhecer no grupo, com outras pessoas que também 
possuem necessidades e têm um objetivo a atingir em comum, apesar de suas próprias 
expectativas e histórias de vida diferenciadas. Ao descentralizar, as pessoas se abrem à 
interação e criação de vínculos que, uma vez internalizados, propiciam o desenvolvimento 
psíquico no que se refere ao trato com o outro, influenciando também na forma como cada um 
interpreta a realidade. Ao reconhecer o outro, mais afinidades podem ocorrer, gerando uma 
14 
 
rede mais segura no grupo. Pichón-Rivière, segundo a autora, acreditava que se o 
conhecimento da dinâmica do próprio grupo fosse atingido, os seus membros seriam mais 
participativos de forma criativa e crítica, pois seriam conscientes de suas ações 
transformadoras. Esse processo ocorreria em uma tarefa em comum, no qual todos estariam 
empenhados. 
O indivíduo leva para o grupo seus referenciais e, no contato com os outros, 
ocorre a confrontação entre esses dados subjetivos, possibilitando não só 
uma revisão dos conteúdos internalizados, como também a transformação e 
o enriquecimento dos mesmos. Nesse momento, coexistem o desejo e o 
temor: o outro é importante para a aprendizagem e a vivência do grupo, mas 
é desconhecido e pode incomodar. O incômodo existe porque, em contato 
com outro, o indivíduo passa a ver além do que suas fantasias permitem, 
constituindo-se uma ameaça ao narcisismo. Aos poucos, num movimento de 
progressão – regressão contínua, o indivíduo vai se despindo da primeira 
representação do outro, passando da dissociação para a integração dos 
aspectos positivos e negativos, numa mesma pessoa ou situação. O processo 
de compreensão das leis internas do grupo acontece quando este é 
vivenciado pelo grupo. Isso significa que o indivíduo deve colocar-se 
conforme sua história, seu estilo, pensamento, sentimento e ações. Quando 
as relações são estereotipadas ou congeladas e o indivíduo adota formas 
defensivas em seu posicionamento, distanciando-se demasiadamente, as 
ansiedades não são enfrentadas e não há possibilidade de aprendizagem 
(RAMALHO, 2010, p.25). 
 
 Para Pichón-Rivière (apud RAMALHO,2010) a transformação do grupo, bem 
como a criatividade, só acontecem na relação do sujeito com o outro, fazendo com que os 
conteúdos individuais sejam dissolvidos, “perdendo-se” o individualismo. A aprendizagem 
traz a ruptura com outra experiência, com outros modelos, sendo constituída por momentos 
que se sucedem ou alternam. Quando ocorre o isolamentoe estereotipagens nesse processo, 
geram-se perturbações. Para o bom funcionamento de uma equipe, cada indivíduo deve estar 
oportunamente inserido em seu papel no processo total, de forma que o objetivo em comum 
possa ser alcançado. 
 Conforme Pichón-Riviére (apud RAMALHO, 2010) os papéis no grupo operativo 
são muito importantes, pois surgem nos acontecimentos grupais, no relacionamento do 
indivíduo com os outros, conduzidos para satisfazer expectativas e necessidades individuais e 
do grupo. Cada papel tem seu significado, e é sempre complementar a outro. O que 
propulsiona o desenvolvimento grupal é o processo de aprofundamento das contradições de 
conhecimentos, dos desacordos, a luta dos contrários e da complementaridade que nunca 
15 
 
cessa. Da interação com outros membros, o mundo interno de um sujeito se encontra como 
conjunto de outras cenas, medos, personagens que constituem o mundo externo, gerando 
questionamentos que contrariam ou reforçam alguns aspectos já estabelecidos. Nesse 
processo, onde estão presente ansiedades de perda e ataque, as contradições entram em crise 
ao longo do tempo, fazendo o grupo buscar o novo, que futuramente se transforma em grupo, 
garantindo a continuidade do processo grupal. 
 
1.2 AS RELAÇÕES ENTRE ENSINO, PRÁTICA MUSICAL E 
INTEGRAÇÃO GRUPAL 
 
1.2.1 Koellreutter e a universalização do ensino de música em promoção da 
integração social 
 
Como ressalta Koellreutter (1997a), as atividades musicais podem desenvolver a 
integração grupal, contribuindo em diversas áreas sociais. Seja na área de educação, trabalho, 
no comércio e na indústria, nos setores de planejamento urbano, na terapia e reabilitações 
sociais, dentre outros, cada qual exige uma atividade sistematizada específica. 
Koellreutter (1997a) diz que não é útil a atividade dos professores de música que 
repetem fastidiosamente a lição do ano anterior. Segundo ele, não existem fórmulas ou regras 
que possam manter uma obra de arte a salvo das influências socioculturais e midiáticas; tanto 
alunos quanto educadores precisam compreender o valor histórico da obra de arte, mesmo que 
sob influências sociais ocorram modificações na mesma. Para a valorização da atuação 
artística é muito importante a formação da personalidade e do caráter, que influenciam essa 
atuação e que estão em constante movimento de modificação. 
A música é, em primeiro lugar, uma contribuição para o alargamento da 
consciência e para a modificação do homem e da sociedade. Entendo aqui 
como consciência a capacidade do homem de apreender os sistemas de 
relações que atuam sobre ele, que o influenciam e o determinam: as relações 
entre um dado objeto ou processo e o homem, o meio ambiente e o eu que o 
apreende (KOELLREUTTER apud FONSECA, 2005, p.56). 
 
Conforme Koellreutter (1997b), em meio à sociedade de massa moderna, o ensino 
de arte é uma ferramenta de preservação e fortalecimento da liberdade expressiva, pelo seu 
16 
 
caráter de desenvolvimento de qualidades humanitárias. É imprescindível a ampliação da 
esfera de consciência
1
para superar formas sociais restritivas. A prática musical contribui para 
o alargamento da consciência e para a modificação do homem e, consequentemente, da 
sociedade. A música, tendo em vista suas características de sensibilidade estabelecidas 
culturalmente, influencia o ouvinte em relação às manifestações sociais e culturais e, 
consequentemente, em relação a seu comportamento em determinadas condições sociais 
existentes. Podemos citar como exemplo a utilização da música em rituais religiosos, 
festividades ou mesmo para homenagens fúnebres. Os ouvintes estão predispostos a ter um 
sentimento em conjunto comum a todos os membros do grupo que estão inseridos, já que a 
música exprime uma determinada disposição de ânimo, contagiando-os. Há nesse momento 
um estado de integração social do psíquico. 
Koellreutter (1997d) afirma que socializando os sentimentos, a música torna-se 
um meio de comunicação muito eficaz. Para ele, a função da arte consiste no socializar, 
transmitir e disseminar sentimentos dentro do grupo. Cada indivíduo deve estar preparado 
para assimilar os valores de outras culturas e cultivar aqueles aspectos de sua personalidade 
que são essenciais para o todo. 
É abordada por Koellreutter (1997c) a necessidade de um mundo integrado, para 
que haja um processo de desenvolvimento individual, pessoal e social visando à integração 
em um todo. Com um mundo aberto, defronta-se com a tarefa de estabelecimento de relações 
mútuas de afeto, amizade e boa vontade entre os humanos, com a valorização do compartilhar 
o que se conquista e o que se cria por meio da cooperação planejada e da integração generosa 
em todas as esferas da vida. Isso implica na abertura da sociedade, e na mobilização de 
objetivos comuns, responsáveis pela coesão social. 
No processo de educação musical, conforme dito por Koellreutter (1997e) pode-se 
desenvolver e aprimorar consideravelmente, por treinamento sistemático da audição e visão, a 
faculdade de percepção, assim como a capacidade de discernimento e análise. A 
comunicação e o contato humano podem ser desenvolvidos por intermédio de práticas de 
improvisação musical em grupos, por exemplo. O autor ainda destaca que as atividades 
musicais desenvolvem autodisciplina, concentração, subordinação de interesses pessoais aos 
interesses do grupo, autocrítica, criatividade, desenvolvimento da sensibilidade relativa a 
valores qualitativos, além de agir na supressão de medos, de inibições e preconceitos. 
 
1Koellreutter (apud FONSECA, 2005) define a palavra consciência como forma de percepção, apoiando-se principalmente na 
abordagem psicológica da Fenomenologia e na teoria da Gestalt. 
17 
 
 Conforme afirma Fonseca (2005), Koellreutter (1984) acreditava que o homem, 
como indivíduo, ao longo de sua trajetória de vida, percorre as fases de desenvolvimento da 
consciência da civilização humana, distinguindo o comportamento e, consequentemente, os 
métodos de ensino para cada geração. Dessa forma, Koellreutter leva em consideração 
diversos fatores socioculturais que apoiam sua metodologia de ensino. Um exemplo é o fato 
de seu método de ensino não enfatizar competições e o individualismo já que, para o 
adolescente, por exemplo, o grupo tende a ser mais importante que a própria família. 
Todas as fases de desenvolvimento representam uma cultura com valores 
próprios, modo de pensar legítimos, vitalmente importantes, que devem ser 
incentivados, respeitados e nunca corrigidos. É fundamental termos em 
mente que esses valores se transformam, de acordo com a imagem do mundo 
(consciência) característica de casa fase (KOELLREUTTER, 1984, apud 
FONSECA, 2005, p.57). 
 
 Koellreutter (apud FONSECA, 2005) estabeleceu como última fase de 
consciência, a “arracionalista”, referindo-se a superação ou transcendência da racionalidade, 
derrubando a limitação da liberdade e a percepção do indivíduo. Esse nível exige um alto grau 
de capacidade reflexiva. Apresentam-se, nessa fase, características de um pensamento 
integrador, multidirecional, capaz de transcender o dualismo, de buscar a complementaridade, 
onde tanto um quanto o outro indivíduo são importantes. Abre-se um espaço para a 
interpretação da realidade como sendo um sistema complexo de inter-relações. Há então a 
valorização da integralidade do ser humano, com a unidade do intelecto, dos sentimentos, das 
sensações, do corpo e das intuições. Nesse sentido, há uma valorização do convívio 
cooperador, a reintegração com a natureza, revalorização do elemento perceptivo, integração 
de linguagens e por fim a revalorização da arte. 
 
1.2.2 A criação musical compartilhada segundo Stephen Nachmanovitch 
 
 O autor, músico, artista de computador e educador estadunidense Stephen 
Nachmanovitch, escreve e ensina sobre abordagens deimprovisação, criatividade e sistemas 
em muitos campos da atividade. Em um de seus trabalhos, “Ser criativo: o poder da 
improvisação na vida e na arte”, ele aborda a criação musical compartilhada. Apesar de haver 
pouca ou nenhuma prática criativa nas corporações musicais, os exemplos deste autor ilustram 
18 
 
as possibilidades existentes na prática musical em grupo com relação à interação promovida 
dentro desses grupos. 
A beleza de tocar junto com alguém é a possibilidade de encontrar a 
unidade. É surpreendente a frequência com que dois músicos de formação e 
escolas diferentes se encontram e, antes de trocar duas palavras, começam a 
improvisar, revelando uma totalidade, uma estrutura e uma perfeita 
comunicação (NACHMANOVITCH, 1993, p.91). 
 
 Segundo Nachmanovitch (1993), a música não nasce exclusivamente de um ou de 
outro, apesar de as particularidades exercerem grande influência, mas sim da comunhão das 
partes. O autor ressalta a importância da comunicação, não apenas musical, mas também o 
diálogo com palavras. Estas que podem exercer uma enorme motivação no outro, ou 
desmotivá-lo, além de indicar por meio de críticas e conselhos a melhoria de determinados 
aspectos. 
 Como dito por Nachmanovitch (1993) alguns trabalhos exigem a cooperação de 
vários indivíduos para serem realizados ou, dependendo da situação, é mais divertido realizá-
los em meio aos amigos. Isso leva à colaboração, num processo em que os artistas, por 
exemplo, exploram outros aspectos relacionados aos seus limites pessoais e profissionais, 
podendo se apoiar no outro para superar suas diculdades individuais. Existe uma outra 
personalidade e estilo que precisam ser absorvidos e contidos num processo de internalisação, 
pois cada trabalhador traz consigo além de forças e inspirações, resistências a mudança. Deve 
-se então, colocar o objetivo final da criação musical como algo maior que as diferenças entre 
os indivíduos. 
 Uma das grandes vantagens da colaboração, segundo Nachmanovitch (1993), 
refere-se ao fato de ser muito mais fácil aprender com o outro do que sozinho. A inércia 
existente no trabalho solitário, praticamente não existe em grupo. Um indivíduo instiga o 
outro, tornando o aprendizado multifacetado, renovador e revitalizante. 
 Nachmanovitch (1993) ressalta que durante a exploração do ofício de músico e 
educador, vive-se em comunidade e um indivíduo reage aos outros graças à capacidade de 
ouvir, observar e sentir [percepção]. A realidade compartilhada, criada nesse trabalho oferece 
mais surpresas do que se o mesmo fosse feito individualmente. Nesse trabalho em grupo deve 
haver uma disciplina fundamentada pela mútua consideração, da consciência do outro, da 
disposição para a sutileza. Conforme o autor, desistir de algum controle em favor de outra 
pessoa ensina o sujeito a desistir de algum controle em favor do desenvolvimento do 
19 
 
inconsciente, este que é importantissímo na criação musical. O autor aborda os papéis dentro 
do grupo no processo criativo: 
A colaboração artística pode percorrer toda uma escala, desde uma 
hierarquia totalmente estruturada, como por exemplo a de uma equipe de 
cinema que trabalha a partir de um roteiro, até um grupo de artistas 
performáticos que , não tendo um diretor, partilham a responsabilidade por 
tudo o que acontece no espetáculo (NACHMANOVITCH, 1993, p.94). 
 
 Conforme Nachmanovitch (1993), a livre improvisação coletiva nas artes 
performáticas como a música, dança e teatro, convida os envolvidos a participar de formas 
novas de relacionamento humano onde a estrutura, a linguagem e as regras são criadas pelos 
próprios participantes. Ao se expressarem em conjunto, os indivíduos constroem uma 
sociedade à parte, onde há um relacionamento direto entre eles, interligados por meio da 
imaginação de cada um. A prática musical em grupo é um potencializador de amizades fortes 
e especiais, pois existe uma intimidade que não pode ser alcançada com palavras ou 
deliberação. 
 Nachmanovitch (1993) define o sincronismocomo a conjugação de dois ou mais 
ritmos numa só pulsação. Dessa forma, os ritmos fisiólogicos de um corpo podem entrar em 
ressonância com o de outro corpo. Esse fenômeno na prática musical coletiva é utilizado para 
que se possa respirar, pulsar e pensar juntos.Mas as vozes não estão rigidamente presas umas 
às outras, mas sempre escapando ligeiramente e voltando a se encontrar em determinados 
momentos. A harmonia perfeita pode ser um êxtase ou um tédio, é essa oscilação que a torna 
excitante. 
 É ressaltado por Nachmanovitch (1993) que há em cada ambiente uma energia 
muito pessoal e particular das pessoas ali presentes em determinado momento. Durante a 
integração do grupo, os seres individuais desaparecem e cria-se uma espécie de cumplicidade. 
Cada um capta os sentimentos dos outros e as mentes vibram no mesmo ritmo, trazendo à 
tona o sentimento de unidade. 
 
1.3 A MOTIVAÇÃO, O ENSINO DE MÚSICA E SUA PARTICIPAÇÃO 
NA CONSTRUÇÃO DO VÍNCULO 
 
Como ressalta Araújo (2011), a motivação está presente em qualquer atividade 
humana, apresentando-se como responsável pelo direcionamento das ações e escolhas dos 
20 
 
indivíduos. Deci & Ryan (apud ARAÚJO, 2011) afirmam que as características de 
determinadas pessoas, somadas ao seu contexto social que resulta em um desenvolvimento 
pessoal, geram sujeitos mais automotivados e mais integrados em determinadas situações que 
outros. Em um grupo musical, por exemplo, onde há constante desenvolvimento de 
habilidades e crescimento pessoal e coletivo, encontram-se sujeitos mais motivados a 
buscarem seus objetivos. Deve-se retomar aqui que essa integração é um dos fatores para a 
criação do vínculo dentro de um grupo conforme especificado por PICHÓN-RIVIÈRE 
(1988). 
A motivação, segundo Araújo (2011) é considerada um elemento fundamental 
para o processo de aprendizagem musical. A possibilidade de interligação entre as áreas de 
psicologia, música e educação favorecem a aplicação das teorias que abordam a motivação. A 
autora apoiada nos estudos de Bzuneck (2001) afirma que pesquisas realizadas em áreas 
distintas (interdisciplinares) favorecem uma compreensão mais rica e lógica de uma 
determinada teoria, pois os resultados encontrados podem confirmá-la ou contrariá-la. O que 
reforça a justificativa para a realização do presente trabalho interdisciplinar. 
 Dentre as diversas pesquisas apontadas por Araújo (2011), pode-se ressaltar a 
importante contribuição de Tsitsaros (1996) ao apresentar alguns dos elementos necessários 
para o ensino motivador de instrumento aos jovens. Segundo Tsitsaros (apud ARAÚJO, 
2011), algumas estratégias para os professores tornarem o estudo prazeroso e divertido, 
incluem instigar a curiosidade dos alunos e atentarem-se às preferências dos mesmos, 
reforçando elementos e habilidades já desenvolvidos por cada um ao longo de sua formação 
particular, além de buscar capturar o interesse e o entusiasmo da criança. Essas formas de 
motivação do aluno colocam a sua curiosidade como fator motivador. 
Pichón-Rivière (1988) define o vínculo como uma relação particular com o outro. 
Essa relação é constituída por uma estrutura em constante movimento, funcionando acionada 
ou movida por motivações psicológicas. Ao tratar do processo grupal, o autor afirma que a 
aprendizagem e a comunicação apresentam-se como aspectos instrumentais da conquista do 
objeto e possuem uma subestrutura motivacional. O processo responsável por promover a 
motivação é o da recriação do outro, ou seja, o reconhecimento de suas características no 
outro bem como a abertura para aceitar suas particularidades, o que adquire em cada 
indivíduo uma determinação individual. 
Segundo Ramalho (2010), é através da interação, que as necessidades e os 
interesses individuais são compartilhados, e o conhecimento elaborado. Isso se dá pela 
21 
 
motivação e mobilização presentes no grupoe em cada um de seus membros a partir de seus 
objetivos comuns e individuais. Paralelo a isso, o grupo é um lugar propício à formação do 
conhecimento por seu significado histórico. Muitos dos conhecimentos existentes, científicos 
e culturais, foram elaborados através das relações entre indivíduos, e através deles nos 
tornamos sujeitos. Nesse sentido, a autora afirma que Pichón-Rivière adverte que o grupo é 
essencial para o desenvolvimento do psiquismo. 
Pichón-Rivière (apud RAMALHO,2010) revela que se deve ter sempre em mente 
o aspecto das contradições eminentes ao grupo, ao buscar compreender um grupo em 
formação. Os membros do grupo, ao mesmo tempo querem e não querem estar inseridos nele. 
O grupo, em seu início desencadeia resistências à integração, o medo surge por ser algo 
inexplorado, desconhecido. Um passo importante a ser seguido por seus membros é descobrir 
quais os interesses e necessidades os levaram à inserção nessa relação grupal. É importante 
em um grupo operativo saber por que este foi formado, como a tarefa estabelecida pelo grupo 
será executada e por que ela será feita dessa forma. 
Ramalho (2010) indica a afirmação de Osório (2000) que, para um grupo tornar-
se operativo deve haver nele motivação para a realização da tarefa, mobilidade nos papéis a 
serem desempenhados ao longo da execução da tarefa, e a disponibilidade para as mudanças 
que são necessárias. A autora afirma que para Pichón-Riviére o processo grupal se caracteriza 
por uma dialética, por ser permeada de contradições, num movimento contínuo de 
estruturação, desestruturação e reestruturação. 
Com base em Pichón-Rivière, Ramalho (2010) ressalta que em um grupo 
operativo, a realização da tarefa não é um objetivo único, mas anteriormente a isso, propõe-se 
a observação de como o conhecimento é desenvolvido. Sendo assim, é necessário que as 
relações estejam concretizadas dentro do grupo, cada membro deve vivenciar a experiência 
grupal em nível emocional, relacional, conceitual e na execução da tarefa. Ou seja, cada 
membro deve se situar na tarefa, conciliando ação e reflexão na vivência grupal, na busca da 
realização grupal e da consciência da dinâmica do grupo. 
 Pichón-Riviére (apud RAMALHO, 2010), trata a aprendizagem com o 
pressuposto de uma integração, seja entre pessoas ou entre um indivíduo e a natureza. É 
indispensável que haja comunicação com o outro, dessa forma, a aprendizagem só ocorre em 
meio à interação. É através do contato com o outro, do questionamento, que o conhecimento é 
fundamentado, sendo constituído nas relações. Pichón-Riviére define a aprendizagem como 
uma apropriação instrumental da realidade em busca de sua transformação. O mesmo ocorre 
22 
 
na comparação entre as novas experiências com as anteriores. Assim o sujeito é aquele que 
está sendo criado em cada contato com o outro e pelo que absorve daquilo que lhe é 
significativo. 
Para avaliar a interação em um grupo Pichón desenvolveu alguns critérios ou 
vetores. São eles: a) afiliação e pertença: apontam o maior ou menor grau de 
identificação com a tarefa, de responsabilidade ao assumir a tarefa; b) 
cooperação: verifica o desenvolvimento de papéis diferenciados e 
complementares, o que se evidencia no grau de eficiência na tarefa; c) 
pertinência: capacidade de centrar-se na tarefa, verificada na produtividade 
do grupo; d) comunicação: refere-se às conexões, codificações e 
decodificações das mensagens; e) aprendizagem: se caracteriza pelo 
acréscimo da informação, por meio da participação de cada integrante de um 
grupo, constatada pela adequação à realidade; f) tele
2
: pode ser um fator 
positivo ou negativo, implica num reencontro realista e verdadeiro entre os 
participantes do grupo, sem as projeções e distorções transferenciais 
(RAMALHO, 2010, p.27). 
 
 Araújo (2011) aponta elementos que os mesmos trazem para o estudo das relações 
entre o ensino de música e a motivação. Dentre eles estão a busca para adequar o estudo às 
expectativas e interesses do aluno, contando com o apoio do meio ao qual ele está inserido, 
principalmente a família. Cita-se também a importância da construção de metas com o intuito 
de facilitar a prática musical por estabelecer um sentimento de realização ao se alcançar cada 
meta. Apresenta-se aqui mais um importante fator para a justificativa do bom desempenho da 
performance musical de um determinado grupo onde estas práticas são desenvolvidas 
completamente ou em parte. 
 Araújo (2011) aponta também a importância do reconhecimento das expectativas 
e valores que os estudantes dão às suas práticas musicais. A mesma finaliza seu artigo 
reforçando a necessidade de investimento mais intenso nas pesquisas nesta área de motivação 
em educação musical, tendo em vista a relevante importância que a mesma exerce para o 
fortalecimento do desenvolvimento musical. 
 
 
 
 
 
2 Fator tele, segundo RAMALHO (2010), é um conceito de J.L. Moreno apropriado por Pichón-Rivière e refere-se à 
capacidade de distinção de objetos e pessoas sem distorcer seus papéis essenciais. 
23 
 
CAPÍTULO II 
2.1 REVISÃO DA LITERATURA SOBRE AS BANDAS DE MÚSICA 
CIVIS 
 
 Como o grupo musical escolhido como objeto desta pesquisa configura-se como 
uma banda de música civil, fez-se necessário o levantamento bibliográfico referente a este 
assunto. Os trabalhos citados aqui foram encontrados durante a elaboração desta monografia e 
tratam de assuntos pertinentes a elaboração da mesma. 
 Segundo Fernandes (apud NASCIMENTO, 2003), existe um aumento na 
produção de trabalhos na área de Educação Musical em cursos de pós-graduação. No entanto, 
após uma análise quantitativa do autor, concluiu-se que há pouca produção significativa 
voltada para os instrumentos musicais em conjunto, englobando também pesquisas referentes 
às bandas e orquestras. Nascimento (2003) reforça a importância desses grupos na formação 
musical e cívica dos seus envolvidos, apoiando a necessidade e possibilidades de pesquisas 
nesta área: 
Após a constatação do desinteresse de pesquisadores na especialidade de 
Práticas Instrumentais relacionadas a conjuntos, verificou-se que um grande 
número de músicos profissionais recebe alguma influência por meio da 
banda de música em sua formação musical. Tal influência é causada, muitas 
vezes, pelo contexto social da banda, que participa de eventos sociais de 
naturezas diversas como missas, procissões, festas, retretas, desfiles cívico-
militares, eventos esportivos etc., encantando o público pela sua música. Há 
de se lembrar que, até pouco tempo atrás, a banda de música era um dos 
mais populares veículos de acesso à cultura musical para a sociedade, 
encerrando nas apresentações não somente a oportunidade do entretenimento 
musical, mas importante estímulo ao talento musical do indivíduo, levando-o 
a participar da banda de música e a aprender a tocar um instrumento musical 
(NASCIMENTO, 2003,p 94). 
 
 A informação sobre a falta de trabalhos específicos sobre o ensino coletivo de 
instrumentos musicais é reforçada por Souza (2012). A autora buscou realizar um 
levantamento bibliográfico envolvendo dissertações de pós-graduação relacionadas a este 
tema. Como especificado por Nascimento (2006) há uma lacuna no que concerne ao estudo 
dos grupos musicais, o que gera uma deficiência na produção de material e conhecimento 
específico para o trabalho pedagógico dentro destes grupos. A maioria dos trabalhos 
encontrados não tem relação direta com o ensino e a prática musical em conjunto, por isso não 
24 
 
serão apresentados aqui. A temática mais comum é o trabalho pedagógico dentro das 
corporações e a função social que estas exercem. 
 No âmbito pedagógico, Alves da Silva (2011) analisou o desenvolvimento de 
alunos de quatro bandas de música nas atividades de composição, apreciação e execução 
através do Modelo C(L)A(S)Pproposto por Swanwick (1979) para sugerir uma metodologia 
de ensaio voltada aos mestres de banda. Este trabalho teve como foco principal o processo 
didático realizado pelo professor regente de cada grupo. Campos (2008) aprofundou-se no 
aspecto pedagógico das bandas e fanfarras, focando-se nas práticas e no aprendizado 
proporcionado por elas. Ambos os autores serão revisitados mais à frente ao discorrer sobre os 
processos de ensino em uma banda de música civil. 
 Com relação às metodologias de ensino nas corporações musicais, tanto 
Nascimento (2003), quanto Vecchia (2008) elaboram um trabalho baseado na análise da 
utilização do método em livreto intitulado ‘DA CAPO’3 ao abordar o ensino instrumental 
coletivo. Ambos buscam conhecer os processos de ensino-aprendizagem em bandas de 
música. O foco das pesquisas são professores regentes que utilizam o referido método, 
buscando compreender quais aspectos eles ensinam e como esse processo pode ser 
aprimorado. Os dois autores focaram-se em naipes de sopros isolados. 
 Um dos assuntos mais recorrentes no que se refere às bandas de música é a sua 
função social. Nesse contexto pode-se citar o estudo realizado por Gonçalves et al. (2009) que 
se aprofunda nessa questão do ponto de vista da psicologia, assim como Granja et al. (1985) 
que aborda a organização, o significado e as funções da banda de música civil. Ambos os 
estudos foram utilizados para a elaboração desta monografia. Seguindo este campo de 
pesquisa, Gonçalves (2007) em sua tese propôs investigar e compreender como estava 
constituída uma sociabilidade pedagógico-musical em espaços de ensino musical na cidade 
mineira de Uberlândia nas décadas de 1940 a 1960. Seu estudo contemplou duas bandas de 
música. Ao considerar que cada espaço possuía suas particularidades, afirmou-se que cada um 
deles tinha uma produção e divulgação de sua metodologia de ensino mantendo suas 
especificidades, não deixando de lado a função social das corporações musicais. 
 Pode-se constatar que todas as fontes de pesquisa consultadas não englobam os 
objetivos desta monografia em sua totalidade. Parte das fontes trata a banda de música apenas 
do ponto de vista social, enquanto outros apenas dos métodos de ensino destas corporações. O 
 
3Da Capo - Método elementar para o ensino coletivo ou individual de instrumentos de banda de Joel Luís da Silva Barbosa. – 
Belém: Fundação Carlos Gomes, 1998. 
25 
 
que demonstra a escassez de estudos que tratam a relação entre as funções da banda de música 
civil e a prática e ensino de música utilizando uma abordagem da Educação Musical. 
 
2.2 A BANDA DE MÚSICA CIVIL 
 
2.2.1 A função da banda de música civil 
 
 Granja & Tacuchian (1985) afirmam que diante dos meios de comunicação de 
massa e tecnologias atuais, é questionável se não teria a banda de música perdido sua função 
social. Todavia, a banda ainda possui um espaço que é só seu e que nenhum meio de 
comunicação moderno consegue tomar. Conforme os autores, o aumento do número de 
corporações musicais em atividade, o ingresso de grande contingente de jovens e o aumento 
do interesse das comunidades, reforça a vitalidade dessas instituições. Os trabalhos 
apresentados ao longo deste tópico referem-se a grupos musicais de sopro e percussão 
amadores e filantrópicos, cujas atividades seguem um roteiro centenário. 
A banda de música preserva aquele sentido de coerência essencial ao homem 
do interior que vê, no ritual da sua banda comunitária, no seu desfile 
processional, nos seus parâmetros solenes, nos seus símbolos totêmicos, um 
referencial seguro de sua cultura, num mundo em constante metamorfose. A 
banda preenche o tempo, enobrece o momento, decora o espaço, exprime o 
anseio estético do grupo social. Ela resiste ao progresso tecnológico ao 
tráfego, aos novos meios de comunicação, aos instrumentos eletrônicos, 
através de mecanismos endógenos que a fazem parecer como uma grande 
família (GRANJA & TACUCHIAN, 1985,p.39). 
 
 A tradição das bandas de música no Brasil, segundo Granja & Tacuchian (1985), 
vem da época da colonização, o que inclui grupos compostos por negros escravos dirigidos 
por mestres europeus em várias fazendas do interior já no século XVII. A intensidade dessa 
tradição ao longo da história do país penetrou na consciência cultural do brasileiro, 
principalmente nas cidades do interior que não sofreram um processo desenfreado de 
metropolização. 
 Estes mesmos autores afirmam que sem o sentimento de paixão não existe banda 
de música, chegando ser algo hereditário, passando de pai para filho. Os ingredientes que 
fazem parte do surgimento, das lutas, conquistas e glórias das corporações musicais incluem a 
origem humilde dos músicos, os métodos de aprendizagem, a organização, a solidariedade, a 
26 
 
integração nas festas comunitárias e a tradição. A banda participa dos momentos mais 
significativos das comunidades, seja nas retretas ou tocatas, desfilando nas ruas, tocando 
sobre um tablado ou em um coreto na praça. 
Apesar das formas diferentes de dizer e o dos diferentes enfoques nos 
relatos, as motivações parecem convergir para os mesmos pontos, como o 
vínculo afetivo, o amor à música e o prazer de projeção que o trabalho traz, 
justificando o interesse e a permanência dos alunos nesses grupos. Nesse 
sentido, Duarte (2002, p. 127) infere que “ao elaborar e comunicar suas 
representações, o sujeito recorre às suas próprias experiências cognitivas e 
afetivas, mas se serve de significados socialmente constituídos no âmbito 
dos grupos nos quais está inserido” (CAMPOS, 2008, p.107). 
 
 Dentro das corporações musicais segundo Granja & Tacuchian (1985), as relações 
entre diretoria, mestre (regente e professor) e músicos são bastante autoritárias, salvo algumas 
exceções. Os músicos são pouco consultados para a tomada de decisões referentes à 
administração da banda. 
Os autores explicam que as bandas de música representam uma prática ritualística. 
Na dramatização deste processo, determinados aspectos, elementos ou relações são 
destacados e adquirem um significado, diferente do contexto cotidiano. Um exemplo disso 
dentro das corporações é apresentado por meio da utilização do uniforme que iguala todos os 
indivíduos, que deixam de ser neste momento um único sujeito e passam a ser parte de um 
grupo respeitado pelo público que o aplaude. Os grupos musicais parecem se justificar por sua 
função socializadora, imprimindo à cidade traços culturais importantes para a manutenção de 
determinadas festas e rituais (CAMPOS, 2008, p.106). 
Granja & Tacuchian (1985) afirmam que em determinadas cidades a banda de 
música é a única forma de o povo conhecer a música. A grande maioria das corporações 
mantém escolas livres de música como alternativa, muitas vezes única, de atendimento aos 
interessados em aprender música. O aprendizado acontece por meio do convívio com os 
músicos e a frequência aos ensaios e, formalmente, em aulas teóricas e de solfejo. Diante da 
carência de incentivos à educação musical no âmbito escolar e do alto custo de manutenção e 
aquisição do instrumental, as bandas civis vão suprindo as necessidades da iniciação 
instrumental. 
 A semântica da banda de música, conforme Granja & Tacuchian (1985) é um tripé 
comunitário, cultural e educativo. Ela está presente nos momentos de solenidade e de lazer, 
preservando o patrimônio musical do seu povo e se mantendo como uma escola de portas 
27 
 
abertas para sua comunidade. Novas expressões sociais surgem ao longo do tempo, mas não 
excluem as antigas, desde que estas guardem sua função social. 
 
2.2.2 O processo de aprendizagem na banda de música civil 
 
 A manutenção da banda de música e dos seus hábitos que marcam sua presença na 
sociedade depende do processo de ensino-aprendizagem que seja rápido e eficaz, como afirma 
Conde & Neves (1985).A metodologia de ensino de técnica instrumental nas bandas é aquela 
empregada pelo seu “Mestre4” (regente/maestro), que possui uma eficácia relativa em termos 
mais imediatos. Não é possível gastar muito tempo para preparar um músico para ingresso no 
grupo, pois a perda de integrantes é algo imprevisível e frequente, sendo necessária uma 
constante inserção de novos membros para cobrir esses imprevistos e evitar que a corporação 
interrompa suas funções por um determinado período. Campos (2008) ressalta que, nessas 
condições, por mais que o regente estabeleça uma dinâmica de ensaio, os elementos da 
linguagem musical não são prioridade, considerando que as apresentações são constantes e os 
ensaios não são suficientes para privilegiar teoria e prática. 
 A preparação dos músicos nas corporações musicais, segundo Conde & Neves 
(1985), faz-se através do contato direto com o instrumento e com o repertório. O aprendiz 
recebe noções teóricas simplificadas em métodos disponíveis em formato de pequenos livros 
impressos e trabalha o básico da técnica para tocar um instrumento. Em pouco tempo, o aluno 
consegue tocar músicas simples e já é incorporado ao conjunto. A partir daí ele se depara com 
trechos mais difíceis e se esforça para tocar o que consegue, sendo as dificuldades muitas 
vezes estimulantes, assim como o fato de estarem se apoiando em outros músicos, o que o faz 
buscar superar os obstáculos encontrados. Conforme Campos (2008) o aprendizado musical 
torna-se apenas um dos aprendizados possíveis. Vínculos são formados a partir das relações 
estabelecidas entre os músicos e com a música baseados na amizade, no reconhecimento, na 
disciplina e no prazer proporcionado pela prática musical. 
 Segundo Campos (2008) a inclusão social, devido à gratuidade do ensino nas 
corporações musicais e as possibilidades de ocupação e profissionalização, é de grande 
importância se for considerada a falta de oportunidade que determinados alunos possuem. Na 
maioria dos casos, as famílias não possuem condições de comprar um instrumento ou investir 
 
4 ‘Mestre de banda’ é um termo utilizado para nomear os regentes de banda que atuam também como professores e têm um 
papel importante na liderança e na tomada de decisões frente ao grupo. 
28 
 
em aulas de música. As corporações contam com a oportunidade de emprestar um 
instrumento ao aluno. Esse contato direto com o instrumento é ressaltado por ALVES DA 
SILVA (2011): 
A importância do instrumento musical na musicalização - o primeiro fator 
consiste no fato de que as atividades que envolvem contato direto com o 
instrumento musical são melhor recebidas pelos alunos. Ou seja, a 
apreciação musical muitas vezes não é considerada pelos alunos, e até pelos 
mestres, como uma atividade de relacionamento direto com a música, já que 
não há a reprodução do som através do instrumento. É importante destacar 
que o parâmetro literatura musical sofre o mesmo problema, dificultando ao 
aluno, inclusive, a verbalização do conhecimento musical (p.147/148). 
 
 Conde & Neves (1985) apresentam dados importantes encontrados nessa situação 
que incluem: o desafio colocado de maneira sistemática no processo de aprendizagem, a 
colocação lado-a-lado de pessoas mais experientes e de principiantes, o que exige a integração 
destes, o trabalho feito basicamente sobre o repertório da banda, e a prática mais frequente e 
longa em situações de ensaio em conjunto. 
 Segundo Conde & Neves (1985), apesar das deficiências em termos técnicos 
existentes na formação dos músicos de banda, o resultado sonoro e musical que esta alcança 
com seus recursos limitados justifica sua atividade. Pode-se perceber que esta apresenta 
características de participação comunitária, vivência prática, descompromisso com os 
aspectos estéticos dos resultados obtidos pelo respeito ao tempo próprio de aprendizado de 
cada indivíduo, verdadeiro clima de socialização e não delimitação de espaços rígidos da 
aprendizagem. 
 
 
2.3 A CORPORAÇÃO MUSICAL SÃO SEBASTIÃO DE SANTA CRUZ DE MINAS: 
HISTÓRICO E FUNÇÃO 
 
Em meados da década de 1990, o então Pároco da cidade de Santa Cruz de Minas, 
junto aos colaboradores da comunidade teve a ideia de montar uma banda de música na 
cidade, uma vez que eram necessárias contratações de corporações musicais de outras cidades 
e distritos para abrilhantar as festividades religiosas do município. 
 
29 
 
A Corporação Musical São Sebastião da cidade de Santa Cruz de Minas (MG), 
onde tem sede e foro, foi constituída em 17 de fevereiro de 1997, conforme consta em seu 
Estatuto. É uma sociedade civil, sem nenhuma finalidade econômica, política ou religiosa. 
Tem por principal objetivo a disseminação da arte musical por meio de aulas de teoria e 
instrumento gratuitas e manutenção de uma Banda de Música. 
No ano de 2000, com a iniciativa de alguns dos fundadores, contratou-se um 
Mestre para a criação definitiva da banda. Com poucos recursos e instrumentos bastante 
danificados, formou-se uma escolinha com trabalho intenso. Em 20 de janeiro de 2001,a 
Banda fez sua primeira apresentação na festa do padroeiro da cidade, São Sebastião, o qual dá 
nome à Corporação. 
Seguindo em frente, a Corporação elege uma nova diretoria, que luta para 
conseguir benefícios para manter a Banda de música e melhorar seu instrumental. Com as 
dificuldades eminentes, a entidade se vê obrigada a pedir uma gratificação pelas tocatas que 
faz. Mas, com a mudança de Pároco na cidade, a banda perde o apoio da Igreja. 
A atual sede da Banda foi construída inicialmente por um mutirão com o apoio do 
antigo pároco e pessoas da comunidade, a partir de doações arrecadadas para este fim. Em 
2003,a Banda muda para sua nova sede, mas de maneira precária, com mobiliário emprestado 
e ainda sem acabamento. A construção dessa sede gera mais dívidas, e, no mesmo ano, uma 
tempestade destrói o telhado da mesma aumentando os prejuízos, porém a corporação segue 
em frente realizando eventos diversos, participando de tocatas e ganhando reconhecimento 
entre as bandas da região. 
Realizando um bom trabalho, os membros da Corporação conseguem aliviar suas 
dívidas, adquirindo também novos kits de instrumentos através de incentivos culturais do 
estado e município, porém o que continua mantendo-a de fato são as gratificações advindas de 
tocatas e da realização de eventos. Novas diretorias são eleitas e o trabalho de ampliação e 
término da sede da Corporação continua até hoje. 
A localização da nova sede no centro da cidade e a falta de recursos para o 
isolamento acústico da mesma torna a banda também alvo de processos judiciais de vizinhos, 
todavia estes foram arquivados, uma vez que a banda comprovou sua função social e que o 
volume de som produzido está dentro dos limites estabelecidos pela Legislação Brasileira. 
A Corporação Musical São Sebastião passou por mudanças em sua regência por 
cinco vezes, sendo todos os regentes da própria entidade. O Mestre assume a regência e a 
escolinha da banda, e sempre enfrenta as dificuldades referentes principalmente à falta de 
30 
 
apoio moral e financeiro da comunidade e de seus representantes. É válido ressaltar que o 
atual regente não recebe nenhum apoio financeiro. 
Malgrado a juventude no que concerne a seu tempo de existência, a Corporação já 
formou dezenas de músicos que atuam em diferentes bandas da região, incluindo bandas 
centenárias, bandas militares e bandas municipais, além de graduandos em música e membros 
de grupos instrumentais reconhecidos. 
Atualmente a CMSS participa de tocata sem qualquer área que for solicitada, sem 
discriminação de credo ou status social. Atende a toda sociedade sem restrições. Integra o 
setor social da cidade de Santa Cruz de Minas, participando do Conselho Municipal da 
Criança e do Adolescente e em atividades promovidas pela Assistente Social e Associaçõesvoltadas para a contribuição social e cultural da cidade. Possui sede própria, recentemente 
ampliada, localizada à Rua Ana Maria de Jesus, número 73, no Centro de Santa Cruz de 
Minas. Conta também com um pequeno acervo musical em constante expansão. 
A atual banda conta com cerca de quarenta integrantes, com idade entre oito e 
setenta e um anos. Ao abranger uma faixa etária tão ampla, apresenta-se como uma alternativa 
para inclusão social e afastamento de jovens e adultos do envolvimento com as drogas e a 
criminalidade. Em Santa Cruz de Minas, como os jovens não têm muita opção quando o 
assunto é lazer e cultura, a Corporação Musical São Sebastião tem importante função social 
ao oferecer, além de um ambiente saudável, lazer e cultura aos jovens, contribuindo de forma 
significativa na formação daqueles que têm a oportunidade de fazer parte do seu quadro de 
músicos e aprendizes. Assim como outras entidades que se dispõem a essa importante função 
socializadora e educadora, à Corporação Musical São Sebastião também falta recursos e 
incentivos, sobretudo governamentais, para a prestação de um serviço social mais amplo à 
comunidade. 
A CMSS segue uma tradição das bandas de música civis onde o Mestre de banda, 
além de reger, é responsável por dar aulas de iniciação à teoria musical e ao instrumento. O 
atual regente e professor iniciou seus estudos na própria Corporação e está presente nela 
desde o início trabalhando voluntariamente. As aulas de teoria seguem o principio do método 
‘Bona5’ tradicional nas bandas de música. Os alunos têm também breves momentos de 
apreciação musical através da utilização de mídia audiovisual para que possam reconhecer os 
 
5 Método de leitura e divisão rítmica tradicionalmente utilizado para a iniciação à teoria musical nas corporações musicais. 
Seu objetivo é proporcionar ao músico domínio em leitura métrica, rítmica e solfejo, além de habilidade na execução do 
instrumento. 
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gêneros e sonoridade das músicas executadas pela banda de música. Os alunos são bem 
disciplinados e a maioria responde bem ao método de ensino, e quando chegam a um bom 
nível de leitura musical, passam ao aprendizado do instrumento que tocarão na banda de 
música. Devido à urgência de formação dos novos músicos, muitos aspectos teóricos são 
deixados de lado ou simplificados ao máximo, priorizando-se a leitura musical das partituras 
tradicionais, como abordado no tópico anterior a este. 
A iniciação ao instrumento se dá logo que o aluno chega a um nível de leitura 
razoável. São passadas técnicas básicas de execução e é ensinada a digitação do instrumento. 
Aos poucos o aluno desenvolve o estudo da digitação básica do instrumento e é inserido em 
meio aos demais músicos na banda para que seu aprendizado aconteça junto ao grupo. São 
separados dois dias de ensaio extra para os músicos menos experientes, onde o Mestre da 
banda e ajudantes conseguem dar mais atenção às dificuldades dos mesmos. Estes ajudantes 
são membros da banda com mais experiência musical. 
O professor dedica-se bastante aos alunos, e busca sempre aprimorar seus 
conhecimentos para passar a eles, mantendo uma postura rígida tradicional das bandas de 
música civis, porém sem deixar que isso atrapalhe a amizade que desenvolve com seus 
alunos. O professor, além de ser auxiliado por alguns músicos da banda, sempre que julgou 
necessário, convidou o pesquisador a ajudá-lo durante suas observações. 
O objetivo principal dos ensaios e aulas é de preparar os alunos músicos para 
execução de repertório estabelecido de acordo com a finalidade da performance musical a ser 
realizada. São constantemente trabalhados os aspectos da prática musical em conjunto durante 
os ensaios, bem como aspectos técnicos que incluem leitura, divisão rítmica e noções básicas 
de teoria musical, sempre tendo como foco a execução de repertório. 
O Mestre procura transmitir ao grupo informações sobre o repertório, realizando 
atividades de aquecimento frequentemente. Procura manter uma boa relação com os membros 
da corporação e se dedica bastante a seu trabalho como regente, mesmo não havendo 
remuneração, por se tratar de uma entidade filantrópica. 
Geralmente os ensaios seguem este padrão: os músicos montam os instrumentos, 
o maestro dá alguns avisos necessários, faz exercícios de aquecimento e afinam-se os 
instrumentos. Em seguida parte-se para o ensaio do repertório, havendo interrupções e 
repassagem de diversos trechos com cada naipe para aplicação das correções. O diálogo entre 
o regente e os músicos é consistente e a interação entre os músicos para a correção e auxílio 
32 
 
aos demais no que concerne a aspectos técnicos é uma prática constante, tornando os ensaios 
bastante produtivos. 
Os ensaios são bem disciplinados e organizados, acontecendo em um tempo total 
de cerca de duas horas, com um intervalo após uma hora do início das atividades. A afinação 
é realizada atenciosamente respeitando o nível técnico do aluno e o mesmo é possível dizer a 
respeito das atividades técnicas utilizando exercícios com escalas. O regente realiza um 
trabalho detalhado com cada um dos naipes e em alguns momentos pede para que os alunos 
toquem individualmente. O rigor disciplinar ajuda muito no andamento do ensaio, 
favorecendo o desenvolvimento dos conteúdos planejados. É incomum o receio de alguns 
alunos em se manifestar no decorrer do ensaio, a maioria sente-se à vontade para manifestar 
suas dúvidas e dar sugestões que são bem recebidas pelo Mestre. 
Há pouca ou quase nenhuma atividade de criação musical feita nos ensaios e os 
alunos não cogitam fazer nenhum tipo de improvisação. O regente sempre convida os músicos 
dos demais naipes a apreciarem enquanto um determinado naipe executa um trecho. Os 
músicos estão sempre em comunicação por gestos ou por sussurros onde um ajuda o outro 
tirando dúvidas técnicas do instrumento e de execução e leitura do repertório. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO III 
3.1 A OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE APLICADA A PESQUISA NA 
CMSS 
 
A técnica de pesquisa escolhida para essa investigação foi a Observação 
Participante. Correia (2009) ressalta que essa metodologia é realizada em contato direto, 
frequente e prolongado do investigador com seus atores sociais, inclusos em seu contexto 
cultural. A Observação se constitui como uma técnica de investigação, e pode ser 
complementada com a realização de entrevistas semiestruturadas ou livres, e análise 
documental. 
Segundo Correia (2009), a observação participativa é envolvente e o investigador 
é um instrumento no processo de recolhimento dos dados. A autora deixa explícito como é 
essencial que o observador esteja consciente dos estereótipos culturais, principalmente os 
relacionados ao campo que ele pretende adentrar, para que ele possa desenvolver sua 
capacidade de discernimento. Dessa forma ele se torna apto a compreender o significado das 
ações e interações de um grupo num determinado contexto em estudo. 
Como especificado por Correia (2009), em qualquer trabalho de observação, 
indiferente de sua duração, haverá variáveis. É necessário que inicialmente o pesquisador 
busque uma visão geral do que acontece no campo de pesquisa com observações descritivas e, 
depois de analisar os primeiros dados obtidos, se dará início às observações mais focalizadas. 
Por último, o investigador, após retornar ao campo, volta a novas observações e análise das 
notas de campo, podendo definir a necessidade de observações mais seletivas. 
É indispensável ressaltar a importância de se manter uma postura sempre ética 
como pesquisador, sabendo-se que o observador estará em constante contato e interação com 
o grupo a ser observado. Como explica Correia (2009), a observação participante é descritiva 
e simples, sendo também usual em estudos exploratórios, no levantamento de elementos paraa melhor definição do problema a estudar e/ou na construção da questão de investigação. 
O método especificado exigiu a participação ativa do pesquisador no campo de 
pesquisa. A inserção no grupo musical escolhido para esta pesquisa foi o primeiro passo para 
o processo de investigação e compreensão dos aspectos essenciais para obtenção dos 
objetivos especificados nesse trabalho. Com a constante observação participativa, se buscou 
34 
 
decifrar os conceitos teóricos que apoiam esta pesquisa implicados ao campo pesquisado e a 
aplicabilidade dos mesmos ao grupo. 
A Corporação São Sebastião do município de Santa Cruz de Minas possibilitou, 
enquanto grupo musical, a execução integral desta pesquisa. De forma mais específica, o 
processo de compreensão e aplicação deste trabalho se deu da seguinte maneira: 
a) Inserção do pesquisador no grupo musical especificado durante oito meses; 
b) Participação efetiva nas atividades da corporação musical referentes à prática musical 
em conjunto; 
c) Observação contínua dos processos grupais durante os ensaios, aulas e apresentações; 
d) Integração com os membros do grupo através de diálogos informais e aplicação de 
entrevistas semiestruturadas; 
e) Produção de diários de campo; 
f) Registro fonográfico das atividades mais comuns e das performances musicais do 
grupo; 
g) Reunião dos dados e informações adquiridas para elaboração de relatórios utilizados 
como base para elaboração deste trabalho. 
 Foram entrevistados dezesseis membros escolhidos aleatoriamente de acordo com 
a disponibilidade dos mesmos, abrangendo idades variadas, incluindo o Mestre da banda e o 
Presidente. Os participantes tiveram a opção de responder a pesquisa oralmente, tendo a fala 
gravada, ou por escrito, através de um formulário impresso. Nenhum dos músicos convidados 
a participar das entrevistas se recusou a fazê-lo. 
 
3.2 OBSERVAÇÕES REALIZADAS NA CMSS 
 
Foram feitas observações de ensaios extras e semanais, além da participação nas 
atividades da Corporação, incluindo participação em procissões, apresentações e retretas. O 
pesquisador se incluiu no grupo como instrumentista, além de auxiliar o Mestre de Banda 
quando solicitado na regência da Banda de música e como monitor das aulas de iniciação 
musical e instrumental. 
Observamos que quando o ensaio começa com muita cobrança, necessária para 
disciplina, o ensaio fica um pouco tenso. Os músicos demoram a tomar a música como algo 
prazeroso, ficando temerosos às repressões do Mestre da Banda e pouco receptivos à 
35 
 
mensagem principal da música. Porém no decorrer do ensaio, e do desenvolvimento do estudo 
em conjunto dos músicos com o regente, essa relação vai melhorando e quando se consegue 
uma harmonia entre os músicos de sopro, percussão e o regente, o trabalho começa a fluir 
melhor. O grupo estabelece uma interação em prol da realização da tarefa estabelecida 
durante o ensaio. Quanto mais integrados estão, mais motivados eles ficam para 
desenvolverem o repertório. Para esse desenvolvimento do repertório é necessário que 
estejam dispostos a desempenhar suas funções como instrumentista individualmente sem 
desrespeitar a dinâmica do grupo, e estarem em constante diálogo com os demais integrantes. 
A percepção do que os outros estão tocando, bem como a atenção à regência e aos aspectos 
técnicos estabelecidos por consenso entre o grupo, estão presentes nessas práticas e, 
juntamente com os demais aspectos de interação, são a essência para o estabelecimento do 
vínculo grupal. Têm-se aqui a exemplificação do vínculo conforme especificado por Pichón-
Rivière (1988). 
O Mestre da banda se esforça para manter um diálogo constante com os músicos, 
buscando com a interação uma melhor receptividade e retorno do músico em relação ao seu 
trabalho de regência. Cria-se também durante os ensaios uma constante relação entre os 
músicos ao se trabalhar aspectos que necessitam do diálogo musical propriamente dito; 
estamos nos referindo às questões como acompanhamento e melodia, pergunta e resposta, 
canto e contracanto/ponto e contraponto e demais aspectos afins. Estes aspectos exigem de 
cada individuo atenção aos outros participantes, bem como controle ou mesmo retenção de 
suas particularidades em prol do conjunto. A performance musical coletiva não é fruto de 
apenas um instrumento, mas do encontro entre o conjunto de instrumentos. É a união entre o 
ritmo executado pela percussão e estabelecido pelo regente junto à expressividade, bem como 
a melodia de cada instrumento e a harmonia resultando no encontro entre as várias vozes que 
produz música e a diferencia dos ruídos eminentes da poluição sonora cotidiana. Fica 
evidenciado a presença do ‘descentramento’ citado por Ramalho (2010) ao abordar as 
características do vínculo conforme Pichón-Rivière. 
O Regente ao tomar a batuta frente à banda assume um papel de liderança, e tende 
a manter uma postura mais séria e rigorosa para manutenção da ordem. Em alguns momentos 
permite alguma descontração, mas busca sempre manter o controle para não haver 
distanciamento do objetivo primeiro dos ensaios que é o estudo do repertório. Constantemente 
o Mestre da banda busca não deixar que a amizade que possui com a maioria dos músicos 
interfira no seu papel como Regente e professor. Ou seja, os papéis desempenhados por cada 
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participante da banda não podem fugir às especificações determinadas pela tarefa estabelecida 
durante o ensaio, do contrário, haveria um prejuízo na execução desta, e, consequentemente, 
na obtenção dos resultados pretendidos. 
Fora da Banda a relação do regente com a maioria dos músicos é de amizade, 
tendo, com alguns, vínculos mais fortes que os leva ao constante diálogo e companhia. A 
grande maioria dos músicos da CMSS também mantém amizade entre si fora da Banda, 
dividindo-se em grupos diversos de amizade, de acordo com o bairro em que moram ou a 
escola onde estudam, ou mesmo para a realização de atividades de diversão e entretenimento 
entre amigos. Nesse contexto podemos nos remeter a Stephen Nachmanovitch (1996) que fala 
da importância do prazer promovido ao realizar uma atividade em meio a amizades. Dessa 
forma o ensino e a prática musical dentro desses grupos são motivados e adquirem também 
uma função de lazer. 
A Corporação teve um pequeno recesso de vinte dias em dezembro de dois mil e 
doze. Nesse intervalo alguns integrantes antigos que estavam afastados por meses ou anos da 
Corporação foram convidados a retornar, dos quais dez atenderam ao convite. Após esse 
período e com o retorno dos referidos músicos, a Banda voltou a se reunir e se preparou para 
sua próxima apresentação. Demorou para que os músicos recuperassem a sincronia por terem 
ficado algum tempo sem ensaiar com a banda toda. De certo modo era perceptível o receio 
dos membros em relação ao resultado sonoro que o grupo estava atingindo durante o ensaio, 
tendo em vista que havia uma apresentação marcada logo em seguida. 
 No dia primeiro de janeiro de dois mil e treze a banda tocou na posse da Prefeita 
de Santa Cruz de Minas e o resultado foi surpreendente. A vontade dos músicos em atingir 
um bom resultado musical fez com que unissem forças em conjunto, atentando-se mais às 
suas funções como instrumentista, cada um buscando dar o seu melhor e suprindo suas 
responsabilidades em cada música. O desejo de atingir o objetivo comum de uma boa 
performance perante o público, fez com que cada indivíduo assumisse com dedicação máxima 
seu papel no grupo para a realização da tarefa, o que motivou a obtenção de um resultado 
satisfatório. Isso indica que o grupo se configura como operativo na visão de Enrique Pichón-
Rivière. 
 A relação que temos desenvolvido com os músicos tem sido muito proveitosa, 
muitos buscam o pesquisador para pedir auxílio e tirar dúvidas, pelo fato do mesmo estar se 
graduando em música. É frequente o convite de membros da Corporação

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