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LEITURA E DESENHO DE PROJETOS PREDIAIS AULA 5 Prof. Norimar Ferraro 2 CONVERSA INICIAL Anteriormente, abordamos o sistema predial elétrico de uma edificação. Sem energia nada funciona, nossa vida cotidiana é repleta de aparelhos elétricos e eletrônicos, luminárias, eletrodomésticos, entre outros. Por sua vez, a água tem a mesma importância em nossa vida, sem ela não conseguiríamos viver. Consumo de água gera dejetos; assim, uma edificação precisa prever um sistema que alimente o edifício com água e faça seu retorno após o uso para as canalizações públicas. O projeto hidráulico-sanitário visa justamente prever as tubulações e os equipamentos necessários a esses sistemas. Esta aula trará as informações mínimas necessárias para a leitura desses projetos. O projeto hidráulico- sanitário é desenvolvido e dimensionado com base nas necessidades dos usuários de uma edificação, em função do consumo estimado e orientado pelas normas relativas a esses projetos. Assim como os projetos elétricos, os projetos hidráulico-sanitários são representados por meio de diagramas, perspectivas e tabelas, que com uma simbologia própria nos indicam o caminhamento das tubulações e localização de reservatórios e outros equipamentos. Os projetos hidráulico-sanitários preveem instalações para os sistemas de água fria, água quente, águas pluviais e esgotos basicamente, que serão abordados nesta aula. TOP – A REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS Para a representação gráfica das instalações hidráulico-sanitárias não existe uma norma específica, sendo o desenho técnico baseado nas normas gerais ABNT de desenho técnico que regem os demais projetos. Existem normas técnicas de projeto dessas instalações e que contêm alguma representação ou simbologia. São as normas ABNT NBR 5626/1998, para sistemas de água fria; NBR 7198/1993, para água quente; NBR 8160/1999; NBR 7229/1993 e NBR 13969/1997 para sistemas de esgoto; e NBR 10844/1989 para águas pluviais. Os desenhos utilizados para o projeto dessas instalações são similares aos do projeto elétrico, constando de plantas baixas esquemáticas, cortes esquemáticos, perspectivas isométricas e tabelas. 3 • Plantas baixas: têm a base do projeto arquitetônico, geralmente em linhas mais fracas e o caminhamento das instalações em linhas de diversos tipos e com cores. Nesses desenhos, faz-se também a sobreposição do projeto estrutural, para que haja compatibilização com a estrutura do edifício. Figura 1 – Plantas baixas Fonte: Marli Costa Montaldi. • Perspectivas isométricas: demonstram o detalhamento das tubulações, geralmente em ambientes específicos, como banheiros e cozinhas. Possuem linhas e simbologia com as mesmas convenções que as plantas baixas. 4 Figura 2 – Perspectivas isométricas Fonte: Marli Costa Montaldi. • Esquemas: os esquemas mostram o caminhamento vertical das tubulações, por meio de linhas diferenciadas para cada sistema. Mostram também a indicação do detalhamento de cada unidade, em cada pavimento. Figura 3 – Esquema do sistema de esgotos de um edifício Fonte: Marli Costa Montaldi. 5 • Detalhes: são representações mais exatas das tubulações em determinados ambientes da edificação. São desenhados não mais com linhas convencionadas, mas com a forma de seus tubos e conexões, contendo cotas de localização das conexões com os aparelhos. Figura 4 – Detalhes Fonte: Marli Costa Montaldi. ROLÊ 1 – INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS DE ÁGUA FRIA O abastecimento de água é fundamental para o saneamento e o consumo dos habitantes de uma cidade. As companhias de água fazem o fornecimento pelas tubulações em vias públicas, e o consumo é verificado em registros próximos à entrada das edificações. Após a entrada, a água é conduzida a reservatórios, também chamados de caixas d’água, localizados em pontos mais altos da edificação, ou divididos parcialmente no térreo ou subsolo como nos edifícios altos, por questões de carga na estrutura. A demanda de água fria necessária é calculada em função do número de moradores ou usuários de um edifício. No caso dos edifícios, há também uma reserva para incêndio, como veremos futuramente. Para a alimentação dos reservatórios superiores, ou a partir deles para os pavimentos inferiores, a água é conduzida por meio de “prumadas” verticais ou 6 colunas de distribuição, que são derivações ou ramais para alimentar diferentes partes do edifício, podendo ser um grupo de habitações, áreas comuns etc., de acordo com a avaliação do projetista. Logo abaixo dos reservatórios superiores, em edifícios, é necessário um espaço para que as prumadas sejam direcionadas e manuseadas na manutenção, onde temos registros para fechamento das tubulações. O nome desse espaço é barrilete. Atualmente, com o uso de caixas d’água de materiais como fibra, o espaço de barrilete pode não ficar abaixo, mas na lateral dessas caixas. Figura 5 – Registro de entrada de água e medição Fonte: Marli Costa Montaldi. As fotos mostram o registro de entrada de água e medição de um condomínio e os reservatórios inferiores, com as bombas e o início da prumada 7 vertical de ligação aos reservatórios superiores. No desenho, há a simbologia usada para as bombas e registros. Alguns equipamentos importantes do sistema de água fria são as bombas, que servem para elevar a água do nível dos reservatórios inferiores para os superiores. Dessa forma, são necessários espaços junto aos reservatórios inferiores para a colocação dessas bombas. Todo o sistema é controlado por meio de muitos registros (de gaveta, pressão etc.), para que os ramais e entrada de água possam ser fechados em eventuais manutenções e limpeza. Todo o sistema de alimentação de água no edifício é feito por gravidade, e assim a pressão nos pontos de consumo tem que ser controlada, às vezes necessitando ser aumentada ou reduzida, se a altura da edificação for muito alta. Para a redução existem válvulas redutoras de pressão e para o aumento são utilizadas bombas pressurizadoras, que se localizam no início das prumadas verticais de descida. Figura 6 – Reservatórios superiores de um edifício Crédito: Norimar Ferraro. Essas fotos mostram os reservatórios superiores de um edifício. Os dois primeiros são de acúmulo de água pluvial para reuso e as duas ao fundo para água potável que vem do reservatório inferior. O barrilete nesse caso é lateral às caixas d’água. A foto à direita mostra as bombas no pavimento subsolo, que 8 bombeiam água para alimentar os reservatórios superiores, com os respectivos registros. Figura 7 – Planta baixa do projeto hidráulico Fonte: Marli Costa Montaldi. Na Figura 7, nos detalhes, há a planta baixa do projeto hidráulico, mostrando os reservatórios superiores (azuis). Em linhas verdes, a tubulação de água fria. No detalhe à direita, os círculos contendo os códigos mostram as simbologias de prumadas verticais. No caso, AF-1 significa a coluna vertical de água fria número 1 e PVC 50 indica o material e diâmetro do tubo. Nas pranchas de desenho, encontra-se uma tabela com todas as abreviações e simbologia. ROLÊ 2 – SISTEMAS DE AQUECIMENTO DE ÁGUA Para algumas atividades, como o banho, é necessário um sistema de água quente nas edificações. Conforme o tipo de energia utilizada para se obter o aquecimento, um tipo diferente de tubulação é necessário para cada aparelho de aquecimento. 9 No caso dos chuveiros elétricos, o aquecimento é feito na ducha, então inexiste a tubulação de água quente e a fiação elétrica deve atender às especificações dos chuveiros. Um sistema muito comum de aquecimento é com aquecedores de passagem, que podem ser instalados em mais de um local na edificação, porém, necessitam de uma saída de exaustão dos gases daqueima, ficando por isso restrito aos aposentos que contenham janelas ou saídas para o exterior. Para seu funcionamento, é necessária a instalação de tubulações de alimentação de gás e água fria, devendo a tubulação de saída de água quente ser feita de material próprio para isolamento de calor e resistência às altas temperaturas. Hoje existem tubulações de plástico próprias para água quente, como o PPR, CPVC e Pex (flexíveis), porém é utilizado também o cobre. Outros sistemas de aquecimento funcionam com a acumulação de água quente, ao contrário dos de passagem, descritos anteriormente. Os sistemas podem ser combinados, para o caso em que haja falta de algum tipo de energia ou término da água quente acumulada. Os aquecedores de acumulação são chamados também de boilers e conservam por mais tempo a água aquecida, economizando, assim, gás. Alguns modelos aquecem a água com energia solar e ocupam mais espaço que os aquecedores de passagem, sendo que necessitam de um sistema auxiliar de aquecimento caso não haja Sol. Os modelos a gás também necessitam ventilação externa, sendo que, no caso dos modelos elétricos, sua instalação pode ser feita em outros lugares. O importante é a distância do aquecedor aos pontos de consumo, que não deve ser longa, para que não haja perda do aquecimento. 10 Figura 8 – Sistema para aquecimento de água de um apartamento Fonte: Marli Costa Montaldi. Na Figura 8, as isometrias mostram o sistema para aquecimento de água de um apartamento. À esquerda, o aquecedor de passagem se localiza em cima do tanque da lavanderia. A tubulação em linha verde é a alimentação de água fria, sendo a linha vermelha traço-ponto é a saída de água quente. A linha magenta é a alimentação do gás. À direita, o ponto do chuveiro (triângulo), com as tubulações necessárias, e os registros de fechamento. Figura 9 – Da esquerda para direita, exemplos de aquecedores de passagem, de acumulação a gás/elétrico (boilers) e acumulação com placa solar Créditos: Oleksandr_Delyk/Radovan1/Vittavat Apiromsene/Shutterstock. 11 TRILHA 1 – INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS DE ESGOTO A água utilizada nos pontos de consumo de uma edificação necessita ser direcionada para fora da edificação por meio de um sistema de esgotos, que serão coletados na via pública, quando disponível, ou para tratamento em fossas sépticas. São tubulações de maior diâmetro do que as de alimentação de água, e são feitas de materiais como o PVC. Seus projetos fazem parte do projeto hidráulico-sanitário e são desenhados separadamente, em pranchas específicas. Existe um diagrama geral desenhado em prancha específica, com indicação dos detalhes para cada tipo de ambiente. Figura 10 – Três diferentes tipos de prumada para esgoto Fonte: Marli Costa Montaldi. Na Figura 10, vemos o detalhe do esquema de esgotos, que mostra os três diferentes tipos de prumada para esgoto. Em vermelho-escuro, os esgotos sanitários; em azul, os gordurosos; e em cor-de-rosa, os de espuma. Para a condução dos esgotos de um edifício até o exterior da edificação existem prumadas verticais. Estas são separadas conforme o tipo de dejetos, e para moradias são de três tipos: esgotos sanitários para banheiros, gordurosos para cozinhas e de espuma, no caso de tanque e máquina de lavar. As prumadas 12 verticais necessitam ser ventiladas por meio de uma prumada vertical que conduz ao topo da edificação, para evitar o retorno de odores desagradáveis. Os esgotos de cozinha (gordurosos) necessitam de uma caixa de gordura, para inspeção e limpeza desses dejetos. Os outros precisam de uma caixa de inspeção antes de serem lançados na rede pública de esgotos. Figura 11 – Detalhamento do esgoto de uma lavanderia Fonte: Marli Costa Montaldi. Note na Figura 11 a simbologia para as prumadas de esgoto, com círculos indicando o tipo de prumada de queda e o material da tubulação com diâmetros (TQE-1 = tubo de queda de esgoto ramal 1, de PVC com diâmetro 100 mm). Também são representadas caixas sifonadas (CS) e colunas de águas pluviais (APA e APD). 13 Figura 12 – Ligação do esgoto de um edifício com a rede pública Fonte: Marli Costa Montaldi. No esquema da Figura 12, a linha azul indica a tubulação de esgotos gordurosos, que passa antes pela caixa de gordura e a vermelha os demais esgotos que irão direto para a caixa de inspeção. Dessa caixa há uma conexão com a rede com uma tubulação de PVC 150 mm. As setas indicam a direção do fluxo. TRILHA 2 – SISTEMAS DE ÁGUAS PLUVIAIS E REÚSO DE ÁGUA Não apenas a água de consumo deve ser conduzida para fora da edificação, mas também a água que é proveniente das chuvas. As coberturas das edificações podem possuir calhas e drenos para o escoamento dessas águas, e as tubulações devem conduzir as águas de chuvas para galerias públicas, que são separadas das galerias de esgotos. A dimensão das tubulações é feita em função do cálculo do volume de chuvas em determinada área de cobertura e geralmente são de diâmetros maiores, acima de 100 mm e feitas de PVC. A simbologia e a convenção utilizadas em sua representação gráfica são similares aos dos outros sistemas, por meio de linhas com cores e tipologia de linha específica para o caminho das tubulações. As colunas possuem o código, material e diâmetro das tubulações de queda. 14 Figura 13 – Tubulações de águas pluviais e tubo de queda Fonte: Norimar Ferraro; Marli Costa Montaldi. Na Figura 13, à esquerda, uma foto das tubulações de águas pluviais e esgoto chegando no subsolo de um edifício. À direita, a representação gráfica de um tubo de queda (APA-1), de água pluvial para aproveitamento, conduzida a um filtro e às tubulações (PVC-100mm) para escoamento. A água pluvial podem ser aproveitadas para alguns usos na edificação, sendo denominada água de reúso, não sendo potável, mas própria para uso em limpeza e irrigação. Para esse uso, as tubulações conduzem as águas de chuvas para alguns reservatórios na edificação que vão alimentar os pontos por meio de tubulações separadas das águas potáveis, proporcionando assim economia no seu uso. Outro ponto a ser identificado nos projetos é a presença de caixas de contenção de cheias. Com o excesso de pavimentação nas cidades e impermeabilização dos solos, pelas calçadas e pelos pisos, a água de chuva chega muito rapidamente às galerias pluviais públicas, que não suportando a vazão, causam alagamentos nas cidades. Muitos municípios criaram legislações específicas, tornando obrigatória a construção de caixas de contenção de cheias. Elas podem ser de tamanhos reduzidos em residências e pré-fabricadas, porém, em edificações maiores exige-se a construção de reservatórios de concreto com dimensões consideráveis. Acumulando-se a água pluvial previamente na caixa de contenção, ela pode ser escoada mais lentamente para as galerias públicas, reduzindo-se, assim, a ocorrência de enchentes e alagamentos. 15 Figura 14 – Planta baixa do pavimento subsolo de um edifício Fonte: Marli Costa Montaldi. A Figura 14 mostra a cisterna para contenção de cheias (com linhas tracejadas por estar enterrada no solo). Também aparece o reservatório para armazenamento de águas pluviais para reuso. No desenho, há a indicação de uma canalização denominada drenoflex, que serve para a drenagem do solo abaixo do piso e também conduz a água de drenagem para a cisterna de contenção de cheias. ELO Os projetos hidráulico-sanitários são facilmente compreensíveis por meio das legendas que constam nas pranchas e especificam todo tipo de equipamento e tubulações utilizados, bem como sua simbologia. Os projetistas dessas instalações também desenvolvem outro tipo de projetos denominados de prevenção de incêndio e de gás. Vamos estudar com mais profundidade essesprojetos prediais futuramente. 16 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5626: Instalação predial de água fria. Rio de Janeiro, 1998. ______. NBR 7198: Projeto e execução de instalações prediais de água quente. Rio de Janeiro, 1993. ______. NBR 8160: Sistemas prediais de esgoto sanitário - Projeto e execução. Rio de Janeiro, 1999. ______. NBR 7229: Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos. Rio de Janeiro, 1993. ______. NBR 13969: Tanques sépticos – Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos – Projeto, construção e operação. Rio de Janeiro, 1997. ______. NBR 10844: Instalações prediais de águas pluviais – Procedimento. Rio de Janeiro, 1989.