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Direito-Civil-VI

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Direito Civil VI (Sucessões)
DATA: 29/07/2013
	
	A sucessão causa mortis é aquela que se da em virtude do óbito e poderá ocorrer de duas formas distintas: a título universal e a título singular. Quando a sucessão se dá a título universal o sucessor sucede em todas as relações jurídicas que eram tituladas pelo falecido, incluindo-se ai todos os direitos e obrigações que o mesmo titulava. O sucessor universal causa mortis se confunde com a pessoa do herdeiro, sendo certo que determinado indivíduo poderá alcançar a posição de herdeiro de duas formas distintas, pela lei momento em que a pessoa se constitui na qualidade de herdeiro legítimo, ou pela vontade do testador quando tiver sido elaborado testamento nesse sentido.
	O herdeiro testamentário receberá por força de cláusula expressa no testamento um complexo de relações jurídicas que até então eram tituladas pelo morto e agora foi conferida ao indicado pelo testador. São herdeiros testamentários aquele que recebem, por exemplo, “20% da parte disponível de uma herança”, bem como aqueles que recebem por força de testamento 10% do patrimônio do de cujus. Se o indivíduo é contemplado com bem específico e determinado a hipótese não será de herdeiro testamentário.
Herdeiro x Legatário
 	A sucessão causa mortis a título singular jamais se dará por lei, considerando que o legislador jamais conferirá a alguém bem específico e determinado. Assim, o indivíduo só poderá alcançar a posição de sucessor singular caso tenha sido beneficiado por ato de última vontade, seja ele um codicilo na forma do art. 1.881/CC, seja de um testamento, sendo certo que em ambas as hipóteses o indivíduo é contemplado com bem específico e determinado. 
 	Assim, se o testador elabora um testamento deixando uma casa de praia para o herdeiro legítimo este será na mesma sucessão herdeiro legitimo e também legatário. O legatário jamais se confunde com a pessoa do herdeiro, uma vez que o primeiro só tem interesse naquele bem especifico e determinado. Assim, sucessor é o termo genérico ao passo que herdeiro e legatário possuem conteúdo absolutamente diverso.
	Os herdeiros legítimos estão indicados pelo art. 1.829/CC e podem ser de duas naturezas: necessário ou facultativo. Os herdeiros necessários são aqueles que têm assegurado a seu favor o percentual mínimo de 50% da herança. Quando o indivíduo ao falecer deixou herdeiros necessários, a herança será composta de uma parte disponível e outra indisponível, ficando a liberdade do testador limitada a 50% de seu patrimônio, sendo a liberdade de testar limitada e não absoluta.
	Os herdeiros facultativos são aqueles que não têm assegurados ao seu favor qualquer percentual de herança, podendo a pessoa de cuja sucessão se trata dispor em testamento da integralidade de seu patrimônio sem que o herdeiro facultativo tenha a seu favor direito a uma parte indisponível. Caso o testador não se valha do testamento, deixando o mesmo apenas herdeiros facultativos a consequência será que toda a herança será a eles destinada. Tanto no código revogado como no atual os colaterais eram tratados como herdeiros dessa natureza.
	A hipótese será de sucessão supletiva ou complementar toda vez que o indivíduo por ocasião de seu óbito não tiver elaborado o respectivo testamento. A todos é facultada a possibilidade de se fazer testamento, sendo certo que se o indivíduo possui herdeiros necessários a liberdade é limitada a 50% de seus bens. 
	O art. 1787 deixa claro que a legitimação para suceder é regulada pela data do óbito e não pela data em que foi o inventário proposto. Assim, se o indivíduo faleceu até 09/01/2003 sua sucessão será regulada pelo código revogado que previa como diferença crucial a sucessão do cônjuge como herdeiro facultativo, totalmente diferente do que ocorre hoje em dia, onde o cônjuge ocupa o status de herdeiro necessário na forma do artigo. 1845
DATA: 05/08/2013
Direito de Saisine (art. 1.784/CC)
 	No momento do óbito, extingui-se a personalidade e, por consequência, o patrimônio do falecido passa imediatamente a integrar a sua herança. A herança tem natureza jurídica de universalidade de direito, já que envolve um complexo de relações jurídicas, composto de direitos e obrigações. A transmissão imediata evita que as relações jurídicas até então tituladas pelo morto, fiquem sem titularidade. Assim, a consagração do direito de saisine no art. 1.784/CC, permite que os herdeiros, tão logo constatado o óbito, possam, por exemplo, promover a defesa dos bens que integram a herança. Ao legatário não se aplica o saisine, porque o interesse do mesmo é em bem específico e não na totalidade dos bens deixados pelo de cujus.
 	Do óbito até a partilha ou adjudicação (apenas um herdeiro), se estabelece entre os herdeiros um condomínio forçado que só será extinto quando da partilha ou da adjudicação. Os herdeiros legítimos e testamentários passam a ter o direito a concorrer a aquela universalidade de direito, não lhe sendo assegurado qualquer percentual sobre um bem específico determinado. Os herdeiros viverão em um condomínio forçado até a partilha ou adjudicação, momento em que esse condomínio finalmente será extinto. Os herdeiros não estão obrigados a utilizar seu patrimônio pessoal para pagamento da dívida. Porém, antes de lhes serem entregues qualquer bem ou valor integrante da herança, todos os credores do de cujus deverão ser satisfeitos. 
 	Os herdeiros possuem o direito a concorrer àquela herança na fração aquele atribuível, dependendo essa fração do número total de herdeiros. O herdeiro que não tem a intenção de concorrer àquela herança poderá transferir a terceiro o direito de concorrer a essa universalidade de direito, o que acontecerá através da celebração de escritura de Cessão de Direitos Hereditários, onde constará como cedente o herdeiro e como cessionário outro herdeiro ou ainda, pessoa estranha a sucessão. O negócio jurídico deve ser realizado por escritura pública, considerando que o art. 80, II/CC, considera o direito a sucessão aberta como bem imóvel, independentemente dos bens que integrem aquela sucessão. A escritura de Cessão de Direitos Hereditários é genuíno contrato aleatório, já que o cessionário assume risco ao celebrá-lo, já que ao termino do inventário não se sabe quanto receberá, uma vez que o cedente não lhe pode assegurar direito a um bem específico. De acordo com a doutrina majoritária, o risco desse contrato é relativo e não absoluto devendo ser assegurado ao cessionário o direito a qualquer percentual da herança, mesmo que mínimo. Uma vez celebrado a escritura de cessão de direitos hereditários, deverá a mesma ser levada ao conhecimento do juízo orfanológico para que, por ocasião da partilha, aquele quinhão, incluindo-se ai eventual bem, seja transferido ao cessionário. 
 	A escritura de Cessão de Direitos Hereditários não é possível de ser registrada de imediato, tão logo celebrado, porque junto ao cartório de RGI, se há imóveis, aparece a pessoa do falecido. Em homenagem ao princípio da continuidade registral não há como passar do nome do falecido para o cedente e o cessionário, pessoas alheias aquela sucessão. O formal de partilha ou a carta de adjudicação, em favor do cessionário, são os meios hábeis a realizar essa transferência. 
 	Como a cessão obedece as normas relativas ao condomínio e caso o cedente pretenda transferir o seu quinhão a título gratuito, não há que se falar em preferência já que a prática de um ato de liberalidade não se adéqua a ideia de conferir preferência. Se a cessão de direitos hereditários for celebrada a titulo oneroso, ficará o cedente obrigado a conceder o direito de preferência aos demais coerdeiros. Caso isso não seja realizado, poderá o herdeiro preterido, ajuizar ação de consignação em pagamento cumulada com pedido de adjudicação compulsória em face do cessionário para requerer o que a ele foi transferido de forma indevida. Não há que se falar em cessão nula ou anulável, apenas ineficaz, em relação ao herdeiropreterido. A hipótese é de ineficácia já que esse herdeiro pode não ter interesse econômico algum sobre essa herança, não podendo assim, pretender a invalidade do negócio sem qualquer interesse jurídico ou econômico em tal circunstância, constituindo-se assim, em demanda ajuizada com o objetivo nitidamente de vingança, o que não se admite. 
 	A cessão sobre bem específico e determinado como aquela que prevê a fração recaindo sobre um imóvel pertencente ao de cujus não é nula nem anulável, porém totalmente ineficaz em relação aos demais herdeiros e credores do morto, que não estão obrigados a respeitá-la. Não há porque se pretender invalidade dessas cessões se ao termino do inventário for possível acomodar, sem oposição de algum interessado, divisão dos bens obedecendo ao contido na cessão.
DATA: 12/08/2013
Art. 1.829/CC
JOÃO MARIA
F1 F2 F3
OBS: João faleceu em 2004.
Bens:
Imóvel comprado na constância do casamento;
Imóvel adquirido por herança por João = 300 mil;
Carro comprado pelo casal = 40 mil.
Assim:
Comunhão Universal de Bens = 420 mil (herança) / 420 mil (meação) – não concorre;
Regime da Separação Obrigatória de Bens = 570 mil (herança) – não concorre;
OBS: Súmula 377/STF
Regime da Separação Convencional de Bens = 840 mil.
OBS: O cônjuge não recebe a meação, mas concorrer a herança (lei).
Regime da Comunhão Parcial de Bens = 570 mil (herança)
 	O art. 1.829/CC traça a ordem de vocação hereditária sendo certo que a presença dos herdeiros ocupando o inciso I, exclui os demais herdeiros dos incisos subsequentes. Os descendentes continuam tendo total prioridade sucessória, porém dependendo do regime de bens, ora receberão a herança sozinhos, ora acompanhados do cônjuge do falecido, seja seu ascendente ou não. Necessário se faz avaliar o regime de bens em que o falecido era casado com a viúva ou o viúvo. 
 	Em se tratando do regime da comunhão universal de bens onde, em regra, todo o patrimônio pertence a ambos os cônjuges, o legislador entendeu por bem em entregar a herança apenas aos descendentes, partindo da premissa de que o cônjuge já estaria amparado pela meação de praticamente todos os bens pertencentes ao de cujus. 
 	Muito embora o legislador tenha acertado para a maioria das hipóteses algumas situações injustas poderão aparecer, tal como a hipótese do cônjuge que ao falecer deixou como único bem um imóvel gravado com cláusula de incomunicabilidade. Nessa situação específica, o cônjuge não seria herdeiro nem meeiro, ficando a herança toda ela deferida aos descendentes.
 	O regime da separação obrigatória de bens é aquele em que os indivíduos se casam em uma daquelas circunstâncias previstas no art. 1.641/CC. Muito embora, em regra, o regime da separação obrigatória tenha por objetivo evitar a constituição de meação, a Súmula 377/STF pacificada acolheu entendimento oposto a ideia inicial do legislador. Por força de disposição expressa do art. 1.829, I/CC, não se estabelece a concorrência do descendente e do cônjuge, ficando este último alijado, excluído da sucessão. A ideia do legislador era a de que se no direito de família o legislador tinha a intenção em não consagrar a comunicabilidade, este raciocínio deverá ser trazido para o direito sucessório, excluindo assim, o cônjuge da possibilidade de concorrer com os descendentes do de cujus.
 	O regime da separação convencional de bens é aquele em que os cônjuges deliberadamente realizaram um pacto ante nupcial estipulando a inexistência de um patrimônio comum, cabendo a cada um cônjuges o seu patrimônio com exclusividade. A regra geral, criada pelo art. 1.829, I/CC é a de que o cônjuge sempre concorrerá com os descendentes do de cujus, independentemente do regime de bens do primeiro momento. Assim, considerando a regra geral e ainda o fato que a exceção criada pela própria norma diz respeito apenas ao regime da separação obrigatória, deve ser concluída pela participação sucessória.
 	O STJ enfrentando o tema entendeu de forma diversa, sustentando que o legislador ao se utilizar da terminologia “separação obrigatória”, compreende não só a separação legal como também a convencional como se existisse entre elas relação de gênero (separação obrigatória) e espécie (separação legal e convencional). 
 	Entendeu o STJ que se a vontade dos cônjuges em vida era pela inexistência da meação, essa vontade deveria ficar mantida por ocasião do óbito. Reforçou esse entendimento o fato de que o cônjuge poderia ter ainda se valido da via testamentária e se não o fez, realmente não pretendia contemplar o seu cônjuge naquela sucessão. 
 	No regime da comunhão parcial de bens, o legislador dedicou especial tratamento, considerando se tratar do regime mais importante na atualidade. Três correntes doutrinárias e jurisprudenciais se levantaram sobre o tema. Para alguns, a sucessão do cônjuge sobrevivente, deveria ficar limitada aqueles bens particulares exatamente pelo fato de que em relação a eles, na há o que se falar em meação cabendo assim, a sucessão dos bens comuns apenas aos descendentes. A segunda corrente doutrinária sustenta que o art. 1.829, I/CC in fini estabeleceu verdadeira regra de convocação ao estabelecer que em havendo bem particular, o cônjuge herdará no todo, não limitando a sucessão apenas ao bem particular bastando que ele exista para que se admita a sucessão. O STJ parece adotar a terceira corrente que defende a ideia de que a sucessão do cônjuge em havendo descendentes do de cujus deve ficar restrita aos bens comuns, já que o cônjuge sobrevivente ajudou a adquiri-los, efetiva ou presumidamente, sendo perfeitamente natural que a sucessão deva ficar restrita a esses bens que ajudou a adquirir. Não seria razoável que os descendentes que possuem prioridade sucessória ficassem parcialmente privados de receber o bem particular, conferindo parcela desse bem ao cônjuge que não contribuiu de nenhuma maneira para a sua aquisição.
 	Muito embora o art. 1.830/CC só exclua o cônjuge sobrevivente de participar na sucessão do outro se estiver separado de fato a dois anos ou mais do de cujus por ocasião de seu óbito, o melhor entendimento, adotado pelo STJ, é o de que se por ocasião do óbito os cônjuges estavam separados de fato, independentemente, do prazo em que isso acontecera fica rompida a sociedade conjugal não havendo porque reconhecer o direito sucessório deste cônjuge, independentemente, do tempo de separação de fato e o que a motivou.
DATA: 19/08/2013
	Estabelecida a concorrência dos cônjuges com os descendentes, a sucessão será regulada pelo art. 1.832/CC que pode ser dividido em três situações possíveis. Inicialmente, deve ser explicado que na sucessão por direito próprio, o indivíduo é chamado a suceder direta e imediatamente por ocasião do óbito. Na sucessão por direito próprio, a forma mais usual de suceder é através da sucessão por cabeça, onde a herança será repartida igualitariamente pelo número total de herdeiros.
Hipóteses:
Só filhos comuns – divisão por cabeça, porém o cônjuge sobrevivente tem que receber no mínimo ¼ da herança (quinhão mínimo = reserva de quinhão).
 JOÃO	 MARIA (1/4)
F1 F2 F3
 OBS: ¼ reservado para Maria e os outros ¾ tem que dividir entre os herdeiros. 
Só filhos do morto – dividir o quinhão igualitariamente entre cônjuge sobrevivente e herdeiro
 	
JOÃO MARIA
F1 F2 F3
 	Na primeira hipótese, caso o falecido só possua filhos com o seu atual cônjuge, a lei determina que esse cônjuge não possa receber percentual inferior a ¼ da herança naquilo que a doutrina convencionou chamar de “reserva de quinhão”.
 	Na segunda hipótese, onde o falecido só possui descendentes seus, e não com seu cônjuge, a divisão da herança será toda ela por cabeça, sem reserva de quinhão algum em favor do cônjuge. 
 	Por fim, na hipótese dedescendência híbrida, como o legislador não conferiu uma solução para a hipótese, a interpretação a ser dada, é aquela que melhor atender aos interesses dos descendentes que, tanto no Código Civil antigo, como no atual, possuem prioridade na ordem de vocação hereditária. Assim, a divisão deverá ser feita por cabeça sem reserva de quinhão.
Ex: João e Maria se casaram pelo regime legal em 1980 (Comunhão Parcial de Bens) e adquiriram na constância do casamento dois imóveis, cada um avaliado em 300 mil reais, tendo João ainda recebido de herança de sua mãe outro imóvel no mesmo valor. O casal possui quatro filhos sendo certo que outro faleceu antes da morte de João sem deixar filhos. Considerando que João faleceu em janeiro de 2007, distribua a herança.
 (+ - 2007) JOÃO MARIA (1/4)
 F5 (pré-morto)
F1 F2 F3 F4
Bem comum = 300 mil
Bem comum = 300 mil
Bem particular = 300 mil
Assim:
Meação = 300 mil (soma de 50% do valor de cada bem comum)
Herança = 600 mil (soma de 50% do valor de cada bem comum + 100% do bem particular)
1ª corrente (STJ) – Maria só tem direito aos bens comuns
 	O casamento estabelecido entre João e Maria se deu pelo Regime da Comunhão Parcial de Bens, considerando a data do enlace. Assim, Maria será meeira do imóvel 1 e do imóvel 2, passando a herança a ser composta pelo valor de 600 mil reais, 300 mil relativo ao bem comum e 300 mil relativo ao bem particular. A sucessão será regida pelo Código Civil atual. F5, o filho pré-morto, morreu antes de seu pai, razão pela qual não há qualquer direito sucessório a receber ou transmitir por conta de seu óbito. Considerando a posição firmada pelo STJ, no sentido de que o cônjuge sobrevivente quando concorra com os descendentes do de cujus só tenha direito sucessório sobre os bens onerosos, Maria não participará do bem particular que será todo ele entregue aos descendentes do de cujus. No que diz respeito aos bens comuns, Maria terá direito a reserva de quinhão ficando assegurado a seu favor ¼ de 300 mil, dividindo os quatro outros filhos ¾ desse valor. 
OBS: Caso F5 ao falecer antes do pai tivesse deixado 2 filhos:
 JOÃO MARIA
	 F5 (pré-morto)
 F1 F2 F3 F4 
 N1 N2
Na linha descendente não há limitação de grau para se aplicar o direito de representação (art. 1.851 e art. 1.854/CC).
 	Caso o F5 tivesse 2 filhos, esses netos de João seriam chamados a sucessão por direito de representação. O direito de representação se opõe a sucessão por direito próprio na medida em que nela o sucessor imediato é falecido e estes são chamados a receber o que receberia o herdeiro primitivo, se vivo fosse, sem que se proceda à redistribuição dos quinhões. Na linha descendente, não há limitação de grau para se aplicar o direito de representação que pode ser conferido em favor de bisneto, tataraneto, etc. O direito de representação pressupõe a existência inafastável por ocasião do óbito de herdeiros que ocupem graus diversos em relação ao de cujus, como filhos e netos, por exemplo. Se por ocasião do óbito do pai todos os filhos são pré-mortos, só possuindo netos, não há que se falar em sucessão por direito de representação, devendo todos os netos do falecido herdar por direito próprio e por cabeça.
 	Para a solução do caso concreto com o acréscimo dos filhos de F5 que é pré-morto, o bem particular será dividido por 5, sendo certo que os 4 primeiros filhos herdarão por direito próprio e por cabeça 1/5 desse valor cada um, ao passo que os dois netos de João receberão a outra fração de 1/5 por direito de representação. No que diz respeito a sucessão do bem comum, Maria terá direito a 1/4, mantendo-se a reserva de quinhão e os outros ¾ serão divididos por 5 cabendo 3/20 avos para os 4 primeiros filhos que herdarão por direito próprio e os outros 3/20 avos a serem percebidos por N1 e N2 pelo direito de representação a que fazem jus por conta do óbito prematuro de seu ascendente (F5)
 
DATA: 02/09/2013
CONCORRÊNCIA DO CONJUGE COM ASCENDENTE
Art. 1829, II/CPC
 	Na vigência do CC/16, a sucessão era conferida inicialmente aos descendentes, na faltas desses os ascendentes e, por fim, inexistindo ascendentes aí sim ao cônjuge. O atual Código Civil modificou substancialmente a regra ao estabelecer a sucessão do ascendente concorrendo com o cônjuge qualquer que seja o regime de bens. Assim, se o cônjuge não estava separado de fato do “de cujus” por ocasião da morte terá o cônjuge direito a partilha dos bens, qualquer que seja o regime em que estejam casados. A divisão da herança, após respeitada a meação, será feita de 03 formas possíveis, na forma do art. 1836 e 1837.
Cônjuge concorrendo com pai e mãe do morto;
Cônjuge concorrendo com pai OU mãe do morto;
Cônjuge concorrendo com ascendente em grau diverso.
 	Na hipótese nº1, a herança será dividida por cabeça igualitariamente, cabendo 1/3 da mesma ao cônjuge, a mãe e ao pai respectivamente. Na 2ª hipótese, o cônjuge sobrevivente, teria a seu favor metade da herança e a outra metade seria entregue ao ascendente em 1º grau sobrevivo. Caso a situação específica previsse a presença também de um ascendente em 2º grau, este ultimo estaria imediatamente excluído da sucessão, porque jamais se consagra o direito de representação na linha ascendente. Na 3ª situação, o cônjuge sobrevivente é chamado a concorrer com os ascendentes em 2º grau ou mais, pressupondo obviamente que os pais são pré-mortos. Na hipótese, metade da herança será entregue ao cônjuge e a outra metade dividida igualitariamente para a linha paterna e materna, cabendo assim, ¼ da herança para cada uma das linhas. A divisão é por direito próprio, porem não é por cabeça, já que há que se falar em idênticas frações de herança para cada um dos envolvidos.
 	O art. 1.831/CC trata do chamado direito real de habitação conferido ao cônjuge estabelecendo que a sua concessão independe do regime de bens sendo conferida, portanto, a todo e qualquer regime em que o individuo era casado, sem prejuízo da participação que cabe ao cônjuge naquela sucessão. O titular desse direito não pode alugar, emprestar ou deixar fechado um imóvel sobre o qual incida a habitação e por ter direito a posse direta, tem o dever de quitar as obrigações propter rem, sendo certo que em ambas as hipóteses, poderá ser privado da habitação, bastando para tal que seja ajuizada ação declaratória pelo herdeiro interessado nesse sentido. Pela literalidade do art. 1831/CC, se o falecido possuir mais de um imóvel residencial não há que se falar em habitação. A interpretação que melhor se adéqua ao espírito da norma é no sentido de conferir a habitação ao local que funcionava como domicílio do casal, caso os cônjuges possuíssem mais de um imóvel residencial. A ideia da habitação é a de conferir aos cônjuges a preservação da dignidade que possuíam antes do óbito que deve ser mantida após o falecimento de um dos cônjuges. A habitação é proveniente da lei e por conta disso não é registrado, podendo o inventário ser regularmente processado, realizando-se a partilha devendo os herdeiros do de cujus, respeitar essa habitação que é vitalícia e inafastável, salvo se o cônjuge sobrevivente quiser abrir mão da mesma. 
 	Caso o direito real de habitação não existisse, o cônjuge mesmo titular da meação ou de parte da herança, poderia ser compelido a alienar o seu bem através de ação de extinção de condomínio, hipótese em que ou o imóvel seria adquirido pelos herdeiros ou pelo cônjuge. Caso esse último não tivesse condições financeiras de adquirir um imóvel, o mesmo seria judicialmente alienado e o cônjuge receberia valor inferior ao imóvel que ocupa não podendo com o valor que lhe cabe manter o padrãoque tinha quando ainda era casado. 
OBS: 2º grau: irmãos
 3º grau: tios e sobrinhos
 4º grau: primos, tio avô e sobrinho neto.
SUCESSÃO DO COLATERAL
 	Tanto no CC/16, como no código atual, o colateral é compreendido como herdeiro facultativo, podendo ser totalmente excluído do testamento desde que haja manifestação expressa de vontade em favor de quem o testador quiser beneficiar, podendo inclusive ser deixada a herança apenas para um dos colaterais, por exemplo. Na linha colateral, a sucessão é conferida apenas até o 4º grau. No que diz respeito aos irmãos, colaterais em 2º grau, se o falecido deixou irmãos germanos (bilaterais) e unilaterais, os primeiros deverão receber o dobro dos segundos. Caso um dos irmãos seja pré-morto, possuindo filhos, sobrinhos do de cujus primitivo, a estes será assegurado o direito de representação desde que o falecido tenha deixado outros irmãos vivos. Na linha transversal, o direito de representação somente se concede em favor dos sobrinhos podendo-se afirmar que o sobrinho neto jamais será chamado à sucessão por representação, apenas por direito próprio. 
DATA: 09/09/2013
	Caso o falecido por ocasião de seu óbito não tenha deixado sequer irmãos vivos, a sucessão legítima será deferida aos herdeiros colaterais em 3º grau. Os tios e sobrinhos ocupam essa posição em relação ao “de cujus” e o legislador imaginando que o sobrinho por uma questão biológica teria mais tempo para fazer uso dos bens herdados, conferiu uma preferência do sobrinho em relação ao tio. Assim, a herança será entregue primeiramente ao sobrinho, obedecendo ao fato do mesmo ser unilateral ou bilateral, e única e exclusivamente na falta do sobrinho é que a herança será deferida aos tios.
	Na hipótese de não existirem tios, a herança será entregue aos colaterais em 4º grau, quais sejam, tios-avós, sobrinhos netos e primos. Nessa circunstância o legislador não estipulou preferência em favor de quem quer que seja, entregando a herança em igualdade de condições a todos, indistintamente, por direito próprio e por cabeça, sem qualquer preferência em favor de A ou B.
SUCESSÃO DA COMPANHEIRA
(Lei 8971/94)
	A 1ª lei que tratou dos direitos sucessórios da companheira foi a lei 8971/94. De acordo com essa lei, a companheira sobrevivente passou a gozar dos mesmos direitos que eram conferidos ao cônjuge na vigência do código de 16 se fosse casado com o falecido por regime diverso da comunhão universal de bens. O companheiro passou a gozar do usufruto sucessório, tendo direito a receber ¼ de usufruto sobre os bens da herança se o morto tivesse deixado descendente, e metade se o falecido tivesse deixado apenas ascendente. Além de conferir o usufruto sucessório, nos mesmos moldes do usufruto individual, conferiu a companheira o 3º lugar na ordem de vocação hereditária, na frente dos colaterais como herdeira legítima.
	A lei 9278/96 conferiu ao companheiro direito real de habitação nos mesmos moldes que esse direito era conferido no CC de 1916 ao casado em regime universal. Naquela época prevaleceu o entendimento no sentido que no que diz respeito aos direitos sucessórios, não há incompatibilidade entre usufruto sucessório e a habitação. O 1º visa a compensar o companheiro pela sua não participação sucessória, e o 2º tem por objetivo preservar a dignidade do cônjuge sobrevivente. Assim, prevaleceu o entendimento de que as normas eram compatíveis, possuindo o companheiro, para os óbitos ocorridos de maio de 96 até 10/01/03 mais direitos sucessórios do que o cônjuge, que a depender do regime, ora recebia usufruto individual, ora habitação. No que diz respeito à habitação, esta a mesma mantida para os óbitos ocorridos após 10/01/2003, primeiramente porque foi criada por lei especial que não se revoga pelo código civil, norma geral. Ademais, sempre se entendeu tanto no código antigo quanto no atual que não há inconveniente algum em deferir sucessão ao companheiro cumulando com direito real de habitação, já que possuem objetivos distintos. A habitação do companheiro é conferida com base na norma da lei especial, que possui duas grandes diferenças com a habitação do art.1831. A habitação só se confere ao companheiro enquanto se mantiver sozinho, porém recai sobre o imóvel onde os companheiros residiam independentemente do número de bens que este possuía.
	No que diz respeito ao usufruto sucessório para óbitos ocorridos depois de 10/01/2003, o entendimento prevalecente é no sentido de que esse usufruto não é mais sustentável.
	Muito embora o mesmo tenha sido criado por norma especial, tanto o usufruto individual, como o usufruto sucessório foram criados como forma de compensar o cônjuge e depois o companheiro pela ausência de participação na sucessão. O art.1790, mesmo que de forma imperfeita, confere participação sucessória ao companheiro, não havendo sentido em conceder ao mesmo usufruto e quinhão hereditário. O art. 1790 ao consagrar a sucessão do cônjuge limita a sua incidência aos aquestos. Pela literalidade do referido artigo, o companheiro de ser meeiro sobre todos os bens que uma pessoa casada em comunhão parcial de bens, tem a sua sucessão restrita aos aquestos, podendo-se afirmar que há outros bens que o companheiro será meeiro, mas não herdeiro, como os bens adquiridos por fato eventual.
DATA: 16/09/2013
	JOÃO MARIA
		
 F1 F2 F3 
Patrimônio:
A) Imóvel comprado na constância da união estável – 500 mil
B) Imóvel adquirido por doação a João – 500 mil
C) Carro comprado na constância da união estável – 30 mil
	Na presente situação, como João faleceu na vigência do código atual, Maria terá seus direitos sucessórios regulados pelo art. 1790. Na situação Maria será meeira dos imóveis A e C, passando a herança a totalizar 765 mil. A referida herança deverá obrigatoriamente ser fracionada na medida em que é composta de bens sobre os quais Maria será herdeira e outros não. Somente os três filhos dividirão igualitariamente o imóvel B, já que se trata de bem particular, e Maria, pela redação do art. 1790 caput, não possui qualquer direito sucessório sobre tais bens.
	No que diz respeito à meação dos bens A e C, Maria concorrerá com seus filhos recebendo cada um por direito próprio ¼ de 265 mil, considerando o que determina o art. 1790, I.
	Tomando por base o mesmo exemplo, fazendo com que os filhos pertençam apenas ao companheiro falecido a divisão da herança será alterada, uma vez que passará a incidir sobre a hipótese a regra do art.1790, II. De acordo com essa norma Maria deverá receber metade do que será recebido pelos descendentes só de seu marido morto. Assim, em nosso exemplo, Maria receberá 1/7 de 265 mil, ao passo que os filhos de seu companheiro receberão cada um 2/7 dos mesmos 265 mil, sendo certo que o imóvel B continuará todo ele a ser entregue apenas aos descendentes. 
	Caso o falecido possua descendência hibrida, ou seja, descendentes com sua atual companheira e de outras relações jurídicas, considerando que o código não tratou do assunto a solução a ser dada vem a ser aquela que melhor atende aos interesses dos descendentes, que desde o código anterior possuem prioridade na ordem sucessória. Assim, a sucessão será regulada pelo art. 1790, II, fazendo-se a divisão da herança por direito próprio, porém não por cabeça já que a companheira terá que receber metade. Tanto na hipótese do inciso primeiro quanto no segundo, a cônjuge sobrevivente terá direito real de habitação que tem amparo no art.7º da Lei 9278/96.
	Caso o companheiro não possua descendentes será a sucessão regida pelo art. 1790, III. A redação desse artigo é de extrema infelicidade considerando que o companheiro ora concorrerá com ascendentes do de cujus, e na sua falta com colaterais do falecido, os primeiros herdeiros necessários e os segundos facultativos. Além de admitir essa esdrúxula concorrência, fixou ainda um quinhão fixoà companheira, esteja ela concorrendo com ascendente, esteja ela concorrendo com colaterais.
	No caso concreto, caso João no momento de seu falecimento só tivesse como herdeiro sua mãe, todo o imóvel B seria a ela entregue, tendo ainda a mesma direito a 2/3 da metade do imóvel A e do móvel C. Como forma de tentar resolver a confusão criada pelo legislador o professor Carlos Roberto Barbosa Moreira, atualizador do livro do professor Caio Mário, propôs uma releitura do inciso III, que ao mencionar o termo herança permite que o companheiro tenha direito a 1/3 de toda a universalidade de direito, compreendendo assim todos os bens do acervo hereditário.
	Seguindo esse raciocínio Maria passaria a ter 1/3 do imóvel B e mais 1/3 da metade dos demais bens. Há forte tendência doutrinária e jurisprudencial de entender pela inconstitucionalidade dos incisos III e IV, argumentando-se que por uma questão de isonomia de casamento a companheira deveria ser tratada como se casada fosse, concorrendo ora com descendentes, ora com os ascendentes, e na falta desses últimos recebendo a integralidade da herança, já que em hipótese alguma o companheiro aqui tratado como cônjuge concorrerá com colaterais do de cujus.
	No exemplo, Maria recolheria metade do imóvel B e mais a metade da metade dos bens A e C, cabendo à mãe do falecido a metade do imóvel B, bem como ¼ do imóvel A e ¼ do Carro C.
	Caso o companheiro falecido não possua herdeiros aplica-se o art. 1790, IV, que se levado ao pé da letra poderia representar muito injusta situação. No caso concreto Maria recolheria todo o imóvel A e o carro, porém no que diz respeito ao imóvel B, este ficaria todo para o município. Considerando que a norma se refere ao termo universalidade da herança, o professor Carlos Alberto Barbosa Moreira propôs a mesma leitura que foi feita em relação ao inciso anterior, propondo inclusive uma leitura do art. 1790, IV conjuntamente com o que dispõe o art.1844. Prevalecendo esse entendimento Maria teria direito a toda a herança. Por óbvio que a melhor leitura é a que trabalha com a inconstitucionalidade da norma pela injusta ideia de que o companheiro não seja tratado sucessoriamente como cônjuge.
	A ultima questão a ser levantada diz respeito a qualidade de herdeira da companheira, se necessária ou facultativa. Alguns doutrinadores se valendo de uma interpretação literal do art.1845 e ainda do fato de que a companheira é chamada a concorrer na sucessão com colaterais entendem que a mesma é herdeira facultativa, podendo assim ser livremente excluída da sucessão.
	Outros doutrinadores se valendo da redação imperiosa do art. 1790 que não admite derrogação, e ainda usando como argumento o fato de a companheira ser chamada a concorrer com descendentes e ascendentes, acabam por entender que a companheira é herdeira necessária, devendo obrigatoriamente ser chamada a sucessão nas hipóteses dos incisos do art. 1790.
DATA: 23/09/2013
Correção de exercícios
DATA: 30/09/2013
Prova
DATA: 07/10/2013
Correção de prova
DATA: 14/10/2013
Dia dos professores
DATA: 21/10/2013
SUCESSÃO DO ENTE PÚBLICO
	Na vigência do Código Civil de 1916 a Fazenda Pública era prevista na ordem de vocação hereditária ocupando o 5º lugar, entendendo alguns doutrinadores naquele momento que a Fazenda Pública deveria ser compreendida como herdeira legítima. O Código Civil atual suprimiu o poder público da ordem de vocação hereditária, podendo se afirmar que o melhor entendimento é aquele que considera o poder público como sucessor irregular ou anômalo, já que para ser beneficiado em alguma sucessão é preciso de uma sentença judicial que assim reconheça. Trata-se de sucessão irregular na medida em que não recebe nem em virtude de lei, nem por testamento, mas sim por conta de uma sentença.
	O poder público será contemplado com uma herança inicialmente quando o falecido não deixar herdeiros conhecidos nem testamento, podendo-se afirmar que essa hipótese não é taxativa, na medida em que em outras situações a herança também será entregue preferencialmente ao Município. Serve de exemplo a hipótese do indivíduo que morre e seu testamento é nulo ou anulável, ou ainda não dispõe sobre todos os seus bens, e este não deixou herdeiros conhecidos. A interpretação literal do artigo 1790, IV também leva a sucessão do ente público.
	Na prática a sucessão do ente público tem início por parte de um indivíduo que se julga herdeiro ou legatário e ao final fica apurado que ele não ostenta capacidade sucessória. Nessas circunstâncias o juiz deverá declarar a herança como jacente, nomeando imediatamente um curador para dela cuidar. Na fase de jacência o que se pretende é a conservação dos bens do morto. São adotadas inúmeras medidas pelo curador, representante da herança, visando a sua conservação evitando-se o perecimento de forma a assegurar que o poder público ou o herdeiro que vier a aparecer assumam esses bens de forma mais conservada possível. 
	Tanto a herança jacente como a herança vacante são entes desprovidos de personalidade, já que não são constituídos para se relacionarem com terceiros. Muito embora desprovidos de personalidade, possuem capacidade processual, na forma do art. 12 do CPC. Assim, podem figurar tanto no polo ativo como no polo passivo da relação processual. 
	O curador exercerá sua função de forma remunerada, devendo no primeiro momento trazer ao conhecimento do juízo orfanológico os bens do morto, passando então a administrá-los, sempre prestando contas ao judiciário, já que a finalidade da jacência é protetiva.
	Estabelecida a administração dos bens do morto serão publicados editais na tentativa de se localizar herdeiro, legatário ou credor do morto. O credor que vier a aparecer habilitará seu crédito, sendo reservada quantia suficiente da herança para pagamento, constatada a autenticidade do crédito. O herdeiro ou legatário que vier a aparecer também deverá se habilitar e, constatada a sua qualidade de herdeiro, o processo de jacência será convertido em inventário. Na hipótese de ninguém aparecer, na forma do artigo 1820 do Código Civil a herança será dada como vacante. 
	Declarada a vacância o colateral bem como os credores do morto não podem mais pretender aquela herança, considerando o parágrafo único do artigo 1822. 
	Com a declaração da vacância duas circunstâncias distintas poderão estar presentes. Se nesse momento já havia ultrapassado o prazo de cinco anos que é contado retroativamente a data do óbito, o poder público municipal assumirá a propriedade plena do bem, e este bem se incorpora ao domínio público quanto a bem dominical. Caso no momento da declaração de vacância o prazo quinquenal não tenha ainda se verificado, o poder público assumirá a propriedade resolúvel desses bens até que se complete o quinquênio. O evento futuro e incerto que poderá extinguir a propriedade do município é o aparecimento de descendentes ou ascendentes do morto. O herdeiro necessário deverá promover ação direta reivindicatória, não cabendo pedido de habilitação já que o bem se encontra já sobre o domínio do poder público. A ação é reivindicatória já que o herdeiro pretenderá com base na propriedade por conta do Direito de Saisine a entrega da posse ao Município.
	A entrega do bem ao poder público exige cumulativamente a presença de dois requisitos, a sentença de vacância bem como já tenham se passados 5 anos contados do óbito.
	Antigamente a jurisprudência discutia a possibilidade de usucapião de um bem pertencente à herança se consumar entre a data do óbito e a data da vacância. A sentença de usucapião é declaratória e por consequência basta que se preencham os requisitos, em especial o prazo, para que se adquira a usucapião. Antes do óbito a usucapião é possível porque o bem é particular, e após a vacância impossível porque o bem é público, devendo ser analisado o prazo que vai de um ponto ao outro. Inicialmente quando o poder público era tido como herdeiro legítimo a ele se aplicava o direito de Saisine e como consequênciaa sentença de vacância teria caráter declaratório, com eficácia retroativa a data do óbito, devendo aquele bem ser considerado como público desde o óbito, ficando então inviabilizado o usucapião. Desde o final dos anos 90 que a sentença de vacância é entendida como constitutiva, com eficácia EX NUNC, ficando assim viabilizado o pedido de usucapião. Como o poder público é sucessor irregular deve ser reconhecido que necessita da sentença para herdar, devendo ser consagrada sua eficácia EX NUNC.
DATA: 28/10/2013
INDIGNIDADE
	A indignidade pode ser definida como a prática de um ato repugnante, repulsivo previsto em lei, em relação à pessoa de cuja sucessão se trata ou parentes a ela relacionados, e que autorizam a exclusão do herdeiro daquela sucessão.
	A prática de um ato qualificado como de indignidade não implica na imediata exclusão da sucessão. O direito a herança é garantia individual prevista no art. 5º, XXX da Constituição Federal, e por consequência todas as normas restritivas a essa garantia individual devem ser interpretadas restritivamente. Assim, pela indignidade só se admite a exclusão nas hipóteses do artigo 1814 do Código Civil. A indignidade possui natureza jurídica de sanção civil, penalidade, penalidade essa que não é imediatamente aplicada tão logo o ato é praticado.
	O artigo 1814 trata de três hipóteses distintas de indignidade, sendo certo que a situação prevista no inciso I é a mais recorrente. Inicialmente a exclusão por este inciso só é admitida em caso de homicídio doloso, não se admitindo assim interpretação ampliativa no sentido de alcançar o homicídio culposo ou o aborto. 
	A ação declaratória de indignidade deve ser proposta junto ao juízo orfanológico sendo certo que o prazo para o seu ajuizamento é de quatro anos contados do óbito. Como o prazo previsto em lei é decadencial não se interrompe ou suspende. No caso Richtofen o menor irmão da homicida teria até 20 anos para a propositura da ação de indignidade. 
	Não é necessária a prévia condenação penal para que se ajuíze a ação civil, sendo certo que é mais correto a suspensão da demanda cível até que se decida a criminal, evitando-se assim decisões conflitantes. Em havendo pronunciamento penal e estando a ação civil suspensa é preciso observar as consequências de uma sobre a outra. A absolvição pelo júri, por exemplo, não impede o prosseguimento ou ajuizamento da ação de indignidade, já que o júri não fundamenta suas decisões. Da mesma maneira se o juiz criminal ao impronunciar nega a autoria do fato ou o fato, a ação civil ficará inviabilizada. Na hipótese do inciso II do artigo 1814 a ação civil exige para prosseguir ou ser prejudicada a prévia condenação penal.
	A reabilitação que faz com que o herdeiro ou legatário possa voltar a suceder deverá ser expressa e inequívoca, fazendo alusão ao fato de forma descritiva, bem como ao indivíduo que o praticou. Deve a pessoa cuja sucessão se trata manifestar de forma inequívoca a sua vontade por testamento ou codicilo. O artigo 1818, parágrafo único, deixa a impossibilidade de perdão ou reabilitação tácita. Assim, se o obituado contra quem se praticou o ato de indignidade deixa um apartamento para o suposto indigno, a deixa testamentária não implica em perdão, podendo esse indivíduo ser excluído da sucessão quanto ao restante.
	O herdeiro que praticou ato de indignidade até ser declarado como indigno por sentença ostenta a qualidade de herdeiro aparente, ou seja, diante da coletividade é tido como herdeiro como qualquer outro. Assim, os atos por ele praticados, se onerosos e constatada a boa fé do adquirente, são preservados. Se o filho que praticou o ato de indignidade, após conferir a preferência aos irmãos, vende através de cessão o seu quinhão hereditário, constatada a boa fé do adquirente, a alienação deverá ficar mantida assistindo aos demais herdeiros apenas a possibilidade de exigir do suposto indigno os prejuízos pela perda do bem, bem como as perdas e danos pelo fato do espólio ter sido privado de usufruir daquela coisa. A sentença de indignidade tem caráter declaratório, com efeito EX TUNC, deixando o indivíduo de ser herdeiro desde o momento do óbito, o que levaria a conclusão que os negócios praticados pelo indigno deveriam ser reputados como nulo, atingindo o 3º de boa fé, optando o legislador de forma diversa, protegendo o terceiro de boa fé no artigo 1817.
	M	MÃE	PAI				M
Ex1: 		Ex2:		Ex3: 
	 M	Cônjuge
 F1(I)	 F2	 F3	Cônjuge	F1(I) F2 F3 F4
	Na sucessão, o declarado como indigno é tratado como se jamais tivesse existido no âmbito daquela sucessão. Isso aliado ao fato de que a indignidade possui natureza de sanção civil nos permite concluir que os descendentes do indigno não podem ser civilmente penalizados pela conduta do pai, sucedendo por direito próprio ou por representação, a depender da hipótese. No exemplo 1 N1 e N2 receberão a herança de seu pai, e se N1, por exemplo, vier a óbito antes de seu pai F1, F1 só terá direito a suceder naquilo que não diz respeito à herança de seu próprio pai. 
	A ação declaratória de indignidade deve ser ajuizada apenas por aquele que tem interesse patrimonial no reconhecimento da indignidade, seja porque aumentará seu quinhão hereditário, seja porque não é herdeiro e agora, com a declaração de indignidade passará a sê-lo. Assim, nos exemplos anteriores a indignidade poderá ser ajuizada pelos netos no 1º exemplo, pelo cônjuge na 2ª hipótese, e por fim por F2 F3 e F4 na última hipótese. No que diz respeito à legitimidade do Ministério Público para o ajuizamento dessa ação, como a hipótese é de direito patrimonial, disponível, só deve o Parquet ajuizar essa ação na defesa de incapaz ou de idoso em situação de risco.
DATA: 04/11/2013
DESERDAÇÃO (ART. 1961 A 1965)
	Muito embora a deserdação tenha semelhanças com a indignidade, possuem aplicações distintas, podendo-se afirmar inicialmente que a deserdação tem seu início sempre por iniciativa da pessoa cuja sucessão se trata, que em testamento indica a causa da deserdação. 
	Na indignidade a propositura da ação declaratória não está condicionada a qualquer manifestação prévia de vontade da pessoa cuja sucessão se trata. A deserdação se aplica exclusivamente ao herdeiro necessário que por estipulação expressa do testador tende privar aquele herdeiro necessário de receber sua legítima. No que diz respeito ao herdeiro facultativo basta realizar testamento sem contemplá-lo, não se devendo falar em deserdação. O reconhecimento da indignidade se aplica tanto ao herdeiro necessário como ao facultativo. As hipóteses de deserdação, conforme se extrai do artigo 1962 e 1963, são mais amplas do que as hipóteses de indignidade.
	A deserdação tem início a partir do testamento onde o testador de forma minuciosa indica a pessoa que se pretende deserdar, bem como as causas e fatos que levariam a essa deserdação. Após a morte do testador o herdeiro diretamente beneficiado com essa deserdação, seja porque aumentará o seu quinhão, seja porque não é herdeiro e agora passará a sê-lo, deverá ajuizar ação declaratória de deserção, cabendo a ele o ônus de provar que a circunstância ou fato colocado no testamento é verídico. É importante frisar que o testamento possui a característica de sua revogabilidade, ou seja, até o momento do óbito o testador poderá realizar tantos testamentos quantos queira, sendo certo que o último revogará os anteriores naquilo que lhe for incompatível. A única situação que não se revoga é o reconhecimento de paternidade. Revogada a deserção, muito embora a ação declaratória de deserção fique inviabilizada, será possível a ação declaratória de indignidade, se a hipótese comportar.
	 O artigo 1848 trata das cláusulas de restrição à legítima. No código civil de 1916 a pessoa de cuja sucessão se tratava não precisava justificar a restrição a legitima, bastando a sua inserção expressa no testamento. Atualmente o testador que pretender fazer uso da cláusula deverá justificar a restrição fazendo valerfato ou circunstância expressamente consignado que traga perigo ao patrimônio deixado. Assim, admite-se como exemplo o vício em drogas, a prodigalidade e etc. As cláusulas de restrição só precisam ser justificadas no que diz respeito à legítima, ou seja, não há necessidade de justificar a limitação no que diz respeito à parte disponível, bem como se a restrição diz respeito a herdeiro facultativo que não tem assegurado a seu favor qualquer percentual sobre a herança, não tendo prejuízo algum com a limitação de uma herança que não tem direito líquido e certo de receber.
	O herdeiro necessário prejudicado com essa cláusula deverá ajuizar ação declaratória, cabendo a ele o ônus de provar que a justa causa apontada pelo testador em verdade não existe. Mantida a restrição e findo o inventário o herdeiro prejudicado com o mesmo, desde que justificadamente, poderá requerer preferencialmente a transferência do gravame para outro bem de menor valor, e na impossibilidade a extinção do gravame. Ex.: o filho que recebeu o bem não tem condição material de sustentá-lo.
	O artigo 1848, §1º do CC, veda a cláusula de conversão dos bens de legítima, ou seja, não pode o testador determinar dentro daquilo que integra a legítima que os herdeiros confiram a um imóvel, por exemplo, a alienação do mesmo constituindo uma caderneta de poupança,
ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
	Com a morte, devido ao Direito de Saisine previsto no artigo 1784, os herdeiros legítimos ou testamentários assumem o patrimônio do morto, evitando-se assim um vácuo, uma brecha nas relações jurídicas do morto. Porém, ninguém é obrigado a ser titular de um direito, razão pela qual deve o herdeiro confirmar a presunção da lei de que teria interesse naquela herança. Essa confirmação se dará através da aceitação, podendo o herdeiro renunciar a sua qualidade de herdeiro, retroagindo essa renúncia à data do óbito como se ele jamais tivesse existido no âmbito daquela sucessão. 
	Tanto a renúncia como a aceitação possuem natureza jurídica de ato stricto sensu, considerando que seus efeitos são determinados pela lei, e não pela vontade do aceitante ou renunciante. Como consequência desses institutos não serem negócio jurídico, a aceitação e a renúncia são incondicionadas, ou seja, não se sujeitam a condição (renunciar desde que outro herdeiro também o faça) ou a termo (aceitar por 20 anos). Ambos os institutos são irrevogáveis na forma do artigo 1812. A manifestação de vontade deve ser feita de forma livre e desembaraçada, admitindo-se o pedido de anulação na forma do artigo 178 caso esteja presente vício de consentimento.
DATA: 11/11/2013
INDIVISIBILIDADE DA RENÚNCIA E DA ACEITAÇÃO
	O artigo 1808, primeira parte estipula a indivisibilidade da herança, levando o herdeiro a aceitá-la em bloco ou repudiá-la da mesma forma. O objetivo da norma é de evitar que o herdeiro pudesse aceitar o ativo da herança repudiando aquilo que não lhe convém. 
	A própria norma prevê textualmente duas exceções. Inicialmente se o indivíduo é contemplado em uma mesma herança na qualidade de herdeiro e de legatário poderá abrir mão da qualidade de herdeiro repudiando o legado e vice e versa.
M
F1	F2	F3
	A renúncia é formal ao passo que a aceitação é informal, podendo ser feita através de aceitação expressa, tácita ou presumida. O legislador parte da premissa de que todos em geral possuem interesse no recebimento da herança, facilitando o seu recebimento e dificultando o seu repúdio. 
	A renúncia só pode ser feita nos moldes do artigo 1806, e não admite interpretação extensiva e pode ser feita por procurador desde que o mesmo contenha poderes específicos para tanto. 
	A aceitação expressa é aquela que é feita por escrito declarando que o pretende recolher aqueles bens. 
	A aceitação tácita estará evidente quando o indivíduo pratica atos absolutamente incompatíveis com aquele que pretenderia repudiar a herança. Se o herdeiro percebe aluguel de bens da herança, recolhe o Imposto causa mortis ou concorda com o laudo de avaliação nos autos do inventário, pratica aceitação tácita.
	A cessão gratuita de direitos hereditários em favor de todos os herdeiros que seriam contemplados com aquela herança, caso o cedente não existisse naquela sucessão é nítida hipótese de renúncia. Assim, se F1 cedesse gratuitamente a seus dois irmãos, sua conduta equivale a uma renúncia. Diferente seria se F1 cedesse apenas a um de seus irmãos, hipótese em que estaria aceitando e se valendo posteriormente da cessão para doar a seu irmão, praticando verdadeiro negócio jurídico já que os contemplados pela lei com a sua não aceitação seriam seus irmãos.
	No que diz respeito à necessidade de outorga uxória ou marital na aceitação ela é desnecessária, considerando que aquele bem acrescerá o patrimônio do casal. No que diz respeito à renúncia duas posições se constatam. Há os que defendem a necessidade do consentimento argumentando que a renúncia possui o mesmo resultado econômico da alienação, privando o casal daquele bem. Os doutrinadores mais modernos sustentam a desnecessidade argumentando que a outorga do cônjuge prevista no artigo 1647, I é norma restritiva de direito, e como tal deve ser interpretada restritivamente já que limita o direito do individuo a sua livre disposição patrimonial. Argumenta-se ainda que na renúncia aquele bens sequer integraram o patrimônio do casal, não podendo assim ser equiparado a alienação.
	O artigo 1813 prevê a possibilidade do credor do herdeiro renunciante receber a herança em seu lugar. Trata-se de hipótese que procura promover a facilitação do recebimento do crédito, considerando que para se valer da norma não é necessário que o herdeiro renunciante se encontre em estado de insolvência, bastando a comprovação de que o crédito é legítimo. O prazo para que o credor declare aceite a herança em nome do renunciante é exíguo, porém será contado da data em que o mesmo conhecer da renúncia. Muito embora não seja requisito para aplicação da norma a insolvência do herdeiro, caso esta esteja presente e o credor perca o prazo previsto no parágrafo primeiro do artigo 1813, poderá ainda se valer da ação pauliana.
	O artigo 1810 se vale apenas da sucessão legítima considerando que na sucessão testamentária poderá o testador, respeitada a legítima, se valer de substituição onde expressamente indica que na falta de um herdeiro legatário primitivo que morreu antes do testador ou renunciou ao que foi deixado, segunda pessoa apareça para recolher aquela herança ou legado, hipótese em que o bem não retornará ao espólio para ser dividido entre os herdeiros legítimos. Na forma do artigo 1810 se, por exemplo, o morto deixou pai e mãe vivos e ambos repudiam aquela herança, a conseqüência será fazer com que aquele bem seja oferecido aos colaterais em segundo grau, obedecendo assim a ordem de vocação hereditária.
	Na sucessão os herdeiros do renunciante jamais herdarão por representação. Assim, se o morto deixou 3 filhos e um deles pretende renunciar, os filhos do renunciante nada receberão, cabendo toda a herança aos outros dois filhos do morto. Porém se todos os três filhos renunciarem, ou dois forem pré-mortos e o último renuncia, a herança será entregue aos netos do de cujus por direito próprio e por cabeça já que não há descendente em 1º grau apto em receber aquela herança.

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