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TSE - NOÇÕES DE DIREITO ELEITORAL
Resumo de Direito Eleitoral
Definição e Finalidade: O Direito Eleitoral é um ramo do Direito Público que assegura a
identidade da vontade soberana do povo e a formação da vontade política do Estado. Regula o
exercício da soberania popular, manifestada por meio do sufrágio universal, voto direto, secreto e
igual, plebiscito, referendo, iniciativa popular de leis, ação popular e outros meios.
Objeto e Função: O Direito Eleitoral cuida do alistamento eleitoral, aquisição, perda e
suspensão dos direitos políticos, sistemas eleitorais, propaganda eleitoral, garantias eleitorais,
crimes e ilícitos eleitorais, eleições, entre outros temas. Sua função principal é assegurar que a
conquista do poder ocorra dentro de parâmetros legais, sem uso de força ou subterfúgios.
Distinção entre Direito Eleitoral e Direito Partidário: O Direito Eleitoral abrange
regras sobre direitos políticos (art. 14 a 16 da CF/1988), enquanto o Direito Partidário trata dos
partidos políticos (art. 17 da CF/1988).
Fontes do Direito Eleitoral:
1. Fontes Materiais: São os fatores sociais, éticos, políticos, econômicos e religiosos que
influenciam a formação das normas jurídicas, como a atuação de grupos organizados, lobbies
e manifestações sociais.
2. Fontes Formais: São os meios pelos quais uma norma jurídica entra na ordem jurídica.
Incluem:
o Constituição Federal: Principal fonte, com princípios básicos e regras fundamentais
do Direito Eleitoral (art. 1º, 14 a 16, 118 a 121).
o Código Eleitoral (Lei n. 4.737/1965): Regula competências da Justiça Eleitoral, direitos
políticos, alistamento, sistemas eleitorais, registro de candidaturas, apuração,
diplomação e crimes eleitorais. Parte do código foi recepcionada pela CF/1988 com
status de lei complementar, especialmente sobre organização e competências da
Justiça Eleitoral.
o Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/1995): Regula partidos políticos e sua filiação,
crucial para a elegibilidade.
o Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar n. 64/1990): Define casos de
inelegibilidade e prazos de cessação.
o Lei das Eleições (Lei n. 9.504/1997): Estabelece normas para as eleições.
o Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): Regulamentações e resoluções
emitidas pelo TSE, conforme o poder regulamentar conferido pelo Código Eleitoral (art.
23, IX).
Poder Regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral
Função e Limitações: O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possui a competência para editar
resoluções visando a regulamentação do Código Eleitoral, conforme o parágrafo único do art. 1º do
Código Eleitoral. As resoluções do TSE têm a finalidade de assegurar a execução fiel da legislação
eleitoral, mas não podem contrariar disposições legislativas, devendo ser secundum ou praeter
legem (em conformidade ou além da lei, sem inovar no ordenamento jurídico).
Exercício do Poder Regulamentar:
• Art. 105 da Lei n. 9.504/1997: Determina que até 5 de março do ano eleitoral, o TSE pode
expedir todas as instruções necessárias para a execução da lei eleitoral, ouvindo previamente
os representantes dos partidos políticos em audiência pública.
• Restrições: A competência normativa do TSE está limitada às matérias especificamente
autorizadas em lei. O art. 23-A do Código Eleitoral, inserido pela Lei n. 14.211/2021, proíbe o
TSE de tratar de assuntos relativos à organização dos partidos políticos.
• Controle de Legalidade: Resoluções que contrariem a legislação podem ser questionadas
por meio de mandado de segurança ou recurso, mas não por ação direta de
inconstitucionalidade. No entanto, se inovarem no ordenamento jurídico, podem ser
contestadas via ação direta de inconstitucionalidade.
Exceções para Inovação no Ordenamento Jurídico: De forma excepcional e transitória, o Supremo
Tribunal Federal (STF) permitiu que o TSE edite resoluções que inovem no ordenamento jurídico nas
seguintes condições:
1. Relevância e Urgência da Matéria.
2. Omissão do Congresso Nacional no Exercício da Função Legislativa.
Essas resoluções terão efeito até que o Congresso Nacional suprima a omissão. Um exemplo é a ADI
n. 3.999, onde o STF reconheceu a constitucionalidade da Resolução do TSE n. 22.610/2007, que
trata da fidelidade partidária.
Competência Legislativa:
• Competência Privativa da União: Apenas a União pode legislar sobre Direito Eleitoral,
conforme art. 22, I, da CF/1988, e essa competência é exercida pelo Congresso Nacional com
a sanção do presidente da República (art. 48 da CF/1988).
• Legislação Ordinária e Complementar:
o Lei Ordinária: Usada para a maioria dos temas eleitorais, como alistamento, eleição,
propaganda eleitoral, financiamento de campanha e condições de elegibilidade.
o Lei Complementar: Necessária para tratar de inelegibilidades infraconstitucionais (art.
14, § 9º da CF/1988) e para a organização e competências da Justiça Eleitoral (art. 121
da CF/1988).
Direitos Políticos na Constituição Brasileira: Uma Análise Detalhada
1. Previsão Constitucional dos Direitos Políticos
A Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, representa a base jurídica do sistema político
do país. Uma de suas partes mais fundamentais é a previsão dos direitos políticos, que garantem aos
cidadãos a participação ativa na vida política e na tomada de decisões do Estado.
2. Exercício da Soberania Popular
Os direitos políticos são essenciais para o exercício da soberania popular, um dos princípios
fundamentais da democracia. Através do sufrágio e do voto, os cidadãos expressam suas vontades e
escolhem os representantes que os governarão.
3. Direitos Políticos: Conceito e Definição
Os direitos políticos englobam um conjunto de prerrogativas e deveres que permitem aos cidadãos
participar ativamente do processo político de uma nação. Eles garantem não apenas o direito ao
voto, mas também o direito de ser votado, de se filiar a partidos políticos e de participar de
plebiscitos e referendos.
4. Direitos Políticos: Previsão na Constituição Federal
A Constituição Federal de 1988 estabelece os direitos políticos como um dos pilares do Estado
Democrático de Direito. Ela prevê os principais direitos políticos dos cidadãos brasileiros e
estabelece as regras para seu exercício.
5. Classificação dos Direitos Políticos
• Direitos Políticos Ativos e Passivos: Os direitos políticos ativos referem-se à participação
direta do cidadão no processo político, como o direito de votar e ser votado. Os direitos
políticos passivos, por sua vez, dizem respeito à possibilidade de uma pessoa ser eleita para
cargos públicos.
• Direitos Políticos Positivos e Negativos: Os direitos políticos positivos são aqueles que
conferem prerrogativas aos cidadãos, como o direito de votar e de se candidatar a cargos
eletivos. Já os direitos políticos negativos são restrições impostas a determinadas pessoas,
como a proibição de se candidatar em razão de inelegibilidade.
6. Direito ao Sufrágio
O direito ao sufrágio é a garantia fundamental de que todo cidadão tem o direito de participar do
processo eleitoral, expressando sua vontade através do voto.
7. Direito ao Voto: Características
O direito ao voto é uma das principais formas de participação política do cidadão. Caracteriza-se por
ser universal, secreto, igual, direto e periódico, garantindo assim a legitimidade do processo eleitoral.
8. Plebiscito e Referendo
Além do direito ao voto nas eleições regulares, a Constituição Federal prevê outras formas de
participação popular, como o plebiscito e o referendo. Esses instrumentos permitem que os cidadãos
participem diretamente da tomada de decisões em assuntos de relevância nacional.
9. Alistamento Eleitoral: Conceito e Requisitos
O alistamento eleitoral é o processo pelo qual os cidadãos se inscrevem para participar das eleições.
Para se alistar, é necessário preencher certos requisitos, como ter nacionalidade brasileira, estar em
pleno gozo dos direitos políticos e possuirinfluenciam a opinião popular e a orientação
política do país”.
Para fixar, Celso Ribeiro Bastos afirma que “trata-se de uma organização de pessoas reunidas em
torno de um mesmo programa político com a finalidade de assumir o poder e de mantê-lo ou, ao
menos, de influenciar na gestão da coisa pública através de críticas e oposição”.
A partir desses dois conceitos, pode-se tirar alguns elementos importantes:
• Trata-se de uma associação de pessoas;
• Pessoas unidas em torno de um mesmo programa ou mesma ideologia política;
• Querem, de forma legítima, acessar o poder e definir a gestão da coisa pública.
Quanto à natureza jurídica, os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado. Essa
caracterização está contida no art. 44 do Código Civil.
Disposições Preliminares
A Constituição inicia o tratamento da disciplina partidária com a consagração de um importante
princípio: princípio da liberdade de organização partidária. Determina a Constituição, em seu art. 17,
caput: “É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos [...]”.
Há uma ampla liberdade para a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos. O
Estado não pode impor limites ou criar barreiras à organização de novas agremiações partidárias.
Esse princípio da liberdade de organização partidária envolve quatro operações partidárias:
• Criação – organização de uma nova agremiação partidária;
• Fusão – união de dois ou mais partidos, com o consequente surgimento de uma terceira
agremiação. Os partidos originários extinguem-se;
• Incorporação – união de dois ou mais partidos políticos. Ao final do processo de incorporação,
o partido incorporador mantém sua personalidade jurídica e os partidos incorporandos
extinguem-se.
• Extinção – perda da personalidade jurídica de um partido político.
Para a prática de quaisquer dessas operações partidárias, não há necessidade de aquiescência,
homologação ou autorização da Justiça Eleitoral. Lembre-se: os partidos políticos são pessoas
jurídicas de direito privado.
Dúvida que pode surgir: quer dizer que o princípio da liberdade de organização partidária é absoluto?
Não há limites à criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos?
A própria Constituição, no mesmo art. 17, caput, responde essa nossa indagação: “É livre a criação,
fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime
democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana [...]”.
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
1ª FASE – REGISTRO DO PARTIDO POLÍTICO NO CARTÓRIO
O processo de formação de uma nova agremiação partidária é composto por três fases, conforme
delineado nos artigos 7º a 9º da Lei dos Partidos Políticos. Inicialmente, abordaremos a primeira fase,
que consiste no registro do partido político no Cartório de Registro Civil e de Pessoas Jurídicas. Desde
a Lei n. 13.877/2019, não é mais necessário registrar o partido político na Capital Federal, mas sim no
local definido pelo estatuto partidário como sua sede.
Ressalta-se que, para o registro, é necessário o requerimento assinado por pelo menos 101
fundadores, com domicílio eleitoral em, no mínimo, 1/3 dos estados. Além disso, o pedido deve ser
acompanhado de cópia autêntica da ata da reunião de fundação, exemplares do Diário Oficial que
publicou o programa e o estatuto, e uma relação completa dos fundadores.
2ª FASE – BUSCA DO APOIAMENTO MÍNIMO
Na segunda fase, o partido político busca o apoiamento mínimo necessário para comprovar seu
caráter nacional. Esse apoio é definido como o equivalente a pelo menos meio por cento dos votos
dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, distribuídos por um terço dos estados,
com um mínimo de um décimo por cento do eleitorado em cada um deles.
Para obter o apoiamento mínimo, o partido deve preencher três requisitos: obter apoio de eleitores,
buscar assinaturas em pelo menos um terço dos estados, e obter assinaturas correspondentes a
pelo menos um décimo por cento do eleitorado em cada estado onde busca apoio. Esse processo
deve ser concluído dentro de dois anos a partir da constituição civil do partido.
3ª FASE – REGISTRO DO ESTATUTO DO PARTIDO NO TSE
Após adquirir a personalidade jurídica e obter o apoiamento mínimo, o partido político deve registrar
seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse registro não confere a personalidade jurídica,
que é obtida com o registro no Cartório de Registro Civil e de Pessoas Jurídicas da Capital Federal.
O registro no TSE é necessário para o exercício de diversos direitos, como participação no processo
eleitoral, recebimento de recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e televisão. O
requerimento de registro deve ser acompanhado de diversos documentos, incluindo cópia do
programa e estatuto, certidão do registro civil da pessoa jurídica, e certidões dos cartórios eleitorais
que comprovem o apoiamento mínimo.
FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS
A Lei n. 14.208/2021 estabeleceu a possibilidade de formação de federações partidárias,
constituídas por partidos políticos com registro definitivo no TSE. Essas federações têm
personalidade jurídica pro tempore e são formadas para exercer conjuntamente suas funções,
inclusive disputar eleições.
As federações partidárias são uma modalidade de união de partidos políticos, permitindo o exercício
conjunto das atividades partidárias, como participação no processo legislativo e distribuição de
recursos do fundo partidário. Para sua constituição, são necessários requisitos como a observância
dos partidos integrantes por no mínimo quatro anos e o registro no TSE até seis meses antes das
eleições.
DO PROGRAMA E DO ESTATUTO
Todo partido político possui dois documentos fundamentais: o estatuto e o programa. Cada um tem
sua própria finalidade e é essencial para a organização e funcionamento da agremiação. Vamos
explorar as características distintas de cada um.
Estatuto Partidário: Organização e Estrutura Interna
O estatuto partidário é o documento que trata da organização, funcionamento e estrutura interna do
partido. É essencialmente organizacional e define como a agremiação é administrada. Por sua vez, o
programa partidário contém a ideologia e os objetivos políticos do partido.
De acordo com o artigo 15 da Lei n. 9.096/1995, o estatuto deve conter no mínimo:
• Nome, denominação abreviada e sede no território nacional;
• Regras de filiação e desligamento de membros;
• Direitos e deveres dos filiados;
• Estrutura organizacional nos níveis municipal, estadual e nacional, incluindo duração de
mandatos e processo eleitoral;
• Normas de fidelidade e disciplina partidárias, com procedimentos para apuração de infrações
e aplicação de penalidades;
• Regras para escolha de candidatos a cargos eletivos;
• Normas financeiras e contábeis;
• Critérios de distribuição de recursos do fundo partidário entre os órgãos do partido;
• Procedimento para reforma do programa e do estatuto.
Apesar de não estar diretamente relacionado ao estatuto e programa partidário, o artigo 15-A aborda
a responsabilidade dos órgãos partidários por atos civis, trabalhistas e eleitorais, especificando que
apenas o órgão diretamente envolvido é responsável.
FILIAÇÃO PARTIDÁRIA
A filiação partidária é o vínculo entre um cidadão e um partido político, sendo um requisito para
concorrer a cargos eletivos. Segundo o artigo 16 da Lei n. 9.096/1995, só pode se filiar quem estiver
no pleno gozo de seus direitos políticos.
É importante observar alguns pontos sobre a filiação:
• A filiação é restrita a cidadãos alistados perante a Justiça Eleitoral;
• A perda ou suspensão dos direitos políticos impede a filiação;
• Inelegíveis podem se filiar, exceto para cargos eletivos;
• A filiação deve obedecer às regras estatutárias do partido;
• É necessário um período mínimo de filiação para concorrer a cargos eletivos.
O prazo mínimo defiliação pode ser alterado pelo estatuto do partido, mas com limitações, como
não reduzir o prazo em ano eleitoral.
FIDELIDADE E DISCIPLINA PARTIDÁRIA
Os partidos políticos têm autonomia para organizar-se e estabelecer normas de disciplina e
fidelidade partidárias em seus estatutos, conforme previsto no artigo 17, § 1º da Constituição
Federal. A violação dessas normas deve ser apurada e punida conforme o estatuto de cada partido,
garantindo o contraditório e ampla defesa aos filiados.
A infidelidade partidária, caracterizada pela mudança de partido sem justa causa, pode resultar na
perda do mandato parlamentar. Essa questão é regulada por lei e pelas resoluções do Tribunal
Superior Eleitoral.
PERDA DE MANDATO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA - CARGOS
Até 2007, os parlamentares podiam trocar de partido sem punição. Porém, uma decisão do Tribunal
Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal estabeleceu que o mandato pertence ao partido,
não ao candidato. Assim, mudanças de partido podem resultar na perda do mandato, especialmente
no sistema proporcional.
Existem hipóteses de desfiliação partidária consideradas justas, como mudança substancial do
programa partidário, grave discriminação pessoal e mudança de partido próximo ao prazo de filiação
eleitoral.
A reforma eleitoral de 2017 introduziu uma nova hipótese de desfiliação justificada: a falta de acesso
a recursos do fundo partidário e ao tempo de rádio e TV devido à cláusula de barreira.
HIPÓTESES DE JUSTA CAUSA DE DESFILIAÇÃO
O Tribunal Superior Eleitoral estabeleceu hipóteses permissíveis de desfiliação partidária, como
mudança substancial do programa partidário, discriminação política pessoal e mudança próxima ao
prazo de filiação eleitoral.
A mudança de partido próxima ao prazo de filiação é permitida apenas para parlamentares no último
ano de mandato. A EC n. 111/2021 introduziu a carta de anuência como nova justificativa para
desfiliação partidária, permitindo que o parlamentar deixe o partido sem perder o mandato mediante
autorização da agremiação.
DA FUSÃO, INCORPORAÇÃO E EXTINÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS
Partidos políticos podem ser extintos licitamente por dissolução, fusão ou incorporação. Na
dissolução, ocorre por decisão interna dos membros do partido. Na fusão, dois ou mais partidos se
unem para formar um novo. Na incorporação, um partido absorve os outros. Todos esses processos
respeitam o princípio da liberdade partidária.
Por outro lado, há situações ilícitas que levam ao cancelamento do registro do partido, como receber
recursos estrangeiros, estar subordinado a entidades estrangeiras, não prestar contas à Justiça
Eleitoral e manter organização paramilitar. Essas ações são decididas pelo Tribunal Superior Eleitoral
e resultam na extinção do partido.
Sistemas Eleitorais: Organização e Funcionamento
O sistema eleitoral constitui um conjunto de disposições destinadas a estruturar a representação do
eleitorado e regular os procedimentos das eleições. Trata-se de uma estrutura complexa e dinâmica
que visa garantir a representação do povo no aparato estatal, mediante a captação eficiente e
imparcial da vontade popular expressa democraticamente.
Objetivos Fundamentais
O sistema eleitoral desempenha duas funções primordiais: organizar as eleições e transformar os
votos em mandatos políticos. Além disso, busca assegurar a legitimidade dos mandatos eletivos,
fortalecer as relações entre representantes e representados, e promover a representação dos
diversos grupos sociais. Para alcançar tais objetivos, é essencial a implementação de um sistema
eleitoral confiável, dotado de técnicas seguras e transparentes.
Segundo a Constituição Federal brasileira, são adotados dois tipos de sistemas eleitorais: o
majoritário e o proporcional.
Tipos de Sistemas Eleitorais
Existem duas espécies básicas de sistemas eleitorais:
• Representação Proporcional: Permite uma distribuição mais equitativa dos votos e
resultados, garantindo uma maior representatividade.
• First Past The Post (FPTP) - Majoritário: Os grupos ou candidatos são eleitos com base na
obtenção da maioria dos votos, independentemente da diferença.
Sistema Majoritário: Princípios e Aplicações
No sistema majoritário, o candidato mais votado é considerado eleito, sendo o sistema dividido em
dois tipos:
• Maioria Simples ou Relativa: O candidato mais votado, independentemente do percentual de
votos, é eleito em um único turno.
• Maioria Absoluta: O candidato deve obter mais da metade dos votos válidos. Se nenhum
candidato alcançar esse percentual, é realizado um segundo turno, onde o vencedor precisa
da maioria simples dos votos válidos.
Esse sistema é aplicado nas eleições para presidente, governador, prefeito e senador.
Sistema Proporcional: Princípios e Funcionamento
O sistema proporcional busca garantir uma representação mais equitativa dos diferentes segmentos
da sociedade no parlamento. Ele leva em conta não apenas os votos recebidos pelos candidatos,
mas também os votos recebidos pelos partidos, distribuindo as cadeiras de acordo com esses
resultados.
Esse sistema é utilizado nas eleições para deputados federais, estaduais, distritais e vereadores.
TÉCNICA DA MAIOR MÉDIA
Distribuição das Sobras Eleitorais
Após o cálculo do quociente partidário, os lugares não preenchidos são distribuídos usando a técnica
da maior média. Esta técnica envolve dividir o número de votos válidos de cada partido pelo número
de lugares que ele conquistou mais um. O partido com a maior média ganha um dos lugares a
preencher. Este processo é repetido para cada vaga restante, conforme estabelecido pelo art. 109 do
Código Eleitoral.
Regras para Distribuição das Sobras
1. Divide-se o número de votos válidos de cada partido pelo número de lugares que conquistou
mais um. O partido com a maior média ganha um dos lugares a preencher, desde que tenha
candidato que atenda à exigência de votação nominal mínima.
2. Repete-se a operação para cada vaga a preencher.
3. Quando não houver mais partidos com candidatos que atendam às exigências do item
anterior, as cadeiras serão distribuídas aos partidos com as maiores médias.
Cálculo da Técnica da Maior Média
A fórmula matemática para a técnica da maior média é:
TMM=nuˊmero de votos do partidonuˊmero de cadeiras conquistadas+1\text{TMM} =
\frac{\text{número de votos do partido}}{\text{número de cadeiras conquistadas} +
1}TMM=nuˊmero de cadeiras conquistadas+1nuˊmero de votos do partido
Exemplo Didático
Para exemplificar, vamos considerar um município com nove cargos de vereador e 50.000 votos
válidos. Os votos recebidos pelos partidos foram:
• Partido A: 12.000 votos
• Partido B: 15.000 votos
• Partido C: 4.000 votos
• Partido D: 19.000 votos
Inicialmente, calculamos o quociente eleitoral, que neste caso é 5.556. Depois, calculamos o
quociente partidário de cada partido, que nos permite preencher sete vagas. Sobram duas cadeiras,
então aplicamos a técnica da maior média para preenchê-las.
Resultados:
• Partido A: 2 cadeiras
• Partido B: 3 cadeiras
• Partido D: 4 cadeiras
Com isso, determinamos as vagas conquistadas pelos partidos, conforme o Código Eleitoral. Os
candidatos mais votados de cada partido são eleitos, e os demais são considerados suplentes.
SISTEMA BICAMERAL FEDERATIVO
No Brasil, o Poder Legislativo é composto por duas Casas: o Senado Federal e a Câmara dos
Deputados. O Senado tem 81 senadores, enquanto a Câmara possui 513 deputados federais. Nos
estados, a composição é unicameral, com o número de deputados estaduais correspondendo ao
triplo dos deputados federais.
Eleições e Sistemas Eleitorais
As eleições para diversos cargos seguem diferentes sistemas eleitorais, como o majoritário de dois
turnos para presidente, governador e prefeito de municípios com mais de 200 mil eleitores, e o
proporcional para senadores, deputados federais, estaduais, distritais e vereadores. As datas das
eleições sãoestabelecidas pela Lei das Eleições.
SUPLÊNCIA
O suplente é o candidato mais votado de um partido entre os não eleitos. Em caso de empate na
votação, o de maior idade é considerado. Se houver vacância no cargo, realiza-se uma nova eleição,
salvo se faltarem menos de quinze meses para o término do mandato.
VACÂNCIA PARA OS CARGOS DE PRESIDENTE E VICEPRESIDENTE DA REPÚBLICA
Em caso de vacância desses cargos, são realizadas eleições noventa dias depois da última vaga. Se
ocorrer nos últimos dois anos do mandato, a eleição é feita trinta dias depois, pelo Congresso
Nacional.
ELEIÇÕES
No Brasil, a legislação eleitoral costumava ser criada para cada eleição, o que levava a normas
casuísticas e influenciadas pelo grupo político dominante. Isso comprometia a lisura do pleito. A fim
de garantir isonomia e segurança jurídica, surgiu a Lei n. 9.504/1997, conhecida como Lei das
Eleições. Esta lei visava disciplinar todas as eleições futuras, exigindo do legislador uma atuação
mais imparcial, já que o grupo político dominante poderia mudar.
Apesar da existência da Lei das Eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) emite instruções
complementares para sua execução, respeitando os direitos estabelecidos em lei. O processo de
elaboração dessas instruções envolve audiências públicas com representantes partidários para
contribuir com sua formação.
DISPOSIÇÕES GERAIS
As eleições para todos os cargos, do presidente ao vereador, ocorrem no primeiro domingo de
outubro. No entanto, as eleições para vereador, prefeito e vice-prefeito são realizadas em anos
diferentes dos demais cargos.
Os eleitos para presidente, governador e prefeito (em municípios com mais de 200 mil eleitores) são
aqueles que obtiverem maioria absoluta de votos, excluindo brancos e nulos. Se nenhum candidato
alcançar maioria absoluta no primeiro turno, uma nova eleição é realizada, concorrendo os dois mais
votados.
A maioria absoluta é calculada como o primeiro número inteiro acima da metade do eleitorado, não
como "metade mais um". Por exemplo, em um eleitorado de 1.001 pessoas, a maioria absoluta seria
de 501 votos, não 501,5.
REALIZAÇÃO DE SEGUNDO TURNO – REQUISITOS
Para presidente e governador, um segundo turno é necessário se nenhum candidato obtiver maioria
absoluta. Para prefeito, o segundo turno só ocorre se nenhum candidato alcançar maioria absoluta e
o município tiver mais de 200 mil eleitores.
Em caso de morte, desistência ou impedimento legal do candidato titular entre os turnos, o
remanescente com maior votação é convocado. Se houver empate, o mais idoso é chamado. Essa
regra se aplica apenas quando o titular da chapa é afetado.
PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE DA CHAPA ÚNICA MAJORITÁRIA
A eleição do presidente, governador e prefeito implica na eleição do vice, seguindo o princípio da
indivisibilidade da chapa única majoritária. Portanto, a perda do mandato de um afeta o do outro,
conforme jurisprudência do TSE.
Este princípio é aplicado quando há cancelamento do registro do titular após o pleito, atingindo o
registro do vice. Ambos são penalizados por irregularidades eleitorais, garantindo a integridade da
chapa.
COLIGAÇÕES
A definição de coligação é crucial para entendermos este tema complexo. Segundo Zilio (2012, p. 67),
"A coligação é uma união formal de partidos políticos, de caráter transitório, para o fim de
participarem juntos em uma eleição".
A formação de uma coligação ocorre mediante a vontade formal de partidos políticos, registrada em
ata de convenção entre 20 de julho e 5 de agosto do ano eleitoral. Esta ata é registrada em livro aberto
e rubricada pela Justiça Eleitoral (art. 8º da LE).
Durante a convenção partidária, é possível delegar à Comissão Executiva ou a outro órgão partidário
a formação da coligação ou a escolha de candidatos, até 5 de julho do ano da eleição (TSE, Respe
26.763, J. 21/9/2006).
Independentemente da homologação pela Justiça Eleitoral, a coligação existe a partir do acordo de
vontade dos partidos políticos (TSE, Respe 25015, DJ 30/9/2005).
Após a formação da coligação, os partidos perdem sua autonomia no processo eleitoral perante a
Justiça Eleitoral. A coligação, então, assume uma natureza de "superpartido", com prerrogativas e
obrigações, e somente os representantes da coligação podem agir perante a Justiça Eleitoral (STF,
30260, DJE 29/8/2011).
Legitimidade de Atuação
Os partidos coligados não têm legitimidade para atuar isoladamente na Justiça Eleitoral (TSE, Respe
21970, Publicado em sessão de 18/9/2004). No entanto, podem questionar a validade da própria
coligação durante o período entre a convenção e o prazo final para impugnação do registro de
candidatos (art. 6º, § 4º, da LE).
Esta limitação de atuação isolada inicia-se com a formação da coligação e termina após o dia da
eleição. Após esse período, os partidos podem atuar individualmente (TSE, Respe 25547, DJ
21/2/2007).
Efeitos Pós-Eleição
Após a eleição, os efeitos da coligação continuam a existir, determinando a ordem de ocupação dos
cargos e o exercício dos mandatos conquistados (STF, 30260, DJE 29/8/2011).
No entanto, esses efeitos não eliminam a natureza transitória da coligação, que se extingue
automaticamente com o fim do pleito, exceto em casos específicos. No entanto, a Justiça Eleitoral
deve evitar o desfazimento intempestivo de coligações sem seguir as regras de substituição de
candidatos, para proteger os direitos dos candidatos e a integridade das eleições.
Proibição de Coligações Proporcionais
A Emenda Constitucional nº 97/2017 proibiu coligações para eleições proporcionais, admitindo-as
apenas para as eleições de presidente, governador, prefeito e senador da república. O artigo 6º da Lei
nº 9.504/1997 permite aos partidos políticos formar coligações para eleições majoritárias dentro da
mesma circunscrição.
Verticalização de Coligações
Antes da EC 97/2017, havia uma regra de verticalização de coligações, onde os partidos que
formavam uma coligação para a eleição presidencial não podiam formar coligações diferentes para
outras eleições. No entanto, essa regra foi revogada pela EC 52/2006.
Essas são as principais considerações sobre coligações, desde sua formação até seus efeitos após
as eleições.
ESCOLHA EM CONVENÇÃO PARTIDÁRIA
A escolha dos candidatos para concorrerem às eleições ocorre mediante convenção partidária, uma
assembleia realizada pelos partidos políticos conforme as normas do estatuto partidário. Essas
convenções não apenas definem os candidatos, mas também proporcionam um espaço para
discussão sobre os rumos do partido e a possível formação de coligações, fundamentais para a
estratégia política em uma eleição.
Todos os candidatos devem ser escolhidos em convenção partidária, já que a filiação partidária é
uma das condições de elegibilidade estabelecidas pela Constituição. Não há candidaturas avulsas, o
que ressalta a importância desse processo interno para a democracia representativa.
As convenções partidárias ocorrem em três níveis da federação:
• Nacional: destinada a escolher os candidatos a presidente, vice-presidente e deliberar sobre
coligações em âmbito nacional.
• Estadual: responsável pela escolha dos candidatos a governador, vice-governador, deputado
federal, deputado estadual e senador, além de discutir coligações estaduais.
• Municipal: voltada para a definição dos candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador, e
também para deliberar sobre coligações municipais.
PRAZO DE REALIZAÇÃO
As convenções devem ser realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto do ano eleitoral. Esse período foi
estabelecido para garantir que as decisões partidárias ocorram com antecedência suficiente para a
organização do pleito. Após a convenção, a ata deve ser lavrada e publicada para garantir
transparência e dar publicidade às deliberações.
É importante ressaltar que após 5 de agosto não são permitidas alterações na composição das
coligações nem substituiçõesde candidatos, salvo em casos excepcionais previstos em lei.
PROCEDIMENTOS
Os procedimentos das convenções devem seguir as normas do estatuto do partido. Na ausência
dessas normas, o órgão de direção nacional do partido estabelece os procedimentos, publicando-os
no Diário Oficial da União até 180 dias antes das eleições. Esses procedimentos incluem o quórum
de abertura da convenção, o quórum de aprovação de suas decisões, quem pode votar e outros
aspectos organizacionais.
Nas convenções, além da escolha dos candidatos, define-se se haverá formação de coligação. Em
algumas situações excepcionais, a convenção pode delegar essa decisão a um órgão do partido,
desde que a decisão final seja tomada até 5 de julho, data limite para o registro de candidaturas.
ANULAÇÃO DE CONVENÇÃO PARTIDÁRIA
Se uma convenção municipal decidir de forma contrária ao que foi estabelecido pela convenção
nacional ou pelo órgão de direção nacional, o último pode anular a deliberação e os atos dela
decorrentes, não sendo necessário convocar outra convenção nacional para isso. A anulação deve
ser comunicada à Justiça Eleitoral em até 30 dias após o prazo final para registro de candidatos.
Se novos candidatos precisarem ser escolhidos após a anulação, o pedido de registro deve ser feito à
Justiça Eleitoral em até 10 dias após o fato, permitindo o registro mesmo após o prazo final
estabelecido.
CANDIDATURA NATA
A chamada "candidatura nata", que garantia a detentores de mandato o direito ao registro de
candidatura para o mesmo cargo pelo partido, foi declarada inconstitucional pelo STF por violar
princípios constitucionais como a autonomia partidária e a isonomia entre candidatos. Essa decisão
fortaleceu os princípios democráticos ao nivelar as condições de disputa entre todos os postulantes
a cargos eletivos.
UTILIZAÇÃO DE PRÉDIOS PÚBLICOS
Os partidos podem utilizar prédios públicos gratuitamente para realizar suas convenções, e essa
possibilidade se estende a eventos similares relacionados à atividade partidária. Em caso de danos
decorrentes desses eventos, os partidos são responsáveis por repará-los, demonstrando a
responsabilidade que acompanha o exercício da democracia e da participação política.
REGISTRO DE CANDIDATURA:
NATUREZA JURÍDICA
O processo de registro de candidatura é um procedimento administrativo que estabelece uma
relação jurídica entre o requerente, aquele que deseja se candidatar, e o órgão da Justiça Eleitoral
responsável pela análise do pedido. Este órgão pode ser um juiz eleitoral, para cargos de prefeito ou
vereador; um Tribunal Regional Eleitoral, para deputados estaduais, federais, senadores ou
governadores; e o TSE, para a presidência da República. O Supremo Tribunal Federal (STF), na Ação
Originária n. 510 de 26/8/1998, confirmou a natureza administrativa do pedido de registro de
candidatura. No entanto, esse procedimento pode adquirir uma dimensão judicial caso haja
impugnação ao pedido, o que altera a relação jurídica para uma natureza angular, tornando a questão
judicial. Esta transformação é evidenciada pela inclusão da impugnação nos autos do pedido de
registro de candidatura, com reautuação para constar na capa do processo os nomes do impugnante
e do impugnado. Portanto, o registro de candidatura começa como um processo administrativo e
pode assumir um caráter judicial durante sua tramitação, dependendo da presença de impugnações.
REQUISITOS
O pedido de registro de candidatura é feito pelo partido ou coligação após as convenções partidárias,
e deve ser instruído com diversos documentos, incluindo a ata da convenção, autorização do
candidato, prova de filiação partidária, declaração de bens, título eleitoral, certidão de quitação
eleitoral, certidões criminais, fotografia do candidato e propostas defendidas pelo candidato.
PRAZO PARA REGISTRO DE CANDIDATURA
Os partidos e coligações devem solicitar o registro de seus candidatos até as dezenove horas do dia
15 de agosto do ano eleitoral. Caso o partido ou coligação não solicite o registro, os candidatos
podem fazê-lo perante a Justiça Eleitoral nas 48 horas seguintes à publicação da lista dos candidatos
que tiveram seus pedidos requeridos pelos partidos políticos.
DA QUANTIDADE DE CANDIDATOS
Cada partido pode registrar até 100% do número de lugares a preencher mais 1 (um) para cargos de
deputados, vereadores, e outros, em todas as esferas da federação. Se as convenções não indicarem
o número máximo de candidatos, os órgãos de direção dos partidos podem preencher as vagas
remanescentes até sessenta dias antes do pleito.
DO PERCENTUAL DE VAGAS DE CADA SEXO
Os partidos devem preencher no mínimo 30% e no máximo 70% das vagas com candidatos de cada
sexo, observando o número efetivo de candidatos apresentados.
IDENTIFICAÇÃO DOS CANDIDATOS
A identificação dos candidatos é feita tanto nominal quanto numericamente, seguindo critérios
estabelecidos pela legislação eleitoral.
SUBSTITUIÇÃO DE CANDIDATOS
A substituição de candidatos pode ocorrer em determinadas circunstâncias, como indeferimento do
registro, cassação, renúncia ou falecimento, seguindo prazos e procedimentos estabelecidos pela
legislação eleitoral.
AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO DE REGISTRO DE CANDIDATOS (AIRC)
Após a publicação do edital com a relação dos pré-candidatos, inicia-se o prazo de cinco dias para
impugnação da candidatura, por meio da AIRC, um instrumento processual que visa ao
indeferimento do registro de candidatura. São legitimados para propor a AIRC o Ministério Público, os
partidos políticos, as coligações e os próprios candidatos. A AIRC é processada perante a Justiça
Eleitoral e segue um rito específico, com prazos e procedimentos estabelecidos em lei.
CANCELAMENTO DO REGISTRO
O cancelamento do registro de candidatura pode ocorrer caso o candidato seja expulso do partido,
após processo com garantia de ampla defesa e observância das normas estatutárias, mediante
solicitação do partido e decisão da Justiça Eleitoral.
PROPAGANDA ELEITORAL
A propaganda eleitoral é uma ferramenta crucial onde partidos políticos e candidatos buscam
conquistar votos do eleitorado para eleger representantes nos cargos eletivos. É por meio dela que se
demonstra ao eleitorado quem é o candidato mais qualificado para ocupar determinada posição em
disputa. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, propaganda eleitoral constitui um ato que visa
divulgar a candidatura, a ação política ou as razões que sugerem que o beneficiário seja o mais apto
para a função pública (AI n. 9936, DJe de 5/8/2010).
Distinta da propaganda partidária, que aborda a história, missão, valores e programas do partido
político, a propaganda eleitoral foca nos candidatos e em seus projetos individuais para convencer os
eleitores a votarem neles.
Além disso, difere da propaganda intrapartidária, onde o foco está nos filiados do partido com direito
a voto para escolher o candidato em convenção, e só pode ocorrer nos quinze dias que antecedem
essas convenções.
Regulada pelo Código Eleitoral (art. 240 a 256) e pela Lei das Eleições (art. 36 a 57, alterados pelas
Leis n. 11.300/2006 e n. 12.034/2009), a propaganda eleitoral é um direito dos partidos, coligações e
candidatos, sujeito a restrições e sanções legais, mas que deve ser exercido dentro dos limites
estabelecidos pela legislação.
PROPAGANDAS ELEITORAIS VEDADAS
O Código Eleitoral lista diversos tipos de conteúdos que não podem ser veiculados na propaganda
eleitoral, incluindo mensagens de guerra, incitação à violência, desobediência à lei, oferta de
vantagens financeiras, perturbação do sossego público, entre outros.
PROPAGANDA ELEITORAL – PODER DE POLÍCIA
A propaganda eleitoral está sujeita ao controle da Justiça Eleitoral, que fiscaliza e aplica sanções para
punir irregularidades. O poder de polícia sobre a propaganda eleitoral é exercido pelos juízes
eleitorais e pelos juízes designados pelos Tribunais Regionais Eleitorais. Essepoder se restringe a
tomar medidas para inibir práticas ilegais, sem censura prévia sobre o conteúdo dos programas a
serem exibidos na televisão, rádio ou internet.
PERÍODO DE REALIZAÇÃO DA PROPAGANDA ELEITORAL
A propaganda eleitoral só é permitida após 15 de agosto do ano da eleição e deve ser encerrada 48
horas antes do pleito, exceto em caso de segundo turno, onde pode começar 24 horas após o
primeiro turno.
IDENTIFICAÇÃO E IDIOMA
Toda propaganda eleitoral deve mencionar a legenda partidária e ser feita em língua nacional, sem
utilizar meios publicitários para manipular as emoções do público.
PROPAGANDA EXTEMPORÂNEA
A propaganda eleitoral antes de 16 de agosto do ano das eleições é considerada extemporânea e
sujeita a multa, exceto em casos específicos como menção à pretensa candidatura, exaltação das
qualidades pessoais dos pré-candidatos, entre outros atos permitidos pela lei.
PROPAGANDA IRREGULAR
Propaganda irregular ocorre quando as regras da legislação eleitoral são violadas, sem configurar
crime. Exemplos incluem propaganda extemporânea e propaganda eleitoral fora dos limites legais.
PROPAGANDA EM BEM PÚBLICO E DE USO COMUM
A propaganda em bens públicos e de uso comum é proibida, incluindo postes, sinais de tráfego,
viadutos, entre outros. Há multas para violações dessas regras.
PROPAGANDA EM BEM PARTICULAR E PÚBLICO
A propaganda em bens públicos e de uso particular é restrita, exceto em situações específicas como
o uso de bandeiras ao longo de vias públicas e adesivos em automóveis.
PROPAGANDA NAS DEPENDÊNCIAS DO LEGISLATIVO
A veiculação de propaganda eleitoral nas dependências do Poder Legislativo fica a critério da Mesa
Diretora, mas a Justiça Eleitoral verifica o cumprimento das regras eleitorais.
PROPAGANDA EM VEÍCULOS AUTOMOTORES
A propaganda em veículos automotores é permitida mediante adesivos microperfurados e faixas,
desde que não ultrapassem certas dimensões e não sejam veiculadas de forma sonora.
PROPAGANDA EM MEIOS ELETRÔNICOS
A propaganda eleitoral na internet é regulada pela Lei n. 12.034/2009, que estabelece as regras para
divulgação de sites de candidatos e partidos, além de proibir a venda de espaço publicitário em sites
não autorizados.
PROPAGANDA NO RÁDIO E NA TELEVISÃO
A propaganda eleitoral no rádio e na televisão é gratuita e regulada pela Lei n. 9.504/1997, que
estabelece a divisão do tempo entre os partidos políticos e coligações, com base na representação
na Câmara dos Deputados.
PROPAGANDA EM JORNAIS E REVISTAS
A propaganda em jornais e revistas é permitida mediante pagamento de valores previamente
estipulados, sendo proibida a veiculação de notícias pagas como se fossem matérias jornalísticas.
PROPAGANDA EM BANDEIRAS, BANDEIRÕES E BONECOS
A propaganda em bandeiras, bandeirões e bonecos é permitida desde que móveis e não atrapalhem
o trânsito de pessoas e veículos.
PROPAGANDA EM PANCARTAS
A propaganda em cartazes é permitida em bens particulares desde que móveis, sem infração às leis
de trânsito, e obedecendo a legislação local.
PROPAGANDA EM CARROS DE SOM
A propaganda em carros de som é permitida desde que observadas as regras da legislação local e
respeitado o limite de decibéis estabelecido pela legislação.
PROPAGANDA EM COMÍCIOS
Os comícios são permitidos até a véspera da eleição e devem observar as regras da legislação local
quanto a horário, localização e respeito à ordem pública.
PROPAGANDA NA MÍDIA ALTERNATIVA
A propaganda em mídia alternativa, como panfletos e adesivos, é permitida desde que respeitadas as
regras da legislação local.
PROPAGANDA ELEITORAL NEGATIVA
A propaganda eleitoral negativa é permitida, mas sujeita à comprovação de fatos e vedada a
disseminação de informações caluniosas ou difamatórias.
PROPAGANDA ELEITORAL MEDIANTE A DISTRIBUIÇÃO DE BENS OU VANTAGENS
Na campanha eleitoral, é vedada a confecção, utilização, distribuição por comitê, candidato, ou com
a sua autorização, de camisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes, cestas básicas ou quaisquer
outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor. Logo, a distribuição de
objetos que não tragam vantagens ao eleitor não está incluída na vedação legal. Pode-se, por
exemplo, distribuir “santinhos” com a imagem de candidato. Não se pode, por sua vez, impedir o
cidadão de expressar-se e manifestar-se. Dessa forma, desde que por conta própria e para seu uso, o
eleitor poderá confeccionar bandeiras, broches, dísticos e adesivos (art. 39-A, Lei n. 9.504/1997).
Embora seja possível o eleitor portar os objetos retromencionados, é vedada, no dia do pleito, até o
término do horário de votação, a aglomeração de pessoas portando vestuário padronizado, de modo
a caracterizar manifestação coletiva, com ou sem utilização de veículos (§ 1º, art. 39-A, Lei n.
9.504/1997).
PROPAGANDA MEDIANTE PANFLETAGEM
Independe da obtenção de licença municipal e de autorização da Justiça Eleitoral a veiculação de
propaganda eleitoral pela distribuição de folhetos, adesivos, volantes e outros impressos, os quais
devem ser editados sob a responsabilidade do partido, coligação ou candidato. Todo material
impresso de campanha eleitoral deverá conter o número de inscrição no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica – CNPJ ou o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF do
responsável pela confecção, bem como de quem a contratou, e a respectiva tiragem (§ 1º, art. 38, Lei
das Eleições). É possível que panfletos, folhetos e volantes contenham propaganda eleitoral
conjunta. Quando o material impresso veicular propaganda conjunta de diversos candidatos, os
gastos relativos a cada um deles deverão constar na respectiva prestação de contas, ou apenas
naquela relativa ao que houver arcado com os custos (§ 2º, art. 38, Lei n. 9.504/1997). A distribuição
de propaganda eleitoral mediante panfletos é livre desde a data do início da propaganda até a
véspera da eleição. No que se refere aos adesivos, eles poderão ter a dimensão máxima de 50
centímetros por 40 centímetros.
PROPAGANDA NA INTERNET
A propaganda eleitoral na internet é permitida após o dia 5 de julho do ano da eleição. Trata-se de
inovação introduzida pela Lei n. 12.034/2009. Estas são as novas disposições acerca da propaganda
eleitoral na internet: Art. 57-A. É permitida a propaganda eleitoral na internet, nos termos desta Lei,
após o dia 15 de agosto do ano da eleição. (Redação dada pela Lei n. 13.165, de 2015) Art. 57-B. A
propaganda eleitoral na internet poderá ser realizada nas seguintes formas: (Incluído pela Lei n.
12.034, de 2009) (Vide Lei n. 12.034, de 2009) I - em sítio do candidato, com endereço eletrônico
comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de
internet estabelecido no País; (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009) II - em sítio do partido ou da
coligação, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou
indiretamente, em provedor de serviço de internet estabelecido no País; (Incluído pela Lei n. 12.034,
de 2009) III - por meio de mensagem eletrônica para endereços cadastrados gratuitamente pelo
candidato, partido ou coligação; (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009) IV – por meio de blogs, redes
sociais, sítios de mensagens instantâneas e assemelhados, cujo conteúdo seja gerado ou editado
por candidatos, partidos ou coligações ou de iniciativa de qualquer pessoa natural. (Incluído pela Lei
n. 12.034, de 2009)
UTILIZAÇÃO DE SÍMBOLOS DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E IMAGENS DE EMISSORAS DE
TELEVISÃO, RÁDIO, JORNAL E REVISTA EM PROPAGANDA ELEITORAL
A utilização, em propaganda eleitoral, de símbolos de órgãos oficiais internacionais, de organismos
nacionais de promoção e defesa das relações de trabalho, de empresas públicas, de concessionárias
de serviço público e de empresas públicas de capital misto depende de autorização expressa da
respectiva entidade. Ademais, é vedada a veiculação de propaganda queimplique oferecimento,
promessa ou solicitação de dinheiro, dádiva, rifa, sorteio ou vantagem de qualquer natureza, exceto
para a realização de despesas de campanha eleitoral, desde que comprovadas na prestação de
contas (art. 39, § 6º, da Lei das Eleições). Não se admite também a veiculação de propaganda
eleitoral que possa depreciar ou ridicularizar candidatos, sujeitando-se o infrator à multa no valor de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), ou ao equivalente ao custo da
propaganda, se este for maior (art. 57-C da Lei das Eleições).
CONDUTAS VEDADAS A AGENTES PÚBLICOS
Com o propósito de preservar a integridade das eleições, assegurar a igualdade de oportunidades
aos candidatos e evitar possíveis abusos de poder político, a Lei das Eleições estabeleceu uma série
de ações proibidas aos agentes públicos. Em particular, diante da perspectiva de reeleição para
ocupantes de cargos no Executivo, tornou-se essencial enumerar um conjunto de condutas que
poderiam distorcer o resultado das eleições.
As condutas vedadas aos agentes públicos são definidas nos artigos 73 a 78 da Lei das Eleições.
CONCEITO DE AGENTE PÚBLICO
Para efeitos da proibição de certas condutas durante o processo eleitoral, considera-se agente
público qualquer indivíduo que exerça, ainda que temporariamente ou sem remuneração, por meio
de eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
um mandato, cargo, emprego ou função em órgãos ou entidades da administração pública direta,
indireta ou fundacional (parágrafo 1º do artigo 73 da Lei das Eleições).
ROL DE CONDUTAS VEDADAS
Durante a campanha eleitoral, é vedado aos agentes públicos:
• Ceder ou utilizar, em favor de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis
pertencentes à administração direta ou indireta da União, estados, Distrito Federal, territórios
e municípios, exceto para realização de convenção partidária. Esta proibição não se aplica ao
uso de transporte oficial pelo presidente da República, devendo o partido político reembolsar
os gastos, nem ao uso das residências oficiais pelos candidatos à reeleição para presidente,
vice-presidente, governador, vice-governador, prefeito e vice-prefeito, para contatos de
campanha, desde que não tenham caráter público.
• Utilizar materiais ou serviços custeados pelos governos ou Casas Legislativas que excedam as
prerrogativas definidas nos regimentos e normas dos órgãos em questão.
• Ceder servidores públicos ou empregados da administração direta ou indireta para comitês de
campanha eleitoral durante o horário de expediente normal, exceto se estiverem licenciados.
• Promover ou permitir uso promocional, em favor de candidato, partido político ou coligação,
de distribuição gratuita de bens e serviços sociais custeados pelo Poder Público.
• Realizar diversas ações relacionadas à nomeação, contratação, exoneração ou remoção de
servidores públicos durante o período que antecede as eleições.
• Efetuar transferência voluntária de recursos da União aos estados e municípios, exceto em
casos específicos.
• Autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos
órgãos públicos, salvo em situações de grave e urgente necessidade pública reconhecida pela
Justiça Eleitoral.
• Fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão fora do horário eleitoral gratuito, exceto
em casos urgentes e relevantes característicos das funções de governo.
• Empenhar despesas com publicidade que excedam limites pré-estabelecidos durante o ano
de eleição.
• Realizar revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da
perda de poder aquisitivo ao longo do ano eleitoral.
• Distribuir gratuitamente bens, valores ou benefícios pela Administração Pública, salvo em
situações de calamidade pública, emergência ou programas sociais autorizados em lei e já em
execução orçamentária no ano anterior à eleição.
No ano eleitoral, a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios pela Administração Pública é
proibida, exceto em circunstâncias específicas.
SANÇÕES
Se um agente público em campanha eleitoral cometer uma das ações proibidas, o ato deve ser
imediatamente suspenso, quando aplicável, e os responsáveis estarão sujeitos a multa. Além disso,
o candidato beneficiado, seja ou não agente público, pode ter seu registro ou diploma cassado.
A Lei das Eleições estipula que a prática dessas condutas proibidas constitui ato de improbidade
administrativa, sujeitando o infrator à perda do cargo público e à suspensão dos direitos políticos. No
entanto, a aplicação dessas penalidades não é de competência da Justiça Eleitoral e depende do
ajuizamento de uma ação específica perante o juiz competente.
Essas sanções podem ser aplicadas cumulativamente, e no caso de multa, em caso de reincidência,
a mesma será duplicada. Se o beneficiado for um partido político, ele será excluído da distribuição
das cotas do fundo partidário.
ABUSO DE PODER E CORRUPÇÃO NO PROCESSO ELEITORAL
No contexto político, a integridade das eleições é uma pedra angular da democracia. É através do
processo eleitoral que os cidadãos exercem seu direito fundamental de escolher seus representantes
e influenciar o curso de suas sociedades. No entanto, esse processo pode ser comprometido por
práticas como o abuso de poder e a corrupção, que distorcem a vontade popular e minam a
legitimidade das instituições democráticas.
ABUSO DO PODER POLÍTICO
O abuso do poder político é uma das formas mais insidiosas de corrupção eleitoral. Consiste no uso
indevido de recursos e influência por parte de detentores de cargos públicos para favorecer
determinados candidatos ou partidos políticos. Isso pode incluir desde a utilização da máquina
administrativa para promover campanhas eleitorais até a coação de eleitores através de ameaças ou
favores. O impacto desse tipo de abuso é profundo, minando a igualdade de oportunidades entre os
concorrentes e comprometendo a representatividade do processo democrático.
ABUSO DO PODER ECONÔMICO
O abuso do poder econômico é outra faceta preocupante da corrupção eleitoral. Refere-se ao uso
excessivo de recursos financeiros para influenciar o resultado das eleições, muitas vezes através de
práticas como compra de votos, financiamento ilegal de campanhas e manipulação de informações.
O poder econômico pode ser utilizado para distorcer o debate público, minar a concorrência justa
entre os candidatos e perpetuar desigualdades socioeconômicas no processo político.
ABUSO DE PODER NO USO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Os meios de comunicação desempenham um papel crucial na formação da opinião pública e na
divulgação de informações relevantes durante as eleições. No entanto, quando esses meios são
controlados por interesses políticos ou econômicos, podem ser utilizados de forma abusiva para
manipular a percepção do eleitorado e favorecer determinados candidatos ou partidos. O monopólio
da mídia, a disseminação de notícias falsas e a censura são algumas das maneiras pelas quais o
poder dos meios de comunicação pode ser mal utilizado para influenciar o processo eleitoral.
INSTRUMENTOS PARA COMBATER O ABUSO DE PODER NO PROCESSO ELEITORAL
Para combater o abuso de poder e a corrupção no processo eleitoral, são necessários mecanismos
eficazes de supervisão, fiscalização e punição. Isso inclui a aplicação rigorosa da legislação eleitoral,
a investigação imparcial de denúncias de irregularidades e a garantia de transparência e integridade
em todas as etapas do processo eleitoral. Além disso, é fundamental promover a conscientização
pública sobre os riscos do abuso de poder e a importância da participação cívica na defesa da
democracia. Somente através de um esforço conjunto da sociedade civil, das autoridades eleitorais e
dos órgãos de controle será possível proteger a integridade das eleições e fortalecer as instituições
democráticas.idade mínima prevista em lei.
10. Espécies de Alistamento
• Alistamento Obrigatório: Todos os cidadãos que preencham os requisitos previstos em lei
são obrigados a se alistar como eleitores.
• Alistamento Facultativo: Em certos casos, o alistamento eleitoral é facultativo, como para os
analfabetos, os maiores de setenta anos e os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito
anos.
• Alistamento Vedado: Há também casos em que o alistamento é vedado, como para os
conscritos durante o serviço militar obrigatório.
Elegibilidade: Requisitos e Condições para Concorrer a Cargos Públicos
1. Introdução
O direito à elegibilidade é essencial para aqueles que desejam concorrer a cargos públicos eletivos.
Ele se classifica como um direito político passivo, decorrente da capacidade eleitoral passiva, e está
sujeito a certas condições e requisitos estabelecidos na Constituição Federal.
2. Condições de Elegibilidade
As condições de elegibilidade estão definidas no art. 14, § 3º, da Constituição Federal e incluem:
• Nacionalidade brasileira;
• Pleno exercício dos direitos políticos;
• Alistamento eleitoral;
• Domicílio eleitoral na circunscrição;
• Filiação partidária;
• Idade mínima, variando de acordo com o cargo almejado.
3. Norma Constitucional e Efetividade
Essa norma constitucional é considerada de eficácia contida, o que significa que desde a
promulgação da Constituição, qualquer cidadão que deseje se candidatar a cargos eletivos deve
atender a esses requisitos. No entanto, o legislador ordinário pode estabelecer novos critérios para o
exercício do direito político passivo.
4. Distinção entre Condições de Elegibilidade e Inelegibilidades
É importante não confundir as condições de elegibilidade com as inelegibilidades. Enquanto as
condições de elegibilidade são requisitos que devem ser preenchidos para concorrer a eleições, as
inelegibilidades são impedimentos que podem surgir mesmo que todas as condições de
elegibilidade sejam atendidas.
5. Nacionalidade Brasileira
A nacionalidade brasileira é o primeiro requisito de elegibilidade listado na Constituição Federal. Isso
significa que apenas os brasileiros podem participar do processo eleitoral como candidatos, com
exceções específicas para os naturalizados em relação a certos cargos.
6. Alistamento Eleitoral
O alistamento eleitoral é outra condição fundamental de elegibilidade. Apenas cidadãos previamente
inscritos no cadastro eleitoral podem concorrer a cargos eletivos.
7. Pleno Gozo dos Direitos Políticos
A plenitude dos direitos políticos é crucial para a elegibilidade. Isso implica que o cidadão não pode
estar sujeito a nenhuma das hipóteses de perda ou suspensão desses direitos para concorrer a
cargos públicos.
8. Domicílio Eleitoral
O domicílio eleitoral define o local da candidatura e do exercício dos direitos políticos do cidadão. Ele
não se confunde necessariamente com o domicílio civil e pode ser mais flexível, considerando os
vínculos políticos, sociais e afetivos do candidato com o município.
Princípios Eleitorais
Os princípios eleitorais são fundamentais para orientar a aplicação das regras eleitorais e garantir a
democracia. Eles incluem a democracia, moralidade eleitoral, democracia partidária, sufrágio
universal, liberdade de organização partidária, fidelidade partidária, lisura das eleições,
aproveitamento do voto e anterioridade eleitoral.
Democracia
A democracia é essencial para os Estados modernos, garantindo que o poder pertença ao povo. No
Brasil, a Constituição Federal busca estabelecer um regime democrático genuíno.
Princípio da Moralidade Eleitoral
Este princípio visa proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício de cargos eletivos.
A Lei da Ficha Limpa é um exemplo de legislação que promove a moralidade eleitoral.
Princípio da Democracia Partidária
Os partidos políticos têm um papel crucial na democracia brasileira, representando os interesses dos
cidadãos e protegendo os direitos fundamentais. A filiação partidária é condição para candidatura.
Princípio do Sufrágio Universal
O sufrágio universal garante o direito de votar e ser votado, sem discriminação, contribuindo para a
formação da vontade estatal.
Princípio da Liberdade de Organização Partidária
Os partidos políticos têm autonomia para definir sua estrutura interna e funcionamento, desde que
respeitem princípios democráticos.
Princípio da Fidelidade Partidária
Os eleitos devem agir de acordo com os princípios e ideais de seus partidos, sob pena de perderem
seus mandatos em caso de desfiliação injustificada.
Princípio da Lisura das Eleições
As eleições devem ser livres de corrupção e fraude, garantindo igualdade de oportunidades para
todos os candidatos.
Princípio do Aproveitamento do Voto
Visa preservar a soberania popular, permitindo a convalidação de nulidades que não afetem a
vontade do eleitor.
Princípio da Anterioridade Eleitoral
Garante estabilidade jurídica ao processo eleitoral, impedindo mudanças casuísticas que possam
prejudicar a igualdade de participação dos envolvidos nas eleições.
Justiça Eleitoral: Estrutura e Funções
A Justiça Eleitoral é um braço especializado do Poder Judiciário, composta por órgãos colegiados e
monocráticos, com competência para resolver questões eleitorais em todo o país. Seus principais
órgãos são o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), as Juntas
Eleitorais e os Juízes Eleitorais.
Composição:
• TSE: Órgão superior com jurisdição em todo o território nacional, composto por ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF), do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e advogados.
• TREs: Atuam nos estados e no Distrito Federal, compostos por membros do Tribunal de
Justiça local e por advogados.
• Juntas Eleitorais: Responsáveis pela organização das eleições em cada município,
compostas por um juiz de direito e cidadãos designados.
• Juízes Eleitorais: Responsáveis pela condução de processos eleitorais em suas respectivas
zonas.
Características:
• Jurisdição Especializada: Julga litígios eleitorais com caráter definitivo.
• Inexistência de Magistratura Própria: É formada por juízes de outros ramos do Poder
Judiciário.
• Funcionamento Permanente: Além das eleições, executa funções administrativas
relacionadas aos pleitos.
• Divisão Territorial Própria: Organiza-se em circunscrições, zonas e seções eleitorais para o
exercício da jurisdição.
Funções:
• Jurisdicional: Julga conflitos relacionados ao Direito Eleitoral.
• Administrativa: Responsável pela organização e administração das eleições e do cadastro de
eleitores.
• Consultiva: Responde consultas sobre matéria eleitoral.
• Regulamentar: Pode expedir instruções sobre a execução das leis eleitorais, respeitando o
princípio da legalidade.
Tribunal Superior Eleitoral (TSE):
• Órgão máximo da Justiça Eleitoral, com jurisdição em todo o país.
• Composição mínima de sete membros, incluindo ministros do STF, do STJ e advogados.
• Escolha dos ministros provenientes dos tribunais superiores por eleição e dos advogados por
nomeação do Presidente da República, a partir de lista tríplice elaborada pelo STF.
Tribunal Regional Eleitoral
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) é órgão colegiado de 2ª instância da Justiça Eleitoral, com
jurisdição em todo o território do respectivo estado ou do Distrito Federal, conforme determinado
pelo art. 120 da Constituição Federal.
Jurisdição e Sede do TRE
Em cada estado da Federação e no Distrito Federal há um Tribunal Regional Eleitoral, estabelecendo-
se assim a sua jurisdição.
Composição do TRE
O TRE é composto por sete juízes, com uma composição denominada de mista ou eclética, de
acordo com o art. 120, § 1º, da CF. Este órgão inclui juízes do Poder Judiciário da União (Juiz Federal),
do Poder Judiciário Estadual (desembargadores e juízes de Direito) e da classe dos advogados.
Processo de Escolha de Membros do TRE
O processode escolha dos membros do TRE é detalhado e distingue-se de acordo com a origem dos
juízes:
• Escolha de Juízes do TRE das Classes de Desembargador (TJ) e Juiz de Direito (JE):
Realizada por eleição secreta no Tribunal de Justiça, sem participação do Presidente da
República. Os juízes substitutos são escolhidos da mesma forma.
• Escolha de Membros do TRE da Classe do TRF (JF): Realizada pelo Tribunal Regional Federal
(TRF) ou pelo próprio juiz federal, sem eleição.
• Escolha de Membros do TRE da Classe dos Advogados: Compete ao presidente da
República nomear dois juízes do TRE entre seis advogados de notável saber jurídico e
idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça. O processo envolve uma lista tríplice
homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Vedação à Escolha dos Membros do TRE
As vedações para a escolha dos membros do TRE incluem restrições relacionadas a parentesco,
cargos públicos demissíveis ad nutum, vínculos com empresas beneficiadas por contratos com a
administração pública e o exercício de mandatos políticos.
O processo de escolha dos membros do TRE é cuidadosamente regulamentado para garantir a
imparcialidade e a competência do órgão na condução dos assuntos eleitorais em sua jurisdição.
TRE: Definição dos Cargos e Temporalidade dos Membros
• Cargos no TRE: Presidente e vice-presidente são desembargadores do TJ, enquanto a escolha
do corregedor-regional eleitoral depende do regimento interno de cada TRE.
• Temporalidade no TRE: Os membros do TRE servem por dois anos, no mínimo, e nunca por
mais de dois biênios consecutivos, salvo exceções como afastamentos por candidaturas.
Juiz Eleitoral: Escolha e Competências
• Processo de Escolha: Designação pelo TRE, priorizando juízes de direito da Justiça Estadual,
podendo ser vitalícios ou não.
• Competências e Jurisdição: Responsável por uma zona eleitoral, sua atuação segue a mesma
lógica temporal dos membros do TRE.
Junta Eleitoral: Composição e Vedações
• Composição: Presidida por um juiz de direito, conta com dois ou quatro cidadãos, escolhidos
pelo presidente do TRE.
• Vedações: Membros da junta não podem ter parentesco com candidatos, estar em diretorias
partidárias, serem autoridades policiais ou pertencerem ao serviço eleitoral.
Competências da Justiça Eleitoral
• Funções Peculiares: Administrativa, consultiva, jurisdicional e regulamentar, com
competências definidas pelo Código Eleitoral, recepcionado como lei complementar pela
Constituição.
Competências da Justiça Eleitoral: Um Resumo
Fixação de Datas das Eleições
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) têm competências
específicas para fixar as datas das eleições, conforme estabelecido pela legislação.
Registro de Candidatura
O processo de registro de candidaturas é atribuído à Justiça Eleitoral, com competências divididas
entre o TSE, os TREs e os juízes eleitorais, dependendo da circunscrição da eleição.
Expedição de Diplomas
A expedição de diplomas para os candidatos eleitos é uma responsabilidade da Justiça Eleitoral,
realizada pelos órgãos competentes, como o TSE, os TREs e as juntas eleitorais.
Registro e Cancelamento de Diretórios de Partidos Políticos
A competência para o registro e cancelamento de diretórios de partidos políticos é atribuída aos
Tribunais Eleitorais, tanto em nível nacional quanto regional e municipal.
Conflitos de Jurisdição
Os conflitos de jurisdição dentro da Justiça Eleitoral são resolvidos conforme a legislação, com
competências definidas para evitar choques entre autoridades jurisdicionais.
Suspeição ou Impedimento
A análise de suspeição ou impedimento de autoridades na Justiça Eleitoral é realizada pelos tribunais
competentes, garantindo a imparcialidade e a transparência dos processos.
Afastamento de Exercício dos Cargos Efetivos de Juízes
Os procedimentos para o afastamento de membros da Justiça Eleitoral são regulamentados pela
legislação, com competências específicas para concessão e aprovação de afastamentos.
Crimes Cometidos por Membros da Justiça Eleitoral
A competência para julgar crimes cometidos por membros da Justiça Eleitoral varia conforme o tipo
de crime e a posição hierárquica do membro, sendo atribuída ao STF, STJ, TREs e juntas eleitorais.
Remédios Constitucionais: Mandado de Segurança e Habeas Corpus
Os remédios constitucionais são aplicáveis no contexto eleitoral, com competências determinadas
pela legislação e a natureza dos casos.
Alteração na Competência do Mandado de Segurança
Anteriormente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possuía competência para julgar mandados de
segurança contra atos do presidente da República e ministros de Estado. No entanto, essa
competência foi revogada, transferindo-a para outros órgãos. Agora, o Supremo Tribunal Federal (STF)
é competente para apreciar mandados de segurança contra atos do presidente da República,
enquanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julga os impetrados contra atos de ministros de Estado.
Competência do TRE para Mandado de Segurança
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) tem competência para julgar mandados de segurança contra atos
de seus membros. Essa competência abrange tanto os atos de natureza eleitoral quanto os
administrativos relacionados ao funcionamento do próprio tribunal.
Competência do Juiz Eleitoral para Mandado de Segurança
Quando o ato impugnado por meio de mandado de segurança é de competência do colegiado do
TRE, o juiz eleitoral é competente para julgar, diferenciando atos de natureza administrativa, que são
de competência do TRE, e atos de natureza eleitoral, que são de competência do TSE.
Mudança na Competência do Habeas Corpus
O habeas corpus em matéria eleitoral, que anteriormente era de competência do TSE, passou para o
STF. Assim, o STF é competente para julgar habeas corpus em que o paciente seja o presidente da
República ou ministros de Estado.
Pedido de Desaforamento
O pedido de desaforamento é uma medida utilizada na Justiça Eleitoral para requerer que o processo
seja submetido a julgamento por um órgão diverso daquele inicialmente competente, devido à
demora no julgamento. No entanto, seu uso é pouco frequente devido ao excesso de demanda no
Poder Judiciário.
Divisão ou Criação de Zonas Eleitorais
A divisão ou criação de zonas eleitorais nos estados segue um processo que envolve os TREs e o TSE.
Os TREs elaboram e encaminham propostas de criação ou alteração ao TSE, que as aprova. O juiz
eleitoral tem competência para proceder à divisão em seções eleitorais.
Requisição de Força Federal
A requisição de força federal, feita para garantir o cumprimento da lei, decisões judiciais ou a lisura
do pleito eleitoral, é uma prerrogativa exclusiva do TSE. Mesmo quando um TRE pretende fazer uso
dela, o pedido deve ser dirigido ao TSE, que encaminha ao Poder Executivo.
Consultas Eleitorais
A função consultiva da Justiça Eleitoral permite esclarecer dúvidas sobre matéria eleitoral. O TSE
responde consultas de autoridades públicas com jurisdição federal e partidos políticos nacionais,
enquanto os TREs respondem consultas de autoridades de qualquer nível e partidos regionais.
Recursos na Justiça Eleitoral
Os recursos das decisões dos juízes e juntas eleitorais são julgados pelos TREs, enquanto os
recursos das decisões dos TREs são julgados pelo TSE. As decisões do TSE são, em regra,
irrecorríveis, exceto quando contrariam a Constituição ou negam habeas corpus ou mandado de
segurança, nestes casos, podem ser impugnadas no STF.
Competências dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) no Brasil
Os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) desempenham um papel fundamental no sistema judiciário
brasileiro, especialmente no que diz respeito à organização e realização das eleições. Suas
competências abrangem uma série de atividades essenciais para garantir a lisura, transparência e
eficiência do processo eleitoral em todo o país. Abaixo, destacamosalgumas das principais
competências dos TREs:
Elaboração do Regimento Interno
Um dos primeiros passos dos TREs ao assumirem suas funções é a elaboração do regimento interno.
Esse documento estabelece as regras e procedimentos que orientarão o funcionamento do tribunal,
desde questões administrativas até aspectos processuais dos casos eleitorais.
Constituição das Juntas Eleitorais
Durante o período eleitoral, as juntas eleitorais desempenham um papel crucial na organização e
apuração dos votos. Os TREs têm a competência de constituir esses órgãos colegiados, que são
responsáveis por expedir os diplomas aos eleitos para cargos municipais, conferindo legitimidade ao
processo democrático.
Proposição ao Congresso Nacional
Os TREs têm o poder de propor ao Congresso Nacional a criação ou supressão de cargos na Justiça
Eleitoral. Essas propostas visam garantir uma estrutura organizacional adequada para o efetivo
funcionamento do sistema eleitoral, assegurando recursos humanos e materiais suficientes para
suas atividades.
Designação das Varas Eleitorais
A designação das varas eleitorais pelos TREs é essencial para distribuir de forma eficiente as
responsabilidades relacionadas ao serviço eleitoral em cada localidade. Essa atribuição permite uma
melhor organização das atividades judiciais, facilitando o acesso dos cidadãos aos serviços da
Justiça Eleitoral.
Aplicação de Penas Disciplinares
Os TREs têm competência para aplicar penas disciplinares aos juízes eleitorais que descumprirem
suas obrigações ou cometerem infrações. Essas medidas disciplinares visam garantir o bom
funcionamento do sistema judicial eleitoral e a confiança da sociedade no processo democrático.
Indicação ao Tribunal Superior
Por fim, os TREs indicam ao Tribunal Superior as zonas eleitorais onde a contagem dos votos deve ser
feita pelas mesas receptoras. Essa atribuição visa garantir uma distribuição equitativa e eficiente dos
recursos disponíveis, contribuindo para eleições transparentes e seguras em todo o país.
Essas competências dos Tribunais Regionais Eleitorais refletem o compromisso da Justiça Eleitoral
com os princípios democráticos e o Estado de Direito, garantindo a integridade do processo eleitoral
e a consolidação da democracia no Brasil.
Ministério Público Eleitoral: Instituição e Funcionamento
Instituição e Finalidades: O Ministério Público Eleitoral (MPE) é um órgão autônomo e independente,
com finalidades essenciais à ordem jurídica e ao regime democrático. Sua autonomia garante que
não esteja subordinado aos Poderes Executivo, Judiciário ou Legislativo, possibilitando o exercício
imparcial e livre de suas funções. Sua missão fundamental é zelar pela regularidade dos processos
eleitorais, assegurando a legitimidade do sistema democrático brasileiro.
Estrutura e Organização: O MPE divide-se em Ministério Público da União (MPU), que engloba
diversos órgãos, e Ministérios Públicos dos Estados. No MPU, o Procurador-Geral da República lidera
a instituição, sendo nomeado pelo Presidente da República após aprovação pelo Senado. Essa
estruturação garante uma atuação coordenada e eficaz em todo o território nacional.
Procurador-Geral Eleitoral: O Procurador-Geral Eleitoral é a autoridade máxima do MPE perante o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Seu mandato é de dois anos, podendo ser reconduzido, e é
responsável por representar o Ministério Público Eleitoral em questões de relevância nacional. Além
disso, designa o Vice-Procurador-Geral Eleitoral e outros membros do MPU para auxiliá-lo em suas
atribuições.
Procuradores Regionais Eleitorais: Os Procuradores Regionais Eleitorais atuam perante os Tribunais
Regionais Eleitorais (TREs), sendo designados pelo Procurador-Geral Eleitoral. Sua função é fiscalizar
a regularidade dos processos eleitorais em suas respectivas regiões, podendo requisitar membros do
Ministério Público dos estados para auxiliá-los nesse trabalho.
Promotores Eleitorais: Os Promotores Eleitorais desempenham suas funções na primeira instância
da Justiça Eleitoral, perante juízes e juntas eleitorais. São indicados pelo procurador-geral de justiça e
nomeados pelo procurador regional eleitoral. Sua atuação é essencial para garantir a lisura e a
transparência dos pleitos em âmbito municipal.
Alistamento Eleitoral: O alistamento eleitoral é o procedimento pelo qual um cidadão é admitido no
corpo eleitoral, garantindo-lhe o exercício do direito ao voto. É obrigatório para maiores de 18 anos,
facultativo para analfabetos, maiores de 16 e menores de 18 anos, e maiores de 70 anos. Sua
realização é regida por normas específicas estabelecidas na Constituição Federal, no Código
Eleitoral e em resoluções do Tribunal Superior Eleitoral.
Classificação e Legislação: A legislação eleitoral classifica o alistamento como obrigatório,
facultativo ou impedido, de acordo com as condições específicas de cada cidadão. Os critérios e
procedimentos para o alistamento estão delineados de forma clara e objetiva na legislação
pertinente, garantindo a igualdade e a universalidade do acesso aos direitos políticos.
IMPEDIMENTO DO ALISTAMENTO
Além de casos de alistamento obrigatório e facultativo, há também aqueles nos quais incide um
impedimento legal que inviabiliza o alistamento eleitoral. O primeiro impedimento se aplica aos
estrangeiros, os quais não podem se alistar como eleitores (art. 14, § 2º, da CF). No entanto, há uma
exceção. Havendo reciprocidade em Portugal, aos portugueses com residência habitual no Brasil há
mais de três anos, é permitido o alistamento eleitoral, mesmo sem naturalização. Cabe aqui lembrar
que o gozo de direitos políticos no Estado de residência importa na suspensão do exercício dos
mesmos direitos no Estado da nacionalidade. Assim, o português que se alistar no Brasil não pode
exercer, enquanto se beneficiar da reciprocidade, o mesmo direito em Portugal (art. 14, § 2º, da CF).
São também impedidos de se alistar como eleitores, durante o período militar obrigatório, os
conscritos. Para fins de impedimento de alistamento eleitoral, conscritos são:
a) brasileiro que, no ano que completa 18 anos, é selecionado para prestar o serviço militar
obrigatório, seja ele no Exército, na Marinha ou na Aeronáutica; b) os médicos, dentistas,
farmacêuticos e veterinários que não prestaram o serviço militar obrigatório em virtude de adiamento
de incorporação para a realização dos respectivos cursos superiores e, uma vez concluídos os seus
cursos de graduação, venham a prestar o serviço militar obrigatório; c) alunos dos órgãos de
formação de reserva, tais como o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) e o Núcleo de
Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR). O alcance da expressão “conscritos”, definido nas alíneas
“b” e “c”, é jurisprudencial.
Nesse sentido: Direto do TSE Jurisprudência – A palavra “conscrito” constante deste dispositivo
alcança também aqueles matriculados nos órgãos de formação de reserva e os médicos, dentistas,
farmacêuticos e veterinários que prestam serviço militar inicial obrigatório (Res. TSE n. 15.850/89).
De outro modo, são excluídos da abrangência da expressão “conscritos” e, portanto, podem se
alistar, os engajados no serviço militar, ou seja, aquele que, uma vez cumprido o período militar
obrigatório, decidiram continuar no serviço militar, além dos oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-
marinha, subtenentes ou suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino superior
para formação de oficiais.
Além desses dois casos de impedimento, a jurisprudência do TSE é pacífica ao afirmar a vedação ao
alistamento que se impõe em face da incapacidade absoluta nos termos da lei civil. Direto do TSE
Jurisprudência – Consoante o § 2º do artigo 14 da CF, a não alistabilidade como eleitores somente é
imputada aos estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, aos conscritos,
observada, naturalmente, a vedação que se impõe em face da incapacidadeabsoluta nos termos da
lei civil (TSE, PA n. 19.840/2010). Cumpre ainda informar que, recentemente, o TSE decidiu que a
vedação ao alistamento para os que não saibam exprimir-se na língua nacional, contida no art. 5º, II,
do CE, não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988.
Segundo o TSE: Jurisprudência – Vedado impor qualquer empecilho ao alistamento eleitoral que não
esteja previsto na Lei Maior, por caracterizar restrição indevida a direito político, há que afirmar a
inexigibilidade de fluência da língua pátria para que o indígena ainda sob tutela e o brasileiro possam
alistar-se eleitores. Declarada a não recepção do art. 5º, inciso II, do Código Eleitoral pela
Constituição Federal de 1988. (TSE, PA n. 19.840/2010).
CANCELAMENTO E EXCLUSÃO ELEITORAL
Hipóteses de Cancelamento da Inscrição Eleitoral
As inscrições eleitorais, por princípio, são definitivas. Contudo, o art. 71 do Código Eleitoral prevê
situações que podem ensejar o cancelamento da inscrição do eleitor.
Infração dos Artigos 5º e 42 do Código Eleitoral
A primeira hipótese de cancelamento da inscrição eleitoral está relacionada à infração dos artigos 5º
e 42 do Código Eleitoral. Ela alcança aqueles que infringirem o art. 5º, III, do CE, ou seja, os que
insistirem no alistamento mesmo privados temporária ou definitivamente dos direitos políticos, bem
como aqueles que se alistarem fora do seu domicílio (art. 42 do CE).
Perda ou Suspensão dos Direitos Políticos
A segunda hipótese de cancelamento está ligada aos casos de perda ou suspensão dos direitos
políticos, conforme elencados no art. 15 da CF, como a incapacidade civil absoluta, a condenação
criminal transitada em julgado, a recusa em cumprir obrigação imposta ou prestação alternativa, e a
condenação por ato de improbidade administrativa. Nessas situações, o cancelamento da inscrição
é uma consequência jurídica.
Mais de uma Inscrição Eleitoral
Outra hipótese de cancelamento ocorre quando se verifica que o eleitor possui mais de uma
inscrição eleitoral. Isso é detectado por meio do procedimento de batimento ou cruzamento das
informações cadastrais, realizado pelo TSE.
Regularização de Situação Eleitoral
A regularização da situação eleitoral de pessoas com restrições de direitos políticos só é possível
mediante a comprovação de cessação do impedimento. Isso envolve um processo que inclui
preenchimento de requerimento e apresentação de documentação comprobatória.
Título Eleitoral
O título eleitoral é o documento oficial que comprova a cidadania brasileira. Ele pode ser emitido
tanto na forma impressa quanto na forma digital, de acordo com as normas estabelecidas pelo TSE. A
via digital pode ser obtida por meio de um aplicativo da Justiça Eleitoral, exigindo dados mínimos
acerca da identidade da pessoa eleitora para validação.
PRAZOS PARA JUSTIFICAÇÃO
Existem dois prazos para que o eleitor possa justificar a sua ausência ao pleito eleitoral. São eles:
Dentro do Território Nacional
Se o eleitor estiver em território nacional, poderá justificar o não comparecimento às eleições em até
sessenta dias após a realização da eleição. Nessa hipótese, o termo inicial para a contagem do prazo
de justificação é a data da eleição.
No Exterior
Se o eleitor estiver no exterior, poderá justificar sua ausência ao pleito eleitoral em até trinta dias a
contar de seu retorno ao Brasil, salvo se o prazo de sessenta dias, a contar da data da eleição, for
mais benéfico. Nesse caso, o início da contagem do prazo de justificativa eleitoral depende do
ingresso do eleitor em território nacional.
Em qualquer caso, o pedido de justificação eleitoral ou o pagamento da multa devem ser anotados
no cadastro eleitoral.
Caso o eleitor não justifique sua ausência dentro do prazo estabelecido (sessenta ou trinta dias, se o
eleitor estiver no Brasil ou no exterior, respectivamente), será imposta, pelo juiz eleitoral uma multa.
Se a multa for paga, será emitida a certidão de quitação. Isso quer dizer que, mesmo se o eleitor não
votar, não justificar, mas arcar com o valor da multa eleitoral, ele ficará em dia com suas obrigações
eleitorais.
Além disso, o pagamento da multa eleitoral afasta a aplicação de todas aquelas sanções que são
impostas ao eleitor que violar seus deveres eleitorais.
Disposições da Resolução TSE n. 23.659/2021
CAPÍTULO IX - DAS PROVIDÊNCIAS E PENALIDADES DECORRENTES DA AUSÊNCIA ÀS URNAS OU
DA NÃO APRESENTAÇÃO AOS TRABALHOS ELEITORAIS SEM JUSTIFICATIVA
Seção I - DA MULTA
Incorrerá em multa a ser arbitrada pelo juiz ou pela juíza eleitoral e cobrada na forma prevista na
legislação eleitoral e nas normas do Tribunal Superior Eleitoral que dispuserem sobre a matéria o
eleitor ou a eleitora que deixar de votar e:
• Não se justificar, nos seguintes prazos:
o 60 dias, contados do dia da eleição; e
o 30 dias, contados do seu retorno ao país, no caso de se encontrar no exterior na data
do pleito, salvo se lhe for mais benéfico o prazo da alínea a deste inciso.
• Tiver o processamento de seu pedido de justificativa rejeitado pelo sistema, em razão do
preenchimento com dados insuficientes ou inexatos, que impossibilitem sua identificação no
cadastro eleitoral, ou
• Tiver seu pedido de justificativa indeferido pelo juiz ou pela juíza da zona a que pertence sua
inscrição eleitoral.
Nos prazos previstos no inciso I deste artigo, o eleitor ou a eleitora poderá formular o requerimento de
justificativa por ferramenta eletrônica disponibilizada pela Justiça Eleitoral ou perante o juízo de
qualquer zona eleitoral em que se encontre, devendo o cartório providenciar a remessa ao juízo
competente.
A fixação da multa observará a variação entre o mínimo de 3% e o máximo de 10% do valor utilizado
como base de cálculo, podendo ser decuplicado em razão da situação econômica do eleitor ou da
eleitora.
Antes de arbitrada a multa pelo juízo competente, o eleitor ou a eleitora que pretender obter certidão
de quitação ou requerer operação por meio do serviço disponibilizado no sítio do Tribunal Superior
Eleitoral poderá quitá-la pelo pagamento do valor máximo, correspondente a 10% do valor utilizado
como base de cálculo.
A pessoa que declarar, sob as penas da lei, perante qualquer juízo eleitoral, seu estado de pobreza
ficará isenta do pagamento da multa por ausência às urnas.
O recolhimento da multa será feito nas formas previstas para a arrecadação de valores ao Tesouro
Nacional, cabendo aos tribunais eleitorais disponibilizar, em seus sítios eletrônicos e aplicativos,
ferramentas que facilitem o adimplemento.
Identificado o pagamento da multa, a zona eleitoral em que a pessoa for inscrita providenciará a
emissão de certidão de quitação.
A certidão de quitação eleitoral com validade de 60 dias será emitida mediante requerimento do
interessado ou da interessada, independentemente do pagamento de multa, e expedida pelo cartório
ou pelo posto de atendimento eleitoral ao qual estiver vinculado, podendo ser expedida também pelo
Tribunal Superior Eleitoral ou pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Na hipótese de comprovada urgência, a critério do juiz ou da juíza eleitoral, poderá ser autorizada a
emissão da certidão de quitação sem a observância dos prazos previstos no parágrafo único deste
artigo.
A certidão de quitação eleitoral será exigida, exclusivamente, para fins de prova de quitação eleitoral,
nas situações previstas em lei, observado o prazo de validade previsto no art. 7º desta resolução.
A Justiça Eleitoral encaminhará à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e aos órgãos fazendários
estaduais e municipais, a relação das pessoas que, por omissão no dever de votar, incorrerem na
aplicação de multa.
A multa por ausência às urnas é considerada dívida ativa da União e será inscrita em dívida ativa da
União, para fins de cobrança judicial ou extrajudicial.
Os eleitores e as eleitoras que, ao tempo da eleição, tiverem entre dezoito e dezenove anos ou mais
de setenta anosficarão dispensados do pagamento de multa, desde que informem essa condição à
Justiça Eleitoral.
O juiz ou a juíza eleitoral poderá, de ofício ou mediante provocação, dispensar o pagamento de multa,
inclusive mediante reconhecimento de situação de pobreza, por decisão motivada, observado o
contraditório e a ampla defesa, cabendo recurso ao Tribunal Regional Eleitoral, com efeito
suspensivo.
Se a multa não for paga, o eleitor ou a eleitora ficará sujeito à inscrição no cadastro eleitoral como
devedor ou devedora eleitoral, sendo-lhe, contudo, facultado o parcelamento da dívida nos termos
da legislação aplicável.
Capítulo X - DA COMPROVAÇÃO DE QUITAÇÃO ELEITORAL E DAS SANÇÕES DECORRENTES DA
AUSÊNCIA ÀS URNAS OU DA NÃO APRESENTAÇÃO AOS TRABALHOS ELEITORAIS SEM
JUSTIFICATIVA
Seção I - DA COMPROVAÇÃO DE QUITAÇÃO ELEITORAL
Poderá ser exigida a comprovação de quitação eleitoral nas seguintes hipóteses:
• Assunção de cargo ou função pública;
• Recebimento de remuneração, salário, proventos de função ou emprego público, autárquico
ou paraestatal, bem como de pensão correspondentes aos meses anteriores ao da eleição;
• Realização de concorrência pública ou administrativa da União, dos estados, dos territórios,
do Distrito Federal ou dos municípios, ou das respectivas autarquias;
• Obtenção de empréstimos nas autarquias, nas sociedades de economia mista, nas caixas
econômicas federais e estaduais, nos institutos e caixas de previdência social, bem como em
qualquer estabelecimento de crédito mantido pelo governo, ou com a sua assistência, e;
• Prática de qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda.
Da Comprovação de Quitação Eleitoral para Efeito de Registro de Candidatura
A partir de 1º de outubro do ano da eleição, o partido político requererá à Justiça Eleitoral a relação
dos candidatos e das candidatas que tenham assegurado a eficácia de sua filiação partidária, na
forma do art. 19 da Lei nº 9.096/1995, e a certidão de quitação eleitoral emitida pela respectiva zona
eleitoral, obrigatoriamente no domicílio eleitoral do candidato ou da candidata, ou em órgão da
Justiça Eleitoral a ela autorizado, sob pena de indeferimento do pedido de registro de candidatura.
A certidão de quitação eleitoral será expedida mediante requerimento do interessado ou da
interessada, que deverá ser instruído com a relação de multas, comprovante de pagamento ou de
parcelamento e comprovante de requerimento de dispensa de pagamento de multa.
A certidão de quitação eleitoral será fornecida, no prazo de cinco dias, e deverá conter o número do
título e o domicílio eleitoral do candidato ou da candidata, bem como o período abrangido pela
quitação, e será fornecida pelo cartório ou pelo posto de atendimento eleitoral ao qual estiver
vinculado o domicílio eleitoral do interessado ou da interessada, podendo ser fornecida também pelo
Tribunal Superior Eleitoral ou pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Se a certidão não for fornecida dentro do prazo de cinco dias, o partido político poderá apresentar
comprovante do pedido de certidão e o protocolo de sua entrega ao juízo eleitoral, a fim de que o
candidato ou a candidata obtenha o registro de candidatura.
A exigência de que trata o inciso I deste artigo aplica-se, inclusive, aos candidatos e às candidatas a
vice-presidente, a vice-governador e a vice-prefeito.
A pessoa que comprovar, perante o juízo ou a juíza eleitoral, estar em situação de pobreza, na forma
da lei, ficará isenta do pagamento de multa eleitoral.
A decisão proferida pelo juiz ou pela juíza eleitoral que deferir ou que indeferir o pedido de certidão de
quitação eleitoral é suscetível de recurso ao Tribunal Regional Eleitoral.
A apresentação de recurso ao Tribunal Regional Eleitoral não impedirá a proclamação dos eleitos até
decisão final pelo Tribunal Superior Eleitoral.
O recurso ao Tribunal Regional Eleitoral será interposto sem efeito suspensivo, observado o disposto
no § 3º deste artigo.
Se o Tribunal Regional Eleitoral, em recurso, deferir o pedido de certidão de quitação eleitoral, a
decisão terá efeito imediato e dispensará a nova expedição da certidão, devendo ser averbada
naquela que se encontra nos autos.
Contra a decisão que indeferir o pedido de certidão de quitação eleitoral é cabível recurso especial,
nos termos do art. 276 da Lei nº 4.737/1965.
São dispensados do pagamento de multa eleitoral os eleitores e as eleitoras que, ao tempo da
eleição, tiverem entre dezoito e dezenove anos ou mais de setenta anos.
Seção II - DAS SANÇÕES DECORRENTES DA AUSÊNCIA ÀS URNAS OU DA NÃO APRESENTAÇÃO
AOS TRABALHOS ELEITORAIS SEM JUSTIFICATIVA
A sanção pela ausência às urnas é a aplicação de multa, nos termos da legislação eleitoral.
Além disso, a pessoa que deixar de votar em três eleições consecutivas e não justificar sua ausência
ou não quitar a multa correspondente terá sua inscrição eleitoral cancelada.
INELEGIBILIDADES
As inelegibilidades são restrições que impedem um cidadão de concorrer validamente a um mandato
eletivo, independentemente da natureza jurídica do fato que as originou. A ilegalidade não é um
elemento essencial do conceito de inelegibilidade. Inelegibilidade é uma consequência jurídica, uma
restrição atribuída a algum fato ou conjunto de fatos descritos na norma eleitoral. José Jairo Gomes
(2012) define inelegibilidade como:
"Denomina-se inelegibilidade ou ilegibilidade o impedimento ao exercício da cidadania passiva, de
maneira que o cidadão fica impossibilitado de ser escolhido para ocupar cargo político-eletivo. Em
outros termos, trata-se de um fator negativo que obstrui ou retira a capacidade eleitoral passiva do
nacional, tornando-o inepto para receber votos e, consequentemente, exercer mandato
representativo. Tal impedimento é provocado pela ocorrência de determinados fatos previstos na
Constituição ou em lei complementar."
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) define as inelegibilidades como:
"A inelegibilidade importa no impedimento temporário da capacidade eleitoral passiva do cidadão,
que consiste na restrição de ser votado, não atingindo, portanto, os demais direitos políticos, como,
por exemplo, votar e participar de partidos políticos."
As inelegibilidades podem decorrer de sanções, parentesco com ocupantes de cargos eletivos, ou
mesmo em função do exercício de funções, cargos ou empregos que possam comprometer a
normalidade e legitimidade das eleições.
INELEGIBILIDADES: CLASSIFICAÇÃO
As inelegibilidades podem ser absolutas ou relativas:
• Inelegibilidade absoluta: Impede o cidadão de concorrer a qualquer cargo público eletivo
enquanto persistir a situação geradora da inelegibilidade. Exemplos incluem a inalistabilidade
e o analfabetismo.
• Inelegibilidade relativa: Impedem o cidadão de concorrer a alguns cargos eletivos, mas não
impedem completamente o exercício do direito à elegibilidade. Exemplos incluem a
inelegibilidade para os mesmos cargos em um terceiro mandato subsequente, inelegibilidade
decorrente de incompatibilidade e inelegibilidade decorrente de parentesco.
INELEGIBILIDADES CONSTITUCIONAIS
A Constituição Federal enumera diversas hipóteses de inelegibilidade, tais como inalistabilidade,
analfabetismo, inelegibilidade decorrente da reeleição para o terceiro mandato consecutivo,
inelegibilidade decorrente da incompatibilidade e inelegibilidade decorrente do parentesco. Estas
inelegibilidades estão estabelecidas no art. 14, §§ 4º a 7º, da Constituição Federal.
INALISTÁVEIS
A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade, prevista no art. 14, § 4º, da Constituição, impede os
estrangeiros e os conscritos durante o serviço militar obrigatório de concorrerem a cargos públicos.
Essa é uma inelegibilidade absoluta, criticada por alguns doutrinadores pela falta de técnica
constitucional.
ANALFABETOS
A inelegibilidade dos analfabetos, também prevista no art. 14, § 4º, impede que estes se candidatem
a cargos públicos.O conceito de analfabetismo ainda gera controvérsias, mas a jurisprudência do
Tribunal Superior Eleitoral considera que candidatos semialfabetizados podem ter seus registros de
candidatura deferidos.
REELEIÇÃO
A Constituição Federal, no art. 14, § 5º, permite a reeleição para um único período subsequente para
o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos. Essa possibilidade de reeleição visa garantir
a continuidade político-administrativa. A reeleição para o terceiro mandato consecutivo é vedada,
visando evitar a perpetuação no poder.
Se os chefes do Poder Executivo desejarem concorrer a outros cargos, devem renunciar até seis
meses antes do pleito. Essa regra não se aplica aos membros do Poder Legislativo, que podem se
reeleger por vários mandatos consecutivos. A proibição de concorrer a três mandatos consecutivos
se estende também à família do titular do cargo eletivo, visando evitar a perpetuação de grupos
familiares no poder.
INELEGIBILIDADE REFLEXA
A inelegibilidade reflexa, também denominada de inelegibilidade decorrente do parentesco ou por
afinidade, está prevista no art. 14, § 7º, CF/1988. Foi instituída com a finalidade de garantir a
isonomia entre postulantes a cargos eletivos e a normalidade e legitimidade das eleições contra a
influência do abuso de poder político. Com efeito, para evitar a utilização da máquina pública, por
meio da definição de políticas públicas ou da execução de medidas executiva, em prol de
candidatura, o grupo familiar do chefe do Poder Executivo é considerado inelegível na circunscrição
do cargo do parente paradigma.
INELEGIBILIDADES INFRACONSTITUCIONAIS
A CF autoriza a instituição de novas hipóteses de inelegibilidade pelo legislador infraconstitucional.
Para tanto, o Congresso Nacional deverá editar uma lei complementar. Nessa lei é proibida a
instituição de inelegibilidade com prazo de incidência ou de duração indeterminada, já que, nos
termos do art. 14, § 9º, da CF, é dever da lei complementar estabelecer os prazos de cessação das
inelegibilidades por ela instituídas.
DA PESSOALIDADE DAS INELEGIBILIDADES
A inelegibilidade é uma causa impeditiva ao exercício do direito à elegibilidade pessoal, ou seja, só
atinge o cidadão que incidir em uma das hipóteses de inelegibilidade (intranscendência). Assim, se,
após o pedido de registro de candidaturas a cargos majoritários, for constatado que um dos
candidatos que compõe a chapa (titular ou vice) é inelegível, essa restrição não atinge o outro
integrante da mesma chapa. A inelegibilidade de um dos concorrentes não contamina a chapa.
Essa é a previsão legal contida no art. 18 da Lei Complementar n. 64/1990: “Art. 18. A declaração de
inelegibilidade do candidato à Presidência da República, Governador de Estado e do Distrito Federal
e Prefeito Municipal não atingirá o candidato a Vice-Presidente, Vice-Governador ou Vice-Prefeito,
assim como a destes não atingirá aqueles”.
Sobre a aplicabilidade desse dispositivo, este é o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral:
Direto do TSE
Jurisprudência – Ac.-TSE, de 26/10/2006, no REspe n. 25.586: [...] o art. 18 da LC n. 64/1990 é
aplicável aos casos em que o titular da chapa majoritária teve seu registro indeferido antes das
eleições. Assim, o partido tem a faculdade de substituir o titular, sem qualquer prejuízo ao vice.
Entretanto, a cassação do registro ou diploma do titular, após o pleito, atinge o seu vice, perdendo
este, também, o seu diploma, porquanto maculado restou a chapa. Isso com fundamento no
princípio da indivisibilidade da chapa única majoritária [...]. Desse modo, [...] incabível a aplicação do
art. 18 da LC n. 64/1990, pois, no caso dos autos, a candidata a prefeita teve seu registro indeferido
posteriormente às eleições.
INELEGIBILIDADE DOS INALISTÁVEIS E ANALFABETOS
O art. 1º, I, alínea “a”, da LC n. 64/1990 repete a disposição contida no art. 14, § 4º, da Constituição
Federal. Esta é a disposição referida: “Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: a) os inalistáveis
e os analfabetos; [...].”
Trata-se da inelegibilidade dos inalistáveis e analfabetos. Essa hipótese de inelegibilidade já foi
analisada no tópico “Inelegibilidades Constitucionais”.
INELEGIBILIDADE DECORRENTE DA PERDA DE MANDATO LEGISLATIVO
O art. 1º, I, alínea “b”, da LC n. 64/1990 dispõe:
Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: [...] b) os membros do Congresso Nacional, das
Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, que hajam perdido os
respectivos mandatos por infringência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição
Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estaduais e Leis
Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o período
remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término da
legislatura; (Redação dada pela LCP n. 81/1994)
Essa hipótese de inelegibilidade é aplicável aos membros do Poder Legislativo que perderem seus
mandatos parlamentares em virtude de exercício de cargo, emprego ou função nas hipóteses
vedadas pelo art. 544 da CF/1988 ou de quebra de decoro parlamentar. Não se aplica essa hipótese
de inelegibilidade quando a perda do mandato parlamentar decorrer da aplicação das demais
situações prescritas no art. 55 da CF/1988.
Os casos de perda de mandato parlamentar estão previstos no art. 55 da Constituição Federal. São
eles:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: I – que infringir qualquer das proibições
estabelecidas no artigo anterior; II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro
parlamentar; III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões
ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada; IV – que perder ou
tiver suspensos os direitos políticos; V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos
nesta Constituição; VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
Por conseguinte, havendo cassação de mandato de membro do Poder Legislativo com base nos
incisos I e II do art. 55 da CF/1988, o cidadão que perdeu o cargo estará inelegível pelo período
restante do mandato para o qual foi eleito, assim como para as eleições que se realizarem nos oito
anos subsequentes.
PERDA DE MANDATO DE CHEFE DO PODER EXECUTIVO
O art. 1º, I, alínea “c”, da LC n. 64/1990 prescreve:
Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: [...] c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e
do Distrito Federal e o Prefeito e o Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a
dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do
Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente e nos 8 (oito) anos
subsequentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos; (Redação dada pela Lei
Complementar n. 135/2010)
A partir da análise dessa hipótese de inelegibilidade, vê-se que, se o Chefe do Poder Executivo
estadual ou municipal perder o seu mandato em razão de violação de dispositivos da Constituição
Estadual ou de Leis Orgânicas ficará inelegível para as eleições que se realizarem durante o período
remanescente do mandato e nos oito anos subsequentes ao término do mandato.
Contudo, essa prescrição impeditiva somente alcança os chefes do Executivo estadual ou municipal.
Não ficará inelegível o presidente da República que perder o seu cargo por infringência a disposições
constitucionais. Em outras palavras: a responsabilização do presidente da República pela prática de
crime de responsabilidade após o desenvolvimento do processo de impeachment não acarreta a sua
inelegibilidade. Na verdade, diante dessa circunstância, o presidente da República ficará inabilitado
para o exercíciode qualquer cargo, emprego ou função pública. Trata-se de consequência jurídica
mais intensa e extensa do que a inelegibilidade. Sobre essa situação de inelegibilidade, José Jairo
Gomes (2012, p. 175) ensina que:
Cogita-se aí de perda de cargo eletivo em virtude de processo de impeachment instaurado contra o
chefe do Executivo estadual, distrital ou municipal, cuja finalidade é apurar crime de
responsabilidade. O processo e o julgamento competem às respectivas casas legislativas. [...] E
quanto ao titular do Executivo federal? Se condenado em processo de impeachment, o Presidente da
República fica inabilitado pelo prazo de oito anos para o exercício de função pública. É o que prevê o
art. 52, parágrafo único, da Constituição Federal. Note-se que a sanção de inabilitação é mais
abrangente que a de inelegibilidade, pois, por ela, fica inviabilizado o exercício de quaisquer cargos
públicos, e não apenas os eletivos. É assente que a inelegibilidade obstrui tão-só a capacidade
eleitoral passiva.
INELEGIBILIDADE DECORRENTE DE ABUSO DE PODER ECONÔMICO E POLÍTICO
O estatuto legal da inelegibilidade decorrente do abuso de poder econômico e político está
estabelecido no artigo 1º, inciso I, alínea "d", da Lei Complementar nº 64/1990, que declara:
Inelegíveis são: I – para qualquer cargo: [...] d) aqueles contra quem haja representação julgada
procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado,
em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual
concorrem ou foram diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;
(Redação dada pela Lei Complementar n. 135, de 2010)
Esta condição de inelegibilidade foi estabelecida por exigência constitucional expressa. O artigo 14,
parágrafo 9º, da Constituição Federal de 1988 determina a criação de casos de inelegibilidade para
garantir a normalidade e a legitimidade das eleições contra a influência do abuso do poder
econômico ou do abuso do exercício de cargo, emprego ou função pública.
Para compreender a aplicação dessa disposição legal, é crucial definir o abuso de poder econômico
e político. O abuso de poder econômico é a utilização indevida e excessiva de recursos financeiros
em campanhas eleitorais, enquanto o abuso de poder político é o uso indevido de cargo, emprego ou
função pública em favor de candidatos ou com finalidade eleitoral.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entende que o abuso de poder econômico se materializa com o
mau uso de recursos patrimoniais, ultrapassando os limites legais e desequilibrando o pleito em
favor dos candidatos beneficiários.
Portanto, o uso indevido de recursos financeiros em campanhas eleitorais para beneficiar
candidaturas constitui abuso de poder econômico. Essa conduta compromete a normalidade e a
legitimidade das eleições, pois o uso excessivo do poderio financeiro pode manipular a vontade do
eleitorado e quebrar a igualdade de oportunidade entre os candidatos.
Por sua vez, o abuso de poder político ocorre quando a normalidade e a legitimidade das eleições são
comprometidas por condutas de agentes públicos que, valendo-se de sua condição funcional,
beneficiam candidaturas em desvio manifesto de finalidade.
A prática de abuso de poder econômico ou político, quando reconhecida no julgamento da Ação de
Investigação Judicial Eleitoral, acarreta a inelegibilidade. Apesar de o texto legal mencionar
explicitamente o julgamento de uma representação, esse termo legal refere-se à Ação de
Investigação Judicial Eleitoral, conforme estabelecido no artigo 22 da Lei Complementar nº 64/1990.
A condenação pela prática de abuso de poder econômico ou político em outra espécie de ação
eleitoral, como a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo ou, quando era possível, o Recurso contra
a Expedição de Diploma, ou em decisões da Justiça Comum, não atrai a incidência da inelegibilidade
prevista no artigo 1º, inciso I, alínea “d”, da LC nº 64/1990.
Além disso, é importante questionar se essa inelegibilidade deve incidir apenas quando o cidadão
pratica o abuso de poder econômico ou político em benefício de sua própria candidatura, ou se
também se aplica quando o abuso é praticado em favor de terceiros. A interpretação dessa
disposição normativa pode levar a duas situações:
• A inelegibilidade se aplica ao candidato que pratica abuso de poder em benefício de sua
própria candidatura;
• A inelegibilidade se aplica àquele que pratica abuso de poder em benefício próprio, bem como
àquele que pratica abuso em favor de terceiros.
O entendimento do TSE é que a inelegibilidade do abuso de poder deve ser aplicada tanto aos
candidatos que praticam abuso para viabilizar suas eleições quanto aos terceiros que praticam esses
ilícitos eleitorais em favor de campanhas eleitorais de terceiros.
Em ambas as situações, a finalidade da norma é garantir a igualdade entre os candidatos e a lisura
das eleições, coibindo práticas que possam comprometer a vontade popular. Portanto, é
fundamental que a Justiça Eleitoral esteja atenta para coibir e punir essas práticas, assegurando a
integridade do processo eleitoral e a legitimidade do resultado das eleições.
INELEGIBILIDADE DECORRENTE DA REJEIÇÃO DE CONTAS
O artigo 1º, inciso I, alínea "g", da Lei Complementar nº 64/1990 estabelece:
Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: [...] g) os que tiverem suas contas relativas ao
exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato
doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta
houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8
(oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do
artigo 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários
que houverem agido nessa condição; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135/2010)
A inelegibilidade decorrente da rejeição de contas foi instituída pelo legislador complementar com a
finalidade de proteger a probidade administrativa, nos termos do artigo 14, parágrafo 9º, da
Constituição Federal de 1988. Essa situação impeditiva busca evitar que cidadãos, gestores da coisa
pública e que exerceram com improbidade suas funções, possam concorrer a cargos eletivos e
tornar-se representantes do povo.
A partir da análise do presente dispositivo legal, vê-se que, para a incidência dessa inelegibilidade, é
indispensável a presença dos seguintes requisitos:
• a decisão deve ter sido proferida pelo órgão competente;
• a decisão deve ser irrecorrível no âmbito administrativo (coisa julgada administrativa);
• a rejeição das contas deve ter sido proferida em razão da existência de irregularidade
insanável;
• a irregularidade insanável deve configurar ato doloso de improbidade administrativa;
• ter sido, na decisão de rejeição de contas, imputado débito a ser ressarcido;
• inexistência de provimento judicial suspendendo ou anulando a decisão de rejeição das
contas.
Aliás, sobre a exigência da imputação de débito como requisito para a incidência dessa
inelegibilidade, trata-se de novidade inserida por meio da Lei Complementar nº 184/2021, nos
seguintes termos: “Art. 1º, § 4º-A. A inelegibilidade prevista na alínea "g" do inciso I do caput deste
artigo não se aplica aos responsáveis que tenham tido suas contas julgadas irregulares sem
imputação de débito e sancionados exclusivamente com o pagamento de multa”.
COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DAS CONTAS
Os gestores públicos têm o dever de prestar contas do uso dos recursos públicos que estavam sob
sua responsabilidade. Essa exigência decorre do princípio republicano que permite a punição e
responsabilização daqueles que exercem cargos, empregos ou funções públicas.
Em regra, as contas devem ser prestadas perante os Tribunais de Contas, que exercem, auxiliandoo
Poder Legislativo, a análise contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da
administração pública direta ou indireta. Nessa fiscalização, são aferidas a legalidade, a legitimidade,
a economicidade dos gastos públicos, assim como a aplicação das subvenções e renúncia de
receitas. Trata-se de exercício de função fiscalizatória.
No exercício da atribuição de análise das prestações de contas, os Tribunais de Contas exercem duas
funções: emitem parecer prévio sobre as contas apresentadas; ou julgam as contas apresentadas.
Veja que, a depender da situação, os Tribunais de Contas não têm a competência para aprovar ou
rejeitar as contas, mas somente emitem um parecer para viabilizar o julgamento delas pelo Poder
Legislativo.
É de suma importância a definição do órgão competente para julgamento das contas, pois essa
inelegibilidade depende de que as contas sejam rejeitadas pelo órgão competente. Isso quer dizer
que a emissão de parecer prévio pelo Tribunal de Contas não tem o condão de tornar alguém
inelegível, mas sim o julgamento pelo Poder Legislativo, após o recebimento desse parecer.
IMPEDIMENTO À ELEGIBILIDADE DECORRENTE DA RENÚNCIA AO MANDATO
A renúncia ao mandato parlamentar, motivada pelo exercício de cargo ou função vedada, conforme o
art. 54 da CF/1988, ou por quebra de decoro parlamentar, assim como a cassação do mandato de
chefe do Poder Executivo estadual ou municipal por violação das Constituições Estaduais e Leis
Orgânicas, resulta na aplicação das inelegibilidades previstas nas alíneas “b” e “c” do inciso I do art.
1º da Lei Complementar n. 64/1990. Essas inelegibilidades demandam a perda do cargo para serem
evitadas. Assim, para evitar tal desfecho, os detentores de cargos eletivos poderiam simplesmente
renunciar antes da sanção de perda do cargo.
Com o intuito de garantir a probidade administrativa e a moralidade no exercício de cargos eletivos, a
Lei Complementar n. 135/2010 introduziu uma nova hipótese de inelegibilidade. Trata-se da alínea
“k” do art. 1º, I, da Lei Complementar n. 64/1990, que estipula que ficam inelegíveis o Presidente da
República, o Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso
Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais que
renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar
a abertura de processo por violação a dispositivos constitucionais, estaduais ou municipais, para as
eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato e nos 8 (oito) anos
subsequentes ao término da legislatura.
Com essa nova hipótese de inelegibilidade, a renúncia ao cargo eletivo após a instauração de
representação ou petição capaz de levar à cassação do mandato resultará na aplicação da
inelegibilidade da alínea “k”, independentemente da motivação da renúncia. A análise do motivo da
renúncia ou do mérito da representação não é relevante para a aplicação dessa restrição de direitos
políticos. A única verificação necessária é se houve renúncia após o oferecimento da representação.
Da mesma forma, mesmo que o processo de cassação do mandato não tenha sido instaurado, se a
representação ou petição com potencial para levar à cassação tiver sido protocolada, o ocupante do
cargo eletivo que renunciar ficará inelegível pelo restante do mandato e pelos oito anos
subsequentes.
INELEGIBILIDADE DECORRENTE DA DEMISSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO
Conforme a Lei Complementar n. 64/1990:
Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: [...] o) os que forem demitidos do serviço público em
decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de 8 (oito) anos, contado da decisão,
salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei
Complementar n. 135/2010)
A demissão do serviço público, resultante de processo administrativo ou judicial, acarreta a
inelegibilidade pelo período de oito anos, conforme a alínea “o” do inciso I do art. 1º da Lei
Complementar n. 64/1990. Essa penalidade disciplinar é aplicada após o devido processo legal,
abrangendo condutas ilícitas graves.
Além disso, essa inelegibilidade também se estende aos militares que sofrem sanções equiparáveis à
demissão, conforme decisão do Tribunal Superior Eleitoral (Ac.-TSE, de 18.12.2018, no RO n.
060079292).
A suspensão dessa inelegibilidade pode ocorrer por decisão judicial, mediante ação anulatória que
desfaça a sanção ou anule a demissão. Dessa forma, os efeitos da inelegibilidade podem ser
temporariamente suspensos ou anulados.
INELEGIBILIDADE DECORRENTE DA DOAÇÃO ELEITORAL ILÍCITA
Segundo a Lei Complementar n. 64/1990:
Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: [...] p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas
jurídicas responsáveis por doações eleitorais tidas por ilegais por decisão transitada em julgado ou
proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão,
observando-se o procedimento previsto no art. 22; (Incluído pela Lei Complementar n. 135/2010)
As doações eleitorais ilegais resultam em inelegibilidade tanto para a pessoa física doadora quanto
para os dirigentes das pessoas jurídicas. Essa medida visa evitar abusos de poder econômico e
garantir a lisura do processo eleitoral.
É importante notar que, mesmo quando a multa eleitoral é direcionada à pessoa jurídica, a
inelegibilidade afeta seus dirigentes. Isso ocorre porque a pessoa jurídica não possui capacidade
eleitoral passiva, tornando a inelegibilidade incompatível com sua natureza jurídica.
A jurisprudência estabelece que não é necessário que os dirigentes da pessoa jurídica façam parte
do processo judicial eleitoral para que a inelegibilidade seja aplicada. O importante é que a
ilegalidade da doação seja reconhecida por decisão transitada em julgado ou órgão colegiado.
INELEGIBILIDADE DECORRENTE DA APOSENTADORIA COMPULSÓRIA OU PERDA DE CARGO POR
MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO OU JUÍZES
Essa inelegibilidade está prevista no art. 1º, I, alínea “q”, da Lei Complementar n. 64/1990:
Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: [...] q) os magistrados e os membros do Ministério
Público que forem aposentados compulsoriamente por decisão sancionatória, que tenham perdido o
cargo por sentença ou que tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência de
processo administrativo disciplinar, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Incluído pela Lei Complementar n.
135/2010)[...]
Essa inelegibilidade incide quando magistrados ou membros do Ministério Público sofrem
aposentadoria compulsória, perda do cargo por decisão judicial ou solicitam exoneração ou
aposentadoria voluntária durante um processo administrativo disciplinar.
PARTIDOS POLÍTICOS
Em primeiro lugar, faz-se uma distinção técnica: o Direito Eleitoral não trata da matéria referente aos
partidos políticos. Ele está relacionado à soberania popular, aos direitos políticos, às eleições.
Deveras, o ramo do Direito que cuida da criação, organização e relações partidárias é o Direito
Partidário. Embora haja uma íntima relação entre eleições e partidos políticos, os tópicos
relacionados aos partidos políticos submetem-se a princípios específicos e, por isso, há esse ramo
Direito Partidário, distinto do Direito Eleitoral.
Importância do Título V da Constituição Federal
Em razão da influência de alguns institutos do Direito Partidário no processo eleitoral e da
importância dos partidos políticos no regime democrático brasileiro, trataremos, nesta obra, sobre os
principais aspectos sobre a criação, organização e participação em partidos políticos.
Os partidos políticos têm sua disciplina normativa inscrita no art. 17 da Constituição Federal e na Lei
n. 9.096/1995.
Conceito e Natureza Jurídica dos Partidos Políticos
De acordo com Bulos, os “partidos políticos são associações de pessoas, unidas por uma ideologia
ou interesses comuns, que, organizadas estavelmente,