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Fundamentos da Terapia Ocupacional UNIDADE III Ética Profissional em Terapia Ocupacional Lucimara Ferreira Magalhães Ética Profissional em Terapia Ocupacional 3 Introdução A ética profissional constitui o alicerce da Terapia Ocupacional, responsável por regular as ações e decisões dos profissionais em sua prática. Nesta unidade, exploraremos os fundamentos que sustentam as condutas éticas, abordando conceitos-chave e princípios que orientam a relação terapeuta-paciente. Além disso, destacaremos a importância de se compreender os principais pontos do Código de Ética e Deontologia na construção de uma prática responsável e comprometida com o bem-estar dos pacientes. Objetivos da Aprendizagem Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de: • Compreender os princípios éticos que norteiam a prática da Terapia Ocupacional. • Analisar os dilemas éticos comuns na atuação profissional. • Discutir a importância da ética na construção da identidade profissional. 4 Fundamentos da Ética Profissional A ética é um componente essencial nas profissões, uma vez que orienta as condutas práticas e previne ações inadequadas, ao mesmo tempo em que protege os profissionais de possíveis danos. Em síntese, a ética serve como um guia para garantir uma atuação responsável e segura. Na área da saúde, torna-se imprescindível identificar e evitar condutas que possam comprometer diretamente a vida e o bem-estar dos pacientes. No campo da Terapia Ocupacional, a ética atua como um guia da prática profissional, de modo a garantir que os direitos dos pacientes sejam devidamente respeitados e que os profissionais ajam de forma íntegra e responsável. O Código de Ética e Deontologia da Terapia Ocupacional (2013), estabelecido pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), reforça os princípios e define as normas de conduta que orientam os direitos e deveres dos terapeutas ocupacionais. Esse documento destaca a importância de manter a confidencialidade das informações, atuar com competência técnica e ética, assim como respeitar a dignidade e os direitos das pessoas atendidas. Definição de Ética e Sua Aplicação na Saúde A ética é o estudo dos princípios morais que regem o comportamento humano. Segundo Beauchamp e Childress (2019), a ética centra-se em valores como autonomia, beneficência, não maleficência e justiça, fundamentais para a prática em saúde. Na Terapia Ocupacional, esses princípios orientam as ações dos profissionais, assegurando que as intervenções respeitem a dignidade e os direitos dos pacientes. Em outras palavras, a aplicação da ética na saúde envolve decisões que consideram o bem-estar do paciente e os limites morais e legais da prática profissional. Portanto, os terapeutas ocupacionais devem constatar e considerar dilemas éticos que surgem na prática clínica, usando o julgamento ético para garantir que as intervenções sejam sempre pautadas pelo melhor interesse do paciente. 5 Princípios Éticos Fundamentais na Terapia Ocupacional Os princípios éticos fundamentais que regem a prática da Terapia Ocupacional incluem a autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. A autonomia refere- se ao respeito pelo direito do paciente de fazer escolhas conscientes sobre o próprio tratamento. Por outro lado, a beneficência envolve o compromisso do terapeuta em promover o bem-estar do paciente, enquanto a não maleficência exige evitar danos. Por fim, a justiça requer que os terapeutas ocupacionais tratem todos os pacientes indiscriminadamente, de forma justa e equitativa. Princípios éticos da terapia ocupacional Autonomia Beneficiência Não maleficência Justiça Fonte: elaborado pela autora (2024). #pratodosverem: os princípios éticos da Terapia Ocupacional representados em quatro caixas de texto, uma ao lado da outra, em formato de seta com sentido para a direita. Cada caixa de texto contém a descrição: Autonomia, Beneficên- cia, Não maleficência e Justiça. Tais princípios são indispensáveis para garantir que a prática da Terapia Ocupacional seja ética e centrada no paciente. Vasconcelos (2002) elucida que a ética na Terapia Ocupacional deve estar alinhada com o compromisso com a cidadania, promovendo a inclusão social e a defesa dos direitos dos indivíduos atendidos. Somado a isso, a prática deve estar vinculada à promoção de direitos sociais e à garantia de acesso à saúde, além de transcender o atendimento individual para lutar por condições sociais que favoreçam o exercício pleno da cidadania. As intervenções em situações de vulnerabilidade são comuns na prática desses profissionais, os quais devem estar sempre atentos às questões éticas relacionadas à justiça social. É fundamental que as intervenções contribuam para a melhoria das condições de vida dos pacientes e que promovam o respeito e a garantia de seus direitos. Atenção 6 Importância da Ética na Relação Terapeuta-Paciente A relação entre o terapeuta ocupacional e o paciente configura-se como uma das dinâmicas mais importantes na prática clínica, sendo a ética um elemento central nessa interação. Uma relação ética fundamenta-se na confiança, no respeito mútuo e na comunicação clara e honesta. O terapeuta deve garantir que o paciente seja plenamente informado sobre todas as opções de tratamento e que suas decisões sejam respeitadas. Atenção O Código de Ética e Deontologia da Terapia Ocupacional, elaborado pelo Coffito (2013), enfatiza a importância da confidencialidade e do respeito à autonomia do paciente. Por isso, manter a confidencialidade é essencial para proteger a privacidade do paciente e para determinar uma relação de confiança. Em paralelo, respeitar a autonomia do paciente, permitindo que ele participe ativamente das decisões sobre seu tratamento, é uma manifestação concreta do respeito à dignidade humana. Dignidade e respeito ao paciente Fonte: Freepik (2024). #pratodosverem: a imagem mostra a mãe do paciente participando da sessão de terapia ocupacional, promovendo a melhor relação terapeuta-paciente. 7 Código de Ética e Conduta Profissional O Código de Ética é um documento que determina os padrões de conduta que os profissionais devem seguir em sua prática. Funciona como um guia para a tomada de decisões éticas e para o comportamento profissional adequado. No âmbito da Terapia Ocupacional, o Código de Ética define as responsabilidades do terapeuta em relação aos pacientes, colegas e à sociedade em geral. Para Vasconcelos (2002), o Terapeuta Ocupacional não é apenas um prestador de serviços de saúde, mas também um agente transformador social. Portanto, seu compromisso ético inclui a promoção da justiça social e a luta por condições que garantam o pleno exercício dos direitos dos pacientes. Este código estabelece padrões de qualidade e ética na prestação dos serviços, além de promover uma perspectiva humanizada e socialmente consciente da profissão. Perspectiva humanizada do paciente Fonte: Freepik (2024). #pratodosverem: a imagem mostra uma terapeuta ocupacional colocando o calçado na paciente, idosa, simbolizando o cuidado humanizado. 8 Código de Ética do Terapeuta Ocupacional O Código de Ética e Deontologia da Terapia Ocupacional, estabelecido pelo Coffito (2013), configura-se como um documento que delineia os princípios éticos que devem orientar a prática dos terapeutas ocupacionais no Brasil. Este código estabelece que o terapeuta ocupacional deve sempre atuar de forma a promover o bem-estar dos pacientes, respeitar sua autonomia e manter a confidencialidade das informações adquiridas ao longo do tratamento. Fora isso, o Código de Ética aborda a importância do respeito às normas técnicas e científicas da profissão, garantindo que a prática clínica seja baseada em evidências e realizada com competência. Nessa linha, os terapeutas ocupacionais são também orientados a respeitarem a diversidade cultural, étnica e social dos pacientes, evitando, portanto,qualquer forma de discriminação. Direitos e Deveres do Profissional Os direitos e deveres do terapeuta ocupacional estão claramente definidos no Código de Ética do Coffito (2013). Entre os direitos, destacam-se a autonomia profissional, o reconhecimento e respeito pelos seus pares, e o acesso a condições adequadas de trabalho. Em relação aos deveres, os terapeutas ocupacionais têm a obrigação de atuar com competência técnica e científica, de respeitar a dignidade e a privacidade dos pacientes, e de garantir que suas práticas estejam sempre alinhadas com os princípios éticos da profissão. Beauchamp e Childress (2019) salientam que o respeito à autonomia dos profissionais de saúde é crucial para que possam cumprir suas responsabilidades de forma ética. No contexto da Terapia Ocupacional, tal respeito inclui o direito a uma remuneração justa, assim como o acesso contínuo à educação e ao desenvolvimento profissional, que são essenciais para a manutenção da competência técnica e ética dos terapeutas. 9 Autonomia do paciente Fonte: Freepik (2024). #pratodosverem: a imagem exibe uma terapeuta ocupacional auxiliando o paciente, criança, a diferenciar as cores de lápis, simbolizando a autonomia do paciente. Por outro lado, os deveres do terapeuta ocupacional estão centrados na responsabilidade de prestar um atendimento humanizado, seguro e eficaz. Conforme o Código de Ética do Coffito (2013), os profissionais têm o dever de manter a confidencialidade das informações dos pacientes, um aspecto essencial para construir uma relação de confiança. Ademais, devem atuar com honestidade e integridade, evitando práticas que possam causar qualquer tipo de dano, em conformidade com os princípios de não maleficência discutidos por Beauchamp e Childress (2019). Vasconcelos (2002) complementa esse ponto de vista ao enfatizar que o terapeuta ocupacional deve estar comprometido com a promoção da justiça social e dos direitos humanos. Isso significa que, além de seus deveres técnicos, os terapeutas têm a responsabilidade de agir como agentes de transformação social, lutando por condições que garantam o acesso equitativo aos serviços de saúde e a promoção da cidadania. 10 A educação continuada consiste na constante evolução do profissional dentro de sua área de atuação, mantendo-o atualizado com as novas práticas, pesquisas e tecnologias. Esse processo garante a melhor qualidade do atendimento e a aplicação de práticas baseadas em evidências científicas. Atenção Assim, os direitos e deveres do terapeuta ocupacional estão interligados e visam assegurar uma prática profissional que seja ao mesmo tempo ética, competente e socialmente comprometida. Ao respeitar esses princípios, os terapeutas ocupacionais não apenas garantem a qualidade do atendimento, mas também colaboram para a formação de uma sociedade mais justa e inclusiva. Normas de Conduta para o Exercício da Profissão As normas de conduta estabelecidas pelo Código de Ética do Coffito (2013) incluem diretrizes sobre como os terapeutas ocupacionais devem se comportar em situações clínicas, interações com colegas e no relacionamento com a sociedade. Essas normas incluem a obrigação de manter a confidencialidade das informações dos pacientes, a proibição de práticas que possam causar dano ou sofrimento desnecessário, e a exigência de que os terapeutas ocupacionais atuem sempre em conformidade com os padrões técnicos e científicos estabelecidos. Essas normas de conduta são fundamentais para garantir a qualidade e a ética na prática da Terapia Ocupacional. Os terapeutas ocupacionais devem seguir essas diretrizes rigorosamente para assegurar que seus pacientes recebam um atendimento seguro, eficaz e respeitoso. Dilemas Éticos na Prática Profissional Na prática da Terapia Ocupacional, os profissionais frequentemente se deparam com dilemas éticos que exigem uma reflexão cuidadosa e um julgamento ético apurado. Esses dilemas podem surgir em diversas situações, como na decisão sobre o melhor curso de tratamento, na gestão de recursos limitados, ou na necessidade de equilibrar os interesses do paciente com as exigências institucionais. 11 Os dilemas éticos mais comuns abarcam questões relacionadas à autonomia do paciente versus a beneficência, em que o terapeuta deve decidir entre respeitar a vontade do paciente ou agir em seu melhor interesse. Outro dilema envolve a confidencialidade, especialmente em casos nos quais manter o sigilo pode representar um risco para o paciente ou terceiros. Para Beauchamp e Childress (2019), a resolução de dilemas éticos na saúde deve sempre considerar os princípios fundamentais da ética biomédica, como a autonomia, a beneficência, a não maleficência e a justiça. Na Terapia Ocupacional, isso significa que os profissionais devem estar preparados para avaliar cada situação de forma crítica, buscando alcançar sempre o melhor resultado possível para o paciente, enquanto respeitam os limites éticos e legais da profissão. Na área da Pesquisa, devem ser consideradas condições mais específicas, relacionadas ao consentimento informado e à proteção dos dados dos participantes. Os profissionais têm o dever de garantir que as pesquisas sejam conduzidas de forma ética, respeitando os direitos e a dignidade dos participantes, o que, por sua vez, contribui para o avanço da prática baseada em evidências. Atenção 12 Respeito à dignidade Fonte: Freepik (2024). #pratodosverem: a imagem retrata um terapeuta ocupacional auxiliando uma paciente cadeirante a realizar o exercício de elevação de pesos com os braços, representando o respeito à dignidade da paciente. Ética e Interdisciplinaridade A prática interdisciplinar representa uma característica importante da Terapia Ocupacional, sobretudo em contextos de saúde-doença, nos quais o trabalho em equipe é indispensável para oferecer um atendimento completo ao paciente. Nesse cenário, a ética tem significativa relevância, posto que garante que os diferentes profissionais trabalhem juntos de maneira harmoniosa e respeitosa, com o objetivo comum de promover o bem-estar do paciente. A colaboração interdisciplinar requer uma compreensão clara das responsabilidades e limites de cada profissão, bem como um compromisso com a comunicação aberta e honesta entre os membros da equipe. À luz das considerações de Vasconcelos (2002), a ética na prática interdisciplinar envolve o respeito pela expertise e autonomia de cada profissional, ao mesmo tempo em que se busca uma abordagem integrada e centrada no paciente. 13 Os terapeutas ocupacionais devem ser capazes de colaborar efetivamente com outros profissionais de saúde, como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e psicólogos, mantendo sempre um alto padrão ético em suas interações. Isso inclui a partilha de informações relevantes para o cuidado do paciente, o respeito pelas decisões dos outros profissionais e a busca de soluções conjuntas para os desafios éticos que possam surgir. Para ampliar os seus conhecimentos sobre a temática desta unidade, acesse o artigo “Terapia Ocupacional social: formulações à luz de referenciais freireanos” (Farias; Lopes, 2020) neste link. Saiba mais https://www.scielo.br/j/cadbto/a/xPttSCnW3YLySWXTqH73QmQ/ 14 Conclusão Os direitos e deveres do terapeuta ocupacional constituem o alicerce de uma prática profissional que não apenas assegura a qualidade e a ética no atendimento, mas também promove a dignidade e os direitos dos pacientes. Portanto, ao equilibrar autonomia e responsabilidade, os terapeutas ocupacionais têm a oportunidade de atuar com integridade e compromisso social, contribuindo para criar uma sociedade mais justa e igualitária. Assim, a compreensão e a aplicação dos princípios éticos discutidos nesta unidade são essenciais para que os profissionais possam enfrentar os desafios diários da prática com confiança e sabedoria, sempre orientados pelo bem-estar dos indivíduos e pela promoçãoda justiça social. 15 Referências BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. Principles of biomedical ethics. 8. ed. New York: Oxford University Press, 2019. CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Resolução Coffito n. 425, de 8 de julho de 2013. Estabelece o Código de Ética e Deontologia da Terapia Ocupacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1 ago. 2013. FARIAS, M. N.; LOPES, R. E. Terapia Ocupacional social: formulações à luz de referenciais freireanos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, [S. l.], v. 28, n. 4, p. 1346-1356, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cadbto/a/ xPttSCnW3YLySWXTqH73QmQ/?lang=pt&format=html#. Acesso em: 1 set. 2024. VASCONCELOS, E. M. Ética e cidadania: caminhos da Terapia Ocupacional. São Paulo: Cortez, 2002. https://www.scielo.br/j/cadbto/a/xPttSCnW3YLySWXTqH73QmQ/?lang=pt&format=html# https://www.scielo.br/j/cadbto/a/xPttSCnW3YLySWXTqH73QmQ/?lang=pt&format=html#