Buscar

TESE - Ilckmans Bergma Tonha Moreira Mugarte

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 180 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 180 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 180 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

a 
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa 
Programa de Pós – Graduação Stricto Sensu em Psicologia 
Dissertação de Mestrado 
 
 
FAMÍLIA, TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE NA 
ADOLESCÊNCIA: ESTUDO POR MEIO DO RORSCHACH E DA 
ABORDAGEM SISTÊMICA 
Brasília - DF 
2012 
Autora: Ilckmans Bergma Tonhá M. Mugarte 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Alexina Ribeiro 
Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Marta Helena de Freitas 
 
 
Ilckmans Bergma Tonhá Moreira Mugarte 
 
 
 
 
 
 
 
FAMÍLIA, TRANSTORNOS ALIMENTARES E 
OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: ESTUDO POR 
MEIO DO RORSCHACH E DA ABORDAGEM 
SISTÊMICA 
 
 
 
Dissertação de Mestrado 
apresentada ao Programa de 
Pós Graduação Stricto Sensu 
em Psicologia da Universidade 
Católica de Brasília, como 
exigência parcial para obtenção 
do título de Mestre em 
Psicologia. 
 
 
Orientadora: Profª. Drª. Maria Alexina Ribeiro 
Coorientadora: Profª. Drª. Marta Helena de Freitas 
 
 
 
Brasília - DF 
2012 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7,5cm 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB 
 
 12/11/2013 
 
 
 
B499f Bergma, Ilckmans Tonhá Moreira Mugarte 
Família, transtornos alimentares e obesidade na adolescência: estudo 
por meio do Rorschach e da Abordagem Sistêmica. /Ilckmans Bergma 
Tonhá Moreira Mugarte – 2012. 
178 f.: il.; 30 cm 
 
Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012. 
Orientação: Profa. Dra. Maria Alexina Ribeiro 
Coorientação: Profa. Dra. Marta Helena de Freitas 
 
1. Comportamento compulsivo. 2. Adolescência. 3. Distúrbios 
alimentares. 4. Obsessão (Psicologia). I. Ribeiro, Maria Alexina, orient,. II. 
Freitas, Marta Helena, coorient. III. Título. 
 
 
 CDU 159.9:616.89 
-ll( Universidade
~ Católica de Brasília
Dissertação de autoria de Ilckmans Bergma Tonhá Moreira Mugarte intitulada "FAMíLIA,
TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: ESTUDO POR
MEIO DO RORSCHACH E DA ABORDAGEM SISTÊMICA", apresentada como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de
Brasília, defendida e aprovada em 25 de junho de 2012, pela Banca Examinadora
abaixo assinada:
Profa Dra Cláudia Cristina Fukuda
Membro- UCB
Mestrado em Psicologia
profa
-'~,
Brasília
2012
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus filhos Caio e Camilla 
que representam o que tenho de melhor. 
Espero que tenhamos qualidade de tempo juntos 
para reafirmar nossos vínculos, 
como um relacionamento específico, 
 único e duradouro entre nós. 
 
Ao Fábio Mugarte. 
À nossa história construída nesses 12 anos. 
 A ele que jurou ter amor por mim. 
Dedico o peso das minhas melhores escolhas, 
onde conseguimos compartilhar, incentivar e vibrar um pelo outro. 
Por tudo isso e por todos eles afirmo que sou feliz. 
 
Aos modelos parentais. 
Que eles possam exercitar suas funções, 
assumindo o desejo de transmitir referenciais positivos aos filhos, 
já que isso faz a base segura para o outro funcionar. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Às famílias participantes dessa pesquisa que generosamente se dispuseram a 
dividir suas histórias e que me reforçam a tentar ser uma profissional por 
excelência. 
 
À minha orientadora Drª. Maria Alexina Ribeiro. Minha profunda admiração e 
respeito pelo trabalho que desenvolve e que me guiou nesta jornada, com sua 
generosidade e dedicação. Ela que soube me instruir, usando sensibilidade e 
paciência, me direcionando com maestria e fez representar momentos que vão 
além das palavras. Agradeço ao que conseguimos realizar e espero, com a 
mesma competência e entusiasmo, dar continuidade a este belo trabalho. 
 
À minha coorientadora Marta Helena de Freitas. Agradeço pelo incentivo a 
importantes contribuições nesse trabalho, onde conseguimos realizar uma 
comunicação fluida dentro de nossas afinidades e, que provavelmente virão 
nos render alguns outros projetos futuros. Agradeço também pela credibilidade 
depositada ao meu potencial em um projeto como este. 
 
À minha mãe Neta Tonhá por ter me passado a sabedoria de “mãe-leoa”. 
Obrigada minha mãe por ter sempre tentado nos proporcionar o melhor para 
nossas vidas e por estimular e apostar em tudo o que eu faço. 
 
Aos meus filhos e marido que me ajudaram a trilhar este caminho, respeitando 
e compreendendo as minhas ausências, cansaços, mas que não esgotaram a 
vontade de acreditar em mim. Obrigada por trazerem o colorido e a alegria que 
eu preciso em todos os dias da minha vida. 
 
Aos meus modelos parentais que desenvolveram os princípios de “família”, 
realizando o máximo alcançado por eles aos filhos e netos. 
 
À Capes pelo suporte financeiro, agradeço por ter tornado possível este sonho, 
pelo critério de seleção à bolsa, onde fiz jus ao investimento. 
 
Em nome de ser dona das “Amizades inoxidáveis”, agradeço aos meus amigos, 
companheiros de mestrado que souberam dividir suas vidas, suas dores e 
alegrias nesta nossa trajetória. Em especial à Merineide Conque que tem um 
olhar de “mãe-bruxa” sobre mim e tenta cuidar de mim como se fosse sua filha. 
À amiguinha Ana Paula Rocha, pela empatia que estabelecemos desde o início 
e que provavelmente nos renderá muitos momentos compartilhados e outros 
projetos. Ao Gabriel Marra, meu amigo parceiro que além do carinho, 
soubemos dividir trabalhos e congressos, espero dividir outros tantos. Ao 
Heron Nogueira, amigo que tenho grande simpatia e afinidade. À Rita de 
Cássia Araújo, pelas afinidades, pelo incentivo e pela torcida sempre presente 
em todas as etapas. À Lígia Bias pela cumplicidade e alegria nos nossos 
momentos. À Nair Tuboiti e Karine Hepp pelo carinho e atenção, à Eliane 
Passos pelo carinho e aos outros colegas um forte abraço. 
 
Ao Dr. Alexandre Rozenwald com quem divido boa parte do meu trabalho. 
Obrigada pela confiança e sintonia mútua, nos âmbitos profissional e pessoal. 
Aos meus pacientes que me fazem ter o olhar sensível ao Outro e a vibrar por 
cada passo e mudanças conquistadas por eles. 
 
Ao meu sobrinho Lucas Tonhá, meu filho-afilhado que me faz ter a certeza de 
como é importante “bons referenciais” decidindo seguir os passos da tia no 
caminho da psicologia, agregando mais valor a esta “Family de psicólogos”, 
junto a mim, à minha irmã e meu cunhado também psicólogos. 
 
Ao meu irmão Herckmans Tonhá, que nos presenteia com o mais novo 
membro: Joaquim. Que ele venha trazer mais emoção aos nossos laços 
familiares. 
 
À minha irmã Herilckmans Tonhá que apesar de seguirmos caminhos 
diferentes na psicologia, sempre sabemos nos unir ao “abraço tradicional” de 
nossas vidas, com quem aprendi a dividir e, agora através de nossos filhos e 
sobrinhos aprendemos mais do que dividir, nos desdobrar. Agradeço a 
Veruska, Isadora e Bernardo meus sobrinhos lindos que nos inspiram a nos 
tornar pessoas melhores. 
 
Às minhas companheiras de almas: Raquel Fagundes e Adriana Santiago. 
Amigas-irmãs são as presenças vibrantes em tudo o que me acontece. Não 
precisamos de tempo, distância, defeitos ou qualidades. Somos um trio de 
verdade. 
 
Aos professores Prof. Dr. Vicente Faleiros (expresso um carinho especial), Srª 
Drª Cláudia Fukuda, Sr. Dr. Francisco Martins, SrªDrª Ondina Pereira e todos 
os outros que de alguma forma tiveram participações importantes nesta 
jornada. Agradeço pelo aprendizado e por termos estabelecido além de laços 
afetivos, outras afinidades. 
 
Aos participantes da pesquisa, alunos da iniciação científica que nos inspira a 
pesquisar mais. Às amizades adquiridas neste caminho, em especial à Aldenira 
Cavalcante. 
 
Aos funcionários da UCB com quem acabei criando além do contato 
administrativo, muitas trocas de afetos, em especial à Joana (sempre prestativa 
e alegre), Erivânia, Zilmara (pela disposição em querer ajudar), à Fátima da 
biblioteca que sempre foi atenciosa e carinhosa. 
 
À amiga de especialização que contribuiu com a pesquisa Rosemary Vechi. E 
elas Rosane Lavall e Fabíola Aquino, com quem compartilho amizade e um 
carinho especial, por estarem sempre na minha torcida. Aos outros tantos 
amigos e familiares obrigada por compreenderem minhas ausências neste 
período. 
 “Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. 
O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. 
 ( ) A não ser a mim mesma. 
( ) Apenas faço paisagens com o que sinto”. (F. Pessoa) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É preciso leveza para se pertencer 
porque a intensidade pode roubar você de si mesmo. 
( ) Então... é preciso aprender que 
É preciso leveza para se pertencer". 
 
(Cristina Guerra) 
 
 
 
 
RESUMO 
Referência: BERGMAN, Ilckmans Tonhá Moreira Mugarte. Família, 
Transtornos Alimentares e Obesidade na adolescência: estudo por meio do 
Rorschach e da Abordagem Sistêmica, 2012. 170 f. Dissertação (Mestrado em 
Psicologia), Universidade Católica de Brasília, 2013. 
 
 
Os transtornos alimentares (TA) - anorexia nervosa e bulimia nervosa, considerados 
como graves perturbações no comportamento alimentar, são causas importantes de 
morbidade e mortalidade em adolescentes. Pacientes com esses transtornos têm 
um índice de mortalidade doze vezes maior que o da população normal da mesma 
faixa etária. A obesidade pode ser considerada um dos mais graves problemas de 
saúde pública, em todo o mundo, devido às complicações a ela associadas e às 
altas taxas de morbidade e mortalidade. Os TA e a obesidade têm sido estudados 
nos últimos anos, porém a maioria das pesquisas enfoca os aspectos individuais 
dos pacientes. Foi no sentido de ampliar a compreensão sobre esses diagnósticos, 
envolvendo também o contexto familiar dos indivíduos, que o presente estudo teve 
como objetivo estabelecer possíveis relações entre as respostas dadas por 
adolescentes com TA e obesidade, referentes às figuras parentais no método de 
Rorschach e as características da dinâmica familiar, identificadas por meio de 
técnicas sistêmicas. O projeto faz parte de um projeto maior que tem o objetivo de 
construir uma metodologia de atendimento psicossocial a crianças e adolescentes 
com transtornos alimentares e suas famílias, em andamento na Universidade 
Católica de Brasília, sob a coordenação da orientadora dessa dissertação e do qual 
a autora da mesma faz parte. Os participantes foram três famílias residentes em 
Regiões Administrativas do Distrito Federal: uma adolescente com diagnóstico de 
anorexia nervosa, formada pela genitora, 46 anos, e uma irmã de 17, reside em 
casa alugada e tem uma renda mensal aproximada de R$2.700,00; a segunda com 
uma adolescente com diagnóstico de bulimia nervosa, formada pela genitora, 42 
anos, o genitor, 43, e dois irmãos de 22 e 07, reside em casa própria e renda 
mensal de dois salários mínimos; a terceira que possui diagnóstico de obesidade é 
formada pela genitora, 67 anos, duas irmãs de 26 e 21, e um irmão de 23, reside 
em casa própria e renda de dois salários mínimos. Utilizou-se o método da pesquisa 
qualitativa por meio do estudo de caso. Realizou-se entrevista familiar semi-
estruturada – Entrevista do Ciclo de Vida Familiar, com elaboração do genograma 
e, em seguida, os adolescentes foram submetidos ao teste de Rorschach. Os dados 
das entrevistas foram analisados com base no método construtivo-interpretativo de 
Gonzáles Rey e os dados do teste foram analisados segundo os protocolos de 
Rorschach, com base na Escola Francesa. Os dados levantados sobre a história e 
Ciclo de Vida Familiar mostraram algumas características da dinâmica familiar 
como: dificuldades nas famílias de origem materna; dificuldades no relacionamento 
social dos adolescentes; estrutura familiar do tipo desligada (na família com 
anorexia nervosa), família com fronteiras externas difusas (bulimia nervosa) e 
família com estrutura do tipo emaranhada (família com obesidade); padrão 
alimentar atual irregular (famílias com anorexia e obesidade) e fartura e variedade 
na alimentação atual (família com bulimia); a comida como fator agregador (famílias 
com bulimia e obesidade). Os dados do teste de Rorschach apontaram para a 
presença de baixa autoestima, insegurança, distorções acerca do autoconceito e 
autoimagem e problemas de identificação sexual nos adolescentes. 
 
Palavras-chave: Anorexia nervosa; Bulimia nervosa; Obesidade; Dinâmica familiar; 
Teste de Rorschach. 
ABSTRACT 
Eating disorders such as anorexia and bulimia nervosa, considered as serious disturbances 
in eating habits, are relevant causes of morbidity and mortality in adolescents. Patients with 
these disorders have a mortality rate twelve times higher than the normal population in the 
same age range. Obesity may be considered one of the world’s most serious public health 
problems, because of the complications associated with it and the high rates of morbidity and 
mortality. Eating disorders and obesity have been studied in past years, however most 
researches focuses on the individual aspects of the patients. It was with the intent to broaden 
the comprehension of these diagnosis, also involving the family context of individuals, that 
this present study aims at establishing possible links between the answers given by the 
adolescents with eating disorders (bulimia nervosa and anorexia nervosa) and obesity, in 
regards to the parental figures in the Rorschach method and the characteristics of the family 
dynamic, identified by means of systemic techniques. The project is part of a larger project 
which aims at building a psychosocial care methodology for children and adolescents with 
eating disorders and their families, which is in progress at Universidade Catolica de Brasilia, 
under the coordination of this dissertation’s advisor and of which the author is also part of. 
The participants were three families which resides in Administrative Regions of the Federal 
District: the first has an adolescent with a diagnosis of anorexia nervosa, composed by the 
mother, 46 years of age, and a sister who is 17, they live in a rental home and have a monthly 
income of $2.700,00; the second has an adolescent with a bulimia nervosa diagnosis, 
composed by the mother who is 42 years old, father, 43, and two brothers of 22 and 07, they 
live in a home which they own and have a monthly income of two minimum wages; the third 
which has a diagnosis of obesity is composed by the mother, 67 years old, two sisters of 26 
and 21, and a brother of 23, they live in a home which they own and have an approximate 
monthly income of two minimum wages. Qualitative research method was used by means of 
case study. A semi-structured family interview – Family Life Cycle Interview was conducted, 
with the elaboration of a genogram and, afterwards, the adolescents were submitted to the 
Rorschach test. The data from the interviews were analysed based on the constructive-
interpretativemethod of Gonzáles Rey and the data from the tests were analysed according 
to the Rorschach protocols, based on the French School. The data found regarding the 
Family Life Cycle and history showed a few characteristics of the family dynamic such as: 
difficulties on the maternal side of the families; difficulties in the adolescents’ social 
relationships; a disengaged family structure (in the family with anorexia nervosa), family with 
diffused external borders (bulimia nervosa) and an enmeshed family structure (family with 
obesity); current irregular eating habits (families with anorexia and obesity) and abundance 
and variety in the current eating habits (family with bulimia); food as a gathering factor 
(families with bulimia and obesity). The data from the Rorschach test showed the presence of 
low self-esteem, insecurity, distortions of self-concept and self-image and sexual identification 
problems among the adolescents. 
Key words: Anorexia nervosa; Bulimia nervosa; Obesity; Family dynamics; Rorschach test. 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
 
Quadro 1 Análises simbólicas das Pranchas do Rorschach ........................ 45 
Quadro 2 Resumo dos dados sobre a dinâmica familiar e características de 
personalidade dos adolescentes com Transtornos Alimentares e obesidade .... 
 ..................................................................................................................... 156 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
Figura 1 Anorexia Nervosa ............................................................................ 63 
Figura 2 Genograma da família de Gislene ................................................... 65 
 Legenda do Genograma ................................................................................ 66 
Figura 3 Bulimia Nervosa .............................................................................. 96 
Figura 4 Genograma da família de Stefany ................................................... 98 
Figura 5 Obesidade ..................................................................................... 126 
Figura 6 Genograma da família de Thiago .................................................. 128 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14 
2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................ 16 
2.1 ANOREXIA NERVOSA ........................................................................... 16 
2.1.1 Histórico ........................................................................................... 16 
2.1.2 Diagnóstico ...................................................................................... 17 
2.1.3 Anorexia e distorção da imagem ...................................................... 18 
2.2 BULIMIA NERVOSA ............................................................................... 19 
2.2.1 Histórico ........................................................................................... 19 
2.2.2 Diagnóstico ...................................................................................... 21 
2.2.3 Bulimia e distorção da imagem ........................................................ 24 
2.3 OBESIDADE ........................................................................................... 25 
2.3.1 Histórico ........................................................................................... 25 
2.3.2 Diagnóstico ...................................................................................... 25 
2.3.3 Obesidade e distorção da imagem................................................... 28 
2.4 AUTOIMAGEM, TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE ..... 28 
2.5 ADOLESCÊNCIA – CORPO E IDENTIDADE ........................................ 30 
2.6 ADOLESCÊNCIA, CORPO, TRANSTORNOS ALIMENTARES E 
OBESIDADE .................................................................................................. 32 
2.7 FAMÍLIA, TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE ................ 33 
2.7.1 Família e Anorexia Nervosa ............................................................. 35 
2.7.2 Família e Bulimia Nervosa ............................................................... 37 
2.7.3 Família e Obesidade ........................................................................ 38 
2.8 MÉTODO DE RORSCHACH .................................................................. 40 
2.8.1 Campo simbólico das pranchas do Rorschach ................................ 43 
3 OBJETIVOS ............................................................................................... 49 
3.1 Objetivo geral ...................................................................................... 49 
3.2 Objetivos específicos .......................................................................... 49 
4 MÉTODO ................................................................................................... 50 
4.1 Participantes ........................................................................................... 51 
4.2 Instrumentos ........................................................................................... 53 
4.2.1 Roteiro de entrevista semi-estuturado do ciclo de vida familiar ....... 53 
4.2.2 Genograma ...................................................................................... 54 
4.2.3 Teste de Rorschach ......................................................................... 54 
4.3 Procedimentos de Levantamento de Dados ........................................... 55 
4.3.1 Identificação dos participantes ......................................................... 55 
4.3.2 Realização da entrevista do Ciclo de Vida ....................................... 56 
4.3.3 Aplicação do Teste de Rorschach.................................................... 57 
4.4 Procedimentos de Análise de Dados ...................................................... 58 
4.4.1 Análise dos dados da entrevista do ciclo de vida familiar ................ 58 
4.4.2 Análise do Teste de Rorschach ....................................................... 59 
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 61 
5.1 Caso 1 – Gislene: Anorexia Nervosa ................................................... 64 
 5.1.1 A Família de Gislene ...................................................................... 64 
 5.1.2 Dados do Rorschach ..................................................................... 79 
 a) Modo de Funcionamento ....................................................................... 79 
 b) Representação de si .............................................................................. 81 
 b.1 Integração da identidade ................................................................. 81 
 b.2 Identificação sexual ......................................................................... 83 
 b.3 Autoimagem .................................................................................... 84 
 c) Representação de objeto ....................................................................... 85 
 c.1 Identificação com as figuras parentais ............................................ 85 
 5.1.3 A adolescente com anorexia nervosa e sua família ................... 90 
5.2 Caso 2 – Stefany: Bulimia Nervosa ..................................................... 97 
 5.2.1 A Família de Stefany .................................................................... 97 
 5.2.2 Dados do Rorschach ................................................................. 114 
 a) Modo de Funcionamento ...................................................................114 
 b) Representação de si .......................................................................... 115 
 b.1 Integração da identidade............................................................. 115 
 b.2 Identificação sexual .................................................................... 117 
 b.3 Autoimagem ................................................................................ 118 
 c) Representação de objeto ................................................................... 119 
 c.1 Identificação com as figuras parentais ........................................ 119 
5.2.3 A adolescente com bulimia nervosa e sua família .................. 122 
5.3 Caso 3 – Thiago: Obesidade .............................................................. 127 
 5.3.1 A Família de Thiago ................................................................... 127 
 5.3.2 Dados do Rorschach ................................................................. 139 
 a) Modo de Funcionamento ................................................................... 139 
 b) Representação de si .......................................................................... 140 
 b.1 Integração da identidade............................................................. 140 
 b.2 Identificação sexual .................................................................... 142 
 b.3 Autoimagem ................................................................................ 143 
 c) Representação de objeto ................................................................... 145 
 c.1 Identificação com as figuras parentais ........................................ 145 
 5.3.3 A adolescente com obesidade e sua família ........................... 148 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 154 
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 161 
APÊNDICES ................................................................................................ 169 
Apêndice A TCLE .................................................................................. 169 
Apêndice B Roteiro de Entrevista semi-estruturado do Ciclo de Vida 
familiar ................................................................................................... 171 
Apêndice C Psicograma Rorschach – Caso Anorexia Nervosa – 
Gislene.... ............................................................................................... 175 
Apêndice D Psicograma Rorschach – Caso Bulimia Nervosa – 
Stefany....... ............................................................................................ 176 
Apêndice E Psicograma Rorschach – Caso Obesidade - Thiago ......... 177 
ANEXOS ...................................................................................................... 178 
 Anexo A Certificado do CEP ................................................................ 178 
 
 
 
14 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 Os Transtornos Alimentares (TA), como Anorexia Nervosa (AN), Bulimia 
Nervosa (BN) - e a obesidade, são causas importantes de morbidade e 
mortalidade em adolescentes e estão associados a consequências clínicas e 
psicológicas devastadoras. Segundo Diagnositic and Statistical Manual, IV 
edition - DSM IV - American Psychological Association (APA, 2003), pacientes 
com transtornos alimentares têm um índice de mortalidade 12 vezes maior que 
o da população normal da mesma faixa etária e duas vezes maior que 
pacientes portadores de outros transtornos psiquiátricos e sua maior incidência 
ocorrem na adolescência. 
 Os TA têm sido estudados como doenças que não possuem uma raiz 
etiopatogênica específica. São caracterizados por graves perturbações no 
comportamento alimentar, cujos critérios são definidos e classificados como 
transtornos mentais pelo DSM-IV (APA, 2003) e Classificação Internacional de 
Doenças - CID-10 , 10ª edição (OMS, 1999) que resultam nas duas entidades 
nosológicas principais: AN e BN. A obesidade é uma doença endócrina que 
não está associada aos transtornos psiquiátricos. É resultado do consumo 
excessivo de comida em relação ao gasto energético, caracterizada também 
pelo comer em excesso. Segundo o DSM IV (APA, 2003), a obesidade não tem 
uma associação consistente como uma síndrome psicológica ou 
comportamental, porém existem fatores psicológicos que afetam a condição 
clínica. 
 Bruch (1973) descreveu a AN como busca implacável em direção à 
magreza, onde o sujeito apresenta falhas no senso de identidade e autonomia. 
Segundo a autora, há sérias perturbações no funcionamento característico da 
AN como uma recusa do indivíduo em manter o peso corporal na faixa normal 
mínima, intenso temor em ganhar peso e uma perturbação significativa na 
percepção da forma ou tamanho do corpo. 
 A BN é caracterizada por Russell (1979) como a ingestão compulsiva e 
rápida de grandes quantidades de alimento, em curto espaço de tempo, 
alternada com um comportamento de evitar o ganho de peso e um medo 
15 
 
mórbido de engordar, seguidos pelos vômitos autoinduzidos. Há também uma 
sensação de perda de controle e distorções com relação à percepção do corpo. 
 A obesidade, segundo Barbanti (1990), é causada pelo consumo 
excessivo de calorias e consequente excesso de gordura na composição 
corporal, o que leva a uma relação desequilibrada entre a estatura e o peso. Na 
obesidade também ocorrem percepções distorcidas em relação ao esquema 
corporal. 
 Estudos têm mostrado uma relação entre a dinâmica familiar e os 
transtornos alimentares/ obesidade. Minuchin (MINUCHIN; NICHOLS; LEE, 
2010) estudou o que ele chamou e “famílias psicossomáticas”, na década de 
70, identificando algumas características da estrutura das famílias com AN e 
BN. Não se pode dizer que existe uma estrutura familiar particular tanto para os 
TA quanto para a obesidade, mas existem características significativas que 
levam à identificação de aspectos no funcionamento familiar que podem 
ampliar a compreensão sobre as relações familiares e esses transtornos. 
 Consideramos importante pesquisar os TA e a obesidade entre 
adolescentes, pois eles foram considerados pela Organização Mundial de 
Saúde – OMS (2009) como graves problemas de saúde pública. Apesar da 
grande quantidade de estudos já realizados sobre os temas, estes geralmente 
enfocam aspectos individuais dos pacientes, não levando em consideração o 
contexto em que vivem. Assim, visando contribuir para uma melhor 
compreensão dessas questões, o presente estudo teve como objetivo 
relacionar as características da dinâmica familiar de adolescentes com TA e 
obesidade, identificadas por meio de técnicas sistêmicas, com as respostas 
dadas por esses adolescentes referentes às figuras parentais no método de 
Rorschach. A pesquisa foi realizada com três adolescentes – um com 
diagnóstico de AN, um com diagnóstico de BN e um com diagnóstico de 
obesidade – e suas famílias. Os adolescentes responderam ao teste de 
Rorschach e participaram de uma entrevista familiar. 
 
 
16 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
 Neste item serão descritos os aspectos históricos, os conceitos, os 
critérios, a classificação diagnóstica, a distorção de imagem corporal, tanto dos 
TA quanto da obesidade. Estes temas têm sido o foco de atenção dos 
sociólogos, assistentes sociais, assim como os profissionais da saúde, que 
incluem os psiquiatras, clínicos gerais, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e 
psicoterapeutas. 
 
2.1 ANOREXIA NERVOSA 
 
2.1.1 Histórico 
 
 O Termo Anorexia tem sido abordado na perspectiva históricapor alguns 
autores. Segundo Fendrick (1997), as primeiras descrições, feitas por Cícero 
(106-46 a. C) são direcionadas pela aversão à comida, com o termo fastidium, 
relacionado à inapetência e enjôo do estômago. Segundo o autor, existe o 
registro e uma possível ligação a Hipócrates (460 a.C.-370 a.C) que costumava 
receitar jejuns e vômitos no tratamento de quase todas as doenças. Segundo 
Cordás e Claudino (2002), a AN esteve aproximada à religião, na descrição de 
casos de jejuns com objetivos de servir a Deus. Segundo Abuchaim (2002), 
todas estas descrições têm em comum não a falta de apetite, mas a 
necessidade de vencer a fome e não comer. 
 Na Idade Média (1200-1500), existem relatos sobre a doença, 
denominada de Anorexia Sagrada que, segundo Abuchaim (2002), estava 
relacionada a uma dieta restritiva e autoimposta com grande perda de peso. O 
fato das mulheres que não comiam permanecerem vivas era considerado como 
verdadeiros milagres, na época. Desta maneira, as privações de comida se 
transformaram em objetivos para alcançar a pureza e a espiritualidade e a gula 
era vista como um dos sete pecados capitais. 
17 
 
 O termo AN, visto na contemporaneidade, não está mais associado aos 
mesmos termos do passado, pois não possuem a mesma motivação. As 
motivações anteriores eram fundamentalmente ligadas à religiosidade e hoje 
podem estar associadas a múltiplos fatores como os culturais e emocionais. O 
medo de engordar é intensificado ou aliado à distorção da imagem corporal. 
Segundo Del Priore (2000), o corpo esbelto está associado ao sucesso e influi 
na autodeterminação do sujeito perante si e em relação à sociedade. A 
magreza, além de sinalizar beleza, seria um caminho para a felicidade. O 
comer passa a ser visto como um sinal de fraqueza, uma dificuldade de não 
resistir e consequentemente de se controlar. 
 
2.1.2 Diagnóstico 
 
 Na AN há uma busca desenfreada pela magreza com distorções da 
imagem corporal, distúrbio endócrino (Ex: alteração do ciclo menstrual) 
provocado por dietas rígidas com o objetivo da perda de peso. De acordo com 
o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM IV (APA, 
2003), a AN caracteriza-se pela recusa em manter o peso dentro da faixa 
mínima esperada para a idade e altura. Ocorre um medo intenso de engordar 
que provoca perturbações na forma de vivenciar o peso, tamanho e formas 
corporais. Como definição geral do DSM IV (APA, 2003) a AN caracteriza-se 
como uma severa perturbação do comportamento alimentar, onde o sujeito tem 
um grau de resistência ou recusa em manter o peso mínimo. 
 O Código Internacional de Doenças – CID -10 (OMS, 1999) descreve a 
AN como uma forma psicopatológica específica, onde há a distorção da 
imagem corporal. A perda de peso é autoinduzida pela recusa de alimentos 
“que engordam”. O medo de engordar assume uma conotação de distorção da 
imagem corporal. Segundo Freitas, Gorenstein e Appolinario (2002), além dos 
aspectos psicopatológicos como eixo central da AN, existem manifestações 
afetivas e comportamentais distorcidas, baseadas em autoavaliação 
excessivamente focada no peso e na forma. 
18 
 
 No DSM IV (APA, 2003) são descritos dois tipos de AN: a) tipo restritivo: 
não se manifesta pelo comportamento de comer compulsivo ou prática 
purgativa, ou seja, sem vômitos autoinduzidos, uso de laxantes ou diuréticos 
(há um controle na ingestão de alimentos por dietas hipocalóricas, jejuns, 
diminuição do número de refeições) e b) tipo purgativo: manifestado pelas 
compulsões e purgações durante e após a ingestão de comida (uso de 
laxantes, inibidores de apetite, prática excessiva de exercícios físicos). 
 
2.1.3 Anorexia e distorção da imagem 
 
 De acordo com o CID-10 (OMS, 1999), a distorção da imagem é 
considerada sintomatologia específica da AN. O pavor de engordar leva o 
sujeito a desenvolver ideias intrusivas sobre a imposição de um baixo limiar de 
peso a si mesmo. 
 Segundo Bruch (1962), há sinais de alterações na personalidade 
associadas às distorções da imagem corporal. Na AN não está caracterizado a 
perda do apetite e sim uma luta contra o mesmo. Isso faz com que o sujeito 
passe a ter falsas percepções acerca do corpo, como intensificar o volume de 
determinadas partes. Desta forma, o autor, como psiquiatra que se 
especializou no estudo e tratamento dos transtornos alimentares, define a AN 
como um distúrbio da percepção corporal, caracterizado pelo medo intenso ou 
mórbido de engordar. 
De acordo com Jackson (1999), a gordura pode ser uma metáfora das 
marcas afetivas, emocionais e sócio-culturais permanentemente inscritas no 
corpo. A autoimagem distorcida revela a tensão gerada pelas discrepâncias 
entre a imagem real e a imagem idealizada. Segundo o autor, é a imagem do 
corpo que forma um tipo de identidade do eu. De acordo com Cabrera (2006), o 
critério para a distorção da imagem corporal caracteriza uma mudança na 
percepção de si mesmo, pela percepção distorcida do próprio corpo. 
Segundo Kaplan (1997), é difícil identificar, como critério diagnóstico, o 
mecanismo de perda de peso, com pensamentos ruminativos, associados à 
19 
 
distorção da imagem corporal. Segundo Herscovicy e Bay (1997), existem 
traços da personalidade ou variações na personalidade anoréxica que 
manifestam grande necessidade de aprovação externa, tendência ao 
conformismo e falta de respostas às necessidades internas. Estas 
características demonstram uma vontade de corresponder às expectativas do 
outro que leva o sujeito a uma autocobrança rígida sob si mesmo e sobre seu 
corpo. 
 A distorção da imagem tem sido alvo de discussões, pois demonstra 
uma complexidade associada às dinâmicas afetivas, às atitudes e 
comportamentos em relação ao corpo. De acordo com o DSM IV (APA, 2003), 
nesta categoria, a distorção da imagem corporal, é manifestada por uma 
autoavaliação excessivamente centrada no peso e na forma, caracterizando 
um critério diagnóstico da AN. 
 
2.2 BULIMIA NERVOSA 
 
2.2.1 Histórico 
 
 Segundo Parry-Jones (1991), o comportamento de forçar o vômito é 
muito antigo e pode ser encontrado precocemente na história de diferentes 
povos da Antiguidade. O termo bulimia deriva do grego “bous” (boi) e “limos” 
(fome), designando como um grande apetite, “capaz de comer um boi”. No 
antigo Egito, em 1500 A.C, parte do papiro de Eber é dedicado ao estímulo e 
às virtudes do ato de vomitar. Segundo Heródoto, os egípcios usavam o vômito 
como um ato purgativo todo mês (em três dias consecutivos), pois julgava que 
“todas as doenças dos homens eram oriundas da comida”. Hipócrates também 
recomendava a indução de vômitos por dois dias consecutivos, todo mês como 
um método de prevenir diferentes doenças. Os romanos criaram o vomitorium, 
onde podiam se alimentar em excesso nos banquetes e vomitar depois em 
local reservado para esta finalidade, utilizando os eméticos (medicamentos que 
induziam o vômito). Estes eram os artifícios terapêuticos que os médicos da 
20 
 
época poderiam prescrever. 
 Segundo Nunes et al. (2006), os primeiros relatos sobre o 
comportamento bulímico foram descritos em 1874 por Gull, que caracterizava o 
comportamento de um apetite voraz. 
 Na década de 40 alguns trabalhos abrem caminho para a nova síndrome 
alimentar. Nos anos 50 a BN foi descrita no meio de pacientes com AN e 
posteriormente entre obesos. Somente em meados da década de 70, os 
pesquisadores identificaram sintomas bulímicos entre mulheres jovens de peso 
normal. Para Crisp, Palmer e kalucy (1976), há diferença nas motivações 
psicológicas entre a BN e a AN, pois os sujeitos apresentam sentimentos 
depressivose pensamentos autodepreciativos após episódios de ingestão 
compulsiva de alimentos. 
 Russell (1979) apresenta a descrição histórica de 30 casos e traz à tona 
o surgimento de um quadro que poderia ser considerado uma estranha 
evolução da AN e, particularmente, um subgrupo dos anoréxicos bulímicos, 
mas estes pacientes demonstravam mais resistências ao tratamento e 
complicações físicas mais graves. Nestas descrições, os sujeitos possuíam um 
“impulso irresistível de comer excessivamente”, seguido de vômitos 
autoinduzidos como forma de purgação e um medo mórbido de engordar. De 
acordo com o autor, estas características, associadas à perda de peso mínima 
ou ausente, caracterizaria um quadro sem denominação própria. 
 Em artigo clássico, Russell (1979) foi o primeiro a definir e distinguir a 
BN como categoria independente da AN, propondo diferenças entre os 
quadros. Como critérios básicos nessa distinção na BN há o impulso de comer 
excessivamente, evitando os efeitos "de engordar" através da indução de 
vômitos e/ou abuso de purgativos e o medo mórbido de engordar. 
 Segundo Casper (1993), a BN era considerada uma síndrome, 
caracterizada como um sintoma adjacente à AN. Russell (1995) passou a 
denominar a BN como uma dificuldade no controle dos impulsos, sentimentos 
de culpa, intolerância à frustração e à ansiedade, ligadas às manifestações 
físicas distintas e que não comprometiam o estado nutricional como na AN. 
21 
 
 Segundo Bonilla e Luna (2001), a BN é um transtorno alimentar 
caracterizado por repetidos ataques de hiperfagia (ingestão de grandes 
quantidades de alimentos em curto período de tempo), seguidos de métodos 
compensatórios inadequados para evitar o ganho de peso. Além disso, a BN 
também é tipicamente um distúrbio gastrointestinal, podendo ser fatal, 
dependendo da gravidade, como nos casos da dilatação gástrica aguda, 
hipertrofia das parótidas, esofagite e síndrome do cólon irritável. 
 De acordo com o CID-10 (OMS 1999), indivíduos bulímicos mostram 
uma preocupação excessiva com a imagem corporal e com o peso. Tentam 
evitar o ganho de peso através de compulsões periódicas, mas raramente 
estão abaixo do peso considerado ideal, em alguns casos estão com 
sobrepeso ou podem estar dentro da faixa normal de peso. Os bulímicos se 
envergonham de seus hábitos e procuram ocultar os sintomas a todo custo. O 
sigilo absoluto dos sintomas dificulta o diagnóstico da doença. De acordo com 
o DSM IV (APA, 2003), em muitos casos a família só desconfia do problema 
em estágio avançado, momento em que os sinais e sintomas se tornam 
evidentes. Para Brasil e Moraes (2007), a BN não visa apenas saciar uma fome 
exagerada, mas atende a uma série de estados emocionais ou situações 
estressantes. Os episódios só finalizam quando o sujeito sente-se mal, quando 
é interrompido por alguém ou quando o alimento acaba. Na BN, os afetos e as 
emoções são experimentados com intensidade e ganham expressões 
indiscriminadas. 
 
2.2.2 Diagnóstico 
 
 De acordo com o DSM IV (APA, 2003), os critérios diagnósticos para a 
BN são os episódios de compulsão alimentar, mas estes também são alvo de 
diversos questionamentos. O consenso na literatura está relacionado à 
presença da "compulsão alimentar" para o diagnóstico de BN, mas não quanto 
à sua definição e frequência. O DSM-IV (APA, 2003), descreve a compulsão 
com base em dois aspectos: 
22 
 
1) Ingestão em excesso de alimento em um período limitado de tempo 
(no período de duas horas) em quantidade maior do que a maioria das 
pessoas em período similar e sob circunstâncias similares. 
2) Sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar 
durante o episódio (incapacidade de parar de comer ou de controlar o 
quanto está comendo). 
 Segundo Beglin e Fairburn (1992), o comer exageradamente 
caracteriza-se pela ingestão de enormes quantidades de alimentos (geralmente 
entre 1.200 e 4.500 calorias). Segundo os autores, o componente "perda de 
controle" identifica a compulsão alimentar mais do que o "excesso alimentar" 
por si só. A compulsão alimentar é um sentimento que o indivíduo não pode 
evitar. Uma vez iniciada a compulsão (média de duas horas), já está associada 
à perda de controle. 
 De acordo com o CID-10 (OMS, 1999), os critérios diagnósticos da BN 
são diferenciados da AN no ponto em que os pacientes precisam comer 
compulsivamente e eliminar o ingerido. Na BN há uma preocupação persistente 
em comer e um desejo irresistível pela comida. Normalmente o sujeito tenta 
neutralizar os efeitos “de engordar” dos alimentos por meio de comportamentos 
compensatórios, através de vômitos autoinduzidos. Além dos vômitos (método 
mais frequente e de maior identificação da compulsão) existem outras 
maneiras de compensar, através dos métodos não purgativos, caracterizados 
por jejuns e exercícios excessivos, abuso de laxantes, diuréticos, (ocorrência 
de 2 vezes por semana e no prazo de 3 meses). Segundo este critério, os 
indivíduos também devem manter a preocupação excessiva com o peso e 
forma corporal, mesmo conseguindo manter o peso normal ou acima deste. 
Essa é a diferença fundamental entre a AN do tipo purgativo e a BN. 
 No CID-10 (OMS, 1999), a BN está associada a significados de 
descontrole frente à compulsão alimentar, manifestada por uma força externa 
que domina o sujeito ou pela característica do traço de personalidade. Segundo 
Fairbun (1997), este transtorno é permeado por múltiplos sentimentos e ideias 
negativas em relação à compulsão alimentar, muitas vezes associado à culpa 
23 
 
(por comer em excesso, pelos vômitos, medo mórbido de engordar), à raiva 
(pela dificuldade de controlar os impulsos) e pela tristeza (afeta o estado de 
ânimo). De acordo com Behar (1994), as compulsões apresentam-se 
associadas a estados de humor disfóricos como: depressão e situações 
negativas provocadas por stress. Também são observados sentimentos 
relacionados à perda ou à rejeição, baixa autoestima, e insegurança. 
 Para Fairbun, Cooper e Shafram (2003), o vômito é a maneira de trazer 
alívio à ingestão compulsiva. Vem sempre acompanhada de sentimentos de 
culpa, angústia, perda de controle em relação aos efeitos do ganho de peso na 
ingestão exagerada de comida. O vômito, de certa maneira interrompe 
temporariamente o desconforto e a ansiedade. Estes autores acreditam que 
estes episódios de ingestão compulsiva não ocorrem aleatoriamente, estão 
associados às alterações de estado de humor. 
 A BN é caracterizada pela grande ingestão de alimentos de forma rápida 
e com sensação de perda de controle, chamados de episódios bulímicos, os 
quais estão associados a maneiras compensatórias e inadequadas no controle 
do peso. Na BN utiliza-se os vômitos induzidos, uso de medicamentos 
(diuréticos, laxantes, etc), dietas e exercícios físicos na tentativa de driblar o 
aumento de peso. Os sintomas então assumem variadas funções, como 
controle de peso, o manejo de emoções negativas e positivas (gatilhos para 
comer mais), ansiedade, baixa autoestima, culpa e dificuldade de controle dos 
impulsos (FAIRBUN,1995). 
 O conceito de doença e sintomas na BN carregam elementos sócio-
culturais ou são constitutivos e produtos dos mesmos. Para Ferreira (1998), o 
sujeito pode apresentar problemas físicos precisos, detectáveis pela 
biomedicina, mas existem fatores e aspectos embutidos na concepção de 
doença e na forma de manifestar seus sintomas. Segundo a autora, o corpo é 
sígnico, nele são aplicados sentimentos e discursos vivenciados através de 
sintomas que são na verdade mais do que sinais de patologia, mas uma 
tentativa de comunicar o que o sujeito deseja revelar. 
 Os estudosde Waller, Dickson e Ohanian (2002) demonstram que 
crenças estruturais diante do comportamento alimentar e da autoimagem em 
24 
 
bulímicos levam a um padrão comportamental relativamente específico. O 
comportamento bulímico está associado aos modelos alimentares 
caracterizados pela hiperfagia (comer muito) e reproduzidos por crenças e 
hábitos compensatórios inadequados como maneira de evitar o ganho de peso. 
De acordo com Lefevre (2004), a promoção da saúde deve ser buscada além 
das manifestações do corpo, percorrendo todos os espaços sociais, as 
relações dos corpos - mentes/ doentes e seus ciclos relacionais para que os 
sintomas sejam decifrados e para que haja intervenções transformadoras. 
 
2.2.3 Bulimia e distorção da imagem 
 
 De acordo com Garfinkel, Goldbloom e Olmsted (1992), na BN há uma 
dimensão afetiva negativa ligada à imagem corporal sob o conceito de 
"insatisfação com o corpo". Este aspecto estaria dimensionando uma 
percepção negativa da autoimagem e autoestima baseadas no julgamento 
como regulador da consciência do próprio corpo. De acordo com estes autores, 
a insatisfação com o corpo é incluída como um critério diagnóstico. Este critério 
envolve a dimensão afetiva e promove deficiências na regulação da 
autoestima, por aspectos que interferem ou estão subjacentes ao julgamento 
na percepção de “estar gordo”, descritos por medidas depreciativas e 
distorções visuais do corpo. 
 Para Saikali et al. (2004), a distorção da imagem corporal está 
diretamente associada a distúrbios alimentares como a BN. A distorção é um 
dos fatores determinantes no desenvolvimento do transtorno. Segundo estes 
autores o que leva uma pessoa a apresentar episódios bulímicos é a 
preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal. 
25 
 
2.3 OBESIDADE 
 
 
2.3.1 Histórico 
 Os padrões de beleza e o conceito de obesidade sofreram ao longo do 
tempo, já que a gordura não é mais associada à beleza, passando a uma 
representação de imagem negativa. De acordo com Stearns (1974), na classe 
média Americana e Francesa surge grande necessidade de “ficar magro”, por 
caracterizar um status de aceitação e prestígio. No início do século XX, após 
vinte anos, o mesmo autor revela que a representação da beleza passa à 
excessiva preocupação com a forma do corpo, o peso e a maneira de se 
alimentar. 
 Hoje, a obesidade não se caracteriza somente em função dos aspectos 
de representação física, correspondente ou não aos padrões sociais de beleza, 
mas se constitui como uma das maiores preocupações em termos de saúde 
pública, devido às consequências biopsicossociais. Segundo Straub (2005), 
seria simplificar demais dizer que a obesidade é simplesmente o resultado de 
comer demais, pelo contrário, a obesidade é um fenômeno complexo que 
envolve múltiplos fatores, causas e consequências. Na última década o 
problema da obesidade cresceu em países em desenvolvimento como o Brasil, 
onde a obesidade pode atingir indivíduos em todas as faixas etárias. Existem 
complicações clínicas na obesidade, como a tendência dos obesos para a 
morte súbita, que leva a obesidade para além das preocupações estéticas. 
 
2.3.2 Diagnóstico 
 
 Pelo DSM IV (APA, 2003), a obesidade simples é incluída como uma 
condição médica geral, por não estar estabelecida e associada à síndrome 
psicológica ou comportamental. Existem evidências da participação de fatores 
psicológicos na etiologia ou curso da obesidade, e estes fatores afetam a 
condição médica. 
26 
 
 De acordo com Ferreira e Meyer (2004), a obesidade, está associada ao 
comer em excesso. O alimento é transformado no substituto daquilo que falta, 
numa tentativa de preencher o vazio. Match (1999), através do Modelo 
Psicossomático da obesidade, relata que o indivíduo obeso come 
excessivamente como mecanismo compensatório em situações de ansiedade, 
depressão, tristeza e raiva. Mesmo em sofrimento não abandona facilmente a 
necessidade de comer muito e passa a ter fortes impulsos de comer em 
excesso, passando a desenvolver uma imagem corporal negativa. 
 De acordo com Ballone (2005), não existe um parâmetro preciso que 
separa indivíduos obesos dos não obesos. O mesmo autor estabelece a 
distinção entre as duas dimensões da obesidade: uma 
antropométrica/fisiopatológica e outra emocional/psicodinâmica. 1) Na 
dimensão antropométrica/fisiopatológica, o obeso é definido como aquele que 
tem uma percentagem de gordura corporal acima de determinado critério (nas 
mulheres a percentagem seria superior a 30% e nos homens a 25%). 2) Na 
dimensão psicodinâmica define o obeso como aquele indivíduo que sente 
grande insatisfação com o seu corpo, por ter um peso superior ao ideal 
antropométrico. 
 Nunes (1998) define a obesidade como acúmulo excessivo de tecido 
adiposo no organismo, medido pelo índice de massa corporal (IMC). Além da 
definição clássica, a obesidade é classificada como uma doença multifatorial, 
considerando os fatores etiológicos, idade e circunstâncias desencadeadoras. 
Para o DSM IV (APA 2003), não há critérios para identificação da obesidade 
como transtorno psiquiátrico. Desta forma, a obesidade não encaixa nos 
critérios dos transtornos alimentares, mesmo nos casos em que os obesos 
apresentam perturbações comportamentais e conflitos psíquicos relacionados. 
Já Flaherty e Janicak (1995), incluem a obesidade, didaticamente, como uma 
categoria dos transtornos alimentares pela semelhança de seu funcionamento 
e por caracterizar perturbações do comportamento alimentar. 
 De acordo com Wadden e Stunkard (1993), a obesidade foi 
compreendida por muito tempo, como uma consequência somática e com um 
conflito psicológico subjacente. De acordo com CID-10 (OMS, 1999), a 
27 
 
obesidade simples é incluída como uma condição médica geral. O termo 
obesidade deve então ser utilizado no contexto em que o excesso de gordura 
está associado a riscos elevados de morbidade e mortalidade em comparação 
com a população geral. Esta visão é compartilhada pela população leiga e por 
uma boa parte dos profissionais de saúde. Na população obesa que procura 
tratamento, há prevalência de sintomas psicológicos, tais como sintomas 
depressivos e ansiosos. Segundo Vasques, Martins e Azevedo (2004), ao 
mesmo tempo em que a obesidade não encaixa nos critérios do DSM IV (APA, 
2003) como um Transtorno Psiquiátrico ou um Transtorno Alimentar, mesmo 
quando apresentam perturbações comportamentais e conflitos psíquicos 
relacionados à alimentação, as manifestações de sofrimento psicológico 
merecem intervenção médica e/ou psiquiátrica. 
 Carr e Friedman (2005) verificaram que os indivíduos obesos são alvo 
de múltiplas formas de discriminação. Sobre os aspectos sócio-culturais a 
obesidade envolve estigmas, preconceitos e discriminação relacionados à 
gordura. Estes aspectos contribuem para o isolamento e sentimentos negativos 
à imagem do obeso. Estes fatores impulsionam ou agravam problemas 
emocionais, como o aumento da ansiedade que promovem a necessidade 
ainda maior de ingestão de comida. 
 Além dos comportamentos de descontrole em relação à comida, a 
discriminação e o preconceito, existe também a preocupação com a forma e o 
peso corporal e a necessidade de fazer dieta. Laurent e Vannotti (1993), 
afirmam que a obesidade é o resultado de diversos obstáculos psicológicos - 
internos, relacionais, comportamentais e psicossociais. Todos os aspectos da 
obesidade têm várias ênfases, como os elementos afetivo-emocionais ligados à 
ela. 
 De acordo com Katch e McAdler (1996) existem 3 períodos críticos para 
a incidência da obesidade na vida da pessoa (o último trimestre de gestação,o 
1º ano de vida e na adolescência). Além destes dados que marcam a 
prevalência da obesidade na vida do sujeito, há uma combinação significativa 
de fatores como hábitos alimentares, estilo de vida familiar, aspectos 
psicológicos e sócio-culturais. 
28 
 
 2.3.3 Obesidade e distorção da imagem 
 
 Segundo Faith e Allison (1996) a imagem corporal é definida como a 
interação entre o componente perceptivo, descrita pela avaliação cognitiva do 
tamanho do corpo e pelo componente postural. A distorção da imagem corporal 
(DIC) é definida como “preocupação exacerbada com o excesso de peso”. De 
acordo com Williamson e O‟Neil (1998), na obesidade existem 3 vezes mais a 
chance de superestimar seu tamanho do corpo do que a população geral, 
especialmente se forem crianças obesas. Para Faith e Allison (1996), não 
existe relação direta entre IMC e insatisfação ou distorção da imagem 
corporal. Apesar de não ser inserida em todos os tratamentos da obesidade, a 
imagem para os obesos possui significados psicológicos como um veículo de 
expressão da personalidade. 
 Nas diversas fontes de sofrimento psíquico presentes na obesidade, a 
visão distorcida da imagem corporal é uma das principais causas de 
perturbação emocional, expressa pela dificuldade em lidar com o corpo e pela 
vergonha de se olhar no espelho. Esta reflexão entre as relações da imagem 
negativa construída e alimentada é considerada importante na avaliação dos 
fatores internos e externos associados à obesidade, enquanto recurso na 
compreensão dos aspectos psicológicos e relacionais da doença. 
 
2.4 AUTOIMAGEM, TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE 
 
 Segundo Van Kolck (1984), o conceito de autoimagem é projetado ou 
definido como o grau de satisfação ou insatisfação com o corpo. A autoimagem 
é o veículo de expressão da personalidade numa relação entre corpo e 
sentimentos do eu, que estão proporcionalmente ligados ao autoconceito. 
 Para Wadden e Foster (1998), a percepção subjetiva que uma pessoa 
tem sobre seu corpo pode ser mais importante do que a realidade objetiva de 
sua aparência. Cada pessoa tem seu próprio movimento de percepção que 
vem carregado de significantes particulares em relação à autoimagem. Nas 
29 
 
características variadas e nas peculiares de cada transtorno alimentar, bem 
como da obesidade, se tem claro as convergências entre os aspectos 
envolvidos na relação do sujeito ao corpo, à sua identidade e as formas de 
interações afetivas e familiares em relação à percepção de si mesmo. 
“Nossa imagem corporal representa uma experiência muito especial, 
uma vez que o objeto em foco corresponde ao nosso eu (...). Ela está 
vinculada à minha identidade e à minha experiência existencial. É tão 
espetacularmente dinâmica como são minhas relações com o mundo 
e como é a interação entre meus aspectos conscientes e 
inconscientes” (TAVARES 2003, p.36). 
 
 Segundo Barros (2005), o sujeito torna-se atuante quando se faz 
presente nas imagens corpóreas. A imagem torna o sujeito um ser subjetivo na 
própria existência, ela é o que lhe representa, é através dela que o sujeito 
reage nas inter-relações. A autoimagem para Mosquera (2005) é, em certo 
sentido, uma organização da própria pessoa que consta de uma parte real e 
outra parte subjetivamente criada. A autoimagem surge como uma atualização 
do processo de interação, no sentido real, no qual promove ou projeta a pessoa 
ao cenário da empatia e autovalorização. É o conhecimento individual e o 
desenvolvimento das próprias potencialidades que desenvolvem a percepção 
dos sentimentos, atitudes e ideias referentes à dinâmica pessoal. A 
autoimagem se estrutura na ação social e familiar. 
 A relação do sujeito com o corpo e com a autoimagem são elementos 
constitutivos da identidade. A ruptura desta percepção se realiza através das 
distorções da imagem do próprio corpo, como são característicos nos quadros 
de AN, BN e da obesidade, demonstrados por Leonhard e Barry (1998) que 
abordam os indicadores da insatisfação e da imagem corporal essencialmente 
nesses casos específicos. Nestes quadros a percepção do corpo adquire um 
significado especial, no sentido de que o corpo é iminentemente um espaço 
expressivo. Segundo Almeida, Santos e Passian (2005), a insatisfação com o 
corpo é uma discrepância entre a percepção e o desejo relativo ao tamanho, 
forma corporal numa construção multidimensional, amplamente descrita pelas 
representações internas. 
 Uma cultura que reforça a identidade pelo corpo como fonte de imagem 
ideal, torna o peso e a aparência uma preocupação e/ou insatisfação 
30 
 
desencadeadora de sofrimento. Bruch (1962) desenvolveu a primeira teoria 
sistemática a respeito de problemas de imagem corporal nos transtornos 
alimentares. Sua teoria deu prioridade às distorções da imagem corporal na 
anorexia. Para Weininger, Rotenberg e Henry (1972), a imagem corporal é um 
termo que se refere a uma experiência psicológica que focaliza sentimentos e 
atitudes do indivíduo através do próprio corpo. Segundo Slade (1988), a 
imagem corporal refere-se a uma ilustração que cada um tem em mente sobre 
o tamanho, a imagem e a forma do corpo, como também de sentimentos que 
podem desencadear as distorções da imagem corporal. A formação da imagem 
corporal pode ser influenciada por sexo, idade, pelos meios de comunicação, 
bem como por uma relação entre processos cognitivos, como as crenças, 
valores e atitudes provenientes de uma cultura. 
 A AN, a BN e a obesidade, segundo Cordás (2004), descrevem padrões 
caracterizados por comportamentos alimentares gravemente perturbados, 
numa supervalorização da forma corporal como um todo ou de suas partes - 
classicamente descritos como predispostos a desenvolver uma distorção da 
imagem corporal. As distorções em relação ao corpo são manifestadas pelo 
pensamento dicotômico, onde a pessoa pensa nos extremos de sua aparência 
ou passa a ser muito crítica em relação a ela. Estas distorções provocam 
comparações entre imagem e padrões externos ou a possibilidade de enfatizar 
determinados aspectos do corpo de forma obsessiva. 
 
2.5 ADOLESCÊNCIA – CORPO E IDENTIDADE 
 
 A adolescência é a fase mais significativa na estruturação da imagem 
corporal. Para Chipkevitch (1987), não se pode falar em adolescência sem falar 
do corpo. As intensas transformações físicas desta fase alteram todo o 
processo de formação da identidade do adolescente. A formação da identidade 
pessoal neste período inclui, necessariamente, a relação com o próprio corpo. 
Jeammet e Corcos (2005) demonstram existir uma estreita relação entre a 
constituição da identidade e o corpo na adolescência. Esta relação gera uma 
busca por modelos identificatórios no adolescente. Cash (1997), afirma que a 
31 
 
imagem corporal refere-se à experiência psicológica de alguém sobre a 
aparência e o funcionamento do seu corpo. 
 Schoen-Ferreira, Aznar-Farias e Silvares (2003) afirmam que mudanças 
corporais são associadas à constituição da identidade na adolescência e isso 
está relacionado à adoção de novos papéis sociais e assimilação dos códigos 
morais relativos ao grupo social. 
 Para Osório (1992), a adolescência é compreendida como uma fase 
peculiar do desenvolvimento. O aspecto físico é um marco e um fator 
prepoderante ao processo de maturação biopsicossocial do indivíduo. Este 
processo maturacional traz significativas consequências e mudanças ao 
sujeito. Segundo Hermans (2001), as mudanças geram novas configurações àidentidade, manifestadas de forma qualitativa e quantitativa em relação aos 
aspectos de identificações e diferenciações, autonomia, mudanças no campo 
da autopercepcão e autoimagem, adesão a novos grupos e adoção de novos 
papéis na família. 
 Levisky (1998) propõe a existência de um antagonismo vivido pelo jovem 
diante das mudanças corporais e psíquicas que provocam transformações no 
corpo na passagem da imagem infantil em transição ao corpo adulto, onde a 
imagem percebida contrasta com a imagem real. A procura por uma imagem 
ideal proposta pelo grupo ou pela mídia esbarra no surgimento de crenças 
alimentares associadas aos altos índices de dietas feitas por adolescentes, já 
que o corpo se torna destinatário de descarga das tensões sociais e sexuais. A 
comida passa a funcionar como via de descarga emocional. Segundo 
Lindeman e Stark (1999) existe uma estreita ligação entre os pensamentos 
mágicos e razões ideológicas, para justificar as escolhas alimentares dos 
jovens. O alimento surge como um aliado do adolescente para aplacar as 
ansiedades e expectativas da fase. Desta forma, a imagem corporal e a 
identidade estão fortemente associadas, além das perturbações que circulam 
estes aspectos. 
 
 
32 
 
2.6 ADOLESCÊNCIA, CORPO, TRANSTORNOS ALIMENTARES E 
OBESIDADE 
 
 De acordo com Andersen e Holman (1997), a literatura mostra que os 
transtornos alimentares e a obesidade estão vinculados ao modo como o 
indivíduo vivencia seu corpo, (re)organiza sua imagem corporal e identidade na 
adolescência. A compreensão desta etapa se dá através das experiências dos 
adolescentes, reveladas pela maneira com que se percebem e se vinculam na 
construção da autoimagem, manifestadas no modo como foram realizadas as 
internalizações da imagem que tem de si. 
 A relação que o adolescente estabelece com o próprio corpo é um 
elemento constitutivo e essencial da individualidade. A ruptura desse elemento 
tem um significado especial quando se trata do transtorno alimentar ou da 
obesidade. Para Chipkevitch (1987), todo adolescente tem um corpo idealizado 
e quanto mais se distancia do real, maior será a possibilidade de conflito. Neste 
sentido, não é mais possível pensar que o corpo é dividido em mental e físico, 
ou seja, ele deve ser visto integralmente. Falar de corpo é falar do sentido e da 
forma como ele está representado e situa o sujeito no mundo. 
 Gonzaga e Weinberg (2003) descrevem que de todas as transformações 
impostas ao adolescente, as mudanças corporais são a de maior impacto e 
expressão no mundo emocional e podem ser transformadas em quadros de 
transtornos alimentares e de obesidade pela incapacidade de metabolizar 
psicologicamente estas alterações. Na adolescência, as mudanças no corpo, 
podem atingir sensações insuportáveis de constrangimento, dificultando o 
processo de diferenciação e transformação. O adolescente sente um estranho 
no próprio corpo, este mal-estar vem acompanhado de sentimentos de invasão 
e isolamento. 
 Segundo Cobelo (2004), uma das possibilidades de compreender o 
processo desencadeado na adolescência sobre o corpo é a evolução para os 
transtornos alimentares e a obesidade. Percebe-se nestes quadros de TA e 
obesidade as angústias despertadas pelo mal-estar do novo corpo e pela 
dinâmica de crescimento desordenado, onde o adolescente não consegue 
33 
 
acompanhar psicologicamente e emocionalmente o processo. 
 Segundo Lask (2000), na AN o adolescente tem dificuldade em 
comunicar sentimentos de raiva e tristeza, uma vez que estas seriam formas de 
expressar algum tipo de fraqueza ou imperfeição. Na BN o adolescente, em 
contrapartida, apresenta um funcionamento mais caótico, baseado no “tudo ou 
nada”. Segundo Lawrence (2003), adolescentes bulímicos querem exercer o 
controle, assim como os anoréxicos, mas não conseguem e ficam frustrados, 
passando a descontar suas frustrações na comida. De modo geral, apresentam 
um comportamento mais impulsivo e desorganizado. Na obesidade o 
adolescente sente a depreciação do próprio corpo, desencadeando 
insegurança em relação a como são vistos, associado ao medo de serem 
desprezados ou tratados com hostilidade. Em todos os quadros listados, a 
preocupação com o corpo para o adolescente passa a ser constante, na 
tentativa de alcançar uma imagem ideal (GOMES, 1994). 
 
2.7 FAMÍLIA, TRANSTORNOS ALIMENTARES E OBESIDADE 
 
 Lock et al. (2001) afirmam que existem perspectivas positivas no 
prognóstico dos transtornos alimentares e da obesidade quando estes 
envolvem a família e a intervenção ocorre durante a adolescência. Se obtém 
dados esclarecedores através da família, pois esta permite um aprofundamento 
na relação do adolescente, grupo familiar e social, em relação aos transtornos 
alimentares e a obesidade. Buscar novas estratégias e sistemas de 
investigação, como funções integradoras ao tratamento, tem a finalidade de 
contribuir ou evitar a cronificação da doença. De acordo com Santos (2002), a 
literatura enfatiza a necessidade de inclusão da assistência à família no 
planejamento terapêutico como forma de estruturar atendimentos 
especializados a estes indivíduos. 
 Segundo Minuchin (1978), existem relatos na literatura sobre famílias e 
portadores de TA desde a década de 70 e sobre a abordagem da psicoterapia 
familiar incorporada ao tratamento multidisciplinar dos TA, através de trabalhos 
34 
 
de Minuchin nos EUA e Pallazolli na Itália. Estes estudos consideram 
afinidades significativas, no modo como procuram entrelaçar o desenho da 
estrutura e do funcionamento familiar aos ciclos de vida específicos e os 
padrões dos sintomas, relacionando-os aos problemas interacionais dos 
sujeitos com TA e com obesidade. 
 A partir desta perspectiva, a família passa a ganhar compreensão do seu 
papel no desenvolvimento dos TA, dentro de uma visão relacional, com a 
finalidade de explorar a história pregressa e sua influência nas inter-relações e 
no desenvolvimento dos sintomas. Segundo Minuchin (1995), não se fala em 
uma estrutura familiar particular tanto para a AN como para a BN, mas existem 
características significativas que ajudam a identificar padrões de 
comportamentos nos sujeitos e na estrutura de relacionamentos com a família. 
 De acordo com Minuchin (1982), existem características peculiares a 
estas famílias, que incluem problemas nas relações como o estabelecimento 
dos limites, as dificuldades no manejo das decisões parentais e a maneira 
como funcionam. As famílias aglutinadas ou emaranhadas, por exemplo, 
reprimem suas emoções e expressam um padrão rígido de expectativas. 
Segundo Roberto (1994), as comunicações nessas famílias podem ser 
paradoxais e indiretas, obscurecendo as diferenças individuais como maneira 
de evitar posicionamentos e conflitos. 
 O “modelo da família psicossomática” de Minuchin, Rosman e Baker 
(1978), propõe uma interação circular entre doença e os padrões familiares. Foi 
o primeiro modelo a incluir, de forma sistematizada a família, ao considerar os 
fatores psicobiológicos das doenças na infância. As interações familiares 
desencadeavam reações fisiológicas que provocavam o surgimento dos 
sintomas. O próprio agravamento da doença reforçava tais padrões familiares, 
estabelecendo um processo reverberativo e progressivo. 
 Segundo Wood et al. (1989), no modelo psicossomático, existem 
indicativos de que as famílias com alto nível de emoção, produzem uma 
estimulação fisiológica que pode influenciar o curso de doenças físicas e 
mentais e apontam para fatores como: 1) A família é um sistema que tem 
particular significação para as crianças, 2) O funcionamento individual e os 
35padrões interpessoais de interação influenciam-se reciprocamente, 3) Esses 
padrões interpessoais interagem com processos biocomportamentais, alguns 
dos quais são relacionados com as doenças. 
 Desta forma, não é apenas o estresse que aumenta a predisposição a 
certas doenças, mas o modo como a família se organiza para apoiar e proteger 
seus membros. O objetivo em relação às famílias psicossomáticas é resolver 
questões que causam estresse, de forma a encarar os conflitos e não de evitá-
lo. Assim, nesta perspectiva o trabalho com famílias psicossomáticas visa 
transformar o sintoma psicossomático em um conflito interpessoal manifesto 
(MINUCHIN, 2006). 
 Existem diversas pesquisas que ressaltam também a prática e os estilos 
parentais na compreensão da família. De acordo com Baumrind (1997), os 
estilos parentais permitem identificar as dimensões de interação entre pais e 
filhos, principalmente no desenvolvimento da criança e do adolescente. 
Segundo Darling e Steinberg (1993), as práticas parentais referem-se aos 
comportamentos dos pais na socialização dos filhos que possuem o objetivo de 
auxiliá-los na educação e nas questões emocionais através da função parental. 
Segundo Baumrind (1997), os estilos parentais possuem modelos de atuação, 
classificados como: autoritário, autoritativo e permissivo. Esta proposta da 
autora visa compreender os níveis de interação entre pais e filhos associados à 
dinâmica de interação nas expressões de afeto e em relação à comunicação. 
Verifica-se que a criança e o adolescente sofrem influência destes modelos de 
interação parental, tanto nos aspectos positivos de uma interação favorável 
como também no desenvolvimento das psicopatologias. 
 
2.7.1 Família e anorexia nervosa 
 
 Para Palazzoli et al. (1998), o sintoma na AN só surge pela influência de 
fatores agrupados na categoria cultural e nas interações familiares, onde há 
demonstrações do prolongamento da fase de dependência dos filhos em 
relação aos pais, fazendo com que o filho adie seu momento de assumir 
36 
 
responsabilidades (MINUCHIN, 1982). 
 No estudo de caso, Borges (2009) aborda questões como as regras de 
relacionamentos, papéis familiares, padrões de comunicação e sobre o 
funcionamento do sistema familiar em uma adolescente com AN e obcecada 
pelo espelho. A família pesquisada residia em Luziânia, mas foi motivada a 
participar da pesquisa em Brasília/ DF, o que demonstra o forte interesse dos 
familiares em tentar obter ajuda. Na análise de seus dados descreve que os 
papéis nesta família com a portadora de AN é distorcido, com falhas de 
comunicação e manifestam tentativas de esquiva dos conflitos. Nestes casos 
os sujeitos apresentam dificuldades em desenvolver a autonomia, pela forte 
ligação com a figura materna. Há dificuldades na expressão de sentimentos, 
por caracterizarem uma estrutura familiar rígida com problemas de 
comunicação e na esfera conjugal. Há evidências de que os papéis parentais 
são distorcidos, adiando o processo dos filhos em desenvolver a autonomia e 
independência. Além disso, há uma intensificação destes aspectos que 
reforçam a forte dependência, principalmente da relação com a figura materna 
e um distanciamento da figura paterna. 
 O estudo de Cavalcante (2009) sobre a AN com famílias residentes em 
Brasília/ DF teve como objetivo conhecer a dinâmica de pacientes 
adolescentes anoréxicos e seus aspectos de relacionamento intrafamiliares. A 
finalidade do estudo foi realizar uma compreensão sistêmica da AN quanto ao 
papel e função do sintoma, investigando aspectos como a aglutinação, 
superproteção, rigidez e falta de resolução de conflitos, como características 
nestas famílias. O estudo foi realizado com três famílias e suas dimensões de 
relacionamento, em relação à estrutura, à fase do ciclo de vida e a percepção 
dos sintomas, sentimentos, diagnósticos e adaptações em decorrência da 
doença. A partir das identificações dos padrões relacionais ao longo do ciclo 
familiar, os dados mais relevantes foram sobre as percepções sinalizadas pelas 
famílias da importância em discutir nos grupos, a necessidade de observar 
mais os filhos, buscar informações sobre os sintomas, entender o tratamento e 
estabelecer mudanças no ambiente familiar em direção ao fortalecimento dos 
vínculos familiares. Foi constatado que o sintoma passa a ter uma função no 
37 
 
contexto familiar, que influencia o surgimento e manutenção do transtorno. As 
famílias acabam evitando os conflitos e a comunicação em relação ao 
transtorno é pouco funcional. Desta forma, a abordagem sistêmica foi essencial 
na leitura ampliada das relações familiares e dos sintomas. Pode-se dizer com 
análise neste estudo, que determinadas características do sistema familiar 
constituem como facilitadores e mantenedores do sintoma. 
 Com base nos estudos com famílias, alguns modelos de terapia familiar 
foram sendo desenvolvidos para trabalhar com as famílias de pacientes com 
AN. Segundo Martins e Diniz (2006), existem vários modelos de terapia familiar 
apropriados ao tratamento clínico da AN como instrumento importante na 
recuperação dos pacientes: Estrutural, Terapia Familiar Estratégica ou Terapia 
Familiar Sistêmica. Em todos estes modelos fica clara a importância da 
participação da família no tratamento da AN, como forma de encontrar 
alternativas de reconstruir e resignificar experiências, modificando os padrões 
comportamentais a partir das narrativas destas famílias a fim de entender suas 
dificuldades. Segundo Schomer (2003), se trabalha os vínculos afetivos e os 
papéis de cada membro em relação à doença. O espaço da escuta familiar 
também está direcionado a fornecer orientações a respeito dos transtornos, 
avaliando os aspectos da interação familiar que interferem ou mantêm o 
desenvolvimento dos sintomas. 
 
2.7.2 Família e bulimia nervosa 
 
 Segundo Nunes (1998), encontra-se com frequência conflitos familiares 
na BN, de natureza de abuso sexual na infância que podem provocar 
dificuldades no controle dos impulsos, sentimentos depressivos, culpa e baixa 
tolerância à frustração e ansiedade. 
 Nas famílias com bulimia, de acordo com Herscovici (1997), foram 
observados níveis elevados de tensão em ambos os papéis parentais, com 
forte exigência em relação aos filhos e o aumento da rivalidade entre irmãos. 
Estas famílias apresentam uma rigidez em suas regras com excessiva 
38 
 
distância emocional. 
 Os relacionamentos familiares na BN de acordo com Perkins et al. 
(2004), encontram-se altamente comprometidos pela rede de mentiras, numa 
tentativa de mascarar o sintoma disfuncional. Na BN, normalmente existe muita 
necessidade do sujeito em atender a expectativa dos pais e este constitui o 
maior elemento estressor que permeia o transtorno. Neste ponto, a família é de 
fundamental importância no tratamento, já o sujeito utiliza seus sintomas como 
forma de defesa das dificuldades emocionais. 
 Segundo Castillo (1990), o alimento é utilizado de forma inadequada, 
numa tentativa de suprir diferentes estados emocionais. A característica dos 
bulímicos é de estabelecer relacionamentos superficiais, onde conseguem 
manter os sintomas em segredo por muito tempo. Os resultados da inclusão da 
família ao tratamento são elementos positivos na evolução do quadro clínico e 
um facilitador da convivência familiar. O sofrimento não está limitado à pessoa 
portadora da BN, mas envolve toda a família. 
 Castro, Toro, e Cruz (2000) afirmam que a terapia familiar assume um 
papel de destaque no tratamento dos transtornos alimentares. A psicoterapia 
familiar é utilizada em dois aspectos: 1) onde são acompanhadas as questões 
relativas

Continue navegando