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1-A emergencia do mundo moderno

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Título do Tópico*: A Emergência do Mundo Moderno e suas contradições
Objetivo*: Esta aula tem por objetivo introduzir a questão da formação do
mundo moderno, discutindo a crise do sistema feudal e a
paralela emergência do modo de produção capitalista.
Também discutimos a centralização monárquica, a formação
do Estado Moderno e o desenvolvimento do capitalismo.
Palavras-chave*: modernidade estado feudalismo capitalismo nação trabalho
Para comerçarmos a falar sobre “estrutura e dinâmica das sociedades
contemporâneas” é preciso refletirmos previamente sobre as principais
características e contradições que configuram o mundo contemporâneo. Existem
processos de longo prazo que são estruturais e merecem atenção especial, não
apenas pelo seu caráter didático e introdutório, mas também por suas
determinações nas estruturas sociais, que moldam e balizam as sociedades
contemporâneas.
A crise do modo de produção feudal e o progressivo desenvolvimento do
modo de produção capitalista foram as condições fundamentais para o surgimento e
a consolidação daquilo que entendemos por “mundo moderno”. Podemos
comprender esta transição contrapondo os dois sistemas distintos em suas
principais características, como o trabalho, a organização política e a reprodução
social em sentido amplo. Essa transição tem início por volta do século XII e se
desenvolve até o final do século XVIII, tendo como respectivos limites extremos a
Crise do Feudalismo e a Revolução Industrial.
No modo de produção feudal, por exemplo, prevalecem as relações servis
de produção, em que os servos devem obrigações compulsórias a seus senhores,
as quais são impostas sob a forma de produtos ou serviços. Já no capitalismo,
observamos o advento do “trabalhador assalariado livre” acompanhado das formas
assalariadas de produção, momento em que o próprio trabalho humano passa a ser
convertido, de forma cada vez mais predominante, numa mercadoria intercambiável.
Aliás, foi por meio da generalização da “forma mercadoria” - cuja produção e
distribuição é determinada e mediada pelas trocas monetárias - que se constituíram
as chamadas “economias de mercado”. A seguir, vamos sintetizar essa transição
sob três eixos: (1) as relações entre trabalho, política e servidão no modo de
produção feudal; (2) a centralização política e a formação das monarquias nacionais;
e (3) as etapas de desenvolvimento do modo de produção capitalista
1 - Feudalismo: trabalho, política e servidão
No modo de produção feudal a agricultura possuía uma organização que
dividias as terras em parcelas chamadas “feudos”. Os feudos - que variavam em
extensão - possuíam um único proprietário: o “senhor feudal”, que buscava utilizar a
terra de modo produtivo, dividindo-as em parcelas ainda menores, para ser
cultivadas pelos camponeses, chamados “servos”. Ao obterem o direito de cultivo
da terra, os servo passavam a dever uma série de favores ao senhor feudal:
Cada servo era obrigado a dar parte de sua colheita ou ainda deveria
trabalhar parte da semana nas terras do seu senhor, para, só em
seguida, cuidar da própria plantação. E se alguma tempestade
ameaçava a perda da colheita, era a plantação do senhor que
deveria ser salva em primeiro lugar. Se alguma estrada ou ponte
necessitavam de reparos, novamente o servo era encarregado desta
tarefa. E, ainda, se o camponês necessitava moer seu trigo ou
amassar suas uvas, teria que utilizar o moinho do seu senhor, e, para
isso, pagava com parte de seus produtos. (HUBERMAN, Leo. A
história da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p. 12)
A sociedade, dividida por estamentos, se organizava em camadas sociais
definidas por nascimento. Além da camada dos senhores feudais (proprietários de
terras) e da camada dos servos (arrendatários de terras), existia também a camada
do “clero”, pois a igreja, enquanto instituição mais influente da época - junto com os
senhores feudais - constituem-se na “nobreza”. Como apenas a camada dos servos
realmente produzia bens, fica bastante perceptível a existência de sua dominação
pelos nobres. 
Os trabalhos agrícolas - realizados exclusivamente pelos servos - eram
coletivos, sem especialização da produção, com estagnação das técnicas de cultivo
e grande limitação da produção de excedentes para comercialização. As técnicas de
cultivo eram bastante arcaicas, sem práticas de adubação, com arado de tração
animal, etc. Como conseqüência, teremos nesse período um comércio bastante
embrionário, sendo que a grande maioria de bens necessários para a sobrevivência
das pessoas era produzida no interior de cada feudo. Com isso, ao lado do trabalho
agrícola, se desenvolverá o artesanato, com a produção de bens realizada
manualmente pelo servo, muitas vezes em sua própria casa. Ele realizava todas as
etapas da produção, desde a preparação da matéria prima até o acabamento final.
Cabe obsevar que o sistema feudal não era uma for ma social homogênea
(sem diferenças), existindo diversas modalidades de servidão, a exemplo dos que
trabalhavam parte da semana em suas terras e outros dias nas terras de seus
senhores; outros, que não possuindo direito a desenvolver plantações próprias,
trabalhavam continuamente para o senhor feudal; além do “aldeão”, que morava nas
vilas, trabalhando temporariamente para os nobres.
Para aumentar seus rendimentos, os senhores feudais aumentaram as
obrigações devidas pelos servos. O aumento da pressão senhorial, por sua vez, deu
início a uma “fuga” generalizada das propriedades feudais, marcando uma ruptura
das relações servis e um ponto de partida para a mudança global do sistema. Este
declínio da renda dos senhores também os obrigou a diminuírem suas despesas,
apelando para o deserdamento dos filhos mais novos, os quais buscaram
conquistar, “pela espada”, novas terras e feudos para se reintegrarem socialmente.
As primeiras alterações sociais surgem lentamente e caracterizam-se por uma
pequena modernização das técnicas agrícolas, permitindo a existência de um
excedente de alimentos a ser comercializado. Não havia ainda o conhecimento
científico e tecnológico aplicado à produção. Ao contrário, a sociedade feudal cria
um modo de vida bastante estático, com progressos tecnológicos bem diferentes
dos que conhecemos atualmente. 
A explicação dos fenômenos naturais, por exemplo, dava-se ainda pela
religião, e as leis da natureza eram explicadas pelo discurso e praticas da igreja,
cuja base de poder se dava pela tradição, não privilegiando a “razão”. Ao explicar os
acontecimentos da vida exclusivamente a partir da religião, o progresso inicial da
ciência aconteceu de forma lenta, pois na medida em que a fé cristã detinha o
“monopólio da verdade”, não haveria a necessidade de um método científico de
observação baseado na comparação e classificação dos fenômenos, capaz de
compreender a natureza e originar o tipo de ciência que conhecemos hoje. Isso é
algo que ao longo dos séculos será transformado pelas idéias humanistas, pelo
renascimento, pela reforma protestante e pelo iluminismo.
É a partir do século XI que começam a surgir as alterações sociais, políticas e
econômicas que contribuem significativamente para mudança do modo de vida do
feudalismo. Elas são prolongadas até o século XVI, quando observamos o
surgimento gradual da sociedade capitalista. As primeiras alterações sociais surgem
lentamente e caracterizam-se por uma pequena modernização das técnicas
agrícolas, permitindo a existência de um excedente de alimentos a ser
comercializado.Por outro lado, a população começa a crescer, resultando no
aparecimento de amplas camadas sociais marginais à produção e ao consumo. 
Ao lado do aumento do excedente agrícola e do crescimento populacional,
teremos as “Cruzadas”, enquanto fator determinante para a transformação das
relações sociais. Convocadas pela Igreja, as Cruzadas representaram uma válvula
de escape para as tensões sociais, configurando a primeira grande expansão
territorial da Europa depois do recuo medieval. Foram movimentos armados que
tinham por objetivo a retomada da Palestina para o império cristão, que estava sob
domínio dos muçulmanos. O processo de marginalização nas camadas dominadas
(servis) e nas camadas dominantes (senhoriais) criou o exército de homens
disponíveis para realizarem as cruzadas. 
As cruzadas tiveram enorme impacto na dinamização das atividades de troca
ao abrirem os caminhos do mediterrâneo, fechados pelos muçulmanos desde o
século VIII. Fizeram entrar em circulação produtos orientais, sobretudo especiarias,
importadas pelas sociedades italianas dos portos do mediterrâneo oriental.
Para explorar esse comércio surgiram grandes companhias mercantis,
formadas pela associação de comerciantes (acionistas), que investiram capital na
compra de barcos e mercadorias, cujos lucros eram repartidos comercialmente.
Abaixo, reproduzimos o diálogo entre um "líder" de uma cruzada e o "ministro" da
cidade de Veneza. Este diálogo deu-se durante a quarta cruzada, que começou no
ano de 1201 (século XIII) e podemos notar, para além dos interesses religiosos, os
interesses econômicos-espoliativos:
- Senhor, aqui viemos em nome dos nobres barões de França que
adotaram a cruz... eles vos rogam, por amor de Deus... fazer o
possível para conceder-lhes transporte e navios de guerra.
- Sob que condições?
- Sob quaisquer condições por vós propostas ou aconselhadas, se
forem capazes de cumprí-las - replicou o líder.
- Nós forneceremos navios com capacidade para transportar 4.500
cavalos e 9 mil escudeiros, e navios para 4.500 cavaleiros e 20 mil
soldados de infantaria. O acordo compreenderá o fornecimento de
alimentos por nove meses para todos esses homens e cavalos. É o
menos que faremos, sob a condição de que nos paguem quatro
marcos por cavalo e dois marcos por homem...
E faremos ainda mais: juntaremos 50 galés armadas, por amor de
Deus; sob a condição de que, enquanto perdurar nossa aliança, em
cada conquista de terra ou dinheiro que realizarmos, por mar ou
terra, teremos a metade, e vós, a outra...
- O líder declara: Senhor, estamos prontos a firmar este acordo.
(HUBERMAN, Leo. A história da riqueza do homem. Rio de Janeiro:
Zahar, 1978. p. 29)
Se as cruzadas não alcansaram seu principal objetivo - retomar a Palestina
dos muçulmanos para o Império Cristão - elas permitiram restaurar a vida comercial
na Europa, o que trouxe novos meios de comunicação (construção de navios e
estradas) e fez com que surgissem grandes cidades. Isso trouxe um novo modo de
vida típico das grandes cidades, em contraste com a vida no campo: uma vida social
mais dinâmica e movimentada, a possibilidade de desenvolver novas profissões,
uma maior troca de idéias, etc. Gradativamente, o medo aos caminhos
desconhecidos, aos aos outros povos e à própria ignorância foi sendo substituído
pelo espírito de risco, pelo desejo de aventuras que pudessem representar lucros
efetivos.
Existia dentro do feudalismo uma potencialidade mercantil, isto é, a
possibilidade de comércio dentro dos limites da sociedade feudal, cujo impacto da
nova realidade foi fulminante. Ela estimulou muitos senhores a consumirem os
novos produtos e, para tanto, eles foram obrigados a aumentar suas rendas,
produzindo para o mercado consumidor urbano. Por isso, muitos senhores mudaram
a relação servil transformando os servos em homens livres, que arrendavam as
terras com base numa relação contratual. Dessa forma, o impacto do
desenvolvimento comercial orientou as formas de transformação do sistema feudal.
O resultado global foi o surgimento de numerosas rotas de comércio,
preponderando as rotas marítimas e fluviais, já que as comunicações terrestres
apresentavam riscos consideráveis, aumentando o custo dos transportes. Formou-
se então um verdadeiro anel comercial, cujo circuito tendia a se expandir integrando
rotas secundárias, que se ligavam às rotas principais. No cruzamento das rotas - os
nós de trânsito - os comerciantes paravam para trocar, comprar e vender seus
produtos, resultando na constituição de feiras permanentes, as quais formariam,
posteriormente, os grandes centros mercantis.
Estamos no auge do Mercantilismo (séculos XV ao XVIII) com um novo modo
de viver que nasceu do Feudalismo, mas que é completamente diferente dele, com o
início da vida urbana, grandes invenções (como a imprensa, a bússola, novos
medicamentos, etc.), relevância crescente do comércio e grandes expansões
marítimas.
2 – A centralização política e a formação das monarquias nacionais
Neste contexto, assiste-se à emergência de monarquias centralizadas em
diferentes países da Europa. Os chamados Estados Absolutistas, que surgem
primeiramente na França, na Inglaterra e na Espanha, e serão (ainda que sob a
hegemonia da nobreza) os aparelhos políticos de transição histórica do Feudalismo
para o Capitalismo. Esse processo de centralização do poder político tem suas
origens na baixa idade média, quando os reis começaram a concentrar o poder em
suas mãos. Compreender a natureza social deste processo é, segundo o historiador
Perry Anderson (1995), a chave para se compreender também as etapas desta
transição.
O poder do rei se tornou nacional quando se estendeu sobre toda a
nação. Esse conjunto nacional formou-se no transcorrer da Idade Média, definindo-
se uma unidade lingüística, religiosa, cultural e histórica, com base num território
determinado. 
Perry Anderson, em Linhagens do Estado Absolutista (ANDERSON,
1995), sob a perspectiva do materialismo histórico, retoma a discussão em torno das
monarquias absolutistas europeias. Sobre esta questão, autores como Marx e
Engels, mais preocupados em destacar a ascensão da burguesia ao poder, bem
como o avanço do processo humano-civilisatório dados pelas características
centrais da revolução industrial, acabam observando que a nobreza feudal em crise
e a burguesia mercantil em ascensão, teriam encontrado um “equilíbrio de
interesses”, tendo o Estado como um mediador. Marx, por exemplo, definiu as
estruturas administrativas dos novos estados como “tipicamente burguesas” (17).
Contudo, Perry Anderson demonstrou que a conjuntura que possibilitou o
surgimento do Estado Absolutista era ainda bastante feudal, bem como as
instituições por ele criadas, enquanto releituras de antigos instrumentos da nobreza
aristocrática. Segundo o autor, 
(...) o absolutismo era apenas isto: um aparelho de dominação
feudal recolocado e reforçado, destinado a rejeitar as massas
camponesas à sua posição tradicional – não obstante e contra
os benefícios que elas tinham conquistado com a comutação
generalizada de suas obrigações. (ANDERSON, 1995, p. 18)
Se antes os instrumentos de exploração e coerção atuavam localmente
(no nível da aldeia), a partir de então, foram transferidos para o Estado a “cúpula
centralizada e militarizada” (ANDERSON, 1995, p. 19), com o mesmo objetivo
anterior: subjugar as massas camponesas. Sob este prisma, o Estado Absolutista
não constitui uma invenção da burguesiamercantil, nem origina-se no alinhamento
de interesses comerciais, mas uma “máquina de exploração feudal”, com
características medievais, mas com elementos aparentes de modernização política.
A Nobreza manterá hegemonia sobre o poder político do Estado
Ceentralizado até a eclosão de grandes conflites, com a ascensão da burguesia
nascente. Teremos a Revolução Francesa (1789) e as Revoluções de 1848, quando
a burguesia sai vitoriosa não apenas no plano econômico, mas também no plano
político. O resíduo da nobreza acaba por associar-se de forma bastante heterogênea
a nova formação social em curso.
As revoluções que eclodiram entre 1789 e 1848, constituem a maior
transformação da história humana, desde os tempos mais remotos quando o homem
inventou a agricultura, a metalurgia, a escrita, a cidade e o Estado. Para Hobsbawm,
Esta revolução transformou, e continuam a transformar o mundo
inteiro. Mas ao considerá-la devemos distinguir entre os seus
resultados de longo alcance, que não podem ser limitados a qualquer
estrutura social, organização política, distribuição de poder ou
recursos internacionais, e sua fase inicial e decisiva, que estava
intimamente ligada à uma situação internacional específica. A grande
revolução de 1789-1848 foi o triunfo não da “indústria” como tal, mas
da indústria capitalista; não da liberdade e igualdade em geral, mas
da classe média ou da sociedade “burguesa” liberal; não da
“economia moderna” ou do “Estado moderno”, mas das Economias e
Estados em uma determinada região geográfica do mundo (parte da
Europa e alguns trechos da América do Norte), cujo centro eram os
Estados rivais e vizinhos da Grã-Bretanha e França. A transformação
de 1789-1848 é essencialmente o levante gêmeo que se deu
naqueles dois países e que dali se propagou para todo o mundo.
(HOBSBAWM, 2001, p. 17)
Assim, não seria exagerado consideramos esta dupla revolução – a
Francesa (bem mais política) e a Industrial (inglesa) – não como coisas que
pertençam à história dos dois países que foram seus principais suportes e símbolos,
mas como a “cratera gêmea de um vulcão regional” bem maior. Tais revoluções são
quase inconcebíveis sem que se leve em conta o triunfo do capitalismo liberal.
Contudo, 
A história da dupla revolução é também a história do aparecimento
das forças (burguesia e proletariado) que, um século depois de 1848,
viriam transformar a expansão em contração. E mais ainda, por volta
de 1848, esta extraordinária mudança de destinos já era até certo
ponto visível. (…) O período histórico que começa com a construção
do primeiro sistema fabril do mundo moderno em Lancashire e com a
Revolução Francesa de 1789 termina com a construção de sua
primeira rede de ferrovias e a publicação do Manifesto do Partido
Comunista. (HOBSBAWM, 2001, 19-20)
A seguir, vamos conhecer um pouco mais sobre o processo histórico de
formação do capitalismo, bem como de suas relações diretas com a reprodução
social.
3 - As etapas do modo de produção capitalista
Para se compreender o processo de formação histórica do modo de produção
capitalista precisamos correlacionar a “reprodução social” (como as pessoas
reproduzem sua existência) e a “forma social do capital” (o modo como o capitalismo
se reproduz). Isso envolve conhecer os processos que culminaram na “Revolução
Industrial” e como ela se articula com o advento do “trabalhado assalariado livre”.
A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela
energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril confuram a
Revolução Industrial. Tratou-se de uma revolução por conta do enorme impacto que
causou sobre toda a estrutura social, cujos processos de transformação foram
acompanhados por notáveis desenvolvimentos tecnológicos. Ela teve início na
Inglaterra em meados do século XVIII e encerrou a fase de transição do feudalismo
para o capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância
do capital mercantil sobre a produção. 
A manufatura pode ser considerada o embrião da revolução industrial. Ela
representou um estágio mais avançado, enquanto resultado da ampliação do
consumo, o que levou muitos artesãos a aumentarem sua produção, bem como
muitos comerciantes a se dedicarem à produção industrial. 
No início, os comerciante manufatureiros distribuíam a matéria prima para que
os artesãos trabalhassem em suas casas, recebendo pelo trabalho um pagamento
previamente combinado. Gradativamente o comerciante penetrou na produção.
Primeiro ele reuniu alguns artesãos mais especializados para dar acabamento aos
tecidos, depois tingir, mais tarde para tecer e finalmente para fiar. Surgiram assim
verdadeiras fábricas, nas quais os trabalhadores eram assalariados e não tinham
mais o controle sobre o produto do seu trabalho. A produtividade do trabalho
aumentou em função da divisão social da produção, ou seja, cada trabalhador
passou a realizar uma etapa específica na elaboração dos um produtos. 
Por fim,, temos a maquinofatura, estapa final da industrialização, onde o
trabalhador estava submetido ao regime de funcionamento da máquina e à gerência
direta do empresário. Foi exatamente nesta etapa que se consolidou a Revolução
Industrial. 
Essas transformações de longo prazo, são articuladas às formas pelas quais
o capitalismo se desenvolve no tempo e no espaço. De sua origem até o mundo
contemporâneo, o modo de produção capitalista passou por quatro fases bastante
distintas: o Pré-Capitalismo, o Capitalismo Comercial, o Capitalismo Industrial e o
Capitalismo Financeiro. 
a) O Pré-capitalismo é o período correspondente a emergência da economia
mercantil, cuja produção de bens se destina às trocas e não apenas ao
consumo pessoal. Nesse período - entre os séculos XII e XV,
aproximadamente - já existiam características gerais do sistema, mas o
trabalho assalariado ainda era predominante. Prevalecia o trabalho artesanal,
com pequenos produtores independentes vendendo os produtos de seu
trabalho, mas não o seu “tempo de trabalho” propriamente dito. Eles eram os
donos de suas oficinas, ferramentas e matérias-prima. O trabalho assalariado
era ainda raro, sendo disseminando apenas nos centros urbanos mais
desenvolvidos.
b) No Capitalismo Comercial (compreendido aproximadamente entre os
séculos XVI e XVII), apesar de ainda prevalescer o trabalho de pequenos
produtores independentes (os artesãos), o trabalho assalariado generaliza-se,
sobretudo nos centros mais dinâmicos da economia europeia. É precisamente
pela falta de uma completa dominação das relações assalariadas, o que torna
difícil definir o período em termos de uma “produção capitalista” propriamente
dita. Aqui, a denominação “comercial” está ligada ao fato da preponderância
absoluta do capital mercantil sobre a produção. Nesse período, a maior
parcela do lucro é concentrada nas mãos dos comerciantes e intermediários,
não dos produtores. 
c) O Capitalismo Industrial teve início a partir de meados do século XVIII com
o desenvolvimento industrial preliminar da Inglaterra. O capital anteriormente
acumulado na circulação de mercadorias foi investido na produção,
acelerando a industrial industrialização. A dinâmica básica da acumulação de
capital passou a se concentrar na produção, possibilitando ao capital
industrial dominar todo o conjunto da produção, inclusive os processo de
distribuição e circulação de mercadorias. Foi nesse período que o trabalho
assalariado instalou-se definitivamente em detrimento do trabalho artesanal,tornando bastante nítida a separação da sociedade em duas classes sociais
distintas: a burguesia (detentora dos meios de produção); e o proletariado
(um “exército industrial de reserva” a disposição da produção industrial).
Posteriormente, a industrialização difundiu-se pela Europa, América do Norte
e Ásia (século XIX), se espalhando-se por todo a planeta no decorrer do
século XX.
d) O Capitalismo Financeiro a é fase atual do capitalismo global. Delineou-se
nos fins do século XIX e ficou plenamente cristalizado no século XX. Nele, o
sistema bancário e as grandes corporações financeiras tornaram-se
dominantes e passaram a controlar as demais atividades: indústria, comércio,
agricultura e pecuária. Assiste-se ao processo de concentração das
empresas, que se tornam cada vez mais poderosas assumindo uma
dimensão internacional: são as multinacionais. Considerando o acentuado
processo de centralização e concentração de capital, com a formação de
empresas tentaculares, também denominamos esta fase de capitalismo
monopolista.
Considerações finais
Nessa aula procuramos fazer uma síntese (bastante preliminar e
introdutória) sobre a emrgência do Mundo Moderno, delineada pela crise do modo
de produção feudal e pelo progressivo desenvolvimento do modo de produção
capitalista. 
Como vimos essa transição teve início por volta do século XII e se
desenvolveu até o final do século XVIII, tendo como respectivos limites extremos a
Crise do Feudalismo e a Revolução Industrial. Também observamos essas
transformações tiveram reflexos diretos sobre a organização política, o trabalho e a
reprodução social em sentido mais amplo. Retomaremos essas temáticas em outras
aulas.
Referências:
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. 3°ed. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1995.
ARRUDA, J.J. História moderna e contemporânea. São Paulo: Ed. Ática, 1996.
HOBSBAWM, E. A era das revoluções. 1789-1848. São Paulo: Ed. Paz e Terra,
2001.
_______. A era do capital. 1848-1875. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2009.
HUBERMAN, L. A história da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 
ENGELS, F; MARX, K. O Manifesto Comunista. São Paulo, Boitempo, 1998.
Exercício
1) (Fuvest) Sobre a inovação tecnológica no sistema fabril na Inglaterra do
século XVIII, é correto afirmar que ela:
a) foi adotada não somente para promover maior eficácia da produção, como
também para realizar a dominação capitalista, na medida que as máquinas
submeteram os trabalhadores a formas autoritárias de disciplina e a uma
determinada hierarquia. (feedback: Parabéns, você acertou! Pensar a Revolução
Industrial envolve pensar a questão do trabalho em sociedade)
b) ocorreu graças ao investimento em pesquisa tecnológica de ponta, feito pelos
industriais que participaram da Revolução Industrial. (feedback: resposta
incorreta, pois o mero investimento em pesquisa não justifica as
determinações da revolução industrial)
c) nasceu do apoio dado pelo Estado à pesquisa nas universidades. (feedback:
resposta incorreta, pois o investimento do Estado em pesquisa não justifica as
determinações da revolução industrial)
d) deu-se dentro das fábricas, cujos proprietários estimulavam os operários a
desenvolver novas tecnologias. (feedback: resposta incorreta, pois o processo
de desenvolvimento de novas tecnologias acontecia longe dos trabalhadores
de “chão de fábrica”, e cujo tranbalho era bastante massificado)
e) foi única e exclusivamente o produto da genialidade de algumas gerações de
inventores, tendo sido adotada pelos industriais que estavam interessados em
aumentar a produção e, por conseguinte, os lucros. (feedback: resposta incorreta,
pois a Revolução industrial não foi, única e exclusivamente, o produto da
genialidade de algumas gerações de inventore, envolvendo muitos outros
fatores)

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