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1 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 1 Sujeito Núcleo Predicado Singular Composto Verbo Plural Amélia Lopes Dias de Araújo Aula 1: LIÇÕES O sujeito DE CONCORDÂNCIA VERBAL 2 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 2 Material didático do curso a distância: Lições de Concordância Verbal Validação pedagógica e diagramação: Supremo Tribunal Federal Secretaria de Gestão de Pessoas Coordenadoria de Desenvolvimento de Pessoas Conteudista: Amélia Lopes Dias de Araújo (STF) Web Designer: Andreia Marques Solter de Azevedo (STJ) DADOS PARA REFERÊNCIA SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Curso a distância: Lições de Concordância Verbal. Brasília: Coordenadoria de Desenvolvimento de Pessoas, 2019. Disponível em: https://ead.stf.jus.br/. Acesso restrito com login e senha. 2019, Supremo Tribunal Federal. Todos os direitos reservados. Este material possui função didática, sem fins comerciais, e foi atualizado em 2023. Para mais detalhes sobre as condições de uso, acesse: Licença STF. Visite o Ambiente Virtual de Aprendizagem do STF Contato: educa@stf.jus.br Agenda 2030 da ONU Este evento se relaciona com o ODS 3 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 3 SUMÁRIOSUMÁRIO Introdução ..................................................................................4 1. Concordância verbal: conceito e regra geral ..................5 1.1 Sujeito: identificação .................................................7 1.1.1 Núcleo do sujeito ....................................................14 1.2 Disposição dos termos na oração ..................................16 1.2.1 Ordem direta ............................................................16 1.2.2 Ordem indireta ........................................................16 1.2.3 Verbos com sujeito posposto...............................17 Conclusão ...................................................................................22 Referências .................................................................................23 4 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 4 Introdução Seja bem-vindo(a) ao curso de concordância verbal. Olá! É muito bom estar junto com você nesta jornada de atualização de conhecimento sobre um dos tópicos mais importantes da gramática. A concordância verbal gira em torno dos dois elementos fundamentais da oração: o sujeito e o verbo. Como ambos precisam estar em consonância para que a frase tenha a harmonia determinada pela norma culta, é fundamental entender o papel de cada um na organização da frase para garantir a correção e a fluidez do texto. Em razão disso, o objetivo desta aula é apresentar o princípio gramatical da concordância verbal e demonstrar como a identificação do sujeito contribui para a adequada aplicação das regras gramaticais. Prontos para começar, então vamos lá! Leia a seguinte frase extraída de um noticiário de TV: Você identifica nela algum desvio gramatical? Repare no verbo “causar”. Com quem ele deve concordar? Rodovias brasileiras ou estado? Escolheu “estado”? Muito bem, acertou! É bem possível, contudo, que você tenha hesitado entre um termo e outro, afinal, as inúmeras regras de concordância costumam gerar dúvidas em todos nós. A solução para esse problema é entender o princípio geral que rege a concordância, assunto do primeiro tópico, e aprender a identificar o sujeito, assunto do segundo. O péssimo estado de conservação de muitas rodovias brasileiras causam prejuízos de milhões de reais ao país. 5 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 5 1. Concordância verbal: conceito e regra geral Na Língua Portuguesa, a relação morfossintática entre o verbo e o sujeito é regida pelo princípio linguístico da concordância, segundo o qual cabe ao verbo ajustar-se ao sujeito da oração em número (singular e plural) e pessoa (1ª, 2ª e 3ª). Exemplos: A questão incidental somente vincula as partes envolvidas no processo. As questões incidentais somente vinculam as partes envolvidas no processo. Repare que o verbo “vincular” se flexionou em número e pessoa de acordo com o sujeito em cada uma dessas orações. A regra geral da concordância verbal não apresenta mistérios para nós. Dificilmente teríamos dúvida ao escrever as frases acima. Mesmo em enunciados complexos como o que veremos no próximo exemplo, a aplicação dessa norma não é complicada, desde que você saiba identificar o sujeito e o seu núcleo. 3ª pessoa do singular 3ª pessoa do singular 3ª pessoa do plural 3ª pessoa do plural 6 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 6 A cobrança da contribuição para o PASEP das sociedades de economia mista e das empresas públicas exploradoras de atividade econômica não viola o princípio da igualdade tributária. Tenho certeza de que você já percebeu o papel crucial do sujeito. É por isso que, antes de aprofundarmos o estudo da concordância verbal, precisamos rever os conceitos relacionados não só a ele, mas também ao verbo. Pense nesses dois termos como parceiros em uma de dança de salão. Para que os dançarinos consigam harmonizar a postura e sincronizar o movimento de ambos no ritmo da música, um dos pares assume a dominância e conduz o outro. Na frase, quem exerce esse papel é o sujeito. É ele quem determina ao verbo os movimentos (flexões) que deve adotar. Quando a dança é simples, o verbo sabe bem o que fazer, basta seguir a regra geral e pronto. No entanto, se o sujeito decide executar passos elaborados e diferentes do que tradicionalmente faz, o verbo fica desnorteado e sente dificuldade para acompanhá-lo. Você já entendeu que o sujeito é “o cara”, não é mesmo? Se não conseguirmos identificá-lo, a correção da frase pode ficar comprometida tanto em relação à concordância verbal quanto à pontuação. sujeito 3ª pessoa do singular Núcleo do sujeito: singular FIQUE LIGADO! Não pode haver vírgula entre o sujeito e o verbo, nem entre esse e seus complementos. Não se preocupe, vamos revisar bem esse ponto. 7 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 7 1.1 Sujeito: identificação O sujeito é o termo (palavra ou conjunto de palavras) da oração sobre o qual se declara algo. Pode ser conceituado também como uma categoria sintática que determina, de modo geral, a concordância do verbo. Agora, você se recorda de como identificar o sujeito? Essa tarefa é simples: basta perguntar ao verbo “o que ou quem” praticou a ação verbal. Tudo o que responder a essa pergunta é o sujeito. Para facilitar a identificação do sujeito e do predicado da oração, trago uma boa dica. Você só precisa seguir os passos a seguir: Passos do sucesso 1º Encontre o verbo da oração. 2° Faça a pergunta (o que? ou quem?) antes do verbo. Cuidado! Observe a correta posição da pergunta: antes do verbo. 3º Destaque a resposta inteira: ela é o sujeito da oração. 4º Encontre o núcleo do sujeito: a palavra diretamente relacionada ao verbo. Atenção: o núcleo do sujeito não pode ser preposicionado, ou seja, não pode ser precedido de preposição. 5º Retire o sujeito da oração, o que permanecer é o predicado. 8 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 8 Vamos juntos aplicar os passos na frase a seguir para você ganhar confiança: A questão enfrentada pelo Conselho Nacional de Justiça prescinde de dilação probatória. Acompanhe comigo: 1º Encontre o verbo da oração: 2º Faça a pergunta (o que ou quem) antes do verbo: Cuidado! Observe a correta posição da pergunta: antes do verbo. 3º Escreva a resposta no quadro. Ela é o sujeito da oração: 4º Encontre o núcleo do sujeito: a palavra diretamente relacionada ao verbo. Atenção: o núcleo do sujeito não pode ser preposicionado, ou seja, não pode ser precedido de preposição. O núcleo é sempre um substantivo ou um pronome. Temos, na frase acima, dois substantivos, mas somente um deles faz a ação verbal: a palavra “questão”. O outro, “Conselho Nacional de Justiça”, não pode ser o núcleo do sujeito, pois está precedido de preposição (por). Além disso, não é o CNJ que prescinde de dilação probatória. 5ºRetire o sujeito da oração, o que permanecer é o predicado. Coloque-o no quadro abaixo: prescinde O que prescinde de dilação probatória? A questão enfrentada pelo Conselho Nacional de Justiça prescinde de dilação probatória A questão enfrentada pelo Conselho Nacional de Justiça 9 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 9 Vamos seguir essas etapas em mais um exemplo: Desobedece à Constituição a suspensão da exigibilidade de registro sanitário de medicamentos. Parece difícil? Não se preocupe, basta seguir os passos que demonstramos no tópico anterior para encontrar o sujeito. Vamos lá, então: 1º Encontre o verbo da oração: 2º Faça a pergunta (o que ou quem) antes do verbo: 3º Escreva a resposta no quadro. Ela é o sujeito da oração. 4º Encontre o núcleo do sujeito: a palavra diretamente relacionada ao verbo. Atenção: o núcleo do sujeito não pode ser preposicionado, ou seja, não pode ser precedido de preposição. 5º Retire o sujeito da oração, o que permanecer é o predicado. Coloque-o no quadro abaixo: Desobedece O que desobedece à Constituição? a suspensão da exigibilidade de registro sanitário de medicamentos A suspensão da exigibilidade de registro sanitário de medicamentos Desobedece à Constituição 10 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 10 Viu só como esse método funciona mesmo? Encontramos o sujeito do verbo desobedecer, mesmo ele estando após o predicado. Veja agora mais um caso aparentemente difícil, mas que é resolvido facilmente se você seguir os Passos do sucesso: É importante que os órgãos competentes reforcem a necessidade de exibição destacada da informação sobre a faixa etária especificada. 1º Encontre o verbo da primeira oração: 2º Faça a pergunta (o que ou quem) antes do verbo: 3º Escreva a resposta no quadro. Ela é o sujeito da oração: O período que estamos analisando é composto por duas orações. Sabemos disso porque encontramos nele dois verbos (ser e reforçar). Você se lembra disso? Tenho certeza que sim, mas não vamos nos alongar nesse ponto, pois o importante para nós agora é perceber que a segunda oração é o sujeito da primeira. Encontre o núcleo do sujeito: a palavra diretamente relacionada ao verbo. Não encontrou? É porque não há um núcleo nesse caso. Quando o sujeito é oracional, ou seja, formado por uma oração, não temos uma palavra central, logo o verbo fica na terceira pessoa do singular. Veremos essa regra em detalhes nas próximas aulas, não se preocupe. Nosso foco agora é apenas comprovar a eficácia de seguir os passos que apresentamos. Então, não esqueça: interrogue o verbo! é O que é importante? que os órgãos competentes reforcem a necessidade de exibição destacada da informação sobre a faixa etária especificada 11 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 11 A submissão do contribuinte a regime mais gravoso de apuração tributária impede a discussão administrativa ou judicial sobre matéria tributária. 1º Encontre o verbo ou locução verbal da oração: 2º Faça a pergunta (o que ou quem) antes do verbo. Cuidado! Observe a correta posição da pergunta: antes do verbo. 3º Escreva a resposta no quadro. Ela é o sujeito da oração: 4º Encontre o núcleo do sujeito: a palavra diretamente relacionada ao verbo. Atenção: o núcleo do sujeito não pode ser preposicionado, ou seja, não pode ser precedido de preposição. 5º Retire o sujeito da oração, o que permanecer é o predicado. Coloque-o no quadro abaixo: O negócio está melhorando, não é mesmo? Esses exemplos foram bons para aquecer. Agora é com você! Aplique os passos do sucesso nas duas frases a seguir: 12 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 12 Vamos tentar com mais este período: Implica potencial risco ao erário a manutenção da decisão atacada. 1º Encontre o verbo ou locução verbal da oração: 2º Faça a pergunta (o que ou quem) antes do verbo. Cuidado! Observe a correta posição da pergunta: antes do verbo. 3º Escreva a resposta no quadro. Ela é o sujeito da oração: 4º Encontre o núcleo do sujeito: a palavra diretamente relacionada ao verbo. Atenção: o núcleo do sujeito não pode ser preposicionado, ou seja, não pode ser precedido de preposição. 5º Retire o sujeito da oração, o que permanecer é o predicado. Coloque-o no quadro abaixo: Então, como foi o exercício? A aplicação dos passos facilitou o seu entendimento? Espero que sim! 13 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 13 Resposta 1: A submissão do contribuinte a regime mais gravoso de apuração tributária impede a discussão administrativa ou judicial sobre matéria tributária. 1º) verbo: impede. 2º) pergunta: o que impede a discussão administrativa ou judicial sobre matéria tributária? 3º) Sujeito: A submissão do contribuinte a regime mais gravoso de apuração tributária. 4º) núcleo: submissão. 5º) predicado: impede a discussão administrativa ou judicial sobre matéria tributária. Resposta 2: Implica potencial risco ao erário a manutenção da decisão atacada. 1º) verbo: implica. 2º) pergunta: o que implica potencial risco ao erário? 3º) Sujeito: a manutenção da decisão atacada. 4º) núcleo: manutenção. 5º) predicado: implica potencial risco ao erário. Ainda em relação às frases que vimos no exercício, você notou que a resposta inteira nos deu como resultado o sujeito da oração com todos os seus elementos, o núcleo e os adjuntos adnominais? Lembre-se, contudo, de que o verbo concorda apenas com o núcleo do sujeito, razão pela qual ambos os verbos ficaram no singular. Tudo bem? Que tal praticar um pouco mais? Disponibilizamos atividades opcionais referentes a esse assunto em nossa plataforma para que você possa fixar bem o assunto. Vamos conferir as respostas: 14 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 14 1.1.1 Núcleo do sujeito Precisamos conversar também sobre o núcleo, pois é ele a palavra principal do sujeito. Em geral, o núcleo é um substantivo ou um pronome. As outras palavras gravitam em torno dele e são, por isso, chamadas de adjuntos. Exercem papel de adjunto adnominal os artigos, os pronomes, os adjetivos e os numerais. Vamos ressaltar, mais uma vez, o fato de o núcleo não poder ser regido de preposição. É justamente por isso que, se o termo anterior à preposição funcionar como sujeito de um verbo no infinitivo, a contração da preposição com o artigo passa a ser proibida. Veja o exemplo abaixo: Apesar de o candidato se referir à comunicação de 15-7-2009, a Comissão do Concurso já havia comunicado a suspensão da divulgação do resultado. Na primeira oração do período acima, “o candidato” é o sujeito do verbo “referir” (quem se referiu à comunicação de 15-7-2009? O candidato). Como o núcleo veio precedido da expressão “apesar de”, a contração da preposição com o artigo definido é vedada pela gramática normativa. Tal situação ocorre com frequência com as seguintes expressões “pelo fato de, apesar de, antes de, depois de, a possibilidade de, o direito de”. Confira a Base XVIII, 2º, b, do Novo Acordo Ortográfico: Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou pronominais o, a, os, as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas em construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se funde a preposição com a forma imediata, escrevendo-se estas duas separadamente: a fim de ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude de os nossos pais serem bondosos; o facto de o conhecer; por causa de aqui estares (Base XVIII, 2º, b, Obs.). Substantivo ou Pronome Artigos Numerais Pronomes Adjetivos 15 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 15 Sujeito composto O sujeito é classificado como composto quando há dois ou mais núcleos. Exemplo: Note que o sujeito é formado por dois núcleos (o verbo concorda no plural). Nesta aula, abordaremos apenas esses dois tipos de sujeito. Os demais serão vistos nas próximas aulas, quando as regras referentes a eles forem apresentadas. Sujeito simples Quando há somente um núcleo, o sujeito é classificado como simples.Exemplo: Observe que, nesse exemplo, o sujeito apresenta um único núcleo (com o qual o verbo concorda) e os adjuntos: os, do time adversário. Os torcedores do time adversário criticaram o juiztorcedores Núcleo do sujeito Sujeito simples A autonomia e a independência do TCU são asseguradas pela CF/1988autonomia núcleo 1 independência núcleo 2 Sujeito composto FIQUE LIGADO! Para saber mais sobre os tipos de sujeito, visite o site Língua Minha. 16 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 16 Vimos até aqui que o verbo deve concordar com o sujeito em número e pessoa, por isso aprendemos a localizar esse termo a fim de realizar as flexões necessárias. Encerrada essa etapa, tenho mais perguntas para você. A posição do sujeito na oração causa algum impacto no verbo? Como fica a concordância quando ele está após o predicado? As respostas estão no próximo tópico. Confira. 1.2 Disposição dos termos na oração Na Língua Portuguesa, os termos da oração podem ser dispostos em ordem direta ou em ordem indireta. Você se lembra disso, com certeza! A escolha de uma forma ou de outra depende da intenção do redator. Se ele pretende destacar o sujeito, coloca-o no início da frase. Se, ao contrário, prefere enfatizar a ação, posiciona o sujeito após o predicado, em ordem inversa. Vamos relembrar um pouco mais sobre cada uma dessas formas de disposição dos elementos da frase nos tópicos a seguir. 1.2.2 Ordem indireta Já na ordem indireta, a estrutura da frase é alterada. Os termos não seguem a sequência natural, mudam de lugar e podem aparecer nas mais variadas posições. Exemplo: o CNJ adj.adv concluiu sujeito a análise verbo Ontem compl. verbal 1.2.1 Ordem direta Na ordem direta, que é considerada a sequência natural da oração, os termos organizam-se da seguinte maneira: Exemplo: sujeito + verbo + complementos + adjuntos adverbiais O CNJ sujeito concluiu verbo a análise compl. verbal ontem adj. adverbial 17 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 17 Em relação à concordância verbal, a disposição dos elementos da frase em ordem direta ou em indireta não interfere na aplicação da regra geral no caso do sujeito simples. Seja qual for a ordem, o verbo deve concordar com o sujeito. Anteposto ou posposto, distante ou próximo, não importa: a regra é uma só. Deixar de flexionar o verbo constitui erro, por isso não se esqueça: fique de olho sujeito! A faculdade de o sujeito posicionar-se tanto à direita quanto à esquerda do verbo pode dificultar sua identificação, por isso é importante sempre rastreá-lo na frase para evitar erros de concordância ou de emprego da vírgula. Observe o período abaixo: Existem, mediante autorização expressa da CF/1988, restrições estabelecidas por lei. Note que o sujeito da oração (restrições estabelecidas por lei) está não só após o verbo como também separado dele por uma expressão intercalada. Nesse caso, é muito frequente confundi-lo com os complementos, o que pode acarretar erros de concordância. Observe mais frases em que o sujeito (em negrito) aparece deslocado: Foram atendidos em plenitude os comandos questionados. Restaram comprovadas as tentativas de suborno. Frequentemente acontecem impactos econômicos negativos. Ficou ansioso? Não se preocupe, se conhecermos os verbos que costumam aparecer na ordem inversa, o problema será facilmente resolvido. Confira no tópico a seguir. 1.2.3 Verbos com sujeito posposto Certos verbos apresentam frequentemente o sujeito deslocado, ou seja, em ordem indireta. São eles: acontecer, bastar, caber, constar, existir, faltar, ocorrer, restar, sobrar. Dessa forma, é comum que aconteçam erros de concordância, já que podem ser confundidos com o objeto direto. Vejamos alguns exemplos, o sujeito está em negrito: Faltam decisões judiciais autorizativas de importação. Cabe à União a edição de diplomas que versem sobre política de crédito e câmbio. 18 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 18 Muitas vezes, ficamos em dúvida ou mesmo incorremos em erro de concordância por estarem aqueles termos na ordem inversa. É o caso de “Consta algumas informações importantes no texto”. Localizamos o sujeito perguntando ao verbo quem ou o que praticou tal ou qual ação ou quem está em determinado estado. Sobre a oração acima, interrogamos: o que consta? A resposta é: algumas informações importantes. Portanto, o sujeito dessa oração é “algumas informações importantes”, que está posicionado depois do predicado – na ordem inversa, pois –, este constituído da forma verbal “consta” e do adjunto adverbial no texto. Na ordem direta, a construção fica: “Algumas informações importantes consta no texto”. Vemos então que alguma coisa está errada: se o sujeito está no plural, o verbo – que deve concordar com ele – precisa também ficar no plural. Em consequência, mantida a ordem inversa, temos: “Constam algumas informações importantes no texto”. Vejamos a oração “Há de concorrer para isso, certamente, além da fé, outros fatores que proporcionam estabilidade emocional às pessoas”. A antecipação do predicado e seu distanciamento do sujeito facilitam a falta de concordância. Vamos pôr os termos da oração principal em seus devidos lugares, ou seja, na ordem direta: “Outros fatores há de concorrer certamente para isso além da fé”. Não há concordância, vê-se claramente. O sujeito plural, “outros fatores”, requer o verbo também no plural. Por isso, temos de construir “Outros fatores hão de concorrer certamente para isso além da fé”. Outro exemplo: “Que entre os bons, pois os melhores estão saindo”. Parte da estrutura está na ordem inversa. É só pormos os termos na ordem direta e a concordância torna-se clara: “Que os bons entrem, pois os melhores estão saindo”. Como o sujeito é plural, “os bons”, o verbo deve necessariamente concordar com ele e também ir para o plural: “entrem”. Ocorreram lesões fundadas em simples interpretação judicial do texto constitucional. Restam exauridos os efeitos dos referidos preceitos transitórios. Existem decisões irrepreensíveis. Sobraram três depoentes. Não ocorreram quaisquer causas de interrupção da prescrição. Para evitar erros nos casos de inversão do sujeito, podemos empregar o método do professor Paulo Hernandes: localizar o sujeito, colocar a frase em ordem direta, verificar a correção e depois fazer os ajustes necessários. Confira a dica abaixo: 19 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 19 Agora, dois exemplos de concordância nominal: Tomemos a oração “Foi dado ciência ao delegado de plantão”. Coloquemo-la na ordem direta: “Ciência foi dado ao delegado de plantão”. Não está certo, não é? O correto, pois, é “Ciência foi dada ao delegado de plantão” ou, na ordem anterior, “Foi dada ciência ao delegado de plantão”. É o mesmo caso de “Foi dada voz de prisão”. Nos dois exemplos, o particípio (dada), que integra o predicativo, tem função adjetiva e por isso concorda com o substantivo ao qual se liga (ciência, voz de prisão). Concluímos que na ordem direta isso fica mais evidente. Mais esta: “Vem sendo apresentada inúmeras denúncias de mau comportamento”. Na ordem direta, a oração fica: “Inúmeras denúncias de mau comportamento vem sendo apresentada”. Constatamos claramente que o predicativo (apresentada) não concordou com o sujeito (inúmeras denúncias de mau comportamento), como deveria. Notamos também que não houve concordância verbal, pois a forma “vêm” é que precisaria ser empregada para concordar com o citado sujeito. A construção correta, portanto, é “Vêm sendo apresentadas inúmeras denúncias de mau comportamento”. Então, você já sabe: quando tiver dúvida sobre concordância, verifique se os termos da oração encontram-se na ordem direta. Se não estiverem, ponha-os – sujeito, predicado (verbo) e complemento – e as coisas ficarão mais claras. Paulo Hernandes é professor de linguística e língua Portuguesa em cursos de graduação em Letras. É também professor de Semântica e Lexicologia em cursos de pós- -graduação emnível de especialização, redator e revisor de textos. 20 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 20 Vamos aplicar a dica do professor Paulo neste período: É pressuposto de legitimidade na aplicação das diversas penas, por crimes distintos, em uma mesma ação penal, a observância de tratamento uniforme para todos os casos. Nossa primeira providência é localizar o sujeito da oração. O que é pressuposto de legitimidade na aplicação das diversas penas? Sujeito: a observância de tratamento uniforme para todos os casos. Constatamos, então, que o período está em ordem indireta, pois o predicado está antes do sujeito. Para verificar a correção da concordância verbal, vamos colocar os termos da frase na ordem direta: A observância de tratamento uniforme para todos os casos é pressuposto de legitimidade na aplicação das diversas penas, por crimes distintos, em uma mesma ação penal. A seguir, devemos identificar o núcleo do sujeito: que é a palavra “observância”. Como o verbo também está no singular, concluímos que a concordância está correta. Bem mais fácil, não é? Agora é sua vez: se a oração estiver invertida, coloque os termos na ordem direta e depois certifique-se de que a concordância esteja correta. Constam como fundamentos da República brasileira os princípios da cidadania e da dignidade da pessoa humana. 1º Localize o sujeito: 21 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 21 2º Identifique o núcleo: 3º Coloque a frase em ordem direta: E então? A concordância está certa ou errada? Constam como fundamentos da República brasileira os princípios da cidadania e da dignidade da pessoa humana. 1º Localize o sujeito: Os princípios da cidadania e da dignidade da pessoa humana 2º Identifique o núcleo: princípios 3º Coloque a frase em ordem direta: Os princípios da cidadania e da dignidade da pessoa humana constam como fundamentos da República. Constatamos assim que a frase está correta, pois o verbo está no plural. Vamos conferir as respostas: 22 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 22 Conclusão Chegamos ao fim de nossa primeira aula. Vimos que a concordância verbal é o mecanismo gramatical que determina como o verbo deve alterar sua forma para adequar- se ao sujeito da oração. Demonstramos que, para aplicar corretamente as regras de concordância, é fundamental identificar o sujeito seja qual for a posição em que ele esteja na frase. Para complementar a revisão, é interessante que você faça os exercícios de fixação que estão na plataforma. Na próxima aula, o palco será inteiramente do verbo. Vamos aprender como diferenciar locução verbal e tempo composto. Veremos também as formas nominais do verbo. Encontro vocês na próxima aula. Até lá. 23 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 23 Referências BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Lucerna, 1999. BRASIL, Academia Brasileira de Letras. Vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa. 5. ed. São Paulo: Global. 2009. CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley L. F. Nova gramática do português contemporâneo. 4. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2007. FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar: Gramática. São Paulo: FTD, 2003. GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV: 1986. LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. 1. ed. São Paulo: Ática. 2008. MORENO, Cláudio. Guia prático do Português: sintaxe. LPM. 2000. NEVES, Maria Helena Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP, 2000. SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 18. ed. São Paulo: Atual. 1994. 24 Aula 1 Lições de Concordância Verbal 24