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EVENTOS GLOBAIS COMO PROTAGONISTAS DE ESTRATÉGIAS URBANAS É possível definir grandes eventos globais como aqueles que criam a possibilidade de atrair uma grande massa de visitantes estrangeiros, de forma simultânea e por um curto período. Tais eventos, em sua grande maioria, estão ligados a cultura, ao esporte e a outros da mesma linhagem, pois não fazem parte dos atrativos turísticos habituais do local, e provavelmente não voltarão a ocorrer nos anos próximos naquele mesmo lugar, mesmo sendo eventos com frequência já pré-estabelecidas. Alguns autores também incluem as grandes cimeiras internacionais de caráter político ou institucional, tais como fóruns, reuniões, congressos, entre outros, como grandes eventos similares aos citados anteriormente. Entretanto observou-se que os mesmo não trazem uma repercussão tão grande para o país-sede, acarretando uma baixa necessidade de mudanças físicas das cidades, infraestrutura e segurança local e sustentabilidade. A promoção de eventos tem sido uma das principais estratégias utilizadas pelos gestores urbanos pois conferem uma imagem mais qualificada para a cidade sede, além de ser sinônimo para a possibilidade de circulação de turistas com alto poder aquisitivo, aptos a consumir os serviços e bens comercializados localmente. Para abrigar estes eventos a cidade sede deve apresentar alguns equipamentos diretamente relacionados com o evento em si, como centro de convenções e hotéis, além de amenidades culturais e uma adequada infraestrutura de transporte que permita o deslocamento dos participantes do evento. Este último, por sua vez, deve ser gerenciado de forma que o deslocamento seja rápido e seguro para os principais locais de circulação dos participantes dos eventos. Os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo de Futebol representam os maiores eventos do planeta, mobilizando a atenção de bilhões de espectadores em todo o mundo e movimentando recursos impressionantes no que diz respeito à sua organização e ao seu retorno econômico para o país-sede e as respectivas cidades que os hospedam. Tais eventos são vistos como a oportunidade perfeita para a realização de transformações urbanas. Como relata Sávio Raeder, em seu artigo Planejamento urbano em sedes de megaeventos esportivos, “É possível mesmo falar hoje de um urbanismo olímpico (Mascarenhas, 2005; Muñoz, 2006) para tratar dos impactos na cidade promovidos pelos vultosos recursos envolvidos na organização dos Jogos. Pequim 2008, Vancouver 2010 e mesmo os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro 2007, apresentam investimentos eminentemente públicos que são calculados em bilhões de dólares. Parte destes recursos financeiros é utilizada apenas para a realização do espetáculo esportivo em si, sem embargo, outra parte significativa do bolo orçamentário é utilizada na construção de equipamentos e estruturas que conformam o tecido urbano.” Diversos autores denominam tal estratégia como estratégia de megaeventos, event estrategy, que basicamente se trata da competição entre cidades por trabalho e capital em um contexto de escassez de transferência de recursos do governo para administração locais. O uso de eventos para a atração de investimentos não é propriamente uma novidade, e, se tratando dos Jogos Olímpicos como evento central, podemos dividir em três fases o panorama histórico das intervenções urbanas realizadas. “A primeira fase se refere aos primeiros eventos que retomam os Jogos Olímpicos, sendo as três primeiras sedes (Atenas 1896, Paris 1900 e Saint Louis 1904) aquelas que abrigaram os primeiros atletas olímpicos da modernidade. Nestas edições os Jogos contaram com baixos investimentos, havendo poucas intervenções urbanas envolvidas na preparação do evento”, analisa Sávio. A segunda fase abrange as sedes do período entre 1908 e 1936, sendo que nessas edições as instalações esportivas ganham relevo e passam a ser o principal objeto dos investimentos urbanos destinados à realização dos Jogos. Nessa fase também é possível observar a preocupação com a construção de Vilas Olímpicas para acomodar os atletas. Berlin 1936 sediou a última edição dos Jogos Olímpicos antes da 2ª Grande Guerra Mundial e se destacou pelo forte apelo político do evento conferido pelo partido nazista, bem como pelas grandiosas instalações esportivas construídas. Com o fim da Guerra, os Jogos voltam a ser realizados em Londres no ano de 1948, e são marcados por uma fase de redução nos investimentos até a edição de Melbourne em 1956. Nessa fase os equipamentos esportivos e vilas olímpicas são modestos por conta da restrição orçamentária decorrente dos esforços de recuperação do pós-guerra. Tendo sido superadas as dificuldades financeiras e contando com a visibilidade trazida pelas transmissões televisivas, uma nova fase se inicia com Roma 1960 e estendendo-se até Montreal 1976. Os Jogos passam a contar com generosos aportes de recursos para a construção não somente de equipamentos esportivos, mas também para infraestruturas urbanas que viabilizam a mobilidade e a comunicação entre arenas, vilas, hotéis e aeroportos. Neste contexto Tóquio 1964 é citada como a sede que sofreu as maiores transformações urbanas associadas à realização dos Jogos. Entretanto Moscou 1980 e Los Angeles 1984 fazem parte de uma fase marcada por boicotes em um mundo bipolar que sofria com a guerra fria. Foi visível as grandes transformações urbanas visando a requalificação de áreas que se deram em Seul 1988 e Barcelona 1992. Investimentos generosos foram aportados na reconstrução de áreas degradadas destas cidades. Em Seul esta requalificação ocorreu à custa de diversas remoções de favelas e contou também com a recuperação de muitos sítios históricos. Atlanta 1996, por sua vez, se diferenciou bastante das duas edições anteriores por não ter sido palco de grandes mudanças urbanas, sendo financiada em sua maior parte por capitais privados. Já Sydney 2000 se destacou pela recuperação de uma área degradada, Homebush Bay, pela poluição gerada por décadas de atividade industrial. Porém, atualmente, enfrenta problemas com a manutenção de equipamentos esportivos subutilizados. Tal problema se repetiu tanto em Atenas 2004 como em Pequim 2008, sendo mais difícil a solução para o primeiro considerando a crise econômica vigente. Pequim, por outro lado, foi palco para a demonstração de força da potência emergente, com suas arenas imponentes e promovendo grandes transformações urbanas para se apresentar ao mundo. As próximas edições dos Jogos, Londres 2012 e Rio 2016, enfrentaram problemas semelhantes das edições anteriores, destacando-se a temática da sustentabilidade e do legado. Finalizando sua análise, Sávio afirma que “Realizar o evento com permanente preocupação ambiental desde a construção das instalações até a adoção de soluções de mobilidade com baixo carbono, é o que se observa nos organizadores dos próximos Jogos. Por outro lado, há um intenso debate sobre os usos futuros das arenas esportivas, levando seus planejadores a redimensionar escalas ou até mesmo propor alterações nas decisões locacionais firmadas nos Cadernos de Encargos.” Sabendo que Barcelona é considerada por inúmeros pesquisadores como o caso de maior sucesso no desenvolvimento urbano associado aos Jogos, o presente trabalho visa fazer uma análise do caso, a fim de apresentar com mais detalhes a efetividade dos eventos globais como estratégia para o planejamento urbano. A cidade contou com o repertório na área do planejamento urbano e se serviu dos Jogos para realizar as transformações necessárias, fortalecendo assim, as potencialidades turísticas e reduzindo as fragilidades sociais existentes. FONTES: file:///C:/Users/steph/Downloads/Paper201.pdf file:///C:/Users/steph/Downloads/Grandes-eventos-esportivos-e-planejamento-de-desenvolvimiento-urbano-documentos-de-ref%C3%AArencia-e-discuss%C3%A3o.pdf