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11/04/2014 1 Resumo da última aula Unidade 1 – Introdução 1.1. Introdução à metalurgia • Definições • Três ramos da metalurgia: química – física – mecânica 1.2. Resumo dos processos de fabricação dos metais • Processos de Formas Primárias em Metais; • Processos de Conformação dos Metais; • Processos de Usinagem dos Metais; • Processos de Tratamento dos Metais; • Processos de União de Metais. 1.2. Contexto histórico das operações de fundição Resumo da última aula O que estudamos na última aula? Unidade 2 – Conceitos fundamentais 2.1. Etapas do processo de fundição 1. Modelagem 2. Moldagem 3. Macharia (se necessário) 4. Fusão 2.2. Seleção do processo 2.3. Características e defeitos dos produtos fundidos 2.4. Vantagens e desvantagens 5. Vazamento 6. Desmoldagem 7. Acabamento (rebarbação e limpeza) 8. Controle de qualidade 11/04/2014 2 UNIDADE 3 Solidificação Prof. Valmir Dias Luiz Curso Técnico de Metalurgia CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO DE TECNOLÓGICA DE MINAS FUNDIÇÃO E SOLIDIFICAÇÃO AULA 02 3.1. Introdução É na tecnologia de fundição que a ciência da solidificação de metais encontra o seu mais vasto campo de aplicação. O calor do metal líquido é retirado através das paredes do molde, por transferência térmica, provocando a sua solidificação e fixando a forma final das peças vazadas. Peça 11/04/2014 3 3.1. Introdução A transformação “liquidus-solidus” pela qual passa o metal é de natureza complexa, tendo em vista que durante a mesma ocorrem diversos fenômenos que, se não forem devidamente controlados, podem comprometer o desempenho do produto final. Tais aspectos podem dar origem a diversos tipos de heterogeneidades que interferem drasticamente na qualidade do produto final: a) heterogeneidades físicas; b) heterogeneidades químicas; c) heterogeneidades estruturais. 3.1. Introdução a) Heterogeneidades físicas: geralmente originadas pela contração do metal fundido em solidificação e durante o resfriamento com conseqüente diminuição do volume específico da peça (rechupes, trincas de contração, porosidades e outros defeitos). b) Heterogeneidades químicas: segregação de impurezas ou de elementos de liga em escala microscópica ou macroscópica). c) Heterogeneidades estruturais: tipo, distribuição, tamanho e orientação de grãos cristalinos. 11/04/2014 4 3.1. Introdução Uma boa compreensão da solidificação dos metais permite conhecer a natureza das heterogeneidades antes mencionadas. Suas causas e seus efeitos, indicando os parâmetros de controle que podem ser manipulados de forma a otimizar os processos de fundição e maximizar a qualidade e desempenho do produto final. Entretanto, antes de abordar o assunto solidificação, discutiremos rapidamente a natureza do estado líquido. 3.2. A fase líquida Em primeiro lugar, para fins de estudos, a fase líquida dos metais será considerada monofásica e homogênea. Ao contrário das fases sólida e gasosa, a fase líquida não possui nenhum modelo simples que a explique. Não possui arranjos definidos e extensos como os sólidos cristalinos. A curta distância, pode-se dizer que os metais líquidos possuem um arranjo aproximado ao dos sólidos, porém com uma grande inclusão de defeitos tais como lacunas e discordâncias (variação de densidade de 2% a 6%). 11/04/2014 5 3.2. A fase líquida Outra característica dos líquidos é o seu estado de variação contínua. Isto é, existe uma movimentação contínua do seu enorme número de defeitos estruturais, fato esse que explica sua enorme velocidade de difusão (>>> nos líquidos, Ex.: pedra na água). Movimentos atômicos nos líquidos são diversas ordens de grandeza mais rápidos que em sólidos logo abaixo do ponto de fusão. Alotropia do Ferro 3.2. A fase líquida Assim, pela fusão, os metais compactos (CCC: Cr, Fe, Mo, W, etc) tendem a ter sua coordenação levemente diminuída, porém os metais pouco compactos (CFC: Cu, Al, Ag, Au, etc e HC: Ti) usualmente têm sua coordenação aumentada. Portanto, as propriedades dos líquidos estão relacionadas com a quantidade de defeitos enquanto as propriedades dos sólidos dependem mais do arranjo cristalino. 11/04/2014 6 3.3. Termodinâmica da solidificação Energia livre de Gibbs (G) (Josiah Willard Gibbs, 1839-1903, USA) é a porção da energia total de um sistema que está disponível para realizar trabalho a temperatura e pressão constantes. Em termos de energia livre, a fase líquida é uma fase intermediária. A fase sólida cristalina possui a menor energia interna (entalpia) e a maior ordem ou menor entropia (grau de desordem de um sistema) Exemplo: G gelo <<< água <<< vapor. G = E – T.S G = energia livre [ J ] ; E = entalpia [ J ] ; T = temperatura [ K ]; S = entropia [ J/K ] A energia livre da fase gasosa cai mais rapidamente com o aumento da temperatura. A fase líquida vem em seguida e a fase sólida é a que diminui menos rapidamente. As energias livres das três fases também são funções da pressão, de modo que suas posições relativas não são as mesmas para diferentes pressões. <<< Energia livre (G) +++ estável é a fase Importante 3.3. Termodinâmica da solidificação 11/04/2014 7 No entanto, sob determinada temperatura e pressão as três fases podem coexistir (fase GLS). Nesse caso, as linhas de energia livre das três fases se cruzam em um único ponto chamado de ponto triplo. Linhas de pressão constante (isobárica): aa, bb e cc. 3.3. Termodinâmica da solidificação No entanto, sob determinada temperatura e na isobárica aa, para as temperaturas abaixo do ponto de fusão Tf, a fase sólida tem a menor energia livre. No entanto, em Tf, a curva de energia livre do líquido cruza a do sólido e então a fase líquida se torna a mais estável. Em Te a curva dos gases cruza a linha dos líquidos e a fase gasosa passa a ser a de menor energia e, logo, a mais estável, conforme mostrado. 3.3. Termodinâmica da solidificação 11/04/2014 8 Na linha bb, temos a pressão que nos leva ao ponto triplo, onde as três fases podem coexistir. As temperaturas abaixo do ponto triplo, a fase sólida tem a menor energia e, para todas as temperaturas acima dele, a fase gasosa tem a menor energia livre. Nessa pressão (bb), a fase líquida só pode existir na temperatura do ponto triplo. 3.3. Termodinâmica da solidificação Na linha de pressão cc, a pressão é bastante baixa. Nesse caso, a linha de energia livre da fase gasosa cruza a linha dos sólidos antes que a linha dos líquidos o faça. Assim, a fase líquida não é estável em nenhum ponto de forma que um aumento na temperatura faz com que a fase sólida passe diretamente para a fase gasosa. 3.3. Termodinâmica da solidificação 11/04/2014 9 3.4. Nucleação O estudo da solidificação envolve duas abordagens distintas: - Na abordagem termodinâmica, analisam-se as energias envolvidas na solidificação (já estudado); - Na abordagem cinética, analisa-se a velocidade com que os processos (de nucleação e crescimento) acontecem. Em geral, pode dividir-se a solidificação de um metal ou liga nas seguintes etapas: a) Nucleação: Formação de núcleos estáveis no líquido. b) Crescimento: Os núcleos formados originando cristais e formando uma estrutura de grão. 3.4. Nucleação Esquema mostrando as várias etapas da solidificação de metais: (a) formação de núcleos, (b) crescimento dos núcleos, originando cristais, e (c) junção dos cristais para formar grãos e correspondentes limites de grão. Note-se que os grãos estão orientados aleatoriamente. 11/04/2014 10 3.4. Nucleação A nucleação é um fenômeno que pode ocorrer com a formação de núcleos diretamente a partir do líquido de duasformas distintas: a) Nucleação homogênea: o início da solidificação ocorre com a formação de núcleos sólidos estáveis que posteriormente crescem. b) Nucleação heterogênea: a solidificação ocorre a partir de superfícies pré- existentes, tais como as paredes do molde ou quando da presença de partículas sólidas no líquido. 3.4. Nucleação A superfície a ser criada pela nucleação a partir de um substrato (nucleação heterogênea) é menor, (comparada a da nucleação homogênea) podendo facilitar o processo pois exige menor energia de interface (barreira energética - pois parte desta já existe no substrato) . Observa-se também que o núcleo resultante da presença de um substrato possui menor volume e portanto menor número de átomos. 11/04/2014 11 3.4. Nucleação No estado líquido, tais átomos, além de vibrarem, não possuem posição definida, pois estão em movimento dentro do líquido. Por se movimentarem, os átomos no estado líquido entram em colisão, envolvendo milhares de átomos simultaneamente. Nesta colisão, surge um agrupamento momentâneo de átomos, formando um núcleo, com um dado arranjo atômico (CCC, CFC, HC, etc). O núcleo é um sólido que pode crescer ou se dissolver, dependendo da temperatura do sistema. Estruturas cristalinas mais comuns dos sólidos metálicos. Nucleação - Crescimento - Contornos de grão 3.4. Nucleação 11/04/2014 12 Representação esquemática de uma peça de um metal puro indicando os diferentes níveis estruturais. 3.4. Nucleação 3.4. Nucleação Na região L (estado líquido) , a temperatura diminui por efeito de transmissão de calor através do molde. A temperatura aumenta a partir de (Tf-T) pelo efeito de rescalescência. Inicia-se a solidificação, através do aparecimento dos primeiros núcleos sólidos. No patamar L+S há a coexistência dos estados líquido e sólido. Ao final do patamar toda a massa está solidificada (início da região S). 1 2 3 Superresfriamento = o metal líquido é levado a uma temperatura abaixo da sua temperatura de fusão. Recalescência = é a elevação súbita e espontânea da temperatura durante o resfriamento. Tf 11/04/2014 13 3.4. Nucleação As condições termodinâmicas (diminuição da energia livre) favorecem o aparecimento de núcleos da fase sólida. Pode-se observar que após a forte nucleação inicial a temperatura se eleva até a temperatura de fusão (Tf) do metal e o crescimento dos núcleos até o final da transformação ocorre nesta temperatura. A elevação de temperatura (recalescência) ocorre devido à liberação de calor latente de fusão (Lf = Quant. calor cedida ou recebida pela substância para mudar de fase) 1 2 3 Tf Superresfriamento = o metal líquido é levado a uma temperatura abaixo da sua temperatura de fusão. Recalescência = é a elevação súbita e espontânea da temperatura durante o resfriamento. 3.5. Crescimento A estrutura resultante em muitos casos pode tornar-se muito complexa com a formação de ramificações secundárias, a partir das ramificações primárias, e ramificações terciárias, a partir das secundárias. O sólido ramificado resultante apresenta o aspecto de uma árvore, cheia de galhos, em miniatura e é, por isso, denominado de dendrita, termo derivado da palavra grega dendron, que significa "árvore”. 11/04/2014 14 3.5. Crescimento A temperatura do metal líquido adjacente a estes ramos (projeções) eleva-se devido à liberação de calor latente de fusão correspondente ao volume solidificado. 0110 3.5. Crescimento Como resultado deste processo tem-se a formação de diversos ramos quase igualmente espaçados que crescem paralelos entre si. A direção de crescimento desses braços dendríticos é cristalográfica e dependente da estrutura cristalina (conteúdo de outra disciplina: Ciência dos Materiais) 0110 Estrutura cristalina Direção de crescimento dendrítica Cúbica de face centrada (CFC) 100 Cúbica de corpo centrado (CCC) 100 Hexagonal compacta (HC) 1010 Tetragonal de corpo centrado (estanho) 110 11/04/2014 15 3.6. Macroestrutura de solidificação Os grãos que aparecem na estrutura da peça ou do lingote podem ter diferentes tamanhos dependendo das taxas de extração de calor e gradientes térmicos em cada momento da solidificação. Quando um lingote se solidifica, três diferentes fases do processo de solidificação podem ocorrer, cada uma desenvolvendo arranjos característicos de cristais: 1. Zona coquilhada; 2. Zona colunar; 3. Zona central ou equiaxial. 0110 3.6. Macroestrutura de solidificação Zona coquilhada: região de pequenos grãos com orientação cristalina aleatória, situada na parede do molde. Próximo à parede existe maior taxa de extração de calor e portanto elevado superresfriamento, que favorece a formação destes grãos. Os grãos da zona coquilhada tendem a crescer na direção oposta a da extração de calor. Porém algumas direções cristalinas apresentam maior velocidade de crescimento que outra. 0110 Zona coquilhada 11/04/2014 16 3.6. Macroestrutura de solidificação Zona colunar: região de grãos alongados, orientados na direção de extração de calor. Os grãos da zona colunar que possuem as direções cristalinas de maiores velocidades de crescimento alinhadas com a direção de extração de calor, apresentam aceleração de crescimento. Esta aceleração gera grãos alongados que compõem a zona colunar, situada na posição intermediária entre a parede e o centro do molde. 0110 Zona colunar 3.6. Macroestrutura de solidificação Zona equiaxial central: região de grãos geralmente grandes formados no centro do molde como resultado da nucleação de cristais ou da migração de fragmentos de grãos colunares (arrastados para o centro por correntes de convecção no líquido). A formação da zona equiaxial central é favorecida por altos teores de liga e por baixos superaquecimentos de vazamento. Nesta região os grãos tendem a ser médios/grandes e de orientação cristalina aleatória. 0110 Zona central 11/04/2014 17 3.6. Macroestrutura de solidificação 0110 Variação da quantidade relativa de grãos a partir da periferia (zona coquilhada) de uma peça fundida com liga Al-2% Ag em molde metálico. 3.6. Macroestrutura de solidificação Nem sempre estas três zonas se formam, ou seja, através da variação dos diferentes parâmetros do processo de solidificação, a macroestrutura poderá apresentar uma, duas ou três das zonas solidificadas. 0110 Possíveis variações na macroestrutura de um lingote produzido por lingotamento convencional (seção longitudinal), em função das condições de solidificação: (a) ausência de zona equiaxial central; (b) presença das três zonas; (c) ausência das zonas coquilhada e colunar.
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