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A CIDADE DA BAHIA

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A CIDADE DA BAHIA 
(Gregório de Matos)
A Cidade da Bahia!Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado,
Pobre te vê a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante,
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh!se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o te capote!
Gregório de Matos, também conhecido como “Boca do Inferno”, fazia parte do movimento literário conhecido como Barroco, apesar de em muitas de suas poesias usar de expressões populares e/ou palavrões , fugindo a esta estilo.
Nesta poesia ele critica o momento pelo qual passa a Bahia,(“ estás e estou do nosso antigo estado, pobre te vê a ti a mi empenhado, rica te vi eu já,, tu a mi abundante”) a forma como as instituições estavam administrando sua terra, no caso o governador e a igreja, que não se entendiam muito à época colonial.A Bahia é uma grande produtora de açúcar, mas o descontrole na produção por essa época fez com que houvesse excedente do produto no mercado, forçando os produtores, leia-se lavradores que arrendavam terras nos engenhos aos seus donos (senhores de engenho), em diferentes sistemas de contrato, a baixar o preço do produto .
Além dessa concorrência, de muito açúcar ao mesmo tempo sendo produzido,( “ deste em dar tanto açúcar excelente”) fazendo baixar o preço final, havia encalhe de estoques e muitas vezes o mesmo não resistia e estragava, o que deixava a esses lavradores mais um prejuízo,eles que já tinham de arcar com as despesas de todo a produção do produto, desde a moagem da cana até o encaixotamento, passando pela mão de obra e a porcentagem ao senhor de engenho, dependendo da forma como foram arrendadas aquelas terras.
Para piorar, neste período houve surto de “peste” , no caso a cólera, muito contagiosa e que causou muitas mortes, e claro, mais prejuízo e medo entre a população.Houve inflação de outros produtos, que ao contrário do açúcar, se tornaram escassos , e comerciantes, estrangeiros inclusive, se aproveitaram disso para faturar ( “tanto negócio e tanto negociante”).
Ele cita ainda produção de “drogas” , no caso as plantações de tabaco, contíguas ás de cana de açúcar, embora sem o mesmo volume de produção que esta. Temos a presença dos “invasores”,( “que em tua larga barra tem entrado”) os franceses e holandeses, os quais ele também lamenta (“a ti trocou-te a máquina mercante...tanto negócio e tanto negociante”).
Há um lamento do tempo mais próspero da Bahia de outrora, da época da produção de algodão (“A cidade da Bahia! Ó quão dessemelhante estás do nosso antigo estado...que fora de algodão capote!”).
O “sagaz Brichote “ é a referência aos negociantes, com seus capotes, um modo de manchar a imagem destes frente à população, já que estes faziam negócios com a aristocracia local, muitas vezes escusos.As capas seriam modos de se disfarçar, dissimular, um modo de proteção.
Havia um clima ruim e algo decadente no ar por esses vários fatores, acrescidos ao fato de os holandeses , de modo recorrente, desde a ocupação de Pernambuco (1630- 1654), realizarem invasões em Salvador, causando desordem não apenas sócio-econômica, mas no próprio cotidiano da cidade e seus meus de produção, pois engenhos de cana eram destruídos e o transporte marítimo impedido, o que dificultava ainda mais o já combalido comércio do açúcar.

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