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1 Pontifícia Universidade Católica de Goiás DIREITO AGRÁRIO APOSTILA 01 DE APOIO ÀS AULAS TOMO I Professor: Eduardo Slywitch Cavalcanti eduardosiliviti@gmail.com 2 Lembretes: • Essa apostila é um simples material de apoio ao aluno, sendo imprescindível o acompanhamento das aulas ministradas pelo Prof. Eduardo Slywitch Cavalcanti e o estudo doutrinário quanto aos temas abordados. • Atenção: Determinados textos e citações retirados de sites de domínio público como o sitio eletrônico do INCRA e sites jurídicos possuem a devida citação bibliográfica. • Recomenda-se a atualização do aluno através do conhecimento da jurisprudência dos Tribunais Superiores, sendo de grande valia o site de atualização de Informativos do STF e STJ de seguinte endereço eletrônico: http://divisaoinformativos.wordpress.com/ • Recomenda-se estudo em doutrina constitucional quanto ao tema de Política e Reforma Agrária para adoção de visão crítica interdisciplinar quanto a Matéria de Direito Agrário • Recomenda-se o estudo dos institutos inerentes ao Direito Civil e Administrativo tratados no decorrer do curso em obras doutrinárias afetas a essas matérias, dada a maior profundidade e atualização com que são analisadas. 3 Ponto n. 01- INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO AGRÁRIO: 1.1. Seus princípios fundamentais: 1.1.1. Princípios do Direito Agrário na Constituição Federal de 1988: Inicialmente convém mencionar que segundo Paulo Tormin Borges o “Direito Agrário é o conjunto sistemático de normas jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em vista o progresso social e econômico do rurícola e o enriquecimento da comunidade”. Ainda, é devido salientar que a Constituição Federal de 1988, desde o Preâmbulo, que não possui força normativa, mas sim interpretativa, orientando Políticas Pública e a atuação administrativa, prega a Justiça Social, dessa forma, toda normativa e toda atuação do Estado e dos particulares deve ser pautada no bem comum, como adiante será verificado. Nesse contexto é devido analisar os princípios abaixo elencados1: - Princípio da Função Social da Propriedade Rural: Em primeiro lugar é devido citar o art. 170, da CF/88, que estabelece os princípios da Ordem Econômica no Brasil: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995).” 1 Atente-se ao fato de que o presente é um material de apoio à aula, sendo imprescindível a presença do aluno em sala de aula. 4 Extrai-se desse artigo que toda e qualquer propriedade no Brasil deve atender à função social, ou seja deve visar o progresso econômico e social não somente de seu proprietário, mas de toda a comunidade. A seguir o art. 186 delimita os requisitos da função social da Propriedade Rural: “Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.” Conforme verificado em sala de aula, apenas a propriedade que cumpre tais determinantes pode ser considerada propriedade que atenta à função social, ainda, que devemos entender a propriedade produtiva não só aquele que produz, degradando a natureza ou explorando os trabalhadores em condição análoga à escravidão, mas sim aquela que produz atendendo à sua função social. - Princípio da Preservação do Meio Ambiente A preservação do meio ambiente é certamente requisito para o cumprimento da função social da propriedade, sendo também eleito como princípio autônomo dada a força normativa que possui. Vale a pena mencionar o artigo 225, da CF/88: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; 5 IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; Ainda, vale a pena revisar rapidamente alguns institutos inerentes ao Direito Ambiental: O ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA) é um estudo multidisciplinar, que aponta os pontos favoráveis e desfavoráveis de um determinado empreendimento e que se relacionam aos prováveis impactos ambientais de uma atividade ou empreendimento, e sugere as medidas mitigadoras dos impactos ambientais, realizando-se um estudo multidisciplinar que seria relacionado por vários profissionais de áreas diversas. O estudo é sempre prévio, é um estudo complexo e amplo de impacto ambiental. Já o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA) é o resumo, para facilitar o entendimento pelo leigo. O RIMA é o meio para colocação para a sociedade, utilizando os meios possíveis para que o cidadão possa entender, como gráficos, tabelas... Logo, o EIA é o todo, complexo, detalhado, muitas vezes com linguagem, dados e apresentação incompreensíveis para o leigo. O RIMA é a parte mais visível (ou compreensível) do procedimento, verdadeiro instrumento de comunicação do EIA ao administrador e ao público. A função do EIA é prevenção e monitoramento dos danos ambientais. Cabe ao EIA qualificar e, quanto possível, quantificar antecipadamente o impacto ambiental, de modo a dar suporte a um adequado planejamento de obras ou atividades que interferem no ambiente. Em síntese, o EIA nada mais é do que “um estudo das prováveis modificações nas diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente que podem resultar de um projeto proposto”. O EIA é exigível para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente e a natureza jurídica do EIA/RIMA são de pré-procedimento administrativo, são vinculados ao licenciamento ambiental, que é de natureza constitucional.Esse estudo é feito sempre antes da concessão da Licença Prévia, sendo guiado pelos seguintes princípios contidos no art. 5º da Resolução n.1/86 do CONAMA: a) Deve contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do empreendimento, confrontando-as com a hipótese de sua não execução; b) Cabe a ele identificar e avaliar de maneira sistemática, os impactos ambientais gerados, tanto nas fases de implementação, como na de operação e desativação; c) Definir quais são os limites da área geográfica que serão afetadas, tanto direta como indiretamente; d) Analisar os planos e programas governamentais e não-governamentais; e) Criar programas de monitoramento e estabelecer auditorias para cada fase do licenciamento; f) Avaliar todos os efeitos do empreendimento na saúde humana. 6 As conclusões do EIA serão refletidas no RIMA, cuja linguagem deve ser acessível ao público, ilustrada por mapas com escalas adequadas, quadros, gráficos e outras técnicas de comunicação visual, de modo a que se possam entender claramente as possíveis conseqüências ambientais do projeto, considerando suas alternativas, comparando-se as vantagens e desvantagens de cada uma delas. Desta forma, em linhas gerais, podemos dizer que o RIMA deverá conter: I – objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais. II – descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando cada uma delas. III – síntese do diagnóstico ambiental da área de influência do projeto. IV – descrição dos impactos ambientais. V – caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes alternativas do projeto, inclusive a de sua não realização. VI – descrição dos efeitos esperados das medidas mitigadoras. VII – programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos. VIII – recomendação quanto à alternativa mais favorável, em que se faz as conclusões e comentários de ordem geral. Logo, atenta-se ao fato de que a atividade potencialmente lesiva ao meio ambiente apenas poderá ser explorada se elaborado o prévio Estudo de Impacto Ambiental devidamente acompanhado do Relatório de Impacto Ambiental. Ainda, observe a proteção do meio ambiente como base do conceito de função social da propriedade, conforme o art. 186: “Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.” – grifos nossos 7 - Princípio da Desapropriação para fins de Reforma Agrária: Abaixo o caput do art. 184, da CF/88: “Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.” Ainda, o art. 185, I e II, da CF: “Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva” STF: EMENTA: CONSTITUCIONAL. AGRÁRIO. REFORMA AGRÁRIA. PEQUENA E MÉDIA PROPRIEDADE. C.F., art. 185, I. MATÉRIA CONTROVERTIDA. I. - A pequena e a média propriedade rural, desde que o seu proprietário não possua outra, são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: C.F., art. 185, I. A classificação da propriedade rural em pequena, média ou grande subordina-se à extensão da área, vale dizer, da área medida. II. - No caso, não houve a demonstração de que o expropriado não possui outra propriedade. III. - Alegação no sentido de que o imóvel encontra-se enquadrado no Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira e hipotecado ao Banco do Brasil (Lei 8.629/93, art. 7º). Inexistência de prova de satisfação dos requisitos do art. 7º da Lei 8.629/93. IV. - Fatos que autorizam a impetração devem ser incontroversos, por isso que no processo do mandado de segurança não há dilação probatória. V. - M.S. indeferido (MS 24719 / DF - DISTRITO FEDERAL, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Julgamento: 22/04/2004, Órgão Julgador: Tribunal Pleno) E M E N T A: MANDADO DE SEGURANÇA - REFORMA AGRÁRIA - DESAPROPRIAÇÃO- SANÇÃO (CF, ART. 184, CAPUT) - MÉDIA PROPRIEDADE RURAL (CF, ART. 185, I) - ÁREA QUE RESULTOU DE DOAÇÃO CELEBRADA EM MOMENTO QUE PRECEDEU TANTO A EDIÇÃO DA MP 1.577/97 (REEDITADA, PELA ÚLTIMA VEZ, COMO MP 2.183-56/2001) COMO A PUBLICAÇÃO DO ATO PRESIDENCIAL QUESTIONADO - INEXPROPRIABILIDADE DO IMÓVEL RURAL EM QUESTÃO - FALTA DE NOTIFICAÇÃO PESSOAL E PRÉVIA DO PROPRIETÁRIO RURAL QUANTO À REALIZAÇÃO DA VISTORIA (LEI Nº 8.629/93, ART. 2º, § 2º) - OFENSA AO POSTULADO DO DUE PROCESS OF LAW (CF, ART. 5º, LIV) - NULIDADE RADICAL DA DECLARAÇÃO EXPROPRIATÓRIA - MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO. A PEQUENA E A MÉDIA PROPRIEDADES RURAIS, EM TEMA DE REFORMA AGRÁRIA, SÃO CONSTITUCIONALMENTE INSUSCETÍVEIS DA DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO A QUE SE REFERE O ART. 184 DA CARTA POLÍTICA. - A pequena e a média propriedades rurais, cujas dimensões físicas ajustem-se aos parâmetros fixados em sede legal (Lei nº 8.629/93, art. 4º, II e III), não estão sujeitas, em tema de reforma agrária (CF, art. 184), ao poder expropriatório da União Federal, em face da cláusula de inexpropriabilidade fundada no art. 185, I, da Constituição da República, desde que o proprietário de tais prédios rústicos - sejam eles produtivos ou não - não possua outra propriedade rural. A 8 prova negativa do domínio, para os fins do art. 185, I, da Constituição, não incumbe ao proprietário que sofre a ação expropriatória da União Federal, pois o "onus probandi", em tal situação, compete ao poder expropriante, que dispõe, para esse efeito, de amplo acervo informativo resultante dos dados constantes do Sistema Nacional de Cadastro Rural. Precedente. A NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DO PROPRIETÁRIO RURAL, EM TEMA DE REFORMA AGRÁRIA, TRADUZ EXIGÊNCIA IMPOSTA PELA CLÁUSULA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. - A vistoria administrativa do imóvel rural, na fase preliminar do procedimento expropriatório instaurado para fins de reforma agrária, deve ser precedida de notificação pessoal, dirigida ao proprietário rural, sob pena de desrespeito à cláusula constitucional do "due process of law", cuja inobservância afeta a própria declaração expropriatória, invalidando-a desde o momento em que formalmente veiculada em decreto presidencial. Precedentes.( MS 23006 / PB – PARAÍBA, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Julgamento: 11/06/2003, Órgão Julgador: Tribunal Pleno) Confisco: CF, art. 243: “As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.” TRF 1ª Região2: Ementa: PENAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES E PORTE ILEGAL DE ARMAS. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. CONCURSO MATERIAL. DOSIMETRIA. REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA. PERDIMENTO DE BENS. EFEITO DA CONDENAÇÃO. APELAÇÃO DESPROVIDA. 01) A materialidade do crime tipificado na Lei nº 6368/76 restou plenamente comprovada nos autos, tanto pela apreensão de cerca de 71,0 quilos de cocaína na propriedade do recorrente (Auto de Apreensão - fl. 19), conforme constatação de substânciaentorpecente (Auto de Constatação - fl. 20), bem como pelo Laudo Definitivo (fls. 101/103), do Instituto Nacional de Criminalística. (...) 11) O fato de que a prova da efetiva propriedade da fazenda não ter sido feita por meio de diligência junto ao respectivo cartório de registro de imóveis, é questão superada com o documento assinado pelo principal interessado, informando ser o apelante o proprietário do aludido imóvel rural. 12) De qualquer forma, a questão foi devidamente resolvida com base no artigo 243, parágrafo único, da Constituição Federal, segundo o qual "Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins será confiscado e reverterá em benefício de instituições e pessoal especializados no tratamento e recuperação de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas substâncias" (cf.art. cit.). 2 Existe entendimento jurisprudêncial que limita o confisco à área utilizada para plantio de entorpecente. (TRF 5ª, APELAÇÃO CÍVEL 13.308-PE) e entendimento doutrinário de que o Confisco deve seguir o princípio do dimensionamento do Estatuto da Terra, ou seja, que a área confisca nunca seja inferior ao módulo rural. 9 13) Como visto, a própria Constituição Federal não fez distinção entre bens móveis e imóveis, bem como não condicionou o confisco à comprovação da propriedade do agente que pratica o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, pois é possível sua decretação, quando não se trata de terceiro de boa-fé ou lesado, únicas hipóteses que, devidamente comprovadas, merecem ressalva, nos termos do artigo 91, inciso II, do Código Penal. 14) Portanto, restou comprovado que a Fazenda Vale da Promissão foi utilizada como instrumento do crime atribuído ao apelante, pois constitui fato ilícito utilizar " local de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, para uso indevido ou tráfico ilícito de entorpecente ou de substância que determine dependência física ou psíquica" (Lei nº 6.368/76, art. 12, § 2º, inc.II). 15) Assim sendo, a pena de perdimento dos instrumentos do crime é efeito da própria condenação, ressalvado apenas o direito do lesado e de terceiro de boa-fé, nos termos do artigo 91, inciso II, letra a, do Código Penal, combinado com o artigo 34, da Lei nº 6.368/76. 16) Apelação desprovida. A Turma, por unanimidade, negou provimento à apelação. (Processo: ACR 2002.01.99.014026- 8/MT; APELAÇÃO CRIMINAL, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL PLAUTO RIBEIRO, Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA , Publicação: 07/11/2003 DJ p.60) - Princípio da Vedação da Desapropriação do Imóvel Rural Produtivo e da Pequena e da Média Propriedade Rural: Reside na impossibilidade da desapropriação da pequena e da média propriedade rural e da propriedade produtiva. A propriedade produtiva é aquela que cumpre sua função social, pois um propriedade que produz safras altíssimas a custa de agrotóxicos extremamente nocivos ao meio ambiente, ou a que utiliza de mão de obra em condição análoga à de escravidão não pode ser considerada produtiva dentro do contexto de Justiça Social da CF/88. Quanto a pequena e média propriedade rural, a Lei 8629/93 define a Pequena Propriedade Rural como aquela com área compreendida entre 01 e 04 módulos fiscais e Média Propriedade Rural aquela que tem área superior a 04 e até 15 módulos fiscais. Ainda o art. 185, inciso I, da CF/88 estabelece como requisito para a impossibilidade de desapropriação de pequena e média propriedade rural que o proprietário não possua outra propriedade rural. (verifique acima a Jurisprudência do STF quanto ao ônus da prova) Logo, o texto constitucional é literal e impede a desapropriação por interesse social para fins de Reforma Agrária da pequena e média propriedade daquele que não possui outro imóvel rural. 10 Imunidade Tributária, quanto ao ITR (Imposto Territorial Rural) da Pequena GLEBA Rural explorada pela família: art. 153, §4°, da CF/88: “ Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) VI - propriedade territorial rural; § 4º O imposto previsto no inciso VI do caput:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei3, quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) (Regulamento)4” Normativa da Imunidade e de Isenção de ITR - Lei 9.393/96, art. 3° c/c art. 2°: Art. 2º Nos termos do art. 153, § 4º, in fine, da Constituição, o imposto não incide sobre pequenas glebas rurais, quando as explore, só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel. Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, pequenas glebas rurais são os imóveis com área igual ou inferior a: I - 100 ha5, se localizado em município compreendido na Amazônia Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense; 3 Norma constitucional de eficácia limitada: Condicionada à regulamentação por lei para sua efetividade, contudo possui aplicabilidade mediata, ou seja, depende da promulgação de lei para permitir o exercício do direito ou benefício consagrado. Possui efeito imediato paralisante, determinando a revogação da legislação incompatível com suas diretrizes, impedem qualquer conduta contrária ao que estabelecerem, servem de vetor interpretativo e devem ser observadas na atuação discricionária da Administração Pública. Antes da edição da aludida lei, por criarem situações subjetivas de vantagem, caberia ao interessado ingressar com Mandado de Injunção, ou aos devidos legitimados ingressarem com ADI por Omissão. 4 LEI Nº 11.250, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2005. 5 1 hectare = 10.000 m² (não confunda com alqueire: 1 alqueire = 24.200 m², 1 alqueire goiano = 48.400 m²) 11 II - 50 ha, se localizado em município compreendido no Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental; III - 30 ha, se localizado em qualquer outro município. Bem como, observe a isenção às ‘’pequenas glebas rurais” exploradas em regime familiar, bem como para o imóvel rural compreendido em Programa Oficial de Reforma Agrária: Art. 3º São isentos do imposto: I - o imóvel rural compreendido em programa oficial de reforma agrária, caracterizado pelas autoridades competentes como assentamento, que, cumulativamente, atenda aos seguintes requisitos: a) seja explorado por associação ou cooperativa de produção; b) a fração ideal por família assentada não ultrapasse os limites estabelecidos no artigo anterior; c) o assentado não possua outro imóvel. II - o conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário, cuja área total observe os limites fixados no parágrafo único do artigo anterior, desde que, cumulativamente, o proprietário: a) o explore só ou com sua família, admitida ajuda eventual de terceiros; b) não possua imóvel urbano. AI�DA, verifique que o conceito de pequena gleba rural não é sinônimo de pequena propriedade rural! - Princípio da Impenhorabilidade da Pequena Propriedade Rural: CF/88; art. 5°, inciso XXVI: “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitosdecorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;” Código de Processo Civil: Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: 12 VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). § 1o A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006). - Princípio da Privatização das Terras Públicas: CF/88, Art. 188: “A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária. § 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional. § 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de terras públicas para fins de reforma agrária.” Lei 6383/76: Procedimento de Discriminação de Terras – apuração das Terras Devolutas6 da União. CF/88, art. 20, II e art. 26 inciso IV – Proprietários das Terras Devolutas: Art. 20. São bens da União: (...) II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: (...) IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. - Princípio da Segurança na Atividade Agrária: Cabe ao Estado conceder garantias mínimas ao rurícola, quanto ao seu empreendimento, tanto proteção quanto às intempéries ambientais7 que possam surgir em sua atividade (possibilitar o Seguro Agrícola), quanto no oferecimento de crédito rural a juros baixos que viabilize a atividade agrícola, pecuária etc, que logicamente 6 Bens patrimoniais ainda não utilizados – art. 20, II e 26 IV, da CF/88. 7 http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/07/frio-de-3-graus-mata-rebanho-de-gado-em-mato-grosso-do-sul.html 13 possui retorno financeiro a médio e longo prazo ( o que lhe resta inviabilidade frente aos financiamentos comuns). A estocagem de produtos garantindo o preço mínimo de oferta ao mercado, visando cobrir os custos de produção e a viabilidade de continuidade da atividade rurícola. A liberdade de comercialização interna e internacional: o Estado deve denunciar toda e qualquer forma de barreira alfandegária e ou ‘sanitária’ que barre o ingresso de suas exportações, além de denunciar o subsídio excessivo aos produtores locais. Logo, a preocupação aqui é com a segurança do sucesso na empreitada econômica que se demonstra a exploração de atividades agrárias, atividades estas vitais à sobrevivência da humanidade, tanto sob o ponto de vista alimentar como perante a pecuária, agricultura, extrativismo animal, vegetal, quanto à manutenção de outros seguimentos econômicos através da extração mineral etc. - Princípio do Aumento da Produtividade: CF/88: Art. 187. “A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente: I - os instrumentos creditícios e fiscais; II - os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização; III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia; IV - a assistência técnica e extensão rural; V - o seguro agrícola; VI - o cooperativismo; VII - a eletrificação rural e irrigação; VIII - a habitação para o trabalhador rural. § 1º - Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agro-industriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais. § 2º - Serão compatibilizadas as ações de política agrícola e de reforma agrária. 14 - Princípio do Estímulo ao Cooperativismo: Art. 5°, CF/88: (liberdade de associação) XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; Estímulo Tributário ao Cooperativismo: (CF/88, art. 146, inciso III, alínea “c’’): Art. 146. Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas Lei 5764/71 define a Política Nacional de Cooperativismo: art. 4°, incisos I ao XI, define as características de Cooperativa8. 8 Art. 982, Código Civil: As cooperativas exercem atividade econômica organizada, de circulação e produção de bens, com profissionalismo, como os empresários, mas por disposição legal não se submetem ao regime-jurídico empresarial, serão sempre sociedades civis/simples. Contudo, o ARQUIVAMENTO DE SEUS ATOS CONSTITUTIVOS na Junta Comercial é OBRIGATÓRIO! Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. 15 Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços; II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes; III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais; IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade; V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade; VI - quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral baseado no número de associados e não no capital; VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral; VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social; IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social; X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa; XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços.LOGO, Cooperativas serão sempre sociedades simples, segundo o art. 982, do Código Civil, a questão de sua aquisição de Personalidade Jurídica que atormente a Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. Atente-se ao fato de que a lei comercial considera empresário rural: (art. 971, CC) “O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.” Portanto, tanto o que explora a agroindústria, quanto o que explora a agricultura familiar, uma vez registrado na Junta Comercial estará sujeito às normas de Direito Comercial. 16 doutrina: para alguns doutrinadores, como Fábio Uchoa9, devem ser REGISTRADAS no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas e posteriormente ter seus atos constitutivos ARQUIVADOS na Junta Comercial do Estado em que exercerá atividade econômica. Enquanto que para outros, bem como para o Departamento Nacional de Registro do Comércio10 as Juntas Comerciais é que farão o registro da referida SOCIEDADE SIMPLES, tanto que as referidas aceitarão como Atos Constitutivos: instrumento público ou Ata de Assembléia Geral de Constituição das Cooperativas. - Princípio da Melhoria da Qualidade de Vida no Campo: O princípio da dignidade da pessoa humana, exposto no inciso III, do art. 3°, da CF/88, aliado ao art. 187, inciso VIII (habitação para o trabalhador rural) são as bases desse princípio. Pode-se fazer uma contextualização com a garantia do salário mínimo no art. 7°, inciso IV, da CF/88: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;” - Princípio da Primazia da Atividade Agrária frente ao Direito de Propriedade: A instituição do usucapião pro labore do art. 191, CF é a demonstração que o texto constitucional privilegia a posse agrária (que faz a terra cumprir sua função social) em detrimento do direito de propriedade : 9 http://www.irtdpjsaopaulo.com.br/sociedade_simples_pareceres1.php, Acessado aos 04 de janeiro de 2012. 10 Verifique no site do Professor, bem como no http://www.juceg.go.gov.br/ o Manual de Registro de Cooperativas do DNRC. 17 Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir- lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. 1.1.2. Noções das enumerações doutrinárias quanto a princípios Agrários consoante as lições de mestres como Benedito Ferreira Marques, Paulo Tormin Borges e Raymundo Laranjeira. PAULO TORMINN BORGES – entende o mestre que os princípios fundamentais do Direito Agrário são: 1) Função Social da Propriedade; 2) Progresso Econômico do rurícola; 3) Progresso Social do Rurícola; 4) Fortalecimento da economia nacional pelo aumento da produtividade; 5) Fortalecimento do espírito comunitário, mormente da família; 6) Desenvolvimento do sentimento de liberdade (pela propriedade) e de igualdade (pela oferta de oportunidades concretas). 7) Implantação da Justiça Distributiva 8) Eliminação das Injustiças Sociais no Campo 9) Povoamento da Zona Rural, de maneira ordenada; 10) Combate ao Minifúndio; 11) Combate ao Latifúndio; 12) Combate a qualquer tipo de propriedade rural ociosa; 13) Combate à exploração predatória ou incorreta da terra. RAYMUNDO LARANJEIRA – enumera sete princípios: 1) Do aumento da Produtividade; 2) Da Privatização das terras 3) De Proteção à Propriedade Familiar (Estatuto da Terra e do Decreto n. 55.891/65) 18 4) Do Dimensionamento Eficaz das Áreas Exploráveis 5) Do Estímulo à Produção Cooperativista 6) Do Fortalecimento da Empresa Agrária 7) Da Proteção à Propriedade Consorcial Indígena: É extraído da elevação ao domínio da União dos terrenos habitados pelos indígenas, sendo-lhes atribuído o direito de ocupação e usufruto dos bens nelas existentes de modo quase exclusivo. Recentemente o STF11 reiterou esse princípio ao determinar a retirada dos Produtores de Arroz da região da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol em Roraima: EMENTA: AÇÃO POPULAR. DEMARCAÇÃO DA TERRA INDÍGENA RAPOSA SERRA DO SOL. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS NO PROCESSO ADMINISTRATIVO- DEMARCATÓRIO. OBSERVÂNCIA DOS ARTS. 231 E 232 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO DA LEI Nº 6.001/73 E SEUS DECRETOS REGULAMENTARES. CONSTITUCIONALIDADE E LEGALIDADE DA PORTARIA Nº 534/2005, DO MINISTRO DA JUSTIÇA, ASSIM COMO DO DECRETO PRESIDENCIAL HOMOLOGATÓRIO. RECONHECIMENTO DA CONDIÇÃO INDÍGENA DA ÁREA DEMARCADA, EM SUA TOTALIDADE. MODELO CONTÍNUO DE DEMARCAÇÃO. CONSTITUCIONALIDADE. REVELAÇÃO DO REGIME CONSTITUCIONAL DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL COMO ESTATUTO JURÍDICO DA CAUSA INDÍGENA. A DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS COMO CAPÍTULO AVANÇADO DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. INCLUSÃO COMUNITÁRIA PELA VIA DA IDENTIDADE ÉTNICA. VOTO DO RELATOR QUE FAZ AGREGAR AOS RESPECTIVOS FUNDAMENTOS SALVAGUARDAS INSTITUCIONAIS DITADAS PELA SUPERLATIVA IMPORTÂNCIA HISTÓRICO-CULTURAL DA CAUSA. SALVAGUARDAS AMPLIADAS A PARTIR DE VOTO-VISTA DO MINISTRO MENEZES DIREITO E DESLOCADAS PARA A PARTE DISPOSITIVA DA DECISÃO. 1. AÇÃO NÃO CONHECIDA EM PARTE. Ação não-conhecida quanto à pretensão autoral de excluir da área demarcada o que dela já fora excluída: o 6º Pelotão Especial de Fronteira, os núcleos urbanos dos Municípios de Uiramutã e Normandia, os equipamentos e instalações públicos federais e estaduais atualmente existentes, as linhas de transmissão de energia elétrica e os leitos das rodovias federais e estaduais também já existentes. Ausência de interesse jurídico. Pedidos já contemplados na Portaria nº 534/2005 do Ministro da Justiça. Quanto à sede do Município de Pacaraima, cuida-se de território encravado na "Terra Indígena São Marcos", matéria estranha à presente demanda. Pleito, por igual, não conhecido. 2. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS PROCESSUAIS NA AÇÃO POPULAR. 2.1. Nulidade dos atos, ainda que formais, tendo por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras situadas na área indígena Raposa Serra do Sol. Pretensos titulares privados que não são partes na presente ação popular. Ação que se destina à proteção do patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe (inciso LXXIII do artigo 5º da Constituição Federal), e não à defesa de interesses particulares. 2.2. Ilegitimidade passiva do Estado de Roraima, que não foi acusado de praticar ato lesivo ao tipo de bem jurídico para cuja proteção se preordena a ação popular. Impossibilidade de ingresso do Estado- membro na condição de autor, tendo em vista que a legitimidade ativa da ação popular é tão-somente do cidadão. 2.3. Ingresso do Estado de Roraima e de outros interessados, inclusive de representantes das comunidades indígenas, exclusivamente como assistentes simples. 2.4. Regular atuação do Ministério Público. 3. INEXISTÊNCIADE VÍCIOS NO PROCESSO ADMINISTRATIVO DEMARCATÓRIO. 3.1. Processo que observou as regras do Decreto nº 1.775/96, já declaradas constitucionais pelo Supremo Tribunal 11 Confira a Reportagem: Veja como votaram os ministros do STF sobre a reserva Raposa/Serra do Sol http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u536332.shtml 19 Federal no Mandado de Segurança nº 24.045, da relatoria do ministro Joaquim Barbosa. Os interessados tiveram a oportunidade de se habilitar no processo administrativo de demarcação das terras indígenas, como de fato assim procederam o Estado de Roraima, o Município de Normandia, os pretensos posseiros e comunidades indígenas, estas por meio de petições, cartas e prestação de informações. Observância das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa. 3.2. Os dados e peças de caráter antropológico foram revelados e subscritos por profissionais de reconhecidas qualificação científica e se dotaram de todos os elementos exigidos pela Constituição e pelo Direito infraconstitucional para a demarcação de terras indígenas, não sendo obrigatória a subscrição do laudo por todos os integrantes do grupo técnico (Decretos nos 22/91 e 1.775/96). 3.3. A demarcação administrativa, homologada pelo Presidente da República, é "ato estatal que se reveste da presunção juris tantum de legitimidade e de veracidade" (RE 183.188, da relatoria do ministro Celso de Mello), além de se revestir de natureza declaratória e força auto-executória. Não comprovação das fraudes alegadas pelo autor popular e seu originário assistente. 4. O SIGNIFICADO DO SUBSTANTIVO "ÍNDIOS" NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O substantivo "índios" é usado pela Constituição Federal de 1988 por um modo invariavelmente plural, para exprimir a diferenciação dos aborígenes por numerosas etnias. Propósito constitucional de retratar uma diversidade indígena tanto interétnica quanto intra-étnica. Índios em processo de aculturação permanecem índios para o fim de proteção constitucional. Proteção constitucional que não se limita aos silvícolas, estes, sim, índios ainda em primitivo estádio de habitantes da selva. 5. AS TERRAS INDÍGENAS COMO PARTE ESSENCIAL DO TERRITÓRIO BRASILEIRO. 5.1. As "terras indígenas" versadas pela Constituição Federal de 1988 fazem parte de um território estatal-brasileiro sobre o qual incide, com exclusividade, o Direito nacional. E como tudo o mais que faz parte do domínio de qualquer das pessoas federadas brasileiras, são terras que se submetem unicamente ao primeiro dos princípios regentes das relações internacionais da República Federativa do Brasil: a soberania ou "independência nacional" (inciso I do art. 1º da CF). 5.2. Todas as "terras indígenas" são um bem público federal (inciso XI do art. 20 da CF), o que não significa dizer que o ato em si da demarcação extinga ou amesquinhe qualquer unidade federada. Primeiro, porque as unidades federadas pós-Constituição de 1988 já nascem com seu território jungido ao regime constitucional de preexistência dos direitos originários dos índios sobre as terras por eles "tradicionalmente ocupadas". Segundo, porque a titularidade de bens não se confunde com o senhorio de um território político. Nenhuma terra indígena se eleva ao patamar de território político, assim como nenhuma etnia ou comunidade indígena se constitui em unidade federada. Cuida-se, cada etnia indígena, de realidade sócio-cultural, e não de natureza político-territorial. 6. NECESSÁRIA LIDERANÇA INSTITUCIONAL DA UNIÃO, SEMPRE QUE OS ESTADOS E MUNICÍPIOS ATUAREM NO PRÓPRIO INTERIOR DAS TERRAS JÁ DEMARCADAS COMO DE AFETAÇÃO INDÍGENA. A vontade objetiva da Constituição obriga a efetiva presença de todas as pessoas federadas em terras indígenas, desde que em sintonia com o modelo de ocupação por ela concebido, que é de centralidade da União. Modelo de ocupação que tanto preserva a identidade de cada etnia quanto sua abertura para um relacionamento de mútuo proveito com outras etnias indígenas e grupamentos de não-índios. A atuação complementar de Estados e Municípios em terras já demarcadas como indígenas há de se fazer, contudo, em regime de concerto com a União e sob a liderança desta. Papel de centralidade institucional desempenhado pela União, que não pode deixar de ser imediatamente coadjuvado pelos próprios índios, suas comunidades e organizações, além da protagonização de tutela e fiscalização do Ministério Público (inciso V do art. 129 e art. 232, ambos da CF). 7. AS TERRAS INDÍGENAS COMO CATEGORIA JURÍDICA DISTINTA DE TERRITÓRIOS INDÍGENAS. O DESABONO CONSTITUCIONAL AOS VOCÁBULOS "POVO", "PAÍS", "TERRITÓRIO", "PÁTRIA" OU "NAÇÃO" INDÍGENA. Somente o "território" enquanto categoria jurídico-política é que se põe como o preciso âmbito espacial de incidência de uma dada Ordem Jurídica soberana, ou autônoma. O substantivo "terras" é termo que assume compostura nitidamente sócio-cultural, e não política. A Constituição teve o cuidado de não falar em territórios indígenas, mas, tão-só, em "terras indígenas". A traduzir que os "grupos", "organizações", "populações" ou "comunidades" indígenas não constituem pessoa federada. Não formam circunscrição ou instância espacial que se orne de dimensão política. Daí não se reconhecer a qualquer das organizações sociais 20 indígenas, ao conjunto delas, ou à sua base peculiarmente antropológica a dimensão de instância transnacional. Pelo que nenhuma das comunidades indígenas brasileiras detém estatura normativa para comparecer perante a Ordem Jurídica Internacional como "Nação", "País", "Pátria", "território nacional" ou "povo" independente. Sendo de fácil percepção que todas as vezes em que a Constituição de 1988 tratou de "nacionalidade" e dos demais vocábulos aspeados (País, Pátria, território nacional e povo) foi para se referir ao Brasil por inteiro. 8. A DEMARCAÇÃO COMO COMPETÊNCIA DO PODER EXECUTIVO DA UNIÃO. Somente à União, por atos situados na esfera de atuação do Poder Executivo, compete instaurar, sequenciar e concluir formalmente o processo demarcatório das terras indígenas, tanto quanto efetivá-lo materialmente, nada impedindo que o Presidente da República venha a consultar o Conselho de Defesa Nacional (inciso III do § 1º do art. 91 da CF), especialmente se as terras indígenas a demarcar coincidirem com faixa de fronteira. As competências deferidas ao Congresso Nacional, com efeito concreto ou sem densidade normativa, exaurem-se nos fazeres a que se referem o inciso XVI do art. 49 e o § 5º do art. 231, ambos da Constituição Federal. 9. A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS COMO CAPÍTULO AVANÇADO DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. Os arts. 231 e 232 da Constituição Federal são de finalidade nitidamente fraternal ou solidária, própria de uma quadra constitucional que se volta para a efetivação de um novo tipo de igualdade: a igualdade civil-moral de minorias, tendo em vista o proto-valor da integração comunitária. Era constitucional compensatória de desvantagens historicamente acumuladas, a se viabilizar por mecanismos oficiais de ações afirmativas. No caso, os índios a desfrutar de um espaço fundiário que lhes assegure meios dignos de subsistência econômica para mais eficazmente poderem preservar sua identidade somática, linguística e cultural. Processo de uma aculturação que não se dilui no convívio com os não-índios, pois a aculturação de que trata a Constituição não é perda de identidade étnica, mas somatório de mundividências. Uma soma, e não uma subtração. Ganho, e não perda. Relações interétnicas de mútuo proveito, a caracterizar ganhos culturais incessantemente cumulativos. Concretização constitucional do valor da inclusão comunitária pela via da identidade étnica. 10. O FALSO ANTAGONISMO ENTRE A QUESTÃO INDÍGENA E O DESENVOLVIMENTO. Ao Poder Público de todas as dimensões federativas o que incumbe não é subestimar, e muito menos hostilizar comunidades indígenas brasileiras, mastirar proveito delas para diversificar o potencial econômico- cultural dos seus territórios (dos entes federativos). O desenvolvimento que se fizer sem ou contra os índios, ali onde eles se encontrarem instalados por modo tradicional, à data da Constituição de 1988, desrespeita o objetivo fundamental do inciso II do art. 3º da Constituição Federal, assecuratório de um tipo de "desenvolvimento nacional" tão ecologicamente equilibrado quanto humanizado e culturalmente diversificado, de modo a incorporar a realidade indígena. 11. O CONTEÚDO POSITIVO DO ATO DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. 11.1. O marco temporal de ocupação. A Constituição Federal trabalhou com data certa -- a data da promulgação dela própria (5 de outubro de 1988) -- como insubstituível referencial para o dado da ocupação de um determinado espaço geográfico por essa ou aquela etnia aborígene; ou seja, para o reconhecimento, aos índios, dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. 11.2. O marco da tradicionalidade da ocupação. É preciso que esse estar coletivamente situado em certo espaço fundiário também ostente o caráter da perdurabilidade, no sentido anímico e psíquico de continuidade etnográfica. A tradicionalidade da posse nativa, no entanto, não se perde onde, ao tempo da promulgação da Lei Maior de 1988, a reocupação apenas não ocorreu por efeito de renitente esbulho por parte de não-índios. Caso das "fazendas" situadas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, cuja ocupação não arrefeceu nos índios sua capacidade de resistência e de afirmação da sua peculiar presença em todo o complexo geográfico da "Raposa Serra do Sol". 11.3. O marco da concreta abrangência fundiária e da finalidade prática da ocupação tradicional. Áreas indígenas são demarcadas para servir concretamente de habitação permanente dos índios de uma determinada etnia, de par com as terras utilizadas para suas atividades produtivas, mais as "imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar" e ainda aquelas que se revelarem "necessárias à reprodução física e cultural" de cada qual das comunidades étnico-indígenas, "segundo seus usos, costumes e tradições" (usos, costumes e tradições deles, indígenas, e não usos, costumes e tradições dos não- índios). Terra indígena, no imaginário coletivo aborígine, não é um simples objeto de 21 direito, mas ganha a dimensão de verdadeiro ente ou ser que resume em si toda ancestralidade, toda coetaneidade e toda posteridade de uma etnia. Donde a proibição constitucional de se remover os índios das terras por eles tradicionalmente ocupadas, assim como o reconhecimento do direito a uma posse permanente e usufruto exclusivo, de parelha com a regra de que todas essas terras "são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis" (§ 4º do art. 231 da Constituição Federal). O que termina por fazer desse tipo tradicional de posse um heterodoxo instituto de Direito Constitucional, e não uma ortodoxa figura de Direito Civil. Donde a clara intelecção de que OS ARTIGOS 231 E 232 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL CONSTITUEM UM COMPLETO ESTATUTO JURÍDICO DA CAUSA INDÍGENA. 11.4. O marco do conceito fundiariamente extensivo do chamado "princípio da proporcionalidade". A Constituição de 1988 faz dos usos, costumes e tradições indígenas o engate lógico para a compreensão, entre outras, das semânticas da posse, da permanência, da habitação, da produção econômica e da reprodução física e cultural das etnias nativas. O próprio conceito do chamado "princípio da proporcionalidade", quando aplicado ao tema da demarcação das terras indígenas, ganha um conteúdo peculiarmente extensivo. 12. DIREITOS "ORIGINÁRIOS". Os direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam foram constitucionalmente "reconhecidos", e não simplesmente outorgados, com o que o ato de demarcação se orna de natureza declaratória, e não propriamente constitutiva. Ato declaratório de uma situação jurídica ativa preexistente. Essa a razão de a Carta Magna havê-los chamado de "originários", a traduzir um direito mais antigo do que qualquer outro, de maneira a preponderar sobre pretensos direitos adquiridos, mesmo os materializados em escrituras públicas ou títulos de legitimação de posse em favor de não-índios. Atos, estes, que a própria Constituição declarou como "nulos e extintos" (§ 6º do art. 231 da CF). 13. O MODELO PECULIARMENTE CONTÍNUO DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. O modelo de demarcação das terras indígenas é orientado pela ideia de continuidade. Demarcação por fronteiras vivas ou abertas em seu interior, para que se forme um perfil coletivo e se afirme a auto-suficiência econômica de toda uma comunidade usufrutuária. Modelo bem mais serviente da ideia cultural e econômica de abertura de horizontes do que de fechamento em "bolsões", "ilhas", "blocos" ou "clusters", a evitar que se dizime o espírito pela eliminação progressiva dos elementos de uma dada cultura (etnocídio). 14. A CONCILIAÇÃO ENTRE TERRAS INDÍGENAS E A VISITA DE NÃO-ÍNDIOS, TANTO QUANTO COM A ABERTURA DE VIAS DE COMUNICAÇÃO E A MONTAGEM DE BASES FÍSICAS PARA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS OU DE RELEVÂNCIA PÚBLICA. A exclusividade de usufruto das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nas terras indígenas é conciliável com a eventual presença de não-índios, bem assim com a instalação de equipamentos públicos, a abertura de estradas e outras vias de comunicação, a montagem ou construção de bases físicas para a prestação de serviços públicos ou de relevância pública, desde que tudo se processe sob a liderança institucional da União, controle do Ministério Público e atuação coadjuvante de entidades tanto da Administração Federal quanto representativas dos próprios indígenas. O que já impede os próprios índios e suas comunidades, por exemplo, de interditar ou bloquear estradas, cobrar pedágio pelo uso delas e inibir o regular funcionamento das repartições públicas. 15. A RELAÇÃO DE PERTINÊNCIA ENTRE TERRAS INDÍGENAS E MEIO AMBIENTE. Há perfeita compatibilidade entre meio ambiente e terras indígenas, ainda que estas envolvam áreas de "conservação" e "preservação" ambiental. Essa compatibilidade é que autoriza a dupla afetação, sob a administração do competente órgão de defesa ambiental. 16. A DEMARCAÇÃO NECESSARIAMENTE ENDÓGENA OU INTRAÉTNICA. Cada etnia autóctone tem para si, com exclusividade, uma porção de terra compatível com sua peculiar forma de organização social. Daí o modelo contínuo de demarcação, que é monoétnico, excluindo-se os intervalados espaços fundiários entre uma etnia e outra. Modelo intraétnico que subsiste mesmo nos casos de etnias lindeiras, salvo se as prolongadas relações amistosas entre etnias aborígines venham a gerar, como no caso da Raposa Serra do Sol, uma condivisão empírica de espaços que impossibilite uma precisa fixação de fronteiras interétnicas. Sendo assim, se essa mais entranhada aproximação física ocorrer no plano dos fatos, como efetivamente se deu na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, não há como falar de demarcação intraétnica, menos ainda de espaços intervalados para legítima ocupação por não-índios, caracterização de terras estaduais devolutas, ou implantação de Municípios. 17. COMPATIBILIDADE ENTRE FAIXA DE FRONTEIRA E 22 TERRAS INDÍGENAS. Há compatibilidade entre o usufruto de terras indígenas e faixa de fronteira. Longe de se pôr como um ponto de fragilidade estrutural das faixas de fronteira, a permanente alocação indígena nesses estratégicos espaços em muito facilita e até obriga que as instituições de Estado (Forças Armadas e Polícia Federal, principalmente) se façam também presentes com seus postos de vigilância, equipamentos, batalhões, companhias e agentes. Sem precisar de licença de quem quer que seja para fazê-lo. Mecanismos, esses, a serem aproveitados como oportunidade ímpar para conscientizar ainda mais os nossos indígenas, instruí-los (a partir dos conscritos), alertá-loscontra a influência eventualmente malsã de certas organizações não-governamentais estrangeiras, mobilizá-los em defesa da soberania nacional e reforçar neles o inato sentimento de brasilidade. Missão favorecida pelo fato de serem os nossos índios as primeiras pessoas a revelar devoção pelo nosso País (eles, os índios, que em toda nossa história contribuíram decisivamente para a defesa e integridade do território nacional) e até hoje dar mostras de conhecerem o seu interior e as suas bordas mais que ninguém. 18. FUNDAMENTOS JURÍDICOS E SALVAGUARDAS INSTITUCIONAIS QUE SE COMPLEMENTAM. Voto do relator que faz agregar aos respectivos fundamentos salvaguardas institucionais ditadas pela superlativa importância histórico-cultural da causa. Salvaguardas ampliadas a partir de voto-vista do Ministro Menezes Direito e deslocadas, por iniciativa deste, para a parte dispositiva da decisão. Técnica de decidibilidade que se adota para conferir maior teor de operacionalidade ao acórdão. (STF12, Pet 3388/RR- Roraima, Relator; Min. Carlos Britto, Julgamento; 19/03/2009, Órgão Julgador: Tribunal Pleno.) BENEDITO FERREIRA MARQUES- enumera 15 princípios agrários: 1) O monopólio legislativo da União (art. 22, §1°, CF); 2) A utilização da terra se sobrepõe à titulação dominial; 3) A propriedade da Terra é Garantida, mas condicionada ao cumprimento da função social; 4) O Direito Agrário é dicotômico: Compreende política de Reforma (Reforma Agrária) e de Desenvolvimento Agrário (Política Agrícola); 5) As normas jurídicas primam pela prevalência do interesse público sobre o particular; 6) A reformulação da estrutura fundiária é uma realidade constante; 7) O fortalecimento do espírito comunintário, através de cooperativas e associações; 8) O Combate ao latifúndio, ao minifúndio, ao êxodo rural, à exploração predatória e aos mercenários da terra; 9) A privatização dos imóveis rurais públicos; 10) A proteção à propriedade familiar, à pequena e à média propriedade; 11) O Fortalecimento da Empresa Agrária; 12) A Proteção da Propriedade Consorcial Indígena; 13) O Dimensionamento Eficaz das Áreas Exploráveis; 14) A Proteção do trabalhador rural; 15) A Conservação e a Preservação dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente. 1.2. Sua importância como Ciência Jurídica (ponto abordado em sala de aula- reafirmando o Direito Agrário Constitucional) 12 Veja também em Jurisprudência correlata ao assunto no STF: Pet 3755 AgR / RR – RORAIMA, AC 1794 MC-AgR / RR – RORAIMA, MS 25483 / DF - DISTRITO FEDERAL. 23 PONTO N. 02- DIREITO AGRÁRIO 2.1- CONCEITO: O Direito Agrário é o conjunto sistemático de normas jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em vista o progresso econômico e social do rurícola e o enriquecimento da comunidade. (PauloTorminn Borges) 2.2- AUTONOMIA (aspectos). Justiça Agrária: A autonomia do Direito Agrário como ciência jurídica pode ser observada sob os seguintes aspectos: legislativo, científico, didático e jurisdicional. Autonomia Legislativa: • Marco EC n. 10/64, em 30/10/64 ampliando a competência legislativa da União para legislar sobre Direito Agrário; • Após, em 30/11/64, foi promulgado o ESTATUTO DA TERRA (Lei n. 4.564/64) – para muitos o verdadeiro ‘’Código Agrário’’ – recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Autonomia científica – normas e princípios próprios. Autonomia Didática: estudo da disciplina na Graduação e em outros níveis. Autonomia Jurisdicional - questão da JUSTIÇA AGRÁRIA: O art. 126, da CF, quanto a organização dos Tribunais Estaduais, designa que : “Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)” Essa recomendação aos TJs não satisfaz aos estudiosos do Direito Agrário, que por sua vez reivindicam a criação de uma Justiça Agrária – preferencialmente federal, dada a imensa gama de processos e questões que envolvem a relação do homem com o campo. 2.3- Conteúdo e Objeto do Direito Agrário: As atividades agrárias constituem o núcleo do objeto do Direito Agrário. O que seriam atividades agrárias? 24 1) Emílio Alberto Maya Gischkow designa que a atividade agrária pode ser vista em três aspectos fundamentais: A) Atividade imediata: abrange a atuação humana em relação a todos os recursos da natureza B) Os objetivos e instrumentos dessa atividade: compreendendo a preservação de recursos naturais; a atividade extrativa de produtos inorgânicos e orgânicos, a captura de seres orgânicos (caça e a pesca) e a produtiva (agricultura e pecuária) C) Atividades Conexas: como o transporte de produtos agrícolas, os processos industriais. 2) Raymundo Laranjeira: classifica as atividades agrárias em 03 vertentes: A) EXPLORAÇÕES RURAIS TÍPICAS: correspondem à lavoura, pecuária, extrativismo vegetal e animal e a hortigranjearia; B) EXPLORAÇÃO RURAL ATÍPICA: agroindústria13; C) ATIVIDADE COMPLEMENTAR DA EXPLORAÇÃO RURAL: que compreende o transporte e a comercialização dos produtos. 13 Agroindústria compreende o beneficiamento de matérias-primas, diz respeito ao processo industrializante desenvolvido nos limites territoriais em que são obtidos os produtos primários. Exemplos: beneficiamento de arroz, produção de farinha de mandioca, de polvilho, o manuseio de motor de desfibrar o sisal, manutenção de desnatadeira para a produção de queijo etc. 25 PONTO N. 03- IMÓVEL RURAL 3.1- CONCEITO DE IMÓVEL RURAL: Estatuto da Terra (Lei n. 4054/64), art. 4°, inciso I: “I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada;” Logo, o Estatuto da Terra adotou o critério da DESTINAÇÀO como elemento diferenciador entre imóvel rústico e urbano. O Código Tributário Nacional (Lei n. 5172/6614) adotou o critério da LOCALIZAÇÃO, no art. 29: “Art. 29. O imposto, de competência da União, sobre a propriedade territorial rural tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localização fora da zona urbana do Município.” Posteriormente, quanto a matéria legal em plena vigência, a Lei n. 8.629/93, que veio regulamentar os arts. 184 e 186 da CF/88, trouxe em seu art. 4°, inciso I, novamente o critério DESTINAÇÃO DO IMÓVEL: “I - Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial;” Não obstante, a Lei. 9.393/96, que atualmente dispõem sobre o ITR também utilizou-se do critério LOCALIZAÇÃO DO IMÓVEL, em seu art. 1°: Art. 1º O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração anual, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano. § 1º O ITR incide inclusive sobre o imóvel declarado de interesse social para fins de reforma agrária, enquanto não transferida a propriedade, exceto se houver imissão prévia na posse. § 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se imóvel rural a área contínua, formada de uma ou mais parcelas de terras, localizada na zona rural do município. 14 Recepcionada pela CF/88 como Lei Complementar (traça normas gerais de direito tributário) 26 § 3º O imóvel que pertencer a mais de um município deverá ser enquadrado no município ondefique a sede do imóvel e, se esta não existir, será enquadrado no município onde se localize a maior parte do imóvel. Como Proceder: verificar que quanto a questões tributárias devemos observar o regramento tributário e quanto a questões agrárias devemos observar a legislação agrária. (lembrar da autonomia legislativa do Direito Agrário) Elementos constitutivos do Imóvel Rural: prédio rústico, área contínua e destinação voltada para as atividades agrárias. Prédio rústico: O prédio rústico é aquela construção que atende às necessidades de moradia e exploração econômica do meio rural, repleto de benfeitorias para o recolhimento de gado, para estocagem de frutos, cereais, etc. Área contínua: é a extensão de terra continuamente, ou seja ininterruptamente que se dedica à atividade agrária. (existe a possibilidade de intervalos de produção para descanso do solo etc, não desnaturando a finalidade da área para a exploração de atividades rurais) Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se: I - "Imóvel Rural", o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada; II - "Propriedade Familiar", o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros; III - "Módulo Rural", a área fixada nos termos do inciso anterior; IV - "Minifúndio", o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar; V - "Latifúndio", o imóvel rural que: a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1°, alínea b, desta Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine; b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou superior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural; VI - "Empresa Rural" é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico ...Vetado... da região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel segundo padrões fixados, pública e previamente, pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam-se às áreas cultivadas, as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias; 27 VII - "Parceleiro", aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em área destinada à Reforma Agrária ou à colonização pública ou privada; VIII - "Cooperativa Integral de Reforma Agrária (C.I.R.A.)", toda sociedade cooperativa mista, de natureza civil, ...Vetado... criada nas áreas prioritárias de Reforma Agrária, contando temporariamente com a contribuição financeira e técnica do Poder Público, através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, com a finalidade de industrializar, beneficiar, preparar e padronizar a produção agropecuária, bem como realizar os demais objetivos previstos na legislação vigente; IX - "Colonização", toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover o aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar ou através de Cooperativas ...Vetado... Parágrafo único. Não se considera latifúndio: a) o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas características recomendem, sob o ponto de vista técnico e econômico, a exploração florestal racionalmente realizada, mediante planejamento adequado; b) o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto de preservação florestal ou de outros recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento, pelo órgão competente da administração pública. Art. 5° A dimensão da área dos módulos de propriedade rural será fixada para cada zona de características econômicas e ecológicas homogêneas, distintamente, por tipos de exploração rural que nela possam ocorrer. Parágrafo único. No caso de exploração mista, o módulo será fixado pela média ponderada das partes do imóvel destinadas a cada um dos tipos de exploração considerados. 28 Ponto n. 04 - DIMENSIONAMENTO DE IMÓVEL RURAL: 1. Propriedade Familiar: O inciso II, do art. 4º, do Estatuto da Terra (Lei 4.504/64), define como "Propriedade Familiar" o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantido-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente, trabalhado com a ajuda de terceiros. 2. Módulo Rural: O conceito de módulo rural é derivado do conceito de propriedade familiar, e, em sendo assim, é uma unidade de medida, expressa em hectares, que busca exprimir a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições do seu aproveitamento econômico. Definir o que seja Propriedade Familiar é fundamental para entender o significado de Módulo Rural. Logo: MÓDULO RURAL = PROPRIEDADE FAMILIAR!!! Órgão competente para afixar a medida de área: INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Veja a classificação do MÓDULO RURAL SEGUNDO A EXPLORAÇÃO DESENVOLVIDA: A) De exploração hortigranjeira; B) De lavoura permanente; C) De lavoura temporária; D) De exploração pecuária (de médio e grande porte); E) De exploração florestal; F) Módulo de exploração indefinida (em que não é especificado quanto ao tipo de exploração) DECRETO N. 55.891/65: Art. 11. O módulo rural, definido no inciso III do art. 4º do Estatuto da Terra, tem como finalidade primordial estabelecer uma unidade de medida que exprima a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições do seu aproveitamento econômico. Parágrafo único. A fixação do dimensionamento econômico do imóvel que, para cada zona de características ecológicas e econômicas homogêneas e para os diversos tipos de exploração, representará o módulo, será feita em função: a) da localização e dos meios de acesso do imóvel em relação aos grandes mercados; b) das características ecológicas das áreas em que se situam; c) dos tipos de exploração predominante na respectiva zona. 29 • Quanto ao módulo rural podemos resumir que: I- É uma medida de área (expressa em hectares); II- A área definida para a Propriedade Familiar constitui o Módulo Rural; III- Varia de acordo com cada região do país onde se situe o imóvel rural; IV- Varia de acordo com o tipo de exploração V- Implica em um mínimo de renda a ser obtido, ou seja, o salário mínimo. VI- A renda deve propiciar ao explorador de atividade agrária não apenas a sua subsistência, mas ao progresso econômico social. Logo, essa medida pode ser atrelada aos seguintes preceitos constitucionais: • Art. 3°, III(Princípio da Dignidade da Pessoa Humana), • Art. 187, VIII (habitação para o trabalhador rural) • Art. 7°, IV, (Direitos sociais- salário mínimo capaz de atender a suas necessidades vitais, às de sua família, com moradia, transporte, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene e previdência social) – PRINCÍPIO DA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA NO CAMPO 3. Zona Típica de Módulo - ZTM Regiões delimitadas, a partir do conceito de módulo rural, com características ecológicas e econômicas homogêneas,baseada na divisão microrregional do IBGE – Microrregiões Geográficas - MRG, considerando as influências demográficas e econômicas de grandes centros urbanos. Os municípios estão classificados segundo a ZTM a que pertencem, codificadas de 1 a 9 e são especificadas abaixo, de acordo com sua dimensão e tal como fixadas pela Instrução Especial INCRA/Nº 50, de 26.08.97, aprovada pela Portaria MEPF/Nº 36, de 26.08.97, que altera a Portaria MIRAD nº 32/89. 4. Módulo Fiscal (art. 50, §2°, Estatuto da Terra, com redação dada pela Lei n. 6746/79) Conceito: Unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando os seguintes fatores: • Tipo de exploração predominante no município; 30 • Renda obtida com a exploração predominante; • Outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada; e • Conceito de propriedade familiar. 4.1 - Finalidades do Módulo Fiscal: • Inicialmente servia como elemento constitutivo para a fixação do ITR; • Segundo o art. 22, incisos I, II e III, do Decreto n. 84.685/80: minifúndio, propriedade familiar, empresa rural, latifúndio por exploração e latifúndio por dimensão15; • serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto a sua dimensão, definindo os limites para a pequena e média propriedade nos termos do art. 4º , incisos II e III da Lei nº 8.629 de 25 de fevereiro de 1993; • delimitação dos beneficiários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF; • estabelece os critérios de resgate da dívida agrária pagos como indenização das desapropriações por interesse social, de acordo com o art. 5º, parágrafo 3º, da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 e suas alterações; • base de cálculo para a contribuição do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR. • O Módulo Fiscal, vigente de cada município, foi fixado pelos seguintes atos normativos: Instruções Especiais/INCRA Nº 19/80, 20/80, 23/82, 27/83, 29/84, 32/85, 33/86 e 37/87; Portaria/MIRAD nº 665/88 e 33/89; Portaria MA nº 167/89; Instrução Especial/INCRA nº 39/90, Portaria Interministerial MEFP/MARA nº 308/91 e nº 404/93; Instrução Especial INCRA nº 51/97, Instrução Especial INCRA Nº 1/2001e Instrução Especial INCRA Nº 03/2005. 15 Art. 22 - Para efeito do disposto no art. 4º incisos IV e V, e no art. 46, § 1º, alínea "b", da Lei nº 4.504,de 30 de novembro de 1964, considera-se: I - Minifúndio, o imóvel rural com dimensão inferior a um módulo fiscal, calculado na forma do art. 5º; II - Latifúndio, o imóvel rural que: a) exceda a seiscentas vezes o módulo fiscal calculado na forma do art. 5º; b) não escedendo o limite referido no inciso anterior e tendo dimensão igual ou superior a um módulo fiscal, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja, deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a edar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural; III - Empresa Rural, o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro das condições de cumprimento da função social da terra e atendidos simultaneamente os requisitos seguintes: a) tenha grau de utilização da terra igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado na forma da alínea "a"do art. 8o; b) tenha grau de eficiência na esploração, calculado na forma do art. 10, igual ou superior na 100% (cem por cento); c) cumpra integralmente a legislação que rege as relações de trabalho e os contratos de uso temporário da terra 31 4.2 - Aplicação do Módulo Fiscal: O Módulo Fiscal serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na forma da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993: • Pequena Propriedade – o imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) e 4(quatro) módulos fiscais; • Média Propriedade - o imóvel rural de área de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. • Serve também de parâmetro para definir os beneficiários do PRONAF (pequenos agricultores de economia familiar, proprietários, meeiros, posseiros, parceiros ou arrendatários de até 4 (quatro) módulos fiscais). 5. Diferença entre Módulo Rural e Módulo Fiscal: Módulo Rural é calculado para cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o tipo de exploração predominante no imóvel rural, segundo sua região de localização. Módulo Fiscal por sua vez é estabelecido para cada município, e procura refletir a área mediana dos Módulos Rurais dos imóveis rurais do município. 6. Fração Mínima de Parcelamento – FMP: Atenção: Primeiramente o aluno deve RELEMBRAR que toda e qualquer propriedade rural deve buscar o cumprimento de sua função social; após é possível concluir que devem ser combatidas as pequenas áreas de terras que mal produzem para a subsistência da família que as cultiva, da mesma forma que se deve combater a imensa área inerte para fins de especulação. No ordenamento jurídico vigente, verificam-se alguns instrumentos de combate à ineficácia social do imóvel urbano: CF, no art. 183 c/c art. 1240, Código Civil: Usucapião Pro Moradia; e Lei n. 10.257 (Estatuto da Cidade), art. 10 c/c art. 1228, §4°: Usucapião Coletivo. Esses instrumentos atendem a função social da PROPRIEDADE URBANA, mas não atendem à função social da propriedade rural, pois essa vai além da garantia ao direito de moradia de seu proprietário e/ou explorador. É possível concluir que deve ser combatido o fracionamento das áreas rurais que não primem pela função social da propriedade rural. Atenção: Observe que o CC, arts. 87 e 88 trata da indivisibilidade do bem quando a divisão: alterar sua substância, diminuir consideravelmente o seu valor, prejuízo ao uso a que se 32 destinam; bem como os bens naturalmente indivisíveis por determinação da lei ou vontade das partes. NO CASO, A INDIVISIBILIDADE DO IMÓVEL RURAL É DETERMINADA POR LEI EXPRESSA: art. 65, ET: Art. 65. O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior à constitutiva do módulo de propriedade rural. (Regulamento) § 1° Em caso de sucessão causa mortis e nas partilhas judiciais ou amigáveis, não se poderão dividir imóveis em áreas inferiores às da dimensão do módulo de propriedade rural. § 2º Os herdeiros ou os legatários, que adquirirem por sucessão o domínio de imóveis rurais, não poderão dividi-los em outros de dimensão inferior ao módulo de propriedade rural. § 3º No caso de um ou mais herdeiros ou legatários desejar explorar as terras assim havidas, o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária poderá prover no sentido de o requerente ou requerentes obterem financiamentos que lhes facultem o numerário para indenizar os demais condôminos. § 4° O financiamento referido no parágrafo anterior só poderá ser concedido mediante prova de que o requerente não possui recursos para adquirir o respectivo lote. § 5o Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos parcelamentos de imóveis rurais em dimensão inferior à do módulo, fixada pelo órgão fundiário federal, quando promovidos pelo Poder Público, em programas oficiais de apoio à atividade agrícola familiar, cujos beneficiários sejam agricultores que não possuam outro imóvel rural ou urbano. (Incluído pela Lei nº 11.446, de 2007). § 6o Nenhum imóvel rural adquirido na forma do § 5o deste artigo poderá ser desmembrado ou dividido. (Incluído pela Lei nº 11.446, de 2007). 6.1 - Conceito de Fração Mínima de Parcelamento: Área mínima fixada para cada município, que a lei permite desmembrar, para constituição de um novo imóvel rural, desde que o imóvel original permaneça com área igual ou superior à área mínima fixada (artigo 8º, da Lei nº 5.868/72). A Fração Mínima de Parcelamento
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