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IESB - PENAL I - 7ª aula - Teoria do Crime

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CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE 
BRASÍLIA 
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE 
BRASÍLIA 
CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
 
PROF. PAULO EMÍLIO 
 
IESB - DIREITO PENAL I – AULA VII 
 
I – TEORIA DO CRIME 
O primeiro registro etimológico da palavra 
denota do antigo Direito Romano, noxa. 
Após, evoluiu para noxia que significa 
“dano”. O conceito ainda não se adequava à 
espécie, pois estava mais ligado aos efeitos 
do ato delitivo do que ao próprio ato. Para 
casos de crimes contra o patrimônio, 
guardava muita semelhança com conceitos 
do Direito Civil. Com a evolução do tema, 
na Idade Média, apareceram os termos 
crimen e delictum, sendo que o primeiro 
indicava infração mais grave e o segundo, 
mais leve. 
Há várias definições, variando de 
ordenamento para ordenamento. Nos EUA, 
são, em sua maioria, chamados de felonies, 
por exemplo. 
Dentro da dogmática jurídica do Direito 
Brasileiro, o termo infração abrange três 
conceitos: 
a) Crimes; 
b) Delitos; 
c) Contravenções; 
Os dois primeiros são sinônimos, enquanto o 
terceiro trata de infrações mais leves, entretanto, 
a rigor, não há diferença. 
No Brasil adotamos o sistema bipartido das 
infrações penais, onde somente há distinção 
entre crimes e contravenções, sendo estas 
consideradas infrações mais leves, punidas com 
prisão simples e multa, cumulativa ou 
alternativamente. Estão disciplinadas na LCP – 
Lei de Contravenções Penais. Já delito ou crime, 
encontrado na Legislação Penal (Lei de 
Tóxicos, Código Penal, etc), é considerado a 
infração punida com pena de reclusão ou 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou 
cumulativamente com a pena de multa. 
 
CONCEITO DE CRIME 
Não existe, em nossa norma positivada, 
conceito de crime, ficando tal definição a cargo 
da doutrina. Existem alguns aspectos de 
classificação do crime, como passaremos a ver: 
I. A. FORMAL – Em decorrência do princípio 
da legalidade e da reserva legal, vimos que o 
crime dever ser definido em lei anterior ao fato 
praticado. Assim, a definição do crime deve 
estar veiculada em lei. O crime é conceituado 
pela técnica jurídica como sendo a descrição 
legal de um fato, acompanhado da sanção 
aplicável a quem o comete. Podem ser citados 
como conceitos formais: 
“Crime é o fato humano contrário à lei” 
Carmignani 
“Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei 
sob ameaça de pena”, Fragoso 
Assim, podemos conceituar crime, em seu 
aspecto formal, como sendo qualquer conduta 
humana contrária à norma penal positivada, 
o que leva o exegeta facilmente a uma 
conclusão: o aspecto formal da 
conceituação do crime não leva em conta a 
essência do delito, as razões pelas quais 
ocorreu, mas somente a mera subsunção do 
fato ocorrido no mundo dos fatos à norma 
jurídica que o define como crime. 
Criticando essa classificação, aponta Capez 
que: “considerar a existência de um crime 
sem levar em conta sua essência ou 
lesividade material afronta o princípio 
constitucional da dignidade humana”1. 
 
I. B. MATERIAL OU SUBSTANCIAL – 
Sob essa perspectiva, o crime deve ter em si 
uma lesividade ou potencialidade de lesão 
aos bens jurídicos fundamentais da 
sociedade. Ou seja: não tem conteúdo 
material de crime os fatos que não tenham 
lesividade. Não se satisfaz o Direito Penal 
com a simples veiculação de norma penal 
descrevendo a conduta incriminada, mas 
exige que esta mesma conduta, considerada 
criminosa, deva revelar a existência desta 
lesividade aos bens jurídicos fundamentais. 
Crime seria a conduta humana que, 
“propositada ou descuidadamente, lesa ou 
expõe a perigo bens jurídicos considerados 
fundamentais para a existência da 
coletividade e da paz social”2 
Pesquisa-se e questiona-se o que levou o 
legislador, ou o que realmente quer a lei, 
 
1 Fernando Capez. Curso de Direito Penal Parte Geral. 
Vol. 1 . Saraiva: São Paulo 2005. p. 107; 
2 Idem, ibidem. p. 106 
quando prevê determinada conduta humana 
como criminosa. Atribuindo o conceito de crime 
somente às ações que se mostrem efetiva ou 
potencialmente danosas. 
Vê que o Estado visa proteger, via da valoração 
dos interesses individuais e coletivos, a paz 
interna do convívio comum, a segurança da 
sociedade. Assim, utiliza a norma penal como 
poder coercitivo, reforçado pela pena e sua 
aplicação, de força hierárquica às condutas, 
estipuladas por lei, como sendo delituosas. 
 
I.C ANALÍTICO 
Como se viu, temos, separadamente, os 
conceitos formal e material de crime. Enquanto 
o conceito formal define crime como qualquer 
fato contrário a norma penal, 
o conceito material exige a presença de aspectos 
e a essência do crime, sua reprovabilidade 
social, as razões que levaram o agente a cometer 
a conduta comissiva ou omissiva. 
Todavia, ambos os conceitos ainda são 
insuficientes à formação de adequado conceito 
de crime, e tornou-se necessária a construção de 
um terceiro aspecto. Criou-se a necessidade de 
um conceito mais completo, o conceito analítico 
de crime. O desenvolvimento de tal conceito 
teve início com Camignani em 1833 e se 
completou com 
Beling em 1906. 
Aspecto analítico, em síntese, é aquele que 
analisa o fato, identificando e sistematizando 
seu principais elementos, para, juntando-os 
novamente, considerar a existência de crime 
diante de determinada conduta. 
No conceito analítico os fatos ocorridos até 
o resultado do crime (e também da tentativa 
é claro) são divididos por etapas, sendo 
necessária a análise do fato para saber, 
inicialmente, se é típico. Após, se é ilícito. 
Havendo incidência desses dois, só resta 
saber se pode o agente ser culpado. 
Assim, resta considerar que a teoria do 
crime trabalha com três conceitos 
fundamentais: tipicidade, antijuridicidade e 
culpabilidade. 
Tipicidade – Diz-se típica uma conduta 
sempre que se ajuste à descrição contida 
numa norma penal incriminadora (v.g. 
matar alguém), de modo que, tratando-se de 
fato que não encontre ajustamento típico 
(assim, por exemplo, o incesto), será atípica 
a conduta e, obviamente, não haverá crime. 
Tipo penal, portanto, é a descrição taxativa 
dos elementos do tipo. Típica, portanto, 
será a conduta humana que corresponda ao 
modelo legal (tipo penal). 
A maioria dos autores defende que a 
tipicidade é um indicativo da 
antijuridicidade, uma vez que a conduta 
típica, se não afastada por causa 
justificadora (causas excludentes da 
ilicitude) será, também, antijurídica. 
Antijuridicidade – Se, no caso concreto, a 
hipótese revela a existência de conduta 
típica, passa-se à análise da antijuridicidade 
(= ilicitude). 
Assim, cabe antecipar que há condutas que 
mesmo típicas, são consideradas lícitas (não 
antijurídicas) pela presença de causa 
excludente da antijuridicidade. São causas 
excludentes da ilicitude a legítima defesa, o 
estado de necessidade, o estrito cumprimento do 
dever legal ou o exercício regular de direito 
(CP, art. 23). 
Assim, por exemplo, no caso do homicídio em 
legítima defesa, embora típica a ação (matar 
alguém), ela não é considerada, porém, ilícita, 
uma vez que autorizada pelo direito. 
Culpabilidade – A culpabilidade, por sua 
vez, é a reprovação da conduta praticada pelo 
agente. Ou seja, após perpassarmos a análise do 
fato como típico e antijurídico, cabe verificar se, 
nas condições fáticas, poderia o agente ter agido 
de forma diversa. Assim, por exemplo, se o 
agente agia sob coação moral irresistível, por 
exemplo, não haverá culpabilidade (exemplo é o 
caso do gerente de banco a quem os bandidos 
retém a família seqüestrada, coagindo-o 
moralmente à facilitação de roubo à agência 
bancária). 
A culpabilidade, assim, é a reprovabilidade 
social de uma conduta, por ser ao menos 
razoavelmente exigível de seu autor, nas 
circunstâncias dadas, uma atitude diferente da 
adotada. 
A ausência de culpabilidade, quando decorrente 
da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do 
agente, leva à aplicação de medidas de 
segurança, na forma estabelecida no art 26 do 
CP. 
Há intenso embate doutrinárioacerca os 
elementos constitutivos do crime, em sentido 
analítico, havendo duas correntes em tal sentido: 
a bipartida entende que, analiticamente, o 
conceito de crime é: fato típico e antijurídico. A 
outra corrente, mais moderna, entende que 
o conceito é fato típico, antijurídico e 
culpável. 
I.D. DISCUSSÃO SOBRE A 
CONCEPÇÃO ANALÍTICA 
BIPARTIDA E TRIPARTIDA DO 
CRIME 
Fonte de intermináveis discussões jurídicas 
no direito brasileiro é a questão se o 
conceito analítico de crime exige a presença 
de somente duas destas categorias (crime = 
fato típico e antijurídico) ou se exige a 
presença das três (crime = fato típico, 
antijurídico e culpável). 
No Brasil, há duas correntes principais: 
 
a) CRIME É O FATO TÍPICO, 
ANTIJURÍDICO E CULPÁVEL. 
Com vários expoentes no Brasil, entende 
que a culpabilidade também integra o 
conceito analítico de crime. Segundo 
Bitencourt3 “todos os elementos estruturais 
do conceito analítico de crime, que 
adotamos, como ação típica, antijurídica e 
culpável, serão amplamente analisados nos 
capítulos seguintes. Não acompanhamos o 
entendimento dominante no Brasil, 
segundo o qual: “crime é a ação típica e 
antijurídica”, admitindo a culpabilidade 
somente como mero pressuposto da pena”. 
Segundo Paulo Queiroz, (Direito Penal 
Parte Geral, Saraiva, p. 133, nota de rodapé 
n.º 298). 
 
3
 César Roberto Bitencourt. Manual de Direito 
Penal. Vol. I. 6ª ed. Saraiva: São Paulo 2000. p. 143; 
“Na doutrina brasileira reina funda divergência 
sobre se a culpabilidade integra ou não a 
estrutura do tipo. Damásio defende a tese de 
que o crime se compõe de fato típico e 
antijurídico somente, figurando a culpabilidade 
como mero pressuposto da pena. Pensamos, em 
primeiro lugar, que semelhante discussão não 
tem importância teórica e muito menos prática. 
Mas ao se considerar, como quer Damásio, que 
a culpabilidade é pressuposto da pena, 
simplesmente, esquece-se, porém que, como 
regra, a ausência de culpabilidade dá lugar não 
à medida de segurança (exclusiva de 
inimputáveis e semi-imputáveis), mas à 
absolvição pura e simples (assim, erro de 
proibição invencível, coação moral irresistível, 
etc.) não se aplicando aos autores (imputáveis) 
quaisquer medida de segurança ou similar. 
Ora, em tais hipóteses, se há absolvição (sem 
mais) é porque se reconhece que não se está 
diante de uma conduta criminosa, embora tenha 
agido o seu autor típica e ilicitamente 
(realizado um injusto). Portanto, a 
culpabilidade integra, sim, o conceito de crime, 
já que sem ela não há, em princípio, qualquer 
conseqüência penal.” 
 
b) CRIME É O FATO TÍPICO E 
ANTIJURÍDICO. 
Teoria também adotada no Brasil - que 
atualmente tem como expoente máximo o 
professor Damásio E. de Jesus. Entende que a 
culpabilidade não pode integrar o conceito do 
delito, pois se trata, segundo tal doutrina, de 
mero pressuposto da pena4. Assim, 
considera, o 
crime persiste existente mesmo que seu 
autor não seja culpável. Imagina Damásio o 
caso do inimputável (menor) que pratica um 
furto e depois venda o produto do crime a 
receptador. A se adotar a culpabilidade 
como elemento estrutural do crime, o 
receptador, art. 180 do CP não estaria 
cometendo o crime de receptação, uma vez 
que o furto praticado por inimputável não 
seria crime (não tipificaria, portanto, a 
conduta o tipo de adquirir produto de crime, 
previsto no art. 180 do CP) 
 
II – FATO TÍPICO 
Podemos dividir o fato típico em quatro 
amplos conceitos. Assim, fato típico é a 
soma de: 
a) Conduta (dolosa ou culposa); 
b) Resultado (vale lembrar que só os crimes 
materiais necessitam de resultado); 
c) Nexo de causalidade; 
d) Tipicidade 
 
CONDUTA 
“Conduta é a ação ou omissão humana 
consciente e dirigida a determinada 
finalidade”5. Não estamos aqui 
considerando os novos conceitos que 
admitem a pessoa jurídica como sujeito 
ativo de crime, como é o exemplo da lei dos 
 
4
 Fernando Capez. Op. Cit. p. 107; 
5
 Damásio E. de Jesus. Op. Cit. p. 211; 
crimes ambientais, que serão enfrentados em 
passo posterior. 
Para o Direito Penal, o pensamento, enquanto 
permanece encastelado na mente, não representa 
absolutamente nada.. Assim, só haverá ou terá 
início um ilícito quando o ser humano externar 
sua vontade (pensamento) através de uma ação 
ou omissão, uma conduta. Somente quando a 
vontade se liberta da mente é que a conduta se 
exterioriza no mundo concreto e perceptível, por 
meio de um comportamento positivo, a ação 
(fazer), ou de uma inatividade indevida (não 
fazer o que era devido). 
A exteriorização da conduta, todavia, não é 
suficiente, porém. O Direito Penal só se 
preocupa com os comportamentos humanos que 
tenham, na vontade, sua força motriz, 
excetuando-se, portanto, de tal abrangência, os 
atos ou omissões que não se inspire na vontade, 
tais como o arco reflexo, a coação física 
irresistível e outros onde não se constate a 
presença de vontade do agente. 
As pessoas humanas são seres racionais e, assim 
conhecedoras da lei natural de causa e efeito, 
sabem,portanto, que cada comportamento pode 
causar um efeito (sabe-se, pela experiência, que 
o fogo queima, o impacto contundente lesiona 
ou mata, a falta de oxigênio asfixia, etc.) 
Há um exemplo de Fernando Capez6 que é 
ilustrativo dos comportamentos humanos: 
“ Uma pessoa está com sede e observa sobre a 
mesa um copo com água; a vontade de beber, 
associada com a finalidade de saciar a sede, 
animam a ação de levar o copo à boca e ingerir 
 
6
 Fernando Capez. op. cit., vol. 1, p. 104; 
o líquido. Nesse caso, existiu conduta, 
devido à consciência, vontade e finalidade, 
e o resultado produzido (água bebida e 
sede saciada) acabou por coincidir com a 
vontade e a finalidade. Chama-se isso de 
conduta dolosa (vontade de realizar a 
conduta e finalidade de produzir o 
resultado). Nesse mesmo exemplo, 
suponhamos agora que, por um descuido, a 
água fosse derramada sobre a roupa do 
agente. Ocorreu uma conduta voluntária (o 
agente queria pegar o copo e efetivamente 
o pegou, sem que ninguém o obrigasse a 
faze-lo). O resultado entretanto, não 
coincidiu com a finalidade, mas, ao 
contrário, derivou da quebra de um dever 
de cuidado. Essa conduta é chamada de 
culposa (conduta voluntária e resultado 
não querido, provocado por descuido)” 
É obvio que as duas condutas apontadas no 
exemplo não constituem crime, pois não 
são típicas, mas ilustram bem que das 
condutas são inseparáveis a vontade, a 
finalidade, o dolo e a culpa. 
Fernando Capez fornece conceito mais 
completo de conduta: “conduta 
penalmente relevante é toda ação ou 
omissão humana, consciente e voluntária, 
dolosa ou culposa, voltada a uma 
finalidade, típica ou não, mas que produz 
ou tenta produzir um resultado previsto na 
lei penal como crime”7 
Nem se diga estarem aqui excluídas as 
modalidades culposas, pois assim não o é. 
 
7
 Fernando Capez. op. cit., vol. 1, p. 111; 
O agente que dirige em alta velocidade e bêbado 
está a realizar uma conduta (ação) voluntária, 
podendo, mesmo sem querer (culpa), causar a 
morte de alguém, por exemplo. Temos então 
uma conduta voluntária e um resultado não 
desejado, mas não há ausência de conduta. 
Sobre a conduta, existem várias teorias 
divulgadas entre os doutrinadores: teoria 
naturalista ou causal; neoclássica ou neokantista 
(o tipo tem valor cultural); teoria social da ação; 
teoria constitucional (dá ênfase e importância 
aos princípios constitucionais, como a dignidade 
humana, igualdade entre as partes, etc) e, por 
fim, a teoria finalista da ação. 
Dentre as arroladas, as mais divulgadas pela 
doutrina hodierna são a teoria causal, a 
finalista e a teoria social, sendo certo dizer que 
o nosso Código Penal tem confessada inspiração 
na teoria finalista da ação. 
Antes, porém, de aprofundarmos o estudo das 
teorias, devemos esclarecerque a ação (ou 
omissão) é vista sob dois prismas: a) o externo, 
verificado objetivamente pelo movimento 
corporal, natural ou mecânico da ação e, b) o 
interno, que é subjetivo e corresponde ao 
conteúdo final da ação (finalidade buscada pelo 
agente com a ação). 
Vejamos, pois, as principais teorias da conduta: 
TEORIA CAUSALISTA 
(Nelson Hungria, Magalhães Noronha, 
Aníbal Bruno e outros) 
Foi primeiramente exposta Ernest Von Beling, 
recebeu melhor elaboração com os trabalhos de 
Binding. 
A conduta é um ato humano voluntário, uma 
ação ou omissão, levada a efeito no mundo dos 
fatos. Não se leva em consideração a 
importância da vontade do agente, mas sim 
a ação ou a omissão em si, sob o prisma da 
relação de causalidade. 
Assim, a teoria causalista compreendia a 
ação como mero fator de casualidade, uma 
simples produção do resultado, mediante a 
aplicação de forças físicas. Se o agente 
praticou determinada ação vista como 
crime, não tem relevância sua vontade, 
bastando o mero ato para a adequação da 
conduta no tipo penal. 
Assim, se “A” desfere contra “B” socos que 
vêm a causar lesão corporal de natureza 
grave, a conduta é típica, sendo irrelevante 
a vontade do agente. Para os filiados a essa 
corrente, a finalidade do ato será apreciada 
somente na análise da culpabilidade. 
Os causalistas entendiam o crime com fato 
típico + antijuridicidade + culpabilidade. As 
duas primeiras (tipicidade e 
antijuridicidade) cuidavam de todos os 
aspectos objetivo do tipo (parte externa), 
enquanto a culpabilidade cuidava dos 
aspectos subjetivos (parte interna) 
Segundo os partidários de tal doutrina não 
se questiona acerca da vontade ou do 
pensamento do agente da conduta (dolo), 
que somente seria objeto de consideração 
no exame da culpabilidade. 
A base desse sistema é, portanto, o conceito 
de ação, entendida de modo completamente 
naturalístico como movimento corporal e 
modificadora do mundo exterior, unidas por 
um nexo causal. 
A adoção de tal teoria mostrou-se insuficiente, 
pois o jurista terá dificuldades nos casos de 
tentativa (onde a vontade – pois não alcançou o 
resultado – tem obrigatoriamente que ser 
analisada de início. Queria matar ou lesionar??) 
assim como nos tipos subjetivos, como no rapto 
para fim libidinoso, por exemplo. 
 
TEORIA FINALISTA 
(Damásio, Hans Welzel, Cláudio Heleno 
Fragoso e outros) 
 
Para a teoria finalista, criação de Hans Welzel, a 
ação humana é o exercício de uma atividade 
finalista, ou seja, voltada a uma finalidade. 
Segundo este espectro, toda ação humana 
decorre do fato de que o homem tem a 
capacidade de conhecer, pela observação da 
causalidade, as conseqüências de cada um dos 
seus atos e, assim, eleger aqueles que quer 
praticar, dirigindo a sua ação a um determinado 
fim. Assim, a conduta, como a ação, é finalista 
(orientada a uma finalidade). 
O conhecimento da vontade do agente é 
imprescindível para a conclusão da existência 
do crime, pois, somente pela observação de um 
médico apalpando uma mulher despida seria 
impossível dizer, desconhecendo-se a vontade 
do médico, se houve crime de atentado violento 
ao pudor ou se se trata somente de um exame 
clínico regular. Do ponto de vista objetivo (ou 
externo) a ação é a mesma, mas, levando em 
conta a vontade do médico é que se poderá 
saber se houve crime. 
Difere, pois, da teoria causal. Para os 
causalistas, a ação humana é o resultado dos 
movimentos corpóreos do homem apenas 
(ênfase na parte externa da ação), já para os 
finalistas, o dolo (ou ao menos a culpa) 
devem ser analisados já no momento da 
verificação da própria tipicidade, pois são 
elementos do tipo, e não elementos da 
culpabilidade. Em conseqüência, o dolo e a 
culpa são deslocados da culpabilidade para 
a tipicidade, já que é a finalidade da ação (a 
intenção) que dirá, por exemplo, se estamos 
diante de um crime de lesões corporais ou 
de tentativa de homicídio (se a intenção é 
matar, tentativa de homicídio; se ferir, 
lesões corporais)., ou se estamos diante de 
um crime ou um fato penalmente relevante 
(como regra, somente são puníveis ações 
dolosas, a não ser que a Parte Especial 
estabeleça a modalidade culposa – art. 18, 
parágrafo único do CP). 
Assim, por exemplo: a ocorrência de um 
fato natural de aborto – interrupção da 
gravidez – não revela, por si só, se houve 
dolo (vontade) da gestante. A ocorrência do 
fato natural do aborto, considerado de 
puramente objetiva, não revela se houve 
crime de aborto, pois para tanto, deve haver 
a ação voluntária da gestante (ou de 
outrem) na interrupção da gestação, pois 
não há previsão de aborto culposo. 
Dessa forma, mesmo que a gestante não 
tenha seguido orientações médicas de 
seguir determinada dieta durante a gestação, 
não haverá o crime de aborto se não houver 
o dolo (ou seja, a vontade de praticar a 
conduta descrita no art. 128 do CP) 
Descobriu-se, assim, a finalidade como 
elemento inseparável da conduta. Sem o exame 
da vontade finalística, não há como se saber se o 
fato é típico ou não. 
Partindo desse pressuposto, distinguiu-se a 
finalidade da causalidade para, em seguida, 
concluir-se que não há conduta típica sem 
vontade e finalidade, e que não é possível 
separar dolo e culpa da conduta típica. 
Assim, é certo ver que a teoria final analisa, 
obrigatoriamente, junto da ação do agente 
(conduta) a finalidade a qual se destinou. O 
conteúdo da vontade é essencial à apreciação do 
conceito de crime, pois agregada à conduta do 
agente. 
Nosso Código Penal adotou essa teoria, na 
medida em que estabelece, no art. 18, I e II que 
não há crime que não seja doloso ou culposo. 
No caso, portanto, de o sujeito matar outro sem 
dolo ou culpa, exemplo do motorista que 
atropela o suicida, embora exista o resultado 
morte causada pelo sujeito, não há crime por 
falta de dolo ou culpa.. 
Tais considerações levaram Welzel a escrever 
que: “o direito não pode ordenar às mulheres 
que apressem a gravidez e em seis meses dêem 
à luz crianças capazes de sobreviver, como 
também não pode proibi-las de terem abortos. 
Mas pode o direito ordenar-lhes que se 
comportem de modo a não facilitar a 
ocorrência de abortos, assim como proibi-las de 
provocarem abortos. As normas jurídicas não 
podem, pois ordenar ou proibir meros 
processos causais, mas somente atos orientados 
finalisticamente ou omissões destes atos” 
Nos casos de dolo a vontade do agente é 
voltada diretamente a atingir a conduta 
descrita no tipo penal. Mas, a pergunta é 
pertinente, se o exercício da ação é o 
exercício da atividade final, como explicar 
a estrutura dos crimes culposos? Também 
aqui se aplica integralmente a teoria 
finalista. 
Ocorre que no caso a finalidade não é a de 
atingir o resultado observado, que ocorre 
por descuido imputável à ação do agente. 
Exemplo é a do motorista que dirige em 
excesso de velocidade e, em conseqüência 
atropela e mata outra pessoa. É de se 
indagar: o resultado (morte) foi querido? 
Não. Neste caso é de se aplicar a teoria 
finalista? Vejamos, a conduta do motorista 
(dirigir em excesso de velocidade) era 
voluntária (ninguém o obrigou a assim 
fazê-lo); quanto à finalidade, esta é variada 
(chegar logo ao trabalho, por exemplo). 
Quanto ao resultado, como não coincidiu 
com o a finalidade visada, o crime não pode 
ser doloso. Como houve, contudo, quebra 
do dever de cuidado (imprudência e 
inobservância das regras de trânsito), 
responderá por homicídio culposo. Se não 
houvesse tal descuido, como se o agente 
estivesse dirigindo em uma prova de 
automobilismo, por exemplo), não haveria 
qualquer crime, por ausência de dolo ou 
culpa. 
 Cláudio Brandão responde, dizendo à 
mesma questão dizendo que, nesses crimes, 
uma vontade dirigida a um fim, só que o 
fim será conforme o direito, sendo certo que 
nesses crimes (culposos) a reprovação se dá por 
inobservância do agente ao dever de cuidado 
objetivo (agindo, pois, com imprudência, 
negligência ou imperícia). 
 
TEORIA SOCIAL OU DA 
ADEQUAÇÃO SOCIAL 
(Sabatini, MiguelReale Júnior, Nilo Batista e 
Everardo da Cunha Luna) 
Surgiu como a união das duas teorias anteriores. 
Considera que ação para o conceito de crime é 
uma conduta social socialmente relevante, 
dominada ou dominável pela vontade humana. 
Para essa conduta, portanto, só haverá crime 
segundo a relevância social da ação. Assim, se 
uma ação realizada é socialmente adequada aos 
costumes da área social onde é realizada, não 
estará configurado o fato típico. É o caso dos 
lutadores que se machucam mutuamente na aula 
de jiu-jitsu, por exemplo. 
A crítica reside na dificuldade de se entender o 
que seria ou não uma conduta social relevante 
para o direito penal, e no fato de que, ao 
interpretar se um fato é ou não penalmente 
relevante de acordo com sua relevância social, 
estar-se-ia incorrendo em risco de violação 
constitucional, pois o que em São Paulo pode 
ser penalmente relevante, pode não ser no Norte 
do País, e vice-versa.

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