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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Carvalho-Freitas, Maria Nivalda de Capacitismo e inclusão : contribuições teórico-práticas da psicologia organizacional e do trabalho / Maria Nivalda de Carvalho-Freitas, Joelma Cristina Santos. -- 1. ed. -- São Paulo : Vetor Editora, 2023. Bibliografia. 1. Gerenciamento de pessoas 2. Inclusão social 3. Pessoas com deficiência - Acessibilidade 4. Pessoas com deficiência - Direitos 5. Pessoas com deficiência - Emprego 6. Psicologia organizacional I. Santos, Joelma Cristina. II. Título. 22-136990 | CDD-362.40484 Índices para catálogo sistemático: 1. Pessoas com deficiência : Acesso ao mercado de trabalho: Ação social : Bem-estar social 362.40484 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 ISBN: 978-65-5374-039-6 CONSELHO EDITORIAL Ricardo Mattos (CEO-Diretor Executivo) Cristiano Esteves (Gerente de Produtos e Pesquisa) Coordenador de livros: Wagner Freitas Projeto gráfico: Rodrigo Ferreira de Oliveira Revisão: Daniela Medeiros e Paulo Teixeira © 2023 – Vetor Editora Psico-Pedagógica - É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores Ltda. SUMÁRIO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO AO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 1. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR: UMA VISÃO PANORÂMICA 2. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 3. EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO- -COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 4. O USO DA PSICOFARMACOLOGIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 5. MINHA HISTÓRIA COM O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 6. CONSTRUINDO POSSIBILIDADES: FAMÍLIA E PACIENTE NO ENFRENTAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 7. CONVIVENDO COM QUEM SOU HOJE SOBRE OS AUTORES DEDICATÓRIA Ao Dr. Wirmond Luiz Rocha D’Angelis (in memorian), psiquiatra humano e dedicado, que deixou legado de humanização no atendimento e no acolhimento ao paciente psiquiátrico. Esta obra é dedicada a todas as pessoas que diariamente lutam por uma melhor convivência com o Transtorno Afetivo Bipolar e àqueles que contribuem para desconstruir crenças e preconceitos sociais relacionados a essa condição clínica. AGRADECIMENTOS À M.A.A., pelo incentivo para a produção deste trabalho, cedendo seu relato de experiência. À M.A.A., que, durante muitos anos, participou de projetos com o objetivo de ajudar portadores do Transtorno Afetivo Bipolar no processo de aceitação e convívio com a doença. Aos profissionais da saúde mental que colaboraram na escrita desta obra e a enriqueceram com seus conhecimentos. APRESENTAÇÃO Ao longo da vida, temos a oportunidade de encontrar pessoas especiais. Comigo não foi diferente. Tive a felicidade de conhecer as psicólogas Maria da Penha A. Campos de Almeida Kato e Solange Regina Signori Iamin. Temos realizado inúmeras parcerias, pesquisas, elaboração de artigos e capítulos de livros. Sempre foram gentis, pacientes e amáveis comigo. Por esta obra representar uma delicadeza de ambas para comigo, convido a todos a conhecer um pouco mais sobre o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) e possam compreender os desafios que esse sofrimento representa. Além das organizadoras citadas, este exemplar conta com a contribuição de psiquiatras e psicólogos, mas, em especial, com o depoimento de M.A.A., que generosamente relata sua trajetória de luta e superação no convívio com o TAB. Após a introdução da doutora Alyne dos Santos Figueredo, que descreve, de maneira acessível e compreensível, o TAB, utilizando bibliografia atualizada, passamos a uma visão panorâmica no capítulo 1, elaborado por mim e pelas psicólogas Vitória Rosa dos Santos e Bruna Kopytowski Tafuri. Consideramos aspectos históricos, diagnóstico e tratamento. O capítulo 2 apresenta-nos, com riqueza de detalhes, os instrumentos disponíveis para a avaliação do TAB, considerando a dificuldade do diagnóstico, corroborados pelos critérios encontrados no DSM-5 (American Psychiatric Association [APA], 2014), bem como a descrição de escalas de entrevistas e métodos de avaliação sumarizados por Maria da Penha A. Campos de Almeida Kato e pelo psiquiatra Emerson Rodrigues Barbosa, que também é terapeuta cognitivo-comportamental. O Dr. Emerson Rodrigues Barbosa e a psicóloga Solange Regina Signori Iamin apresentam-nos, no capítulo 3, a eficácia da terapia cognitivo-comportamental para o tratamento do TAB. Afirmam que essa abordagem terapêutica tem se mostrado altamente eficaz para o tratamento e prevenção em monoterapia ou em combinação com medicação nos transtornos do humor, principalmente na depressão unipolar. Destacam os objetivos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) no tratamento do TAB, ressaltando, entre outros, a psicoeducação – educar os pacientes a respeito do tratamento do TAB e das dificuldades comuns associadas à doença, bem como facilitar a aderência aos regimes medicamentosos prescritos. Sabemos que o TAB é uma condição crônica, recorrente e comumente se apresenta com remissão incompleta entre os episódios, assim, faz-se necessário o uso de múltiplas estratégias de tratamento, incluindo os psicofármacos, como afirma a médica Flavia Marchiori Cristelli, autora do capítulo 4, quando apresenta um protocolo de possibilidades de tratamentos medicamentosos, inclusive na refratariedade (resistência ao tratamento). No capítulo 5, M. A. A., em Minha história com o Transtorno Afetivo Bipolar, relata sua trajetória e vivências com o TAB. Conta sua participação em grupos de autoajuda e, desde o primeiro diagnóstico da doença, permaneceu em acompanhamento com um médico psiquiatra. Descreve também experiências com a Síndrome do Pânico, com surto psicótico e, corajosamente, compartilha alguns delírios que experienciou. Também conta cenas da sua imaginação que a acompanharam ao longo do tratamento. A família e as possibilidades do tratamento configuram o conteúdo elaborado pelas psicólogas Maria da Penha A. Almeida Kato e Solange Regina Signori Iamin, ao descreverem que “a família é considerada indispensável no apoio ao convívio familiar, social e profissional do portador desta doença mental, situação que pode significar, para muitas famílias, um enorme desafio”. Assim, o capítulo 6 destaca a psicoeducação e orientações práticas aos pacientes e familiares. As autoras destacam ainda que “o tratamento farmacológico é de fundamental importância, porém não é suficiente para o tratamento do TAB. Este transtorno possui manifestações psicológicas e sociais, com repercussões em todas as esferas da vida, seja na escola, no trabalho e na família. Uma das formas de minimizar os seus efeitos é receber suporte da rede social e, em especial, da rede familiar”. Finalmente, chegamos ao ponto alto desta obra. Mais uma vez, contamos com a honestidade e a coragem de M. A. A., ao relatar que, atualmente, está aposentada, após trabalhar quase trinta anos lutando pela sua independência, e que agora compartilha conosco um caminho que encontrou no entendimento e superação do seu transtorno. Assim, o capítulo 7 encerra este livro. Todo o conhecimento é produção de um esforço coletivo. Somos gratos a todos que compartilharam horas de suas vidas para contribuir na direção de uma melhor qualidade de vida de pessoas e famílias que precisam enfrentar o diagnóstico do TAB. Curitiba, outono de 2022. Prof. Dr. Cloves Antonio de Amissis Amorim INTRODUÇÃO AO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR Alyne dos Santos Figueredo O Transtorno Bipolar (TB), também conhecido como “transtorno afetivo bipolar” e originalmente chamado de “insanidade maníaco- depressiva”, é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações graves de humor, que envolvem períodos de humor elevado e de depressão (polos opostos da experiência afetiva), intercalados por períodos de remissão, e estão associados a sintomas cognitivos, físicos e comportamentaisFleck, M. P. A., Louzada, S., Xavier, M., Chachamovich, E., & Vieira, G. (2000). Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref ”. Revista de Saúde Pública, 34(2), 178-183. Freire, M. A., Figueiredo, V. L. 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CAPÍTULO 3 EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO-- COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR Solange Regina Signori Iamin Emerson Rodrigues Barbosa SOBRE A TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL A Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) é uma modalidade de tratamento focada em solucionar os problemas emocionais, cognitivos e comportamentais que uma pessoa apresenta. As intervenções terapêuticas são direcionadas a entender como a pessoa percebe e interpreta as situações que vivencia, como esta interpretação interfere nas suas emoções, se elas desencadeiam sintomas físicos e psicológicos, o quanto afetam seu comportamento e se prejudicam as relações pessoais e profissionais. Em um processo terapêutico, é possível fazer a observação direta de um comportamento, porém, é impossível “ler a mente humana”, então, precisamos entender os processos cognitivos, os pensamentos que o sujeito está tendo com base em como se comporta, é como se, ao saber o que passa pela cabeça de uma pessoa, nós pudéssemos traduzir seu comportamento. Para realizar este caminho é necessário seguir um protocolo estruturado que dê sustentação científica para o desenvolvimento deste trabalho. A TCC brinda-nos com um modelo rico em técnicas e estratégias que nos permite agir em relação aos comportamentos de uma pessoa, bem como intervir nas suas cognições por meio da compreensão de seus pensamentos automáticos (são pensamentos recorrentes, que surgem sem a pessoa esperar e ficam dando voltas, ruminando em sua cabeça), suas crenças (são ideias generalizadas que a pessoa tem de determinada situação, geralmente são rígidas, e muitas vezes a pessoa nem sabe que tem este tipo de crença, pois toma isso como uma verdade absoluta; as crenças determinam de alguma maneira as atitudes de uma pessoa, e a pessoa segue as regras das crenças) e emoções que influenciam a maneira como a pessoa percebe a realidade em que vive. Assim, quando há uma distorção nos pensamentos e crenças, ela poderá desenvolver quadros de transtorno de ansiedade, transtorno de humor (transtorno depressivo, transtorno bipolar), entre outros. Considera-se que pensamentos disfuncionais (pensamentos negativos) e crenças distorcidas interferem na saúde mental do sujeito (Beck et al., 2001). A TCC propõe treinar a pessoa para que ela aprenda a identificar e monitorar seus pensamentos, sentimentos, comportamentos e sintomas físicos, fazendo uma análise de como esta forma de perceber e interpretar situações são as responsáveis pelos conflitos internos e externos que se apresentam em sua vida. Dessa forma, a pessoa vai aprendendo a reconhecer os aspectos cognitivos que geram o problema e a agir contra eles por meio de questionamentos, ou seja, o indivíduo vai se perguntando: por que tive este pensamento? Onde eu estava? Com quem eu estava? Por que interpretei desta maneira? Poderia pensar a situação por um outro viés? Com estas questões, a pessoa vai detectando um padrão de funcionamento mental muitas vezes repetitivo, as contradições que surgem, as conclusões que tira sem nenhum fundamento, sem nenhuma evidência e que, de alguma maneira, perpetuam um estilo de pensar que influencia as suas vivências. No momento em que identifica seu padrão de funcionamento mental, abre-se a possibilidade de estabelecer objetivos de mudança e de buscar estratégias para enfrentar as situações que surgem na vida cotidiana e para solucionar qualquer problema que se apresente. Tais estratégias advêm de uma variedade de técnicas que são disponibilizadas pela TCC (Pereira & Rangé, 2001, p. 22): • psicoeducação; • identificação, avaliação e modificação de pensamentos automáticos e crenças; • identificação das distorções cognitivas; • controle de atividades e agendas; • utilização de cartões de autoajuda; • treinamento de habilidades, especialmenteda habilidade de solução de problemas; • realização de tarefas cognitivas e comportamentais entre sessões; • exposição hierárquica; • ensaio cognitivo; • dramatização; • exame de vantagens e desvantagens; • aprendizado do manejo do tempo. A terapia cognitivo-comportamental tem se mostrado altamente eficaz para tratamento e prevenção em monoterapia ou em combinação com medicação nos transtornos de humor, principalmente na depressão unipolar (Fava et al., 1998; Jarret et al., 2001). O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) (antes conhecido como psicose maníaco-depressiva) é uma oscilação de humor na qual a pessoa poderá apresentar episódios maníacos, hipomaníacos e episódio depressivo maior e traz uma série de consequências para quem padece. Caracteriza-se por uma instabilidade de humor, energia, motivação, cognição e atividade (Ally & Abramson, 2010). Surge com oscilações do humor que, aos poucos, vão interferindo na vida pessoal, familiar e social da pessoa, podendo causar diversos problemas, inclusive no âmbito laboral, levando a repercussões extremas, como gastos excessivos, envolvimento com jogos, drogas e sexo promíscuo. Um estudo (Merikangas et al., 2011) realizado com 61.392 adultos em 11 países, incluindo o Brasil, mostrou que a prevalência de TAB ao longo da vida é de 0,6% para o TAB do tipo I (BP-I) e 0,4% para o TAB-II; sua gravidade impacta em vários aspectos da vida; os padrões de comorbidade são similares aos níveis internacionais, e as necessidades de tratamento não são bem atendidas em países de baixa renda. Além disso, o TAB tem comorbidade com outras patologias, sendo o transtorno de ansiedade com ataques de pânico o mais comum, atingindo 3/4 das pessoas que sofrem de TAB. Merikangas et al. (2011) apontam também que a gravidade dos sintomas é maior nos episódios depressivos do que nos maníacos, com aproximadamente 74% dos entrevistados com depressão e 50,9% com mania, relatando comprometimento grave. O TAB está classificado como TAB tipo I e tipo II (American Psychological Association [APA], 2014). No TAB tipo I, ocorre uma oscilação entre episódios maníacos e episódios depressivos. Este é o tipo considerado mais grave, em razão da intensidade dos sintomas, por todas as consequências que podem acarretar o comportamento da pessoa neste período. Nos episódios maníacos, a pessoa começa a apresentar um jeito de ser diferente, eufórico, mais expansivo, demonstrando uma autoestima elevada, mania de grandeza, começa a dormir pouco, fala bastante, refere ter pensamentos bem acelerados, tanto que, ao falar, pula algumas palavras no seu discurso, distrai-se facilmente com qualquer situação, por menos importante que ela seja, e se envolve em situações de risco, como compras impulsivas que a levam a extrapolar o saldo bancário, pode se envolver em jogatinas que também consomem muito dinheiro, usa drogas e álcool desenfreadamente e coloca-se em risco, tendo relações sexuais com pessoas desconhecidas e sem uso de proteção contra IST (infecção sexualmente transmissível), podendo também chegar a ter delírios e alucinações. No TAB tipo II, ocorre uma oscilação entre episódios hipomaníacos e depressivos. Nos episódios hipomaníacos, a pessoa fica mais falante, mais sociável, mais disposta, com mais energia, às vezes demonstrando um pouco de irritabilidade, fica mais enfática ao falar, porém, esses sintomas são mais leves e não interferem tanto nas atividades diárias. No episódio depressivo, o paciente começa a manifestar uma tristeza, um vazio, uma falta de esperança que não sabe explicar de onde vem, e assim vai perdendo a motivação e o prazer de realizar tarefas simples, como preparar uma refeição, ir ao supermercado, reunir-se com a família e amigos, e aos poucos vai se entregando aos sintomas de tal forma que, a cada dia, fica mais difícil sair da cama. A pessoa sente-se inútil, incapaz, olha para os outros e não sabe explicar o motivo pelo qual já não se sente feliz. Apresenta alteração de apetite, podendo aumentar ou reduzir a ingestão de alimentos, o que leva à perda de peso e de energia, bem como vai afetando as funções cognitivas, como atenção, concentração e memória. Tudo isso leva a um grande prejuízo profissional, familiar, social e pessoal, pois a vida para esta pessoa perde o sentido, levando-a a entrar em risco de suicídio. Os episódios depressivos no TAB são sutilmente diferentes da depressão do transtorno depressivo maior, havendo um predomínio de sintomas físicos, como hipersonia, fadiga e apatia em comparação aos sintomas cognitivos. Portanto, técnicas voltadas para modificação de apenas no TAB 1 comportamentos durante episódios depressivos no TAB, como planejamento de atividades e uso de cartões de enfrentamentos, são mais eficazes (Mitchel & Malhi, 2005). Além destes episódios maníacos e depressivos, o TAB, dado que é um padrão de alteração do humor, interfere não somente na vida do indivíduo que padece, mas também atinge todo o sistema familiar e as relações que estabelece com seu entorno (Jurenal, 2001). Influencia nas relações sociais, nas relações de trabalho, nas relações com vizinhos, nas relações com qualquer pessoa com a qual se tenha contato, e isso se deve ao fato de a pessoa apresentar uma mudança repentina de humor, dependendo da situação à qual está exposta. Por sua vez, a dinâmica social abalada pelo transtorno bipolar do indivíduo também colabora para a desestabilização do quadro de humor, má aderência ao tratamento psicoterápico e farmacológico, fechando um ciclo de sofrimento que se mantém e que agrava a evolução do quadro. Inúmeros estudos já demonstraram a eficácia da intervenção familiar para a modificação do desfecho do transtorno, fazendo-os compreender e lidar melhor com os sintomas dos portadores do TAB (Reinares et al., 2002). Geralmente, a pessoa não pondera a situação e age com um padrão de comunicação violenta, muitas vezes agredindo verbalmente o seu interlocutor. Citamos aqui um exemplo: uma mulher de 45 anos, diagnosticada com TAB, foi à farmácia comprar uma medicação. O atendimento demorou um pouco mais do que ela esperava, e quando sua senha foi chamada, ela iniciou o diálogo com xingamentos à atendente, o que fez que o segurança do local tivesse que interferir e pedir que a cliente se retirasse do estabelecimento, ou chamaria a polícia. Casos parecidos com este são comuns entre quem padece de TAB, pois não ocorre um raciocínio lógico a respeito da situação, fazendo-os se sentir, frequentemente, injustiçados, como se as pessoas e o mundo estivessem contra eles, querendo enganá-los, fazê-los de bobos, roubá-los. Quando está em processo terapêutico, o indivíduo consegue se dar conta deste padrão de funcionamento, e juntamente com o terapeuta, vai aprendendo a analisar a situação, a parar e pensar sobre o que está acontecendo, aprende a controlar os impulsos, a controlar a raiva, enfim, a estabelecer estratégias de enfrentamento às situações que vivencia e aprender como reagir diante de cada uma delas. Pessoas que sofrem com o transtorno bipolar se questionam sobre os tipos de tratamento mais eficazes para controlar todos os episódios que vão oscilando ao longo do tempo. Os tratamentos utilizados são as medicações e as psicoterapias, sendo que, entre estas, a terapia cognitivo-comportamental tem sido a técnica mais escolhida por ser uma terapia estruturada, planejada, com foco e objetivos que levam tanto quem sofre de TAB quanto a família a se envolverem na busca do controle da sintomatologia. Durante um episódio de mania completo, em que há uma perda da conexão com a realidade (juízo crítico da realidade), as intervenções cognitivas (questionamento socrático, identificação e modificação de distorções cognitivas, p. ex.) parecem ser ineficazes ou efêmeras para o tratamento agudo do episódio; no entanto, parecem ser eficazes para a identificação precoce dos sintomas e a sua prevenção (Scott etal., 2006). Como o TAB se manifesta por meio de mudanças significativas na percepção, atitudes, personalidade, humor e cognição da pessoa que padece deste mal, fazem-se necessárias intervenções psicoterapêuticas que promovam um monitoramento do humor e das mudanças de vida (Goodwin & Jamison, 2007, p. 870). De acordo com Juruena (2012, p. 2), são objetivos da TCC no tratamento do transtorno bipolar são: 1. educar os pacientes a respeito do tratamento do transtorno bipolar e das dificuldades comuns associadas à doença (psicoeducação); 2. instruir os pacientes em relação a métodos para monitorar a ocorrência, a severidade e o curso de sintomas maníacos e depressivos; 3. facilitar a aderência aos regimes medicamentosos prescritos; 4. fornecer estratégias não farmacológicas, especialmente habilidades cognitivas, para dar conta de problemas cognitivos, afetivos e comportamentais associados a sintomas maníacos e depressivos. Os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos das pessoas com TAB estão interligados e se influenciam mutuamente, assim, quando ocorre uma mudança no humor e uma alteração no processo cognitivo, com início de depressão e hipomania, isso inevitavelmente influenciará o comportamento, podendo, se não for controlado, exacerbar os sintomas (Juruena, 2001). Além da terapia cognitivo-comportamental tradicional, outros estudos vêm sendo realizados em relação ao tratamento do TAB, incluindo a terapia cognitivo-comportamental focada em esquemas (Ball et al., 2003; Hawke et al., 2013) e a Terapia da Aceitação e Compromisso (Hayes & Strosahl, 2004; Pankowski et al., 2017; O’Donoghue et al., 2018). Em um dos estudos realizados para avaliar a eficácia da terapia de esquema na redução dos sintomas e no ajuste precoce de esquemas desadaptativos em pacientes com transtorno bipolar (Ghaderi et al., 2015), foi constatado que esta terapia, associada à medicação, pode ser eficaz na redução dos sintomas e no ajuste precoce dos esquemas desadaptativos, quando se usam protocolos regulares para terapia de esquema, acrescentando-os ao tratamento médico. A Terapia Cognitivo-Comportamental focada no esquema foi desenvolvida por Jeffrey Young na década de 1990. O objetivo foi realizar intervenções com pacientes que apresentavam distúrbios crônicos e complexos, como os de personalidade, e que não apresentavam melhora com intervenções convencionais ou tradicionais. Essa teoria combina a Terapia Cognitivo-Comportamental de Aaron Beck, a terapia do Apego de Bowlby, a terapia Gestalt e teorias psicodinâmicas, como a de Alexander e French (Young et al., 2008). O objeto de estudo e as intervenções da terapia do esquema concentram-se em esquemas desadaptativos que surgem na infância e levam à instabilidade das emoções e comportamentos autodestrutivos na idade adulta (Young, 2003). Os esquemas são um padrão amplo de como uma pessoa elabora sua visão do mundo, de si mesma e de outras pessoas, e como isso influencia os seus pensamentos e comportamentos. É composto de memórias, emoções e sensações corporais. Desenvolvem-se na infância ou adolescência, são elaboradas ao longo da vida do indivíduo e podem ser disfuncionais e causar muito sofrimento. De acordo com Hawke et al. (2013), o TAB é uma doença crônica e complexa e que traz características cognitivas e de personalidade que são estáveis e que complicam o curso da doença. A terapia do esquema no TAB pode trazer estabilidade emocional, atenuar a impulsividade e reduzir sintomas e melhorar a qualidade de vida. Os autores sugerem que sejam feitas algumas observações no uso da terapia do esquema com pacientes com TAB: que sejam utilizados por terapeutas experientes em terapia do esquema, e devem levar em consideração que o TAB é uma doença com fundo genético, é crônica e de difícil tratamento, o que requer um bom planejamento. Deve-se considerar que a manutenção da estabilidade do humor deve estar em primeiro lugar. Em virtude da vulnerabilidade deste público, é preciso monitorar constantemente o humor, ter cautela para que os esquemas não funcionem como gatilhos para desencadear sintomas afetivos e ter sempre em mente um protocolo de prevenção à recaída. É necessário um reconhecimento precoce dos sintomas de recaída, o gerenciamento das consequências e a continuidade do tratamento (Hawke et al., 2013). Já de acordo com a Terapia da aceitação e compromisso (ACT), o TAB resulta da intenção do indivíduo de querer escapar de um conjunto de experiências psicológicas doloridas para ele, e que o foco de intervenção não é sobre o sintoma em si, mas sobre a função do comportamento sintomático que serve como resposta da pessoa aos problemas da sua vida (Hayes & Strosahl, 2004). Na ACT, são utilizadas técnicas como psicoeducação, atenção plena, engajamento em comportamento baseado em valores, desfusão cognitiva, aceitação e prevenção de recaída (Pankowski et al., 2017). Enfim, existe uma variedade de estratégias e técnicas terapêuticas advindas tanto da terapia cognitivo-comportamental tradicional como da terapia cognitivo-comportamental da terceira onda, incluindo aqui a terapia dos esquemas e a ACT. Essas teorias têm um mesmo direcionamento central, que é psicoeducar o paciente em sua patologia, fazer o gerenciamento dos sintomas por meio de estratégias cognitivas e comportamentais, identificar vulnerabilidades, trabalhar aceitação do tratamento e da doença, para assim fazer um melhor manejo, aprender a expressar emoções, melhorar os relacionamentos interpessoais para construir uma vida mais saudável. ALGUMAS TÉCNICAS DE TRATAMENTO PSICOEDUCAÇÃO Esta técnica tem demonstrado ser extremamente eficaz no tratamento do TAB (Jabal et al., 2018; Costa et al., 2012; Knapp & Isolan, 2005), sendo utilizada como forma de motivar a pessoa a aderir ao tratamento. Trata-se de informar a pessoa e a família sobre os sintomas da TAB, esclarecendo como a oscilação de humor pode afetar a sua vida em todos os âmbitos (pessoal, familiar e social), as mudanças de hábitos necessárias para prevenir possíveis crises, os medicamentos mais utilizados e sua eficácia quando administrados de maneira adequada e sem esquecimentos, o prognóstico, as formas de tratamento. Goldman (1988) definiu Psicoeducação como a educação de uma pessoa que sofre com um distúrbio psiquiátrico e que atende aos objetivos de tratamento e reabilitação, por exemplo, melhorando a capacidade da pessoa na aceitação de sua doença, promovendo a cooperação ativa com tratamento e reabilitação, e fortalecendo as habilidades de enfrentamento, compensando, assim, as deficiências causadas pela desordem. Seguem aqui sugestões de questões que poderiam ser abordadas na psicoeducação: • O que é transtorno bipolar? • Quais os fatores que causam o transtorno? • Quais os sintomas da mania e hipomania? • Quais os sintomas de um episódio de depressão e dos episódios mistos? • Como o TAB evolui e qual o seu resultado? • Quais os tratamentos medicamentosos utilizados, os estabilizadores de humor, antidepressivos? • Quais os tratamentos psicoterápicos mais apropriados para cada caso? • Informar a importância do acompanhamento com psiquiatra para verificar o uso das medicações. • Explicar os riscos associados à suspensão do medicamento sem acompanhamento médico, bem como os riscos da associação da medicação com o uso de álcool e outras drogas. • Explicar os riscos de uma crise maníaca levar a pessoa a condutas promíscuas ou de exposição ao uso de álcool e drogas, bem como ficar dias fora de casa, perambulando pela rua. • Ensinar o paciente e a família a identificar precocemente os primeiros sinais dos episódios maníacos, hipomaníacos e depressivos. • Combinar que, ao primeiro sinal, a pessoa ou a família fará contato com o médico ou psicólogo. • Estabelecer um estilo de vida saudável em relação a alimentação, atividade física, padrão de sono, autocuidado em relação a pensamentos e crenças que possam desencadear umepisódio. • Ensinar técnicas de manejo do estresse e de solução de problemas, instrumentalizando a pessoa para desenvolver assertividade e habilidades na busca de estratégias e recursos para enfrentar uma possível crise. Faz-se necessário utilizar uma linguagem compreensível e adequada ao nível de escolaridade da pessoa, ou seja, o terapeuta transforma a informação científica em informação coloquial para que todos entendam o TAB e possam se engajar em benefício de quem padece deste transtorno. Sendo também importante estabelecer não apenas os objetivos, mas também prever os obstáculos e algumas estratégias para superá-los. Cabe também, nesta etapa, ensinar a pessoa e a família a identificar os sinais que anunciam a possível chegada de um episódio depressivo, maníaco, hipomaníaco ou misto. Entre os sinais mais visíveis estão as alterações no sono, mudanças nos níveis de atividade, oscilações no grau de impulsividade sexual. Vale ressaltar que cada pessoa apresentará um tipo de sinal diferente, e aí está a importância da observação constante do comportamento de cada um para aprender a identificar a tempo de não desencadear uma crise mais grave, podendo, assim, antecipar-se ao fato e fazer uma intervenção imediata, como mudança na dose de medicação, uso de técnicas psicoterápicas. PLANEJAMENTO DIÁRIO DE ATIVIDADES Quando a pessoa está na fase depressiva ou maníaca, muitas vezes ela sente dificuldade em desenvolver as atividades do seu cotidiano, assim, elaborar um planejamento diário de atividades, equilibrando atividades de domínio e prazer, a ajudará a observar e a priorizar as tarefas mais importantes a serem realizadas (Saffi, Abreu, & Lotufo Neto, 2001). Com isso, o paciente aprende a organizar seu dia, diferenciando o que pode do que não pode ser adiado. Essa tarefa também ajuda muito a limitar o excesso de estímulo que vem do próprio comportamento. Pessoas com TAB apresentam comportamentos excessivos, como agitação sexual, jogo patológico, uso de substâncias, compulsão alimentar, compulsão por compras, entre outros. Com base nesse conhecimento, é de fundamental importância que ela aprenda a controlar sua impulsividade. Pessoas com transtorno bipolar tendem a minimizar os riscos quando estão em euforia e mania, dessa forma, é importante pensar algumas estratégias de contenção para evitar consequências negativas das quais ela possa se arrepender. Nesse sentido, ensinar a avaliar a situação, ou seja, parar, pensar e adiar qualquer decisão importante que possa colocar em risco sua estabilidade e atos cujas consequências serão difíceis de desfazer. A título de exemplo: uma paciente, na fase maníaca, comprou um carro de luxo e uma semana depois, passada a crise, arrependeu-se do negócio que havia realizado, porém, não teve mais como voltar atrás, pois tinha pagado à vista o bem adquirido. Cabe salientar que muitos pacientes escondem de seus terapeutas as ideias que têm de comprar alguma coisa ou de ter algum comportamento diferente, ou mesmo deixa de comparecer às sessões por algumas semanas, o que também é um indicativo de que algo anda errado. Seria importante transmitir a ideia de que “se quero tomar uma decisão agora, neste momento, isso significa risco e que será importante aguardar pelo menos uma semana para ver se a ideia segue a mesma”. Isso certamente prevenirá comportamentos como desperdiçar dinheiro em um negócio mal pensado, evitará a promiscuidade sexual ou situações de perigo em razão da instabilidade do humor. IDENTIFICAR CRENÇAS E PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS Torna-se fundamental no tratamento do TAB identificar as crenças e os pensamentos que a pessoa tem a respeito da sua patologia e de tudo o que envolve o processo do tratamento, assim, é importante trabalhar e reestruturar as cognições. É indispensável treinar os pacientes no monitoramento dos seus pensamentos, pois estes podem estar anunciando a chegada de um episódio depressivo (ex.: pensamentos de inutilidade, desvalorização pessoal, superestimação), em que a pessoa apresenta uma visão pessimista de si mesma, dos outros, do futuro, o que poderá colocá-la em risco de suicídio ou de um episódio maníaco ou hipomaníaco (pensamentos de grandiosidade, exagerado otimismo, expectativas positivas quase irrealistas, minimização de riscos, superestimando suas próprias capacidades acima das possibilidades reais) (Lotufo Neto, 2004; Juruena, 2001). Em ambos os casos, as estratégias da Terapia Cognitiva são muito úteis. É importante treinar a pessoa na identificação, monitoramento e mudança de seus pensamentos automáticos e intrusivos antes que ela apresente a crise, pois, desse modo, terá maiores chances de usar esta ferramenta nos momentos mais críticos do TAB. Juntamente com os conteúdos cognitivos, é importante treiná-la nos processos de atenção para que melhore sua capacidade de concentração e possa tomar a decisão mais adequada naquele momento, podendo fazer uso de estratégias como a autodeclaração, autoinstrução para solucionar qualquer situação-problema e o mindfulness. MINDFULNESS BASEADO NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL Estudos vêm sendo realizados sobre o mindfulness com pacientes bipolares e mostraram uma redução tanto da ansiedade quanto dos sintomas da depressão no TAB (Williams et al., 2008; Miklowitz et al., 2009). O mindfulness é uma técnica que está sendo utilizada na terapia cognitivo-comportamental como coadjuvante no tratamento de várias patologias, entre elas, o transtorno bipolar. Com o mindfulness, a pessoa aprende a regular suas emoções. É uma técnica para desenvolver a atenção plena, ou seja, tem-se como objetivo chegar a um estado de atenção dirigido ao momento presente. Ao treinar atenção plena, a pessoa começa a observar as situações as quais vivencia com um olhar mais profundo, concentrada no que está acontecendo consigo e ao seu redor, e com isso passa a perceber seus pensamentos, suas sensações físicas e as emoções no exato momento que elas estão ocorrendo, evitando reagir como fazia antes do aprendizado da técnica. A pessoa vai mudando aquele hábito que era automatizado, pois vai se conscientizando dele. Na medida em que vai se familiarizando com a técnica e colocando-a em prática no seu dia a dia, vai aprendendo a valorizar mais sua forma de ser, o mundo a sua volta, a pensar mais positivamente, vai pensando sobre o que lhe acontece e, assim, vai desenvolvendo a habilidade de lidar e enfrentar melhor os problemas do cotidiano. Outro estudo mostrou que ocorreram melhorias significativas no funcionamento das funções executivas, memória e capacidade de iniciar e concluir tarefas (Stange et al., 2011). Saffi et al. (2001, p. 382) indicam o uso das seguintes técnicas para monitorar os sintomas no transtorno afetivo bipolar: Mapeamento da vida: ensinar o portador do TAB a identificar o curso da doença, anotar os momentos em que surgem sinais que podem indicar o início de um episódio de (hipo)mania ou depressão, quando acontece cada uma delas, sua intensidade, quanto tempo dura. O paciente também pode anotar os fatores estressantes que podem ter desencadeado a mania ou depressão e como ele avalia a efetividade do tratamento. Folha de resumo dos sintomas: o paciente monitora e anota todos os sintomas que ele e a família percebem a respeito das mudanças no seu humor. Este monitoramento permite que se identifique uma possível recaída para evitar crises e internações. Gráfico do humor: neste gráfico, o paciente vai anotando como está seu humor durante o dia, se ocorrem mudanças, em que momento, e como isso pode estar influenciado pelo pensamento e que comportamentos apresenta. Realizando esta atividade, ele poderá identificar a necessidade de ajuda do profissional a fim de evitar crises. Afetivograma: elaborado pelo psiquiatra e/ ou pelo terapeuta, o método solicita que se façam as anotações sobre as medicações utilizadas, os sintomas apresentados e as modificações que a medicação produziu.Também podem ser anotadas situações vivenciadas pelo paciente, pois assim se tem um panorama geral da evolução clínica. Importante lembrar que, quando uma pessoa entra em estado de depressão, hipomania ou mania, é comum que elas abandonem as atividades que estão voltadas aos seus valores e se comportem de maneira muito diferente, levando a prejuízos pessoais, materiais, relacionais, entre outros (Gergel & Owen, 2015). Levando isso em consideração, torna-se importante colocar o foco no trabalho desenvolvido pela ACT. Ela não tem como objetivo mudar pensamentos ou livrar-se de sentimentos e emoções desconfortáveis, ao contrário, a terapia propõe que a pessoa entre em contato com eles e aprenda a se relacionar com eles de maneira diferente. Para a ACT, existem algumas importantes mudanças que o indivíduo deve empreender em seu caminho da melhora emocional, cognitiva e comportamental, e isso está baseado na chamada “flexibilidade psicológica”, isto é, aprender a direcionar a atenção para o momento presente, abrindo-se para uma vivência completamente diferente do que já teve, direcionando a atenção e interesses e indo ao encontro de seus valores, mesmo que surjam desafios no caminho. A flexibilidade psicológica promove a adaptação do ser humano às diversas situações provocadoras de desconforto e mantém o sujeito com o foco nos seus valores. São seis os processos (modelo Hexa-flex) que a ACT trabalha para aumentar a flexibilidade psicológica (Hayes et al., 2021; Luoma et al., 2022): 1. Desfusão cognitiva: capacidade da pessoa de se afastar de seus pensamentos, em vez de ficar enredada neles. 2. Aceitação: capacidade de abertura para as emoções, sensações e outras experiências difíceis. 3. Valores: saber o que é importante para si mesmo e agir de maneira consistente com o tipo de pessoa que se é e deseja ser nas diferentes esferas de sua vida. 4. Self como contexto: capacidade de abrir a mente para além das histórias que ela conta sobre você, permitindo-se ver a situação de outra perspectiva mais abrangente e flexível. 5. Atenção flexível ao momento presente: estar consciente do aqui e agora, das vivências no momento presente e conseguir se manter neste estado. 6. Ação (comprometimento): comprometer-se com ações que estão relacionadas aos próprios valores. A Terapia da Aceitação e compromisso (ACT) incluirá em seu trabalho a técnica de psicoeducação dos pacientes a respeito do sono, de como ocorrem os episódios de mania, os episódios de depressão, de como lidar com o estresse, bem como dará informações a respeito da importância do uso das medicações. Além disso, desenvolverá um trabalho terapêutico que promova a melhoria das relações interpessoais, familiares e sociais. Para O’Donogue et al., (2018), o terapeuta também deverá direcionar o trabalho, focando no desenvolvimento de habilidades por parte do paciente para que este responda aos sintomas da doença, usando técnicas como a atenção plena e as estratégias de prevenção à recaída. Prevenção de recaídas: esta é uma estratégia que deve estar constantemente monitorada tanto pelo terapeuta quanto pelo cliente, pois é uma maneira de prevenir que o TAB se torne recorrente. Também colabora para que o paciente aprenda a reconhecer possíveis desencadeadores das crises, seja por meio de sintomas, de gatilhos internos (um pensamento) ou externos (possíveis situações estressantes como um conflito familiar). Como refere Barlow (2016), o objetivo da prevenção à recaída é poder reconhecer os enredos da mente e as possíveis situações de risco. A terapia cognitivo-comportamental, por ser direcionada ao monitoramento de pensamentos, crenças, emoções e comportamentos, bem como por treinar o cliente na solução de problemas, por si só já direciona para a prevenção à recaída (Wright et al., 2008). No tratamento do TAB, há a confluência de abordagens médicas e psicológicas, sendo que os resultados de estudos sobre eficácia apoiam fortemente essa integração e mostram sua eficácia quando combinadas (Gonzalez et al., 2014; Feeny et al., 2006). A qualidade de vida de uma pessoa com transtorno bipolar é claramente superior quando medicada, e quando recebe terapia cognitivo-comportamental, ela não só terá menos episódios de oscilação de humor, mas, quando eles inevitavelmente aparecerem, serão rapidamente reconhecidos, com curta duração e intensidade. O conjunto de técnicas e estratégias para colaborar no tratamento de uma pessoa que sofre com o Transtorno Bipolar é vasto (Knapp & Isolan, 2005). A escolha de quais serão as técnicas e estratégias a serem utilizadas vai depender de alguns fatores, como o tipo do TAB, a complexidade e as características específicas de cada caso. Vale lembrar que embora o transtorno seja o mesmo, a pessoa que padece dele tem suas próprias especificidades, é um ser único com pensamentos, sentimentos, crenças, comportamentos que diferem umas das outras, cada um tem sua própria personalidade, seu próprio jeito de ser, está inserido em um contexto familiar que tem sua própria cultura e funcionamento. É importante também avaliar a rotina e os hábitos de cada um, incentivando a buscar atividades saudáveis, como a prática de atividade física, o cuidado com a alimentação, atividades de lazer que incluam família, amigos e fomente a participação e o desenvolvimento de relações interpessoais que colaborem para o bem-estar subjetivo de cada um. Tudo isso deve ser levado em consideração no ato da avaliação diagnóstica, pois, assim, o tratamento será direcionado especificamente para aquele “Ser” em sofrimento. CONCLUSÃO A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado extremamente eficiente no tratamento do TAB. As técnicas utilizadas na TCC para pessoas que apresentam o transtorno bipolar promovem a identificação dos sintomas (p. ex.: um pensamento disfuncional negativo que servirá de gatilho para um comportamento agressivo) com a antecedência necessária para poder implementar as próprias estratégias para o enfrentamento das situações que surgem no seu cotidiano, evitando, dessa forma, o desencadeamento dos sintomas num grau de intensidade que seja difícil de ser manejado. Cabe aqui ressaltar a importância do envolvimento dos familiares e dos cônjuges do paciente com TAB no processo do tratamento, tendo estes, como função, amparar, assessorar, apoiar e contribuir no êxito da implementação de uma psicoterapia, bem como da tomada medicamentosa. Para a TCC, os pensamentos têm um papel importante no desencadeamento de comportamentos impulsivos e agressivos, o que poderá levar a uma instabilidade do quadro clínico. Com isso, a TCC tem como objetivo reestruturar a forma de perceber e interpretar as situações e fatos vivenciados pelo sujeito. Ressalta-se aqui que as situações que desencadeiam os sintomas podem não ser externas, mas ser criadas na esfera dos pensamentos e que levam a pessoa a acreditar no que está pensando. Assim, é preciso ampliar ou modificar a forma como a pessoa interpreta a realidade, ajudando-a a ressignificar crenças a respeito de si mesma, dos outros e do mundo. Também se faz necessário aprender a ter controle das emoções, treinar habilidades para poder solucionar possíveis problemas que possam surgir. Tudo isso faz parte de um processo de mudança que se estabelece durante o desenvolvimento do tratamento e que promove um novo jeito de se conduzir diante do mundo que o rodeia. REFERÊNCIAS Ally, L. B., & Abramson, L. Y. (2010). The role of the Behavioral Approach System (BAS) in bipolar spectrum disorders. Current Directions in Psychological Science, 19(3), 189-194. 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CAPÍTULO 4 O USO DA PSICOFARMACOLOGIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR Flavia Marchiori Cristelli Sabendo que Transtorno Afetivo Bipolar é uma condição crônica, recorrente e que comumente se apresenta com remissão incompleta entre os episódios, faz-se necessário o uso de múltiplas estratégias de tratamento, incluindo os psicofármacos (Cardoso et al., 2013; Cuellar et al., 2005; Stahl, 2014). A abordagem farmacológica para controle de sintomas agudos, manutenção de tratamento e prevenção de novos sintomas do Transtorno Afetivo Bipolar utiliza vários tipos de fármacos conhecidos como estabilizadores de humor, além de outros da classe dos anticonvulsionantes, bem como antipsicóticos atípicos (Correll, 2010; Goodwin, 2009; Sachs et al., 2007). É umtranstorno complexo, que se apresenta de maneiras diferentes em cada indivíduo e, por essa razão de fundamental importância, o acompanhamento regular com médico psiquiatra e apoio farmacológico faz-se necessário. Inicialmente, quando da primeira avaliação do paciente, é necessária uma investigação minuciosa dos medicamentos que estão sendo utilizados, bem como os fármacos que já foram utilizados em episódios prévios. É necessário investigar a presença de fatores que possam estar desencadeando ou perpetuando sintomas, como o uso de outros fármacos, abuso de drogas e doenças clínicas. Ao pensar em medicar, o paciente deve ser avaliado quanto ao risco de heteroagressividade, de exposição moral e risco de suicídio (Stahl, 2014). Além disso, a realização de exame físico com investigações laboratoriais deve ser efetuada, todavia, pode ser adiado para pacientes que não cooperam. Os resultados da avaliação geral devem ser usados para estabelecer o ambiente de tratamento mais apropriado, seja hospitalar, seja ambulatorial, bem como as terapêuticas a serem utilizadas (Stahl, 2014). Entre diversas propostas para tratamento de transtorno afetivo bipolar, a Diretriz da Rede Canadense para Tratamento de Transtorno de Humor e Ansiedade, notoriamente conhecida pela sigla CANMAT (The Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments), tornou-se referência, no meio acadêmico, desde sua primeira edição em 2001. Dessa forma, optamos por basear as informações deste capítulo na última atualização do CANMAT de 2018 (Yatham et al., 2018). Para fins didáticos, podemos subdividir a abordagem farmacológica conforme a apresentação clínica do transtorno: tratamento de episódio maníaco e hipomaníaco; tratamento de episódio depressivo grave, moderado e leve; tratamento de episódio misto; refratariedade e manutenção (para manter-se em remissão dos sintomas) (Dell’Osso et al., 2009). Além disso, o CANMAT propõe uma hierarquização para a utilização das medicações, que é basicamente dividida em primeira e segunda linhas de utilização (ou seja, de escolha terapêutica). Os tratamentos podem ser tanto em monoterapia (com um único fármaco) quanto em terapia combinada (associação de fármacos). Essa escolha será feita pelo profissional psiquiatra que atende o paciente. Na manutenção de tratamento, a escolha da medicação é, primeiramente, determinada pelo fármaco utilizado na contenção dos sintomas agudos; porém, pode ser substituída se houver necessidade (levando em consideração adesão e tolerabilidade). Nas últimas décadas, mais atenção e relevância tem se dado às avaliações de qualidade de vida durante o tratamento do transtorno afetivo bipolar, uma vez que a interpretação de má qualidade de vida compromete as percepções dos pacientes sobre seu mundo como sobre suas expectativas pessoais e profissionais, prejudicando, assim, a adesão bem como a resposta ao tratamento. Desse modo, a associação de psicoterapia ao tratamento medicamentoso auxilia o paciente na melhora da qualidade de vida e evita percepções distorcidas. Há evidências de que o Transtorno Afetivo Bipolar, quando não controlado, apresente flutuações de humor mais frequentes, mais graves e menos reativas aos medicamentos à medida que o tempo passa, tornando, assim, fundamental uma abordagem inicial adequada visando um melhor prognóstico (Cipriani et al., 2011). REFERÊNCIAS Cardoso de Almeida, J. R., & Phillips, M. L. (2013). Distinguishing between unipolar depression and bipolar depression: Current and future clinical and neuroimaging perspectives. Biological Psychiatry, 73(2), 111-118. Cipriani, A., Barbui, C., Salanti, G., Rendell, J., Brown, R., Stockton, S., Purgato, M., Spineli, L. M., Goodwin, G. M., & Geddes, J. R. (2011). Comparative efficacy and acceptability of antimanic drugs in acute mania: A multiple-treatments meta-analysis. Lancet, 378(9799), 1306-1315. Correll, C. U., Sheridan, E. M., & DelBello, M. P. (2010). 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D., Ostacher, M. J., Ketter, T. A., Patel, J., Hauser, P., Rapport, D., Martinez, J. M., Allen, M. H., Miklowitz, D. J., Otto, M. W., Dennehy, E. B., & Thase, M. E. (2007). Effectiveness of adjunctive antidepressant treatment for bipolar depression. The New England Journal of Medicine, 356(17), 1711-1722. Stahl, M. S. (2014). Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações práticas. Guanabara Koogan. Yatham, L. N., Kennedy, S. H., Parikh, S. V., Schaffer, A., Bond, D. J., Frey, B. N., Sharma, V., Goldstein, B. I., Rej, S., Beaulieu, S., Alda, M., MacQueen, G., Milev, R. V., Ravindran, A., O’Donovan, C., McIntosh, D., Lam, R. W., Vazquez, G., Kapczinski, F., McIntyre, R. S., ... & Berk, M. (2018). Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT) and International Society for Bipolar Disorders (ISBD) 2018 guidelines for the management of patients with bipolar disorder. Bipolar Disorders, 20(2), 97-170. CAPÍTULO 5 MINHA HISTÓRIA COM O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR M. A. A. O transtorno bipolar é um transtorno mental, uma oscilação de humor que se manifesta entre a euforia e a depressão. Na grande maioria das vezes, precisa ser tratado com medicamentos. A pessoa, sem o surto, está normal, pode trabalhar, estudar e fazer tudo o que as outras pessoas fazem, mas existe uma diferença que percebo, acredito que pessoas que sofrem de bipolaridade são discriminadas por serem portadoras de um distúrbio mental. Sou uma pessoa muito sensível, pois, às vezes, magoo-me facilmente, e quando magoo outras pessoas, fico muito para baixo. Mas nunca tive problemas em aceitar o fato de ser uma pessoa portadora de distúrbio mental. A minha família me ajudou muito, teve paciência comigo, especialmente nos momentos em que eu ficava mais agressiva e não queria ver ninguém. Hoje, tenho certeza de que não estaria tão bem se não tivesse contado com essa ajuda e o acompanhamento de bons profissionais de saúde mental. Durante quatro anos, fiz parte de um grupo de autoajuda, cuja proposta era auxiliar os portadores de doença mental a ter uma melhor aceitação da doença, compreender como se manifesta para poder evitar novas crises, procurando ajuda a tempo. Tinha por objetivo também estimular o crescimento pessoal e propor mudanças de atitude diante da doença, dos tratamentos e do relacionamento familiar. Percebi, nessa experiência, a dificuldade das famílias para compreender a doença bipolar e o esforço dos próprios pacientes de se adaptarem a ela. A seguir, relato um pouco de minha vivência com o Transtorno Bipolar. A primeira crise e, anos depois, uma nova crise, um pouco diversa da anterior. Importante salientar que, desde o primeiro diagnóstico da doença, permaneci em acompanhamento com Médico Psiquiatra, mas somente na segunda crise passei a contar com acompanhamento também de Psicóloga. Todos os profissionais que me acompanharam nessa trajetória contribuíram muito para minha aceitação e compreensão da doença e da importância da manutenção do tratamento, paraque o Transtorno Bipolar passasse a ser algo com o qual hoje eu conviva com tranquilidade. SÍNDROME DO PÂNICO Meus pais viveram mais de 40 anos no interior do estado. Em certo momento, um de meus irmãos decidiu trazê-los para viver aqui mais perto dos filhos, e na ocasião, não apoiei a decisão por sentir que algo de ruim poderia lhes acontecer. Minha preocupação era de que não se adaptassem, e temia, especialmente, por minha mãe, uma pessoa sempre muito ativa e independente. Meses depois da mudança deles, ela foi atropelada e faleceu. O impacto dessa perda desencadeou crises de ansiedade cada vez mais intensas, que culminaram no processo da doença que descrevo a seguir. No começo, as crises eram leves e depois se intensificaram, a ponto de ter sintomas como falta de ar e sensação de aperto no coração. Eu fumava maconha na época, e quando comentava o que sentia com os amigos, que também fumavam, eles diziam que era normal, pois também tinham a sensação de que todos que olhavam para eles percebiam que estavam chapados. Mas eu explicava que o que eu sentia era muito forte, então, com o tempo, começou a aumentar. Quando saía de casa, por exemplo, já a caminho do ponto de ônibus, começava a me sentir mal e, muitas vezes, precisei voltar para casa. Dentro do ônibus, sentia que ia morrer sufocada, era como se não conseguisse bombear oxigênio para o coração. Sentia muita dor no peito e ansiedade; se alguém olhasse para mim, já começava a falta de ar e tinha que respirar profundamente. Acreditava que as pessoas até ouviam a minha respiração, então o coração disparava. Cheguei a ter a capacidade de, algumas vezes, desembarcar antes do local desejado. Em outras ocasiões, procurei o Pronto Socorro, relatei que era bipolar e cheguei até mesmo a discutir com uma médica. Pedi a ela que, conforme meu antigo médico havia me orientado, verificasse a pressão arterial e auscultasse o coração. Quando relatei que sentia o coração pular no meu peito, como se quisesse saltar para fora, dentre outros sintomas mesmo não acreditando em mim, ainda assim ela media meus batimentos e verificava minha pressão e estes estavam sempre normais. Mesmo dizendo que eu estava bem, ela media minha pressão e verificava meus batimentos, os quais sempre estavam normais. Acredito que pelo fato de estar em um hospital e me sentindo protegida, eu já melhorava, mas os sintomas voltavam assim que eu chegava em casa. Nesta época, também sofria de insônia. Cheguei a ficar praticamente um mês sem dormir direito; às vezes, passava a noite toda acordada. Falava para as pessoas, mas sentia que ninguém dava importância. Até que, um dia, um familiar sugeriu que eu procurasse uma profissional para fazer acupuntura, pois me ajudaria com a ansiedade. Permaneci em tratamento por, aproximadamente, dois anos, e aos poucos consegui me sentir melhor, até que cansei e desisti do tratamento. Cerca de um mês depois, tive o surto. Ó O SURTO PSICÓTICO Percebo que os surtos dos bipolares e esquizofrênicos são muito parecidos. No meu caso, comecei com insônia. Fiquei uma semana ou mais sem vontade de comer; só comia maçã, palmito e tomava suco de laranja, mas, com o passar dos dias, tudo o que comia eu vomitava; às vezes, acabava de tomar o suco e tinha que correr ao banheiro. Comentava com as pessoas que já fazia tempo que não dormia, e que o que comia vomitava, mas não sentia fraqueza nem sono. Sentia que elas não acreditavam. Anos mais tarde, mesmo em tratamento, quando tive o segundo surto, estava novamente há muitos dias sem dormir. Antes de surtar, a minha insônia já não me incomodava mais, já que, mesmo com medicação, a qualidade do meu sono não melhorava. DELÍRIOS Compartilharei alguns delírios, os quais experienciei durante minha vivência com o Transtorno Bipolar. • Sangramento: havia terminado o período da minha menstruação, mas me via sangrando como se fosse hemorragia. Sentia que ia morrer naquele dia, pois aquilo que estava vendo era o meu corpo se purificando para a morte. Nesses momentos, pensava na minha mãe sangrando e que ela também havia passado por esse processo de purificação, pois faleceu a caminho de uma igreja onde iria assistir a uma missa. • Anjo: às vezes, eu acreditava que era um anjo, o “Espírito Santo”. • Reencarnação: em alguns momentos, acreditava que eu era a minha mãe já falecida, reencarnada. Em outros, acreditava ser um amigo que havia falecido, recentemente reencarnado. Alguns dias depois de ir à missa de sétimo dia dele, sentia que ele estava incorporado em mim. Eu não fumava cigarros, mas fumava maconha. E como meu amigo fumava muito cigarro, comecei a fumar compulsivamente e dizia que era por causa dele. Sentia que o meu corpo ficava gelado, enfim, eu sentia a presença dele. • Previsão de morte: acreditava que alguém iria morrer, porque eu via uma pessoa em estado de putrefação, em uma maca de hospital, e ficava muito confusa, sem saber quem era essa pessoa. Às vezes, via-me flutuando fora do meu corpo. • Sentimento de prazer: durante a fase do surto, tive um grande sentimento de prazer. Estava voltando do médico e meu acompanhante parou em uma farmácia para comprar os remédios. Era época de Natal e tudo estava enfeitado, a minha audição ficou muito distante e sentia a brisa do ar, que era muito agradável, e tive a sensação de estar em outra dimensão. Quando o delírio estava passando, eu ligava para minha irmã e dizia, por exemplo, que o “Espírito Santo” já tinha ido embora, pois eu o sentia saindo do meu corpo. Nestes momentos, eu pedia que ela viesse ficar comigo. • No segundo surto psicótico, minha audição se alterava e ouvia muitos zumbidos. Além disso, meu olfato também foi afetado, pois sentia cheiro de podre em tudo e todos. Novamente, estava sem dormir, desta vez, já há mais de mês, e delirava a noite inteira com espíritos e possessões. • Durante o dia, nos primeiros dias do surto, eu tinha mais alucinações sinestésicas – sensações físicas de que meus órgãos internos estavam ficando maiores do que são de verdade. Tinha sensação de febre nos órgãos internos, e quando abria a boca, via sair um vapor de dentro de mim, era como se todos os meus órgãos estivessem cozinhando. • Havia um apartamento abaixo do meu que estava vazio e fechado. Eu escutava barulhos vindo de lá, em qualquer lugar da casa que estivesse, fosse no quarto ou na sala, eles me seguiam. Os barulhos eram característicos de chicotadas no teto. Eu acreditava que era a falange dos espíritos obsessores que queriam entrar na minha casa para sugar minhas energias e ficavam reunidos lá. Não gostava nem de abrir a porta; se abrisse, tinha que fechar logo para eles não entrarem. Eu sentia uma energia pesada no corredor, tinha medo. • Acreditava que algumas coisas aqui em casa tinham uma energia ruim, e eu tinha que me desfazer, assim, quebrei e joguei tudo fora; acreditava que havia espíritos obsessores e que eu tinha que manter tudo muito limpo, como os ralos da casa. Eu ficava jogando água fervente nos ralos, limpando muito a casa para me livrar dos obsessores, pois eles gostavam de sujeira. A minha casa nunca esteve tão limpa! • Quando olhava pela janela para fora de casa, enxergava tudo cinzento, sentia o ar pesado, talvez por estar muito tempo sem dormir, mas não tinha essa consciência. Acendi muitas velas, rezei muito, li passagens da Bíblia tentando me libertar daqueles espíritos que acreditava estarem em minha casa. CENAS DE IMAGINAÇÃO • Poderes telepáticos: pensava que tinha poderes telepáticos. Estava fazendo autoescola e acreditava que tudo o que eu estava sentindo o meu instrutor também sentia. Eu tinha que salvá-lo, e ficava tentando, telepaticamente, já que tinha esse poder. • Megalomania: a mania de grandeza foi boa, pois não tinha noção do que fazia ou dizia. Boa, maneira de dizer, porque a pessoa neste estado acredita que é um ser poderoso, que pode resolver todos os problemas. Porém, quando começamos a voltar à realidade, éangustiante, a gente fica com a sensação de cabeça oca, vazia; é como se tivesse dado um curto-circuito no cérebro. Acreditava que nunca mais iria sorrir, curtir a minha família e amigos, enfim, pensava que não ia sentir prazer mais em nada. • Morte: pensamentos de morte com relação a minha acupunturista. Acreditava que tudo aquilo era um preparo para, quando ela morresse, eu ficar cuidando do seu filho e o pai do filho dela, que era o instrutor da autoescola (delírio). Os pensamentos ficaram tão rápidos que não conseguia interpretá-los direito. • Ser outras pessoas: às vezes, acreditava que eu era um personagem importante, principalmente ligado à política. Às vezes, pensava que eu era meu pai, depois eu era meu irmão caçula. • Personagens de televisão: dei personagens para toda a minha família, principalmente personagens de televisão. • Cura da Aids: então tive uma previsão (por meio de muitos cálculos feitos de cabeça) de que a cura da Aids sairia em quatro anos e meio. • Às vezes, deitava no sofá e sentia como se o meu sangue começasse a circular em volta do meu corpo, iniciando no centro da minha cabeça e fazendo o contorno certinho do meu corpo, como se uma criança pegasse uma caneta e contornasse as extremidades do meu corpo. OBSERVAÇÕES FINAIS Como já mencionado, não tive problemas em aceitar a doença, embora questionasse o motivo de ter acontecido comigo. Nas fases em que estive mais deprimida, acreditava que nunca mais iria sorrir, curtir a minha família, meus amigos, enfim, pensava que não sentiria prazer mais em nada. Muitas vezes, questionava meus próprios sentimentos. Sozinha em casa, chorava muito, pedindo a Deus que me ajudasse. Não via sentido na vida e não me sentia digna de receber amor, e por esses motivos, algumas vezes pensei em desistir de viver. Com o acompanhamento psiquiátrico, aprendi que a medicação é minha melhor aliada, pois com ela é possível controlar os sintomas. Também entendi a importância do acompanhamento regular para diagnosticar e evitar a polarização do humor, bem como identificar precocemente as fases que se alternam, com intervalo de tempo maior ou menor, a depender das experiências que vivo. A terapia, por outro lado, ajudou-me a me conhecer, compreender minha história de vida e dar um novo significado a ela. Conhecendo-me melhor, passei a valorizar mais as minhas necessidades pessoais, adaptar meu perfil de trabalho a uma organização em que me sinto confortável, e aceitar quem sou, como sou e como quero viver. Depois de tantos anos, ainda estou aprendendo, porém, a minha vida já melhorou bastante. Às vezes, tenho meus momentos de tristeza, agitação ou irritabilidade, mas, como tento entender cada vez mais o meu problema, fica mais fácil identificar quando é um sintoma passageiro e normal ou quando persiste, e tenho que procurar ajuda antes da próxima consulta. Hoje estou bem, faço uso de uma medicação apenas para manter o humor mais estável, e há vários anos não ocorrem mudanças significativas de humor. CAPÍTULO 6 CONSTRUINDO POSSIBILIDADES: FAMÍLIA E PACIENTE NO ENFRENTAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR Maria da Penha A. Campos de Almeida Kato Solange Regina Signori Iamin INTRODUÇÃO Os transtornos afetivos sempre trouxeram muito sofrimento ao ser humano. Até a década de 1980, entendia-se que o indivíduo portador de doença mental deveria ser afastado de sua família e internado em hospitais de longa permanência para tratamento. Assim, à família restava apenas o papel de delegar esse cuidado (Moreno & Alencastre, 2003 in Borba et al., 2011). Hoje, ao contrário, a família é considerada indispensável no apoio ao convívio familiar, social e profissional do portador doença mental, situação que pode significar, para muitas famílias, um enorme desafio (Borba et al., 2011). Entre os transtornos afetivos mais importantes temos o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) (I e II), que pode se apresentar com oscilações de humor, ora tendendo para sintomas maníacos e depressivos, ora para sintomas hipomaníacos e episódio depressivo. Mas, independentemente da caracterização do tipo de transtorno, o importante é levar em consideração o sofrimento causado para quem padece e para quem convive com um familiar que apresenta o transtorno afetivo bipolar. O TAB pode tornar-se incapacitante quando não for bem diagnosticado e tratado, trazendo uma série de conflitos familiares, dificuldades de se engajar em um trabalho e de ter bons relacionamentos com colegas e amigos. Muitos pacientes sentem dificuldade em aceitar que têm um transtorno, pensam que é seu jeito de ser e, por isso, acabam não buscando uma avaliação psiquiátrica e psicológica para poder entender pelo que estão passando. À medida que o tempo vai passando, o transtorno vai se agravando, e a pessoa poderá apresentar crises de pânico, ter insônia, apresentar agitação, ficar mais falante, envolver-se em situações de risco, sentir o pensamento acelerado e até chegar a um surto, apresentando delírios e fantasias que já não correspondem à realidade vivenciada. Nos episódios de mania, por exemplo, o comportamento agressivo apresenta-se como uma barreira para a relação familiar, em que a conduta impulsiva pode gerar riscos físicos e prejuízos morais para os familiares, ao passo que, nos episódios de depressão, podem prevalecer sintomas como choro, isolamento social, alteração no apetite e sono. Essas oscilações ocasionam para o cuidador um desgaste emocional e uma sobrecarga importante que podem se refletir na relação com demais familiares (Vasconcelos et al., 2020). Estes sinais e sintomas são os que geralmente levam a família a tomar a decisão de procurar um profissional da saúde mental. E quando se hipotetiza o diagnóstico e se explica o transtorno para paciente e família, tudo parece fazer sentido para eles. Nesse momento, inicia-se um processo muito importante, que é a decisão de como dar sequência ao tratamento. Fisher et al. (2017) pesquisaram sobre a tomada de decisão no tratamento de pacientes com TAB II e concluíram que a decisão deve envolver o médico, a família e o paciente. Porém, em muitos casos, o paciente não sente que participa ativamente do tratamento e gostaria de participar mais, visto que o médico geralmente decide as medicações mais adequadas naquele momento. Isso pode ocorrer quando não se forma uma boa relação terapêutica, e quando o paciente tem pouco conhecimento da doença. Logo, sendo o médico detentor deste conhecimento, ele é o mais influente na decisão, num primeiro momento. Os autores sugerem que haja uma apreciação das atitudes e preferências dos pacientes, tendo em vista que eles percebem os efeitos colaterais e os benefícios de cada tratamento, e essa avaliação sobre custos/benefícios leva à desmotivação de seguir com a medicação. Por outro lado, a melhora dos sintomas muitas vezes é compreendida como cura e os pacientes acabam abandonando o tratamento (Vasconcelos et al., 2020). Outro estudo evidenciou, entre outras questões, que a não aceitação do diagnóstico pela pessoa portadora de TAB torna difícil a adesão ao uso de psicofármacos, conduta essencial para prevenir especialmente as oscilações de humor, além de ser um apoio importante para o convívio com a doença. Isso demonstra a importância da compreensão do diagnóstico, curso e manejo da doença no cotidiano para pacientes e familiares (Vasconcelos et al., 2020). Em relação aos familiares ou cuidadores, Beentjes et al. (2012) referem que eles relatam um desgaste financeiro (dificuldades com dinheiro para manter o tratamento), relacional (conflitos que podem acontecer entre casais ou pais e filhos), psíquico (ansiedade e sintomas de depressão) e sociais (restrição nas atividades sociais e de lazer). Importante salientar que cabe ao profissional de saúde mental identificar e apoiar a família na compreensão que as famílias têm a respeito da doença mental e as possíveis formas de cuidado da saúde, aceitaçãoe enfrentamento das mudanças de comportamento que fazem parte do transtorno (Sant’Ana et al., 2011), bem como na adesão ao tratamento medicamentoso. Muitos pacientes não tomam a medicação de forma correta, seja por esquecimento, seja por falta de entendimento da sua importância para se manter mais estável, seja, ainda, pelos efeitos colaterais que muitas dessas medicações apresentam (Sant’Ana et al., 2011; Borba et al., 2011). Outro aspecto importante a considerar é o preconceito, que frequentemente acompanha o diagnóstico de transtorno mental, consequente da falta de informações fidedignas sobre o quadro, aspecto que interfere na aceitação da doença e tratamento, bem como na administração dela em si (medicação, consultas). Assim, a psicoeducação é fundamental, na medida em que proporciona não somente o esclarecimento de crenças distorcidas a respeito da doença, como também estimula o enfrentamento mais adequado das oscilações de humor que o paciente apresenta, além de estimular uma melhor adesão ao tratamento (Moreno et al., 2009). A psicoeducação é um componente essencial do tratamento combinado do transtorno bipolar, pelo fato de que todas as intervenções psicológicas testadas com sucesso contenham elementos psicoeducativos clássicos, tais como melhorar o insight sobre a doença, lidar com a estigmatização, melhorar a adesão ao tratamento, ensinar o paciente e a família a identificar os sinais prodrômicos precoces, promover hábitos saudáveis e a regularidade no estilo de vida e evitar o abuso de substâncias (Colom & Vietta, 2004; Reinares et al., 2010 in Gutiérrez-Rojas et al., 2013). Ainda em relação à psicoeducação, Gex-Fabry et al. (2015), em estudo realizado com pacientes bipolares e seus familiares, identificaram que esta intervenção os ajudou a reduzir as crises e a se sentirem mais compreendidos pelos familiares. Houve uma melhora na qualidade das relações familiares, bem como na qualidade de vida dos pacientes, não somente aliviando a culpa e o sofrimento, bem como também estimulando a adesão ao tratamento e o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento das crises e consequências do TAB no cotidiano, sendo um dos pontos fortes da psicoeducação a melhora da comunicação entre paciente e família (McFarlane et col. in Holmgren et al., 2005). O cuidador do paciente com transtorno bipolar também é afetado em sua vida emocional e profissional. Geralmente, essa figura é representada pelo cônjuge ou parente próximo que assume a responsabilidade por administrar a medicação diária, bem como o acompanhamento em consultas e o apoio na administração da vida financeira do paciente (Pollack & Perlick, 1991 in Gutiérrez-Rojas et al., 2013). Estas questões evidenciam que um dos cuidados a serem observados é a sobrecarga que poderá levar à eclosão de sintomas depressivos, pois, normalmente, são a fonte primeira de apoio e suporte a quem padece de TAB. De acordo com Perlick et al. (2016), um cuidador de uma pessoa com TAB poderá desenvolver sintomas depressivos e precisará de cuidados e intervenções adequadas para dar conta de tanta responsabilidade diante desta demanda, trazendo uma redução da qualidade de vida. Cabe então, segundo Perlick et al. (2010), que sejam organizados protocolos específicos que contemplem um tratamento que inclua psicoeducação e estratégias cognitivo-comportamentais no tratamento dos cuidadores, principalmente porque a depressão poderá, por um lado, afetar o trabalho que o cuidador presta à pessoa com TAB e, por outro lado, reduzir a depressão do cuidador também produz uma melhora no quadro da pessoa que padece de TAB. Reinares et al. (2016) também apontam na direção de que atitudes e relações familiares influenciam no curso do TAB e vice-versa. O TAB influencia no funcionamento e adoecimento familiar, prejudicando as relações em razão da sobrecarga dos cuidados. Esses autores sugerem que sejam realizadas intervenções personalizadas que levem em consideração as características dos pacientes e dos familiares. Desta forma, um programa psicoeducacional deve contemplar, segundo Colom e Vietta (2004), entre outros aspectos: a condição crônica da doença; medicamentos e seus efeitos colaterais; informações sobre o uso concomitante com álcool e outras drogas; informação sobre os fatores de desencadeamento e manejo das crises; importância de rotinas de manutenção, especialmente hábitos de sono; lidar com o estigma e outros problemas sociais relacionados à doença, bem como prevenção ao comportamento suicida (Colom & Vietta, 2004; Colom et al., 2004, in Gutiérrez-Rojas et al., 2013). Um aspecto importante também a ser considerado é o suporte social recebido pelo cuidador. Ter com quem conversar sobre as dificuldades pessoais no convívio com um paciente portador de transtorno mental é fator de muita relevância (Muela et al., 2002, in Gutiérrez-Rojas et al., 2013). ORIENTAÇÕES AOS PACIENTES E AOS FAMILIARES A princípio, não existem formas de prevenir o desenvolvimento da bipolaridade. Porém, a prática clínica mostra que assim que aparecerem os primeiros sinais (os comportamentos e as emoções alteradas, que geralmente a família percebe em quem está com TAB) e sintomas (as queixas que o paciente relata), deve-se procurar um profissional psiquiatra ou psicólogo para realizar um diagnóstico e prevenir o agravamento da bipolaridade ou de outros transtornos mentais. Dessa forma, se você foi diagnosticado com transtorno bipolar, pode utilizar algumas estratégias para prevenir que sintomas leves se transformem em episódios maníacos ou depressivos mais graves, por exemplo: • Preste atenção aos sinais e aos sintomas: o tratamento precoce dos sintomas pode evitar o agravamento dos episódios. Tente identificar se existe um padrão para os episódios maníacos e depressivos e o que os desencadeia, são os chamados “gatilhos da situação”. Se você sentir que está prestes a entrar em um destes episódios, entre em contato com seu médico. Peça a sua família ou amigos que ajudem você a monitorar comportamentos, emoções e pensamentos que possam estar evidenciando uma recaída. • Evite o uso de drogas e álcool: o uso de álcool ou drogas recreativas pode piorar os sintomas e possibilitar que eles voltem. • Tome seus medicamentos exatamente como indicado: você pode, ao se sentir melhor, querer interromper o tratamento, mas não faça isso. Se parar de tomar o medicamento ou reduzir a dose por conta própria, você pode sentir os efeitos de abstinência ou seus sintomas podem piorar ou retornar. Sempre converse com seu médico sobre o que você sente e pensa a respeito das medicações e juntos decidam qual a melhor maneira de dar sequência ao tratamento. • Peça ajuda à família e aos amigos, pois eles são as principais fontes de apoio e podem ajudar no monitoramento dos sinais e sintomas. • Siga adequadamente o tratamento indicado pelo médico, assim como as sessões de psicoterapia. Sempre que surgirem crises, os familiares e/ou amigos devem avisar o médico responsável e a psicóloga a cargo do tratamento psicoterápico e falar sobre as alterações, o mais cedo possível. Desta forma, pode-se evitar acidentes, muitas vezes graves e definitivos, e/ou o agravamento da situação, que, quando não tratados antecipadamente, poderão levar ao internamento. • Pratique constantemente algum tipo de esporte. É sabido que a atividade física promove bem-estar físico e mental, reduz o estresse, aproxima as pessoas, melhora a convivência. A prática de esporte ajuda a produzir serotonina, que é o hormônio do bem-estar. • Regule o sono, durma somente à noite e evite cochilos ou dormir tarde. Mantenha uma rotina de sono, use o método da higiene do sono, ou seja, acordar e ir para a cama sempre no mesmo horário e dormir as horas necessárias, numa média de seis a oito horas. Melo (2018) refere que as intervenções que modificam positivamente o sono, o ritmo diário e a atividade física podem reduzir episódios de alterações de humorespecíficos (Anderson et al., 2012; Goodwin, 2012). A base do conceito moderno da “insanidade maníaco-depressiva” remonta a meados do século XIX, quando o psiquiatra/neurologista francês Jules Baillarger descreveu um novo tipo de insanidade, denominado la folie à double forme (forma dual de insanidade), cuja principal característica era a ocorrência de episódios de mania e depressão em um mesmo paciente (Pichot, 2004). Na mesma época, acusando Baillarger de plágio, outro psiquiatra francês, Jean-Pierre Falret, publicou um artigo em que descreveu praticamente o mesmo transtorno, o qual chamou de la folie circulaire (insanidade circular) (Pichot, 2004; Sedler, 1983). A despeito das similaridades, cabe notar que o conceito de Farlet se diferia do anterior na medida em que considerava “os intervalos lúcidos” entre as fases de mania e depressão, mesmo que elas estivessem separadas por um longo período (Del-Porto, J. & Del-Porto, K., 2005). Esses conceitos foram aprimorados pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin, que estudou o curso natural da doença e distinguiu as psicoses em dois grandes grupos: demência precoce e insanidade maníaco-depressiva (Kraepelin, 1989). As classificações atuais dos transtornos mentais ainda são baseadas na categorização de Kraepelin, que enfatizou a importância do quadro clínico e do curso longitudinal das doenças (Del-Porto, J. & Del-Porto, K., 2005). De acordo com a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o transtorno diferencia-se em dois tipos principais: o Tipo I, em que a elevação do humor é grave e persistente (mania), e o Tipo II, em que a elevação do humor é mais branda (hipomania). Outra característica de distinção do transtorno bipolar tipo II é a exigência de, pelo menos, um episódio depressivo maior em uma ocasião em que os sintomas hipomaníacos não estão presentes. Essa exigência contrapõe- se ao transtorno bipolar tipo I, o qual não requer histórico de depressão. Esse padrão carece de uma história precisa, que pode ser de difícil obtenção, especialmente de pacientes que podem apresentar pouco insight sobre a presença de um transtorno psiquiátrico, como costuma ser o caso de indivíduos com transtorno bipolar (APA, 2014). O especificador “com características mistas” aplica-se a situações que ocorrem durante a vigência de um episódio maníaco, hipomaníaco ou depressivo, com, pelo menos, três sintomas relacionados ao polo oposto de humor. Já o quadro de Transtorno Ciclotímico se caracteriza pela alternância entre períodos hipomaníacos e depressivos ao longo de, pelo menos, dois anos em adultos (ou um ano em crianças), sem, entretanto, atender aos critérios para um episódio de mania, hipomania ou depressão maior. A caracterização da ocorrência de múltiplos episódios de humor (quatro ou mais) ao longo de um ano é realizada por meio do especificador “com ciclagem rápida”, esse é o caso de 5% a 15% dos pacientes com TB-II (APA, 2014). Classifica-se como mania o estado severo de humor elevado ou irritabilidade, associado ou não a sintomas psicóticos, que provocam alterações no comportamento e na funcionalidade do indivíduo. A duração do estado de mania deve ser de, no mínimo, uma semana, estando o humor elevado ou irritabilidade presente na maior parte do dia, quase todos os dias. O critério de duração mínima é dispensável se a hospitalização se fizer necessária. Na hipomania, as elevações de humor e as alterações comportamentais/funcionais são menos graves e com duração mais breve (quatro dias consecutivos) que o estado de mania, e geralmente não exige atenção médica. No entanto, a hipomania pode progredir para a mania. Entre 5% e 15% dos pacientes com TB-II desenvolvem um episódio de mania e têm o diagnóstico alterado para TB-I. Cabe destacar que a presença de sintomas psicóticos é sempre indicativa de quadro grave, e ainda que os demais sintomas de ativação não sejam tão proeminentes, automaticamente descarta-se a possibilidade de episódio hipomaníaco. Este é um engano cometido com frequência na clínica psiquiátrica, principalmente entre profissionais menos experientes (Anderson et al.,2012; Goodwin, 2012). Apesar de a caracterização do TB ser baseada em sintomas de mania ou hipomania, a depressão é geralmente o quadro mais comum e persistente entre os pacientes e a principal causa de incapacitação (Judd et al., 2005). Particularmente no TB-II, é comum os indivíduos apresentarem inúmeros episódios de depressão maior antes da ocorrência do primeiro episódio de hipomania. Esses casos ilustram a dificuldade de diagnosticar o TB-II, e 12% dos pacientes com diagnóstico inicial de transtorno depressivo maior são reclassificados como tendo TB-II após a identificação de um episódio hipomaníaco. Os quadros de depressão do TB são caracterizados por humor deprimido ou perda de interesse/prazer por quase todas as atividades durante, pelo menos, duas semanas. Além disso, pode haver perturbações nas funções vegetativas, incluindo: alterações no apetite ou peso, no padrão de sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimento de culpa e/ou desvalia; dificuldade para concentrar-se ou tomar decisões; pensamentos recorrentes sobre a morte, ideação, planos ou mesmo tentativas de suicídio. De acordo com o DSM-5, estima-se que o risco de suicídio ao longo da vida de pessoas com diagnóstico de TB é, pelo menos, 15 vezes maior que o da população geral, e o transtorno pode representar cerca de 25% do índice total de suicídios (Pichot, 2004). A distinção entre depressão unipolar e depressão bipolar é fundamental para a definição do tratamento e para o prognóstico. No entanto, é importante destacar que elas não podem ser seguramente distinguidas uma da outra com base apenas nos sintomas (Anderson, Haddad, & Scott, 2012). Uma revisão abrangente de estudos que comparam a depressão unipolar e bipolar apontou que, embora não existam sintomas específicos que distingam a depressão nos dois transtornos, é provável que existam características clínicas típicas em cada manifestação (Mitchell et al., 2008). Enquanto cerca de metade dos pacientes apresentam, no início da doença, um episódio de mania, a outra metade apresenta sintomas de depressão, podendo ser erroneamente diagnosticados como depressivos “unipolares” (APA, 2014). Por esse motivo, um grande número de pacientes com TB é tratado exclusivamente com antidepressivos e tem seu quadro agravado em virtude do tratamento. É importante destacar ainda que muitas pessoas podem apresentar vários episódios depressivos antes que ocorra o primeiro episódio subsequente de mania ou hipomania, contribuindo para que a estimativa de casos de TB em alguns serviços de saúde mental seja mascarada, em razão de subdiagnósticos da doença (Kessing, 1999). Alguns fatores podem indicar que um paciente em primeiro episódio depressivo pode ser um caso de TB. Uma vez que é uma doença com forte herança genética, considerar a história familiar do paciente pode ser um indicativo com 56% de sensibilidade e 98% de especificidade (Goldberg et al., 2009). A idade de início do episódio depressivo também pode ser sugestiva. Em um estudo de seguimento durante 15 anos, 46% das pacientes jovens que foram hospitalizadas com depressão unipolar apresentaram, pelo menos, um episódio de hipomania ou mania no período (Akiskal et al., 1983). Outros fatores que podem indicar TB incluem o início no pós-parto, a presença de sintomas psicóticos durante o episódio depressivo, depressão atípica e a ocorrência de depressão transgeracional ou em muitas pessoas da mesma família (Goldberg et al., 2009). A relação entre os sintomas depressivos e maníacos fica ainda mais complicada pelo fato de que os pacientes são mais propensos a queixas espontâneas de disforia do que de euforia. Além disso, alguns dos sintomas básicos de mania – aumento da atividade, euforia e loquacidade – podem levar ao aumento de eficiência e prazer,e internações. • Gerencie o estresse, pois é altamente benéfico tanto para o paciente quanto para a família, e isso influencia na qualidade das relações familiares. O estresse pode vir de gritos, brigas, acusações, repreensões. As divergências podem ser resolvidas por meio do diálogo. Assim, pergunte antes de acusar e gritar. Acolha, procure compreender, dialogar e orientar. • Tenha uma rotina de alimentação e consuma alimentos saudáveis, evitando o consumo de bebidas como café e álcool, bem como o uso de drogas ou qualquer substância que possa ativar os sintomas. • Faça uma psicoterapia que o ajude a entender, monitorar e gerenciar os sinais e sintomas. • Siga as prescrições medicamentosas, e no caso de desconforto, procure o médico e converse sobre as diversas alternativas de tratamento. • Fique atento se apresentar uma alegria desmedida ou irritabilidade, medo, desconfiança ou paranoia (sentir que os outros estão contra você, que o perseguem). • Preste atenção se você começa várias tarefas e não termina nenhuma ou se está com tudo pronto às 8 h da manhã, bem como se tem a sensação de ter uma energia imensa. • Perceba se você está muito falante, às vezes até interrompendo as outras pessoas, ou se de repente sente vontade de dar gargalhadas sem motivo. • Atente-se caso você sinta vontade desmesurada de comprar, jogar, beber e fazer sexo compulsivamente, isso pode estar indicando uma recaída. Importante salientar que o tratamento farmacológico é de fundamental importância, porém, não é suficiente para o tratamento do TAB. Este transtorno possui manifestações psicológicas e sociais, com repercussões em todas as esferas da vida, seja na escola, no trabalho e na família. Uma das formas de minimizar seus efeitos é obter suporte da rede social e, em especial, da rede familiar. A família é o principal cuidador do paciente e deve-se buscar nela um bom vínculo, orientando e informando a respeito do diagnóstico, tratamento e evolução da doença. Isto torna a família partícipe do processo de tratamento e com recursos de enfrentamento de qualquer situação que possa ocorrer. REFERÊNCIAS Beentjes, T. A. A., Goossens, P. J. J., & Poslawsky, I. E. (2012). Bipolar hypomania and mania: A systematic review. Perspectives in Psychiatric Care, 48(4), 187-197. Borba, L. O., Paes, M. P., Guimarães, A. N., Labronici, L. M., & Maftum, M. A. (2011). 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Porém, fiquei surpresa por ter um transtorno (uma doença) mental. Nunca imaginei passar por isso. Para mim, não foi muito difícil aceitar esta situação, pois estava muito mal e vinha de um sofrimento muito grande pela morte de minha mãe. Ser bipolar, para mim, passou a ser uma coisa normal, nunca escondi de ninguém essa verdade. Contava até mesmo para meus clientes da contabilidade, pois nunca me importei com o que os outros pensavam a esse respeito. Na verdade, o que mais me importava era eu levar o tratamento a sério, tomando todas as medicações corretamente e fazendo as terapias, para que eu me conhecesse mais profundamente e percebesse, principalmente, minhas dificuldades de relacionamento e trabalhasse estas questões e muitas outras na terapia. Foram anos de altos e baixos, de luta contra essa variação de humor e contra a insônia. Não foi difícil aceitar que eu era bipolar, porém foi muito difícil conviver com os altos e baixos do meu humor e com a insônia. O pior, para mim, foram os momentos de depressão, pois me levavam a ter pensamentos de morte, não ver mais sentido em viver. Esta sensação de que morrer seria o melhor caminho se acentuava pelos momentos de insônia que me acometiam e me traziam grande sofrimento. Durante a mania, eu ficava mais produtiva e isso era bom, tinha uma sensação de estar mais forte. Mas era a única coisa boa, pois esta fase deixava meus pensamentos acelerados, a cabeça ficava cheia de pensamentos, e eles não davam trégua, e isso levava à insônia. Eu ficava dando voltas na cama, com pensamentos que iam e vinham. O interessante era que, embora eu pensasse muito, não me sentia cansada, ainda que ficasse vários dias sem comer e dormir. No geral, sentia-me bem. Hoje, em virtude do tratamento que faço e que levo a sério, há anos tenho tido melhores resultados. Há 24 anos fui diagnosticada com TAB e até hoje faço tratamento. Porém, só faço acompanhamento médico a cada quatro meses para o tratamento medicamentoso. Durante o tratamento, tomei muitas medicações ao mesmo tempo e hoje tomo apenas um comprimido para manutenção do meu humor, não tomo mais medicamentos para dormir e consigo dormir bem na maioria das noites. Para mim, ser bipolar não significa ser diferente dos outros, porque tenho que tocar minha vida. Hoje sou aposentada por tempo de serviço e idade, mas trabalhei quase ٣٠ anos por conta, fora os outros anos trabalhando para os outros; sempre lutei pela minha independência, portanto, mesmo com depressão, insônia ou mania, tinha que manter meu ritmo de trabalho. Desejo que todos aqueles que passamou passaram por um sofrimento como este possam encontrar, como eu encontrei, um caminho de entendimento do seu transtorno, buscando o melhor tratamento para superar, conviver e viver a vida como ela se apresenta para cada um de nós, e tendo a certeza de ser um lutador nas adversidades. SOBRE OS AUTORES ORGANIZADORES MARIA DA PENHA A. CAMPOS DE ALMEIDA KATO Psicóloga pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em parceria com a Artmed, Psicologia Positiva pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná (FEPAR), Psico-oncologia pelo Hospital Erasto Gaertner, Curitiba. Atuação em Psicologia Clínica e Hospitalar. SOLANGE REGINA SIGNORI IAMIN Graduada pela Universidad de Belgrano Buenos Aires, Argentina. Mestra em Biotecnologia da Saúde da Criança e do Adolescente pelas Faculdades Pequeno Príncipe, Curitiba. Especialista em Atendimento Clínico pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Terapia Cognitivo-comportamental pela Faculdade Unyleya, Rio de Janeiro. Aprimoramento em Terapia Cognitivo- comportamental pelo AMBAN-IPq do HCFMUSP/CISAME-POA. Certificação em Psicologia Positiva Aplicada pelo Centro de Certificação em Psicologia Positiva Aplicada (CEPPA). Livros publicados: Mudando o caminho da ansiedade; Eu voo sem medo: um guia para vencer o medo de voar; Manual de acompanhamento terapêutico: contribuições teórico-práticas para a aplicabilidade clínica; Carl Rogers: revisitando conceitos e Saúde a bordo: práticas de cuidados do aeronauta. CLOVES ANTONIO DE AMISSIS AMORIM Psicólogo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Didática pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Bioética pela PUCPR. Mestre em Educação pela PUCPR. Doutor em Educação pela PUCPR. Atualmente é Professor titular da PUCPR. Coordenador do Curso de Especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental, parceria PUCPR-Artmed. Diretor do Instituto de Tanatologia Cloves Amorim (ITACA). DEMAIS AUTORES ALYNE DOS SANTOS FIGUEREDO Médica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Psiquiatra pela Residência Médica da Secretaria Municipal de Saúde de São José dos Pinhais. Especialista em Análise do Comportamento pela Universidade Positivo, Curitiba. BRUNA KOPYTOWSKI TAFURI Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Sócia da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP). Pós-graduanda em Psicologia Hospitalar e em Terapia Cognitivo- Comportamental pela PUCPR. Tem desenvolvido pesquisas na área de psicologia da religião, comportamento sexual, pandemia e luto. Psicoterapeuta em consultório particular. EMERSON RODRIGUES BARBOSA Médico formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Psiquiatra clínico pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Especialista em Sexualidade Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em Estimulação Magnética Transcraniana pela USP. Terapeuta Cognitivo-comportamental pelo Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Especialista em Preceptoria de Residência Médica pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo. Diretor Clínico do Instituto de Psiquiatria do Paraná. Preceptor da residência médica do Hospital San Julian, Paraná. FLAVIA MARCHIORI CRISTELLI Médica pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Médica psiquiatra. Residência médica em Psiquiatria pela UFPel. VITÓRIA ROSA DOS SANTOS Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Membra efetiva da Liga Interdisciplinar para o Estudo da Dor, da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), Secretária do Comitê da Liga de Dor da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED). Pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental pela PUCPR. Mestranda em Gerontologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia da saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: gerontologia, qualidade de vida, saúde, pandemia e morte. Psicoterapeuta em consultório particular. 1 Tradução livre dos autores: “Memórias sobre a loucura circular, uma forma de doença mental caracterizada pela reprodução sucessiva e regular do estado maníaco, do estado melancólico e de um intervalo lúcido mais ou menos prolongado”. Table of Contents 1. DEDICATÓRIA 2. AGRADECIMENTOS 3. APRESENTAÇÃO 4. INTRODUÇÃO AO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 5. 1. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR: UMA VISÃO PANORÂMICA 6. 2. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 7. 3. EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO- -COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 8. 4. O USO DA PSICOFARMACOLOGIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 9. 5. MINHA HISTÓRIA COM O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 10. 6. CONSTRUINDO POSSIBILIDADES: FAMÍLIA E PACIENTE NO ENFRENTAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 11. 7. CONVIVENDO COM QUEM SOU HOJE 12. SOBRE OS AUTORES DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO AO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 1. TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR: UMA VISÃO PANORÂMICA 2. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 3. EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO- -COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 4. O USO DA PSICOFARMACOLOGIA NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 5. MINHA HISTÓRIA COM O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 6. CONSTRUINDO POSSIBILIDADES: FAMÍLIA E PACIENTE NO ENFRENTAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 7. CONVIVENDO COM QUEM SOU HOJE SOBRE OS AUTORESpelo menos a curto prazo, o que complica ainda mais a avaliação. O DSM-5 (APA, 2014) aborda essas incertezas descrevendo múltiplas síndromes dentro de um espectro, pois, apesar de existirem separações entre as categorias, elas não são tão nítidas a ponto de serem definitivas em uma primeira observação. Logo, considerar o espectro bipolar parece ser um ponto-chave para distinguir pacientes depressivos unipolares de bipolares na prática clínica. Nesse sentido, esse conceito compreende pessoas com depressão recorrente grave, tal como na depressão unipolar clássica, porém, com histórico familiar de TB ou mania induzida por antidepressivos, personalidade hipertímica e uma série de outras características relacionadas aos sintomas depressivos bipolares, incluindo o curso ou resposta a tratamentos, como: características mistas ou melancólicas, início precoce, múltiplos episódios, baixa tolerância ou pouca resposta a antidepressivos (Ghaemi & Dalley, 2014). O TB é um transtorno complexo e multideterminado, causado pela interação de fatores genéticos e ambientais. Estudos com gêmeos indicaram que os transtornos do espectro bipolar são hereditários, com incidência superior a 80% em gêmeos idênticos, caindo para 6% em parentes de primeiro grau (Goodwin, 2012). O surgimento e a evolução do TB são possivelmente influenciados pelo trauma precoce, por eventos aversivos significativos da vida e pelo uso indevido de álcool e drogas. O aparecimento da doença pode ser particularmente influenciado pelo estresse sofrido no final da adolescência, mas os primeiros episódios de mania podem se manifestar ao longo de toda a vida. Foi demonstrado que o risco de desenvolver TB-II é maior entre familiares de pessoas com a doença. Em contraste, o desenvolvimento do TB-I e do Transtorno Depressivo Maior tende a ter menos relação com a genética. Os fatores genéticos podem ainda influenciar a idade de início dos sintomas (Judd et al., 2005). Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o TB atinge, aproximadamente, 30 milhões de pessoas em todo o mundo, estando entre as maiores causas de incapacidade. Dados mundiais mostraram que o TB afeta homens e mulheres de forma diferente. Verificou-se que as taxas de prevalência do TB-I ao longo da vida foram maiores nos homens, enquanto as mulheres apresentaram taxas mais elevadas do TB-II (Mitchel et al., 2008). Quanto às comorbidades associadas ao TB, dados globais mostraram que 76,5% das pessoas que se encaixam no diagnóstico do espectro bipolar também apresentaram outros transtornos ao longo da vida. As comorbidades mais frequentes são: os transtornos de ansiedade (62,9%), os transtornos comportamentais (44,8%) e os transtornos relacionados ao abuso de substâncias (36,6%). Ademais, foram encontradas similaridades no padrão das comorbidades referentes aos transtornos de ansiedade e abuso de substâncias entre os diversos países estudados (Merikangas et al., 2011). O curso clínico do TB pode variar bastante. Estudos apontam que o surgimento dos sintomas da doença é mais precoce do que no Transtorno Depressivo Maior (Solomon et al., 2006). A idade média do primeiro episódio do TB-I é 18 anos, enquanto, no TB-II, o início dos sintomas ocorre em torno dos ٢٥ anos de idade. O aparecimento dos primeiros sintomas maníacos no fim da idade adulta ou na terceira idade pode indicar a existência de outras condições médicas, tais como quadros de demência frontotemporal ou de ingestão/abstinência de Highlight substância, e devem ser investigados (APA, 2014). O tratamento é realizado a longo prazo com estabilizadores do humor, anticonvulsivantes e antipsicóticos atípicos, combinado a intervenções psicossociais. A maior parte dos pacientes com TB recupera-se do primeiro episódio de humor, porém a taxa de recaída é bastante elevada. A eficácia do tratamento do TB está relacionada, em muitos casos, com o início próximo ao aparecimento dos primeiros sintomas, no entanto, a adesão do paciente é uma questão a ser observada (Stahl, 2013). Particularmente, o tratamento do TB na terapia cognitivo- comportamental (TCC) combina técnicas de psicoeducação, visando informar o paciente sobre o transtorno e aumentar a adesão ao tratamento medicamentoso, com estratégias comportamentais para monitorar as oscilações de humor, controlar a estimulação, técnicas de resolução de problemas e redução de estresse, além de estratégias cognitivas de reestruturação de pensamentos disfuncionais. Os efeitos dessas intervenções incluem diminuição do número de recaídas, da flutuação do humor, da necessidade de hospitalizações, além de melhora no funcionamento (Yatham et al., 2009). Considerando a complexidade do quadro e a cronicidade da doença, o TB representa uma alta demanda de saúde pública e exige medidas específicas de intervenção. O diagnóstico preciso é fundamental para a indicação correta do tratamento e determinação do prognóstico do paciente. Além do acompanhamento psiquiátrico contínuo, o atendimento psicológico para esses pacientes desafiadores se faz essencial para favorecer a adesão ao tratamento farmacológico e a evolução positiva dos casos. REFERÊNCIAS Akiskal, H. S., Walker, P., Puzantian, V. R., King, D., Rosenthal, T. l., & Dranon, M. (1983). Bipolar outcome in the course of depressive illness: Phenomenologic, familial, and pharmacologic predictors. Journal of Affective Disorders, 5(2), 115-28. American Psychiatric Association. (2014). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5ª ed.). Artmed. Anderson, I. M., Haddad, P. M., & Scott, J. (2012). Bipolar disorder. BMJ, 345, e8508. Del-Porto, J. A., & Del-Porto, K. O. (2005). História da caracterização nosológica do transtorno bipolar. Archives of Clinical Psychiatry, 32(Supl. 1), 7-14. Ghaemi, S. N., & Dalley, S. (2014). The bipolar spectrum: Conceptions and misconceptions. The Australian and New Zealand Journal of Psychiatry, 48(4), 314- 324. Goldberg, J. F., Perlis, R. H., Bowden, C. L., Thase, M. E., Miklowitz, D. J., & Marangell, L. B. (2009). Maniac symptoms during depressive episodes in 1,380 patients with bipolar disorder: Findings from the STEP-BD. The American Journal of Psychiatry, 166(2), 173- 81. Goodwin, G. M. (2012). Bipolar disorder. Medicine, 40(11), 596-598. Judd, L. L., Akiskal, H. S., Schettler, P. J., Endicott, J., Leon, A. C., & Solomon, D. A. (2005). Psychosocial disability in the course of bipolar I and II disorders: A prospective, comparative, longitudinal study. Archives of General Psychiatry, 62(12), 1322-1330. Kessing, L. V. (1999). The effect of the first manic episode in affective disorder: A case register study of hospitalized episodes. Journal of Affective Disorders, 53(3), 233-239. Kraepelin, E. (1989). Dementia praecox and manic-depressive insanity and paranoia. Gryphon Publications. Merikangas, K. R., Jin, R., He, J. P., Kessler, R. C., Lee, S., & Sampson, N. A. (2011). 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Tung (2007) afirma que o Transtorno Bipolar se apresenta como uma entidade etérea, obscura e de compreensão fugidia para pacientes, familiares e leigos interessados que tentam encontrar respostas na internet, nos livros e com profissionais especializados. Na mesma publicação, o autor ressalta que poucos são os pacientes que se encaixam nas descrições clássicas, e dos que se enquadram, poucos apresentam a boa evolução que se esperaria de uma doença tão antiga e estudada. O presente capítulo tem como objetivo apresentar um breve histórico, diagnóstico e tratamentos encontrados nos manuais e artigos disponíveis na internet. Assim, faz-se necessária uma rápida síntese dos aspectos mais relevantes para que os familiares e acompanhantes possam cuidar melhor e compreender a dinâmica comportamental de pessoas portadoras do transtorno bipolar. Essa tarefa de cuidar é considerada árdua e complexa, característica de uma patologia dinâmica, vista como uma doença instável por natureza. Frederico Demétrio, em 2015, publicou, a nosso ver, o mais completo histórico dessa doença em um capítulo do livro Aprendendo a viver com o transtorno bipolar: manual educativo. Neste, o autor afirmou que a bipolaridade é um problema de saúde já há muito tempo reconhecido e diagnosticado, ainda que os termos atuais, como “transtorno bipolar do humor” ou “transtorno afetivo bipolar” aferem a algo novo e recente. O grego Areteus da Capadócia (que viveu em Alexandria) foi quem primeiro descreveu a patologia como um estado de falta de controle, em que a pessoa acometida tinha todo tipo de excesso, como furor, excitação e euforia. Segundo esse médico grego, nas formas graves da doença, o indivíduo podia até mesmo matar e humilhar seus servos e, nas menos graves, sentia-se grandioso, sem nunca ter estudado. E o incompetente diz ser artesão habilidoso. Ainda segundo Demétrio (2015), Areteus também foi o primeiro a associar a mania com a depressão (melancolia, descrevendo indivíduos que passavam por períodos alternados ao longo da vida). O paciente anteriormente alegre, eufórico e hiperativo, de maneira repentina, invertia-se para a melancolia; e, no final do ataque, tornava-se languido, triste e taciturno, sentindo-se envergonhado. Demétrio ainda nos lembra que o termo grego mania, na sua ideia original, significa “loucura enfurecida”. Areteus e Aristóteles pensavam que a mania e a melancolia tinham uma origem comum na bile negra e, nesse mesmo sentido, os gregos acreditavam que os líquidos que circulam no organismo – sangue, linfa, bile negra e bile amarela – determinariam os estados de ânimo da pessoa (Demétrio, 2015). Dando um salto na linha do tempo, chegando à metade do século XIX, encontramos na França o trabalho de Falret, publicado em 1854, Mémoire sur la folie circulaire, forme de la maladie mentale caracterisée par la reproduction sucessive et régulière de l’état maniaque, de l’état melancholique, et d’um intervale lucide plus ou moins prolongue. 1 Posteriormente, este trabalho foi traduzido para o inglês e publicado no American Journal of Psychiatry (Del Porto & Del Porto, 2010). Outro autor fundamental para a compreensão do transtorno bipolar e a organização dos dados disponíveis em sua época foi Kraepelin. Ele adotou o ponto de vista unitário, considerando que a enfermidade maníaco-depressiva abrangia os estados depressivos, a mania simples e os quadros circulares. De acordo com Del-Porto e Del-Porto (2010), na oitava edição do tratado de Kraepelin, ele incluiu todas as formas de melancolia e de mania em seu conceito de insanidade maníaco- depressiva e, em 1919, Kraepelin colocou especial ênfase nas características da doença que mais claramente a diferenciavam da demência precoce: o curso periódico ou episódico, o prognóstico mais benigno e a histórica familiar de quadros homólogos (maníaco- depressivos). Del Porto (2004, p. 4) ainda enfatiza que: Uma das importantes contribuições de Kraepelin (1919) e de seu discípulo Weingandt (1899) foi o conceito de “estados mistos maníaco-depressivos”. De fato, a pedra angular para a formulação do conceito unitário de Kraepelin a respeito da enfermidade maníaco-depressiva foi o reconhecimento da existência dos estados mistos (Kraeplin, 1919). Como é frequente para o avanço da ciência, houve divergências no acolhimento do conceito de estados mistos, por exemplo, para Jaspers, que resistiu à ideia de quebrar a até então enfermidade maníaco- depressiva nas esferas afetiva, intelectual e da atividade (Del Porto & Del Porto, 2005). Afirmou Jaspers (1959, 1997): O procedimento é ambíguo, uma vez que conexões dotadas de significado são abordadas como componentes objetivos da vida psíquica capazes de serem separados e mecanicamente combinados. (in Del-Porto & Del-Porto, 2005, p. 10) Outra contribuição relevante no estudo do espectro bipolar foi a abordagem histórica realizada por Del-Porto e Del-Porto (2010), que iniciam com as considerações dos gregos, passando pela contribuição europeia do século XIX, chegando à apresentação das contribuições dos Manuais Diagnósticos e Estatístico de Transtornos Mentais I o V (DSM). Vale a pena indicar duas contribuições da revisão histórica de Del Porto e Del-Porto (2010): 1) Karl Leonhard (1979), quando dividiu as psicoses fásicas em (a) monopolares (mania, melancolia, depressões, euforias) e (b) bipolares (doença maníaco-depressiva e psicoses cicloides); 2) a referência a um estudo publicado na revista Lancet, em 2009, um trabalho de Lichtenstein et col., com base populacional, analisando familiares de pessoas portadoras de esquizofrenia e também de transtornos bipolares, concluindo que a esquizofrenia e a doença bipolar compartilham, pelo menos em parte, uma base genética comum. Demétrio (2015) ressalta que o conceito original de mania é o que utilizamos hoje para designar o episódio maníaco do transtorno bipolar, e, bem-humorado, afirma que os termos “mania de limpeza” ou “maníaco do parque” não têm a ver com a doença bipolar. Segundo este autor, o conceito dos transtornos do humor agrupados, como proposto por Kraepelin, continua válido, embora subdividido em diversas categorias. E salienta que os transtornos do humor possuem uma origem biológica, mas fatores precipitantes, psicológicos e sociais também participam de seu desencadeamento (Demétrio, 2015). Finalmente, na análise histórica publicada por Demétrio (2015), ele sintetiza que a ideia de uma doença como o transtorno bipolar existe há milênios, mas desapareceu na Idade Média, quando todas as doenças mentais eram abordadas de forma mística ou religiosa. Até o século XIX, muitas observações foram feitas, mas a relação entre mania e depressão não foi relatada. Dois franceses, Falrete (1851) e Baillarger (1954), e o alemão Kraepelin (1856-1926) finalmente correlacionaram os dois polos constituintes de uma mesma doença, na qual o humor ou afeto está prejudicado. Essa ideia permanece praticamente a mesma até hoje. Ó DIAGNÓSTICO O referido transtorno teve sua denominação baseada na prevalência de suas alterações de humor, no qual em um extremo encontra-se o humor depressivo e, em outro extremo, o humor eufórico (Tung, 2007). Primeiramente, vale evidenciar a definiçãodos principais episódios que compõem o transtorno bipolar, sendo eles: depressivo maior, maníaco, hipomaníaco e misto. Um episódio de mania é definido pelo humor eufórico, elevado ou irritável, que apresenta a duração de, no mínimo, uma semana, sendo ponderado por uma menor duração se o paciente tiver que ser hospitalizado (Sadock et al., 2017), intervenção esta que se faz necessária para preservar a segurança do paciente em situações como: Contrair grandes dívidas por compras impulsivas; promiscuidade sexual, causando problemas de relacionamento ou de saúde; direção irresponsável, causando acidentes; abandono impulsivo do emprego, sem um plano para se sustentar, ou até fuga de casa e negligência de suas responsabilidades. (Basco, 2009, p. 38) Muitas vezes, o transtorno vem acompanhado de autoestima inflada, grandiosidade, redução de sono, pensamentos acelerados, fala excessiva e alta carga de energia (American Psychological Association [APA], 2014). Podendo apresentar, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) (APA, 2014), prejuízos na vida conjugal, profissional e social do indivíduo, o que justifica, por vezes, a hospitalização (Miklowitz, 2016). O episódio hipomaníaco diferencia-se por sua menor duração, cerca de quatro dias ou mais, bem como pela ausência de prejuízos na vida social e da necessidade de hospitalização (Miklowitz, 2016), sendo descrita por Sadock et al. (2017) como um estado de menor gravidade que a mania. O episódio depressivo maior tem duração de cerca de duas semanas, sendo necessária a presença de humor deprimido ou perda de interesse e prazer, podendo ser observável redução ou aumento significativo no apetite, insônia ou sonolência excessiva, agitação ou lentificação e fadiga ou perda de energia (APA, 2014). E, por fim, o episódio misto, caracterizado pela manifestação do episódio maníaco e depressivo maior diariamente, por, pelo menos, uma semana (Miklowitz, 2016). De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), o Transtorno Bipolar e transtornos relacionados (TAB) podem ser percebidos como uma ponte entre o transtorno do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos e os transtornos depressivos, por sua sintomatologia, história familiar e genética. Entre os diagnósticos bipolares possíveis no DSM-5 (APA, 2014) temos o transtorno bipolar tipo I, o transtorno bipolar tipo II, transtorno ciclotímico, transtorno bipolar e transtorno relacionado induzido por substâncias e/ou medicamentos, transtorno bipolar e transtorno relacionado especificado e transtorno bipolar e transtorno relacionado não especificado. Para o diagnóstico de transtorno bipolar do tipo I, é necessário o preenchimento dos critérios que compõem o episódio maníaco, citados anteriormente. A mania, ainda que provocada por antidepressivos, já pode ser considerada evidência para ser tida como um episódio maníaco, possibilitando o diagnóstico do transtorno bipolar do tipo I. Normalmente, a média de idade para o aparecimento do primeiro episódio maníaco, hipomaníaco ou depressivo maior para o transtorno bipolar tipo I é de 18 anos. Vale ressaltar que, ainda que o transtorno bipolar seja conhecido pela transição do episódio depressivo para o maníaco, o transtorno bipolar do tipo I necessita somente da presença da mania para ser possível o diagnóstico (APA, 2014). Já no transtorno bipolar do tipo II, é necessária a vivência de um ou mais episódios depressivos e, pelo menos, um episódio hipomaníaco. Ainda que os episódios de hipomania não sejam tão intensos, o transtorno bipolar do tipo II não deve ser visto como mais comedido que o do tipo I. Os indivíduos acometidos com o tipo II ainda sofrem com prejuízos em diversos âmbitos de sua vida, decorrente das mudanças de humor (APA, 2014). Média!! Mania - apenas TB tipo 1 O transtorno ciclotímico é diagnosticado em adultos que passaram dois anos de períodos hipomaníacos e depressivos sem chegar a ser episódios de mania ou depressão maior (APA, 2014). Alguns medicamentos e o abuso de substâncias, como também várias condições médicas, podem causar um fenômeno similar ao dos episódios de mania. Portanto, tem-se o diagnóstico de transtorno bipolar e transtorno relacionado induzido por substâncias/medicamentos e o transtorno bipolar e transtorno relacionado por outra condição médica (APA, 2014). Por fim, há indivíduos, como as crianças e adolescentes, que vivenciam fenômenos semelhantes ao transtorno bipolar, porém, não preenchem todos os critérios para receber diagnósticos de transtorno bipolar do tipo I, transtorno bipolar do tipo II ou transtorno ciclotímico. Então, é reconhecida outra categoria, a do transtorno bipolar e transtorno relacionado não especificado (APA, 2014). Tung (2007) ressalta que a principal característica desse transtorno é a instabilidade, entretanto, a mudança de humor pode variar em horas, dias, semanas e até meses ou anos. Em vista disso e pelo fato de o paciente acometido pelo transtorno apresentar reações que qualquer pessoa poderia também apresentar, surgem questionamentos em relação à doença por parte do paciente e seus familiares. Deste modo, o referido autor recorda que: Qualquer um pode reagir com raiva diante de uma frustração ou de uma injustiça, porém o paciente bipolar pode se deprimir ou ficar agressivo. Qualquer um já teve seu dia de gastar um pouco mais de dinheiro, ou de ficar amuado por ter recebido uma notícia ruim, mas o paciente bipolar gasta demais, ou fica de cama. (Tung, 2007, p. 17) Essa informação é muito importante, tendo em vista que se trata de um transtorno relativamente comum. O primeiro estudo epidemiológico, realizado por Bebbington e Ramana em 1995, que se fundamentou nos critérios diagnósticos de transtorno mental do DSM- III, evidenciou uma prevalência de 1% de transtorno bipolar na população em geral (Clemente et al., 2015). Em relação à prevalência Não fecham 100% o diagnóstico de depressão ou mania. Tem sintomas! intensidade do transtorno atualmente, estudos apontam que os transtornos bipolares I e II afetam, ao menos, 2% da população. Em um estudo epidemiológico com 9.292 adultos nos Estados Unidos, o National Comorbidity Survey Replication (NCSR) observaram-se as taxas de prevalência ao longo da vida de 1% para o tipo I, 1,1% para o tipo II e 2,4% para transtorno bipolar sem especificação ou transtorno ciclotímico (Miklowitz, 2016). É importante destacar que um estudo realizado por Silva et al. (٢٠١٤) mostrou que os pacientes com transtorno bipolar apresentam uma capacidade de insight menor do que os pacientes depressivos, e maior do que os pacientes com esquizofrenia. Logo, no que isso implica? O insight, para Sims (2006) apud Silva et al. (2014), nada mais é do que a habilidade do indivíduo de reconhecer e compreender seu estado mental, assim, um comprometimento nessa competência está associado a uma menor adesão ao tratamento e à fase maníaca (Silva et al., 2014), lembrando que, na fase de mania, o indivíduo sente-se ótimo, eufórico, estupendo, não apresentando consciência dos prejuízos por ela implicados; e do mesmo modo, os referidos autores apontam que a conservação do insight está relacionada a uma maior ideação suicida, visando a preservação da consciência dos prejuízos advindos do estado emocional. TRATAMENTO DellAglio Junior et al. (2011) salientam que grande parte dos pacientes apresenta uma melhora parcial somente utilizando a medicação. Perlis et al. (2016) apud Dellaglio Junior et al. (2011) aponta que os pacientes com transtornos bipolares que fazem uso de medicação ainda apresentam altas taxas de recorrência e baixas taxas de remissão e sintomas residuais. Desse modo, estudos sugerem que, para a respectiva demanda, deve-se combinar o tratamento medicamentoso com intervenções psicológicas eficazes (Dellaglio Junior et al., 2011), tal Dificuldade em reconhecer seu estado de humor Principalmente na mania - eles não percebem que estãogastando muito, em coportamentos de risco... Não percebem essa mudança no humor, eles estão igual sempre (na cabeça deles) como a psicoterapia, principalmente a Terapia Cognitivo- Comportamental (TCC). A Terapia Cognitivo-Comportamental é muito indicada nos casos de TAB, dando um ótimo auxílio na capacitação de habilidades de modular suas reações ao estresse, como também no fortalecimento de sua autoestima e na diminuição das flutuações do afeto direcionados a eventos de suas vidas (Juruena, 2004). A psicoterapia direcionada para o Transtorno Bipolar tem como intuito, conforme Lam et al. (2003) apud Basco e Rush (2009), melhorar os resultados, conter as recaídas e ajudar o indivíduo a se adaptar à doença, sendo seu objetivo mais estimado estabilizar os sintomas por longos períodos, amenizar os problemas relacionados à vida social, promovendo uma vida laboral e familiar efetiva (Miklowitz, 2016). Para isso, a psicoterapia fortalece as habilidades para o manejo dos sintomas, melhora a execução dos seus papéis sociais e sustenta o cumprimento do regime de medicações por parte do paciente (Miklowitz, 2016). Já, especificamente, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para o transtorno bipolar tem como objetivo psicoeducar pacientes e seus familiares sobre o transtorno, tratamento, as dificuldades e o automonitoramento dos sintomas, facilitando, dessa forma, a aceitação e a adesão ao tratamento, com a disponibilização de técnicas terapêuticas para o manejo dos sintomas; o auxílio no enfrentamento dos fatores estressores e da aceitação da doença; e o estímulo à família para uma maior proteção (Lotufo Neto et al., 2001). Para tal fim, a TCC trabalha com as mudanças no processo de pensamento do paciente bipolar, que apresenta uma mudança brusca de acordo com o episódio (depressão-mania) a ser experienciado. Basco e Rush (2009) exemplificam do seguinte modo: Parece mais interessante e estimulante fazer compras, e as aquisições podem ser mais facilmente justificadas, embora menos práticas. As lojas evitadas nas épocas de depressão, por estarem muito cheias de clientes, ou quando a pessoa se sentia muito introvertida para provar roupas, de repente se tornam convidativas, boas demais para se resistir a elas. (p. 26) Ocupar-se dessas mudanças cognitivas do indivíduo é de grande valia, visto que elas podem vir a ocasionar grandes prejuízos, como largar o emprego sem ainda ter um novo em perspectiva (Basco & Rush, 2009). Ressalta-se que a TCC parte do pressuposto de que pensamentos e comportamentos estão fortemente conectados, logo, quando se gera mudança de pensamento, gera-se mudança de comportamento. Esse ciclo é apresentado ao paciente durante a terapia com a TCC, ensinando-os a reconhecer seus padrões cognitivos, comportamentais e emocionais que acabam por piorar seus sintomas. Com o paciente ciente dos fatores perpetuantes do seu sofrimento mental, o terapeuta pode utilizar técnicas da TCC para quebrar tais ciclos (Juruena, 2004). Em conjunto com o tratamento farmacológico, as intervenções psicossociais mostram-se especialmente eficazes para obter um resultado positivo no tratamento do transtorno bipolar. As principais abordagens psicossociais são a psicoeducação, psicoterapia em grupo estruturada, psicoterapia focada na família/casal, e outras psicoterapias individuais estruturadas, como a terapia interpessoal e de ritmo social (TIPRS), entre outras (Grinberg et al., 2010). A Psicoeducação, ainda que seja mais conhecida como compartilhamento de conhecimentos e instruções por parte do terapeuta para o paciente, objetiva tornar o paciente mais ativo no tratamento, algo como um aliado do terapeuta, tornando o processo terapêutico mais efetivo. É pela psicoeducação que se busca dar ao paciente e a sua rede de apoio ferramentas para lidar com o transtorno, por meio do compartilhamento de informações relevantes (Justo & Calil, 2004). Colom e Vieta (2006) apresentam um método de psicoeducação direcionado ao Transtorno Bipolar, elaborado pelo “Grupo Barcelona”, em que se objetiva a conscientização sobre o transtorno, a adesão ao tratamento medicamentoso, a sensibilização sobre os riscos de uso de substâncias para o Transtorno Bipolar, a identificação prévia dos episódios e estratégias para o manejo de estresse (Neves et al., 2016). As psicoterapias agirão nos sintomas do transtorno, em como esse transtorno se constitui e quais são suas consequências. Cada terapia trabalhará com esse sintoma com base em seus princípios próprios; algumas tentam trabalhar na origem dos sintomas, procurando modificá-lo, por exemplo, a psicanálise, enquanto outras atuam de forma mais direta, como a terapia cognitivo-comportamental, que dá atenção às manifestações sintomáticas (Justo & Calil, 2004). De acordo com Piccinato (2019), existem atualmente quatro tipos de intervenções consideradas eficazes e apropriadas para otimizar o tratamento dos pacientes com transtorno bipolar: 1) Terapia Cognitivo- -Comportamental; 2) Terapia Interpessoal; 3) Terapia Familiar e de Casal; e 4) Terapias Alternativas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O início do transtorno bipolar geralmente acontece na adolescência ou no começo da fase adulta, embora possa, muito raramente, começar no início da infância ou aos 40 ou 50 anos. Costa e Paixão (2019) definem o transtorno bipolar como uma doença crônica caracterizada pela intensa e desproporcional variação do humor e essas variações podem levar a pessoa a agir de forma inadequada, causando prejuízos em uma ou mais áreas de sua vida. Desse modo, quanto mais precoce é o início da doença, maiores poderão ser as consequências e o sofrimento causado ao paciente, por isso é tão importante o apoio terapêutico e medicamentoso assim que se manifestam os sintomas. Ao ser identificado, o tratamento do TAB deve iniciar-se combinando abordagens terapêuticas e medicamentosas, tendo em mente que quanto mais cedo se iniciar o tratamento, maiores as chances de melhor evolução e prognóstico (Leão & Silva et al., 2017). Em relação a tal protocolo de tratamento aceito como o mais efetivo, Lima (2019, p. 82) afirma: A TCC, em conjunto com a psicoeducação e o tratamento medicamentoso apresenta evidências de eficácia descritas em metanálises, especialmente o estudo de Chiang et al. (2017) com 19 estudos randomizados e controlados de Terapia Cognitivo- Comportamental para o transtorno bipolar. Como apoio terapêutico, entende-se a psicoeducação como uma das possibilidades. Costa e Paixão (2019) propõem a reflexão de um texto informativo como um passo importante para o sucesso do tratamento. Os autores são enfáticos ao afirmar que compreender questões relativas à natureza e ao tratamento desse transtorno contribui para que o paciente possa lidar melhor com a doença, diminuindo o estigma associado à patologia e se motivar na elaboração do tratamento. Ademais, o processo terapêutico, além do que tange à sua linha teórica, auxiliará o paciente a aprender habilidades necessárias para o manejo de sintomas, assim como para aprimorar os papéis sociais e ocupacionais, e cumprir com seu tratamento farmacológico (Miklowitz, 2016). Entretanto, as evidências destacam a eficácia da TCC no tratamento do transtorno bipolar, visto que ela diminui as taxas de recaída e reduz a severidade dos sintomas do humor e aumenta o funcionamento psicossocial; bem como a Terapia Interpessoal, a qual tem como objetivo aliviar os sintomas do paciente por meio da abordagem de problemas interpessoais que possam ser os possíveis responsáveis pelo surgimento ou manutenção de sintomas. Frequentemente, estão relacionados com conflitos importantes com familiares. Por isso, a Terapia Familiar também é indicada para melhorar a rede de apoio ao paciente, sendo o tratamento psicoeducativo familiar um coadjuvante no processo de recuperação (Miklowitz, 2016). Por fim, verifica-se que o tratamento conjunto entre as abordagens farmacológicas e terapêuticas semostra como a mais efetiva opção no tratamento do transtorno Afetivo Bipolar, visto que a abordagem psicoterapêutica reforça a adesão medicamentosa do paciente, enquanto os medicamentos dão ao paciente maior identificação e controle de seus sintomas, permitindo-o adquirir ferramentas para lidar com eles, de modo a diminuir o sofrimento causado pelo transtorno (Almeida et al., 2018). REFERÊNCIAS Almeida, B. R. A., de Almeida, C. G. S., de Oliveira, C. C. M., Machado, D. C. A., Ruckl, S., & Andrade, V. A. (2018). Atualização no tratamento do transtorno bipolar: o impacto da psicoeducação familiar. 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Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 63(3), 242-254. Tung, T. C. (2007). Enigma bipolar: consequências, diagnóstico e tratamento do transtorno bipolar (3ª ed.). MG Editores. CAPÍTULO 2 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR Maria da Penha A. Campos de Almeida Kato Emerson Rodrigues Barbosa INTRODUÇÃO O transtorno bipolar, ainda hoje, é uma doença de difícil diagnóstico, demandando, em média, cerca de dez anos para uma classificação precisa, na qual a alternância de humor é uma de suas características mais importantes. Sintomas como comportamentos de risco, forte impulsividade, agressividade, dificuldade de relacionamento, alternando-se com fases de humor deprimido e desesperança nem sempre se manifestam por uma causa definida. É bastante comum os pacientes procurarem ajuda quando apresentam humor deprimido e, assim, não são investigados os sintomas de hipomania (Moreno et al.,2005). Dessa forma, buscou-se, na literatura, os instrumentos avaliativos hoje disponíveis para auxiliar na identificação de possíveis casos, considerando sua enorme importância como complementação diagnóstica. Pensarmos em dez anos para um diagnóstico definitivo a uma doença que traz tantos prejuízos sociais e emocionais para a saúde física e mental nos remete à importância de investir cada vez mais em pesquisas que ajudem a validar e aperfeiçoar os instrumentos avaliativos existentes, bem como ao desenvolvimento de novas e mais eficazes estratégias de diagnóstico e tratamento (Alcântara et al., 2003). Muito embora tenhamos critérios diagnósticos em manuais como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) (American Psychiatric Association [APA], 2014), estes atendem ao propósito de referência técnica na classificação dos sintomas, mas têm sua eficácia comprometida se não forem levadas em conta variáveis que mudam de pessoa para pessoa. Ainda, o diagnóstico médico precisa ser amparado pelas entrevistas individuais com o paciente e sua família e, pela observação dos relatos, construir uma hipótese diagnóstica que deverá ser considerada e comprovada ao longo do tratamento. Importante salientar que nenhum instrumento avaliativo, por si só, é suficiente para este diagnóstico. Ouvir o relato do paciente sobre duração e padrão dos sintomas, eventos de vida estressantes, potencial suicida, uso de substâncias psicoativas e histórico familiar, bem como, com o consentimento do paciente, ouvir relatos de amigos e familiares, contribui enormemente para um diagnóstico mais breve e efetivo. Isso porque muitos pacientes que sofrem com o Transtorno Bipolar têm baixo insight acerca de seus sintomas (Clemente, 2015, p. 105). Relacionamos a seguir as escalas diagnósticas que têm sido utilizadas ao longo dos anos, salientando que, em sua maioria, são usadas por profissionais da Psiquiatria. Algumas, como BDI II, BSI e HAM-D, já estão validadas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) como instrumento formal de pesquisa para profissionais da psicologia. ESCALAS, ENTREVISTAS E MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR BDI II – INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK (BECK DEPRESSION INVENTORY) O BDI I desenvolvido por Aaron Beck et al., em 1961, foi revisto e atualizado por uma equipe de especialistas da Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), da Universidade de São Paulo (USP) e da Casa do Psicólogo. É composto de 21 itens, que englobam de quatro aseis afirmações, organizadas de acordo com a gravidade crescente do sintoma à qual dizem respeito. Assim, a primeira das afirmações de cada conjunto descreve sempre a situação de não existência do sintoma em causa; as demais correspondem a três níveis de gravidade: leve, moderado e grave. A tarefa do sujeito consiste em assinalar, em cada um dos conjuntos, a afirmação que melhor descreve a forma como se sentiu ao longo da última semana, incluindo o momento atual (Paranhos et al., 2010). B-EDEB – ESCALA DIAGNÓSTICA DO ESPECTRO BIPOLAR Escala baseada em autorrelato desenvolvida por Ronald Pies. Consiste em uma história de uma página na primeira parte – contendo 19 frases afirmativas na terceira pessoa, incluindo algumas experiências típicas de mudança de humor – e uma pergunta simples de múltipla escolha na segunda parte para avaliar o quanto a história o descreve (Castelo et al., 2010). BSDS – ESCALA DIAGNÓSTICA DO ESPECTRO BIPOLAR (BIPOLAR SPECTRUM DIAGNOSTIC SCALE) Desenvolvida por Ronald Pies, psiquiatra americano, e, posteriormente, submetida a uma revisão que a dividiu em duas partes. O questionário tem por objetivo não somente detectar casos graves de transtorno bipolar como também outras variações. A primeira parte contém 19 sentenças que descrevem os principais sintomas do transtorno bipolar, com espaços em branco que devem ser preenchidos pelo próprio paciente. Na segunda parte, composta de questões de múltipla escolha, o paciente reflete sobre sua experiência em uma escala composta de quatro itens (Clemente, 2015). Á Ó BSI 18 – INVENTÁRIO DE SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS (BRIEF SYMPTOM INVENTORY) O BSI (Derogatis, 1982) é composto de 18 itens, retirados de dois inventários mais longos desenvolvidos por este autor: BSI, com 53 itens (Derogatis, 1993, in Canavarro et al., 2017) e SCL-90-R, com 90 itens (Derogatis, 1994, in Canavarro et al., 2017). É uma escala de autorresposta e sua utilização permite adquirir informações sobre sintomas psicopatológicos clinicamente relevantes, agrupados em nove dimensões: 1) somatização; 2) obsessões-compulsões; 3) sensibilidade interpessoal; 4) depressão; 5) ansiedade; 6) hostilidade; 7) ansiedade fóbica; 8) ideação paranoide; e 9) psicotismo. Sua aplicação é indicada para a população em geral acima de 13 anos de idade (Sousa, 2012). CARS-M – ESCALA DE MANIA DE ALTMAN (ESCALA DE AVALIAÇÃO DE MANIA ADMINISTRADA POR CLÍNICO) Este instrumento de avaliação é administrado na forma de uma entrevista semiestruturada. Investiga a presença ou ausência de sintomas maníacos e mudanças que ocorrem em resposta a tratamento. Derivada de outra escala (SADS – Escala para Transtornos Afetivos e Esquizofrenia), é composta de 15 itens que avaliam a presença ou não de mania, além de itens que avaliam a existência de sintomas psicóticos. Uma importante característica desta escala é que na sua pontuação final são levados em consideração aspectos observados pelo entrevistador. É considerada como instrumento de avaliação do estado maníaco com as melhores propriedades psicométricas citadas até os dias de hoje, segundo o estudo de Shansis, Berlim e Maldonado (2003). CCL-M – INVENTÁRIO DAS COGNIÇÕES ASSOCIADAS À MANIA (COGNITION CHECKLIST FOR MANIA) Inventário concebido por Goldberg et al. (2005) e construído com o objetivo de avaliar a gravidade de crenças e pensamentos mal adaptativos associados à mania. As cognições disfuncionais são consideradas fundamentais na fenomenologia e patogênese de perturbações do humor, tendo a sua identificação precoce um papel crucial na prevenção do agravamento de sintomas clínicos (Bobrowicz- Campos, Pinho, & Matos, 2017). CES-D – ESCALA DE DEPRESSÃO DO CENTRO DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS Instrumento de autoavaliação para população adulta desenvolvido por Radloff, em 1977, de fácil aplicação e validada no país (Gabriel et al., 2005). Engloba 20 sintomas de depressão relacionados a humor, comportamento e percepção, com pontuação que varia de 0 (raramente ou nunca) a 4 (o tempo todo ou a maior parte do tempo). Os entrevistados avaliam os itens com base nos acontecimentos da semana que precede a aplicação do instrumento, utilizando uma escala de respostas de quatro pontos (Salle et al., 2012). CIDI – COMPOSITE INTERNATIONAL DIAGNOSTIC INTERVIEW É um instrumento para entrevistas totalmente estruturadas, idealizado e produzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1991. Atualmente, encontra-se na sua terceira versão, conhecida também como WMH-CIDI (World Mental Health Survey Initiative Version), de 2004 (Clemente, 2015), com inclusão de tópicos que permitem o diagnóstico pelo DSM-5 e pela CID-10 para mania, hipomania e episódio depressivo (Quintana et al., 2007). CUDOS-M – ESCALA PARA AVALIAÇÃO DA DEPRESSÃO (CLINICAL USEFUL DEPRESSION OUTCOME SCALE) Baseada nos critérios do DSM-5 para depressão mista, a escala avalia a gravidade da depressão em quesitos como: humor, sono, velocidade do pensamento, entre outros. É um questionário breve autoaplicado, que contempla tanto sintomas depressivos quanto sintomas mistos previstos no DSM-5 (Shansis, 2015). DIS IV – DIAGNOSTIC INTERVIEW SCHEDULE É uma entrevista diagnóstica estruturada, desenvolvida nos anos 1970, com algumas revisões ao longo dos anos, que faz parte do DSM. Avalia sintomas de acordo com sua cronologia e duração, gerando diagnósticos em algoritmos de computador. A gravidade é inferida com a busca de assistência médica, as limitações às atividades habituais ou uso de medicamentos para tratamento. Também avalia se uma eventual recorrência pode ser explicada por enfermidade médica ou uso de álcool ou outra droga (Clemente, 2015). EAM-BR – ESCALA DE AVALIAÇÃO DE MANIA DE BECH RAFAELSEN Esta escala, desenvolvida em 1978, investiga a presença versus a ausência de sintomas maníacos, sua severidade e sua mudança em resposta ao tratamento. Composta de 11 itens, sua aplicação dura, em média, de 15 a 30 minutos e os resultados são representados pelos aspectos relatados pelo paciente e observados pelo avaliador. Uma das críticas que se faz a este instrumento avaliativo se refere a sintomas psicóticos, comuns nos quadros de mania mais graves. Não há um item específico que avalie este sintoma, com exceção do item “autoestima”, no qual podem aparecer algumas ideias de grandeza (Shansis et al., 2004). EAM-M – ESCALA DE AVALIAÇÃO DE MANIA MODIFICADA Composta de 11 itens, que cobrem sintomas centrais da mania, como: elevação do humor, da energia e atividade motora, interesse sexual, sono, irritabilidade, velocidade e quantidade da fala, linguagem, conteúdo do pensamento, comportamento disruptivo agressivo, aparência e insight. Ainda que esta seja a escala mais amplamente utilizada em ensaios clínicos, a crítica mais comum diz respeito a falhas na avaliação de sintomas psicóticos, comuns na fase de mania. Apenas um item da escala avalia esse quesito (Shansis et al., 2004; Vilela & Loureiro, 2000). EDEB – ESCALA DIAGNÓSTICA DO ESPECTRO BIPOLAR (ESBS) Consiste em relato descritivo que abrange sutis características do transtorno bipolar. A primeira parte contém 19 frases de valência positiva em terceira pessoa, incluindo algumas experiências típicas de oscilação de humor. O indivíduo concorda ou não com as sentenças, assinalando aquelas com as quais se identifica. Uma questão simples de múltipla escolha, na segunda parte, avalia até que ponto a história representa uma descrição correta de si mesmo (Castelo, 2012). GAEM – GUIA PARA AVALIAÇÃO DO ESTADO MANÍACO (MANIA RATING GUIDE – MRG) Desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), teve por objetivo auxiliar no diagnóstico do transtorno bipolar com apoio do preenchimento de três escalas de mania: Escala de Avaliação de Mania (YMRS), Escala de Avaliação de Mania de Bech-Rafaelsen (Bech-Rafaelsen Mania Scale) e Escala de Avaliação de Mania Clinicamente Administrada (Clinician- Administered RatingScale for Mania) (Shansis et al., 2003). HAM-D – ESCALA DE HAMILTON Escala amplamente utilizada, construída na década de 1960 e bastante importante para a avaliação da eficácia de alguns medicamentos antidepressivos. O resultado da avaliação enfatiza os sintomas somáticos, sendo também sensível às mudanças vivenciadas por pacientes que sofrem de depressão grave, além de discriminar placebo de droga. Sua versão mais utilizada é composta de 17 itens, com duração de 15 a 30 minutos e indicação de participação de dois clínicos na entrevista: um para conduzir e outro para complementar questões no final. A avaliação é também baseada nos prontuários e observação de outras pessoas que acompanham o paciente (Freire et al., 2014). HCL-32 – QUESTIONÁRIO DE AUTOAVALIAÇÃO DE HIPOMANIA Questionário desenvolvido pela American Psychiatric Association (APA), autoaplicável, composto de 32 itens para o rastreamento de episódios de transtorno de humor, e cuja versão brasileira já está validada. Avalia a presença ou ausência de vários sintomas de hipomania, além da gravidade e impacto destes sobre diversos aspectos da vida do indivíduo. Avalia também o impacto funcional relativos à duração dos episódios e suas consequências. O HCL-32 VB é um questionário de fácil interpretação com respostas como presente (sim) ou ausente (não) (Soares et al., 2010). MADRS – ESCALA DE AVALIAÇÃO PARA DEPRESSÃO DE MONTGOMERY & ÅSBERG Escala amplamente utilizada em ensaios com medicamentos antidepressivos, que foi desenvolvida especialmente para medir mudanças clínicas no curso do tratamento e aplicação indicada para ser realizada por clínico. Avalia alguns dos principais sintomas do transtorno depressivo, tais como tristeza, redução do sono, lassidão, pessimismo e pensamentos suicidas. Seus itens incluem aspectos biológicos, cognitivos, afetivos e comportamentais (Moreno & Moreno, 1998; Barroso, 2016). MSRS – ESCALA DE AVALIAÇÃO DO ESTADO DE MANIA (MANIAC STATE RATING SCALE) Constituída por 26 itens, pontuados de 0 a 5 quanto à frequência dos sintomas, e de 1 a 5 no que diz respeito à intensidade. É uma escala que demanda tempo para aplicação em decorrência de sua extensão e omite sintomas maníacos importantes relativos à alteração do sono (Beigel et al., 1971). PHQ-9 – QUESTIONÁRIO DE SAÚDE DO PACIENTE (PATIENT HEALTH QUESTIONAIRE) O PHQ-9 é um questionário de nove perguntas que avaliam a presença de cada um dos sintomas para o episódio de depressão maior, descritos no DSM-5. Os nove sintomas consistem em, a saber: 1) humor deprimido; 2) anedonia (perda de interesse em fazer as coisas); 3) problemas com o sono; 4) cansaço ou falta de energia; 5) mudança no apetite e/ou peso; 6) sentimento de culpa ou inutilidade; 7) problemas de concentração; 8) sentir-se lento ou inquieto; e 9) pensamentos suicidas. A frequência de cada sintoma nas últimas duas semanas é avaliada em uma escala Likert de 0 a 3, correspondendo às respostas “nenhuma vez”, “vários dias”, “mais da metade dos dias” e “quase todos os dias”, respectivamente. O questionário ainda inclui uma décima pergunta que avalia a interferência desses sintomas no desempenho de atividades diárias, como trabalhar e estudar (Santos et al., 2013). POMS – PERFIL DE ESTADOS DE HUMOR (PROFILE OF MOOD STATES) Instrumento originalmente publicado por McNair et al. (1971), que procura avaliar os estados emocionais e os estados de humor, assim como a variação associada a eles. Foi originalmente construído para avaliar as variações dos estados de humor em populações psiquiátricas, mas, rapidamente, a sua utilização foi direcionada para outras populações não clínicas. É um instrumento de autorrelato e de fácil e rápida utilização para captar os estados afetivos transitórios (Viana, Almeida, & Santos, 2001). QTH – QUESTIONÁRIO DE TRANSTORNO DE HUMOR (MOOD DISORDER QUESTIONNAIRE – MDQ) Instrumento baseado nos critérios do DSM-IV, que verifica a ocorrência de síndromes maníacas, utilizado para triagem breve e uso em ambientes psiquiátricos, contexto comunitário e atenção primária. Consiste em 13 questões para avaliar humor, autoconfiança, energia, sociabilidade, interesse por sexo e outros comportamentos. Duas perguntas adicionais exploram a concomitância dos sintomas durante determinado período, bem como a gravidade do comprometimento funcional causado pelos sintomas (Soares et al., 2010; Castelo, 2012). WHOQOL BREVE – AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE Instrumento de autorresposta, produzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com a participação de vários países. Era composto inicialmente de cem questões e, atualmente, tem sua forma breve contendo 26 questões, cada uma delas com quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente, além de duas relacionadas à qualidade de vida (Fleck et al., 2000). YMRS – ESCALA DE MANIA DE YOUNG Escala composta de 11 questões, com cinco níveis de gravidade, sendo sete itens pontuados de 0 a 4 e os outros quatro (irritabilidade, fala, comportamento disruptivo agressivo e conteúdo do pensamento), de 0 a 8. Criada em 1978, ainda hoje é muito utilizada em ensaios clínicos que avaliam novas drogas antimaníacas. Apesar de ser de fácil aplicação, esta escala possui uma série de limitações metodológicas (Shansis et al., 2004). Buscou-se aqui fazer um breve descritivo dos recursos técnicos disponíveis para avaliação e diagnóstico da doença bipolar. Estas escalas e questionários oferecem apenas suporte para os profissionais da área quando da avaliação de um paciente com suspeita deste tipo de transtorno. Importante salientar, mais uma vez, conforme descrito no início deste capítulo, que estes instrumentos devem sempre ser acompanhados de uma anamnese detalhada não somente com o paciente, como também com seus familiares e pessoas mais próximas, para então oferecer a melhor proposta terapêutica que possibilite recuperar a qualidade de vida. REFERÊNCIAS Alcântara, I., Schmitt, R., Schwarzthaupt, A. W., Chachamovich, E., Sulzbach, M. F. V., Padilha, R. T. L., Candiago, R. H., & Lucas, R. M. (2003). Avanços no diagnóstico do transtorno do humor bipolar. Revista de Psiquiatria do Rio Grande Sul, 25(supl. 1), 22-32. American Psychiatric Association. (2014). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (5ª ed.). Artmed. Barroso, S. M. (2016). Instrumentos de avaliação em saúde mental. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 65(3), 304-305. Beigel, A., Murphy, D. L., & Bunney, W. E., Jr. (1971). The Manic-State Rating Scale: Scale construction, reliability, and validity. Archives of General Psychiatry, 25(3), 256-262. Bobrowicz-Campos, E., Pinho, M. S., & Matos, A. P. (2017). Versão portuguesa do inventário das cognições associadas à mania. Psicologia, Saúde & Doenças, 8(2), 401-419. Canavarro, M. C., Nazaré, B., & Pereira, M. (2017). Inventário de sintomas psicopatológicos 18 (BSI-18). Psicologia clínica e da saúde: Instrumentos de avaliação, 115-130. Castelo, M. S. (2012). Validação da “Escala Diagnóstica do Espectro Bipolar”, do “Questionário Transtornos do Humor” e sua utilização para o rastreio de pacientes com Transtorno Bipolar em unidades de atenção básica. [Tese de doutorado, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará]. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/12262 Castelo, M. S., Carvalho, E. R., Gerhard, E. S., Macêdo, D. S., Ferreira, E. D., & Carvalho, A. F. (2010). Validity of the Brazilian Portuguese version of the bipolar spectrum diagnostic scale. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 59(4), 266-270. Clemente, A. S. (2015). Concepções dos psiquiatras sobre o transtorno bipolar do humor e sobre o estigma a ele associado. [Tese de doutorado em Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz]. https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/12310 Derogatis, L. R. (1982). Brief Symptom Inventory (BSI) [Database record]. APA PsycTests. https://doi.org/10.1037/t00789-000