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2015.01 - Fichamento - exemplo

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Universidade Federal do Rio de Janeiro 
Faculdade de Letras 
Leitura e produção de textos em LP 
Profa. Juliana Marins 
 
Fichamento – exemplo 
 
A teia mental da linguagem 
Publicado em 
Como agem as redes neurais que permitem a interação humana 
 
 Por muito tempo, o estudo da linguagem se restringiu à análise das línguas, e só em seus aspectos gramaticais 
(fonológicos, léxicos, sintáticos) ou sociais. Ao mesmo tempo, falar é algo tão intuitivo que é uma das primeiras coisas 
que aprendemos na vida. Por isso, não nos damos conta da complexidade dos processos mentais envolvidos na 
formulação de uma simples frase. 
 Somente na década de 90 (a “década do cérebro”), pesquisas mais profundas sobre o funcionamento da mente, 
empreendidas pela neurociência, lançaram luz sobre a relação entre o cérebro e a linguagem. 
 O desafio é explicar não só como somos capazes de aprender a dominar um código complexo como a língua em 
idade tão tenra, mas como é possível formular enunciados complexos e dotados de lógica em fração de segundos. Ou 
seja, como conseguimos pensar e falar ao mesmo tempo. 
 Essas pesquisas inauguraram ciências de fronteira como a neurolinguística (não confundir com Programação 
Neurolinguística, que é uma técnica de autoajuda) e a semiótica cognitiva. 
 
Processo 
 
 Com exceção dos provérbios, das frases feitas e das expressões idiomáticas (“puxa vida”, “que legal”, “só me 
faltava essa”, “não me admira”, “só se for agora”), que já estão estocados na memória, as frases e os textos que 
produzimos, oralmente ou por escrito, são inéditos e irrepetíveis: nunca os dissemos antes, nunca os diremos de 
novo. 
 Então como fazemos para criá-los? 
 O ato linguístico parte de uma elaboração mental, que se dá num nível conceptual profundo, de maneira 
abstrata, como se nossa mente convertesse os conceitos (todas as “coisas” em que podemos pensar) e as relações 
entre eles em equações matemáticas. 
 Esse processamento se assemelha ao de um computador (na verdade, o computador é um simulacro da mente 
humana), pois o cérebro trabalha com impulsos elétricos. É claro que, quando pensamos, imagens surgem na nossa 
mente, mas como imagens já são uma forma de linguagem, também são decorrência desse processamento abstrato 
prévio. 
 
Estrutura vazia 
 
 A partir daí, e de maneira bem resumida, pois a descrição detalhada do processo demandaria um livro, o 
enunciado conceptual formulado passa por vários níveis de transformação para resultar nas imagens, sons, palavras 
e gestos que povoam nossa cabeça enquanto pensamos (e que já são linguagens). 
 No caso da linguagem verbal, é nesse ponto que entra em ação a gramática universal proposta por Chomsky. A 
partir dela é que o cérebro busca formas linguísticas correspondentes na língua nativa do indivíduo (ao falar uma 
língua estrangeira, o processo é ainda mais complicado). 
 Nesse momento, dois módulos cerebrais distintos, responsáveis pelo vocabulário e pela sintaxe, interagem de 
modo a criar uma estrutura sintática “vazia” (por exemplo, sujeito-verbo-complemento) a ser simultaneamente 
preenchida com palavras. E já se sabe desde Saussure (início do século passado) que a língua é uma estrutura 
sintagmática linear em que cada “casa” (cada sintagma) é preenchida por um elemento extraído de um paradigma, 
ou seja, de uma lista de elementos que podem ocupar aquela posição. 
 Isso significa que, à medida que construímos uma frase, criamos uma estrutura sintática e preenchemos seus 
sintagmas com palavras que escolhemos em função da conceptualização que havíamos realizado. Isso me obriga a 
decidir, por exemplo, com qual termo completarei a frase “Milton Nascimento é um grande _____”: “cantor”, 
“artista”, “músico”…? 
 
Redes neurais 
 
 Mas quando pensamos numa palavra, acionamos simultaneamente várias redes neurais. 
 Junto com o conceito, vem a imagem acústica da palavra, isto é, sua pronúncia (e, nesse caso, ouvimos 
internamente nossa voz e maneira de pronunciar) e, no caso das pessoas letradas, sua imagem gráfica, em cursivo ou 
letra de imprensa. (Quem grafa “atravez” ou “kilo” demonstra não ter uma imagem gráfica associada a essas palavras, 
pois tal imagem se fixa na mente com o hábito da leitura.) 
 Mas vem também toda uma teia de associações com outras palavras, por similaridade (“aquecimento” x “calor” 
x “quente”) e por contiguidade (“aquecimento” x “global”). Vem a estrutura morfológica da palavra em termos de 
flexão (gênero, número, conjugação verbal, regência, etc.), pois temos de inseri-la numa frase em que ela terá de 
concordar com outras. Vem ainda a carga semântica que a palavra tem para nós (lembranças de ocorrências do 
vocábulo que nos marcaram, imagens mentais evocadas por ele, sensações e sentimentos associados), o que nos faz 
preferir certos termos a outros, configurando assim o nosso estilo pessoal de falar ou escrever. 
 
Imagem motora 
 
 Por fim, a ocorrência de uma palavra na mente aciona uma imagem motora, isto é, um conjunto de instruções 
que o cérebro envia aos órgãos responsáveis pela comunicação. 
 Se estamos falando, junto à imagem acústica vem o esquema muscular de nosso aparelho fonador; é por isso 
que, mesmo quando pensamos ou lemos, nossa língua se movimenta dentro da cavidade bucal como se falássemos 
de boca fechada. 
 Se estamos escrevendo, o esquema muscular consiste em instruções enviadas pelo cérebro às nossas mãos – e 
há uma grande diferença entre escrever à mão ou digitar num teclado: nosso cérebro desenvolveu dois esquemas 
musculares diferentes, correspondentes a essas duas habilidades manuais distintas. Vem ainda a gestualidade 
associada à palavra, como quando dizemos “Legal!” e simultaneamente estendemos o polegar para cima, num gesto 
de aprovação. 
 O mais surpreendente é que, sobretudo no caso da fala espontânea, todo esse processo se dá em frações de 
segundo, o que mostra que o cérebro tem uma velocidade de processamento que os computadores mais sofisticados 
ainda não conseguiram alcançar. E ocupando um volume menor do que muitas CPUs. 
 
 
******************************* 
 
Fichamento de resumo – A teia mental da linguagem 
 
 
Linguística – Neurolinguística; Semiótica Cognitiva. 
BIZZOCCHI, Aldo. A teia mental da linguagem. Revista Língua Portuguesa. São Paulo, ano 8, n.º 84, out. 2012. 
 
 
Artigo que trata da Neurolinguística e da Semiótica Cognitiva, ciências que se debroça sobre os processos mentais 
que permitem o desenvolvimento da linguagem humana, levando em conta a dinâmica cerebral para produzir 
enunciados numa língua e para compreendê-los. 
O autor faz um apanhado resumido de como se dá a formação das sentenças na mente humana, elencando os 
principais processos mentais empregados, desde a criação do enunciado conceptual até a concretização fonética da 
sentença. O artigo ressalta ainda a importância das ligações entre os diferentes sistemas para que toda essa operação 
seja realizada. 
http://www.aldobizzocchi.com.br/divulgacao.asp

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