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DESENVOLVIMENTO-DO-PENSAMENTO-E-DA-LINGUAGEM-1

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2 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 
2 LINGUAGEM, CONHECIMENTO E PENSAMENTO .......................... 4 
2.1 Relação entre linguagem, conhecimento e pensamento .............. 4 
2.2 O homem e a linguagem ............................................................... 7 
2.3 Linguagem e língua: diferenças e semelhanças ......................... 11 
3 O PAPEL DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO E NA 
APRENDIZAGEM .................................................................................................. 15 
3.1 Desenvolvimento da linguagem .................................................. 16 
3.2 Regras que compõem o sistema linguístico ................................ 18 
3.3 Teorias clássicas de aquisição da linguagem: o debate genética e 
ambiente........ .................................................................................................... 20 
3.4 Principais influências sobre o desenvolvimento da linguagem.... 21 
4 PRODUÇÃO DA LINGUAGEM: PROCESSAMENTOS MENTAIS 
ENVOLVIDOS NA FALA ....................................................................................... 25 
4.1 Linguagem, fala e pensamento ................................................... 26 
4.2 Representação mental e instrumentos do pensamento .............. 28 
4.3 As funções dos hemisférios cerebrais para a fala e a linguagem 31 
5 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM E DESENVOLVIMENTO 
COGNITIVO .......................................................................................................... 38 
6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................... 43 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão 
a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as 
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão 
respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 LINGUAGEM, CONHECIMENTO E PENSAMENTO 
É possível haver pensamento sem linguagem? A linguagem influencia o 
conhecimento? Neste capítulo, você vai estudar a relação entre as definições de 
linguagem, conhecimento e pensamento, relacionando tais conceitos entre si. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://filosofandoehistoriando.blogspot.com 
2.1 Relação entre linguagem, conhecimento e pensamento 
“O conhecimento é o pensamento que resulta da relação que se estabelece 
entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido” (ARANHA, 1993, p. 21). 
Num primeiro momento, essa epígrafe se apresenta de forma complexa e, talvez, 
pode até mesmo parecer de difícil compreensão. Mas, se você analisar a descrição 
novamente (ou por várias vezes) e relacioná-la com o tema deste capítulo, as ideias 
vão clareando e fazendo sentido. Linguagem, conhecimento e pensamento são 
conceitos interligados. Naturalmente, você pode analisá-los separadamente, pois 
 
5 
 
seus significados são distintos, mas é como se, na prática, eles se apresentassem 
de forma integrada. Na epígrafe que você acabou de ler, está em jogo a noção de 
que o conhecimento é gerado a partir do momento em que as pessoas se deparam 
com algo novo, até então desconhecido. Essa “apresentação” ao novo alimenta o 
pensamento, gerando um novo conhecimento acerca do objeto que até então era 
desconhecido e passa a ser familiar. Mas e a linguagem? A linguagem é a forma 
utilizada para expressar esse pensamento resultante do conhecimento gerado a 
partir do que foi apresentado. 
Como você pode notar, portanto, há uma ligação entre a linguagem, o 
conhecimento e o pensamento. É como se fosse possível expressar algo (por meio 
da linguagem) internalizado no pensamento. Contudo, para tal coisa fazer parte do 
pensamento, precisa antes passar pelo conhecimento (do objeto, da pessoa, do 
conceito). 
Para os estudiosos, a linguagem acompanha o ser humano desde o seu 
nascimento, pois se trata de uma função inata, que permite ao indivíduo simbolizar 
o seu pensamento e decodificar o pensamento do outro. O pensamento antecede a 
linguagem, como você pode notar nos bebês: mesmo antes de falarem e se 
expressarem por meio dos diferentes tipos de linguagem (verbal e corporal, por 
exemplo), eles já possuem imagens mentais (DOS SANTOS, 2018). Ou seja, já 
foram apresentados a diferentes tipos de objetos e pessoas, conhecendo-os e 
dando significado a eles. Em síntese, os bebês geram em seu pensamento um 
arquivo de imagens que futuramente irão se transformar em linguagem. 
Segundo Aranha (1993, p. 42), “O verdadeiro conhecimento se faz, 
portanto, pela ligação contínua entre a intuição e a razão, entre o vivido e o 
teorizado, entre o concreto e o abstrato”. Para você, enquanto professor, a ligação 
entre teoria e prática se faz necessária e de suma importância. E ela também é 
fundamental para todas as pessoas. A vivência entre realidade e imaginação e 
teoria e prática é importante para gerar cada vez mais conhecimento e, por 
consequência, novos pensamentos, ampliando e aperfeiçoando a linguagem. 
Dessa forma, Chauí (2000, p. 143) afirma que: 
 
6 
 
O problema do conhecimento torna-se, portanto, crucial e a Filosofia 
precisa começar pelo exame da capacidade humana de conhecer, pelo 
entendimento ou sujeito do conhecimento. A teoria do conhecimento volta-
se para a relação entre o pensamento e as coisas, a consciência (interior) 
e a realidade (exterior), o entendimento e a realidade; em suma, o sujeito 
e o objeto do conhecimento. 
Além disso, o conhecimento, assim como o pensamento e a linguagem, se 
divide em diferentes tipos. No Quadro 1, a seguir, você pode ver alguns dos tipos 
de conhecimento e seu significado. 
 
 
 
Mesmo que aqui seja priorizado o olhar por meio do conhecimento filosófico, 
você já deve ter notado que constantemente se depara com os diferentes tipos de 
conhecimento. Por consequência, produz o seu próprio saber com base naquilo a 
que foi apresentado e a partir do pensamento gerado em seu interior. Aranha (1993, 
p. 40) acrescenta que: 
Pelo esforço resultante do questionamento, a razão elabora o trabalho de 
conceituação, que tende a se tornar cada vez mais complexo, geral e 
abstrato. A ação do homem, inicialmente “colada” ao mundo, é lentamente 
elucidada pela razão, que permite “viver em pensamento” a situação que 
ele pretende compreender e transformar. Com isso não estamos dizendo 
 
7 
 
que o pensar humano possa ficar separado do agir [...], mas que o próprio 
pensamento torna-se objeto do pensamento: instala-se a fase de 
autorreflexão e crítica do conhecimento anteriormente recebido. 
Dessa forma, ao conhecer algo — por exemplo, ao se deparar com um 
conhecimento empírico —, em seu pensamento esse objeto deixa de ser novo. 
Contudo, ao confrontar esse objeto já internalizado em seu pensamento com um 
novo olhar (como o do conhecimento científico), ocorre uma transformação em seu 
interior e você passa a ter um novo conhecimento. 
Segundo Chauí (2000, p. 138):[...] conhecer é alcançar o idêntico, imutável. Nossos sentidos nos 
oferecem a imagem de um mundo em incessante mudança, num fluxo 
perpétuo, onde nada permanece idêntico a si mesmo: o dia vira noite, o 
inverno vira primavera, o doce se torna amargo, o pequeno vira grande, o 
grande diminui, o doce amarga, o quente esfria, o frio se aquece, o líquido 
vira vapor ou vira sólido. 
Com isso, você pode perceber o quanto linguagem, pensamento e 
conhecimento são distintos, mas ao mesmo tempo estão conectados. Além disso, 
você pode notar o quanto a teoria e a prática são necessárias para ampliar seu 
campo de visão, assim como o quanto a filosofia é importante para sua prática 
enquanto professor. 
2.2 O homem e a linguagem 
Ao refletir sobre a linguagem, num primeiro momento, você pode pensar 
que o assunto se relaciona com a língua portuguesa, ou talvez você fique surpreso 
ao encontrar essa abordagem na área da filosofia. No entanto, a linguagem e a 
filosofia estão intimamente ligadas, uma vez que “[...] a propriedade de falar 
distingue nitidamente o homem dos animais e de qualquer outro ser deste mundo e 
faz dele um ser totalmente singular. Assim, o falar compreende a expressão do 
homem sobre tudo o que o envolve” (MONDIN, 1980, p. 132). Nesse contexto, a 
linguagem é um sistema simbólico que diferencia o homem dos animais e diferencia 
 
8 
 
os homens entre si. Assim, o homem revela-se e revela a realidade do mundo por 
meio da linguagem. 
Rubem Alves (FILOSOFIA..., 2014, documento on-line) acrescentaria que: 
“[...] a linguagem é um conjunto de sinais fonéticos e/ou gráficos convencionais, 
criados pela sociedade a fim de representar para o homem as coisas e suas 
relações, e assim tornar possível a comunicação, necessária à conjugação da 
ação”. Tais sinais mencionados por Rubem Alves também são conhecidos como 
símbolos e signos, que para a filósofa Maria Aranha são criados arbitrariamente, 
servindo como uma forma de inserção social para o homem. A autora destaca ainda 
que, como no exemplo da palavra “casa”: 
[...] não há nada no som nem na forma escrita que nos remeta ao objeto 
por ela representado (cada casa que, concretamente, existe em nossas 
ruas). Designar esse objeto pela palavra casa, então, é um ato arbitrário. 
A partir do momento em que não há relação alguma entre o signo casa e 
o objeto por ele representado, necessitamos de uma convenção aceita 
pela sociedade de que aquele signo representa aquele objeto. É só a partir 
dessa aceitação que poderemos nos comunicar, sabendo que, em todas 
as vezes que usarmos a palavra casa, nosso interlocutor entenderá o que 
queremos dizer (ARANHA, 1993, p. 43). 
Assim, você pode considerar que a linguagem é um sistema de 
representações aceitas por um grupo social e que por meio dela é possível haver 
comunicação entre os integrantes desse mesmo grupo. Porém, na medida em que 
esse laço entre a representação (o significado casa) e o objeto representado (a casa 
em si) ocorre de forma arbitrária, é possível dizer que essa é uma construção da 
razão, ou seja, um sujeito cria (inventa) esse código (signo) para poder se aproximar 
da realidade. Segundo Aranha, por esse motivo é possível afirmar que a linguagem 
é um produto da razão e só pode existir se há racionalidade. Como diria Heidegger, 
“A linguagem é a casa do ser. É nessa morada que habita o homem” (HEIDEGGER 
apud REALE; ANTISERI, 1991, p. 591), ou seja, o ser está na linguagem e vice- -
versa. Todas as ações do homem (fala, pensamento, atitudes) se dão por meio da 
linguagem. 
 
9 
 
Fazendo uso de metáforas, Rubem Alves explica o processo pelo qual a 
sociedade cria a linguagem. 
[...] através dos seus sentidos ele tiraria “retratos” do mundo, que seriam 
“revelados” na mente. A mente seria uma máquina reduplicadora do 
mundo. E a linguagem, o que seria? Um sistema de sinais para representar 
essa reduplicação. Imaginemos que um homem veja uma árvore. Lá fora 
está a árvore e na mente dele está a imagem dela. Agora, se ele necessita 
comunicar a um companheiro esta imagem, ele poderá simplesmente 
apontar para a árvore, se se encontrarem próximos dela. Mas e se a árvore 
estiver fora do alcance de sua vista? Nesse caso, a comunicação, isto é, a 
focalização das atenções dos dois homens sobre um mesmo objeto, só se 
dará se eles dispuserem de um sinal que “signifique” a árvore e lhes 
evoque a sua imagem. Os sinais são criados para desempenhar esta 
função. Parece, portanto, óbvio que as palavras têm por função 
representar coisas (FILOSOFIA..., 2014, documento on-line). 
Assim, a linguagem não é uma cópia do real, mas antes uma organização 
dele. Na verdade, para o homem, o real é aquilo que ele organiza. As pessoas 
utilizam a linguagem para se comunicarem umas com as outras, pois ela 
corresponde às palavras faladas, escritas ou gesticuladas e às maneiras como são 
combinadas à medida que se pensa e se comunica. Dessa forma, a linguagem 
assume grande parte do pensamento, é constituída por vários elementos que 
afloram à medida que o sujeito amadurece. Ela é, assim, um dos principais 
instrumentos na formação do mundo cultural, pois permite transcender a 
experiência (DOS SANTOS, 2018). 
A linguagem permite ao homem nominar qualquer objeto, como você viu. 
Dessa forma, tal objeto se torna individualizado, sendo diferente (de outros iguais a 
ele e do resto que o cerca) e passando a existir na consciência dos sujeitos. O 
símbolo, na linguagem, é resultado desse ato de dar nome às coisas, aos objetos, 
assim como do ato de nominar algo que é abstrato e que só têm existência no 
pensamento (por exemplo, ações, estados ou qualidades como medo, beleza, 
liberdade). Além de diferenciar os homens dos animais, o ato de nomear algo traz 
para perto e torna presente na consciência o objeto que está longe. Por exemplo, 
ao ver o nome do seu filho escrito em algum lugar, esse nome não necessariamente 
se refere ao seu filho, mas você, em sua consciência, vai lembrar-se dele. 
 
10 
 
Nesse sentido, a linguagem permite que o simples pronunciar de uma 
palavra torne presente na consciência o objeto a que ela se refere. Com isso, não 
é mais necessária a existência física das coisas: é criado, por meio da linguagem, 
um mundo estável de ideias que permite lembrar o que já foi e projetar o que será, 
instaurando a temporalidade no existir humano. Pela linguagem, o homem deixa de 
reagir somente ao presente, ao imediato, passa a pensar o passado e o futuro e, 
com isso, a construir o seu projeto de vida. Por meio das palavras, é possível 
transmitir o conhecimento acumulado por uma pessoa ou por uma sociedade, assim 
se pode passar adiante essa construção da razão que se chama cultura. Essa 
possibilidade que a linguagem dá de “nominar o abstrato” permite transcender a 
situação concreta, o fluir contínuo da vida. Assim, o mundo criado pela linguagem 
se apresenta de forma mais estável, sofrendo mudanças mais lentas do que no 
mundo natural (DOS SANTOS, 2018). 
A linguagem a que se refere essa abordagem não está relacionada 
exclusivamente à linguagem verbal, pois existem diferentes tipos de linguagem que, 
em diferentes situações ou para diferentes indivíduos, são utilizadas com o mesmo 
objetivo da linguagem formal, que é o de comunicar, de expressar aquilo que está 
armazenado no pensamento. Como exemplo, você pode considerar a linguagem de 
sinais, utilizada pelos surdos, e a linguagem de computador, utilizada na área de 
informática para criar diferentes programas com os comandos elaborados a partir 
de códigos. Além disso, há a linguagem corporal, ou seja, seu corpo emite diversos 
e diferentes sinais capazes de expressar ao outro (mesmo que inconscientemente) 
o que está em seu pensamento. 
 
 
11 
 
 
2.3 Linguagem e língua: diferenças e semelhanças 
A linguagem está ligada ao processo de comunicação entre os seres vivos, 
pois em um sentido amplo ela é praticada por todosos animais, por meio de seus 
gestos e movimentos diversos. Portanto, você sabe o que difere o homem dos 
animais, se estes também são providos de linguagem? Para Aristóteles, a 
especificidade humana em relação aos animais, uma vez que todos são providos 
de vozes, está relacionada com a palavra, ou seja, a língua. Essa afirmação do 
pensador está publicada em sua obra A política (DOS SANTOS, 2018). 
A linguagem é uma forma de comunicação e você pode considerá-la como 
a capacidade estritamente humana de manifestar algo, como sentimentos, desejos 
e opiniões, bem como de promover a troca de informações entre diferentes culturas. 
Por meio da linguagem, os sujeitos emitem mensagens que possibilitam identificar 
a intencionalidade presente em determinado discurso. Como você viu, a linguagem 
pode ser de natureza verbal ou não verbal e ocorre entre os seres humanos. 
Segundo Dias (2011, documento on-line): “É a fala que dá ao homem o poder de 
tornar visível aquilo que estava ausente, tornando possível do outro vê-lo. O homem 
 
12 
 
tem capacidade de poder falar tudo o que passa pelo seu pensamento. Isto só é 
permitido porque ele é o único ser vivo dotado de linguagem”. 
Em contrapartida, quando você reflete sobre a língua, deve considerar que 
está em jogo uma atividade coletiva realizada por meio de um código. Tal código é 
formado por palavras regidas por leis combinadas e pertencentes a um grupo 
específico. É o caso das línguas estrangeiras, como a língua inglesa, brasileira, 
italiana, francesa e muitas outras. Por possuir um caráter social, a língua não 
permite mudanças arbitrárias. Assim, é necessário obedecer a certas regras para 
que a comunicação se realize de maneira plausível. O agrupamento de palavras de 
forma desordenada não torna uma língua efetiva (DOS SANTOS, 2018). 
Na Figura 1, você pode observar a diferença entre língua e linguagem. A 
linguagem está presente em todos os países e culturas do mundo, mas a língua se 
diferencia de país para país, como mostra a figura, em que você pode ver a 
diferença da saudação “Olá” em diferentes países do mundo. Segundo Aranha 
(1993, p. 50): 
Nas línguas há modificações de repertório e semânticas a partir das novas 
descobertas e do desenvolvimento da técnica. Nas artes, as 
reestruturações da linguagem respondem a mudanças de valores, de 
anseios e de buscas no seio da cultura de cada sociedade. 
 
13 
 
 
 
Assim como a linguagem, a língua também mantém estreita relação com a 
cultura. Se, por um lado, as várias linguagens e diferentes línguas fixam e passam 
adiante os produtos do pensamento do homem sob a forma de ciência, técnicas e 
artes, elas também sofrem a influência das modificações culturais. Retomando o 
exemplo da Figura 1, você pode considerar que “Olá”, seja em que língua for, tem 
uma mesma função, saudar alguém, mas a forma com que cada língua apresenta 
tal expressão resulta na apreensão de um aspecto particular, de uma série de 
operações, e esse aspecto focalizado difere de uma comunidade para outra, de 
acordo com a cultura. 
Além disso, a linguagem permite ao homem realizar ações que o diferenciam 
dos animais. Por exemplo, por meio dela os seres humanos são capazes de 
construir e ler uma história, perguntar algo a alguém, agradecer, entre outras ações. 
Para Medina (2007, p. 20): 
Certamente, esta é uma lista que deve permanecer em aberto, pois nossas 
atividades e práticas linguísticas são coisas vivas e estão sempre 
mudando. O uso da linguagem é tão imprevisível quanto a ação humana, 
pois, de fato, uma elocução é, ela própria, um ato. A questão não é 
 
14 
 
simplesmente que a fala esteja relacionada à ação, mas, por outro lado, 
que a própria fala é ação. 
Nesse sentido, Medina acrescenta que a linguagem vai além do ato de falar, 
uma vez que 
Pedir desculpas, apostar, prometer, casar-se e todas as outras coisas que 
fazemos com palavras requerem muito mais do que meramente proferir 
certas palavras. Para que as palavras que proferirmos tenham a força 
apropriada e desempenhem as ações devidas, toda uma máquina social 
deve estar em funcionamento (MEDINA, 2007, p. 23). 
Ou seja, você é um ser inserido em um contexto social e, por esse motivo, 
suas práticas são influenciadas por esse meio e esse convívio. Logo, suas ações 
também sofrem influências desse meio, bem como suas palavras e seus hábitos. 
Assim, “A criatividade da linguagem, enquanto uma atividade que estrutura, 
consiste tanto na articulação quanto na constituição. Além de dar articulação ao 
nosso mundo, a linguagem também tem o poder de fazer-nos o que somos” 
(MEDINA, 2007, p. 54). Para o autor, as emoções são construídas por meio da 
linguagem, seguindo padrões normativos e regras preestabelecidas. Além disso, 
“As preocupações humanas são, consequentemente, reveladas linguisticamente, e 
não haveria possibilidade de as reconhecer caso não fossem articuladas ou 
reconhecidas em nossas atividades de expressão” (MEDINA, 2007, p. 55). 
Você pode associar a “língua” ao “saber coletivo”, que é fundamental para 
um povo, para uma nação, para o seu processo cultural. Fundamental? Sim, pois é 
por meio da língua que os seres humanos criam sua identidade, utilizam as palavras 
para se organizar, nomear coisas, objetos e pessoas. E isso é fundamental para a 
sua sobrevivência, pois por meio dessa denominação os sujeitos cultivam suas 
crenças, valores, etc. Assim como a linguagem se dá de diversas formas (como a 
linguagem visual, sonora, entre outros tipos), também não existe comunicação 
verbal sem palavras, o que inviabilizaria a constituição de um agrupamento humano, 
seja uma tribo, uma cidade ou um país. Sem as palavras (a língua), não seria 
possível a criação de saberes coletivos que são planejados, registrados — ainda 
 
15 
 
que na memória da tradição oral — e comunicados pela língua de geração em 
geração. A língua é um saber coletivo e, por isso, você pode considerar que é o 
maior bem de um povo ou comunidade. Além disso, a língua está em constante 
transformação e crescimento. Você já parou para pensar quantas palavras faziam 
parte do dia a dia dos seus avôs e atualmente já estão “fora de moda”? Nesse 
sentido, a língua pode ser comparada a uma roupa, que cai em desuso e não 
representa mais esse ou aquele grupo. 
A identidade de um povo é fortemente representada por sua língua, por esse 
motivo ela passa a ser um valioso instrumento. Além disso, a linguagem oferece ao 
ser humano outro recurso extremamente importante, que é a possibilidade de 
transitar ora no presente, ora no passado e, mais ainda, por vezes se lançar ao 
futuro e “visitar” mundos nunca antes vistos. A língua e a linguagem, aliando-se à 
memória, permitem essa viagem ao passado e essa projeção ao futuro. Com a 
linguagem e a língua, o homem representa o mundo, imagina outras formas de viver 
e elabora saberes coletivos que herda e transmite para gerações que o sucedem 
(DOS SANTOS, 2018). 
3 O PAPEL DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO E NA 
APRENDIZAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://fono-dialogo.blogspot.com 
 
16 
 
Neste capítulo aprenderá o modo como a linguagem se desenvolve em 
diferentes períodos da infância. Em seguida, identificará os principais fatores que 
influenciam o desenvolvimento da linguagem. 
3.1 Desenvolvimento da linguagem 
As pessoas se comunicam por meio da linguagem, seja oral, escrita ou por 
gestos que podem se desdobrar em símbolos. Existem diversas comunidades 
falantes que utilizam diferentes códigos para discursar. Nós utilizamos a Língua 
Portuguesa que contém vocabulário, regras, variações e combinações 
(SANTROCK, 2009). 
Engana-se quem pensa que o desenvolvimento da linguagem se inicia 
quando a criança pronuncia as primeiras palavras, comumente chamando por suas 
figuras materna/paterna e pedindo algo relacionado a suas necessidades básicas. 
Antes mesmo de se valerda fala como recurso expressivo, os bebês emitem sons 
para se comunicar por meio de choro, balbucio, chamados de sons pré-linguísticos. 
Uma única sílaba pode apresentar significados distintos, variando de acordo com 
contexto. Segundo Papalia e Feldman (2013, p. 196), “Da pode significar ‘eu quero 
aquilo’, ‘eu quero sair’ ou ‘onde está o papai?’. Uma palavra como essa, que 
expressa um pensamento completo, é chamada de holofrase”. No decorrer de seu 
desenvolvimento, também é ampliada a capacidade de identificar os sons 
pronunciados no ambiente e se valer de gestos. A partir de seu primeiro ano de 
vida, aproximadamente, a criança é capaz de emitir sons de suas primeiras palavras 
e sentenças, comumente um ano e oito meses depois. Veja, no Quadro 2, a seguir, 
as principais etapas desse desenvolvimento nos primeiros dois anos de vida da 
criança (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 196-197). 
 
 
17 
 
 
 
A partir desse período, após os 24 meses, a criança gradativamente vai 
conseguindo expressar-se combinando três, quatro e cinco palavras, transitando de 
frases simples para complexas, entre dois ou três anos até os anos do ensino 
fundamental (BLOOM, 1985). 
Outros marcos importantes entre os 24 e 36 meses de vida são observáveis 
na aprendizagem de novas palavras a cada dia e na fala que realiza combinações 
de três ou mais palavras, passíveis de erros gramaticais pelo nível de 
desenvolvimento e aquisição da gramática interna. Por volta dos 36 meses, 
 
18 
 
demonstram ser capazes de falar até mil palavras, ainda que inteligíveis e 
cometendo alguns erros no que tange à sintaxe (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 
3.2 Regras que compõem o sistema linguístico 
Por meio dessas regras em nosso sistema linguístico, encontramos o modo 
como a linguagem se organiza, assim como a descrição de seu funcionamento 
(GLEASON, 2005; SANTROCK, 2004). Analisando esse desenvolvimento a partir 
das cinco regras que compõem nosso sistema, observamos as seguintes 
evoluções, adaptadas de acordo com Papalia e Feldman (2013). 
 Em termos de fonologia, elas percebem ritmos, gostam de poemas, 
inventam nomes bobos para as coisas, substituindo um som por outro 
(como bubblegum, bubblebum, bubbleyum), e gesticulam com cada 
sílaba em uma frase. 
 Conforme as crianças deixam esse estágio de falar duas palavras, fica 
evidente que elas sabem regras morfológicas. Então, começam a 
utilizar as formas de plural e possessivo dos substantivos, 
preposições, artigos e a colocar finais apropriados nos verbos. 
 Quanto à sintaxe, após passar do estágio das duas palavras, a criança 
mostra um domínio crescente de regras complexas sobre como as 
palavras devem ser ordenadas. Para perguntas feitas com “que” e 
“onde”, como “Onde o papai está indo?” ou “O que aquele garoto está 
fazendo?”, a criança deve conhecer duas diferenças importantes entre 
frases interrogativas e afirmativas. 
 De acordo com a análise de elementos semânticos, o vocabulário 
verbal de uma criança de seis anos de idade varia de 8 mil a 14 mil 
palavras. Considerando que a aprendizagem das palavras começou 
quando ela tinha 12 meses, isso traduz uma proporção de 5 a 8 novos 
significados de palavras por dia, entre um e seis anos de idade. 
 
19 
 
 Mudanças substanciais em pragmática também ocorrem durante a 
primeira infância. Uma criança de seis anos é muito mais falante do 
que uma de dois anos. Quais são algumas das mudanças na 
pragmática que acontecem nos anos pré-escolares? Por volta dos três 
anos de idade, as crianças melhoram sua habilidade em conversar 
sobre coisas que não estão fisicamente presentes. Isto é, elas 
melhoram seu domínio sobre a característica da linguagem conhecida 
como deslocamento. As crianças se tornam cada vez mais distantes 
do “aqui e agora” e são capazes de conversar sobre coisas que não 
estão fisicamente presentes, assim como coisas que aconteceram no 
passado ou podem acontecer no futuro. Pré-escolares podem dizer o 
que querem almoçar amanhã, algo que não seria possível no estágio 
das duas palavras na infância. Crianças pré-escolares também se 
tornam cada vez mais capazes de conversar de modos diferentes com 
pessoas diferentes. 
 
A partir das etapas intermediárias e finais da infância, as bases construídas 
das fases anteriores fornecem meios para que a criança seja capaz de adquirir e 
consolidar novas habilidades no momento da aprendizagem da leitura e da escrita. 
Conhecimentos acerca do alfabeto e os sons relacionados a esses sinais gráficos, 
a ampliação vocabular e os modos estruturais de construções de sentenças tendem 
a se consolidar, e a compreensão de regras mais complexas vai sendo 
internalizada. Durante o ensino fundamental, as crianças já podem, segundo 
Papalia e Feldman (2013, p. 60), “[...] produzir discursos conectados, relacionando 
sentenças conectadas uma a outra e produzir descrições, definições e narrativas 
que se compõem e fazem sentido [...]”. Agora que você identificou as características 
das primeiras etapas de aquisição da linguagem, conhecerá algumas teorias a 
respeito desses processos envolvendo as abordagens propostas por B. F. Skinner 
e Noam Chomsky. 
 
 
20 
 
3.3 Teorias clássicas de aquisição da linguagem: o debate genética e 
ambiente 
Questões envolvendo os processos que levam à aquisição da linguagem 
foram objetos de estudo de pesquisadores de diferentes áreas em diferentes 
tempos. Uma das problematizações a serem investigadas diz respeito ao 
questionamento sobre a capacidade lingüística: se ela é aprendida ou inata. Na 
década de 1950, houve duas correntes teóricas representadas por B. F. Skinner e 
Noam Chomsky, apresentadas no Quadro 3, a seguir (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 
 
 
 
21 
 
A partir dessas concepções, no decorrer dos anos subsequentes, novos 
estudos acerca desses processos foram desenvolvendo-se. Atualmente, a maioria 
dos pesquisadores do desenvolvimento sustenta que a aquisição da linguagem, 
assim como outros elementos envolvendo a evolução humana, depende de um 
entrelaçamento entre a genética e o ambiente (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 
De acordo com as novas concepções, a criança com a audição funcionando 
de acordo com a normalidade, ou seja, ela não estando surda, comumente terá uma 
capacidade nata de aquisição da linguagem, que pode ser ativada ou restringida de 
acordo com as experiências que vivenciará. Assim, quanto mais estímulos na 
apresentação de diferentes modos de se comunicar na infância, mais condições a 
criança terá para novas etapas dessa aprendizagem. 
3.4 Principais influências sobre o desenvolvimento da linguagem 
As línguas naturais têm um sistema linguístico represantado por sinais 
gráficos e sons que são requisitados nas construções de discursos por meio da fala 
e escrita. Gradativamente, os bebês vão sendo influenciados pelas suas interações 
com o ambiente que os cerca e que contribuem para o desenvolvimento de seu 
progresso linguístico (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 
Você já parou para observar o quanto as crianças, de uma maneira geral, 
aprendem em tão pouco tempo a se expressar por meio de diferentes linguagens? 
E o quanto conseguem relacionar o vocábulo e seu significado, compreender 
estruturas e empregar palavras nos momentos adequados? Mas o que determina o 
tempo e a capacidade que a criança tem de aprender, compreender e fazer uso da 
linguagem? 
O renomado pesquisador linguista, Chomsky (1957) considerava que os 
humanos estão predestinados a aprenderem da linguagem de certo tempo e modo. 
Outros pesquisadores da área identificam similaridades às formas como as crianças 
passam pelo processo de aquisição da linguagem, independentemente da parte do 
mundo que habitam, devido à sua base biológica (SANTROCK, 2009). 
 
22 
 
Pesquisadores têm investigado as relações que esses processos têm com 
as influências neurológicas e ambientais.O desenvolvimento do cérebro, que ocorre 
em grande proporção nos primeiros períodos de vida, apresenta estreitas relações 
com o desenvolvimento da linguagem (Figura 7). Os primeiros meios de se 
expressar por meio do choro passam por ações controladas pelo tronco encefálico 
e pela ponte, que são as partes mais primitivas cerebrais a serem desenvolvidas. 
De acordo com Papalia e Feldman (2013, p. 200), “[...] é possível que o balbucio 
repetitivo surja com a maturação de partes do córtex motor, que controla os 
movimentos da face e da laringe [...]”. O hemisfério cerebral, responsável pelas 
funções linguísticas, inicia seu desenvolvimento muito cedo (HOLOWKA; PETITTO, 
2002). 
 
 
Outro aspecto relevante de influência para o desenvolvimento da linguagem 
é chamado de interação social, pois a linguagem faz parte de um ato social de 
interação (Figura 8). Quando a criança se desenvolve sem um contato social dentro 
da normalidade, como é o caso dos autistas, a linguagem não se desenvolve 
normalmente. Como afirma Papalia e Feldman (2013, p. 200), “[...] a ordem de 
nascimento da criança, a experiência em cuidar de criança e, mais tarde, a 
 
23 
 
escolaridade, os colegas e a exposição à televisão, tudo isso afeta o ritmo da 
aquisição da linguagem [...]”. 
 
 
 
De acordo com Hoff (2006), a partir do momento em que o bebê inicia o 
processo de fala, pais e cuidadores podem estimular o desenvolvimento do 
vocabulário por meio da repetição de palavras pronunciadas pelo bebê, mas com 
precisão, ao passo que ele observa com atenção e se torna capaz de aprender de 
modo mais rápido novos vocábulos. 
Com o ingresso das crianças nas instituições de educação infantil, elas 
iniciam o processo de alfabetização, onde já apresentam uma gramática 
 
24 
 
internalizada, que lhes oportuniza a detenção de um conhecimento prévio. Elas são 
apresentadas a experimentações para que passem a se apropriar das habilidades 
relacionadas à leitura e escrita. De acordo com Scopel, Souza e Lemos (2011, p. 
733): 
A escola é um dos ambientes que proporcionam o processo do 
desenvolvimento infantil. Cabe às instituições criar condições que 
propiciem ao indivíduo uma aprendizagem contínua, em que os 
conhecimentos adquiridos nos os primeiros anos de vida possam ser 
explorados, confrontados e aprofundados na instituição escolar. As 
crianças estão sendo colocadas cada vez mais cedo e num período maior 
de tempo em instituições de educação infantil, portanto é importante que o 
ambiente escolar também seja avaliado, de forma que esse possa oferecer 
as melhores condições possíveis para o desenvolvimento infantil. Estes 
devem ser ambientes ricos em recursos em estimulação ao 
desenvolvimento de linguagem, principalmente na fase pré-escolar, fase 
na qual a criança começa a desenvolver conhecimentos e capacidade 
importantes para o bom desempenho não apenas escolar, mas também 
social e emocional. O atraso de linguagem causa prejuízos escolares 
significantes na vida das crianças. A detecção precoce desses atrasos, 
bem como o conhecimento dos seus fatores de risco e proteção, possibilita 
ações de promoção de saúde no campo da atenção primária em saúde 
com a melhor capacitação dos profissionais da área e organização de 
programas de intervenção na infância. 
 
Ao refletirmos sobre os fatores que influenciam o desenvolvimento da 
linguagem, constatamos que há um entrelaçamento de aspectos intrínsecos e 
extrínsecos, tais como fatores biológicos, ambientais familiares e espaços sociais, 
como as instituições de educação infantis. Todos esses elementos que fazem parte 
do contexto onde a criança está inserida acarretam em consequências diretas ao 
seu desenvolvimento linguístico em todas as suas formas de expressão e regras. 
Desse modo, é de extrema relevância que todos os responsáveis por ofertar à 
criança experimentações favoráveis à aquisição desses saberes tenham dimensão 
do papel que desempenham em todo esse processo. 
 
 
 
25 
 
4 PRODUÇÃO DA LINGUAGEM: PROCESSAMENTOS MENTAIS 
ENVOLVIDOS NA FALA 
A linguagem é algo que dá acesso não à totalidade, mas a uma parte 
daquilo que se espera poder alcançar um dia em relação ao conhecimento sobre a 
evolução e o funcionamento cognitivo de nossa espécie. 
Neste capítulo, você estudará sobre a relação entre linguagem, fala e 
pensamento e verá que a diferença entre essas abordagens gerou uma grande 
transformação nessa linha de pesquisa. Além disso, verificará que cada hemisfério 
cerebral tem uma função distinta e interfere de alguma forma no desenvolvimento 
cognitivo do ser humano. Por fim, conhecerá as diferentes etapas da produção da 
linguagem, bem como os desdobramentos possíveis por esse caminho. 
 
 
Fonte: https://professormarcelobraga.com.br 
 
26 
 
4.1 Linguagem, fala e pensamento 
Do ponto de vista da psicolinguística, quando falamos em linguagem, 
estamos nos referindo a um elemento que faz parte da constituição biológica do 
cérebro. Segundo Pinker (2002, p. 9), a linguagem “[...] é uma habilidade complexa 
e especializada, que se desenvolve espontaneamente na criança, sem qualquer 
esforço consciente ou instrução formal [...]”. O autor ainda afirma que a linguagem 
já foi descrita como “[...] uma faculdade psicológica, um órgão mental, um sistema 
neural ou um módulo computacional [...]”, mas que ele prefere “[...] o simples e banal 
termo ‘instinto’ [...]”. Tal termo é adotado pelo autor por lembrar o fato de que a 
linguagem não é uma “[...] invenção cultural [...]”, na medida em que não foi criada 
pelo homem. Segundo ele, ao considerarmos a linguagem como “[...] uma 
adaptação biológica para transmitir informação [...]”, passamos a respeitar cada ser 
humano, independentemente de sua origem ou de sua formação, e qualquer língua 
que seja em sua própria complexidade. 
Nesse contexto, Balieiro Jr. (2004, p. 191) afirma que “[...] se consideramos 
as bases indubitavelmente cerebrais (ou mentais) do pensamento e a hipótese de 
que este pensamento se articula com a linguagem [...]”, precisamos reconhecer “[...] 
que o acesso que temos a este processamento é indireto, ou seja, supomos que 
existe um processamento linguístico na mente ou no cérebro da pessoa, mas 
somente temos acesso aos eventos físicos a ele relacionados, sejam estes eventos 
a fala, o gesto ou a escrita [...]” (BALIEIRO JR., 2004, p. 192). Assim, outros dois 
conceitos cuja explicitação se faz necessária são língua e fala. Segundo Slobin 
(1980, p. 204), “A fala é um processo físico tangível que resulta na produção dos 
sons da fala”, ao passo que a “língua é um sistema intangível de significados e 
estruturas linguísticas [...]” . 
Como nosso acesso ao pensamento é restrito, é normal que tenham sido 
elaboradas diferentes teorias sobre a relação entre a linguagem, a fala e o 
pensamento. No início do século XX, havia uma crença preponderante acerca desse 
tema. De acordo com Slobin (1980), os behavioristas defendiam que pensamento e 
 
27 
 
fala estavam intrinsecamente ligados. A posição mais radical, do americano John 
B. Watson, era de que fala e pensamento seriam a mesma coisa; já a dos psicólogos 
russos, como Ivan Sechenov, era de que fala e pensamento estariam relacionadas 
nas crianças, porém, nos adultos, o pensamento seria um pouco mais livre. 
Entretanto, basta pensar em um exemplo simples, como alguém que sofre um 
acidente e fica desprovido da capacidade de fala, mas compreende o que lhe é dito 
e se comunica de outra forma que não a oral, para que se perceba que essa relação 
não pode ser verdadeira. 
Os teóricos Jean Piaget e Lev Vygotsky tiveram posicionamentos diferentes, 
os quais, simultaneamente (ambos nasceram no mesmo ano, 1896) e em diferentes 
lugares (Suíça e Rússia, respectivamente) estudaram o mesmo tema (o 
desenvolvimento cognitivo), porém sem nunca terem se encontrado. Segundo o 
primeiro, “[...] odesenvolvimento cognitivo avança por si, em geral seguido pelo 
desenvolvimento linguístico, ou encontrando reflexo na linguagem da criança. O 
intelecto da criança se desenvolve por meio da interação com as coisas e pessoas 
do seu meio ambiente [...]” (SLOBIN, 1980, p. 203). Já para Vygotsky, “[...] a fala 
pode servir ao pensamento, e o pensamento pode ser revelado na fala [...]” 
(SLOBIN, 1980, p. 202). 
Slobin (1980) ressalta que a crença de Watson relaciona a fala ao 
pensamento, ao passo que Vygotsky e Piaget relacionam linguagem e pensamento, 
ou seja, “[...] as relações entre linguística interna e estruturas cognitivas [...]” 
(SLOBIN, 1980, p. 204). Para ir além, pode-se “[...] indagar se é possível o 
pensamento sem a FALA INTERIOR — isto é, sem alguma atividade da linguística 
interna [...]. Há muitos processos mentais que parecem pré-linguísticos ou não 
linguísticos [...]” (SLOBIN, 1980, p. 205) — um exemplo seria tentar encontrar uma 
palavra mais adequada para expressar o que se deseja. Pode-se observar que “[...] 
uma frase não é um mapeamento direto a um pensamento [...]” (SLOBIN, 1980 p. 
206); se assim fosse, não haveria necessidade de buscar uma “palavra ideal” em 
determinado momento, por exemplo. 
 
28 
 
Vygotsky (1939, documento on-line) afirmou não haver correspondência 
entre as unidades do pensamento e aquelas da fala: “[...] o pensamento tem a sua 
própria estrutura e a transição entre ele e a linguagem não é coisa fácil [...]”. Slobin 
(1980, p. 202) afirma que, ainda que sem a língua a existência humana — cultura, 
comportamento, pensamento — certamente não seria como é, e que, portanto, “[...] 
ninguém negue o papel central da língua na vida humana, definir a natureza desse 
papel tem sido um problema difícil e persistente [...]”. Assim, é muito difícil 
determinar qual o espaço e os atributos da linguagem verbal em relação ao 
pensamento em toda a sua complexidade, com “[...] imagens e emoções, intenções 
e abstrações, lembranças de sons e perfumes e sentimentos, e muita coisa mais 
[...]” (SLOBIN, 1980, p. 202). 
4.2 Representação mental e instrumentos do pensamento 
Segundo Slobin (1980), ao considerarmos a relação entre língua e cognição, 
é necessário levantar duas questões, segundo o ângulo a partir do qual olhamos tal 
relação. “Se consideramos a língua como uma entre as muitas formas de 
REPRESENTAÇÃO MENTAL [...]”, devemos nos perguntar quais são as relações 
entre essas formas, o que consiste em “[...] uma questão estrutural [...]” (SLOBIN, 
1980, p. 207). Por outro lado, “Se consideramos a língua como um dos 
INSTRUMENTOS DO PENSAMENTO [...]”, precisamos entender como esse “[...] 
‘instrumento’ infl uencia os processos cognitivos [...]”, o que é “[...] uma questão de 
uso [...]” (SLOBIN, 1980, p. 207). 
No que concerne à linguagem como representação mental, “[...] para que os 
processos do pensamento se realizem — raciocínio, planejamento, solução de 
problema, etc. —, é necessário que o conhecimento seja codificado e armazenado 
de alguma forma [...]” (SLOBIN, 1980, p. 208). Algumas formas de representação 
são: enações, imagens, proposições, traços e protótipos. 
A ideia de representação enativa liga-se à capacidade sensório-motora. Na 
infância, em particular, aprende-se muito por meio da manipulação. Para 
 
29 
 
exemplificar, basta lembrar do ato de dar laço no tênis, de dançar, de usar 
instrumentos. Os adultos mantêm representações enativas, como, por exemplo, 
fazer gestos com os braços. 
O escritor Millôr Fernandes jocosamente afirmou, desafiando uma famosa 
frase, que “Se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isso com uma 
imagem”. No entanto, certos conhecimentos apenas podem ser expressos por 
palavras. Não poderíamos representar uma teoria, por exemplo, por meio de 
imagens. Contudo, as imagens mentais (interiores) têm grande relevância. Cores, 
faces, representações artísticas, todas são representadas por imagens no 
pensamento. Um questionamento importante é se haveria algum tipo de estrutura 
comum a palavras e imagens. 
As proposições igualmente fazem parte da representação mental, 
correspondendo a uma “[...] rede de conceitos inter-relacionados, que é mais 
abstrata e mais geral que qualquer expressão linguística particular em palavras e 
frases ou a imagem de qualquer acontecimento particular [...]” (SLOBIN, 1980, p. 
210). Mais especificamente, esses elementos seriam representações subjacentes, 
como descrições de situações — por exemplo, “mamãe me deu um brinquedo”. 
Os traços ou protótipos dizem respeito a atributos que agrupam 
determinados elementos. Por exemplo, brinquedos, louças e ferramentas têm em 
comum o fato de serem inanimados; cachorrinhos, bebês e pintinhos, de serem 
filhotes. Os traços, no entanto, não dão conta de tudo. Para Eleanor Rosch, que 
ampliou a ideia de Wittgestein de que o armazenamento de conceitos é feito por 
meio de semelhanças parciais e traços que se cruzam, esse conjunto de 
informações é ampliado pela noção de transvariação (SLOBIN, 1980) Segundo tal 
acepção, nenhum elemento de um conjunto (família) apresenta todos os traços 
semelhantes, mas há um prototípico que reunirá a maior parte deles. Assim, sabiás 
e corujas são bons exemplos de aves, mas pinguins e avestruzes, ainda que se 
enquadrem, parecem menos aves que os primeiros, por não voarem ou serem muito 
grandes. Dessa forma, “[...] muitas categorias se organizam de maneira vaga, em 
 
30 
 
torno do melhor exemplo e protótipo, esmaecendo nos limites [...]” (SLOBIN, 1980, 
p. 213). 
Independentemente do tipo de representação do pensamento, há ainda dois 
aspectos importantes. O primeiro diz respeito ao fato de que, por mais que isso seja 
um problema, uma vez que a psicolinguística aborda as relações entre pensamento 
e linguagem, há uma conceituação clara de pensamento que subjaz à teoria. O 
segundo ponto é que a forma de interação entre os diferentes sistemas de 
representação mental (sejam eles linguísticos ou não) não estão claras. Haveria 
uma espécie de “mentalês”, uma linguagem da mente por meio da qual se teria a 
capacidade de “[...] traduzir imagens sensoriais, pensamentos abstratos e 
expressões linguísticas?” (SLOBIN, 1980, p. 214). 
Quando se trata a língua como um dos instrumentos do pensamento, é 
preciso levar em consideração o uso da língua como instrumento do pensamento, 
internamente, e como instrumento de comunicação, interpessoalmente. Ambos os 
aspectos relacionam-se de forma direta com os papéis que a linguagem exerce 
tanto na aprendizagem quanto na memória. “A capacidade de codificar experiências 
verbalmente influencia, muitas vezes, o modo pelo qual essas experiências são 
lembradas. De fato, muitas lembranças são distorcidas JUSTAMENTE PORQUE 
estão armazenadas de forma verbal [...]” (SLOBIN, 1980, p. 216). No entanto, como 
nem tudo pode ser representado verbalmente de forma tão precisa, a memória pode 
falhar. Memórias que associam elementos verbais e visuais tendem a ser mais 
facilmente acessíveis — a associação de uma forma a um nome de objeto, por 
exemplo. 
Slobin (1980, p. 217) destaca algumas mudanças que nossas memórias de 
histórias e de acontecimentos sofrem. O nivelamento implica que muitos 
acontecimentos desaparecem para uma maior concisão, deixando a história “[...] 
mais curta e esquemática [...]”. Já o aguçamento faz alguns detalhes ganharem 
maior destaque, sendo “[...] várias vezes repetidos e recontados [...]”. Por fim, há a 
“[...] assimilação e alguns esquemas, ou estereótipos ou expectativas [...]”. Como 
afirma Slobin (1980, p. 217), “[...] até certo ponto, nós lembramos os acontecimentos 
 
31 
 
como queremos lembrá-los; as recordações se mudam, muitas vezes, para atender 
aos nossos preconceitos ou desejos — para se tornarem a nós mais plausíveis ou 
aceitáveis [...]”. 
Vale questionar, aqui,qual seria, afinal, o objetivo desse tipo de 
esquematização que ocorre na memória. A resposta é bastante simples: trata-se de 
uma necessidade, posto que não conseguiríamos lembrar de todas as coisas que 
nos acontecem. Imagine que você precisasse recordar algo que aconteceu no dia 
anterior: se não se lembrasse de tudo, teria de reviver o dia todo, no mesmo período, 
para recordar algum evento. 
4.3 As funções dos hemisférios cerebrais para a fala e a linguagem 
Os seres humanos são dotados de um órgão altamente especializado, cuja 
totalidade de funções e alcance ainda estamos longe de conhecer. Nosso cérebro 
é relativamente grande (cerca de 1,5 kg), se comparado ao nosso corpo, e a sua 
quantidade de células é “[...] superior ao número que tem o cérebro de qualquer 
outro animal do mesmo peso [...]” (SLOBIN, 1980, p. 165). Poderíamos supor que 
o tamanho do cérebro seja determinante para a aquisição da linguagem, mas isso 
não é, necessariamente, verdade. Brunoni et al. (2016), por exemplo, fazem um 
acompanhamento de crianças com microcefalia e relatam o atraso, mas não a 
ausência do desenvolvimento linguístico em tais crianças. Portanto, como afirma 
Slobin (1980), a nossa capacidade para a linguagem deve estar relacionada à 
organização do cérebro, e não à sua massa. 
Segundo Pinker (2002, p. 47), se a linguagem é um instinto, como ele 
defende, deve haver uma “localização identificável no cérebro [...] que ajude a 
mantê-la no lugar. No caso de danos desses [...] neurônios, deveria haver prejuízo 
da linguagem sem que outras partes da inteligência fossem afetadas”. Embora 
ainda não tenha sido encontrado um órgão da linguagem, diz o autor, a pesquisa 
continua, e se há um endereço no cérebro para a linguagem, este é o hemisfério 
esquerdo. 
 
32 
 
De modo geral, o sistema nervoso dos animais é simétrico (SLOBIN, 1980). 
Nos seres humanos, entretanto, os hemisférios cerebrais diferem estruturalmente, 
e essa diferença reflete no funcionamento. Scliar-Cabral (2018) relata que os 
primeiros estudos com relação à distinção entre produção e compreensão da 
linguagem verbal foram feitos por neurologistas. Paul Broca, em 1861, realizou um 
exame post mortem do cérebro de um paciente que, ainda que entendesse o que 
lhe diziam, havia perdido a capacidade de produzir palavras, exceto o monossílabo 
tan. A partir desse exame, Broca constatou uma lesão na parte frontal do hemisfério 
esquerdo, “[...] antes do córtex motor e acima da fissura transversal, conhecida 
como fissura de Sylvius, que separa a região temporal da parietal e de parte da 
região frontal [...]” (SCLIAR-CABRAL, 2018, p. 429). Lesões nessa região, chamada 
então de área de Broca, provocam a afasia de Broca ou de produção (Figura 1). 
Pouco depois, em 1874, Wernicke “[...] formulou a hipótese de uma conexão 
entre a parte posterior do giro temporal do hemisfério esquerdo, que processa as 
imagens sensoriais acústicas das palavras com a que processa as imagens motoras 
de palavras e sílabas [...]”, o que explicaria o fato de haver pacientes cujas lesões 
na posteriormente chamada área 22 de Brodmann “[...] tivessem a compreensão 
verbal comprometida, embora eles produzissem um discurso fluente, mas sem 
sentido, conhecido como discurso da jargonofasia. A denominação corrente para 
esse tipo de afasia passou a ser afasia de recepção ou receptiva [...]” (SCLIAR-
CABRAL, 2018, p. 429). 
 
 
33 
 
 
 
Lembre-se de que os hemisférios cerebrais recebem informação do lado 
oposto do corpo, e conexões transmitem essas informações entre os lados 
(SLOBIN, 1980). “Se a língua está ‘localizada’ no hemisfério esquerdo, o ouvido 
direito deve estar mais em condições de realização da linguagem que o ouvido 
esquerdo [...]” (SLOBIN, 1980, p. 170). De fato, Doreen Kimura descobriu, por meio 
de um teste denominado “tarefa de audição dicotômica”, que os ouvintes “[...] 
relatam com mais exatidão a matéria verbal apresentada no ouvido direito do que a 
matéria simultaneamente apresentada ao ouvido esquerdo [...]” (SLOBIN, 1980, p. 
170). Não se trata de uma diferença fisiológica de recepção sonora entre os ouvidos, 
mas de interpretação diferenciada pelo cérebro. “O hemisfério esquerdo se ajusta, 
 
34 
 
perfeitamente, a receber os sons para fins de realização estritamente linguística ou 
acústica. O hemisfério direito é superior ao esquerdo na tarefa de detectar sons 
ambientais não linguísticos e melodias [...]” (SLOBIN, 1980, p. 170). 
Pinker (2002, p. 391) apresenta a hipótese de que a linguagem, nos seres 
humanos, pode ter se concentrado no hemisfério esquerdo por ser “[...] coordenada 
no tempo, embora não no espaço ambiental [...]”, ou seja, “[...] palavras são reunidas 
em ordem, mas não apontadas em várias direções [...]”. Muitos psicólogos 
cognitivistas, diz Pinker (2002, p. 391), creem que “[...] uma grande quantidade de 
processos mentais que exigem coordenação sequencial e ordenação de partes, 
como reconhecer e imaginar objetos de muitas partes e empreender passo a passo 
raciocínios lógicos, resida no hemisfério esquerdo [...]”. 
Há, contudo, capacidade linguística no hemisfério direito. Para Slobin (1980), 
isso possivelmente é uma garantia do cérebro para o caso de haver alguma lesão 
no lado esquerdo. Essa capacidade linguística, entretanto, é limitada. Se há dano 
cerebral no lado esquerdo ainda na infância, o lado direito assume sua função, e a 
aquisição de palavras ocorre normalmente, porém a capacidade sintática (de 
combinações), mesmo que adequada, não se iguala à alcançada pelo hemisfério 
esquerdo. Pinker (2002) aponta o fato de que o hemisfério esquerdo controla a 
linguagem de 97% dos destros, mas, quanto aos canhotos, 19% têm sua linguagem 
controlada pelo hemisfério direito, 68% pelo esquerdo, e os demais por ambos os 
lados, casos em que os indivíduos, devido à linguagem estar distribuída de forma 
mais uniforme, apresentam maior possibilidade, no caso de terem lesão cerebral, 
de não sofrerem afasia. Além disso, “[...] alguns dados demonstram que, embora os 
canhotos se destaquem em matemática e atividades espaciais e artísticas, eles são 
mais suscetíveis a distúrbios de linguagem, dislexia e gagueira [...]” (PINKER, 2002, 
p. 391). 
Duas questões ainda devem ser abordadas: por que um ser humano leva 
três anos para dominar completamente a gramática (como conjunto de regras) de 
sua língua? (Ainda que isso seja surpreendente, considerando-se o grau de 
especialização e complexidade da linguagem humana. Pense no tempo que levam 
 
35 
 
os outros animais para se exprimirem conforme sua espécie.) E por que há um limite 
para a aquisição da linguagem? 
O desenvolvimento da linguagem nos bebês não parte do zero. Lembre-se 
de que, para Pinker (2002), a língua é um instinto, então nascemos “programados” 
para usá-la, o que já foi comprovado por testes. O autor narra o experimento que 
Peter Eimas e Peter Jusczyk realizaram com bebês de um mês: 
[...] colocaram dentro de uma chupeta um dispositivo conectado a um 
gravador, de tal modo que, quando o bebê sugava, a fita tocava. Quando 
a fita tocava monotonamente ba, ba, ba, ba..., os bebês demonstravam seu 
fastio sugando mais lentamente. Mas, quando as sílabas mudavam para 
pa, pa, pa..., os bebês começavam a sugar com mais vigor, para escutar 
mais sílabas. Além disso, não escutavam as sílabas apenas como sons 
brutos; usavam o sexto sentido, a percepção da fala: dois ba que diferem 
acusticamente entre si tanto quanto um ba difere de um pa, mas que são 
ambos escutados como ba por adultos, não reavivaram o interesse das 
crianças (PINKER, 2002, p. 335). 
Conforme Pinker (2002), as crianças ouvem como os adultos, e já nascem 
com essa habilidade; ela não é aprendida com os pais. No entanto, ainda precisam 
da interação social (i.e., ouvir regularmente a fala dos adultos) para apreenderem a 
gramática de sualíngua (i.e., a gramática interna, o conjunto de regras fonéticas, 
lexicais e morfossintáticas da língua) e desenvolverem pragmaticamente a fala. Na 
verdade, as crianças nascem com a habilidade de ouvir todos os fonemas possíveis 
em todas as línguas, mas, à medida que vão crescendo, aprendem a melodia e 
selecionam os fonemas necessários para a língua que os cerca. Assim “[...] por volta 
dos dez meses, já não são mais foneticistas universais [...]”, fazendo “[...] essa 
transição antes de emitir ou compreender palavras, portanto, sua aprendizagem não 
pode depender de conseguir correlacionar som e sentido [...]”. As crianças “[...] 
devem estar sintonizando de alguma maneira seu módulo de análise da fala para 
emitir os fonemas usados em sua língua. Esse módulo provavelmente serve de 
unidade avançada do sistema que aprende palavras e gramática [...]” (PINKER, 
2002, p. 335–336). 
Pinker (2002) faz uma síntese do desenvolvimento da linguagem nas 
crianças. Ele explica que, entre os 5 e os 7 meses, os bebês começam a brincar 
 
36 
 
com sons, e entre os 7 e os 8 meses, a balbuciar sílabas verdadeiras, cujos sons 
“[...] consistem em padrões de fonemas e sílabas comuns a todas as línguas [...]” 
(PINKER, 2002, p. 338). Essa fase é importante porque “[...] ao escutar seu próprio 
balbucio, os bebês [...] aprendem quando devem mover que músculo em que 
sentido para obter que mudança no som [...]” (PINKER, 2002, p. 338). Um pouco 
antes de 1 ano, as crianças começam a compreender palavras, e, em seguida, com 
cerca de 1 ano, a emiti-las. “Por volta dos dezoito meses, a linguagem deslancha. 
O incremento de vocabulário ganha a velocidade de no mínimo uma-palavra-nova-
a-cada-duas-horas que a criança irá manter até o fim da adolescência [...]” 
(PINKER, 2002, p. 341). E do final do segundo ano até os três anos e meio, 
aproximadamente, “[...] a linguagem das crianças transforma-se numa conversa 
gramatical fluente, desabrochando de maneira tão rápida que desconcerta os 
pesquisadores, e até agora ninguém conseguiu descobrir a sequência exata desse 
processo [...]” (PINKER, 2002, p. 341–342). 
Retomando nosso questionamento, pode-se dizer que é provável que os 
seres humanos levem cerca de 3 anos até o domínio completo de sua língua 
materna, uma vez que a linguagem se desenvolve à medida que a criança cresce 
e, consequentemente, seu cérebro também se desenvolve. Os seres humanos, 
diferentemente dos outros animas, não nascem prontos. Se o tempo da gestação 
humana fosse proporcional ao dos demais primatas, duraria 18 meses, idade em 
que, de fato, as crianças começam a juntar palavras. Asso, “A linguagem parece 
desenvolver-se na velocidade que o cérebro em crescimento tolera [...]” (PINKER, 
2002, p. 368). 
Chegamos ao nosso questionamento sobre a idade-limite para a aquisição 
da linguagem. Sabe-se que é mais difícil para um adulto aprender uma nova língua, 
visto que os aspectos fonológicos acabam não sendo totalmente apreendidos, e a 
organização morfossintática pode ser mais bem recebida, mas a fluência 
dificilmente será a de um nativo. Casos de crianças que, por algum motivo, foram 
mantidas em isolamento até a adolescência e lesões cerebrais a partir desse 
período também costumam deixar sequelas irreversíveis. Segundo Slobin (1980, p. 
 
37 
 
174), “Pode haver uma ‘idade crítica’ para o hemisfério esquerdo na sua missão de 
desenvolver as funções da linguagem, como também para o hemisfério direito 
quando precisa assumir tais funções [...]”. Corroborando essa ideia, Pinker (2002, 
p. 374) afirma que “[...] a aquisição de uma linguagem normal é certa para crianças 
até seis anos, fica comprometida depois dessa idade até pouco depois da 
puberdade e é rara depois disso [...]”. Considerando-se que, segundo essa teoria, 
a capacidade de aquisição de linguagem é instintiva, ela não deveria acompanhar 
o indivíduo ao longo da vida? Com efeito, o hemisfério direito do cérebro não sofre 
essa espécie de “atrofia” que ocorre no hemisfério esquerdo, aponta. O autor 
responde à questão ao relacionar tal “atrofia” justamente às necessidades 
instintivas do ser humano. O hemisfério que se relaciona com a linguagem está “[...] 
predisposto a adquirir a língua NUM ESTÁGIO APROPRIADO DE MATURAÇÃO. 
[...] o aprender a falar está condicionado pela complexa tabela do crescimento físico 
[...]” (SLOBIN, 1980, p. 175). Ou seja, não faria sentido manter o cérebro ocupado 
com a obtenção da linguagem após o período em que isso ocorre plenamente, 
sendo mais útil direcionar os esforços neuronais a outras atividades. Ratificando 
esse ponto de vista, Pinker (2002, p. 375) afirma que “[...] aprender uma língua – 
em oposição a usar uma língua – é extremamente útil uma única vez. Uma vez 
aprendidos os detalhes da língua local falada pelos adultos, qualquer outra 
capacidade de aprender (afora o vocabulário) é supérflua [...]”. Isso tem relação com 
a nossa constituição biológica, decorrente da evolução. Metabolicamente, “[...] o 
cérebro consome um quinto do oxigênio do corpo e porções igualmente grandes de 
suas calorias e fosfolipídios [...]” (PINKER, 2002, p. 376). Assim, é natural que, pela 
seleção natural, os recursos do corpo sejam diferenciados ao longo de nossa 
existência física, e corpos que envelhecem precisam destinar energia para sua 
sobrevivência — a linguagem, afinal, já está apreendida e em pleno uso. 
 
 
 
38 
 
5 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO 
O ser humano é uma espécie social que interage e se comunica. Mas a 
comunicação associa-se a diversos fatores que a tornam complexa. A linguagem 
verbal é apenas uma das formas de comunicação e é a última a se desenvolver, 
tamanha a complexidade do processo. Assim, nos estágios de aquisição da 
linguagem, é importante considerar a influência dos aspectos cognitivos. Zorzi 
(1987, p. 116) afirma o seguinte: 
A construção do conhecimento, considerando-se aí também a aquisição 
da linguagem, resulta de um processo de interação do sujeito com o meio 
social e físico, com o mundo das pessoas e das coisas. É através das 
trocas entre sujeito e meio que a inteligência se estrutura, se organiza. Por 
outro lado, na medida em que a inteligência assim se constitui, abre a 
possibilidade de novas interações, mais ricas e mais complexas que as 
anteriores e assim sucessivamente. 
Diferentes teóricos têm discutido a função da linguagem no desenvolvimento 
cognitivo. De forma geral, todos partem da ideia de que existe uma capacidade 
inata. Uma das principais propostas cognitivistas é a de Piaget. Para o teórico, a 
linguagem faz parte de uma organização cognitiva mais geral, que vai além do fato 
linguístico. Ele a considera um elemento com função semiótica, pois a linguagem 
permite que o indivíduo evoque verbalmente e de forma representativa objetos e 
acontecimentos ausentes. 
Piaget defende que a evolução da inteligência sensório-motora pré-verbal é 
condição para o surgimento do simbolismo. Para tanto, a criança experimenta 
ativamente os esquemas produzidos por ela, isto é, a criança elabora 
continuamente novas estruturas. Assim, ela interage e compreende o meio e 
constrói a linguagem, evidenciando que esse processo é um reflexo de suas 
capacidades cognitivas (BIZELLO, 2019). 
 
 
 
 
39 
 
 
 
Na proposta interacionista piagetiana, a linguagem se manifesta apenas 
quando a criança tem cerca de 2 anos de idade. Afinal, é nessa fase que o indivíduo 
desenvolve a função simbólica e consegue representar mentalmente seus 
esquemas de ação. Assim, a criança consegue imitar, jogar e desenhar, até, 
finalmente, desenvolver a linguagem. Nesse período, ela revela uma inteligência 
prática cuja base está na ação e nos movimentos. Assim, os reflexos, já organizados 
hereditariamente, ou seja, pelo ambiente, são consolidados. De acordo com Zorzi 
(1987, p. 117), 
A criançacomeça a dar mostras de ser capaz de combinar esquemas de 
tal modo que alguns sirvam de meios e outros de objetivos finais de sua 
ação. Ocorre uma diferenciação entre meios e fins: tendo estabelecido um 
objetivo, a criança procura os intermediários adequados para alcançá-lo. 
O processo de aquisição depende da elaboração gradual das operações 
mentais responsáveis pela evolução da inteligência. As relações interpessoais são 
elementos fundamentais para a concretização desse processo, pois todos os 
conflitos que surgem nas interações podem ser assimilados e, dessa forma, podem 
contribuir com a descentralização do pensamento (ZORZI, 1987). As habilidades 
mentais são uma construção gradativa e ocorrem à medida que o sujeito se adapta 
ao ambiente. Para Piaget, é essa interação com o ambiente que as crianças 
herdam. 
O estudioso entendia o pensamento como uma ação internalizada viabilizada 
por dois mecanismos: a assimilação, responsável pela incorporação de objetos 
 
40 
 
como meios de conhecimento, e a acomodação, responsável pela transformação 
da estrutura anterior para a incorporação do objeto assimilado. Dias (2010, p. 120) 
alerta: 
[...] interagir pressupõe, da perspectiva do sujeito, poder assimilar o objeto 
às suas estruturas, demanda que o sujeito tenha um esquema pelo qual o 
elemento exterior possa ser incorporado no mesmo. Não é uma interação 
qualquer que proporcionará o desequilíbrio e a acomodação, mas uma 
interação sujeito- -objeto, a qual possui sentido para aquele sujeito. 
Consequentemente, pode-se considerar este um processo individual. 
Isso significa que, quando a criança interage com o mundo, consegue 
apreender a realidade e desenvolver esquemas mentais que constituirão a sua 
inteligência. O desenvolvimento cognitivo ocorre por períodos que servem de níveis 
de construção de inteligência. Os quatro estágios são: sensório-motor, pré-
operatório, operatório concreto e operatório formal. 
O estágio sensório-motor ocorre até os 2 anos de idade, quando o 
conhecimento está ligado às ações e às percepções. A capacidade de 
representação inicia o segundo estágio, o pré-operatório. Nele, a criança elabora 
relações de causalidade, e o pensamento é estático: não há integração de 
pensamentos. É nessa fase também que aparece a linguagem, pois os esquemas 
evoluem das ações para os esquemas mentais. No terceiro estágio, operatório 
concreto, ocorre o início das operações mentais, com atendimento a mais de um 
aspecto. Na fase do pensamento operatório formal, surgem o planejamento e a 
imaginação (BIZELLO, 2019). 
De qualquer forma, os dois primeiros estágios é que têm relação mais estreita 
com a aquisição da linguagem. Para Piaget, o desenvolvimento linguístico depende 
do desenvolvimento da inteligência, pois o desenvolvimento cognitivo é que 
possibilitará o nascimento do simbolismo. O brincar simbólico está diretamente 
ligado ao desenvolvimento sensório-motor. Nesse sentido, pode-se afirmar que há 
uma pré-linguagem (BIZELLO, 2019). 
Zorzi (1987) afirma que esse brincar simbólico se desenvolve quando há 
outros personagens, ou seja, quando há uma descentralização do simbolismo em 
 
41 
 
relação à ação própria. Entretanto, o último nível de desenvolvimento ocorre quando 
há uma representação independente, ou seja, quando a criança passa a usar 
substitutos simbólicos correspondentes a palavras, objetos, etc. O desligamento do 
contexto evidencia a consolidação da formação do símbolo, pois é sinal de que a 
criança não se prende ao que vê. “Pode-se dizer que a linguagem e o brinquedo 
desenvolvem-se ao mesmo tempo e influenciam-se reciprocamente [...]” (DIAS, 
2010, p. 114). O estabelecimento da representação depende do uso pela criança 
de símbolos ou da linguagem para evocar situações. 
Como você pode notar, a teoria piagetiana reflete investigações sobre a 
aquisição da linguagem. Os estudos iniciais de Piaget já relacionavam os diálogos 
ao desenvolvimento cognitivo das crianças. Aliás, os conceitos ligados à linguagem 
socializada também revelam essa estreita relação. 
Essas relações podem ser estabelecidas justamente pela importância da 
linguagem para o desenvolvimento da aprendizagem. Por exemplo, para que a 
leitura e a escrita se estabeleçam, a língua oral é necessária. Isso significa que o 
contexto social interfere no desenvolvimento da linguagem. Aliás, todas as 
atividades desenvolvidas pelo indivíduo em seu contexto cultural interferem nas 
suas habilidades cognitivas e na sua forma de estruturar o pensamento. O papel da 
linguagem, nessa situação, é o de determinar como a criança vai aprender a pensar, 
já que os adultos transmitem à criança as formas de pensamento por meio de 
palavras, da linguagem oral. Veja o que afirmam Mousinho et al. (2008, documento 
on-line): 
A comunicação humana pode ser diferenciada da comunicação das outras 
espécies animais de três maneiras diferentes. A primeira e a mais 
importante é a possibilidade de simbolizar. Os símbolos linguísticos são 
convenções sociais de significados, nos quais cada indivíduo compartilha 
sua atenção com o outro, direcionando a sua atenção ou seu estado 
mental (pensamento) para alguma coisa no mundo que os cerca. A 
segunda diferença é que a comunicação humana linguística é gramatical. 
Os seres humanos usam os símbolos linguísticos associados em 
estruturas padronizadas. A terceira é que, ao contrário das outras espécies 
animais, os seres humanos não têm um único sistema de comunicação 
utilizado por todos os membros da espécie. Portanto, diferentes grupos de 
humanos convencionaram, no decorrer da história, sistemas mútuos de 
 
42 
 
comunicação. Isso significa que a criança, diferente das outras espécies 
animais, deve aprender as convenções comunicativas usadas por aqueles 
a sua volta, pela sociedade da qual faz parte. 
Portanto, a aquisição da linguagem depende tanto de fatores neurológicos e 
biológicos quanto de aspectos sociais. Nesse sentido, a criança só conseguirá 
adquirir a linguagem e desenvolvê-la se as estruturas cerebrais estiverem 
adequadas e se tiver oportunidades de interação social desde que foi concebida. 
Essa constatação é importante, pois simboliza a compreensão das investigações 
atuais sobre aquisição da linguagem: a questão não é se o indivíduo aprende a 
linguagem ou nasce com ela, e sim como a interação entre os fatores biológicos e 
os sociais interfere na qualidade da aquisição e do desenvolvimento da linguagem. 
Mousinho et al. (2008, documento on-line) destacam dois aspectos que 
revelam a ligação estreita entre cognição e comunicação: 
Linguagem e cognição: pensamos bastante por meio da linguagem depois 
que desenvolvemos esta habilidade. A memória, a atenção e a percepção 
podem ter ganhos qualitativos com ela. Por exemplo, memorizamos melhor 
quando fazemos associações de ideias. Ela também ajuda na regulação 
do comportamento. Na infância, podemos observar o desenvolvimento da 
linguagem como apoio à cognição a partir dos dois anos, em média, 
principalmente por meio da forma como a criança brinca. Linguagem e 
comunicação: temos a intenção comunicativa, e podemos nos comunicar 
de diversas formas diferentes, através de gestos, do olhar, de desenhos, 
da fala, entre outros. A estruturação da linguagem nos permite lançar mão 
de recursos cada vez mais sofisticados, a fim de aprimorar nossas 
possibilidades de comunicação. 
Em suma, os cognitivistas afirmam que a linguagem humana está 
subordinada a elementos cognitivos mais fundamentais e que ela é apenas um 
desses elementos. A aquisição da linguagem, portanto, tem relação direta com a 
interação entre a linguagem e as estruturas cognitivas. Os estudos de diferentes 
aspectos do desenvolvimento da linguagem contribuem com as investigações sobre 
a relação entre linguagem e cérebro. 
 
 
 
 
43 
 
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