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Vig. Epid. da Hanseníase 1 FMP / FASE - DISCIPLINA: SAÚDE COLETIVA Professora Responsável: Cristina Maria Rabelais Duarte Professor Assistente: Miguel Abud Marcelino Hanseníase – Texto Complementar – 2010 Miguel Abud Marcelino CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS: Trata-se de uma doença milenar, descrita em eras pré-cristãs, tendo sido muito confundida com outras doenças cutâneas, como o vitiligo, psoríase e eczemas crônicos. É amplamente conhecida como Lepra. As referências mais antigas de que se tem notícia datam de 600 a.C. e procedem da Índia que, juntamente com a África, podem ser consideradas como o berço da hanseníase. A lepra é encontrada em citações bíblicas, geralmente com conotação de castigo ou designando afecções impuras. Durante a idade média os portadores da doença eram excluídos do convívio social, vivendo afastados das cidades, dependendo da caridade das pessoas. Há séculos atrás, já se criavam leprosários, estabelecimentos especiais para a internação e isolamento dos doentes. Há registros de que, no Século XIII, haviam na Europa 19.000 leprosários. Todos esses fatores foram e são extremamente relevantes para a transcendência da doença. A despeito de, hoje, a hanseníase ser uma doença tratável, com possibilidade de cura, frente ao avanço do conhecimento científico e da melhoria das condições de vida, o estigma e o preconceito, reforçados ao longo dos séculos, continuam sendo responsáveis por uma problemática social e psicológica, que não pode ser desconsiderada por quem atua na área de saúde. Fatores de risco (MS, SVS, 2009), (INSS, DIRBEN, 2007) Costuma acometer ambos os sexos, com predominância do masculino. Embora ainda existam lacunas de conhecimento quanto a todos os prováveis fatores de risco implicados na transmissibilidade, o domicílio continua sendo um dos mais importantes espaços para a propagação da infecção. Assim, o maior risco é observado entre contatos intradomiciliares, definidos como indivíduos que residem ou tenham residido com o doente nos últimos cinco anos. Ressalte-se que o período de incubação da doença pode variar de 7 meses a 10 anos. SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL INDICADORES ANUAIS DE DETECÇÃO E PREVALÊNCIA INDICADOR CONSTRUÇÃO UTILIDADE PARÂMETROS 1- Coeficiente de detecção anual de casos novos, por 100.000 habitantes. casos novos residentes diagnosticados no ano -------------------------- pop. residente no ano de avaliação X 100.000 Medir força de morbidade, magnitude e tendência da endemias Hiperendêmico 40,0 Muito alto 20,0 a < 40,0 Alto 10,0 a < 20,0 Médio 2,0 a < 10,0 Baixo < 2,0 2- Coeficiente de detecção anual de casos novos na população de 0 a 14 anos, por 100.000 habitantes. Casos novos residentes com idade entre 0 e 14 anos diagnosticados no ano -------------------------- População com idade entre 0 e 14 anos no ano de avaliação X 100.000 Medir a força da transmissão recente da endemia e sua tendência Hiperendêmico 10,0 Muito alto 5,0 a < 10,0 Alto 2,5 a < 5,0 Médio 0,5 a < 2,5 Baixo < 0,5 3- Coeficiente anual de prevalência, por 10.000 habitantes. Casos residentes e em tratamento, em 31 de Dez do ano -------------------------- pop. residente no ano da avaliação X 10.000 Medir a Magnitude da endemia Hiperendêmico 20,0 Muito alto 10,0 a < 20,0 Alto 5,0 a < 10,0 Médio 1,0 a < 5,0 Baixo < 1,0 Fonte: Guia de Vigilância Epidemiológica – MS/SVS 2009 Vig. Epid. da Hanseníase 2 IN: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/situacao_hansen_2007.pdf Vig. Epid. da Hanseníase 3 IN: Min.Saúde. Vigilância em Saúde: situação epidemiológica da hanseníase no Brasil, 2008 IN: Min.Saúde. Vigilância em Saúde: situação epidemiológica da hanseníase no Brasil, 2008 IN: Min.Saúde. Vigilância em Saúde: situação epidemiológica da hanseníase no Brasil, 2008 Vig. Epid. da Hanseníase 4 CLASSIFICAÇÃO DA HANSENÍASE OPERACIONAL CLASSIFICAÇÃO DE MADRI CID-10 Paucibacilares (Até 5 lesões cutâneas) Indeterminada (HI) A30.0 Tuberculóide (HT) A30.1 Multibacilares (Mais de 5 lesões cutâneas) Dimorfa Tuberculóide (HDT) A30.2 Dimorfa (HD) A30.3 Dimorfa Virchowiana (HDV) A30.4 Virchowiana (HV) A30.5 Outras formas (*) A30.8 Não especificada (*) A30.9 (*) Na prática, pouco utilizadas. Fonte: Adaptado de MS, SVS, 2009 e INSS, DIRBEN, 2007 EVOLUÇÃO DA HANSENÍASE CONTÁGIO Período de Incubação 7 meses a 10 anos CURA ESPONTÂNEA FORMA INDETERMINADA TUBERCULÓIDE DIMORFA TUBERCULÓIDE DIMORFA DIMORFA VIRCHOWIANA NÃO ESPECIFICADA OUTRAS FORMAS VIRCHOWIANA DIAGNÓSTICO CLÍNICO (MS, SVS, 2009 E INSS, DIRBEN, 2007) IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) O diagnóstico de hanseníase é essencialmente clínico e epidemiológico, baseado na história, nas condições de vida do indivíduo e no exame dermatoneurológico. Este último objetiva identificar lesões ou áreas de pele com diminuição ou perda da sensibilidade, comprometimento de nervos periféricos, com ou sem espessamento, além de alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas. Casos com suspeita de comprometimento neural puro, sem lesão cutânea, e os que apresentam área com alteração sensitiva e/ou autonômica duvidosa e sem lesão cutânea evidente requerem avaliação em unidades de saúde de maior complexidade para a confirmação diagnóstica. 1. Sinais e sintomas: Hanseníase Indeterminada (HI) – manchas hipocrômicas com alteração de sensibilidade ou, simplesmente, áreas de hipoestesia na pele. Paucibacilar, com até 5 lesões localizadas em qualquer área do tegumento. Frequentemente, cursa apenas com alteração da sensibilidade térmica, sem outras alterações sensitivas. Acomete ramificações nervosas cutâneas, sem comprometimento de troncos nervosos. Hanseníase Tuberculóide (HT) – lesões bem delimitadas, em placas ou anulares, com bordas papulosas e áreas eritematosas ou hipocrômicas, anestésicas. Também paucibacilar, com até 5 lesões) distribuídas assimetricamente, com crescimento centrífugo lento, levando à atrofia no interior da lesão. Hanseníase Dimorfa (HDT, HD, HDV) – instabilidade imunológica, resultando em manifestações clínicas variadas, sejam em pele, nervos ou no comprometimento sistêmico. Vig. Epid. da Hanseníase 5 Multibacilar, com mais de 5 lesões cutâneas mesclando aspectos de HT e HV, ora com predominância de uma, ora com predominância da outra. Manifestam-se como placas eritematosas, manchas hipocrômicas com bordas ferruginosas, manchas eritematosas ou acastanhadas com limite interno nítido e limites externos imprecisos, placas eritemato-ferruginosas ou violáceas, com bordas internas nítidas e limites externos difusos. A presença de infiltração assimétrica da face, dos pavilhões auriculares e lesões no pescoço e nuca, sugerem fortemente esta forma clínica. Cursa com lesões neurais precoces, assimétricas que, com frequência, levam a deficiências físicas. Hanseníase Virchowiana (HV) – Manifesta-se em indivíduos com baixa imunidade celular contra o Mycobacterium leprae. Multibacilar, com mais de 5 lesões na pele, que se apresenta com aspecto brilhante, xerótico, apergaminhado e com tonalidade semelhante ao cobre. As lesões são papulares, nodulares e maculares. Caracteriza-se por infiltração progressiva e difusa da pele (mais acentuada em face, membros e pavilhões auriculares), mucosas das vias aéreas superiores, olhos, testículos, nervos, podendo afetar linfonodos, fígado e baço. Cursa com rarefação de pelos nas áreas afetadas, inclusive com perda de cílios e supercílios (madarose). O comprometimentomucoso resulta, precocemente, em rinite posterior e, mais tardiamente, em destruição das abas e/ou do septo nasal. 2. Neuropatia hansênica: (MS,SVS,2009; MS,SVS,SAS,2009; INSS,DIRBEN,2007) deficiências sensitivas ou sensitivo-motoras, levando a deformidades e incapacidades, que podem resultar em sequelas definitivas; o acometimento dos nervos periféricos pode se dar antes, durante ou após o tratamento; a gravidade está diretamente relacionada com a resposta imune celular de cada indivíduo e à agudização durante os episódios reacionais; mais frequente nas formas multibacilares, piorando com a evolução da doença e aumento da idade do paciente; podem acometer ramos nervosos cutâneos ou troncos nervosos, manifestando-se como mono ou polineuropatias; neuropatia silenciosa pode se instalar sem sintomas álgicos e/ou intumescência; neuropatia recorrente caracteriza-se por episódio de neurite periférica aguda, após período sem qualquer sinal ou sintoma, maior que três meses, subsequente à interrupção do tratamento; formas agudas e subagudas envolvem neurites com menos de três meses de evolução; formas crônicas evoluem com mais de três meses de duração e os sinais e sintomas inflamatórios geralmente reaparecem dentro do período de três meses seguintes ao término do tratamento; neuralgia pode ocorrer durante os processos inflamatórios, associados ou não à compressão neural, ou então decorrer de sequela da neurite (dor neuropática), sendo importante a distinção entre ambas, uma vez que implicam tratamentos diferenciados; ao exame físico da neurite aguda observa-se hipersensibilidade importante, com dor intensa, espontânea ou desencadeada pela palpação; o comprometimento das fibras autonômicas resulta em diminuição/perda da sudorese e consequente ressecamento da pele; a perda da sensibilidade ao frio, ao calor, à dor e, mais tardiamente, também ao tato, se deve ao acometimento das fibras cutâneas dos nervos periféricos; a perda de todas as formas de sensibilidade (frio, calor, dor, tato, parestesia e posição segmentar), bem como o surgimento de paresia, paralisia e atrofia muscular, se devem a acometimento de tronco(s) nervoso(s) periférico(s), com distúrbios sensitivos, autonômicos e motores no(s) segmento(s) afetado(s); os principais troncos nervosos periféricos acometidos na hanseníase são: - face - trigêmeo e facial, com comprometimento de face, olhos e nariz; - braços - radial, ulnar e mediano, com comprometimento de mãos; - pernas - fibular comum e tibial posterior, com comprometimento dos pés. as alterações sensitivas ou sensitivo-motoras podem também se dever ao espessamento dos nervos, apenas por edema, sendo passíveis de reversão; o diagnóstico precoce e a pronta instituição da poliquimioterapia (PQT) constituem as principais medidas para prevenção da instalação de incapacidades e deficiências. Vig. Epid. da Hanseníase 6 2.1 - Avaliação da integridade da função neural N A R I Z NERVOS COMPROMETIMENTO CONSEQUÊNCIAS E/OU SEQUELAS AUTONÔMICO SENSITIVO MOTOR (movimento ativo e/ou contra resistência) Facial e Trigêmio Nervo facial Ressecamento ( secreções). Nervo trigêmio Diminuição da sensibilidade nasal Nervo facial Redução da força da musculatura nasal Ressecamento e úlceras da mucosa nasal Perfuração do septo Desabamento da pirâmide nasal. Fonte: Adaptado de MS,SVS,2009; MS,SVS,SAS,2009, LEHMAN et al,1997 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) O L H O S NERVOS COMPROMETIMENTO CONSEQUÊNCIAS E/OU SEQUELAS AUTONÔMICO SENSITIVO MOTOR (movimento ativo e/ou contra resistência) Facial e Trigêmio Nervo facial Ressecamento (produção de lágrima) Nervo trigêmio Diminuição da sensibilidade da córnea Nervo facial Redução da força da musculatura ocular. Lagoftalmo (fenda palpebral) Ectrópio Triquíase Opacidade corneana central Catarata Acuidade visual menor que 0,1 ou não conta dedos a 6 m de distância Hiperemia ocular Úlceras de córnea Fonte: Adaptado de MS,SVS,2009; MS,SVS,SAS,2009, LEHMAN et al,1997 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) Vig. Epid. da Hanseníase 7 M E M B R O S S U P E R I O R E S NERVOS COMPROMETIMENTO CONSEQUÊNCIAS E/OU SEQUELAS AUTONÔMICO SENSITIVO MOTOR (movimento ativo e/ou contra resistência) Radial e Radial Cutâneo Diminuição da sudorese e oleosidade, com ressecamento da pele. Diminuição ou ausência de sensibilidade no dorso da mão (entre polegar e indicador). Extensão do punho Extensão do dedos Extensão do polegar Dor no trajeto dos nervos Espessamento dos nervos Mão caída Atrofia da região dorsal do antebraço Ulnar Diminuição ou ausência de sensibilidade na parte medial do antebraço e mão, assim como, no 5º dedo e metade do 4º dedo Abdução e adução dos dedos (avaliar 2º e 5º dedos) Adução do polegar Posição intrínseca da mão (4º e 5º dedos) Dor no trajeto do nervo, especialmente no cotovelo Espessamento do nervo Garra ulnar (4º e 5º dedos) Atrofia do 1° espaço interósseo e região hipotenar Diminuição da força de pinça (polegar). Mediano Diminuição ou ausência de sensibilidade na parte lateral do antebraço, palma da mão (região tenar), 1º , 2º ,3º dedos e metade do 4º dedo Abdução e oponência do polegar Posição intrínseca da mão (2º e 3º dedos) Dor no trajeto do nervo, especialmente no punho Espessamento do nervo Garra do mediano (polegar, 2º e 3º dedos) Atrofia da região tenar Fonte: Adaptado de MS,SVS,2009; MS,SVS,SAS,2009, LEHMAN et al,1997 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) Vig. Epid. da Hanseníase 8 M E M B R O S I N F E R I O R E S NERVOS COMPROMETIMENTO CONSEQUÊNCIAS E/OU SEQUELAS AUTONÔMICO SENSITIVO MOTOR (movimento ativo e/ou contra resistência) Fibular comum e ramifi- cações Diminuição da sudorese e oleosidade, com ressecamento da pele. Diminuição ou ausência de sensibilidade na parte lateral da perna e dorso do pé. Nervo fibular profundo Extensão do hálux e demais dedos Dorsiflexão do pé Nervo fibular superficial Eversão do pé Dor na perna, sobretudo em região poplítea Espessamento do nervo fibular comum Pé caído Atrofia da musculatura lateral e anterior da perna Tibial posterior Diminuição ou ausência de sensibilidade em região plantar Flexão plantar do pé (metatarsianos) Flexão do hálux Abdução e adução do hálux e artelhos Parestesia plantar Espessamento do nervo Garra dos artelhos Atrofia da musculatura da planta do pé. Mal perfurante plantar Fonte: Adaptado de MS,SVS,2009; MS,SVS,SAS,2009, LEHMAN et al,1997 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) 2.1.1 – Pesquisa de alterações sensitivas Nervo Trigêmio Nervo Radial Cutâneo Nervo Ulnar Nervo Mediano Nervo Fibular Profundo Nervo Tibial Posterior Fonte: Adaptado de LEHMAN, LF et al,1997 (Ilustrações de ALEXANDRE M. SOARES) IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) Vig. Epid. da Hanseníase 9 2.1.2– Testes de força muscular Nervo Facial (Fechamento dos olhos) Nervo Ulnar (Posição intrínseca do 5º dedo) Nervo Ulnar (*) (Abdução do 2º dedo) Nervo Ulnar (Abdução do 5º dedo) Nervo Radial (Extensão do Punho) Nervo Mediano (Abdução do polegar) Nervo Tibial Posterior Nervo Fibular Profundo (Extensão do hálux) Nervo Fibular Profundo (Extensão dos Artelho ) Nervo Fibular Profundo (Dorsiflexão do pé) Nervo Fibular Superficial (Eversão do pé) Fontes: Adaptado de LEHMAN, LF et al, 1997(Ilustrações de ALEXANDRE M. SOARES) (*) www.auladeanatomia.com/sistemamuscular/mao.htm IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) 2.1.2.1 - Gradação da força muscular Forte 5 Realiza o movimento completo contra a gravidade, com resistência máxima Diminuída 4 Realiza o movimento completo contra a gravidade, com resistência parcial 3 Realiza o movimento completo contra a gravidade 2 Realiza o movimento parcial Paralisada 1 Contração muscular sem movimento 0 Paralisia (nenhum movimento) Fonte: Adaptado de MS,SVS,2009; MS,SVS,SAS,2009, LEHMAN et al,1997 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) - Flexão plantar do pé - Flexão do hálux - Abdução e adução do hálux e artelhos Vig. Epid. da Hanseníase 10 2.1.3 – Pesquisa de espessamento dos nervos Nervo Radial e Radial Cutâneo Nervo Ulnar Nervo Mediano Nervo Fibular Comum Nervo Tibial Posterior Fonte: Adaptado de LEHMAN, LF et al,1997 (Ilustrações de ALEXANDRE M. SOARES) IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) 2.1.4 – Principais sequelas motoras Nervo Facial ( Lagoftalmo ) Nervo Radial ( Mão caída ) Nervo Ulnar ( Garra ulnar ) Nervo Mediano ( Garra do mediano ) Nervos Ulnar e Mediano ( Garra do ulnar e do mediano ) Nervo Fibular Comum ( Pé caído ) Nervo Tibial Posterior ( Garra dos artelhos ) Fonte: Adaptado de LEHMAN, LF et al, 1997 (Ilustrações de ALEXANDRE M. SOARES) IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) Vig. Epid. da Hanseníase 11 3. Diagnóstico dos Estados Reacionais ou Reações Hansênicas: MS, SVS, 2009 e INSS, DIRBEN, 2007 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) Tratam-se de alterações imunológicas exteriorizadas como processos inflamatórios agudos e subagudos, que podem ocorrer antes, durante ou depois do tratamento poliquimioterápico-PQT, tanto em casos paucibacilares, como multibacilares. A ocorrência dessas reações não contraindica o início da PQT, não implica sua interrupção e não indica reinício após alta. São fatores desencadeantes: infecções intercorrentes, anemia, cárie e doença periodontal, vacinação, terapias e alterações hormonais (gravidez, menstruação, puerpério); medicamentos iodados, estresse físico e emocional. As reações são de dois tipos: 3.1 - Reação tipo 1 (reação reversa) Pode ocorrer antes de iniciar o tratamento ou, mais frequentemente, nos seis primeiros meses de poliquimoterapia, tanto nos casos paucibalares como multibacilares. Em alguns casos surgem após a conclusão do tratamento, porém raramente após 5 anos da alta medicamentosa. As neurites podem ser as únicas manifestações clínicas. Tende a regredir em um período de 3 a 6 meses, podendo durar 1 ano ou mais em indivíduos multibacilíferos . Se não tratada, pode resultar em danos permanentes para a função neural. 3.2 - Reação tipo 2 (eritema nodoso hansênico) Observada nas formas virchowiana e dimorfa, geralmente durante os três primeiros anos após o início da poliquimioterapia, embora também possa ocorrer antes do seu início ou até cinco anos após seu término. A lesão típica é o eritema nodoso, caracterizado por lesões eritematosas, dolorosas, de tamanhos variados, incluindo pápulas e nódulos, localizadas em qualquer região da pele. Em alguns casos, o quadro reacional evolui com neurite, orquite, irite, iridociclite, artrite, mão e pé reacionais, linfadenite, proteinúria e dano hepático, geralmente acompanhados por febre e mal estar. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL (MS,SVS,2009) ,(UNICAMP, 2010) IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) 1. Exame baciloscópico – embora o diagnóstico de Hanseníase seja essencialmente clínico e epidemiológico, a baciloscopia de pele (esfregaço intradérmico), quando disponível, pode ser utilizada para a classificação dos casos como pauci ou multibacilares. Quando negativa, não exclui o diagnóstico de hanseníase, mas, quando positiva, permite classificar o caso como multibacilar, independente do número de lesões presentes. 2. Exame histopatológico – indicado como suporte para a elucidação diagnóstica e também em pesquisas. Os bacilos de Hansen são vistos isoladamente ou em aglomerados chamados globias no citoplasma dos macrófagos (células de Virchow). A formação de globias é exclusiva da hanseníase virchowiana. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL (MS,SVS,2009) As principais dermatoses que se assemelham a algumas formas e reações hansênicas, exigindo diferenciação segura, são: eczemátides, nevo acrômico, pitiríase versicolor, vitiligo, pitiríase rósea de Gibert, eritema solar, eritrodermias e eritemas difusos vários, psoríase, eritema polimorfo, eritema nodoso, eritemas anulares, granuloma anular, lúpus eritematoso, farmacodermias, fotodermatites polimofas, , pelagra, sífilis, alopécia areata (pelada), sarcoidose, tuberculose, xantomas, hemoblastoses, esclerodermias, neurofibromatose de Von Recklinghausen. Vig. Epid. da Hanseníase 12 TRATAMENTO Essencialmente ambulatorial, com utilização de poliquimoterapia (PQT), em esquemas padronizados pelo Programa Nacional de Controle da Hanseníase, do Ministério da Saúde: Paucibacilares Rifampicina Dapsona - 1 dose supervisionada ao mês (6 doses em até 9 meses) - dose diária autoadministrada e dose mensal supervisionada *Multibacilares Rifampicina Dapsona Clofazimina - 1 dose supervisionada ao mês (12 doses em até 18 meses) - dose diária autoadministrada e dose mensal supervisionada - dose diária autoadministrada e dose mensal supervisionada Reação Reversa (Reação tipo 1) Prednisona - manter poliquimioterapia, se estiver em uso - Imobilizar o membro afetado, se houver neurite - monitorar a função neural, sensitiva e motora - Implementar ações de prevenção de incapacidades **** Eritema Nodoso (Reação tipo 2) **Talidomida ***Prednisona * Casos multibacilares mais graves poderão apresentar lenta regressão das lesões de pele. A maioria desses indivíduos continuará melhorando após a conclusão do tratamento com doze doses. É possível, no entanto, que alguns apresentem pouca melhora, requerendo retratamento com até 12 doses adicionais de PQT. ** Talidomida é a droga de escolha (para mulheres em idade fértil, observar a Lei nº 10.651, de 16.04.2003, que dispõe sobre o uso do medicamento). *** Prednisona é a segunda escolha, devendo também ser introduzida se houver comprometimento neural. Fonte: Adaptado de MS,SVS,2009 e INSS,DIRBEN,2007 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) São considerados curados os casos que completaram o número de doses preconizado pelo esquema terapêutico, no prazo estipulado. TRATAMENTO CIRÚRGICO MS,SVS,2009, INSS,DIRBEN,2007 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) Indicado em casos de neurite, para reduzir ou solucionar a compressão do tronco neural periférico, por estruturas anatômicas adjacentes, depois de esgotados todos os recursos clínicos. Descompressão neural cirúrgica em: - abscesso de nervo; - não resposta ao tratamento clínico padronizado para neurite, em quatro semanas; - neurites subentrantes (resposta ao tratamento com corticosteróides, com recrudescimento tão logo se retire ou reduza a dose do medicamento); - neurite do nervo tibial, por ser silenciosa e não responder bem ao tratamento com corticóide. Cirurgia de reabilitação: - em casos com incapacidade instalada, apresentando mão em garra, pé caído, lagoftalmo, madarose superciliar, desabamento da pirâmide nasal, queda do lóbulo da orelha ouatrofia cutânea da face; - os casos elegíveis deverão encaminhados para centros de referência de alta complexidade, desde que tenham completado o tratamento poliquimioterápico e estejam há pelo menos um ano sem apresentar estados inflamatórios reacionais. Vig. Epid. da Hanseníase 13 TRATAMENTO DE CASOS ESPECIAIS: MS,SVS,2009, INSS,DIRBEN,2007 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) Gestação e aleitamento materno não contraindicam a poliquimioterapia da hanseníase, segura tanto para a mãe como para a criança. Na associação com tuberculose, utilizam-se os tuberculostáticos, acrescidos dos quimioterápicos para hanseníase, da seguinte forma: - dapsona para paucibacilares; - dapsona + clofazimina para multibacilares; - esquema substitutivo próprio para casos em que a rifampicina esteja contraindicada; - casos cujo esquema para tuberculose não contenha a rifampicina, utilizar integralmente o esquema preconizado para tratamento da hanseníase. Na associação com HIV / AIDS: - preconiza-se manter o esquema poliquimioterápico indicado para a hanseníase; - a rifampicina, na dose utilizada (600mg/mês), não interfere nos inibidores de protease usados no tratamento da AIDS. Associação com outras doenças (hepáticas, renais, hematológicas e outras): - discutir com especialistas das áreas a escolha do melhor esquema terapêutico para tratar a hanseníase. CRITÉRIOS DE ENCERRAMENTO OU REENCAMINHAMENTO DOS CASOS: MS,SVS,2009, INSS,DIRBEN,2007 IN: Marasciulo ACE et al, 2010 - MPS/INSS (no prelo) alta terapêutica após encerramento da poliquimioterapia com o número de doses e tempo de tratamento preconizados e realização de exame dermatoneurológico de controle; casos multibacilares sem melhora clínica, ao final do tratamento com todas as doses preconizadas, deverão ser encaminhados para unidades de maior complexidade, para verificar a necessidade de um segundo ciclo de tratamento; quando os períodos de tolerância máximos para tratamento forem ultrapassados ( 9 meses para paucibacilares e 18 meses para multibacilares), os casos deverão ser encaminhados para unidades de maior complexidade para avaliar necessidade de retratamento; casos de recidiva são raros e geralmente ocorrem em período superior a cinco anos após a cura. Neste sentido, todo caso suspeito de recidiva deverá ser encaminhado à unidade de referência para investigação e confirmação diagnóstica que, posteriormente, poderá contrarreferenciá-lo para tratamento e acompanhamento em uma unidade básica; a presença de reações e sequelas não impedem a alta. Referências bibliográficas Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de Controle da Hanseníase. Vigilância em Saúde: situação epidemiológica da hanseníase no Brasil – 2008. Brasília: Programa Nacional de Controle da Hanseníase, 2008. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/boletim_novembro.pdf. Acessado em 15 Mai 2009. Instituto Nacional do Seguro Social, Diretoria de Benefícios. Orientação Interna nº 163 INSS/DIRBEN, de 23 de março de 2007 – Aprova a Norma Técnica de Avaliação de Incapacidade Laborativa em Portadores de Hanseníase. Brasília: INSS, DIRBEN, 2007. Disponível em: INTRAPREV/INSS/DIRBEN. Acessado em 20 Jun 2008. LEHMAN, L.F.; ORSINI, M.B.P.; FUZIKAWA, P.L.; LIMA, R.C.; GONÇALVES, S.D. Avaliação neurológica simplificada. Belo Horizonte: ALM International, 1997. 104 p.: Il. Disponível em: http://www.enf.ufmg.br/ internatorural/textos/Manuais/avaliacao_neuro_hanseniase.pdf. Acessado em 31 Mai 2010. Vig. Epid. da Hanseníase 14 Marasciulo, ACE; Ribeiro, FRS; Rocha, GR; Ferreira, LS; Gandarela, MM; Marcelino, MA; Roman, RM; Alcântara, VBC. Diretrizes de apoio à decisão médico-pericial em clínica médica – Parte II. Ministério da Previdência Social, Instituto Nacional do Seguro Social. Brasília, DF (no prelo). MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria GM nº 2472, de 31.08.2010 - Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelecer fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Diário Oficial da União 2010, 1º Set. MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. Portaria nº125 / SVS-SAS, de 26.03.2009 - Define ações de controle da hanseníase. Diário Oficial da União 2009, 27 Mar. MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Hanseníase. In: Guia de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, 2009. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve_7ed.pdf. Acessado em 20 Jan 2010. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigilância em saúde: situação epidemiológica da hanseníase no Brasil – 2008. Disponivel em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/boletim_novembro.pdf. Acessado em Set, 2010. UNICAMP. Hanseníase virchowiana da pele (coloração de Ziehl-Nielsen) Lam. A. 184. Disponível em: http://anatpat.unicamp.br/laminfl20.html. Acessado em 30 jun 2010. Para onde notificar em Petrópolis ? Coordenação de Epidemiologia Rua Paulino Afonso, 455 (prédio anexo ao Pronto Socorro e ao DIP) Fone: (24) 2246-6796 ssadiepi@petropolis.gov.br ou epidemiosms@rj.com.br A utilização das fichas de investigação epidemiológica como roteiro para a anamnese de casos suspeitos ou confirmados é de grande auxílio. (encontram-se no CD-ROM da disciplina) PORTARIA Nº 2.472, DE 31 DE AGOSTO DE 2010 Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelecer fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. ............... Art. 5º A notificação imediata será realizada por telefone como meio de comunicação ao serviço de vigilância epidemiológica da SMS, cabendo a essa instituição disponibilizar e divulgar amplamente o número na rede de serviços de saúde, pública e privada. § 1º Na impossibilidade de comunicação à SMS, a notificação será realizada à SES, cabendo a esta instituição disponibilizar e divulgar amplamente o número junto aos Municípios de sua abrangência; § 2º Na impossibilidade de comunicação à SMS e à SES, principalmente nos finais de semana, feriados e período noturno, a notificação será realizada à SVS/MS por um dos seguintes meios: I - disque notifica (0800-644-6645) ou; II - notificação eletrônica pelo e-mail (notifica@saude.gov.br) ou diretamente pelo sítio eletrônico da SVS/MS (www.saude.gov.br/svs). § 3º O serviço Disque Notifica da SVS/MS é de uso exclusivo dos profissionais de saúde para a realização das notificações imediatas. § 4º A notificação imediata realizada pelos meios de comunicação não isenta o profissional ou serviço de saúde em realizar o registro dessa notificação nos instrumentos estabelecidos. § 5º Os casos suspeitos ou confirmados da LNCI deverão ser registrados no Sinan no prazo máximo de 7 (sete) dias a partir da data de notificação. § 6º A confirmação laboratorial de amostra de caso individual ou procedente de investigação de surto constante no Anexo II a esta Portaria deve ser notificada pelos laboratórios públicos (referência nacional, regional e laboratórios centrais de saúde pública) ou laboratórios privados de cada Unidade Federada. ............... Art. 7º A notificação compulsória é obrigatória a todos os profissionais de saúde médicos,enfermeiros, odontólogos, médicos veterinários, biólogos, biomédicos, farmacêuticos e outros no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde e de ensino, em conformidade com os arts. 7º e 8º, da Lei Nº 6.259, de 30 de outubro de 1975. ............ VIDE A ÍNTEGRA DA PORTARIA E SEUS ANEXOS NO CD-ROM DA DISCIPLINA Vig. Epid. da Hanseníase 15
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