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BACHELARD, Gaston - Materialismo racional

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Prévia do material em texto

I
Gaston
BACHELARD
'Yir;~~
nAI o~\~._,;,.:~v...., .___ ."*'.'.,,.".'
A:oL..A- c~
Titulo original: Le Materialisme RationneJ
© Presses Uoiversilaires de France, 1953
o MATf:RIALISMO
RACIONAL
Tradur;ao de Joao Gama
Revisao de Tradut;ao de Anue lopes Cardoso
Revisao Tipografica de Francisco Almeida
Capa do Departamento Grafico das Edil;oes 70
Dep6sito leg~1 n: 39.816/90
Dirdtos reservados para todes os paises de lingua portuguesa
por Edit;f3es 70, L"
EDJC;Oes 70. L D..... Av. Elias Garcia, 81. ric - 1000 LJ5BOA
Telers. 76 27 20 -.7627 92 - 76 28 54
. Fax: 76 J7 36
Telex: 64489 TEXTOS P
DELEGA\:AO NO NORTE
EDIC;OES 70, LDA. - Rua da Rasa. 173 - 4400 VILA NOVA DE GAIA
Telef. 370 19 1213
NO BRASIL
EDU;OeS 70. BRASIL, LTDA., Rua Sio Francisco Xavier, 224-A (TI·
JUCA)
CEP 20SS0 RIO DE JANEIRO RJ
Telef. 284 29 42/ Telex 40385 AMLJ B •
~~~(..QE>.iA ~
PM. ~"
cAasu'M (oc.i /,;I{
cMt\.O~ ~O!"'\~ ~
Esta obra cst' proteBida pela Lei. Nio pode ser rcproduzida.
no loda au em parte, qualquer que seja 0 modo utilizado.
iocluindo fOl0c6pia e xcroc6pia. scm previa .utoriza~ do EdUOt.
QualqueT transgrcsslo .. Lei dOl Direitos de Autor set' passh-cl
dc pra«dimcnlo judicial.
rnfrodu~iio
Fenomenologia e materialidadc
..Scm ainda nm:s.~rio oferecer A materia ~r3 ndes sacrificios para que
pertJoc as \-elba.!i pfensau
HENRI HEINE, De rAll.mag,..,
00\'3 cd. ,~_ II. 1'.81.
Quem acompanhar a evolu~o dos conhecimentos clentl-
ficos sobre a materia no pcrlodo conlemporaneo' c!.levado a
cspantar-se por 0 materialismo ainda ser defendido, pelos
filesoros. como uma filosofia simples. islo e. uma filosofia
simplista. Com creito. os problemas tratados pelas cimcias da .
maleria multiplicam-se aetualmcntc c divcrsificanHe com tal
rnpidC7. que 0 materialismo cicnilfico - sc acompanharmos
os pormcnores dos seus pcnsamentos ereetivos - Clt4 prestes
a tornar-se a filosorm mais complexa e mais vari4\1e1 que
existe. Urn psic61ogo ficaria chocado se Ihe dissasemos que as
combinac6es psicol6gieas silo menos numerosas e. menos
delicadas que as combina~es qulmieas. No cntanto. OS faetos
estiio al: a prod~o de'ideias;e de experibJcias. na'qulmlca
contemporAneq. exc:edca' mcm6ria de um hoD1Clll. a imagina~
~o de urn homem, 0 podcr de compreensiio de urn homem;
• O' nO- I ll"'U,W""n- "C···1···'WW1T'l!t' rt"n.::~c:,-,~'-,~~~~1&._ * ,Gt .
~.
1 >.1- l.f\,iL~ '- ,
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J'e"'vU< ~ c~~__
CO" LIt'LA>- cf\:l
,
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r\J Pru 1[-
, , / c\(,wi{ii'.-~~4~:;:'/x>
, ," \ 1'I:,Jtn t-(, v ,'e'c, 'c l ;",'
natural. Ser urn quimico c colocar-se numa siluaciio cultural.
ocupando um lugar. incluindo-se numa categoria. numa cida-
dt cientifica nitidamente detcrm;nJda reb modernidade da
in\'estigacao. Todo 0 individualismo seria urn anacronismo.
Desde 0 primeiro esforco da cultura que se sente este anacro-
nismo. Quem quiser fazer a psicologia do espirito cientifico
nao tern melhor mcio que seguir urn eixo de progresso. viver
o erescimento de uma arvore do conhecimento. a propria
genealogia da verdade progressiva. No cixo do progresso do
conhecimento cientifico. a esscncia da verdade c sol~'1 do
seu crescimento, solidaria da extensao do setr~oO de
provas. " --'",---
- Entao. se 0 homem moderno se torna verdadeiramente 0
sujeitE_~o pel1s~rnen~ci~llfi~co no trabulho. se mede 0 poder
da instruc50 propria da ciencia do nosso tempo. se toma
consciencin cia comunidndc de cspirito que a cicncia actual
cxigc entre tmbalhadores. necessaria mente tcni de rcconhc(.~r
no proprio ser do conhecimento. uma complexidade explicit~
que nada tern a ver com a v5 afirmaciio de uma complexida-
de que estaria em reserva nas coisas.
Esta liitima complexidade em profundidnde nas eoisas
esta sempre sistematicamente implicita nas proposicoes dos
fil6sofos. Do Indo do sujeito, ela nao passa do conglomerado
dos seus fracassos de conhecimento. muitas vezes at~ urn
grupo de 'quesii5esmalpostas:'iini; teimosia em levantar
questoes ingcnllas, qllestoes «primeiras». quando 0 pensa-
mento cientifico substilui incessantemente as «questoes pri-
meiras». Do lado do objecto, a complcxidade implicita' I:
afirmada como uma potencialidnde indefinidn. entregue ao
ocasionalismo de lima investigaciio individunl, invesligac;io
que nunca podern ter lima eficacia companivel 3S investiga-
coes intensamente eoordenadas da cidade cientifica. .
Mostraremos nesta obm que :\ cidade cultural do materia-
lismo nao cede a qualquer outra em potcncialidade e que esta
eidade cultural Csusceptivel de determinar rea~iles de cons-
ciencia muito profundas. Finalmente, todos os pensamentos " h)'"
trazem a marca do ser pensante e lima amllise qulmica 'c "
/amMm uma an.;lise dc pcnS:lmenlo. Teremos mil provas dc '1
urn espirito subtil na prntiC'd In:lterinlisl:1 se acompanbarmos a
historia da qulmica. Uma psicologin complexa acompanba
necessariamente uma ci~ncia complexa. 0 materialismo cien-
v
\ I f .....
"'C~'Ii;'~'"'''''~'''' CAM~~} "~" \
Neste ponto torna-se necessario - sublinha·lo-emos muitas
vezes - que os homeos se unarn para saber e para compreen-
der, para tocar nos pontos donde parte 0 movirnento do
saber. E inutil repctir que 0 homern e inconstante e variaveL
«Ondulal> fr,jgiimente e a sua diversidade contingente esconde
mal uma p;ofunda pobreza. Para encontrar, no proprio
homem, uma verdadeira riqueza psicologica, uma via Ceria" e
necessario procurar esta riqueza no eume dos ,pensarnentos.
Entao, pode comprcender-se 0 homern na sua', vontade de
agir coordenadamente, na tensio da vontade de pensar. em
todos os seus esforcos para rectificar, diversificar, exceder a
sua pr6pria natureza; E nao encontraremos as provas rna is
tangiveis deste «excesso» no exeeder a experiencia comurn. no
, exceder a propria natureza? Ouer ,queiramos quer nao. tudo
se dupiica. no homem. mediante 0 conhecimento. S6 cle. 0
conhecimento. c 0 phlno do ser.1: 0 plano de potcnci<llidadc
'\ do ser, potencialidade que aumenta e se rcnova cX<lctamentc
na medida, em que 0 conhecimento aumenta. A ciencia con-'
temporanea introduz, 0 homem num mundo novo. Se 0
homem pel'.S3 a ciencia, renova-se enquanto homem pensante.
Tern acesso a uma categoria inegavel dos pensamentos. Nao
se diversifica apenas na vida contingente de urn Montaigne.
Diversifica-se <<em altura», hierarquicamente.
Se, por outro lado, se tomar 0 c()nhecimento cientifico no 1',:'
seu aspecto moderno levando a perfeicao toda a sua aC/lIali- , ""
dade, nao pode deixar de valorizar-se 0 seu carilcter social , '-
bern definido. Conjuntamente, os s:ibios unem-se numa celula "~,\'~
da cidade cientifica, nao apenas para compreenderem, mas
ainda para se diversificarem, para activarcm todas as dialecli-
cas que viio,dosproblemas precisos assolucoes, originais.
A propria diversificacao. como deve fazer a prova socialmente
do seu valor, nao c totalmente individualista. Esta socializa-'
cao intensa, claramente coerente, segura das suas bases,
, ' \ ardentes nas suas dife....ncas, eainda urn facto, um facto de
'c, fJ(;.lAG-' uma singular actualidade. Nao respeiti-Io scria cair numa
utopia gnoseol6gica. a utopia do individualismo do saber.
II Enecessario ter. desde logo. na devida conta, estc caracter
social. panluc, 0 pcnsmnento esscncialmenle progrcssivo da
cien,*, da maleria parte daqui. cm nitida ruptum com todo 0
, • matcrialismo «natural». A partida cultural da ciencia tern.
- daqui em diante. prioridadc,sobrc todo 0 ponto de parti4<'l
'- i.. C' (', ,...i\' " ' ,': " \ J ,,\ A... "'>'" \"'....-\ , , ' c::, ;": (,', ~ \. \\'
.-t\.... >,",' ' v,J(L... :".'- v~ '-i' '. ..- --
~~_~'....__~ ~_~...._ol_~""'j'_~".,.,.:;.,. ........_....-c :.,..",.-,.,"".....=""~: _,'L~_
, ,
\.\" '
t
•
•
Antes de examinarmos as intensidades de interesses filos6-
fic?s .que estiio i~JlM91~~.s.l1fl,c~n~ecimento dos fen6menos
qUlmtcos, deve~io~J.~~~I~h~f()!~n;>digioso investimento de
pensamento q?e. .~M;~rna tnailelra historicamente. a quimi-
ca contemporanea !1-I~nlfesta~' Dado oextraordirulrio cresci-
mento da sua prob'~i!'~tiCa. a cien~iadarnateria apresenta-se
a?or~ - numa ace~O)lue vamos pre.cisar - como uma
C'lenCiadofuturo.:,·., . '., '
Em. primeiro(\Ig;;i.JiA uln.alJ~~lao de facto: 0 futuro dos ' •
conhCClmen.tos da ll1llteria alcancou, em doiscurtos seculos••
uma tal vanedade de perspectivaS que nenhum cerebro huma-
no p~de pre.~·er o~ baJan~os rnais pr6ximos .das descobertas
. expenmentats asslm ~omo as mutacocs·teoricas provaveis.
Actualm:~te, a qllimlca e uma ciencia <<lIberta» em que a;
problemallca prolifera. . .
. Este futuro e grave. Chegou-se.a urn ponto da hist6ria em
que 0 fut~ro da quimica compromete " futuro do genero
~umano, tao grande e a verdade do destino do homem estar
lJgado aos seIlS pensamentos. Mediante a quimica e a fisica \ ~ :
nuc~e~r. 0 homem adquire inesperados meios de poder, meios
poslln'os que ultl:"p.assam todos os sonhos de poder do
fil6sofo. 0 mate:l3bsmo erudito, que nlio e apenas uma
filosolia espeeuJatlVa. arma uma vontade. de poder. vontade
que se exclta graCl\S ao pr6prio poder dos meios oferecidos.
Parece que, tambC.~ no plano ~sicologico, a vontade de poder
conhece uma rea~o. em cadela. Quanto mais se pode, mais
se quer•. Quanto malS. se quer. mais se pode:. Enquanto a
vontade de poder elJl primitiva•.enquanto era fiI0s6fica en-
quanto era nietzschiana. nao era elicaz -'- tanto para 0 'bern
como para 0 ma~ -:- sen30 ! eseala inc;lividual. Nietzsche agia
sabre os seus ICltores; urn ·leitor nietzschiano que se. torna
autor tern apenas uma aC\ilo irris6ria•. Mas. a partir d;l altura
em q~e 0 homem se. apodera .efr..'!ivamente dos pocfcres.da
~atena, quando ja,JJi() sol!ha com elernentos..intangtyCis:ou
aton:os QlIVos, mas organiza,realmente novos CO!JIClSCcO~
foJ?S reais,cJe chega !vontade de pode~:dOfacia,d~~uma
venfica~o objeciil'fL TranSforma-senulD milg;co~;
demonto posilivo. . :';',.:;::: .\,,; ~
, ,•.?1~:;h,'- .,.t~~~ j'
='?n,,"""".........'..' __......L1-., itt -,: '. ~>': 'xc-van..,,~
.........,"'_....._1...2~~ ..
tifico, examinado psicologicamcnte, apareccr-nos-a como
uma psicoJogia mui(o subtilmentc cstruturnda C quc cxige
intimeras in\'ers{)ts de perspcctivn. a ponto de se podcr consi-
derar urn 170\'0 espirito materialista.
Porta mo. dCl'emos insistir intensamentc na inclicicia de
urn materialismo massivo. de urn matcrialismo imobilizado.
Tambem nos serf. necessario sublinhar a faHa dc podcr de
expcricncias que c a caracteristic.1 de urn materialismo ime-
diatamente satisfeito com as suas primeirns experiencias.
Eeste materialismo massivo, ingenuo, caduco, que serve de
alvo as criticas faceis da filosolia idealista. Assim, sao nume-
rosos os filosofos que se atiram contra um fantasma fora
de moda. Comparado com 0 actual conhecimento das diversas
instancias do materialismocientifico (instancias mecanica, fisi-
ca, quimica, electrica), pode dizer-se que 0 materialismo fila-
s6lico tradicional e urn materia/ismo'sem materia, urn materialismo
complellimente metaf6rico, uma filosolia clljas mctl!foras fomm
uma ap6s outra arrancadas pelo progresso da ciencia. Existe
ainda urn quimico para tentar ligar as imagens dos 4 elementos
materiais com as propriedades das substancias qulmicas? Finalmen-
te, a filosolia idealista s6 dirige os dardos contra as suas pr6prias
n~Oes, contra as ideias, fora de usc, que faz da materia.
Portanto, pareee-nos necessario estudar verdadeiramente
o materialismo do materia, 0 materialismo instruido pela
enorme pluralidade d1lS difcrentcs materias, 0 matcrialismo
expcrimenlador, real, progressivo, hllmanamcnte instrutivo.
Veremos que. ap6s 0 malogro dos cnsaios racionalistas pre-
maturos, se constitui verdadeiramente, na consciencia con-
temporanea. urn racionalismo lIIaterialista. Teremos. assim,
de apresentar urn novo 'cori,iliiiiOdeprovas que conlirme,
pensamos nos, as teses que dcfendcmos nas duas tillimas
ohias com os titulos: I.e RationalismI' Applique (Paris,
P.U.F.), 1949) e CActintl! Ratiol/aliste til' 10 Physique COI/-
lemparaine (Paris, P.U.F.• 1951). 0 rn.1terialismo tambem
entrou numa era de racionalismo activo. Acaba de aparecer
nas doutrinas cientiflCaS uma qu(mica matemdtie-o no mesmo
estilo em que se fala da jisico matemdtieo. 0 rncionalismo
dirige as experiencias sobre a materia, oroen.'! uma diversidade
continuamente creseente de matenllS novas. Simctricamcnte
ao rocionalismo aplicotlo, pode agora falar-se, pensamos nos,
num materialismo ordenado. .
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rortanlo, a quimica tern 0 futuro de uma'lJas:ntaloies
realidades do pensamenlo e da ac<;ao humanas." ,:,~)~,,-,:
E ensina uma ",agia verdadeira. Enriquece 0 futuro con- .
ferindo-ihe uma vontade de poder promda. Por iSIO mes-
mo, a liga,50 dn \'ontnde de poder com a \'ontnde de saber
tomn-se es!reitn e duradoura. Estn lign<;1\o inscre\'e-se no fu!u- Mas e noutro ponto de \'ista que nos colocamos paradizer
ro do homem. Transforma positivamente a quimica c a fisica nu- -"0 quc a cicncia dn materia cuma ciencia dofllluro.'~ "1' ,c.
clear em CietlCias do fUll/ro. Se 0 compararmos Com 0 quimico l Com cfeito, queremos camcterizar os novos conheciullintos
modemo que ensina a sun cicncia, forma escolas. age nas fn bri- '--~\2';0 sublinhnndo as necessarias revolu<;iies epistemol6gicasque implieam.
cas. como era frngil 0 la<;o do alquimista inieiador com 0 alqui- ~"~' Nesta persrc:ctiva. a ~!Iir~ica e uma ciencia do fUluta porQue'c,
mista iniciado! rode depnnir-se com sonhos, mas nao se podem )v~';> cada \'cz Qlnls. uma ClenCla que abandona 0 seu possodo. E nlio
(<3prendenl com outro, muilo menos «ensinn-Ios». a alqui- l' 'e' e sem razao. A quimiea no seu esfol"QJ modemo n:ve!lHe,defaeto
mista nlio podia transmitir objecril'Omente os seus sonhos. Ten- comoumacienci.1quefoiprimirivamenJemaJfimdado.A~
balhava a urn nivel da ps;que humana em que a «objeetividnde.. clara do seu eslado presente permile-Ihe descobrir a extraor-
necessita de uma tal in\'erslio da perspectiva quc foi neces- di~aria va,id.ade da sua longa hisl6ria. Este sera urn lispeeto
sario espemr pela cienein psicol6gica do sec. xx para a assumir eplstemologlco que, nesle ensaio, iremos 'esclarecer;quando
claramente mediante uma determina<;ao da objectividade da pudermos estabelecer, que 0 materialismo erudito se tomou
subjeelividade profunda. Masdesla vez, na cieneia moderna, tim cantao do racionalismo aplicado.
a lransmissao objeetiva do s;,ber objectivo esta ,\ssegurada. De Sem remotar it pre-hisl6ria da quimica, a sua hist6ria reccnle
uma gera<;ao para outra, a heran<;a de verdades - haveni abunda em remodela<;iies lao profundas que 0 desc:nvolvimento
outra? - esta garanlida. Decerto que se podem imaginar utO- .7'1\;"" )--:c~-- da cieneia se dialeetizou de porte a parte. As palavras subsistem
pias de perda do pensamento cientilico. Mas trala-se de jogos mas, sob a permanencia dos nomes, ha urna varia<;iio radical dos
do espirilo que no impulso essencial do pensamento cientilico / . conceilo~. Os conceilos de base quase nao tern uma validade que
. nada juslificam. A quimica nao Cwr~1 moda. Nao c uma doutrina \(\( ,{, h i ~ -- dure malS de ulm gera<;iio. Viu-se bern islO, em meados do seculoi; passageim. Imp6e-sc, pcb sua induslrializa<;1io, num nivel da rea-' ", c - C passado, no tempo em que os jovens quimicos Auguste Laurenl
I' lidade que the garante uma continuidade regular - por vezes,'c' :~;;--,: e Charles Gerhardllulavam eonlraa ciencia de BerzeJius. OUlra
\ uma continllidade pesada que atrasa ns revohl(;oes (Iteis. prova de revolu<;iio profunda que eonlinua uma revolu~o surda ' ."
i ' Daqui em diante, a quimica lem a eoerencia dos livros, a ea incri\'el desalen<;iio dn quimiea constiluidana allura em que
permanencia das enormes biblioiccas! Muitas vezes, a imagi- os Lo!h~r Meyer e os Mendeleef formulavam as primeirns'leis
nae-do dos profetas da desgra<;a n50 vai alem da lembran,a da penOCldade dos elemenlos quimicos classificados porpesos a16mi-
do incendio da biblioteca de Alexandria: se lodos os livros de i cos crescentes. Neste ponto da hist6ria - vemo-Io agora~ 0 lema
quimieativessem sido lan<;ados its chumas, a civiliza<;iio 11'. da ordem das subslfincias estabelecia UlTh1 nova perspeaivaque
quimica nao estaria aniquiluda? Sim, mas como compreendcr, lan<;ava.para 0 p~d~ todos .os '!10tivos de classifica<;iio anliga.
daqui por diante. junlamenle com 0 mundo, rodos os livros i Asslm, o:.:matenatiSI!J.O elenllfico esta constanlemenle em
em 11m incendio hisl6rico?' Referimo-nos a esta insignificanle II silua<;liod& nom limt/.!!(iTolbesde h;i dois seculos que conli-
discusslio apenas para nao dcixarmos pam tras lima objcc<;ao. nuamen'te-c relomado'como uma doutrina 'quC'sc:fwida ria
Na realidade, s6 se deslr6i 11m livro de ciencia conlradizendo-o essencial actividade de descoberta do esplrilo hIinlaliO.7Entio;·
primeiramente. e ullrapassando-o depois. A quimica lira par- !• paradoxalmente. 0 que e novo c fuudamClltaltEi(~864.
tido, como todas as ciencias fortemente conslilllidas, de urn Berthelol escrevia: eRa oilentaanos que niO:deijiiiifM de
[materialismo hist6rico aUI6nomci]Ou, m:.is exaClamente, 0 fundar uma qUlmica orgAniea (I)... Esla"/lIndil(i1ti';:":' nIt!
sell desenvolvimenlo, dal em dianle lfio neeessllri:lmenle eSla, hoje mais do que nunea, emirientenieUiet"~o:
implicado nas nccessidades ccon6micas~ dcscnha um&l recta . .?,.~ ': :-::If: ,~,~~,~ ~ ',","~$- .•.
particu!armente nilida do materialismo dialcclico. I) Marcdin Berthdol, lIroN Sur k. Mlrhotkii/i,>CJiiiiili. . 'p:lf'
" .. Dr it .. IS, *'1"91~;i1;r_tIIr'---IIII"':IIi,LIi""_alil#"/liltiil-:i:lilt'""
;i
...,-'.',
.:tUg; i;-l
,""
''. ,."
da contingencia relativa das divers3s substiincias. Vollaremos
a falar desta elimina~1io progressi\'a da irracionaJid:;de.
que 0 fil6sofo gosta de ntribuir ~ f;liz d~lS coisas - .ls:--:n-,
como da contingcncia do diverso, tema favorito dos fi!osoflb
Mas do ponto de vista hist6rico. eSl:i bem patente que 0
progresso da quimica moderna eSI:i condicionado [lor uma
ordena~lio dos valores de racionaJidade.
Sem esta ordena~1io dos m/OI'es de radolla/idade. n50 sc
[lodem preparar as determina~iies precisas dos m/or,,-, de
maleria/idade. Vma boa analise material e solidaria de uma
boa simesI' das no~oes. Com efeilO, enquanto os elcmentos
quimicos n50 forem conhecidos com garall1ias de flure=a
s'!ficiell1es, garantias nitidamente codificadas em criterios de
pureza, bern coordenadas numa sintese de leis racionais. n50
se pode falar verdadeiramente de uma quimica bem /imdll','''.
o quase, ao nh'e! da materi3, interdiz' urn .' ',lismo da
materia. Nada pode scr fum/ado scm urn' doutri~ muito
elaborada dos elementos materiais bern distintos. rna hist6ria
da quimica progressiva e. em muilOS ~spectos, uma historia
dos progressos dos criterios de pureza relacionados com a
analise das substiincias.
-
16
-":>0
Contudo, enganar-nos-iamos se vissemos nisto uma refe-
rencia it banalidade da, cOll/ingencia da descoberta. Se 0
materiaiismo cieiltifico e uma den~ftmtrcr,e-porque a
sua racionaiidade e prccisamer.teproduzir descobertas,Yista
na sua perspectiva de racionalidade, a descoberta ja nao e
verdadeiramel'!~ !:ontingente. A contingencia das descobertas
cientificas n50 passa, muitas vezes, de uma optica de ignoran, I-- ~"
cia. As descobertas cientificas vern, assim, surpreender aqueles U!/v{~ C\),
que se esfor~am por compreen~~r, aqueles que nlio benefi-
ciam com a/ mfsaodiLdnvesrigar6es!que anima a cidade
I,,' cientifica. Edlaroquc'as adiiiira~oeSifdcultura nlio faltam na
!\.'~ vida da cidade cientifica mas, perante uma nova descoberta. 0
'..i sabio modemo admiro-se compreendendo. Nos cantoes cienti-
0-~ ':.~,\,'" ficos onde, segundo a expresslio de, Georges Bouligand, «a
sintese global>, e a problematica estao perfeitamente associa-
das, ve-se nitidamente que a sintese global. consciente da
aquisi~lio da ciencia, prepara 0 futuro da ciencia. Assim, a
racionalidade, em continuo aumento, da quimica da ao qui-
mico a consciencia do futuro proximo da ciencia. 0 futuro
proximo? 0 unico futuro que ternu~p. 0 impulso do
futuro de uma ciencia moderna f'Solidariojo conjunto dos
problemas bern postos. . .
Em sintese, urn racionalismo cada. vez mais operante
insinua-se no realismo ingenue da quimica, no marerialismo
. -1
ingenuo. Este racionalismo em acto exige novas experienci~s e I I I . i I., '\'2 ( (,<~.
desacredita continuamente as experiencias imediatas.Eo'.\,~ I.r.' I~ I,
racionalismo que, pouco a poJlCO...!evanta os problemas. Ea Mas os filosofos n50 .se.4mCreSs.1m por estes dificeis
, . , '. \ propria consciencia dos ~;~,~~mlls que se Ievantam, dos progressos. Querem semp.fejimtla;'/tma I"ez por lodas. Crccm
'-.. problemas que devem ser Gas. c facilmente que a materia Oferecc, s6 por si, uma garantia de
Ent50 com~m as unicas polemicas uteis, as polemicas " \,-"0' realismo, de modo que os conhecimentos subsequentes sobre
cercadas do racionalismo materialista e do realismo materia- (\,,v ...... - a materia estlio automalicamente bern fundados, estando
lista. Em comparacao com tais polemicas de cooperacao, as fundados sobre experiencias primeiras. Em sintese, os filoso-
polemicas tradieionais entre idealismo e realismo slio oposi- \ ' fos simplificam extremamente os temas filosoficos a respeito
, ~Oes demasiado longlnquas. Esta:; polemicas tradicionais slio da materia, evitando tambCm qualquer lange debate com 0 m.11C-
•,,' :'St:escaramu~ de aparato. Para se terem polemicas reais e uteis rialismo erudito. B10queiam 0 materialismo num conceito
, e necessario participar no duplo prpgresso do pensamento primitivo geral de materia, num conceito sem elabora~50
teorito formulado em sistema racional e da aetividade experi- , experimental. julgandlHe no direito de ignorar a ciencia
mental estimuiada pela teenica. Ent50 damo-nos conta dc i discursiva efectiva da pluralidade das matcrias cxactamente
que 0 materialismo cientifico se funda em virtudc de uma i quando dissertam sobre a materia cm gera!.
racionalidade progressiva. por uma eliminacao cada vez mais I Se sc tratasse do problcma das ./lJrmas da rClilidade lI)ate-
acentuada da irracionalidade das substandas, pela anula~o i -.!ia1, OSf~~~~~:~a~;:ais:re~~(i,v~. c~for~~~eICS
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I V
«materia filos6fica», Ea realiza,ao dc uma ideia simples. Por
Dlltras palavms, dell-se 0 cstatu!o de ideia simples it materia
t50 diversa na sua fcnolllen~didaJc.
Dada a predominfmcia dos fil6sof05 idealisras na cultur~
tradicional. nao h:\ que espantar-nos se a instiincia material
nao foi obiecto de uma suficiente aten,ao por parte do~
fil6sofos. Mas porque nesta introdu,ao indicamos brevementt
os temas sobre os quais insistircmos ncste ensaio. dizemos ja a
seguir em quc condi,oes se pode estabelecer uma filosolia
directa da materia. uma filosolia que deixasse de considerar 0
conhecimento da materia como urn conhecimento subalterno,
isto e, uma filosofia que nao reconhecesse os privilegio~
idealistas da forma~-'-- ,
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uma prova. Certos fil6sofos concedem a forma privilegios
incondicionados. privilegios a priori. Ha, nas formas c ml sua
eonstru,ao. uma especie de pureza tilos6fica 'quc pcrmi:e.
segundo nos pareee. uma uniao progressiva conlinua. que vai
das concep,iies simples as coneep,iies eruditas. No enconlro
da pureza material parece que a pureza das formas e inicial.
Entaocompreende-se esla lentacao. continuamente activll na
hist6ria da tilosofia, de explicar a mllteria pela forma. de
propor geometrias de atomos, acumulando c ajustando ima-
gens poliedricas, imagens de fmgulos e de ganchos, de parafusos
e de caneluras. sem nunca ter em conta uma instimcia mate-
rial, uma instancia directamente material, scm nunca ter posto
verdadeiramente 0 espirito de acordo com a expericneia
positiva das propriedades da materia, sem prineipalmente se
instruir mediante 0 exame da accao material de umas sobre
as outras. Ate se querem imag/nar transformacoes de formas.
Nao se querem eSllldar rrnnsacciies da...m.atrna; Y"vJ>J~V c',-...\
. Mas M ainda. na filosofia, uma posi,ao maisparadoxal.
E a de alguns fil6sofos idealistas que pura e simplesmenle f-c / <1Vp1 ill~ra instancia especifica da no,ao de materia e a
situam a materia de uma maneira antitetica relativamente it />~-ff.s.~
forma. Dissertam por vezes, sobre a materia, verdadeiramente v."\ '. . Ora, esta e precisamente uma instancia que e praticamente
por antilese. Para eles a materia e uma antiforma, 0 nada da 11< ' alheia it comemplafiio ji/os6jica. De facto, esta atitude contem-
forma. E como para eles a forma cser, a materia e finalmente \V plativa, que e uma das caracteristicas mais comuns da filosofia,
o nao-ser. Para outras concepeoes do ide:IJismo ingenuo. a nao corresponde simplesmente a urn tempo partimlardo trabalho
materia e urn receptaculo de irracionalidades nfio definidas. filos6fico; e 0 tempo inicial, 0 tempo do come,o. assumido de
nem definlveis, de irraeionalidades scm algum preiimbulo de uma maneira rnais ou meuos factlcia pela filosofia idealista.
raeionaJidade. Ou entfio a mmeria e urn fundo de indlferen,a No pormenor da investigar;iio filos6fica, na continuar;iio das mOOi-
que espera pelas potcncias diferenciantes da accfio. Assim, ta,oes que, apesar de tudo, aceitam n(lmeros. esta atitude
pobre realiza,,'io do caos. a materia e ao mesmo tempo 0 primeira nlio cede em nada. Toda a atitudefilos6fica tern
informe e 0 informulavel; recebe todos os matlzes pejorativos a curiosa aptidao para se institulr como primeira. Assim,
que vao do inominado ao inominavel. para urn fil6sofo, a no,ao de objeeto nao pareee apresentar-se
Alias, em muitas prnticas alquimistas, encontra-se a ten- senao como urn correlato da atitude objcctiva, atitude que faeil-
dencia para, euriosamente,> reduzir a materia it mais extrema mente se definiria como esperando os objeetos, como preli-
pobrez.~, a urn zero de ser. Quer-sc que scja nfio apenas minar da investigaclio objeetiva. Esta atitude objeetiva rccusa
privaclio de formas, mas ainda priva,ao de qualidades. Por 0 eontaeto, mantem as suas distdncias relativamente ao
exemplo, desodorizamo-Ia para depois a podennos perfumar. objeeto. Eviden!emenle que estiJdaremos a seguir a resistencia
• Desta pratica faz-se facilmente uma ideia fil0s6lica. Yisa-se, do objeeto, mas antes queremos veT 0 objeeto, ',c-Io :i distan-
para alem de longas manipula,Ocs, a materia autentieamente cia, roden-Io, fazer dele urn pequeno centro avolta do qual 0
primeira, que MO e nllda e que, por isso mcsmo, e pr6prill espirito dirigirn 0 fogo lorneanle das suas categorias.
para tudo. Semelh.~nte matcna pode recerer tOOas as qualidades Se eassim que eomccamos II liIosoli:I, com uma nOl'ao de
como pode receber tOOas as formas. E verdadeiramente uma objeeto tomada independentemente da materia, se, apartida,
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na resistt:ncia da materia. Nao se podera verdadeiramente
fazer uma filosofia da a~o a nao ser quando uma filosofia
da materia tiver depurado os tra,os caracteristicos da mns-
C'ienC'io ubstinada. Esta consciencia obstinada de posse de urn
trabalho e uma espeeie de referee da consciencia que tern urn
objecto. 0 caracter direccional da consciencia insereve-se
profundamente na realidaue. A conscit:ncia e obrigada a
continuar na. sua Iinha, a reduplicar,se, para reafirmar e
aumentar 0 esfo)\:o do corpo; sem a resisiencia da materia,
uma filosofia da vontade permanece, como ebastante visivel
na filosofia de Sehopenhauer, uma filosofia idealista.
Uma vez que nio podemos desenvolver aqui estas pers-
pectivas sobre uma filosofia da vontade, diremos rapidamente
como deveria empreender-se, na nossa opiniio. uma fenomlt'
nologia materiaJista Segundo pensamos, Ii partida deveria
concentrar-se nas seguintes questoes: pode dcspertar-se a
consciencia no pr6prio eontacto com a materialidade? - dito
de outra maneira, a tomada de conscit:ncia pode fazer-se
imediatamente perante este para-alem do objecto que e a
materia? - a consciencia obstinada reecbe uma diversidade
perante a resistencia diversa das diversas materias? - A
conscieneia do trabalho nao leva a tempcralidadcs divcrsas. as
temporalidades milltiplas no easo de 0 trabalho ser duro ou
racil. no\'o ou automatico? - A consciencia obstinada pode
formar ideias, esquemas, hip6teses a respeito da resistencia
materiai"? - A consciencia obstinada pode formular projec/os
materialistas preparando a administra~o das fo~ a suscitar?
Mas. na presente obra, nlio temos de estudar estas ques-
toes. S6 as indicamos para ehamar a atencao dos fil6sofos.
para a nocao de resistencia. Encontra-se aquiuma instancia
da realidade que rege 0 homem dinamizado pelo seu trabalho.
Mas. uma vez mais, 0 estudo das reaccoes da resistencia do
lade do sujeito, nio epresentemente 0 no::,o problema. V~m?S
juntar as nOssas observaCiles do !ado obJectiVO- ? ~tenalls­
mo tecnicxi vai permitir-nos mostrar 0 extraordlllano desen-
volvimento da n~o de resistt:neia do la~o do conhecimento
eompletamente objectivo.
J
se quebra a essenciai soiidariedade cbJ:':c~G-materja, condenJ.-
mo-nos a permanecer no eixo de uma fiiosofia da conrempJa-
,ao, permaneceremos 0 primeiro sujeilo qlle aceitamos ser. 0
slIjeito contemplativo. Nunca podcremo.'i dcsembarac;ar a 1110-
sofia do pr;'·iiegio das delermina,6cs \·i.\/ill/s. A fenomenologia
c1assica exprime-se compJacenremenre em rermos de visados.
A consciencia associa-se, entao, a lima intencionalidade ro-
ralmente direccionaL Por isto se Ihe atribui uma centralidade
excessiva. E urn centro donde se dispersam as linhas de
investiga,6es. Esta votada·a todas as afirma,6es imediatas do
idealismo.
Entao, os obstaculos materiais sao imediatamente con-
tradi,oes tao completas, tao irracionais. que seria perder
tempo resolve-las. Regressa-se ao centro dos visados para
recomecar a conremplar, Ao visado correspondem sinais.
eliquetas, nomes de objectos. Organiza-sc 0 todo em cieneia
formal, em sistema de significiu;t:",:s. em logos. Mas as contra-
di,6es da materia nao se excluem por tao pouco. Os visados
negados por uma experiencia da maleria provocam desarmo-
nias na intencionalidade, isto e, descoordena,c3es do ser vivo.
A gratuitidade dos actos de simples visado corresponde 0
absurdo do mundo visado. 0 pensamento nao trabalha Ii
\'olta do obstaculo; nao insiste numa experiencia determinada;
nao prolonga 0 seu esfor,o para alem dos primeiros insucessos;
compraz-se na sua liherdade <le olhar para outro lado. Ser livre
e ir embara,ar-se noutro lado, mais tarde, de outra maneira.
Mas e iniltil insistir na insuficiencia de uma designa,ao,
com 0 visado, do complexo objecto-materia, porque e toda a
i filosofia pr;me;ra, ainda que fosse uma filosofia da vontade,ique nos falta para se procurar a cOllsciencio do troba/ho,
\consciencia especifica verdadeiramente solidaria da resistencia
. da materia.
Mais que outra filosofia. 0 materialismo, se parte verda-
deiramente das experiencias em tome da materia, oferece-nos
urn verdadeiro campo de obstaculos. A nocao de compo de
obstdclllos deve entlio dominar a noriio de s;/uoriio. 0 obsta-
culo suseita 0 trabalho, a situa~o nao pode ser senio a
topologia dos obstaculos; os projectos vao contra os obstaeulos.
Assim come-.a 0 rnaterialismoac tivo e toda filosofia que
trabalha eneontrani. pelo menos, as suas metllforas, a pr6pria
fo)\:a das suas expressiles. em resumo. toda a sul!.linguagem
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